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Direito Civil - Menor
Direito Civil - Menor
Obras consultadas: BENJAMIN, Antonio Hermann. MARQUES, Cláudia Lima. BESSA, Leonardo Roscoe.
Manual de Direito do consumidor. São Paulo: RT, 2008; FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson.
Curso de Direito Civil. Vol. 2. 6. Ed. Rev. Ampl. Salvador: Juspodivm. 2012; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de
Direito Constitucional. 2. Ed. Rev. São Paulo: Saraiva, 2008; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. GAGLIANO, Pablo
Stolze. Novo Curso de Direito Civil. Vol. 2. Direito de Família. 13. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
Legislação básica: Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (DL 4.657/42).
Fontes do Direito
i) fontes históricas;
ii) fontes formais;
iii) fontes não formais;
iv) fontes diretas (imediatas);
v) fontes indiretas (mediatas)
(para detalhes, ver texto ao fim do tópico).
Revogação
(i) ab-rogação (integral) e derrogação (parcial) e (ii) tácita e expressa
Integração
Analogia: (i) Analogia pela lei, analogia pelo direito
Costume: (i) Uso e Convicção Jurídica
Princípios Gerais de direito:
Leis no Tempo
Graus de retroatividade (conforme Mendes)
Retroatividade máxima – Lei nova ataca fatos (atos, coisa julgada) já consumados, inadmissível em nosso
ordenamento.
Retroatividade média – Lei nova atinge efeitos pendentes de atos jurídicos ocorridos antes da vigência da nova lei.
Exemplo: Hipotética lei que limitasse a taxa de juros e fosse aplicada aos juros vencidos (antes da vigência da
nova lei) e não pagos.
Retroatividade mínima – Lei nova atinge apenas os efeitos dos atos anteriores produzidos após a data de sua
vigência.
Ato Jurídico Perfeito: Ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetivou.
Direito Adquirido: Para Gilmar Mendes possui caráter constitucional, tendo a Lei de introdução apenas trazido
definições. Consideram-se direitos adquiridos aqueles que a) seu titular ou alguém por ele possam exercer; b)
aqueles cujo começo do exercício tenham termo pré-fixo; e c) aqueles cujo começo do exercício tenham
condição preestabelecida inalterável a arbítrio de outrem.
Art. 7º LINDB – Aplica-se a lei do país de domicílio da pessoa nos casos de a) começo e fim da personalidade; b)
nome; c) capacidade e d) direitos de família.
Art. 8º LINDB – Lei do lugar da coisa – Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplica-se
a lei do país em que estiverem situados. Aos bens em trânsito, aplica-se a lei do país em que for domiciliado o
proprietário, quanto aos bens móveis que ele trouxer ou lhe destinarem a outros lugares.
Art. 9º LINDB – Nas relações obrigacionais, observa a lei do país em que se constituírem, sendo que a
obrigação resultante de contrato reputa-se constituída no lugar que residir o proponente. (Atenção - Para o
Código Civil o contrato é celebrado no lugar em que foi proposto – Art. 436)
Art. 10 LINDB – Sucessão – Regra – Aplica-se a lei do país em que era domiciliado o de cujus. No caso de
sucessão de bens estrangeiros situados no país, será observada a lei brasileira, em benefício do cônjuge e
filhos brasileiros, salvo se a lei pessoal do estrangeiro for mais favorável, hipótese na qual será aplicada pela
autoridade judiciária brasileira, por força do art. 12 da LINDB. A capacidade para suceder é regulada pelo
domicílio do herdeiro ou legatário.
Art. 17 LINDB – Requisitos para eficácia de: leis, atos e sentenças de outros países no Brasil - a)Soberania
Nacional, b) Ordem Pública; c) Bons costumes.
As classificações acerca das fontes observam (i) fontes históricas, mais relacionadas à investigação sobre a origem
de determinado instituto, auxiliares para sua melhor compreensão, mas insuficientes para uma efetiva aplicação; (ii)
fontes formais do direito, que segundo nosso ordenamento jurídico (por força do artigo 5º, II, da CRFB, 4º da
LICC e do artigo 126 do CPC) são a lei, a analogia, o costume e os princípios gerais de direito; e (iii) fontes não
formais, que abarcam a jurisprudência e a doutrina.
Outra forma de classificação da literatura jurídica acerca das fontes do direito as entende como (i) fontes diretas
(imediatas), como leis e costume, por gerarem por si só a norma; e (ii) fontes indiretas (mediatas), que são a
doutrina e a jurisprudência, por contribuírem para a elaboração e interpretação da norma.
Dentre as fontes, tem-se o primado da lei, por força constitucional (art. 5º, II). Dentre as características da lei se
destacam (i) generalidade, destinada a todos e prevendo situações genéricas, para concretização no caso concreto;
(ii) imperatividade, a imposição de um mandamento exigível externamente, que deve ser cumprido, podendo ser
cobrado seu cumprimento por outro, por meio do próprio direito, o que conduz à característica (iii), o
autorizamento, para que o lesado exija o cumprimento ou a reparação pelo dano causado; (iv) permanência, que se
relaciona com a própria idéia de generalidade, na medida em que a lei não se exaure na sua própria aplicação,
permanecendo vigente e aplicável a outras situações semelhantes enquanto não for revogada; e, por fim, (v) a
emanação por autoridade competente, de acordo com as constitucionais previstas e com as conseqüentes
disposições relativas ao processo legislativo, a exemplo da iniciativa de proposição.
A literatura jurídica classifica as leis de acordo com sua (i) imperatividade; (ii) autorizamento e (iii) natureza.
Quanto à imperatividade, podem ser (i) cogentes (de ordem pública), em que as condutas são exigíveis de forma
absoluta, mitigando, restringindo a esfera de autonomia privada do cidadão, que não pode derrogá-las de acordo
com sua manifestação de vontade. Destacam-se, nesse sentido, as disposições relativas a direito de família, a
exemplo das exigências relativas à adoção. Podem também as leis serem (ii) dispositivas, em que há a abertura para
uma manifestação de vontade mais ampla, que se destaca de maneira mais forte no âmbito contratual e empresarial,
bem como no cumprimento de obrigações, a exemplo do art. 327 (estipulação do local do pagamento).
Quanto ao autorizamento, podem ser (i) mais do que perfeitas, ao autorizarem a aplicação de duas sanções em
esferas jurídicas diferentes, a exemplo do devedor de alimentos (prisão e pagamento das prestações vencidas) e
também em leis mais afeitas ao âmbito público, tal como as diferentes sanções previstas na Lei de Improbidade
Administrativa (suspensão de direitos políticos, multa); (ii) perfeitas, impondo a nulidade do ato, tal qual aquele
praticado por absolutamente incapaz; (iii) menos que perfeitas, impondo sanção no caso de descumprimento mas
sem acarretar a nulidade do ato, como previsto no art. 1523, do CC; e (iv) imperfeitas, que não acarretam sanções, a
exemplo do exigimento de dívidas prescritas.
Quanto à natureza pode ser (i) substantivas, relacionadas ao direito material, a exemplo das disposições do código
civil, ou (ii) adjetiva, relacionadas ao processo de exigências da realização dos direitos.
Quanto à hierarquia, podem ser (i) constitucionais; (ii) leis complementares; (iii) leis ordinárias; (iv) leis
delegadas. Decreto não é lei, mas ato normativo do poder executivo, que deve se limitar a especificar, regulamentar
disposições já previstas legalmente (salvo no caso de decretos autônomos, possibilitados unicamente nos casos
previstos 84, VI, alíneas “a” e “b” da Constituição da República).
A simples votação do texto legal e sua posterior sanção pelo Presidente da República não inicia o período de
vigência da lei. O marco inicial se dá com sua publicação, passando a vigorar efetivamente apenas 45 dias
após esse ato, salvo se a própria lei estipular em sentido diverso (art. 1º LICC). Esse prazo de 45 dias é a
chamada vacatio legis. Nos casos de leis brasileiras admitidas no exterior, sua obrigatoriedade se inicia três meses
após sua publicação.
Diálogo das Fontes. Para o diálogo de fontes (que em determinadas situações afasta a regra da LINDB acerca da
relação entre lei geral e lei especial), mais importante do que saber qual lei se aplica em face de critérios de
generalidade/especialidade, é questionar: qual dispositivo normativo é mais apto a permitir a maior efetivação de
mandamentos constitucionais, em especial direitos fundamentais? Essa proposta de interpretação só é possível de ser
compreendida a partir do processo de constitucionalização do direito civil ocorrido em nosso ordenamento, em
diálogo com a afirmação da dimensão objetiva dos direitos fundamentais, entendida por Gilmar Mendes nos
seguintes termos: A dimensão objetiva resulta do significado dos direitos fundamentais como princípios básicos da
ordem constitucional (...) Esse fenômeno faz com que os direitos fundamentais influam sobre todo o ordenamento
jurídico, servindo de norte para a ação de todos os poderes constituídos. É a partir desse pano de fundo que se tem
a consideração e aplicação (bem como sua negativa) do diálogo de fontes em manifestações do Superior Tribunal
de Justiça, como se verifica na análise mais detida das decisões dos paradigmáticos Recurso Especiais n. 1.147.138
(Guarda compartilhada entre avó e tio) e n. 489.985 (Direito do Consumidor, indústria tabagista e
prescrição). O diálogo das fontes se insere no contexto de constitucionalização do Direito Civil, que parte de uma
leitura apta a dialogar com a complexidade da contemporaneidade e é entendida por Paulo Luiz Netto Lôbo como o
processo de elevação ao plano constitucional dos princípios fundamentais do direito civil, que passam a condicionar
a observância pelos cidadãos, e a aplicação pelos tribunais, da legislação infraconstitucional. É um fenômeno
verificado na tradição brasileira no contexto pós Constituição de 1988, calcado na afirmação da força normativa da
Constituição, com o intuito de promover a superação de tentativas hermenêuticas “invertidas”, que procuram
entender a Constituição e seus princípios a partir de regras presentes na legislação civil, que procuram conceder uma
leitura reducionista de direitos e garantias fundamentais previstos constitucionalmente a interpretações restritivas
baseadas em dispositivos do Código Civil, ignorando, dessa forma, o papel dos princípios constitucionais6 e dos
direitos fundamentais no ordenamento. A afirmação da constitucionalização do direito civil não ocorre por simples
escolha ou modismo, mas é fruto da adequação da interpretação jurídica ao paradigma do Estado Democrático de
Direito previsto pela Constituição da República, paradigma esse que concede importante dimensão aos princípios
constitucionais e direitos fundamentais dentro do ordenamento e na sua relação com os diversos ramos do direito,
superando, dessa forma, leituras tradicionalistas (e paradigmaticamente defasadas) que defendiam a ideia de
desnecessidade de adequação do ramo civilista aos princípios presentes na Constituição. É necessário delimitar
alguns pontos que caracterizam a constitucionalização do Direito Civil e a substancial mudança de atitude que
promove, segundo a qual “deve o jurista interpretar o Código Civil segundo a Constituição e não a Constituição,
segundo o Código, como ocorria com frequência (e ainda ocorre)”. A Constitucionalização não fica adstrita à
inserção no texto constitucional de disposições pertinentes a diversos ramos de direito, estando relacionada, em
verdade, à submissão do direito positivo aos fundamentos de validade, aos princípios e disposições estabelecidos
pela Constituição. Nos dizeres de Paulo Luiz Netto Lôbo: Pode afirmar-se que a constitucionalização é o processo
de elevação ao plano constitucional dos princípios fundamentais do direito civil, que passam a condicionar a
observância pelos cidadãos, e a aplicação pelos tribunais, da legislação infraconstitucional. Rompe-se, dessa
forma, com a interpretação que procura isolar, fechar o Direito Civil à observância de determinações constitucionais,
e o reflexo que ela carrega de uma percepção rígida da dicotomia público e privado, em que aquele é reduzido ao
Estatal, enquanto esse se resume a um egoísmo, à centralização na individualidade. Esse posicionamento, não mais
sustentável no atual paradigma, transparece ainda em manuais consagrados utilizados à exaustão pela graduação, a
exemplo de Francisco Amaral: A importância do Direito civil manifesta-se em diversos aspectos. Em primeiro
lugar, constitui a base do ordenamento jurídico de todas as sociedades. (...) É no Direito Civil que a técnica
jurídica, conjunto de processos que se utilizam na determinação do direito, mais se desenvolveu, continuando a ser
a espinha dorsal da ciência jurídica. O próprio Estado, no exercício de sua atividade econômica, a ele se submete .
Em sentido semelhante, afirma Monteiro, transparecendo paradoxos e contradições gerados por uma leitura rígida
da dicotomia, que conduz a interpretações que entendam haver uma hierarquização confusa ou uma preponderância
entre público e privado: O direito objetivo subdivide-se em direito público e direito privado, distinção já formulada
pelos romanos. Toda regra de direito enquadra-se forçosamente num ou noutro ramo do direito. Direito Público é o
destinado a disciplinar os interesses gerais da coletividade (publicum jus est quod ad statum rei romanae spectat).
