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Resumo:

Processos biológicos estão presentes em todo o ciclo de ensino de um indivíduo,


caracterizados por apresentarem entendimento complexo e abstrato. No entanto, é fato que
o entendimento torna-se complexo e abstrato devido a presença de obstáculos
epistemológicos nas concepções e práticas de ensino. Entre esses obstáculos e que será
tratado com mais ênfase neste trabalho é a presença da teleologia no ensino desses
processos definida por Bachelard (1938/1996) como conhecimento unitário e pragmático.
Outros obstáculos apresentados por Bacherlard são: experiência/observação primeira,
generalização prematura, verbalismo, substancialismo e animismo sendo segundo ele estas as
causas de estagnação e até de regressão da ciência. O termo teleologia provém de dois termos
gregos, telos (fim, meta, propósito) e logos (razão, explicação), ou seja, uma explicação ou
razão de algo em função de seus fins‟ ou explicação que se serve de propósitos ou de fins‟
(VILLA, 2000, p. 723). Como obstáculo ao entendimento os processos biológicos são
apresentados através de discursos de professores, explicações em livros didáticos e discurso
do "senso comum" com finalidades, ou seja, com a associação de causas e efeitos,
buscando propósitos e finalidades intrínsecas em processos que são aleatórios. Por sua vez
essas associações teleológicas podem representar uma barreira na formulação de boas
hipóteses, teorias, e desenvolvimento do conhecimento. Com isso o presente trabalho
realiza uma analise bibliográfica e examina os resultados de um estudo realizado em quatro
coleções de livros didáticos de biologia utilizados em sala de aula dentre eles: Cezar e
Sesar, Amabis, Sônia Lopes e . Partindo das definições filosóficas da teleologia
analisaremos algumas das explicações e definições teléologicas encontradas nestes livros e
que consequentemente são adicionadas ao ensino de biologia e por fim analisaremos a
teleologia como um desafio para o desenvolvimento do conhecimento em ciências.
INTRODUÇÃO

TELEOLOGIA

O termo teleologia provém de dois termos gregos, telos (fim, meta, propósito)
e logos (razão, explicação), ou seja, uma explicação ou razão de algo em função de seus
fins‟ ou explicação que se serve de propósitos ou de fins‟ (VILLA, 2000, p. 723).
Entender um acontecimento ou processo como sendo teleológico, implica
(1) admitir que o respectivo objeto de estudo não é aleatório ou, então, que a forma
atual da totalidade ou estrutura em que se insere tal objeto não é o resultado de
processos e acontecimentos aleatórios; (2) a existência de uma meta, fim ou propósito que
constitui sua razão, explicação ou sentido e que pode ser;
(2-a) imanentista, cuja finalidade é admitida no âmago ou essência de cada ser ou
conjunto de seres; (2-b) transcendente ao ser da totalidade, como uma razão por detrás do
mundo (VILLA, 2000, p.723-725).

RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA TELEOLOGIA NA BIOLOGIA

A teleologia ao contrário do que muitos pensam não se trata de uma tendência


atual, adicionada ao modelo de ensino a pouco tempo por livros didáticos, discursos
de professores entre outros, ela primeiro foi utilizada durante a Antiguidade
Clássica por Aristóteles. Essas concepções teleológicas de Aristóteles por sua
vez, persistem impregnadas mesmo após 2300 anos de sua morte tanto na opinião
do senso comum quanto no processo de ensino-aprendizagem e em alguns
segmentos da comunidade cientifica.
Segundo este filosofo “a natureza não faz nada em vão”, ou seja, segundo ele pra
tudo há uma causa, ou melhor pode haver quatro causas: a causa material, a
causa eficiente, a causa formal e a causa final.
Ora, causa diz-se em quatro sentidos: no primeiro, entendemos por causa a
substância e a quididade2(o “porquê” reconduz-se, pois, à noção última,
e o primeiro “porquê” é causa e princípio”); a segunda [causa] é a
matéria e o sujeito 3; a terceira é a de onde [vem] o início do
movimento 4; a quarta [causa], que se opõe à precedente,
é o “fim para que” 5e o bem (porque este é, com efeito,
o fim de toda a geração e movimento4).
(ARISTÓTELES, I, 3, 983ª 25-32, [1993])

