Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO DO 5º GRUPO
HAS JONAS
O PRINCIPIO DA RESPONSABILIDADE
Universidade Rovuma
Lichinga
2020
Paulo Esticane Basse
RESUMO DO 5º GRUPO
HAS JONAS
O PRINCIPIO DA RESPONSABILIDADE
Universidade Rovuma
Lichinga
2020
Índice
HANS JONAS...............................................................................................................3
Capítulo I:......................................................................................................................4
1. A natureza modificada do agir humano.....................................................................4
1.1. Princípios de injunções...........................................................................................4
1.2. O exemplo da antiguidade......................................................................................4
1.3. Homem e natureza..................................................................................................5
2. A obra humana da Cidade..........................................................................................5
Capitulo II......................................................................................................................5
Características da ética até o momento presente...........................................................5
Capitulo III.....................................................................................................................6
Novas dimensões da responsabilidade...........................................................................6
Capitulo IV....................................................................................................................7
Tecnológica como "Vocação" da Humanidade.............................................................7
A natureza modificada do agir humano.........................................................................8
V. Velhos e novos imperativos......................................................................................8
VI. Antigas formas da "Ética do Futuro".......................................................................9
Ética da consumação no mais-além...............................................................................9
A responsabilidade do estadista com o futuro...............................................................9
A utopia moderna...........................................................................................................9
VII. O homem como objecto da técnica......................................................................10
VIII. A dinâmica "Utópica" do progresso técnico e o excesso de responsabilidade...10
IX. O vácuo ético.........................................................................................................11
Capitulo V....................................................................................................................11
Questões de princípio e de método..............................................................................11
I. Saber ideal e saber real na ética do futuro"..............................................................11
II. Primazia do mau prognóstico sobre o bom.............................................................12
III. O elemento da aposta no agir.................................................................................13
IV. O dever para com o futuro.....................................................................................14
V. Ser e dever...............................................................................................................15
Capitulo VI..................................................................................................................17
Sobre os fins e sua posição no ser................................................................................17
4
I. O Martelo..................................................................................................................17
1. Constituído a partir do fim.......................................................................................17
II. O Tribunal...............................................................................................................17
III. O andar...................................................................................................................19
IV. O órgão digestivo...................................................................................................20
Capítulo VII.................................................................................................................21
O bem, o dever e o ser: teoria da responsabilidade.....................................................21
IV. Teoria da responsabilidade: o horizonte do futuro................................................23
VII. A criança: o objecto originário da responsabilidade............................................24
V. Até onde se estende a responsabilidade política no futuro?...................................24
VI. Por que a responsabilidade não esteve..................................................................25
Capitulo VIII................................................................................................................25
A responsabilidade hoje: o futuro ameaçado e a ideia de progresso...........................25
II. A ameaça tenebrosa contida no ideal baconiano.....................................................26
III. Capitalismo ou marxismo: quem está mais bem preparado para enfrentar o
perigo?.........................................................................................................................26
IV. Exame concreto das possibilidades abstractas.......................................................26
V. a utopia do "homem verdadeiro'; o que está por vir...............................................27
VI. A utopia e a ideia de progresso..............................................................................27
Capitulo IX..................................................................................................................27
A crítica da utopia e a ética da responsabilidade.........................................................27
3
HANS JONAS
Hans Jonas nasceu em 1903, em Monchengladback, na Alemanha. De origem judaica,
deve boa parte de sua excelente e profunda formação humanística à leitura atenta dos
profetas da Bíblia hebraica. Sua intensa vida intelectual apresenta três momentos
marcantes de sua formação filosófica.
Capítulo I:
1. A condição humana, conferida pela natureza do homem e pela natureza das coisas,
encontra-se fixada de uma vez por todas em seus traços fundamentais;
2. Com base nesses fundamentos, pode-se determinar sem dificuldade e de forma clara
aquilo que é bom para o homem;
3. O alcance da acção humana e, portanto, da responsabilidade humana é definida de
forma rigorosa.