Diz respeito à comunidade, estruturando-lhe organização, serviços, tutela dos direitos individuais e repressão dos
delitos. (...) Direito privado, por seu turno, é o conjunto de preceitos reguladores das relações dos indivíduos entre
si (privatum, quod ad singulorum utilitatem). Subdivide-se em direito civil e direito comercial, disciplinando este a
atividade das pessoas comerciantes e aquele, a dos particulares em geral. (...). Sempre que houver dúvida sobre se
determinada regra é ou não de ordem pública, deve considerar-se como sendo de interesse privado. Essa
segmentação na interpretação que não considera a interpenetração entre público e privado por força da efetivação de
direitos fundamentais é incompatível com a constitucionalização do direito civil na qual está inserido nosso
ordenamento. Como bem atenta Perlingieri: A interpretação ou é sistemática (a trezentos e sessenta graus) ou não é
interpretação. Os chamados sistemas parciais são, no mais das vezes, o resultado de uma primeira, provisória,
abordagem, diante da qual o intérprete não pode se ater, especialmente na presença de valores fundamentais
destinados a funcionalizar cada “instituto” e à luz dos quais é mister exprimir valorações de validade e
legitimidade. O professor italiano prossegue na reflexão sobre o impacto da constitucionalização no arcabouço
interpretativo, demonstrando a ocorrência da própria resignificação da idéia de legalidade: A legalidade, portanto,
não é somente o respeito da lei, mas, sobretudo no sistema constitucional, é a exigência da reconstrução dos nexos
entre múltiplas fontes operantes no mesmo território, fontes legitimadas pela Constituição e que encontram
composição na sua unidade axiológica. Isto significa que cada forma de poder que se exprima por meio de regras
ou princípios – e portanto, também cada espécie de poder normativo lato sensu “privado” – não poderá ser
exercido senão dentro da unidade construída pela Constituição e mantida por um método hermenêutico que dela se
faça instrumento consciente: unidade não dogmática, mas jurídica; não totalitária, mas democrática; não absoluta,
mas mediada por relações de preferência e compatibilidade entre os direitos fundamentais. Interpretar configura-se
então como uma afirmação de direitos fundamentais, o que mais do que permitir, impõe a necessidade do chamado
diálogo das fontes em face de conflito de normas, afastando, quando necessário e com objetivo de concretização de
direitos fundamentais, a dicotomia generalidade/especialidade. Nos dizeres de Perlingieri, “ela [interpretação
constitucional da legislação ordinária], partindo da exigência de realizar a legalidade constitucional, adapta os
próprios instrumentos hermenêuticos à exigência primária de realizado dos valores fundamentais”. É necessário
observar, contudo, que Perlingieri não utiliza expressamente a nomenclatura “diálogo das fontes”, trabalhada no
ordenamento pátrio em especial por Cláudia Lima Marques, a partir da construção teórica do Professor holandês
Erik Jayme. Ocorre que a noção de hermenêutica advinda da constitucionalização do direito civil trabalhada por
Perlingieri encontra simetria no entendimento de Jayme, que procura na Constituição a resposta para antinomias
modernas e a complexidade de sistemas legais descodificados. Por essa razão, adota-se nesse artigo a nomenclatura
desenvolvida por Jayme e trabalhada por Cláudia Lima Marques, mas exercendo um diálogo quanto a sua
fundamentação nas ideias de Perlingieri, em virtude de sua similitude calcada na efetivação de direitos fundamentais
e em sua maior consolidação na tradição jurídica pátria.
ITEM 1.B: Das obrigações quanto às sua modalidades.
Obras consultadas: FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Vol. 2. 6. Ed.
Rev. Ampl. Salvador: Juspodivm. 2012; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de
Direito Civil. Vol. 2. Direito de Família. 13. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
1. Modalidades de Obrigação
Princípio da equivalência (Art. 237). O devedor deve suportar o prejuízo pela perda antes da tradição, contudo, ele
também percebe os lucros que eventualmente venham a ser gerados nesse período.Havendo melhoramentos e
acréscimos à coisa, pode o devedor exigir aumento no preço; se o credor não anuir, pode o devedor resolver a
obrigação.
Melhoramento ou acréscimo da coisa sem atuação do devedor beneficia o credor sem necessidade de indenização
(art. 241), caso contrário, equiparam-se às benfeitorias (art. 242)
Frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os frutos pendentes.
Diferença entre dar e restituir: A restituição envolve situação de posse, devolução de bem que jamais entrou na
esfera de propriedade do devedor da restituição. Usualmente presente em contratos de locação, comodato, depósito.
A responsabilidade pela perda, em regra, é do credor. Exceção ao res perito domino? Não, pois o domínio aqui se
encontra com o credor, que jamais foi despojado da propriedade do bem. Dessa forma, se a perda se der sem culpa
do devedor, atingirá o patrimônio do credor. E se a perda se der por culpa do devedor? (Art. 239) Devedor não é
proprietário, mas pelo fato de ter contribuído para a perda ou deterioração, responderá pelo equivalente mais perdas
e danos. Exceção ao perito res domino
E se tratar-se de deterioração? (art. 240). Sem culpa do devedor - Credor recebe a coisa no estado em que estiver,
sem direito à indenização. Com culpa do devedor - Aplica-se a sistemática do artigo 239 (devedor responde pelo
equivalente mais perdas e danos)
Da inseminação artificial
Pode-se falar em sua divisão entre inseminação artificial com concepção in vivo, feita no próprio corpo da
mulher, ou em proveta, realizada fora do corpo, ocorrendo posteriormente sua implantação no útero.
O embrião fecundado fora do corpo humano e não implantando possui o status de coisa, de objeto, não podendo se
falar de existência de sujeito de direito, nem mesmo como nascituro (esse só passaria a existir a partir da
implantação em ambiente uterino), muito menos como portador de personalidade jurídica, conforme decidido pelo
STF na ADI 3510, com especial ênfase no voto da Min. Ellen Gracie.
A inseminação artificial se insere nas hipóteses de presunção de paternidade (presume-se como pai o marido da
mãe) previstas no art. 1597, tratando-se, segundo Paulo Lobo, nos casos específicos da fecundação artificial, de
presunção jure et de jure.
Fecundação artificial homóloga é aquela em que há a utilização de gametas do próprio casal que pretende ter o filho.
Havendo a utilização desse material, com a anuência do casal, presume-se a paternidade, mesmo que falecido o
marido.
Embriões excedentes – O processo de fertilização em proveta acarreta a produção de óvulos fecundados, mas não
utilizados no procedimento de inseminação artificial, que restam congelados. Sendo tal óvulo implantado no útero
materno e vindo a nascer, será considerado para todos os efeitos filho do marido, mesmo que esse implante se dê
posteriormente ao óbito do doador.
Inseminação artificial heteróloga – Cônjuges utilizam gametas de um terceiro (doador), que apesar de possuir
vínculo genético com o nascituro, não será considerado juridicamente pai do nascituro (distinção genitor x pai),
presumindo-se o marido como pai, desde que tenha concordado expressamente com o procedimento.
Barriga de aluguel – Impropriedade terminológica, na medida em que é vedada comercialização do corpo humano.
Permite-se, contudo, a cessão do útero, nos limites da Resolução n. 1.957, de 15 de dezembro de 2010. Em seu
artigo VII, e alíneas, assim dispõe: VII - SOBRE A GESTAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO (DOAÇÃO TEMPORÁRIA DO
ÚTERO) As clínicas, centros ou serviços de reprodução humana podem usar técnicas de RA para criarem a
situação identificada como gestação de substituição, desde que exista um problema médico que impeça ou
contraindique a gestação na doadora genética. 1 - As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família da
doadora genética, num parentesco até o segundo grau, sendo os demais casos sujeitos à autorização do Conselho
Regional de Medicina. 2 - A doação temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial.
Da alteração de sexo
O conhecimento médico identifica o transexualismo como desvio psicológico. A classificação internacional de
doenças e doenças mentais (CID 10 e DSM IV) entende que o transexual é aquele que possui vontade de viver e ser
aceito como membro do sexo oposto, acompanhado, usualmente, da vontade de transformar seu corpo. Em âmbito
nacional a Resolução nº 1.652/2002 do Conselho Federal de Medicina detalha essa visão e entende o transexual
como portador de desvio psicológico permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo e tendência à
automutilação e ou auto-extermínio devendo observar os seguintes critérios para sua caracterização: (i) desconforto
com o sexo anatômico natural; (ii) desejo expresso de eliminar os genitais, perder as características primárias e
secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto; (iii) permanência desses distúrbios de forma contínua e
consistente por, no mínimo, dois anos; (iv) ausência de outros transtornos mentais.
Essa concepção é a que norteia a jurisprudência consolidada, no sentido de condicionar a alteração do registro de
nascimento na hipótese de realização da cirurgia de transgenitalização, conforme exposto no REsp 737.993 : A
questão posta no REsp cinge-se à discussão sobre a possibilidade de retificar registro civil no que concerne a
prenome e a sexo, tendo em vista a realização de cirurgia de transgenitalização. A Turma entendeu que, no caso, o
transexual operado, conforme laudo médico anexado aos autos, convicto de pertencer ao sexo feminino, portando-
se e vestindo-se como tal, fica exposto a situações vexatórias ao ser chamado em público pelo nome masculino,
visto que a intervenção cirúrgica, por si só, não é capaz de evitar constrangimentos. Assim, acentuou que a
interpretação conjugada dos arts. 55 e 58 da Lei de Registros Públicos confere amparo legal para que o recorrente
obtenha autorização judicial a fim de alterar seu prenome, substituindo-o pelo apelido público e notório pelo qual
é conhecido no meio em que vive, ou seja, o pretendido nome feminino. Ressaltou-se que não entender
juridicamente possível o pedido formulado na exordial, como fez o Tribunal a quo, significa postergar o exercício
do direito à identidade pessoal e subtrair do indivíduo a prerrogativa de adequar o registro do sexo à sua nova
condição física, impedindo, assim, a sua integração na sociedade. Afirmou-se que se deter o julgador a uma
codificação generalista, padronizada, implica retirar-lhe a possibilidade de dirimir a controvérsia de forma
satisfatória e justa, condicionando-a a uma atuação judicante que não se apresenta como correta para promover a
solução do caso concreto, quando indubitável que, mesmo inexistente um expresso preceito legal sobre ele, há que
suprir as lacunas por meio dos processos deintegração normativa, pois, atuando o juiz supplendi causa, deve
adotar a decisão que melhor se coadune com valores maiores do ordenamento jurídico, tais como a dignidade das
pessoas. Nesse contexto, tendo em vista os direitos e garantias fundamentais expressos da Constituição de1988,
especialmente os princípios da personalidade e da dignidade da pessoa humana, e levando-se em consideração o
disposto nos arts. 4º e 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, decidiu-se autorizar a mudança de sexo
de masculino para feminino, que consta do registro de nascimento, adequando-se documentos, logo facilitando a
inserção social e profissional. Destacou-se que os documentos públicos devem ser fiéis aos fatos da vida, além do
que deve haver segurança nos registros públicos. Dessa forma, no livro cartorário, à margem do registro das
retificações deprenome e de sexo do requerente, deve ficar averbado que as modificações feitas
decorreram desentença judicial em ação de retificação de registro civil. Todavia, tal averbação deve constar
apenas do livro de registros, não devendo constar, nas certidões do registro público competente, nenhuma
referência de que a aludida alteração é oriunda de decisão judicial, tampouco de que ocorreu por
motivo de cirurgia de mudança de sexo, evitando, assim, a exposição do recorrente a situações constrangedoras e
discriminatórias.
Esse entendimento, contudo, vem sendo questionado, a fim de permitir a ampliação das hipóteses de retificação
do registro, a partir da idéia de nome social, que consiste na alteração do registro independentemente da realização
de cirurgia de transgenitalização.
Conforme informado no sítio do MPF (http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias/noticias-do-
site/copy_of_constitucional/pgr-propoe-adi-para-que-transexuais-tenham-direito-a-mudar-nome-e-sexo-no-registro-
civil), Deborah Duprat propôs ao Supremo Tribunal Federal ação direta de inconstitucionalidade (ADI 4275) para
que seja dada interpretação conforme a Constituição ao art. 58 da Lei 6.015/73, na redação dada pela Lei 9.708/98, e
se reconheça o direito dos transexuais a substituírem o prenome e sexo no registro civil, independentemente da
realização de cirurgia de transgenitalização. Ela diz que “impor a uma pessoa a manutenção de um nome em
descompasso com a sua identidade é, a um só tempo, atentatório à sua dignidade e comprometedor de sua
interlocução com terceiros, nos espaços públicos e privados”. Segundo Deborah Duprat o não reconhecimento do
direito dos transexuais à troca de prenome e sexo correspondente à sua identidade de gênero viola preceitos
fundamentais da Constituição como os princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III), da vedação à
discriminação odiosa (art. 3º, inciso IV), da igualdade (art. 5º, caput), da liberdade e da privacidade (art. 5º, caput, e
inciso X).
Obras consultadas: A. Castanheira Neves. Digesta. Vol. 2. Coimbra 1995; Norberto Bobbio. Teoria do
Ordenamento Jurídico. 7 ed. Brasília. UNB; José de Oliveira Ascensão. Introdução à ciência do Direito. 3 ed. Rio de
Janeiro: Renovar; Rubens Limongi França. Instituições de direito civil, 4 ed. São Paulo: Saraiva, 1996; Maria
Helena Diniz. As lacunas no direito. 7 ed. Saraiva, 2002; Miguel Reale. Lições preliminares do Direito. 21 ed. São
Paulo: Saraiva. 1994; Flávio Tartuce. Manual de Direito Civil. Saraiva: Método. 2011; Friedrich Savigny.
Metodologia Jurídica. Edicamp. 2004; Carlos Maximiliano. Hermenêutica e aplicação do direito. Rio de Janeiro:
Forense, 1994. Aproveitados os trabalhos dos candidatos aos 24º e 25º concursos do MPF.
1. Noções Gerais.
A hermenêutica jurídica está relacionada à aplicação do direito, aos processos de interpretação, às técnicas a serem
aplicadas. Para se aplicar o direito a um caso concreto faz-se necessário interpretá-lo.
O nomen hermenêutica remonta a Hermes, deus grego correspondente a mercúrio entre os romanos. Era Hermes
reputado o encarregado de fazer o intercâmbio das mensagens entre Zeus e os homens. Para as enviar, devia
primeiramente as interpretar, donde o uso do termo hermenêutica para designar a teoria da interpretação.
Observação importante: Hermenêutica não é sinônimo de interpretação. A hermenêutica pode ser considerada a arte
ou ciência responsável pela elaboração da metodologia de interpretação de lei, estabelecendo metodologia,
princípios e conceitos para o ato de interpretar. A interpretação é objeto desta ciência e se destina ao âmbito prática
de aplicação da norma jurídica ao caso concreto. Ou seja, a interpretação é o próprio objeto da ciência da
hermenêutica, enquanto os fatos e as normas, para Kelsen (e valores, inclusive, para Reale) serão objetos da
interpretação. Hermenêutica => Interpretação => Aplicação do Direito ao fato.