Aristó
teles ampliou sua teoria sobre as quatro causas para explicar todos os
fenômenos naturais e a própria natureza. Para ele, a causa final, ou seja,
a explicação teleológica (de telos = fim, objetivo) era a mais importante delas, pois
tudo no mundo acontece para preencher uma necessidade. Segue que a natureza é
perfeita, já que tudo nela tem uma causa final, uma razão, uma explicação. Daí a idéia
aristotélica de que “a natureza não faz nada em vão”. (Sérgio Pena 2006)
A partir das explicações teleológicas Aristóteles moldou o pensamento dos
indivíduos, no sentido de que os fins explicam os meios e não o contrário,
entre as várias explicações teleológicas da época estão; as relacionadas
às mãos: “Diversos filósofos haviam discutido a razão de possuirmos mãos
tão especiais, Aristóteles dizia que a natureza nos dotara de mãos para
que exercitássemos nossa inteligência. Para este filósofo a razão pela qual o pé da
galinha, o do pato e o do gavião ser parecidos, mas profundamente diferentes,
era, pois o pé do pato tinha a finalidade de impulsionar o animal na água; o
da galinha, na terra; e o do gavião tinha a finalidade de agarrar alimento.”
(Nélio Bizzo)
Essa pseudo visão das pessoas de que a natureza é organizada e que tudo e todos
os seres que a constitui estão em constante harmonia e extremamente
bem adaptados, juntamente com as concepções teleológicas de Aristóteles
a capacidade da mente humana em relacionar causas e efeitos, e a visão
de mundo teológico cristã, ganharam força, permanecendo e findando cada vez
mais, ignorando totalmente a casualidade dos processos e relações.
Essa visão teológica cristã da época encontrou na concepção teleológica de Aristóteles
uma compatibilidade, que o mundo alcançaria a perfeição arquitetada por Deus.
O fato é que muitos pesquisadores ainda hoje estão em uma procura incessante
pela finalidade de todos os seres, estruturas, processos, de tudo presente ao nosso redor,
levando ao desenvolvimento de conhecimentos com erros absurdos.
“Nessa época a filosofia e a ciência estavam subordinadas, acima de
tudo a fé.” (Vasconcelos 2011). A Biologia aristotélica tem muito de descritivo e,
por isso, resistiu ao tempo, mas seu recurso ao finalismo e sua aversão a outros
fatores casuais colidem frontalmente com a compreensão moderna. (Nélio Bizzo)
“Entretanto, as explicações teleológicas esbarram em problemas óbvios e graves.
Basta lembrar que causas finais não são propriedades intrínsecas da natureza, mas sim
projeções da mente humana tentando fazer sentido da experiência empírica.”
(Sérgio Pena 2006). Aristóteles em todos os seus estudos, pesquisas e teorias não
apresentavam fundamentos experimentais e práticos, eram estudos, pesquisas e
teorias guiadas por projeções de sua mente. No entanto, com a chegada do século
XVI Galileu Galileu começa a questionar as concepções teleológicas de Aristóteles.
“Galileu procurou subordinar suas crenças ao resultado de ensaios sobre os quais
não pretendia interferir. Esse método era, de fato, revolucionário, e
demonstrou ser extremamente eficiente para criar conhecimento novo, capaz de resolver
problemas concretos com eficácia.” (Nélio Bizzo).
Galileu discordou de várias afirmações feitas por Aristóteles e para
comprova que as afirmações desse filósofo eram falhas Galileu utilizou-se de
experiências, ele procurou resolver questões propondo repostas, mas não baseadas
na teleologia ou teologia e sim voltadas para experimentação e linguagem
matemática. Galileu deu inicio ao um novo conhecimento, e como tudo que é
novo assusta, pela falta de entendimento, esse novo conhecimento trouxe grande
resistência por parte da igreja. Essa por sua vez, questionava se tal filosofia era
contra os dogmas cristãos. Por muito tempo Galileu permaneceu em silêncio com
receio de ser morto por divulgar suas idéias. As idéias desse filósofo retornam
anos depois com os movimentos protestantes, dando inicio a ciência moderna. Para
Descartes, à ciência só restaria a causa eficiente (modelos de explicação estritamente de
causa e efeito), enquanto o questionamento da causa final, tanto de cada ser quanto do
universo em seu todo, seria relegado aos teólogos. Ademais, atribuir vontade e finalidade à
matéria seria conceber, ao material, atributos que são específicos da subjetividade (alma), o
que não se adequaria ao método científico. O
século XVIII é marcado pela chegada das idéias de Charles Darwin e com ele a
diluição dos pensamentos Aristotélicos, essa diluição ocorre devido a idéia de
Darwin sobre a origem, evolução e adaptação das espécies, essas idéias apresentaram
o fim da afirmação de que tudo o que existe tem uma finalidade, um fim ou um
propósito de ser ou de existir. “Segundo Darwin a origem das espécies era devida a
uma combinação de circunstâncias, mas não era resultado de um propósito,
de uma finalidade. Em suma, o finalismo, a teleologia, deixava o campo cientifico e
passava a ser útil apenas na teologia, quadro que permanece inalterado até
nossos dias”. (Nélio Bizzo) As idéias de Darwin são opostas as finalidades
impostas em simples processos biológicos, são opostas a inserção de sentimentos,
vontades e consciências a uma planta, por exemplo, a partir de suas idéias ele
então publicou seu livro A origem das espécies. O livro obteve várias críticas.
Na Autobiografia Darwin se diferencia de modo mais radical daqueles que acreditavam
existir na natureza um desígnio:

“O antigo argumento do plano [design] da natureza, tal como exposto por Paley,
e que antes me parecia tão conclusivo, cai por terra, agora que a lei da
seleção natural foi descoberta. Já não podemos argumentar, por
exemplo, que a bela charneira [hinge] de uma concha bivalve
deve ter sido feita por um ser inteligente, como a charneira
de uma porta foi feita pelo homem. Parece haver tão
pouco planejamento na variabilidade dos seres
orgânicos e na ação da seleção natural quanto
na direção em que sopra o vento. Tudo na
natureza é resultado de leis fixas”.11

Com esse posicionamento Darwin rompe a relação dos processos naturais com o
finalismo, ele argumenta através de um simples e eficaz exemplo entre a charneira
de uma concha bivalve e a charneira de uma porta que ambas não poderiam ter
sido feitas por um ser inteligente, mas apenas a charneira de uma porta, pois
essa sim foi construída para uma finalidade. No entanto a charneira de uma
concha bivalve não teve nenhuma intenção ou finalidade para o seu surgimento
é apenas uma estrutura resultante de um longo e continuo processo de seleção
natural. “Ao recusar as teses finalistas de sua época, Darwin nos mostra a
natureza como um processo histórico se fazendo, que passa agora a demandar
um a preocupação genealógica para o entendimento das diferentes espécies.
“Nossas classificações hão de se transformar em genealogias”, nosso autor afirma de modo
muito sugestivo ao final de “A origem das espécies”. (Maurício Vieira Martins 2010)

GASTON BACHELARD E A NOÇÃO DE OBSTÁCULO EPISTEMOLÓGICO

Com o intuito de facilitar, aperfeiçoar, reduzir e tornar mais atraente a transmissão


