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DIREITO CIVIL

ITEM 1.A: Da aplicação da lei no tempo e no espaço. Das fontes do direito.

Obras consultadas: BENJAMIN, Antonio Hermann. MARQUES, Cláudia Lima. BESSA, Leonardo Roscoe.
Manual de Direito do consumidor. São Paulo: RT, 2008; FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson.
Curso de Direito Civil. Vol. 2. 6. Ed. Rev. Ampl. Salvador: Juspodivm. 2012; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de
Direito Constitucional. 2. Ed. Rev. São Paulo: Saraiva, 2008; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. GAGLIANO, Pablo
Stolze. Novo Curso de Direito Civil. Vol. 2. Direito de Família. 13. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
Legislação básica: Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (DL 4.657/42).

Fontes do Direito
i) fontes históricas;
ii) fontes formais;
iii) fontes não formais;
iv) fontes diretas (imediatas);
v) fontes indiretas (mediatas)
(para detalhes, ver texto ao fim do tópico).

Classificação das leis


(i) cogentes ou dispositivas (segundo a imperatividade);
(ii) mais do que perfeitas (dupla sanção: nulidade absoluta ou relativa + sanção ao infrator), perfeitas (anulação ou
nulidade), menos que perfeitas (sanção sem anulação) e imperfeitas (ausência de sanção), quanto ao
autorizamento;
(iii) substantivas ou adjetivas, quanto à natureza;
(iv) constitucionais, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas (art. 68, CRFB), quanto à hierarquia.

Revogação
(i) ab-rogação (integral) e derrogação (parcial) e (ii) tácita e expressa

Integração
Analogia: (i) Analogia pela lei, analogia pelo direito
Costume: (i) Uso e Convicção Jurídica
Princípios Gerais de direito:

Leis no Tempo
Graus de retroatividade (conforme Mendes)
Retroatividade máxima – Lei nova ataca fatos (atos, coisa julgada) já consumados, inadmissível em nosso
ordenamento.
Retroatividade média – Lei nova atinge efeitos pendentes de atos jurídicos ocorridos antes da vigência da nova lei.
Exemplo: Hipotética lei que limitasse a taxa de juros e fosse aplicada aos juros vencidos (antes da vigência da
nova lei) e não pagos.
Retroatividade mínima – Lei nova atinge apenas os efeitos dos atos anteriores produzidos após a data de sua
vigência.

Ato Jurídico Perfeito: Ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetivou.

Direito Adquirido: Para Gilmar Mendes possui caráter constitucional, tendo a Lei de introdução apenas trazido
definições. Consideram-se direitos adquiridos aqueles que a) seu titular ou alguém por ele possam exercer; b)
aqueles cujo começo do exercício tenham termo pré-fixo; e c) aqueles cujo começo do exercício tenham
condição preestabelecida inalterável a arbítrio de outrem.

Coisa Julgada: caso julgado do qual já não caiba recurso

Lei de Introdução e leis no espaço

Art. 7º LINDB – Aplica-se a lei do país de domicílio da pessoa nos casos de a) começo e fim da personalidade; b)
nome; c) capacidade e d) direitos de família.
Art. 8º LINDB – Lei do lugar da coisa – Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplica-se
a lei do país em que estiverem situados. Aos bens em trânsito, aplica-se a lei do país em que for domiciliado o
proprietário, quanto aos bens móveis que ele trouxer ou lhe destinarem a outros lugares.

Art. 9º LINDB – Nas relações obrigacionais, observa a lei do país em que se constituírem, sendo que a
obrigação resultante de contrato reputa-se constituída no lugar que residir o proponente. (Atenção - Para o
Código Civil o contrato é celebrado no lugar em que foi proposto – Art. 436)

Art. 10 LINDB – Sucessão – Regra – Aplica-se a lei do país em que era domiciliado o de cujus. No caso de
sucessão de bens estrangeiros situados no país, será observada a lei brasileira, em benefício do cônjuge e
filhos brasileiros, salvo se a lei pessoal do estrangeiro for mais favorável, hipótese na qual será aplicada pela
autoridade judiciária brasileira, por força do art. 12 da LINDB. A capacidade para suceder é regulada pelo
domicílio do herdeiro ou legatário.

Art. 17 LINDB – Requisitos para eficácia de: leis, atos e sentenças de outros países no Brasil - a)Soberania
Nacional, b) Ordem Pública; c) Bons costumes.

As classificações acerca das fontes observam (i) fontes históricas, mais relacionadas à investigação sobre a origem
de determinado instituto, auxiliares para sua melhor compreensão, mas insuficientes para uma efetiva aplicação; (ii)
fontes formais do direito, que segundo nosso ordenamento jurídico (por força do artigo 5º, II, da CRFB, 4º da
LICC e do artigo 126 do CPC) são a lei, a analogia, o costume e os princípios gerais de direito; e (iii) fontes não
formais, que abarcam a jurisprudência e a doutrina.

Outra forma de classificação da literatura jurídica acerca das fontes do direito as entende como (i) fontes diretas
(imediatas), como leis e costume, por gerarem por si só a norma; e (ii) fontes indiretas (mediatas), que são a
doutrina e a jurisprudência, por contribuírem para a elaboração e interpretação da norma.

Dentre as fontes, tem-se o primado da lei, por força constitucional (art. 5º, II). Dentre as características da lei se
destacam (i) generalidade, destinada a todos e prevendo situações genéricas, para concretização no caso concreto;
(ii) imperatividade, a imposição de um mandamento exigível externamente, que deve ser cumprido, podendo ser
cobrado seu cumprimento por outro, por meio do próprio direito, o que conduz à característica (iii), o
autorizamento, para que o lesado exija o cumprimento ou a reparação pelo dano causado; (iv) permanência, que se
relaciona com a própria idéia de generalidade, na medida em que a lei não se exaure na sua própria aplicação,
permanecendo vigente e aplicável a outras situações semelhantes enquanto não for revogada; e, por fim, (v) a
emanação por autoridade competente, de acordo com as constitucionais previstas e com as conseqüentes
disposições relativas ao processo legislativo, a exemplo da iniciativa de proposição.

A literatura jurídica classifica as leis de acordo com sua (i) imperatividade; (ii) autorizamento e (iii) natureza.

Quanto à imperatividade, podem ser (i) cogentes (de ordem pública), em que as condutas são exigíveis de forma
absoluta, mitigando, restringindo a esfera de autonomia privada do cidadão, que não pode derrogá-las de acordo
com sua manifestação de vontade. Destacam-se, nesse sentido, as disposições relativas a direito de família, a
exemplo das exigências relativas à adoção. Podem também as leis serem (ii) dispositivas, em que há a abertura para
uma manifestação de vontade mais ampla, que se destaca de maneira mais forte no âmbito contratual e empresarial,
bem como no cumprimento de obrigações, a exemplo do art. 327 (estipulação do local do pagamento).

Quanto ao autorizamento, podem ser (i) mais do que perfeitas, ao autorizarem a aplicação de duas sanções em
esferas jurídicas diferentes, a exemplo do devedor de alimentos (prisão e pagamento das prestações vencidas) e
também em leis mais afeitas ao âmbito público, tal como as diferentes sanções previstas na Lei de Improbidade
Administrativa (suspensão de direitos políticos, multa); (ii) perfeitas, impondo a nulidade do ato, tal qual aquele
praticado por absolutamente incapaz; (iii) menos que perfeitas, impondo sanção no caso de descumprimento mas
sem acarretar a nulidade do ato, como previsto no art. 1523, do CC; e (iv) imperfeitas, que não acarretam sanções, a
exemplo do exigimento de dívidas prescritas.

Quanto à natureza pode ser (i) substantivas, relacionadas ao direito material, a exemplo das disposições do código
civil, ou (ii) adjetiva, relacionadas ao processo de exigências da realização dos direitos.

Quanto à hierarquia, podem ser (i) constitucionais; (ii) leis complementares; (iii) leis ordinárias; (iv) leis
delegadas. Decreto não é lei, mas ato normativo do poder executivo, que deve se limitar a especificar, regulamentar
disposições já previstas legalmente (salvo no caso de decretos autônomos, possibilitados unicamente nos casos
previstos 84, VI, alíneas “a” e “b” da Constituição da República).
A simples votação do texto legal e sua posterior sanção pelo Presidente da República não inicia o período de
vigência da lei. O marco inicial se dá com sua publicação, passando a vigorar efetivamente apenas 45 dias
após esse ato, salvo se a própria lei estipular em sentido diverso (art. 1º LICC). Esse prazo de 45 dias é a
chamada vacatio legis. Nos casos de leis brasileiras admitidas no exterior, sua obrigatoriedade se inicia três meses
após sua publicação.

Diálogo das Fontes. Para o diálogo de fontes (que em determinadas situações afasta a regra da LINDB acerca da
relação entre lei geral e lei especial), mais importante do que saber qual lei se aplica em face de critérios de
generalidade/especialidade, é questionar: qual dispositivo normativo é mais apto a permitir a maior efetivação de
mandamentos constitucionais, em especial direitos fundamentais? Essa proposta de interpretação só é possível de ser
compreendida a partir do processo de constitucionalização do direito civil ocorrido em nosso ordenamento, em
diálogo com a afirmação da dimensão objetiva dos direitos fundamentais, entendida por Gilmar Mendes nos
seguintes termos: A dimensão objetiva resulta do significado dos direitos fundamentais como princípios básicos da
ordem constitucional (...) Esse fenômeno faz com que os direitos fundamentais influam sobre todo o ordenamento
jurídico, servindo de norte para a ação de todos os poderes constituídos. É a partir desse pano de fundo que se tem
a consideração e aplicação (bem como sua negativa) do diálogo de fontes em manifestações do Superior Tribunal
de Justiça, como se verifica na análise mais detida das decisões dos paradigmáticos Recurso Especiais n. 1.147.138
(Guarda compartilhada entre avó e tio) e n. 489.985 (Direito do Consumidor, indústria tabagista e
prescrição). O diálogo das fontes se insere no contexto de constitucionalização do Direito Civil, que parte de uma
leitura apta a dialogar com a complexidade da contemporaneidade e é entendida por Paulo Luiz Netto Lôbo como o
processo de elevação ao plano constitucional dos princípios fundamentais do direito civil, que passam a condicionar
a observância pelos cidadãos, e a aplicação pelos tribunais, da legislação infraconstitucional. É um fenômeno
verificado na tradição brasileira no contexto pós Constituição de 1988, calcado na afirmação da força normativa da
Constituição, com o intuito de promover a superação de tentativas hermenêuticas “invertidas”, que procuram
entender a Constituição e seus princípios a partir de regras presentes na legislação civil, que procuram conceder uma
leitura reducionista de direitos e garantias fundamentais previstos constitucionalmente a interpretações restritivas
baseadas em dispositivos do Código Civil, ignorando, dessa forma, o papel dos princípios constitucionais6 e dos
direitos fundamentais no ordenamento. A afirmação da constitucionalização do direito civil não ocorre por simples
escolha ou modismo, mas é fruto da adequação da interpretação jurídica ao paradigma do Estado Democrático de
Direito previsto pela Constituição da República, paradigma esse que concede importante dimensão aos princípios
constitucionais e direitos fundamentais dentro do ordenamento e na sua relação com os diversos ramos do direito,
superando, dessa forma, leituras tradicionalistas (e paradigmaticamente defasadas) que defendiam a ideia de
desnecessidade de adequação do ramo civilista aos princípios presentes na Constituição. É necessário delimitar
alguns pontos que caracterizam a constitucionalização do Direito Civil e a substancial mudança de atitude que
promove, segundo a qual “deve o jurista interpretar o Código Civil segundo a Constituição e não a Constituição,
segundo o Código, como ocorria com frequência (e ainda ocorre)”. A Constitucionalização não fica adstrita à
inserção no texto constitucional de disposições pertinentes a diversos ramos de direito, estando relacionada, em
verdade, à submissão do direito positivo aos fundamentos de validade, aos princípios e disposições estabelecidos
pela Constituição. Nos dizeres de Paulo Luiz Netto Lôbo: Pode afirmar-se que a constitucionalização é o processo
de elevação ao plano constitucional dos princípios fundamentais do direito civil, que passam a condicionar a
observância pelos cidadãos, e a aplicação pelos tribunais, da legislação infraconstitucional. Rompe-se, dessa
forma, com a interpretação que procura isolar, fechar o Direito Civil à observância de determinações constitucionais,
e o reflexo que ela carrega de uma percepção rígida da dicotomia público e privado, em que aquele é reduzido ao
Estatal, enquanto esse se resume a um egoísmo, à centralização na individualidade. Esse posicionamento, não mais
sustentável no atual paradigma, transparece ainda em manuais consagrados utilizados à exaustão pela graduação, a
exemplo de Francisco Amaral: A importância do Direito civil manifesta-se em diversos aspectos. Em primeiro
lugar, constitui a base do ordenamento jurídico de todas as sociedades. (...) É no Direito Civil que a técnica
jurídica, conjunto de processos que se utilizam na determinação do direito, mais se desenvolveu, continuando a ser
a espinha dorsal da ciência jurídica. O próprio Estado, no exercício de sua atividade econômica, a ele se submete .
Em sentido semelhante, afirma Monteiro, transparecendo paradoxos e contradições gerados por uma leitura rígida
da dicotomia, que conduz a interpretações que entendam haver uma hierarquização confusa ou uma preponderância
entre público e privado: O direito objetivo subdivide-se em direito público e direito privado, distinção já formulada
pelos romanos. Toda regra de direito enquadra-se forçosamente num ou noutro ramo do direito. Direito Público é o
destinado a disciplinar os interesses gerais da coletividade (publicum jus est quod ad statum rei romanae spectat).
Diz respeito à comunidade, estruturando-lhe organização, serviços, tutela dos direitos individuais e repressão dos
delitos. (...) Direito privado, por seu turno, é o conjunto de preceitos reguladores das relações dos indivíduos entre
si (privatum, quod ad singulorum utilitatem). Subdivide-se em direito civil e direito comercial, disciplinando este a
atividade das pessoas comerciantes e aquele, a dos particulares em geral. (...). Sempre que houver dúvida sobre se
determinada regra é ou não de ordem pública, deve considerar-se como sendo de interesse privado. Essa
segmentação na interpretação que não considera a interpenetração entre público e privado por força da efetivação de
direitos fundamentais é incompatível com a constitucionalização do direito civil na qual está inserido nosso
ordenamento. Como bem atenta Perlingieri: A interpretação ou é sistemática (a trezentos e sessenta graus) ou não é
interpretação. Os chamados sistemas parciais são, no mais das vezes, o resultado de uma primeira, provisória,
abordagem, diante da qual o intérprete não pode se ater, especialmente na presença de valores fundamentais
destinados a funcionalizar cada “instituto” e à luz dos quais é mister exprimir valorações de validade e
legitimidade. O professor italiano prossegue na reflexão sobre o impacto da constitucionalização no arcabouço
interpretativo, demonstrando a ocorrência da própria resignificação da idéia de legalidade: A legalidade, portanto,
não é somente o respeito da lei, mas, sobretudo no sistema constitucional, é a exigência da reconstrução dos nexos
entre múltiplas fontes operantes no mesmo território, fontes legitimadas pela Constituição e que encontram
composição na sua unidade axiológica. Isto significa que cada forma de poder que se exprima por meio de regras
ou princípios – e portanto, também cada espécie de poder normativo lato sensu “privado” – não poderá ser
exercido senão dentro da unidade construída pela Constituição e mantida por um método hermenêutico que dela se
faça instrumento consciente: unidade não dogmática, mas jurídica; não totalitária, mas democrática; não absoluta,
mas mediada por relações de preferência e compatibilidade entre os direitos fundamentais. Interpretar configura-se
então como uma afirmação de direitos fundamentais, o que mais do que permitir, impõe a necessidade do chamado
diálogo das fontes em face de conflito de normas, afastando, quando necessário e com objetivo de concretização de
direitos fundamentais, a dicotomia generalidade/especialidade. Nos dizeres de Perlingieri, “ela [interpretação
constitucional da legislação ordinária], partindo da exigência de realizar a legalidade constitucional, adapta os
próprios instrumentos hermenêuticos à exigência primária de realizado dos valores fundamentais”. É necessário
observar, contudo, que Perlingieri não utiliza expressamente a nomenclatura “diálogo das fontes”, trabalhada no
ordenamento pátrio em especial por Cláudia Lima Marques, a partir da construção teórica do Professor holandês
Erik Jayme. Ocorre que a noção de hermenêutica advinda da constitucionalização do direito civil trabalhada por
Perlingieri encontra simetria no entendimento de Jayme, que procura na Constituição a resposta para antinomias
modernas e a complexidade de sistemas legais descodificados. Por essa razão, adota-se nesse artigo a nomenclatura
desenvolvida por Jayme e trabalhada por Cláudia Lima Marques, mas exercendo um diálogo quanto a sua
fundamentação nas ideias de Perlingieri, em virtude de sua similitude calcada na efetivação de direitos fundamentais
e em sua maior consolidação na tradição jurídica pátria.
ITEM 1.B: Das obrigações quanto às sua modalidades.

Obras consultadas: FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Vol. 2. 6. Ed.
Rev. Ampl. Salvador: Juspodivm. 2012; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de
Direito Civil. Vol. 2. Direito de Família. 13. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Legislação básica: Arts. 233-285 do Código Civil.

1. Modalidades de Obrigação

A – Classificação quanto ao objeto

i) Obrigação de dar e de restituir.


Obrigação de dar coisa certa (arts. 233-242): Conceito: Prestação de coisa, que consiste na entrega de um ou mais
bens ao credor, seja pela transmissão da posse (locação), da propriedade (compra e venda) ou por restituição
(depósito). Coisa certa é aquela perfeitamente identificada e individualizada em suas características
Teoria dos riscos: Quem responde pela perda ou deterioração do bem? Regra: Os riscos correm por conta do
proprietário atual (res perito domino), usualmente o devedor.
Perda da coisa (art. 234): Perda sem culpa do devedor antes da tradição ou pendente condição suspensiva (Retorno
ao status quo ante - resolução do negócio jurídico - Ex.: Entrega do carro para o dia 15, sendo ele furtado dia 14.
Resolve-se a obrigação). Perda por culpa do devedor: Responde o devedor pelo equivalente mais perdas e danos.
Ex.: Devedor alcoolizado se envolve em colisão com o carro objeto da prestação. Deverá restituir o valor pago e
arcar com eventual indenização para satisfazer a frustração das legitimas expectativas do credor.
Deterioração: Não há perda do objeto, mas diminuição de suas qualidades essenciais ou valor econômico
Deterioração sem culpa do devedor (Art. 235). Credor resolve a obrigação; ou Aceita a coisa, abatido de
seu preço o valor que perdeu
Deterioração com culpa do devedor (Art. 236). Credor exige o equivalente, mais perdas e danos.Credor aceita
a coisa no estado em que se encontra, mais perdas e danos. Teoria do Adimplemento Substancial implica, em
nome da boa-fé objetiva, na limitação da possibilidade de escolha pelo devedor. E se o devedor estiver em mora
quando da perda/deterioração da coisa? (art. 399) Responsabilidade objetiva do devedor. Afastável apenas se
demonstrar que o fato ocorreria independentemente da mora (exemplo da hecatombe) ou se impossível imputar
culpa (responsabilidade). Esclarecendo termos:
Responsabilidade civil objetiva comum: Não se discute culpa, exigindo-se que o dano seja resultante da ação ou
omissão do responsável ou de pessoas a ele ligadas ou, ainda, de fato de coisas de que seja detentor.
Responsabilidade civil objetiva extremada: Não se discute culpa, também não se discute se os danos foram causados
pelo responsável/pessoa ligada/fato da coisa. Gera-se a responsabilidade pelos danos simplesmente acontecidos
durante a atividade que a pessoa responsável desenvolve.

Princípio da equivalência (Art. 237). O devedor deve suportar o prejuízo pela perda antes da tradição, contudo, ele
também percebe os lucros que eventualmente venham a ser gerados nesse período.Havendo melhoramentos e
acréscimos à coisa, pode o devedor exigir aumento no preço; se o credor não anuir, pode o devedor resolver a
obrigação.
Melhoramento ou acréscimo da coisa sem atuação do devedor beneficia o credor sem necessidade de indenização
(art. 241), caso contrário, equiparam-se às benfeitorias (art. 242)
Frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os frutos pendentes.
Diferença entre dar e restituir: A restituição envolve situação de posse, devolução de bem que jamais entrou na
esfera de propriedade do devedor da restituição. Usualmente presente em contratos de locação, comodato, depósito.
A responsabilidade pela perda, em regra, é do credor. Exceção ao res perito domino? Não, pois o domínio aqui se
encontra com o credor, que jamais foi despojado da propriedade do bem. Dessa forma, se a perda se der sem culpa
do devedor, atingirá o patrimônio do credor. E se a perda se der por culpa do devedor? (Art. 239) Devedor não é
proprietário, mas pelo fato de ter contribuído para a perda ou deterioração, responderá pelo equivalente mais perdas
e danos. Exceção ao perito res domino
E se tratar-se de deterioração? (art. 240). Sem culpa do devedor - Credor recebe a coisa no estado em que estiver,
sem direito à indenização. Com culpa do devedor - Aplica-se a sistemática do artigo 239 (devedor responde pelo
equivalente mais perdas e danos)

ii) Obrigação de dar coisa incerta


Na obrigação de dar coisa incerta (obrigação genérica) tem-se a indeterminação do objeto quando da celebração do
negócio jurídico, sendo ele, contudo, determinável posteriormente. A causa é definida ao menos pelo gênero e
quantidade (art. 243). Usualmente a doutrina majoritária sustenta que a obrigação de dar coisa incerta envolveria
necessariamente bem fungível. Abordagem mais contemporânea critica tal entendimento, afirmando que na maioria
dos casos haveria fungibilidade do objeto da prestação da obrigação, mas que isso não seria um requisito. O
exemplo para ilustrar tal situação (obrigação de dar coisa incerta relacionada à bem infungível) é usualmente
relacionado a obrigação de dar obra de determinada série/coleção de determinado escultor, sem que ela seja
previamente definida quando da celebração do negócio jurídico.
Distinções. Coisa incerta x coisa futura - Objeto determinado, mas ainda não existente. Coisa incerta x obrigação
alternativa - Obrigação alternativa (Classificação das obrigações baseada em seus elementos – Há aqui diferentes
objetos, já previamente definidos, que serão escolhidos de maneira independente entre si) diferente de Coisa incerta
(Haverá a invidualização da coisa, existindo, desde a celebração, a sua definição quanto ao gênero e quantidade).
A questão da escolha: Escolha pertence em regra ao devedor, salvo disposição em contrário. E se não exercer?
Reversão para a outra parte (art. 849). Qual o parâmetro de escolha? Patamar médio, não podendo ser dada a pior
variação dentro do gênero nem o devedor obrigado a prestar a melhor variação (art. 244). A partir do momento em
que se individualiza a coisa e cientifica-se o credor, aplicam-se as disposições da obrigação de dar coisa certa (art.
245). Antes de feita a escolha, não pode o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior
ou caso fortuito (art. 246), como consequência da própria alocação de risco decorrente da idéia de res perit domino.

iii) Obrigações de Fazer


Conceito e características - Prestação de um fato, consistente na realização de uma atividade pessoal ou serviço,
pelo devedor ou por um terceiro. Relevância não reside no eventual bem que possa resultar da conduta do devedor,
mas na conduta em si. Por que diferenciar? Reflexos na tutela – 461 CPC x 461-A CPC. A questão do FGTS:
Polêmica quanto à questão de obrigação de dar (pecúnia) ou de fazer (promover o recolhimento), CJF entende pela
obrigação de dar.
Classificações das obrigações de fazer: Obrigações duradouras e instantâneas – Duradouras: A execução protrai-se
no tempo, de modo continuado (pintura de parede) ou de modo periódico, mediante trato sucessivo (prestação de
serviço continuado). Instantâneas: Aperfeiçoam-se em um único momento (registro de imóvel). E daí? Relevante
para a possibilidade de aplicação da teoria da imprevisibilidade/onerosidade excessiva (Arts. 317 e 478 CC e art. 6,
V, CDC). Fungíveis e infungíveis.
Impossibilidade de prestação do fato (art. 248). Impossibilidade inicial (nulidade) e impossibilidade superveniente.
Culpa do devedor – perdas e danos/Sem culpa do devedor – Resolve-se a obrigação.
Fato executável por terceiro (art. 249). Não se trata aqui, evidentemente, de obrigação intuitu personae. Sendo o fato
exequível por terceiro, pode o credor mandar executá-lo às custas do devedor, no caso de recusa ou mora deste, sem
que se afaste a possibilidade de indenização. Em caso de urgência, credor pode mandar executar a obrigação de
fazer, independentemente de autorização judicial, para depois pleitear ressarcimento (art. 249, parágrafo único).
Tem-se então a concretização da noção de autoexecutoriedade, reflexo do princípio da operabilidade e a
conversibilidade de obrigação de fazer em obrigação de dar o valor correspondente.

iv) Obrigações de não fazer


Conceito e características: Abstenção, permissão ou tolerância, impedindo que o devedor pratique determinado ato
que, normalmente, não lhe seria vedado. Diferentemente da obrigação de fazer, a obrigação de não fazer será sempre
intuitu personae, não podendo ser realizada por terceiros. Exemplo: Limitação à edificação estipulado
contratualmente.
Impossibilidade de cumprimento (art. 250) - Extinção da obrigação. Requisitos: Ausência de culpa do devedor;
Impossibilidade de se abster da prática do ato. Exemplo: Sujeição do devedor a interesses públicos prevalecentes –
Obrigar-se a não alienar determinado imóvel, que vem a ser objeto de desapropriação por interesse público.
Classificação das obrigações de não fazer. Obrigações negativas instantâneas x permanentes
Obrigações negativas instantâneas - Também chamadas de transeuntes, são aquelas que, quando descumpridas uma
única vez, são irreversíveis, gerando inadimplemento absoluto, na medida em que é impossível retornar ao estado
originário. Ex.: Obrigação de não divulgar segredo industrial de empresa.
Obrigações negativas permanentes - Também chamadas de contínuas, admitem a possibilidade de purgação da mora
através da recomposição do estado originário, como a despoluição de rio ou a instalação de aparelhos não poluentes
por empresa que descumpriu obrigação de não poluir assumida em TAC, por exemplo. E daí? Aplicabilidade do art.
251 possível apenas em relação às obrigações negativas permanentes. E o que prevê o art. 251? Prevê que a prática
do ato vedado permite: a) Credor exigir que o devedor desfaça o ato; b) desfazer às custas do devedor; c)Eventuais
perdas e danos. Em caso de urgência Credor pode desfazer ou mandar desfazer sem autorização judicial, havendo
ressarcimento pelo devedor.

B – Classificação quanto aos elementos

i)Obrigações plurais quanto ao objeto – aspectos gerais


Possuem multiplicidade de objetos e subdividem-se em: i) Obrigações cumulativas; ii) Obrigações facultativas; e iii)
Obrigações alternativas.

ii) Obrigação alternativa


Característica: Pluralidade de prestações, mas só uma delas será satisfeita, exonerando o devedor. Exemplo: A
pagará dívida a B, mediante a entrega de R$ 200.000 ou a transferência de um apartamento nesse valor. As
prestações podem se apresentar de maneira disjuntiva, ou seja, podem concorrer obrigações de dar com obrigações
de fazer/não fazer. Mas não se parece com obrigação de dar coisa incerta? Sim, mas são distintas. Na de dar coisa
incerta há prestação simples, na alternativa há pluralidade de prestações. Especificação do objeto mediato da
prestação quando da celebração. Ocorrência da concentração quando do pagamento: Momento de determinação do
objeto a ser prestado, transformando a obrigação plural em obrigação simples. Concentração cabe ao devedor, salvo
disposição em contrário (Art. 252, caput) Vedação ao fracionamento do recebimento (parte em uma prestação, parte
em outra).
Balanceamento da concentração nas prestações periódicas. Possibilidade de a cada período, prestar-se nova
concentração (art. 252, §2º). Ou seja, escolho a cada mês qual dos objetos mediatos serão entregues. E se houver
pluralidade de optantes quanto à concentração? Deve haver acordo entre eles. Caso contrário, caberá ao juiz decidir
(art. 252, §3º). Terceiro pode escolher? Havendo acordo entre as partes, pode um terceiro escolher; no caso de não
poder ou não querer exercer a prerrogativa, caberá ao juiz (252, § 4º). E se o devedor for inerte em sua escolha?
Procedimento do art. 571 do CPC, quando da execução, que permite a inversão da opção ao credor, em caso de
manutenção da inércia do devedor após prazo de 10 dias.
Inexequibilidade das prestações Inexequibilidade de uma das prestações, quando cabível ao devedor a concentração
(art. 253). Subsiste o débito quanto à outra prestação. Irrelevante se houve ou não culpa do devedor, o tratamento
jurídico dispensado é o mesmo. Inexequibilidade de ambas, sem culpa do devedor, quando a ele couber a
concentração (art. 256), torna-se extinta a obrigação. Inexequibilidade de ambas, por culpa do devedor, quando a
concentração couber a este (art. 254), devedor obrigado a pagar o valor da que se perdeu por último, mais perdas e
danos. Inexequibilidade de uma das prestações com culpa do devedor, quando a concentração couber ao credor (art.
255), credor exige a prestação que subsistiu; ou credor exige o valor da prestação que pereceu acrescido de perdas e
danos. Inexequibilidade de ambas, por culpa do devedor, quando a concentração couber ao credor (art. 255), credor
pode reclamar o valor de qualquer uma das duas, mais perdas e danos.

ii) Obrigações facultativas


Também conhecida por outra nomenclatura mais apropriada: obrigações com faculdade alternativa de cumprimento
OU obrigação com faculdade de substituição. Não há referência expressa no CC a tal modalidade.
Conceito - Obrigação que possui um único objeto, na qual o devedor tem a faculdade de substituir a prestação
devida por outra de natureza diversa, já delimitada anteriormente de maneira subsidiária. Exemplo: A obriga-se a
entregar a B um carro usado, prevendo-se ao devedor a faculdade de substituir a prestação principal por uma moto
usada de valor similar. E daí, quais os efeitos práticos? Há na verdade uma pluralidade de objetos da prestação,
subordinados ao exercício de direito potestativo pelo devedor. Tem-se ao fim obrigação simples quanto à prestação,
calcada na obrigação principal pactuada, não havendo vínculo com a faculdade concedida ao devedor. Como assim?
Se no exemplo mencionado do veículo tem-se o perecimento do automóvel sem culpa do devedor, aplica-se a
disposição pertinente à obrigação de dar coisa certa (no caso, resolução da obrigação), não sendo possível ao credor
exigir a moto, que integrava a simples faculdade de escolha do devedor.

iii) Obrigações Cumulativas


Ausência de expressa regulamentação pelo Código Civil. Consiste em duas ou mais prestações exigíveis
cumulativamente. Descumprimento de uma das prestações resulta em inadimplemento total. Faculdade de recusa de
recebimento parcial (apenas uma das prestações). Necessidade de distinção entre obrigações cumulativas e
obrigações distintas reunidas no mesmo instrumento jurídico. Exemplo: 1)Contrato marceneiro para fazer mobília
embutida de determinado escritório, o que inclui estantes, mesa de trabalho e mesa de reunião acoplada. 2) Em
determinada loja de móveis, adquiro uma mesa de trabalho, estantes e uma mesa de reunião para posterior entrega e
montagem.

iv) Obrigações fracionárias


Obrigações fracionárias e pluralidade subjetiva. Há uma pluralidade de devedores ou credores, de forma que cada
um deles responde apenas por parte da dívida ou tem direito apenas a uma fração do crédito. As obrigações
fracionárias, idealmente, podem ser decompostas em tantos quantos os credores ou devedores. Não há um crédito
coletivo, no prisma passivo há tantas obrigações quanto devedores, dividindo-se o cumprimento da prestação entre
eles. Pressupõe a divisibilidade da prestação. Cada credor não pode exigir mais do que sua parte, cada devedor não
está obrigado senão à fração que lhe compete. As obrigações de cada um dos sujeitos de cada pólo são autônomas.
Como a solidariedade deve ser expressa, presume-se que obrigações que tenham pluralidade de credores/devedores
serão obrigações fracionárias (Art. 257). Exemplo: Três amigos compromente-se, ao adquirir conjuntamente um
veículo, a pagar o seu valor, de R$ 30.0000. Não havendo estipulação em contrário, ter-se-á a responsabilização de
cada um por R$ 10.000.

v) Obrigações divisíveis e indivisíveis


Conceitos: A divisibilidade/indivisibilidade está relacionada ao objeto da prestação, diferentemente das obrigações
solidárias, relacionadas aos sujeitos. Quando há obrigação indivisível? (art. 258) Quando a obrigação tem por objeto
coisa ou fato não suscetível de divisão por natureza; motivo de ordem econômica; ou razão determinante do negócio
jurídico. E se houver pluralidade subjetiva? Relevância da classificação: como fazer para vários
entregarem/receberem uma coisa só, que não pode ser dividida? Principal ponto de confusões entre obrigações
indivisíveis e obrigações solidárias. Pluralidade de devedores (art. 259): Havendo dois ou mais devedores, na
obrigação indivisível, cada um será obrigado pela dívida toda. O devedor que pagar a dívida sub-roga-se no direito
do credor, em relação aos demais coobrigados (art. 259, parágrafo único). Pluralidade de credores (art. 260): Cada
um dos credores pode exigir a dívida inteira, porém, o devedor desonera-se se i)pagar a todos conjuntamente; ou ii)
pagar a um, recebendo deste caução de ratificação dos demais credores. O que é essa caução de ratificação?
Documento no qual se insere a garantia de aprovação da quitação unilateral por parte dos outros credores
(instrumento escrito, datado e assinado pelos demais credores). Se só um dos credores receber a prestação por
inteiro, poderão os demais dele exigir em dinheiro a parte que lhes caiba no total. Se um dos credores remitir a
dívida, a obrigação NÃO fica extinta em face dos outros credores, que deverão, contudo, descontar a cota do credor
remitente quanto ao valor que vierem cobrar do devedor (art. 262). O mesmo se aplica à transação, novação,
compensação ou confusão.
Perda do objeto (art. 263): A obrigação indivisível que se resolver em perdas em danos (situação de
inadimplemento) perde tal qualidade. Se houver culpa de todos os devedores, responderão todos por igual; no caso
de culpa exclusiva de um devedor, exoneram-se os demais quanto à indenização, respondendo, contudo, por suas
cotas.

vi) Obrigações Solidárias


Conceitos e características: Solidariedade não se presume, devendo ser expressamente prevista, por lei ou por
vontade das partes (art. 265). Quando há solidariedade? Pluralidade subjetiva, unidade objetiva. Quando na
mesma obrigação concorre mais de um credor/devedor, cada um com direito/obrigado em relação à totalidade da
dívida (art. 264). Pode haver cisão das características dos devedores, podendo ser igualmente
coobrigados/cocredores em relação a uma obrigação, mas terem cláusulas distintas a reger sua situação. Como
assim? A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos codevedores e para outro ser condicional ou a
prazo, ou pagável em lugar diferente (art. 266)
Entendendo alguns aspectos diferenciadores - Solidariedade se manifesta nas relações “externas”, mantendo-se a
fracionaridade nas relações “internas”. Como assim? Aqui está a se designar de “externa” a relação entre
credor/devedor e “interna” a relação credor/credor ou devedor/devedor. O credor pode cobrar a dívida toda de um
dos devedores, esse terá direito de regresso contra os demais devedores dentro da proporcionalidade da cota que
couber a cada. O pagamento (integral) realizado por qualquer devedor ou recebido por qualquer credor extingue a
obrigação. Diferentemente das obrigações indivisíveis, que devem ser pagas a todos os credores ou, eventualmente,
a um dos credores, desde que haja a caução de ratificação dos outros credores.
Solidariedade ativa. Pluralidade de credores. Pontos diferenciadores: a) No caso de conversão da prestação em
perdas e danos (inadimplemento), subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade (art. 271); b) Distinção em relação
às obrigações indivisíveis, que perdem essa característica no caso de conversão em perdas e danos. Distinção
decorrente do foco na dicotomia objeto/sujeitos; c) O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a
dívida até o montante do que foi pago; d) Distinção em relação às obrigações indivisíveis - Possibilidade de
pagamento parcial a um dos credores.
Prevenção Judicial (art. 268): Regra que mitiga a amplitude de desoneração do devedor. Até o momento em que vier
a ser demandado judicialmente, poderá pagar para qualquer credor; a partir do momento em que é acionado, só será
desonerado com o pagamento àquele que o acionou.
Remissão pelo credor: Possível por qualquer um dos cocredores, devendo, contudo arcar com a parte cabível aos
demais cocredores (art. 272). Exemplo: A, B e C são credores de D, em dívida no valor de R$ 120.00. A decide,
unilateralmente, remir a dívida de D. A remissão é válida, mas A será responsabilizado pelo pagamento de R$
40.000 para B e do mesmo valor para C, haja vista a integralidade da remissão.
Oponibilidade de exceções pessoais: Devedor não pode opor as demais cocredores as exceções pessoais oponíveis a
um dos credores (art. 273). Exemplo: A não pode anular um débito com o credor B em virtude de coação do
cocredor C.
Julgamento contrário: Julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento
favorável aproveita-lhes, a não ser que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve (art. 274).
Direito sucessório: Direito dos sucessores será proporcional a seu quinhão, salvo no caso de tratar-se de obrigação
indivisível (art. 270)
Solidariedade passiva. Presente quando há pluralidade de devedores, cada um deles obrigados ao pagamento da
integralidade da dívida. Na solidariedade passiva o credor pode exigir de qualquer dos codevedores o pagamento
parcial ou integral da dívida; sendo o pagamento parcial, todos os demais codevedores continuam obrigados
solidariamente pelo resto (art. 275). A propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos codevedores não
importa em renúncia da solidariedade (art. 275, parágrafo único). O que isso significa? Que não há litisconsórcio
necessário no caso de solidariedade passiva, sendo possível, contudo, a utilização do chamamento ao processo.
Pagamento/remissão parcial que favorece um dos devedores não se estende aos demais, devendo, contudo, o
montante ser abatido da dívida dos demais (art. 277). Exemplo: A é credor solidário de B, C e D, da quantia de R$
90.000. Poderia cobrar a integralidade da dívida de qualquer um dos três, mas perdoou a dívida de B, que seria
equivalente a R$ 30.000. Logo, poderá cobrar a integralidade de C ou D, observando-se o limite de R$ 60.000, haja
vista o abatimento da cota perdoada de B.
Renúncia à solidariedade (art. 282) x Remissão da dívida: Solidariedade é garantia do devedor; renunciar à
solidariedade em face de um ou de todos os devedores significa apenas retirá-lo da obrigação de pagamento da
integralidade da dívida, permanecendo responsável pelo pagamento da parcela a ele correspondente
Efeitos da insolvência: Insolvência ≠ Inadimplemento. Responsabilização do exonerado. Aquele que foi exonerado
da solidariedade continuará vinculado a obrigação no caso de insolvência de algum dos coobrigados, devendo
contribuir com os demais coobrigados em relação à cota do aludido insolvente (Art. 284). Cota do insolvente divide-
se por todos os demais coobrigados, no caso de pagamento integral da dívida por um dos codevedores (Art. 283)
Sucessão, herdeiros e solidariedade passiva (art. 276) - Cada herdeiro responderá apenas pela proporcionalidade do
seu quinhão (saldo no caso de obrigação indivisível), sendo considerados, em conjunto, como um só devedor em
relação aos demais devedores solidários
Vedação à onerosidade não consentida (art. 278) - Qualquer cláusula onerosa entre credor e um dos codevedores não
pode agravar a posição dos demais sem seu consentimento
Impossibilidade da prestação (art. 279) - Impossibilitada por culpa de um dos devedores, a todos incumbe o
equivalente, mas só ao culpado cabem as perdas e danos.
Juros de mora (art. 280) - Todos os codevedores respondem pelos juros de mora, mas só o culpado responderá por
eventual obrigação acrescida.
Oposição de exceções pessoais (art. 281) - As exceções pessoais de um codevedor não se estendem a outro.
ITEM 1.C: Da inseminação artificial. Da alteração de sexo. Da pesquisa científica em seres humanos.
Obras consultadas: FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Vol. 6. 4. Ed.
Rev. Ampl. Salvador: Juspodivm. 2012; LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 4. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011;
PAMPLONA FILHO, Rodolfo. GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil. Vol. 6. Direito de Família.
2. Ed. Sâo Paulo: Saraiva, 2012.
Legislação básica.
Arts. 11-21 / 1597 CC / art. 199, §4º, CRFB

Da inseminação artificial
Pode-se falar em sua divisão entre inseminação artificial com concepção in vivo, feita no próprio corpo da
mulher, ou em proveta, realizada fora do corpo, ocorrendo posteriormente sua implantação no útero.
O embrião fecundado fora do corpo humano e não implantando possui o status de coisa, de objeto, não podendo se
falar de existência de sujeito de direito, nem mesmo como nascituro (esse só passaria a existir a partir da
implantação em ambiente uterino), muito menos como portador de personalidade jurídica, conforme decidido pelo
STF na ADI 3510, com especial ênfase no voto da Min. Ellen Gracie.
A inseminação artificial se insere nas hipóteses de presunção de paternidade (presume-se como pai o marido da
mãe) previstas no art. 1597, tratando-se, segundo Paulo Lobo, nos casos específicos da fecundação artificial, de
presunção jure et de jure.
Fecundação artificial homóloga é aquela em que há a utilização de gametas do próprio casal que pretende ter o filho.
Havendo a utilização desse material, com a anuência do casal, presume-se a paternidade, mesmo que falecido o
marido.
Embriões excedentes – O processo de fertilização em proveta acarreta a produção de óvulos fecundados, mas não
utilizados no procedimento de inseminação artificial, que restam congelados. Sendo tal óvulo implantado no útero
materno e vindo a nascer, será considerado para todos os efeitos filho do marido, mesmo que esse implante se dê
posteriormente ao óbito do doador.
Inseminação artificial heteróloga – Cônjuges utilizam gametas de um terceiro (doador), que apesar de possuir
vínculo genético com o nascituro, não será considerado juridicamente pai do nascituro (distinção genitor x pai),
presumindo-se o marido como pai, desde que tenha concordado expressamente com o procedimento.
Barriga de aluguel – Impropriedade terminológica, na medida em que é vedada comercialização do corpo humano.
Permite-se, contudo, a cessão do útero, nos limites da Resolução n. 1.957, de 15 de dezembro de 2010. Em seu
artigo VII, e alíneas, assim dispõe: VII - SOBRE A GESTAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO (DOAÇÃO TEMPORÁRIA DO
ÚTERO) As clínicas, centros ou serviços de reprodução humana podem usar técnicas de RA para criarem a
situação identificada como gestação de substituição, desde que exista um problema médico que impeça ou
contraindique a gestação na doadora genética. 1 - As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família da
doadora genética, num parentesco até o segundo grau, sendo os demais casos sujeitos à autorização do Conselho
Regional de Medicina. 2 - A doação temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial.

Da alteração de sexo
O conhecimento médico identifica o transexualismo como desvio psicológico. A classificação internacional de
doenças e doenças mentais (CID 10 e DSM IV) entende que o transexual é aquele que possui vontade de viver e ser
aceito como membro do sexo oposto, acompanhado, usualmente, da vontade de transformar seu corpo. Em âmbito
nacional a Resolução nº 1.652/2002 do Conselho Federal de Medicina detalha essa visão e entende o transexual
como portador de desvio psicológico permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo e tendência à
automutilação e ou auto-extermínio devendo observar os seguintes critérios para sua caracterização: (i) desconforto
com o sexo anatômico natural; (ii) desejo expresso de eliminar os genitais, perder as características primárias e
secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto; (iii) permanência desses distúrbios de forma contínua e
consistente por, no mínimo, dois anos; (iv) ausência de outros transtornos mentais.
Essa concepção é a que norteia a jurisprudência consolidada, no sentido de condicionar a alteração do registro de
nascimento na hipótese de realização da cirurgia de transgenitalização, conforme exposto no REsp 737.993 : A
questão posta no REsp cinge-se à discussão sobre a possibilidade de retificar registro civil no que concerne a
prenome e a sexo, tendo em vista a realização de cirurgia de transgenitalização. A Turma entendeu que, no caso, o
transexual operado, conforme laudo médico anexado aos autos, convicto de pertencer ao sexo feminino, portando-
se e vestindo-se como tal, fica exposto a situações vexatórias ao ser chamado em público pelo nome masculino,
visto que a intervenção cirúrgica, por si só, não é capaz de evitar constrangimentos. Assim, acentuou que a
interpretação conjugada dos arts. 55 e 58 da Lei de Registros Públicos confere amparo legal para que o recorrente
obtenha autorização judicial a fim de alterar seu prenome, substituindo-o pelo apelido público e notório pelo qual
é conhecido no meio em que vive, ou seja, o pretendido nome feminino. Ressaltou-se que não entender
juridicamente possível o pedido formulado na exordial, como fez o Tribunal a quo, significa postergar o exercício
do direito à identidade pessoal e subtrair do indivíduo a prerrogativa de adequar o registro do sexo à sua nova
condição física, impedindo, assim, a sua integração na sociedade. Afirmou-se que se deter o julgador a uma
codificação generalista, padronizada, implica retirar-lhe a possibilidade de dirimir a controvérsia de forma
satisfatória e justa, condicionando-a a uma atuação judicante que não se apresenta como correta para promover a
solução do caso concreto, quando indubitável que, mesmo inexistente um expresso preceito legal sobre ele, há que
suprir as lacunas por meio dos processos deintegração normativa, pois, atuando o juiz supplendi causa, deve
adotar a decisão que melhor se coadune com valores maiores do ordenamento jurídico, tais como a dignidade das
pessoas. Nesse contexto, tendo em vista os direitos e garantias fundamentais expressos da Constituição  de1988,
especialmente os princípios da personalidade e da dignidade da pessoa humana, e levando-se em consideração o
disposto nos arts. 4º e 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, decidiu-se autorizar a mudança de sexo
de masculino para feminino, que consta do registro de nascimento, adequando-se documentos, logo facilitando a
inserção social e profissional. Destacou-se que os documentos públicos devem ser fiéis aos fatos da vida, além do
que deve haver segurança nos registros públicos. Dessa forma, no livro cartorário, à margem do registro das
retificações deprenome e de sexo do requerente, deve ficar averbado que as modificações feitas
decorreram desentença judicial em ação de retificação de registro civil. Todavia, tal averbação deve constar
apenas do livro de registros, não devendo constar, nas certidões do registro público competente, nenhuma
referência de que a aludida alteração é oriunda de decisão judicial, tampouco de que ocorreu por
motivo de cirurgia de mudança de sexo, evitando, assim, a exposição do recorrente a situações constrangedoras e
discriminatórias.
Esse entendimento, contudo, vem sendo questionado, a fim de permitir a ampliação das hipóteses de retificação
do registro, a partir da idéia de nome social, que consiste na alteração do registro independentemente da realização
de cirurgia de transgenitalização.
Conforme informado no sítio do MPF (http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias/noticias-do-
site/copy_of_constitucional/pgr-propoe-adi-para-que-transexuais-tenham-direito-a-mudar-nome-e-sexo-no-registro-
civil), Deborah Duprat propôs ao Supremo Tribunal Federal ação direta de inconstitucionalidade (ADI 4275) para
que seja dada interpretação conforme a Constituição ao art. 58 da Lei 6.015/73, na redação dada pela Lei 9.708/98, e
se reconheça o direito dos transexuais a substituírem o prenome e sexo no registro civil, independentemente da
realização de cirurgia de transgenitalização. Ela diz que “impor a uma pessoa a manutenção de um nome em
descompasso com a sua identidade é, a um só tempo, atentatório à sua dignidade e  comprometedor de sua
interlocução com terceiros, nos espaços públicos e privados”. Segundo Deborah Duprat o não reconhecimento do
direito dos transexuais à troca de prenome e sexo correspondente à sua identidade de gênero viola preceitos
fundamentais da Constituição como os princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III), da vedação à
discriminação odiosa (art. 3º, inciso IV), da igualdade (art. 5º, caput), da liberdade e da privacidade (art. 5º, caput, e
inciso X).

Da pesquisa científica em seres humanos


A temática de pesquisa científica em seres humanas perpassa o ramo do biodireito, sendo vedada a comercialização
que envolva transplantes, conforme disposto pelo art. 199, § 4º, da CRFB. É possível, como direito da
personalidade, dispor sobre o próprio corpo para fins de pesquisa após a morte (art. 13 do Código Civil). A lei de
biossegurança (Lei n. 11.105/2005) regulamentou aspectos pertinentes a pesquisas com células tronco embrionárias,
vedando expressamente em seu artigo 6º, dentre outras: a clonagem humana e técnicas de engenharia genética em
zigotos e embriões.
A utilização de células tronco embrionárias de embriões excedentes em pesquisas e estudos científicos é permitido
pelo artigo 5º da aludida lei, desde que i) sejam embriões inviáveis; ou ii) – sejam embriões congelados há 3 (três)
anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de
completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.
Tal previsão legal foi objeto da ADI nº 3510 (Rel. Min. Ayres Britto), na qual o STF entendeu pela improcedência da
alegação de inconstitucionalidade. Os votos do Ministro Relator e da Ministra Ellen Gracie ressaltaram o fato de que
o embrião não implantado em útero não teria status de pessoa, afastando, de certa forma, a teoria concepcionista
acerca da personalidade jurídica.
ITEM 2.A: Hermenêutica jurídica.

Obras consultadas: A. Castanheira Neves. Digesta. Vol. 2. Coimbra 1995; Norberto Bobbio. Teoria do
Ordenamento Jurídico. 7 ed. Brasília. UNB; José de Oliveira Ascensão. Introdução à ciência do Direito. 3 ed. Rio de
Janeiro: Renovar; Rubens Limongi França. Instituições de direito civil, 4 ed. São Paulo: Saraiva, 1996; Maria
Helena Diniz. As lacunas no direito. 7 ed. Saraiva, 2002; Miguel Reale. Lições preliminares do Direito. 21 ed. São
Paulo: Saraiva. 1994; Flávio Tartuce. Manual de Direito Civil. Saraiva: Método. 2011; Friedrich Savigny.
Metodologia Jurídica. Edicamp. 2004; Carlos Maximiliano. Hermenêutica e aplicação do direito. Rio de Janeiro:
Forense, 1994. Aproveitados os trabalhos dos candidatos aos 24º e 25º concursos do MPF.

1. Noções Gerais.
A hermenêutica jurídica está relacionada à aplicação do direito, aos processos de interpretação, às técnicas a serem
aplicadas. Para se aplicar o direito a um caso concreto faz-se necessário interpretá-lo.
O nomen hermenêutica remonta a Hermes, deus grego correspondente a mercúrio entre os romanos. Era Hermes
reputado o encarregado de fazer o intercâmbio das mensagens entre Zeus e os homens. Para as enviar, devia
primeiramente as interpretar, donde o uso do termo hermenêutica para designar a teoria da interpretação.
Observação importante: Hermenêutica não é sinônimo de interpretação. A hermenêutica pode ser considerada a arte
ou ciência responsável pela elaboração da metodologia de interpretação de lei, estabelecendo metodologia,
princípios e conceitos para o ato de interpretar. A interpretação é objeto desta ciência e se destina ao âmbito prática
de aplicação da norma jurídica ao caso concreto. Ou seja, a interpretação é o próprio objeto da ciência da
hermenêutica, enquanto os fatos e as normas, para Kelsen (e valores, inclusive, para Reale) serão objetos da
interpretação. Hermenêutica => Interpretação => Aplicação do Direito ao fato.
Basicamente, hermenêutica possui as seguintes tarefas:

a) INTERPRETAR AS NORMAS
b) VERIFICAR A EXISTÊNCIA DE LACUNAS JURÍDICAS, E INDICAR OS INSTRUMENTOS
INTEGRADORES
c) AFASTAR CONTRADIÇÕES OU ANTINOMINAS JURÍDICAS, INDICANDO OS CRITÉRIOS
IDÔNEOS PARA SOLUCIONÁ-LA

2. Interpretação das normas


Interpretar é descobrir o sentido da norma, determinar o seu conteúdo e delimitar o seu exato alcance.
A acepção mais correta para interpretação é a da CONSTRUCTION, usada pelos ingleses e norte-americanos. Pela
construction se busca a solução associando o direito e o caso, examinados em conjunto, buscando a solução justa.
No início do século XIX, com o racionalismo jurídico, acreditava-se que a interpretação não seria necessária porque
os Códigos previam todos os conflitos. (Sistema Fechado)
O Código da Baviera, na esteira do Código francês, estabelecia que o juiz não podia interpretar. Era a consagração
do preceito in claris cessat interpretatio.
Hoje, entende-se que toda norma deve ser interpretada. Há a necessidade de estabelecer o significado e o alcance da
lei, seja ela clara ou obscura. O que varia é a dificuldade da interpretação.
O novo Código Civil estabelece um sistema aberto, nos termos preconizado por Canaris, em que não se tem
pretensão de completude e total harmonia, mas métodos de superação de lacunas, quebras, etc. Nesse sistema, se faz
presente diversos conceitos vagos (conceitos jurídico indeterminados e cláusulas gerais), tal como se percebe do
CC/02. 1

NO QUE PERTINE ÀS FONTES, A INTERPRETAÇÃO PODERÁ SER:


a) jurisprudencial ou judicial, é aquela fixada pelos tribunais;
b) doutrinária ou doutrinal, realizada pelos cientistas do Direito, pelos estudiosos;
c) autêntica (autus, própria) ou literal, realizada pelo próprio legislador, através de outro ato normativo, como no ex.
da edição de uma lei interpretando outra norma já editada;
d) administrativa  quando realizada pela administração pública no exercício de seu mister de concretizar no
mundo as disposições abstratas da lei.
e) leiga, realizada por qualquer pessoa do povo.

QUANTO AOS MEIOS, A INTERPRETAÇÃO PODERÁ SER:


a) gramatical ou literal, realizada através das regras de lingüística, analisando o texto normativo pelas regras
gramaticais, buscando o seu sentido filológico (é o mais pobre dos métodos interpretativos, sendo, não raro, repelido
até mesmo pela lei);
b) lógica, utiliza-se a boa lógica, assim a apofântica como a material e a lógica do razoável, para melhor adequar a
norma ao caso concreto.
c) histórica, com a averiguação da origem do texto a ser interpretado, desde os projetos de lei e votações;
d) sociológica, também dita teleológica, quando se procura adaptar a lei às exigências atuais e concretas da
sociedade;
e) sistemática, que é a interpretação partindo da ideia de que a lei não existe isoladamente, devendo ser alcançado o
seu sentido em consonância com as demais normas que inspiram aquele ramo do direito.
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Lei 4657/52, art. 5º) determina que em toda atividade
interpretativa sejam considerados os fins sociais visados pela lei, optando nitidamente pela afirmação de uma
finalidade social do direito, revelando que o legislador considera primordial valores sociais sobre os individuais.

QUANTO AO RESULTADO DA ATIVIDADE INTERPRETATIVA PODERÁ SER:


1) Interpretação declarativa ou estrita – é aquela que conclui que a fórmula verbal da norma coincide com a mens
legis.
 2) Interpretação ab-rogante – é a interpretação que leva à conclusão de que a norma foi revogada. Não é o intérprete
que a revoga, ele apenas reconhece a revogação.
 3) Interpretação retificadora (corretiva) – ocorre ante a existência de erro material. Tem-se que adaptar a norma
para que a interpretação não leve a um absurdo.
 4) Interpretação restritiva – nela, constata-se que o legislador se utilizou de uma fórmula ampla em demasia para
traduzir a mens legis. Então, o intérprete restringe o significado dos termos usados e chega à conclusão que a lei
disse mais do que queria (plus dixit quam voluit).
 5) Interpretação extensiva – ao contrário do que se passa na interpretação restritiva, entende-se que o sentido da lei
foi insuficientemente traduzido pelo envoltório verbal. A lei minus dixit quam voluit.

METODOLOGIAS (ESCOLAS) INTERPRETATIVAS 


Também aqui diverge a doutrina quanto a quais e quantas são. Existem basicamente duas gamas de metodologias, as
correspondentes às escolas tradicionais e as chamadas modernas escolas de interpretação.
1) Escolas tradicionais – as escolas tradicionais se valiam preponderantemente ou exclusivamente de um dos
processos interpretativos já analisados.
 2) Escolas modernas:
 Escola da evolução histórica – tem em Raymond Saleilles seu principal teórico. Apregoa que a interpretação deve
ser evolutiva, variando no tempo e no espaço. A norma jurídica estaria sempre evoluindo, adaptando-se à sociedade,
à ética e a seus valores. Em suma, a lei deve se adaptar ao momento histórico.
 Escola da livre investigação – seu mais conhecido defensor foi François Gény. Deve-se aplicar a lei no exato
sentido que lhe deu o legislador. Predica-se a busca da mens legislatoris. A denominação da escola não é boa, pois
dá a entender que defendia exatamente o contrário do que pensavam seus criadores.
 Escola do direito livre – criada por Von Kirchmann, mas aperfeiçoada por Kantorowicz. Por ela, o juiz poderia até
julgar contra a lei. Existiria liberdade para se julgar conforme suas próprias convicções de justiça. Ainda tem sua
função por conta do ressurgimento do direito alternativo.
 Escola da teoria pura do direito – criada por Hans Kelsen. Basicamente, consiste em vislumbrar a lei como um
marco de possibilidades, uma moldura, na qual cabem sempre ao menos duas soluções interpretativas. A escolha por
uma das opções seria preocupação da política jurídica, não da ciência do direito. Assim, a relação entre justiça e
ciência do direito terminaria por ser meramente acidental, não essencial.
Escola da teoria egológica do direito – partindo de filosofias existencialistas, o jurista argentino Carlos Cossio
desenvolveu a chamada teoria egológica do direito. No que toca à interpretação, defendia que se interpretam não as
leis, mas os fatos através de conceitos, que são as normas. Seria impossível interpretar as normas sem os fatos.
 
3. Integração das normas
Tem guarida entre nós a vedação ao non liquet (127 CPC, 7º CDC, 8º CLT, 107 CTN); ou seja, provocado o Estado-
juiz (através do exercício do d. de ação), não poderá o magistrado eximir-se de proferir decisão, alegando ausência
de norma jurídica. A própria lei (LINDB 4º), partindo da real possibilidade de omissão normativa, indica os meios
pelos quais serão supridas as lacunas.
DINIZ (2002, p. 95) traz a seguinte classificação de lacunas: 1) lacuna normativa: não absolutamente qualquer
norma para o caso; 2) lacuna ontológica: presença de normas, sem eficácia social; 3) lacuna axiológica: presença de
norma para o caso, mas insatisfatória; 4) lacuna de conflito ou antinomia: conflito entre duas normas.
Os métodos de integração estão contemplados na LINDB art. 4º, q estabelece uma ordem preferencial e taxativa.
Assim, são mecanismos de integração: a) a analogia; b) os costumes; c) os princípios gerais do direito.
A analogia é o procedimento lógico de constatação, por comparação, das semelhanças entre diferentes casos
concretos, chegando a juízo de valor. É o processo de aplicação a uma hipótese não prevista em lei de disposição
concernente a um caso semelhante.
Analogia legis (se utiliza de uma regra específica); analogia juris (se utiliza de todo o sistema jurídico).
Não há de se confundir a analogia com a interpretação extensiva, uma vez que nesta se aplica a norma a situações
compreendidas implicitamente em seu conteúdo, o que não ocorre na analogia.

 De acordo com ASCENSÃO (2005, p. 432), “as normas de exceção ou normas excepcionais não admitem
analogia ou interpretação”. Normalmente, serão normas de exceção aquelas que representam restrição da
autonomia privada (ex: o art. 496 exige autorização de venda entre mais e filhos. Essa norma não pode receber
interpretação extensiva para aplicar à hipoteca.)
Costume, por sua vez, é a conduta reiterada a partir da falsa impressão de existir norma jurídica a respeito da
matéria. Os dois elementos caracterizadores do costume são o objetivo (prática reiterada) e o subjetivo ou
psicológico (a convicção de estar seguindo uma norma jurídica).
O sistema jurídico reconhece o costume secundum legem (há referência ao costume da própria norma (art. 13 e 187
do CC/02), assim, a própria norma jurídica é que é aplica) e o costume praeter legem (o costume aqui é norma de
correção do sistema, pois a lei é omissa. ex: cheque pós-datado), inadmitindo o costume contra legem (o costume é
contrário ao direito).
FRANÇA (1996, p. 18) apresenta 5 requisitos para que o costume possa ser considerado fonte: 1) continuidade; 2)
uniformidade; 3) diuturnidade; 4) moralidade; 5) obrigatoriedade.
Além dos métodos de integração previstos na LINDB, o CPC 127 resolveu contemplar hipótese de integração,
somente aplicável em seu âmbito de incidência, que é a equidade, que só poderá ser utilizada se e quando a lei
permitir. A equidade é a aplicação do direito como justo, benévolo, a partir do sentimento de justiça. Pretende-se que
na aplicação da lei o juiz a aplique da maneira que mais se ajuste ao sentimento de justiça do caso sob exame.
Também o CDC autoriza o uso da equidade (7º e 51 IV), e a CLT em sede trabalhista (8º).

 EQUIDADE - somente pode ser usa SE e QUANDO A LEI PERMITIR expressamente


A equidade pode ser legal (a aplicação está no próprio texto legal. Ex: art. 1583, § 2º, do CC/02) e judicial (presente
quando a lei determina que o magistrado deve decidir por equidade no caso).
Por fim, em relação aos princípios gerais do direito, REALE (1994, p. 299) afirma que são “verdades fundantes de
um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas
também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas
necessidades da pesquisa e da práxis”. São exemplos: o naeminem laedere, vedação de enriquecimento sem causa,
boa fé, etc.

4. Antinomias
Conforme TARTUCE (2011, p. 36), “a antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de
autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em determinado caso concreto
(lacunas de colisão).”
Em caso de antinomias, Bobbio ensina que há basicamente 3 critérios de solução: 1) cronológico (prevalecendo
norma posterior); 2) especialidade (prevalecendo a normas mais específica para o caso); 3) hierárquico (norma
superior prevalece).
TARTUCE (2011, p. 37) traz as seguintes classificações de antinomias: 1) de 1 grau (envolve apenas um dos
critérios supra mencionados) e 2 grau (mais de dois critérios são envolvidos); 2) aparente (pode ser resolvida de
acordo com os critérios) e real (não pode ser resolvida com tais critérios).
Bobbio defende que deve prevalecer o critério hierárquico, enquanto Maria Helena Diniz afirma que não há
prevalência em abstrato de qualquer deles, de forma que o caso específico sob análise deve direcionar (Tartuce, p.
38).
ITEM: 2.b. Dos contratos em geral. Função Social e função econômica. Novos princípios do direito dos
contratos
Obras consultadas: TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. São Paulo: Método, 2011.
Anotações Aulas (diversos).

1. 2.b. Dos contratos em geral. Função social e função econômica. Novos princípios do direito dos
contratos.

Conceito clássico: Contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, modificação ou
extinção de direitos e deveres com conteúdo patrimonial. Elementos: 1) Alteridade1: ao menos duas pessoas; 2)
Composição de interesses contrapostos: distinguir do Convênio; 3) Patrimonialidade2.
Classificação: 1º) a) Unilateral (apenas uma das partes assume deveres perante a outra); b) Bilateral (direitos e
deveres recíprocos); c) Plurilateral. 2º) a) Oneroso (mútua vantagem); b) Gratuito. 3º) a) Consensual (aperfeiçoa-
se com simples manifestação de vontade); b) Real (depende da tradição). 4º) a) Comutativo (prestações conhecidas
ou estimadas); b) Aleatório (sorte ou álea). 5º) a) Típico3 (tratamento legal mínimo); b) Atípico. 6º) a) Adesão4
(estipulante determina o conteúdo negocial, cabendo à outra parte aceitá-lo ou não); b) Paritário (conteúdo discutido
por ambas as partes). 7º) a) Formal / informal: Exigência, ou não, de forma legal; b) Solene / não solene:
Exigência ou não de solenidade pública (ex.: escritura pública nos contratos de compra e venda de imóveis de valor
superior a 30 S.M.).
Princípios: 1) Autonomia privada: Permite ao indivíduo a autorregulamentação de seus interesses. A liberdade de
contratar, em regra, é ilimitada, salvo exceções (ex. art. 497 do CC). A liberdade contratual (conteúdo), no entanto, é
limitada pela função social e pela ordem pública. 2) Função econômica: A função mais destacada dos contratos é a
econômica: circulação de riqueza (e do patrimônio). 3) Função social: Preceito de ordem pública, fundada na
solidariedade, que permite a relativização da força obrigatória dos contratos (pacta sunt servada), pelo juiz (atividade
integrativa). Dupla eficácia: 3.1 Eficácia interna: a) Proteção dos vulneráveis; b) Vedação à onerosidade excessiva;
c) Proteção à dignidade humana; c) Nulidade das cláusulas abusivas; d) Tendência à conservação contratual. 3.2
Eficácia externa: a) Proteção dos direitos difusos e coletivos (ex. função socioambiental); b) Eficácia do contrato
perante terceiros. Doutrina do terceiro cúmplice (STJ 2aT. INFO 376) (interferência ilícita do terceiro em negócios
jurídicos alheios), a proteção do terceiro diante dos contratos que lhe são prejudiciais e a tutela externa do crédito
(apesar do direito de crédito se referir, em regra, apenas aos contratantes, haverá, em relação ao restante da
sociedade, um dever de abstenção de modo a não obstaulizar o cumprimento da obrigação) perfazem mitigações ao
Princípio da Relatividade dos Contratos (em todos os casos, sobressaem a boa fé objetiva e a função social dos
contratos) 4) Princípio da relatividade dos efeitos contratuais (res inter alios): Em regra, os atos dos contratantes
não aproveitam nem prejudicam a terceiros (comporta exceções).
Boa-fé subjetiva: Concepção psicológica da boa-fé. É fonte de interpretação de atos e negócios jurídicos (arts. 112 e
113 do CC).
Boa-fé objetiva (comportamento ético): é cláusula geral, que está relacionada aos chamados deveres anexos ou
laterais, quais sejam: a) dever de cuidado em relação à outra parte; b) dever de respeito; c) dever de informação; d)
proteção da confiança; e) lealdade e probidade; f) dever de colaboração; g) razoabilidade. Funções da boa-fé: a)
Interpretativa; b) Controle: a violação da boa-fé objetiva constitui abuso de direito; c) Integração: a boa-fé deve ser
observada até na fase pré-contratual5. Corolários: 1) Supressio (Verwirkung): Renúncia tácita de direito ou posição
jurídica, pelo seu não exercício com o tempo (ex. local do pagamento – art. 330 do CC). 2) Surrectio (Erwirkung): É
a correlativa aquisição de direito ou posição jurídica, em razão da supressio da contraparte. 3) Tu quoque: Um
contratante se vale de um ato lícito em face da contraparte, após a prática de um ato ilícito (ex. o contratante alega

1 Autocontrato: O art. 117 do CC prevê a possibilidade de o mandatário, desde que autorizado para tanto, celebrar
contrato consigo mesmo. Entretanto, a alteridade remanesce, eis que continua sendo necessária a presença de, no mínimo, duas
pessoas para seu aperfeiçoamento (ex. mandatário vende bem do mandante para si mesmo).

2 Parte da doutrina afasta esse elemento fundada num conceito pós-moderno de contrato (despatrimonialização do
Direito Civil).

3 Conceitos de contrato típico/atípico não se confundem com os de nominado/inominado.

4 Não confundir com contrato-tipo ou formulário, que é apenas um modelo de contrato a ser preenchido.

5 Lembre-se do “caso dos tomates”: agricultores X CICA (cf. google).


exceptio non adimpleti contractus6 tendo dado causa ao inadimplemento da outra parte). 4) Venire contra factum
proprium: Pressupõe dois comportamentos isoladamente lícitos; a ilicitude do segundo somente existe por ser
contraditório em relação ao primeiro comportamento, em prejuízo da confiança e lealdade. 5) Duty to mitigate the
loss: O credor deve evitar o agravamento do próprio prejuízo 7. 6) Adimplemento substancial (substantial
performance): Se o contrato foi substancialmente cumprido ou se o inadimplemento foi mínimo, mostra-se abusivo
o requerimento de rescisão contratual.

6 A cláusula solve et repete consiste na renúncia à exceção de contrato não cumprido.

7 Ex. clássico: credor de astreintes não as executa visando obter maiores ganhos (enriquecimento ilícito). Juiz pode
reduzi-las (STJ, AgRg no Ag. 1.075.142/RJ).
ITEM 2.C: Da posse e da propriedade. Aquisição, efeitos, perda e limitações constitucionais.

Obras consultadas: Carlos Roberto Gonçalves. Direito civil brasileiro. Volume 5. 6ª Ed., 2011, Editora Saraiva;
Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil. Volume 5. 6ª Ed., 2006, Editora Atlas; Flávio Tartuce. Manual de direito civil.
Volume único. 1ª edição, 2011, Editora Método; Elpídio Donizetti. Um consolo para o abandonado: usucapião do
lar desfeito. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 3029, 17 out. 2011. Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/20227>. Acesso em: 31 maio 2012.

Legislação consultada: Constituição Federal: artigos 5º, 170, 183; Código Civil: artigos 1.196 a 1.276; Código de
Processo Civil: 924..

POSSE: é um estado de fato protegido legalmente. Sem embargo dos diferentes entendimentos, em todas as escolas
está sempre em foco a ideia de uma situação de fato, em que uma pessoa, independentemente de ser ou de não ser
proprietária, exerce sobre uma coisa poderes ostensivos, conservando-a e defendendo-a. É assim que procede o dono
em relação ao que é seu; é assim que faz o que tem apenas a fruição juridicamente cedida por outrem (locatário,
comodatário, usufrutuário). Em toda posse há, pois, uma coisa e uma vontade, traduzindo a relação de fruição.
A posse é a relação pessoa-coisa fundada na vontade do possuidor; enquanto a propriedade liga a pessoa à coisa
através da vontade objetiva da lei; posse é o poder de fato sobre a coisa; enquanto a propriedade é o poder de direito.
Quando deriva da propriedade, ou seja, com fundamento no direito real de domínio, temos o chamado direito à
posse, que é o do portador de título devidamente transcrito (registrado), ou titular de outros direitos reais. Quando o
direito é fundado no título de domínio que também gera a posse, chama-se jus possidendi.
Por outro lado, quando deriva a posse de forma autônoma, isolada, independente da existência de um título, o direito
gerado é chamado de jus possessionis, sendo o direito fundado no fato da posse, que é protegido contra terceiros ou
do próprio proprietário.

Natureza jurídica: Uns afirmam tratar-se de direito real, fundamentando-se na teoria de Ihering (adotada, com
mitigações, pelo CC, art. 1.196), para quem apenas o corpus (detenção física), compreendido como conduta de
dono, é elemento da posse. O animus (a intenção de ser dono) está integrado no conceito de corpus.
Outros, de direito pessoal, assentando-se na teoria subjetiva de Savigny, a qual exige, além do corpus, o animus.
Para Savigny, a posse é o poder de dispor fisicamente da coisa, com o ânimo de considerá-la sua e defendê-la
contra a intervenção de outrem.
Em que pese nosso sistema normativo ter seguido a teoria objetiva, em várias oportunidades adotou a teoria
subjetiva ou a teoria de Savigny, como, por exemplo, o usucapião que exige o animus dominis de proprietário para
pleiteá-lo.
Há, ainda, os que entendem ser um mero estado de fato; ou, de que se trata de uma posição de direito; não uma
categoria, apenas uma posição. Clóvis Bevilacqua afirmara tratar-se de um direito especial “sui generis”. Não é um
direito, dizia ele, negando o caráter de direito. Mas, por merecer tutela jurídica, pode ser visto como um direito
especial, concluía.
Sílvio de Salvo Venosa afirma que embora a doutrina tradicional enuncie ser a posse relação de fato entre a pessoa e
a coisa, o mais acertado é afirmar que se trata de um estado de aparência juridicamente relevante, ou seja, um
estado de fato protegido pelo direito. Se o direito protege a posse como tal, conclui, desaparece a razão prática que
tanto incomoda os doutrinadores em qualificar a posse como simples fato ou como direito.

Posse e detenção: coube ao legislador dizer em que casos o exercício de fato sobre uma coisa configura-se ou não
detenção. Se não disser, será posse. A posse gera efeitos jurídicos; a detenção, não. O possuidor exerce o poder de
fato em razão de um interesse próprio; o detentor, no interesse de outrem, como por exemplo, os caseiros que apenas
zelam pela propriedade em nome do dono (fâmulos da posse). Também não se pode falar em posse de bens públicos.
Se há tolerância do Poder Público, o uso do bem não passa de mera detenção consentida.

Atos de mera permissão ou tolerância: Não configura posse legítima, mas sim precária.
Carlos Roberto Gonçalves aduz que nem todo estado de fato, relativamente à coisa ou à sua utilização, é
juridicamente posse. Às vezes é. Outras, não passam de mera detenção, que muito se assemelha à posse, mas que
dela difere tanto na essência como nos efeitos.

Composse: Em regra, a posse é exclusiva de uma pessoa. Duas ou mais não podem possuir simultaneamente e por
inteiro a mesma coisa. Contudo, há mitigações que excepcionam a regra. A lei admite essa simultaneidade quando a
coisa possuída por mais de uma pessoa está, ainda, indivisa. Neste caso, ocorrendo o estado de comunhão, faz-se
surgir a figura da composse.
Tem-se a composse quando dois ou mais possuidores exercerem posse sobre coisa indivisa. Possuem-na em comum
por ser indivisa ou quando estão no gozo do mesmo direito, como, por exemplo, com os co-herdeiros antes da
partilha.
Em relação a terceiros, como se fossem um único sujeito, qualquer deles poderá usar os remédios que se fizerem
necessários, tal como acontece no condomínio (CC, art. 1.314).
Não se deve confundir composse com concorrência ou sobreposição de posses. Na composse, há vários possuidores
exercendo o poder de fato, concomitantemente, sobre o mesmo bem. Na concorrência de posses, com o
desdobramento destas em direta e indireta, dá-se o fenômeno da existência de posses de natureza diversa sobre a
mesma coisa, tendo cada possuidor o exercício limitado ao âmbito específico da sua.
Também não se pode confundir acessio possessionis com sucessão de posse. “Acessio possessionis” é a soma de
posses anteriores para, por exemplo, configurar o lapso temporal para a usucapião. Sucessão possessória é a
transmissão de posse que era do falecido para os seus sucessores.

Objeto da posse: Pela sistemática legal existe a posse de coisas, em que o possuidor atua como se proprietário
fosse, a posse de direito reais limitados quando exteriorizáveis, em que o possuidor exerce atos que exteriorizam um
direito real limitado e, também, a posse de direitos obrigacionais que implicam o exercício de poderes sobre uma
coisa. Do exposto, temos que não há, portanto, posse de direitos pessoais, eis que toda a posse é de coisas
(Gonçalves).
Reconhece-se a posse do locatário, comodatário, depositário e outros, não em virtude do direito obrigacional, mas
com fundamento nos atos que os respectivos titulares praticam sobre a coisa. Eles têm uma posse de coisa e não de
direitos. A sua posse é oriunda de um fato material e não de um contrato.
Não podem ser objeto de posse os bens não passíveis de apropriação. Em princípio, a posse somente é possível nos
casos em que possa existir propriedade, compreendendo, repita-se, em primeira análise, os bens materiais
(propriedade e seus desmembramentos).

Imutabilidade do caráter da posse: a imutabilidade do caráter da posse, somente prevalecerá até prova em
contrário. Uma posse, considerada como injusta, somente tornar-se-á justa, depois de provar este estado. Enquanto
não houver prova em contrário que justifique a mudança primitiva do caráter da posse, a originária perdurará. A
regra do artigo 1.203 do CC parece colidir com a do artigo 1.208 do mesmo diploma. No entanto, é aparente, pois o
art. 1.203 traz presunção “juris tantum”, no sentido de que a posse guarda o caráter de sua aquisição. Assim, se a
aquisição foi violenta, clandestina ou precária, essa característica se prende à posse e a acompanha nas mãos dos
sucessores do adquirente. Todavia, se o adquirente a título violento ou clandestino, provar que a violência ou a
clandestinidade cessaram há mais de ano e dia, sua situação de possuidor é reconhecida e só será vencido no juízo
petitório. Se, entretanto, o vício que macula a posse for o da precariedade, o mesmo se apegará à posse, enquanto ela
durar, perseguindo-a perpetuamente. O artigo 1.207 deve ser visto em consonância com o artigo 1.203 do mesmo
diploma civil. O sucessor a título universal, não pode alterar a natureza de sua posse. Se o autor da herança transmite
ao herdeiro posse injusta, esta continuará necessariamente o vício. O sucessor singular tem a prerrogativa de
escolher unir sua posse à do antecessor ou não. Esse aspecto ganha importância no usucapião. Se o sucessor recebe
posse injusta, ser-lhe-á conveniente iniciar e defender a existência de novo período possessório para livrar-se da
mácula da posse anterior.

Posse direta e indireta: Como a posse pressupõe a existência de poder fático, e não necessariamente o seu
exercício, que é uma forma de exteriorização deste poder, classifica-se em dois grupos: posse absoluta (própria) e
posse relativa (imprópria). As duas espécies estão combinadas com o tipo de manifestação de poder, ou seja,
mediata (indireta) e imediata (direta). Isso significa classificar quanto ao tipo de graduação de poder, que poderá ser
absoluta (direta) ou relativa (indireta).
Posse indireta é aquela em que seu titular, ou seja, o proprietário está no seu exercício mediato, porque o exercício
imediato, direto, foi transferido a outro, denominado possuidor direto.
Na posse direta ou imediata o possuidor tem a detenção objetiva da coisa (contato direto), o que difere da mediata,
indireta ou permanente (resultante de obrigação ou direito), que somente a possui subjetivamente. Uma não anula a
outra. Ambas coexistem no tempo e no espaço e são jurídicas, não autônomas. Ambos (possuidor direto e indireto)
podem invocar a proteção possessória em relação a terceiros.
A rigor, a posse não pode ser exercida por mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Todavia, a lei autoriza seu
exercício por mais de uma, com a intenção única de assegurar ao proprietário e ao mero possuidor, o direito de
defendê-la, por meio das ações possessórias (interditos), das ameaças, molestações ou esbulhos, em relação a eles
mesmos (possuidor direito e indireto) ou a terceiros .

Posse justa e injusta: o conceito de posse justa encontra-se definido de forma negativa na lei. O próprio artigo
1.200 do CC afirma que a posse justa é aquela que não é violenta, clandestina ou precária, ou seja, a adquirida
legitimamente, sem vício jurídico externo. No mundo fático não existe o justo ou o injusto. Estes são conceitos
jurídicos. Procede injustamente aquele que atenta contra o direito. Posse justa ou injusta, define-se por exame
objetivo. Para sabermos se uma posse é justa, não há necessidade de recorrer à análise da intenção da pessoa. A
posse pode ser injusta e o possuidor ignorar o vício, estando de boa-fé. O importante é analisar sua aquisição. Se foi
adquirida por um dos modos admitidos na lei, será ela justa. Por outro lado, posse injusta, a contrário senso, é a que
for violenta, clandestina ou precária, é aquela que repugna ao direito. É a adquirida por modo proibido. Examina-se
a injustiça apenas em relação ao adversário. Terceiros não estão legitimados para arguir a injustiça da posse, mas
sim a pessoa esbulhada ou turbada, ensejando somente ao prejudicado o direito de valer-se dos interditos
possessórios. Pode, portanto, ser justa com relação a um sujeito e injusta com relação ao outro.

Da posse violenta: é aquela obtida pela força ou violência no início de seu exercício. A violência citada na lei para a
situação do fato da posse é aquela tipificadora da coação como vício dos negócios jurídicos em geral, cujos
princípios são aqui de plena aplicação. O legislador não distingue se é violência física ou vis absoluta (pela força),
ou vis compulsiva (moral, como a chantagem). Não distinguindo, conclui-se que ambas geram a injustiça da posse.
Não é necessário que a violência seja exercida contra o possuidor para que a posse seja injusta, bastando que se trate
de ato ofensivo ou fato sem permissão do possuidor ou do fâmulo. Pode partir do próprio agente ou de terceiros que
atuam sob sua ordem. A violência é praticada contra a pessoa, não contra a coisa. Não atenta contra a posse quem
rompe obstáculos para ingressar em imóvel abandonado, não possuído e por ninguém reclamado, ou nas mesmas
condições se apossa de coisa móvel de ninguém ou abandonada, porque nessas hipóteses, não existe posse anterior.
Do mesmo modo, não praticamos ato contrário ao direito se rompemos cadeado de porta de coisa da qual temos a
posse.
A lei não estabelece prazo para aquisição dessa posse. Para que cesse o vício, basta que o possuidor passe a usar a
coisa publicamente, com conhecimento do proprietário, sem que este reaja.

Posse clandestina: é aquela em que o possuidor a teve às escondidas do proprietário. Quem tem posse justa, não
tem necessidade de ocultá-la. Não é clandestina a posse obtida com publicidade e posteriormente ocultada. Não é
necessária a intenção de esconder ou camuflar, porque o conceito é objetivo. Para a clandestinidade basta que o
possuidor esbulhado não o saiba.
Cessadas a violência e a clandestinidade, afirma Gonçalves, a mera detenção, que então estava caracterizada,
transforma-se em posse injusta, que permite ao novo possuidor ser manutenido provisoriamente, contra os que não
tiverem melhor posse. Na posse de mais de ano e dia, o possuidor será mantido provisoriamente, inclusive contra o
proprietário, até ser convencido pelos meios ordinários (CC, arts. 1.210-1.211; CPC, art. 924). Cessadas a violência
e a clandestinidade, a posse passa a ser “útil”, surtindo todo os seus efeitos, nomeadamente para a usucapião e para a
utilização dos interditos.
Posse precária: é a que decorre normalmente do abuso de confiança, em que a pessoa permanece com a coisa,
quando deveria tê-la devolvido (possuidor precário). Exemplo: do locatário, do comodatário, do usufrutuário, que
retém a coisa indevidamente após ser reclamada. Diferenciando das demais, essa nunca convalesce, porque a
precariedade nunca cessa. O rigor do legislador se faz claro em razão da quebra da confiança. O vício dá-se a
partir do momento da recusa em devolver.
A posse precária não se confunde com a situação jurídica descrita no artigo 1.208 do Código Civil. Na precariedade
haverá sempre um ato de outorga por parte de um possuidor a outro. Nos atos de mera tolerância ou permissão, essa
relação de ato ou negócio jurídico não ocorre.