Basicamente, hermenêutica possui as seguintes tarefas:
a) INTERPRETAR AS NORMAS
b) VERIFICAR A EXISTÊNCIA DE LACUNAS JURÍDICAS, E INDICAR OS INSTRUMENTOS
INTEGRADORES
c) AFASTAR CONTRADIÇÕES OU ANTINOMINAS JURÍDICAS, INDICANDO OS CRITÉRIOS
IDÔNEOS PARA SOLUCIONÁ-LA
De acordo com ASCENSÃO (2005, p. 432), “as normas de exceção ou normas excepcionais não admitem
analogia ou interpretação”. Normalmente, serão normas de exceção aquelas que representam restrição da
autonomia privada (ex: o art. 496 exige autorização de venda entre mais e filhos. Essa norma não pode receber
interpretação extensiva para aplicar à hipoteca.)
Costume, por sua vez, é a conduta reiterada a partir da falsa impressão de existir norma jurídica a respeito da
matéria. Os dois elementos caracterizadores do costume são o objetivo (prática reiterada) e o subjetivo ou
psicológico (a convicção de estar seguindo uma norma jurídica).
O sistema jurídico reconhece o costume secundum legem (há referência ao costume da própria norma (art. 13 e 187
do CC/02), assim, a própria norma jurídica é que é aplica) e o costume praeter legem (o costume aqui é norma de
correção do sistema, pois a lei é omissa. ex: cheque pós-datado), inadmitindo o costume contra legem (o costume é
contrário ao direito).
FRANÇA (1996, p. 18) apresenta 5 requisitos para que o costume possa ser considerado fonte: 1) continuidade; 2)
uniformidade; 3) diuturnidade; 4) moralidade; 5) obrigatoriedade.
Além dos métodos de integração previstos na LINDB, o CPC 127 resolveu contemplar hipótese de integração,
somente aplicável em seu âmbito de incidência, que é a equidade, que só poderá ser utilizada se e quando a lei
permitir. A equidade é a aplicação do direito como justo, benévolo, a partir do sentimento de justiça. Pretende-se que
na aplicação da lei o juiz a aplique da maneira que mais se ajuste ao sentimento de justiça do caso sob exame.
Também o CDC autoriza o uso da equidade (7º e 51 IV), e a CLT em sede trabalhista (8º).
4. Antinomias
Conforme TARTUCE (2011, p. 36), “a antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de
autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em determinado caso concreto
(lacunas de colisão).”
Em caso de antinomias, Bobbio ensina que há basicamente 3 critérios de solução: 1) cronológico (prevalecendo
norma posterior); 2) especialidade (prevalecendo a normas mais específica para o caso); 3) hierárquico (norma
superior prevalece).
TARTUCE (2011, p. 37) traz as seguintes classificações de antinomias: 1) de 1 grau (envolve apenas um dos
critérios supra mencionados) e 2 grau (mais de dois critérios são envolvidos); 2) aparente (pode ser resolvida de
acordo com os critérios) e real (não pode ser resolvida com tais critérios).
Bobbio defende que deve prevalecer o critério hierárquico, enquanto Maria Helena Diniz afirma que não há
prevalência em abstrato de qualquer deles, de forma que o caso específico sob análise deve direcionar (Tartuce, p.
38).
ITEM: 2.b. Dos contratos em geral. Função Social e função econômica. Novos princípios do direito dos
contratos
Obras consultadas: TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. São Paulo: Método, 2011.
Anotações Aulas (diversos).
1. 2.b. Dos contratos em geral. Função social e função econômica. Novos princípios do direito dos
contratos.
Conceito clássico: Contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, modificação ou
extinção de direitos e deveres com conteúdo patrimonial. Elementos: 1) Alteridade1: ao menos duas pessoas; 2)
Composição de interesses contrapostos: distinguir do Convênio; 3) Patrimonialidade2.
Classificação: 1º) a) Unilateral (apenas uma das partes assume deveres perante a outra); b) Bilateral (direitos e
deveres recíprocos); c) Plurilateral. 2º) a) Oneroso (mútua vantagem); b) Gratuito. 3º) a) Consensual (aperfeiçoa-
se com simples manifestação de vontade); b) Real (depende da tradição). 4º) a) Comutativo (prestações conhecidas
ou estimadas); b) Aleatório (sorte ou álea). 5º) a) Típico3 (tratamento legal mínimo); b) Atípico. 6º) a) Adesão4
(estipulante determina o conteúdo negocial, cabendo à outra parte aceitá-lo ou não); b) Paritário (conteúdo discutido
por ambas as partes). 7º) a) Formal / informal: Exigência, ou não, de forma legal; b) Solene / não solene:
Exigência ou não de solenidade pública (ex.: escritura pública nos contratos de compra e venda de imóveis de valor
superior a 30 S.M.).
Princípios: 1) Autonomia privada: Permite ao indivíduo a autorregulamentação de seus interesses. A liberdade de
contratar, em regra, é ilimitada, salvo exceções (ex. art. 497 do CC). A liberdade contratual (conteúdo), no entanto, é
limitada pela função social e pela ordem pública. 2) Função econômica: A função mais destacada dos contratos é a
econômica: circulação de riqueza (e do patrimônio). 3) Função social: Preceito de ordem pública, fundada na
solidariedade, que permite a relativização da força obrigatória dos contratos (pacta sunt servada), pelo juiz (atividade
integrativa). Dupla eficácia: 3.1 Eficácia interna: a) Proteção dos vulneráveis; b) Vedação à onerosidade excessiva;
c) Proteção à dignidade humana; c) Nulidade das cláusulas abusivas; d) Tendência à conservação contratual. 3.2
Eficácia externa: a) Proteção dos direitos difusos e coletivos (ex. função socioambiental); b) Eficácia do contrato
perante terceiros. Doutrina do terceiro cúmplice (STJ 2aT. INFO 376) (interferência ilícita do terceiro em negócios
jurídicos alheios), a proteção do terceiro diante dos contratos que lhe são prejudiciais e a tutela externa do crédito
(apesar do direito de crédito se referir, em regra, apenas aos contratantes, haverá, em relação ao restante da
sociedade, um dever de abstenção de modo a não obstaulizar o cumprimento da obrigação) perfazem mitigações ao
Princípio da Relatividade dos Contratos (em todos os casos, sobressaem a boa fé objetiva e a função social dos
contratos) 4) Princípio da relatividade dos efeitos contratuais (res inter alios): Em regra, os atos dos contratantes
não aproveitam nem prejudicam a terceiros (comporta exceções).
Boa-fé subjetiva: Concepção psicológica da boa-fé. É fonte de interpretação de atos e negócios jurídicos (arts. 112 e
113 do CC).
Boa-fé objetiva (comportamento ético): é cláusula geral, que está relacionada aos chamados deveres anexos ou
laterais, quais sejam: a) dever de cuidado em relação à outra parte; b) dever de respeito; c) dever de informação; d)
proteção da confiança; e) lealdade e probidade; f) dever de colaboração; g) razoabilidade. Funções da boa-fé: a)
Interpretativa; b) Controle: a violação da boa-fé objetiva constitui abuso de direito; c) Integração: a boa-fé deve ser
observada até na fase pré-contratual5. Corolários: 1) Supressio (Verwirkung): Renúncia tácita de direito ou posição
jurídica, pelo seu não exercício com o tempo (ex. local do pagamento – art. 330 do CC). 2) Surrectio (Erwirkung): É
a correlativa aquisição de direito ou posição jurídica, em razão da supressio da contraparte. 3) Tu quoque: Um
contratante se vale de um ato lícito em face da contraparte, após a prática de um ato ilícito (ex. o contratante alega
1 Autocontrato: O art. 117 do CC prevê a possibilidade de o mandatário, desde que autorizado para tanto, celebrar
contrato consigo mesmo. Entretanto, a alteridade remanesce, eis que continua sendo necessária a presença de, no mínimo, duas
pessoas para seu aperfeiçoamento (ex. mandatário vende bem do mandante para si mesmo).
2 Parte da doutrina afasta esse elemento fundada num conceito pós-moderno de contrato (despatrimonialização do
Direito Civil).
4 Não confundir com contrato-tipo ou formulário, que é apenas um modelo de contrato a ser preenchido.
7 Ex. clássico: credor de astreintes não as executa visando obter maiores ganhos (enriquecimento ilícito). Juiz pode
reduzi-las (STJ, AgRg no Ag. 1.075.142/RJ).
ITEM 2.C: Da posse e da propriedade. Aquisição, efeitos, perda e limitações constitucionais.
Obras consultadas: Carlos Roberto Gonçalves. Direito civil brasileiro. Volume 5. 6ª Ed., 2011, Editora Saraiva;
Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil. Volume 5. 6ª Ed., 2006, Editora Atlas; Flávio Tartuce. Manual de direito civil.
Volume único. 1ª edição, 2011, Editora Método; Elpídio Donizetti. Um consolo para o abandonado: usucapião do
lar desfeito. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 3029, 17 out. 2011. Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/20227>. Acesso em: 31 maio 2012.
Legislação consultada: Constituição Federal: artigos 5º, 170, 183; Código Civil: artigos 1.196 a 1.276; Código de
Processo Civil: 924..
POSSE: é um estado de fato protegido legalmente. Sem embargo dos diferentes entendimentos, em todas as escolas
está sempre em foco a ideia de uma situação de fato, em que uma pessoa, independentemente de ser ou de não ser
proprietária, exerce sobre uma coisa poderes ostensivos, conservando-a e defendendo-a. É assim que procede o dono
em relação ao que é seu; é assim que faz o que tem apenas a fruição juridicamente cedida por outrem (locatário,
comodatário, usufrutuário). Em toda posse há, pois, uma coisa e uma vontade, traduzindo a relação de fruição.
A posse é a relação pessoa-coisa fundada na vontade do possuidor; enquanto a propriedade liga a pessoa à coisa
através da vontade objetiva da lei; posse é o poder de fato sobre a coisa; enquanto a propriedade é o poder de direito.
Quando deriva da propriedade, ou seja, com fundamento no direito real de domínio, temos o chamado direito à
posse, que é o do portador de título devidamente transcrito (registrado), ou titular de outros direitos reais. Quando o
direito é fundado no título de domínio que também gera a posse, chama-se jus possidendi.
Por outro lado, quando deriva a posse de forma autônoma, isolada, independente da existência de um título, o direito
gerado é chamado de jus possessionis, sendo o direito fundado no fato da posse, que é protegido contra terceiros ou
do próprio proprietário.
Natureza jurídica: Uns afirmam tratar-se de direito real, fundamentando-se na teoria de Ihering (adotada, com
mitigações, pelo CC, art. 1.196), para quem apenas o corpus (detenção física), compreendido como conduta de
dono, é elemento da posse. O animus (a intenção de ser dono) está integrado no conceito de corpus.
Outros, de direito pessoal, assentando-se na teoria subjetiva de Savigny, a qual exige, além do corpus, o animus.
Para Savigny, a posse é o poder de dispor fisicamente da coisa, com o ânimo de considerá-la sua e defendê-la
contra a intervenção de outrem.
Em que pese nosso sistema normativo ter seguido a teoria objetiva, em várias oportunidades adotou a teoria
subjetiva ou a teoria de Savigny, como, por exemplo, o usucapião que exige o animus dominis de proprietário para
pleiteá-lo.
Há, ainda, os que entendem ser um mero estado de fato; ou, de que se trata de uma posição de direito; não uma
categoria, apenas uma posição. Clóvis Bevilacqua afirmara tratar-se de um direito especial “sui generis”. Não é um
direito, dizia ele, negando o caráter de direito. Mas, por merecer tutela jurídica, pode ser visto como um direito
especial, concluía.
Sílvio de Salvo Venosa afirma que embora a doutrina tradicional enuncie ser a posse relação de fato entre a pessoa e
a coisa, o mais acertado é afirmar que se trata de um estado de aparência juridicamente relevante, ou seja, um
estado de fato protegido pelo direito. Se o direito protege a posse como tal, conclui, desaparece a razão prática que
tanto incomoda os doutrinadores em qualificar a posse como simples fato ou como direito.
Posse e detenção: coube ao legislador dizer em que casos o exercício de fato sobre uma coisa configura-se ou não
detenção. Se não disser, será posse. A posse gera efeitos jurídicos; a detenção, não. O possuidor exerce o poder de
fato em razão de um interesse próprio; o detentor, no interesse de outrem, como por exemplo, os caseiros que apenas
zelam pela propriedade em nome do dono (fâmulos da posse). Também não se pode falar em posse de bens públicos.
Se há tolerância do Poder Público, o uso do bem não passa de mera detenção consentida.
Atos de mera permissão ou tolerância: Não configura posse legítima, mas sim precária.
Carlos Roberto Gonçalves aduz que nem todo estado de fato, relativamente à coisa ou à sua utilização, é
juridicamente posse. Às vezes é. Outras, não passam de mera detenção, que muito se assemelha à posse, mas que
dela difere tanto na essência como nos efeitos.
Composse: Em regra, a posse é exclusiva de uma pessoa. Duas ou mais não podem possuir simultaneamente e por
inteiro a mesma coisa. Contudo, há mitigações que excepcionam a regra. A lei admite essa simultaneidade quando a
coisa possuída por mais de uma pessoa está, ainda, indivisa. Neste caso, ocorrendo o estado de comunhão, faz-se
surgir a figura da composse.
Tem-se a composse quando dois ou mais possuidores exercerem posse sobre coisa indivisa. Possuem-na em comum
por ser indivisa ou quando estão no gozo do mesmo direito, como, por exemplo, com os co-herdeiros antes da
partilha.