Singrando os mares espumosos, impelido pelos ventos do sul, ele avança e arrosta as
vagas imensas que rugem ao redor!
E Gea, a suprema divindade, que a todas mais supera, na sua eternidade, ele a corta
com suas charruas, que, de ano em ano, vão e vêm, fertilizando o solo, graças à
força das alimárias!
Os bandos de pássaros ligeiros; as hordas de animais selvagens e peixes que habitam
as águas do mar, a todos eles o homem engenhoso captura e prende nas malhas de
suas redes.
5
Capitulo II.
3. Para efeito da acção nessa esfera, a entidade "homem" e sua condição fundamental
era considerada como constante quanto à sua essência, não sendo ela própria objecto da
techne (arte) reconfiguradora.
Capitulo III.
1. A vulnerabilidade da natureza
Tome-se, por exemplo, como primeira grande alteração ao quadro herdado, a crítica
vulnerabilidade da natureza provocada pela intervenção técnica do homem uma
vulnerabilidade que jamais fora pressentida antes de que ela se desse a conhecer pelos
danos já produzidos.
7
Sob tais circunstâncias, o saber torna-se um dever prioritário, mais além ele tudo o que
anteriormente lhe era exigido, e o saber deve ter a mesma magnitude da dimensão
causal nosso agir. Nenhuma ética anterior vira-se obrigada a considerar a condição
global da vida humana e o futuro distante, inclusive a existência da espécie. O facto de
que hoje eles estejam em jogo exige, numa palavra, uma nova concepção de direitos e
deveres, para a qual nenhuma ética e metafísica antiga pode sequer oferecer os
princípios, quanto mais uma doutrina acabada.
Capitulo IV
Pois a fronteira entre "Estado" (Pólis) e "Natureza" foi suprimida: a "cidade dos
Homens", outrora um enclave no mundo não-humano, espalha-se sobre a totalidade da
natureza terrestre e usurpa o seu lugar.
8
A diferença entre o artificial e o natural desapareceu, o natural foi tragado pela esfera do
artificial; simultaneamente, o artefacto total, as obras do homem que se transformaram
no mundo, agindo sobre ele e por meio dele, criaram um novo tipo de "Natureza", isto
é, uma necessidade dinâmica própria com a qual a liberdade humana defronta-se em um
sentido inteiramente novo.
2. Um imperativo adequado ao novo tipo de agir humano e voltado para o novo tipo ele
sujeito actuante deveria ser mais ou menos assim: "Aja de modo a que os efeitos da tua
acção sejam compatíveis com a permanência de uma autêntica vida humana sobre a
Terra"; ou, expresso negativamente: "Aja de modo a que os efeitos da tua ação não
sejam destrutivos para a possibilidade futura de uma tal vida"; ou, simplesmente: "Não
ponha em perigo as condições necessárias para a conservação indefinida da
humanidade.
9
A condução ela vida terrena, a ponto ele sacrificar sua felicidade, em vista da
salvação eterna da alma;
A preocupação previdente do legislador e do estadista com o futuro bem comum;
E a política da utopia, com a disposição de utilizar os que agora vivem como
simples meio para um fim que se encontra além deles ou eliminá-los como
obstáculos a esse fim da qual o marxismo revolucionário é o exemplo proeminente.
A utopia moderna
a) Essa situação somente se modifica quando consideramos o terceiro exemplo, aquele
que chamei de política da utopia, um fenómeno inteiramente moderno e que
pressupõe uma escatologia dinâmica da história, desconhecida no passado dela
mesma.
b) Certamente, também houve aqui uma forma extrema, na qual aqueles que queriam
"apressar o fim" tomaram sua realização nas próprias mãos, pretendendo iniciar o
reino messiânico ou milenar - para o qual acha.
10
O que está em questão não é a validade delas no próprio domínio, mas a suficiência
delas para as novas dimensões do agir humanos, que lhes transcendem.
1. Prolongamento da vida
2. Controle de comportamento
O mesmo ocorre com todas as outras possibilidades quase utópicas que o progresso das
ciências biomédicas em parte já disponibiliza traduzido em poderio técnico e em parte
acena como possibilidade.