Da posse de boa e de má-fé: a posse de boa-fé é aquela em que o possuidor ignora que o seu comportamento está
prejudicando direitos de outrem. Seu conceito funda-se em dados subjetivos, ao contrário do que se exige para a
constatação da posse injusta. O possuidor de boa-fé acredita que se encontra em situação legítima. Há, ainda, por
força legal, presunção relativa de boa-fé quando for oriunda de justo título (é o instrumento hábil para transmitir
domínio e a posse, se proviesse do verdadeiro possuidor ou proprietário). Ressalta-se que poderá existir posse
injusta e de boa-fé, bastando que o possuidor ignore o vício que antecedeu sua posse. Cessará a boa-fé quando as
circunstâncias evidenciarem que o possuidor não ignora que possui indevidamente. A presunção de que o possuidor
não ignorava ou deixou de ignorar a ilegitimidade de sua posse, compete a parte contrária provar (inversão do ônus
da prova ), isso porque aquele tem a seu favor um justo título, dispensando a prova de sua boa-fé (esta é do próprio
título). A caracterização da boa-fé não é essencial para o uso das ações possessórias (interditos). Para estas se faz
necessário a caracterização da posse justa, dispensando-se o critério de boa ou de má-fé. Este critério importa
quando a questão cinge-se às contendas de usucapião; na disputa sobre os frutos e benfeitorias, bem como na
responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa.
Será de má- fé a posse em que o possuidor tem conhecimento ou face as circunstâncias não pode alegar ignorância
de que com sua posse está prejudicando direitos de outrem, ou seja, o possuidor está convencido de que sua posse
não tem legitimidade jurídica.
Nos termos do artigo 1.202 do Código Civil, não apenas a citação pode fazer cessar a boa-fé, mas também opera o
mesmo efeito qualquer circunstância anterior ao processo que faça presumir a consciência da ilicitude por parte do
sujeito, como notificação judicial ou extrajudicial.
Com a citação de uma ação proposta, o possuidor de má-fé responde pela entrega da coisa e pelos frutos em
decorrência de princípios processuais e obrigacionais, produzindo a sentença efeitos desde aquele ato de
conhecimento (citação).

Posse “ad interdicta” e posse “ad usucapionem”: Pode-se analisar a posse para efeito de interditos ou de
usucapião. Toda posse passível de ser defendida pelas ações possessórias é denominada “ad interdicta”, isto é, a que
possibilita a utilização dos interditos para repelir ameaça, mantê-la ou recuperá-la, bastando que seja justa. Ainda
que a posse contenha vícios, o possuidor está garantido em relação a terceiros que não tenham sido vítimas da
violência, da clandestinidade, ou da precariedade. Estes vícios só não o garantem em relação ao proprietário,
necessitando que seja justa. Em relação àqueles, qualquer posse dá direito aos interditos.
Posse “ad usucapionem” entende-se aquela capaz de dar ao seu titular o usucapião da coisa, se preenchidos os
requisitos legais exigidos pelo artigo 1.238 e 1.242, ambos do Código Civil, ou seja, o ânimo de dono, que seja
mansa e pacífica (sem oposição), contínua (sem interrupção), que haja decurso do tempo, seja de boa-fé e que haja
justo título. Estes dois últimos interessam apenas ao usucapião ordinário. Um dos principais efeitos da posse é a
possibilidade de, com ela, alcançar-se a propriedade pelo decurso de certo tempo.

Posse nova e velha: Classificação quanto à idade da posse. Posse nova é aquela que não tem ano e dia; velha é a
que ultrapassou um ano e dia.
Não se deve confundir posse nova com ação de força nova, nem posse velha com ação de força velha. Destarte,
para se saber se a ação é de força nova ou velha, leva-se em conta o tempo decorrido desde a ocorrência da turbação
ou do esbulho. Se o turbado ou esbulhado reagiu logo, intentando a ação dentro do prazo de ano e dia, contado da
data da turbação ou do esbulho, poderá pleitear a concessão da liminar (CPC, art. 924), por tratar-se de ação de força
nova. Passado esse prazo, o procedimento será ordinário, sem direito a liminar, sendo a ação de força velha. É
possível que alguém que tenha posse velha ajuizar ação de força nova, ou de força velha, dependendo do tempo que
levar para intentá-la, contado o prazo da turbação ou do esbulho, assim como também alguém que tenha posse nova
ajuizar ação de força nova ou de força velha.

Posse natural e posse civil ou jurídica: Posse natural é aquela que se constitui pelo exercício de poderes de fato
sobre a coisa. Posse jurídica ou civil é a considerada por lei, sem necessidade de atos materiais. A posse civil ou
jurídica transmite-se ou adquire-se pelo título. Exemplificando, temos o constituto possessório, em que um sujeito
vende um imóvel a outro, mas nele continua como inquilino. O que vendeu passa a ser possuidor direto e o que
comprou indireto, mesmo sem jamais tê-lo ocupado fisicamente.

Aquisição da posse: A aquisição da posse deve partir de um ato de vontade ou da lei. A posse se inicia com o
exercício de poder constitutivo ou inerente ao direito de propriedade, ou seja, começa-se com o fato que põe a coisa
sob o senhorio do possuidor.
Quanto ao momento da aquisição, ao contrário da propriedade, para a posse poder-se-ia dizer que se justifica apenas
para caracterização de alguns efeitos, como para assinalar o início do prazo da prescrição aquisitiva e do lapso de
ano e dia, que distingue a posse nova da velha.
Ressalta-se que, ao contrário do CC de 1916, o novel Código não mais enumera os modos de aquisição da posse,
limitando-se a dizer que ela se adquire quando se obtém o poder sobre a coisa, tornando possível seu exercício, em
nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.

Dos modos de aquisição: Tendo em vista a sistematização adotada pelo CC, os modos de aquisição podem ser
agrupados em 02 espécies: da aquisição da posse em consequência da vontade e em função da sua origem. Para
alguns doutrinadores, a divisão se faz somente entre posse originária e derivada, tal como o domínio.
Portanto, pode-se adquirir a posse, em função da vontade, pela:
1) vontade do agente unilateralmente (apreensão), por ato bilateral (convencional – contrato) ; e,
2) pela própria lei.
Ou, valendo-se de outra classificação, agora em função de sua origem:
1) originária; e,
2) derivada
Unilateralmente, adquire-se pela apreensão consciente da coisa. Se a coisa estiver abandonada diz-se “res derelicta”;
se não for de ninguém, afirma-se “res nullius”. Aquele que acha coisa perdida, abandonada, deve restituí-la ao dono
ou legítimo possuidor. Não sendo possível, deve entregá-la à autoridade competente, conforme reza o artigo 1.233
do CC. Enquanto não entregue a coisa, quem achou tem sua posse, podendo ser legitimada. Estando de má-fé, a
posse do achador ou inventor será considerada injusta e viciada. Além dessas duas hipóteses, a apreensão também se
manifesta e enseja aquisição de posse, quando a coisa é retirada de outrem sem a sua permissão, mesmo por meio de
violência ou clandestinidade, porque o possuidor primitivo ao se omitir nos meios de defesa, passado ano e dia,
contribuiu para que a situação de fato se estabelecesse, cessando o vício, em favor do detentor transformando-se em
possuidor.
Adquire-se a posse também bilateralmente, por convenção (convencional), que se faz pelo contrato, em que será
concretizada pela tradição real, ficta ou simbólica. Tradição, vale ressaltar, é a transferência da posse de um
possuidor a outros, por ato gratuito ou oneroso; é modo derivado de apossamento da coisa. Tradição real, também
chamada de efetiva ou “traditio longa manu”, é aquela quando materialmente a coisa é deslocada para a posse de
outrem. Tradição simbólica é aquela em que a entrega da coisa é traduzida por gestos, conduta indicativa da
intenção de transferir a posse, atitudes de transferência, como por exemplo, a entrega das chaves do imóvel. E, por
fim, a tradição ficta, no caso de constituto possessório
(cláusula “constituti”), quando, por exemplo, o vendedor, transferindo a outrem o domínio da coisa, conserva-a em
seu poder, mas agora na qualidade de locatário.
Traz a lei uma forma de aquisição possessória, que advém do princípio da “saisine”, figura do direito francês, onde a
posse transmite-se aos herdeiros do autor da herança tão logo ocorra o óbito. Por ser a herança considerada bem
imóvel (imóvel por determinação legal), esta transmissão deveria revestir-se de formalidades, mas também por força
de lei, não se exige, determinando a sua imediata transferência, independente, inclusive, do conhecimento do
herdeiro.
Temos ainda, a aquisição por exercício do direito. Exemplificando: é o que ocorre no caso de servidão. Constituída
uma servidão em terreno alheio sem qualquer oposição do proprietário, que não se valeu dos interditos, para aquele
será estabelecido em seu favor a posse.

Aquisição em função de sua origem: É originária, quando a aquisição ocorre sem qualquer relação entre o antigo
e o novo possuidor. Cuida-se da ocupação da coisa, apropriação de seu uso e gozo. O ato do agente é unilateral. A
aquisição unilateral realiza-se pelo exercício de um poder de fato sobre a coisa, no interesse daquele que o exerce. O
possuidor, na aquisição originária, não tem qualquer vínculo jurídico com o antecessor e a translatividade ocorre
independentemente de sua anuência ou até mesmo com sua resistência, dependendo apenas da vontade do
adquirente.
Posse derivada, por sua vez, é aquela que se caracteriza quando há anuência do antigo possuidor, como nos casos de
compra e venda, doação etc. O antigo possuidor cede ou transfere sua posse a outrem mediante um negócio jurídico.
Há transferência voluntária do vendedor ao comprador. A posse adquirida derivou do vendedor, do cedente ou do
doador. Há um ato ou negócio jurídico bilateral. No caso de morte, pelo princípio da “saisine”, a aquisição derivada
decorre da lei. Também decorre da lei, a dos frutos que caem em meu terreno provenientes de árvore do vizinho
(CC, art. 1.284).
A importância da distinção refere-se à análise dos vícios que porventura existam sobre a posse. Quando a aquisição
é originária, não havendo vínculo com o possuidor anterior, a posse apresenta-se sem qualquer vício para o novo
possuidor. Se o possuidor a recebeu de outrem, ou seja, sendo derivada, herdará os vícios ou virtudes anteriores,
conforme se infere da leitura do artigo 1.203 do Código Civil.

Da transmissão da posse: posse dos herdeiros e legatários do possuidor. Posse na sucessão universal e na
singular: A posse se transmite com os mesmos caracteres aos herdeiros e legatários do possuidor, tão logo se
verifique a abertura da sucessão. O artigo 1.207 do mesmo diploma trata da conjunção ou união das posses, em que
a posse pode ser transmitida a título universal ou a título singular.
Por sucessão universal, entende-se tratar de possuidor que substitui o titular do direito na totalidade de seus bens, ou
em uma parte deles, como, por exemplo, o herdeiro (sucessão “mortis causa”). Este é sucessor universal porque
sucede em uma universalidade, uma fração não individualizada. O objeto da transferência, repita-se, é uma
universalidade (patrimônio).
Por outro, entende-se como sucessor singular aquele que substitui o antecessor em direitos ou coisas determinadas,
como, por exemplo, o comprador. Sucede-se um bem certo, determinado ou individualizado.
A lei faculta ao sucessor a título particular anexar à sua posse a de seu antecessor para, por exemplo, obter o
usucapião, assumindo, aí sim, os vícios da anterior caso existam. Temos aqui uma faculdade, o que não ocorre se
tratar-se de sucessão a título universal, onde a conjugação da posse é imposição de lei.

Efeitos da posse: entendem-se as consequências que da posse advêm, como sua aquisição, manutenção e perda. O
Código Civil, nos artigos 1.210 a 1.222, trata dos principais efeitos produzidos pela posse.
Dos efeitos produzidos, podemos dizer que o principal é o direito de proteção, ou seja, o direito do possuidor de
proteger e conservar sua posse. Além deste, o Código reconhece e indica outros, como o da percepção dos frutos; da
responsabilidade pelas deteriorações e perda da coisa possuída; da indenização por benfeitorias e do direito de
retenção para garantir seu pagamento; e a usucapião.

Do direito de proteção da posse: da legítima defesa, do desforço imediato e dos interditos: A proteção ao
possuidor dá-se de duas formas: pela legítima defesa e pelo desforço imediato, chamadas ações diretas (autodefesa,
autotutela ou defesa direta) e pelos interditos¸ que são as ações possessórias, também denominadas de defesas
indiretas ou heterotutela.
O desforço imediato ocorre quando o possuidor pode manter-se ou restabelecer-se à situação anterior pelos seus
próprios meios e recursos, quando houver esbulho da sua posse. Quando, por sua vez, houver turbação no exercício
da posse, o possuidor poderá reagir, exercendo assim, a legítima defesa.
Para que a defesa direta possa ser considerada legítima, o possuidor deve reagir tão logo quanto possível, limitando-
se ao indispensável à retomada da posse.
Não querendo ou não podendo lançar mão da legítima defesa da posse, poderá, ainda, o possuidor protegê-la através
de medidas judiciais, que são os interditos possessórios. Três são os interditos possessórios: interdito de reintegração
de posse; interdito de manutenção de posse e o interdito proibitório.
A proteção possessória tem como fundamento um direito derivado da própria necessidade de se proteger a
propriedade. Protegendo a posse, que é a exteriorização da propriedade, esta está sendo protegida.
O nosso direito protege não só a posse correspondente ao direito de propriedade e a outros direitos reais como
também a posse como figura autônoma e independente da existência de um título.
Distinção entre juízo possessório e juízo petitório. Exceção de domínio: No juízo possessório não adianta alegar
o domínio, porque só se discute posse. No juízo petitório a discussão cinge-se ao domínio, sendo secundária a
questão da posse. Nos termos do artigo 1.210, § 2º, do CC, não mais se contempla a possibilidade de se arguir a
exceptio proprietatis, ou seja, a exceção de domínio. No antigo diploma a questão do domínio podia ser trazida ao
juízo possessório.

Dos efeitos da posse em relação aos frutos: Salvo disposição especial em contrário, a coisa acessória segue a
principal. Entram na classe das coisas acessórias, como suas espécies: os frutos, produtos e rendimentos (CC, art.
95). Estes, como regra, devem pertencer ao proprietário, como acessórios da coisa.
A regra pela qual o proprietário da coisa tem direito aos seus acessórios sofre mitigação, quando tratar-se de
possuidor de boa-fé, ou seja, quando estiver convicto de que é seu o bem possuído.
Não é o proprietário, mas sim o possuidor, se estiver de boa-fé, quem terá direito aos frutos percebidos, protegendo a
lei, neste caso, aquele que tinha a convicção de que a coisa lhe pertencia e lhe deu destinação econômica.
Para que o possuidor ganhe os frutos necessários a prova de sua boa-fé, que tenha o pensamento de que é
proprietário, conforme exige-se o artigo 1.214 do CC.

Da percepção dos frutos pelo possuidor de boa-fé: O possuidor estará de boa-fé se possuir justo título. A
existência de um justo título para a aquisição dos frutos se faz necessária, porque deve ter direitos a eles a posse que
se assemelha à propriedade, ou tem sua aparência. Neste sentido, possuindo somente a posse sem título que a
sustente, o possuidor terá direito aos frutos percebidos, não fazendo jus, contudo, aos pendentes ou aos colhidos
antecipadamente, que devem ser restituídos.
Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé, que ocorrerá após a citação judicial para a causa, devem ser
restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio, bem como os frutos colhidos antecipadamente,
também não fará jus. Visa a legislação não proporcionar enriquecimento indevido ao reivindicante, impondo a este o
dever de indenizar o valor das despesas da produção e custeio, tais como o plantio, conservação etc. Caso os frutos
colhidos com antecipação não encontrar-se estantes (colhidos e acondicionados para a venda), deverá indenizar em
importância equivalente.

Da percepção dos frutos pelo possuidor de má-fé: O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e
percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-
fé (CC, art. 1.216). O legislador desencoraja a má-fé, mormente quando determina que indenize até mesmo os frutos
percipiendos, ou seja, os que poderiam ter sido colhidos e não o foram, tendo direito apenas às despesas da produção
e custeio, em respeito ao enriquecimento sem causa.

Da responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa: O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou
deterioração da coisa, se não for responsável, apenas indenizando se agiu com dolo ou culpa, assim entendido pela
expressão “a que não der causa” .
Se for posse de má-fé, responderá até mesmo se acidental, inclusive por caso fortuito ou força maior, estando livre
apenas se demonstrar que teria ocorrido a perda ou deterioração da mesma forma se estivesse a coisa nas mãos do
reivindicante. Ao possuidor de má-fé compete provar (é seu o ônus da prova) que do mesmo modo se teriam dado as
perdas se estivesse a coisa na posse do reivindicante, sendo esta a única excludente de responsabilidade. Não basta a
prova da ausência de culpa nem de força maior. A única prova que o exonerará é o da ocorrência do mesmo prejuízo,
se não tivesse havido interferência alguma do possuidor. Há, no caso, uma presunção juris tantum de culpa do
possuidor de má-fé, invertendo-se o ônus da prova.
Efeitos em relação às benfeitorias e o direito de retenção. Possuidor de boa-fé: o mesmo princípio da vedação
ao enriquecimento ilícito, aplicado quanto à responsabilidade dos frutos na posse, aqui também se faz presente. A
legislação, em havendo boa-fé, traz ao possuidor o direito à indenização quanto às benfeitorias necessárias e úteis,
facultado ao reivindicante não indenizar as voluptuárias eis que aquele tem direito de levantá-la (jus tollendi), desde
que não cause danos à coisa e o reivindicante não preferir ficar com elas, indenizando o seu valor.
Necessário esclarecer que a noção de benfeitoria é casuística, vale dizer, que somente diante do caso concreto poder-
se-á distingui-la. Construir uma piscina em um clube recreativo, é necessária; em uma casa, é voluptuária; em uma
escola, é útil.
Recusando-se o reivindicante a indenizar, o possuidor poderá exercer o "jus retentionis", ou seja, o direito de reter a
coisa até que lhe seja pago as indenizações correspondentes às benfeitorias necessárias e úteis por ele realizadas. O
ato de retenção consiste em uma modalidade de garantia, um meio de defesa direto do possuidor de boa-fé para
compelir o reivindicante ou o evictor a lhe indenizar

Indenização ao possuidor de má-fé: Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias;
não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias (CC, art. 1.220).
Também não há que se falar em retenção, pois só lhe é de direito o recebimento das benfeitorias necessárias
perdendo as benfeitorias úteis e voluptuárias. Estas importâncias são para compensar o período que permaneceu em
coisas alheias, além de ser uma sanção. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento
se ao tempo da evicção ainda existirem (CC, art. 1.221). O reivindicante obrigado a indenizar as benfeitorias ao
possuidor de má-fé tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará
pelo valor atual (CC, art. 1.222).

Da perda da posse: faz-se supérflua a enumeração dos meios pelos quais se adquire ou perde-se a posse. Se esta é a
exteriorização do domínio e se é possuidor aquele que se comporta em relação à coisa como dono, desde o momento
em que não se comporte mais dessa maneira, ou se veja impedido de exercer os poderes inerentes ao domínio, a
posse estará perdida. O Código Civil, pela razão apontada, no artigo 1.223, em consonância com o artigo 1.196,
define que se perde a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem.
Didaticamente, mencionam-se as situações que denotam a perda da posse.
Abandono: perde-se a posse pelo abandono (“res derelicta”) ou renúncia, ou seja, quando o possuidor,
voluntariamente, manifesta a intenção de largar o que lhe estava sob sua posse. Perder-se-á um imóvel, pelo
abandono, quando o possuidor agir negligentemente, ausentando-se por tempo prolongado e demonstrando
desinteresse sobre o bem. Esta situação somente não ocorrerá se se tratar de ausência natural, compatível com a
natureza do próprio imóvel, como as casas de veraneio e campo.
Tradição: A posse se perde por sua transferência, ou seja, pela tradição, que consiste na entrega da coisa alienada e
consequentemente não mais terá a posse da coisa. Só haverá perda, se for transferência definitiva, onde a relação
possessória passa para outra pessoa.
Destruição e coisas fora do comércio: como causa da perda da posse temos a destruição da coisa e a sua colocação
fora do comércio. A posse é exercida sobre uma coisa corpórea, sobre um “corpus”, a partir do momento que esse
“corpus” se perdeu, pereceu a posse e consequentemente seu valor econômico. Dá-se, portanto, a destruição da coisa
quando ela deixa de existir.
São postas fora do comércio os bens desapropriados. Por coisas fora do comércio entendem-se aquelas que não são
suscetíveis de apropriação e, quando por lei, são inalienáveis. As coisas aqui referidas, não podem, portanto, ser
objeto de posse, posto que o possuidor de coisa posta fora do comércio terá perdido a posse sobre ela, porque se
tornou inapropriável.
Posse de outrem: pela posse de outrem, ainda contra a vontade do possuidor, se este não foi manutenido ou
reintegrado em tempo competente, perder-se-á a posse.
Constituto possessório: através do constituto possessório, tanto se adquire quanto se perde a posse. Pela cláusula
“constituti”, altera-se a relação possessória: o possuidor que tinha a coisa em nome próprio passa a tê-la em nome
alheio. O alienante perde a posse e o adquirente a ganha. O novo Código preferiu não mencioná-lo de forma
expressa.

Perda da posse de direitos: desde que haja extinção do direito, seu titular terá perdido a posse. Perder-se-á também
a posse dos direitos, em se tornando impossível exercê-los, ou não exercendo por tempo que baste para a
configuração da prescrição. Caracterizada a prescrição da pretensão que corresponde a um direito, finda-se a posse
desse direito. Exemplo: servidões (art. 1.389, CC).

Perda ou furto da coisa móvel e título ao portador: o furto de título ao portador rege-se, hoje, exclusivamente
pelo disposto no artigo 907 do CPC (Aquele que tiver perdido título ao portador ou dele houver sido injustamente
desapossado poderá: I - reivindicá-lo da pessoa que o detiver; II - requerer-lhe a anulação e substituição por outro.)
A situação do terceiro que vem a adquirir um objeto que foi extraviado ou roubado é traçada pelo artigo 1.268 do
Código Civil, com relação à tradição: feita por quem não seja proprietário, “a tradição não aliena a propriedade,
exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias
tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono”, ou se “o alienante adquirir
depois a propriedade” (§ 1º). Também não transfere a propriedade, a tradição, quando tiver por título um negócio
jurídico nulo (§ 2º).

Perda da posse para o ausente (o que não se acha presente): Aquele que não estiver no lugar onde se encontra a
coisa de sua propriedade ou posse perderá em favor do ocupante ou do detentor dela se, tendo notícia da ocupação,
não procurou retomá-la, ou seja, omitindo-se nas providências visando a retomada. Deixou de tentar recuperá-la por
desforço imediato e for repelido pelo ocupante. Não recuperada, portanto, o possuidor perderá a posse. Todavia, se o
possuidor, pelo desforço imediato conseguir a recuperação, terá sua posse mantida.

DA PROPRIEDADE: esta figura jurídica deita raízes no direito romano, onde primava pelo individualismo,
atribuindo somente ao cidadão romano o privilégio de adquirir a propriedade. Atualmente, a configuração da
propriedade depende do regime político adotado, por exemplo, a antiga URSS, que socializava os bens de produção;
já nos países do ocidente, incluindo o Brasil, temos a propriedade individual, com restrições voluntárias e legais,
para que seja possível o desempenho da sua função social.

Fundamento do direito de propriedade: Existem várias teorias que informam o seu fundamento, destacando-se a
da (1) ocupação, (2) da lei, (3) da especificação e (4) da natureza humana. Pela primeira, fundamenta o direito de
propriedade na ocupação, na apropriação de coisas que não pertencem a ninguém (res nullius). Pela segunda, a
teoria da lei, afirma-se que o domínio fundamenta-se na lei. Por ela, a propriedade é instituição de direito civil,
positivamente amparado. Existirá a propriedade porque a lei a criou e a garantirá. Pela teoria da especificação, o
trabalho é o único criador de bens, consistindo, portanto, no título legítimo da propriedade. Por último, a teoria da
natureza humana, é a que melhor fornece o fundamento da propriedade. Para ela a propriedade está na natureza
humana, pois é o instinto de conservação que leva o homem a se apropriar de bens para saciar sua fome e para
satisfazer suas necessidades de ordem física e moral, justificando, assim, plenamente a existência jurídica da
propriedade.

Conceito e elementos da propriedade: nosso Código Civil não trouxe uma definição de propriedade, preferindo
enunciar no artigo 1.228 os poderes do proprietário, fornecendo elementos para sua definição. Em termos analíticos,
todavia, podemos dizer que a propriedade é o direito que a pessoa (física ou jurídica) tem, dentro dos limites
normativos, de usar, gozar e dispor de um bem (corpóreo ou incorpóreo), bem como de reivindicá-lo de quem
injustamente o detenha, tirando da coisa toda a sua utilidade jurídica; é o mais completo dos direitos subjetivos, a
matriz dos direitos reais e o núcleo do direito das coisas.
Em relação aos seus elementos constitutivos da propriedade, temos o “jus utendi” (direito de usar), que é a
faculdade de o dono servir-se da coisa e utilizá-la da maneira que entender mais conveniente, podendo excluir
terceiros de igual uso. O “jus fruendi” (direito de gozar ou usufruir), que é o poder de perceber os frutos naturais e
civis da coisa e aproveitar economicamente os seus produtos. O “jus abutendi” ou “jus disponendi” (direito de
dispor), que é o direito de dispor da coisa, de transferi-la ou aliená-la a outrem a qualquer título, envolvendo o poder
de consumir o bem, de dividi-lo ou gravá-lo, como vender, distribuir, doar a coisa. E, por último, a “reivindicatio”
(direito de reivindicar), sendo o direito de reaver a coisa, de reivindicá-la das mãos de quem injustamente a detenha;
ele envolve a proteção específica da propriedade, que se perfaz pela “ação reivindicatória” (direito de sequela).

Caracteres da propriedade: este direito sofre restrições impostas pelo direito de vizinhança, pelo interesse
público, pelo fim social, pela própria vontade do proprietário e outras normas administrativas e
constitucionais. É um direito absoluto desde que não contrarie interesse público e outras normas de
convivência social. A propriedade caracteriza-se pela exclusividade, ilimitabilidade, perpetuidade e elasticidade.
É exclusiva, no sentido de poder o seu titular afastar da coisa quem quer que dela queira utilizar-se. A mesma
coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneidade a duas ou mais pessoas. O direito de um exclui o
de outro. Mesmo no condomínio não desaparece o exclusivismo, pois o direito dos condôminos são exclusivos.
É ilimitada ou absoluta, no sentido de encontrar-se liberta dos encargos que a constrangiam desde os tempos
feudais, quando o que lavrava o solo tinha o dever de pagar foro ao fidalgo; hoje, o proprietário tem amplo
poder sobre o que lhe pertence. Não só por ser oponível erga omnes, mas pelo fato de que seu titular pode
desfrutar e dispor do bem como quiser, sujeitando-se apenas às limitações impostas em razão do interesse
público ou da coexistência do direito de propriedade de outros titulares. Até prova em contrário, considera-se
a propriedade plena e exclusiva, limitando-a quando pesar sobre ela ônus reais, como no caso do usufruto e
de outros direito reais sobre coisas alheias, em virtude do desmembramento dos direitos elementares do
proprietário, de usar, gozar e dispor, ou quando for resolúvel, estando sujeita a resolução. Possui também,
caráter perpétuo, no sentido de que subsiste a propriedade independentemente de exercício, enquanto não
sobrevier causa legal extintiva, ou seja, enquanto o proprietário desejar ou em virtude de lei ela subsistirá. É
irrevogável ou perpétua, porque não se extingue pelo não-uso. Por fim, temos o caráter elástico, que é a
característica que consiste na possibilidade do domínio ser estendido ou contraído no seu exercício conforme
lhe somem ou retirem poderes destacáveis.

Do caráter social da propriedade: a CF/88 traz essa ideia (art. 5º, XXIII), determinando ainda, que a ordem
econômica observará a função da propriedade, impondo freios à atividade empresarial (art. 170, III). É possível
dizer que a função social pode se confundir com o próprio conceito de propriedade, diante de um caráter inafastável
de acompanhamento (Tartuce). Nessa ordem, o Código Civil, no artigo 1.228, § 1º, afirma que o direito de
propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam
preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas; o § 2º, que são
proibidos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade ou utilidade e sejam animados pela intenção
de prejudicar outrem (direito de vizinhança); o §3º traz a privação de propriedade nos casos de desapropriação por
necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público
iminente. Pelos §§ 4º e 5º, cria-se uma nova forma de usucapião, determinada pelo Poder Judiciário na hipótese de o
imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de
considerável número de pessoas, e esta nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços
considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante, fixando por este a justa indenização ao
proprietário. Neste caso, trata-se de inovação de alto alcance, inspirada no sentido social do direito de propriedade e
também no novo conceito de posse, dita por Miguel Reale como posse-trabalho, conforme leciona Carlos Roberto
Gonçalves.
Além do disposto no artigo 1.228 do CC e do Estatuto da Cidade, temos ainda outras legislações que trazem
restrições ao direito de propriedade, como o Código de Mineração, Florestal, Lei de Proteção do Meio Ambiente,
além, é claro, das limitações advindas do direito de vizinhança e de cláusulas impostas nas liberalidades, matérias
tratadas pelo diploma substantivo civil. Esse conjunto de normas nos dá, portanto, a noção de que o direito de
propriedade deixou de apresentar características de direito absoluto e ilimitado para transformar-se em direito de
finalidade social.

Propriedade plena e limitada: são espécies de propriedade, quanto à extensão do direito do titular: a plena ou
limitada; quanto à perpetuidade do domínio: perpétua ou resolúvel. Será plena, também chamada de alodial, quando
todos os direitos elementares da propriedade estão reunidos nas mãos da mesma pessoa. Ter-se-á propriedade
limitada ou restrita, quando tem um ônus real, o qual consiste em estar um ou mais elementos constitutivos da
propriedade em poder de outrem. Será perpétua quando tiver duração ilimitada. Será resolúvel, quando se encontrar
no seu próprio título constitutivo uma razão de sua extinção, ou seja, as próprias partes estabelecem uma condição
resolutiva, como na alienação fiduciária, ao fideicomisso ( fiduciário e fideicomissário), ou no pacto de retrovenda.

Espaço aéreo e subsolo: a noção geométrica de superfície, como expressão de solo, não satisfaz às exigências
jurídicas, pois é óbvio que o proprietário não teria a possibilidade de exercer os poderes dominiais de uso e gozo se
lhe fosse negado o direito ao que está abaixo e acima. Não poderia construir ou plantar, não teria meios de utilizar se
a concepção de domínio ficasse adstrita à camada externa de revestimento da terra. Por estas razões, podemos dizer
que a propriedade do solo estende-se ao subsolo e ao espaço aéreo, questionando, contudo, se encontra ou não um
limite. Conjugando concepções germânica (interesse do proprietário) e suíça (utilidade), nosso Código Civil
autoriza no artigo 1.229, tanto no espaço aéreo como no subsolo, a titularidade do domínio, desde que seja útil e
possua o proprietário legítimo interesse.

Descoberta: é uma das formas de aquisição e perda da propriedade móvel. É o achado de coisa perdida.
Descobridor, achador ou inventor é o que a encontra. Nos termos do artigo 1.233, quem achar coisa alheia perdida
há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Não o conhecendo, fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar,
entregará a coisa à autoridade competente. Aquele que restituir a coisa achada terá direito a uma recompensa não
inferior a 5 % do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e o transporte da
coisa, se o dono não preferir abandoná-la. Neste caso, a coisa não mais será perdida, mas sim abandonada, o que
gerará para o inventor (descobridor), direito aquisitivo pela “res derelicta” (coisa abandonada). Todavia, há uma
exceção que a coisa perdida passa a pertencer ao achador ou inventor, afora o abandono pelo dono como visto
acima, é o caso de descoberta de tesouro, onde a lei afirma que metade de seu valor passará a pertencer a quem
achou. Neste caso, excepcionalmente, a coisa perdida passa a ser forma aquisitiva de propriedade móvel.

Aquisição da propriedade imóvel: consiste na personalização do direito num titular, gerando-lhe um direito
subjetivo. São pressupostos para aquisição da propriedade: 1) que a pessoa seja capaz de adquirir; 2) que a coisa seja
suscetível de aquisição; e, 3) que exista um modo de adquirir. Pode-se dizer que se adquire a propriedade pelos
modos: 1) originário e 2) derivado. Propriedade originária é aquela em que não há vínculo jurídico entre o
proprietário anterior e o atual, por exemplo, as acessões e a usucapião. Por outro lado, derivada é a que se
caracteriza pela existência de um liame jurídico entre o proprietário anterior e o atual, como o direito hereditário e o
contrato seguido de tradição. Nos termos da legislação civil, têm-se como modos de aquisição da propriedade
imobiliária: 1) a usucapião; 2) a aquisição pelo registro do título; 3) as acessões; e, 4) o direito hereditário, que é o
que surge em decorrência do vínculo de parentesco que o herdeiro tem com o falecido.

Da usucapião: modo de aquisição da propriedade de forma originária. Essencialmente deita raízes na posse, por
tempo prolongado, que transforma uma situação de fato em direito. O instituto do usucapião visa garantir a
estabilidade e a segurança da propriedade, fixando um prazo além do qual não se pode mais levantar dúvidas ou
contestações a respeito, e sanar a ausência de título do possuidor, bem como os vícios intrínsecos do título que esse
mesmo possuidor tiver. É um direito novo, autônomo, independente de qualquer ato negocial provindo de um
possível proprietário, tanto assim que o transmitente da coisa objeto do usucapião não é o antecessor, o primitivo
proprietário, mas a autoridade judiciária que reconhece e declara por sentença a aquisição por usucapião. Diz-se
também, tratar-se de uma prescrição aquisitiva de propriedade. Sua natureza jurídica é de instituto autônomo
afinando-se, destarte, com a prescrição.

Requisitos da usucapião: 1) que a coisa seja suscetível de usucapião; 2) posse mansa, pacífica (sem oposição) e
contínua (sem interrupção), com o ânimo de dono (“animus domini”); 3) decurso do tempo; 4) para o usucapião
ordinário, a boa-fé e justo título.
As coisas fora do comércio, as naturalmente insuscetíveis de apreensão, as legalmente elencadas e os bens públicos
não são objeto do usucapião.
Não é qualquer posse, mas aquela qualificada pela intenção de ter a coisa como própria. Exige a lei que seja “ad
usucapionem”, ou seja, aquela que contém os requisitos exigidos pelo artigo 1.238.
Espécies de usucapião: 1) Extraordinário (artigo 1.238); 2) Ordinário (artigo 1.242); 3) Urbano (artigo 183, § 1° a
3°, CF e artigo 1.240 do CC); 4) Rural (artigo 1.239 do CC e artigo 191 da CF); 5) coletivo (§ 4º do art. 1.228,
entendidos por uns como apropriação indireta) e 6) por abandono do lar ou familiar ou conjugal (art. 1.240-A do
CC).

Da usucapião extraordinária: caracteriza-se quando alguém que possua como seu um imóvel de forma pacífica,
sem oposição e sem interrupção durante quinze anos, independentemente de justo título e boa-fé, poderá requerer
em juízo a declaração de domínio, que será levada a registro no cartório competente do imóvel (CC, art. 1238).
Todavia, o prazo de quinze anos reduzir-se-á para dez se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia
habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo (forma especial de usucapião extraordinária). Só
as pessoas naturais podem se valer da usucapião extraordinária de dez anos. Ao contrário da usucapião especial
urbana, que não legitima aquele que tiver outro imóvel urbano ou rural, aqui não se encontra a restrição. Em se
tratando de usucapião apoiado em moradia habitual, não se admite a acessio possessionis porque o caráter da posse
é pessoal, ou seja, o que se pretende é que o autor do pedido esteja morando no imóvel por todo o prazo, o que não
se atende com a soma das posses. A outra hipótese prevista no parágrafo único do art. 1.238 é a realização de obras
ou serviços de caráter produtivo. Aqui estamos diante da posse vinculada ao trabalho. O possuidor não mora no
imóvel, mas fê-lo produtivo, gerando uma fonte de riqueza, o que é compatível com a finalidade social da
propriedade. O desenvolvimento das obras ou serviços deve se ter realizado pelo prazo de dez anos, não se podendo
admitir que o possuidor invoque a redução do prazo, quando realizou as obras ou serviços apenas poucos anos antes
de se completar dez anos.

Da usucapião ordinária: é o que possibilita a aquisição do domínio do imóvel por aquele que por dez anos possuir
como seu ininterruptamente, pacificamente e sem oposição, incontestadamente, com justo título e boa-fé (CC, art.
1.242, “caput”). Ainda, reduzir-se-á o prazo para cinco anos, se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com
base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem
estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico (CC, art. 1.242, parágrafo
único). Por justo título deve-se entender o ato jurídico hábil, em tese, à transferência do domínio.
O vocábulo título não está sendo utilizado no sentido de escrito. Ele significa "ato jurídico cuja função econômica
consiste em justificar a transferência do domínio". Para que se tenha o título por justo é necessário, ainda, que ele
seja válido, certo e real. Sua validade está vinculada à observância das formalidades legais externas substanciais.
Mas se nos deparamos com a omissão de formalidades internas, como ocorre quando o alienante era incapaz, a
solução se reduz em uma questão de boa ou má-fé. Por isso é que vamos encontrar, na doutrina, posição firme no
sentido de se admitir o título anulável como justo, enquanto o nulo não o é.
A boa-fé é a integração ética do justo título, ou seja, o possuidor tem convicção de que o negócio jurídico que lhe
assegurou a posse da coisa está escoimado de vício, não havendo qualquer irregularidade que lhe impeça haver o
domínio. Ele ignora o vício que macula o negócio jurídico. A boa-fé deve estar presente no início da posse e por
todo o prazo, gozando o possuidor com justo título de presunção iuris tantum a seu favor.
O justo título pode existir sem boa-fé, o que se dá quando o comprador sabe que a coisa comprada não pertence ao
vendedor, o que autoriza concluir que a boa-fé é elemento autônomo na usucapião ordinária.
Há a hipótese de usucapião ordinária com prazo reduzido, em que os requisitos são: a) aquisição onerosa do imóvel
com base no registro constante do respectivo cartório; b) cancelamento posterior; c) os possuidores devem estar
estabelecidos nele com sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. Reduz-se o prazo,
desde que os requisitos apontados estejam alinhados, presente a boa-fé.

Da usucapião especial: especial por darem nova roupagem à destinação da propriedade, que de privada
propriamente dita, como a extraordinária e a ordinário, passa a ter finalidade social. São elas: usucapião pro labore (
rural ) e o pro misero ou pro moradia ( urbano), ambos previstos na CF, nos art. 183 e 191.
Tanto para o rural ( “pro labore”), como o urbano ( “pro moradia” ou “misero”), não se autoriza a soma de posses
(art. 1.207 e 1.243, do CC), por contrariar o caráter social objetivado, diferenciando-se aí, portanto, das outras
espécies (extraordinário e ordinário).
Da usucapião coletiva: O usucapião urbano coletivo, como espécie de usucapião urbano que é, é posto no Estatuto
da Cidade (EC) como um instrumento jurídico e político destinado a permitir que sejam alcançados os escopos
daquele diploma legal (art. 4º, V, j, do EC), no sentido de que se facilite o acesso à propriedade urbana por
comunidades carentes (ou, na dicção legal, de baixa renda).
O artigo 10 do Estatuto da Cidade, trazendo mais uma subespécie de usucapião especial, quando se tratar de área
urbana, de mais de 250 metros quadrados, de população de baixa renda, com posse de cinco anos ininterrupta e sem
oposição, onde não foi possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são suscetíveis de serem
apropriados coletivamente. Cada possuidor terá uma fração ideal, salvo acordo escrito entre os condôminos. Trata-se
de hipótese de condomínio indivisível, sendo vedado a sua extinção, a não ser por deliberação de 2/3 dos
condôminos. O artigo 12 da referida, traz a legitimidade para usucapião urbano e o coletivo.

Da usucapião familiar ou conjugal: a Lei nº 12.424, de 16 de junho de 2011, acrescentou o art. 1240-A ao Código
Civil, criando nova modalidade de usucapião, a qual os juristas vêm denominando "usucapião especial por abandono
do lar", "usucapião familiar" ou, ainda, "usucapião conjugal.
No caso da usucapião pelo abandono do lar, entretanto, não se enxerga a razão, tampouco a finalidade que levou o
legislador a inserir o art. 1240-A no Código Civil. Previsto no meio de uma lei instituidora do programa "Minha
Casa, Minha Vida", que tem por finalidade a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas
e a construção de casas para famílias de baixa renda.
Elpídio Donizetti só vislumbra malefícios nessa modalidade de usucapião. “O requisito nuclear da aquisição da
propriedade pelo ex-cônjuge que permanece no imóvel é o abandono do lar pelo outro. Abandono do lar pressupõe
culpa ou, no mínimo, falta de motivo justificado para não mais morar sob o mesmo teto. O fato é que essa esdrúxula
modalidade de usucapião vai ensejar o revolvimento de antigas e dolorosas feridas, tudo no afã de demonstrar que o
"meu inferno é o outro". Estamos assistindo ao retorno do ingrediente denominado culpa, o qual foi abolido da
indigesta receita das separações conjugais pela recente EC 66/2010. A propósito, a principiologia constitucional, na
qual se assentam as múltiplas possibilidades de uniões afetivas, sejam casamentos ou uniões estáveis, é informada
pelo afeto, o que não se coaduna com qualquer perquirição acerca da culpa. Nessa linha, não se descarta a
inconstitucionalidade do novel art. 1240-A. Interessante que o legislador não se preocupou com a sorte de quem foi
abandonado num casebre na zona rural. Essa pessoa, abandonada pela sorte e pelo cônjuge, também o foi pelo
legislador, que não se dignou em lhe conferir a prerrogativa de aquisição da pequena área de terras onde mora. Dois
pesos e duas medidas.”
A regra excepciona o Art. 197, I, do CC que impede o transcurso do prazo prescricional na vigência da sociedade
conjugal, permitindo que o cônjuge que permaneceu no imóvel adquira a parcela do outra na meação, ou mesmo o
próprio imóvel.

Da aquisição pelo registro do título: adquire-se a propriedade imóvel com a transcrição do título aquisitivo no
registro imobiliário competente, ou seja, no da circunscrição imobiliária da propriedade. O fim do registro público,
como está no art. 1º da Lei nº 6.015/73, é a autenticidade, a segurança e a eficácia dos atos jurídicos. O simples
contrato, mesmo que constituído por instrumento público, não transfere o domínio, apenas gera entre as partes
direitos e obrigações. A propriedade não se adquire “solo consensu”, ou seja, só pelo consenso ou pelo contrato,
exclusivamente. A data da aquisição da propriedade é a da apresentação do título ao cartório, onde se faz a
prenotação, estando em conformidade, o oficial do cartório providenciará a inscrição na matrícula do imóvel, caso
suscite dúvida e a mesma não sendo solucionada pelo interessado, será ela encaminhada a juízo, e sendo julgada
improcedente o oficial providenciará a inscrição com a data da prenotação. Sendo julgada procedente a dúvida o
oficial cancelará a apresentação do título.
Em que pese a presunção ser relativa, o registro favorece a prova do direito registrado e de sua titularidade. Para
provar o direito real é bastante que o titular com registro apresente a certidão do registro. Mas como a presunção é
relativa, admite prova em contrário, que fica a cargo daquele que o contesta. Por isso é que o adquirente, mesmo de
boa-fé, pode ver o registro cancelado, como se dá com o reconhecimento de uma fraude contra credores, que vicia a
transmissão ocorrida alguns anos antes da aquisição. O mesmo vale para uma aquisição a non domino, em um dos
elos da corrente, é suficiente para que venha o cancelamento, na via judicial, de todos os registros posteriores. É
possível que transmissão que se efetive sem o consentimento do proprietário com registro, que teve, por exemplo,
sua assinatura falsificada. Nesse caso o registro será cancelado indiretamente por intermédio da desconstituição do
título registrado.

Documentos: os documentos que deverão ser transcritos são: 1) os títulos translativos de propriedade por ato entre
vivos; 2) os julgados, pelos quais nas ações divisórias, se puser termo à indivisão; 3) as sentenças, que, nos
inventários e partilhas, adjudicarem bens imóveis em pagamento das dívidas da herança; e, 4) a arrematação e a
adjudicação em hasta pública.

Retificação: Havendo descompasso entre a realidade registral e a fática ou extrarregistral, o mecanismo de que se
dispõe, no ordenamento jurídico pátrio, para se obter a adaptação é a retificação (art. 1.247 do Código Civil). Como
o registro não é imutável e intangível, podendo não exprimir a realidade jurídica ou a verdade dos fatos, admite
modificação mediante pedido do prejudicado. O que se persegue com a retificação ou a anulação é que se efetive a
correção do erro, sanando o defeito, aquilo que não está certo. Isso se obtém administrativamente ou
contenciosamente. O objeto da retificação é o direito ou os fatos constantes do registro.
Não havendo erro evidente, a retificação, se não acarretar prejuízo para terceiro, efetiva-se mediante processo de
jurisdição voluntária. Somente se tem o contencioso quando haja prejuízo para os confrontantes. A jurisdição
contenciosa é indispensável quando a retificação envolver o direito de terceiros. Isso pode ocorrer quando se
pretende alterar descrição das divisas ou áreas do imóvel, e houver impugnação fundamentada por parte de terceiro.

Cancelamento: concretiza-se por decisão judicial transitada em julgado; a requerimento unânime das partes que
tenham participado do ato registrado, se capazes e com as firmas reconhecidas por tabelião; a requerimento do
interessado, instruído com documento hábil. O cancelamento leva a duas situações: 1ª) o assento cancelado perde
sua eficácia; 2ª) estabelece a eficácia do assento que passou a vigorar como decorrência do cancelamento. Põe-se
fim ao descompasso entre o registrado e a realidade jurídica extrarregistral. Efetivado o cancelamento, o proprietário
do imóvel está autorizado a reivindicar o imóvel. Lembramos que o cancelamento do registro da alienação implicou
na cessação da eficácia do assento, e estabeleceu a eficácia do assento do alienante Como decorrência disso ele
passa a dispor do imóvel em toda sua amplitude, podendo exercer a pretensão reivindicatória, que se efetiva pela
ação reivindicatória, prevista pelo art. 1.228 do CC.

Da aquisição pela acessão: esta é o acréscimo natural ou artificial de tudo o que adere a propriedade aumentando
seu valor ou volume. É modo originário ou derivado de aquisição da propriedade, criado por lei, em virtude do qual
tudo o que se incorpora, se estende o direito do proprietário a tudo que ao bem se incorpora inseparavelmente. Aqui
predomina o princípio segundo o qual “a coisa acessória segue a principal”. Em relação as suas consequências,
aplica-se também o princípio que “veda o enriquecimento sem causa”. O legislador entendeu mais conveniente
atribuir o domínio da coisa acessória também ao dono da principal, para evitar o estabelecimento de um condomínio
forçado e indesejado, porém, ao mesmo tempo, procurou evitar o enriquecimento indevido, possibilitando ao
proprietário desfalcado o recebimento de uma indenização.
Os requisitos para a configuração da acessão são: 1) conjunção entre duas coisas até então separadas; e, 2) caráter
acessório de uma dessas coisas, em confronto com a outra.
Dá-se a acessão de três modos: 1) de imóvel a imóvel; 2) de móvel a imóvel; e, 3) de móvel a móvel, sendo esta
pertinente à propriedade mobiliária.
Quanto à sua divisão, podem ser: 1) natural quando o acréscimo se dá por força da natureza, como a aluvião, a
avulsão, o abandono de álveo e a formação de ilhas e, 2) artificial,quando o acréscimo ocorre com a participação do
homem.
Existem 5 espécies de acessões: 1) pela formação de ilhas; 2) por aluvião; 3) por avulsão; 4) por abandono de álveo;
5) pela construção de obras ou plantações. Venosa aborda a questão da acessão natural de animais domésticos que
reassumem sua liberdade, voltando à condição de selvagens, esses animais passam a ser “res nullius”, podendo ser
objeto de apropriação. Quando o animal doméstico emigra, ou seja, desloca-se para viver em outra propriedade,
perante o nosso ordenamento jurídico, podemos resolver essa situação por meio da usucapião do semovente. Se,
contudo, o animal for identificável, o proprietário poderá reivindicá-lo enquanto estiver a sua procura.
Ilhas: as ilhas surgem do desdobramento de um braço do rio ou pelo acúmulo de areia e materiais levados pela
correnteza, ou de detritos quando ultrapassa a superfície da água, surgidas nos rios não navegáveis. Ocorrendo em
rios públicos, pertencerá ao poder público. Surgindo em rios particulares, ou seja, rios não navegáveis, pertencerá ao
proprietário ribeirinho na proporção de sua testada. Havendo duas propriedades que fazem divisa em um rio, a
divisa é a metade do rio, também denominada de linha de “talweg”, ou seja, a parte mais funda do rio. Surgindo ilha
em um dos lados pertencerá ao proprietário desta propriedade; surgindo-a ao meio do rio pertencerá metade da ilha a
cada um dos proprietários.

Aluvião: é o acréscimo lento e vagaroso, que o rio anexa às terras de forma imperceptível a olho nu em um
determinado momento. Será própria a aluvião quando o acréscimo a margem do rio for natural, proveniente de
águas correntes; imprópria quando o acréscimo se formar pelo afastamento, pela retração das águas dormentes
como lagos e tanques, descobrindo a margem do álveo.
Não se consideram terrenos de aluvião os aterros artificiais, ou as terras decorrentes de trabalhos individuais do
proprietário ribeirinho, eis que lhes falta a circunstância do incremento paulatino e natural. O Código de Águas,
Decreto nº 24.643 de 10 de Julho de 1934, alterou a legislação Civil, ampliando o conceito de terreno aluvial aos
acréscimos formados em acessão ao mar e as correntes, como também, admitindo como modo aquisitivo a aluvião
imprópria, repelida pelo Diploma Civil pátrio.

Avulsão: é o inesperado deslocamento de uma porção de terra por força natural violenta, soltando-se de um prédio
para se juntar a outro. Poderá o dono de o primeiro reclamá-lo ao segundo, cabendo a esse a opção entre aquiescer a
que se remova a parte acrescida, ou indenizar ao reclamante (art. 1.251). Portanto, a opção é do que teve sua
propriedade acrescida, em permitir a remoção ou indenização (por meio de perícia avaliatória se determinará o
valor). O prazo para o pleito é decadencial, e se o antigo dono não requerer em um ano, não poderá mais requerê-lo.
Quando é de coisa não suscetível de união natural, aplica-se o disposto quanto às coisas perdidas, que devem ser
devolvidas ao dono, caso contrário, o acréscimo passa a pertencer ao dono da coisa principal.

Do álveo abandonado: álveo é a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o solo natural e
ordinariamente enxuto de rio público ou particular (art. 9º do Código das Águas). Pertencerá aos proprietários das
duas margens, na proporção das testadas (parte fronteiriça ou extensão de um prédio em relação a outro), até a linha
mediana daquele. Os limites dos imóveis confinantes não sofrem modificação se o curso d’água que serve de divisa
vem a ser alterado. O art. 1.252 do CC disciplina o abandono do álveo por fenômeno da natureza. Se, contudo, a
mudança do álveo for por intervenção do poder público, o álveo abandonado pertencerá ao órgão desapropriante,
tendo esse que indenizar o proprietário da terra por onde o novo álveo passará. Não há que se falar em acessão.

Construções e plantações: são modalidades de acessão artificiais ou industriais por serem resultado do trabalho do
homem, presumindo-se que em havendo construção ou plantação em um terreno, fora feita pelo proprietário e a suas
expensas. Trata-se de acessão de móvel a imóvel. Os materiais utilizados na construção, bem como as plantas são
bens móveis que acrescentados a um imóvel ficam imobilizados, incorporando-se a ele, trazendo, destarte, a
presunção de que tudo o que existe ou se incorpora a uma propriedade pertença ao dono dessa. Trata-se de
presunção vencível, admitindo prova contrária, conforme se infere pela letra do artigo 1.253 do Código Civil. A
presunção se ilide nas hipóteses mencionadas nos artigos 1.254 e seguintes.
Comentando a hipótese do art. 1.255, salienta que não seria justo que o plantador ou construtor que procedesse de
má-fé fosse encontrar para esta uma proteção da ordem jurídica e receber indenização pelos seus atos ilícitos (art.
1.255, parágrafo único). Esta regra constitui inovação trazida pelo novo Código Civil, aduz, caracterizando uma
espécie de desapropriação no interesse privado.
Os respectivos artigos aplicam-se às construções e plantações, que são acessões industriais, e não às benfeitorias,
que não são coisas novas, mas apenas acréscimos, introduções, ou melhoramentos em obras já feitas. Nas acessões,
o proprietário paga o justo valor, ou seja, o valor efetivo dos materiais e da mão-de-obra. Nas benfeitorias, estando o
possuidor de má-fé, pode o proprietário optar entre o valor atual e o seu custo, conforme afirma o artigo 1.222, do
Código Civil, devendo este, contudo, ser corrigido monetariamente.
O parágrafo único do art. 1.258 excepciona a regra de que o acessório segue o principal.
Da aquisição da propriedade móvel: Usucapião: Da mesma forma que o usucapião de coisas imóveis, há as
espécies ordinária e extraordinária para a prescrição aquisitiva de bens móveis. Ao sucessor singular é facultado para
totalizar o prazo somar a posse de seus antecessores. Aplicam-se também ao usucapião as causas que obstam,
suspendem, ou interrompem a prescrição, bem como o disposto nos artigos 1.243 e 1.244.

Ocupação: modo originário de aquisição da propriedade móvel, pois o proprietário atual não tem qualquer vínculo
jurídico com o antecessor. Sua aquisição independe da vontade de outrem. É a tomada de posse de coisa sem dono,
com a intenção de lhe adquirir o domínio. É a aquisição de coisa móvel, recaindo sobre coisas sem dono, isto é, das
coisas de ninguém (“res nullius”) e das abandonadas (“res derelicta”), não sendo vedada por lei.

Achado de tesouro: para alguns doutrinadores a natureza jurídica do tesouro é invenção; para outros é acessão; e,
para outros é ocupação. Tesouro é o depósito antigo de moedas ou de coisas preciosas, enterrado ou oculto, de cujo
dono não haja memória. Não será tesouro o achado quando alguém mostrar que lhe pertence. Para caracterização do
tesouro, necessário o preenchimento dos seguintes pressupostos: 1) que a coisa seja móvel; 2) que a coisa achada
seja preciosa; 3) que a propriedade não possa ser provada; e, 4) que a coisa esteja escondida.
No caso da descoberta do tesouro, o inventor, excepcionalmente, por determinação legal, mesmo em se tratando de
coisa perdida, ficará com metade de seu valor. Somente incorpora ao patrimônio do achador se a coisa for
abandonada, não perdida como vimos, o que se diferencia do regime jurídico do instituto da descoberta (art. 1.233 e
ss. do CC).

Tradição: é a entrega de um bem que seu proprietário faz a outrem, com intenção recíproca de transferir e adquirir
direitos. É mediante a tradição que se transmite, inter vivos, a propriedade, o domínio ou a posse das coisas. A
entrega pode ser real, simbólica ou ficta.

Especificação: é um modo de adquirir a propriedade mediante transformação de coisa móvel em espécie nova, em
virtude do trabalho ou da indústria do especificador, desde que não seja possível reduzi-la à sua forma primitiva.
Exemplo: a escultura em relação a madeira, ou a pintura em relação a tela, como a transformação da uva em vinho.

Confusão, comistão e adjunção: são uniões de várias coisas, de pessoas diversas, numa única coisa nova.
Exemplo: um álbum filatélico, com selos de diversas pessoas nele coladas. As coisas podem misturar-se de tal forma
que se torna difícil separá-las e distingui-las. Quando essa mistura ocorre entre coisas líquidas ou liquefeitas, chama-
se de confusão (mistura de água e vinho ou de vários tipos de vinho); quando se dá entre coisas sólidas ou secas, de
comistão (mistura de diversos tipos de feijão, de arroz); e, quando apenas ocorre justaposição, a união de uma coisa
à outra, de adjunção (quando se compõe uma estátua, justapondo-se a ela o braço, a perna, a cabeça etc.). Ocorrerão
estas figuras, quando não for possível separá-las ou seu custo seja excessivamente dispendioso.
Entende-se que a confusão, a comistão e a adjunção não se caracterizam, por si só, uma acessão. Somente a
adjunção pode-se dizer que se trata de uma acessão; de uma aquisição de propriedade por acessão.

Da perda da propriedade: A enumeração do art. 1.275 do CC é exemplificativa. Há outras causas, por exemplo, a
acessão e o usucapião. Podem-se dividir as causas em: 1) voluntárias; e, 2) involuntários. O primeiro modo ocorre
por vontade do agente, o que difere do segundo, que é por imposição legal. Como modo voluntário tem a alienação,
a renúncia e o abandono. Involuntário, o perecimento do imóvel e a desapropriação.
Tanto a alienação como a renúncia, quanto aos seus efeitos, estão subordinados à transcrição do título transmissivo
ou do ato renunciativo no registro do lugar do imóvel.

Alienação: consiste num ato jurídico voluntário, em que o titular do domínio aliena a coisa, tanto gratuitamente
como onerosamente, sendo indispensável, todavia, o registro no cartório imobiliário. Alienar é tornar a coisa alheia,
perdê-la para outrem.

Renúncia; é um ato unilateral, irretratável e incondicional, em que alguém abre mão dos poderes inerentes a
propriedade. Quando há renúncia de um bem imóvel, e somente nesta hipótese que a lei determina forma (escritura
pública), necessário se faz registrá-la em cartório imobiliário, ou seja, lavra-se a escritura de renúncia transcrevendo-
a no Cartório Registral Imobiliário.
A renúncia é expressa, podendo ser translativa, sendo aquela que se assemelha a alienação, ou preventiva, também
chamada de pura ou abdicativa, que se realiza pela recusa à aquisição do direito integrado no patrimônio.

Abandono: é um ato unilateral em que o proprietário manifesta desejo de não mais sê-lo. O não uso da propriedade
imóvel não implica necessariamente em abandono. Como a intenção fica no campo subjetivo e ninguém poderá
conhecê-la, se não exteriorizada é difícil ser identificada, por isso a lei determina que passado determinado período
de tempo, pelo abandono presumido será ele arrecadado, declarado vago e, após pertencente ao domínio público.
Presume-se abandonada a propriedade pela desídia, pelo desleixo, não exigindo a lei que o abandono seja registrado
em cartório imobiliário. Presumir-se-á de modo absoluto a intenção de não mais conservar o imóvel em seu
patrimônio quando, cessados os atos de posse, deixar de satisfazer os ônus fiscais (art. 1.276, “caput” e §§ 1º e 2º,
CC) .

Perecimento: perecendo o objeto da propriedade, quer por força natural ou por atividade humana, não mais existirá
o direito. Não há direito sem objeto.

Desapropriação: perde-se também a propriedade mediante desapropriação nos casos expressos na Constituição
Federal. É um exemplo de perda do domínio involuntário. O CC refere-se ao instituto apenas como perda da
propriedade de bens. Trata-se de um ato do poder público em que se transfere o domínio de um bem, que era de um
particular para o domínio público, mediante prévia e justa indenização, pagável em dinheiro, ou em títulos de dívida
pública, com cláusula de exata correção monetária. Para o desapropriado, pouco ou nenhuma diferença faz saber se
a desapropriação foi por necessidade, utilidade pública ou por interesse social, pois em qualquer caso será privado
compulsoriamente de sua propriedade. Antigamente o poder público era obrigado a dar a coisa a destinação prevista
no ato expropriatório, sob pena de ensejar a retrocessão, ou seja, a coisa voltar ao desapropriado mediante a
devolução da importância recebida. Hoje, não importa se a desapropriação foi por necessidade pública e a
destinação foi outra, razão esta que muitos entendem não mais existir a figura da retrocessão.
ITEM 3.A: Da tutela e da curatela. Dos interditos. Processo de interdição.

Obras consultadas: AMARAL, Francisco Amaral. Direito civil: introdução. 5ª edição. Rio de Janeiro: Renovar,
2003; CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito civil: questões fundamentais e controvérsias na parte geral, no
direito de família e no direito das sucessões. 4ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010; GONÇALVES, Carlos Roberto.
Direito civil brasileiro. Volume VI, 2ª ed. Ver. E atual. – São Paulo: Saraiva, 2006; PEREIRA, Caio Mário da Silva.
Instituições de direito civil. Volume V, 17ª ed., ver. E atual. Por Tânia da Silva Pereira. Rio de Janeiro: Forense,
2009; TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método,
2011; VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: contratos em espécie. São Paulo: Atlas, 2005.

TUTELA (CC, art. 1.728): encargo conferido por lei a uma pessoa capaz para cuidar e administrar os bens de
menores não emancipados e não sujeitos ao poder familiar - não se confunde, portanto, com representação ou com
assistência (a tutela e o poder familiar não podem coexistir). É direito assistencial para defesa dos interesses do
menor - múnus público, ou seja, atribuição imposta pelo Estado para atender a interesses públicos e sociais. O ECA
(art. 28) a prevê como uma das formas de colocação em família substituta.
Classificação: a) testamentária- art. 1729 e 1730 do CC - atribuída pelos pais, em conjunto, por testamento
(instrumentos separados, ante a vedação a testamento conjuntivo) ou qualquer instrumento idôneo (codicilo,
escritura pública e escrito particular) - a nomeação por um dos genitores apenas é válida quando o outro for falecido
- apenas produz efeitos após a morte do nomeante – pais devem possuir poder familiar ao tempo da morte (nulidade
absoluta); b) legítima - art. 1731 do CC – lei aponta parentes que devem ser nomeados pelo juiz em caso de
ausência de nomeação pelos pais, indicando a seguinte ordem preferencial de nomeação:1) ascendentes e 2)
colaterais até terceiro grau - em qualquer caso, o de grau mais próximo prefere ao mais remoto; c) dativa – art. 1732
do CC - na falta, na exclusão, na escusa ou na remoção dos citados anteriormente, cabe ao juiz nomear pessoa
estranha à família, mas idônea e residente no domicílio do menor.
OBSERVAÇÕES: I) princípio do melhor interesse da criança e o princípio da proteção integral: permite que juiz
recuse o tutor nomeado pelos pais (testamentário) ou o tutor legítimo e nomeie tutor dativo; II) princípio da
unicidade da tutela (art. 1733, CC) : aos irmãos será dado apenas um tutor. Se houver designação de vários tutores
pelos pais, o primeiro designado assume o múnus e os demais são chamados subsidiariamente com a saída dos
anteriores; III) crianças sem parentes (art. 1734 + ECA): será nomeado tutor pelo juiz (tutela dativa) OU serão
incluídos em programa de colocação familiar (família substituta - ECA); IV) recusa da tutela por estranho: pode
recusar se houver parente idôneo no lugar (art. 1737).
Protutor (art. 1742, CC): auxilia o juiz, fiscalizando o tutor – recebe em troca indenização módica. Cotutor (tutela
parcial): tutela é indivisível, mas pode haver delegação parcial na hipótese do art. 1743 (bens complexos, etc).
Incapazes de exercer a tutela (CC, art. 1736 e ECA, art. 29): os que não possuem administração de seus bens; os
que possuem obrigações ou demandas contra o menor; inimigos do menor ou se seus pais, bem como por estes
expressamente excluídos da tutela; condenados por crime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra a família ou
os costumes, tenham ou não cumprido pena (são consideradas pessoas inidôneas); pessoas de mau procedimento,
falhas em probidade e culpadas de abuso em tutorias anteriores; os que exercem função pública incompatível;
ambiente familiar inadequado.
Escusa dos tutores (CC, art. 1736): mulheres casadas (há projeto de lei com vistas a excluir do rol as mulheres
casadas - duvidosa constitucionalidade); maiores de sessenta anos; aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de
três filhos; os impossibilitados por enfermidade; os que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela;
aqueles que já exercerem tutela ou curatela; militares em serviço. Não podem ser obrigados a aceitar a designação os
que não forem parentes do menor e demonstrarem a existência de outras pessoas habilitadas a exercer o múnus.
Deve ser apresentada em 10 dias da designação ou do motivo escusatório, se superveniente – juiz apreciará e contra
decisão desfavorável cabe agravo de instrumento, sem efeito suspensivo.
Incumbências do tutor SEM autorização judicial (CC, art. 1740 e 1747): educação, alimento, adimplir deveres
normais dos pais com oitiva do menor se for maior de 12 anos, representá-lo ou assisti-lo, reclamar ao juiz que
proceda a correções ao menor, receber suas rendas, conservar seus bens e alienar aqueles destinados a venda; COM
autorização judicial: pagar dívidas, aceitar herança, transigir, defesa judicial do menor e venda de bens móveis não
destinados a venda. Nesses casos, o ato é ineficaz até decisão ulterior do juiz. Na venda de imóveis, necessária
prévia avaliação e autorização judiciais e apenas se houver manifesta vantagem, sob pena de nulidade absoluta
(nulidade virtual, pois proíbe a prática sem cominar sanção, art. 166, II, CC). São causas de nulidade absoluta
previstas expressamente (art. 1749): dispor dos bens a título gratuito, adquiri-los para si ou tornar-se concessionário
de direito do menor.
Prestação de contas: são necessários balanços anuais e prestação de contas, sob forma contábil, de dois em dois
anos ou sempre que juiz entender necessário (prestação espontânea ou por meio de ação de prestação de contas).
Omissão ou desaprovação dá azo ao ajuizamento de ação indenizatória pelo Ministério Público ou outro interessado.
Responsabilidade: Juiz (direta na falta de nomeação de tutor e subsidiária na falta de remoção do ímprobo ou da
estipulação de garantia). Tutor (objetiva em relação a atos do menor e subjetiva em relação a atos da tutela). Juiz e
protutor: subjetiva e solidária pelos danos acarretados pelo tutor, em razão do dever de fiscalização (art. 1752). Foi
revogada a hipoteca legal e agora só há caução se o patrimônio do menor for de valor considerável e, ainda assim,
pode ser dispensada se o tutor for reconhecidamente idôneo. Os bens serão entregues mediante prestação de
compromisso e inventário de bens (termo que especifique bens e valores, ainda que os pais tenham dispensado).
Extinção da tutela: maioridade, emancipação , poder familiar (reconhecimento de paternidade, por ex.), fim do
prazo (2 anos prorrogáveis no interesse do menor e tutor), escusa superveniente e remoção (MP é legitimado).

CURATELA: encargo conferido por lei (múnus público) voltado à defesa dos interesses de maior incapaz, em regra
– cabível curatela de nascituro, para menor tomado por doença incapacitante (controvertido ) e para relativamente
incapaz por idade que sofra de incapacidade mental (o tutor apenas assiste o menor e, como não pode o enfermo
participar do ato, faz-se necessária a nomeação de curador , como consigna Carlos Roberto Gonçalves).
Características: a) fim assistencial; b) caráter publicista; c) caráter supletivo (supre a incapacidade, assim como a
tutela); d) temporária; e) sua decretação requer certeza absoluta da incapacidade.
Curatelados (CC, art. 1767) - rol taxativo: os que não tiverem o necessário discernimento, os sem
desenvolvimento mental completo, os toxicômanos, os pródigos e os que não puderem, por causa duradoura,
exprimir sua vontade. Curatela do nascituro (reforça teoria concepcionalista): possível quando o pai for falecido e
a mãe grávida não tiver poder familiar. Se esta for interditada, cabe ao seu curador ser o do nascituro. Curatela do
enfermo ou deficiente físico: estes podem requerer a nomeação de curador para cuidar de todos ou de alguns de
seus negócios, na impossibilidade de fazê-lo. Curatela do pródigo: se limita ao poder de emprestar, transigir, dar
quitação, hipotecar, alienar, demandar ou ser demandado em juízo e aos atos que não sejam mera administração.
Curadores Especiais, com finalidade específica: a) quando testador estipula curador para bens deixados a herdeiro
ou legatário menor; b) a que se dá à herança jacente; c) quando os interesses do filho ou menor e dos pais ou
representantes colidirem; d) réu preso; e) réu revel, citado por edital ou hora certa (CPC, art.9º - curadoria in litem).
Principais distinções entre tutela e curatela: I) curatela atinge, em regra, maiores; II) é sempre deferida pelo juiz
(não pode ser testamentária); III) curatela abrange apenas bens, enquanto tutela visa a resguardar pessoa e bens do
menor; IV) poderes do curador são mais restritos. Apesar das diferenças, as regras da tutela aplicam-se
residualmente à curatela.

INTERDITOS E PROCESSO DE INTERDIÇÃO


Legitimados na interdição: cônjuge, pais, tutores, qualquer parente ou MP (legitimidade subsidiária, só na ausência,
omissão ou incapacidade dos anteriores e se houver doença mental grave do interditando). Enumeração taxativa,
mas não preferencial.
Processo de interdição: visa a obter certeza da incapacidade.
Rito: O interditando é citado para comparecer em juízo para o juiz analisar sua situação com o auxílio do perito
(interrogatório e exame pessoal). Deve o interditando apresentar defesa em 5 dias desta audiência. O interditando ou
qualquer herdeiro seu pode nomear advogado. O MP deve atuar como custos legis e muito se questiona sua atuação
como defensor do interditando (embora esta ainda seja entendimento majoritário) – de qualquer modo, se o MP foi
autor da interdição, cabe ao juiz designar curador especial para a defesa. Após a defesa, o perito apresenta laudo em
audiência de instrução e julgamento. O juiz nomeia como curador o cônjuge ou companheiro não separado de fato
ou judicialmente (direito subjetivo destes) ou, em sua falta, o pai ou a mãe ou, em seguida, o descendente mais
próximo. Na falta dessas pessoas, cabe ao juiz a nomeação. O curador exerce a curatela também sobre os filhos do
interditado. A sentença gera efeitos desde a prolação, ainda que haja recurso (ex nunc) e deve ser registrada no
Registro de Pessoas Naturais (RPN) e publicada 3 vezes na imprensa oficial.
Alterando-se a condição do interditando pode este, autonomamente, requerer o levantamento da interdição, com
audiência de instrução, perito, registro da sentença com sua publicação 3 vezes na imprensa oficial.
Atos anteriores à interdição: natureza da sentença – divergência: a) anuláveis, ou seja, a sentença teria natureza
declaratória e seria possível ação anulatória autônoma impugnando atos anteriores, desde que o interessado
comprove a existência da incapacidade à época (incapacidade natural); b) Tartuce e Barbosa Moreira: sentença com
natureza constitutiva, pela valorização da boa-fé objetiva; c) natureza híbrida, declaratória em relação a ausência de
discernimento e constitutiva em relação ao estado de incapaz – Leoni.
ITEM 3.B: Do mandato, da gestão de negócios e da representação.

REPRESENTAÇÃO ( CC, arts. 115/120): instituto através do qual um indivíduo (representante) pratica atos em
nome de outrem (representado), o que se pode dar em benefício somente do representado ou de ambos, como no
caso do mandato oneroso. A representação legal constitui um múnus público, sendo um poder-dever personalíssimo
sempre no interesse do representado. A representação convencional é manifestação da autonomia da vontade do
interessado. É anulável o negócio celebrado em conflito de interesses com o representado ou o celebrado com o
próprio representante, salvo se o representado ou a lei assim permitir. O prazo pra anulação (decadencial) é de 180
dias.

MANDATO (CC, art. 653/692): contrato através do qual se transfere poderes a outrem para agir em nome do
outorgante quanto a atos e administração de seus interesses. Difere de procuração, instrumento através do qual o
contrato de mandato é celebrado. Difere da representação, que é a investidura concedida ao mandatário.
Natureza jurídica - contrato unilateral, que pode tomar feição de bilateral imperfeito (ex: eventual pagamento de
despesas ao mandatário pelo mandante) – para MHD, bilateral; consensual; comutativo (deveres já previamente
estipulados); não solene (pode ser expresso ou tácito, verbal ou escrito). Seguem a forma exigida para a prática do
ato. Ex: venda de imóvel acima de 30 salários exige instrumento público, logo, mandato deve ser feito por
instrumento público. O STJ não é pacífico em considerá-lo como contrato de consumo (CDC).
Classificação: 1)legal (decorre da lei), judicial (nomeado pelo juiz. Ex: inventário) ou convencional (autonomia da
vontade); 2)oneroso/gratuito; 3)singular/plural (o plural pode ser conjunto [exige atuação de todos no mesmo
ato], solidário [qualquer um representa todos], fracionário [ação de cada um é delimitada] e sucessivo [um só atua
na falta do outro]), 4)expresso/ tácito, 5)verbal/escrito e 6)geral/especial (este é obrigatório para ato que exceda a
administração ordinária, como a atribuição para transigir, hipotecar). O relativamente incapaz por idade pode ser
mandatário (art. 180 c/c art. 666, CC).
Deveres do mandatário: agir com diligência, indenizar qualquer prejuízo (responsabilidade subjetiva), prestar
contas, não pode compensar prejuízo com benefício trazido ao mandante, deve concluir negócio inadiável ainda que
tenha havido morte ou incapacidade de qualquer das partes (também o herdeiro deverá atuar nesse sentido).
Deveres do mandante: satisfazer obrigações contraídas pelo mandatário, pagar sua remuneração e despesas por ele
antecipadas (direito de retenção para garantir esse pagamento). Se o valor da remuneração não for previsto, cabe a
do uso do lugar (operabilidade) ou arbitramento pelo juiz.
Responsabilidade: Em regra, o mandante responde pelo ato, salvo se o mandatário agir em seu próprio nome. Se o
ato exceder o mandato ou inexistir sua previsão, assim como ocorrer um substabelecimento vedado, ele será ineficaz
para o mandante, salvo se este o ratificar (princípio da conservação), o que gera efeitos ex tunc. Sem ratificação, o
mandatário é gestor de negócios. Se o ato não exceder, mas violar instrução do mandante, é eficaz para o mandante,
mas o mandatário deve pagar perdas e danos. No substabelecimento, se este for vedado, responde o substalecente
ainda que haja força maior, salvo se provar que o dano ocorreria ainda assim; se for permitido, responde o
substabelecente só por culpa na escolha; se o mandato for omisso, a responsabilidade do substabelecente é objetiva
indireta (pois deve o substabelecido agir com culpa, ainda que não haja culpa por parte do substabelecente na
escolha). Substabelecimento pode ocorrer por qualquer forma, salvo se o ato a ser praticado exigir uma forma
específica, como no caso da venda de imóvel acima de 30 SM. Obs: quem celebra com mandatário sabendo da
limitação de poder, não tem ação contra ninguém, salvo se este prometeu ratificação (ninguém pode se beneficiar da
própria torpeza).
Extinção: revogação ou renúncia (são feitas de forma unilateral, pelo mandante e mandatário respectivamente);
morte ou interdição (é contrato personalíssimo, mas não se extingue para esta causa se for contrato em causa
própria) – enquanto mandatário não estiver ciente, são válidos os atos; mudança de estado; término do prazo ou
conclusão do negócio.
Irrevogabilidade: se houver esta cláusula, cabem perdas e danos; se for mandato em causa própria, negócio já
concluído ou cláusula no exclusivo interesse do mandatário, será ineficaz a revogação. Pode a revogação ser tácita
com nomeação de outro mandatário. Obs: o terceiro ou qualquer das partes não é prejudicado por mudanças
ocorridas sem sua ciência (morte, incapacidade).

GESTÃO DE NEGÓCIOS (CC, art. 861/875): ato unilateral ou quase contrato (Tartuce), em que não se vislumbra,
inicialmente, pluralidade de vontades - o gestor age no interesse de um terceiro sem sua autorização e sem previsão
de qualquer remuneração (ato benévolo).
Responsabilidade do gestor de negócios: o gestor deve agir conforme vontade presumível do dono do negócio, sob
pena de responsabilidade subjetiva. Se agir contra vontade manifesta ou presumível do dono do negócio, a
responsabilidade é objetiva e responde até mesmo por força maior, salvo se provar que o dano ocorreria mesmo sem
sua atuação. Responde por caso fortuito quando fizer operações arriscadas, ainda que o dono costumasse fazê-las, ou
quando preterir interesse deste em proveito de interesses seus. Se os prejuízos excederem os benefícios, pode o
dono do negócio exigir restituição do status quo ante ou indenização pela diferença. A responsabilidade do gestor
por terceiro é objetiva. Se o dono do negócio concordar com a gestão, ratifica os atos ( eficácia ex tunc), com o
ressarcimento de todas as despesas efetuadas pelo gestor (transmuda-se para contrato de mandato); se discordar,
cabem perdas e danos. No caso de alimentos, o dono do negócio deve ressarcir o gestor ainda que ele não ratifique
os atos.
ITEM 3.C: Do condomínio e da empreitada.

Obras consultadas: AMARAL, Francisco Amaral. Direito civil: introdução. 5ª edição. Rio de Janeiro: Renovar,
2003; CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito civil: questões fundamentais e controvérsias na parte geral, no
direito de família e no direito das sucessões. 4ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010; GONÇALVES, Carlos Roberto.
Direito civil brasileiro. Volume VI, 2ª ed. Ver. E atual. – São Paulo: Saraiva, 2006; PEREIRA, Caio Mário da Silva.
Instituições de direito civil. Volume V, 17ª ed., ver. E atual. Por Tânia da Silva Pereira. Rio de Janeiro: Forense,
2009; TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método,
2011; VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: contratos em espécie. São Paulo: Atlas, 2005.

CONDOMÍNIO (CC, art. 1314/1358): ocorre quando há mais de um proprietário sobre uma mesma coisa,
atribuindo-se a cada condômino uma parte ideal. O condômino, perante terceiros, detém os atributos inerentes à
propriedade como um todo (alienar, usar, gozar, dispor, perseguir), independente de sua cota, mas em relação aos
demais condôminos, o seu direito é limitado.
Natureza jurídica: para a maioria da jurisprudência, é ente despersonalizado com capacidade processual. Para
Gustavo Tepedino e para Frederico Henrique Lima é pessoa jurídica, pois isso decorre das necessidades econômicas
atuais, pelo fato de os condomínios se apresentarem com características de associações (grandes piscinas, vasta área
recreativa) e por ser necessário lhes reconhecer oportunidade de adquirir imóveis através da adjudicação de imóveis
de inadimplentes. Enunciado 90 do CJF: deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício nas
relações inerentes às atividades de seus interesses. (redação alterada pelo Enunciado nº 246).
Classificação: o condomínio pode ser voluntário, eventual (imposto sem manifestação de vontade das partes. Ex:
legado) ou necessário (determinado por lei ou pela indivisibilidade do bem. Ex: muro que separa 2 casas). Pode ser
universal (compreende todo o bem) ou particular (compreende determinada coisa ou seus efeitos). Ainda pode ser
pro diviso (suscetível de divisão física. Ex: apartamento em relação ao prédio) ou pro indiviso (insuscetível de
divisão corpórea - fração ideal). Obs: STJ entende que o cônjuge pode cobrar aluguel do outro que ficou com a
posse exclusiva do imóvel antes da partilha. O STJ entende que não pode haver ação possessória entre condôminos,
pois todos exercem sua posse de forma indistinta sobre o bem. Para o STJ, não há que se falar em relação de
consumo no condomínio.
Indivisão: o condômino a qualquer tempo pode requerer a divisão da coisa, amigavelmente ou por ação de divisão.
Podem os condôminos estipular indivisibilidade por até 5 anos, mas o juiz pode permitir a divisão antes desse prazo
por razões graves. Na venda, há o direito de preempção: havendo empate do preço do condômino em relação a
estranho, vence o condomínio; entre condôminos, vence o que fez mais benfeitorias ou o de maior cota,
sucessivamente.
Condomínio edilício: se caracteriza pela existência de partes comuns (não podem ser vendidas. Ex: hall de entrada)
ao lado de partes exclusivas (podem ser vendidas e não há direito de preempção. Ex: apto). No condomínio geral,
qualquer parte do bem pode ser vendida (sempre com direito de preempção), salvo cláusula de indivisibilidade por
até 5 anos (que impede a divisão do bem neste período). Se o bem for indivisível, inexistir cláusula de
indivisibilidade, e os demais condôminos se opuserem à venda de parcela dele, cabe ao alienante entrar com ação de
divisão para a respectiva alienação judicial do bem com distribuição das cotas de cada um. Convenção de
condomínio: pode ser feita ou por escritura pública ou instrumento particular. S. 260 do STJ: A convenção de
condomínio aprovada, ainda que sem registro, é eficaz para regular as relações entre os condôminos. Para gerar
efeitos para terceiro, deve ser registrada. Os promitentes compradores e cessionários equiparam-se aos proprietários
e também devem observá-la. Direitos dos condôminos: usar, fruir e dispor das partes exclusivas; usar as comuns;
votar se estiver quite (o STJ entende que viola a dignidade humana impedir o uso de área comum pelo
inadimplente). Deveres: contribuir, não realizar obras que comprometam a segurança e sossego, não alterar a
fachada. Pode haver cobrança de multa de 5 vezes a contribuição por ato grave de condômino (antissocial).
Enunciado 91 do CJF: pode a convenção ou assembleia vedar locação de vaga de garagem a estranho. As despesas
condominiais são propter rem. Síndico - atribuições: convocar assembleia, diligenciar a conservação dos bens,
cobrar taxa, elaborar orçamento, prestar contas e fazer seguro do edifício. Assembleia: ordinária (aprovar orçamento
e taxa; analisar prestação de contas; eleger síndico) e extraordinária (tema relevante e urgente). Convocação: síndico
ou ¼ dos condôminos.
Extinção do condomínio: pode-se dar por destruição, reconstrução ou desapropriação.