Em relação a terceiros, como se fossem um único sujeito, qualquer deles poderá usar os remédios que se fizerem
necessários, tal como acontece no condomínio (CC, art. 1.314).
Não se deve confundir composse com concorrência ou sobreposição de posses. Na composse, há vários possuidores
exercendo o poder de fato, concomitantemente, sobre o mesmo bem. Na concorrência de posses, com o
desdobramento destas em direta e indireta, dá-se o fenômeno da existência de posses de natureza diversa sobre a
mesma coisa, tendo cada possuidor o exercício limitado ao âmbito específico da sua.
Também não se pode confundir acessio possessionis com sucessão de posse. “Acessio possessionis” é a soma de
posses anteriores para, por exemplo, configurar o lapso temporal para a usucapião. Sucessão possessória é a
transmissão de posse que era do falecido para os seus sucessores.
Objeto da posse: Pela sistemática legal existe a posse de coisas, em que o possuidor atua como se proprietário
fosse, a posse de direito reais limitados quando exteriorizáveis, em que o possuidor exerce atos que exteriorizam um
direito real limitado e, também, a posse de direitos obrigacionais que implicam o exercício de poderes sobre uma
coisa. Do exposto, temos que não há, portanto, posse de direitos pessoais, eis que toda a posse é de coisas
(Gonçalves).
Reconhece-se a posse do locatário, comodatário, depositário e outros, não em virtude do direito obrigacional, mas
com fundamento nos atos que os respectivos titulares praticam sobre a coisa. Eles têm uma posse de coisa e não de
direitos. A sua posse é oriunda de um fato material e não de um contrato.
Não podem ser objeto de posse os bens não passíveis de apropriação. Em princípio, a posse somente é possível nos
casos em que possa existir propriedade, compreendendo, repita-se, em primeira análise, os bens materiais
(propriedade e seus desmembramentos).
Imutabilidade do caráter da posse: a imutabilidade do caráter da posse, somente prevalecerá até prova em
contrário. Uma posse, considerada como injusta, somente tornar-se-á justa, depois de provar este estado. Enquanto
não houver prova em contrário que justifique a mudança primitiva do caráter da posse, a originária perdurará. A
regra do artigo 1.203 do CC parece colidir com a do artigo 1.208 do mesmo diploma. No entanto, é aparente, pois o
art. 1.203 traz presunção “juris tantum”, no sentido de que a posse guarda o caráter de sua aquisição. Assim, se a
aquisição foi violenta, clandestina ou precária, essa característica se prende à posse e a acompanha nas mãos dos
sucessores do adquirente. Todavia, se o adquirente a título violento ou clandestino, provar que a violência ou a
clandestinidade cessaram há mais de ano e dia, sua situação de possuidor é reconhecida e só será vencido no juízo
petitório. Se, entretanto, o vício que macula a posse for o da precariedade, o mesmo se apegará à posse, enquanto ela
durar, perseguindo-a perpetuamente. O artigo 1.207 deve ser visto em consonância com o artigo 1.203 do mesmo
diploma civil. O sucessor a título universal, não pode alterar a natureza de sua posse. Se o autor da herança transmite
ao herdeiro posse injusta, esta continuará necessariamente o vício. O sucessor singular tem a prerrogativa de
escolher unir sua posse à do antecessor ou não. Esse aspecto ganha importância no usucapião. Se o sucessor recebe
posse injusta, ser-lhe-á conveniente iniciar e defender a existência de novo período possessório para livrar-se da
mácula da posse anterior.
Posse direta e indireta: Como a posse pressupõe a existência de poder fático, e não necessariamente o seu
exercício, que é uma forma de exteriorização deste poder, classifica-se em dois grupos: posse absoluta (própria) e
posse relativa (imprópria). As duas espécies estão combinadas com o tipo de manifestação de poder, ou seja,
mediata (indireta) e imediata (direta). Isso significa classificar quanto ao tipo de graduação de poder, que poderá ser
absoluta (direta) ou relativa (indireta).
Posse indireta é aquela em que seu titular, ou seja, o proprietário está no seu exercício mediato, porque o exercício
imediato, direto, foi transferido a outro, denominado possuidor direto.
Na posse direta ou imediata o possuidor tem a detenção objetiva da coisa (contato direto), o que difere da mediata,
indireta ou permanente (resultante de obrigação ou direito), que somente a possui subjetivamente. Uma não anula a
outra. Ambas coexistem no tempo e no espaço e são jurídicas, não autônomas. Ambos (possuidor direto e indireto)
podem invocar a proteção possessória em relação a terceiros.
A rigor, a posse não pode ser exercida por mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Todavia, a lei autoriza seu
exercício por mais de uma, com a intenção única de assegurar ao proprietário e ao mero possuidor, o direito de
defendê-la, por meio das ações possessórias (interditos), das ameaças, molestações ou esbulhos, em relação a eles
mesmos (possuidor direito e indireto) ou a terceiros .
Posse justa e injusta: o conceito de posse justa encontra-se definido de forma negativa na lei. O próprio artigo
1.200 do CC afirma que a posse justa é aquela que não é violenta, clandestina ou precária, ou seja, a adquirida
legitimamente, sem vício jurídico externo. No mundo fático não existe o justo ou o injusto. Estes são conceitos
jurídicos. Procede injustamente aquele que atenta contra o direito. Posse justa ou injusta, define-se por exame
objetivo. Para sabermos se uma posse é justa, não há necessidade de recorrer à análise da intenção da pessoa. A
posse pode ser injusta e o possuidor ignorar o vício, estando de boa-fé. O importante é analisar sua aquisição. Se foi
adquirida por um dos modos admitidos na lei, será ela justa. Por outro lado, posse injusta, a contrário senso, é a que
for violenta, clandestina ou precária, é aquela que repugna ao direito. É a adquirida por modo proibido. Examina-se
a injustiça apenas em relação ao adversário. Terceiros não estão legitimados para arguir a injustiça da posse, mas
sim a pessoa esbulhada ou turbada, ensejando somente ao prejudicado o direito de valer-se dos interditos
possessórios. Pode, portanto, ser justa com relação a um sujeito e injusta com relação ao outro.
Da posse violenta: é aquela obtida pela força ou violência no início de seu exercício. A violência citada na lei para a
situação do fato da posse é aquela tipificadora da coação como vício dos negócios jurídicos em geral, cujos
princípios são aqui de plena aplicação. O legislador não distingue se é violência física ou vis absoluta (pela força),
ou vis compulsiva (moral, como a chantagem). Não distinguindo, conclui-se que ambas geram a injustiça da posse.
Não é necessário que a violência seja exercida contra o possuidor para que a posse seja injusta, bastando que se trate
de ato ofensivo ou fato sem permissão do possuidor ou do fâmulo. Pode partir do próprio agente ou de terceiros que
atuam sob sua ordem. A violência é praticada contra a pessoa, não contra a coisa. Não atenta contra a posse quem
rompe obstáculos para ingressar em imóvel abandonado, não possuído e por ninguém reclamado, ou nas mesmas
condições se apossa de coisa móvel de ninguém ou abandonada, porque nessas hipóteses, não existe posse anterior.
Do mesmo modo, não praticamos ato contrário ao direito se rompemos cadeado de porta de coisa da qual temos a
posse.
A lei não estabelece prazo para aquisição dessa posse. Para que cesse o vício, basta que o possuidor passe a usar a
coisa publicamente, com conhecimento do proprietário, sem que este reaja.
Posse clandestina: é aquela em que o possuidor a teve às escondidas do proprietário. Quem tem posse justa, não
tem necessidade de ocultá-la. Não é clandestina a posse obtida com publicidade e posteriormente ocultada. Não é
necessária a intenção de esconder ou camuflar, porque o conceito é objetivo. Para a clandestinidade basta que o
possuidor esbulhado não o saiba.
Cessadas a violência e a clandestinidade, afirma Gonçalves, a mera detenção, que então estava caracterizada,
transforma-se em posse injusta, que permite ao novo possuidor ser manutenido provisoriamente, contra os que não
tiverem melhor posse. Na posse de mais de ano e dia, o possuidor será mantido provisoriamente, inclusive contra o
proprietário, até ser convencido pelos meios ordinários (CC, arts. 1.210-1.211; CPC, art. 924). Cessadas a violência
e a clandestinidade, a posse passa a ser “útil”, surtindo todo os seus efeitos, nomeadamente para a usucapião e para a
utilização dos interditos.
Posse precária: é a que decorre normalmente do abuso de confiança, em que a pessoa permanece com a coisa,
quando deveria tê-la devolvido (possuidor precário). Exemplo: do locatário, do comodatário, do usufrutuário, que
retém a coisa indevidamente após ser reclamada. Diferenciando das demais, essa nunca convalesce, porque a
precariedade nunca cessa. O rigor do legislador se faz claro em razão da quebra da confiança. O vício dá-se a
partir do momento da recusa em devolver.
A posse precária não se confunde com a situação jurídica descrita no artigo 1.208 do Código Civil. Na precariedade
haverá sempre um ato de outorga por parte de um possuidor a outro. Nos atos de mera tolerância ou permissão, essa
relação de ato ou negócio jurídico não ocorre.
Da posse de boa e de má-fé: a posse de boa-fé é aquela em que o possuidor ignora que o seu comportamento está
prejudicando direitos de outrem. Seu conceito funda-se em dados subjetivos, ao contrário do que se exige para a
constatação da posse injusta. O possuidor de boa-fé acredita que se encontra em situação legítima. Há, ainda, por
força legal, presunção relativa de boa-fé quando for oriunda de justo título (é o instrumento hábil para transmitir
domínio e a posse, se proviesse do verdadeiro possuidor ou proprietário). Ressalta-se que poderá existir posse
injusta e de boa-fé, bastando que o possuidor ignore o vício que antecedeu sua posse. Cessará a boa-fé quando as
circunstâncias evidenciarem que o possuidor não ignora que possui indevidamente. A presunção de que o possuidor
não ignorava ou deixou de ignorar a ilegitimidade de sua posse, compete a parte contrária provar (inversão do ônus
da prova ), isso porque aquele tem a seu favor um justo título, dispensando a prova de sua boa-fé (esta é do próprio
título). A caracterização da boa-fé não é essencial para o uso das ações possessórias (interditos). Para estas se faz
necessário a caracterização da posse justa, dispensando-se o critério de boa ou de má-fé. Este critério importa
quando a questão cinge-se às contendas de usucapião; na disputa sobre os frutos e benfeitorias, bem como na
responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa.
Será de má- fé a posse em que o possuidor tem conhecimento ou face as circunstâncias não pode alegar ignorância
de que com sua posse está prejudicando direitos de outrem, ou seja, o possuidor está convencido de que sua posse
não tem legitimidade jurídica.
Nos termos do artigo 1.202 do Código Civil, não apenas a citação pode fazer cessar a boa-fé, mas também opera o
mesmo efeito qualquer circunstância anterior ao processo que faça presumir a consciência da ilicitude por parte do
sujeito, como notificação judicial ou extrajudicial.
Com a citação de uma ação proposta, o possuidor de má-fé responde pela entrega da coisa e pelos frutos em
decorrência de princípios processuais e obrigacionais, produzindo a sentença efeitos desde aquele ato de
conhecimento (citação).
Posse “ad interdicta” e posse “ad usucapionem”: Pode-se analisar a posse para efeito de interditos ou de
usucapião. Toda posse passível de ser defendida pelas ações possessórias é denominada “ad interdicta”, isto é, a que
possibilita a utilização dos interditos para repelir ameaça, mantê-la ou recuperá-la, bastando que seja justa. Ainda
que a posse contenha vícios, o possuidor está garantido em relação a terceiros que não tenham sido vítimas da
violência, da clandestinidade, ou da precariedade. Estes vícios só não o garantem em relação ao proprietário,
necessitando que seja justa. Em relação àqueles, qualquer posse dá direito aos interditos.
Posse “ad usucapionem” entende-se aquela capaz de dar ao seu titular o usucapião da coisa, se preenchidos os
requisitos legais exigidos pelo artigo 1.238 e 1.242, ambos do Código Civil, ou seja, o ânimo de dono, que seja
mansa e pacífica (sem oposição), contínua (sem interrupção), que haja decurso do tempo, seja de boa-fé e que haja
justo título. Estes dois últimos interessam apenas ao usucapião ordinário. Um dos principais efeitos da posse é a
possibilidade de, com ela, alcançar-se a propriedade pelo decurso de certo tempo.
Posse nova e velha: Classificação quanto à idade da posse. Posse nova é aquela que não tem ano e dia; velha é a
que ultrapassou um ano e dia.
Não se deve confundir posse nova com ação de força nova, nem posse velha com ação de força velha. Destarte,
para se saber se a ação é de força nova ou velha, leva-se em conta o tempo decorrido desde a ocorrência da turbação
ou do esbulho. Se o turbado ou esbulhado reagiu logo, intentando a ação dentro do prazo de ano e dia, contado da
data da turbação ou do esbulho, poderá pleitear a concessão da liminar (CPC, art. 924), por tratar-se de ação de força
nova. Passado esse prazo, o procedimento será ordinário, sem direito a liminar, sendo a ação de força velha. É
possível que alguém que tenha posse velha ajuizar ação de força nova, ou de força velha, dependendo do tempo que
levar para intentá-la, contado o prazo da turbação ou do esbulho, assim como também alguém que tenha posse nova
ajuizar ação de força nova ou de força velha.
Posse natural e posse civil ou jurídica: Posse natural é aquela que se constitui pelo exercício de poderes de fato
sobre a coisa. Posse jurídica ou civil é a considerada por lei, sem necessidade de atos materiais. A posse civil ou
jurídica transmite-se ou adquire-se pelo título. Exemplificando, temos o constituto possessório, em que um sujeito
vende um imóvel a outro, mas nele continua como inquilino. O que vendeu passa a ser possuidor direto e o que
comprou indireto, mesmo sem jamais tê-lo ocupado fisicamente.