3. Manipulação genética
A mesma exigência se impõe em grau ainda mais alto com respeito ao último objecto de
uma tecnologia aplicada ao homem - o controle genético dos homens futuros. Esse é um
assunto grande demais para ser tratado superficialmente nestas considerações iniciais e
merecerá um capítulo próprio em um trabalho sobre "aplicações", que virá mais tarde.
Capitulo V
Logo em seguida chega a vez de um outro tipo de verdade que é objecto do saber
científico, ou seja, a verdade relacionada a situações futuras extrapoláveis do homem e
do mundo, que devem ser submetidas ao julgamento daquelas primeiras verdades
filosóficas, a partir das quais retornamos às acções actuais, para então avaliá-las, como
causas das suas consequências certas, prováveis ou possíveis no futuro.
Esse elo intermediário de união e concretização, que descreve as situações futuras, não
está separado da parte que se refere aos princípios fundamentais; ao contrário, ele está
presente nesses próprios princípios, de modo heurístico.
12
Mas logo se vê que esse Malum imaginado, não sendo o meu, não produz o medo da
mesma forma automática como o faz o Malum que eu experimento e que me ameaça
pessoalmente.
A essas considerações gerais se acresce, em segundo lugar, o status bem peculiar dos
períodos que se seguem à adopção de uma tecnologia, quando se acredita na
possibilidade de realizar as rectificações que se mostrem necessárias.
bem e o mal. Mas essa herança pode se perder. Em uma situação absolutamente
miserável pode-se acreditar que qualquer mudança constituiria uma melhora; também se
pode (como na frase "o proletário não tem nada a perder a não ser os seus grilhões")
arriscar tranquilamente o que existe por algo que, em caso de sucesso, somente poderia
ser melhor, e em caso de falha não significaria grande perda.
Considerando a questão rigorosamente, não se pode apostar nada que não se tenha
(permanece em aberto a questão de se a alguém é permitido apostar tudo o que lhe
pertence).
Essa restrição a de que somente a prevenção do mal maior e não a obtenção do bem
maior justifica que, em certas circunstâncias, se arrisque a totalidade dos interesses
alheios, no interesse deles mesmo exclui do âmbito dessa autorização os grandes riscos
da tecnologia., isto é, para o progresso, cuja versão mais pretensiosa pretende construir
um paraíso terrestre. Assim, o progresso e suas obras situam-se antes sob o signo da
soberba que da necessidade.
14
Aquilo que temos de exigir do nosso princípio não pode ser obtido pela ideia tradicional
de direitos e deveres pela ideia baseada na reciprocidade, segundo a qual o meu dever é
a imagem reflectida do dever alheio, que por seu turno é visto como imagem e
semelhança de meu próprio dever, de modo que, uma vez estabelecidos certos direitos
do outro, também se estabelece o meu dever de respeitá-los e, se possível (acrescentes
caiu-se uma ideia de responsabilidade positiva), promovê-los. Esse esquema não serve
para o nosso objectivo.
Assim, em virtude desse primeiro imperativo, a rigor não somos responsáveis pelos
homens futuros, mas sim pela ideia do homem, cujo modo de ser exige a presença da
sua corporificação no mundo.
A última afirmação contraria os dogmas mais arraigados do nosso tempo: o de que não
existe verdade metafísica e o de que não se pode deduzir um dever do Ser.
Em todo caso, em função de nosso princípio primeiro - que deve nos dizer por que os
homens do futuro importam na medida em que nos mostra que "o homem" importa -,
não podemos nos poupar da ousada incursão na ontologia, mesmo se o terreno que
alcançamos for tão inseguro quanto aquele onde a teoria pura tem de se deter, ainda que
ele permaneça eternamente suspenso sobre o abismo do incognoscível.