EMPREITADA: forma especial de prestação de serviço por meio da qual alguém (empreiteiro) se compromete a
realizar obra, mediante remuneração, a favor de outrem (dono da obra). Não se confunde com prestação de serviço,
pois esta é personalíssima, enquanto na empreitada é possível a subempreitada.
Classificação e responsabilidade: pode ser empreitada sob administração (empreiteiro só administra a obra:
obrigação de meio), de mão-de-obra (empreiteiro fornece a mão-de-obra, mas não o material: obrigação de meio -
responsabilidade subjetiva) ou mista (empreiteiro fornece mão-de-obra e material – obrigação de resultado -
responsabilidade objetiva). Se o contrato for regido pelo CDC, pode haver responsabilidade objetiva se for pessoa
jurídica ou subjetiva se for profissional. Se o empreiteiro inutilizar os bens com culpa deve indenizar. Se a coisa
perecer antes da entrega, o empreiteiro não recebe o preço da obra.
Natureza jurídica: contrato sinalagmático, consensual, informal, oneroso e comutativo.
Garantia: o prazo é de 5 anos pela solidez da obra e o dono tem 180 dias para ajuizar ação contra o empreiteiro
(ambos prazos decadenciais). O enunciado 181 do CJF reza que além destes prazos há o prazo de 3 anos do CC e
de 5 anos de CDC para ação de reparação de danos para o dono da obra prejudicado . O dono pode rejeitar a obra
se o empreiteiro se afastou de suas instruções; pode requerer abatimento do preço, caso o serviço não tenha sido
prestado a contento.
Preço: aumento no custo da obra não implica aumento no preço, salvo se o dono visitava a obra e nunca protestou
(teoria da quebra da base objetiva do negócio- Karl Larenz).
Suspensão da obra: por culpa do dono (com pagamento de indenização e despesas já feitas ao empreiteiro); por
força maior; por dificuldades imprevisíveis que acarretem onerosidade excessiva sem complemento do preço; por
modificações vultosas no projeto por pedido do dono ainda que este arque com o valor do acréscimo.
ITEM 4.A: Dos bens. Registro Público.

Obras consultadas: Flávio Tartuce. Manual de Direito Civil: volume único. 2ª Edição. Ed. Método; Luiz
Guilherme Loureiro. Curso Completo de Direito Civil. 3ª Edição. Ed. Método.

Legislação básica: Lei n.º 10.406/02 – Novo Código Civil; art. 236, da Constituição Federal de 1988; Lei n. 6.15/73
- Lei de Registros Públicos..

1. Noções Gerais. Bem é o interesse juridicamente tutelado pela norma. O novo CC acabou com essa celeuma
jurídica e passou a utilizar a terminologia única de BENS. Os bens não patrimoniais já foram estudados no capítulo
de direitos da personalidade; no capítulo de bens, são tratados os patrimoniais. Para Pablo Stolze, ao conceito de
COISA fica restrito o conceito relacionado à MATERIALIDADE, sendo que BEM tem conceito mais amplo,
de relação jurídica. Para Flávio Tartuce, coisa constitui gênero, e bem a espécie – coisa que proporciona ao homem
uma utilidade, sendo suscetível de apropriação. PATRIMÔNIO é o conjunto de direito subjetivos sobre coisas
com valor pecuniário. O patrimônio constitui uma universalidade e é indivisível. Não se admite pluralidade de
patrimônios na mesma pessoa, já que se fosse facultado ao sujeito, a seu critério, separar bens do seu patrimônio e
com eles formar patrimônios separados, estes poderiam ser ocultados dos seus credores, facilitando as fraudes contra
credores e à execução. Destaque-se que doutrina mais nova tem admitido a expressão patrimônio de maneira
adjetiva: patrimônio jurídico, que é mais ampla em relação à gama de relações jurídicas tuteladas pelo direito.

2. Classificação dos bens. 1) Bens considerados em si mesmos: a) corpóreos (possuem existência corpórea) e
incorpóreos (existência abstrata). b) Bens móveis por natureza (podem ser transportados sem qualquer dano, por
força própria ou alheia), por antecipação (eram imóveis, mas foram mobilizados por uma atividade humana) e por
determinação legal (é a lei que determina que o bem é móvel) e imóveis por natureza (o solo e tudo que se lhe
incorporar de forma natural), por acessão física ou industrial (tudo que o homem incorporar ao solo, não podendo
removê-lo sem sua destruição), ou por acessão intelectual (empregados intencionalmente para exploração industrial,
aformoseamento e comodidade) e por definição legal (direitos reais e a sucessão aberta). Bens fungíveis (os que
podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade) e infungíveis (não podem ser
substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade). Bens consumíveis (seu consumo implica
destruição imediata e aqueles destinados à alienação) e inconsumíveis (proporcionam reiteradas utilizações sem que
se retire sua utilidade). Bens divisíveis (podem se partir em porções reais e distintas, formando cada qual um todo
ideal e perfeito) e indivisíveis (se partidos, deixam de formar um todo perfeito, desvalorizando-se ou perdendo as
qualidades essenciais do todo), que podem ser fisicamente indivisíveis e juridicamente indivisíveis. Bens singulares
(os que, embora reunidos, podem ser considerados de per si, independentemente dos demais) e coletivos (várias
coisas singulares, consideradas em conjunto e formando um todo individualizado), que considerados em sua
coletividade, são as universalidades, de fato (bens singulares, corpóreos e homogêneos, ligados entre si pela vontade
humana e que tenham utilização unitária ou homogênea, sendo possível que tais bens sejam objeto de relações
jurídicas próprias) ou de direito (bens singulares, tangíveis ou não, a que uma ficção legal, com o intuito de produzir
certos efeitos, dá unidade individualizada). 2) Bens reciprocamente considerados: Bens principais (existem de
maneira autônoma e independente, de forma concreta ou abstrata) e acessórios (sua existência e finalidade depende
de um outro bem, o principal). Espécies de bens acessórios FRUTOS, que, quanto à origem, podem ser naturais,
industriais e civis (utilidades que o bem principal produz de tempos em tempos, sem perder a sua substância), e
quanto ao estado em que se encontrem podem ser pendentes (ligados à coisa principal, ainda não foram colhidos),
percebidos (separados do principal), percipiendos (deveriam, mas não foram colhidos) e consumidos (foram
colhidos e não existem mais). PRODUTOS (saem da coisa principal, diminuindo sua quantidade e substância).
PERTENÇAS (destinados a servir a um outro bem principal, por vontade ou trabalho intelectual do proprietário).
PARTES INTEGRANTES (acessórios que estão unidos ao principal, formando com este um todo independente).
BENFEITORIAS (acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel, visando a sua conservação ou melhora da
sua utilidade), que podem ser necessárias, úteis ou voluptuárias. 3. Bens em relação ao seu titular. públicos (de
uso comum, especial e dominical) ou particulares (pertencentes aos particulares).

3. REGISTROS PÚBLICOS – Registro público é a denominação genérica dada a todo serviço concernente aos
registros instituídos por lei, para autenticidade, segurança, validade e publicidade dos atos jurídicos ou contratos.
Pode ser de natureza civil ou comercial. Compete privativamente à União legislar sobre registros públicos (art. 22,
XXV), sendo gratuito para os reconhecidamente pobres, na forma da lei, o registro civil de nascimento e a certidão
de óbito (art. 5º, LXXVI). A delegação do serviço de registro e notarial (Art. 236, CF/88) é um ato administrativo
complexo, irrevogável desde o ato perfeito e acabado da outorga, só podendo ser cassado nas hipóteses legais,
obedecido o devido processo legal. O registrador e o notário não são servidores da administração direta, mas
ocupem cargos públicos, conforme definiu o Pleno do STF. Ler artigos 9 (registro) e 10 (averbação) do CC Lei de
Registros Públicos (Lei n.º 6.015, de 31/12/1973): algumas disposições gerais. Espécies: o registro civil de pessoas
naturais; o registro civil de pessoas jurídicas; o registro de títulos e documentos; o registro de imóveis. Os Registros
Públicos têm em mira constituir formalidades, essenciais ou não para a validade do ato em si mesmo, ou apenas para
sua eficácia perante terceiros (erga omnes). Esquematicamente, podemos dizer que a formalidade do registro pode
ser: formalidade essencial (eficácia inter partes); formalidade para mera oponibilidade perante terceiros (eficácia
erga omnes); formalidade cautelar (autenticidade, segurança). As anotações e as averbações obrigatórias, entretanto,
serão efetivadas ex officio, se não houverem sido requeridas. Registro de Imóveis. No direito brasileiro, não basta o
contrato para a transferência ou aquisição do domínio. O domínio só se transfere pela tradição, se for coisa móvel
(art. 1.267) e pelo registro do título translativo, se for coisa imóvel (art. 1.245). Princípios que regem o Registro de
Imóveis. Publicidade; força probante (fé pública) ou presunção; princípio da legalidade; princípio da territorialidade,
princípio da continuidade (pelo qual somente se admite o registro de um título se a pessoa que nele aparece como
alienante é a mesma que figura como o seu proprietário); princípio da prioridade (que protege quem primeiro
registra seu título); princípio da especialidade, previsto no art. 225 da LRP, que exige a minuciosa individualização,
no título, do bem a ser registrado, princípio da inscrição, cuja idéia central é a de que a constituição, transmissão e
desconstituição dos direitos reais sobre imóveis por atos inter vivos só se operam com a publicidade no registro
imobiliário, o princípio da instância, que não permite que o oficial proceda a registros de ofício, mas somente a
requerimento do interessado, ainda que verbal (LRP, art. 13). A dúvida é pedido de natureza administrativa,
suscitado pelo oficial, a requerimento do apresentante de título imobiliário, para que o juiz decida sobre a
legitimidade de exigência feita como condição de registro pretendido.- Matrícula, registro e averbação. A atual LRP,
pretendendo melhor individualizar os imóveis, instituiu a matrícula, exigindo a sua realização antes do registro,
quando o imóvel sofrer a primeira alteração na titularidade após a sua vigência (arts. 176, § 1º, e 228). O registro
sucede à matrícula e é o ato que efetivamente acarreta a transferência da propriedade. O número inicial da matrícula
é mantido, mas os subsequentes registros receberão numerações diferentes, em ordem cronológica, vinculados ao
número da matrícula-base. A averbação é qualquer anotação feita à margem de um registro, para indicar as
alterações ocorridas no imóvel.
ITEM 4.B: Da fiança, do depósito e da corretagem.

Obras consultadas: DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 12ª ed., 2006;
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 7. 5.ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2011.

Legislação básica: Arts. 627, 722 e 818 do Código Civil.

1. Conceito e natureza jurídica da fiança.

Trata-se de contrato celebrado entre uma parte (fiador) que se obriga a outra (credor) em razão de dívida de um
terceiro (afiançado) a partir de seu patrimônio pessoal, constituindo-se, assim, uma garantia fidejussória ou pessoal.
Na fiança há a responsabilidade (haftung) sem o débito ou dívida (schuld). É um contrato unilateral (só o fiador tem
deveres), gratuito (em regra), comutativo, formal (só escrito), não solene (prescinde de escritura pública) e acessório
(obedece à regra da gravitação jurídica: acessório segue o princ.). Na fiança por tempo indeterminado, o fiador pode
se exonerar a qualquer tempo, mas fica obrigado nos 60 dias seguintes. Prorrogada a locação, a partir da Lei
12112/09, a fiança segue automática, mas, se for por tempo indeterminado, o fiador pode se exonerar notificando o
credor, contudo, ainda se obriga nos 120 dias seguintes.

Fiança x aval: a fiança é contrato acessório, ao passo o aval é relação jurídica autônoma/a ; na fiança, em regra, há
benefício de ordem, no aval sempre há solidariedade.

2. Regras da fiança.

De acordo com Carlos Roberto Gonçalves, e à luz do artigo 821 do CC, afiança pode abarcar dívidas futuras, mas o
fiador só pode ser demandado quando ela se tornar certa e líquida. Em regra, é total (abarca juros, multa), mas pode
ser menos onerosa e por valor menor da obrigação principal. Quando esta for nula, isto repercute na fiança, salvo se
a nulidade resultar de incapacidade pessoal (se for mútuo feito a menor, a fiança ainda é válida). O fiador pode ser
rejeitado se for inidôneo, se não residir no município em que prestada a fiança, ou não tiver bens livres. A sua não
substituição causa vencimento antecipado da dívida. Há três exceções ao benefício de ordem: 1) renúncia expressa;
2) se o fiador se obrigou solidariamente pela dívida; 3) se o devedor for insolvente ou falido.
Vale mencionar a esse propósito o enunciado 364 do CJF: no contrato de fiança é nula a cláusula de renúncia
antecipada ao benefício de ordem quando inserida em contrato de adesão.
Entre fiador e devedor, a regra é a subsidiariedade (benefício de ordem).
Entre os fiadores, a regra é a solidariedade. Aquele que paga a dívida se sub-roga nos direitos do credor, mas só
pode cobrar a cota de cada fiador. A extinção da fiança pode se dar: a) com a morte do fiador (contrato
personalíssimo), mas os herdeiros respondem nos limites da herança pelas obrigações vencidas até o dia da morte;
b) alegação de exceções (nulidade, incapacidade, compensação, prescrição); c) se por ato do credor não for possível
ao fiador se sub-rogar em seus direitos; d) se ocorrer dação em pagamento; e) se o fiador apontar bens livres do
devedor e por culpa do credor não puder ser executado; f) por distrato (amigável).

3. Casuística.

LOCAÇÃO. FIANÇA RECÍPROCA.


Na espécie, os ora recorridos celebraram um contrato de locação comercial no qual figuraram como fiadores de si
mesmos. O contrato foi executado judicialmente, o que resultou na penhora do único imóvel residencial de
propriedade de um dos recorridos. O juízo da execução, acolhendo manifestação dos locatários fiadores, revogou a
penhora por entender inválida a fiança de si mesmo, decisão que foi mantida em sede de agravo de instrumento pelo
tribunal a quo. No Resp, os recorrentes, entre outras alegações, sustentam não haver nenhuma incompatibilidade
entre o fato de alguém ser, de um lado, locatário de imóvel e, de outro, um dos fiadores dele próprio, tal como no
caso, até porque não há nenhuma restrição de ordem legal. Nesta instância especial, reiterou-se o entendimento
de que é válida a fiança prestada pelo próprio locatário quando há mais de um, hipótese em que se configura,
na verdade, uma fiança recíproca, uma vez que um locatário é considerado fiador dos outros e vice-versa,
afastando a invalidade do contrato. Contudo, não se restabeleceu a penhora realizada sobre o bem de família do
locatário fiador; pois, a despeito da validade da fiança prestada pelos recorridos que autoriza a penhora do bem de
família, entendeu-se caber ao juiz da execução verificar a necessidade do restabelecimento da referida penhora em
observância ao princípio da menor onerosidade para o executado. Nesse contexto, a Turma, ao prosseguir o
julgamento, deu parcial provimento ao recurso. Precedentes citados: Resp 183.648-SP, DJ 1º/7/2002; Resp 62.198-
SP, DJ 9/6/1997, e AgRg no Ag 1.158.649-RJ, DJe 29/3/2010. Resp 911.993-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 2/9/2010.

FIANÇA. CONTRATO. LOCAÇÃO. CONSTRIÇÃO. FIADOR.


Trata-se de recurso extraído de agravo de instrumento interposto nos autos da ação regressiva movida pelos fiadores
contra o locatário, em virtude do pagamento de dívida locativa em ação de cobrança. O juiz rejeitou a impugnação à
penhora efetivada em imóvel de propriedade do locatário por considerar aplicável a exceção do art. 3º, VII, da Lei n.
8.009/1990, na redação dada pelo art. 82 da Lei do Inquilinato, de 1991, que excetua a impenhorabilidade do bem de
família por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. O Tribunal de origem proveu o
recurso do locatário sob o fundamento de que, se o locador, na qualidade de credor primitivo, não possuía o
privilégio de invocar a exceção prevista no art. 82 da Lei n. 8.245/1991 para excutir o imóvel do locatário, o fiador,
que se sub-rogou nos seus direitos e ações, também não o têm. Os fiadores sustentam que, ao propor ação regressiva
contra o afiançado, estão litigando por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. Incide,
portanto, o óbice do inciso VII do art. 3º da Lei n. 8.009/1990, razão pela qual o locatário não poderá invocar a
impenhorabilidade do bem de família. Para o Min. Relator, a questão não encontra amparo na jurisprudência deste
Tribunal. A teor do art. 1º da Lei n. 8.009/1990, o bem imóvel destinado à moradia da entidade familiar é
impenhorável e não responderá pela dívida contraída pelos cônjuges, pais ou filhos que sejam seus proprietários e
nele residam, salvo nas hipóteses previstas no artigo 3º da aludida norma. Esse dispositivo excetua em seu inciso
VII, tido por ofendido, a obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação, isto é, autoriza a
constrição de imóvel pertencente a fiador. In casu, os recorrentes, garantidores do contrato de locação, sub-rogaram-
se nos direitos do locador tanto nos privilégios e garantias do contrato primitivo (art. 346 e 831 do CC/2002) quanto
nas suas limitações (art. 3º, VII, Lei n. 8.009/1990). Assim, a transferência dos direitos inerentes ao locador em
razão da sub-rogação não altera prerrogativa inexistente para o credor originário. Portanto, o locatário não pode
sofrer constrição em imóvel em que reside, seja em ação de cobrança de débitos locativos seja em regressiva. Diante
disso, a Turma negou provimento ao recurso. Precedentes citados: Resp 772.230-MS, DJ 23/10/2006; Resp 263.114-
SP, DJ 28/5/2001. Resp 1.081.963-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 18/6/2009.

Corretagem

1. Conceito e natureza jurídica da corretagem:

Trata-se de negócio jurídico pelo qual uma das partes (corretor) se obriga a concluir um ou mais negócios em
benefício de outrem (comitente) sem qualquer relação de dependência, mas observadas as instruções deste. A
corretagem é bilateral (sinalagmático), oneroso, consensual, acessório (depende da realização de outro), aleatório
(com riscos) e informal (prescinde até de forma escrita).
Da comissão: o art. 725 do CC dispõe que o corretor receberá sua comissão ainda que haja desistência posterior das
partes. O STJ tem julgado que indica que a comissão, nesses casos, seria indevida. (Resp 753566/RJ). O STJ reza
que o corretor tem direito a receber a comissão por intermediações por ele realizadas, mas só firmadas pelas partes
após o fim do contrato de corretagem. Pode haver cláusula de corretagem exclusiva, hipótese em que, mesmo que o
contrato seja celebrado de forma direta entre as partes, o corretor receberá sua comissão. Pode haver corretagem
conjunta e a comissão será paga em partes iguais, salvo disposição em contrário.

2. Casuística

COMISSÃO. CORRETAGEM. COBRANÇA.


O corretor faz jus à comissão quando aproxima as partes, mesmo que não acompanhe as negociações até sua efetiva
concretização. A sua dedicação deve ser usada na tentativa de encontrar interessados para o negócio e, uma
vez que foi bem sucedido na tarefa, seu papel passa a ser secundário, devendo apenas estar à disposição das
partes para auxiliar no que for solicitado. Basta a aproximação das partes e a conclusão bem sucedida do negócio
jurídico para que seja devida a comissão. Assim, é potestativa a cláusula que condiciona o pagamento de
corretagem à celebração do negócio jurídico dentro de prazo cujo cumprimento, em grande parte, depende
da vontade do próprio comitente. Assim, a Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, negou provimento ao
recurso. Resp 1.072.397-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2009.

Depósito

1. Conceito e natureza jurídica do depósito:

Trata-se de negócio por meio do qual uma parte (depositário) se obriga a guardar um bem de outrem (depositante)
de forma voluntária ou obrigatória/necessária (por imposição legal ou por calamidade pública). Se o bem objeto do
depósito for infungível, diz-se regular; se fungível, diz-se irregular (aplicando-se as regras do mútuo). É um contrato
unilateral e gratuito (em regra, pois também há depósito oneroso e bilateral), comutativo (de antemão as partes
sabem seus deveres e prestações – não há álea), personalíssimo, real (aperfeiçoa-se com a entrega do bem e não com
a celebração da avença) e informal (a lei não exige forma escrita, mas a sua prova deve se dar somente de forma
escrita). O depósito não se confunde com o comodato, pois neste o bem pode seu usado pelo comodatário.

2. Espécies
Depósito voluntário: é o contrato em que o depositário recebe um objeto móvel, para guardar, até que o depositante
o reclame. Se a coisa for depositada em nome de terceiro, não pode o depositário restituir a coisa ao depositante sem
sua anuência (do 3º). Deve o depositário devolver a coisa assim que o depositante requerer, salvo: direito de
retenção dos valores devidos ao depositário (perdas e danos, despesas); se a coisa for embargada judicialmente ou
sobre ela pender execução, e, ainda, se houver motivo razoável de que a coisa foi dolosamente obtida. Pode haver
mais de um depositário e, nesse caso, presume-se que a divisão foi igualitária (concursu partes fiuntu). Se o
depositário, devidamente autorizado, confiar a coisa em depósito a terceiro, será responsável se agiu com culpa na
escolha deste.
A teor do 646 do CC, o depósito voluntário provar-se-á por escrito, portanto, é contrato formal.
Extinção: pode se dar por resolução voluntária (o bem foi entregue lacrado e o depositário violou o sigilo, o
depositário usou ou vendeu o bem sem consentimento do depositante), por compensação em relação a depósito
anterior, com a morte (é personalíssimo, devendo os herdeiros restituir o bem), por incapacidade superveniente (é
uma resolução involuntária, logo, não gera perdas e danos). Ainda: o depositário não responde por caso fortuito e
força maior.
Depósito necessário: para Maria Helena Diniz, este é o depósito realizado diante de fatos imprevistos e irremovíveis
que levam a pessoa a entregar o bem a um desconhecido pra evitar sua ruína.
Pode ser classificado: legal (realizado no desempenho de obrigação decorrente de lei); miserável (efetuado em
razão de calamidades); hospedeiro (é aquele que incide sobre as malas dos hóspedes. O hoteleiro tem
responsabilidade objetiva por atos de seus prepostos).

2. Casuística.

Prisão do depositário infiel: o STF declarou a inconstitucionalidade da prisão em decorrência de inadimplemento de


contrato garantido por alienação fiduciária (RE 466.343/SP). Em 2009, foi editada a Súmula Vinculante 25: é ilícita
a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. Esta Súmula adotou a tese de Gilmar
Mendes (hierarquia supralegal dos tratados de DH’s). Piovesan e André Ramos entendem que teriam hierarquia
constitucional (art 5 p 2 CF/88).

CONTRATO. BENS FUNGÍVEIS. MÚTUO.


Quanto ao mérito, o recorrente diz que, embora o acórdão tenha admitido que o contrato de depósito se referia a lote
de bovinos, portanto bens fungíveis, obrigando-se o depositário a restituí-los no mesmo gênero, quantidade e
qualidade, o Tribunal a quo entendeu inaplicável à espécie o art. 1.280 do CC/1916, proclamando, indevidamente, a
propriedade da ação de depósito com a imposição de multa e prisão civil. O Min. Relator esclareceu que a
orientação deste Superior Tribunal é no sentido de que o contrato que versa sobre bens fungíveis em depósito
irregular não autoriza, em caso de inadimplemento, a ação de depósito porque aplicáveis as regras do mútuo.
E, sobre a natureza do gado bovino, aduziu que são bens fungíveis, apenas especificados quanto ao sexo (garrotes e
novilhas), e tanto é assim que os frutos de eventual cruzamento estão previstos no contrato, segundo a própria
inicial, nem se sabe quantos ou quais são, a reforçar a característica de fungibilidade. O Min. Relator até admite que,
em circunstâncias excepcionais, como na hipótese de determinado touro ou vaca para reprodução, devidamente
identificados e registrados em associações de criadores, possa se dar tratamento legal diferenciado, ou seja, como
bem não-fungível. Mas essa não é a situação aqui descrita. Precedentes citados: Resp 158.047-DF, DJ 18/4/2005,
Resp 287.776-DF, DJ 25/6/2001, e AgRg no Resp 278.651-PR, DJ 19/3/2001. Resp 299.658-PR, Rel. Min. Aldir
Passarinho Junior, julgado em 13/2/2007.
ITEM 4.C: Da alienação fiduciária em garantia e do contrato de transporte. Da responsabilidade do
transportador aéreo. Convenção de Varsóvia para a Unificação de Certas Regras Relativas ao Transporte
Aéreo Internacional de 1929 e seus protocolos adicionais.

Alienação Fiduciária em Garantia. Histórico: Nos primórdios da civilização ocidental, autorizados pela Lei das
XII Tábuas, detinham os credores da sociedade romana o direito de matar e apoderar-se do cadáver do devedor que
não cumprisse com a obrigação devida, de forma que o devedor romano respondia com sua vida e liberdade pelos
seus débitos. Importante que se diga que somente foi alterado esse costume a partir do alastramento da doutrina
cristã e das mudanças oriundas do aparecimento do Estado Moderno, quando se transferiu o ônus pelo não
adimplemento da dívida do corpo do devedor para o seu patrimônio material, sendo então facultado ao credor
apoderar-se dos bens de propriedade do devedor assim que não pagas fossem as suas obrigações.
Eis então que, diante da impossibilidade da coerção corpórea, viu-se o credor em situação de grande vulnerabilidade
frente às não raras manobras protagonizadas pelo devedor para que não pagas fossem as suas obrigações. Diante de
tal panorama e devido à incidência reiterada de fraudes e simulações que denegriam a credibilidade das operações
creditícias, criou-se, para a proteção do crédito, duas espécies de garantia, quais sejam, a garantia pessoal ou
fidejussória e a garantia real ou material.
Na primeira um terceiro se comprometia a pagar o valor devido, caso o devedor principal não o fizesse; na segunda,
o próprio devedor empenhava parte de seu patrimônio e o entregava ao credor a fim de assegurar o adimplemento da
obrigação contraída, lhe restando o direito de reaver a coisa assim que adimplida fosse a sua obrigação.
O surgimento da fiducia no direito romano. Como perfeito exemplo de garantia real, temos a fiducia cum
creditore, instituto criado no direito romano pelo qual o credor recebia do devedor a propriedade e a posse de um
bem fungível, a fim de que garantido fosse o cumprimento de uma obrigação principal, lhe restando o dever de
restituí-lo tão logo fosse adimplida a obrigação pelo devedor.
De forma e procedimento semelhantes observa-se também no ordenamento jurídico romano a presença do fiducia
cum amico, que nada mais era que um contrato de confiança em que o fiduciante alienava seus bens a quem
confiasse, para que estes ficassem guardados, como em um depósito, até que cessadas fossem as circunstâncias que
ensejaram o receio do proprietário pela perda ou extravio dos bens, como por exemplo, em caso de guerras, viagens,
etc.
No entanto, grande inconveniente se fazia presente nestes dois procedimentos, posto que nestes casos eram os
alienantes que se viam sob grande vulnerabilidade. Em ambas as situações, não dispunha o alienante de remédio
jurídico hábil a fazer com que o credor restitua a coisa alienada quando adimplida a sua obrigação, sendo que o
único recurso a que podia o alienante socorrer-se era a actio fiduciae8, que ainda assim não podia impor que o
fiduciário restituísse a res alienada.
Anos mais tarde, observou-se no ordenamento jurídico germânico uma grande evolução ao instituto de garantia real
romano, ao possibilitar que o alienante se valesse de uma ação de natureza real que possibilitava que fosse o
fiduciário alemão despojado do bem se não agisse conforme o pactuado. Assim, poderia o alienante obrigar o
fiduciário a entregar a coisa alienada em garantia assim que quitada fosse a dívida assegurada.
Ainda, prevendo a possibilidade de ocorrência de ardil por parte do fiduciário, previu o legislador alemão a
possibilidade do que hoje se entende por direito de seqüela, ou seja, poderia o alienante reivindicar a coisa alienada,
mesmo que na posse de terceiros, de forma que, ainda que viesse o fiduciário a se desfazer da coisa, poderia o
alienante exercer seu direito sobre ela.
O surgimento do Trust Receipt. A partir da Revolução Industrial e do desenvolvimento do capitalismo financeiro,
tornaram-se as formas de garantia existentes à época, tais quais o penhor, a hipoteca e a anticrese, inadequadas
frente à nova sociedade que se formava, posto que a morosidade inerentes a elas obstavam a eficácia destas
modalidades frente ao ritmo acelerado que se imprimiu na circulação das riquezas.
Observou-se então, na Inglaterra e nos demais países cujo direito se baseia no sistema do common law, o surgimento
do trust receipt, instituto que nada mais é do que uma evolução do fiducia cum creditore romano e do negócio
fiduciário germânico, de forma e objetivo muito semelhantes e cuja principal distinção reside no fato de que, neste,
os bens alienados fiduciariamente não se transferem da propriedade nem da posse do fiduciante ao fiduciário, ou
seja, não passam a integrar o patrimônio ativo do credor.
No trust receipt, os bens alienados em garantia são meramente afetados por restrição quanto à sua disposição, de
maneira que ao devedor é defeso dele se desfazer, a fim de que possam efetivamente responder pelo inadimplemento
de suas obrigações, sem, no entanto, lhe desapossar do bem dado em garantia. Em sendo inadimplidas as obrigações
garantidas pela alienação fiduciária, aí sim se transfere a propriedade do bem ao fiduciário credor.

8Tratava-se a actio fiduciae de uma ação de cunho pessoal contra o credor, na hipótese de o mesmo deixar de restituir a coisa ou
não lhe dar a destinação contratada. Assim, em tendo o credor vendido a coisa a terceiro, poderia o devedor, ao invés do
desfazimento do negócio, obter indenização pelo não cumprimento do pacto de restituição da coisa.
O negócio fiduciário no direito positivo brasileiro. Foi então, nos moldes do trust receipt, introduzido o negócio
fiduciário no ordenamento jurídico brasileiro, a partir do advento da Lei de Mercados Capitais (Lei nº 4.728 de
1965, artigo 66), assumindo a expressão Alienação Fiduciária em Garantia como seu designador.
Propriedade fiduciária: é direito real de garantia sobre bens móveis ou imóveis, através do qual o devedor
transfere ao credor fiduciário a propriedade resolúvel9 do bem (tempo determinado), de modo que, quitada a
obrigação, extingue-se a propriedade. O credor fiduciário será proprietário resolúvel e possuidor indireto,
independentemente da tradição, efetiva do bem, tornando-se o alienante ou devedor possuidor direto e depositário
com todas as responsabilidades e encargos que lhe incumbem de acordo com a lei civil e penal. São institutos
distintos: alienação fiduciária (contrato que institui a garantia) e propriedade fiduciária (a garantia real instituída).
Inicialmente, é importante ressaltar que o contrato de alienação fiduciária em garantia, encontra-se regulamentado,
sobretudo, pelo Decreto-Lei n. 911 de 1º de outubro de 1969, sendo, portanto, este diploma legal de existência
anterior à Constituição Federal de 1988. Neste sentido, surgem, algumas indagações acerca de sua recepção pelo
ordenamento constitucional em vigor. Até porque a Constituição estabeleceu a proteção ao consumidor de maneira
absoluta, como Princípio orientador da própria ordem econômica do país.
O Código de Defesa do Consumidor consagra princípios, pressupondo o consumidor como a parte mais frágil, da
relação de consumo mantida com o fornecedor. Já o Decreto-Lei 911/69, tem suas disposições espelhadas em um
certo momento político de exceção no Brasil, marcado pela edição do denominado Ato Institucional n. 5, que
suprimia vários direitos constitucionais inerentes ao exercício regular da cidadania.
O Decreto- Lei n. 911/69, em seu art. 1o , modificando o artigo 66 da Lei n. 4.728/65, estabelece a seguinte
configuração jurídica para a alienação fiduciária em garantia:
"A alienação fiduciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse indireta da coisa móvel
alienada, independentemente da tradição, efetiva do bem, tornando-se o alienante ou devedor em possuidor direto e
depositário com todas as responsabilidades e encargos que lhe incumbem de acordo com a lei civil e penal."

9 A propriedade resolúvel, a rigor, é a que está sujeita a extinção por causa superveniente, inclusive em virtude do
implemento de condição resolutiva, ou do advento de termo final. Na propriedade resolúvel há um proprietário atual e um
proprietário diferido, ou um futuro proprietário, com direito eventual à propriedade da coisa. Com direito expectativo, nas
palavras do alagoano Pontes de Miranda. No direito pátrio a extinção da propriedade resolúvel pode ocorrer em virtude: a) da
ocorrência de fato já previsto no contrato – art. 1.359, CC; b) ou da ocorrência de fato superveniente não previsto no contrato
(título constitutivo) – art. 1.360, CC. Na primeira hipótese – art. 1.359, CC – o próprio título constitutivo (contrato) prevê a causa
da extinção do direito de propriedade: o implemento de condição resolutiva, ou a expiração de prazo (termo final). É o caso, por
exemplo, dos pactos de retrovenda (art. 505), da doação com cláusula de reversão (art. 547), do fideicomisso (art. 1.951), da
propriedade do credor na alienação fiduciária (Decreto-Lei 911/69), dentre outros. Nessa hipótese, a decisão que decreta a
extinção do direito de propriedade produz efeitos ex-tunc (retroage; produz efeitos desde a data da ocorrência do fato causador
da extinção da propriedade resolúvel).
Na segunda hipótese – art. 1.360, CC – a extinção do direito de propriedade se dá por fato alheio ao título
constitutivo, ou seja, de fato não previsto no contrato. É o que corre, por exemplo, no caso de desfazimento da venda feita por
condômino sem dar preferência aos demais condôminos (art.504, CC) e na revogação de doação por ingratidão (art. 555, CC).
Aqui a decisão que decreta a perda da propriedade produz efeitos ex-nunc (não retroage; não produz efeitos no passado). E por
se referir a fato não previsto no contrato, o terceiro, adquirente de boa-fé, tem seu direito de propriedade preservado, cabendo
ao alienante (aquele em cujo benefício houve a resolução), tão somente haver perdas e danos contra o adquirente (aquele cuja
propriedade se resolveu – não é o terceiro de boa-fé). A ação visando à retomada da coisa – ação reivindicatória – só tem lugar
se esta (a coisa) ainda estiver na posse do adquirente (proprietário resolúvel).
Características: a) o credor fiduciário pode ser PF ou PJ; b) desdobramento da posse (há constituto possessório10);
c) tradição brevi manu11 após o pagamento; d) resolubilidade da propriedade fiduciária; e) gera patrimônio de
afetação12 (juridicamente diferenciado em relação aos bens do titular, pois não responde pelas dívidas do credor
fiduciário); f) proibição do pacto comissório13 (MHD afirma na edição 2010 do CC anotado que a cláusula é
inválida em razão do art. 1365); g) sub-rogação do terceiro que paga o crédito (fugindo da regra geral do art. 304 do
CC, pouco importa se é interessado ou não).
Regime legal: O CC trata da propriedade fiduciária de bens móveis infungíveis em termos gerais.
O Código consolidou várias disposições do DL 911/69, e dispôs que demais espécies de propriedade fiduciária estão
submetidas à disciplina das leis especiais, somente se aplicando as suas disposições naquilo que não for
incompatível. Bens móveis: aplica-se o Código Civil, a Lei 4.728/65 (art. 66-B, que regula a alienação fiduciária de
bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais ou em garantia de créditos fiscais e previdenciários) e o
decreto-lei 911/69 (que, alterado pela lei 10.931/04, subsiste em relação à disciplina processual). A lei 10.931/04
também permitiu a alienação fiduciária de bem móvel fungível. Bens imóveis: Lei 9.514/97.

10 O constituto possessório é meio de aquisição fictícia da posse. Fictícia porque prescinde de apreensão física da coisa.
Assim ocorre quando o comprador já deixa a coisa comprada em poder do vendedor, seja em comodato (empréstimo de coisa
infungível), seja em locação, por exemplo.
Ou seja, de fato, o adquirente não chega nem mesmo a receber a coisa, mas, mesmo assim, adquire posse sobre ela.
Evita-se, desse modo, a necessidade de entrega da coisa pelo vendedor e, ato contínuo, de devolução por ato do adquirente.
O vendedor que até então tinha posse plena (direta e indireta), passa a ter apenas posse direta (“detenção” física),
enquanto o comprador, posse indireta (título de possuidor); no caso, a transmissão da posse se deu por força de contrato; não
em virtude de apreensão física.
Uma vez presente a cláusula constituti, o adquirente, aquele que passa a ter posse indireta sobre a coisa, poderá
manejar os interditos possessórios (ação de reintegração de posse, por exemplo, diante de eventual esbulho). Por se tratar de
modo excepcional de aquisição de posse, tal cláusula não se presume. Ela deve vir expressa ou resultar do conteúdo do
contrato, como no caso de haver cláusula prevendo a conservação da posse pelo vendedor, a título de aluguel.
No Código Civil, o instituto do constituto possessório está expressamente previsto na seção relativa à tradição – modo
de aquisição da propriedade móvel. Enquanto o caput do art. 1.267 estabelece que a propriedade das coisas não se transfere
pelos negócios jurídicos antes da tradição, seu parágrafo único, primeira parte, assim se expressa: “Subentende-se a tradição
quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório;...”.
Nem por isso a inserção da cláusula constituti nos contratos que envolvam bens imóveis se mostra impossível, até
porque inexiste proibição a respeito. Pelo cabimento, o Enunciado n° 77 do Conselho da justiça Federal (aprovado nas Jornadas
de Direito Civil de 2002): “A posse das coisas móveis e imóveis também pode ser transmitida pelo constituto possessório.”
Assim também o Superior Tribunal de Justiça. Para ilustrar, o REsp n° 143707-RJ, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira:
“Civil. Posse. Constituto possessório. Aquisição fictícia (CC, art.494-IV). Reintegração de posse. Cabimento. Comodato verbal.
Notificação. Escoamento do prazo. Esbulho. Aluguel, taxas e impostos sobre o imóvel devidos. Recurso provido. I - A aquisição da
posse se dá também pela cláusula constituti inserida em escritura publica de compra e venda de imóvel, o que autoriza o
manejo dos interditos possessórios pelo adquirente, mesmo que nunca tenha exercido atos de posse direta sobre o bem”.

11 O inverso do constituto possessório ocorre quando a pessoa que possuí em nome alheio passa a possuir em nome
próprio. Ex: o locatário que possui a casa em nome alheio compra a casa passando a possuir em nome próprio, neste caso a
cláusula será da traditio brevi manu.

12 De fato, por efeito da constituição da propriedade fiduciária, cria-se um patrimônio de afetação integrado pelo bem
objeto da garantia, que não é atingido pelos efeitos de eventual insolvência do devedor ou do credor, não integrando, portanto,
a massa falida de um ou do outro.
Disso resulta que, se o devedor-fiduciante cair em insolvência, o bem objeto da garantia, que foi excluído do seu
patrimônio e passou a constituir um patrimônio de afetação, permanecerá separado dos bens da massa “até o advento do
respectivo termo ou até o cumprimento da sua finalidade, ocasião em que o administrador judicial arrecadará o saldo a favor
da massa falida ou inscreverá na classe própria o crédito que contra ela remanescer” (Lei nº 11.101/2005 , art. 119, IX),
assegurada ao fiduciário, se for o caso, a restituição do bem e eventualmente sua venda, aplicando a importância que aí apurar
na satisfação do seu próprio crédito, sem concorrência com os demais credores (Lei nº 9.514/97 , art. 32, e Lei nº 11.101/2005,
art. 49, § 3º).
Diverso é o efeito em relação à falência de devedor hipotecário, pois, nesse caso, tendo em vista que o imóvel
hipotecado permanece em seu patrimônio, será arrecadado pelo administrador judicial e passará a integrar o ativo da massa,
submetendo o credor hipotecário à concorrência com os demais credores segundo a ordem legal de preferência.
Além desse relevante efeito decorrente das distintas características dessas garantias, outro aspecto a merecer atenção
é a impossibilidade de se aplicar à propriedade fiduciária a regra do art. 1.476 do Código Civil, pelo qual o dono do imóvel pode
constituir sobre ele sucessivas hipotecas, com diferentes graus de preferência.
Essa regra é absolutamente incompatível com a natureza da garantia fiduciária e, portanto, não se aplica à
Propriedade fiduciária no CC (arts. 1361 a 1368-A do CC): Propriedade resolúvel de coisa
móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor. Constitui-se com o registro do contrato
celebrado por instrumento público ou particular (Registro Títulos e Documentos ou repartição competente para
licenciamento de veículos). O devedor (fiduciante e alienante) fica com a posse direta da coisa, tendo o jus utendi e
fruendi (ele arca com despesas de conservação). Fiduciante possuirá em nome do fiduciário/credor (conserva a coisa
com obrigações de depositário). Pagando o valor total, o devedor/fiduciante adquirirá a propriedade desde o
momento do registro da alienação fiduciária. O instrumento escrito deve conter: total do débito; juros, se houver;
descrição da coisa. Vencida a dívida, o credor/fiduciário deve vender a coisa a terceiro a fim de se pagar.
Fiduciante/devedor continua obrigado
pelo remanescente da dívida.
Súmula vinculante 25: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade
de depósito.
Súmulas do STJ sobre alienação fiduciária: Súmula 28 (PODE TER POR OBJETO BEM QUE JA INTEGRAVA
O PATRIMONIO DO DEVEDOR); Súmula 72 (A COMPROVAÇÃO DA MORA É IMPRESCINDIVEL A
BUSCA E APREENSÃO DO BEM); Súmula 92 (A TERCEIRO DE BOA-FE NÃO É OPONIVEL A
ALIENAÇÃO FIDUCIARIA NÃO ANOTADA NO CERTIFICADO DE REGISTRO DO VEICULO
AUTOMOTOR); Súmula 245 (A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação
fiduciária dispensa a indicação do valor do débito); Súmula 284 (A purga da mora só é permitida quando já pagos
pelo menos 40% (quarenta por cento) do valor financiado) Súmula 384 (Cabe ação monitória para haver saldo
remanescente oriundo de venda extrajudicial do bem).

Contrato de transporte (arts. 730 a 756 do CC): Alguém se obriga, mediante retribuição, a
transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas. Dispõe o art. 732 que são aplicáveis preceitos da legislação
especial e tratados internacionais, desde que não contrariem o CC (MHD critica que tratados internacionais tenham
caráter subsidiário na disciplina do CC).
O contrato de transporte é consensual, bilateral e oneroso, realizando-se, em regra, sob a forma de
contrato de adesão. Conjugando mais de um meio de transporte, chama-se intermodal. Há contrato cumulativo

propriedade fiduciária de bem imóvel, de modo que é juridicamente inadmissível constituir-se propriedades fiduciárias em
primeiro grau, segundo grau etc.

13 Desde que o novo Código Civil entrou em vigor no início de 2003, restou sepultada a cláusula de pacto comissório,
até então presente na maioria absoluta dos contratos de compra e venda de imóveis.
Como se recorda, pacto comissório era a cláusula inserida nos contratos de alienação imobiliária com preço em
prestações, pela qual se o devedor deixasse de honrar algum dos pagamentos perderia automaticamente o bem adquirido em
favor do alienante, sem devolução dos valores pagos. Impunha com o máximo rigor o cumprimento das avenças.
Na década de 90, o Código de Defesa do Consumidor já havia estabelecido uma “nova mentalidade em favor dos
devedores e de sua dignidade”, acabando com a resolução automática do contrato e obrigando o credor a ressarcir o devedor
pelas importâncias pagas, conforme fixado em vasta jurisprudência.
No Código Civil revogado, o tema estava regulado com a seguinte regra: “Art. 1.163. Ajustado que se desfaça a venda,
não se pagando o preço até certo dia, poderá o vendedor, não pago, desfazer o contrato, ou pedir o preço. Parágrafo único. Se,
em 10 (dez) dias de vencido o prazo, o vendedor, em tal caso, não reclamar o preço, ficará de pleno direito desfeita a venda.”
Note que a disciplina é draconiana. Para desfazer o negócio, não precisava notificar o devedor, bastava aguardar o
transcurso do prazo de (apenas) 10 dias. No Código em vigor não existe artigo similar.
O Código de 2002 (art. 1.428) replicou norma já existente no diploma de 1916 (art. 765), nos seguintes termos: “É nula
a cláusula que autoriza o credor pignoratício, anticrético ou hipotecário a ficar com o objeto da garantia, se a dívida não for paga
no vencimento.” Acrescentou-lhe, contudo, um adendo: “Parágrafo único. Após o vencimento, poderá o devedor dar a coisa em
pagamento da dívida.”
Embora a legislação mencione apenas débitos decorrentes de penhor, anticrese e hipoteca, o Superior Tribunal de
Justiça (STJ) entende que a proibição do pacto comissório “não se limita aos casos expressamente previstos” no Código Civil,
incidindo em contratos de mútuo, parcelamento do solo, compra e venda e outras formas de transferência da propriedade
imobiliária com pagamento protraído no tempo, ou seja, todas as hipóteses em que se convenciona que o credor poderá ficar
com o imóvel prometido à venda caso o adquirente não cumpra a forma prevista de pagamento.
A inovação trazida pelo parágrafo único do artigo 1.428 permite que o devedor inadimplente dê o próprio imóvel
adquirido como pagamento de sua dívida, sem que tal ato constitua burla do princípio da proibição do pacto comissório.
No caso, há uma diferença fundamental. O que é proibido é estabelecer tal cláusula no instrumento de transferência
ou garantia, momento em que o pretendente ao bem se encontra sob a influência da vontade do credor. Depois de lavrado o
contrato e já tendo vencido uma ou algumas prestações, o devedor fica desvinculado psicologicamente, podendo, por sua livre
decisão, oferecer o bem como forma de pagamento do débito em que incorreu, sem constrangimento ou restrições de ordem
ética ou consumerista.
quando efetuado sucessivamente por vários transportadores, cabendo um percurso a cada um (responsabilidade será
solidária).
Transporte público – Quando exercido por particulares mediante autorização, permissão ou
concessão, é regido por tais atos e normas regulamentares (prestação indireta de serviço público, sem prejuízo do
disposto no CC. Aplica-se, em caso de dano, o art. 37, par 6º da CR/88 (responsabilidade objetiva fundada no risco
administrativo) inclusive para o transportador aéreo.
Transporte de pessoas: Transportador se obriga a remover pessoa e sua bagagem de um local a
outro, mediante remuneração. Transportador responde objetivamente por danos, pagando indenização variável,
conforme natureza e extensão dos prejuízos (é nula cláusula excludente de responsabilidade). Culpa de terceiro não
é excludente de responsabilidade. Não se aplicam as normas sobre o contrato ao transporte gratuito. O transportador
não pode, em regra, recusar passageiros. Transportador tem direito de reter bagagem para garantir o pagamento do
valor da passagem.
Transporte de coisas: Remetente entrega ao transportador determinado objeto para que, mediante
pagamento de frete, seja remetido a outra pessoa em local diverso. A responsabilidade civil objetiva do transportador
relativa à integridade da carga limitar-se-á ao quantum constante do conhecimento de frete (risco do transporte por
conta do transportador, exceto em caso de culpa do remetente ou força maior).

Responsabilidade do transportador aéreo:


• Código Brasileiro de Aeronáutica – Vôo doméstico. Teoria objetiva (risco da atividade, podendo
desonerar-se nas hipóteses previstas na lei -> se a morte ou lesão resultar, exclusivamente, do estado de saúde do
passageiro ou se o acidente decorrer de sua culpa exclusiva). Alguns dispositivos, a exemplo do que limita
responsabilidade por danos causados a terceiros, perderam eficácia em razão do art. 37, par. 6º do CR/88. (Carlos
Roberto Gonçalves, Responsabilidade Civil).
• Convenção de Varsóvia – Transportador aéreo internacional. Responsabilidade subjetiva, com
culpa presumida do transportador aéreo. Indenização limitada a valor máximo.
• CDC – aplicado pelo STJ.

Convenção de Varsóvia na jurisprudência (GRAVE ISSO PORQUE PROVAVELMENTE


SERÁ PERGUNTADO O ÓBVIO): STJ tem diversos julgados no sentido de que não se aplica a tarifação da
indenização em caso de extravio de bagagem em vôo internacional e que é cabível indenização por dano moral
(aplica-se o CDC). STF, no entanto, considera que em obediência ao disposto no art. 178 da CF (“A lei disporá sobre
a ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à ordenação do transporte internacional,
observar os acordos firmados pela União, atendido o princípio da reciprocidade”), prevalece o que dispõe a
Convenção de Varsóvia no que diz respeito ao prazo prescricional de dois anos (e não de cinco). Tribunais,
interpretando os dispositivos da convenção, tem atribuído responsabilidade objetiva ao transportador internacional,
não elidível nem pela força maior.
ITEM 5.A: Das pessoas naturais. Dos direitos da personalidade. Da ausência: sucessão provisória e sucessão
definitiva.

Obras consultadas: FARIAS, Cristiano Chaves de, ROSENVALD, Nelson. Direito civil: teoria geral. 9ª edição.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011; GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de
direito civil, vol. I: parte geral. 11ª edição. São Paulo: Saraiva, 2009; PELUSO, Cezar (Coord.). Código civil
comentado: doutrina e jurisprudência. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2010; TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil:
volume único. São Paulo: Método, 2011; VENOSA, Silvio. Código Civil Interpretado, 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.

DAS PESSOAS NATUAIS


1. Noções Gerais. Lembra Clóvis Bevilácqua que a personalidade para o direito não é apenas um processo de
atividade psíquica, mas sim uma criação social moldada pela ordem jurídica. A personalidade é criada pela
sociedade e moldada pela ordem jurídica. O conceito da psicologia é diferente do conceito jurídico.

2. Conceitos de personalidade jurídica. A) clássico: é a aptidão genérica para se adquirir direitos e obrigações na
ordem jurídica, ou seja, é a qualidade para ser sujeito de direito; B) moderno: tendo em vista que a personalidade
jurídica não pode estar atrelada ao conceito simplório de sujeito de direito, pois os entes despersonalizados
(condomínio edilício, sociedade de fato, massa falida, etc.) também podem titularizar relações jurídicas, conceitua-
se a personalidade jurídica como um atributo reconhecido a uma pessoa (natural ou jurídica) para que possa atuar
no mundo jurídico (titularizando diversas relações) e reclamar uma proteção mínima, básica, reconhecida pelos
direitos da personalidade.

2.1. Conceito de Pessoa Natural. É o ser humano dotado de personalidade jurídica conforme o entendimento que
se adote, ou seja, ora como sujeito de direitos e deveres (conceito clássico), ora como indivíduo apto a atuar no
mundo jurídico (titularizando diversas relações) e reclamar uma proteção mínima, básica, reconhecida pelos direitos
da personalidade (conceito moderno).

3. Início da Personalidade Jurídica da Pessoa Natural. A discussão acerca do início da personalidade jurídica da
pessoal natural gira em torno da questão de se o nascituro é ou não dotado de personalidade jurídica. EXISTEM 04
CORRENTES A RESPEITO: A) Natalista (mais conservadora) para esta teoria (segundo uma interpretação literal
do art. 2º do CC), o nascituro é apenas um ente concebido ainda não nascido, desprovido de personalidade, vale
dizer, o nascituro não é pessoa gozando apenas de mera expectativa de direitos (Caio Mário da Silva Pereira, Silvio
Rodrigues, Silvio de Salvo Venosa, Eduardo Espínola, Vicente Ráo e outros). Sustenta que a personalidade jurídica
somente é adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não seria considerado pessoa,
tendo mera expectativa de direito. Obs.: Nascer com vida significa o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório
do recém-nascido (Resolução n. 1 do Conselho Nacional de Saúde). O exame para saber se o recém-nascido
respirou é denominado Docimasia Hidrostática de Galeno. Assim, ao nascer com vida ele se torna sujeito de direito,
ainda que sobreviva apenas durante segundos; OBS.: é a posição majoritária na doutrina e adotada pelo STF na ADI
3510; B) Concepcionista: esta é a teoria adotada pela doutrina moderna, embora seja muito antiga. (Teixeira de
Freitas, Silmara Chinelato, Pontes de Miranda, Maria Berenice Dias, Nelson Rosenvald, etc.). Para esta teoria, o
nascituro seria considerado pessoa para efeitos patrimoniais ou extrapatrimoniais, desde a concepção. No momento
em que nasce com vida, se opera um efeito ex tunc, para ser considerado pessoa desde a sua concepção. Os
defensores desta teoria apontam que ela explica com mais lógica a segunda parte do art. 2º do CC. No âmbito
internacional, está consagrada no art. 4º, I, do Pacto de San José da Costa Rica1; C) Teoria da personalidade
condicional: (Washington de Barros, Serpa Lopes, Clóvis Beviláqua e Arnaldo Rizzardo) segundo esta teoria, que
se baseia na combinação entre os artigos 2º e 130 do CC, a personalidade civil da pessoa natural começa com o
nascimento com vida, mas os direitos do nascituro estão sujeitos a uma condição suspensiva, ou seja, são direitos
eventuais que só adquirem eficácia com o nascimento daquele que foi concebido (crítica: trata-se de uma teoria
essencialmente natalista, pois parte da premissa de que a personalidade tem início com o nascimento com vida); D)
Teoria da Dupla Personalidade: (MHD e Gustavo Tepedino): para esta teoria, que a personalidade jurídica divide-
se em formal e material, sendo que a formal está relacionada com os direitos da personalidade (que o nascituro já
titulariza desde a concepção), enquanto que a material está relacionada com os direitos patrimoniais e que só são
adquiridos pelo nascituro com o nascimento com vida; Na verdade esta teoria mescla as teorias concepcionista (para
os direitos da personalidade) e a natalista (para os direitos patrimoniais).

4. Capacidade e Legitimação. A capacidade civil é dividida em duas: a) de direito ou gozo; e b) de fato ou


exercício. Capacidade de direito  aptidão genérica para adquirir determinados direitos e deveres. Capacidade
de fato  aptidão para pessoalmente exercer os atos da vida civil. Ausente tal capacidade haverá
incapacidade civil (absoluta ou relativa). Legitimação é aptidão específica para a prática de certos atos da
vida civil (Ex1: o pai não tem legitimidade para vender um apartamento para um dos filhos sem o
consentimento dos demais. Ex2: o indigno não tem legitimação para receber herança). Em regra, a falta de
legitimação torna o fato anulável, enquanto que a falta da capacidade de fato gera a incapacidade civil, que
pode ser absoluta ou relativa.

4.1. Distinção entre Personalidade e Capacidade de Direito. Duas correntes (não encontrei qual é a majoritária).
A) Há quem defenda, como Orlando Gomes e Flávio Tartuce, que não há diferença entre personalidade
jurídica e capacidade de direito, porquanto entende que a personalidade é a capacidade jurídica
genericamente reconhecida a qualquer pessoa, não havendo como distinguir, cientificamente, personalidade
de capacidade de direito; B) Outros, como Nelson Rosenvald, defendem que a capacidade jurídica consiste na
possibilidade daqueles que são dotados de personalidade de serem sujeitos de relações patrimoniais, ou seja, é
a maior ou menor extensão dos direitos de uma pessoa, sendo, portanto, a medida da personalidade.

5. Incapacidade de fato. Consiste na restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. ESPÉCIES: A) Absoluta -
art. 3° do CC: restrição para a o exercício de qualquer ato da vida civil; suprível pela representação; e B)
Relativa - art. 4° do CC: restrição relativa a certos atos da vida civil e complementada pela assistência; Obs.:
alguns atos poderão ser praticados pelos maiores de 16 e menores de 18 sem a assistência do seu
representante legal. Exemplo: fazer testamento (art. 1860) e ser testemunha (art. 228, I).

5.1. Incapacidade de fato absoluta. A) Menores de 16 anos (são os impúberes): incapacidade ope legis; B) Pessoa
que por enfermidade ou deficiência não tenha discernimento para os atos da vida civil: esta incapacidade absoluta é
declarada por meio do procedimento de interdição. A ação de interdição busca a declaração de incapacidade e é
nomeado um curador. Estes precisam ser interditados para serem privados totalmente da prática de quaisquer atos da
vida civil. Pronunciada a interdição, o juiz assinará limites à curatela (limites a interdição), que poderão
circunscrever-se às restrições do pródigo (art. 1.772 do CC). Reconhecendo a incapacidade absoluta, qualquer ato
praticado pelo interditado, sem a presença do curador, será manifestamente nulo. Obs1.: quanto ao efeito da
sentença de interdição (declaratório ou constitutivo) ver item próprio.Obs2.: Orlando Gomes afirma que o ato
praticado pelo incapaz, ainda não interditado, pode ser invalidado, desde que concorram três requisitos:
incapacidade de discernimento anterior, prejuízo ao incapaz e má-fé da outra parte; C) Os que por causa transitória
não possam exprimir a sua vontade: este dispositivo não trata de doença mental, mas sim da pessoa que não pode
praticar atos por estar impossibilitada de exprimir sua vontade, decorrente de causas transitórias, como a intoxicação
por ingerir “boa noite cinderela” ou em estado coma, por razões de traumatismo craniano. Idem fortuitamente
bêbado – caso de embriaguez involuntária, completa.

5.2. Incapacidade de fato relativa. Há possibilidade de a parte prejudicada promover ação para que o Judiciário
desfaça o negócio realizado com pessoa relativamente incapaz. A inércia das partes pode convalidar o ato.
ESPÉCIES DE INCAPACIDADE DE FATO RELATIVA: a) Maiores de dezesseis e menores de dezoito anos: são
os menores púberes; b) Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o
discernimento reduzido: a incapacidade somente é relativa quando a embriaguez reduzir a capacidade, não a
suprimindo por completo. OBS.: caso a embriaguez seja patológica (doentia), capaz de inquinar (corromper) o
discernimento, a incapacidade será absoluta; c) Excepcionais sem desenvolvimento mental completo: os portadores
da síndrome de down são exemplos de excepcionais; d) Pródigos: pessoas que desordenadamente dilapidam o seu
patrimônio, podendo reduzir-se a miséria. O sistema jurídico brasileiro admite a interdição do pródigo, de maneira
que seu curador irá assisti-lo em atos de conteúdo patrimonial (art. 1.782 do CC). Se justifica a interdição do
pródigo, além do interesse público, a teoria do estatuto jurídico do patrimônio mínimo, desenvolvida pelo professor
Luiz Edson Facchin. Obs.: quanto ao casamento do pródigo, o curador deve se manifestar quanto à celebração de
pacto antenupcial e do regime de bens (atos relacionados ao direito patrimonial), mas não pode interferir na prática
dos atos relativos ao estado da pessoa e da personalidade (atos de mera administração).

Observação geral: Caso haja conflito de interesse entre o representante e o incapaz, pode-se invocar o art. 119 do
CC que dispõe ser anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se
tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. É de 180 dias, a contar da conclusão do
negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo.

5.3. Capacidade Civil do Indígena. O CC não cuida mais da capacidade do índio. Segundo o art. 8º da Lei
6.001/73, são nulos os atos cometidos entre índios não civilizados e pessoas estranhas a comunidade, sem a
intervenção da FUNAI. Prevalece, contudo, que a nova ordem constitucional e a Convenção 169 da OIT, ao
agasalharem o multiculturalismo e o paradigma emancipatório de todos os indivíduos, concederam genericamente
capacidade civil aos índios. Como o art. 232 da CF garante a capacidade processual, que é uma manifestação do
direito da personalidade, acabou por conceder também, ainda que não haja menção expressa, a capacidade civil.
Dessa sorte, os índios não precisam ser representados, assistidos ou requerer liberação do regime de tutela para
exercer por si só os atos da vida civil. Assim, terão capacidade civil como regra, podendo exercer por si sós (sem
assistência, representação ou pedido de liberação do regime tutelar) os atos da vida civil. Somente se o índio não
tiver nenhuma noção ou conhecimento do idioma, leis e cultura brasileira é que terá que ter sua capacidade civil
suprida para exercer os atos da vida civil, sendo-lhes aplicável o regime geral de incapacidade civil prevista no CC.
5.4. Cessação da incapacidade. A incapacidade cessa quando desaparece a sua causa, conforme o esquema a
seguir: 1) Menoridade: cessará em dois casos, pela maioridade (aos 18 anos completos) e pela emancipação, que
pode ser: A) voluntária: concedida pelos pais, se o menor tiver 16 anos completos; B) judicial: é a concedida por
sentença; C) legal: é a decorrente de determinados fatos previstos em lei, tais como: pelo casamento, exercício de
emprego público efetivo, colação de grau em curso de ensino superior, pelo estabelecimento civil ou comercial, ou
pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha
economia própria; 2) Demais casos de incapacidade: ação de levantamento de interdição nos termos do art. 1186
do CPC.

6. Individualização da pessoa natural. A) Pelo nome: prenome, sobrenome e agnome: sinal que distingue pessoas
de uma mesma família (Júnior, Neto). B) Pelo estado: O estado da pessoa é a soma de suas qualificações Seus
aspectos podem ostentar caráter individual, familiar e político. C) Pelo domicílio: domicílio é a sede jurídica da
pessoa. É o local onde responde por suas obrigações. Espécies de domicílio: necessário ou legal e voluntário.
Muda-se o domicílio, transferindo a residência com a intenção manifesta de mudá-lo (art. 74, CC).

7. Extinção da Pessoa Natural. Ocorre pela morte que pode ser: Real (art. 6º, 1ª parte) e Presumida (com
declaração de ausência [art. 6°, 2ª parte] ou sem declaração de ausência [art. 7°]).

7.1. Morte Real. Para o Direito a extinção da pessoa física ocorre por meio da morte encefálica. Na esteira do
avanço científico mundial, o Conselho Federal de Medicina (Resolução 1.480/97 – art. 4º - o qual traz os parâmetros
clínicos), tem afirmado que o marco mais seguro para se aferir a extinção da pessoa física, inclusive para fins de
transplante de órgãos, é a morte encefálica. A morte deve ser declarada por profissional de medicina, admitindo-se,
na ausência deste, nos termos da Lei 6.015/73 (Lei de Registros Públicos – art. 77), a declaração de óbito feita por
duas testemunhas. A declaração de óbito tem inscrição no Registro Civil de Pessoas Naturais – livro de óbitos. Obs.:
não havendo o cadáver entraremos noutra seara: morte presumida.

7.2.1. Morte Presumida sem declaração de ausência. Chamada também de morte real sem cadáver (e consequente
ausência de declaração de óbito), trata-se de do óbito ocorrido em situações catastróficas previstas nos artigos 7º do
CC e 88 da Lei de Registros Públicos, em que se exige a realização de um procedimento justificatório em juízo
(justificação de óbito), nos termos do disposto nos artigos 861 a 866 do CPC. REQUISITOS: prova de que a pessoa
tida como morta estava no local em que ocorreu a catástrofe e de que, posteriormente, não há mais notícias desta
(exemplos: trabalhava num prédio que desabou e não sobrou nada, morava numa encosta onde houve um
deslizamento de terra ocasionado por fortes chuvas em também não sobrou nada). ATENÇÃO: outro caso de morte
presumida sem declaração de ausência vem previsto na Lei 9140/95 que reputa como mortas, para todos os fins de
Direito, as pessoas desaparecidas em razão de participação, ou simplesmente acusadas de participação, em
atividades políticas, no período compreendido entre 02/09/61 e 15/08/79 (época do Regime Militar).

7.2.2. Morte Presumida com declaração de ausência (art. 22 e ss). Consiste na situação de alguém que
desapareceu do seu domicílio sem que dele se tenham notícias e que não deixou representante, permitindo a
transmissão de seus bens para os herdeiros, mesmo sem a existência de comprovação de morte provável. Qualquer
interessado ou MP podem requerer. A) Sucessão Provisória (art. 26): decorrido um ano da arrecadação dos bens ou
três anos – se o ausente deixou representante ou curador, os interessados podem requerer a sucessão provisória. O
patrimônio do ausente fica sob a posse de seus herdeiros, que não têm a disponibilidade dos bens, não podendo
aliená-los, a não ser por autorização do juiz, para em casos de evitar a deterioração dos bens, preservando seu valor
econômico. Aberta a sucessão provisória, já gera efeitos patrimoniais, mas não podem os bens ser vendidos, podem
ser utilizados os frutos, a venda somente pode ocorrer com autorização judicial; B) Sucessão Definitiva: O prazo é
de 10 anos, durante os quais o ausente pode voltar e retomar seu patrimônio integralmente (a propriedade sobre os
bens do ausente é resolúvel). Esse prazo deverá ser reduzido para 05 anos, quando o desaparecido já contava com
80 anos; Aberta essa fase a propriedade dos bens do ausente se transfere aos herdeiros, mas existe ainda um prazo de
espera, consiste em um novo prazo de 10 anos, no qual o ausente ainda pode voltar e retomar o seu patrimônio.
7.2.3. Efeitos não patrinominais: No CC/16, a ausência tinha somente essa função patrimonial. No CC/02, a
ausência passa a ter um efeito que o anterior não tinha: efeito pessoal familiar. Desta feira, o casamento válido, ou
seja, o vínculo matrimonial, pode ser dissolvido pelo divórcio e pela morte de um dos cônjuges, tanto a real
como a presumida do ausente, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva (arts. 1571, §
1º e 6º, segunda parte).

8. Comoriência. A comoriência é a presunção de morte simultânea, de uma ou mais pessoas, na mesma ocasião
(tempo), em razão do mesmo evento (não necessariamente), sendo elas reciprocamente herdeiras. Caso não haja
indicação da ordem cronológica das mortes, nos termos do art. 8º do CC, considera-se ter havido morte simultânea,
de maneira que um comoriente não herda do outro, abrindo-se cadeias sucessórias, autônomas e distintas, como se
um não existisse para o outro e vise-e-versa. ATENÇÃO: os comorientes não necessariamente devem morrer no
mesmo lugar, podendo se encontrar em locais distintos. OBS.: não confundir com PREMORIÊNCIA (em que a
morte de parentes sucessíveis pode ser cronologicamente identificada).

DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


1. Noções Gerais. Historicamente o Direito Romano não cuidou dos direitos da personalidade nos moldes como são
concebidos atualmente, apenas contemplando a chamada actio injuriarum, ação contra a injúria, que foi elastecida
para abranger qualquer atentado contra a pessoa. Os direitos da personalidade constituem construção jurídica
relativamente recente, fruto da doutrina germânica e francesa, especialmente após a II Guerra Mundial, em virtude
da crescente preocupação com a tutela dos direitos mais essenciais dos indivíduos e da humanidade como um todo.
Somente com o advento da CF/88 e com o movimento da constitucionalização do direito privado e seus
desdobramentos simultâneos de repersonalização e despatrimonialização do direito privado é que os direitos da
personalidade foram alçados à uma categoria própria de direitos dos indivíduos, o que culminou com sua
positivação no CC/02.

2. Conceito. São situações jurídicas reconhecidas à pessoa, tomada em si mesma e em suas projeções sociais, que
lhes conferem direitos essenciais ao seu desenvolvimento, em que se convertem projeções físicas, psíquicas e
intelectuais do seu titular, individualizando-o de modo a lhe emprestar segura e avançada tutela jurídica (Rosenvald
e Farias). São direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto
físico, moral e intelectual (Francisco Amaral). Se diferenciam dos direitos patrimoniais ou do conceito de
patrimônio, porque encontram-se voltados à afirmação dos valores existenciais da pessoa humana, enraizados na
esfera mais íntima do indivíduo e não são suscetíveis de apreciação econômica (o dano moral é apenas uma
compensação pela afetação de tais direitos, bem como uma medida punitiva ao causador do dano).

3. Fontes dos Direitos da Personalidade (Teoria Pluralista X Teoria Monista). Existem duas correntes. A)
Pluralista: existem vários, desde que previstos em lei. Vale o princípio da taxatividade, da tipificação. Problema:
com o desenvolvimento tecnológico e aspectos novos relacionados com intimidade, privacidade, (manipulações
biológicas, genéticas; pesquisadores fazendo mapeamento genético de comunidades; empregadores exigindo
mapeamento genético de seus futuros empregados; câmeras de monitoramento em todos os lugares, públicos e
privados; etc.), não há como agasalhar tal teoria, pois a atividade legislativa não consegue acompanhar o
desenvolvimento da sociedade; B) Monista: basta um único direito geral, uma cláusula geral de proteção dos
direitos da personalidade a partir da qual todos os demais direitos são tutelados (art. 1º, III, da CF e art. 12 do CC –
todos os direitos da personalidade são protegidos por tais cláusulas). Não se exige taxatividade, tipicidade.
OBS.: Nosso ordenamento jurídico não adotou de forma ortodoxa nenhuma das duas teorias, pois tanto tutela vários
direitos da personalidade no CC/02 (vida, integridade física e psíquica, nome, imagem, honra [subjetiva e objetiva],
privacidade, intimidade, etc.), quanto possui duas cláusulas gerais de proteção dos direitos da personalidade a partir
das quais todos os demais direitos são tutelados: art. 1º, III, da CF e art. 12 do CC/02.

4. Características. A) absolutos: não no sentido de serem insuscetíveis de restrições, mas sim na acepção de que
são oponíveis erga omnes; B) relativamente indisponíveis: a pessoa não pode deles dispor de forma permanente
e/ou total; Requisitos para a disposição2: deve ser voluntária (Obs.: ver requisitos do consentimento), transitória,
específica e não afetar a dignidade da própria pessoa (ao contrário, a disposição deve promover a dignidade da
pessoa). A título de exemplo, admite-se a cessão onerosa de direito patrimoniais decorrentes da imagem (lembrar
dos reality shows), de direitos autorais (art. 28 da Lei 9610/98), de direitos sobre softwares (lei 9609/98), bem como
a doação de órgãos humanos duplos ou regeneráveis (art. 199, §, 4º da CF e lei 9434/97), doação de sangue (lei
10205/01), etc. ALGUMAS POLÊMICAS RELACIONADAS À INDISPONIBILIDADE RELATIVA: 1)
Princípio da consentimento informado, da beneficência ou da não maleficência (art. 15 do CC): consiste no
dever de informação ao paciente por parte dos profissionais de saúde acerca do risco de vida relacionado a qualquer
tratamento médico ou intervenção cirúrgica; 2) Princípio do consenso afirmativo (art. 14 do CC): trata da retirada
post mortem de órgãos da pessoa; segundo o princípio, a manifestação expressa do doador de órgãos em vida deve
prevalecer sobre a vontade dos familiares, implicando a incidência do disposto no art. 4º da lei 9434/97 apenas na
hipótese de silêncio do potencial doador3; 3) Testemunhas de Jeová e recusa de transfusão de sangue: colisão
entre direito à vida e liberdade religiosa – na doutrina tem-se entendido que em se tratando de incapazes a
intervenção é obrigatória, mas em se tratando de pessoas maiores e capazes não há uma posição definida; Obs.: a
Resolução nº 1012/80 do Conselho Federal de Medicina e os artigos 46 e 56 do Código de Ética Médica autorizam
os médicos a praticar a transfusão de sangue em seus pacientes, independentemente de consentimento, se houver
iminente perigo de vida; 4) Questão dos transexuais e o art. 13 do CC: caso de disposição permanente de um
órgão do corpo; cirurgia para fins de adequação do sexo fisiológico, ao sexo psicológico (o corpo da pessoa é
atentatório à sua dignidade; trata-se de uma mulher ou homem aprisionado a um corpo masculino ou feminino,
respectivamente); Consequência: necessidade de autorização de mudança de retificação do registro civil (mandar
fazer constar que a pessoa é um transexual, sob pena de violação à sua dignidade – Resp. 737.993/STJ); C)
intransmissíveis (art. 11 do CC): os direitos da personalidade em si não são suscetíveis de qualquer forma de
transmissão (o que engloba a alienação), mas admite-se a cessão de seus reflexos patrimoniais (reality shows,
revistas pornográficas, etc.); D) irrenunciáveis (art. 11 do CC): ninguém pode abrir mão da titularidade dos direitos
da personalidade; E) vitalícios: somente se extinguem com a morte de seu titular, não ocorrendo sucessão sobre os
direitos da personalidade, pois tais direitos são personalíssimos; Obs.: a doutrina controverte sobre se o art. 12 do
CC confere direitos da personalidade ao morto. Trata-se do dano indireto ou em ricochete, em que o dano atinge o
morto e repercute em seus familiares. Para a primeira corrente o dispositivo consagra a tutela de direitos da
personalidade do morto. Para a segunda tal dispositivo reconhece como direito da personalidade da pessoa viva (e
não do morto), a proteção de valores jurídicos da personalidade de alguém que já morreu (cônjuge ou companheiro e
parentes em linha reta ou colateral até o 4º grau); F) extrapatrimoniais: são direitos insuscetíveis de apreciação
econômica, ainda que eventual lesão possa produzir consequências monetárias (da lesão extrapatrimonial surge o
dever de indenização de caráter monetário que visa compensar, atenuar, servir de lenitivo para a dor e sofrimento a
vítima, bem como punir e educar o responsável pelo dano); G) impenhoráveis: decorrência do caráter
extrapatrimonial, os direitos da personalidade não podem ser objeto de penhora; H) imprescritíveis: não existe um
prazo extintivo para o exercício dos direitos da personalidade; Obs.: as lesões a estes direitos não convalescem com
o tempo, por isso que se diz que a pretensão voltada a assegurar seu livre exercício é imprescritível, o que não
ocorre com a pretensão indenizatória daí advinda, que está sujeita ao prazo prescricional de 03 anos (art. 206, § 3º,
V, do CC), salvo se decorrente de perseguição, tortura e prisão, por motivos políticos durante o Regime Militar
(conforme entendimento do STJ)4.

5. Titularidade. Via de regra somente a pessoa natural, porém também admite-se que a pessoa jurídica seja
dotada de alguns direitos da personalidade tais como honra objetiva, imagem ou bom nome, inviolabilidade
de sede ou domicílio, sigilo de correspondência, etc. (CRÍTICA: pessoa jurídica é patrimônio, patrimônio não
contem os atributos de uma pessoa natural). Quanto ao nascituro, adotada a teoria concepcionista ou da
personalidade condicional, este será titular de direitos da personalidade desde a concepção.

6. Proteção dos Direitos da Personalidade. Viabilizada por qualquer técnica processual (inclusive de forma
inaudita altera parte), exemplos: inibitória, compensatória, ressarcitória, de retratação, etc. Obs.: só não há
que se falar em reparação propriamente dita devido ao caráter extrapatrimonial de tais direitos.
Historicamente, a proteção jurídica dos direitos esteve baseada no binômio lesão – sanção, ou seja, imposição
de sanção para toda e qualquer lesão. A sanção imposta era perdas e danos. Todavia, desde o advento do CDC
em 1990 e da reforma processual civil em 1994, o sistema jurídico começou a discutir a idoneidade do
binômio lesão – sanção, se esse binômio se mostrava suficiente, idôneo para garantir a proteção dos direitos.
Chegou-se a conclusão que a vítima de violação a direitos não estava interessada somente na sanção do
agente, mas também tinha interesse na proteção efetiva do seu direito. Ex.: se uma pessoa teve o seu nome
indevidamente inserido no SPC/SERASA. O Novo Código Civil de 2002 rompeu o binômio lesão/sanção em
razão da sua ineficiência, porque o CC entendeu que a vítima não quer apenas perdas e danos. O CC ampliou a
proteção dos direitos da personalidade. Com essa nova perspectiva o CC estabeleceu novo esquema protetivo
para os direitos da personalidade.
A proteção jurídica dos direitos da personalidade se desdobra em duas vertentes (art. 12, CC):
a) Preventiva; e/ou b) Compensatória.
A) Dizer que a proteção aos direitos de personalidade é PREVENTIVA é dizer que processualmente ela se
estabelece através da tutela específica que decorre do art. 461, CPC (jurisdição individual) e art. 84, CDC
(jurisdição coletiva). O reconhecimento de uma tutela preventiva dos direitos da personalidade implica
despatrimonialização dos direitos da personalidade, porque a proteção deixa de ser dar somente através de
dinheiro, agora se dá, também, através de tutela específica. Tutela específica é o provimento judicial adequado para
solução de um conflito de interesses específicos, ou seja, é solução concreta de um caso (art. 461, CPC).
Antigamente todas as soluções judiciais eram perdas e danos, agora é a solução específica para um conflito
específico. Bem por isso, já se nota que dentro da tutela específica hospedam-se diferentes providências: a)
tutela inibitória; b) tutela subrrogatória; c) remoção do ilícito; d) etc., quer dizer que o rol das hipóteses da
tutela específica é exemplificativo. Ex.: Caso da Daniela Cicarelli que teve as imagens que estava na praia
indevidamente inseridas no site You Tube. Ela ajuizou ação em face do You Tube, pedindo que retirasse as imagens
(tutela inibitória) O juiz removeu o ilícito. B) Já a TUTELA COMPENSATÓRIA se dá através de indenização por
danos morais (art. 5º, V, X e XII, CF). (OBS.: Tem ganhado espaço, todavia, na doutrina e jurisprudência brasileiras,
a corrente de pensamento que sustenta a natureza pedagógica, do desestímulo ou punitiva da reparação por dano
moral. Funda-se na teoria do Punitive Damage do direito norte-americano é a teoria pedagógica que se
convencionou chamar de TEORIA DO DESESTÍMULO, a qual começou a chegar no Brasil. Trata-se de dar a
devida FUNÇÃO SOCIAL à responsabilidade civil por danos a direitos da personalidade. A partir de tais
premissas, a indenização deve compensar a vítima e, simultaneamente, pedagogicamente punir o responsável pelo
dano). Em termos gerais, é a indenização por danos morais que corresponde a violação da dignidade humana.
Existência da aproximação entre direitos da personalidade e dano moral, de modo que o dano moral não é
mais do vexame, humilhação, sofrimento, vergonha, ou seja, não é mais sentimentos negativos. Portanto, nada
mais é do que a violação da dignidade humana. O rol de possibilidades do dano moral também é exemplificativo.
Alguns chegam a afirmar que a prova do dano moral é in re ipsa/ínsita na própria coisa, na própria violação. Dizer
que o dano é a violação da dignidade humana deixa clara a autonomia do dano moral (Súmula 37, STJ - São
cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato). A indenização por dano moral
é a decorrente da violação aos direitos da personalidade, tais como, da honra, imagem, integridade física etc.
Quando alguém viola a sua honra, chama-se de dano moral, quando viola a imagem, chama-se de dano a
imagem, quando viola a sua integridade física, chama-se de dano estético etc. A mais moderna controvérsia
diz respeito à cumulatividade do dano moral com dano moral (conforme o bem jurídico atingido).
Antigamente diziam que não porque geraria bis in idem. O problema é que no Brasil o dano moral é utilizado como
gênero e como espécie. Talvez fosse melhor chamar o gênero não de dano moral, mas de dano extrapatrimonial
como no direito português. O dano extrapatrimonial seria o gênero, onde o dano moral seria uma de suas espécies.
Desde que se trate de bens jurídicos distintos, é possível cumular dano moral com outro dano moral, ou seja,
diversas categorias de dano moral. Ex.: dano moral com dano a imagem; dano moral com dano estético etc.
(Súmula 387, STJ - É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral). Para Maria Helena Diniz,
o dano estético é toda alteração morfológica do indivíduo decorrente do ato lesivo que, além do aleijão, abrange
quaisquer deformidades ou deformações, marcas e defeitos, ainda que mínimos, que impliquem sob qualquer
aspecto um afeiamento da vítima, consistindo numa simples lesão desgostante ou num permanente motivo de
exposição ao ridículo ou de complexo de inferioridade, exercendo ou não influência sobre sua capacidade
laborativa, por exemplo: mutilações (ausência de membros - orelhas, nariz, braços ou pernas etc.); cicatrizes mesmo
acobertáveis pela barba ou cabeleira ou pela maquilagem; perda de cabelos, das sobrancelhas, dos cílios, dos dentes,
da voz, dos olhos; feridas nauseabundas ou repulsivas, etc.

7. Colisões entre Direitos da Personalidade. Entende-se que nestes casos se aplica o postulado da
proporcionalidade em sentido estrito, ou seja, a ponderação dos direitos em conflito.
ITEM 5.B: Da compra e venda e de suas cláusulas especiais. Da promessa de compra e venda, do direito real
do promitente comprador.

Obras consultadas: FARIAS, Cristiano Chaves de, ROSENVALD, Nelson. Direito Civil: direitos reais. 7ª edição.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011; GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de
direito civil, vol. IV tomo 2: Contratos em Espécie - 12ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010; PELUSO, Cezar (Coord.).
Código civil comentado: doutrina e jurisprudência. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2010; TARTUCE, Flávio. Direito
civil, Vol. 3. Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie. 5ª edição. São Paulo: Método, 2009; TARTUCE,
Flávio. Manual de direito civil: volume único. São Paulo: Método, 2011; VENOSA, Silvio. Código Civil
Interpretado, 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.

DA COMPRA E VENDA
1. Conceito. Art. 481. Trata-se de um negócio jurídico bilateral, por meio do qual o vendedor transfere a
propriedade de coisa móvel ou imóvel ao comprador mediante o pagamento de um preço. A compra e venda por si
só já é título suficiente para exigir o cumprimento da obrigação (simples consensualidade). As obrigações são (do
vendedor) entregar a coisa e (do comprador) o pagamento pela coisa.

2. Observações Gerais. O Contrato de Compra e Venda não é suficiente para transferir a propriedade.
Aquisição da propriedade: o contrato de compra e venda no direito brasileiro gera apenas efeitos
OBRIGACIONAIS. Isso significa que, para haver efetiva transferência da propriedade é necessário, além do
contrato uma solenidade de transferência (TRADIÇÃO para os bens móveis ou REGISTRO para os bens imóveis).
O inadimplemento gera Ação Pessoal: Obrigação de fazer, Obrigação de Dar, Ação Cominatória. Não pode se
valer de ação real (o adquirente só será titular de Direito Real, pela Tradição e Registro).

3. Classificação. A) Típico: previsto no CC; B) Bilateral e Sinalagmático; C) Consensual, de regra (o art. 108,
CC exige solenidade: escritura pública, quando se tratar de compra e venda de bem imóveis com o valor acima de
30 salários-mínimos, ficará formal); D) Oneroso: ambas as partes obtém vantagens econômicas; E) Comutativo,
em regra: porque as vantagens obtidas pelas partes são previamente conhecidas (conhecidas de antemão). Obs.:
pode ser aleatório em determinados casos (eventualmente), na hipótese de Venda a contento (fica submetida ao
gosto do comprador, bebidas, alimentos), bem como na hipótese de Venda de uma Esperança (Art. 458, CC):
compra de safra agrícola futura (sujeito compra uma safra e ocorre uma chuva: excepcionalmente).