Aquisição da posse: A aquisição da posse deve partir de um ato de vontade ou da lei. A posse se inicia com o
exercício de poder constitutivo ou inerente ao direito de propriedade, ou seja, começa-se com o fato que põe a coisa
sob o senhorio do possuidor.
Quanto ao momento da aquisição, ao contrário da propriedade, para a posse poder-se-ia dizer que se justifica apenas
para caracterização de alguns efeitos, como para assinalar o início do prazo da prescrição aquisitiva e do lapso de
ano e dia, que distingue a posse nova da velha.
Ressalta-se que, ao contrário do CC de 1916, o novel Código não mais enumera os modos de aquisição da posse,
limitando-se a dizer que ela se adquire quando se obtém o poder sobre a coisa, tornando possível seu exercício, em
nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
Dos modos de aquisição: Tendo em vista a sistematização adotada pelo CC, os modos de aquisição podem ser
agrupados em 02 espécies: da aquisição da posse em consequência da vontade e em função da sua origem. Para
alguns doutrinadores, a divisão se faz somente entre posse originária e derivada, tal como o domínio.
Portanto, pode-se adquirir a posse, em função da vontade, pela:
1) vontade do agente unilateralmente (apreensão), por ato bilateral (convencional – contrato) ; e,
2) pela própria lei.
Ou, valendo-se de outra classificação, agora em função de sua origem:
1) originária; e,
2) derivada
Unilateralmente, adquire-se pela apreensão consciente da coisa. Se a coisa estiver abandonada diz-se “res derelicta”;
se não for de ninguém, afirma-se “res nullius”. Aquele que acha coisa perdida, abandonada, deve restituí-la ao dono
ou legítimo possuidor. Não sendo possível, deve entregá-la à autoridade competente, conforme reza o artigo 1.233
do CC. Enquanto não entregue a coisa, quem achou tem sua posse, podendo ser legitimada. Estando de má-fé, a
posse do achador ou inventor será considerada injusta e viciada. Além dessas duas hipóteses, a apreensão também se
manifesta e enseja aquisição de posse, quando a coisa é retirada de outrem sem a sua permissão, mesmo por meio de
violência ou clandestinidade, porque o possuidor primitivo ao se omitir nos meios de defesa, passado ano e dia,
contribuiu para que a situação de fato se estabelecesse, cessando o vício, em favor do detentor transformando-se em
possuidor.
Adquire-se a posse também bilateralmente, por convenção (convencional), que se faz pelo contrato, em que será
concretizada pela tradição real, ficta ou simbólica. Tradição, vale ressaltar, é a transferência da posse de um
possuidor a outros, por ato gratuito ou oneroso; é modo derivado de apossamento da coisa. Tradição real, também
chamada de efetiva ou “traditio longa manu”, é aquela quando materialmente a coisa é deslocada para a posse de
outrem. Tradição simbólica é aquela em que a entrega da coisa é traduzida por gestos, conduta indicativa da
intenção de transferir a posse, atitudes de transferência, como por exemplo, a entrega das chaves do imóvel. E, por
fim, a tradição ficta, no caso de constituto possessório
(cláusula “constituti”), quando, por exemplo, o vendedor, transferindo a outrem o domínio da coisa, conserva-a em
seu poder, mas agora na qualidade de locatário.
Traz a lei uma forma de aquisição possessória, que advém do princípio da “saisine”, figura do direito francês, onde a
posse transmite-se aos herdeiros do autor da herança tão logo ocorra o óbito. Por ser a herança considerada bem
imóvel (imóvel por determinação legal), esta transmissão deveria revestir-se de formalidades, mas também por força
de lei, não se exige, determinando a sua imediata transferência, independente, inclusive, do conhecimento do
herdeiro.
Temos ainda, a aquisição por exercício do direito. Exemplificando: é o que ocorre no caso de servidão. Constituída
uma servidão em terreno alheio sem qualquer oposição do proprietário, que não se valeu dos interditos, para aquele
será estabelecido em seu favor a posse.
Aquisição em função de sua origem: É originária, quando a aquisição ocorre sem qualquer relação entre o antigo
e o novo possuidor. Cuida-se da ocupação da coisa, apropriação de seu uso e gozo. O ato do agente é unilateral. A
aquisição unilateral realiza-se pelo exercício de um poder de fato sobre a coisa, no interesse daquele que o exerce. O
possuidor, na aquisição originária, não tem qualquer vínculo jurídico com o antecessor e a translatividade ocorre
independentemente de sua anuência ou até mesmo com sua resistência, dependendo apenas da vontade do
adquirente.
Posse derivada, por sua vez, é aquela que se caracteriza quando há anuência do antigo possuidor, como nos casos de
compra e venda, doação etc. O antigo possuidor cede ou transfere sua posse a outrem mediante um negócio jurídico.
Há transferência voluntária do vendedor ao comprador. A posse adquirida derivou do vendedor, do cedente ou do
doador. Há um ato ou negócio jurídico bilateral. No caso de morte, pelo princípio da “saisine”, a aquisição derivada
decorre da lei. Também decorre da lei, a dos frutos que caem em meu terreno provenientes de árvore do vizinho
(CC, art. 1.284).
A importância da distinção refere-se à análise dos vícios que porventura existam sobre a posse. Quando a aquisição
é originária, não havendo vínculo com o possuidor anterior, a posse apresenta-se sem qualquer vício para o novo
possuidor. Se o possuidor a recebeu de outrem, ou seja, sendo derivada, herdará os vícios ou virtudes anteriores,
conforme se infere da leitura do artigo 1.203 do Código Civil.
Da transmissão da posse: posse dos herdeiros e legatários do possuidor. Posse na sucessão universal e na
singular: A posse se transmite com os mesmos caracteres aos herdeiros e legatários do possuidor, tão logo se
verifique a abertura da sucessão. O artigo 1.207 do mesmo diploma trata da conjunção ou união das posses, em que
a posse pode ser transmitida a título universal ou a título singular.
Por sucessão universal, entende-se tratar de possuidor que substitui o titular do direito na totalidade de seus bens, ou
em uma parte deles, como, por exemplo, o herdeiro (sucessão “mortis causa”). Este é sucessor universal porque
sucede em uma universalidade, uma fração não individualizada. O objeto da transferência, repita-se, é uma
universalidade (patrimônio).
Por outro, entende-se como sucessor singular aquele que substitui o antecessor em direitos ou coisas determinadas,
como, por exemplo, o comprador. Sucede-se um bem certo, determinado ou individualizado.
A lei faculta ao sucessor a título particular anexar à sua posse a de seu antecessor para, por exemplo, obter o
usucapião, assumindo, aí sim, os vícios da anterior caso existam. Temos aqui uma faculdade, o que não ocorre se
tratar-se de sucessão a título universal, onde a conjugação da posse é imposição de lei.
Efeitos da posse: entendem-se as consequências que da posse advêm, como sua aquisição, manutenção e perda. O
Código Civil, nos artigos 1.210 a 1.222, trata dos principais efeitos produzidos pela posse.
Dos efeitos produzidos, podemos dizer que o principal é o direito de proteção, ou seja, o direito do possuidor de
proteger e conservar sua posse. Além deste, o Código reconhece e indica outros, como o da percepção dos frutos; da
responsabilidade pelas deteriorações e perda da coisa possuída; da indenização por benfeitorias e do direito de
retenção para garantir seu pagamento; e a usucapião.
Do direito de proteção da posse: da legítima defesa, do desforço imediato e dos interditos: A proteção ao
possuidor dá-se de duas formas: pela legítima defesa e pelo desforço imediato, chamadas ações diretas (autodefesa,
autotutela ou defesa direta) e pelos interditos¸ que são as ações possessórias, também denominadas de defesas
indiretas ou heterotutela.
O desforço imediato ocorre quando o possuidor pode manter-se ou restabelecer-se à situação anterior pelos seus
próprios meios e recursos, quando houver esbulho da sua posse. Quando, por sua vez, houver turbação no exercício
da posse, o possuidor poderá reagir, exercendo assim, a legítima defesa.
Para que a defesa direta possa ser considerada legítima, o possuidor deve reagir tão logo quanto possível, limitando-
se ao indispensável à retomada da posse.
Não querendo ou não podendo lançar mão da legítima defesa da posse, poderá, ainda, o possuidor protegê-la através
de medidas judiciais, que são os interditos possessórios. Três são os interditos possessórios: interdito de reintegração
de posse; interdito de manutenção de posse e o interdito proibitório.
A proteção possessória tem como fundamento um direito derivado da própria necessidade de se proteger a
propriedade. Protegendo a posse, que é a exteriorização da propriedade, esta está sendo protegida.
O nosso direito protege não só a posse correspondente ao direito de propriedade e a outros direitos reais como
também a posse como figura autônoma e independente da existência de um título.
Distinção entre juízo possessório e juízo petitório. Exceção de domínio: No juízo possessório não adianta alegar
o domínio, porque só se discute posse. No juízo petitório a discussão cinge-se ao domínio, sendo secundária a
questão da posse. Nos termos do artigo 1.210, § 2º, do CC, não mais se contempla a possibilidade de se arguir a
exceptio proprietatis, ou seja, a exceção de domínio. No antigo diploma a questão do domínio podia ser trazida ao
juízo possessório.
Dos efeitos da posse em relação aos frutos: Salvo disposição especial em contrário, a coisa acessória segue a
principal. Entram na classe das coisas acessórias, como suas espécies: os frutos, produtos e rendimentos (CC, art.
95). Estes, como regra, devem pertencer ao proprietário, como acessórios da coisa.
A regra pela qual o proprietário da coisa tem direito aos seus acessórios sofre mitigação, quando tratar-se de
possuidor de boa-fé, ou seja, quando estiver convicto de que é seu o bem possuído.
Não é o proprietário, mas sim o possuidor, se estiver de boa-fé, quem terá direito aos frutos percebidos, protegendo a
lei, neste caso, aquele que tinha a convicção de que a coisa lhe pertencia e lhe deu destinação econômica.
Para que o possuidor ganhe os frutos necessários a prova de sua boa-fé, que tenha o pensamento de que é
proprietário, conforme exige-se o artigo 1.214 do CC.
Da percepção dos frutos pelo possuidor de boa-fé: O possuidor estará de boa-fé se possuir justo título. A
existência de um justo título para a aquisição dos frutos se faz necessária, porque deve ter direitos a eles a posse que
se assemelha à propriedade, ou tem sua aparência. Neste sentido, possuindo somente a posse sem título que a
sustente, o possuidor terá direito aos frutos percebidos, não fazendo jus, contudo, aos pendentes ou aos colhidos
antecipadamente, que devem ser restituídos.
Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé, que ocorrerá após a citação judicial para a causa, devem ser
restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio, bem como os frutos colhidos antecipadamente,
também não fará jus. Visa a legislação não proporcionar enriquecimento indevido ao reivindicante, impondo a este o
dever de indenizar o valor das despesas da produção e custeio, tais como o plantio, conservação etc. Caso os frutos
colhidos com antecipação não encontrar-se estantes (colhidos e acondicionados para a venda), deverá indenizar em
importância equivalente.
Da percepção dos frutos pelo possuidor de má-fé: O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e
percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-
fé (CC, art. 1.216). O legislador desencoraja a má-fé, mormente quando determina que indenize até mesmo os frutos
percipiendos, ou seja, os que poderiam ter sido colhidos e não o foram, tendo direito apenas às despesas da produção
e custeio, em respeito ao enriquecimento sem causa.
Da responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa: O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou
deterioração da coisa, se não for responsável, apenas indenizando se agiu com dolo ou culpa, assim entendido pela
expressão “a que não der causa” .
Se for posse de má-fé, responderá até mesmo se acidental, inclusive por caso fortuito ou força maior, estando livre
apenas se demonstrar que teria ocorrido a perda ou deterioração da mesma forma se estivesse a coisa nas mãos do
reivindicante. Ao possuidor de má-fé compete provar (é seu o ônus da prova) que do mesmo modo se teriam dado as
perdas se estivesse a coisa na posse do reivindicante, sendo esta a única excludente de responsabilidade. Não basta a
prova da ausência de culpa nem de força maior. A única prova que o exonerará é o da ocorrência do mesmo prejuízo,
se não tivesse havido interferência alguma do possuidor. Há, no caso, uma presunção juris tantum de culpa do
possuidor de má-fé, invertendo-se o ônus da prova.
Efeitos em relação às benfeitorias e o direito de retenção. Possuidor de boa-fé: o mesmo princípio da vedação
ao enriquecimento ilícito, aplicado quanto à responsabilidade dos frutos na posse, aqui também se faz presente. A
legislação, em havendo boa-fé, traz ao possuidor o direito à indenização quanto às benfeitorias necessárias e úteis,
facultado ao reivindicante não indenizar as voluptuárias eis que aquele tem direito de levantá-la (jus tollendi), desde
que não cause danos à coisa e o reivindicante não preferir ficar com elas, indenizando o seu valor.
Necessário esclarecer que a noção de benfeitoria é casuística, vale dizer, que somente diante do caso concreto poder-
se-á distingui-la. Construir uma piscina em um clube recreativo, é necessária; em uma casa, é voluptuária; em uma
escola, é útil.
Recusando-se o reivindicante a indenizar, o possuidor poderá exercer o "jus retentionis", ou seja, o direito de reter a
coisa até que lhe seja pago as indenizações correspondentes às benfeitorias necessárias e úteis por ele realizadas. O
ato de retenção consiste em uma modalidade de garantia, um meio de defesa direto do possuidor de boa-fé para
compelir o reivindicante ou o evictor a lhe indenizar
Indenização ao possuidor de má-fé: Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias;
não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias (CC, art. 1.220).
Também não há que se falar em retenção, pois só lhe é de direito o recebimento das benfeitorias necessárias
perdendo as benfeitorias úteis e voluptuárias. Estas importâncias são para compensar o período que permaneceu em
coisas alheias, além de ser uma sanção. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento
se ao tempo da evicção ainda existirem (CC, art. 1.221). O reivindicante obrigado a indenizar as benfeitorias ao
possuidor de má-fé tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará
pelo valor atual (CC, art. 1.222).