de conteúdos didáticos em biologia, os educadores utilizam estratégias,
discursos e informações que podem trazer sérios obstáculos ao ensino cientifico.
A esses obstáculos Bacherlard (1938) chamou de obstáculos epistemológicos,
definindo-os como “lentidões e conflitos” intrínsecos ao ato de conhecer. Dentre
os obstáculos epistemológicos descritos e criticados por ele estão;
experiência/observação primeira, generalização prematura, verbalismo, conhecimento
unitário e pragmático, substancialismo e animismo (Bachelard, 1938/1996).
A definição dos obstáculos é apresentada na obra Formação do Espirito Cientifico (1938)
segundo Bachelard são:
_A “experiência/observação primeira” constitui o primeiro obstáculo, sendo
este caracterizado pela capacidade de considerar apenas os aspectos que
aparentemente são óbvios. Uma experiência primeira é considerada pré-
científica, onde opiniões são formadas antes da procura por fundamentos racionais
para ocorrência de tal fenômeno. Para Bachelard a opinião do “senso comum”
opõe-se a ciência, e que para construir um conhecimento cientifico essa experiência
primeira deve ser o primeiro obstáculo a ser destruído.
_A “generalização prematura/conhecimento geral” neste obstáculo Bachelard
critica a utilização de apenas um conceito para englobar vários fenômenos,
tornando-se um conhecimento extremamente vago. Considerado pré-científico,
por apresentar fenômenos com explicações derivados de um primeiro
fenômeno ocorrido, afirmando dessa forma, o conhecimento dos
demais fenômenos, trazendo uma falsa clareza dos fenômenos. Para Bachelard,
o conhecimento geral é quase fatalmente conhecimento vago (Bachelard, 1938/1996).
_O “verbalismo” segundo Bachelard são hábitos verbais impostos pelos
indivíduos em seus discursos relacionados a ciências, apenas uma palavra mal
colocada em uma frase já constitui um obstáculo para o conhecimento. De
acordo com Bachelard, faz-se necessário que a linguagem corresponda à ciência
contemporânea e acompanhe o desenvolvimento das teorias e do pensamento
científico. Para alcançar a objetividade, é possível, inicialmente, utilizar-se de
imagens, analogias e metáforas, sendo necessária a ruptura com estes obstáculos
para avançar no processo de construção do conhecimento científico, como
discutido por Alice Lopes (Lopes, 2007).
_O conhecimento “unitário” e “pragmático” também são obstáculos
epistemológicos, pois a tendência em se encontrar utilidade para a natureza
resulta a um pragmatismo exagerado, esse hábito de vincular o verdadeiro ao útil
e a busca por uma finalidade em tudo é criticada por Bachelard. Esse obstáculo
resulta em uma concepção finalista (teleológica) dos fenômenos, sendo
inaceitável admitir que algo na natureza ocorra por acaso. Segundo
Bachelard isso resulta na interrupção do raciocínio cientifico e no aprofundamento no
estudo.
_O “substancialismo” obstáculo que se caracteriza pela utilização de adjetivos a
certos fenômenos abstratos, segundo Bachelard corresponde a toda qualidade
adicionada a uma substância. Para Bachelard um indivíduo que apresente tal
obstáculo só conhece um objeto segundo o papel por este desempenhado.
_O “obstáculo animista” representa a marca e o valor que a “intuição
da vida” segundo Bachelard o pensamento animista busca determinar a
importância de cada um dos três reinos as natureza, através de analogias
compatíveis com um plano que se imagina naturais. Nesse obstáculo a palavra
vida encerra em si a máxima valorização, pois é a matéria viva que anima tudo.

TELEOLOGIA COMO OBSTÁCULO PARA O ENSINO DE BIOLOGIA:


Dentre os obstáculos descritos por Bachelard o que será tratado neste trabalho
é o teleológico definido por ele como um conhecimento unitário e pragmático,
esse obstáculo se relaciona com a noção de função em biologia proposta por
Ernst Mayr, que considera a teleologia como a ideologia que mais influenciou a
biologia: “Talvez nenhuma outra ideologia tenha influenciado a biologia mais
profundamente que o pensamento teleológico” (MAYR, 2005).
Ocorre a possibilidade de que vários biólogos tenham recorrido a definições
finalistas para determinar a utilidade dos processos biológicos no inicio,
no entanto, Mayr argumenta que; “Não há teleologia cósmica; não há nenhuma
tendência no mundo para o progresso ou a perfeição”. (MAYR, 2005). Ainda
segundo esse autor não há apoio na teoria de Darwin apresentada em
“Origem das espécies”, indo contra a opinião de vários autores que afirmam
haver teleologia na teoria de Darwin. Mayr por sua vez acredita ser lamentável
a utilização de teleologia por alguns autores nessa teoria. “É lamentável
que alguns autores, mesmo na literatura mais recente, pareçam dotar a
evolução de uma capacidade teleológica.” (MAYR, 2005). A teoria de Darwin
não apresenta uma meta ou um fim ela se renova a cada geração nova, Mayr
afirma está posição na seguinte afirmação: “Decerto é a seleção natural um
processo de otimização, mas não tem meta definida, e, considerando
o número de restrições e a frequência de eventos aleatórios, seria por
demais equivocados chamá-la de teleológica. Nenhum melhoramento em
adaptação tampouco constitui um processo teleológico, porque a decisão
quanto a uma mudança evolutiva qualificar-se como contribuição para
a adaptação é estritamente post hoc.” (MAYR, 2005). Descrições e
discursos teleológicos surge no memento em que deixamos de
considerar que órgãos ou estruturas de um organismos tem sua origem
em causas evolutiva, pensando desta maneira Mayr propôs a utilização de
“papel biológico” ao invés de “função” para descrever os processos.
“Descrições do funcionamento fisiológico de um órgão ou de outra
característica biológica não são teleológicas. Com efeito, em casos favoráveis,
elas podem em grande medida ser traduzidas em explicações físico-químicas;
elas se devem a causações imediatas. O que está em jogo na análise de
aspectos teleológicos é o papel biológico de uma estrutura ou atividade.
Tais papéis se devem a causa e ações evolutivas. Por essa razão,
em meu relato evito cuidadosamente a palavra “função” quando minha
preocupação é o papel biológico de uma característica ou de
um processo” [...]. (MAYR, 2005). Como citou Bachelard este o obstáculo
teleológico é unitário e pragmático interrompendo o raciocínio científico e
o aprofundamento no estudo, uma vez que, desta forma, bastaria achar
o elo que conduz à unicidade e à utilidade que o processo de conhecimento
atingiria seu objetivo. “É unitário no sentido de unidade dos
processos naturais, como construído por uma inteligência suprema. É pragmático
por que todos estes processos têm uma finalidade, em uso, uma utilidade,
que em geral é traduzida pela interpretação do homem. Estes obstáculos
são importante, pois interrompem o raciocínio cientifico, o aprofundamento no
estudo, uma vez que basta achar o elo que conduza a unicidade e a utilidade
que o processo de conhecimento se finaliza.” Bachelard segue explicitando
o significado de unitário e pragmático sendo unitário, pela existência da
crença de que a natureza apresenta um principio e que este estaria
ligado a um ideal de perfeição, onde toda e qualquer ocorrência de
fenômeno ao acaso é inaceitável, sendo considerado erro. E sendo
pragmático devido a idéia de que todos os fenômenos teriam uma utilidade,
obtendo a partir dessa utilidade a função do fenômeno;
“Para o espírito pré-científico, a unidade é um princípio sempre desejado,
sempre realizado sem esforço. Para tal, basta uma maiúscula. As diversas
atividades naturais tornam-se assim manifestações variadas de uma só e única
Natureza). Não é concebível que a experiência se contradiga ou seja
compartimentada. O que é verdadeiro para o grande deve ser verdadeiro