4. Elementos Constitutivos. A) Consentimento das partes: para o contrato de compra e venda, deve ser livre e
desembaraçado. Havendo vício de consentimento, o contrato se torna anulável. Obs1.: Incapaz pode realizar
Compra e Venda (art. 166), exp.: compra e venda de figurinha em Banca de Jornal, pequenas transações, aquisições
realizadas por absolutamente incapaz, podem ser realizadas; doces, pães, creme dental, etc; Obs2.: entre cônjuges,
exclusivamente em relação aos bens excluídos da união (são bens próprios) na comunhão universal será possível, na
separação obrigatória não, art. 499; Obs3.: de Ascendente para Descendente (Art. 496): É anulável, salvo se os
outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. § único: Em ambos os casos,
dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória. Admite-se
convalidação, por ser anulável. Prazo para que o interessado será decadencial de 2 anos (art.179 do CC) contados da
conclusão do ato; B) Objeto: pode ser todo e qualquer bem alienável (móvel, imóvel, corpóreo, incorpóreo) até
mesmo coisa incerta e coisa alternativa. Obs1.: bem incorpóreo (ex. Direito Autoral) ou direitos podem ser
negociados, mas o negócio jurídico será CESSÃO ONEROSA DE DIREITOS; C) Preço: precisa ser em dinheiro,
determinado ou determinável, e deve ser sério e real (fictício descaracteriza o contrato para doação, por exemplo,
venda de apartamento por R$ 1,00). Obs1.: O preço pode até estar submetido a indicação de um terceiro: mandatário
das partes (ex. corretor de imóveis), mas que a lei não admite é que uma das partes tenha o arbítrio exclusivo de
fixar o preço (artigos 485 e 489), nesse caso a cláusula e o contrato serão nulos; Obs2.: Princípio do Nominalismo: o
preço deve ser sempre pelo valor nominal e em moeda nacional (art. 315): o direito brasileiro não adota a cláusula
de escala móvel, salvo por disposição expressa das partes. Exceções: Compras realizadas no exterior e decorrentes
de contrato de exportação: excepcionalmente pode ser fixado em moeda estrangeira (o preço) nestes dois casos;
Obs3: Em se tratando de relação de consumo, o preço precisa ser informado diretamente ao consumidor, que possui
o direito à clara informação (ex. gôndola de supermercado: precisam ter o preço).

5. Principais efeitos da Compra e Venda. O contrato de compra e venda produz 04 diferentes efeitos: A)
Responsabilidade do Vendedor por eventuais vícios redibitórios; B) Responsabilidade do vendedor por evicção; C)
Responsabilidade pelo perecimento não-culposo da coisa; D) Responsabilidade pelas despesas de tradição e registro
(art. 490): despesas do registro: comprador, despesas da tradição: vendedor, salvo disposição em contrário.

6. Modalidades Especiais de Compra e Venda. A) Venda por Amostras: protótipo ou modelo (Avon, Natura), há
duas regras do art. 484: 1- O vendedor se responsabiliza que as coisas a serem entregues tenham as mesmas
qualidades e características da amostra. 2- Havendo divergência entre a amostra e a coisa a ser entregue, prevalecerá
a amostra (ex. de contrato por amostra: incerteza de que a coisa terá a mesma qualidade e o comprador poderá
rejeitá-lo); B) Venda Ad Corpus: é venda de unidade, independentemente da medida ou extensão. Sítio em SP
independentemente de sua medida; e C) Venda Ad Mensuram: submetida a uma medida ou extensão. Sítio com
500 alqueires (A diferença entre as duas últimas modalidades é importante para fins de vícios redibitórios por falta
de medida, mas se a Venda for Ad Corpus não pode se falar em vício redibitório, porque a medida é irrelevante).

DAS CLÁUSULAS ESPECIAIS DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA:


1. Conceito. São cláusulas facultativas que podem ser inseridas pela vontade das partes. Todas estão previstas no
CC e possuem finalidade específica. A) RETROVENDA (ART. 505, CC): retrovenda é recompra. A cláusula de
retrovenda estabelece em favor do vendedor o direito potestativo de comprar a coisa imóvel de volta querendo no
prazo máximo de 3 anos. Esta cláusula precisa ser expressa, pois torna a propriedade resolúvel na medida em que o
vendedor terá o direito de comprar de volta, querendo. Obs1.: a Cláusula de retrovenda por contrato de Adesão é
nula de pleno direito, exatamente porque deriva do puro arbítrio de uma das partes; Obs2.: apesar de sua natureza
obrigacional, a cláusula de Retrovenda produz eficácia contra terceiros; Obs3: O direito de retrato é cessível e
transmissível a herdeiros e legatários; B) PREEMPÇÃO OU PREFERÊNCIA: é uma cláusula especial e expressa
impondo ao comprador a obrigação de, querendo vender, dentro de um determinado prazo ofertar 1º para quem lhe
vendeu. Art. 513, CC: prazo máximo para o exercício da preferência - 180 dias/móvel e 2 anos/imóvel. A oferta deve
ser feita nas mesmas condições (tanto por tanto) e na forma do art. 516, CC: prazo: 3 (três) dias, de o bem for móvel
ou 60 dias, se imóvel, contados da notificação (art. 516); Obs1.: a PREEMPÇÃO possui efeitos meramente
obrigacionais e a consequência da sua inobservância é perdas e danos; Obs2.: O direito de preferência não se pode
ceder nem passa aos herdeiros; Obs3.: Retrocessão: O legislador incluiu, na subseção ora em estudo, uma hipótese
de preferência legal, denominada retrocessão. Consiste esta no direito de preferência atribuído ao expropriado no
art. 519, pelo preço atual da coisa, se esta não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras
ou serviços públicos. Não caberá a retrocessão se, por exemplo, desapropriado o terreno para nele ser construída
uma escola, outra destinação lhe for dada, também de interesse público (se, em vez da escola, construir-se uma
creche, p. ex.). Se em cinco anos não for dada ao imóvel expropriado nenhuma finalidade de interesse público ou
social, haverá lugar, em tese, para a retrocessão, nos termos do mencionado art. 519. Mas a jurisprudência entende
também ser inadmissível a reivindicatória contra o poder público, devendo o direito do ex-proprietário resolver-se
em perdas e danos, mediante a propositura de ação de indenização, dentro de cinco anos (Decreto n. 20.910/32),
para receber a diferença entre o valor do imóvel à época em que devia ter sido oferecido ao ex-proprietário e o atual
(REsp 968.414-SP, Rel. Min. Denise Arruda, julgado em 11/9/2007; C) CLÁUSULA DE RESERVA DE
DOMÍNIO (art. 521): é uma cláusula inserida em contrato de compra e venda de bem móvel a prazo, na qual o
vendedor pode reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente. Essa cláusula estabelece uma
propriedade resolúvel porque está submetida a um acontecimento futuro e incerto para ser realmente transmitido o
negócio. Estando caracterizada a mora, o vendedor poderá cobrar o preço ou ajuizar a reintegração de posse. Na
alienação fiduciária em garantia é busca e apreensão e pode-se converter a ação em ação de depósito (isso não pode
ser feito na venda com reserva de domínio). A reserva de domínio é uma exceção à regra geral de transmissão da
propriedade por tradição. Havendo inadimplemento do comprador, deve haver prévia constituição em mora, por
protesto ou interpelação judicial. A cláusula de reserva de domínio precisa ser escrita e registrada na medida em que
vai de algum modo atingir a terceiros. Do ponto de vista prático, a cláusula de reserva de domínio nada mais é senão
a inserção de uma alienação fiduciária dentro da compra e venda. Obs.: Apesar do CC dizer expressamente que só
há cláusula de reserva de domínio na compra e venda de bens móveis, a Lei 9.514/97 permite alienação fiduciária
sobre bens imóveis, sendo assim e lembrando. D) VENDA A CONTENTO E VENDA SUJEITA À PROVA: Art.
509 CC A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe
tenha sido entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado (direito
potestativo). No Art. 510 CC também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição suspensiva de que a
coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se destina. Obs.: Se o contrato é
de consumo ou de adesão esta cláusula será nula. E) Venda sobre documentos (Art. 529 CC): Na venda sobre
documentos, a tradição da coisa é substituída pela entrega do seu título representativo e dos outros documentos
exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos.

DA PROMESSA DE COMPRA E VENDA, DO DIREITO REAL DO PROMITENTE COMPRADOR.

1. Noções Gerais. O CC/16 não contemplava o direito real do promitente comprador. No entanto, leis especiais já
conferiam a possibilidade de registro ao compromisso de compra e venda, garantindo-lhe eficácia contra 3ºs e
impossibilitando o arrependimento. A primeira delas foi o Dec. Lei 58/37 que se destinava somente aos imóveis
loteados e que deu origem às súmulas 765 do STJ e 1666, 1677 e 1688 do STF; a segunda foi a Lei 649/49 que
estendeu o regime jurídico do referido Dec. Lei aos imóveis não loteados; a terceira foi a Lei 4591/64 que trata do
condomínio edilício e da incorporação imobiliária, contendo dispositivo sobre promessa de compra de unidade
autônoma futura e que deu origem à súmula 3089 do STJ; a última foi a Lei 6766/79 que disciplinou o parcelamento
do solo urbano e também o compromisso de compra e venda de imóveis loteados. Todas estas leis regulam hipóteses
especiais de contratos preliminares, às quais se aplicam as regras genéricas do CC/02 sobre tais contratos (artigos
462 a 464). Por outro lado, o CC/02 inovou positivando, como categoria autônoma, o direito real de aquisição
que emerge do compromisso irretratável de compra e venda de imóvel registrado na respectiva matrícula, nos
artigos 1417 e 1418.

2. Conceito. É o contrato pelo qual o compromitente-vendedor se obriga a vender ao compromissário-comprador


determinado imóvel, pelo preço, condições e modos avençados, obrigando-se a lhe outorgar a escritura definitiva
quando houver o adimplemento da obrigação. Pago o preço e preenchidas as condições do negócio, tem o
promitente comprador direito real sobre o imóvel (alheio), tendo direito a reclamar a escritura definitiva, ou sua
adjudicação compulsória, se houver recusa por parte do promitente vendedor. O registro da promessa de compra e
venda gera um direito real à aquisição, em caráter “erga omnes”, garantido o primeiro adquirente em face de uma
segunda alienação do imóvel. Porém, a pretensão ora descrita só poderá ser exercitada pelo promissário comprador
após o pagamento integral do preço. Isto é, antes do adimplemento integral, ele só titularizará um direito eventual, o
que não impede a alienação do bem pelo promitente vendedor a um terceiro, pois ainda guarda consigo a
propriedade do bem. Assim, quando A se torna promissário comprador, sem, contudo, efetuar o registro, a relação
obrigacional não impede que, posteriormente, o promitente vendedor B possa alienar o mesmo bem a C. Frustrado o
direito obrigacional de A, em face da evicção, apenas lhe restará a demanda de perdas e danos em face do alienante
B, pois não possui o atributo da seqüela. O art. 1417 do CC enfatiza que o direito real à aquisição não se formará
quando, não obstante registrada, contiver a promessa de compra e venda cláusula de arrependimento. Por tal
cláusula exsurge um direito potestativo que confere aos contratantes a possibilidade de denúncia do contrato. Assim,
havendo a referida cláusula, terá o promitente vendedor a opção de resilir unilateralmente o negócio jurídico,
mediante a denúncia notificada à outra parte, impondo-se a devolução integral das quantias pagas, ou aquilo que as
partes houverem fixado a título de arras penitenciais. Nesta hipótese incide a Súmula 412 do STF: No compromisso
de compra e venda com cláusula de arrependimento, a devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua restituição em
dobro, por quem o recebeu, exclui indenização maior a título de perdas e danos, salvo os juros moratórios e os
encargos do processo.

3. Distinções com outros institutos. Difere do domínio, pois na promessa de compra e venda irretratável e
registrada o titular não tem os poderes inerentes da propriedade, mas apenas Direito Real de Aquisição da
propriedade do imóvel. Distingue-se do contrato preliminar consubstanciado no compromisso bilateral e irretratável
de compra e venda de imóvel não registrado na matrícula, pois este gera apenas direito obrigacional de fazer o
contrato definitivo que, se registrado, dará origem ao direito real de aquisição por parte do promitente-comprador
(ou seja, a diferença central está na ausência ou presença do registro do contrato de compromisso).

4. Requisitos específicos. A) Irretratibilidade do contrato; B) Preço pago à vista ou em prestações periódicas; C)


Registro do contrato na matrícula do imóvel no cartório imobiliário.

5. Efeitos jurídicos. A) Oponibilidade erga omnes; B) Transmissibilidade a herdeiros; C) Direito de Sequela; D)


Direito de Imissão na posse; E) Direito de Purgação da mora; F) Cessibilidade da promessa; G) Adjudicação
compulsória*.
Obs.: segundo a Súmula 84 do STJ: É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de
posse advinda de compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro.

6. Adjudicação Compulsória. De acordo com a súmula 23910 do STJ, a adjudicação compulsória não é um direito
inerente aos compromissos irretratáveis de compra e venda de imóvel registrados, por isso também aplicável aos não
registrados. Trata-se de ação de natureza pessoal (e não real) pertinente ao compromissário comprador, ou ao
cessionário de seus direitos à aquisição, ajuizada em face do titular do domínio do imóvel (que tenha prometido
vende-lo através do compromisso de venda e compra e se omitiu quanto à entrega da escritura definitiva), tendente
ao suprimento judicial desta outorga, mediante sentença constitutiva com a mesma eficácia do ato não praticado.
Seus REQUISITOS são: A) que o contrato preliminar contenha todos os requisitos essenciais do contrato definitivo
a ser celebrado, com exceção da forma (art. 462 do CC); e B) ausência de cláusula de arrependimento.

7. Execução do Direito Real de Aquisição. Pela ação de outorga de escritura definitiva (obrigação de dar) ou por
sentença constitutiva na ação de adjudicação compulsória (suprimento da obrigação de dar a escritura).

8. Formas de Extinção do Compromisso Irretratável de CeV Registrado. A) pela execução voluntária do


contrato; B) pela execução compulsória; C) pelo distrato; D) pela resolução; E) pela impossibilidade superveniente;
F) pelo vício redibitório; G) pela evicção.
ITEM 5.C: Da responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor e a bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico e paisagístico.

Obras consultadas: COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. Proteção jurídica do meio ambiente: florestas. Belo
Horizonte: Del Rey, 2003; COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. A proteção do patrimônio cultural em face da
omissão do Poder Público. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, v. 13, n. 51, p. 185-192, jul./set. 2008; COSTA
NETO, Nicolao Dino de Castro e. Crimes e infrações administrativas ambientais: comentários à Lei n. 9.605-98. 3.
ed. rev. e atual. Brasília: Brasília Jurídica; COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. Direito Ambiental Brasileiro
(material do CEAD/AGU); AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito Ambiental Esquematizado, 3ª ed. São
Paulo: Método 2011; MARQUES, Claudia Lima. Manual de Direito do Consumidor, 4ª ed. São Paulo: RT, 2012;
NETTO, Felipe Peixoto Braga. Manual de Direito do Consumidor, 5ª ed. Salvador: Juspodivm, 2010.

DA RESPONSABILIDADE POR DANOS CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE

1. Noções Gerais. Segundo Nicolau Dino, a CF/88 adotou uma concepção unitária do meio ambiente, que
compreende tanto os bens naturais (o solo, o ar, a água, a flora, a fauna e as belezas naturais) quanto os bens
culturais, o que se deduz da interpretação conjugada dos artigos 225, caput, 216. Assim, o patrimônio cultural
(composto por bens de natureza material e imaterial, considerados individual ou conjuntamente, portadores de
referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade, notadamente os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico) é uma das facetas do meio ambiente (classificado como cultural ou artificial). Neste sentido, qualquer
dano (ou ameaça de dano, dependendo do ramo do Direito) aos bens naturais ou culturais que compõem o
patrimônio ambiental brasileiro, ensejará responsabilização ambiental.
Ademais, art. 225, § 3º, da CF previu a tríplice penalização do poluidor do meio ambiente (penal, administrativa e
civil), consagrando a regra da cumulatividade das sanções respectivas, até porque cada espécie visa atender a
finalidades distintas sujeitas a regimes jurídicos diversos.

2. Dano Ambiental. É a ocorrência de qualquer alteração adversa das características do m.a. em qualquer de seus
aspectos que expresse um sentido de anormalidade, a partir da qual o equilíbrio do sistema é atingido. Essa
anormalidade deve evidenciar também a extrapolação de standards de suportabilidade do sistema ecológico (no
caso dos bens naturais), de molde a abalar sua funcionalidade. A tolerabilidade é o limite entre o uso sustentável e a
ruptura do equilíbrio. Assim, é o interesse em restabelecer o equilíbrio econômico-jurídico afetado pelo dano que faz
nascer a responsabilidade civil. OBS.: o dano ambiental possui feição dúplice: de um lado, afeta um interesse de
titularidade difusa, por ser o meio ambiente um bem de uso comum do povo; de outro, pode malferir interesses
particulares, eis que remanesce uma dimensão subjetiva referente à esfera particular do titular do bem lesado
(DANO POR RICOCHETE).

3. Espécies de Responsabilidade por Danos Ambientais. A) Responsabilidade civil: segundo Nicolau Dino é
Objetiva com base no Risco Integral  dano + nexo de causalidade; Independe de culpa e da ilicitude da conduta;
Não admite excludentes; Respondem solidariamente o autor do dano (particular ou o Poder Público, sendo que este
último assim responde mesmo por ter propiciado a ocorrência do dano por uma ação ou omissão anterior) e seu
sucessor; Visa a reparação de dano ambiental. B) Responsabilidade administrativa: está ligada ao poder de polícia
do Estado, ao Direito Administrativo Sancionador em matéria Ambiental; segundo Nicolau, via de regra independe
de culpa ou dolo, que somente devem estar presentes conforme exigir o tipo legal de infração administrativa
respectiva (art. 70, caput da Lei 9.605/98 + PREVISÕES do Decreto 6.514, de 22 de julho de 2008 com as
alterações do Decreto 6.686/08); Admite excludentes (caso fortuito, força maior, culpa exclusiva de 3º); É pessoal.
C) Responsabilidade penal: é Subjetiva; É sempre pessoal; admite responsabilidade da pessoa jurídica pelo sistema
da dupla imputação (a pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ou indiretamente pela conduta praticada por
decisão de pessoa física, representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado que atuam em benefício
daquela11).

4. Responsabilidade Civil por Danos Ambientais. Baseada em dois princípios básicos: A) Poluidor-pagador: não
quer dizer “pagar para poder poluir”. Não estabelece uma liceidade para o ato poluidor, como se alguém pudesse
afirmar: “poluo, mas pago”. Pode-se identificar no princípio do poluidor pagador 02 órbitas de alcance: 1) busca
evitar a ocorrência de danos ambientais (caráter preventivo); 2) ocorrido o dano, visa sua reparação (caráter
repressivo). Na órbita repressiva do princípio do poluidor pagador há incidência da responsabilidade civil. Sendo
que, em matéria ambiental prevalece a Prioridade da reparação específica do dano ambiental, ou seja, primeiramente
deve-se verificar se é possível o retorno ao status quo ante por via da reparação específica ou “in natura”, e somente
diante da impossibilidade desta é q deve recair a condenação sobre um quantum pecuniário; B) Princípio da
natureza pública e coletiva da tutela do m.a.: é dever do Poder Público e da coletividade preservar e defender o
m.a., assim, qualquer um que de alguma forma contribua para a ocorrência do dano ambiental responderá
solidariamente pelo art. 942, caput, do CC.

4.1. Observações Gerais. A) Segundo o STJ a pretensão de reparação de danos ambientais é imprescritível,
pois o que está em jogo é um direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos (RESP
1.112.117/2009); B) Segundo o STJ a obrigação de reparação de danos ambientais (notadamente a de
recomposição florestal) é propter rem, ou seja, o atual proprietário do imóvel responde diretamente pela obrigação
mesmo que o causador do dano seja o antigo proprietário, podendo em face deste ingressar com ação de regresso
(RESP nº 745.363/2007); C) A responsabilidade do Estado pelos danos ambientais oriundos de omissão na
fiscalização (situação propiciatória), é solidária e de execução subsidiária, o que significa que o Estado integra o
título executivo sob a condição de, como devedor-reserva, só ser convocado a quitar a dívida se o degradador
original, direto ou material (= devedor principal) não o fizer, seja por total ou parcial exaurimento patrimonial ou
insolvência, seja por impossibilidade ou incapacidade, inclusive técnica, de cumprimento da prestação judicialmente
imposta, assegurado, sempre, o direito de regresso (art. 934 do CC), com a desconsideração da personalidade
jurídica pelo art. 50 do CC (STJ, REsp 1.071.741-SP de 2009); D) Segundo Nicolau Dino, o fato de a atividade do
particular estar devidamente licenciada não afasta sua responsabilidade e o Estado, que responderá solidariamente
com aquele nos casos em que se omitir na fiscalização (portanto, com maior razão ainda o Estado responde se a
licença foi outorgada de forma ilegal); E) Segundo a Lei 6938/81, também os sócios (gerentes e mandatários) da
empresa têm responsabilidade pelo dano ao m.a. causado pela p.j., mas respondem de forma subsidiária, ou seja,
apenas depois de exauridos os bens da empresa; F) Quando se cobra a responsabilidade pelo dano ambiental através
de ACP não é necessário o litisconsórcio no pólo passivo da ação entre os causadores do dano , pode-se ajuizar
apenas contra um dos causadores do dano, eis que se trata de obrigação solidária a sua reparação, e, assim, este
poderá busca uma indenização em face dos demais causadores do dano em ação de regresso (STJ, 2ª Turma, REsp
880.160-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/5/2010); G) Segundo o STJ, em ACP relativa a dano
ambiental, cabe inversão do ônus da prova por aplicação do CDC, devendo o empreendedor da atividade
potencialmente lesiva demonstrar a segurança do empreendimento (STJ. RESP 972.902 de 2009).

5. RESPONSABILIDADE POR DANOS CAUSADOS A BENS E DIREITOS DE VALOR ARTÍSTICO,


ESTÉTICO, HISTÓRICO E PAISAGÍSTICO.
Como já explicado alhures, o patrimônio cultural (composto por tais bens de valor cultural) é uma das facetas da
concepção unitária de meio ambiente agasalhada pela CF, razão pela qual valem as regras de responsabilidade por
danos causados ao meio ambiente natural, quando se trata de bens e direitos de valor artístico, estético, histórico e
paisagístico (meio ambiente cultural ou artificial). O instrumento para a defesa destes bens é a Ação Civil Pública,
nos termos do art. 1º da Lei nº 7.347/85.

DA RESPONSABILIDADE POR DANOS AO CONSUMIDOR


RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR NO CDC

1. Noções Gerais: Em regra, A responsabilidade no CDC é objetiva, independendo da existência/demonstração de


dolo ou de culpa. Não há necessidade de demonstração de dolo ou culpa nas relações de consumo. Contudo, é
possível a inversão do ônus da prova (hipossuficiência ou verossimilhança das alegações). Essa inversão do ônus da
prova no CDC fica a critério do Juiz. (STJ RESP 475.039). O fundamento da responsabilidade objetiva no CDC é a
Teoria do Risco da atividade: todo aquele que coloca produto ou serviço no mercado de consumo cria o risco de
dano aos consumidores (Quem aufere os bônus, deverá arcar com os ônus). Concretizado essa dano, surge o dever
de repará-lo, independentemente da comprovação de dolo ou de culpa. Ex: o fornecedor aufere lucros com a
atividade desenvolvida, devendo responder pelos riscos da atividade.

2. Qual é o momento adequado para a inversão do ônus da prova? 02 CORRENTES: 1) trata-se de uma regra de
procedimento, devendo adotá-la até o momento do despacho saneador, no máximo, como forma de possibilitar o
contraditório (STJ, através de sua 2ª Seção, entende pela regra de procedimento); 2) Para outros, trata-se de uma
regra de julgamento, podendo ser utilizada a qualquer momento, inclusive quando da apreciação do mérito. Trata-se
de hipótese em que o juiz aplica a inversão do ônus da prova para a formação do seu convencimento. É aplicável a
qualquer momento, até mesmo em 2º grau de jurisdição. Inversão “ope judicis”: é aquela realizada pelo juiz.
Inversão “ope legis”: art. 12, § 3º, II (produto); art. 14, § 3º, I (serviço); art. 38, CDC

3. Dano moral coletivo: ofensa ao sentimento comum da coletividade. A 1ª T. do STJ (capitaneada por Teori Albino
Zavascki; vencido Fux) entende que não cabe dano moral coletivo no Brasil, porque não se pode falar em direitos da
personalidade transindividuais. A doutrina sustenta que o art. 6º, VI, do CDC, alberga a previsão de indenização e
reparação por danos morais coletivos e difusos. A 3ª (em obiter dictum) e a 6ª T. entendem ser possível. Para o
MPF, é importantíssima essa questão e formular tal pedido na inicial das ações, porque o fornecedor, muitas
vezes, vai reiterar a prática. O importante é punir para se evitar futuros danos aos consumidores futuros. O objetivo
é inibir a atuação danosa do fornecedor. O art. 6º, VI, CDC, faz menção expressa à “ efetiva prevenção”, o que só
pode ocorrer através dessa função punitiva. Então, a doutrina consumerista faz menção à função preventiva.
4. Modalidades de Responsabilidade do Fornecedor: No CDC, não há diferença entre a responsabilidade
contratual e a extracontratual (aquiliana). Pouco importa se é antes, durante ou pós-contratual, por isso se fala em
teoria contratual unitária. A grande diferença que se faz é quanto à responsabilidade pelo fato ou por vício. O CDC
diferencia vício de defeito (parcela da doutrina defende que vício e defeito se implicam reciprocamente [teoria da
qualidade], em razão disso nos teríamos vício de qualidade por inadequação e vício de qualidade por insegurança).
Seguindo o CDC: 1) Vício: é a mera inadequação do produto ou serviço para os fins desejados. Ex: compra-se uma
TV em 36 x, recebendo garantia até a próximo copa, a TV não liga, há um vício; 2) Defeito: está relacionado com a
insegurança do produto ou do serviço. Há um fato relacionado com a segurança. Ex: TV que explode.

4.1. Consequências da distinção para a Responsabilidade: 1) responsabilidade pelo fato do produto/serviço: é o


acidente de consumo ligado ao defeito do produto ou serviço. A preocupação maior do legislador foi com a
incolumidade física-psíquica do consumidor. Arts. 12 a 14, CDC. A sentença é condenatória e o prazo é
prescricional (art. 27, CDC); 2) responsabilidade pelo vício do produto/serviço: ligado à inadequação, à inutilidade
do produto ou serviço em relação às finalidades a que se destinam de acordo com as necessidades dos consumidores,
bem como em relação à quantidade (diversa da adquirida) – arts. 18 a 20, CDC. A preocupação foi com a
incolumidade econômica do consumidor. Depende de reclamação do consumidor para sanar o vício. O prazo é
decadencial (art. 26, CDC).

5. Responsabilidade do fornecedor pelo fato do produto (CDC art. 12)


5.1. Categorias de fornecedores (12, caput, e 13, caput): 1) Fornecedor Real: é o fabricante, o produtor e o
construtor; 2) Fornecedor Presumido: importador; 3) Fornecedor Aparente (teoria da aparência): é o que coloca o
seu nome ou marca no produto final, ou seja, é o franqueador; 4) Fornecedor Imediato: comerciante. Em princípio,
cada fornecedor (fabricante, construtor, importador, produtor e comerciante) responde por seus atos, ou seja, não há
solidariedade. Contudo, é possível falar em responsabilidade solidária, mesmo diante dessa especificação de
fornecedores (art. 7º, parágrafo único, e art. 25, §1º) se mais de um da cadeia produtiva contribuiu para a
causação do dano, todos responderão solidariamente.

5.2. Responsabilidade do comerciante: (art. 13) PREVALECE que a responsabilidade do comerciante é


subsidiária (ou seja, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor não puderem ser identificados; II – a
identificação do fabricante, construtor ou produtor não for clara, III – quando não conservar adequadamente os
produtos perecíveis). Obs1.: essa responsabilidade subsidiária não exclui a solidária entre os demais fornecedores.
Obs2.: terá direito de regresso contra os demais responsáveis pelo dano. Obs3.: Parcela da doutrina defende que a
responsabilidade do comerciante não é subsidiária nem solidária, mas direta pelo acidente de consumo.

5.3. Direito de regresso do comerciante contra os demais responsáveis pela causação do dano X denunciação
da lide: CDC arts 13, § único e 88: vedação da denunciação da lide. Fundamento: a) traz nova pessoa à lide; b)
retarda a reparação de danos do consumidor; c) traz nova fundamentação jurídica ao processo (responsabilidade
subjetiva entre os fornecedores). A doutrina nunca fez diferença nessa vedação quanto a fato do produto ou fato do
serviço. *O STJ em alguns julgados, envolvendo, por exemplo, consumidor travado em porta giratória de banco,
vem entendo que a vedação à denunciação da lide restringe-se à responsabilidade por fato do produto, mas não por
fato do serviço (RESP 439.233 e RESP 1.024.791). Assim, o banco pode trazer a lide a empresa de segurança, não
tendo nenhum óbice a defesa do consumidor.

6. Modalidades de defeitos (03 teorias): 1) defeito de concepção/criação: nos casos de defeitos do projeto, da
formulação ou do design dos produtos, capazes de provocar acidentes de consumo (adotada pelo CDC no § 1º do
Art. 12, levando-se em consideração circunstâncias relevantes, dentre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e
os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação); 2) defeito de
produção/fabricação: são os defeitos na fabricação, construção, montagem, manipulação e acondicionamento dos
produtos; 3) defeito de Informação/comercialização: quando existir defeito da apresentação e informação
insuficiente e inadequada na oferta. A essência do produto esta perfeita, mas a falha na informação pode usar uma
falha no consumo.

6.1. Teoria do risco do Desenvolvimento (art. 12, §1º, III): os defeitos do produto eram desconhecidos e
imprevisíveis à época da colocação em circulação em face do estado da ciência e da tecnologia. Para a maioria não
é causa excludente de responsabilidade. Fundamento: seria a reintrodução da culpa como critério de
responsabilidade no CDC, sendo que a responsabilidade no CDC é objetivo. Mesmo para a minoria que admite a
teoria como uma causa excludente, toda a comunidade científica deveria desconhecer os malefícios do produto, e
não apenas o fornecedor. OBS.: Inovação tecnológica não gera produto defeituoso: o produto não é considerado
defeituoso se outro mais moderno for colocado no mercado (12, § 2º).

6.2. Espécies de periculosidade: 1) inerente: é admitida nas relações de consumo. Isso porque o risco é inerente
ao produto. O risco inerente é aquele normal e previsível. CDC art. 8º. Obs.: o fornecedor tem que dar as
informações necessárias e adequadas a respeito do produto (CDC art. 8º, parte final, e art. 9º); 2) adquirida. Não é
admitida na relação de consumo. Surge em razão de um defeito do produto. Característica principal:
imprevisibilidade; 3) exagerada: inadmissível na relação de consumo, pois o potencial danoso é evidente em
virtude da previsibilidade e da informação acerca do produto (art. 10 e §§).

6.3. Causas excludentes de responsabilidade pelo fato do produto: em regra, são as hipótese previstas no art. 12,
§3º, CDC. O fornecedor deve provar: I - que não colocou o produto no mercado (há quebra o nexo de causalidade);
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste (Min. Herman Benjamin entende que ao
consumidor basta provar o dano e o nexo causal, pois é obrigação do fornecedor provar que o defeito inexiste. Essa
não é a posição que prevalece); III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (Se a culpa do consumidor for
concorrente, a responsabilidade do fornecedor não é excluída, havendo apenas redução da indenização devida).
OBS.: caso fortuito e força maior (apesar de não previsto no CDC) excluem a responsabilidade do fornecedor se
ocorrerem após a colocação do produto ou do serviço no mercado de consumo.

7. Responsabilidade pelo fato do serviço (CDC art. 14): É aquele que decorre de um acidente de consumo em
razão da prestação de um serviço defeituoso. É uma responsabilidade objetiva. Basicamente tudo o que foi dito para
o produto defeituoso serve para o serviço defeituoso. Serviço defeituoso (art. 14, §1º): é aquele que não fornece a
segurança que o consumidor pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes: I - o modo de
seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido.
Art. 14, §2º: o serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

7.1. Responsabilidade das Concessionárias de Serviços Públicos: haverá responsabilidade objetiva das
concessionárias quando o dano decorrer de serviço prestado mediante o pagamento de tarifa (preço público) como
nos casos de coleta domiciliar de lixo, esgoto, fornecimento de água e energia elétrica, serviços de telefonia, não se
aplicando o CDC quando o serviço for remunerado mediante taxa (conforme RESPs 853.964, 848.287, 684.020,
793.422). OBS.: é lícito à concessionária de energia elétrica interromper seu fornecimento se, após aviso
prévio, o consumidor permanecer inadimplente no pagamento da respectiva conta (O princípio da continuidade do
serviço público assegurado pelo art. 22 do CDC deve ser obtemperado, ante a exegese do art. 6º, § 3º, II, da Lei nº
8.987/95 que prevê a possibilidade de interrupção do fornecimento de energia elétrica quando, após aviso,
permanecer inadimplente o usuário, considerado o interesse da coletividade - RESP 805113 de 2008), porém a
doutrina e alguns membros do STJ ressalvam os casos de hipervulnerabilidade de consumidores pessoas físicas
que são ou abrigam idosos, enfermos e crianças, bem como no caso de certas pessoas jurídicas a exemplo dos
hospitais, hipóteses nas quais a possibilidade de corte estará sujeita a prévio exame judicial - RESPs 684.442 e
853.392.

7.2. Causas excludentes de responsabilidade do fornecedor do serviço: deve provar: I - que, tendo prestado o
serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (o fato de 3º, para excluir a
responsabilidade do prestador de serviço, não pode estar relacionado com serviço em si). Obs1.: culpa concorrente
da vítima não exclui a responsabilidade, mas apenas atenua a indenização (STJ RESP 226.348: a responsabilidade
da companhia ferroviária não é excluída por viajar como “pingente”, podendo ser atenuada se demonstrada a culpa
concorrente; STJ RESP 437.195: há responsabilidade por culpa concorrente, da concessionária de transporte por
acidente de três em via férrea, em razão do dever de fiscalização). Obs2.: CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR:
para haver exclusão, o STJ faz distinção entre FORTUITO EXTERNO: que não tem relação com o serviço
prestado e exclui a responsabilidade; e o FORTUITO INTERNO: é aquele que guarda relação com o serviço
prestado e não exclui a responsabilidade (tem relação com o serviço prestado, exemplo: pneu do ônibus que estoura
e gera acidente). STJ RESP 142.186: fato de terceiro que não tem conexão com o transporte (ex: assalto), é causa
excludente de responsabilidade da concessionária (Diferentemente ocorre no fato de que em determinada região
sempre ocorre assalto. A empresa sabe que ali sempre ocorre assalto. Então ela não pode alegar fato fortuito,
porque, diante da previsibilidade do evento, é obrigação da concessionária mudar a rota). RESP 750.418: cheques
furtados de agências bancárias e posterior negativação do cliente no SPC. A segurança é prestação essencial da
agência bancária, este fato de terceiro tem conexão com o serviço prestado. Ação de terceiro que furta talão de
cheque no banco gera indenização, não é causa excludente de responsabilidade. É dever do banco garantir a
segurança do dinheiro, do cheque e do cartão de crédito dos clientes. Obs3.: “Recall”: se o fornecedor faz o recall e
o consumidor não comparece, não haverá excludente de responsabilidade do fornecedor (STJ RESP 1.010.392).
Fundamento: o simples fato de chamar não exclui a responsabilidade do fornecedor.

8. Responsabilidade do profissional liberal: é a exceção à regra, uma vez que aqui a responsabilidade é subjetiva,
fundada na idéia de culpa. Art. 14, §4º, CDC. Conceito de Profissional liberal: é o não empregado que trabalha por
conta própria em profissão de nível superior ou não, exercendo atividade intelectual ou braçal. Razões do
tratamento diferenciado para o profissional liberal: 1) É uma relação pautada na confiança, na fidúcia; 2) em
regra, profissional liberal desempenha atividade de meio, consistente no compromisso de empregar todo o
conhecimento para atingir o resultado desejado, não estando obrigado a atingir o resultado pretendido. OBS.: Se a
atividade for de resultado (ex: cirurgia plástica de embelezamento), haverá uma exceção da exceção à regra, não
respondendo de forma subjetiva, pois a atividade é de fim/resultado e não de meio, sendo a responsabilidade
objetiva. Obs.: a cirurgia plástica reparatória é de meio e não de resultado. STJ RESP 236.708: cirurgia plástica
estética: obrigação de resultado.

8.1. Responsabilidade de Hospitais e Profissionais de medicina (o erro médico): 1) REsp 1.145.728 de


08/09/2011: A responsabilidade das sociedades empresárias hospitalares por dano causado ao paciente-consumidor
pode ser assim sintetizada: (i) as obrigações assumidas diretamente pelo complexo hospitalar limitam-se ao
fornecimento de recursos materiais e humanos auxiliares adequados à prestação dos serviços médicos e à supervisão
do paciente, hipótese em que a responsabilidade objetiva da instituição (por ato próprio) exsurge somente em
decorrência de defeito no serviço prestado (art. 14, caput, do CDC); (ii) os atos técnicos praticados pelos médicos
sem vínculo de emprego ou subordinação com o hospital são imputados ao profissional pessoalmente, eximindo-
se a entidade hospitalar de qualquer responsabilidade (art. 14, § 4, do CDC), se não concorreu para a ocorrência do
dano; (iii) quanto aos atos técnicos praticados de forma defeituosa pelos profissionais da saúde vinculados de
alguma forma ao hospital, respondem solidariamente a instituição hospitalar e o profissional responsável,
apurada a sua culpa profissional. Nesse caso, o hospital é responsabilizado indiretamente por ato de terceiro, cuja
culpa deve ser comprovada pela vítima de modo a fazer emergir o dever de indenizar da instituição, de natureza
absoluta (arts. 932 e 933 do CC), sendo cabível ao juiz, demonstrada a hipossuficiência do paciente, determinar a
inversão do ônus da prova da culpa do profissional (art. 6º, VIII, do CDC). 2) REsp 696.284 de 2009: hospital
responde objetivamente por erro de diagnóstico de plantonista integrante de seu corpo clínico, apurada a culpa
deste último, podendo o juiz inverter o ônus da prova (quanto ao erro) em favor da vítima; 3) RESP 908.359 de
2008: hospital não responde por erro médico de profissional que aluga o estabelecimento para fazer cirurgia; a
responsabilidade do hospital somente tem espaço quando o dano decorrer de falha do serviço, pois não existe
vínculo do médico com o hospital. 4) REsp 258.389: O hospital responde de forma objetiva quando os danos
decorrem da falta de estrutura do hospital (Ex: infecção hospitalar ou qualquer dano ligado à internação,
instalações hospitalares, equipamentos, serviços auxiliares como enfermagem, exames, radiologia, etc.), pois
tais danos decorrem dos serviços do estabelecimento hospitalar, e não da atividade médica em si;

8.2. Serviços de advocacia: Prevalece no STJ que não se aplica o CDC às atividades envolvendo advocacia. RESP
757.867. RESP 914.105: o Fundamento é a existência de legislação própria que regulamento a atividade do
advogado com cliente, não se aplicando o CDC.

9. Responsabilidade pelo vício no CDC


Os vícios do CDC são diferentes dos vícios redibitórios do CC. No CDC os vícios podem ser aparentes ou
ocultos. O CC, quando fala em vício redibitório, se refere aos vícios ocultos. O CDC não exige vício de natureza
grave e nem que ele seja contemporâneo à data da celebração do contrato. Já o CC exige que o vício já exista desde
a época da celebração do contrato. O conceito de vício no CDC, portanto, é mais amplo que no CC. A conseqüência
é uma melhor proteção do vulnerável na relação consumerista. O CDC ainda traz uma alternativa a mais em
comparação com o CC. O CDC admite a substituição do produto viciado por outro. No CC somente são cabíveis a
ação redibitória para rejeitar a coisa viciada ou a ação estimatória para postular o abatimento proporcional do preço.
Os vícios do produto podem ser de qualidade e de quantidade.

9.1. Vícios de qualidade, art. 18: É aquele que torna o produto impróprio ou inadequado ao consumo, capaz de
diminuir o valor do produto, bem como aquele decorrente de disparidade com as informações da oferta. O art. 18
não especifica cada um dos fornecedores. Logo, todos os entes da cadeia produtiva são responsáveis, inclusive o
comerciante (RESP 1.118.302 – outubro de 2009). O CDC, no art. 18, §6º, define “produto impróprio”: I -
produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II – produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,
falsificados, corrompidos, fraudados etc; III – produtos que por qualquer motivo ser revelem inadequados ao fim a
que se destinam (Obs1.: pequenos defeitos não são impeditivos da comercialização do produto, desde que haja
transparência na relação [informação ostensiva e adequada]. É a boa-fé objetiva; Obs2.: “Respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza”: em razão da natureza de alguns produtos, algumas variações não serão consideradas
como vício).

9.2. Alternativas conferidas ao consumidor diante do vício do produto (art. 18, §1º): I – substituição do produto
por outro de mesma espécie, em perfeitas condições de uso. Não havendo outro produto da mesma espécie, o §4º dá
a solução: poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelos diversos, mediante complementação ou
restituição de eventual diferença de preço; II – restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem
prejuízo de eventuais perdas e danos; III – abatimento proporcional do preço. OBS1: Antes de dar as opções ao
consumidor, o art. 18, §1º, concede ao fornecedor o prazo máximo de 30 dias para tentar resolver o problema.
Esse prazo para sanar o vício do produto pode também ser convencionado, podendo ser no mínimo 07 dias e no
máximo 180 dias (art. 18, §2º). EXCEÇÃO: art. 18, §3º: O consumidor poderá fazer uso imediato de qualquer
das 03 alternativas se a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do
produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial (O conceito de essencialidade deve ser aferido no
caso concreto). OBS2: nos contratos de adesão a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio
de manifestação expressa do consumidor.
Art. 18, §5º: produtos “in natura”. São aqueles que vêm diretamente do campo, sem passar pelo processo de
industrialização. No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o
fornecedor imediato (comerciante), exceto quando identificado claramente o produtor. Trata-se de uma exceção à
regra da responsabilidade solidária do “caput” do art. 18.

9.3. Vício de quantidade (art. 19): Ocorre quando o conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária. Todos da cadeia vão responder
solidariamente, em regra. Também aqui determinadas variações decorrentes da natureza de certo produto não
caracteriza vício. Ex.: gás liquefeito engarrafado. Obs.: não há prazo legal fixado ao fornecedor para resolver o vício
de quantidade.

9.4. Alternativas conferidas ao consumidor diante do Vício de quantidade: I – abatimento proporcional do


preço; II – complementação do peso ou medida; III – substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou
modelo, sem aludidos vício. Não existindo outro de mesma espécie, marca ou modelo, aplica-se a regra do vício
de qualidade (art. 19, §1º); IV – restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos. OBS: Art. 19: a regra é a responsabilidade solidária. Exceção (art. 19, §2º):
responsabilidade do fornecedor imediato (comerciante) diante de um vício de quantidade. O fornecedor imediato
será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os
padrões oficiais.

10. Responsabilidade pelo vício do serviço no CDC (art. 20): Alternativas conferidas ao consumidor: I –
reexecução do serviço, sem custo adicional e quando cabível. Obs.: a reexecução dos serviços poderá ser confiada a
terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor (§1º); II – restituição imediata da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III – abatimento proporcional do preço.
Art. 23: a alegação de ignorância por parte do fornecedor não o exime de responsabilidade. Ou seja, é irrelevante a
apreciação da culpa do fornecedor.

11. Garantia Legal (art. 24): É a garantia de adequação do produto ou serviço ao fim a que se destina. A garantia
legal é obrigatória e independe de termo expresso.

12. Da Decadência para reclamar por vícios do produto e do serviço: Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios
aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não
duráveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis. § 1º Inicia-se a
contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. § 2º
Obstam a decadência (majoritariamente entendidas como causas de suspensão): I - a reclamação
comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa
correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; III - a instauração de inquérito civil, até seu
encerramento. § 3º Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar
evidenciado o defeito: I – 30 dias produtos e serviços são duráveis; II – 90 dias: produtos e serviços duráveis.
OBS1: Tratando-se de vício oculto o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito
(art. 26, §3º). Como se calcula isso? Qual é o critério? Se estiver dentro de sua vida útil, é possível falar em vício
oculto (critério da vida útil) RESP 760.262; OBS2: Como se sabe se um serviço é durável ou não? O critério está
relacionado à durabilidade do resultado. Ex: a detetização demorou 15 minutos, mas os efeitos demoram por meses.
Ou seja verifica-se a durabilidade do resultado e não o tempo de sua execução. OBS3: Se o vício for de fácil
constatação, ou aparente, inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do fim
da execução do serviço (art. 26, §1º).

13. Prazo prescricional para reclamar por fato do produto ou serviço (CDC art. 27). O prazo é de 05 anos,
iniciando-se sua contagem a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. ATENÇÃO: em provas, o
examinador troca a expressão “fato” por “vício”. Mistura-se decadência com prescrição. Fato do produto ou do
serviço defeituoso com prazos decadenciais. Decorre de um defeito. O prazo é de 05 anos. OBS1: RESP 575.479:
vício intrínseco que provavelmente vai dar ensejo a acidente de consumo: é possível a aplicação do art. 27.

14. Questões Polêmicas: 1) TABAGISMO. Cidadão cresceu aprendendo que cigarro é para pessoas bem sucedidas.
Depois de anos, constatou-se uma perda na capacidade respiratória. Entrou com uma reparação de danos contra
alguma das marcas que ele fumou a vida inteira. Entrou com ação com mais de 05 anos após o descobrimento.
Aplica o CDC ou o CC/1916? RESP 489.895 de 10.03.10: o prazo prescricional envolvendo a questão dos cigarros é
de 05 anos; 2) Reparação de danos decorrentes da inscrição indevida no CADIN: qual o prazo? RESP 740.061
(julgado em 02.03.10): não decorrendo do fato do serviço, isto é, acidente de consumo, inexistindo norma específica
para o caso, aplicável o CC/2002; 3) Prazo no caso de seguro de veículo. Ocorre um acidente, mas a seguradora
não paga o valor ou paga a menor. Prazo: CDC ou CC/2002 (art. 206, §1º, inciso II)? STJ: Resp 574.947/BA de
09.06.04: o não pagamento do seguro não constitui fato do serviço, mas sim inadimplemento contratual razão pela
qual se aplica o CC/2002 art. 206,§1º, II, cujo prazo é de 01 ano. STJ: Resp 842.688/SC: a ação para complementar
a indenização securitária prescreve em um ano, tendo como termo inicial a data da ciência, pelo segurado, do não
pagamento.
ITEM 6.A: Dos fatos jurídicos, dos atos jurídicos e dos negócios jurídicos.

Obras consultadas: Caio Mário da Silva Pereira. Direito Civil, volumes I, III e IV; Anotações de aulas de Cristiano
Chaves e Pablo Stolze.

Legislação básica: Código Civil, Parte Geral, Contratos em Espécie e Direitos Reais.

FATO JURÍDICO
1. Conceito. Todo acontecimento natural ou humano que deflagra efeitos na órbita do direito, criando, modificando,
conservando ou extinguindo relações jurídicas é fato jurídico.

2. Divisão. O fato jurídico em sentido amplo subdivide-se em: Fato jurídico em sentido estrito; Ato-fato; Ações
humanas.

A. Fato jurídico em sentido estrito/FATO JURÍDICO NATURAL: Ordinário e Extraordinário.


Fato jurídico em sentido estrito é todo acontecimento natural (ou seja, que independe da atuação humana) capaz de
criar, alterar ou extinguir direitos e deveres. Subdivide-se em ordinário e extraordinário.
Ordinários são aqueles esperados, previsíveis e comuns de acontecer: morte natural, nascimento, decurso do tempo
(decurso do prazo da prescrição e da decadência, p. ex.) etc.
Extraordinários são aqueles inesperados, decorrentes de caso fortuito (imprevisíveis) ou força maior (inevitáveis):
tsunami ou furação no Brasil.

B. ATO-FATO
Alguns autores resistem a essa categoria, a exemplo de Flávio Tartuce. Outros a consagram. O Código Civil de 2002
não trouxe norma específica a respeito dessa categoria, desenvolvida por Pontes de Miranda e, mais recentemente,
Marcos Bernardes de Mello.
O ato-fato traduz um comportamento gerador de efeitos jurídicos que, apesar de derivar do homem, é desprovido de
voluntariedade e consciência em face do resultado existente.
Trata-se de fato jurídico qualificado por uma atuação humana, por uma vontade não relevante juridicamente. Ou
seja: o ato humano é realmente da substância desse fato jurídico, mas não importa para a norma se houve, ou não,
intenção de praticá-lo. Ex.: compra e venda feita por crianças; alienado que pinta um quadro. Encontra-se entre o
fato natural e a ação do homem: comportamento humano que, apesar de gerar conseqüências jurídicas, é desprovido
de vontade e consciência quanto aos seus efeitos.
Convém relembrar o Enunciado 138 do CJF/STJ: 138 – Art. 3º: A vontade dos absolutamente incapazes, na
hipótese do inc. I do art. 3º, é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles
concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto.

C. AÇÕES HUMANAS/FATO JURÍGENO HUMANO/FATO JURÍDICO HUMANO


Ato jurídico em sentido amplo: Ato jurídico em sentido estrito e Negócio jurídico.
Ato ilícito  Conduta voluntária ou involuntária que está em desacordo com o ordenamento.
Parte da doutrina, a exemplo de Machado Neto, Pontes de Miranda e Venosa, enquadra o ato ilícito como integrante
do rol dos atos jurídicos. Entretanto, autores como Pablo, Flávio Tartuce, José Simão, Vicente Ráo e Zeno Veloso
argumentam que ato jurídico é toda ação humana lícita, de maneira que, ao ato ilícito, seria reservada categoria
própria. No CC/02, os atos ilícitos estão em título próprio (separados, v.g., dos negócios jurídicos), corroborando a
segunda corrente. O ato jurídico em sentido amplo subdivide-se em: ato jurídico em sentido estrito e negócio
jurídico.

C.1 Ato jurídico em sentido estrito. O ato jurídico em sentido estrito, também denominado de ato não negocial,
previsto no art. 185 do CC., traduz todo o comportamento humano voluntário e consciente gerador de efeitos
previamente determinados por lei.
Não há liberdade negocial e autonomia na escolha dos efeitos jurídicos pretendidos. Vale dizer, os efeitos de um ato
em sentido estrito são automaticamente conferidos pela lei. Ex.:
Percepção do fruto de uma árvore, gerando, automaticamente, o direito de propriedade;
Apreensão de coisa sem dono;
Ato de fixação de domicílio;
Atos de comunicação (protesto, notificação etc.). O único efeito que decorre do ato de notificar é a
comunicação.

C.2 Negócio jurídico. O negócio jurídico, por sua vez, de estrutura muito mais complexa, traduz uma declaração de
vontade, pela qual o agente, segundo a autonomia privada e a liberdade negocial, escolhe os efeitos jurídicos que
pretende alcançar. Ex.: Contrato; Testamento.
No negócio existirá sempre, em menor ou menor grau, liberdade na escolha dos efeitos jurídicos que se quer atingir.
As duas principais teorias que explicam o negócio jurídico são a voluntarista (o núcleo do negócio jurídico é a
vontade interna, a intenção do declarante; influenciou fortemente o CC/02) e a objetiva ou da declaração (o núcleo
do negócio jurídico é a vontade externa que se declara). Ocorre que as duas vontades têm que ser consideradas, o
negócio é o que se pensa e o que se declara. As teorias se conjugam. Se o que foi declarado não correspondeu ao
pensado, é porque houve um vício de vontade (erro, dolo, etc.).

Plano da existência do negócio jurídico: pressupostos existenciais ou elementos constitutivos do negócio jurídico.
São eles: manifestação de vontade (soma da vontade interna com a vontade externa que se declara), agente, objeto e
forma (oral, escrita, ou linguagem mímica).
Obs.: A forma é pressuposto de existência, mas a forma prescrita em lei é requisito de validade (negócio ad
solemnitatem); ex.: na compra e venda de imóvel de valor superior a 30 salários mínimos (atribuído pelas partes
contratantes e não o valor arbitrado pela Administração Pública, com finalidade tributária), o negócio é solene, exige
escritura pública como requisito de validade. Se a forma for exigida para prova do negócio (matéria de processo
civil), este é denominando ad probationem.
O silêncio: em regra, não traduz manifestação de vontade. Excepcionalmente, pode gerar efeitos jurídicos (art. 111
do CC).

Plano da validade do negócio jurídico: pressupostos de validade são pressupostos de qualidade do negócio
jurídico, a fim de que ele tenha aptidão para gerar efeitos, nada mais são do que os pressupostos de existência
qualificados.
Para ser válido o negócio, a manifestação de vontade tem que ser totalmente livre e de boa fé (sem os defeitos do
negócio jurídico: erro, dolo, coação moral, lesão, estado de perigo, simulação e fraude contra credores), o agente
tem que ser capaz e legitimado, o objeto tem que ser lícito (compatibilidade com a lei e com o padrão médio de
moralidade), possível e determinado (ou ao menos determinável) e a forma deve ser prescrita ou não defesa em lei.
A invalidade é gênero, a nulidade e a anulabilidade são espécies.

Plano da eficácia do negócio jurídico: os elementos que interferem na eficácia jurídica do negócio são chamados
de acidentais, porque podem ou não ocorrer. São eles: condição, termo e modo ou encargo.
Condição: acontecimento futuro e incerto que subordina a eficácia do negócio jurídico. Deve ser estipulada pelas
partes, não pode ser imposta por lei. Pode ser suspensiva ou resolutiva, não pode ser ilícita. A condição meramente
potestativa é ilícita, porque deriva do exclusivo arbítrio de uma das partes. A simplesmente potestativa também
depende da vontade de uma das partes, mas alia-se a fatores circunstanciais que a amenizam, por isso não é ilícita.
Termo: acontecimento futuro e certo que interfere na eficácia jurídica do negócio. Diferentemente da condição
suspensiva, o termo inicial suspende apenas o exercício, mas não os direitos e obrigações decorrentes do negócio.
Modo ou encargo: ônus que se atrela a uma liberalidade. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do
direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.
ITEM 6.B: Da troca, da doação, do jogo e da aposta.

DA TROCA OU PERMUTA: Historicamente, a troca foi o primeiro contrato existente, substituindo a fase da
aquisição dos bens pela força e passando a adotar a técnica do entendimento recíproco. Seu mecanismo consiste na
entrega de uma coisa por outra - rem pro re- objetivando a prestação de cada um dos contratantes uma coisa em
espécie. Foi sucedido pela compra e venda na escala do desenvolvimento humano, pois se passou a eleger valores-
paradigmas (gado, metal, moeda cunhada) ao invés da troca pelas coisas em espécie, razão pela qual a compra e
venda e a troca andam de forma parelha. Inclusive, no Direito Romano, para os proculeianos, a permuta era uma
espécie de compra e venda.
Assim, pode-se definir a troca ( permuta, escambo ou barganha) como o contrato mediante o qual uma das partes se
obriga a transferir à outra uma coisa, recebendo em contraprestação coisa diversa, diferente de dinheiro. Seus
caracteres são os mesmos da compra e venda ( bilateral, oneroso, comutativo, translatício do domínio, embora não a
opere diretamente (depende da tradição), consensual.
Especificidades:
a- é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem o consentimento expresso dos
demais descendentes e do cônjuge do alienante, salvo se casado no regime de separação absoluta de bens.
b- cada um dos contratantes deve pagar por metade as despesas com o instrumento da troca, ao contrário da compra
e venda, na qual se presume que as despesas da escritura ficam à conta do comprador e as da tradição sob
responsabilidade do vendedor.
obs:. Quando são desiguais os valores dos bens permutados e há uma torna em dinheiro, surge controvérsia sobre a
natureza do contrato: objetivista- cogita dos valores e considera que será troca ou compra e venda se a coisa tiver
maior valor do que o saldo ou vice-versa; subjetivista: dá relevância à intenção das partes e considera troca ou venda
o contrato se as partes tiveram o propósito de realizar uma ou outra. Terceira corrente, predominante na França, é
mais eclética, conjugando os elementos anímico e material.

DA DOAÇÃO
CONCEITO (ART. 538, CC)
Nos termos do art. 538 do CC, doação é liberalidade. Em verdade, a doação é a soma de dois elementos: um
objetivo e outro subjetivo. Ela consiste na transferência de patrimônio ou vantagens (elemento objetivo), por
vontade/intenção de praticar a liberalidade (elemento subjetivo).
A simples ausência de um desses elementos (objetivo/subjetivo) descaracteriza a doação. O art. 538 do CC-02
confirma isso.

CLASSIFICAÇÃO
-.Contrato solene (Mas atente: existe apenas uma hipótese em que o contrato de doação deixa de ser solene e passa a
ser real. É o caso que vem previsto no parágrafo único do art. 541, denominada doação manual, consistente na
doação verbal de bens móveis de pequeno valor, seguida da tradição.)
. Contrato unilateral
.Contrato gratuito
Muita atenção: não incidem, no contrato de doação, vícios redibitórios e evicção. O doador não responde por tais
eventos, por um motivo muito simples: se ele respondesse, estaríamos impondo uma responsabilidade pela prática
de ato meramente gratuito. Há duas exceções, dois casos em que o doador responde por vícios redibitórios e
evicção:
a) Doação remuneratória (doação em contrapartida da prestação de serviços não exigíveis);
b) Doação contemplativa de casamento futuro.

PROMESSA DE DOAÇÃO
O STJ já admite a promessa de doação. Ela é algo bem comum, trazendo consigo inúmeros casos. Ex.: dissolução de
união estável ou divórcio consensual (é muito comum o ajuste de que o patrimônio comum ficará para o filho,
havendo recusa posterior). Com o advento do art. 462/463 do CC, que trata de contrato preliminar, é possível
enquadrar, com perfeição, a promessa de doação como contrato preliminar, gerando, portanto, tutela específica.

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO CONTRATO DE DOAÇÃO


São 4 os elementos constitutivos do contrato de doação: sujeito, objeto, consentimento e forma. Estes 4 elementos
componentes do contrato de doação precisam ser analisados com calma:
A. Sujeito. O sujeito que assume obrigações no contrato de doação (o doador) deve ser pessoa capaz. O
menor/incapaz somente pode realizar doação com autorização judicial. Ex.: doação de bem pertencente a filho
menor. Um pai não pode doar bem pertencente ao filho menor. Um curador também não pode doar bem pertencente
ao curatelado.
Além da capacidade do doador, em determinados casos, exige-se também legitimação, consistente em uma
capacidade específica. Ex.: consentimento do cônjuge, necessário para a alienação ou doação de bens imóveis, ainda
que o bem não integre a meação (pois, mesmo que o imóvel esteja fora do patrimônio comum, remanesce o direito
aos frutos e à herança. Somente se dispensa o consentimento no regime de separação absoluta, ou seja,
convencional, nos termos do art. 1.647). Outro ex.: autorização judicial para a doação de bem de incapaz.
O donatário, por outro lado, não precisa ser pessoa capaz. A maior prova disso está no art. 542 que dispõe que a
doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal.
Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal.
O CC-02 obsta a que a doação seja feita a determinadas pessoas. São proibidos de receber doação:
a) A concubina, sob pena de anulabilidade, no prazo de até 2 anos, contados do término da sociedade
conjugal;
b) Tutor e curador estão proibidos de receber doação do tutelado e curatelado, sob pena de nulidade.
B. Objeto. A doação tem como objeto todo e qualquer bem economicamente apreciável. Não se admite a doação
sobre:
a) Bens personalíssimos (não têm natureza econômica);
b) Herança de pessoa viva – vedação ao pacta corvina (art. 426);
c) Bens futuros (não se pode doar bens que não pertençam ao doador).
Veja, pois, que, embora a venda a non domino seja plenamente aceitável, não é possível a doação a non domino (o
objeto não pode ser futuro).
C. Mútuo consentimento. A doação exige aceitação do donatário/beneficiário, não se aperfeiçoando enquanto ela
não for manifestada. Ela pode ser:
1) Expressa  Havendo manifestação de vontade, essa aceitação será expressa.
2) Tácita  Em alguns casos não há manifestação de vontade, podendo ocorrer a chamada aceitação
tácita, que consiste numa aceitação comportamental.
3) Presumida  Além da aceitação expressa e da tácita, fala-se ainda na aceitação presumida, que
ocorre no silêncio do donatário, sendo inadmitida nas doações onerosas. Isso ocorre nas chamadas doação por prazo
(art. 539).
4) Ficta  Ficta é a aceitação automática, que ocorre em favor do incapaz (art. 543).
Obs.: até a aceitação, a doação pode ser revogada. Depois da aceitação, ela se torna irrevogável e irretratável.
D. Forma. Com exceção da doação verbal, toda doação deve ser sempre por escrito, seja por instrumento público,
seja por instrumento particular (art. 541).

SITUAÇÕES ESPECIAIS DE DOAÇÃO


A. Nulidade da doação universal (art. 548)
Dispõe o art. 548 que é nula a doação universal, ou seja, a doação de todos os bens, sem reserva de parte ou renda
para a subsistência do doador. Ou seja: ninguém pode doar a integralidade do seu patrimônio.
A jurisprudência também entendido que o doador que tem renda mensal (ex.: aposentadoria) poderá doar a
integralidade de seu patrimônio.
B. Doação inoficiosa (art. 549).
Também é nula a doação da parte que exceder a legítima. Este dispositivo objetiva proteger o núcleo familiar. A
nulidade, neste caso, atingirá somente sobre a parte que exceder a legítima. Naquilo que não exceder a legítima, não
há nulidade.
Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade,
poderia dispor em testamento.
C. Doação para entidade futura (art. 554)
D. Doação com cláusula de reversão (art. 547)
E. Doação conjuntiva (art. 551)
F. Doação remuneratória
Doação remuneratória é aquela feita na retribuição/contraprestação de serviços prestados sem exigibilidade.
Exemplo maior é a gorjeta dada ao garçom. Essa doação tem dois detalhes importantíssimos:
a) Admite vícios redibitórios;
b) Não admite revogação.
G. Doação de ascendente para descendente (art. 544)
H. Doação contemplativa (art. 540)
I. Doação onerosa
Entende-se por doação onerosa a doação com encargo. Ela possui um regime específico/próprio.
A doação pode ser pura e simples, mas também pode ser submetida a elemento acidental. Se a doação for pura e
simples, a sua eficácia é imediata. Já a doação com elemento acidental pode ser condicional, a termo ou modal.
Se a doação está submetida a uma condição, essa condição poderá ser suspensiva ou resolutiva. Se a condição é
suspensiva, enquanto ela não for implementada, não há a aquisição, nem o exercício de direitos.
Se a condição está submetida a termo e o termo é final, seguir-se-ão as regras da condição resolutiva. Se o termo é
inicial, enquanto ele não advier, há a aquisição do direito, embora não haja o seu exercício.
O encargo, por fim, é uma contraprestação imposta em negócio oneroso. O descumprimento de um encargo não
afeta nem a aquisição nem o exercício (há a aquisição e há exercício de direitos). A conseqüência do seu não
cumprimento é a execução do encargo. Considerando que a contraprestação pode ser feita em favor do próprio
doador, de terceiro ou da coletividade, a legitimidade para promover a execução do encargo é do próprio doador, de
seus herdeiros (se ele morreu), do beneficiário, de seus herdeiros (se o beneficiário morreu) e do Ministério Público
(quando o beneficiário é a coletividade).
Realizada a execução do encargo, força-se o donatário/beneficiário a cumpri-lo. Mas não vamos esquecer que
caberá a ação de revogação da doação por descumprimento de encargo se a execução não surtir efeitos. Essa ação é
personalíssima, sendo ajuizada apenas pelo doador.
Veja, pois, que, de ordinário, o descumprimento do encargo não gera a revogação da doação.

REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO
De ordinário, a doação é irrevogável e irretratável. Logo, causa um pouco de estranheza falar de “revogação” da
doação.
É possível falar em revogação da doação apenas em determinados casos. Tecnicamente, nestas situações, não há
revogação (que significa voltar atrás), mas sim desconstituição do ato (cassação de seus efeitos), o que se faz pela
via judicial.
A revogação da doação, no CC-02, pode ocorrer por dois diferentes motivos:
a) Descumprimento de encargo;
b) Ingratidão do donatário.
A revogação da doação por descumprimento de encargo se dará quando o encargo não foi cumprido. Evidentemente,
essa revogação pressupõe mora do donatário, que não cumpre o encargo no prazo. Não havendo prazo, o juiz
assinalará prazo razoável. O CC-02 não contemplou prazo extinto para o ajuizamento de ação de revogação por
descumprimento do encargo, o que levou parte da doutrina a entender que ele seria de 1 ano (mesmo prazo da
revogação por ingratidão do donatário). O STJ, contudo, entendendo que essa ação tem natureza condenatória
(condenada o donatário à perda do bem) decidiu que este prazo é prescricional, de 10 anos.
A revogação da doação por ingratidão do donatário, prevista no art. 559 do CC, não se aplica em qualquer doação.
Com efeito, dispõe art. 564 que não admitem essa revogação:
 As doações puramente remuneratórias;
 As oneradas com encargo já cumprido;
 As doações feitas em cumprimento de obrigação natural;
 As feitas em contemplação de casamento futuro.
Todas as demais hipóteses de doação admitem revogação por ingratidão.
Com efeito, a ação de revogação por ingratidão do donatário também é personalíssima, estando sujeita ao prazo
decadencial de 1 ano, nos termos do art. 559 do CC-02. Embora seja ação personalíssima, por óbvio, se o doador
falece, os seus herdeiros podem dar continuidade à ação já proposta.
Dispõe o art. 561 do CC-02 que, “no caso de homicídio doloso do doador, a ação caberá aos seus herdeiros, exceto
se aquele houver perdoado”. Esse dispositivo é ridículo, pois não há como um morto perdoar alguém.
As quatro hipóteses de revogação da doação por ingratidão, previstas no art. 557, são:
 Homicídio doloso, consumado ou tentado, praticado pelo donatário contra o doador;
 Ofensa física;
 Injúria grave;
 Abandono material.
Ampliando esse rol, o art. 558 dispõe que também haverá ingratidão quando o ofendido for o cônjuge, companheiro,
ascendente, descendente ou irmão do doador. Pergunta-se: existem outras hipóteses de ingratidão ou o rol
apresentado pelo CC é exaustivo?
O rol pode ser ampliado, para considerar outras hipóteses que tenham a mesma finalidade. Ex.: o juiz pode revogar a
doação por ingratidão por auxílio, induzimento ou instigação ao suicídio. Aplica-se aqui a tese da tipicidade
finalística.

DO JOGO E DA APOSTA: os dois contratos são tratados conjuntamente pelo Código, em atenção ao elemento
comum, que é o azar ou álea essencial. Devem, contudo, distinguir-se: jogo é o contrato em que duas ou mais
pessoas prometem, entre si, pagar certa soma àquele que lograr um resultado favorável de um acontecimento
incerto; APOSTA é o contrato em que duas ou mais pessoas prometem, entre si, pagar certa soma àquele cuja
opinião prevalecer em razão de um acontecimento incerto. Ou seja, no jogo há propósito de distração ou ganho e
PARTICIPAÇÃO DOS CONTENDORES; na aposta há o sentido de uma afirmação a par de uma atitude de mera
expectativa.
Com efeito, as dívidas resultantes do jogo ou da aposta não são exigíveis. Pago o valor, não é cabível a restituição
(obrigação natural). Porém, existem duas exceções: primeira, fundada no dolo do ganhador, que não obtém da sorte
o resultado, mas sim de artifício empregado; a segunda, se o perdente for menor ou interdito.
ITEM 6.C: Do direito de superfície, da enfiteuse, das servidões, do uso e da habitação.

ENFITEUSE (emprazamento ou aforamento)


A. Introdução. “A enfiteuse pode ser conceituada como sendo o arrendamento perpétuo, pelo enfiteuta ou
foreiro, de terras não cultivadas, terrenos destinados à edificação ou terrenos de marinha, mediante o pagamento
de um foro ou cânon anual e invariável (art. 678, CC-26)” (Flávio Tartuce). Se não for perpétuo o negócio
celebrado, estamos diante de mero arrendamento do direito obrigacional, sem natureza real (simples contrato). No
passado, o objetivo da enfiteuse era estimular a ocupação de terrenos não utilizados para evitar eventual invasão
ou improdutividade. Exatamente por isso a lei imitava a constituição de enfiteuses sobre terras não cultivadas ou
terrenos destinados à edificação (art. 680, CC-16). Em fins do século XX e início do século XXI o instituto perdeu
seu interesse prático, revelando-se arcaico e criticado pela doutrina, perdendo espaço para os contratos, caso da
locação.
B. Características. A enfiteuse é o mais amplo dos direitos reais sobre coisas alheias, porque o enfiteuta pode
usar, fruir, dispor e reivindicar o bem, transmitindo a enfiteuse por ato inter vivos ou causa mortis. Na morte do
enfiteuta, seus herdeiros recebem os direitos sobre o bem, justamente por ser ela perpétua. Em havendo enfiteuse, o
domínio se divide em duas partes:
(i) Domínio útil  Fica nas mãos do enfiteuta, que tem a posse direta da coisa. Seu domínio é útil, pois pode
usar o bem, receber seus frutos, alugá-lo ou emprestá-lo.
(ii) Domínio direto  O senhorio conserva consigo o domínio direto, o que não se confunde com a posse
direta. Na realidade, o proprietário do bem fica apenas com o titulo e é chamado de senhorio.
A enfiteuse entre particulares, quando criada, deveria ser registrada junto ao Cartório de Registro de Imóveis, para
garantir sua eficácia erga omnes. O atual CC-02 proíbe a instituição de novas enfiteuses e subenfiteuses, atendendo
aos reclamos e críticas doutrinárias (art. 2.038), permanecendo apenas aquelas já existentes
C. Deveres e direitos específicos do enfiteuta. São deferes do enfiteuta ou foreiro:
1) Dever de pagar anualmente uma pensão fixa e invariável denominada foro ou cânon (art. 679, CC-16)
2) Dever de pagar os impostos e os ônus reais que gravarem o imóvel (art. 682, CC-16)
Obs.: ainda que o bem enfitêutico tenha como senhorio a União, que goza de certa imunidade tributária, o enfiteuta
desta não se beneficia (STJ, REsp 267.099/BA).
1) Dever de pagar o laudêmio em caso de alienação onerosa do bem, como nos casos de sua venda ou doação
em pagamento (art. 686 do CC-16)
Cristiano Chaves alerta: no §1º do art. 2.038, o CC-02 dispõe que, nas enfiteuses ainda existentes, é proibida a
cobrança de laudêmio. Logo, o enfiteuta pode alienar (dispor) de sua enfiteuse, sem a necessidade de pagar o
laudêmio ao senhorio. Atualmente, somente é exigível o laudêmio se o enfiteuta quiser exercer o resgate (o
laudêmio decorrente do resgate continua devido).
Flávio Tartuce, em sentido contrário, entende que o que o CC-02 proíbe é a cobrança de laudêmio sobre o valor de
construções ou plantações, podendo ser cobrado sobre o valor do terreno, mas sem o cômputo das acessões e
benfeitorias realizadas pelo enfiteuta.
Art. 2.038. Fica proibida a constituição de enfiteuses e subenfiteuses, subordinando-se as existentes, até sua
extinção, às disposições do Código Civil anterior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916, e leis posteriores. § 1º
Nos aforamentos a que se refere este artigo é defeso: I - cobrar laudêmio ou prestação análoga nas transmissões de
bem aforado, sobre o valor das construções ou plantações; II - constituir subenfiteuse. § 2º A enfiteuse dos terrenos
de marinha e acrescidos regula-se por lei especial.
1) Dever de não dividir os bens em glebas, sem a devida autorização do senhorio (art. 681, CC-16);
2) Dever de escolher o cabecel (art. 690 do CC-16)
3) Dever de avisar o senhorio quando doar, der em dote ou trocar por coisa não fungível o prédio aforado
(688);
4) Direito de resgate;
5) Direito de abandonar o bem;
6) Direito de instituir sub-enfiteuse e co-enfiteuses etc.
D. Direito recíproco de preferência. Nos casos de alienação onerosa do bem aforado – venda ou dação em
pagamento -, deve o foreiro dar preferência ao senhorio, que terá 30 dias para exercê-lo, sob pena de decadência. O
mesmo dever tem o senhorio em caso de alienação do domínio direto. Este direito não existe no caso de enfiteuse
envolvendo direito público.
E. Peculiaridades das enfiteuses de terras públicas ou de terrenos de marinha. As enfiteuses de terras públicas e
de terrenos de marinha estão regidas pelo Direito Administrativo, pelo Dec-lei 9.760/46. Vejamos as suas
características.
 Reajuste do foro: no CC o valor do foro/cânon é certo e invariável; na enfiteuse de terras públicas, ele é
reajustável. Nos bens enfitêuticos pertencentes à União, o foro é de 0,6% do valor do domínio pleno, que será
anualmente atualizado (art. 101 do Decreto-Lei 9.760/46).

68
 Não permite o resgate (aquisição do bem sobre o qual pairava a enfiteuse), afinal há inalienabilidade do bem
público;
 Exige prévio consentimento da União para alienação da enfiteuse.
 Se o enfiteuta deixar de pagar o foro por 3 prestações seguidas ou 4 intercaladas, ocorre a caducidade de terra
publica (comisso). A União tem o dever de notificar o enfiteuta para que possa purgar a mora e revigorar a enfiteuse,
como já decidiu o STJ em 2003.
F. Formas de constituição. A enfiteuse pode ser criada:
1) Por negócio jurídico entre as partes (inter vivos ou causa mortis);
2) Por usucapião (obs.: é possível a usucapião de enfiteuse de terra pública, pois, neste caso, a propriedade do
Estado se mantém.).
G. Objeto. A enfiteuse tem por objeto terras incultivas e terrenos para edificação.
É possível o chamado regime de co-enfiteuse, quando ela é constituída em favor de duas ou mais pessoas (espécie
de condomínio de enfiteuse). Em se tratando de regime de co-enfiteuse, os co-enfiteutas devem eleger um cabecel,
que consiste no administrador da enfiteuse.
Obs.: é nos Juizados Especiais cíveis que se fixa a competência para dirimir conflito no que diz respeito à eleição
do cabecel. Se os co-enfiteutas não o elegerem, a sua indicação passará para o senhorio.
H. Duração. A enfiteuse é perpétua e, conseqüentemente, não se extingue com a morte do foreiro. Morrendo o
foreiro, a enfiteuse é passada aos seus herdeiros. Mas veja: a única exceção a essa regra está no art. 692, III do
Código Civil de 19216: caso o foreiro que morreu não tenha deixado sucessores, abrir-se-á o procedimento de
herança jacente (ou vacante), parando a enfiteuse nas mãos do Poder Público. Neste caso, em razão da
inalienabilidade dos bens públicos, a morte do enfiteuta sem deixar sucessor implica em extinção da enfiteuse (seria
impossível ao senhorio consolidar a sua propriedade).
Também pode haver a extinção da enfiteuse pelo comisso, que ocorre com a paralisação do pagamento do foro
anual por 3 anos consecutivos.
A Súmula 122 do STF estabelece que “o enfiteuta pode purgar a mora enquanto não decretado o comisso por
sentença”. Conseqüentemente, o comisso só pode ser reconhecido por decisão judicial. Nestes casos, o foreiro ou
enfiteuta tem direito de indenização por benfeitorias necessárias que introduziu no imóvel.
É possível visualizar a extinção ainda nos seguintes casos:
 Desapropriação;
 Resgate;
 Etc.

SERVIDÃO PREDIAL
A. Introdução. A servidão predial é expressão que deriva do latim “servidus”, que significa prestação de serviços,
utilidade. A servidão nada mais é do que uma utilidade, ou seja, uma prestação de serviços de um prédio em relação
ao outro.
Em palavras muito claras, servidão predial é o direito real na coisa alheia através do qual um prédio (um imóvel)
sofre uma restrição para gerar um benefício, uma utilidade, para outro prédio.
Entende-se por “prédio” um imóvel, que pode ser, v.g., uma casa. Em toda servidão predial há dois prédios
envolvidos:
 Prédio dominante  É aquele que recebe a vantagem;
 Prédio serviente ou dominado  É aquele que sofre a restrição.
Uma das mais comuns servidões é a servidão de passagem (comumente usucapida nas cidades do interior).
Temos ainda: servidão de águas, de luz etc. Muita atenção: não confundir servidão com direito de vizinhança:
Direito de vizinhança Servidão
Consiste em limitações ao direito de propriedade, Cuida-se de benefício de um prédio em relação ao
sempre em favor da coletividade. outro.
As limitações são recíprocas. Inexiste reciprocidade.

B. Características da servidão predial


1) A servidão representa um gravame de um prédio em favor de outro prédio. Ou seja: ela não é constituída em
favor de pessoas, mas sim em favor de prédios.
2) A servidão é inalienável, justamente porque não pertence ao titular, e sim ao prédio. Ela não pode ser objeto de
hipoteca, alienação fiduciária etc. Contudo, se o prédio for alienado, a servidão o acompanha.
3) Só haverá servidão se os prédios pertencerem a titulares distintos. Se ambos os prédios pertencem ao mesmo
titular, não há necessidade de estabelecer a restrição de um em favor do outro. Se o titular pretende alienar um dos
prédios, nada impede que ele constitua a servidão exatamente no ato de alienação. Assim, se uma mesma pessoa
passa a ser proprietária dos dois prédios, extingue-se a servidão, que dá lugar a uma mera serventia, relação
puramente obrigacional (e não direito real).

69
4) A servidão representa um benefício para o prédio e não para o titular. Não há servidão se o benefício é
pessoal.
5) Toda servidão é perpétua (perpetuidade). Ela estabelece para o prédio serviente uma obrigação propter rem,
aderindo à coisa (se o prédio for alienado, a servidão o acompanhará).
C. Modos de constituição. A servidão pode ser adquirida de múltiplas formas:
1) Através de negócio jurídico (vontade das partes), seja ele inter vivos ou causa mortis (testamento).
2) Pela usucapião.
3) Por sentença (decisão judicial). O juiz pode constituir a servidão. Como exemplo, temos a chamada ação de
divisão, prevista no art. 979, II do CPC:
A ação de divisão serve para dividir um condomínio, caso o bem seja divisível. Nesta ação, o juiz pode instituir uma
servidão, para que uma parte não fique prejudicada em relação à outra. Neste caso, se o prédio está encravado – não
tendo acesso algum à via pública – o caso não será de servidão, mas sim passagem forçada. Convém lembrar que
todos os direitos de vizinhança geram responsabilidade objetiva.
D. Espécies de servidão. As servidões se classificam em três critérios: positivas/negativas; contínuas/descontínuas;
aparentes/não-aparentes.
i. Servidões positivas e servidões negativas
l As servidões positivas são aquelas que conferem ao titular (prédio dominante) o poder de praticar algum ato no
prédio dominado. Ex.: servidão de trânsito e servidão de aqueduto.
l De outro lado, as servidões negativas são aquelas que impõem ao prédio serviente (dominado) uma abstenção
em relação à prática de um ato que lhe seria lícito e possível. Ex.: servidão de proibição de abertura de janela. Obs.:
nos artigos 1.301 e 1.303, o CC proíbe a abertura de janela, terraço, eirado ou varanda, a menos de 1,50m da zona
urbana e 3m, na zona rural. Cuida-se de direito de vizinhança, com deveres recíprocos, e não servidão, pois não é
lícito a ninguém violar estas normas.
Nenhuma servidão negativa pode violar direitos fundamentais. Não poderá, por exemplo, limitar ou proibir a prática
de um direito que seja fundamental.
ii. Servidões contínuas e descontínuas
l As servidões contínuas são aquelas que dispensam ato humano para o ser exercício. Ex.: servidão de
escoamento (a natureza materializa a servidão); servidão de passagem de água; servidão de luz.
l Descontínua, por sua vez, é a servidão cujo exercício depende de ato humano. Ex.: servidão de trânsito; servidão
de tirada de água; servidão de não construir acima de determinado andar.
iii. Servidões aparentes e não aparentes
l As servidões aparentes são aquelas visíveis por obras/sinais externas. Ex.: servidão de aqueduto.
l As não-aparentes são aquelas que não possuem sinal exterior (são imperceptíveis por sinal exterior). Ex.:
servidão de proibição de construção acima de determinado andar.
Somente para as servidões aparentes é permitido o uso de ações possessórias, já que somente elas são
suscetíveis de posse. Merece atenção a Súmula 415 do STF: uma servidão de trânsito visível por sinais externos
(reforço de uma ponte, realização de obra para passagem de pneus etc.) é considerada aparente, possuindo proteção
possessória.
STF Súmula nº 415 - Servidão de trânsito não titulada, mas tomada permanente, sobretudo pela natureza das obras
realizadas, considera-se aparente, conferindo direito à proteção possessória.
Merece atenção, neste ponto, a teoria do ato ilícito, aplicável às servidões. Com efeito, se o prédio dominante retira
mais do que o contrato lhe permite, pratica um ato ilícito. Indaga-se: esse ilícito é objetivo ou subjetivo? Depende.
Ex. trazido por Silvio Rodrigues: na servidão de retirada de água (acertada em até 10 litros diários), se o dominante
retira 15 litros num dia, pratica ato ilícito subjetivo. Se, por outro lado, retira 8 litros, quando lhe eram necessários
apenas 5 litros, pratica ato ilícito objetivo (abuso de direito)
E. Tutela processual das servidões. A mais comum e efetiva forma de proteção à servidão é o uso das ações
possessórias. Todavia, no campo das servidões, há duas ações específicas:
 Ação confessória  Cuida-se de ação promovida pelo prédio dominante, para que o juiz declare que a servidão
existe;
 Ação negatória  É aquela promovida pelo prédio dominado, para que o juiz reconheça que a servidão não
existe, ou se extinguiu.
F. Extinção. Ocorre nos seguintes casos:
 Não exercício da servidão pelo prazo de 10 anos implica na sua extinção. Se o prédio dominado pratica o ato
que se comprometeu a não realizar, e o dominante não se manifesta em 10 anos, haverá extinção do direito real.
 Cancelamento da servidão. Mas atente: se o prédio dominante estiver hipotecado, e a servidão for mencionada
no título hipotecário, será também preciso, para cancelar, o consentimento do credor.
 Desapropriação;
 Renúncia;
 Cessação da utilidade ou comodidade que determinou a constituição.
 Resgate;
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 Reunião dos dois prédios no domínio da mesma pessoa;
 Supressão das respectivas obras por efeito de contrato ou de outro título expresso.