Da perda da posse: faz-se supérflua a enumeração dos meios pelos quais se adquire ou perde-se a posse. Se esta é a
exteriorização do domínio e se é possuidor aquele que se comporta em relação à coisa como dono, desde o momento
em que não se comporte mais dessa maneira, ou se veja impedido de exercer os poderes inerentes ao domínio, a
posse estará perdida. O Código Civil, pela razão apontada, no artigo 1.223, em consonância com o artigo 1.196,
define que se perde a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem.
Didaticamente, mencionam-se as situações que denotam a perda da posse.
Abandono: perde-se a posse pelo abandono (“res derelicta”) ou renúncia, ou seja, quando o possuidor,
voluntariamente, manifesta a intenção de largar o que lhe estava sob sua posse. Perder-se-á um imóvel, pelo
abandono, quando o possuidor agir negligentemente, ausentando-se por tempo prolongado e demonstrando
desinteresse sobre o bem. Esta situação somente não ocorrerá se se tratar de ausência natural, compatível com a
natureza do próprio imóvel, como as casas de veraneio e campo.
Tradição: A posse se perde por sua transferência, ou seja, pela tradição, que consiste na entrega da coisa alienada e
consequentemente não mais terá a posse da coisa. Só haverá perda, se for transferência definitiva, onde a relação
possessória passa para outra pessoa.
Destruição e coisas fora do comércio: como causa da perda da posse temos a destruição da coisa e a sua colocação
fora do comércio. A posse é exercida sobre uma coisa corpórea, sobre um “corpus”, a partir do momento que esse
“corpus” se perdeu, pereceu a posse e consequentemente seu valor econômico. Dá-se, portanto, a destruição da coisa
quando ela deixa de existir.
São postas fora do comércio os bens desapropriados. Por coisas fora do comércio entendem-se aquelas que não são
suscetíveis de apropriação e, quando por lei, são inalienáveis. As coisas aqui referidas, não podem, portanto, ser
objeto de posse, posto que o possuidor de coisa posta fora do comércio terá perdido a posse sobre ela, porque se
tornou inapropriável.
Posse de outrem: pela posse de outrem, ainda contra a vontade do possuidor, se este não foi manutenido ou
reintegrado em tempo competente, perder-se-á a posse.
Constituto possessório: através do constituto possessório, tanto se adquire quanto se perde a posse. Pela cláusula
“constituti”, altera-se a relação possessória: o possuidor que tinha a coisa em nome próprio passa a tê-la em nome
alheio. O alienante perde a posse e o adquirente a ganha. O novo Código preferiu não mencioná-lo de forma
expressa.
Perda da posse de direitos: desde que haja extinção do direito, seu titular terá perdido a posse. Perder-se-á também
a posse dos direitos, em se tornando impossível exercê-los, ou não exercendo por tempo que baste para a
configuração da prescrição. Caracterizada a prescrição da pretensão que corresponde a um direito, finda-se a posse
desse direito. Exemplo: servidões (art. 1.389, CC).
Perda ou furto da coisa móvel e título ao portador: o furto de título ao portador rege-se, hoje, exclusivamente
pelo disposto no artigo 907 do CPC (Aquele que tiver perdido título ao portador ou dele houver sido injustamente
desapossado poderá: I - reivindicá-lo da pessoa que o detiver; II - requerer-lhe a anulação e substituição por outro.)
A situação do terceiro que vem a adquirir um objeto que foi extraviado ou roubado é traçada pelo artigo 1.268 do
Código Civil, com relação à tradição: feita por quem não seja proprietário, “a tradição não aliena a propriedade,
exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias
tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono”, ou se “o alienante adquirir
depois a propriedade” (§ 1º). Também não transfere a propriedade, a tradição, quando tiver por título um negócio
jurídico nulo (§ 2º).
Perda da posse para o ausente (o que não se acha presente): Aquele que não estiver no lugar onde se encontra a
coisa de sua propriedade ou posse perderá em favor do ocupante ou do detentor dela se, tendo notícia da ocupação,
não procurou retomá-la, ou seja, omitindo-se nas providências visando a retomada. Deixou de tentar recuperá-la por
desforço imediato e for repelido pelo ocupante. Não recuperada, portanto, o possuidor perderá a posse. Todavia, se o
possuidor, pelo desforço imediato conseguir a recuperação, terá sua posse mantida.
DA PROPRIEDADE: esta figura jurídica deita raízes no direito romano, onde primava pelo individualismo,
atribuindo somente ao cidadão romano o privilégio de adquirir a propriedade. Atualmente, a configuração da
propriedade depende do regime político adotado, por exemplo, a antiga URSS, que socializava os bens de produção;
já nos países do ocidente, incluindo o Brasil, temos a propriedade individual, com restrições voluntárias e legais,
para que seja possível o desempenho da sua função social.
Fundamento do direito de propriedade: Existem várias teorias que informam o seu fundamento, destacando-se a
da (1) ocupação, (2) da lei, (3) da especificação e (4) da natureza humana. Pela primeira, fundamenta o direito de
propriedade na ocupação, na apropriação de coisas que não pertencem a ninguém (res nullius). Pela segunda, a
teoria da lei, afirma-se que o domínio fundamenta-se na lei. Por ela, a propriedade é instituição de direito civil,
positivamente amparado. Existirá a propriedade porque a lei a criou e a garantirá. Pela teoria da especificação, o
trabalho é o único criador de bens, consistindo, portanto, no título legítimo da propriedade. Por último, a teoria da
natureza humana, é a que melhor fornece o fundamento da propriedade. Para ela a propriedade está na natureza
humana, pois é o instinto de conservação que leva o homem a se apropriar de bens para saciar sua fome e para
satisfazer suas necessidades de ordem física e moral, justificando, assim, plenamente a existência jurídica da
propriedade.
Conceito e elementos da propriedade: nosso Código Civil não trouxe uma definição de propriedade, preferindo
enunciar no artigo 1.228 os poderes do proprietário, fornecendo elementos para sua definição. Em termos analíticos,
todavia, podemos dizer que a propriedade é o direito que a pessoa (física ou jurídica) tem, dentro dos limites
normativos, de usar, gozar e dispor de um bem (corpóreo ou incorpóreo), bem como de reivindicá-lo de quem
injustamente o detenha, tirando da coisa toda a sua utilidade jurídica; é o mais completo dos direitos subjetivos, a
matriz dos direitos reais e o núcleo do direito das coisas.
Em relação aos seus elementos constitutivos da propriedade, temos o “jus utendi” (direito de usar), que é a
faculdade de o dono servir-se da coisa e utilizá-la da maneira que entender mais conveniente, podendo excluir
terceiros de igual uso. O “jus fruendi” (direito de gozar ou usufruir), que é o poder de perceber os frutos naturais e
civis da coisa e aproveitar economicamente os seus produtos. O “jus abutendi” ou “jus disponendi” (direito de
dispor), que é o direito de dispor da coisa, de transferi-la ou aliená-la a outrem a qualquer título, envolvendo o poder
de consumir o bem, de dividi-lo ou gravá-lo, como vender, distribuir, doar a coisa. E, por último, a “reivindicatio”
(direito de reivindicar), sendo o direito de reaver a coisa, de reivindicá-la das mãos de quem injustamente a detenha;
ele envolve a proteção específica da propriedade, que se perfaz pela “ação reivindicatória” (direito de sequela).
Caracteres da propriedade: este direito sofre restrições impostas pelo direito de vizinhança, pelo interesse
público, pelo fim social, pela própria vontade do proprietário e outras normas administrativas e
constitucionais. É um direito absoluto desde que não contrarie interesse público e outras normas de
convivência social. A propriedade caracteriza-se pela exclusividade, ilimitabilidade, perpetuidade e elasticidade.
É exclusiva, no sentido de poder o seu titular afastar da coisa quem quer que dela queira utilizar-se. A mesma
coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneidade a duas ou mais pessoas. O direito de um exclui o
de outro. Mesmo no condomínio não desaparece o exclusivismo, pois o direito dos condôminos são exclusivos.
É ilimitada ou absoluta, no sentido de encontrar-se liberta dos encargos que a constrangiam desde os tempos
feudais, quando o que lavrava o solo tinha o dever de pagar foro ao fidalgo; hoje, o proprietário tem amplo
poder sobre o que lhe pertence. Não só por ser oponível erga omnes, mas pelo fato de que seu titular pode
desfrutar e dispor do bem como quiser, sujeitando-se apenas às limitações impostas em razão do interesse
público ou da coexistência do direito de propriedade de outros titulares. Até prova em contrário, considera-se
a propriedade plena e exclusiva, limitando-a quando pesar sobre ela ônus reais, como no caso do usufruto e
de outros direito reais sobre coisas alheias, em virtude do desmembramento dos direitos elementares do
proprietário, de usar, gozar e dispor, ou quando for resolúvel, estando sujeita a resolução. Possui também,
caráter perpétuo, no sentido de que subsiste a propriedade independentemente de exercício, enquanto não
sobrevier causa legal extintiva, ou seja, enquanto o proprietário desejar ou em virtude de lei ela subsistirá. É
irrevogável ou perpétua, porque não se extingue pelo não-uso. Por fim, temos o caráter elástico, que é a
característica que consiste na possibilidade do domínio ser estendido ou contraído no seu exercício conforme
lhe somem ou retirem poderes destacáveis.
Do caráter social da propriedade: a CF/88 traz essa ideia (art. 5º, XXIII), determinando ainda, que a ordem
econômica observará a função da propriedade, impondo freios à atividade empresarial (art. 170, III). É possível
dizer que a função social pode se confundir com o próprio conceito de propriedade, diante de um caráter inafastável
de acompanhamento (Tartuce). Nessa ordem, o Código Civil, no artigo 1.228, § 1º, afirma que o direito de
propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam
preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas; o § 2º, que são
proibidos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade ou utilidade e sejam animados pela intenção
de prejudicar outrem (direito de vizinhança); o §3º traz a privação de propriedade nos casos de desapropriação por
necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público
iminente. Pelos §§ 4º e 5º, cria-se uma nova forma de usucapião, determinada pelo Poder Judiciário na hipótese de o
imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de
considerável número de pessoas, e esta nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços
considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante, fixando por este a justa indenização ao
proprietário. Neste caso, trata-se de inovação de alto alcance, inspirada no sentido social do direito de propriedade e
também no novo conceito de posse, dita por Miguel Reale como posse-trabalho, conforme leciona Carlos Roberto
Gonçalves.
Além do disposto no artigo 1.228 do CC e do Estatuto da Cidade, temos ainda outras legislações que trazem
restrições ao direito de propriedade, como o Código de Mineração, Florestal, Lei de Proteção do Meio Ambiente,
além, é claro, das limitações advindas do direito de vizinhança e de cláusulas impostas nas liberalidades, matérias
tratadas pelo diploma substantivo civil. Esse conjunto de normas nos dá, portanto, a noção de que o direito de
propriedade deixou de apresentar características de direito absoluto e ilimitado para transformar-se em direito de
finalidade social.
Propriedade plena e limitada: são espécies de propriedade, quanto à extensão do direito do titular: a plena ou
limitada; quanto à perpetuidade do domínio: perpétua ou resolúvel. Será plena, também chamada de alodial, quando
todos os direitos elementares da propriedade estão reunidos nas mãos da mesma pessoa. Ter-se-á propriedade
limitada ou restrita, quando tem um ônus real, o qual consiste em estar um ou mais elementos constitutivos da
propriedade em poder de outrem. Será perpétua quando tiver duração ilimitada. Será resolúvel, quando se encontrar
no seu próprio título constitutivo uma razão de sua extinção, ou seja, as próprias partes estabelecem uma condição
resolutiva, como na alienação fiduciária, ao fideicomisso ( fiduciário e fideicomissário), ou no pacto de retrovenda.
Espaço aéreo e subsolo: a noção geométrica de superfície, como expressão de solo, não satisfaz às exigências
jurídicas, pois é óbvio que o proprietário não teria a possibilidade de exercer os poderes dominiais de uso e gozo se
lhe fosse negado o direito ao que está abaixo e acima. Não poderia construir ou plantar, não teria meios de utilizar se
a concepção de domínio ficasse adstrita à camada externa de revestimento da terra. Por estas razões, podemos dizer
que a propriedade do solo estende-se ao subsolo e ao espaço aéreo, questionando, contudo, se encontra ou não um
limite. Conjugando concepções germânica (interesse do proprietário) e suíça (utilidade), nosso Código Civil
autoriza no artigo 1.229, tanto no espaço aéreo como no subsolo, a titularidade do domínio, desde que seja útil e
possua o proprietário legítimo interesse.
Descoberta: é uma das formas de aquisição e perda da propriedade móvel. É o achado de coisa perdida.
Descobridor, achador ou inventor é o que a encontra. Nos termos do artigo 1.233, quem achar coisa alheia perdida
há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Não o conhecendo, fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar,
entregará a coisa à autoridade competente. Aquele que restituir a coisa achada terá direito a uma recompensa não
inferior a 5 % do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e o transporte da
coisa, se o dono não preferir abandoná-la. Neste caso, a coisa não mais será perdida, mas sim abandonada, o que
gerará para o inventor (descobridor), direito aquisitivo pela “res derelicta” (coisa abandonada). Todavia, há uma
exceção que a coisa perdida passa a pertencer ao achador ou inventor, afora o abandono pelo dono como visto
acima, é o caso de descoberta de tesouro, onde a lei afirma que metade de seu valor passará a pertencer a quem
achou. Neste caso, excepcionalmente, a coisa perdida passa a ser forma aquisitiva de propriedade móvel.