V. Ser e dever
Nossa questão é: o homem deve Ser? Para colocá-la correctamente temos primeiro de
responder à pergunta: o que significa isso, dizer que algo deve Ser? Isso evidentemente
conduz de volta à questão de saber ser, de forma geral, algo - em vez de nada - deve Ser.
16
1. O dever-ser de algo
Toda essa questão converge para a pergunta se há, mesmo a o como "o valor" como tal,
não como algo real aqui e agora, mas como algo conceptualmente possível. Por isso é
inquestionável a necessidade de se estabelecer o status ontológico e epistemológico do
valor de um modo geral e explorar a questão de sua objectividade.
Capitulo VI
I. O Martelo
Contudo, aquele conceito, que era a sua causa e constitui o seu Ser, não era
propriamente seu, mas de seu fabricante, o qual, ao fabricá-lo, não lhe pôde transferi-la;
a medição do tempo é uma finalidade genuína do fabricante, e assim permanece; nunca
se torna a finalidade do próprio relógio.
18
II. O Tribunal
Vamos ao outro extremo da série, o tribunal. Ele também é um artefacto, nomeadamente
uma instituição humana, e nele o conceito, evidentemente, também precede a coisa: foi
instalado para fazer justiça. A existência dessa entidade baseia-se nos conceitos de
direito e de jurisdição.
1. Imanência do fim
Mas como essa finalidade opera no tribunal? Opera na medida em que as próprias partes
que agem (diferentemente do relógio) são animadas pelo fim, isto é, o desejam e agem
de acordo com ele - o que supõe que elas devam ser, antes de tudo, seres que querem
um fim e possuem autonomia.
Esse lado subjectivo, ou a ideia determinada a partir de dentro, é a única coisa que
permite identificar tal ferramenta social. Posso descrever adequadamente o martelo sem
apontar o seu fim (ou mesmo conhecê-lo), destacando apenas a sua configuração
visível, composição, material e forma de suas partes, e assim também o relógio (mesmo
quando ele não funciona).
No caso das instituições humanas, podemos constatar o quanto "a ferramenta" não só se
define inteiramente pelo seu para quê, mas subsiste graças a ele.
III. O andar
1. Meios artificiais e naturais
Comecemos com o andar, exemplo do tipo "voluntário", no qual a intenção humana tem
algum espaço, na medida em que aquele que anda pode ser um organismo humano.
2. A diferença entre meio e função (uso)
Dissemos que "se anda para se chegar a algum lugar". Este "para" designa o fim. Anda-
se "com" as pernas; estas (com todo o aparelho neuromuscular a elas associado) são o
meio.
Nessa semelhança entre membros, ou seja, entre órgãos motores externos e ferramentas,
encontramos o motivo de os primeiros e, por extensão, de todas as estruturas funcionais
auxiliares do corpo, as internas não menos que as externas, as sensórias e químicas não
menos que as motoras - serem chamados de "órgãos", o que significa exactamente
"ferramentas": algo que executa uma obra, ou algo com o que uma obra é executada.
Mas é igualmente claro (ou quase igualmente claro) que, no agir animal, não se pode
supor um tal encadeamento articulado de fins e meios que seja também orientado para
um fim.
a) Todo órgão em um organismo serve a um fim, o qual ele realiza ao funcionar. O fim
abrangente, a serviço do qual se encontram todas as funções específicas, é a vida do
organismo como um todo.
b) Essa teleologia da máquina, trazida de fora, localiza-se originalmente nos
organismos fabricantes, nos construtores humanos. Por conseguinte, estes não
podem ser, eles próprios, de natureza completamente não-teleológica.
a) A interpretação dualista
Pode ser pensado de duas maneiras, aliás, como já foi feito. Seja de modo que o
princípio estranho com isso, logicamente, a teleologia que de início havíamos admitido
para a fabricação da máquina recai novamente no reino da aparência: os fabricantes são
máquinas que fazem máquinas.