DIREITO REAL DE SUPERFÍCIE


A. Introdução. O direito real de superfície possui origem lusitana, tendo sido acolhido, originariamente, no art. 21
do Estatuto da Cidade. Mais tarde, o Código Civil de 02 acolheu este instituto no seu art. 1.369.
Pergunta-se: com o advento do Código Civil, o Estatuto da Cidade ficou revogado neste tema? NÃO. Essa
resposta vem do Enunciado 93 do CJF: não houve revogação, pois o Estatuto da Cidade é lei especial. Logo, o
direito de superfície está atualmente regulado em dois diplomas:
93 – Art. 1.369: As normas previstas no Código Civil sobre direito de superfície não revogam as relativas a direito
de superfície constantes do Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257/2001) por ser instrumento de política de
desenvolvimento urbano.
 Direito de superfície em zona urbana: é regulado, de forma genérica, pelo CC-02 e, de forma específica, pelo
Estatuto da Cidade.
 Direito de superfície em zona rural: é regulado inteiramente pelo CC-02
B. Função social da propriedade. Valorizando-se a construção e a plantação no solo – que cumprem a função
social da propriedade – foi criado o direito real de superfície. Este direito real procura incentivar a construção e
plantação, que implicam na funcionalização do solo.
C. Conceito. Cuida-se do direito concedido a um terceiro de usar a superfície da propriedade de outrem para fins de
construção ou plantação. Em outras palavras, é o direito através do qual um terceiro cumpre a função social,
utilizando a superfície da propriedade de outrem. Com isso, o proprietário é beneficiado, eis que se evitam algumas
sanções previstas em lei, tais como: IPTU progressivo, edificação compulsória, desmembramento compulsivo.
Art. 1.369. O proprietário pode conceder a outrem o direito de construir ou de plantar em seu terreno, por tempo
determinado, mediante escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo
único. O direito de superfície não autoriza obra no subsolo, salvo se for inerente ao objeto da concessão.
D. Características
1) Na medida em que só é constituído sobre bens imóveis, o direito de superfície exige sempre registro.
2) Além disso, este direito pode ser gratuito ou oneroso, a depender da vontade das partes. O art. 1.370 do CC
estabelece uma regra: a gratuidade é presumida, de modo que a onerosidade deve ser expressa.
Escolhida a onerosidade, as partes podem escolher pelo pagamento de uma só vez ou em prestações periódicas.
Neste último caso (prestações periódicas), cada prestação devida é denominada solarium.
1) Em regra, quem responde pelos encargos da coisa é o superficiário. Todavia, como bem sedimentou o
Enunciado 94 do CJF, nada impede que as partes pactuem de forma distinta.
94 – Art. 1.371: As partes têm plena liberdade para deliberar, no contrato respectivo, sobre o rateio dos encargos e
tributos que incidirão sobre a área objeto da concessão do direito de superfície.
1) O direito de superfície pode ser constituído de forma temporária (prazo determinado) ou não, a depender da
vontade das partes. É muito importante saber se a superfície é ou não temporária, para fins de restituição do bem.
Veja:
Art. 1.372. O direito de superfície pode transferir-se a terceiros e, por morte do superficiário, aos seus herdeiros.
Parágrafo único. Não poderá ser estipulado pelo concedente, a nenhum título, qualquer pagamento pela
transferência.
a. Se o direito de superfície foi estipulado sem prazo, o art. 397 do CC exige interpelação (judicial ou
extrajudicial). Ou seja: o proprietário somente pode exigir a coisa se constituir o superficiário em mora.
b. Se o prazo for determinado, é dispensada a interpelação.
Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o
devedor. Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.
1) Constituído o direito de superfície, o superficiário passa a ser titular das construções e plantações, enquanto
perdurar aquele direito. O proprietário continua titular do registro, embora não tenha a superfície. Diante disso, duas
conclusões se impõem:
a. O superficiário pode dar a superfície em garantia (já que é seu titular), enquanto perdurar o seu direito.
Nesse sentido, dispõe o Enunciado 249 do CJF.
b. O direito de superfície gera relação de preferência (direito de preferência), com regra recíproca. Tanto
o superficiário quanto o proprietário têm direito de preferência. Vale dizer: se o superficiário resolve alienar as suas
construções e plantações, terá preferência o proprietário; se o proprietário resolve alienar o imóvel, terá preferência
o superficiário.
CC. Art. 1.373. Em caso de alienação do imóvel ou do direito de superfície, o superficiário ou o proprietário tem
direito de preferência, em igualdade de condições.
1) Conforme dispõe art. 1.371, o superficiário responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel.

71
2) Extinto o direito de superfície, as construções e plantações nela existentes passam a pertencer ao
proprietário, salvo disposição em contrário. Isso estimula as pessoas a celebrarem contrato de superfície gratuito
(além de evitar as sanções pelo não atendimento da função social da propriedade).
3) Alguns autores enxergam que o Estatuto da Cidade, implicitamente, estaria permitindo um desdobramento do
direito de superfície chamado de sobrelevação. Sobrelevação é o direito de superfície do espaço aéreo (direito de
laje).
4) O CC-02 estabelece que as regras do direito de superfície também se aplicam às pessoas jurídicas de direito
público. Mesmo quando envolvendo pessoa jurídica de direito público, são aplicadas as regras.
5) Art. 1.374. Antes do termo final, resolver-se-á a concessão se o superficiário der ao terreno destinação diversa
daquela para que foi concedida.
6) Art. 1.376. No caso de extinção do direito de superfície em conseqüência de desapropriação, a indenização cabe
ao proprietário e ao superficiário, no valor correspondente ao direito real de cada um.

USO E HABITAÇÃO
A. Introdução. Uso e habitação não são outra coisa, senão um usufruto com finalidade específica (usufruto em
miniatura). Obs.: família aqui não está em sentido biológico, mas sim em sentido afetivo. Com isso, no conceito de
família para fins de uso e habitação, estão inseridos até os empregados do lar. No uso e na habitação, são
transferidas utilidades/vantagens específicas para a manutenção do núcleo familiar. Embora o usufruto possa ser
instituído em favor de pessoa jurídica, o uso e a habitação jamais poderão ser assim estipulados (pessoa jurídica não
pode ser beneficiada), já que visam à manutenção do núcleo familiar.
B. Características. O uso e a habitação devem ser regulados com as mesmas características do usufruto. Assim:
1) Se o usufruto é personalíssimo, o uso e a habitação também são;
2) Se o usufruto pode ser adquirido por usucapião, o uso e a habitação também podem ser. Neste sentido, cf.
Súmula 193 do STJ, que admite a usucapião de uso de linha telefônica: “o direito de uso de linha telefônica pode
ser adquirido por usucapião.”.
3) Nos termos do art. 1.831, o direito real de habitação é o direito que tem o cônjuge sobrevivente de continuar
residindo no imóvel particular único que servia de lar para o casal. Cuida-se de direito vitalício.
Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da
participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência
da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar.
Se o falecido tiver filhos menores (com outra mulher), não poderão reivindicar a coisa para morar, já que o direito
real de habitação é vialício e oponível erga omnes. A viúva só perde quando morrer. O art. 1831 trata do direito real
de habitação em relação ao cônjuge, ficando a dúvida em relação ao companheiro sobrevivente. Com efeito, de
acordo com o art. 7º da Lei 9.278/96, o companheiro sobrevivente também dispõe de direito real de habitação.
Só há um detalhe: o direito real de habitação do companheiro sobrevivente é vitalício condicionado, pois ele(a)
somente terá este direito real enquanto não constituir outra família. Caso case de novo ou constitua união estável,
extingue-se o direito real de habitação.

Direito de habitação do
Direito real de habitação do cônjuge
companheiro
É vitalício condicionado (enquanto
É vitalício
constituir outra família).
Obs.: o
credor
anticrético
pode, salvo
pacto em
Trata-se de direito real de garantia sobre bem sentido
Anticrese Máximo de 15 anos
frugívero contrário,
arrendar os
bens dados
em
anticrese a
terceiro
Obs.:
Direito real na coisa alheia de garantia sobre
Penhor Perpétuo admite-se o
bem móvel
subpenhor
Hipoteca Direito real de garantia sobre bem imóvel Máximo de 20 anos Obs.: a
coisa pode
ser
72
alienada.
No SFH,
exige-se
consentime
nto do
credor.
Admitem-
se
hipotecas
de
diferentes
graus.
Gera
Alienação Direito real de garantia que permite a circulação patrimônio
Duração do contrato
fiduciária de bens de
afetação.
Pode ser
repassado,
com direito
Enfiteuse Arrendamento perpétuo Perpétua
de
preferência
.
Direito real que gera utilidade em um prédio É
Servidão predial Perpétua
dominante, e um ônus ao serviente inalienável.
Pode ser
alienado,
Direito real concedido a terceiro para superfície
mas há
Superfície da propriedade de outrem para fins de Pode ser temporária ou não.
direito de
construção ou plantação.
preferência
.
Não admite
alienação.
É
personalíss
Temporário:
Direito real que permite ao terceiro retirar as imo.
Usufruto P. física: vitalício
vantagens, as utilidades produzidas por um bem Não se
P. jurídica: 30 anos
admite
usufruto de
primeiro
grau.
Não admite
alienação,
locação,
Usufruto com finalidade específica de arrendame
Uso e habitação É temporário.
manutenção da entidade familiar nto etc.
É
personalíss
imo.

73
ITEM 7.A: Da prescrição e da decadência, do enriquecimento ilícito e do pagamento indevido.
Obras consultadas:
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 16 ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2006;
CUNHA, Leonardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. São Paulo: Dialética, 2010; DUARTE, Nestor.
Código Civil Comentado. Coordenação de Cezar Peluso. Barueri: Manole, 2011; FARIAS, Cristiano Chaves de.
ROSENVALD, Nelson. Direito Civil. Teoria Geral. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008; JR., Hamid Charaf Bdine.
Código Civil Comentado. Coordenação de Cezar Peluso. Barueri: Manole, 2011; NEVES, Gustavo Kloh Muller.
Prescrição e Decadência no Código Civil. In: TEPEDINO, Gustavo (Coord.). A Parte Geral do Novo Código Civil.
2 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003; PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. I. 19 ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1998; VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Vol. I. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003; VENOSA,
Sílvio de Salvo. Direito Civil. Vol. II. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2002; TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil.
Volume único. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Método, 2011.
Legislação básica.
Código Civil; Decreto n. 20.910/32; Decreto-lei n. 4.597/42

1. DA PRESCRIÇÃO
Conceito: fato jurídico, que gera a perda da pretensão e da exceção. Decorre da inércia do titular do direito. A
prescrição se relaciona com direitos subjetivos patrimoniais e relativos, ao passo em que a decadência diz respeito a
direitos potestativos.
Fundamento: a paz social, a tranquilidade e a segurança da ordem jurídica.
Espécies: 1. extintiva ou liberatória; 2. aquisitiva ou usucapião. À segunda aplicam-se as regras legais da primeira
(ex: hipóteses de suspensão e interrupção do prazo). A prescritibilidade é a regra, a imprescritibilidade, a exceção.
São imprescritíveis:
a) direitos relativos à personalidade (vida, honra, liberdade, integridade física e moral);
b) direitos que se prendem ao estado das pessoas (estado de filiação, qualidade de cidadania, condição conjugal);
c) faculdades legais (faculdade de o proprietário utilizar a coisa sua – mas se tolera que um terceiro adquira um
direito contrário ao seu exercício, perde-as);
d) ações constitutivas sem prazo fixado em lei e declaratórias;
e) ações de ressarcimento de danos ao erário;
f) segundo atual entendimento da T2 do STJ, a ação de reparação por dano ambiental é imprescritível (vide AgRg no
REsp 1150479/RS;EDcl no REsp 1120117/AC)14;
g) “as ações de reparação de dano ajuizadas em decorrência de perseguição, tortura e prisão, por motivos políticos,
durante o Regime Militar” (vide STJ, AgRg no Ag 1337260/PR).
Incide, em regra, sobre os direitos patrimoniais, e, normalmente, estende-se aos efeitos patrimoniais de direitos
imprescritíveis (vide Súmula 85 do STJ).

Requisitos: a) existência de ação exercitável;


b) inércia do titular do direito;
c) continuidade dessa inércia por certo tempo;
d) ausência de fato ou ato impeditivo, suspensivo ou interruptivo do curso da prescrição.

Actio nata: “somente a partir do efetivo conhecimento do ato que viola um direito subjetivo, originando a pretensão,
é que se inicia a contagem do prazo extintivo contemplado na norma legal. A regra é aplicável, inclusive, aos prazos
decadenciais” (CHAVES, p. 566). Para o autor, o CC agasalhou o princípio no art. 189. Se o termo a quo não estiver
fixado em lei, a prescrição tem seu início no momento em que ocorre a lesão ao direito.

Prescrição nuclear (de fundo de direito)15 e prescrição parcelar. A primeira atinge a pretensão referente a uma
relação jurídica, ao passo em que a segunda fulmina apenas cotas periódicas.

14
CHAVES vai mais longe, ao afirmar que, apesar de sua natureza condenatória, a ação civil pública (em qualquer matéria)
não se submete à prescrição, justamente porque tutela interesses coletivos, no sentido lato, os quais não possuem, em
regra (exceto os individuais homogêneos), titular determinado.

15 Em tal caso, a prescrição começa a correr da negativa, e atingirá o fundo do direito. A esse propósito, lembra CUNHA
que leis ou atos normativos de efeitos concretos, cuja vigência já acarreta lesão a direitos da parte interessada, conduzem à
prescrição do fundo do direito, devendo o prazo prescricional ser contado a partir da publicação da lei/ato normativo, e
não da edição do ato administrativo que simplesmente os aplica.

74
Renúncia: expressa ou tácita (fatos do interessado incompatíveis com a prescrição. Ex: pagamento de dívida, oferta
de garantia, solicitação de prazo para pagamento). Não pode causar prejuízo a terceiro e só é possível depois que a
prescrição se consumar. Somente poderá renunciar à prescrição quem tiver capacidade para alienar seus bens.
Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo: não poderão ser dilatados nem reduzidos.
Conhecimento de ofício: pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita (CC-193), a
qualquer tempo, inclusive em grau recursal, desde que ainda nas vias ordinárias, em razão do efeito translativo dos
recursos. Nas vias extraordinárias, não pode ser conhecida de ofício, nem pode ser suscitada pela primeira vez nessa
ocasião, já que deveria ter sido ventilada desde a instância a quo, devido à necessidade de prequestionamento. Cessa
a faculdade de alegá-la com o trânsito em julgado. Na rescisória, não se pode alegar prescrição que não tenha sido
arguida na ação em que tenha sido proferida a sentença rescindenda. Não pode ser alegada na fase de execução,
porque, se o interessado não alegou na fase de conhecimento, tacitamente a ela renunciou. Contudo, CHAVES
defende que “a alegação de prescrição pode se dar em qualquer tipo de processo, seja de conhecimento, seja de
execução. Aliás, até mesmo no processo cautelar é possível o reconhecimento da prescrição ou da decadência” (p.
563). Apenas ressalva que a prescrição passível de ser ventilada no processo de execução é a superveniente à
sentença, ou seja, em relação à pretensão executiva. Segundo o Enunciado 295 CJF, a possibilidade de
reconhecimento de ofício da prescrição não retira do devedor a possibilidade de a ela renunciar.
Prescrição intercorrente: se, promovida a interrupção da prescrição por ato judicial, o autor da ação se mantiver
inerte, abandonando o processo sem impulsioná-lo, durante prazo superior ao fixado em lei para a prescrição da
pretensão, ocorrerá a prescrição intercorrente (ver Súmula 264 STF). Para que ocorra essa espécie de prescrição, é
necessária a intimação pessoal do autor para a prática do ato, não valendo a intimação do advogado. Se, ao
contrário, houver andamento regular e normal do processo, não ocorrerá a prescrição.
Prescrição/decadência a favor da Fazenda Pública: aplicam-se as regras do CC, bem como as previstas no
Decreto n. 20.910/32 e no Decreto-lei n. 4.597/42. As dívidas passivas da União, dos Estados/DF e dos municípios,
além de qualquer direito ou ação contra si ou contra suas autarquias e fundações públicas, seja qual for a natureza,
prescrevem em cinco anos, contados da data do ato ou fato que a originarem 16. Não estão abrangidas as sociedades
de economia mista e as empresas públicas. A prescrição quinquenal incide sobre qualquer tipo de pretensão,
inclusive para obtenção de créditos previdenciários. O despacho do juiz que ordena a citação interrompe a
prescrição, retroagindo à data de propositura da ação. Mesmo se o processo for anulado ou extinto sem resolução do
mérito, a interrupção ocorrerá. Interrompida a prescrição a favor da Fazenda, voltará a correr pela metade, mas
nunca por prazo inferior a cinco anos. Assim, se a interrupção se der no primeiro ano, voltará a correr por mais
quatro, e não por dois e meio. Se, contudo, for interrompida no quarto ano, voltará a correr por mais dois e meio, o
que somará um total de seis anos e meio. Para CUNHA, “no cômputo total do prazo prescricional, não haverá
período inferior a cinco anos, podendo ocorrer lapso de tempo superior, caso a interrupção tenha se operado quando
já ultrapassados dois anos e meio.” (P. 84).
Prescrição em ações de indenização propostas em face da Fazenda Pública: a prescrição de reparação civil em
face da Fazenda, devido aos decretos mencionados, submetia-se ao prazo de cinco anos. O CC02 passou a prever
que as pretensões de reparação civil prescrevem em três anos. Discute-se, então: o prazo segue a norma especial ou
a geral? Para CUNHA, aplica-se o art. 10 do Decreto n. 20.910/32, que reza: “o disposto nos artigos anteriores não
altera as prescrições de menor prazo, constantes das leis ou regulamentos, as quais ficam subordinadas às mesmas
regras”. Assim, para esse autor, “a pretensão de reparação civil contra a Fazenda Pública submete-se ao prazo
prescricional de 3 anos, e não à prescrição quinquenal.” (p. 89). Esse entendimento já foi acolhido pelo STJ: EREsp
1.066.063/RS; REsp 1.137.354/RJ; REsp 1215385/MG. Contudo, recentemente, o Tribunal decidiu que o prazo é de
cinco anos AgRg no REsp 1256676/SC e AgRg no AgRg no REsp 1251801/MS.
Prescrição em matéria tributária: submete-se à regulamentação do CTN. O mesmo se aplica em relação à
decadência em matéria tributária. Logo, não se aplicam ao assunto as regras do CC.
Suspensão x Interrupção: o impedimento e a suspensão da prescrição fazem cessar, temporariamente, seu curso.
Quando a prescrição é interrompida por ato judicial, retoma-se o prazo com o trânsito em julgado. As causas de
suspensão independem da iniciativa da titular, pois decorrem da lei; as causas de interrupção dependem da iniciativa
de seu titular. A interrupção só pode ocorrer uma única vez.
Causas impeditivas e suspensivas do curso da prescrição:
não corre a prescrição:
a) entre cônjuges, na constância do casamento. Idem para companheiros (união estável ou relações homoafetivas);
b) entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
c) entre tutelados ou curatelados e seus tutores e curadores, durante a tutela ou curatela;
d) não corre contra os absolutamente incapazes e se já tinha se iniciado o prazo, este se suspende (contra o
relativamente incapaz e a pessoa jurídica pode ocorrer a prescrição, mas estes têm direito de regresso contra os
representantes). Não se exige a interdição para o benefício da suspensão ou impedimento do curso do prazo
prescricional. Basta a verificação da incapacidade incidentemente no processo;
16 CUNHA anota que referido prazo quinquenal diz respeito tanto à decadência, quanto à prescrição. Assim, se a ação
contra a Fazenda tiver natureza condenatória, trata-se de prazo de prescrição. Se constitutiva, de decadência.

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e) não corre se pessoa estiver a serviço do Brasil no exterior ou se estiver servindo às Forças Armadas, em tempo de
guerra;
f) pendendo condição suspensiva;
g) não estando vencido o prazo;
h) pendendo ação de evicção, o evicto não pode acionar o vendedor;
i) quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, antes da respectiva sentença definitiva,
não fluirá a prescrição. Mesmo se houver absolvição ou qualquer outro modo de encerramento do processo penal
que não impeça a ação indenizatória, ainda assim o prazo prescricional estará suspenso. A suspensão se inicia com o
recebimento da denúncia e finda com o trânsito em julgado da sentença.

Causas interruptivas: (a interrupção somente poderá ocorrer uma vez17)


a) despacho do juiz (mesmo que incompetente) que ordenar a citação 18 (se o processo vem a ser anulado, a citação
interrompe a prescrição, a menos que a nulidade tenha ocorrido por defeitos a ela inerentes – ainda que o processo
seja extinto sem julgamento do mérito, válida a citação, houve a interrupção);
b) protesto judicial ou cambial19;
c) apresentação de título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores (a expressão título de crédito
tem interpretação ampla);
d) qualquer ato judicial que constitua o devedor em mora;
e) qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe o reconhecimento do direito pelo devedor (única
hipótese em que se prescinde de comportamento ativo do credor). A prescrição pode ser interrompida por qualquer
interessado. Recomeça a correr da data do ato que a interrompeu (efeito instantâneo) ou do último ato do processo
para a interromper.
Os efeitos da prescrição são pessoais.
Exceções:
a) a interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a efetuada contra um dos
devedores solidários a todos prejudica;
b) a interrupção procedida contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou
devedores, salvo se se tratar de direitos e obrigações indivisíveis;
c) a interrupção produzida contra o devedor principal prejudica o fiador, mas a recíproca não é verdadeira.
Prazo de prescrição: todos os prazos prescricionais previstos no CC encontram-se nos seus artigos 205 e 206. Os
demais, previstos no referido diploma legal, são de decadência. Regra geral (prescrição ordinária, tanto para as
ações pessoais, quanto para as reais): 10 anos, se não houver outro menor fixado em lei.

2. DA DECADÊNCIA (caducidade)
Conceito: fato jurídico que faz perecer direito devido à inércia durante prazo predeterminado. Atrela-se sobretudo
aos direitos potestativos (ou formativos, segundo Francisco Amaral), aqueles para os quais não há pretensão, mas
estado de sujeição. Se a lei não estabelecer qualquer prazo para a prática de um direito potestativo, este não estará
sujeito à extinção. Logo, o prazo decadencial é o estabelecido para o exercício de um direito potestativo.
Prazos de decadência: estão espalhados pelo CC. Todos os prazos que não estiverem previstos nos artigos 205
e 206 do CC serão decadenciais. Exemplos: a) 2 anos para ação rescisória; b) 120 dias para mandado de segurança;
c) 5 anos para a propositura da ação popular, contados a partir da efetiva prática do ato administrativo atacado. O
artigo 179, CC estabelece cláusula geral de decadência para as ações anulatórias, que é de dois anos, a contar da
conclusão do ato. Assim, a Súmula 494 do STF (anulação de venda por ascendente a descendente, sem o
consentimento dos demais) trata de ação submetida a prazo decadencial e, hoje, é de dois anos.
Espécies:
a) ex vi legis: advém de expressa disposição de lei, sendo de ordem pública e irrenunciável (decadência legal);

17 Para CHAVES, tal restrição só incide sobre as causas extrajudiciais de interrupção da prescrição, nunca sobre as
judiciais. E isso porque é perfeitamente possível a ocorrência de interrupção pelo protesto cambial e, posteriormente, a
ocorrência de nova interrupção quando da citação da ação de execução. Assim, a cada ato do processo, a prescrição se
interromperá.

18 São modificadas as regras dos arts. 219 e 617 do CPC, que afirmam ocorrer a interrupção da prescrição com a citação
válida. Fica, porém, mantida a regra do art. 219, §1º do referido diploma legal, retroagindo a interrupção da prescrição,
operada pelo despacho do juiz mandando citar o réu, à data da propositura da ação. Nos juizados especiais cíveis, onde não
há o despacho inicial, a interrupção ocorre com a propositura da ação.

19 Por isso, a súmula 153 do STF (“simples protesto cambiário não interrompe a prescrição”) resta superada.

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b) ex vi voluntatis: voluntária, convencional ou contratual. Decorre de previsão das partes em negócios jurídicos.
Admite renúncia (nunca prévia), suspensão, alteração e interrupção do prazo. Não pode ser conhecida de ofício pelo
juiz. Exemplo de decadência convencional: prazo de 30 dias para alguém desistir de um negócio jurídico. Havendo
prazo decadencial convencional, obsta-se a contagem do prazo de decadência legal, que só se inicia após o término
daquele.

3. DISTINÇÃO ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA
Prazo Fixado por lei. Fixado por lei ou pela vontade das partes.
Pode ser suspenso, impedido ou Corre contra todos, não admitindo suspensão,
interrompido. impedimento ou interrupção, exceto art. 198, I
CC e art. 26, §2º do CDC.
Análise pelo juiz Pode ser conhecida de ofício pelo A legal pode ser conhecida de ofício. A
juiz. convencional, não.
Arguição Só pode ser invocada nas instâncias Pode ser alegada em qualquer tempo ou grau
ordinárias. Para ser conhecida na de jurisdição. Para ser conhecida nas
instância especial, demanda instâncias superiores, demanda
prequestionamento. prequestionamento.
Renúncia Após a consumação, admite-se a A decadência legal não admite renúncia, nem
renúncia, se não prejudicar mesmo após sua consumação.
terceiros.

TIPO DE AÇÃO
PRAZO20
Ações constitutivas (positiva ou negativa)
Ações condenatórias
Ações meramente declaratórias

Direito intertemporal: vide artigo 2.028 CC. Se o prazo de prescrição/decadência tiver sido reduzido pelo CC02, e,
na data dessa lei (11/01/03), já havia transcorrido mais da metade do tempo, continuará a contagem pela norma
anterior, ou seja, pelo prazo mais longo. Se o prazo foi reduzido e, na data de entrada em vigor do CC02, ainda não
tinha fluído mais da metade, o caso passa a ser submetido ao novo prazo (reduzido). O termo inicial do novo prazo
será a data em que entrou em vigor a nova (e redutora) norma jurídica, ou seja, 11/01/03. Outrossim, se o CC02
aumentou os prazos ou mesmo os manteve conforme previsões anteriores, entende CHAVES que seguirão regidos
pelo prazo anterior, com fluência normal do lapso temporal (p. 584).

4. DO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
O enriquecimento sem causa é gênero, do qual o pagamento indevido é espécie.
Enriquecimento ilícito x enriquecimento sem causa: o primeiro se funda em um ato ilícito, ao passo em que o
segundo ocorre quando há enriquecimento sem causa jurídica.
Previsões legais específicas: a) coíbe-se o enriquecimento injusto quando manifestado através do pagamento
indevido; b) veda-se que o credor incapaz de quitar reclame um segundo pagamento, quando já se beneficiou do
primeiro; c) o possuidor que, ainda que de má-fé, recebe as despesas de manutenção e custeio; d) o especificador de
boa-fé adquire a matéria-prima alheia em que trabalhou, mas deve indenizar o proprietário.
No CC02, o enriquecimento sem causa é admitido com fonte autônoma de obrigação, como ato unilateral (art. 884.
Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido,
feita a atualização dos valores monetários).
Fundamento: a equidade não permite o ganho de um, em detrimento de outro, sem uma causa que o justifique.
Funda-se nos princípios da eticidade, da função social das obrigações e da boa-fé objetiva. A proibição ao
enriquecimento ilícito ocorre através da ação de in rem verso, concedida ao prejudicado.
Pressupostos da ação de in rem verso: a) um enriquecimento por parte do réu; b) um empobrecimento por parte do
autor21; c) a existência de uma relação de causalidade entre os dois fatos; d) a ausência de causa que os justifique
(quando houver diferença entre os montantes do enriquecimento e do empobrecimento, a indenização se fixará pela
20 Tabela feita de acordo com a doutrina de AGNELO AMORIM FILHO.

21 Vide, porém, o enunciado 35 do CJF: “Art. 884: a expressão ‘se enriquecer à custa de outrem’ do art. 884 do novo
Código Civil não significa, necessariamente, que deverá haver empobrecimento.”

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cifra menor); e) a inexistência de qualquer outra ação para socorrer a vítima (caráter subsidiário da ação de in rem
verso: art. 886 do CC22); f) prazo prescricional de 03 anos (art. 206, § 3º, IV).
Parâmetros da restituição: não pode ultrapassar o enriquecimento efetivo de um dos agentes; não pode ultrapassar
o montante de diminuição sofrida pelo patrimônio do outro. Além disso, o montante será calculado na data em a
restituição é devida.
O STJ já decidiu que valores pagos pela administração pública em virtude de decisão judicial provisória,
posteriormente cassada, devem ser restituídos, sob pena de enriquecimento ilícito por parte dos servidores
beneficiados. Vide STJ Resp 725.118; EDcl no RMS 32706/SP e AgRg no REsp 1191879/RJ, salvo se se tratar de
benefício previdenciário, dado o seu caráter irrepetível (AgRg no Ag 1287397/RS).

5. PAGAMENTO INDEVIDO
Têm obrigação de restituir: 1. aquele que recebeu o que não lhe era devido; 2. o que recebeu obrigação sujeita a
condição, antes do implemento desta. Se o pagamento sujeito a termo for feito antes deste, temos adimplemento
antecipado, daí porque o pagamento não pode ser repetido em tal hipótese!
Modalidades: objetivamente indevido – erro incide sobre a existência da obrigação ou sobre sua extensão;
subjetivamente indevido – erro incide sobre a pessoa a quem se deve pagar.
Pressupostos: a) animus solvendi (intenção de pagar); b) inexistência de débito ou pagamento endereçado a quem
não seja o credor.
Requisitos: a) pagamento involuntário: se houve coação, deve ser negado efeito ao ato que se consolidou pela
violência, quer esta provenha do accipiens, quer de terceiros. Em casos tais, haverá defeito no negócio, passível de
anulação; b) prova de erro do solvens (teoria subjetiva): se o solvens efetuou o pagamento consciente e
voluntariamente, o ato representa liberalidade (animus donandi). Contudo, nesse caso, a repetição pode encontrar
fundamento no enriquecimento sem causa (art. 884 e ss, CC). A esse respeito, o STJ tem entendido que, em
contratos bancários, é desnecessária a prova do erro para a restituição (Súmula 322).
Prazo: a ação prescreve em 10 anos (art. 205).
Frutos, acessões, benfeitorias e deteriorações: se o credor agiu de boa-fé ao receber a coisa, aplicam-se as
seguintes disposições: 1. terá direito aos frutos percebidos, enquanto a posse for de boa-fé. Os frutos pendentes ao
tempo de cessação da boa-fé devem ser restituídos, deduzidas as despesas da produção e custeio. Igualmente devem
ser restituídos os frutos colhidos em antecipação. 2. Se a coisa se deteriorar, o credor de boa-fé não reponde pela sua
perda ou deterioração, salvo se a elas tiver dado causa. 3. O credor de boa-fé tem direito à indenização das
benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o
puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Se, ao revés, agiu de má-fé: 1. responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa
sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e
custeio; 2. responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se
teriam dado, estando ela na posse de quem pagou indevidamente; 3. a ele serão ressarcidas somente as benfeitorias
necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
Pagamento indevido que teve por objeto um imóvel: se o accipiens procedeu sem malícia e recebeu a paga por
acreditá-la devida, é tratado como possuidor de boa-fé. Se, entretanto, atuou com malícia, responde como possuidor
de má-fé. No caso de o accipiens ter alienado o imóvel, a título oneroso ou gratuito, a terceira pessoa, de boa ou má-
fé, têm-se as seguintes situações: 1. alienação, a título oneroso, pelo accipiens, estando todas as partes de boa-fé: o
solvens não tem direito de reivindicar a coisa, devendo absorver o prejuízo, só lhe remanescendo a prerrogativa da
ação regressiva contra o accipiens. Protege-se o terceiro de boa-fé; 2. alienação, a título gratuito e de boa-fé, pelo
accipiens: a lei defere a ação reivindicatória contra o adquirente a título gratuito, ainda que vestido de boa-fé; 3.
alienação, a título oneroso, pelo accipiens, a terceiro de má-fé: permite-se a reivindicação do imóvel, quando o
terceiro adquirente agiu de má-fé; 4. alienação, a título oneroso e de má-fé, pelo accipiens, estando o terceiro
adquirente de boa-fé: a lei indefere ação reivindicatória a quem pagou indevidamente, mas lhe confere o direito de
reclamar, de quem maliciosamente recebeu o pagamento, não apenas o preço recebido pela venda do imóvel, mas
também as perdas e danos.
Casos em que o pagamento indevido não confere direito à restituição: 1. quando o solvens inutilizou o título da
dívida, deixou prescrever a ação ou abriu mão das garantias que asseguravam seu direito: o solvens que pagou mal
não fica de vez desprotegido, pois a lei lhe confere ação regressiva contra o verdadeiro devedor e seu fiador, para
haver a importância que despendeu. Nesses casos, é preciso que o credor esteja de boa-fé. Estando de má-fé, é
cabível a restituição; 2. quando o pagamento se destinava a solver obrigação natural ou dívida prescrita (esta,
espécie daquela); 3. quando o pagamento visava obter fim ilícito, imoral ou proibido por lei: o que se deu reverterá
em favor de estabelecimento local de beneficência, a critério do juiz. Segundo Hamid Charaf (pp. 903/904), tanto o

22 Se existir no ordenamento norma que respalde a obrigação de indenizar, a ação in rem verso não será utilizada.

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solvens quanto qualquer interessado ou o Ministério Público podem requerer a devolução do valor pago em favor
não do devedor, mas de instituição de beneficência. De igual modo, se, no curso da demanda de repetição, o juiz
verificar o fim ilícito, imoral ou ilegal, poderá determinar a medida de ofício.

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ITEM 7.B: Da locação, do mútuo e do comodato.

Obras consultadas: TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. Rio de Janeiro: Forense. São
Paulo: Método, 2011; GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil.
Contratos em espécie. Vol. IV. São Paulo: Saraiva, 2010; ROSENVALD, Nelson. Código Civil Comentado.
Doutrina e Jurisprudência. Coordenador: Cezar Peluso. Barueri: Manole, 2011.

Legislação básica: Arts. 565/592 CC.

(i) 1. DA LOCAÇÃO
OBS: o resumo somente trata da locação no CC. Para as demais, consultar a legislação específica.
Conceito: negócio jurídico pelo qual alguém (locador, que não precisa ser necessariamente proprietário) se obriga a
ceder a outrem (locatário), por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa
remuneração (aluguel, elemento essencial, que importa em cessão da posse).
Características: 1. Bilateral (obrigações recíprocas); 2. Oneroso (sacrifícios e vantagens recíprocos); 3. Comutativo
(prestações previamente conhecidas das partes); 4. Consensual (aperfeiçoa-se com o acordo de vontades1); 5.
Informal e não solene (salvo se houver fiança, quando deve ser escrito); 6. Típico (previsão no CC); 7. De execução
continuada (trato sucessivo); 8. Temporário (a perpetuidade implicaria uma enfiteuse).
CC: rege a locação de bens móveis e imóveis, estes se não sujeitos à Lei n. 8.245/91. Esta última lei trata das
locações de imóveis destinados à residência, indústria, comércio ou prestações de serviços. Aluguel de imóveis
destinados à agricultura, à pecuária e ao extrativismo é regido pela Lei n. 4.504/64 ou pelo CC.
Lei n. 8.245/91: exclui de sua abrangência 1. Imóveis que integram o patrimônio público (regidos pelo Decreto n.
9.760/46 e pela Lei n. 8.666/93); 2. Vagas autônomas de garagens ou espaços destinados a veículos (CC); 3. Espaços
publicitários/outdoors (CC); 4. Apart-hotéis/flats ou equiparados (CC e, para alguns, CDC); 5. Arrendamento
mercantil/leasing (Lei n. 6.099/74).
Bens fungíveis podem ser alugados? Sim, quando seu uso e gozo forem concedidos ad pompam vel ostentationem,
tal como ocorre quando se alugam garrafas de vinho para ornamentar uma festa.
Efeitos da locação regida pelo CC: 1. Deveres do locador – entregar a coisa e suas pertenças em condições de
serem usadas, manter o bem nesse estado durante o contrato e garantir o seu uso pacífico. Havendo
descumprimento, cabe rescisão e perdas e danos. 2. Deterioração da coisa durante o contrato sem culpa do locatário
– cabe a redução do aluguel ou a rescisão do contrato, caso a coisa não sirva mais. Aplica-se a regra segundo a qual
res perit domino (a coisa perece para o dono). 3. Tanto o locador quanto o locatário têm legitimidade para as
possessórias, pois o primeiro tem a posse indireta da coisa, ao passo em que o segundo tem a direta. 4. O locador
responde pelos vícios redibitórios ou de consumo. 5. Obrigações do locatário – vide art. 569 CC: tratar a coisa como
se sua fosse, restituí-la no estado em que a recebeu etc. Descumprindo, cabe resolução mais perdas e danos.
Locação com prazo fixo: cessa de pleno direito com o término do prazo, independentemente de aviso (art. 573:
consagra a possibilidade de denúncia vazia). Se, findo o prazo, o locatário continuar na posse da coisa, sem
oposição, o contrato passa a valer por prazo indeterminado, com o mesmo aluguel. Se o locador notificá-lo para
devolver a coisa, depois de vencido o prazo, responderá o locatário pelo aluguel arbitrado (que pode ser reduzido
pelo juiz, observado o seu caráter de penalidade), bem como por danos que sobrevenham à coisa, ainda que por caso
fortuito.
Locação com prazo fixo e resilição unilateral antes do prazo: não poderá o locador reaver a coisa antes do
vencimento do prazo, salvo se indenizar a outra parte por perdas e danos. Nesse caso, o locatário goza do direito de
retenção da coisa até que advenha o pagamento. De igual modo, o locatário somente poderá devolver a coisa, antes
do término do contrato com prazo certo, se pagar, de forma proporcional, a multa prevista. Se tal multa consistir no
pagamento do aluguel pelo tempo que restar do contrato e isso se mostrar excessivo, o juiz pode reduzir o montante
(art. 572). A norma é de ordem pública e não pode ser objeto de renúncia.
Redução da multa contratual pelo juiz: faculdade? À locação regida pelo CC, aplica-se o art. 572 (redução
judicial da multa é faculdade). Às demais, aplica-se o artigo 413 (o juiz deve reduzir equitativamente a multa).
Assim: redução da multa na locação do CC = o juiz pode. Redução da multa nas demais, em especial na locação da
Lei do Inquilinato = o juiz deve. Vide Enunciado 357 CJF.
Alienação da coisa alugada: a locação em regra não obriga o adquirente, salvo se se tratar de contrato por prazo
determinado, em plena vigência, com cláusula de vigência no caso de alienação, devidamente constante do Registro
de Imóveis (bens imóveis) ou do Cartório de Títulos e Documentos (bens móveis). O adquirente não responde pelas
benfeitorias do locatário, salvo cláusula contratual averbada em registro (Súmula 158 STF). O adquirente deve
notificar o locatário, concedendo-lhe o prazo de 90 dias para término da locação.
Contrato impessoal: a locação não é contrato intutu personae, pois, morrendo quaisquer das partes, transmite-se
aos herdeiros.
Benfeitorias: necessárias – locatário tem direito de retenção/indenização em todos os casos; úteis – só há o direito
de retenção/indenização se forem autorizadas. É válida a renúncia ao direito à indenização das benfeitorias e ao
direito de retenção (Súmula 335 STJ).
1. DO EMPRÉSTIMO: MÚTUO E COMODATO
Conceito: negócio jurídico mediante o qual alguém entrega a outrem uma coisa, obrigando-se o último a devolvê-la
ou outra da mesma espécie e quantidade.
Características: 1. Unilateral; 2. Gratuito (regra); 3. Comutativo (prestações previamente conhecidas das partes); 4.
Informal; 5. Real (aperfeiçoa-se com a entrega da coisa).
Perecimento da coisa no mútuo e no comodato: como o mutuário se torna proprietário da coisa emprestada,
transfere para si os riscos da perda. No comodato, o domínio da coisa emprestada não se transfere, daí sua perda, por
caso fortuito ou força maior, ser sofrida pelo comodante (res perit domino).
1. DO MÚTUO
Conceito: empréstimo de bem fungível e consumível, em que coisa de mesma espécie, qualidade e quantidade
deverá ser restituída ao final (empréstimo de consumo).
Objeto: bens fungíveis móveis. Nunca os imóveis, porque estes são sempre infungíveis.
Partes: mutuante (quem entrega, precisa ser dono) e mutuário (quem recebe).
Características: 1. Unilateral; 2. Gratuito ou benéfico (regra); 3. Comutativo; 4. Informal e não solene (se for
oneroso, exige forma escrita); 5. Real (a entrega da coisa é pressuposto de existência do negócio); 6. Temporário; 7.
Translativo da propriedade (pois a coisa é consumida). Por transferir o domínio da coisa emprestada, por conta do
mutuário correm todos os riscos a partir da tradição.
Vencimento antecipado da dívida: ocorre se, antes do vencimento do contrato, o mutuário sofre notória mudança
em sua situação econômica e deixa de atender ao pedido de garantia feito pelo mutuante.
Mutuário menor de 18 anos: em regra, o negócio é ineficaz (inclusive a respectiva fiança), se feito sem
autorização do seu representante legal ou guardião. Há dívida (Shuld) sem responsabilidade (Haftung).
EXCEÇÕES: 1. Se houver ratificação pelo representante legal/guardião; 2. Mútuo contraído para aquisição de
alimentos habituais do incapaz, estando ausente o seu representante; 3. Se o incapaz auferir ganhos com trabalho
próprio, caso em que a execução do credor não pode ultrapassar referidos ganhos; 4. Mútuo revertido em benefício
do incapaz; 5. Mútuo obtido com sua malícia.
Perecimento da coisa: como o gênero não perece, mesmo havendo a destruição da coisa em virtude de fortuito,
remanesce a obrigação de restituir.
Mútuo oneroso (feneratício): art. 591 CC. Qualquer contrato de mútuo destinado a fins econômicos se presume
oneroso, sendo devidos juros compensatórios, conforme convencionados, ou, quando não convencionados, segundo
a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. Vide Enunciado 34
CJF. Se o mutuante for instituição financeira, aplica-se a Súmula 596 do STF, que admite a cobrança de juros em
limite superior ao estabelecido legalmente (STJ afastou a incidência do art. 591 nos contratos bancários, valendo as
regras de mercado).
Prazos do mútuo: art. 592 CC. Se o prazo não estiver expressamente convencionado, será: a) até a próxima
colheita, tratando-se de empréstimo de produtos agrícolas tanto para o consumo como para a semeadura; b) 30 dias,
se de dinheiro; c) do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungível.
1. DO COMODATO
Conceito: empréstimo de bem infungível e inconsumível, em que a coisa deverá ser restituída ao final (empréstimo
de uso).
Objeto: bens infungíveis e inconsumíveis, móveis ou imóveis. Contudo, pode ter por objeto bens fungíveis, quando
utilizados para enfeite (comodato ad pompam vel ostentationem). Nesse caso, a convenção das partes transforma a
coisa em infungível.
Partes: comodante (quem entrega, não precisa ser dono2) e comodatário (quem recebe).
Características: 1. Unilateral; 2. Gratuito ou benéfico (é da essência do negócio. Mantém-se a gratuidade mesmo
que incida um encargo sobre o comodatário); 3. Intuitu personae (não se transfere aos herdeiros, nem pode ser
objeto de cessão sem anuência do comodante); 4. Informal e não solene; 5. Real (a tradição é elemento do negócio);
6. Temporário (por prazo determinado ou não, isso que o difere da doação); 7. Fiduciário.
Promessa de comodato: é possível (se ao ajuste não segue a tradição da coisa) e se trata de contrato preliminar,
ensejando indenização por perdas e danos (arts. 462 a 466 CC).
Bens alheios confiados à administração de tutores/curadores/administradores: não podem ser dados em
comodato, salvo autorização especial do dono ou do juiz, ouvido o MP, no caso de interesse de incapazes.
Comodato com prazo determinado: findo o prazo, deve ser devolvida a coisa, sob pena de reintegração de posse e
cobrança do aluguel arbitrado pelo comodante. Encerrado o prazo, incide a mora ex re, aplicando-se a máxima dies
interpellat pro homine. Logo, desnecessária notificação do comodatário.
Comodato sem prazo determinado: presume-se que a coisa foi cedida para o uso concedido. Sob pena de perdas e
danos, antes de findo o prazo ou do uso concedido, não poderá o comodante reaver a coisa. Findo este, o comodante
deve notificar o comodatário a devolvê-la, pena de mora (ex persona), com cobrança do aluguel arbitrado pelo
comodante. Não devolvida a coisa, cabe ainda reintegração de posse. Para TARTUCE, em regra a mera notificação é
suficiente para a reintegração. Contudo, em algumas hipóteses, deve ser analisado o caso concreto (p. 639).
Retomada pelo comodante antes de vencido o prazo ou decorrido o uso concedido: o comodato pode ser
resolvido pela manifestação unilateral da vontade do comodante, uma vez que prove a superveniência de
necessidade imprevista e urgente. A resolução, neste caso, decorrerá de sentença judicial, que reconheça o advento
de necessidade urgente e imprevisível à época do negócio.
Consequências da mora do comodatário: 1. Arbitramento de aluguel pelo comodante (natureza de penalidade e
faculta-se ao juiz reduzi-lo, se excessivo, ver Enunciado 180 CJF); 2. Responsabilidade pelo caso fortuito/força
maior, salvo se provar que a perda sobreviria mesmo sem estar em mora.
Obrigações conjuntivas (ou cumulativas): o comandatário tem obrigações de fazer (guardar e conservar a coisa) e
não fazer (não desviar o seu uso). Descumprindo qualquer uma delas, poderá haver resolução com perdas e danos.
O comodatário pode responder, mesmo sem estar em mora, pela perda de coisa por caso fortuito/força
maior? Sim. Se, caindo em risco a coisa, o comodatário deixar de salvá-la para salvar coisa própria, responde pelo
perda. Vide art. 583. ROSENVALD entende que, porém, o estado de necessidade comprovado pode elidir essa
responsabilidade (p. 625).
Benfeitorias: há quem entenda que não podem ser indenizadas, forte no art. 584. Contudo, deve-se aplicar o art.
1.219 (regras do possuidor de boa-fé). Assim: necessárias e úteis – comodatário tem direito, em regra, à indenização
e à retenção por elas; voluptuárias – podem ser levantadas, se não houver dano ao bem. Podem as partes, porém,
prever o contrário, se o contrato for paritário.
Pluralidade de comodatários: implica solidariedade passiva. Se a coisa se perder por culpa de um, respondem
todos pelo seu valor, mas as perdas e danos só podem ser cobradas do culpado.
ITEM 7.C: Da relação de parentesco e dos alimentos. Da filiação e da guarda dos filhos.
Obras consultadas:
WALD, Arnoldo, “Curso de Direito Civil Brasileiro”, O Novo Direito de Família, 14ª edição, São Paulo, Saraiva,
2002; RODRIGUES, Sílvio, “Direito Civil”, Direito de Família, volume 6, 27ª edição, São Paulo, Saraiva, 2002;
DINIZ, Maria Helena, “Código Civil Anotado”, 8 edição, São Paulo, Saraiva, 2002; GONÇALVES, Carlos Roberto,
Direito de Família, 3ª edição, São Paulo, Saraiva, 1998; DIAS, Maria Berenice, Manual de Direito das Famílias, 4ª
edição, São Paulo, RT, 2007; NEGRÃO, Theotonio e GOUVÊA, José Roberto Ferreira, 26ª edição, São Paulo,
Saraiva, 2007; ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo; CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da
Criança e do Adolescente Comentado. Artigo por artigo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011; LOBO,
Paulo Luiz Netto. Código Civil Comentado. Vol. XVI. São Paulo: Atlas, 2003; TARTUCE, Flávio. Manual de
Direito Civil. Volume único. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Método, 2011.
Legislação básica:
CF/88: art. 14, §7º (inelegibilidade); ECA: arts. 25, parágrafo único; 28, §3º; 41; 41, §1º; 83, §1º, 1); 92, §4º; 94,
XX; 101, §3º, III; 143, parágrafo único; 165, II e 240, III; CC: arts. 1.583 a 1590 (guarda); arts. 1.591 (parentes em
linha reta), 1.592 (parentes em linha colateral), 1.593 (parentesco natural ou civil), 1.594 (graus de parentesco),
1.595 (parentesco por afinidade); arts. 1.694 a 1.710 (alimentos); Lei n. 5.578/68 (lei de alimentos); Lei n. 11.804/08
(alimentos gravídicos).

1. DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO


CR/88: funcionalizou a família pela dignidade de seus membros. Ficam superadas distinções impostas no
parentesco em razão da origem casamentária da relação ou do parentesco por consaguinidade ou pelo afeto. Tal
relação não comporta mais discriminações ou distinções que terminam por criar diferentes categorias de pessoas
humanas privilegiadas em detrimento de outras. A CR emprestou amplo espectro ao conceito de família e alargou o
conceito de parentesco.
Parentesco: vínculo jurídico, estabelecido por lei/decisão judicial, entre pessoas e que as enlaça num conjunto de
direitos e deveres (Paulo Luiz Netto Lôbo).
Parentesco ≠ família: para Cristiano Chaves, tais noções de não se confundem. A última é um grupo formado por
pessoas reunidas socialmente; o primeiro diz respeito ao vínculo natural (não necessariamente biológico),
estabelecido entre determinadas pessoas, que podem ou não compor um mesmo núcleo.
Espécies: a) natural/consanguíneo: quando as pessoas descendem umas das outras, ou têm um ascendente comum.
Pode ocorrer na linha reta ou na colateral, até o quarto grau; b) civil: resulta de qualquer “outra origem”, que não
seja a biológica (ex. adoção, fecundação heteróloga, parentalidade socioafetiva, posse de estado de filho. Vide
Enunciados 103 e 256 do CJF e art. 1.593)23; c) por afinidade: decorre de lei. Liga uma pessoa aos parentes de seu
cônjuge/companheiro, limitado aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos deste 24. É pessoal: os afins de um
cônjuge não são afins entre si. Não há afinidade ente concunhados, nem entre parentes de um consorte com ou
parentes do outro. Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento/união estável. Gera
impedimentos matrimoniais25.
Observações: a) a afinidade na linha colateral cessará com o óbito do cônjuge ou convivente; b) a afinidade não
gera nenhum efeito quanto aos alimentos ou direito sucessório; os seus efeitos restringem ao impedimento para o
casamento; c) marido e mulher não são parentes, por não descenderem de um antepassado comum, nem haver entre
eles vínculo de afinidade. Segundo Pontes de Miranda: “o cônjuge pertence à família, e não é parente do outro
cônjuge, posto que seja parente afim dos parentes consanguíneos do outro cônjuge”; d) irmãos germanos:
parentesco bilateral (linha materna e paterna). Irmãos unilaterais uterinos: identidade de linha materna. Irmãos
unilaterais consanguíneos: identidade de linha paterna; e) será civil o parentesco decorrente outra origem, que não a
afinidade/consanguinidade (ex: inseminação artificial ou adoção); f) agnação: é o parentesco que se estabelece pelo

23
Para Paulo Netto Lôbo, “constituem parentesco ‘de outra origem’ os parentescos por afinidade ou por adoção.” (p. 27).

24 Aponta Maria Helena Diniz que o concubinato impuro ou mesmo o casamento inválido não têm o condão de gerar
afinidade. Apud Paulo Luiz Netto Lôbo, p. 34.

25 A doutrina admite que a afinidade possa produzir outros efeitos, entre os quais a obrigação recíproca de alimentos e
o direito de promover a interdição. O STJ, contudo, já rechaçou a tese. Vide RMS 957/BA: inexiste o dever em relação à
nora.

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lado masculino; cognação: o que se firma pelo lado feminino; g) o parentesco transversal/colateral/oblíquo é
limitado ao quarto grau; o em linha reta é infinito.
Efeitos legais do parentesco: a) inelegibilidade (vide art. 14, §7º CR/88); b) nepotismo (vide art. 117, VIII da Lei
n. 8.112/90 e Súmula Vinculante 13); c) impedimentos processuais (art. 228 do CC; arts. 134, IV, V; 136; 406, I,
todos do CPC; arts. 252, I e IV; 253; 258; 267e 448, todos do CPP; ); d) possibilidade de dedução de certas despesas
no imposto de renda; e) direito a alimentos, sucessão, impedimentos para casamento, adoção etc; f) no direito da
infância e juventude, a autorização para viajar não será necessária quando a criança estiver acompanhada por
parente colateral até o terceiro grau; na apreciação de colocação da criança/adolescente em família substituta, levar-
se-á em conta, entre outras circunstâncias, o grau de parentesco; g) legitimidade para propositura de ações (arts. 12,
p. ún. e 20, p. ún., ambos do CC; art. 1.177 do CPC e 31 do CPP).

2. DOS ALIMENTOS
Conceito: prestação fornecida a uma pessoa, em dinheiro ou em espécie, para que possa atender às necessidades
vitais (patrimônio mínimo), desde que não possa provê-las por si.
Fundamento: princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade, ou seja, a fonte da obrigação alimentar
são os laços de parentesco que ligam as pessoas que constituem uma família.
Pressupostos: 1. Vínculo (parentesco, casamento, união estável ou parentalidade socioafetiva, vide Enunciado 341
CJF); 2. Necessidade credor; 3. Possibilidade do devedor.
Classificação: A) quanto à causa jurídica da obrigação: I) legais/legítimos/de direito de família: impostos pela lei,
em razão de um vínculo familiar; II) indenizatórios/ressarcitórios/judiciais: decorrentes da responsabilidade civil;
III) contratuais: decorrentes da autonomia da vontade; IV) voluntários/causa mortis: testamento. Aos listados nos
itens III e IV, aplica-se o direito das obrigações (transação, renúncia etc). B) quanto à abrangência da prestação: I)
civis/côngruos/necessarium personae: visam a atender todas as necessidades do beneficiário, inclusive as de
manutenção de padrão de vida, morais e intelectuais; II) naturais/necessários/humanitários/necessarium vitae:
cobrem apenas as necessidades básicas do credor. Hipóteses: a situação de necessidade surge por culpa do
reclamante; o cônjuge culpado pela separação, desde que não tenha parentes em condições de pagar alimentos, nem
aptidão para o trabalho. C) quanto à finalidade: I) provisórios: fixados liminarmente em ação de alimentos pelo rito
especial (Lei n. 5.578/68); II) provisionais: têm natureza cautelar e se destinam a possibilitar o ajuizamento de uma
demanda ou manter a parte durante o seu curso. Também chamados ad litem; III) definitivos/regulares: fixados por
acordo ou em sentença, em substituição aos provisórios ou provisionais; IV) transitórios: fixados por determinado
período de tempo, a favor de ex-cônjuge/companheiro, fixando-se previamente o seu termo final. D) quanto à forma
de prestação: I) de prestação própria (in natura): traduz-se na concessão de hospedagem e sustento; II) de prestação
imprópria: pagamento de uma pensão pecuniária periódica.
Binômio alimentar: a) possibilidade econômica do alimentante (também é critério de fixação do quantum). Em
relação aos pais, quando os alimentos forem reclamados por filhos menores, é irrelevante a alegação de falta de
recursos; b) necessidade do alimentando (critério de fixação do quantum): na obrigação alimentar dos genitores em
relação aos filhos incapazes, a necessidade é presumida. Para Maria Berenice Dias e Paulo Lôbo, há um trinômio.
Acrescentam, respectivamente, c) a proporcionalidade ou a razoabilidade.
Características: trata-se de uma obrigação sui generis: a) reciprocidade: são devidos reciprocamente entre cônjuges
e companheiros, entre pais e filhos, e extensivos a todos os ascendentes. Ascendentes: o grau mais próximo exclui o
mais remoto; descendentes: o grau mais próximo exclui o mais remoto; irmãos: primeiro os bilaterais, depois os
unilaterais; c) divisibilidade (regra) ou solidariedade (exceção): sendo várias as pessoas obrigadas, todas devem
concorrer na proporção dos respectivos recursos. Intentada ação contra uma delas, as demais serão chamadas a
integrar a lide. OBS: os alimentos são devidos solidariamente, quando o credor for idoso (art. 12 da Lei n.
10.741/03), podendo escolher a quem acionar; d) condicionalidade (cláusula rebus sic stantibus): submetidos à
alteração das necessidades do reclamante ou das possibilidades do alimentante; e) gera direito personalíssimo
(caráter intuitu personae): não se transmite aos herdeiros do credor; f) intransferível: não pode ser objeto de cessão,
gratuita ou onerosa; g) imprescritível. Contudo, as prestações fixadas e vencidas prescrevem no prazo de 2 anos, a
contar do vencimento – atentar para o fato de que não corre a prescrição contra absolutamente incapazes, nem entre
ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; h) insuscetível de compensação. A jurisprudência tem
admitido a compensação em caso de pagamento de alimentos a maior; i) irrepetíveis: o pagamento dos alimentos,
seja a que título for, é sempre bom e perfeito e não dá direito à repetição (é uma obrigação moral e satisfativa, daí
não caber ação in rem verso); j) absolutamente impenhoráveis; l) irrenunciáveis: a jurisprudência entende que é
possível renunciar a eles por ocasião do divórcio, da dissolução da união e da outrora admitida separação judicial
(Enunciado 263 CJF e Súmula 336 STJ). Para alguns, porém, não se admite a renúncia de alimentos entre os
cônjuges ou conviventes por força dos arts. 1707 e 1704 do Código Civil e da Súm. 374 do STF; m)
intransacionável e não suscetível de arbitragem: o direito aos alimentos não pode ser objeto de transação, mas é
possível o acordo sobre os valores e forma de pagamento; n) atualidade: são exigíveis no presente, e não no futuro.
Se, todavia, o alimentando fez empréstimos para poder viver, tem o direito de reclamar os alimentos pretéritos para
reembolsar os empréstimos que fez, mas somente os destinados a esse fim; o) transmissibilidade: a obrigação
transmite-se aos herdeiros do devedor. Discute-se se só as vencidas ao tempo da morte, ou se as vincendas. A

84
maioria entende que só se transmitem as vencidas, e até os limites das forças da herança. Para Mario Delgado, os
herdeiros assumem a obrigação alimentar de forma continuada.
Observações: a) o Código Civil e a jurisprudência reconhecem direitos e obrigações alimentares para os
conviventes em uma união estável, nas mesmas condições em que os cônjuges, valendo-se inclusive do disposto na
Lei n. 5.478/68. Vide REsp 60.778-SP; b) se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de
prover o seu sustento, impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência social (art. 14 da Lei n.
10.741/03); c) em regra, o dever alimentar cessa para os pais com a maioridade dos filhos. Mas, caso estejam estes
frequentando curso universitário, a jurisprudência tem estendido tal obrigação até o término do curso ou até que
completem os alimentandos 24 anos (Resp 442.502). De igual modo, a Súmula 358 do STJ assegura ao filho o
direito ao contraditório nos casos em que, por decorrência da idade, cessaria o direito de receber pensão alimentícia;
d) os parentes colaterais (exceto irmãos) não têm obrigação de prestar alimentos (Maria Berenice entende que sim),
bem assim os afins. Há, contudo, uma tendência a aceita a obrigação aos afins na linha reta descendente
(padrasto/madrasta).
Alimentos gravídicos: Lei n. 11.804/08. CREDOR: mulher gestante; OBJETO: valores que cubram despesas da
gravidez, desde a concepção até o parto (inclusive alimentação especial, assistência médica, psicológica, exames,
internações, parto, medicamentos e outras consideradas pertinentes pelo juiz), consideradas proporcionalmente para
cada um dos envolvidos, conforme suas possibilidades; REQUISITOS: indícios da paternidade + necessidade do
autor + possibilidade do réu; VIGÊNCIA: até o nascimento da criança, quando serão convertidos em alimentos em
favor desta, até revisão judicial.
Alimentos Provisórios e Provisionais (ad litem): os primeiros são os fixados liminarmente pelo juiz, ao despachar
a inicial de ação de alimentos, de rito especial (Lei n. 5.578/68). São não serão fixados se o autor expressamente
dispensá-los. Exigem prova pré-constituída do parentesco/casamento. Os segundos são fixados em outras ações
(divórcio, anulação ou nulidade de casamento, investigação de paternidade etc), para subsistência da parte no curso
da lide. Não exigem prova pré-constituída. A Lei n. 11.340/06 (Maria da Penha), traz como medida protetiva de
urgência a fixação de alimentos provisórios ou provisionais (art. 22, V).
Prisão civil: é a única modalidade de prisão por dívidas atualmente admitida no direito brasileiro (vide art. 7, 7 do
Pacto de San Jose). Somente cabe no caso débito de alimentos legais. Os convencionais e os ressarcitórios
nãopossibilitam a prisão do devedor. Prazo: pelo CPC – até 90 dias. Pela Lei n. 5.578/68 – até 60 dias. O
cumprimento integral da prisão não exime o devedor do pagamento das prestações vincendas ou vencidas e não
pagas (art. 733, § 2º, CPC). Para fins de prisão civil, consideram-se as três últimas prestações devidas anteriores à
propositura da execução, além das vencidas e não pagas no decorrer do processo (Súmula 309 STJ). Os alimentos
vencidos há mais de três meses perdem a natureza alimentar, não justificando o decreto da prisão. A execução delas
deve ocorrer na forma do artigo 732 CPC (STJ). O não-cumprimento deliberado da obrigação alimentar por parte de
indivíduo são e capaz para o trabalho pode configurar o crime de abandono material (art. 244 CP).
Lei n. 5.578/68: as ações processadas pela lei correm sob rito especial; REQUISITOS: prova do
parentesco/obrigação alimentar de natureza legal + necessidade do alimentando + possibilidade do alimentante;
CAPACIDADE POSTULATÓRIA: a lei possibilita que o credor atue pessoalmente ou por intermédio de advogado.
Se ingressar pessoalmente, o juiz deverá nomear um advogado, que poderá apresentar petição por escrito ou pedir
que o escrivão a reduza a termo; AUSÊNCIA DO AUTOR À AUDIÊNCIA: arquivamento do pedido; AUSÊNCIA
DO RÉU À AUDIÊNCIA: revelia e confissão quanto aos fatos; MINISTÉRIO PÚBLICO: intervém em todos os
termos do processo e fala depois das partes; TERMO A QUO DOS ALIMENTOS: retroagem à data da citação;
APELAÇÃO: cabe da sentença, mas apenas no efeito devolutivo; AGRAVO DE INSTRUMENTO: cabe da decisão
que decretar a prisão do devedor, mas não suspende a execução da ordem de prisão; PRESTAÇÃO DE
ALIMENTOS NO ESTRANGEIRO: regida pelo Decreto n. 56.826/65, de competência o juízo federal da Capital da
Unidade Federativa Brasileira em que reside o devedor, sendo considerada instituição intermediária a Procuradoria-
Geral da República.
Extinção da obrigação alimentar: 1. novo casamento, união estável e concubinato do credor; 2. Indignidade
deste26; 3. Falecimento do credor ou do devedor (OBS: as pensões vencidas e não pagas se transmitem aos
sucessores, nas forças do limite da herança); 4. Alteração substancial do binômio alimentar; 5. Maioridade do
alimentando (vide Súmula 358 STJ e Enunciado 344 CJF).

3. DA FILIAÇÃO
Conceito: relação jurídica existente entre ascendentes e descendentes de primeiro grau.
Presunções legais de filiação: 1. Filhos nascidos 180 pelo menos depois de estabelecida a convivência (juris
tantum); 2. Filhos nascidos nos 300 dias subsequentes à dissolução da sociedade (juris tantum); 3. Filhos havidos
26 Enunciado 264 das Jornadas de Direito Civil: “Na interpretação do que seja procedimento indigno do credor, apto a
fazer cessar o direito a alimentos, aplicam-se, por analogia, as hipóteses dos incs. I e II do art. 1.814 do Código Civil”.
Enunciado 345 das Jornadas de Direito Civil: “O ‘procedimento indigno’ do credor em relação ao devedor, previsto no
parágrafo único do art. 1.708 do Código Civil, pode ensejar a exoneração ou apenas a redução do valor da pensão
alimentícia para quantia indispensável à sobrevivência do credor”.

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por fecundação artificial homóloga (utilização do material genético dos cônjuges), mesmo que falecido o marido.
Vide Enunciado 106 CJF, segundo o qual é necessário haver autorização escrita do marido, para que a mulher utilize
o material genético após a morte dele. Tal presunção aplica-se à união estável; 4. Filhos havidos a qualquer tempo,
desde que se tratem de embriões excedentários, decorrentes de fecundação artificial homóloga (são os embriões
crioconservados, não introduzidos no ventre materno). Tal presunção aplica-se à união estável; 5. Filhos havidos por
inseminação artificial heteróloga, desde que com prévia autorização do marido (com material genético de terceiro).
A autorização não pode ser revogada após o emprego da técnica. Tal presunção é absoluta (Enunciado 258 CJF) e se
aplica à união estável27. Logo, depois de empregada a técnica, não pode o marido negar a paternidade.
Reprodução assistida heteróloga e união homoafetiva: considerando que o STF reconheceu a tais uniões o caráter
de entidade familiar, é possível. Nesse sentido: Maria Berenice Dias.
Reprodução heteróloga e investigação de paternidade: não cabe a ação contra o doador, nem mesmo para efeitos
sucessórios ou de alimentos. Contudo, há quem sustente caber, com fundamento no princípio do melhor interesse da
criança.
Gestação de substituição (barriga de aluguel): somente se admite a título gratuito e desde que ocorra em âmbito
familiar, com parentesco até segundo grau. A doadora do material (genetrix) é a mãe, ao passo em que a gestatrix
(que cede o útero) não o será.
Impotência generandi: a impotência do marido para gerar, à época da concepção, afasta a presunção de
paternidade. A impotência instrumental (coeundi) não tem tal condão (maioria da doutrina).
Paternidade socioafetiva: cabe ao marido contestar os filhos nascidos da mulher, em ação imprescritível. Contudo,
não cabe a negatória de paternidade, se há parentalidade socioafetiva e posse de estado de filho. A ausência de
vínculo biológico é fato que por si só não revela a falsidade da declaração de vontade consubstanciada no ato de
reconhecimento. Logo, aquele que registra filho de outrem como seu não pode depois querer negar a paternidade, se
há vínculo de afeto.
Prova da filiação: 1. Pela certidão do termo do nascimento registrado no Registro Civil; 2. Mediante prova escrita,
proveniente dos pais, de forma conjunta ou separada; 3. Diante de veementes presunções decorrentes de fatos já
certos (ex: posse de estado de filho).
Ação de prova de filiação: não se confunde com a investigatória de paternidade. É imprescritível e compete ao
filho. O direito de propô-la transmite-se aos herdeiros em duas hipóteses: 1. se o filho morrer menor ou incapaz; 2.
se, iniciada por ele a demanda, falecer no seu curso, salvo se julgado extinto o processo.Já se decidiu, contudo, que é
juridicamente possível o pedido dos netos, formulados contra os herdeiros do avô, visando ao reconhecimento
judicial da relação voenga.

4. DA GUARDA DOS FILHOS


Conceito: é manifestação do poder familiar (autoridade parental) e constitui poder-dever dos pais e direito dos
filhos, que têm constitucionalmente assegurada a convivência familiar. TARTUCE lembra ser possível a
responsabilidade civil por abandono afetivo, com fundamento no art. 1.632 CC (p. 1139). No ECA, a guarda é
modalidade de colocação em família substituta e tem lugar quando há situação de risco. Não é dessa espécie que
trata o CC. Com o divórcio, anulação do casamento ou dissolução da união estável, é preciso regular a guarda dos
filhos.
Espécies: unilateral (atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua, considerados, de preferência, o
grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade. Essa guarda obriga o outro genitor a supervisionar os
interesses dos filhos) ou compartilhada (é a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e
da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns. Deve ser aplicada em
regra, mas pode ser afastada, considerado o melhor interesse da criança).
Casal parental: MHDiniz–em oposição ao casal conjugal, é o que surge durante a guarda compartilhada.
Alienação parental ou implantação de falsas memórias (Lei n. 12.318/10): CONCEITO – interferência na
formação psicológica da criança/adolescente para repúdio a genitor ou para prejudicar o estabelecimento ou a
manutenção de vínculos com este. AGENTES ATIVOS: genitor, avós ou pessoa que tenha a criança/adolescente sob
a sua autoridade, guarda ou vigilância. EX: campanha de desqualificação da conduta do genitor; empecilho ao
exercício da autoridade parental; omissão deliberada de informações relevantes sobre a criança ou adolescente,
inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; apresentação de falsa denúncia contra genitor/familiares
deste/avós, para obstar ou dificultar a convivência; mudança de domicílio para local distante, sem justificativa. O rol
da lei é meramente exemplificativo. ABUSO MORAL: a prática de ato de alienação parental constitui abuso moral
contra a criança/adolescente e pode gerar a responsabilidade civil do alienador. DECLARAÇÃO DA ALIENAÇÃO:
pode ser feita a requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou
incidentalmente. CONSEQUÊNCIAS: cumulativamente ou não, sem prejuízo da responsabilidade civil/ criminal-1.
advertência; 2. ampliação do regime de convivência com o alienado; 3. multa; 4. acompanhamento

27 A Resolução 1.957/10 – Conselho Federal de Medicina possibilita que companheiros utilizem as técnicas de
fecundação artifical homóloga, heteróloga e de embriões excedentários.

86
psicológico/biopsicossocial; 5. alteração da guarda para compartilhada ou sua inversão; 6. fixação cautelar do
domicílio da criança/adolescente; 7. suspensão da autoridade parental; 8. inversão da obrigação de levar para ou
retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência
familiar. Não previu a lei a possibilidade de destituição do poder familiar.
Direito de visitas: cabe ao pai/mãe que não detém a guarda dos filhos. Estende-se aos avós (e também a outros
parentes, v.g. irmãos), a critério do juiz, observados os interesses da criança ou do adolescente. No caso de violência
doméstica contra a mulher, esse direito pode ser suspenso ou restrito (art. 22, IV Lei n. 11.340/06).
Filhos maiores e incapazes: as disposições relativas à guarda e prestação de alimentos aos filhos menores
estendem-se aos maiores incapazes.
Cláusula rebus sic stantibus: a guarda e o direito de visitas podem ser modificados a qualquer tempo, sempre em
atenção ao interesse da criança/adolescente.

87
ITEM 8.A: Do seguro e da promessa de recompensa.
Obras consultadas: Arnaldo Rizzardo. Contratos. 6ª Edição. Ed. Forense; Caio Mario Pereira da Silva. Instituições
de Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações, vol. II. 20ª Edição. Ed. Forense; Caio Mario Pereira da Silva.
Instituições de Direito Civil: Direito das Sucessões, vol. VI. 17ª Edição. Ed. Forense.; Cristiano Chaves de Farias e
Nelson Rosenvald. Direitos das Obrigações. 5ª Edição. Ed Lumen Juris; Gustavo Tepedino, Heloisa Helena
Barboza e Maria Celina Bodin de Moraes. Código Civil Interpretado Conforme a Constituição da República. Vol. I.
Renovar; Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barboza e Maria Celina Bodin de Moraes. Código Civil Interpretado
Conforme a Constituição da República. Vol. II. Renovar; Orlando Gomes. Contratos. 26ª Edição. Ed. Forense;
Pedro Alvim. O Seguro e o Novo Código Civil. Ed. Forense.

Legislação básica: Art. 21, VIII; 22, VII; e 187, V CF; arts 286 a 298; 417 a 420; 757 a 802; 840 a 850; 854 a 860;
1.912 a 1.922; 1.991; 1.992 a 1.996; 2.002 a 2.012; 2.012 a 2.022; e 2.027 do Código Civil; Arts. 982 a 1.045 do
Código de Processo Civil.

I. Seguro

1. Noções Gerais.
Embora o ponto esteja inserido no programa de direito civil, entende-se hoje que o seguro é um contrato pertencente
ao campo do Direito Empresarial (GOMES, p. 504), pois somente empresas organizadas sob a forma de sociedade
anônima ou cooperativas (seguros agrícolas de saúde) podem celebrá-lo na qualidade de segurador.

2. Conceito.
O Brasil adota um conceito unitário de seguro (ALVIM, p. 5): “pelo contrato de seguro, o segurador se obriga,
mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo à pessoa ou à coisa, contra
riscos predeterminados” (GOMES, p. 504).

3. Elementos da Relação Jurídica.


O instrumento do contrato é a “apólice”. A realização do risco é denominada “sinistro”. As partes são o segurador e
o segurado (quis debeat e cui debeatur). O objeto é a prestação da cobertura de risco (quid debeatur).

4. Natureza Jurídica.
Como visto, a natureza jurídica do seguro é de “contrato” quando tem natureza privada.

5. Classificações.
Em regra, o contrato de seguro é sinalagmático (bilateral), oneroso, consensual (se constitui pela avença e não pela
entrega do bem), aleatório (há riscos) – há controvérsia na doutrina: entendem alguns que o cálculo atuarial em que
se baseia o contrato de seguro elimina a aleatoriedade da prestação, tendo em vista que o contrato de seguro deveria
ser visto sob uma ótica global, ou seja, do mutualismo que o pressupõe – e de adesão.

6. Boa-fé e Contratos de Seguro


art. 762: é nulo o seguro que garante riscos provenientes de ato doloso do segurado; art. 763: não receberá
indenização o segurado que estiver em mora, mas o En 371 do CJF dispõe q o inadimplemento mínimo ou
adimplemento substancial não autorizam a resolução do contrato. En 376: a resolução em razão de mora do
segurado exige interpelação prévia; art. 765: deve ser observada a boa-fé na conclusão e na execução do seguro;
art. 766: perde o direito à garantia o segurado que presta informações inexatas e, se houver má-fé, pode haver
resolução do contrato. En 372: cabe à seguradora a prova desta má-fé e do conhecimento da informação; art. 769:
deve o segurado comunicar a superveniência de qualquer causa que agrave os riscos e a seguradora tem o direito de
resolver o contrato nos 15 dias seguintes; art. 770: se houver redução considerável dos riscos, pode haver
diminuição do prêmio (prescinde de fato imprevisível e extraordinário, bastando tão somente a desproporção
negocial); art. 771: é dever do segurado agir para minorar as perdas (duty to mitigate the loss); art. 773: se o
segurador sabia da inexistência dos riscos, cabe pagamento em dobro (pelo enriquecimento ilícito) e nulidade
contratual. Embriaguez do segurado elide o dever de indenizar da seguradora? Sim: 3ª Turma do STJ – resp 973725.
Não: 4ª turma do STJ – resp 1012490. Súm. 465 STF: salvo efetivo agravamento dos riscos, o segurador não se
exime do dever de indenizar pela falta de sua prévia comunicação acerca da transferência do veículo.

7. Espécies.
O seguro pode ser a prêmio fixo (feito pelo segurado com uma companhia seguradora) ou variável (várias pessoas
assumem mutuamente a responsabilidade pelo prejuízo que qualquer uma delas sofrer – cada segurado é, ao mesmo
tempo, segurador de outro, nesse caso são seguros cíveis).

7.1 Seguro de Dano


visa a assegurar interesse relacionado a uma coisa. A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse, sob
pena de enriquecimento ilícito, mas pode haver duplo seguro, hipótese em que a soma destes dois não pode
ultrapassar o valor do interesse assegurado. Ainda pode haver o seguro parcial, pelo qual só parte do valor do
interesse é coberto. Salvo disposição em contrário, não se asseguram defeitos internos do bem (esta resp é do
fabricante). O seguro de dano não é personalíssimo, logo, admite cessão sem necessidade de autorização da
seguradora (se o instrumento for nominativo, exige comunicação prévia). Cabe sub-rogação legal pelo segurador na
ação de cobrança contra o causador do dano, salvo se o causador for cônjuge, ascendente ou descendente do
segurado (no seguro de pessoa, não cabe qualquer sub-rogação pelo segurador). O STJ entende que a denunciação
da lide no seguro de resp civil é facultativa. O art. 787 proíbe ao segurado confessar sua responsabilidade, transigir
com o prejudicado ou pagar diretamente os prejuízos, sem autorização da seguradora. En 373: embora vedados pelo
CC a confissão, a transação e o pagamento direto pelo segurado, isto não afasta o dever de indenizar da seguradora.
Serão somente ineficazes aqueles institutos (confissão, etc) quanto à seguradora.

7.2 Seguro de Pessoa


Visa assegurar a pessoa em relação a riscos à sua saúde, à sua vida (existência, integridade física e saúde – também
os seguros sociais, tais como a previdência). Difere-se do seguro de dano porque a ocorrência do sinistro neste dá
ensejo à indenização, enquanto no de vida não há, tecnicamente, reparação de um “dano”. O valor segurado pode
ser livremente estipulada (sem limite) e em mais de uma seguradora. É lícita a substituição de beneficiário, salvo
renúncia desta faculdade pelo segurado ou se o seguro for garantia de uma obrigação. No caso de não haver
indicação do beneficiário, será pago metade ao cônjuge ou companheiro e a outra metade aos herdeiros segundo
ordem de sucessão legítima. No seguro de vida ou por incapacidade, o valor a ser pago pela seguradora não está
sujeita às dívidas do segurado, nem se considera herança. É nulo contrato de seguro q exclui a cobertura de suicídio,
mas pode haver carência de 2 anos, hipótese na qual será devolvida somente a reserva técnica. O STF entende que o
suicídio não premeditado, mesmo que ocorra durante a carência, é acobertado pelo seguro (S. 105). En 187 do CJF:
há presunção relativa de que o suicídio cometido nos 2 primeiros anos seja premeditado. Mesmo se previsto no
contrato, o segurador não pode se eximir da cobertura dos seguintes riscos: transporte mais arriscado, prática de
esportes, serviço militar ou atos de humanidade em benefício de outrem. Seguro de vida em grupo: o estipulante é o
único responsável para com o segurador e qualquer mudança que acarrete novos ônus aos participantes deve ser
aprovada por ¾ destes. O seguro de vida pode ser de duas espécies: (i) stricto sensu – o evento que determina seu
pagamento é a morte, pode ser ajustado para determinado período ou por toda a vida; (ii) sobrevivência – sempre a
prazo fixo, terá o segurado direito a receber o valor do seguro se chegar a certa idade ou for vivo a certo tempo; (iii)
misto – combinam-se as duas modalidades anteriores, paga-se o seguro se após certo tempo o segurado for vivo,
mas também se a morte ocorrer antes do previsto. O art. 802 do CC tem por escopo afastar a garantia de reembolso
de despesas médico-hospitalares e com funeral da regra do seguro de pessoa para enquadrá-las na categoria do
“seguro de dano”, motivo pelo qual devem ser “indenizadas” no exato valor da despesa (ALVIM, p. 206).

8. Prescrição
É de um ano o prazo da ação do segurado contra o segurador, contado, em regra, da ciência do fato gerador da
pretensão ou do dia em que o segurado é citado para responder à ação de indenização no seguro de responsabilidade
civil. O prazo do segurado não influencia o do beneficiário, que será de 10 anos (regra geral) no caso de seguro de
vida, acidentes pessoas e outros em favor da pessoa. Será de três anos o prazo da seguradora para reaver seus danos.
O prazo para o beneficiário contra o segurador nos seguros de responsabilidade civil também é de três anos.
(ALVIM, 209/210).

II. Promessa de Recompensa


É ato unilateral pelo qual uma pessoa (promitente) se obriga a entregar coisa ou pagar quantia em benefício de
quem realize serviço ou preencha certa condição. Ainda que a pessoa não haja com o intuito de receber a
recompensa, ainda assim faz jus a ela. É possível revogação da promessa, desde que ainda não tenha havido o seu
cumprimento e seja dada a mesma publicidade feita na oferta. Se alguém tiver despendido gastos para seu
cumprimento antes da revogação, cabe reembolso de tais valores. Se mais de uma pessoa executou o serviço ou
implementou a condição será paga a recompensa àquele que o fez primeiramente, e, se forem feitas
simultaneamente, cabe divisão do prêmio em partes iguais. Se o prêmio for bem indivisível, haverá sorteio e o
ganhador deve pagar metade do valor do bem ao não contemplado. Em concurso de trabalhos e obras, pode haver
previsão de que os direitos patrimoniais de sua exploração caibam ao promitente Em concurso de trabalhos e obras,
pode haver previsão de que os direitos patrimoniais de sua exploração caibam ao promitente
ITEM 8.B: Da cessão de crédito, das arras e da transação.