para o pequeno, e vice-versa. À mínima dualidade, desconfia-se do erro”.
(BACHELARD, 1996). “Em todos
os fenômenos, procura-se a utilidade humana, não só pela vantagem
que pode oferecer, mas como princípio de explicação. Encontrar uma
utilidade é encontrar uma razão. (BACHELARD, 1996).
Muitos educadores são contra o uso de formulações teleológicas pelos
livros didáticos e professores porque elas podem confundir os estudantes
levando-os a acreditar que as explicações teleológicas podem ser legitimamente
tratadas como uma explicação causal. (ZOHAR e GINOSSAR 1998).
Os prejuízos ao conhecimento trazidos por esse obstáculo são relevantes e
comprovados por várias pesquisas, que envolveram tanto professores quanto alunos.
Sendo comprovada a presença desse obstáculo entre alunos de pós-
graduação, mestrado e doutorado, afirmando o fato da presença da teleologia
em todas as etapas da formação do conhecimento, tendo início nos primeiros
anos de formação onde os alunos aprendem que cada órgão, cada estrutura no
corpo de um animal ou planta existe para uma função determinada. , e
permanecendo na formação superior. “Essa tendência para explicações
baseadas em propósitos (teleologia) é muito profunda e persiste em pessoas
com alguma formação científica de base” (SINATRA, 2008).
E permanece influenciando como comprovado no trabalho; Concepções sobre
“funções biológicas” entre estudantes do primeiro período do curso de Ciências
Biológicas da Universidade Federal Fluminense, os autores Juliana Schroeder
Damico, Nathalia Pelegrino André, Saullo Rigon Soares entre
outros realizaram em 2011 uma pesquisa através de questionários contendo
perguntas discursivas e diretas com alunos do primeiro período do curso de
Ciências Biológicas. As perguntas foram elaboradas de forma a investigar
as concepções conceituais dos estudantes acerca das teorias que explicam
a evolução dos organismos e da influência das funções desempenhadas por
uma estrutura biológica no processo evolutivo. Os autores concluíram
que não há espaço para a teleologia na Biologia ou mesmo em qualquer ciência,
assim como se deve evitar o uso da linguagem teleológica, ainda que como
metáfora, em artigos científicos ou em sala-de-aula. A teleologia, assim como as
demais concepções identificadas nas respostas dos estudantes, representa
posições conceituais que atuam como obstáculos ao desenvolvimento das
ciências e à construção do conhecimento científico. Além
da teoria de Darwin outro tema relevante e que se destaca por sua definição
teleológica resultando em grande dificuldade de compreensão é o conceito
de osmose. Esse conceito permite ao aluno entender processos: a entrada e
saída de substâncias nas células; a filtração do sangue para retirada de
substâncias tóxicas; a movimentação de água e nutrientes nas plantas, a não
compreensão desse conceito ou compreensão errada afetar conseqüentemente
o entendimento desses processos. Para este
conceito Carmem Maria De Caro Martins em seu trabalho de pós-
graduação realizou a partir de um experimento e em seguida algumas
perguntas com o objetivo de analisar como os estudantes usam o conceito de
osmose, em situações do dia a dia. Fizeram um estudo com sessenta
estudantes de três turmas do terceiro ano do ensino médio regular que já
haviam estudado esse conceito, em uma escola pública com forte tendência
para um ensino teórico-prático. E concluíram com essa analise que há uma
tendência para o uso de explicações teleológica nas respostas dos alunos, e
que há risco de que um esquema de pensamento como este,
antropomórfico e finalista, implique em concepção de que o ambiente pode ser
explorado pelo homem sem nenhuma limitação. Para o bom desenvolvimento da Ciência e
da prática cotidiana da educação é necessário a superação desses obstáculos
propiciando o avanço do conhecimento é essa idéia defendida por Bachelard.
Esse autor defende ainda uma forma de ensinar em correspondência com a
evolução do espírito científico, sendo esse espírito cientifico necessário
para o acompanhamento das reconstruções produzidas pela Ciência.