1. Universalidade e legitimidade
Todos os homens, diz-se, almejam a felicidade. Não se diz isso em virtude de uma
comprovação estatística, pois ao dizê-lo acrescentamos a afirmação de que tal busca da
felicidade se encontra na sua própria natureza; portanto, fazemos uma constatação sobre
sua essência
21
O seu decreto, isto é, a parcialidade de seus fins, pode ser contestado se para tal nos
servirmos igualmente de um desses fins.
A impossibilidade de uma negação legítima, porém, não basta para legitimar o próprio
objecto, isto é, para impor de modo legítimo a sua afirmação.
Capítulo VII
Mas o que é válido para uma finalidade determinada ou seja, que em primeiro lugar
valha a sua facticidade, e a validade do bem e do mal venha em seguida, determinada
por aquela (de facto), mas não legitimada (de jure) - será igualmente válido para o
carácter ontológico de um Ser? Aqui a situação é distinta. Podemos reconhecer um bem
em si na capacidade como tal de ter finalidade, pois se sabe intuitivamente que ela é
infinitamente superior a toda falta de finalidade do Ser.
3. A auto-afirmação do Ser na finalidade
sendo melhor que o não-Ser. Em cada finalidade o Ser declara-se a favor de si, contra o
nada.
Esse "sim" que actua cegamente adquire uma força obrigatória em virtude da liberdade
lúcida do homem, o qual, como resultado supremo do trabalho finalista da natureza, não
somente é um continuador da obra desta, mas pode converter-se também em seu
destruidor, graças' ao poder que o conhecimento lhe proporciona.
Considerando que a finalidade como tal é o primeiro dos bens e que, em termos
abstractos, "reivindica" a sua realização, ela já compreende um querer dos fins, por
meio dos quais, como condição da sua continuidade, ela se quer a si mesma como
finalidade fundamental: naturalmente dada, essa finalidade busca satisfazer a sua
reivindicação de ser, que, portanto, se encontra em boas mãos.
7. "Valor" e "bem"
Do ponto de vista linguístico, "o bem", comparado com "o valor", tem a dignidade de
uma coisa em si. Inclinamo-nos a compreendê-lo como algo independente do nosso
desejo e da nossa opinião.
Da mesma maneira como não nos furtamos à distinção entre desejo e dever, nosso
sentimento também nos assegura de que fazer o bem por ele mesmo beneficia de certo
modo o agente, e isso independentemente do êxito da acção. Quer possa ou não partilhar
o bem realizado, vê-lo acontecer ou mesmo fracassar - seu ser moral ganhou pelo facto
de haver respondido ao apelo do dever.
IV. Teoria da responsabilidade: o horizonte do futuro
23
Entretanto, há outra noção de responsabilidade que não concerne ao cálculo do que foi
feito Ex Post facto, mas à determinação do que se tem a fazer; uma noção em virtude da
qual eu me sinto responsável, em primeiro lugar, não por minha conduta e suas
consequências, mas pelo objecto que reivindica meu agir.
O jogador que arrisca no casino todo o seu património age de forma imprudente; quando
se trata não do seu património, mas do de outro, age de forma criminosa; quando é pai
de família, sua acção é irresponsável, mesmo que se trate de bens próprios e
independentemente do facto de ganhar ou perder.
Não é evidente que possa haver responsabilidade, em sentido estrito, entre dois seres
absolutamente iguais (dentro de uma dada situação).
A esta altura, pode ser do maior interesse teórico examinar como essa responsabilidade
nascida da livre escolha e aquela decorrente da menos livre das relações naturais, ou
seja, a responsabilidade do homem público e a dos pais: que se situam nos extremos do
espectro da responsabilidade, são as que têm mais aspectos em comum entre si e as que,
em conjunto, mais nos podem ensinar a respeito da essência da responsabilidade.
A esfera política não apresenta nada semelhante aos fenómenos do devir individual.
Mas, em todas essas circunstâncias, por mais diferente que fosse, o Ser humano não era
menos "inacabado" do que ele o é actualmente.
Caso se queira falar ele juventude e velhice em sentido colectivo, é preciso lembrar-se
primeiro que a humanidade já existe há muito tempo.