I. Cessão de Crédito
1. Noções Gerais
A cessão de crédito é uma modalidade de transferência das obrigações (relação jurídica de natureza prestacional).
Assim, o termo alienação só pode ser utilizado para a transmissão de coisas corpóreas, enquanto o vocábulo cessão
implica transferência onerosa ou gratuita de bens imateriais, intangíveis – aliena-se um quadro ou imóvel, enquanto
cedem-se direitos autorais (FARIAS e ROSENVALD, p. 352).
2. Conceito.
Trata-se de negócio jurídico pelo qual um crédito é transferido a outrem (cessionário) pelo credor originário
(cedente) sem necessidade de anuência do devedor (cedido). Entretanto, o cedido precisa ser comunicado da cessão
para fins de eficácia do negócio em relação a ele. Não se confunde com a novação na modalidade subjetiva ativa,
pois o direito que o cessionário recebe é o mesmo do qual o cedente era titular, com todos os seus acessórios – e não
direito novo que surgiu da extinção de um anterior. Também não se confunde com a sub-rogação, pois esta é baseada
no cumprimento da obrigação, pressupondo a satisfação do crédito – a situação jurídica do sub-rogado está
subordinado a esse cumprimento (ex.: obrigação de R$ 1.000 adimplida em R$ 600,00 – há sub-rogação apenas em
relação a R$ 600,00) – na cessão, por outro lado, não há necessária correspondência entre o valor do negócio
jurídico e a obrigação transmitida.
3. Natureza Jurídica
Como visto, a cessão de crédito é um negócio jurídico e modalidade de transferência das obrigações.
4. Regras Gerais
A cessão pode ser gratuita (doação) ou onerosa (regra geral). Todos os elementos da obrigação são transferidos,
salvo disposição em contrário (princípio da gravitação jurídica). Pode o crédito ser incessível se a lei assim dispuser
(alimentos) ou por previsão em convenção (esta cláusula não pode ser oposta a 3º de boa-fé se não constar no
contrato expressamente). P/ a cessão ter eficácia perante 3º’s, deve ser feita por instrumento público ou por
particular segundo os requisitos do art. 654 do CC (qualificação das partes, local e data da cessão, objetivo da
transmissão e indicação do q foi transferido). Se houver pluralidade de cessões, deve o devedor pagar ao que portar
o título de cessão ou, no caso de previsão em escrituras públicas, o notificado primeiramente tem preferência. O
devedor que pagar ao credor originário antes de ser notificado da cessão ou da penhora do crédito se exime da
obrigação. Pode o devedor manejar exceções que tinha contra o credor originário, nascidas até a data da cessão, bem
como as que têm em face do cessionário. Em regra, o cedente não responde pela solvência do devedor, mas sempre
pela existência do crédito na cessão onerosa. Se a cessão for gratuita só responde pela existência se houver má-fé de
sua parte. Se o cedente se obrigou pela solvência, diz-se que o crédito é pro solvendo, na medida em que a extinção
da obrigação fica condicionada à adimplência do devedor. Em regra, a cessão é pro soluto, na qual ocorre a quitação
imediata do débito em relação ao cedente. Na pro solvendo, a responsabilidade do cedente se limita ao valor que
recebeu pela cessão (+ juros + despesas de cobrança). A cessão pode decorrer de lei (acessório segue o principal), de
ordem judicial (herança) ou de convenção (ex: factoring). A cessão pode ser total (principal + juros + garantia) ou
parcial (parte do principal, ou só principal).
II. Arras
Trata-se de valor entregue por uma das partes a fim de trazer presunção de celebração de contrato definitivo. Podem
ser confirmatórias (entrada ou sinal): visam confirmar o contrato celebrado e não há previsão de arrependimento
por qualquer das partes, motivo pelo qual as arras, neste caso, funcionam como penalidade e adiantamento de
indenização mínima, a qual pode ser complementada se não for suficiente para abarcar todas as perdas e danos – se
o contrato é cumprido, são devolvidas, ou podem ser abatidas da prestação de quem as deu se for de mesma natureza
que esta; ou podem ser penitenciais (visam assegurar direito de arrependimento e são uma antecipação das
perdas e danos, sem possibilidade de complementação, ainda que os danos sejam maiores. É uma pré-fixação
da indenização). Se o descumprimento contratual for do devedor, cabe perda das arras, se for do credor, cabe
pagamento das arras em dobro. Importante destacar que se não houver previsão contratual de direito de
arrependimento, presume-se que as arras foram confirmatórias (FARIAS e ROSENVALD, p. 612).
III. Transação
1. Noções Gerais
Alguns códigos incluem a transação entre os modos de extinção da obrigação. Tem-na a doutrina, porém, como um
contrato (GOMES, p. 543). Podem ser criadas novas relações jurídicas pela transação. Dois requisitos essenciais
são: a) incerteza de uma relação jurídica e; b) eliminação contratual da incerteza, mediante c) concessões
recíprocas. Não pode transigir quem não tenha poder especial para dispor da coisa.
2. Conceito
“É contrato pelo qual, mediante concessões mútuas, os interessados previnem ou terminam um litígio,
eliminando a incerteza de uma relação jurídica.” (GOMES, p. 544)
3. Classificações

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É bilateral, oneroso, consensual, comutativo, formal (exige, no mínimo, forma escrita) e não solene (em regra, pois
se o objeto for imóvel ou a obrigação estiver em litígio judicial exige-se escritura pública. Neste último caso, deve
haver homologação pelo juiz). A transação pode ser preventiva (antes da lide) ou terminativa.
4. Regras Gerais
Pode ser judicial ou extrajudicial. Pode recair sobre direitos reais, obrigacionais, familiares ou sucessórios –
excluindo-se do âmbito desse contrato certas relações (matrimônio, estado de filho), mas é lícito transigir quanto aos
interesses patrimoniais vinculados ao estado da pessoa. Parte da doutrina entende que cabe transação quanto
aos valores dos alimentos, mas ORLANDO GOMES entende que não. Em regra, só gera efeitos inter partes
com as seguintes exceções: se feita por um dos credores solidários, desobriga o devedor em relação aos demais
credores; se feita em benefício de só um devedor solidário, desobriga os demais co-devedores; se feita sem
anuência do fiador, desobriga-o. Se ocorrer evicção, não há restauração da obrigação, mas só perdas e danos
ao evicto. Não se confunde com novação, pois esta é um negócio jurídico bilateral pelo qual se dá um pagamento
indireto, enquanto a transação é contrato bilateral que diminui a obrigação. Também não se confunde com dação em
pagamento, que é forma de pagamento indireto (negócio jurídico bilateral) com a mera substituição da prestação.
Em regra, não se aplica o princípio da conservação contratual, salvo se os direitos forem contestados e
independentes entre si. Pode ser nula ou anulável, como qualquer negócio jurídico. A transação é nula se dispuser
sobre objeto sobre o qual incida coisa julgada ou se for descoberto ulteriormente que nenhuma das partes
tinha direito sobre a coisa. O art. 849 elenca hipóteses de anulabilidade da transação (dolo, coação, erro
essencial quanto à pessoa ou coisa. Se o erro for de direito, não se anula questões que foram controvertidas
entre as partes). Venosa entende que esse rol de nulidades elencadas no art. 849, cabendo qualquer outra
modalidade do CC.

91
ITEM 8.C: Da sonegação e das colações. Dos legados, do inventário e da partilha. Anulação da partilha.

I. Da Sonegação e da Colação

1. Sonegação
Consiste na ocultação intencional de bens que deveriam ser inventariados ou levados à colação. A pena de
sonegados só se pode impor por ação própria. Vem a ser uma sanção ou penalidade civil imposta para os casos
mencionados, de ocultação de bens da herança, gerando a perda do direito sobre os bens ocultados. Para essa
imposição, exige-se a presença de dois elementos: a) objetivo: ocultação dos bens; b) subjetivo: má-fé/dolo. Bens
sonegados – sujeitos à sobrepartilha. *Ação de sonegados: meio judicial para obrigar o sonegador a apresentar os
bens que ocultou maliciosamente – aplica punição – não participa da divisão do bem sonegado. Prazo prescricional:
10 anos. Legitimados: interessados na herança e no inventário.

2. Colação
É o ato pelo qual os descendentes e o cônjuge sobrevivente promovem a devolução ao acervo hereditário dos
valores recebidos junto ao falecido, a título de doação, para a subsequente inclusão na partilha, para que esta seja
levada a efeito com igualdade entre os herdeiros descendentes e cônjuge sobrevivente. Doador pode expressamente
dispor que a doação saia da parte disponível: dispensa-se a colação. Se não devolve: sonegadores. Objetivo: igualar
a legítima dos herdeiros necessários com base na equidade e na vontade presumida do de cujus (princípio da
igualdade entre os quinhões). Obrigação de colacionar: descendentes (sucessíveis por direito próprio ou os que
receberam por direito de representação) e cônjuge sobrevivente (só quando concorrer com os descendentes) –
ascendentes, colaterais e estranhos não tem obrigação de colacionar. Realizada por substância/espécie/in natura
(bem doado se integra à herança) e por estimação/imputação/ideal (restituição em dinheiro do valor correspondente).
Valor do bem = da época da doação, nos termos do caput do art. 2.004, exclusivamente na hipótese em que o
bem doado não mais pertença ao patrimônio do donatário. Se, ao contrário, o bem ainda integrar seu
patrimônio, a colação se fará com base no valor do bem na época da abertura da sucessão (Obs.: Enunciado
119 CJF) – ambos os casos abrigam a correção monetária. Prazo: 10 (dez) dias, a contar de sua citação, para
manifestar-se sobre as primeiras declarações (art 1014 do CPC). Dispensa da colação: a) dispensa determinada pelo
doador que dispõe ter realizado com base na parte disponível; b) gastos ordinários do ascendente com o descendente
enquanto menor; c) doações remuneratórias; d) benfeitorias acrescidas aos bens doados. e) frutos e rendimentos dos
bens, até a data do falecimento do autor da herança.

II. Dos Legados do Inventário e da Partilha

1. Legados
Típicos da sucessão testamentária: é sucessão a título singular, que recai sobre coisa certa e determinada (PEREIRA
DA SILVA, p. 251) – rejeita-se a idéia de legado universal. Assemelha-se à doação – todavia somente opera após a
morte e independe do animus do de cujus. O herdeiro pode ser tacitamente indicado, o legatário só existe quando
expressamente indicado. Testador – Onerado – Legatário (pode ser pessoa estranha ou não à sucessão legítima).
Caso legatário seja também herdeiro legítimo: legado precípuo ou prelegado. Quanto ao objeto: a) coisas corpóreas
(móveis, imóveis, semoventes); b) bens incorpóreos (títulos, ações e direitos); c) alimentos; d) créditos; e) dívidas; f)
pode incidir em fato, desde que seja lícito, possível e útil ao legatário – tudo que seja economicamente apreciável
pode ser transmissível por legado. Espécies: a) puro ou modal – varia pelo fato de ter encargo ou não; b) coisa
alheia – é ineficaz o legado de coisa alheia que não pertença ao testador no momento da abertura da sucessão;
c) coisa do herdeiro ou legatário – se a determinação de entrega a terceiro não for cumprida, presume-se a
renúncia à herança (presunção juris et de iure); d) Legado de gênero – determinada coisa móvel determinada por
gênero ou espécie, ainda que não exista na herança; e) Coisa singularizada e legado de universalidade – quando se
lega uma universalidade “todos os meus livros” englobam-se todas as unidades que integram; f) Determinação do
lugar – só terá eficácia o legado se a coisa for encontrada no lugar determinado (a remoção feita por terceiro da
coisa não afeta o legado); g) Crédito – de crédito ou de débito, o legado terá eficácia em relação à quantia relativa;
h) Quitação de dívida – exonera algum devedor; i) Compensação – não se opera a compensação com o legado, a
não ser que expressamente declarado; j) Alimentos – se vinculados a um imóvel, constituem ônus real, inscrevendo-
se no registro; l) Imóvel – engloba as benfeitorias; m) Usufruto – presume-se vitalício, só o proprietário pleno
pode fazer, não existe usufruto sucessivo; n) Legado Remuneratório – aceitando a liberalidade, o legatário
abre mão do direito de ação. Efeitos: só terá posse após a partilha, ainda que a propriedade já tenha desde a
abertura da sucessão; direito de pedir legado; direito aos frutos e juros da coisa certa legada desde a morte; escolha
do legado (legatum optiones: escolha do legatário. Legatum electiones: testador indica herdeiro para escolher.
Legado alternativo: cabe ao herdeiro a escolha entre 2 ou mais coisas diversas). Não necessita aceitação expressa,
todavia cabe renúncia. Caducidade: ineficácia face causa superveniente (ex: modificação substancial do bem,
alienação voluntária da coisa pelo testador em vida, perecimento ou evicção da coisa etc).

2. Inventário
“É o meio técnico de anotar e registrar o que ‘for encontrado’, pertencente ao morto, para ser atribuído a seus
sucessores” (PEREIRA DA SILVA, p. 339). O inventário era obrigatoriamente judicial, no entanto, em 2007
passou-se a permitir o inventário e a partilha por escritura pública, quando não houver testamento ou
herdeiro incapaz. Processo de inventário: abertura (prazo de 60 dias, art. 983 do CPC) → nomeação do
inventariante → citação dos interessados → primeiras declarações → avaliação dos bens inventariados →
declarações finais do inventariante → liquidação dos impostos. (prazo geral de 12 meses) – os prazos podem
ser dilatados pelo Juiz. Legitimados – qualquer pessoa com legítimo interesse (cônjuge; companheiro;
herdeiro, legatário ou o cessionário de um ou de outro; o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da
herança; o testamenteiro; curador do herdeiro; o síndico da falência do herdeiro, do legatário do autor da
herança ou do cônjuge sobrevivo; o MP se houver incapaz; e, finalmente, a Fazenda Pública – também o
administrador do espólio. A legitimação é concorrente, não há ordem. Se ninguém o fizer, pode o Juiz de
oficio). Competência: foro do último domicílio do finado – tem-se entendido que o critério de competência é
relativo (PEREIRA DA SILVA, p. 340). Inventariante – o inventariante não é um mandatário dos herdeiros. O
inventariante tem poderes de administração, mas não de alienação, os atos do inventariante estão sob
fiscalização dos herdeiros. O inventariante tem a responsabilidade passiva e ativa de representação do espolio.
A sanção para a violação dos deveres do inventariante (relacionar herdeiros e legatários, administração proba, não
sonegar, etc) são a responsabilidade civil e o afastamento da função. Arrolamento: processo de inventário
simplificado. Inventário negativo: modo de provar a inexistência de bens do extinto casal. Inventário
Extrajudicial: art. 982 do CPC. É possível receber valores independentemente de inventario por mera
expedição de alvará: FGTS, PIS-PASEP e parcelas de benefícios previdenciários não recebidos em vida. A
prova objetiva do 26º continha uma opção na questão 75 que afirmava caber sempre e em primeiro lugar ao cônjuge
supérstite a investidura da inventariança. A assertiva estava errada porque a sequência do art. 1.797 do CC prevê que
o cônjuge supérstite administrará o inventário até o compromisso do inventariante e somente poderá
administrar os bens se ainda convivia com o falecido à época do óbito. Além disso, inventariante não é
necessariamente aquele que tocará a administração provisória da herança (PEREIRA DA SILVA, p. 344).

3. Partilha
Divisão oficial do monte líquido, apurado durante o inventário, entre os sucessores do de cujus, para lhes adjudicar
os respectivos quinhões hereditários. O estado de indivisão máximo no ordenamento pátrio e de 5 anos (art.
1.320, §1º, CC). A partilha tem efeito meramente declaratório, já que a propriedade é transmitida desde a
abertura da sucessão (saisine). O objeto da partilha é a herança líquida. Os herdeiros são garantes uns dos
outros, assim, havendo evicção, todos respondem pelo prejuízo do evicto (pelo valor do bem ao tempo da
partilha). Impossibilidade de partilha: e necessário ter em conta, especialmente em face da legislação agrária, a
capacidade produtiva do imóvel – se de seu fracionamento resultar partes inferiores ao mínimo economicamente útil
não poderá haver partilha Espécies de partilha: a) amigável (escrito público ou particular assinado por todos os
interessados sujeito a homologação judicial; amigável da Lei 11.441/07 (não havendo testamento ou incapaz pode
ser feita por escritura publica, independente de homologação posterior), b) judicial (obrigatória se os herdeiros
divergirem ou houver incapaz) ou b) em vida (feita pelos ascendentes, é válida desde que não prejudique a legítima,
não se trata de “pacta corvina”, vedada pelo ordenamento jurídico. Pode ser feita por testamento ou por doação,
motivo pelo qual controverte a doutrina sobre sua natureza). Discute a doutrina se essa última modalidade de
partilha “parenttum inter líberos” transmite as dívidas. CAIO MARIO entende que se for feita por doação
(partilha-doação) não haverá transmissão de dívidas, já se feita por testamento (partilha-testamento), sim.

III. Nulidade da Partilha


Observância de requisitos formais: mesmas causas que inquinam de ineficácia os negócios jurídicos → ação
de nulidade relativa: a) prazo decadencial de um ano (rescisão de partilha amigável – ação anulatória):
coação, erro, dolo, estado de perigo, lesão, fraude a credores – rol não taxativo, segundo CAIO MARIO. Prazo
decadencial de dois anos (partilha judicial) contado do trânsito em julgado para rescisória: mesmas situações acima
arroladas; b) Realiza nova partilha. Exclusão de herdeiro: se excluído herdeiro necessário, por exemplo, pode
este valer-se o da ação de petição de herança. Para CAIO MARIO não se aplica o prazo da anulatória, pois a
sentença não faz coisa julgada para quem dela não fez parte, não haveria o que “anular”. O prazo da petição de
herança seria o geral do art. 205 do CC (10 anos).

93
ITEM 9.A: Atos jurídicos. Dos defeitos, nulidade e anulabilidade, da fraude a credores e da onerosidade
contratual. Dos atos ilícitos e sua reparação.

Obras consultadas: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. I. São Paulo: Saraiva, 2003;
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito Civil – Teoria Geral. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2008; TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Série Concursos Públicos. Vol. 1. 2ª Ed. São Paulo: Método, 2006;
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 5ª Ed. São Paulo: Atlas, 2005.

Legislação básica: CC, arts. 104 a 188, 478 a 480; Súmulas do STJ nº 195, 322, 375; Enunciados do CJF nº 12, 13,
37, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 159, 175, 176, 290, 291, 293, 294, 365, 366, 367, 410, 411, 412, 413, 414, 439,
440.

1. Atos Jurídicos
Venosa define os atos jurídicos como sendo “aqueles eventos emanados de uma vontade, quer tenham intenção
precípua de ocasionar efeitos jurídicos, quer não” (p. 362). Em sentido lato, pois, os atos jurídicos derivam,
necessariamente, de uma atuação do ser humano ou de sua exteriorização de vontade, produzindo efeitos
reconhecidos pelo direito (fato jurídico humano voluntário). Elementos caracterizadores do ato jurídico em sentido
amplo: a) ato humano de vontade; b) exteriorização da vontade pretendida; c) consciência dessa exteriorização de
vontade; d) que essa vontade exteriorizada dirija-se à obtenção de resultado permitido (não proibido) pela ordem
jurídica. Dividem-se os atos jurídicos em: ato jurídico stricto sensu, negócio jurídico e ato-fato jurídico. Enquanto o
ato jurídico em sentido estrito (ou ato não-negocial) tem consectários previstos em lei, afastando, em regra, a
autonomia privada (neles a intenção está em segundo plano, ganhando realce a consequência desejada), o negócio
jurídico (ou ato negocial) é ato de autonomia privada, com os quais o particular regula por si os próprios interesses.
Quando a autonomia da vontade não exercer influência nos efeitos decorrentes ter-se-á ato jurídico sentido estrito,
cujo efeito se produz ex lege, sem considerar a vontade do agente (há uma manifestação de vontade); já se o
resultado depender da vontade (ex voluntate), é caso de negócio jurídico (há uma declaração de vontade). Aplicam-
se as regras dos negócios jurídicos (dada a maior complexidade e riqueza estrutural) aos atos jurídicos lícitos não
negociais ou em sentido estrito (art. 185 do CC). Por seu turno, o ato-fato jurídico, categoria criada por Pontes de
Miranda, consiste no comportamento que, conquanto provenha da atuação humana, é desprovido da
intencionalidade ou da consciência (voluntariedade) em face de um resultado jurídico (ex: compra de confeito por
uma criança de cinco anos). Os fatos abarcados por essa definição, não fosse a supracitada particularidade, poderiam
ser enquadrados como fato jurídico ou ato jurídico stricto sensu.

2. Dos Defeitos, Nulidade e Anulabilidade

A invalidade do negócio jurídico


A expressão “invalidade do negócio jurídico” é empregada para designar o negócio que não produz os efeitos
desejados pelas partes, podendo gerar nulidades ou anulabilidades, de acordo com o grau de imperfeição verificado
(GONÇALVES, p. 425). Desatendidos os requisitos de validade (art. 104 do CC), o negócio jurídico será inválido e,
portanto, eivado de nulidade ou anulabilidade. O ato é tido por inexistente quando falta um elemento essencial à sua
formação (agente, vontade, objeto, forma), não chegando a constituir-se. O Código Civil, entretanto, não concebeu
de forma expressa e distinta o plano da existência.

NULIDADE ANULABILIDADE
Fundamenta-se em razões de ordem pública, cuja
Fundamenta-se em razões de ordem privada.
proteção interessa a todos.
Pode ser declarada de ofício pelo juiz, a requerimento Somente poderá ser invocada por aquele a quem
do MP, ou de qualquer interessado. aproveite, não podendo ser reconhecida de ofício.
É suscetível de confirmação ou redução, que pode ser
Não é suscetível de confirmação (é irratificável).
expressa ou tácita.
Não convalesce pelo passar do tempo (é Prazo decadencial de, em regra, 4 anos. Quando a lei
imprescritível). não estabelecer prazo, será de 2 anos.
Não produz efeitos. Produz efeitos, enquanto não for anulado.
Reconhecida através de ação desconstitutiva, sujeita a
Reconhecida através de ação meramente declaratória.
prazo decadencial.
Admite conversão substancial. Admite sanação pelas próprias partes.
Ex: arts. 166 e 167 do CC. Ex: art. 171 do CC.

Conversão substancial do negócio jurídico


Trata-se de hipótese de acolhimento do princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos (princípio da
fungibilidade). A conversão substancial é o meio jurídico através do qual, respeitados certos requisitos, transforma-
se um negócio jurídico inválido absolutamente (nulo) em outro, com o intuito de preservar a intenção das partes que
declararam vontade (art. 170 do CC). Não se trata de medida de sanação de invalidade absoluta do negócio jurídico
(até porque a nulidade é insanável). Na verdade, não se convalida a nulidade do negócio, apenas se aproveita a
vontade declarada para a formação de um ato, a princípio nulo, transformando-o em outro, para o qual concorrem os
requisitos formais e substanciais, sendo perfeitamente válido e eficaz. A conversão pertine, com exclusividade, aos
negócios jurídicos nulos, uma vez que os anuláveis podem ser convalidados pela simples manifestação de vontade
das partes interessadas, sendo desnecessária a aplicação da teoria do aproveitamento. Admite-se, no entanto, a
conversão do negócio anulável, nas hipóteses em que não seja possível a sua ratificação, como nos casos de
anulabilidade por incapacidade relativa do agente. A conversão, tratando-se de aproveitamento de ato nulo, clama
reconhecimento judicial, se presentes os seus pressupostos. Somente o juiz pode declarar o aproveitamento da
vontade manifestada em negócio nulo. A legitimidade para reclamar sua admissibilidade é tanto das partes quanto
dos terceiros interessados, não podendo ser invocada por quem deu causa à nulidade, nem tampouco conhecida ex
officio. “O aspecto objetivo da conversão requer a existência do suporte fático no negócio a converter-se”
(Enunciado nº 13 do CJF).
A ratificação do negócio jurídico (convalidação, sanação ou confirmação) concerne à possibilidade de as partes, por
vontade expressa ou tácita, declararem aprovar um determinado negócio ou ato anulável (art. 169 do CC).
A redução do negócio jurídico, que diz respeito à nulidade parcial, tem cabimento quando admitida a separação das
partes do negócio, permitindo a extirpação da parte inválida e o aproveitamento da parte válida (art. 184 do CC).

A simulação (art. 167 do CC)


A simulação é a declaração enganosa de vontade, visando produzir efeito diverso do ostensivamente indicado. Na
simulação há um descompasso, um desencontro, entre a declaração de vontade e o verdadeiro resultado objetivado
pelas partes. A simulação revela-se como o intencional e propositado desacordo entre vontade declarada (tornada
exterior) e a vontade interna (pretendida concretamente pelo declarante), fazendo com que seja almejado um fim
diverso daquele afirmado. É um vício social. O negócio simulado é inoponível aos terceiros de boa-fé (art. 167, §2º
do CC). A simulação absoluta tem lugar quando o ato negocial é praticado para não ter eficácia. Ou seja, na
realidade, não há nenhum negócio a ser encoberto, mas mera aparência (ex: compromisso de compra e venda de
imóvel fictício celebrado pelo locador, apenas para possibilitar uma ação de despejo). Já a simulação relativa oculta
um outro negócio (que fica dissimulado), sendo aquela em que existe intenção do agente, porém a declaração
exteriorizada diverge da vontade interna. Em ambas as hipóteses a simulação gera nulidade do negócio jurídico, não
produzindo efeitos. Quando se tratar de simulação relativa, subsistirá o negócio dissimulado, se for válido na
substância e na forma (Enunciados nº 153 e 293 do CJF). Na simulação, procura-se aparentar o que não existe; na
dissimulação, oculta-se o que é verdadeiro.
Quando a simulação não gera prejuízo a terceiros (inexistindo prejudicados) e não frauda a lei, diz-se tratar de
simulação inocente ou tolerável (ex: escritura em que conste que o preço foi pago em moeda, quando foi pago com
cheque já compensado). Discute-se se a simulação inocente é ou não causa de invalidade do negócio jurídico.
Segundo o Enunciado nº 152 do CJF, toda simulação, inclusive a inocente, é invalidante;
A reserva mental, prevista no art. 110 do CC, quando ilícita e conhecida do destinatário, é vício social similar à
simulação, gerando a nulidade absoluta do negócio jurídico. A reserva mental opera da seguinte forma: se a outra
parte dela não tem conhecimento, o negócio é válido; se a outra parte conhece a reserva mental, o negócio é nulo,
pois o instituto é similar à simulação.

Defeitos do negócio jurídico


“Defeitos do negócio jurídico são as imperfeições que neles podem surgir, decorrentes de anomalias na formação
da vontade ou na sua declaração” (GONÇALVES, p. 356). Podem se apresentar sob a forma de vícios de
consentimento (de vontade) ou vícios sociais. Os vícios de consentimento dizem respeito a hipóteses nas quais a
manifestação de vontade do agente não corresponde ao íntimo e verdadeiro intento do agente. Ou seja, detecta-se
mácula na vontade declarada, exteriorizando divergência entre a vontade que se percebe e o real desejo do
declarante. São vícios de vontade o erro, o dolo, a coação, a lesão e o estado de perigo. Já nos vícios sociais, a
vontade é exteriorizada em conformidade com a intenção do agente. No entanto, há uma deliberada vontade de
prejudicar terceiro ou burlar a lei, motivo pelo qual o vício não é interno, mas externo, de alcance social. A fraude
contra credores e a simulação são exemplos de vício social.

Erro ou ignorância (arts. 138 a 144 do CC): O erro é um engano fático, uma falsa noção, em relação a uma
pessoa, negócio ou direito, que acomete a vontade de uma das partes que celebrou o negócio jurídico. Trata-se de
um vício de consentimento no qual o agente engana-se sozinho. A ignorância é um desconhecimento total quanto ao
objeto do negócio; a distinção em relação ao erro é meramente teórica; ambos geram a anulabilidade do negócio
jurídico. Erro essencial ou substancial é o que recai sobre as circunstâncias e aspectos relevantes do negócio,
constituindo a causa determinante do ato (art. 139 do CC). Erro acidental é aquele que recai sobre motivos ou
qualidades secundárias do objeto ou da pessoa, não alterando a validade do negócio; o caso concreto deve ser alvo
de exame do juiz (art. 142 do CC). Para dar azo à anulação do negócio, o erro deve ser substancial, podendo ser
percebido por pessoa de diligência normal. Não interessa se o erro é escusável (justificável) ou não. O art. 138 do
CC adotou o princípio da confiança. Com esse teor, o Enunciado nº 12 do CJF. O vício redibitório é erro objetivo
sobre a coisa, que contém um defeito oculto; o erro quanto às qualidades essenciais do objeto é subjetivo, pois reside
na manifestação da vontade. O falso motivo, em regra, não pode gerar a anulabilidade do negócio, salvo quando
estiver expresso como razão determinante do negócio. Trata-se do erro quanto ao fim colimado. O erro de cálculo
não anula o negócio, mas apenas autoriza a retificação da declaração de vontade. Tal disposição, consagrada no art.
143 do CC, está afinada com o princípio da conservação dos negócios jurídicos. O erro não prejudica a validade do
negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na
conformidade da vontade real do manifestante. O erro obstativo ou impróprio é o de relevância exacerbada, que
apresenta uma profunda divergência entre as partes, impedindo que o negócio venha a se formar. É portanto, o que
obsta a sua formação e, destarte, inviabiliza a sua existência.
Dolo (arts. 145 a 150 do CC): Enquanto no erro há uma (espontânea) falsa impressão das circunstâncias do
negócio, no dolo tem-se vício de consentimento em que o agente é induzido a se equivocar em virtude de manobras
ardilosas e maliciosas perpetradas por outrem; ou seja: o erro é provocado por terceiro. No dolo essencial, uma das
partes do negócio utiliza artifícios maliciosos para levar a outra a praticar um ato que não praticaria normalmente,
visando obter vantagem, geralmente com vistas ao enriquecimento sem causa. O dolo acidental não gera a
anulabilidade do negócio jurídico, mas somente a satisfação de perdas e danos a favor do prejudicado. Haverá dolo
acidental quando o negócio seria praticado pela parte, embora de outro modo. Não só o dolo do próprio negociante
gera a anulabilidade do negócio, mas também o dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse
ter conhecimento. Em caso contrário, ainda que válido o negócio jurídico, o terceiro responderá por perdas e danos à
parte a quem ludibriou. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder
civilmente até a importância do proveito que teve. Mas se o dolo for do representante convencional, o representado
responderá solidariamente com ele por perdas e danos. Segundo Venosa (p. 443), “o dolo positivo (ou comissivo)
traduz-se por expedientes enganatórios, verbais ou de outra natureza que podem importar em série de atos e
perfazer uma conduta”, enquanto “o dolo negativo (ou omissivo) é a reticência, a ausência maliciosa de ação para
incutir falsa ideia ao declaratário”. Dolo recíproco ou bilateral é a situação em que ambas as partes agem
dolosamente, um tentando prejudicar o outro mediante o emprego de artifícios ardilosos. Não podem as partes
alegar os dolos concorrentes, permanecendo incólume o negócio jurídico celebrado, não cabendo inclusive qualquer
indenização a título de perdas e danos. Também é denominado de dolo compensado ou dolo enantiomórfico.
Coação (arts. 151 a 155 do CC): Coação é toda a pressão física ou moral exercida contra alguém, de modo a forçá-
lo à prática de um determinado negócio jurídico, contra a sua vontade, tornando defeituoso o negócio. É a coação
fator externo apto a influenciar a vítima no sentido de realizar, efetivamente, o negócio que a sua vontade (interna e
livre) não deseja. Enquanto no erro o declarante se engana sozinho, espontaneamente, e no dolo é levado a se
equivocar, por força de manobras ardilosas, na coação o agente sofre intimidação moral: ou pratica o ato ou sofrerá
as consequências decorrentes da ameaça que lhe é imposta. Coação física (vis absoluta): É o constrangimento
corporal que retira toda capacidade de manifestação de vontade, implicando ausência total de consentimento,
acarretando nulidade do ato (Venosa). Nesse caso, o coato pode ser enquadrado no art. 3º, III do CC. Alguns autores,
como Renan Lotufo, entendem que se tal modalidade de coação estiver presente, o negócio será inexistente (Farias,
Rosenvald, Gonçalves). Coação moral ou psicológica (vis compulsiva): Coação efetiva e presente, fundada em
temor de dano iminente e considerável à pessoa do negociante, à sua família ou aos seu bens. O ato praticado nessas
circunstâncias é passível de anulação, desde que proposta a ação no prazo decadencial de 4 (quatro) anos, contados
de quando cessar a coação. Não são causas da anulação do negócio jurídico por coação a ameaça de exercício
regular de direito e o temor reverencial. Também não constitui defeito a ameaça a um mal impossível ou remoto,
assim como de mal evitável ou menor do que o ato extorquido. A coação exercida por terceiro somente será causa de
anulabilidade do ato se o beneficiário dela tivesse ou devesse ter ciência.
Lesão (art. 157 do CC): Configura-se quando alguém obtém lucro exagerado, desproporcional, aproveitando-se da
falta de malícia (inexperiência) ou da situação de necessidade do outro contratante. Prende-se à ideia de justiça
contratual. No Direito Consumerista, a lesão é causa de nulidade. A desproporcionalidade entre as prestações que
incumbe às partes deve ocorrer no momento da declaração da vontade, no instante da contratação; se for
superveniente, não se trata de lesão, mas de onerosidade excessiva, capaz de ensejar a revisão do contrato. A
ineficácia negocial poderá ser afastada se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar
com a redução do proveito, conforme Enunciado nº 149 (“Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a
verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua
anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de
2002.”). A ação judicial movida pelo lesado pode postular, desde logo, a revisão do negócio jurídico (Enunciado nº
291 – “Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil, pode o lesionado optar por não pleitear a
anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista à revisão judicial do negócio por meio da
redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço”). Não se presume a inexperiência ou premente
necessidade do lesado (Enunciado nº 290). Restam dúvidas quanto à possibilidade de a lesão usurária gerar a
nulidade absoluta do negócio jurídico celebrado, porque o art. 11 da Lei de Usura (Decreto 22.626/33) menciona
que qualquer infração ao que constar naquela lei é capaz de gerar nulidade plena e absoluta do pacto. Por outro lado,
a lesão subjetiva, regra geral, gera anulabilidade pelo teor do novo Código Civil (art. 171, II). Adotando a
conservação contratual, princípio anexo à função social do contrato, Flávio Tartuce é adepto do posicionamento pela
anulabilidade. Isso porque deve sempre o magistrado procurar a revisão do negócio, mantendo a vontade
manifestada pelas partes. A lesão está configurada na prática do truck system, hipótese em que o empregador coloca
à disposição do empregado mercadorias, no próprio local de trabalho, com preços bem superiores aos praticados no
mercado. A lesão não exige dolo de aproveitamento (Enunciado nº 150).
Estado de perigo (art. 156 do CC): O estado de perigo é a projeção do estado de necessidade do direito penal na
seara negocial. Caracteriza-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou pessoa de
sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação onerosamente excessiva. Tratando-se de
pessoa não pertencente à família do contratante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias fáticas e regras da razão.
O estado de perigo ocorre no momento em que se declara a vontade, assumindo obrigação excessivamente onerosa,
por conta da necessidade de salvar a si ou a alguém a quem se liga por vínculo afetivo. O estado de perigo e a
coação (moral) se distinguem porque na coação a ameaça ou violência é oriunda de pessoa interessada na prática do
ato (uma das partes do negócio ou terceiro), enquanto no estado de perigo a ameaça provém de simples
circunstância fática, que exerce contundente influência sobre a vontade do agente que declarará a vontade). Na
lesão, a necessidade é econômica; no estado de perigo, visa-se salvar uma vida. Tem de demonstrar o dolo de
aproveitamento da pessoa que contrata com a outra que age sobre o estado de perigo, isto é, um contratante deve ter
conhecimento da situação de risco que atinge o outro. O estado de perigo surgiu com o CC/2002, valendo apenas
para o negócio jurídico celebrado a partir de janeiro de 2003.

3. Da Fraude a Credores (arts. 158 a 165 do CC)


A alienação fraudulenta de bens é o gênero do qual se apresentam como espécies a fraude contra credores (ou fraude
pauliana), a fraude de execução e a alienação de bem penhorado.
A fraude contra credores é vício social que constitui um artifício malicioso empregado pelo devedor com o fito de
impor prejuízo ao credor, impossibilitando-o de receber o crédito, pelo esvaziamento ou diminuição do patrimônio
do devedor. Exige-se que o passivo do devedor tenha se tornado superior ao ativo, por conta de atos praticados pelo
titular com o propósito de lesar o seu credor.
Na fraude pauliana o devedor dilapida, maliciosamente, o seu patrimônio, reduzindo-o à insolvência, de modo a
prejudicar credores. Seus elementos caracterizadores são: a) a diminuição ou esvaziamento do patrimônio do
devedor, até a sua insolvência (elemento de índole objetiva, chamado de eventus damni); b) o intuito malicioso do
devedor de causar o dano (elemento de cunho subjetivo, nominado de consilium fraudis). O credor somente logrará
invalidar a alienação se provar a má-fé do terceiro adquirente, isto é, a ciência deste da situação de insolvência do
alienante.
O ordenamento jurídico, no entanto, presume a má-fé do adquirente em hipóteses nas quais a insolvência for notória
ou quando houver motivo para ser conhecida por ele. São hipóteses em que se presume o ânimo fraudulento
(requisito caracterizador da fraude contra credores): a) na transmissão gratuita de bens (art. 158 do CC, ex: doação);
b) na remissão (perdão) de dívidas; c) na celebração de contratos onerosos do devedor com terceiros (art. 159 do
CC) em casos nos quais a insolvência seja notória, pública; d) na antecipação de pagamentos (art. 162 do CC); e) no
pagamento de dívida ainda não vencida, por colocar alguns dos devedores em posição desfavorável, quebrando a
igualdade (art. 162 do CC); f) na outorga de direitos preferenciais a um dos credores (art. 163 do CC), como a
instituição de hipoteca ou penhor em favor de um dos credores.
O meio idôneo disponibilizado pelo legislador para o reconhecimento da fraude contra credores é a ação pauliana,
também chamada de ação revocatória, que possui natureza desconstitutiva (constitutiva negativa), submetida ao
prazo extintivo (decadencial) de 4 anos. Segundo Gonçalves (p. 413), “o novo Código Civil não adotou a tese de
que se trataria de hipótese de ineficácia relativa do negócio, defendida por ponderável parcela da doutrina [a
exemplo de Yussef Said Cahali, Alexandre Freitas Câmara, e Cândido Rangel Dinamarco], segundo a qual,
demonstrada a fraude ao credor, a sentença não anulará a alienação, mas simplesmente, como nos casos de fraude
à execução, declarará a ineficácia do ato fraudatório perante o credor, permanecendo o negócio válido entre os
contratantes: o executado-alienante e o terceiro adquirente”. Observe-se que, com a anulação, o bem volta para o
patrimônio do devedor que agiu com fraude, o que não representa que o credor que promoveu a ação anulatória irá
conseguir a satisfação patrimonial, pois se abre concurso de credores.
A legitimidade ativa para a ação pauliana é daquele que já era credor ao tempo da prática do ato de alienação,
enquanto a legitimidade passiva recai não somente sobre o devedor que fraude o interesse do credor, mas, por igual,
sobre aquele que com ele celebrou o negócio e os terceiros adquirentes que hajam procedido com má-fé (art. 161 do
CC), formando um litisconsórcio passivo necessário, em razão da natureza da relação jurídica. Além do eventus
damni e do consilium fraudis, é preciso demonstrar que o prejuízo sofrido decorreu da alienação em fraude. O
ajuizamento da ação pauliana pelo credor com garantia real (art. 158, § 1º do CC) prescinde de prévio
reconhecimento judicial da insuficiência da garantia (Enunciado nº 151 do CJF) - No CC/1916 apenas o credor
quirografário (desprovido de garantia) podia ajuizar ação pauliana. Para os efeitos do art. 158, § 2º do CC, a
anterioridade do crédito é determinada pela causa que lhe dá origem, independentemente de seu reconhecimento por
decisão judicial (Enunciado nº 152 do CJF).
Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o
corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados. Trata-se da denominada
fraude não ultimada. Mas, se for inferior o preço, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o montante
que lhes corresponda ao valor real, outra consagração do princípio da conservação contratual.
A fraude contra credores não poderá ser discutida nos embargos de terceiros – e em nenhuma outra ação – porque o
negócio fraudulento é válido e originariamente eficaz, somente, podendo ser desconstituído por decisão judicial,
capaz de lhe retirar a eficácia nociva ao credor. Súmula nº 195 do STJ: “Em embargos de terceiro não se anula ato
jurídico, por fraude contra credores”.
Não se pode confundir a fraude contra credores com a fraude à execução. A primeira constitui instituto de Direito
Civil, enquanto a segunda, instituto de Direito Processual Civil, tratado no art. 593 do CPC. Ocorre a fraude à
execução quando, ao tempo da alienação do bem, já corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à
insolvência. Mas, apesar da expressão utilizada pelo dispositivo processual, pouco importa se a demanda era ou não
capaz de tornar o devedor insolvente. A insolvência deve ser resultado do ato de alienação ou oneração realizada no
curso do processo para que seja considerada em fraude de execução. Tal demanda pode ser uma ação executiva ou
ação condenatória. Prevalece o entendimento pelo qual, para a sua caracterização, deve o fraudador ter sido ao
menos citado em uma das referidas demandas (STJ, AgRg nos EDcl no REsp 649139 / SP). Na fraude à execução,
não há necessidade de o credor promover ação pauliana, uma vez que o ato não é anulável, mas ineficaz perante a
ação de execução ou condenatória. Portanto, a alienação ocorrida em fraude à execução pode ser declarada ineficaz
e reconhecida no próprio processo de execução mediante simples requerimento da parte lesada. Entende a doutrina
que, na fraude à execução, não há necessidade de prova do conluio, havendo presunção absoluta (iure et de iure) da
sua presença. Dessa forma, não há necessidade de o exeqüente (ou autor) provar o consilium fraudis. Isso porque na
fraude à execução o vício é mais grave do que na fraude contra credores, envolvendo ordem pública, por atentado à
atuação do Poder Judiciário. No entanto, a súmula nº 375 do STJ, editada em 2009, assim prevê: O reconhecimento
da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.
A alienação de bem penhorado, espécie mais grave de alienação fraudulenta, caracteriza-se por um ato de disposição
pelo devedor, retirando de seu patrimônio um bem que já foi objeto de constrição judicial (penhora),
indisponibilizado para atender a uma execução. Dispensa-se a presença de qualquer elemento (objetivo ou
subjetivo), sendo despiciendo, inclusive, a demonstração de prejuízo do credor. Mesmo se o devedor tiver outros
bens em seu patrimônio, a alienação será fraudulenta se já tiver havido penhora. Trata-se de matéria de ordem
pública que pode ser reconhecida ex officio e a qualquer tempo, dispensando a propositura de ação específica.

Tabela extraída de FARIAS e ROSENVALD (p. 499):


ALIENAÇÃO DE BEM
FRAUDE CONTRA CREDORES FRAUDE DE EXECUÇÃO
PENHORADO
Instituto de direito material, Instituto processual, regido pelo Instituto processual, relacionado à
contemplado no CC. CPC. Execução e regido pelo CPC.
Interesse do particular e do Estado- Interesse público estatal e do
Interesse puramente particular
Juiz particular
Constitui defeito do negócio Não constitui defeito do negócio Não constitui defeito do negócio
jurídico, sendo atacável apenas pelo jurídico, gerando apenas a sua jurídico, apenas tornando ineficaz o
interessado, com sanção civil ineficácia em relação ao credor ato em fraude em relação ao credor
Constitui crime e ato atentatório à
Não constitui crime Constitui crime
dignidade da Justiça
Atos praticados são anuláveis,
Atos praticados são ineficazes em Atos praticados são ineficazes em
segundo o CC (embora alguns
relação ao credor lesado relação ao credor lesado
entendam ineficazes)
Dispensa a ação pauliana, podendo Dispensa a ação pauliana, podendo
Exige ação pauliana para o seu
ser conhecida de ofício nos ser conhecida de ofício nos próprios
reconhecimento
próprios autos da execução autos da execução
Não exige qualquer elemento,
Exige elemento objetivo (dano) e Exige apenas o elemento objetivo
bastando a alienação de bem que
subjetivo (conluio fraudulento) (dano)
sofreu constrição judicial

4. Da Onerosidade Contratual (arts. 478 a 480 do CC)


A onerosidade excessiva é causa de extinção do negócio jurídico, nos termos do art. 478 do CC. Os requisitos para a
resolução do contrato por onerosidade excessiva, segundo Gonçalves (p. 175), são os seguintes: a) vigência de um
contrato comutativo de execução diferida ou de trato sucessivo; b) ocorrência de fato extraordinário e imprevisível;
c) considerável alteração da situação de fato existente no momento da execução, em confronto com a que existia por
ocasião da celebração; d) nexo causal entre o evento superveniente e a consequente excessiva onerosidade. É a clara
preferência do CC pelo adimplemento contratual, com eventuais correções, ao invés da pura e simples resolução e
indenização, visa-se consagrar a função social do contrato, levando as partes ao seu adimplemento. Por isso, “em
atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do Código Civil de 2002 deverá conduzir,
sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual” (Enunciado nº 176 do CJF).
Ademais, “em observância ao princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do
pacto por excessiva onerosidade, pode o juiz modificá-lo equitativamente, desde que ouvida a parte autora,
respeitada a sua vontade e observado o contraditório” (Enunciado nº 367 do CJF). A revisão do contrato por
onerosidade excessiva fundada no Código Civil deve levar em conta a natureza do objeto do contrato. Nas relações
empresariais, observar-se-á a sofisticação dos contratantes e a alocação de riscos por eles assumidos com o contrato
(Enunciado nº 439 do CJF). É possível a revisão ou resolução por excessiva onerosidade em contratos aleatórios,
desde que o evento superveniente, extraordinário e imprevisível não se relacione com a álea assumida no contrato
(Enunciado nº 440 do CJF).
No âmbito do Direito Consumerista, é possível vislumbrar a aplicação da teoria da onerosidade excessiva no art. 6º,
V do CDC. Aqui, ao contrário do que ocorre no CC, não se exige que haja imprevisibilidade dos acontecimentos,
permitindo uma aplicação mais elástica do instituto sob óculo.
5. Dos Atos Ilícitos e sua Reparação
Lecionam FARIAS e ROSENVALD (p. 502) que a categoria do ato ilícito refere-se “a toda conduta (comissiva ou
omissiva) culposa, praticada por pessoa imputável que, violando dever jurídico, cause prejuízo a outrem, assumindo
a obrigação secundária responsabilidade civil de repará-lo. Bem percebe Cavalieri que o ato ilícito é ‘ato voluntário
e consciente do ser humano, que transgride um dever jurídico’”.
Parcela da doutrina vê com ressalvas o enquadramento do ato ilícito na categoria de ato jurídico. Eis as críticas de
Zeno Veloso: “A nosso ver, embora gerando efeitos jurídicos, o ato ilícito não deve ser chamado de ato jurídico, que,
por definição, é lícito. Porém, pelos efeitos jurídicos que enseja, o ato ilícito, sem dúvida é um fato jurídico (em
sentido lato). O ato ilícito, ou contrário ao direito, é jurídico, à medida em que provoca um efeito jurídico, fazendo
nascer uma responsabilidade civil, base de uma obrigação de ressarcir, de indenizar, a cargo do autor, e de um
crédito atribuído à vítima, ao lesado, podendo também dele resultar outra espécie de responsabilidade, a criminal.
Mas gera confusão chamar o ato ilícito de ‘ato jurídico’, só por causa dos efeitos jurídicos e nem por isto recebem a
mesma denominação.” (apud TARTUCE, p. 256-257).
O conceito de ato ilícito pode ser haurido do art. 186 do CC, lavrado com base no preceito neminem laedere, que
significa “não lesar” ou “não ofender outrem”. São requisitos do ato ilícito: a) conduta comissiva ou omissiva; b)
culpa lato sensu (abarcando dolo e culpa stricto sensu); c) dano; d) nexo de causalidade entre conduta e dano.
A responsabilidade extracontratual ou aquiliana resulta de conduta que afronta um dever jurídico imposto pela lei,
enquanto a responsabilidade contratual deflui da violação de um dever estipulado no bojo de um contrato. Por
consequência, no ilícito contratual a culpa do agente é presumida, enquanto no ilícito aquiliano a culpa do agente
deve ser provada.
O que delimita a responsabilidade civil não é o grau de culpa, mas sim a extensão do dano (art. 944 do CC). O foco
do Direito Civil está em indenizar a vítima, e não em punir o causador do dano. Contudo, o juiz pode reduzir a
indenização se o grau de culpa for mínimo (art. 944, p.u. do CC).
Não constituem ato ilícito os praticados em legítima defesa, no exercício regular de um direito reconhecido ou em
estado de necessidade (art. 188 do CC).
O abuso de direito, previsto no art. 187 do CC, delineia-se quando o agente, atuando dentro dos limites da lei, deixa
de considerar a finalidade social de seu direito subjetivo e o exorbita, causando prejuízo a outrem (limite ético de
direitos subjetivos). Em outras palavras, no abuso de direito o comportamento do sujeito não desrespeita a estrutura
normativa, mas, ao ser concretizado, viola a ordem material por afrontar o sentido axiológico da norma. Diz-se que
o ato abusivo situa-se no plano da ilicitude, mas não se confunde com o ato ilícito, figurando como uma modalidade
autônoma de antijuridicidade (FARIAS; ROSENVALD, p. 514). Para aquilatar a ocorrência de um ato abusivo do
direito, deve-se ter como parâmetros as ideias de boa-fé e confiança. A responsabilidade civil decorrente do abuso de
direito independe da culpa e fundamenta-se no critério objetivo-finalístico (Enunciado nº 37 do CJF).
Exemplos de abuso de direito: arts. 939, 940 e 1.277 do CC; arts. 14 a 18 do CPC.

Modalidades específicas de atos abusivos


A proibição de comportamento contraditório ( venire contra factum proprium): O venire contra factum proprium
traduz-se como o exercício de uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido anteriormente.
Havendo real contradição entre dois comportamentos, significando o segundo quebra injustificada da confiança
gerada pela prática do primeiro, em prejuízo da contraparte, não é admissível conferir eficácia à conduta posterior.
Tem fundamento no princípio da boa-fé objetiva e na solidariedade social (art. 3º da CF). Exemplos na
jurisprudência do STJ: REsp 1040606 / ES, REsp 1005727 / RJ,EDcl no Ag 1318082 / SP.
A supressio (Verwirkung) e a surrectio (Erwirkung): A supressio (=suprimir, perder) é o fenômeno da perda,
supressão, de determinada faculdade jurídica pelo decurso do tempo; ao revés da surrectio, que se refere ao
fenômeno inverso, isto é, o surgimento de uma situação de vantagem para alguém em razão do não exercício por
outrem de um determinado direito, cerceada a possibilidade de vir a exercê-lo posteriormente. O art. 330 do CC é
um exemplo dos institutos sob óculo. Ver REsp 1202514 / RS.
O tu quoque: Ocorre o tu quoque quando alguém viola uma determinada norma jurídica e, posteriormente, tenta
tirar proveito da situação, com o fito de se beneficiar. Há um acentuado aspecto de deslealdade, malícia, gerando a
ruptura da confiança depositada por uma das partes no comportamento da outra, por conta dos critérios valorativos
antes utilizados. O tu quoque age simultaneamente sobre os princípios da boa-fé objetiva e da justiça contratual.

6. Questões de Prova
25º CPR
- O ato ilícito produz efeitos jurídicos, que não são desejados pelo agente, mas impostos por lei (V).
- O erro de cálculo, quando viciar o consentimento, pode gerar a anulação do negócio jurídico (F).
- O dolo positivo ocorre quando uma das partes ocultar algo que, se a outra fosse sabedora, não efetivaria o negócio
(F).
- O negócio jurídico é anulável tanto em virtude de vícios sociais quanto em virtude de vícios de consentimento (V).
- O erro de direito, para gerar a anulação do negócio, tanto pode recair sobre normas cogentes quanto sobre normas
dispositivas (F).

26º CPR
- Os atos ou negócios puros são exceção no ordenamento pátrio porque não comportam condição (V).
- O temor reverencial, que exclui a coação, é o receio de desgostar pessoas a quem se deve respeito hierárquico (F).
ITEM 9.B: Da extinção das obrigações. Do inadimplemento. Da cláusula penal e dos juros. Das perdas e
danos.

Obras consultadas: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. II. 1ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2004; FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2009; TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Série Concursos Públicos. Vol. 2. 3ª Ed. São Paulo: Método, 2008;
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 5ª Ed. São Paulo:
Atlas, 2005.

Legislação básica: CC, arts. 389 a 416; Súmulas do STF nº 121, 122, 123, 164, 173, 254, 412, 618, 619.
Súmulas do STJ nº 12, 37, 54, 56, 69, 70, 76, 102, 113, 114, 176, 188, 204, 227, 245, 283, 284, 285, 288, 295, 296,
379, 382, 408, 422 e 426; Enunciados do CJF nº 20, 161 a 165, 354 a 359 e 427 a 430.

1. Da Extinção das Obrigações.


A obrigação nasce para ser cumprida, de modo que sua extinção é o fim colimado pelo legislador. O modo natural
de extinção das obrigações é o adimplemento, ou seja, o efetivo e direto cumprimento da prestação pelo devedor.
Segundo Gustavo Tepedino (apud FARIAS; ROSELVALD, p. 335), a extinção também poderá ocorrer: “i) pela
execução forçada, seja em forma específica, seja pela conversão da prestação devida em perdas e danos; ii) pela
impossibilidade da prestação; iii) pelos demais modos de extinção regulados no Código, como a novação, a
compensação, a confusão e a remissão (art. 360-388)”.

2. Do Inadimplemento.
O inadimplemento das obrigações é gênero que engloba, como principais espécies, a mora, o inadimplemento
absoluto e a violação positiva do contrato. Traduz o que Venosa (p. 336) chama de “crise da obrigação”, uma
patologia que causa uma ruptura violenta e repentina de um estado de equilíbrio. Em qualquer dessas situações, o
patrimônio do devedor servirá como garantia dos credores (art. 391 do CC) – é o chamando princípio da imputação
civil dos danos ou princípio da responsabilidade patrimonial do devedor. Não satisfeito voluntariamente o direito
subjetivo ao crédito, surge a responsabilidade do devedor (Haftung), e a possibilidade de o credor ingressar em seu
patrimônio (art. 591 do CPC).
Inadimplemento Absoluto: É a completa impossibilidade de cumprimento da obrigação. A viabilidade da prestação
será aferida pelo ângulo do interesse econômico do credor em receber, e não do devedor em prestar. Segundo
FARIAS e ROSENVALD (p. 458), “o inadimplemento absoluto poderá ser total ou parcial, conforme ocorra o
perecimento ou apenas a deterioração da coisa”. A impossibilidade do objeto deve se superveniente à constituição
do vínculo obrigacional; se existir ao tempo da contratação, ter-se-á uma invalidade do negócio jurídico. Nas
obrigações negativas (não-fazer), todas as hipóteses de descumprimento serão casos de inadimplemento absoluto
(art. 390 do CC). A principal consequência do inadimplemento absoluto é o pagamento de perdas e danos. Nos
contratos benéficos, responderá por culpa aquele que tem benefícios com a obrigação do contrato e por dolo aquele
a quem não favoreça (art. 392 do CC). Em regra, o devedor não responde por prejuízos advindos de caso fortuito ou
força maior, a não ser que tenha sido assim acordado por meio da cláusula de assunção convencional. Preconiza o
Enunciado nº 162 do CJF que “A inutilidade da prestação que autoriza a recusa da prestação por parte do credor
deverá ser aferida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do sinalagma, e não de acordo
com o mero interesse subjetivo do credor”.
Mora: É o inadimplemento parcial ou relativo da obrigação. Caracteriza-se por ser o retardamento ou cumprimento
imperfeito da prestação (art. 394 do CC), a qual, contudo, continua sendo útil à outra parte. Leciona Venosa (p. 339)
que a mora é o retardamento culposo da obrigação, quando se trata de mora do devedor; em outras palavras, na mora
solvendi, a culpa é essencial (posição majoritária – ver REsp 474395/RS -, embora encontre vozes dissonantes na
doutrina pós-moderna). A mora do credor, accipiendi, é simples ato ou fato e independe de culpa. Os principais
efeitos da mora do devedor (solvendi, debitoris ou debendi) são: (i) responsabilização pelo atraso no cumprimento
da prestação, mediante a indenização dos prejuízos e o dever de pagar juros, atualização monetária e honorários de
advogado (art. 395 do CC); (ii) dever de responder pela impossibilidade da prestação, mesmo que resulte de caso
fortuito ou força maior (art. 399 do CC), salvo se o devedor provar isenção de culpa ou que o dano adviria ainda que
a obrigação fosse oportunamente desempenhada. Se o atraso no cumprimento da obrigação acarretar o fim do
interesse do credor, este pode resolver o negócio jurídico, convertendo a mora em inadimplemento absoluto (art.
395, parágrafo único do CC). Orienta o Enunciado nº 354 do CJF que “a cobrança de encargos e parcelas
indevidas ou abusivas impede a caracterização da mora do devedor”. Há mora ex re ou automática quando a
obrigação for positiva, líquida e com data fixada para o adimplemento. A inexecução da obrigação implica na mora
do devedor de forma automática, vigorando o brocardo dies interpellat pro homine (art. 397, caput do CC). Já a
mora ex persona ou mora pendente caracteriza-se quando não há estipulação de termo certo para o cumprimento da
obrigação, sendo necessário que o credor notifique o devedor para efetuar o pagamento (art. 397, par. único do CC).
Diz-se que a mora é presumida ou irregular quando a obrigação provém de ato ilícito; nesse caso, é dispensada a
notificação do causador do dano, pois ele assume os riscos no momento da perpetração do ato. De outra banda, a
mora do credor (accipiendi, creditoris ou credendi), ocorre quando há recusa imotivada no recebimento de prestação
ofertada pelo devedor no tempo, lugar e modo convencionados ou quando o credor exige o pagamento em modo
superior ou diverso ao ajustado (art. 394 do CC). Quando as moras de credor e devedor são simultâneas, uma
elimina a outra, pela compensação (GONÇALVES, p. 370). São consequências da mora do credor (art. 400 do CC):
(i) isenção da responsabilidade do devedor pela conservação da coisa; (ii) obrigação de ressarcir as despesas
efetuadas pelo devedor com a conservação da coisa; (iii) obrigação do credor de receber a prestação pela estimação
mais favorável ao devedor, se o valor oscilar entre a data estabelecida para o pagamento e sua efetivação. Purgar ou
emendar a mora significa afastar ou neutralizar os efeitos decorrentes do atraso (art. 401 do CC). O devedor purga a
mora mediante a oferta da prestação atrasada mais os prejuízos decorrentes até o dia da oferta (juros moratórios,
cláusula penal e outros); já o credor, purga a mora ao se oferecer a receber o pagamento e ao se sujeitar aos efeitos
da mora até a mesma data. “Terceiro pode purgar a mora, nas mesmas condições em que pode adimplir, suportando
os mesmos encargos que incidem sobre o devedor” (GONÇALVES, p. 371). Segundo posição prevalecente, a
purgação da mora pode ocorrer a qualquer tempo, desde que não cause dano à outra parte. A purgação da mora, que
produz efeitos futuros (ex nunc), não se confunde com a cessação da mora, que independe de um comportamento
ativo do contratante moroso para sanar sua falta ou omissão (ex: renúncia do débito pelo credor), decorrendo da
extinção da obrigação. A cessação da mora produz efeitos pretéritos (ex tunc).
Violação Positiva do Contrato: Corresponde ao inadimplemento decorrente não do descumprimento da obrigação
pactuada, mas de deveres anexos advindos do princípio da boa-fé objetiva, que, segundo Judith Martins-Costa e
Clóvis Couto e Silva são: cuidado; respeito; informação; agir conforme a confiança depositada pela outra parte;
lealdade e probidade; colaboração ou cooperação; razoabilidade e equidade (apud TARTUCE, p. 211-212). Também
é conhecida como adimplemento ruim ou insatisfatório. Enunciado 24 do CJF: “Em virtude do princípio da boa-
fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento,
independentemente de culpa”. A quebra antecipada do contrato é uma modalidade de inadimplemento que
consiste na recusa antecipada ao cumprimento da obrigação; um dos contratantes revela, expressamente ou por meio
dos seus atos, que descumprirá, no futuro, a prestação que lhe cabe.

3. Da Cláusula Penal e Dos Juros.


Cláusula Penal:
“Trata-se de uma obrigação acessória que visa garantir o cumprimento da obrigação principal, bem como fixar,
antecipadamente, o valor das perdas e danos em caso de descumprimento” (TARTUCE, p. 247). É também
chamada de multa contratual ou pena convencional e pode ser convencionada conjuntamente com a obrigação
principal ou em ato posterior, em dinheiro ou sob outra forma (entrega de uma coisa, abstenção de um fato, perda de
um benefício, etc.) (art. 409 do CC). Desempenha função dúplice: ressarcitória, pois prefixa as perdas e danos
devidos em razão no inadimplemento da obrigação; e coercitiva, para compelir o devedor a cumprir a obrigação e,
assim, não ter de pagar multa. A cláusula penal não se sujeita a ônus de forma, mesmo que o contrato principal
reclame alguma solenidade. A invalidade da obrigação principal importa a da cláusula pena, mas a recíproca não é
verdadeira. A cláusula penal será devida ao credor quando se constatar o inadimplemento culposo do devedor, ainda
que não haja prejuízo (art. 416 do CC).
A cláusula penal classifica-se como compensatória quando estipulada para a hipótese de inadimplemento absoluto;
o credor pode optar pela extinção do contrato com o pagamento de multa ou pela tutela específica da obrigação (art.
410 do CC), por isso se fala em cláusula penal alternativa (anote-se que uma opção exclui a outra). Diz-se que a
cláusula penal é moratória quando destinada a assegurar o cumprimento de outra cláusula determinada ou evitar a
mora; o credor pode cobrar a pena convencional juntamente com a prestação insatisfeita (art. 411 do CC).
A multa moratória nos contratos civis, em regra, está limitada a 10% do valor da dívida (arts. 9º e 11 da Lei da
Usura) e a 2% nos contratos de consumo (art. 52, §1º do CDC e Súmula nº 285 do STJ) e no caso de dívidas
condominiais (art. 1.336, §1º do CC).
Tratando-se de obrigação indivisível e com pluralidade de devedores, basta que um a infrinja para que a cláusula
penal seja devida; esta pode ser exigida por completo do culpado, mas os demais devedores só serão responsáveis
pelas suas respectivas cotas (art. 414 do CC). Se a obrigação for divisível, só incorre na pena o devedor que a
infringir e na proporção de sua parte na obrigação (art. 415 do CC).
O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal (art. 412 do CC). Em
que pese a irredutibilidade ser a tônica da figura em apreço, a penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz
se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo,
considerando a natureza e a finalidade do negócio (art. 413 do CC). Cuida-se de uma disposição de ordem pública, e
não de uma faculdade do magistrado (Enunciado nº 355 - Não podem as partes renunciar à possibilidade de redução
da cláusula penal se ocorrer qualquer das hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, por se tratar de preceito de
ordem pública.; Enunciado nº 356 – “Nas hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, o juiz deverá reduzir a
cláusula penal de ofício”.). O caráter manifestamente excessivo do valor da cláusula penal não se confunde com a
alteração de circunstâncias, a excessiva onerosidade e a frustração do fim do negócio jurídico, que podem incidir
autonomamente e possibilitar sua revisão para mais ou para menos (Enunciado nº 358). A redação do art. 413 do
Código Civil não impõe que a redução da penalidade seja proporcionalmente idêntica ao percentual adimplido
(Enunciado nº 359).
No contrato de adesão, o prejuízo comprovado do aderente que exceder ao previsto na cláusula penal compensatória
poderá ser exigido pelo credor independentemente de convenção (Enunciado nº 430).
Juros: São os frutos civis ou rendimentos devidos pela utilização do capital alheio. Classificam-se em
compensatórios (também chamados de remuneratórios ou juros-frutos, são devidos em decorrência de uma
utilização consentida de capital alheio) ou moratórios (incidem em caso de retardamento ou descumprimento
parcial da obrigação). Podem ser convencionais (ajustados pelas partes) ou legais. Quando os juros moratórios não
forem convencionados, o forem sem taxa estipulada ou provierem de determinação de lei, serão fixados segundo a
taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. (art. 406 do CC).
Segundo o Enunciado nº 20 do CJF, “a taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, § 1º, do
Código Tributário Nacional, ou seja, 1% (um por cento) ao mês. A utilização da taxa SELIC como índice de
apuração dos juros legais não é juridicamente segura, porque impede o prévio conhecimento dos juros; não é
operacional, porque seu uso será inviável sempre que se calcularem somente juros ou somente correção monetária;
é incompatível com a regra do art. 591 do novo Código Civil, que permite apenas a capitalização anual dos juros, e
pode ser incompatível com o art. 192, § 3º, da Constituição Federal, se resultarem juros reais superiores a 12%
(doze por cento) ao ano”. No entanto, em julgados recentes, o STJ tem decidido que o art. 406 do CC alude à
SELIC (EDcl no REsp 1210778/SC). Ainda que não se alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros de mora (art.
407 do CC). O início da contagem dos juros moratórios advindos de responsabilidade contratual é a data da citação
(art. 405 do CC), em casos de mora ex persona; quando a mora for ex re, são devidos juros desde a data do
vencimento da obrigação. Nas hipóteses de responsabilidade extracontratual, os juros são devidos da data de
perpetração do ato ilícito (art. 398 do CC e Súmula nº 54 do STJ). De acordo com a Súmula nº 596 do STF, as
instituições bancárias não estão sujeitas à Lei de Usura, sendo aplicado o mesmo raciocínio às empresas
administradoras de cartão de crédito, por força da Súmula nº 283 do STJ. A estipulação de juros remuneratórios
superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade (Súmula nº 382 do STJ), porém as taxas de juros não
pode exceder a taxa média do mercado para a operação (STJ, REsp 404.097). O art. 591 do CC permite a
capitalização anual de juros no mútuo de fins econômicos, desde que pactuado. Para o STJ, é possível a
capitalização mensal de juros nos contratos de mútuo bancário celebrados a partir de 31 de março de 2000, data da
publicação da Medida Provisória nº 1.963-17/2000 (STJ, REsp 602.068/SP). Como os juros pertencem ao plano da
eficácia, a eles se aplica a lei vigente à época de sua incidência; assim, 6% até o CC/1916 e 12% a partir do
CC/2002.

4. Das Perdas e Danos.


Cuida-se da indenização paga ao prejudicado por ato do contratante impontual. A indenização é mensurada pela
extensão do dano, mas, excepcionalmente, pode ser reduzida pelo juiz, com fulcro no princípio da equidade, se a
culpa do ofensor for desproporcional ao dano causado (art. 944 do CC). As perdas e danos abarcam os danos
emergentes (efetivo prejuízo, diminuição patrimonial sofrida pela vítima) e os lucros cessantes (frustração da
expectativa de lucro, perda de um ganho esperado). Para serem indenizáveis, os lucros cessantes devem ser
aquilatados a partir da constatação de uma probabilidade objetiva de que o resultado em expectativa ocorreria se não
houvesse o dano (STJ, REsp 61512/SP). Os lucros cessantes não se confundem com a teoria da perda de uma
chance, situação em que uma pessoa possuía uma chance efetiva de obter uma vantagem, mas essa chance se esvai
por conta do dano. Na perda de uma chance, ao contrário dos lucros cessantes, a expectativa é aleatória, de modo
que é impossível afirmar que a vantagem seria granjeada se o fato antijurídico não tivesse se concretizado. Para a
teoria da diferença, “é na diferença entre a situação atual do lesado e a que se encontraria se não houvesse a
inexecução da obrigação que se averigua a extensão das perdas e danos” (FARIAS; ROSENVALD, p. 507).
Calcado na dicção do art. 403 do CC, averba GONÇALVES (p. 376) que o legislador adotou a teoria do dano
direto e imediato, segundo a qual “o devedor responde tão só pelos danos que se prendem a seu ato por um
vínculo de necessariedade, não pelos resultantes de causas estranhas ou remotas”. Existe, entretanto, doutrina que
defende a prevalência da teoria da causalidade adequada, que vislumbra nexo causal em toda situação que, pelo
desdobramento natural dos acontecimentos, indica que a conduta do agente era adequada à produção do dano
(FARIAS; ROSENVALD, p. 505). Nas obrigações consistentes no pagamento de quantia certa em dinheiro, a
indenização compreende atualização monetária, juros, cláusula penal e, se houver necessidade de ajuizamento de
ação, honorários advocatícios. Provado que os juros de mora não cobrem o prejuízo e não havendo prévia
estipulação de cláusula penal, o juiz pode conceder ao credor indenização suplementar, de modo a restaurar a
situação de equivalência (art. 404 do CC). Dispõe o art. 405 do CC que os juros de mora são devidos desde a citação
inicial; todavia, nas obrigações extracontratuais, aplica-se o art. 398 do CC, que reputa o devedor em mora desde o
dia em que praticou o ato ilícito, previsão que se coaduna com a Súmula nº 54 do STJ. Nesse sentido, o Enunciado
nº 163 do CJF: “A regra do art. 405 do novo Código Civil aplica-se somente à responsabilidade contratual, e não
aos juros moratórios na responsabilidade extracontratual, em face do disposto no art. 398 do novo CC, não
afastando, pois, o disposto na Súmula 54 do STJ”. Já o Enunciado nº 428 do CJF diz que “Os juros de mora, nas
obrigações negociais, fluem a partir do advento do termo da prestação, estando a incidência do disposto no art.
405 da codificação limitada às hipóteses em que a citação representa o papel de notificação do devedor ou àquelas
em que o objeto da prestação não tem liquidez”.
5. Questões de Prova
26º CPR
- A cláusula penal, no Código Civil de 2002, pode ser reduzida pelo julgador se seu montante for manifestamente
excessivo (F).
ITEM 9.C: Da sucessão legítima. Da vocação hereditária. Da herança jacente e vacante. Do testamento, dos
codicilos, dos testamentos especiais. Das substituições e da deserdação.

Obras consultadas: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. VII. São Paulo: Saraiva, 2007;
TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil. Série Concursos Públicos. Vol. 6. 2ª Ed. São Paulo:
Método, 2008.

Legislação básica: CC, arts. 1.790 e 1.829 a 1.856; 1.798 a 1.803; 1.819 a 1.823; 1.857 a 1.896; 1.947 a 1.965;
CPC, art. 1.142 a 1.158; Enunciados do CJF nº 116, 117, 266, 267, 268, 269, 270, 271, 529.

1. Da sucessão legítima
Ocorre a sucessão legítima (ou ab intestato) em caso de inexistência, invalidade ou caducidade do testamento e em
relação aos bens que eventualmente não forem objeto dele. Nesses casos, ocorre a sucessão por força de lei,
transmitindo-se a herança para familiares ou, na ausência desses, para a Fazenda Pública. Representa a vontade
presumida do de cujus e tem caráter supletivo.
O chamamento dos sucessores é perpetrado de acordo com uma sequência chamada ordem da vocação hereditária,
em um mecanismo no qual a existência de herdeiros de uma classe mais próxima exclui os da classe mais remota. A
ordem em tela é estabelecida pelo art. 1.829 do CC.
Os descendentes, primeiros na ordem de vocação hereditária, podem suceder por cabeça (direito próprio) ou por
estirpe (representando ascendente pré-morto). O cônjuge concorre com os descendentes em igualdade de condições,
salvo quando casado no regime de comunhão universal ou separação obrigatória de bens; “o art. 1.829, I, só
assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes do autor da herança quando
casados no regime da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou
participação final nos aquestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência restringe-
se a tais bens, devendo os bens comuns (meação) serem partilhados exclusivamente entre os descendentes”
(Enunciado nº 270 do CJF).
Na classe dos ascendentes, havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha paterna
herdam metade e os da linha materna, a outra metade. Não há direito de representação na linha ascendente. Se
concorrer com ascendente de primeiro grau, o cônjuge fará jus a um terço da herança; se houver um único
ascendente ou for maior o grau, caberá ao cônjuge metade da herança.
Na falta de descendentes e ascendentes, a herança será deferida ao cônjuge supérstite, terceiro na ordem de vocação
hereditária, desde que, ao tempo da morte do outro cônjuge, não estivessem separados judicialmente nem separados
de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do
sobrevivente. Qualquer que seja o regime de bens e sem prejuízo na participação na herança, é assegurado ao
cônjuge direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único
daquela natureza a inventariar. O cônjuge pode renunciar ao direito real de habitação, nos autos do inventário ou por
escritura pública, sem prejuízo de sua participação na herança (Enunciado nº 271 do CJF). Segundo o art. 1.832 do
CC, quando concorre com descendentes do de cujus, a quota do cônjuge não poderá ser inferior à quarta parte da
herança se for ascendente dos herdeiros com quem concorrer. Há cizânia doutrinária acerca da forma como deve ser
ultimada a divisão da herança quando o cônjuge concorre com filhos comuns e filhos exclusivos do de cujus; são
três as correntes: 1) no caso de filiação híbrida, há a reserva de ¼ da herança (Venosa, Francisco José Cahali, José
Fernando Simão – é a posição minoritária na doutrina); 2) no caso de filiação híbrida, NÃO há a reserva de ¼
(Flávio Tartuce, Maria Berenice Dias, Maria Helena Diniz, Sebastião Amorim e Euclides de Oliveira – interpretação
dominante); 3) teorias da sub-herança, buscam soluções matemáticas de divisões proporcionais do patrimônio do de
cujus.
A sucessão do companheiro é disciplinada pelo art. 1.790 do CC, que dispõe que o (a) companheiro (a) participará
da sucessão do outro quanto aos bem adquiridos na vigência da união estável. Se concorrer com filhos comuns, terá
direito a uma quota equivalente à atribuída ao filho; se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-
lhe-á metade do que couber a cada um daqueles; se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um
terço da herança; não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. Quanto aos bens sobre os
quais o companheiro tem a meação decorrente da comunhão parcial, terá também direito à sucessão. Em relação aos
bens particulares, o companheiro não tem a meação, em decorrência do regime, e não tem qualquer direito
sucessório. “O direito real de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter sido revogada a
previsão da Lei n. 9.278/96, seja em razão da interpretação analógica do art. 1831, informado pelo art. 6º, caput,
da CF/88” (Enunciado nº 117 do CJF).
Os colaterais figuram em quarto lugar na ordem de vocação hereditária, sendo considerados herdeiros facultativos.
Serão chamados a suceder se não houver cônjuge sobrevivente. Se houver companheiro, concorrerão com ele,
cabendo àquele 1/3 da herança. Entre os colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, garantido o direito
de representação conferido aos filhos de irmãos. Os irmãos unilaterais fazem jus a metade da cota dos irmãos
germanos ou bilaterais.
Herdeiro necessário é todo parente em linha reta não excluído da sucessão por indignidade ou deserdação, bem
como o cônjuge, a quem a lei assegura o direito à legítima (metade dos bens do de cujus, também chamada de
reserva legal). A legítima é calculada sobre o valor dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e
as despesas do funeral, adicionado, em seguida, o valor dos bens sujeitos à colação.

2. Da vocação hereditária
Trata-se da legitimação para invocar a titularidade da herança. Vige a regra de que todas as pessoas têm legitimação
para suceder, exceto aquelas afastadas por lei.
Segundo o art. 1.798 do CC, legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura
da sucessão (logo, animas e coisas inanimadas não podem herdar).
O nascituro pode ser chamado a suceder tanto na sucessão legítima como na testamentária, mas a eficácia da
vocação depende do seu nascimento com vida, ocasião em que adquire a personalidade civil. Se o feto nascer morto,
não haverá aquisição de direitos, como se nunca tivesse existido. Segundo o Enunciado nº 267 do CJF, “A regra do
art. 1.798 do CC deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida,
abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem às
regras previstas para a petição da herança”. Contudo, é de bom alvitre ter em mente as lições de Maria Helena
Diniz: “poder-se-ia até mesmo afirmar que na vida intra-uterina tem o nascituro e na vida extra-uterina tem o
embrião concebido in vitro personalidade jurídica formal, no que atina aos direitos personalíssimos, ou melhor aos
direitos da personalidade, visto ter carga genética diferenciada desde a concepção, seja ela in vivo ou in vitro,
passando a ter personalidade jurídica material, alcançando os direitos patrimoniais e obrigacionais que se
encontravam em estado potencial, somente com o nascimento com vida (CC, art. 1.800, §3º). Se nascer com vida
adquire personalidade jurídica material, mas se tal não ocorrer, nenhum direito patrimonial terá” e conclui “não
distinguimos os concebidos dos obtidos in vitro” (apud TARTUCE; SIMÃO, p. 41-42).
Além daqueles abarcados pelo art. 1.798 do CC, podem ser chamados a suceder na sucessão testamentária as
pessoas listadas no art. 1.799 do CC (estas últimas só podem receber herança ou legados por disposição de última
vontade). Em primeiro lugar (inciso I), sucedem por testamento os filhos, ainda não concebidos, de pessoas
indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão (trata-se de concepturo e não de nascituro); se
não concebido o herdeiro esperado após dois anos da abertura da sucessão, a herança caberá aos herdeiros legítimos,
salvo disposição em contrário do testador; após a liquidação ou partilha, os bens serão confiados a um curador
nomeado pelo juiz, e, em regra, será a pessoa cujo filho o testador esperava ter como herdeiro. De acordo com a
doutrina majoritária (Gonçalves, Zeno Veloso, Venosa, Débora Gozzo, Francisco José Cahali, Sebastião Amorim e
Euclides de Oliveira), o filho adotivo preenche a condição de “filho não concebido”. Em segundo lugar (inciso II),
podem ser chamadas a suceder por testamento as pessoas jurídicas existentes ao tempo do falecimento do testador,
sejam simples, empresárias, de direito público ou de direito privado, incluindo fundações já existentes. Em terceiro
lugar (inciso III), podem suceder por testamento as pessoas jurídicas cuja organização for determinada pelo testador
sob a forma de fundação; se os bens destinados a esse propósito forem insuficientes, a deixa será incorporada a outra
fundação com objetivos semelhantes.
Não têm legitimidade para suceder: a) a pessoa que escreveu o testamento a rogo do testador, bem como seu cônjuge
ou companheiro, ascendentes e irmãos – a lei excluiu essas pessoas por motivo de suspeição, porém tal limitação
não se aplica ao testamento particular, que deve ser necessariamente escrito pelo próprio testador; b) as testemunhas
do testamento – para evitar a influência, por interesse, na vontade do testador; c) o concubino do testador casado,
salvo se este, por culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos – a doutrina critica a menção
à culpa e o prazo estipulado, tal vedação não se aplica à união estável, independentemente do período de separação
de fato (Enunciado nº 269 do CJF); d) o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fez
ou como o que fez ou aprovou o testamento.
São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob
a forma de contrato oneroso ou feitas mediante interposta pessoa. Se se tratar de herança ou legado a ascendente,
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro de pessoa não legitimada, há presunção iure et de iure de simulação.

3. Da herança jacente e vacante


Herança jacente é aquela cujos sucessores não são conhecidos ou que não foi aceita pelas pessoas com direito à
sucessão. A jacência constitui fase provisória e temporária, de expectativa de aparecimento de herdeiros. Quando
todos os chamados a suceder renunciarem à herança, ela será desde logo declarada vacante (art. 1.823) – é a
chamada vacância sumária. A herança jacente não tem personalidade jurídica nem é patrimônio autônomo sem
sujeito, já que eventual aceitação da herança tem força retrooperante. Consiste num acervo de bens administrado por
um curador, sob fiscalização do juiz, até que se habilitem os herdeiros ou se declare a vacância. Tem, entretanto,
legitimação ativa e passiva para figurar em juízo. Para Venosa, cuida-se de uma “entidade com personificação
anômala” (apud TARTUCE; SIMÃO, p. 100). Também se verifica jacência enquanto se aguarda a formação ou
constituição da pessoa jurídica a quem se atribuíram os bens. O procedimento quanto à jacência se divide em três
fases (arrecadação de bens, publicação de editais, entrega dos bens) e está disciplinado nos arts. 1.142 a 1.158 do
CPC.
Herança vacante é aquela que, após a realização de todas as diligências e passado um ano da publicação de editais,
não suscita o comparecimento de interessados, deferindo-se os bens ao ente público designado em lei (Município ou
Distrito Federal). Até que se complete o período de cinco anos, o ente público tem a propriedade resolúvel dos bens,
pois é possível que apareçam herdeiros os pleiteando em ação própria. O STJ admite a aquisição por usucapião da
herança jacente, se não houve declaração de vacância (AgRg no Ag 1212745 / RJ, REsp 36959 / SP).

4. Do testamento, dos codicilos, dos testamentos especiais


Testamento é ato de última vontade, por meio do qual o autor dispõe sobre a totalidade de seus bens ou parte deles
para depois de sua morte, podendo estabelecer outras disposições (ex: reconhecimento de filho). O testamento é
negócio jurídico unilateral, gratuito, mortis causa, formal, revogável e personalíssimo. Havendo herdeiros
necessários, não pode o disponente testar ou legar parte dos bens que invada a legítima, sob pena de redução das
disposições testamentárias ou de rompimento de testamento. A capacidade testamentária ativa é a regra; só não
podem testar os incapazes e os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento (art. 1.860 do CC). O art.
1.860, p. ún. do CC alberga uma exceção, permitindo que os maiores de 16 testem, sendo despicienda a assistência
de seu representante legal. O pródigo pode testar livremente, segundo entendimento da doutrina majoritária
(TARTUCE; SIMÃO, p. 285). A capacidade de testar deve ser aferida no momento em que o testamento é
elaborado. Dessa forma, a incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o testamento do
incapaz se valida com a superveniência da capacidade (art. 1.861 do CC).
Testamento Público: É escrito pelo tabelião em seu livro de notas, em consonância com as declarações do testador,
na presença de duas testemunhas, podendo ser utilizadas minutas, notas ou apontamentos. É mais seguro, porém traz
a desvantagem de permitir a qualquer pessoa o conhecimento de seu teor. Lavrado o instrumento, deverá ser lido em
voz alta pelo tabelião ao testador e às testemunhas, a fim de que seja aquilatada a correspondência entre a vontade
do testador e o texto escrito. Por essa razão, o surdo-mudo não pode testar por essa forma. Ao cego só se permite o
testamento público, que lhe será ligo em voz alta por duas vezes (uma pelo tabelião e outra por uma das
testemunhas). Também o analfabeto só pode fazer testamento público.
Testamento Cerrado: Também chamado de secreto ou místico, é escrito pelo próprio testador ou por alguém a seu
rogo, e só tem eficácia após o auto de aprovação lavrado por tabelião na presença de duas testemunhas. Apresenta a
vantagem de só o testador conhecer o seu teor, e o inconveniente de ser tido por revogado se for apresentado em
juízo com o lacre rompido. Seus requisitos essenciais são a cédula testamentária, o ato de entrega, o ato de
aprovação e o cerramento. Não podem se valer dessa forma de testamento as pessoas que não saibam ou não possam
ler, pois não têm como checar se o conteúdo corresponde à sua vontade. Logo, não podem fazer testamento cerrado
os analfabetos ou os cegos.
Testamento Particular: Também chamado de hológrafo, é inteiramente escrito e assinado pelo testador, lido
perante três testemunhas e por elas também assinado. Podem se valer de testamento particular os que podem ler e
escrever, não se sendo admitida assinatura a rogo, sob pena de nulidade por vício de forma. Não podem se utilizar
do testamento particular os cegos, os analfabetos e os eventualmente impedidos de escrever. É a forma menos segura
de testar, pois depende da confirmação em juízo por pelo menos uma das testemunhas, cuja ausência acarreta o não
cumprimento do testamento. O testamento particular pode ser escrito em língua estrangeira, desde que todas as
testemunhas a compreendam; caso contrário, será nulo. Para a validade do testamento, a lei não exige a aposição de
data e local da elaboração do testamento.
Codicilo: É ato de última vontade destinado a disposições de pequeno valor (enterro, esmolas de pouca monta,
móveis, roupas ou joias de pouco valor). Também podem ser objeto de codicilo: sufrágios por intenção da alma do
codicilante (art. 1.998 do CC); nomeação e substituição de testamenteiro (art. 1.883 do CC); perdão do indigno (art.
1.818 do CC); reconhecimento de filho (art. 1.609, II do CC). O codicilo não exige maiores formalidades, basta que
o instrumento particular seja escrito, datado e assinado pelo testador. A capacidade para se fazer codicilo é a mesma
que se exige para testar; o codicilo pode ser ato autônomo ou complementar ao testamento. O codicilo pode ser
revogado expressa ou tacitamente por outro codicilo; a elaboração de testamento posterior significa a automática
revogação do codicilo anterior, se o testamento não o confirmar ou modificar. Um codicilo não tem o condão de
revogar um testamento. A ordem jurídica pátria não admite a cláusula codicilar, segundo a qual o testamento nulo
deve ser aceito, ao menos, como codicilo.
Testamento Marítimo e Testamento Aeronáutico: São modalidades de testamentos especiais. O testamento
marítimo é aquele elaborado por passageiros ou tripulantes, durante viagens em alto-mar ou rios e lagos de grandes
dimensões, diante do surgimento de algum risco de vida e da impossibilidade de desembarque em porto onde o
disponente possa testar na forma ordinária. As regras dos testamentos marítimo e aeronáutico são idênticas, podendo
eles se revestir de forma análoga ao testamento público ou ao cerrado. Na forma pública, o comandante lavra o
testamento no diário de bordo, colhendo a assinatura do testador e de duas testemunhas; se o testador não souber ou
não puder assinar, o testamento será assinado a rogo por uma das testemunhas instrumentárias. Na forma cerrada, o
testamento é lavrado pelo próprio testador, sendo que o comandante lavra no diário de bordo o auto de aprovação,
que também é assinado pelo testador e por duas testemunhas. Cabe ao comandante a guarda do testamento marítimo
e aeronáutico, que devem ser entregues às autoridades administrativas do primeiro porto ou aeroporto nacional.
Perderá a eficácia o testamento marítimo e aeronáutico se o testador não morrer na viagem ou nos noventa dias
subsequentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer uma forma ordinária de testamento – é o que se chama
de caducidade do testamento.
Testamento Militar: Outra modalidade de testamento especial, é elaborado por militares e outras pessoas a serviço
das Forças Armadas em campanha, que estejam participando de operações de guerra, dentro ou fora do país. Se for
lavrado em forma semelhante à pública, atuarão como tabelião o comandante (se o testador estiver em serviço na
tropa) ou o oficial de saúde ou o diretor do hospital em que estiver recolhido o testador sob tratamento; o testamento
será lavrado na presença de duas ou três testemunhas (se o testador não puder ou não souber assinar); se o testador
for oficial mais graduado, o testamento será escrito por aquele que o substituir. Sob forma semelhante ao testamento
cerrado, o testador fará o testamento de próprio punho, datando-o e assinando-o, e o apresentará, na presença de
duas testemunhas, ao auditor ou ao oficial de patente que lhe faça as vezes nesse mister. O testamento militar
nuncupativo, exceção à formalidade que caracteriza o testamento, é feito oralmente, perante duas testemunhas, por
pessoas empenhadas em combate ou feridas; não terá efeito se o testador não morrer na guerra e convalescer do
ferimento. O testamento militar caducará se depois dele, o testador esteja, noventa dias seguidos, em lugar onde
possa testar na forma ordinária, salvo se esse testamento apresentar as solenidades prescritas no parágrafo único do
artigo 1.894 do CC.