Aquisição da propriedade imóvel: consiste na personalização do direito num titular, gerando-lhe um direito
subjetivo. São pressupostos para aquisição da propriedade: 1) que a pessoa seja capaz de adquirir; 2) que a coisa seja
suscetível de aquisição; e, 3) que exista um modo de adquirir. Pode-se dizer que se adquire a propriedade pelos
modos: 1) originário e 2) derivado. Propriedade originária é aquela em que não há vínculo jurídico entre o
proprietário anterior e o atual, por exemplo, as acessões e a usucapião. Por outro lado, derivada é a que se
caracteriza pela existência de um liame jurídico entre o proprietário anterior e o atual, como o direito hereditário e o
contrato seguido de tradição. Nos termos da legislação civil, têm-se como modos de aquisição da propriedade
imobiliária: 1) a usucapião; 2) a aquisição pelo registro do título; 3) as acessões; e, 4) o direito hereditário, que é o
que surge em decorrência do vínculo de parentesco que o herdeiro tem com o falecido.
Da usucapião: modo de aquisição da propriedade de forma originária. Essencialmente deita raízes na posse, por
tempo prolongado, que transforma uma situação de fato em direito. O instituto do usucapião visa garantir a
estabilidade e a segurança da propriedade, fixando um prazo além do qual não se pode mais levantar dúvidas ou
contestações a respeito, e sanar a ausência de título do possuidor, bem como os vícios intrínsecos do título que esse
mesmo possuidor tiver. É um direito novo, autônomo, independente de qualquer ato negocial provindo de um
possível proprietário, tanto assim que o transmitente da coisa objeto do usucapião não é o antecessor, o primitivo
proprietário, mas a autoridade judiciária que reconhece e declara por sentença a aquisição por usucapião. Diz-se
também, tratar-se de uma prescrição aquisitiva de propriedade. Sua natureza jurídica é de instituto autônomo
afinando-se, destarte, com a prescrição.
Requisitos da usucapião: 1) que a coisa seja suscetível de usucapião; 2) posse mansa, pacífica (sem oposição) e
contínua (sem interrupção), com o ânimo de dono (“animus domini”); 3) decurso do tempo; 4) para o usucapião
ordinário, a boa-fé e justo título.
As coisas fora do comércio, as naturalmente insuscetíveis de apreensão, as legalmente elencadas e os bens públicos
não são objeto do usucapião.
Não é qualquer posse, mas aquela qualificada pela intenção de ter a coisa como própria. Exige a lei que seja “ad
usucapionem”, ou seja, aquela que contém os requisitos exigidos pelo artigo 1.238.
Espécies de usucapião: 1) Extraordinário (artigo 1.238); 2) Ordinário (artigo 1.242); 3) Urbano (artigo 183, § 1° a
3°, CF e artigo 1.240 do CC); 4) Rural (artigo 1.239 do CC e artigo 191 da CF); 5) coletivo (§ 4º do art. 1.228,
entendidos por uns como apropriação indireta) e 6) por abandono do lar ou familiar ou conjugal (art. 1.240-A do
CC).
Da usucapião extraordinária: caracteriza-se quando alguém que possua como seu um imóvel de forma pacífica,
sem oposição e sem interrupção durante quinze anos, independentemente de justo título e boa-fé, poderá requerer
em juízo a declaração de domínio, que será levada a registro no cartório competente do imóvel (CC, art. 1238).
Todavia, o prazo de quinze anos reduzir-se-á para dez se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia
habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo (forma especial de usucapião extraordinária). Só
as pessoas naturais podem se valer da usucapião extraordinária de dez anos. Ao contrário da usucapião especial
urbana, que não legitima aquele que tiver outro imóvel urbano ou rural, aqui não se encontra a restrição. Em se
tratando de usucapião apoiado em moradia habitual, não se admite a acessio possessionis porque o caráter da posse
é pessoal, ou seja, o que se pretende é que o autor do pedido esteja morando no imóvel por todo o prazo, o que não
se atende com a soma das posses. A outra hipótese prevista no parágrafo único do art. 1.238 é a realização de obras
ou serviços de caráter produtivo. Aqui estamos diante da posse vinculada ao trabalho. O possuidor não mora no
imóvel, mas fê-lo produtivo, gerando uma fonte de riqueza, o que é compatível com a finalidade social da
propriedade. O desenvolvimento das obras ou serviços deve se ter realizado pelo prazo de dez anos, não se podendo
admitir que o possuidor invoque a redução do prazo, quando realizou as obras ou serviços apenas poucos anos antes
de se completar dez anos.
Da usucapião ordinária: é o que possibilita a aquisição do domínio do imóvel por aquele que por dez anos possuir
como seu ininterruptamente, pacificamente e sem oposição, incontestadamente, com justo título e boa-fé (CC, art.
1.242, “caput”). Ainda, reduzir-se-á o prazo para cinco anos, se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com
base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem
estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico (CC, art. 1.242, parágrafo
único). Por justo título deve-se entender o ato jurídico hábil, em tese, à transferência do domínio.
O vocábulo título não está sendo utilizado no sentido de escrito. Ele significa "ato jurídico cuja função econômica
consiste em justificar a transferência do domínio". Para que se tenha o título por justo é necessário, ainda, que ele
seja válido, certo e real. Sua validade está vinculada à observância das formalidades legais externas substanciais.
Mas se nos deparamos com a omissão de formalidades internas, como ocorre quando o alienante era incapaz, a
solução se reduz em uma questão de boa ou má-fé. Por isso é que vamos encontrar, na doutrina, posição firme no
sentido de se admitir o título anulável como justo, enquanto o nulo não o é.
A boa-fé é a integração ética do justo título, ou seja, o possuidor tem convicção de que o negócio jurídico que lhe
assegurou a posse da coisa está escoimado de vício, não havendo qualquer irregularidade que lhe impeça haver o
domínio. Ele ignora o vício que macula o negócio jurídico. A boa-fé deve estar presente no início da posse e por
todo o prazo, gozando o possuidor com justo título de presunção iuris tantum a seu favor.
O justo título pode existir sem boa-fé, o que se dá quando o comprador sabe que a coisa comprada não pertence ao
vendedor, o que autoriza concluir que a boa-fé é elemento autônomo na usucapião ordinária.
Há a hipótese de usucapião ordinária com prazo reduzido, em que os requisitos são: a) aquisição onerosa do imóvel
com base no registro constante do respectivo cartório; b) cancelamento posterior; c) os possuidores devem estar
estabelecidos nele com sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. Reduz-se o prazo,
desde que os requisitos apontados estejam alinhados, presente a boa-fé.
Da usucapião especial: especial por darem nova roupagem à destinação da propriedade, que de privada
propriamente dita, como a extraordinária e a ordinário, passa a ter finalidade social. São elas: usucapião pro labore (
rural ) e o pro misero ou pro moradia ( urbano), ambos previstos na CF, nos art. 183 e 191.
Tanto para o rural ( “pro labore”), como o urbano ( “pro moradia” ou “misero”), não se autoriza a soma de posses
(art. 1.207 e 1.243, do CC), por contrariar o caráter social objetivado, diferenciando-se aí, portanto, das outras
espécies (extraordinário e ordinário).
Da usucapião coletiva: O usucapião urbano coletivo, como espécie de usucapião urbano que é, é posto no Estatuto
da Cidade (EC) como um instrumento jurídico e político destinado a permitir que sejam alcançados os escopos
daquele diploma legal (art. 4º, V, j, do EC), no sentido de que se facilite o acesso à propriedade urbana por
comunidades carentes (ou, na dicção legal, de baixa renda).
O artigo 10 do Estatuto da Cidade, trazendo mais uma subespécie de usucapião especial, quando se tratar de área
urbana, de mais de 250 metros quadrados, de população de baixa renda, com posse de cinco anos ininterrupta e sem
oposição, onde não foi possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são suscetíveis de serem
apropriados coletivamente. Cada possuidor terá uma fração ideal, salvo acordo escrito entre os condôminos. Trata-se
de hipótese de condomínio indivisível, sendo vedado a sua extinção, a não ser por deliberação de 2/3 dos
condôminos. O artigo 12 da referida, traz a legitimidade para usucapião urbano e o coletivo.
Da usucapião familiar ou conjugal: a Lei nº 12.424, de 16 de junho de 2011, acrescentou o art. 1240-A ao Código
Civil, criando nova modalidade de usucapião, a qual os juristas vêm denominando "usucapião especial por abandono
do lar", "usucapião familiar" ou, ainda, "usucapião conjugal.
No caso da usucapião pelo abandono do lar, entretanto, não se enxerga a razão, tampouco a finalidade que levou o
legislador a inserir o art. 1240-A no Código Civil. Previsto no meio de uma lei instituidora do programa "Minha
Casa, Minha Vida", que tem por finalidade a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas
e a construção de casas para famílias de baixa renda.
Elpídio Donizetti só vislumbra malefícios nessa modalidade de usucapião. “O requisito nuclear da aquisição da
propriedade pelo ex-cônjuge que permanece no imóvel é o abandono do lar pelo outro. Abandono do lar pressupõe
culpa ou, no mínimo, falta de motivo justificado para não mais morar sob o mesmo teto. O fato é que essa esdrúxula
modalidade de usucapião vai ensejar o revolvimento de antigas e dolorosas feridas, tudo no afã de demonstrar que o
"meu inferno é o outro". Estamos assistindo ao retorno do ingrediente denominado culpa, o qual foi abolido da
indigesta receita das separações conjugais pela recente EC 66/2010. A propósito, a principiologia constitucional, na
qual se assentam as múltiplas possibilidades de uniões afetivas, sejam casamentos ou uniões estáveis, é informada
pelo afeto, o que não se coaduna com qualquer perquirição acerca da culpa. Nessa linha, não se descarta a
inconstitucionalidade do novel art. 1240-A. Interessante que o legislador não se preocupou com a sorte de quem foi
abandonado num casebre na zona rural. Essa pessoa, abandonada pela sorte e pelo cônjuge, também o foi pelo
legislador, que não se dignou em lhe conferir a prerrogativa de aquisição da pequena área de terras onde mora. Dois
pesos e duas medidas.”
A regra excepciona o Art. 197, I, do CC que impede o transcurso do prazo prescricional na vigência da sociedade
conjugal, permitindo que o cônjuge que permaneceu no imóvel adquira a parcela do outra na meação, ou mesmo o
próprio imóvel.
Da aquisição pelo registro do título: adquire-se a propriedade imóvel com a transcrição do título aquisitivo no
registro imobiliário competente, ou seja, no da circunscrição imobiliária da propriedade. O fim do registro público,
como está no art. 1º da Lei nº 6.015/73, é a autenticidade, a segurança e a eficácia dos atos jurídicos. O simples
contrato, mesmo que constituído por instrumento público, não transfere o domínio, apenas gera entre as partes
direitos e obrigações. A propriedade não se adquire “solo consensu”, ou seja, só pelo consenso ou pelo contrato,
exclusivamente. A data da aquisição da propriedade é a da apresentação do título ao cartório, onde se faz a
prenotação, estando em conformidade, o oficial do cartório providenciará a inscrição na matrícula do imóvel, caso
suscite dúvida e a mesma não sendo solucionada pelo interessado, será ela encaminhada a juízo, e sendo julgada
improcedente o oficial providenciará a inscrição com a data da prenotação. Sendo julgada procedente a dúvida o
oficial cancelará a apresentação do título.
Em que pese a presunção ser relativa, o registro favorece a prova do direito registrado e de sua titularidade. Para
provar o direito real é bastante que o titular com registro apresente a certidão do registro. Mas como a presunção é
relativa, admite prova em contrário, que fica a cargo daquele que o contesta. Por isso é que o adquirente, mesmo de
boa-fé, pode ver o registro cancelado, como se dá com o reconhecimento de uma fraude contra credores, que vicia a
transmissão ocorrida alguns anos antes da aquisição. O mesmo vale para uma aquisição a non domino, em um dos
elos da corrente, é suficiente para que venha o cancelamento, na via judicial, de todos os registros posteriores. É
possível que transmissão que se efetive sem o consentimento do proprietário com registro, que teve, por exemplo,
sua assinatura falsificada. Nesse caso o registro será cancelado indiretamente por intermédio da desconstituição do
título registrado.
Documentos: os documentos que deverão ser transcritos são: 1) os títulos translativos de propriedade por ato entre
vivos; 2) os julgados, pelos quais nas ações divisórias, se puser termo à indivisão; 3) as sentenças, que, nos
inventários e partilhas, adjudicarem bens imóveis em pagamento das dívidas da herança; e, 4) a arrematação e a
adjudicação em hasta pública.
Retificação: Havendo descompasso entre a realidade registral e a fática ou extrarregistral, o mecanismo de que se
dispõe, no ordenamento jurídico pátrio, para se obter a adaptação é a retificação (art. 1.247 do Código Civil). Como
o registro não é imutável e intangível, podendo não exprimir a realidade jurídica ou a verdade dos fatos, admite
modificação mediante pedido do prejudicado. O que se persegue com a retificação ou a anulação é que se efetive a
correção do erro, sanando o defeito, aquilo que não está certo. Isso se obtém administrativamente ou
contenciosamente. O objeto da retificação é o direito ou os fatos constantes do registro.
Não havendo erro evidente, a retificação, se não acarretar prejuízo para terceiro, efetiva-se mediante processo de
jurisdição voluntária. Somente se tem o contencioso quando haja prejuízo para os confrontantes. A jurisdição
contenciosa é indispensável quando a retificação envolver o direito de terceiros. Isso pode ocorrer quando se
pretende alterar descrição das divisas ou áreas do imóvel, e houver impugnação fundamentada por parte de terceiro.
Cancelamento: concretiza-se por decisão judicial transitada em julgado; a requerimento unânime das partes que
tenham participado do ato registrado, se capazes e com as firmas reconhecidas por tabelião; a requerimento do
interessado, instruído com documento hábil. O cancelamento leva a duas situações: 1ª) o assento cancelado perde
sua eficácia; 2ª) estabelece a eficácia do assento que passou a vigorar como decorrência do cancelamento. Põe-se
fim ao descompasso entre o registrado e a realidade jurídica extrarregistral. Efetivado o cancelamento, o proprietário
do imóvel está autorizado a reivindicar o imóvel. Lembramos que o cancelamento do registro da alienação implicou
na cessação da eficácia do assento, e estabeleceu a eficácia do assento do alienante Como decorrência disso ele
passa a dispor do imóvel em toda sua amplitude, podendo exercer a pretensão reivindicatória, que se efetiva pela
ação reivindicatória, prevista pelo art. 1.228 do CC.