DIFICULDADES NA IMPLANTAÇÃO DE UM ENSINO SEM FINALIDADES:


As finalidades nas explicações ainda são presentes e são defendidas por muitos
educadores entre outros profissionais da educação, sendo considerada por
estes como importantes para o ensino, e que de forma alguma prejudica a
compreensão dos fenômenos biológicos. Além disso, são consideradas como
uma das melhores opções para resolver questões como o funcionamento de
processos biológicos, papel biológico de órgãos entre outros. Há também
professores que acreditam que as finalidades podem sim ser utilizadas em
determinadas ocasiões como um facilitador da aprendizagem do ensino como
defende Ayala (1998) que há uma finalidade nos sistemas homeostáticos e,
portanto, em sentido estrito, eles são teleológicos. E por fim há
professores que acreditam fielmente que as utilizações de concepções
finalistas resultam em limitações para o desenvolvimento do conhecimento.
Em sua tese de mestrado Maicon J. C. Azevedo (2007) confirmou a
existência e analisou essas três categorias de professores. Concluindo logo
no início do debate que as professoras perceberam que o pensamento
teleológico está muito mais presente no seu fazer cotidiano do que pensavam.
Afirmando que o pensamento teleológico seja utilizado pelas professoras
como valorizador da ação docente, dando maior peso às causas de biologia,
já que a teleologia traz consigo a finalidade e a serventia, aspectos que se
maximizam na óptica utilitarista. Ao longo deste debate Maicon J. C.
Azevedo (2007) percebeu que as docentes, a princípio, aprovam o uso do
pensamento teleológico para o ensino fundamental, e destacam, o valor da
teleologia como facilitadora de aprendizagem. É bastante provável que isto
ocorra por conta da grande capacidade heurística da teleologia que não
restringe unicamente ao domínio filosófico-conceitual. O autor concluiu
que as professoras se utilizam do pensamento teleológico como
instrumento para resolver uma situação de sala de aula em que todos os
recursos disponíveis, naquele momento, foram utilizados e que ainda assim,
não foram suficientes. O autor ainda diz que as professoras sabem que
precisam se utilizar de algo que encerre a questão e satisfaça o aluno, então,
lança mão do argumento teleológico. Parece-nos então, que a atitude
tomada pela professora revela saberes apropriados e acumulados ao longo
de sua experiência. Em diversas situações algumas docentes expressaram
sua insatisfação com o uso da teleologia. Por fim algumas docentes apontam
para a desaprovação do uso da teleologia em turmas do ensino médio e a
maior crítica está assentada na possibilidade de que a teleologia, nas palavras
das próprias, “limite o aprendizado”. Os motivos para a prevalência da
teleologia são vários como comprovado na tese citada esses motivos vão
desde a facilidade ao solucionar problemas até o costume dessa utilização de
teleologia pelos educadores. Algumas professoras até desaprovam essas
associações teleológicas, no entanto, não apresentam conhecimento em
como diminuir esse “vicio” em realizar discursos de forma finalista, até
porque o auxilio que é utilizado pelas docentes o livro didático representa
um estimulo a explicações teleológicas. Há ainda educadoras que
desconhecem esse assunto. Como foi apresentado na tese de Maicon J. C.
Azevedo (2007). Seguindo este raciocínio os autores ZOHAR e GINOSSAR (1998)
argumentam que as explicações antropomórficas e teleológicas prevalecem em biologia por
que:
1) A estrutura física dos organismos vivos é usualmente adaptada para sua
sobrevivência: portanto, os organismos parecem ser orientados para um fim
2) As pessoas tendem a projetar a partir de sua própria experiência as metas
e os objetivos dos fenômenos que eles percebem no mundo.
3) Explicações antropomórficas/teleológicas tem valor aparentemente
explicativo.
4) Tendem a nos dar a sensação de nós realmente entendermos o fenômeno
em questão, porque ela é relatada em termos de proposta, as quais nós temos
familiaridade a partir de nossa experiência.
Além disso, importantes descobertas foram orientadas pela teleologia, o que
aumenta a adesão a esse tipo de explicação. Sendo assim uma tendência
persistente e resistente a mudanças no processo de ensino aprendizagem,
estando presente também nas concepções e elaboração de conceitos em biologia.
TELEOLOGIA PRESENTE NOS LIVROS DIDÁTICOS:

Objetivo Geral:

- Avaliar e identificar os obstáculos teleológicos definidos como “unitários e pragmáticos” ao


conhecimento presentes nos livros didáticos de biologia.

Objetivos Especificos:

- Determinar quais pronomes e expressões presentes nos exercícios e explicações dos livros
didáticos que resultam na formulação de respostas e explicações finalistas pelos alunos;
(EXEMPLOS:Como, Por que, “função de”, “o papel de”, “serve como”, “serve para”, “com o
objetivo de”, “com propósito de” entre outros.) Só para te mostrar oq eu quis dizer

- Determinar os critérios utilizados pelos autores para a formulação das explicações;


(ausência de embasamento teórico, tentativas de facilitar o conteúdo, resumir a explicação entre
outros;) Só para te mostrar oq eu quis dizer.

- Identificar e analisar algumas explicações que apresentam atribuições finalistas;

- Determinar um processo biológico em comum nas quatro coleções de livro didático que
apresente atribuição finalista; OU (Determinar se os conceitos de osmose e evolução são
apresentados com atribuições finalistas)

- A partir desse processo biológico selecionado analisá-lo, reescrevendo-o de forma menos


finalista.

- Identificar em qual área (citologia, fisiologia, histologia) ocorre predominância de atribuições


finalistas;

http://pt.scribd.com/doc/7182651/Bachelard-Gaston-A-Formacao-Do-Espirito-Cientifico

Os Livros Didáticos:

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