5. Das substituições e da deserdação


Substituição é a indicação de certa pessoa para recolher a herança ou legado se o nomeado faltar, seja por motivo de
premoriência, seja por exclusão (indignidade ou falta de legitimação), renúncia e não implemento da condição
imposta pelo testador.
Substituição Vulgar ou Ordinária: Ocorre quando o testador nomeia outra pessoa para receber a herança caso o
herdeiro não possa ou não queira recebê-la. O substituto fica sujeito ao encargo ou condição imposta ao substituído.
A substituição vulgar pode ser simples ou singular (quando é designado um só substituto); coletiva ou plural
(quando há mais de um substituto a ser chamado simultaneamente) ou recíproca (quando são nomeados dois ou
mais beneficiários, que se substituem reciprocamente).
Substituição Fideicomissária: Ocorre quando o testador (fideicomitente) nomeia um certo herdeiro ou legatário
(fiduciário) e estabelece que este, com o advento de certo termo ou condição, deve transmitir a herança a pessoa
ainda não concebida quando da morte do testador (fideicomissário). Com relação ao fideicomissário, sob sua
propriedade penderá condição suspensiva; a propriedade do fiduciário é resolúvel. É o testador quem fixa a duração
do fideicomisso, que pode ser vitalício, a termo ou condicional. Se, ao tempo da morte do testador, já houver
nascido o fideicomissário, adquirirá este a propriedade dos bens fideicometidos, convertendo-se em usufruto o
direito do fiduciário. Caduca o fideicomisso se o fideicomissário renunciar à herança ou ao legado; se for a termo e
o fideicomissário morrer antes do fiduciário; se a prole eventual não vier a existir no prazo estipulado pelo testador
(na ausência de prazo expresso, consideram-se dois anos da abertura da sucessão); se faltar a coisa, em caso de
perecimento, sem culpa do fiduciário. Se o fiduciário não quiser ou não puder receber a herança, os bens passam
diretamente para o fideicomissário, deixando de existir o fideicomisso. São nulos os fideicomissos instituídos sobre
a legítima, bem como os que ultrapassam o segundo grau (não pode ir além da pessoa do fideicomissário).

Deserdação: Ato unilateral pelo qual o testador exclui herdeiro necessário, mediante disposição testamentária,
tendo como pressuposto a ocorrência de uma das causas legalmente previstas em rol taxativo (numerus clausus), nos
artigos 1.814, 1.962 e 1.963 do CC. Já a indignidade é a pena civil cominada ao herdeiro acusado de atos
criminosos ou reprováveis contra o de cujus.
Semelhanças entre os institutos: ambos só produzem efeitos se confirmados por sentença; tanto a ação de
indignidade como a de deserdação só podem ser propostas após a morte do testador, já que o direito à herança só
surge quando se abre a sucessão. Diferenças entre os institutos: enquanto a indignidade decorre de determinação
legal e da vontade dos interessados, a deserdação resulta da vontade do falecido, que a determina no testamento; a
indignidade é matéria de sucessão legítima e testamentária, a deserdação envolve apenas sucessão testamentária; a
pena de indignidade pode ser cominada aos herdeiros necessários ou facultativos, a deserdação só atinge os
herdeiros necessários, sendo destinada a lhes retirar o direito à legítima; circunstâncias posteriores à morte do autor
da herança podem ensejar indignidade, a deserdação só se estabelece por causas anteriores à morte do testador.
Os efeitos da deserdação são pessoais, atingindo apenas o herdeiro excluído; seus descendentes herdam por direito
de representação (entendimento não pacífico, porém predominante). O ônus de provar a causa estabelecida em
testamento será daquele a quem a deserdação aproveita; a demanda tem natureza constitutiva negativa e deve ser
proposta no prazo decadencial de quatro anos, contados da abertura do testamento.
No caso do art. 1.814, inciso I do CC, não se exige a prolação de sentença penal condenatória.
Embora o CC/2002 tenha incluído o cônjuge no rol de herdeiros necessários, não o relacionou como passível de ser
deserdado, razão por que TARTUCE e SIMÃO (p. 87) entendem que o cônjuge só pode ser deserdado pelos motivos
previstos no art. 1.814 do CC, mas não nos arts. 1.962 ou 1.963.

6. Questões de Prova
25º CPR
- A sucessão ab intestato apresentar-se-á como um testamento tácito ou presumido do de cujus, obedecendo-se a
ordem hereditária (V).

26º CPR
- Havendo testamento contemplando o primeiro filho, o Código Civil dispõe que, nascendo gêmeos, serão estes
considerados de igual idade para tal fim (F).
- A declaração de vacância, quando não aparecerem herdeiros, incorpora a herança definitivamente ao patrimônio
público (F).
- A indignidade do herdeiro é uma pena e, se ele falecer antes da sua declaração por sentença, seu direito hereditário
passa aos sucessores (V).
ITEM 10.A: Forma e prova dos atos jurídicos. Das modalidades dos atos jurídicos, da evicção e dos vícios
redibitórios.
Obras consultadas: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Saraiva: São Paulo, 2011. Vol. 2. 25.
ed; PELUSO, Cezar (Coord.). Código Civil Comentado. Manole: Rio de Janeiro, 2010. 4. ed.; VENOSA, Sílvio de
Salvo. Direito Civil. Vol. II e III. São Paulo: Atlas, 2010; Resumo do 24º CPR.
Legislação básica: Código Civil.

1. Forma e prova dos atos jurídicos.


Variam os instrumentos de prova do negócio jurídico em razão de sua classificação quanto à forma. Os
negócios solenes provam-se por meios diferentes dos não solenes.
Os negócios formais são provados exclusivamente pela exibição do instrumento compatível com o
atendimento da forma especial exigida por lei. Desse modo, não se admite a prova da existência do casamento a não
ser pela certidão expedida pelo Registro Civil de Pessoas Naturais em que se encontra lavrado o negócio jurídico.
Um testamento, por exemplo, não pode ser provado por outros meios a não ser pela escritura pública passada no
tabelionato (testamento público), documento assinado pelo testador, e fechado e costurado pelo tabelião (testamento
cerrado), escrito do testador na presença de três testemunhas (testamento particular) pelos suportes adequados dos
testamentos especiais (marítimo, aeronáutico militar). Não se prova a existência de testamento, por exemplo, pelo
depoimento, ainda que verdadeiro e inconteste, de várias testemunhas que presenciaram os últimos minutos de vida
de uma pessoa, e nos quais ela manifestara claramente a vontade de deixar bens a certos herdeiros ou legatários.
Os negócios jurídicos formais só se provam pela forma especial exigida por lei. Os aformais provam—se
por qualquer meio admitido em direito, como a confissão, documentos públicos ou particulares, testemunhas,
presunção e perícia (art. 212, Código Civil):
a) Confissão. Se o depoente não é capaz para dispor do direito a que se referem os fatos confessados, a
confissão é ineficaz (CC, art. 213). Em conseqüência da ineficácia da confissão, a existência do negócio jurídico não
se reputa provado pelo depoimento do incapaz. Isso não significa, porém, que o negócio será também ineficaz ou
que não exista. Outras provas podem demonstrar a sua existência. Se a confissão é feita pelo representante da parte,
a eficácia probatória limita-se pelos poderes de que se encontrava investido (CC, art. 213. parágrafo único). É a
confissão feita pelo advogado, por exemplo, que recebera poderes ad judicia (que o habilitam a postular em juízo
por seu cliente), mas não os especiais para confessar.
b) Documento. Os instrumentos escritos provam a existência do negócio jurídico que neles se reproduz. São
de duas espécies: público ou particular.
São documentos públicos os instrumentos exarados por quem se encontra investido, por lei, de fé pública,
como o tabelião ou o escrivão do cartório judicial. Isso significa que o fato narrado num documento público, que
atende às respectivas formalidades, está, em princípio, provado. Se o sujeito faz qualquer declaração perante o
tabelião e este a reproduz em escritura pública, torna-se indisputável que a declaração foi feita por aquele sujeito
(CC, art. 219). Pode-se discutir apenas quais são os efeitos que tal declaração está apta a produzir.
A escritura pública é exemplo de documento revestido de fé pública. São seus requisitos, além de outros
exigidos em normas específicas I - data e local de sua realização; II - reconhecimento da identidade e capacidade das
partes e de quantos hajam comparecido ao ato, por si, como representantes, intervenientes ou testemunhas; III -
nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes e demais comparecentes, com a
indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento, nome do outro cônjuge e filiação; IV - manifestação
clara da vontade das partes e dos intervenientes; V - referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais
inerentes à legitimidade do ato; VI - declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes, ou
de que todos a leram; VII - assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião ou seu
substituto legal, encerrando o ato. (CC, art. 215, ˜1º ).
As certidões e traslados fornecidos pelo tabelião ou oficial de registro acerca do constante de suas notas são
outros documentos públicos que provam os negócios jurídicos correspondentes. O casamento celebrado no Brasil,
por exemplo, prova-se pela certidão do registro (CC. art. 1.543). As declarações feitas em processos judiciais, por
exemplo, são provadas por certidão lavrada pelo escrivão do cartório judicial responsável pelos autos do processo,
desde que contenha a reprodução textual do que o sujeito manifestou em audiência ou petição (CC, arts. 216 a 218).
O documento particular é o escrito assinado pelas partes do negócio jurídico. Em geral, é minutado por um
profissional da advocacia, mas nada impede que os próprios interessados, sem o auxílio do advogado, elaborem-no.
Presumem-se verdadeiras as declarações constantes de documento particular em relação aos signatários (CC. art.
219). Se alguém assina papel em que dá bem de seu patrimônio a outrem, é ônus do primeiro provar que o negócio
jurídico não existiu, já que o documento particular cria a presunção de sua existência. Outros documentos
elaborados pelos particulares podem, nos limites legais, servir de prova da existência de negócios jurídicos, assim os
telegramas (CC. art. 222) e a escrituração dos empresários e sociedades empresárias (CC. art. 226).

110
c) Testemunhas. A prova de que certos sujeitos integravam uma relação negocial pode decorrer do relato de
fatos pertinentes feito por uma ou mais testemunhas perante o juiz. Não se pode, contudo, provar exclusivamente
por testemunhas a existência do negócio jurídico cujo valor ultrapasse dez vezes o maior salário mínimo vigente no
país. Para os negócios dessa envergadura, a prova testemunhal é subsidiária ou complementar da prova escrita,
exceto se a lei a considerar plena em casos específicos (CC, art. 227).
Certas pessoas estão impedidas de testemunhar, seja em razão da falta de amadurecimento, seja por
obstáculo físico ou carência de isenção. Os menores absolutamente incapazes, os cegos e surdos, quando a ciência
do fato depender dos sentidos deficientes, bem como os interessados no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital
das partes, o cônjuge e parentes até certo grau não são confiáveis o suficiente para que o relato deles ao juiz prove a
existência do negócio jurídico. A critério do juiz, porém, poder-se-á colher o depoimento dessas pessoas quando
apenas elas conhecerem os fatos objeto de disputa judicial. Há, também, pessoas que estão dispensadas servir de
testemunhas, ainda que conheçam os fatos que a justiça quer esclarecer. São as que devem guardar segredo sobre
eles em razão do estado ou profissão, as que não possam falar sem se expor à desonra, risco de vida, demanda ou
dano patrimonial imediato, ou sem que exponham a esses riscos o cônjuge, parente em grau sucessível ou amigo
íntimo (CC, art. 229).
d) Presunção. A presunção que deriva da constatação de fatos pelo juiz é meio de prova. Se algum
acontecimento é notório, o juiz pode presumir que as partes dele tinham conhecimento. Também, se há indícios de
que certo ato fraudulento foi praticado, mas não há acerca dele nenhuma prova definitiva, o juiz, a menos que haja
elementos probatórios indicando o contrário, está autorizado a presumir a ocorrência do ilícito. Feita a presunção,
considera-se provado o fato.
Anote-se que as presunções listadas, pela lei, como meio de prova (CC. art. 212, IV) são apenas as derivadas
de constatações de fato pelo julgador (chamadas de presunções simples). As presunções legais, caso se relacionem
com a questão probatória, não podem ser consideradas propriamente como provas. Há dois tipos de presunção legal,
a absoluta e a relativa, e nenhum deles é meio de prova. Quando a norma jurídica estabelece uma presunção
absoluta, ela está tornando certo fato (o presumido) insuscetível de contraprova. A presunção desse tipo, na verdade,
não prova o negócio jurídico, mas o considera existente para todos os efeitos de direito. E, quando a norma
estabelece uma presunção relativa, ela está apenas distribuindo o ônus probatório. Nas hipóteses de responsabilidade
subjetiva com inversão do ônus de prova, por exemplo, presume-se a culpa do agente causador do dano. Isso não
significa que ele será inexoravelmente responsabilizado; significa apenas que a vítima não tem o ônus de provar a
conduta culposa do agente causador do dano, e este, por sua vez, tem o ônus de provar a inexistência de culpa. Em
outros termos, a presunção relativa importa a redistribuição dos encargos probatórios entre as partes da relação
jurídica.
As presunções estabelecidas pela lei são de duas espécies: absolutas ou relativas. As presunções absolutas tornam
determinado fato insuscetível de contraprova. As relativas invertem o ônus de prova, transferindo-o de quem alega
o fato presumido para quem favoreceria a prova de sua inocorrência.
A presunção simples é admissível como meio de prova unicamente nas hipóteses em que o fato é passível de
comprovação por testemunhas (CC, art. 230).
e) Perícia. A perícia é a prova derivada de exame de objeto periciável por especialistas. Se alguém alega que sua
assinatura foi falsificada no instrumento particular em que declara celebrar certo negócio jurídico, a outra parte pode
provar, por perícia, que a firma é autêntica. Nesse caso, peritos em grafologia examinam o documento particular e a
assinatura da parte e, em laudo técnico, atestam a semelhança. Ficará, então, provada a existência do negócio
jurídico pela prova pericial. Em determinadas hipóteses, a recusa em se submeter à perícia pode ser considerada,
pelo juiz, a prova que se pretendia demonstrar pericialmente (por exemplo, recusa de exame de dna – a recusa à
perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame, art. 232, CC).

2. Modalidades dos atos jurídicos


A condição, o termo e o encargo são elementos acidentais introduzidos no contrato por vontade das partes. São
desnecessários à validade do ato, mas, após introduzidos, passam a integrá-los. São em regra admitidos nos negócios
de natureza patrimonial e vedados no direito de família e direitos personalíssimos (Segundo Cristiano Chaves são
vedados no casamento, adoção, reconhecimento de filhos, emancipação, regime de bens no casamento, aceitação e
renúncia de herança etc).
Condição: é a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico
a evento futuro e incerto. Se o evento já ocorreu, não se trata de condição. Se é futuro mas certo, trata-se de termo.
Quanto à maneira de atuação, a condição será suspensivaou resolutiva. A condição suspensiva irá subordinar a
aquisição do direito. Na resolutiva, adquire-se o direito desde logo, que pode extinguir-se pelo seu implemento. Se
alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva e, pendente esta, fizer novas disposições sobre a coisa, estas
disposições serão consideradas sem valor quando a condição se verificar.
Quanto à licitude, pode ser lícita ou ilícita. São ilícitas as condições contrárias à lei, à ordem pública, aos bons
costumes, as que privarem de todo efeito o negócio jurídico (denominadas perplexas), bem como as que o

111
sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes (puramente potestativas). Exemplo da última: se eu quiser, se eu
permitir etc. A condição ilícita leva à invalidação do negócio jurídico (art. 123).
Quanto à possibilidade, a condição pode ser possível ou impossível, física ou juridicamente. Fisicamente impossível
é a condição que não pode ser atendida por qualquer ser humano, por exemplo, levar o mar ao sertão baiano.
Juridicamente impossível é a vedada pelo ordenamento jurídico, como a disposição de herança de pessoa viva (art.
426 CC). Quando suspensiva, a condição impossível, física ou juridicamente, leva à invalidação do negócio jurídico
(123, I). Quando resolutiva, tem-se por não escrita (art. 124).
Quanto à fonte de onde se origina, a condição pode ser casual (quando deriva do acaso, evento fortuito), potestativa
(da vontade de um dos negociantes) ou mista (da vontade de um dos agentes e de outra circunstância). Exemplo de
condição casual é a ocorrência de tempestade. Exemplo de condição potestativa (aqui se trata da condição
meramente ou simplesmente potestativa, e não da condição puramente potestativa, vedada pelo art. 122) é a
realização de uma viagem. Exemplo de condição mista é a doação que será feita se o donatário se casar com
beltrana.
Se a condição for resolutiva, enquanto esta se não realizar, vigorará plenamente o negócio jurídico. Sobrevindo a
condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe. Nas hipóteses, porém, de
negócios de execução continuada ou periódica, o implemento da condição resolutiva não tem eficácia quanto aos
atos já praticados, salvo disposição em contrário, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e
conforme aos ditames de boa-fé.
Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos
destinados a conservá-lo.
Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela
parte a quem desfavorecer. Considera-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por
aquele a quem aproveita o seu implemento.
Termo é o evento futuro e certo que subordina a eficácia do negócio jurídico, sem prejudicar a aquisição de direitos.
O termo pode ser determinado (certo) ou indeterminado (incerto), conforme haja certeza ou não quanto à data de sua
ocorrência. Exemplo do primeiro é quando se afirma que o contrato tem eficácia até o dia 10 de novembro. Exemplo
do segundo é a morte. Em virtude de o termo poder ser certo ou incerto, Cristiano Chaves prefere conceituar termo
como o evento futuro e inevitável (podendo ser certo ou incerto).
Fala-se ainda em termo a quo(inicial) e ad quem(final), sendo que o primeiro firma o início da eficácia do negócio e
o segundo estabelece o fim de sua eficácia. Não se confunde com o prazo, que é o intervalo entre o termo inicial (a
quo) e o final (ad quem). Computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. Meado
considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número
do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a
minuto.
Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor.
Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva.
Encargo ou Modo é cláusula acessória pela qual se impõe um ônus ao beneficiário de uma liberalidade, como nas
doações, heranças e promessas de recompensa.
Exceto se for imposto como condição suspensiva, o encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito. O
encargo é coercitivo, de modo que o beneficiário pode ser constrangido a cumpri-lo, sob pena de anulação da
liberalidade. Quando o encargo for a benefício do interesse geral, o Ministério Público pode exigir o seu
cumprimento, depois da morte do instituidor.
Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade,
caso em que se invalida o negócio jurídico.

3. Evicção
Evicção (derivada de evincere, ser vencido) é a perda da coisa em virtude de sentença judicial que a atribui a outrem
em decorrência de causa pré-existente ao contrato. Funda-se no princípio da garantia. Somente se aplica aos
contratos onerosos e também para as aquisições em hasta pública (mediante os quais se transfere a propriedade, a
posse ou o uso). Pode assim ocorrer em ações petitórias e possessórias. Há três personagens: o alienante, que
responde pelos riscos da evicção, o evicto (adquirente que perde o bem) e o evictor (terceiro reivindicante e
vencedor da ação). A responsabilidade do alienante é de natureza objetiva (independe de dolo ou culpa).
A responsabilidade pode ser reduzida ou reforçada por cláusula expressa. Porém, ainda que excluída
contratualmente a responsabilidade, o evicto terá sempre o direito de receber de volta o preço que pagou pela coisa,
exceto se sabia do risco da evicção. Se não houver redução da responsabilidade, o adquirente terá direito à
restituição do que pagou, a indenização dos frutos que for obrigado a restituir, à indenização pelas despesas dos
contratos, às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído e às benfeitorias necessárias ou úteis
por ele custeadas. O valor da coisa será calculado pelo valor na data da evicção (tempo da sentença) e não na data do
contrato (CC, art. 450).

112
Tratando-se de evicção parcial, porém considerável, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição
da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a
indenização.
Requisitos da evicção: a) perda total ou parcial da propriedade, posse ou uso da coisa alienada; b) onerosidade da
aquisição; c) ignorância pelo adquirente da litigiosidade da coisa. Se a conhecia, presume-se ter assumido o risco de
a decisão ser desfavorável ao alienante; d) anterioridade do direito do evictor. O alienante somente responde se a
causa da perda da coisa é pré-existente ao contrato. Se é posterior, não (como no caso da desapropriação). Se o
decreto de desapropriação é anterior ao contrato e o processo de desapropriação é posterior, Carlos Roberto
Gonçalves entende que o alienante deve responder. No caso de o alienante transferir a propriedade da coisa ao
adquirente e terceiro adquirir a propriedade mediante a usucapião, o adquirente não terá direito a ser indenizado pela
evicção, se não interrompeu a prescrição aquisitiva, quando esta ocorreu depois da alienação do bem. e)
denunciação da lide ao alienante (456 CC). A doutrina tem entendido que essa denunciação da lide é obrigatória, sob
pena de o evicto não mais poder exercer o direito que resulta da evicção. Há decisões, todavia, no sentido de que o
evicto terá direito a propor ação autônoma de indenização, considerando o princípio que veda o enriquecimento sem
causa. Tal ação autônoma deve ser admitida quando o evicto é demandado em ação sumária, na qual não é possível a
denunciação da lide. Também é possível, quando o evicto não foi parte na ação originária, que resultou na evicção,
não tendo a oportunidade de denunciar a lide. Também nos casos em que a perda do bem resulta de ato
administrativo (apreensão de bem contrabandeado, v.g.).

4. Dos vícios redibitórios


As obrigações do vendedor não terminam com a entrega da res. O alienante deve garantir ao adquirente que
ele possa usufruir da coisa conforme sua natureza e destinação (boa-fé). Isso se aplica também em qualquer contrato
em que a posse seja transferida.
A lei preocupa-se, tradicionalmente, em disciplinar os vícios de fato (redibitórios) e de direito (evicção) na
coisa transferida.
Os vícios redibitórios encontram conceito no art. 441 do Código Civil: “A coisa recebida em virtude de
contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é
destinada ou lhe diminuam o valor.” A garantia decorre da própria natureza do contrato (aplica-se aos contratos
comutativos em geral) e refere-se a vícios ocultos na coisa, ao tempo da transmissão. Presume-se que o negócio não
teria sido realizado, ou teria sido realizado de outra forma, se o adquirente soubesse da existência do defeito na
coisa. A lealdade contratual manda que o transmitente alerte o adquirente da existência do vício. No entanto, ainda
que o vício seja desconhecido do próprio titular, os efeitos da teoria aplicam-se como consequência do princípio do
equilíbrio das relações negociais (art. 443, CC).
Não se confunde o vício redibitório e o erro. Quem, por exemplo, compra um quadro falso, pensando que é
verdadeiro, incide em erro. Quem compra um quadro que apresenta fungos invisíveis, e, após a aquisição, vem a
mofar, estará perante um vício redibitório.
Requisitos: o vício deve ser oculto, considerado o conhecimento geral do homem médio; o vício deve ser
grave, de modo que se dele tivesse tomado conhecimento, o adquirente não teria concluído o contrato; o vício deve
existir ao tempo do contrato.
Efeitos: arts. 441 e 442 do Código Civil. Dos vícios redibitórios decorrem duas ações viáveis: rejeição da
coisa ou abatimento do preço.
Garantia: é da natureza do instituto que a garantia possa ser diminuída, ampliada ou renunciada, dentro do
princípio pleno da autonomia da vontade, pois não se trata de disposição de ordem pública.
Prazo decadencial: estabeleceu o art. 445 o prazo de 30 dias para o adquirente obter a redibição ou
abatimento no preço, se a coisa for móvel, e de 1 ano se for imóvel, contado da entrega efetiva. O dispositivo afirma
ainda que se o adquirente já estava na posse da coisa, o prazo conta-se da alienação, mas reduzido à metade.
Quando o vício só puder ser conhecido mais tarde, o prazo conta-se do momento em que dele tiver ciência,
até o prazo máximo de 180 dias em se tratando de bens móveis e 1 ano para imóveis (art. 445, § 1º, CC).
Conforme o art. 446 do CC: não correrão os prazos na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente
deve denunciar o defeito ao alienante nos 30 dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência.
Atenção para o tratamento dos vícios redibitórios no Código de Defesa do Consumidor.

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ITEM 10.B: Das obrigações por declaração unilateral de vontade. Liquidação das obrigações e correção
monetária.

1. Das obrigações por declaração unilateral de vontade.


As obrigações podem surgir dos contratos, dos atos ilícitos e das obrigações por declaração unilateral de vontade.
As obrigações por declaração unilateral de vontade são obrigações emanadas de manifestações de vontade
de uma parte e que não discriminam desde logo a pessoa do credor, que só surgirá após a constituição da obrigação.
No Código Civil, os atos unilaterais de vontade estão previstos nos artigos 854 a 886.
- Promessa de recompensa (arts. 854 a 860): Preenchidos determinados requisitos, aquele que promete
recompensa está vinculado ao cumprimento da prestação oferecida. Ex.: recompensa a quem encontrar determinado
animal de estimação, proposta em faixa na rua. O promitente considera-se obrigado desde o anúncio público, mas a
exigência da contraprestação prometida dependerá de fato futuro e incerto ou da realização de determinado serviço.
Aquele que realizar o ato anunciado torna-se credor da recompensa. A promessa pode ser dirigida ao público em
geral ou a um grupo específico. É possível a supressão da oferta (art. 856, CC), desde que feita com a mesma
publicidade do anúncio.
- Gestão de negócios (arts. 861 a 875): trata-se de intervenção em negócio alheio, sem autorização do titular, no
interesse e de acordo com a vontade presumida deste. É fonte unilateral de obrigações. Dá-se quando uma pessoa
realiza atos no interesse de outra, como se fosse seu representante ou prestador de serviços, embora não investido
dos poderes respectivos. Como se vê, distancia-se a gestão de negócios da representação e do mandato porque: a)
nem sempre haverá representação na gestão de negócios; b) nesta não há acordo prévio entre os chamados gestor e
dono do negócio. Mas prevê o Código que “a ratificação pura e simples do dono do negócio retroage ao dia do
começo da gestão, e produz todos os efeitos do mandato” (art. 873).
A natureza jurídica da gestão de negócios é polêmica. Para os antigos romanos, era quase-contrato; o
Código Civil de 1916 posicionou-a entre os contratos; em resposta às críticas da doutrina, o Código de 2002 optou
por dela tratar entre os atos unilaterais que geram obrigação.
São dois os requisitos: a) dirigir-se a negócios alheios e b) sem outorga de poderes. Se o titular do negócio
concordou com a intervenção, não há gestão, mas sim mandato, locação de serviços ou outro negócio.
As obrigações do gestor consistem em cuidar do negócio como se fosse seu, segundo a vontade presumida
do dono. Tal responsabilidade funda-se nos princípios da autoresponsabilidade e da boa-fé. Já o dono do negócio, se
ratificar a gestão, deverá indenizar o gestor pelas despesas e prejuízos, sendo certo que não poderá negar
indenização caso a gestão seja necessária ou útil. O fundamento aqui é a vedação ao enriquecimento sem causa.
Também existe referência à gestão de negócios no Código de Processo Civil. Com efeito, tratando da
assistência, diz o CPC que, se ficar revel o demandado, o assistente será considerado seu gestor de negócios (art. 52,
§ único). Tal disposição mereceu a crítica de CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO: “Gestor de negócios é aquele que, sem
autorização do interessado, intervém na gestão de negócio alheio (CC, art. 861). Mas seria conveniente associar um
sujeito processual a uma figura de direito substancial? Nem sempre o assistente, a quem inclusive cabem poderes de
fiscalização das condutas do assistido (intervenção ne fiat collusio), está adstrito a atuar segundo a vontade
presumível deste.” (Instituições de direito processual civil II, p. 390, nota 12, itálico original).
- Enriquecimento sem causa: no enriquecimento sem causa ocorre um desequilíbrio patrimonial, pois não há fato
gerador para o incremento da riqueza. Existe enriquecimento injusto sempre que houver uma vantagem de cunho
econômico, sem justa causa, em detrimento de outrem. Esse é o sentido do art. 884 do Código Civil: “ Aquele que,
sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a
atualização dos valores monetários.” À noção de enriquecimento antepõe-se a noção de empobrecimento da outra
parte.
É no campo dos títulos de crédito, em maior escala, que surgiu no Brasil a aplicação da ação in rem verso (ação de
locupletamento indevido). restituição não deve ultrapassar o enriquecimento efetivo do agente e também não deve
superar o empobrecimento daquele que foi prejudicado. Condições da ação in rem verso: ) enriquecimento; b)
empobrecimento correlativo; c) ausência de causa jurídica; d) ausência de interesse pessoal do empobrecido.
Referida ação possui caráter subsidiário, conforme art. 886 do Código Civil: gNão caberá a restituição por
enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido.h
O atual Código Civil estabeleceu prazo prescricional de 3 anos para a pretensão de ressarcimento de enriquecimento
sem causa (art. 206, ˜ 3º, IV).
- Pagamento indevido: o pagamento é o fim natural e normal de uma obrigação. É o adimplemento voluntário de
qualquer obrigação. Para a existência de um pagamento, pressupõe-se a existência de uma obrigação, a intenção de
pagar, a possibilidade do cumprimento dessa obrigação, a existência de quem paga (o solvens) e a existência de
quem recebe (o accipiens).
O art. 876 do Código Civil estabelece a obrigação de restituir a todo aquele que recebeu o que lhe não era devido e
àquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a condição. O direito de repetir o que se pagou emerge do
fato de não existir débito a ser pago.

114
O pagamento indevido pode ser analisado pelo aspecto objetivo (haverá pagamento indevido pelo simples fato de
um pagamento sem causa) e subjetivo (exige-se como requisito o erro do solvens). Conforme o art. 877 do Código
Civil, gao que voluntariamente pagou o indevido incumbe a prova de tê-lo feito por erro.h
Casos em que aquele que recebeu não é obrigado a restituir: a) pagamento de dívida já prescrita (art. 882); b)
pagamento de obrigação natural (dívida de jogo); c) na situação em que se deu alguma coisa para obter fim ilícito,
imoral ou proibido por lei (art. 883).
No caso de pagamento indevido que teve por objeto um imóvel, é possível a aplicação dos arts. 876 e 877 do Código
Civil. Assim, aquele que transferiu um imóvel em pagamento indevido pode tê-lo de retorno, provando que incidiu
em erro. Nesse caso, o solvente terá o direito de reivindicar o imóvel, se ainda se achar em poder do accipiens; se
este o alienou gratuitamente; ou se, o tendo alienado a título oneroso, o terceiro adquirente estava de má-fé.
É na equidade e nos princípios gerais de direito que encontramos o nascedouro dos princípios do enriquecimento
sem causa e do pagamento indevido: dar a cada um o que é seu; a ninguém é dado prejudicar; viver honestamente.

2. Liquidação das obrigações.


A obrigação líquida é aquela obrigação certa, quanto à sua existência, e determinada quanto ao seu objeto.
Seu objeto é certo e individuado; logo, sua prestação é relativa a coisa determinada quanto à espécie, quantidade e
qualidade. É expressa por um algarismo, que se traduz por uma cifra.
Por sua vez, a obrigação ilíquida é aquela incerta quanto à sua quantidade e que se torna certa pela
liquidação, que é o ato de fixar o valor da prestação momentaneamente indeterminada, para que esta se possa
cumprir; logo, sem liquidação dessa obrigação, o credor não terá possibilidade de cobrar seu crédito. Depende,
portanto, de prévia apuração, por ser incerto o montante de sua prestação, tendendo a converter-se em obrigação
líquida.
Se o devedor não puder cumprir a prestação na espécie ajustada, pelo processo de liquidação fixa-se o
valor, em moeda corrente, a ser pago ao credor. Não cumprindo a obrigação, ou deixando de cumpri-la pelo modo e
no tempo devidos, responderá o devedor por perdas e danos mais juros, atualização monetária e honorários
advocatícios. O magistrado deverá considerar: o dano positivo ou emergente; o dano negativo ou lucro cessante;
nexo de causalidade entre prejuízo e a inexecução culposa ou dolosa da obrigação por parte do devedor.
Os arts. 403 e 944 do CC dispõem que a indenização mede-se pela extensão do dano e que, se houver excessiva
desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir eqüitativamente a indenização.
A liquidação das obrigações visa tornar possível a efetiva reparação do dano sofrido pelo lesado, contratual ou
extracontratual, fixando o montante da indenização das perdas e danos. Pelo CC, art. 404 e p. único, a indenização
das perdas e danos nas obrigações pecuniárias será paga com atualização monetária, segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários advocatícios, sem prejuízo da pena convencional.
Tal conversão se realiza, processualmente, mediante liquidação (CPC, art. 586), que lhe fixará o valor, mas pode
advir de transação (CC, art. 840), quando os transigentes acomodam seus interesses como julgarem conveniente, isto
é, por força de ajuste entre as partes e de acordo com a lei (CC, arts. 948 a 954). A liquidação judicial dá-se sempre
que não houver a legal e a convencional. Assim, a liquidação pode ser: a) por determinação legal; b) por convenção
das partes; c) por sentença judicial.
Pelo Código Civil, art. 397, na obrigação que se reveste de iliquidez não pode haver constituição em mora pleno
iure, ante o princípio in illiquidis non fit mora, que compreende o caso em que é certa a existência do débito, embora
incerto o seu quantum, a ser determinado oportunamente pela liquidação.
A obrigação ilíquida não comporta compensação (CC, art. 369), imputação do pagamento (CC, art. 352),
consignação em pagamento e concessão de arresto (CC, art. 814, I). É suscetível de fiança, embora o fiador só possa
ser demandado depois que se tornar líquida e certa a obrigação do principal devedor (CC, art. 821).
No CPC, a liquidação pode ocorrer por mero cálculo aritmético, por arbitramento (quando houver necessidade de
perito) ou por artigos (quando houver necessidade de alegar e provar fato novo).
A liquidação processual é fase do processo de conhecimento, com natureza jurídica de incidente, cujo objetivo é a
constituição de um título executivo judicial, mediante a apuração do quantum debeatur, seja, o valor da obrigação,
constituindo, assim, providência integrativa da sentença exeqüenda. Nesse sentido veio a novel redação do art. 475-
A do CPC: “Quando a sentença não determinar o valor, procede-se à sua liquidação”. Assim dito, não é
inteiramente correto dizer que liquidar a sentença importa em torná-la líquida e certa. Nela não se perquire se a
dívida é ou não real quanto à sua existência (dívida certa, objeto da fase de conhecimento), mas sim sobre sua
liquidez (dívida líquida), que diz respeito à exata definição daquilo que é devido (individuação do objeto da
condenação) e de sua quantidade. Embora os arts. 475-A a 475-H, que regulam a liquidação judicial, se refiram
somente à apuração de valor em dinheiro (obrigação de pagar), o liquidatório aplica-se a outras modalidades de
prestação, servindo também para determinar a quantidade de coisas a serem entregues, a natureza da própria coisa
(obrigação de entrega de coisa), e ainda do fato a ser ou não prestado (obrigação de fazer e não fazer).
É curial resumir aqui as principais normas que regem as modalidades de liquidação. Por cálculos: quando a
apuração do quantum depender apenas de cálculo aritmético, o credor deverá elaborá-lo de modo detalhado,

115
extrajudicialmente, apresentando-o com o requerimento de execução, podendo o juiz valer-se do contador do juízo,
quando a memória apresentada aparentemente exceder os limites da decisão exeqüenda e nos casos de assistência
judiciária. Não há propriamente liquidação, podendo ser feita no pedido de cumprimento da sentença. Por
arbitramento: dá-se mediante atividade de perito judicial, com conhecimentos além do “homem comum”, quando a
sentença ou convenção das partes impuser seu uso e quando a natureza do objeto da liquidação o impuser,
aplicando-se, no que cabível, a disciplina da prova pericial (art. 420 e ss, CPC). Por artigos: deve ser feita quando,
para a determinação do valor da condenação, houver necessidade de se alegar e provar fato novo, que, para
Marinoni e Arenhart, é aquele que ficou de fora da condenação por não ter sido alegado em virtude de autorização
legal, como ocorre na liquidação de sentença penal condenatória e nas sentenças de condenação genéricas por dano
ambiental. O procedimento será ordinário ou sumário, conforme a natureza do procedimento do qual provenha a
sentença.
Para Marinoni e Arenhart, os termos do art. 475-A, § 2º, CPC indicam que a liquidação poderá ser requerida na
pendência do recurso, ainda que recebido no efeito suspensivo. A liquidação da decisão provisória ocorre em autos
apartados, no juízo de origem, por cópias das peças necessárias.
Por último, aponte-se que a distinção entre obrigação líquida e ilíquida é relevante para efeito da caracterização da
mora do devedor. Assim, por exemplo, diz o CC (art. 397) que se considera em mora o devedor que descumpre
obrigação positiva e líquida. Ou seja, só depois do procedimento de liquidação que se têm os efeitos da mora.
Segundo Maria Helena Diniz, a obrigação ilíquida não comporta compensação (art. 396, CC), imputação de
pagamento (art. 352), consignação de pagamento e concessão de arresto (CPC, art. 814, I), e é suscetível de fiança,
embora o fiador só possa ser demandado depois que se tornar líquida e certa a obrigação do principal devedor (art.
821, CC).

3. Correção Monetária
O Código Civil adotou, como regra, o princípio do nominalismo (art. 315), pelo qual as dívidas em dinheiro
deverão ser pagas em moeda corrente e pelo mesmo valor constante do título. Pressupõe, pois, que a moeda tem
valor fixo, imutável, desconsiderando-se a sua desvalorização. É atenuado pela Lei 6.899/1981, que determina a
aplicação de correção monetária aos débitos oriundos de decisão judicial, acrescentando que nas execuções de
títulos de dívida líquida e certa, a correção será calculada a contar do respectivo vencimento, e, nos demais casos, a
partir do ajuizamento da ação. Tem-se, então, que a ausência de correção monetária (nominalismo) só vige no
período entre a celebração do negócio e o vencimento da dívida, pois, a partir daí, por força da Lei 6.899/1981,
opera-se a fluência da atualização monetária. Decorre desse princípio a nulidade das convenções de pagamento em
ouro (cláusula-ouro) ou em moeda estrangeira (obrigação valutária), conforme art. 318 do CC, e art. 1º, Lei
10.192/01, excetuados os casos previstos em lei (ex: contratos internacionais).
Tal princípio ganha exceções, segundo o próprio art. 315. A primeira delas é correção monetária, que tem por
finalidade evitar que o pagamento de um determinado valor, efetuado após o vencimento, sem o respectivo reajuste,
represente enriquecimento sem causa do devedor, em prejuízo do credor. Não gera, pois, acréscimo, mas apenas
atualiza o valor nominal expresso em moeda. É uma exigência de equidade, pois. Sua fixação sujeita-se ao princípio
da legalidade estrita, segundo índices oficiais (art. 389, CC). A outra exceção é a cláusula da escala móvel, referida
no art. 316: “é lícito convencionar o aumento progressivo das prestações sucessivas”. Na dicção de Tepedino, “é a
que faz oscilar a prestação do devedor segundo os índices do custo de vida, os preços de determinadas mercadoria
ou a variação dos salários”. Flávio Augusto Monteiro de Barros e Flávio Tartuce inserem a correção monetária na
cláusula de escala móvel, a permitir estipulação de correção monetária inclusive no período entre a celebração do
negócio e seu vencimento. Mas Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves advogam que a correção monetária não se
submete à convenção das partes, operando automaticamente a partir do inadimplemento da obrigação, mediante
limites impostos legalmente pelo Estado. Referida disposição deve ser interpretada em consonância com o Plano
Real (v. Leis nºs 9.069/95 e 10.192/2001), em que é vedada a estipulação de reajuste ou correção monetária de
periodicidade inferior a um ano. A outra exceção ao nominalismo é a onerosidade excessiva, tratada nos artigos 317
e 478 do CC.
Dívidas de dinheiro e dívidas de valor: dívida de dinheiro tem por objeto a entrega de soma em dinheiro, como no
aluguel, e dívida de valor, uma prestação diversa, servindo o dinheiro apenas para medir o conteúdo da prestação,
como nos alimentos e indenização por ato ilícito. Nesta, o pagamento é feito em dinheiro, mas o conteúdo da dívida
é outro: garantir a subsistência do alimentando e reparação do dano, nos exemplos respectivos. É também uma
exceção ao nominalismo, por aplicação do art. 317, podendo o juiz corrigir o valor, a pedido da parte, de modo que
assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

Súmulas do STJ:
Súmula 271 - A correção monetária dos depósitos judiciais independe de ação específica contra o banco
depositário.

116
Súmula 114 - Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, incidem a partir da ocupação, calculados sobre
o valor da indenização, corrigido monetariamente.
Súmula 113 - Os juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem a partir da imissão na posse, calculados
sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.
Súmula 67 - Na desapropriação, cabe a atualização monetária, ainda que por mais de uma vez, independente do
decurso de prazo superior a um ano entre o cálculo e o efetivo pagamento da indenização.
Súmula 43 - Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.
Súmula 36 - A correção monetária integra o valor da restituição, em caso de adiantamento de câmbio, requerida
em concordata ou falência.
Súmula 35 - Incide correção monetária sobre as prestações pagas, quando de sua restituição, em virtude da
retirada ou exclusão do participante de plano de consórcio.
Súmula 30 - A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis.
Súmulas STF:
Súmula 561 - Em desapropriação, é devida correção monetária até a data do efetivo pagamento da indenização,
devendo proceder-se á atualização do cálculo, ainda que por mais de uma vez.
Súmula 562 - Na indenização de danos materiais de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizando-se, para
esse fim, dentre outros critérios, dos índices de correção monetária.
Correção monetária no Código Civil de 2002: ver artigos 389, 395, 404, 418, 772 e 884.

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ITEM 10. C: Da transformação, da incorporação, da fusão e da cisão das sociedades. Da sociedade limitada e
da sociedade anônima.

1. Da transformação, da incorporação, da fusão e da cisão das sociedades


As operações de reorganização societária se traduzem na modificação do tipo ou da própria estrutura da sociedade.
Resumem-se elas na transformação, incorporação, fusão e cisão. A incorporação e a fusão servem à concentração
societária; a cisão, à desconcentração.
Com o tratamento que o novo Código Civil veio dispensar à matéria, entende Sérgio Campinho que, em relação às
sociedades anônima e em comandita por ações, a disciplina continuará a ser a da Lei nº 6.404/76; já se a operação se
estabelece no âmbito das sociedades contratuais, a regência dar-se-á com apoio no Código, salvo em relação à cisão,
eis que por ele não regulada, quando esse Código se limitou a dispor, quanto a ela, tão-somente acerca dos direitos
dos credores. A regulação do CC/2002 é bem mais limitada que a da Lei das Sociedades Anônimas, a qual se aplica
nos casos omissos por analogia.

- Transformação
A transformação é a operação pela qual uma sociedade altera o seu tipo, sem implicar a sua dissolução ou
liquidação. Representa mera mutação na sua roupagem, sem afetar-lhe a personalidade jurídica. A sociedade
mantém a sua personalidade jurídica, porém sob outro tipo societário. Contudo, deve obedecer aos preceitos
reguladores da constituição e inscrição próprios do tipo em que se vai converter.
Sua realização depende de consentimento unânime dos sócios, o que se justifica em função das profundas alterações
que poderão resultar na responsabilidade destes. A unanimidade só é dispensada se originariamente prevista no ato
constitutivo a possibilidade de sua implementação. Nesse caso, será decidida, no momento desejado, pelo quorum
contemplado no contrato social ou, no seu silêncio, será deliberada, na sociedade limitada, por votos
correspondentes a, no mínimo, ¾ do capital (artigo 1.076, I c/c artigo 1.071, V). Nas sociedades em nome coletivo e
em comandita simples, a omissão resultará na exigência da unanimidade, porquanto o tema envolverá alteração da
responsabilidade dos sócios e modificação do nome social, matérias elencadas no artigo 997 (artigos 1.406, 1.040 e
999). A aprovação por maioria dá ao dissidente o direito de se retirar da sociedade, mediante o reembolso de seus
haveres (artigo 1.114).
Permanecem os créditos e os débitos anteriores. Os bens do patrimônio social não são objeto de transmissão, pois
não mudaram de titular, mas cumpre promover averbação do novo nome da sociedade nos registros de propriedade.
A transformação, em nenhuma hipótese, prejudicará os direitos dos credores, os quais continuarão, até a quitação
integral de seus créditos, com as mesmas garantias que o tipo anterior lhes assegurava. Portanto, somente os créditos
surgidos após a transformação é que irão obedecer à disciplina do novo tipo societário.
Se uma sociedade em nome coletivo transforma-se em limitada, os credores anteriores à operação permanecerão a
desfrutar da responsabilidade pessoal, subsidiária, solidária, e ilimitada dos seus integrantes. Somente os créditos
nascidos posteriormente é que se sujeitarão à responsabilidade limitada dos sócios ao total do capital social.
Ocorrendo a falência da sociedade transformada, os seus respectivos efeitos só serão produzidos em relação aos
sócios que, no tipo anterior, a eles estariam submetidos. Mas para que a providência se verifique, devem os titulares
de créditos anteriores à transformação requerê-la e, assim acontecendo, somente estes se beneficiarão (parágrafo
único do artigo 1.115 do CC/02).

- Incorporação
Na incorporação, uma ou mais sociedades (incorporadas), de tipos iguais ou diferentes, são absorvidas por outra
(incorporadora), que lhes sucede em todos os direitos e obrigações, devendo todas aprová-la, consoante as regras
próprias dos seus respectivos tipos.
Da incorporação não surgirá nova sociedade, uma vez que a incorporadora irá suceder as suas incorporadas,
permanecendo ela, incorporadora, com sua personalidade jurídica intacta. As incorporadas é que serão extintas sem
liquidação com a implementação da incorporação, cujos respectivos atos deverão ser averbados no Registro Público
de Empresas Mercantis.
A deliberação dos sócios da sociedade incorporadora deverá aprovar tanto as bases da operação, bem como o projeto
de reforma do ato constitutivo.

- Fusão
A fusão consiste na operação onde duas ou mais sociedades, de tipos diferentes ou iguais, se unem para formar
sociedade nova que as sucederá em todos os direitos e obrigações, determinando, assim, a extinção das sociedades
objeto do ato jurídico.
Na criação da nova sociedade dever-se-ão observar as formalidades e normas reguladoras de constituição de seu
tipo. A providência será objeto de deliberação que obedecerá à forma estabelecida para os respectivos tipos de
sociedade que desejam se unir.

118
A decisão dos sócios, tomada em assembléia ou reunião realizada em cada sociedade, versará sobre a aprovação da
fusão em si, e, ato contínuo, sobre a aprovação do projeto do ato constitutivo da nova sociedade.
Não poderão os sócios votar acerca do laudo de avaliação do patrimônio da sociedade de que participem, dado o
notório conflito de interesse. A votação dar-se-á em relação ao laudo da outra ou das outras sociedades que irão se
agregar.
As operações de fusão e incorporação na sociedade limitada que demandam quorum de votação correspondente a,
no mínimo, ¾ do capital social (artigo 1.076, O c/c artigo 1071, VI), ensejam modalidade específica de recesso ao
sócio dissidente, exercitável em trinta dias subseqüentes ao conclave em que foram deliberadas (artigo 1.077).
Para as sociedades em nome coletivo e em comandita simples não há regra específica traçada no Código. Tomando
por referência o princípio que emana do artigo 223 da Lei nº 6.404/76, até então regra geral de direito societário, as
operações de fusão, cisão e incorporação devem ser deliberadas na forma prevista para alteração do ato constitutivo.
Dentro dessa perspectiva, conclui-se que, nas sociedades em apreço, a deliberação demandará consentimento de
todos os sócios, na medida em que irão ser alteradas matérias indicadas no artigo 997. Assim, esse é o quorum
exigido pelo artigo 999 do Código Civil.

- Cisão
A cisão é a operação na qual uma sociedade transfere, para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já
existentes, parcelas do seu patrimônio. Verificando-se a versão de todo o seu patrimônio, a sociedade restará extinta,
qualificando-se a cisão de total; sendo a versão parcial, a sociedade não se extingue, ocorrendo a divisão de seu
capital, nominando-se o evento, nesse caso, de cisão parcial.
A sociedade que absorve parcela do patrimônio da sociedade cindida sucede a esta nos direitos e obrigações
relacionados no ato da cisão; os direitos e as obrigações não relacionados permanecem com a sociedade primitiva
cindida. Na hipótese de cisão total, em que ocorrerá a extinção da cindida, os direitos e as obrigações não
relacionados serão transferidos na proporção das parcelas líquidas do patrimônio absorvidas.
O quorum para deliberação na limitada será o de ¾, no mínimo, do capital social. Nas sociedades em nome coletivo
e em comandita simples, será o que exige unanimidade.
Perante os credores, a responsabilidade da sociedade cindida e das que absorverem parcela do seu patrimônio será,
contudo, solidária, segundo o STJ: “Em se tratando de cisão parcial, e tendo sido afastada a solidariedade entre a
sociedade cindida e as sociedades que vierem a absorver parcela do patrimônio cindido, os credores anteriores a
cisão podem se opor à estipulação de ausência de solidariedade com relação a seus créditos” (AgRg no REsp
885.185/MT, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS),
TERCEIRA TURMA, julgado em 19/05/2009, DJe 10/06/2009)
As três operações (incorporação, fusão e cisão) envolvem transmissão de bens; cumpre promover registro efetivo (e
não mera averbação) nos registros de propriedade respectivos.
O reflexo destas três operações em relações aos credores, no âmbito do Código Civil, é diverso do tratamento que se
tem em relação a sociedades por ações.
Pela Lei nº 6.404/76, o credor prejudicado em razão da fusão ou da incorporação poderá pleitear a anulação do ato
(artigo 232), o que não se estabelece em relação à cisão, na qual, sendo total, com a extinção da sociedade cindida,
as sociedades que absorverem parcela de seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da sociedade
extinta; sendo parcial, a sociedade cindida e a aquela para qual verteu parcela do seu patrimônio respondem
solidariamente pelas obrigações da primeira anteriores à cisão. Contudo, na parcial, permite-se que fique
estabelecido o respectivo instrumento de cisão que a sociedade ou as sociedades que absorverem parte do
patrimônio só se responsabilizem pelas obrigações que lhes forem transferidas no ato, sem que haja solidariedade.
Mas neste caso, os credores anteriores poderão se opor à estipulação e, assim o fazendo, a cláusula de ressalva da
solidariedade não será eficaz em relação ao oponente (artigo 233).
Segundo o tratamento dispensado pelo Código, até noventa dias após publicados os atos relativos à incorporação,
fusão ou cisão, o credor anterior, por ela prejudicado, poderá promover judicialmente a sua anulação.

2. Sociedade Limitada e Sociedade Anônima.

A sociedade limitada tem seu capital dividido em quotas. Deve ser constituída por, no mínimo, dois sócios
(importante observar a inovação legislativa contida no art. 980-A, do Código Civil, que passou a permitir a criação
de empresa individual de responsabilidade limitada, constituída por uma única pessoa titular da totalidade do
capital social, que não será inferior a cem vezes o maior salário mínimo vigente no país), cuja responsabilidade é
restrita ao valor de suas respectivas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital
social.
O contrato pode ser formalizado por escritura pública ou particular. O contrato mencionará, entre outras, as
indicações do art. 997, ou seja, firma ou denominação social, objeto, sede e prazo da sociedade, capital social e a
quota de cada sócio, com o respectivo modo de realização e os administradores.

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A legislação aplicável a este tipo societário é o Código Civil e, nas omissões existentes no capítulo das sociedades
limitadas será aplicável a disciplina conferida à sociedade simples, salvo se, no contrato social, os sócios
deliberarem a regência supletiva por normas disciplinadoras das sociedades anônimas.
A integralização das quotas pode ser efetuada em dinheiro ou em bens, sendo vedada contribuição que consista em
prestação de serviços.
A cessão das quotas será disciplinada, livremente, no contrato social. Entretanto, na omissão deste, o sócio pode
ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros. Pode também
cedê-las a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social. A transferência das
quotas deve ser procedida por meio de alteração contratual.
A sociedade pode ser administrada por um ou mais sócios designados no contrato social ou em ato separado.
Entende-se que a administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende aos que posteriormente
ingressarem na sociedade.
A renúncia de administrador torna-se eficaz em relação à sociedade desde o momento em que esta toma
conhecimento da comunicação escrita do renunciante. Em relação a terceiros, é eficaz após a averbação e
publicação.
Pode o contrato instituir conselho fiscal composto de três ou mais membros (sócios ou não, residentes no país) e
respectivos suplentes. Não podem fazer parte do conselho fiscal, os membros dos demais órgãos da sociedade ou de
outra por ela controlada, bem como os empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, além do
cônjuge ou parente destes até o terceiro grau. A remuneração dos membros do conselho fiscal será fixada,
anualmente, pela assembléia dos sócios que os eleger.
É assegurado aos sócios minoritários (desde que representem pelo menos um quinto do capital social) o direito de
eleger um dos membros do conselho fiscal e o respectivo suplente. A deliberação em assembléia será obrigatória se
o número dos sócios for superior a dez.
Depende da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato, a aprovação das contas
da administração; a designação e destituição dos administradores; o modo de sua remuneração, quando não
estabelecido no contrato; a modificação do contrato social; a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a
cessação do estado de liquidação e o pedido de concordata (nos termos do que dispõe a letra do artigo 1.071, VIII,
do CC).
A reunião ou a assembléia tornam-se dispensáveis quando todos os sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria
que seria objeto delas.
As deliberações tomadas de conformidade com a lei e o contrato vinculam todos os sócios, ainda que ausentes ou
dissidentes.
A assembléia dos sócios instala-se com a presença, em primeira convocação, de titulares de no mínimo três quartos
do capital social, e, em segunda, com qualquer número. O sócio pode ser representado na assembléia. A assembléia
será presidida e secretariada por sócios escolhidos entre os presentes. Cópia da ata será apresentada ao Registro
Público de Empresas Mercantis para arquivamento e averbação.
A assembléia dos sócios deve realizar-se ao menos uma vez por ano, nos quatro meses seguintes ao término do
exercício social, com o objetivo de tomar as contas dos administradores e deliberar sobre o balanço patrimonial e o
de resultado econômico. Deve também designar administradores, se for o caso.
Quando houver modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação de outra, ou dela por outra, terá o sócio
que dissentiu o direito de retirar-se da sociedade, nos trinta dias subseqüentes à reunião.
A aprovação, sem reserva, do balanço patrimonial e do resultado econômico, salvo erro, dolo ou simulação, exonera
de responsabilidade os membros da administração e, se houver, os membros do conselho fiscal. O direito de pleitear
a anulação desta aprovação extingue-se em dois anos.
As deliberações infringentes do contrato ou da lei tornam ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as
aprovaram (art. 1.080, CC).
O capital pode ser aumentado com a correspondente modificação do contrato. A sociedade também pode reduzir o
capital, mediante a correspondente modificação do contrato, nas seguintes hipóteses: depois de integralizado, se
houver perdas irreparáveis; se excessivo em relação ao objeto da sociedade.
Quando a maioria dos sócios, representativa de mais da metade do capital social, entender que um ou mais sócios
estão pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade, poderá excluí-los da
sociedade, mediante alteração do contrato social, desde que prevista neste a exclusão por justa causa. A exclusão
somente poderá ser determinada em reunião ou assembléia especialmente convocada para esse fim, ciente o acusado
em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa.
A sociedade dissolve-se, de pleno direito, quando ocorrer o vencimento do seu prazo de duração; mediante o
consenso unânime dos sócios; pela deliberação dos sócios por maioria absoluta. Também a dissolvem a falta de
pluralidade de sócios não suprida no prazo de 180 dias (exceto se o sócio remanescente, inclusive na hipótese de
concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas
Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário individual ou para empresa individual de
responsabilidade limitada, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código – art. 1.033,
parágrafo único, CC) e a declaração de falência.

120
A sociedade anônima ou companhia tem o seu capital dividido em ações (títulos livremente negociáveis),
obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. Não há
responsabilidade pelas ações dos demais acionistas.
A sociedade anônima rege-se por lei especial (Lei 6.404/76), aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições do
CC.
As sociedades anônimas só podem usar denominação, acrescida da expressão “sociedade anônima” (S/A) ou
expressão “Companhia”, vedada a utilização desta última no final da denominação.
As Sociedades Anônimas podem ser abertas (que podem negociar seus títulos – ações, debêntures, etc – em bolsa de
valores ou mercado de balcão) ou fechadas.
O capital da sociedade, quando de sua constituição, deve ser integralmente subscrito. Neste ato, caberá subscrição
pública (com apelo ao público e supervisão da CVM) e intervenção de instituição bancária, para que ocorra o
chamado underwriting. Também poderá ser feita subscrição particular (sem necessário apelo público, registro na
CVM ou participação de instituição financeira).
As ações são títulos negociáveis que representam o capital social da Sociedade Anônima e são, normalmente,
representadas por certificado conferido ao acionista. Atualmente, todas as ações são nominativas (com o nome do
acionista no registro), não havendo mais ações ao portador.
As ações podem, em suma, ser ordinárias (que asseguram direitos comuns aos acionistas, inclusive-sempre-o voto),
preferenciais (que conferem alguma vantagem, como, p. ex. recebimento de dividendos) e de fruição (conferidas a
acionistas que tiveram o valor de suas ações amortizados).
A sociedade também pode emitir outros títulos como o debênture (que representam verdadeiro empréstimo, captação
de recursos à sociedade) e o bônus de subscrição (são espécie de preferência aos detentores destes em subscrever
ações que venham ser a emitidas para aumento no capital social).
A Assembléia Geral é verdadeira reunião de acionistas para, conforme disposição legal, deliberar sobre assuntos de
interesse da sociedade. Pode ser ordinária (acontece todo ano nos 4 primeiros meses após o final do exercício e
serve para, dentre outras coisas, distribuir os dividendos) ou extraordinária (que pode ocorrer a qualquer tempo,
podendo tratar de qualquer assunto que não seja privativo de assembléia ordinária).
A Administração societária compete à Diretoria (responsável pela efetiva realização da vontade social) ou a ela e, se
existir, ao Conselho de Administração (que é órgão responsável pela intermediação entre a assembléia geral e a
diretoria), sendo este órgão obrigatório apenas para sociedades com capital aberto, com capital autorizado e de
economia mista.
O Conselho Fiscal é órgão social responsável pela fiscalização dos negócios sociais, inclusive, com a verificação de
documentos confeccionados pela sociedade (ex. balancetes, relatórios, etc). Este órgão social, embora de criação
obrigatória (deve vir previsto no estatuto), tem o funcionamento facultativo. Em suma, ocorre a inusitada situação de
ser o conselho fiscal um órgão de criação obrigatória e funcionamento facultativo.
O Conselho é composto de membros eleitos por assembléia geral, em um mínimo de 3 e máximo de 5 integrantes,
acionistas ou não, diplomados em curso universitário ou que tenham exercido cargo de administrador de
empresas/conselheiro fiscal por um período mínimo de 3 anos.

121
ITEM 11.A: Do inadimplemento das obrigações e da responsabilidade contratual.

O inadimplemento das obrigações pode ser absoluto (descumprimento total, desdobra-se em inadimplemento
culposo e inadimplemento fortuito) ou relativo.
O inadimplemento absoluto fortuito deriva de fato não imputável ao devedor, decorrente de caso fortuito ou força
maior. Salvo se o devedor tiver expressamente se responsabilizado por isso (ex.: companhias de seguro), a
consequência do descumprimento fortuito é a extinção da obrigação sem perdas e danos.
O inadimplemento absoluto culposo deriva de fato imputável ao devedor (culpa ou dolo), a quem se impõe, então,
o dever de pagar perdas e danos (dano emergente ou positivo e lucro cessante ou dano negativo), sem prejuízo de
eventual tutela jurídica específica.
A regra da teoria das obrigações (campo da responsabilidade contratual) é que o inadimplemento culposo gera
dever de pagar perdas e danos. Entretanto, há um movimento na doutrina mais moderna para banir a noção de
culpa em determinados pontos. Porque o contrato não gera apenas uma obrigação principal (dar, fazer e não
fazer), mas, também, deveres anexos, acessórios ou colaterais (que derivam da boa-fé objetiva e são cláusulas
implícitas em qualquer contrato; são eles o dever de informação, de lealdade, de assistência e de sigilo), o
descumprimento desses deveres (violação positiva do contrato) gera o descumprimento da obrigação e
consequente responsabilidade civil sem aferição de culpa, responsabilidade objetiva (inadimplemento objetivo, o
credor não precisa provar que o devedor teve culpa no descumprimento).
Vejamos o Enunciado 24 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil: “Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no
art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento,
independentemente de culpa.”
O inadimplemento relativo (já que ainda permite o cumprimento da obrigação) configura a mora, a qual ocorre
quando o pagamento não é feito no tempo, lugar e forma convencionados.
Tipos de Mora: a) do credor (mora accipiendi ou credendi); b) do devedor (mora solvendi ou debendi).
Se a mora for recíproca (tanto de credor quanto do devedor), a doutrina sugere que se opere uma espécie de
compensação.
A mora do credor deve ser analisada objetivamente, independentemente de investigação sobre sua culpa ou dolo.
Assim, se o credor, diante de uma oferta real de pagamento, recusa-se a receber, não há que se perquirir o
elemento anímico, a intenção dele.
A mora do credor subtrai do devedor isento de dolo a responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor
a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao
devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.
A mora do devedor traduz o retardamento culposo do cumprimento da obrigação. Requisitos da mora do devedor:
1) existência de dívida líquida e certa, 2) vencimento da dívida (exigibilidade), 3) culpa do devedor (fato ou omissão
imputável ao devedor, o que exclui o caso fortuito e a força maior), salvo os casos de responsabilidade objetiva (ex.:
contrato de transporte) e 4) viabilidade do cumprimento tardio da obrigação (se, por força da mora, a prestação se
tornar desinteressante para o credor, não houver mais utilidade nenhuma, não existirá inadimplemento relativo –
mora –, mas, sim, descumprimento absoluto da obrigação).
Quando a obrigação tem vencimento certo, a constituição do devedor em mora opera-se de pleno direito (dies
interpellat pro homine: o dia do vencimento interpela a pessoa), há mora ex re ou automática. Quando não há
termo, a mora se constitui mediante interpelação do devedor, pelo credor, judicial ou extrajudicialmente (mora ex
persona ou pendente). Há, ainda, a mora irregular ou presumida, que ocorre nas obrigações provenientes de ato
ilícito (o devedor está em mora desde a prática do ato).
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que, na alienação fiduciária, a mora constitui-se ex re, isto é,
decorre automaticamente do vencimento do prazo para pagamento. Assim, o comunicado que o banco expede ao
devedor, via cartório de protestos, é apenas comprobatório da mora que já existe.
Efeitos da mora do devedor: 1) responsabilidade civil pelos prejuízos causados ao credor em virtude da mora, mais
juros, atualização dos valores monetários e honorários de advogado; e 2) responsabilidade civil pela integridade da
coisa devida (perpetuatio obligationis).
O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso
fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa (na mora, e não
no fortuito, ou seja, provar que procurou o credor mas este não pôde ou não quis receber a prestação no termo)
ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.
 
Do Inadimplemento das Obrigações: Inadimplemento é a inexecução, descumprimento ou cumprimento
incompleto de uma obrigação anteriormente avençada.
Espécies:
 
a)       Inadimplemento Parcial
b)      Inadimplemento Total ou Absoluto
c)       Violação Positiva do Contrato
 
Inadimplemento Parcial: mora no cumprimento da obrigação, por fato ou omissão imputável ao Credor (mora
accipiendi, creditoris ou credendi) ou ao Devedor (mora solvendi, debitoris ou debendi).
“Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo,
lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer” (CC, art. 394).
 
Inadimplemento Total ou Absoluto: hipótese na qual a obrigação não pode mais ser cumprida, tornando-se inútil
ao credor.
 
Violação Positiva do Contrato: cumprimento inexato ou defeituoso da obrigação. Não consiste no atraso ou na
inexecução definitiva, mas em deficiências da prestação que é desempenhada, todavia não pelo modo que fora
estabelecida, havendo ofensa a sua qualidade.
Dentro da idéia de violação positiva, pode ser enquadrada a quebra dos deveres anexos (laterais ou secundários)
de conduta, decorrentes da boa-fé objetiva.
 
Responsabilidade Contratual: O inadimplemento tem como conseqüência a responsabilidade contratual da parte
inadimplente.
Em caso de inadimplemento parcial, o responsável deve indenizar os prejuízos causados, mais juros moratórios e
atualização monetária (ver CC, art. 395).
No inadimplemento total, o responsável deve responder pelo valor correspondente ao objeto obrigacional,
acrescido de perdas e danos, juros compensatórios e demais cominações previstas no art. 389 do CC.
 
Observação: “O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente
não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato
necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.” (CC, art. 393).
ITEM 11.B: Do regime de bens entre os cônjuges. Da dissolução da sociedade e do vínculo conjugais. Causas
legais da separação litigiosa. Efeitos da separação judicial e do divórcio.

Obras consultadas: Manual de Direito Civil- Flávio Tartuce, 2011.

O regime de bens pode ser conceituado como o conjunto de normas que delineiam a feição patrimonial do
casamento. Princípios do regime de bens: Princípio da autonomia privada: é o direito dos cônjuges de
regulamentar as questões patrimoniais (art. 1639, CC). Os nubentes podem estipular o regime de bens, por meio do
pacto antenupcial. Caso não haja estipulação, o regime será o da comunhão parcial (regime legal ou supletório). É
possível, ainda, a combinação de normas de diferentes regimes. Essa combinação não poderá, contudo, importar na
adoção de regimes distintos para cada um dos cônjuges (ambos devem estar sujeitos ao mesmo regime). Princípio da
indivisibilidade do regime de bens: É possível a criação juridicamente de outros regimes de bens que não seja
previsto em lei, porém não é licito fracionar os regimes em relação aos cônjuges, ou seja, o regime é único para
ambos os conjugues. Princípio da variedade de regime de bens. O CC consagrou quatro formas de regime de bens
(Comunhão parcial; Comunhão universal; Participação final nos aquestos e Separação de bens). O regime de bens
começa a vigorar desde a data do casamento. Princípio da mutabilidade justificada: É possível a alteração do regime,
mediante autorização judicial, em pedido motivado de ambos os cônjuges. A modificação não pode prejudicar
direitos de terceiros. (por ex., desaparecimento de causa suspensiva do casamento, sendo possível alterar o regime
da separação obrigatória para outro). Pode haver alteração do regime de bens de casamento realizado sob a égide do
CC/16? Sim, consoante enunciado 260 CJF/STJ “A alteração do regime de bens prevista no § 2º, do art. 1639, do
CC, também é permitida nos casamentos realizados na vigência da legislação anterior”. No mesmo sentido é a
posição do STJ (REsp 730.546, 03.10.2005). Regras gerais sobre os regimes de bens: Regime da separação legal
de bens obrigatório: “Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: I - das pessoas que o
contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; II – da pessoa maior de 70
(setenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 12.344, de 2010); III - de todos os que dependerem, para casar, de
suprimento judicial.” Cumpre mencionar que a previsão do inciso II do mencionado sobre críticas severas da
doutrina acerca de sua inconstitucionalidade por discriminar o idoso, tratando-o como incapaz (CJF 125 é nesse
sentido). Atos praticados pelos cônjuges sem a autorização do outro, independente do regime de bens: O art.
1647, estabelece que é dispensada a outorga conjugal se os cônjuges forem casados pelo regime da separação
absoluta. Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente: I -
praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão, com as
limitações estabelecida no inciso I do art. 1.647; II - administrar os bens próprios; III - desobrigar ou reivindicar
os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem suprimento judicial; IV -
demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com
infração do disposto nos incisos III e IV do art. 1.647; V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados
ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço
comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos; VI - praticar todos os atos que não lhes
forem vedados expressamente. Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro: I -
comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica; II - obter, por empréstimo, as quantias que a
aquisição dessas coisas possa exigir. Atos e negócios que exigem a outorga conjugal : Art. 1.647. Ressalvado o
disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação
absoluta: I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou
direitos; III - prestar fiança ou aval; IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que
possam integrar futura meação. A outorga conjugal pode ser suprida pelo Juiz, quando um dos cônjuges não puder
concedê-la ou a denegue de maneira injusta. A falta de outorga gera nulidade relativa, estando sujeita a ação
anulatória no prazo de 2 (dois) anos, a partir da dissolução da sociedade conjugal. Segundo a exegese do art. 1.647,
III, do CC/2002, é necessária a vênia conjugal para a prestação de aval por pessoa casada sob o regime da
separação obrigatória de bens. (REsp 1.163.074-PB, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 15/12/2009).
Administração dos bens: Quando um dos cônjuges não puder exercer a administração dos bens, caberá ao outro: a)
gerir os bens comuns e os do consorte; b) alienar os bens móveis comuns; c) alienar os bens imóveis comuns e os do
consorte, com autorização judicial. Economia doméstica: O cônjuge pode, sem autorização do outro, adquirir as
coisas necessárias para a economia doméstica ou obter empréstimo para o mesmo fim. Os cônjuges serão
solidariamente responsáveis pelas dívidas contraídas para tal fim. Regime de bens: 1) Comunhão parcial: É o
regime legal de bens, desde a Lei do Divórcio de 77 (antes era o da comunhão universal). Opera a comunicabilidade
dos bens adquiridos a título oneroso na constância do matrimônio, por um ou ambos os cônjuges. Preserva-se a
incomunicabilidade do patrimônio exclusivo de cada um, bem como dos bens adquiridos a título gratuito (herança
ou doação) ou por causa anterior (bens adquiridos antes do casamento ou sub-rogados em seu lugar), por um dos
cônjuges. O art. 1.659 aduz que excluem-se da comunhão: I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que
lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; II - os bens
adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; III -
as obrigações anteriores ao casamento; IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito
do casal; V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; VI - os proventos do trabalho pessoal de
cada cônjuge; VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. Por fim, reza o enunciado
340 do CJF/STJ que “no regime da comunhão parcial de bens é sempre indispensável a autorização do cônjuge, ou
seu suprimento judicial, para os atos de disposição sobre bens imóveis”. 2)Comunhão universal:
Comunicabilidade quase total dos patrimônios dos cônjuges, inclusive dos bens adquiridos antes do casamento.
Porém, são incomunicáveis, entre outros: a) bens herdados ou recebidos em doação, com cláusula de
incomunicabilidade, por um dos cônjuges; b) bens gravados de fideicomisso; c) dívidas anteriores ao casamento,
salvo as relativas aos aprestos ou que tenham se revertido em bem comum. E relação aos frutos, são eles
comunicáveis, mesmo que sejam retirados de bens incomunicáveis, mas que vençam ou sejam percebidos na
constância do casamento. (art. 1669, CC). Quanto a administração dos bens aplica-se as regras da comunhão parcial.
3) Participação final nos aquestos: Como regra fundamental do regime, durante o casamento há uma separação
convencional de bens, e, no caso de dissolução da sociedade conjugal, haverá algo próximo de uma comunhão
parcial de bens. Haverá a possibilidade de meação apenas dos bens adquiridos a título oneroso pelo casal ao longo
do casamento. Difere da comunhão parcial de bens, sobretudo pelo fato de que, nesta última, os bens adquiridos a
título oneroso por apenas um dos cônjuges se comunicam. Em princípio, exige-se outorga conjugal para prática dos
atos do art. 1.647, o que pode ser dispensado, por força de pacto antenupcial. 4) Separação de bens: a)
convencional (origem em pacto antenupcial): Os bens permanecem sob administração exclusiva de cada um dos
cônjuges, podendo livremente aliená-los ou gravá-los de ônus reais. b) legal ou obrigatória (art. 1641, CC): Ocorre
nas seguintes hipóteses: a) casamento celebrado com inobservância das causas suspensivas; b) casamento de pessoa
maior de 70 anos; c) casamento em que houve suprimento judicial. A S. 377 do STF estabelece que, na separação
obrigatória, comunicam-se os bens adquiridos na constância do casamento.
Dissolução da sociedade conjugal de do casamento. A doutrina de Flávio Tartuce, Paulo Lôbo, Zeno Veloso,
Maria Berenice Dias e Rodrigo da Cunha Pereira apontam que com a entrada em vigor da nova redação do art. 226,
§ 6º, da CF, dada pela EC 66/2010, restou abolida a figura da separação judicial ou por escritura pública, restando
somente o divórcio, que ao mesmo tempo rompe a sociedade conjugal e extingue o vínculo matrimonial. Mister
consignar que na V Jornada de Direito Civil realizada pelo CJF/STJ restou aprovado o enunciado nº 514, que traz
entendimento contrário ao defendido pelos autores acima mencionados “Art. 1.571: A Emenda Constitucional n.
66/2010 não extinguiu o instituto da separação judicial e extrajudicial.” A doutrina aponta que o divórcio indireto
ou por conversão não subsiste mais, fala-se atualmente apenas em divórcio. Após a EC não há mais prazo para o
casal se divorciar. Nos termos do art. 1.571 do CC, a dissolução do casamento pode se dar: I- pela morte de um dos
cônjuges197; II- pela nulidade ou anulação do casamento; III- pela separação judicial; IV- pelo divórcio.
Dissolução do casamento antes EC 66/2010: Antes da EC 66/2010, o casamento poderia ser dissolvido pelo
divórcio, em duas situações: 1) precedido de separação judicial (ou cautelar de separação de corpos) por mais de 1
(um) ano; 2) separação de fato por mais de 2 (dois) anos. Havia duas categorias de divórcio: 1) divórcio-conversão
(indireto); 2) divórcio direto. Pela nova redação do art. 226, §6°, “o casamento civil pode ser dissolvido pelo
divórcio”. Assim, o divórcio pode ser realizado diretamente, sem condicionamentos.

Separação e EC 66/2010: Tradicionalmente, a separação de direito é meio para a dissolução da sociedade conjugal,
pondo fim aos deveres de fidelidade, coabitação (separação de corpos) e ao regime de bens (partilha). O divórcio,
por sua vez, dissolve a sociedade conjugal e o vínculo matrimonial. Separação de direito: modalidades: Existem
três modalidades de separação de direito: 1) Separação judicial consensual: é típico procedimento de jurisdição
voluntária, devendo o juiz homologar o pedido das partes, desde que casados por mais de um ano. 2) Separação
judicial litigiosa: a) separação-sanção: grave violação aos deveres conjugais e insuportabilidade da vida em
comum; b) separação-falência: ruptura da vida em comum por mais de um ano e impossibilidade de reconstituição;
c) separação-remédio: fundada em doença mental superveniente que acomete um dos cônjuges, com duração de 2
(dois) anos pelo menos e cura improvável, tornando a vida conjugal insuportável. A separação-sanção é a única
modalidade em que se atribui culpa a um dos cônjuges (ou a ambos). O cônjuge declarado culpado pode vir a sofrer
dois tipos de sanção: a) perda do direito de uso do sobrenome do outro, ressalvadas hipóteses do art. 1.578 do CC;
b) perda do direito aos alimentos, salvo os indispensáveis à subsistência (alimentos indispensáveis, naturais ou
necessários). 3) Separação (e divórcio) extrajudicial – Requisitos: a) Consensual; b) não haver filhos menores ou
incapazes do casal; c) escritura pública, na qual serão definidos partilha de bens, alimentos e nome. Divórcio e
nome: Os cônjuges têm direito à manutenção do nome de casado. Divórcio e partilha: A partilha é consequência
natural do fim da sociedade conjugal. Todavia, o CC admite a concessão do divórcio mesmo sem que haja prévia
partilha. Divórcio e guarda: Segue a regra geral: melhor interesse do menor; preferência pela guarda
compartilhada. Ação de divórcio: Trata-se de ação personalíssima (cabe apenas aos cônjuges). Porém, em caso de
incapacidade, terão legitimidade para sua propositura curador, ascendente ou irmão (art. 1.582, CC). A lei não prevê
legitimidade do MP, mas parte da doutrina o admite. Efeitos da Separação: Quando se busca a separação judicial
o objetivo imediato é a cessação dos efeitos civis da sociedade conjugal. A Lei 6.515/77, prevê em seu art. 3º “A
separação judicial põe termo aos deveres de coabitação, fidelidade recíproca e ao regime matrimonial de
bens, como se o casamento fosse dissolvido”. Divórcio e alimentos: Questão tormentosa relativa à interação entre
a Emenda do Divórcio e os alimentos, refere-se à fixação dos chamados alimentos pós-divórcio. É cediço que o
Código Civil de 2002 admite a sua fixação expressa na sentença de dissolução do casamento, pela redação do seu
art. 1.709, in verbis: “O novo casamento do cônjuge devedor não extingue a obrigação da sentença de divórcio”.
Desse modo, sendo fixados alimentos na sentença de divórcio, poderão ser pleiteados em posterior momento o que
não desperta maiores dúvidas. O problema está em saber se é possível o pleito posterior de alimentos quando a
sentença do divórcio não fixá-los, porque um dos cônjuges a eles renunciou ou abriu mão; ou mesmo porque a
questão dos alimentos foi deixada pelo juiz para decisão em posterior momento. Consigne-se que, apesar da
literalidade do art. 1.707 do CC/2002, segundo o qual os alimentos são irrenunciáveis, doutrina e jurisprudência têm
admitido sua renúncia nas relações de conjugalidade. A propósito da doutrina, prevê o Enunciado 263, da III
Jornada de Direito Civil, que “O art. 1.707 do Código Civil não impede que seja reconhecida válida e eficaz a
renúncia manifestada por ocasião do divórcio (direto e indireto) ou da dissolução da união estável”. Da
jurisprudência superior, admitindo a renúncia aos alimentos, por todos: STJ, AgRg no Ag 1044922/SP, Rel. Ministro
RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 22/06/2010, DJe 02/08/2010 e REsp 226.330/GO, Rel. Ministro
CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 05/12/2002, DJ 12/05/2003, p. 304). Em uma visão
tradicional, como se extrai das ementas pesquisadas, a resposta à possibilidade de alimentos posteriores é negativa,
pelo desaparecimento do vínculo familiar existente entre as partes, a fundamentar o pleito alimentar nos termos do
caput do art. 1.694 do CC. Todavia, com a entrada em vigor da Emenda do Divórcio parece ganhar corpo a tese de
permanência dos alimentos, mesmo quando dissolvido o vínculo, o que está fundado no princípio constitucional da
solidariedade, retirado do art. 3º, inc. I, da CF/1988. A esse propósito leciona Maria Berenice Dias . Entende Flávio
Tartuce que é viável juridicamente a fixação de alimentos pós-divórcio, pois caso contrário a Emenda
Constitucional 66/2010 representaria uma reforma em desfavor ao alimentando, o que não se pode admitir.

Enunciados a V Jornada de Direito Civil do CJF/STJ.


514 – Art. 1.571: A Emenda Constitucional n. 66/2010 não extinguiu o instituto da separação judicial e extrajudicial;
515 – Art. 1.574, caput : Pela interpretação teleológica da Emenda Constitucional n. 66/2010, não há prazo mínimo
de casamento para a separação consensual; 516 – Art. 1.574, parágrafo único: Na separação judicial por mútuo
consentimento, o juiz só poderá intervir no limite da preservação do interesse dos incapazes ou de um dos cônjuges,
permitida a cindibilidade dos pedidos com a concordância das partes, aplicando-se esse entendimento também ao
divórcio; 517 – Art. 1.580: A Emenda Constitucional n. 66/2010 extinguiu os prazos previstos no art. 1.580 do
Código Civil, mantido o divórcio por conversão; 518 – Arts. 1.583 e 1.584: A Lei n. 11.698/2008, que deu nova
redação aos arts. 1.583 e 1.584 do Código Civil, não se restringe à guarda unilateral e à guarda compartilhada,
podendo ser adotada aquela mais adequada à situação do filho, em atendimento ao princípio do melhor interesse da
criança e do adolescente. A regra aplica-se a qualquer modelo de família. Atualizados os Enunciados n. 101 e 336
em razão de mudança legislativa, agora abrangidos por este enunciado; 519 – Art. 1.593: O reconhecimento judicial
do vínculo de parentesco em virtude de socioafetividade deve ocorrer a partir da relação entre pai(s) e filho(s), com
base na posse do estado de filho, para que produza efeitos pessoais e patrimoniais; 520 – Art. 1.601: O
conhecimento da ausência de vínculo biológico e a posse de estado de
filho obstam a contestação da paternidade presumida; 521 – Art. 1.606: Qualquer descendente possui legitimidade,
por direito próprio, para propor o reconhecimento do vínculo de parentesco em face dos avós ou de qualquer
ascendente de grau superior.
ITEM 11.C: Do reconhecimento de filhos e da adoção. Adoção por casais homoafetivos. Convenção da Haia
relativa á proteção das crianças e à Cooperação em matéria de adoção internacional de 1993.