A teoria não tem papel algum nesse reconhecimento do momento. Isto é óbvio para os
antigos, que não tinham nenhuma teoria do futuro sociopolítico. Mas a situação parece
diferente para os tempos modernos – por exemplo, Lenin e seu momento, o do ano
1917. Contudo, trata-se apenas de aparência.
Já temos 'uma primeira resposta para a questão que propusemos e logo abandonamos,
ou seja, por que o conceito de responsabilidade, ao qual pretendemos conferir uma
importância central na ética, não desempenhou esse papel e nem sequer algum papel
importante nas teorias morais tradicionais. Esse é o seu "dever" mais modesto e, ao
mesmo tempo, o mais severo. Assim, aquilo que liga a vontade ao dever, o poder, é
justamente o que desloca a responsabilidade para o centro da moral.
Capitulo VIII
Recapitulemos: o dever do qual falamos surge com a ameaça sobre aquilo de que
falamos.
Tudo o que dissemos aqui é válido sob a pressuposição de que vivemos em uma
situação apocalíptica, às vésperas de uma catástrofe, caso deixemos que as coisas sigam
o curso actual. O que chamamos de programa balonismo - ou seja, colocar o saber a
serviço da dominação da natureza e utilizá-la para melhorar a sorte da humanidade não
contou desde as origens, na sua execução capitalista, com a racionalidade e a rectidão
que lhe seriam adequadas; porém, sua dinâmica de êxito, que conduz obrigatoriamente
aos excessos de produção e consumo, teria subjugado qualquer sociedade,
considerando-se a breve escala de tempo dos objectivos humanos e a imprevisibilidade
real das dimensões do êxito (uma vez que nenhuma sociedade se compõe de sábios).
III. Capitalismo ou marxismo: quem está mais bem preparado para enfrentar o
perigo?
Após a avaliação instrumental, que pareceu apontar uma vantagem para um marxismo
interiormente mais comedido (ou seja, melhores possibilidades de dar conta das duras
tarefas do futuro), surge a questão principal: quais são as possibilidades de que esse
marxismo saiba aproveitar tais oportunidades? Essa questão requer, por assim dizer,
uma meta crítica da crítica precedente, reabrindo novamente a comparação
empreendida. Pois o "marxismo", como tal, não passa de uma abstracção.
28
Já que a própria utopia se cala nesse ponto, temos o direito de nos voltar para Nietzsche.
Vindo do extremo oposto do espectro, ele chega à mesma conclusão de que tudo o que
ocorreu até agora não passa de uma etapa preliminar, uma transição do animal para o
super-homem futuro
Já expusemos satisfatoriamente por que "nós" não podemos mais permitir que o bem-
estar mundial continue aumentando, na média. Isso implica renúncias por parte dos
países desenvolvidos, pois o crescimento dos países subdesenvolvidos só poderia
ocorrer às suas custas.
Capitulo IX
As últimas frases do capítulo precedente fornecem o tema para este. Elas diziam: o que
valia até agora como natureza humana era o produto de circunstâncias constrangedoras
e deformantes: só as circunstâncias de uma sociedade sem classes trará à luz a
verdadeira natureza humana, e com o "reino da liberdade" começará a verdadeira
história da humanidade. Essa questão é decisiva, quando se consideram os riscos a
serem assumidos diante de uma perspectiva tão sublime.
Ética Da Responsabilidade
A crítica da utopia, que agora concluímos, teria sido demasiado extensa, caso a utopia
marxista, em sua estreita aliança com a técnica, não representasse uma versão
escatologicamente radicalizada daquilo para onde o ímpeto tecnológico mundial nos
está empurrando, sob o signo do progresso, ainda que de forma nada escatológica.
29
A esperança é uma condição de toda acção, pois ela supõe ser possível fazer algo e diz
que vale a pena fazê-lo em uma determinada situação.
Guardar intacto tal património contra os perigos do tempo e contra a própria acção dos
homens não é um fim utópico, mas tampouco se trata de um fim tão humilde. Trata-se
de assumir a responsabilidade pelo futuro do homem.