1. Do reconhecimento de filhos e da adoção


O reconhecimento de filhos vem tratado no Código Civil, artigos 1607 a 1617 e na Lei 8.560 de 29 de dezembro de
1992, que trata da investigação de paternidade.
Tal reconhecimento é irrevogável, e pode ser feito no registro de nascimento; por escritura publica ou escrito
particular, a ser arquivado em cartório; por testamento, ainda que incidentalmente manifestado e por manifestação
direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que
contém. Dispõe o artigo 1613 que são ineficazes a condição e o termo apostos ao ato de reconhecimento do filho.
Para o STJ, aquele que reconhece voluntariamente a paternidade de uma criança com a qual sabia não ter vinculo
biológico só pode ser desfeito diante de vicio de consentimento. Mesmo assim, a Corte Cidadã tem dado prevalência
ao vinculo sócio-afetivo em detrimento do vinculo apenas registral ou biológico. A Ministra Nancy Andrighi
registrou que podem existir ex-conjuges ou ex-companheiros, mas não podem existir ex-pais. A ausência de vinculo
biológico é fato que por si só, não revela a falsidade da declaração de vontade consubstanciada no ato do
reconhecimento, já que a relação sócio afetiva não pode ser desconhecida pelo direito. Apesar de não ser matéria do
ponto sob análise, insta salientar que o STJ em sua 3ª turma entendeu que o abandono afetivo decorrente de omissão
do genitor no dever de cuidar da prole constitui elemento suficiente para caracterizar dano moral compensável.
A adoção vem regulamentada no Estatuto da Criança e do Adolescente, subseção IV, artigos 39-52-D. O Código
Civil dispõe sobre a adoção nos artigos 1.618-1.619. A natureza jurídica da adoção é ato jurídico em sentido estrito,
sendo a adoção sempre plena, com efeitos jurídicos expressamente previstos. Via de regra, a adoção dos maiores de
18 anos seguia a disciplina do Código Civil e a dos menores a do ECA. Exceção era feita somente ao adotante que
tenha sido colocado anteriormente em família substituta (guarda ou tutela), mesmo que tenha completado 18 anos.
No entanto, a Lei 12010 de 03 de agosto de 2009 alterou o Estatuto e o Código Civil, dispondo que se aplicam as
regras do ECA inclusive para a adoção de maiores de 18 anos, conforme dispõe o artigo 1619 do Código Civil.
Mister se faz uma leitura cuidadosa nos requisitos e pormenores dos artigos 39-52-D do ECA.

2. Adoção por casais homoafetivos


Não convêm utilizar o termo homossexualismo, por estar associado a uma patologia e ser homossexual não deve ser
tratado como doença, mas sim uma opção sexual. Daí que deve-se preferir o termo homoafetivo. Convêm lembrar,
apesar de não tratar-se de ponto afeto ao tópico ora estudado, que o STF reconheceu a união homoafetivo e a sua
inclusão como entidade família, estendo os direitos da união estável e dando interpretação conforme a Constituição
Federal ao artigo 1723 do Código Civil Brasileiro para que seja excluída qualquer significado que impeça o
reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. (ADPF 132 –RJ e ADI
4.277-DF). Diversos direito decorrem desse reconhecimento, inclusive que, por serem reconhecidas tais união como
entidade familiar, será cabível a adoção pelas mesmas de crianças e adolescentes. O STJ admitiu, a possibilidade da
adoção por casais homoafetivos (4ª turma), por entenderem que no caso sob analise, já vinham as crianças de longa
convivência com os mesmos. O que ocorria, antes de tal decisão do STF, é que a adoção era feita geralmente por
apenas um dos companheiros, já que não era possível a adoção bilateral, por não serem considerados entidade
familiar. Assim, O STJ em decisão paradigmática estendeu os efeitos da adoção a companheira da adotante. Todas as
decisões visam acima de tudo, o bem estar dos menores, Em tal decisão, o Ministro João Otávio de Noronha, citou
que toda a construção no campo de direito família é pretoriana. A lei vem sempre a posteriori. Não será diferente
com a adoção relativo aos casais homoafetivos, uma vez que a lei não pode diferenciar e tem que se reverenciar ante
as diversidades do direito de família. (RESP 889852/RS)

3. Convenção da Haia relativa à proteção das crianças e à Cooperação em matéria de adoção internacional de
1993.
Tal Convenção foi concluída em Haia em 29 de maio de 1993 e promulgada pelo Decreto 3087 de 21 de junho de
1999. Aplica-se as suas normas desde que antes da criança atingir a idade de 18 anos, quando a Convenção não mais
poderá ser aplicada.
Inicialmente, insta salientar que a adoção internacional é aquela pleiteada por pessoa ou casal domiciliado fora do
país, o que implicará deslocamento definitivo da criança ou adolescente para o país de acolhida. (ROSENVALD,
Nelson e FARIAS, Cristiano Chaves. Direito de Famílias, p. 940). Há que se atentar que a definição diz respeito a
localização do adotante, logo, mesmo se tratar-se de casais brasileiros residentes no exterior, será regido pelas
normas de Direito Internacional. A adoção de um estrangeiro realizada por brasileiro concede ao adotado a condição
de brasileiro nato, por não se admitir qualquer tratamento discriminatório, conforme a Carta Magna de 1988.
Segundo Paulo Henrique Gonçalves Portella, em Direito Internacional Público e Privado: “Os signatários da
Convenção entendem que é necessário prever medidas para garantir que as adoções internacionais sejam feitas no
interesse superior da criança e com respeito a seus direitos fundamentais, bem como para prevenir o sequestro, a
venda ou o trafico de crianças e ilícitos correlatos, como o trafico de órgãos e a exploração sexual de menores de
dezoito anos no exterior. Cada Estado deverá indicar uma Autoridade Central, encarregada de dar cumprimento às
obrigações impostas pela Convenção As Autoridades centrais deverão cooperar entre si e promover a colaboração
entre as autoridades competentes de seus respectivos Estado, com o intuito de assegurar a proteção das crianças e
alcançar todos os objetivos da Convenção. Uma adoção certificada, em conformidade com a Convenção, pela
autoridade competente do Estado onde ocorreu será reconhecida de pleno direito pelos demais Estados-Partes, nos
termos dos artigos 23 a 28 da Convenção. A Convenção ora em analise não admite reservas. O Brasil por meio do
Decreto 3174 de 16 de setembro de 1999 indicou como Autoridade Central Federal, a Secretaria de Estado dos
Direitos Humanos (SEDH) e, como Autoridades Centrais no âmbito dos Estados federados e do Distrito Federal, as
Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção, tendo sido a SEDH ratificada pelo Decreto 7.256/2010. O Decreto
3.174 instituiu também o Programa Nacional de Cooperação em Adoção Internacional e criou o Conselho das
Autoridades Centrais Administrativas Brasileiras. De resto, a adoção por estrangeiros no Brasil é também permitida
e regulada pela Constituição Federal (artigo 227 §5º), elo ECA e pelo supramencionado Decreto 3.174/1999. O ECA
dispõe em seu artigo 52 §1º que se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, admite-se que os pedidos de
habilitação à adoção internacional sejam intermediados por organismos credenciados.”
ITEM 12.A: Das pessoas jurídicas. Das associações e das fundações.

Das pessoas jurídicas.


A pessoa jurídica, salvo a fundação, nasce como decorrência do fato associativo (corporação).
Pessoa jurídica (ou abstrata, moral, coletiva ou fictícia) é o grupo de pessoas ou de bens, criado na forma da lei e
dotado de personalidade jurídica própria, para a realização de fins comuns.
O empresário individual é pessoa física (o fato de ele ter CNPJ não descaracteriza isso, é apenas ficção tributária).
Tanto é que o patrimônio do empresário individual é o próprio patrimônio da pessoa física.
- Teorias explicativas da pessoa jurídica:
1)                  Corrente NEGATIVISTA (Planiol, Duguit e outros): negavam o reconhecimento da pessoa jurídica como
sujeito de direito, diziam que não há pessoa jurídica porque ela era um patrimônio coletivo ou um condomínio,
grupo de pessoas físicas reunido;
2)                  Corrente AFIRMATIVISTA: reconhecia a pessoa jurídica como sujeito de direito. Há várias subdivisões: -
A Teoria da Ficção (desenvolvida por Savigny, a partir do pensamento de Windscheid) sustentava que a pessoa
jurídica seria um sujeito com existência ideal, fruto da técnica jurídica, sem atuação social. - Pela Teoria da
Realidade Objetiva ou Organicista (Gierke e Zitelman), a pessoa jurídica seria um organismo social vivo. - Segundo a
Teoria da Realidade Técnica (adotada pelo CC),  a pessoa jurídica é personificada pelo direito, mas tem atuação
social, na condição de sujeito de direito. Para Maria Helena Diniz, o nome correto dessa última seria Teoria da
Realidade das Instituições Jurídicas.
O CC, no art. 45, firma a natureza constitutiva (e não declaratória) do registro da pessoa jurídica, com eficácia ex
nunc. A aquisição da personalidade da pessoa jurídica só se dá a partir do registro. Às vezes, é necessário também
autorização do Poder Executivo (se faltar, a pessoa jurídica é inexistente). As pessoas jurídicas não registradas
funcionam como sociedades despersonificadas (antigamente denominadas de irregulares ou de fato). Elas podem
até ter capacidade processual, mas não são pessoas jurídicas; por isso, os sócios respondem pessoalmente.
- Exemplos de entes que não são pessoas jurídicas, mas têm capacidade processual: espólio, massa falida e
condomínio. Se tiverem CNPJ, isso é apenas ficção tributária.
- Espécies de pessoa jurídica de Direito Privado: associações, sociedades, fundações, organizações religiosas e
partidos políticos.
Apesar de o Enunciado 286 do CJF/STJ, da IV Jornada de Direito Civil, dispor que “Os direitos da personalidade são
direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas
titulares de tais direitos”, o STJ tem admitido a reparação do dano moral à pessoa jurídica, especialmente por
violação à sua imagem (honra objetiva, reputação social). V. Súmula 227 do STJ e art. 52 do CC.
Pessoa jurídica não tem honra subjetiva (já que não possui autoestima).
 
Das associações e das fundações.
A fundação, diferentemente das outras espécies de pessoa jurídica, é especial porque não decorre da reunião de
indivíduos, não é agrupamento humano. Decorre de um patrimônio que se personifica. Resulta do destacamento
de um patrimônio. Toda fundação tem finalidade ideal (religiosa, moral, cultural ou de assistência), ou seja,
finalidade não econômica.
Obs.: As ONGs, por também perseguirem finalidade ideal, devem se constituir sob a forma de fundação ou
associação.
Requisitos para se constituir uma fundação de Direito Privado: a) Afetação de bens livres; o instituidor destaca bens
do patrimônio dele; b) Constituição por escritura pública ou testamento; c) Elaboração do estatuto da fundação
(diretamente pelo instituidor ou, mediante delegação, por um terceiro; ambos devem submeter o estatuto à
aprovação do MP, com recurso ao juiz; se o terceiro não elaborar o estatuto, o MP elabora subsidiariamente, com
submissão à aprovação do juiz); d) Registro da Fundação no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas.
O MP Estadual tem a precípua função fiscalizatória das fundações. Se a fundação for interestadual, a fiscalização
caberá aos MP estaduais respectivos. Fundação do DF é fiscalizada pelo MPDFT, e não pelo MPF (ADI 2794).
Alteração do estatuto da fundação privada: a fundação privada prestigia interesses sociais, por isso há regras
específicas para alteração de seu estatuto (deliberação por dois terços dos representantes, não contrariar a
finalidade da fundação e aprovação pelo MP).
Destino do patrimônio quando a fundação privada acaba: tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que
visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o MP, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção,
incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra
fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.
As associações são entidades de direito privado, formadas pela união de indivíduos, visando a finalidade não
econômica (finalidade ideal, assim como as fundações; a diferença entre elas é que a associação decorre da união
de indivíduos). Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. Exemplos: associação de moradores
de bairro, ONG, clube recreativo (finalidade lúdica).
O ato constitutivo de uma associação é seu estatuto, que é registrado no CRPJ.
A associação pode ter receita, que deve ser investida nela mesma, mas não há o objetivo de partilhar lucros entre
seus conselheiros e presidência.
Compete privativamente à assembleia geral da associação: a) destituir os administradores; b) alterar o estatuto.
Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais.
A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário.
A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure
direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.
ITEM 12.B: Do penhor, da hipoteca e da anticrese.
São direitos reais de garantia sobre coisa alheia: penhor, hipoteca e anticrese. Características desses direitos:
preferência, indivisibilidade, sequela e excussão. Não admitem pacto comissório ou cláusula comissória (garante ao
credor o direito de ficar com o bem para si na hipótese de inadimplemento). O credor tem que levar o bem à
excussão, sob pena de violar o devido processo legal (na anticrese, entretanto, o credor não tem direito à
excussão).
 
Do penhor.
Penhor é o direito real de garantia sobre bem móvel. Tal garantia é oferecida pelo devedor, voluntariamente, ou
por força de lei, para assegurar o cumprimento de uma obrigação sua preexistente. Esse bem móvel pode ser
corpóreo ou incorpóreo. Constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse (é necessária, portanto, a
tradição).
Aeronaves e navios, apesar de serem bens móveis, são insuscetíveis de penhor. Em razão de seu valor econômico,
são objeto de hipoteca.
Como todo direito real de garantia, o penhor tem natureza acessória. Extinto o penhor, não necessariamente estará
extinta a obrigação porque extinguiu-se apenas a garantia e é possível que a dívida permaneça.
Se o bem entregue ao credor pignoratício perecer ou deteriorar sem culpa deste, extingue-se a obrigação de
devolver. Isso porque, nas obrigações de dar (o credor pignoratício tem obrigação de restituir, obrigação de dar de
volta), se a coisa pereceu ou deteriorou sem culpa, extingue-se a obrigação.
O STJ já entendeu que o roubo ou furto do bem empenhado na posse do credor pignoratício implica na extinção da
garantia, mas não em extinção da dívida. Porém, o valor do bem deve ser ressarcido ao devedor. Com base na boa-
fé objetiva, o credor pignoratício continua com o direito de exigir o pagamento (porque a obrigação não se
extinguiu), mas deve ressarcir o valor da coisa (já que, quando o devedor pignoratício entregou o bem ao credor
pignoratício, ele imaginou que o credor deveria ter cuidado, zelo, segurança, atenção, boa-fé objetiva).
O credor pignoratício não pode retirar para si os frutos que a coisa dada em garantia produz, pois eles pertencem
ao devedor. Se o fizer, o valor deve ser imputado nas despesas de guarda e conservação, ou, sucessivamente,
abatido da dívida,  primeiro dos juros e depois do principal.
Características do penhor: a constituição do penhor depende de solenidade (contrato por escrito e registrado no
cartório de títulos e documentos) e tradição da coisa (o contrato é, pois, real, porque só se aperfeiçoa com a
entrega da coisa). O registro no cartório é condição de eficácia do penhor apenas em relação a terceiros porque,
mesmo que não tenha sido registrado, é existente, válido e eficaz entre as partes.
É possível constituir subpenhor, penhor de diferentes graus, salvo disposição contrária. O penhor de segundo grau
somente prosperará depois que o credor pignoratício de primeiro grau tiver satisfeito o seu interesse, e assim
sucessivamente.
Penhor rural, industrial, mercantil e de veículos: as coisas empenhadas continuam em poder do devedor. O penhor
rural exige registro no cartório de imóveis (o industrial também) e nele não há tradição real, mas ficta, o constituto
possessório, que dá posse indireta ao credor pignoratício.
Penhor legal: constituído independentemente da vontade das partes, decorre da lei (hipótese de autotutela).
Depende de homologação judicial, que ocorre por procedimento previsto dentre as medidas cautelares.
 
Da hipoteca.
Hipoteca é direito real de garantia sobre imóvel (apesar de ser tratada como imóvel pelo art. 80 do CC, a herança
não pode ser objeto de hipoteca). Deve ser constituída por escritura pública. Exige-se o registro em cartório de
imóveis e dispensa-se a tradição (o bem permanece na posse do devedor hipotecário). É preciso vênia conjugal
(não para hipoteca de navios e aeronaves, porque são bens móveis), salvo no regime de separação absoluta.
A hipoteca não obsta o real aproveitamento do bem (o devedor hipotecário, na posse do bem, pode alugar,
emprestar, ceder, desmembrar, lotear, instituir condomínio e, até, alienar o bem, salvo nas hipotecas firmadas pelo
Sistema Financeiro de Habitação, nas quais a CEF terá que anuir).
Se a hipoteca incidir sobre bem de incapaz, exige-se autorização judicial, mesmo que ele esteja devidamente
representado ou assistido. A isso dá-se o nome de legitimação (requisito específico para a prática de determinado
ato), que é diferente de capacidade (aptidão para praticar atos pessoalmente).
Tipos de hipoteca: convencional (decorrente da manifestação de vontade dos interessados), judicial (índole
processual e não material, exige-se registro também) e legal  (há credores que, por lei, têm o privilégio da garantia
hipotecária, a exemplo dos filhos, sobre os imóveis do pai ou mãe que passar a outras núpcias antes de fazer o
inventário do casal anterior). Na hipoteca legal, exige-se homologação judicial, que ocorrerá por precedimento de
jurisdição voluntária.
Assim como o penhor, a hipoteca admite diferentes graus (sub-hipotecas): hipoteca de 1º grau, de 2º grau, etc. O
vencimento de uma hipoteca de grau consecutivo implica no vencimento antecipado da dívida garantida pela
hipoteca antecedente porque os graus são sucessivos. Não é necessário autorização do credor hipotecário de 1º
grau para constituição de hipoteca de 2º grau já que a constituição de hipoteca não obsta o aproveitamento do
bem.
Prazo máximo de hipoteca (chamado prazo de perempção): 30 anos.
A lei do bem de família, no art. 3º, dispõe que o imóvel dado voluntariamente em hipoteca é penhorável.
Entretanto, o STJ vem entendendo que a hipoteca só pode incidir sobre bem de família se a dívida garantida
reverter em prol do núcleo familiar.
 
Da anticrese.
Anticrese é direito real de garantia sobre bem (móvel ou imóvel) que produz frutos. O credor anticrético recebe o
bem para, recebendo os frutos, abater na dívida (primeiro os juros, depois o principal). Na prática, assemelha-se à
imputação do pagamento.
A anticrese excepciona a regra dos direitos de garantia. O credor real não recebe a coisa, mas na anticrese ele
recebe (tem a posse), para poder retirar-lhe os frutos.
O credor anticrético não pode ficar com a coisa para si, mas apenas explorar economicamente os frutos, que
também não são para si, mas para imputar na dívida.
Como o objeto da anticrese é estrito, nada impede que se tenha, ao mesmo tempo, sobre um só bem, hipoteca e 
anticrese, pois elas possuem diferentes finalidades.
Prazo máximo da anticrese: 15 anos (após, há a perempção). Depois desse prazo, a dívida pode até continuar, mas
a garantia é extinta.
A anticrese admite a ação de prestação de contas promovida pelo devedor em face do credor anticrético, para que
este preste contas dos frutos retirados, demonstrando-se o montante que foi quitado. Tal ação tem natureza
dúplice e permite a própria execução do valor remanescente encontrado.
Ao contrário do que ocorre com a hipoteca e o penhor, na anticrese o credor não tem direito à excussão da coisa
dada em garantia.
ITEM 12.C: Do poder familiar: conceito, exercício, suspensão e extinção.

Poder familiar (e não mais “pátrio poder”, expressão incompatível com a 'despatriarcalização' do Direito de Família)
ou autoridade parental (como consta no Estatuto da Famílias – PL 2.285/2007) é o conjunto de direitos e deveres,
quanto à pessoa e aos bens do filho menor não emancipado, exercido em igualdade de condições (se houver
divergência, recorre-se ao juiz) por ambos os pais (ou só por um deles, na falta do outro), no interesse do filho.
Características: a) munus público; b) irrenunciável (salvo o art. 166 do ECA: adesão a pedido de colocação do
menor em família substituta, v.g., pedido de adoção); c) indelegável; d) imprescritível (dele não decaem os
genitores pelo não exercício; somente podem perdê-lo por sentença judicial nos casos previstos em lei); e)
incompatível com a tutela.
Conteúdo do poder familiar:
- Quanto à pessoa do filho: dirigir-lhes a criação e educação; tê-los em sua companhia e guarda; conceder-lhes ou
negar-lhes consentimento para casarem; nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro
dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; representá-los, até os 16 anos, nos
atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios
de sua idade e condição.
- Quanto aos bens do filho: simples administração (atos de disposição exigem autorização judicial, sob pena de
nulidade) e usufruto. Exceções ao poder de administração e direito de usufruto: os bens adquiridos pelo filho
havido fora do casamento, antes do reconhecimento; os valores auferidos pelo filho maior de 16 anos, no exercício
de atividade profissional e os bens com tais recursos adquiridos; os bens deixados ou doados ao filho, sob a
condição de não serem usufruídos, ou administrados, pelos pais; os bens que aos filhos couberem na herança,
quando os pais forem excluídos da sucessão.
Suspensão do exercício do poder familiar: em caso de o pai/mãe abusar da autoridade, faltando aos deveres a eles
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, ou caso o pai/mãe seja condenado por sentença irrecorrível, em
virtude de crime cuja pena exceda a 2 anos de prisão. Suspensão é a privação, por tempo determinado, de todos os
atributos do poder familiar ou de somente parte deles, em relação a um dos filhos ou a alguns; pode ser
restabelecido o seu exercício se desaparecida a causa da suspensão.
Perda ou destituição do poder familiar: em caso de morte dos pais ou do filho,  emancipação, maioridade, adoção
ou decisão judicial (pai/mãe que castiga imoderadamente o filho ou o deixa em abandono, ou pratica atos
contrários à moral e aos bons costumes, ou, ainda, reincide numa causa de suspensão do poder familiar). Neste
último caso (decisão judicial), abrange toda a prole (e não somente um ou alguns filhos) e pode ser restabelecido o
seu exercício apenas se provada a regeneração do genitor.
A suspensão ou a perda do poder familiar não desobrigam o genitor do dever de sustentar o filho (dever de
alimentos).
O divórcio e a dissolução da união estável não alteram o poder familiar, com exceção da guarda (salvo os casos de
guarda compartilhada ou alternada), que representa parcela desse poder e fica com um dos pais, enquanto o outro
fica apenas com o direito de visita.
A Lei n. 12.318/10 trouxe nova hipótese de suspensão do poder familiar: a alienação parental ou implantação de
falsas memórias (“lavagem cerebral” feita por um genitor alienador no filho, de modo a prejudicar a imagem do
outro genitor).
ITEM 13.A: Dos Registros Públicos.
Obras consultadas: LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. 3ª Ed. 2012. Ed. Método.
Legislação básica: Art. 22, XXV e Art. 236, CRFB; Lei 6.015/73 – Lei dos Registros Públicos (LRP); Lei 8.935/94
– Lei dos Serviços Notarias e de Registro.

1. Noções gerais: Ramo autônomo. Competência da União para legislar sobre “Registros Públicos” (Art. 22, XXV,
CRFB).

2. Conceito: Registro é o conjunto de atos autênticos tendentes a ministrar prova segura e certa do estado das
pessoas (físicas ou jurídicas), de títulos e documentos, da propriedade imobiliária e do inadimplemento do devedor.

3. Efeitos: a) constitutivo: o direito nasce a partir do registro (ex.: emancipação e aquisição de propriedade imóvel
por ato inter vivos); b) comprobatório: o registro prova e existência e a veracidade do ato jurídico a que se reporta
(ex.: assento de óbito de pessoa presumidamente morta); c) publicitário: o ato registrado, salvo raras exceções, é
acessível ao conhecimento de todos, interessados e não interessados (ex.: interdição e declaração de ausência).

4. Fins do registro público: a) publicidade; b) autenticidade: é a qualidade do que é confirmado por ato de
autoridade: de coisa, documento ou declaração verdadeiros. O registro cria presunção de verdade juris tantum; c)
segurança: d) eficácia: é a aptidão para produzir efeitos jurídicos.

5. Espécies: a) registro civil das pessoas naturais: prova o estado do indivíduo; b) registro civil das pessoas jurídicas
(inscrição de contratos, atos constitutivos ou estatutos de pessoa jurídica de direito privado, sendo onde começa sua
existência); registro de títulos e documentos; e d) registro de imóveis.

6. Registro de imóveis: Princípios do registro de imóveis: a) Publicidade: o registro confere publicidade às


transações imobiliárias, valendo contra terceiros; b) Fé pública: os registros têm força probante, pois gozam de
presunção de veracidade (art. 859 do CC de 1916). No Brasil, somente o registro pelo sistema Torrens (art. 277 da
LRP) acarreta presunção absoluta sobre a titularidade do domínio, mas só se aplica a imóveis rurais; c) Legalidade:
incumbe ao Oficial do cartório, ex officio, examinar a legalidade e a validade dos títulos que lhe são apresentados
para registro, nos seus aspectos intrínsecos e extrínsecos; d) Territorialidade: É o que exige o registro na
circunscrição imobiliária da situação do imóvel (registro rei sitae); e) Continuidade: somente se admite o registro de
um título se a pessoa que nele aparece como alienante é a mesma que figura no registro como seu proprietário; f)
Prioridade: A lei protege quem primeiro registra o seu título; g) Especialidade: É exigida minuciosa
individualização, no título, do bem a ser registrado. Trata-se dos dados geográficos do imóvel, especialmente os
relativos às suas metragens e confrontações; h) Instância: não é permitido ao Oficial proceder aos registros de ofício,
mas somente a requerimento do interessado, ainda que verbal (art. 13 da LRP).

7. Outros conceitos:
Averbação: é acessório do registro (mas obedece às mesmas cautelas deste); consiste em referir, à margem de
registro existente, fato jurídico que o modifica ou cancela. Atinge direito da parte.
Anotações: remissões recíprocas dos registros e das averbações feitos nos diversos livros do oficial; tem o fim de
recordar, para facilidade de buscas, outros registros ou outras averbações. Não atinge direito da parte.
Regime jurídico dos notários e registradores: exercem atividade estatal, entretanto não são titulares de cargo
público efetivo, tampouco ocupam cargo público. Não são servidores públicos, não lhes alcançando a (...)
aposentadoria compulsória aos setenta anos de idade. (ADI 2602, Relator(a) p/ Acórdão:  Min. EROS GRAU,
Tribunal Pleno, julgado em 24/11/2005). Em razão da natureza estatal das atividades exercidas pelos serventuários
titulares de cartórios e registros extrajudiciais, exercidas em caráter privado, por delegação do Poder Público, o
Estado responde objetivamente pelos danos praticados a terceiros por esses agentes no exercício de tais funções,
assegurado o direito de regresso contra o notário, nos casos de dolo ou culpa (C.F., art. 37, § 6º). (RE 209354 AgR,
Relator(a):  Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 02/03/1999)

8. Novidades: Atentar para as inovações trazidas pela lei 12.424/11 que alterou a regularização fundiária dos
assentamentos urbanos de interesse social (Lei 11.977/09) e LRP. Ex: gratuidade de custas nos assentamentos de
interesse social.
ITEM 13.B: Do Estabelecimento.

Obras consultadas: RAMOS, Andre Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2ª Edição. Ed. Método.

Legislação básica: Arts. 1.142 a 1.149 do Código Civil.

1. Noções gerais: Instituto do Direito Empresarial. Previsão normativa no Titulo III do Livro II , Código Civil.

2. Conceito: Conjunto de bens móveis ou imóveis, materiais ou imateriais organizados para o exercício da atividade
de empresa (atividade econômica organizada para produção bens ou serviços)

3. Características
(i) Universalidade de fato – complexo de bens reunidos para finalidade específica
(ii) Estabelecimento não é sujeito de direitos, e sim objeto unitário de negócios jurídicos.

4. Trespasse: contrato relativo a alienação, usufruto ou arrendamento do estabelecimento.


Há regras específicas para proteção de terceiros:
-Necessidade de anuência (tácita ou expressa em 30 dias da notificação do credor) para eficácia do ato a terceiros,
salvo se bens restantes no patrimônio do alienante forem suficientes para saldar dívidas.
-Só produz efeitos a terceiros após averbado no Registro Público de Empresas Mercantis e publicado na imprensa
oficial.

5. Clausula de não-restabelecimento: O alienante não pode fazer concorrência (estabelecer-se logo em seguida
com o mesmo ramo de negócio) ao adquirente nos cinco anos subsequentes à transferência. Trata-se de cláusula de
não restabelecimento, implícita em qualquer contrato de trespasse, pois, ainda que não conste expressamente no
instrumento do contrato, é imposta por lei. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, essa proibição
persistirá durante o prazo do contrato.

6. Responsabilidade por débitos:


Regramento do Código Civil prevê a responsabilidade do adquirente pelos débitos anteriores à transferência (desde
que regularmente contabilizados).
Neste caso o devedor primitivo continua solidariamente obrigado pelo prazo de 1 ano a contar: a) da publicação do
contrato, quanto aos débitos já vencidos; b) da data do vencimento, quanto aos vincendos.

7. Efeitos:
-Transferência importa sub-rogação do adquirente nos contratos condizentes com a exploração do estabelecimento,
se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em 90 dias a contar da publicação da
transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante. Enunciado nº 234: -
Quando do trespasse do estabelecimento empresarial, o contrato de locação do respectivo ponto não se transmite
automaticamente ao adquirente.
-A cessão dos créditos produzirá efeitos em relação aos respectivos devedores desde o momento da publicação da
transferência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente.
ITEM 13.C: Dos direitos de vizinhança.

Obras consultadas: VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Vol V. 5ª Ediçao. Ed. Atlas.

Legislação básica: Arts. 1.277 a 1.313 do Código Civil.

1. Noções gerais: Limitações à propriedade; função social; interesse da coletividade; propriedades vizinhas e
vontade do homem.

2. Conceito de Direito de vizinhança: Limitações à propriedade na utilização e fruição dos imóveis impostos em
favor da convivência social. Vizinhança em sentido mais amplo, não restrita aos prédios confinantes.

3. Características:
-É obrigação propter rem: devedor por estar na condição de titular de direito real.
-Não se confunde com direito real de servidão (obrigação unilateral, decorrente de NJ + registro).
-D. vizinhança é limitação externa, enquanto na função social da propriedade a limitação é interna.

4. Espécies no CC:

 USO ANORMAL DA PROPRIEDADE: prejuízo à segurança, sossego e saúde: utilização que excede o
razoável. Atos ilegais, abusivos ou excessivos. Enseja responsabilidade objetiva – teoria do abuso de direito. Análise
da anormalidade: homem médio + zona de conflito + pré-ocupação

 ÁRVORES LIMÍTROFES: pertence a ambos. Os frutos pertencem ao dono do solo onde caírem.

 PASSAGEM FORÇADA: situação de absoluto encravamento. Oneroso. Decorre da lei. Encravamento


natural.

 PASSAGEM DE CABOS E TUBULAÇÕES: sempre subterrâneo.

 ÁGUAS: necessidade de suportar o curso das águas naturalmente escoadas pela propriedade superior.
Gratuito.

 LIMITES ENTRE PRÉDIOS E DIREITO DE TAPAGEM: demarcação é consequência do direito de


propriedade. Presunção de copropriedade de muros, cercas, tapumes, salvo se demonstrado que só um dos
confitentes pagou.

 DIREITO DE CONSTRUIR: Gozo e fruição inclui o direito de realizar acessões, que por sua vez está
limitado pela vontade das partes, regimentos administrativos, função social da propriedade e também pelo direito de
vizinhança. Preservação da intimidade e da privacidade. Ex: aberturas de janelas, paredes divisórias.
ITEM 14.A: Do casamento religioso com efeitos civis. Do casamento de estrangeiros e no exterior. Dos efeitos
jurídicos e do regime de bens do casamento. Do casamento inexistente, nulo e anulável.
Obras consultadas: Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil: Direito de Família. 9ª Edição. Ed. Atlas. v. VI.
Legislação básica: Art. 226, §§, CF/88; Arts. 1.511 a 1.570, do Código Civil.

1. Noções Gerais.
Na evolução do Direito Civil Brasileiro, mais especificamente do Direito de Família, percebe-se grande influência
religiosa e romana1, de modo que o instituto do casamento esteve, por muito tempo, engessado pelo caráter
conservador da sociedade, passando, somente nas últimas décadas – e com mais intensidade nos últimos anos
–, por uma flexibilização/remodelação. Washington de Barros Monteiro e Sílvio Rodrigues, p.ex., não vêem
com bons olhos a união diversa do casamento, por eles denominada, genericamente, de concubinato. Todavia,
com a CF/88 a união estável ganha proteção estatal, seguida do reconhecimento de direitos alimentícios,
sucessórios, previdenciários etc. É nesse contexto de novas formas de família que, hoje, deve ser visto o
casamento, inclusive aquele oriundo de relações homoafetivas, como já admitido pelo STJ ( infra), muito
embora seja moderno demais até mesmo para Venosa, crítico de Washington de Barros e Sílvio Rodrigues
quando o tema era união estável.
2. Conceito.
Ao conceituar o casamento, Venosa cita Guilherme Borda, para quem trata-se de “união do homem e da mulher
para estabelecimento de uma plena comunidade de vida”, conceito que se aproxima do texto do art. 1.511 do CC.
Já Washington de Barros fala em união para reprodução, enquanto que Sílvio Rodrigues traz a noção de contrato de
Direito de Família. Venosa conclui que o conceito não pode ser imutável – muito embora não admita, inicialmente, o
casamento de pessoas de mesmo sexo –, mas não abre mão da noção de negócio jurídico e do aspecto formal.
Caracteriza, então, o casamento como o ato solene, pessoal (liberdade de escolha) e puro (não admite condição
ou termo), eminentemente civil e que estabelece um vínculo jurídico de convivência, auxílio, integração físico-
psíquica e amparo à prole, além de regularizar as relações sexuais.

Venosa, como já dito, aponta a diversidade de sexo como característica do casamento, salientando que a relação
homoafetiva é obrigacional, demandando alteração legislativa e do art. 226, §3º, da CF para ser admitido o
casamento nesses casos. Chega a dizer que, para tais relações, o “nível jurídico nunca poderá ser o de
matrimônio”, pois estariam “fora do sublime e histórico conceito de família e casamento”. Diverso foi o
entendimento do STJ no REsp 1183378/RS (Quarta Turma, DJe 01/02/2012).

3. Natureza Jurídica.
Quanto à natureza jurídica do casamento, Venosa cita a corrente Institucionalista, adotada por aqueles que negam a
natureza contratual do casamento, entendendo que este seria um negócio jurídico sui generis (Duguit) ou, mesmo
sem negar a natureza contratual, tratam o casamento como uma instituição à qual aderem os nubentes (Maria
Helena). Ele próprio afirma que, quanto ao aspecto sociológico, trata-se de uma adesão a uma estrutura jurídica
cogente e predisposta. A concepção contratualista, por sua vez, é adotada pela maior parte da doutrina
(Beviláqua, Orlando Gomes, Caio Mário), concebendo o casamento como um contrato especial de Direito de
Família, pois leva em consideração aspectos de celebração e deveres recíprocos. Resume, então, que o
casamento-ato é um negócio jurídico, enquanto que o casamento-estado é uma instituição.

4. Casamento Civil.
O casamento civil surgiu na Holanda, em 1580, ao passo que no Brasil só foi instituído em 1861, passando a ser
obrigatório em 1890, com a proclamação da República e a separação entre o Estado e a Igreja. A regra atual, então,
é o casamento civil, sendo gratuita sua celebração (art. 1.512 do CC). Deve ser precedido de processo da
habilitação, que tramita perante o Oficial do Registro Civil, com participação do Ministério Público, só sendo
submetido ao Juiz caso haja impugnação (NOVIDADE – Lei n. 12.133/09), nos termos do art. 1.526 do CC.
Após a publicação de editais e em não havendo oposição de impedimentos ou causas suspensivas – ou sendo
elas afastadas –, será expedida certidão de habilitação com eficácia limitada ao prazo de 90 dias (arts. 1.527 a
1.532). A celebração do casamento deve se dar na forma dos arts. 1.533 a 1.542, podendo ser realizado mediante
procuração por instrumento público, com poderes especiais e prevendo a pessoa com quem se deve casar,
além de eficácia limitada a 90 dias (art. 1.542). Poderá, ainda, no caso de moléstia grave de um ou de ambos os
cônjuges, ser celebrado pela autoridade competente no local em que ele(s) se encontre(m), de dia ou de noite,
na presença de duas testemunhas (eram quatro no CC/1916) que saibam ler e escrever, devendo ser levado a
registro em até 5 dias (art. 1.539). Já no caso de iminente risco de vida de um ou dos dois contraentes, em
sendo impossível o comparecimento da autoridade competente, podem eles mesmos celebrarem o casamento,
desde que na presença de 6 testemunhas que com eles não possuam parentesco em linha reta ou na colateral
até segundo grau (art. 1.540). Neste último caso, chamado casamento nuncupativo, in articulo mortis ou in
extremis, as testemunhas têm 10 dias para comparecerem perante o juiz para terem suas declarações
reduzidas a termo (art. 1.541), sendo que qualquer interessado pode pedir que sejam intimadas a fazê-lo. O
juiz, então, averiguará se os cônjuges poderiam ter se habilitado e, em caso positivo, mandará registrar o casamento.
Em qualquer das hipóteses os efeitos do casamento retroagem à data da celebração.

5. Casamento Religioso.
O casamento religioso, que por muito tempo foi a única forma no Brasil, foi substituído pelo casamento
obrigatoriamente civil em 1890, com a proclamação da República. A CF/88, contudo, assegura efeitos civis ao
casamento religioso (art. 226, §2º), que deve se dar nos termos da lei, ou seja, depende de habilitação, prévia
ou posterior, e de registro. Além de atender aos requisitos de validade do casamento civil (art. 1.515 do CC), o
casamento religioso precedido de processo de habilitação deve ser levado a registro no prazo de 90 dias da sua
celebração, sob pena de ter de ser realizada nova habilitação (art. 1.516, §2º, do CC). Venosa destaca que o
STF, por seu Tribunal Pleno, já afastou a necessidade de observação deste prazo, muito embora a decisão seja de
1979 (RE 83859, DJ 03-07-1979). Se não houver habilitação prévia, ainda assim o casamento religioso pode ser
levado a registro, mas desde que, primeiro, os cônjuges passem pelo processo de habilitação, não sendo
necessária nova celebração porque os efeitos do ato retroagirão à data do casamento religioso (art. 1.515). Por
fim, Venosa destaca que esta modalidade de casamento abrange “todos os credos moralmente aceitos que não
contrariam a ordem pública” (p. 96).

6. Casamento de estrangeiros e no exterior.


Os brasileiros podem se casar no exterior, perante autoridade consular brasileira (casamento consular) ou perante
autoridade estrangeira. Nos dois casos o casamento deve ser registrado em 180 dias, a contar da volta de um ou
ambos os cônjuges ao país (art. 1.544 do CC).
Já o estrangeiro que quiser se casar no Brasil pode fazê-lo perante autoridade diplomática ou consular de seu
país, desde que ambos os nubentes tenham mesma nacionalidade (art. 7º, §2º, da LIDB). Caso contrário, o
casamento terá de ser realizado perante autoridade brasileira. Em qualquer caso, uma vez realizado no Brasil, aplica-
se a lei brasileira quanto às formalidades de celebração, causas de nulidade e anulabilidade4 (o art. 7º, §1º, da LIDB
fala em impedimentos dirimentes). Ainda, para Venosa a habilitação do estrangeiro para o casamento no Brasil não
exige prova da regularidade da sua situação no país. Não há exigência nesse sentido e o direito ao casamento não
pode ser limitado por esse motivo. Fica o estrangeiro sujeito apenas às sanções administrativas e, eventualmente,
penais pertinentes.
Por fim, o casamento de estrangeiro no exterior não precisa ser registrado no Brasil. Aliás, ao julgar Agravo
Regimental no pedido de Homologação de Sentença Estrangeira n. 7.376 – AR, o STJ negou pedido de
homologação de certidão de casamento expedida no exterior sob o argumento de que “ estão sujeitos à
homologação apenas as sentenças estrangeiras e os provimentos não judiciais que, pela lei brasileira, tenham
natureza de sentença”. E acrescentou que “não há previsão legal sequer de sua averbação no cartório de registro
civil brasileiro (Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973)”.

7. Efeitos jurídicos e do regime de bens do casamento.


Ao tratarmos dos efeitos do casamento é preciso partir da própria CF, em cujo art. 226, §5º, disciplina que “os
direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher ”. Esta
igualdade também está prevista nos arts. 1.511, 1.567, 1.568 e 1.569, todos do CC, segundo os quais “a direção da
sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher”, “os cônjuges são obrigados a
concorrer, na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação dos
filhos, qualquer que seja o regime patrimonial” e “o domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges”. O
Texto Constitucional, muito embora prevendo limites “nos princípios da dignidade da pessoa humana e da
paternidade responsável”, também assegura que “o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao
Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma
coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas ” (art. 226, §7º), previsão que também se vê no art. 1.565,
§2º, do CC. Com base nessa liberdade e igualdade, o casamento se destina a uma “comunhão plena de vida” (art.
1.511 do CC), com base em que “homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes,
companheiros e responsáveis pelos encargos da família” (art. 1.565 do CC).
O CC prevê, ainda, alguns deveres (art. 1.566), que são: (a) fidelidade recíproca, decorrente da tradicional
família monogâmica, que só é violada com conjunção carnal, acarretando, aí, efeitos patrimoniais em uma eventual
separação. Atos diversos da conjunção carnal, segundo Venosa (p. 145), podem configurar injúria grave e embasar
um pedido de separação, mas não configuram, juridicamente, adultério; (b) vida em comum no domicílio conjugal,
o qual, como já visto, será escolhido por ambos os cônjuges (art. 1.569). No dever de coabitação, segundo Venosa,
“está a compreensão do débito conjugal [que,] embora não constitua elemento fundamental do casamento, sua
ausência, não tolerada ou não aceita pelo outro cônjuge, é motivo de separação” (p. 145). Destaca, ainda, ser
ineficaz qualquer pacto antenupcial que se destine a dispensar o débito conjugal ou a coabitação, dever cuja violação
implica perda do direito a alimentos (art. 1.578), entre outras sanções; (c) mútua assistência; (d) sustento, guarda
e educação dos filhos, muito embora a existência de prole não seja essencial ao casamento; e ( e) respeito e
consideração mútuos. Venosa entende que a transgressão aos deveres conjugais pode gerar danos indenizáveis,
segundo a regra geral da responsabilidade civil (art. 186), muito embora admita ser minoritário seu entendimento, já
que para a maior parte da doutrina “entende que a simples transgressão dos deveres conjugais faz presumir a
existência de dano moral e portanto acarreta indenização” (p. 147).
Quanto ao direito patrimonial entre os cônjuges, as maiores novidades do CC/2002 foram a introdução do regime
de participação final nos aquestos, ao lado da comunhão universal, da comunhão parcial e da separação de
bens, além da sua flexibilização, já que os regimes podem ser combinados no pacto antenupcial ou até mesmo
alterados na constância do casamento. (Regime de bens, ver ponto 11).

8. Casamento inexistente.
Entre os pressupostos/elementos de existência do casamento podemos elencar o consentimento, a celebração por
autoridade materialmente competente e, segundo a doutrina tradicional, a diversidade de sexo dos
contraentes. A partir daí se deduz ser inexistente o casamento realizado sem manifestação de consentimento (o
que não se confunde com vício de consentimento, causa de anulabilidade), celebrado por autoridade que seja
materialmente incompetente (ressalvada a hipótese do art. 1.554 do CC5) ou entre pessoas do mesmo sexo
(ressalvado o entendimento do STJ no REsp 1183378/RS6). Trata-se de categoria não prevista, por óbvio, entre
as hipóteses legais de vícios do casamento, pois o ato não existe. Decorre da adoção, entre nós, da regra das
nulidades textuais, que não podem ser aumentadas. Com isso, às hipóteses de atos que evidentemente não podem
produzir efeitos, mas que não se encontram elencados entre os casos de nulidade ou anulabilidade, restam a
classificação como atos inexistentes. Venosa destaca, porém, que alguns atos inexistentes acabam por produzir
efeitos materiais, caso em que os efeitos da inexistência serão idênticos aos da nulidade, já que a intervenção judicial
para expurgar os efeitos práticos do ato será imprescindível. As grandes diferenças estariam, então, no fato de que
“contra o casamento inexistente não corre qualquer prescrição, e pode o juiz assim declará-lo de ofício e
qualquer interessado pode demandar sua declaração. Por outro lado, a nulidade do casamento não pode ser
decretada de ofício; somente determinadas pessoas estão legitimadas para requerer a declaração e existem
situações em que a nulidade pode ser escoimada pelo decurso do tempo” (p. 105)7. Por fim, Venosa ainda cita um
último caso de casamento inexistente, que seria o casamento nuncupativo sem confirmação posterior.

9. Casamento nulo.
O casamento, por sua vez, é nulo se contraído “por infringência de impedimento” ou “pelo enfermo mental sem o
necessário discernimento para os atos da vida civil” (art. 1.548). Como bem sintetiza Venosa, “se analisarmos a
natureza dos impedimentos que tornam nulo o casamento, veremos que são doravante de três ordens: incesto (I a
V), bigamia (VI) e homicídio (VII)”, todos do art. 1.521 do CC (p. 107). Segundo a doutrina, permanece a
validade do casamento avuncular, ou seja, o casamento com parente colateral de 3º grau (tio / sobrinho), mas
desde que haja parecer médico favorável (Dec. n. 3.200/41)9. “Os impedimentos podem ser opostos, até o momento
da celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz ” (art. 1.522) e, em não ocorrendo tal oposição, “a
decretação de nulidade de casamento (…) pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado,
ou pelo Ministério Público” (art. 1.549). Venosa destaca que, no caso da bigamia, “utiliza-se, porém, sempre que
possível, o princípio em favor do casamento: anulado o primeiro casamento, o casamento seguinte será válido. Da
mesma forma, se a existência do primeiro cônjuge é duvidosa, por ausência prolongada, não se ataca o
casamento” (p. 108)11. Por fim, corroborando o sistema das nulidades textuais, Venosa destaca que a existência de
irregularidades na habilitação não leva à nulidade do casamento (p. 64).

Dos Impedimentos: Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural
ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi
do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;V - o
adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por
homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o
momento da celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz. Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de
registro, tiver conhecimento da existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo.

10. Casamento anulável.


As causas de anulabilidade do casamento correspondem aos antigos impedimentos relativamente dirimentes do
CC/16, gerando nulidade relativa. Embora matéria controvertida na doutrina, para boa parte dela a sentença que
anula o casamento tem eficácia ex tunc. São causas de anulação (arts. 1.550 a 1.558):
(a) contraente com menos de 16 anos de idade (art. 1.517, primeira parte) ou, se menor em idade núbil, sem
autorização dos representantes legais12 (art. 1.517, segunda parte). Não se confundem o suprimento de idade
para evitar sanção criminal ou em caso de gravidez (art. 1.520) e o suprimento do consentimento, no caso de
negativa injusta (art. 1.519), hipótese em que será adotado o regime da separação de bens (art. 1.641, III). A
autorização pode ser revogada até a celebração (art. 1.518). Não se anula casamento por idade se há gravidez
(art. 1.551), nem por falta de autorização se o responsável acompanhou o ato (art. 1.555, §2º). No caso do
menor de 16 anos, a legitimidade para postular a anulação é dos seus representantes legais, dos seus
ascendentes ou do próprio cônjuge menor (art. 1.552), o qual, por outro lado, pode ratificar o casamento
depois de completar a maioridade (art. 1.553), a qualquer tempo, ainda que questionado por terceiros. Já no
caso do casamento de menor em idade núbil, mas sem autorização, a legitimidade para anulação também é
dos representantes legais e do próprio menor, bem como de seus herdeiros necessários. Em ambos os casos o
prazo para anulação é de 180 dias (art. 1.555 e 1.560, §1º), contado da data da celebração, da data da
maioridade do contraente menor (para ele) ou da data da morte deste, para os herdeiros. Se um ou ambos os
cônjuges estava de boa-fé, os seus efeitos são preservados até a sentença anulatória, ou, em caso negativo, são
preservados ao menos para os filhos (art. 1.561, §§);
(b) contraente incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento, seja por causa
permanente seja transitória. Não se inclui aqui o portador de moléstia mental permanente (casamento é nulo
– art. 1.548,I), nem os surdos-mudos e deficientes visuais que puderem exprimir sua vontade. Não se exige,
igualmente, interdição. O prazo para anulação também é de 180 dias (art. 1.560, I);
(c) revogação do mandato sem que o mandatário tivesse conhecimento, mas desde que não haja coabitação. O
prazo para anulação também é de 180 dias, mas contado da data em que o mandatário tiver ciência da
revogação (art. 1.560, §2º);
(d) autoridade relativamente incompetente, pois, se for absolutamente incompetente o ato é inexistente.
Contudo, uma vez feito o registro, em qualquer caso, anulabilidade ou inexistência, deve haver ação anulatória para
cassar os efeitos materiais do ato. O prazo para anulação é de 2 anos (art. 1.560, II), mas os efeitos do ato são
preservados se a autoridade, mesmo “sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de
juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil” (art. 1.554);
(e) enfim, chegamos aos casos de vício de vontade, que são as hipóteses de “erro essencial quanto à pessoa do
outro” (art. 1.556), ou seja, sobre a identidade, honra e boa fama, sobre a prática de crime anterior ao
casamento (não se exige condenação) ou sobre a existência de doença mental grave que tornem insuportável a
vida em comum, ou ainda sobre defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio
ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência (art. 1.557). Outra
hipótese de vício de vontade é a coação, que é a imputação de “fundado temor de mal considerável e iminente
para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares” (art. 1.558). A legitimidade, nesses casos, é apenas do
cônjuge vítima, sendo que, ressalvados os casos de moléstia grave, defeito físico irremediável e doença mental
grave, a coabitação convalida o ato. O prazo para anulação é de 3 anos para os casos de erro e de 4 anos para
os de coação (art. 1.560, III e IV).
Venosa destaca, por fim, que o dolo não está entre os casos de anulabilidade.
11. Adendo: causas suspensivas
Muito embora não integre o presente ponto, nem mesmo o ponto em que se trata dos regimes de bens (11), parece-
me interessante ao menos mencionar as chamadas causas suspensivas, que são os antigos impedimentos
impedientes, hoje previstas no art. 1.523 do CC. Não invalidam o casamento, mas geram apenas sanções
patrimoniais, como a imposição do regime de separação obrigatória de bens e a hipoteca legal em nome dos filhos.
As razões de ser das causas suspensivas são evitar confusão patrimonial, evitar a “turbatio saguinis” e proteger o
patrimônio dos tutelados/curatelados, na hipótese do art. 1.523, IV. Não podem ser declaradas de ofício; só podem
ser arguidas por parentes em linha reta ou colaterais até 2º grau13 (nem MP pode!), até 15 dias da publicação dos
proclamas. Podem ser afastadas, provando-se ausência de prejuízo (p.ex. inventário negativo ou prova da
inexistência de gravidez). Desaparecida a causa, admite-se alteração do regime de bens.
ITEM 14.B: Da teoria da imprevisão, do caso fortuito e da força maior.
Obras consultadas: Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos
Contratos. 7ª Edição. Ed. Atlas. v. II; Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 10ª Edição. Ed.
Atlas. v. IV.
Legislação básica: Arts. 478 a 480, do Código Civil; Art. 6º, V, do Código de Defesa do Consumidor; Arts. 246;
393; 399; 575; 583; 667, §1º; 862; 868, do Código Civil.

1. Da teoria da imprevisão.
1.1 Noções Gerais.
A teoria da imprevisão, que não é novidade entre nós14, fundamenta a relativização dos pilares do direito
obrigacional, o adágio pacta sunt servanda e o princípio da força obrigatória dos contratos, pois autoriza a
intervenção judicial para alteração/revisão do negócio jurídico. Justifica, portanto, a revisão ou a resolução do
contrato caso acontecimento superveniente e imprevisível desequilibre a base econômica do negócio, impondo a
uma das partes obrigação excessivamente onerosa. Venosa salienta, contudo, a necessária presença de um fator de
relevância geral, pois “o princípio da obrigatoriedade dos contratos não pode ser violado perante dificuldades
comezinhas de cumprimento (…). A imprevisão que pode autorizar uma intervenção judicial na vontade contratual
é somente aquela a que refoge totalmente às possibilidades de previsibilidade” (p. 430). Já a onerosidade excessiva
é explicada ora por teorias subjetivas, como da pessuposição de continuidade da situação existente quando o
contrato foi ultimado ou da condição implícita de continuidade daquela situação, ora por teorias objetivas, como o
do princípio da reciprocidade ou equivalência das condições ou, ainda, da função social e econômica do contrato.
1.2 Requisitos
Venosa aponta 4 requisitos: (a) fato extraordinário e imprevisível15, ou seja, que se afaste do curso ordinário das
coisas e que as partes16 não tenham tido condições de prever17; (b) repercussão sobre a prestação18, que, segundo
Venosa, é o que distingue a imprevisão do caso fortuito e da força maior; (c) contrato bilateral comutativo, ou
unilateral oneroso, a prazo ou de duração, pois nos contratos de cumprimento instantâneo não há espaço para
previsão e nos aleatórios o risco é inerente, ressalvada a hipótese de o fato imprevisível ser estranho ao risco
assumido19; (d) ausência de culpa do devedor e de mora no que diz respeito às demais cláusulas. Venosa não coloca
entre os requisitos e critica a previsão legal contida no art. 478 do CC que exige como resultado a extrema vantagem
para a outra parte20.
1.3 Efeitos
A revisão por meio da intervenção judicial pode resultar tanto em extinção da obrigação quanto na sua revisão21,
readequando-a a patamares entendidos como justos e equilibrados (arts. 479 e 480 do CC), mas, para tanto, depende
de pedido do autor da ação, para não se revelar extra petita22. Cláusula que vede o acesso ao Judiciário para fins de
revisão contratual no caso de imprevisão só é admitida se específica para determinados fatos, não sendo válida a
cláusula genérica.
1.4 Casuística – Jurisprudência do STJ (2008-2012)
- “ferrugem asiática”, “lavoura”, “atinge as plantações de soja no Brasil desde 2001”, “não é imprevisível” (REsp
945166/GO – 4ª Turma – DJe 12/03/2012);
- “maxidesvalorização do Real frente ao Dólar (1999)”, “aplicação da teoria da imprevisão”, “correção monetária
pela variação cambial” (EDcl-REsp 742717/SP – 4ª Turma – DJe 16/11/2011);
- “impedem a aplicação da teoria da imprevisão”, “contratos não são de execução continuada ou diferida”, “compra e
venda de coisa futura”, “alta do preço da soja não tornou a prestação excessivamente onerosa, mas apenas reduziu o
lucro”, “variação cambial (…) não configurou um acontecimento extraordinário e imprevisível”, “contratantes
conhecem o mercado” (REsp 936741/GO – 4ª Turma – DJe 08/03/2012);
- “a eficácia da coisa julgada tem uma condição implícita, a da cláusula rebus sic stantibus, norteadora da Teoria da
Imprevisão”, “atua enquanto se mantiverem íntegras as situações de fato e de direito existentes quando da prolação da
sentença” (AgRg-REsp 1193456/RJ – 2ª Turma – DJe 21/10/2010);
- “instituição da Unidade Real de Valor URV”, “cláusula de preservação da moeda”, “não se aplica a teoria da
imprevisão” (REsp 1129738/SP – 2ª Turma – DJe 21/10/2010);
- “inaplicável a contrato de compra futura de soja a teoria da imprevisão”, “cotação em bolsa de valores”, “flutuação
do preço é inerente ao negócio” (REsp 849228/GO – 4ª Turma – DJe 12/08/2010);
- “aumento salarial determinado por dissídio coletivo de categoria profissional é acontecimento previsível”, “não
havendo falar em aplicação da Teoria da Imprevisão para a recomposição do equilíbrio econômico-financeiro do
contrato administrativo” (AgRg-REsp 695912/CE – 2ª Turma – DJe 27/11/2009);
- “irrelevante o fato de que o contrato foi firmado antes da vigência do novo Código Civil para a análise da Teoria da
Imprevisão”, “não se mostra razoável (…) a inflação (...), no Brasil, como álea extraordinária”, “[não há]
desequilíbrio na equação econômica” (REsp 744446/DF – 2ª Turma – DJe 05/05/2008).

2. Caso Fortuito e Força maior


2.1 Noções gerais
Consistem em causas legais de exclusão de responsabilidade, que rompem o nexo causal, muito embora o devedor
responda pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior se expressamente tiver se responsabilizado por
eles (art. 393 do CC). A doutrina brasileira não é unânime quanto à definição de caso fortuito e força maior. Segundo
Washington de Barros Monteiro, a força maior está relacionada a fenômenos naturais, ao passo que o caso fortuito
decorreria de fatos humanos. Álvaro Villaça Azevedo, assim como Venosa (p. 60), diz exatamente o contrário: que
caso fortuito é evento inevitável da natureza, enquanto que a força maior seria decorrente de atos humanos. Maria
Helena Diniz, por sua vez, afirma que caso fortuito é evento imprevisível (imprevisibilidade), humano ou natural, de
causa desconhecida, enquanto que a força maior seria evento que, ainda que tenha causa conhecida, é inevitável
(inevitabilidade). Já Sílvio Rodrigues e José Aguiar Dias dizem que são expressões sinônimas, sendo inútil
distingui-las, do que Venosa discorda em parte, pois insiste que não são a mesma coisa, muito embora admita que no
campo da responsabilidade civil elas atuem como sinônimas. E, de fato, o parágrafo único do art. 393 conceitua
tanto o caso fortuito como a força maior como sendo o “fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou
impedir”, de modo que, na prática, a lei equiparou os dois institutos. Funda-se, então, na imprevisibilidade e na
inevitabilidade, com maior relevância esta, além da ausência de culpa de qualquer das partes. Anderson Schreiber
acrescenta um quarto elemento ao caso fortuito, que seria a externalidade, relativizando o conceito, de modo que o
chamado fortuito interno (aquele que incide durante o processo de elaboração do produto ou execução do serviço,
ou ainda aquele que é inerente à atividade) não se mostra suficiente para excluir a responsabilidade civil. Em
oposição, o fortuito externo exclui a responsabilidade civil porque está fora do exercício da atividade do fornecedor.
Essa classificação se aplica especialmente no campo do Direito do Consumidor.
Por fim, é importante consignar que o caso fortuito e a força maior não afastam a responsabilidade do devedor em
mora (art. 399) ou que viole outros deveres contratuais: locação (art. 575); comodato (art. 583); mandato (art. 667,
§1º); gestão de negócios (arts. 862 e 868).
2.2 Casuística – Jurisprudência do STJ (2008-2012)
- “culpa de terceiro somente romperá o nexo causal entre o dano e a conduta do transportador quando o modo de
agir daquele puder ser equiparado a caso fortuito”, “[não for] conexa à atividade econômica e aos riscos inerentes
à sua exploração” (REsp 1136885/SP – 3ª Turma – DJe 07/03/2012);
- “instituição financeira”, “roubos são eventos totalmente previsíveis e até esperados”, “não se podendo admitir (...)
caso fortuito ou força maior” (Resp 1286180/BA – 3ª Turma – DJe 17/11/2011);
- “atraso de voo e extravio de bagagem”, “Segunda Seção”, “problema técnico é fato previsível, não caracterizando
caso fortuito ou força maior” (AgRg no Ag 1389642/RJ – 3ª Turma – DJe 20/09/2011);
- “atos ilícitos, atribuídos a terceiro”, “roubo da carga a ser transportada”, “motivo de força maior” (REsp
1229361/SP – 3ª Turma – DJe 12/04/2011);
- “Não é possível a anulação de auto de infração de imposto de importação”, “mercadoria (...) roubada após o
desembaraço, durante o transporte”, “[não há] força maior, tendo em vista que roubos em estradas constituem fatos
corriqueiros inerentes à atividade da transportadora, o que caracteriza fato fortuito interno, e não externo.” (REsp
1172027/RJ – 2ª Turma – DJe 30/09/2010);23
- “caso fortuito possui força liberatória e exclui a responsabilidade do cirurgião plástico”, “rompe o nexo de
causalidade entre o dano (...) e o serviço” (REsp 1180815/MG – 3ª Turma – DJe 19/08/2010);
- “embora as rebeliões sejam uma constante no sistema carcerário brasileiro, a extensão e os impactos daquelas
ocorridas no complexo prisional Carandiru extrapolaram qualquer perspectiva de previsão”, “caracterização da
força maior/caso fortuito” (REsp 710078/SP – 2ª Turma – DJe 12/04/2010);
- “responsabilidade civil do shopping center no caso de danos causados à integridade física dos consumidores ou
aos seus bens não pode ser afastada sob a alegação de caso fortuito ou força maior”, “segurança (...) inerente à
atividade” (AgRg no Ag 1113293/MG – 3ª Turma – DJe 28/09/2009);
- “estacionamento”, “espaço e segurança aos usuários”, “afasta a alegação de força maior em caso de roubo
havido dentro de suas instalações” (REsp 503208/SP – 4ª Turma – DJe 23/06/2008).
ITEM 14.C: Do contrato estimatório, da prestação de serviços e da constituição de renda.
Obras consultadas: Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil: Contratos em espécie. 7ª Edição. Ed. Atlas. v. III.
Legislação básica: Arts. 534 a 537, 593 a 609 e 803 a 813 do Código Civil.
1. Do contrato estimatório.
Contrato por meio do qual que o consignante transfere ao consignatário bens móveis para que este os venda,
pagando o preço estimado, ou devolva, ao fim do prazo contratado (art. 534). Inovação do CC/02, em que o lucro do
consignatário está no sobrepreço da venda, no que superar o estimado. Nada impede, também, que ele mesmo
adquira o bem pagando tal preço. Para Venosa a possibilidade de o consignatário devolver o bem caracteriza
obrigação facultativa, e não alternativa, conforme parte da doutrina (p. 90).
Trata-se de contrato oneroso, comutativo, bilateral e real, exigindo a entrega do bem do tradens ao accipiens sob
pena de caracterizar pacto diverso. O mesmo se diga quanto à disponibilidade do bem pelo accipiens, sem a qual
será outro o contrato firmado. Mas o consignatário tem apenas a posse dos bens, pois o consignante conserva a
propriedade, só que uma propriedade resolúvel (ela se extingue caso a outra parte pague o preço de estima) e
limitada (o consignante não pode dispor da coisa antes de restituída ou comunicada a restituição – art. 537). Da
mesma forma e enquanto não pago o preço, o bem não pode ser objeto de penhora pelos credores do consignatário
(art. 536). Pode ser visto como um “mandato para vender”, mas com ele não se confunde, já que não há
representação. O consignante não responde por atos do consignatário perante terceiros. O prazo não é elemento
essencial do contrato e, em não havendo, a entrega da coisa deverá ser precedida de notificação. Antes de findo o
prazo ou de recebida notificação, o consignatário tem direito a proteção possessória, inclusive contra o consignante.
Nada impede que o consignatário antecipe a entrega, não podendo o consignante recusá-la, salvo se houver expressa
vedação contratual. Da entrega não pode haver retratação. O consignante pode recusar-se a receber a coisa se ela
estiver deteriorada e não for paga indenização, pois o consignatário responde pela perda ou deterioração da coisa,
“ainda que por fato a ele não imputável” (art. 535). Exceção ao princípio res perit domino.
Por fim, o preço é elemento essencial do contrato, não se aperfeiçoando o negócio jurídico antes que ele seja
definido, ainda que depois da entrega e que tal incumbência seja conferida a terceiro ou vinculada a bolsa. Em mora
o consignatário, seus efeitos atingem também o valor a ser pago, não bastando a entrega.

2. Da prestação de serviços.
A disciplina do CC não se aplica às atividades sujeitas às leis trabalhistas ou especiais (art. 593). Tem como objeto
“toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial” (art. 594), podendo, inclusive, haver
contratação para prestação de serviços gerais (art. 601), desde que compatíveis com as forças e condições do
contratado. Trata-se de contrato sinalagmático, bilateral, oneroso, consensual e comutativo. Não é formal, apesar do
disposto no art. 595 (“poderá ser assinado a rogo e subscrito por duas testemunhas” quando qualquer das partes não
souber ler nem escrever). Não se presume gratuito, tanto que, em não havendo acordo sobre a remuneração, ela será
objeto de arbitramento (art. 596) e paga após o término do serviço (art. 597). Venosa nega que o contrato seja intuitu
personae, apesar da afirmação do seu caráter pessoal (p. 197) e do teor do art. 605. Ainda neste tema, o art. 608
pune aquele que aliciar pessoa vinculada a outrem por contrato escrito (Sanção: pagamento do equivalente a 2 anos
de trabalho ao contratante que perdeu o prestador de serviços). Venosa ressalva a hipótese em que não haja causa de
exclusividade e ele consiga atender eficazmente a ambos (p. 200). Sobre essa questão, defende, ainda, a existência
de situações em que é dispensada a existência de contrato escrito24. Não se confunde com a empreitada, focada na
obra final (obrigação de resultado) e não na atividade (obrigação de meio), nem com o mandato, haja vista a
subordinação que caracteriza a prestação de serviço.
A falta de habilitação legal obsta o direito de cobrar a remuneração em montante equivalente ao devido ao
profissional habilitado (art. 606), ressalvada a prestação de boa fé que resulte em benefício para outra parte, hipótese
em que a remuneração deverá ser razoável, podendo alcançar aquele montante, evitando o enriquecimento sem
causa. O parágrafo único do dispositivo afasta a incidência desta ressalva no caso de infringência de lei de ordem
pública, mas não o pagamento de remuneração (Venosa, pp. 201-2).
A lei estipula um prazo máximo de 4 anos para o contrato (art. 598), sem vedação de que seja renovado. O excesso
de prazo no contrato não implica sua nulidade, mas ineficácia do prazo exorbitante (Venosa, p. 202). Mas se for por
tempo indeterminado, qualquer das partes poderá resilir unilateralmente o contrato (denúncia vazia) mediante aviso
prévio (art. 599) com antecedência de oito dias se o pagamento for mensal; de quatro dias se semanal ou quinzenal;
e de véspera quando inferior a sete dias. Esse aviso, porém, é dispensado no caso de justa causa. Segundo o art. 600,
não se conta no prazo do contrato o tempo em que o prestador deixou de servir por culpa sua, mas a remuneração é
devida se a paralisação se deu por culpa do outro. No contrato por tempo certo, ou obra determinada, o prestador
não pode se ausentar ou despedir sem justa causa antes da conclusão. Se o fizer, terá direito à retribuição vencida,
mas deverá pagar perdas e danos ao tomador. O mesmo vale quando o prestador é demitido por justa causa. Se o
prestador for demitido sem justa causa, o tomador terá de pagar-lhe a retribuição vencida e metade da que lhe tocaria
até o final do contrato (art. 603). Extingue-se com a morte de qualquer das partes, pelo fim do prazo, pela conclusão
da obra, pela rescisão mediante aviso prévio, por inadimplemento ou pela impossibilidade da continuação do
contrato (força maior) (art. 607). Alienada a propriedade rural em que se preste o serviço, o prestador pode optar por
continuá-lo para o adquirente (art. 609).
3. Da constituição de renda.
Contrato por meio do qual o instituidor aliena certo capital ao rendeiro, que se obriga a periodicamente prestar a
renda prometida no contrato ao credor. No CC/16 era contrato e direito real sobre coisa alheia, permanecendo no
CC/2002 apenas como contrato. Venosa o aproxima da previdência privada e salienta a sua importância atual (f.
372). O instituidor é chamado rentista ou censuísta, enquanto que o devedor é o rendeiro ou censuário. O contrato
pode ser gratuito (art. 803) ou oneroso (art. 804), aproximando-se, neste caso, do mútuo feneratício, mas dele se
diferencia pela inexistência de obrigação de restituição da coisa e pela álea. O contrato é real para maioria da
doutrina. Para Venosa, porém, é consensual, sendo a entrega do bem ato posterior (pp. 373-4). É oneroso e bilateral,
mas pode ser gratuito em favor de terceiro. O art. 805 autoriza a exigência de garantia. Pode ser temporário (prazo
certo) e comutativo ou aleatório, caso o prazo seja a duração da vida. É um contrato solene (escritura pública - art.
807). Pode ser instituído por ato inter vivos ou causa mortis, sendo que, neste caso, o testamento terá de ser público.
Há nulidade absoluta na constituição de renda em favor de pessoa falecida, ou que venha a falecer nos 30 dias
seguintes de moléstia que já sofria (art. 808). Salvo disposição expressa em contrário, não há direito de acrescer. No
caso de inadimplemento, ou risco de, o credor pode exigir tanto as parcelas em atraso quanto garantia das futuras. O
domínio dos bens entregues é do devedor (art. 809) e aplica-se ao caso o princípio res perit domino, de modo que
perecendo o capital a obrigação pelo pagamento continua. O instituidor do contrato gratuito pode gravar os bens
com impenhorabilidade/inalienabilidade, resguardando-os inclusive de execuções já ajuizadas. O contrato se
extingue-se com o fim do prazo ou com a morte do credor, desde que assim contratado, pois, caso contrário, pode
ser transferido aos herdeiros.
ITEM 15.A: Do concubinato. Da união estável. Da união homoafetiva.

Obras consultadas: BERENICE DIAS, Maria. Manual de Direito das Famílias. 7º edição. RT. 2010; DINIZ, Maria
Helena. Código Civil Anotado. 15º edição. Saraiva. 2010; SARMENTO, Daniel. Por um Constitucionalismo
Inclusivo. Lumen Juris. 2010..

O item está inserido dentro do ramo de Direito de Família, regulado nos arts. 1.511/1590 e de modo esparso pelo
Código Civil. O concubinato vem a ser "as relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar
(...)" (art. 1.727, CC). Divide-se em (i) adulterino, pessoa casada que mantém ao lado da família matrimonial uma
outra, (ii) e incestuoso, se houver parentesco próximo entre os amantes. O Código Civil regula os efeitos do
concubinato e transparece um forte conteúdo repressivo do instituto. Em especial, destaca-se a sanção de nulidade
relativa da doação do cónjuge adúltero (art. 550, CC), a possibilidade de resgate de bens transferidos ao concubino
(art. 1.642, inciso V, CC), impedimento do concubino ser herdeiro ou legatário (art. 1.801, CC), e a impossibilidade
de constituição da união estável (art. 1.727, CC). Diante da ausência de expresso reconhecimento do concubinato
como espécie do gênero família e com a finalidade de vedar o enriquecimento sem causa do cónjuge adúltero, a
jurisprudência reconhece o instituto como sociedade de fato (art. 981, CC e Súmula 380 do STF) e permite a
dissolução judicial com a partilha dos bens adquiridos. O referido tratamento está relacionado a um conceito
tradicional de família (modelo patriarcal e hierárquico inseparável do casamento), motivo pelo qual alguns
doutrinadores sustentam a inconstitucionalidade de referido tratamento. Conforme esta corrente, a Constituição
Federal de 1988 impõe uma nova visão de família, tendo como centro a dignidade da pessoa humana e os princípios
da liberdade e igualdade, permitindo um conceito plural de família (não apenas a constituída pelo casamento, mas
também a família monoparental, a união estável, a família homoafetiva e a família paralela). Nota-se, contudo, que a
jurisprudência continua a tratar o concubinato no âmbito do direito societário e dos direitos das obrigações.
A união estável é entidade familiar reconhecida quando preenchida os seguintes elementos (art. 1.723, CC):
diversidade de sexo, ausência de impedimento matrimonial, convivência pública, contínua e duradoura, com o
objetivo de constituir família (conviência more uxorio). A união estável é regulada nos arts. 1.723/1.727, CC, sendo
relevante destacar as seguintes normas: aplicação do regime da comunhão parcial de bens, quando ausente a
indicação de regime diverso (art. 1.725, CC); vínculo de afinidade entre os conviventes (art. 1.595, CC) e o dever de
prestar alimentos (art. 1.694, CC); diferenciado regime de sucessão hereditária do companheiro (art. 17.90, CC);
direito real de habitação do companheiro ao imóvel destinado à residência da família (art. 7º, parágrafo único, Lei
9.278/1996).
A união homoafetiva é a união contínua e duradoura de pessoas do mesmo sexo. A Constituição Federal e o Código
Civil se omitiram em regular o instituto. O tratamento tradicional equipara o referido instituto às sociedades de fato.
Contudo, a lacuna legislativa não impedia que a parcela da doutrina incluísse a união homoafetiva como espécie do
gênero família sob os seguintes argumentos: o art. 226 da CF é cláusula geral protetora da família e as espécies ali
relacionadas (família constituída pelo casamento, união estável e a família monoparental) não esgotam todas as
formas de convívio merecedoras de tutela; o princípio da dignidade da pessoa humana, como elemento axiológico
da Constituição e vetor interpretativo, reconhece o direito de autodeterminação de cada pessoa, em especial o direito
à orientação sexual; o princípio da igualdade impõe que as diferenciações sejam dotadas de razoabilidade (no caso, o
elemento sexual não supre este requisito); Após a progressiva evolução da jurisprudência sobre o tema, o STF
conferiu interpretação conforme ao art. 1.723, CC "para excluir do dispositivo em causa qualquer significado que
impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como família.
Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável
heteroafetiva" (ADPF 132).
ITEM 15.B: Dos títulos de crédito. Do concurso de credores.

Os títulos de créditos estão regulamentados nos arts. 887/926, CC e são conceituados como obrigações por
declaração unilateral de vontade (materializada em um instrumento) pelo qual o agente se obriga a uma
prestação determinada. O CC adotou o tratamento conferido por Cesare Vivante concebendo o título de crédito
como o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido (art. 887, CC).

Na definição de Cesare Vivante estão contidos os três princípios do direito cambiário: cartularidade (o direito de
crédito não existe sem a cártula, não pode ser transmitido sem a sua tradição e não pode ser exigido sem a sua
apresentação), literalidade (o título vale pelo que nele está escrito), autonomia (o título configura documento
constitutivo de direito novo, autônomo, originário e desvinculado da relação que lhe deu origem). Maria
Helena Diniz acrescenta ainda o princípio da abstração: a eficácia cambiária independe da causa debendi.

Os títulos podem ser classificados quanto: (i) à forma de circulação, sendo título ao portador (circula pela mera
tradição), título nominal (identifica o titular e pode ser transferido por endosso - quando cláusula à ordem -
ou cessão civil de crédito - cláusula não à ordem), nominativo (art. 921, CC; o titular é identificado em
registro e a transferência do título possui eficácia apenas com a alteração neste); (ii) ao modelo, sendo modelo
livre (a lei não estabelece uma padronização obrigatória) ou vinculado; (iii) quando à estrutura, sendo ordem
de pagamento (há a figura do sacador - emite o título ou ordena o pagamento, sacado - contra quem o título é
emitido, e tomador/beneficiário) ou promessa de pagamento (há a figura do sacador ou promitente - que
promete pagar determinada quantia, e a do tomador; (iv) quanto à hipótese de emissão, sendo causal (a lei
elenca as hipóteses nas quais o título pode ser emitido) ou abstrato.

As quatro espécies de títulos próprios mais relevantes não são regidas pelo CC, uma vez que possuem legislação
específica (Art. 903, CC).
Letra de Câmbio: regulada no Decreto 57.663/1966 (Lei Uniforme de Genebra) e Decreto 2.044/1908. Trata-se de
título nominal, de modelo livre, estruturado como ordem de pagamento. Emitida a Letra, ela é entregue ao
tomador e apresentada ao sacado para que a aceite. O sacado não possui obrigação de aceite, sendo este
facultativo, mas irretratável. A recusa do aceite promoverá o vencimento antecipado do título, podendo o
tomador exigir do sacador o pagamento.
Nota Promissória: regulada no Decreto 57.663/1966. Trata-se de título nominal, de modelo livre, estruturado como
promessa de pagamento, abstrato. Trata-se de título com regime jurídico similar à Letra de Câmbio, devendo ser
destacado o seguinte: inaplicabilidade das regras sobre aceite (uma vez que a Nota é uma promessa de
pagamento); a Nota emitida pela instituição financeira quando da abertura de crédito é ilíquida, a ela se aplicando a
Súmula 247 do STJ ("o contrato de abertura de crédito em conta-corrente acompanhado do demonstrativo de
débito, constitui documento hábil ao ajuizamento da ação monitória"); é nula a Nota emitida pelo procurador do
mutuário vinculado ao mutuante (Súmula 60 do STJ);
Duplicata: regulada na Lei 5.474/1968 e Decreto-Lei 436/1969. Trata-se de título nominal, de modelo vinculado,
estruturado como ordem de pagamento, causal. Trata-se de título concebido pelo direito brasileiro e detém a
relevante característica do aceite obrigatório. Ressalte-se que o aceite é obrigatório, mas não irrecusável: o
devedor deve justificar a recusa nas hipóteses estipuladas no art. 8º da Lei 5.474/1968. A duplicata pode ser
emitida em duas hipóteses: compra e venda mercantil ou contrato de prestação de serviços.

Cheque: regulado na Lei 7.357/1985 e Decreto 57.595/1966. Trata-se de título nominal, de modelo vinculado,
estruturado como ordem de pagamento direcionado a uma instituição financeira, abstrato. Modalidades:
cheque cruzado (aposição de dois traços transversais e paralelos no anverso do título) - o pagamento somente pode
ser feito a um determinado banco ou ao correntista deste; cheque visado - o banco confirma no título a existência de
fundos e se obriga a reservar a quantia durante o período de apresentação; cheque administrativo - cheque emitido
por um banco contra ele mesmo; cheque para ser creditado em conta - o pagamento não pode ser dinheiro mas
através de crédito em conta.

Concurso de credores: O concurso de credores está regulado nos arts. 955/965 do CC e é iniciado a partir da
declaração de insolvência no processo de execução (arts. 748/790, CPC). O concurso será caracterizado pelo
exame da existência de título legal à preferência e, não existindo qualquer credor assim qualificado, da
proporção de cada crédito.

Os títulos legais de preferência são aqueles em que a lei outorga uma vantagem ao credor, não somente para
reaver o bem, mas também para preterir os concorrentes no recebimento do crédito (art. 958, CC). Os títulos
podem ser privilégios pessoais - especiais (art. 964, CC) ou gerais (art. 965, CC) - e reais (direitos reais de
garantia). A regra de preferência é estabelecida no art. 961, CC: o crédito real prefere ao pessoal; o pessoal
especial prefere ao pessoal geral e por último está o crédito quirografário.
ITEM 15.C: Das sociedades dependentes de autorização oficial. Das sociedades simples e da sociedade
cooperativa. Sociedades nacionais e estrangeiras.

Sociedades dependentes de autorização (arts. 1.123/1.141, CC): em regra, as sociedades submetem-se ao regime de
livre criação, bastando a licitude do objeto e a observância de certas formalidades. Contudo, diante dos
elementos da nacionalidade, do dinheiro público aplicado ou da relevância de certos bens jurídicos, algumas
sociedades dependem de prévia autorização do governo federal. Rol exemplificativo: sociedades estrangeiras,
agência de seguros, instituições financeiras, estabelecimentos de ensino, empresas de transporte aéreo,
sociedade de advogados (ressalva: a autorização é dada pela OAB).

Sociedades nacionais e estrangeiras: é nacional a sociedade que for organizada conforme a lei brasileira e tiver a
sede (domicílio) de sua administração no Brasil (critério da sede social). A sociedade será brasileira, apesar de
ter no quadro societário somente sócios estrangeiros, caso preenchido o critério da sede social no Brasil.

A sociedade será estrangeira quando a sede não estiver localizado no Brasil. Neste caso, a análise da sua
constituição será conforme o local de constituição (lex loci actus), conforme art. 11 da LICC.
Art. 11.  As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei
do Estado em que se constituirem.
§ 1o  Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos
aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.
§ 2o  Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham constituido,
dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptiveis
de desapropriação.
§ 3o  Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos
representantes diplomáticos ou dos agentes consulares.

Sociedade simples: trata-se de pessoas jurídica que visa fim lucrativo, sendo alcançada pelo exercício de certas
profissões ou pela prestação de serviços técnicos. Trata-se de uma sociedade de pessoas. Enunciado CJF 57: A
opção pelo tipo empresarial não afasta a natureza simples da sociedade. Enunciado CJF 196: A sociedade de
natureza simples não tem seu objeto restrito às atividade intelectuais. Enunciado CJF 213: O art. 997, inc. II, não
exclui a possibilidade de sociedade simples utilizar firma ou razão social. Enunciado CJF 477: O art. 983
permite que a sociedade simples opte por um dos tipos empresariais dos arts. 1.039 a 1.092 do Código Civil.
Adotada a forma a sociedade anônima ou de comandita por ações, porém, ela será considerada empresária.
Enunciado CJF 479: Na sociedade simples pura (art. 983, parte final, do CC), a responsabilidade dos sócios depende
de previsão contratual. Em caso de omissão, será ilimitada e subsidiária, conforme o disposto nos arts. 1.023 e
1.024 do CC.

Sociedade cooperativa: É uma associação sob a forma de sociedade simples, com número aberto de membros,
que tem por escopo estimular a poupança, a aquisição de bens e a economia de seus sócios, mediante atividade
econômica comum. Trata-se de modalidade especial de sociedade simples. O instituto está tratado nos arts.
1.093/1.096. Enunciado CJF 69: As sociedade cooperativas são sociedades simples sujeitas à inscrição nas juntas
comerciais. Enunciado CJF 207: A natureza de sociedade simples da cooperativa, por força legal, não a impede de
ser sócia de qualquer tipo societário, tampouco de praticas atos de empresa.

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