Da aquisição pela acessão: esta é o acréscimo natural ou artificial de tudo o que adere a propriedade aumentando
seu valor ou volume. É modo originário ou derivado de aquisição da propriedade, criado por lei, em virtude do qual
tudo o que se incorpora, se estende o direito do proprietário a tudo que ao bem se incorpora inseparavelmente. Aqui
predomina o princípio segundo o qual “a coisa acessória segue a principal”. Em relação as suas consequências,
aplica-se também o princípio que “veda o enriquecimento sem causa”. O legislador entendeu mais conveniente
atribuir o domínio da coisa acessória também ao dono da principal, para evitar o estabelecimento de um condomínio
forçado e indesejado, porém, ao mesmo tempo, procurou evitar o enriquecimento indevido, possibilitando ao
proprietário desfalcado o recebimento de uma indenização.
Os requisitos para a configuração da acessão são: 1) conjunção entre duas coisas até então separadas; e, 2) caráter
acessório de uma dessas coisas, em confronto com a outra.
Dá-se a acessão de três modos: 1) de imóvel a imóvel; 2) de móvel a imóvel; e, 3) de móvel a móvel, sendo esta
pertinente à propriedade mobiliária.
Quanto à sua divisão, podem ser: 1) natural quando o acréscimo se dá por força da natureza, como a aluvião, a
avulsão, o abandono de álveo e a formação de ilhas e, 2) artificial,quando o acréscimo ocorre com a participação do
homem.
Existem 5 espécies de acessões: 1) pela formação de ilhas; 2) por aluvião; 3) por avulsão; 4) por abandono de álveo;
5) pela construção de obras ou plantações. Venosa aborda a questão da acessão natural de animais domésticos que
reassumem sua liberdade, voltando à condição de selvagens, esses animais passam a ser “res nullius”, podendo ser
objeto de apropriação. Quando o animal doméstico emigra, ou seja, desloca-se para viver em outra propriedade,
perante o nosso ordenamento jurídico, podemos resolver essa situação por meio da usucapião do semovente. Se,
contudo, o animal for identificável, o proprietário poderá reivindicá-lo enquanto estiver a sua procura.
Ilhas: as ilhas surgem do desdobramento de um braço do rio ou pelo acúmulo de areia e materiais levados pela
correnteza, ou de detritos quando ultrapassa a superfície da água, surgidas nos rios não navegáveis. Ocorrendo em
rios públicos, pertencerá ao poder público. Surgindo em rios particulares, ou seja, rios não navegáveis, pertencerá ao
proprietário ribeirinho na proporção de sua testada. Havendo duas propriedades que fazem divisa em um rio, a
divisa é a metade do rio, também denominada de linha de “talweg”, ou seja, a parte mais funda do rio. Surgindo ilha
em um dos lados pertencerá ao proprietário desta propriedade; surgindo-a ao meio do rio pertencerá metade da ilha a
cada um dos proprietários.
Aluvião: é o acréscimo lento e vagaroso, que o rio anexa às terras de forma imperceptível a olho nu em um
determinado momento. Será própria a aluvião quando o acréscimo a margem do rio for natural, proveniente de
águas correntes; imprópria quando o acréscimo se formar pelo afastamento, pela retração das águas dormentes
como lagos e tanques, descobrindo a margem do álveo.
Não se consideram terrenos de aluvião os aterros artificiais, ou as terras decorrentes de trabalhos individuais do
proprietário ribeirinho, eis que lhes falta a circunstância do incremento paulatino e natural. O Código de Águas,
Decreto nº 24.643 de 10 de Julho de 1934, alterou a legislação Civil, ampliando o conceito de terreno aluvial aos
acréscimos formados em acessão ao mar e as correntes, como também, admitindo como modo aquisitivo a aluvião
imprópria, repelida pelo Diploma Civil pátrio.
Avulsão: é o inesperado deslocamento de uma porção de terra por força natural violenta, soltando-se de um prédio
para se juntar a outro. Poderá o dono de o primeiro reclamá-lo ao segundo, cabendo a esse a opção entre aquiescer a
que se remova a parte acrescida, ou indenizar ao reclamante (art. 1.251). Portanto, a opção é do que teve sua
propriedade acrescida, em permitir a remoção ou indenização (por meio de perícia avaliatória se determinará o
valor). O prazo para o pleito é decadencial, e se o antigo dono não requerer em um ano, não poderá mais requerê-lo.
Quando é de coisa não suscetível de união natural, aplica-se o disposto quanto às coisas perdidas, que devem ser
devolvidas ao dono, caso contrário, o acréscimo passa a pertencer ao dono da coisa principal.
Do álveo abandonado: álveo é a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o solo natural e
ordinariamente enxuto de rio público ou particular (art. 9º do Código das Águas). Pertencerá aos proprietários das
duas margens, na proporção das testadas (parte fronteiriça ou extensão de um prédio em relação a outro), até a linha
mediana daquele. Os limites dos imóveis confinantes não sofrem modificação se o curso d’água que serve de divisa
vem a ser alterado. O art. 1.252 do CC disciplina o abandono do álveo por fenômeno da natureza. Se, contudo, a
mudança do álveo for por intervenção do poder público, o álveo abandonado pertencerá ao órgão desapropriante,
tendo esse que indenizar o proprietário da terra por onde o novo álveo passará. Não há que se falar em acessão.
Construções e plantações: são modalidades de acessão artificiais ou industriais por serem resultado do trabalho do
homem, presumindo-se que em havendo construção ou plantação em um terreno, fora feita pelo proprietário e a suas
expensas. Trata-se de acessão de móvel a imóvel. Os materiais utilizados na construção, bem como as plantas são
bens móveis que acrescentados a um imóvel ficam imobilizados, incorporando-se a ele, trazendo, destarte, a
presunção de que tudo o que existe ou se incorpora a uma propriedade pertença ao dono dessa. Trata-se de
presunção vencível, admitindo prova contrária, conforme se infere pela letra do artigo 1.253 do Código Civil. A
presunção se ilide nas hipóteses mencionadas nos artigos 1.254 e seguintes.
Comentando a hipótese do art. 1.255, salienta que não seria justo que o plantador ou construtor que procedesse de
má-fé fosse encontrar para esta uma proteção da ordem jurídica e receber indenização pelos seus atos ilícitos (art.
1.255, parágrafo único). Esta regra constitui inovação trazida pelo novo Código Civil, aduz, caracterizando uma
espécie de desapropriação no interesse privado.
Os respectivos artigos aplicam-se às construções e plantações, que são acessões industriais, e não às benfeitorias,
que não são coisas novas, mas apenas acréscimos, introduções, ou melhoramentos em obras já feitas. Nas acessões,
o proprietário paga o justo valor, ou seja, o valor efetivo dos materiais e da mão-de-obra. Nas benfeitorias, estando o
possuidor de má-fé, pode o proprietário optar entre o valor atual e o seu custo, conforme afirma o artigo 1.222, do
Código Civil, devendo este, contudo, ser corrigido monetariamente.
O parágrafo único do art. 1.258 excepciona a regra de que o acessório segue o principal.
Da aquisição da propriedade móvel: Usucapião: Da mesma forma que o usucapião de coisas imóveis, há as
espécies ordinária e extraordinária para a prescrição aquisitiva de bens móveis. Ao sucessor singular é facultado para
totalizar o prazo somar a posse de seus antecessores. Aplicam-se também ao usucapião as causas que obstam,
suspendem, ou interrompem a prescrição, bem como o disposto nos artigos 1.243 e 1.244.
Ocupação: modo originário de aquisição da propriedade móvel, pois o proprietário atual não tem qualquer vínculo
jurídico com o antecessor. Sua aquisição independe da vontade de outrem. É a tomada de posse de coisa sem dono,
com a intenção de lhe adquirir o domínio. É a aquisição de coisa móvel, recaindo sobre coisas sem dono, isto é, das
coisas de ninguém (“res nullius”) e das abandonadas (“res derelicta”), não sendo vedada por lei.
Achado de tesouro: para alguns doutrinadores a natureza jurídica do tesouro é invenção; para outros é acessão; e,
para outros é ocupação. Tesouro é o depósito antigo de moedas ou de coisas preciosas, enterrado ou oculto, de cujo
dono não haja memória. Não será tesouro o achado quando alguém mostrar que lhe pertence. Para caracterização do
tesouro, necessário o preenchimento dos seguintes pressupostos: 1) que a coisa seja móvel; 2) que a coisa achada
seja preciosa; 3) que a propriedade não possa ser provada; e, 4) que a coisa esteja escondida.
No caso da descoberta do tesouro, o inventor, excepcionalmente, por determinação legal, mesmo em se tratando de
coisa perdida, ficará com metade de seu valor. Somente incorpora ao patrimônio do achador se a coisa for
abandonada, não perdida como vimos, o que se diferencia do regime jurídico do instituto da descoberta (art. 1.233 e
ss. do CC).
Tradição: é a entrega de um bem que seu proprietário faz a outrem, com intenção recíproca de transferir e adquirir
direitos. É mediante a tradição que se transmite, inter vivos, a propriedade, o domínio ou a posse das coisas. A
entrega pode ser real, simbólica ou ficta.
Especificação: é um modo de adquirir a propriedade mediante transformação de coisa móvel em espécie nova, em
virtude do trabalho ou da indústria do especificador, desde que não seja possível reduzi-la à sua forma primitiva.
Exemplo: a escultura em relação a madeira, ou a pintura em relação a tela, como a transformação da uva em vinho.
Confusão, comistão e adjunção: são uniões de várias coisas, de pessoas diversas, numa única coisa nova.
Exemplo: um álbum filatélico, com selos de diversas pessoas nele coladas. As coisas podem misturar-se de tal forma
que se torna difícil separá-las e distingui-las. Quando essa mistura ocorre entre coisas líquidas ou liquefeitas, chama-
se de confusão (mistura de água e vinho ou de vários tipos de vinho); quando se dá entre coisas sólidas ou secas, de
comistão (mistura de diversos tipos de feijão, de arroz); e, quando apenas ocorre justaposição, a união de uma coisa
à outra, de adjunção (quando se compõe uma estátua, justapondo-se a ela o braço, a perna, a cabeça etc.). Ocorrerão
estas figuras, quando não for possível separá-las ou seu custo seja excessivamente dispendioso.
Entende-se que a confusão, a comistão e a adjunção não se caracterizam, por si só, uma acessão. Somente a
adjunção pode-se dizer que se trata de uma acessão; de uma aquisição de propriedade por acessão.
Da perda da propriedade: A enumeração do art. 1.275 do CC é exemplificativa. Há outras causas, por exemplo, a
acessão e o usucapião. Podem-se dividir as causas em: 1) voluntárias; e, 2) involuntários. O primeiro modo ocorre
por vontade do agente, o que difere do segundo, que é por imposição legal. Como modo voluntário tem a alienação,
a renúncia e o abandono. Involuntário, o perecimento do imóvel e a desapropriação.
Tanto a alienação como a renúncia, quanto aos seus efeitos, estão subordinados à transcrição do título transmissivo
ou do ato renunciativo no registro do lugar do imóvel.
Alienação: consiste num ato jurídico voluntário, em que o titular do domínio aliena a coisa, tanto gratuitamente
como onerosamente, sendo indispensável, todavia, o registro no cartório imobiliário. Alienar é tornar a coisa alheia,
perdê-la para outrem.
Renúncia; é um ato unilateral, irretratável e incondicional, em que alguém abre mão dos poderes inerentes a
propriedade. Quando há renúncia de um bem imóvel, e somente nesta hipótese que a lei determina forma (escritura
pública), necessário se faz registrá-la em cartório imobiliário, ou seja, lavra-se a escritura de renúncia transcrevendo-
a no Cartório Registral Imobiliário.
A renúncia é expressa, podendo ser translativa, sendo aquela que se assemelha a alienação, ou preventiva, também
chamada de pura ou abdicativa, que se realiza pela recusa à aquisição do direito integrado no patrimônio.
Abandono: é um ato unilateral em que o proprietário manifesta desejo de não mais sê-lo. O não uso da propriedade
imóvel não implica necessariamente em abandono. Como a intenção fica no campo subjetivo e ninguém poderá
conhecê-la, se não exteriorizada é difícil ser identificada, por isso a lei determina que passado determinado período
de tempo, pelo abandono presumido será ele arrecadado, declarado vago e, após pertencente ao domínio público.
Presume-se abandonada a propriedade pela desídia, pelo desleixo, não exigindo a lei que o abandono seja registrado
em cartório imobiliário. Presumir-se-á de modo absoluto a intenção de não mais conservar o imóvel em seu
patrimônio quando, cessados os atos de posse, deixar de satisfazer os ônus fiscais (art. 1.276, “caput” e §§ 1º e 2º,
CC) .
Perecimento: perecendo o objeto da propriedade, quer por força natural ou por atividade humana, não mais existirá
o direito. Não há direito sem objeto.
Desapropriação: perde-se também a propriedade mediante desapropriação nos casos expressos na Constituição
Federal. É um exemplo de perda do domínio involuntário. O CC refere-se ao instituto apenas como perda da
propriedade de bens. Trata-se de um ato do poder público em que se transfere o domínio de um bem, que era de um
particular para o domínio público, mediante prévia e justa indenização, pagável em dinheiro, ou em títulos de dívida
pública, com cláusula de exata correção monetária. Para o desapropriado, pouco ou nenhuma diferença faz saber se
a desapropriação foi por necessidade, utilidade pública ou por interesse social, pois em qualquer caso será privado
compulsoriamente de sua propriedade. Antigamente o poder público era obrigado a dar a coisa a destinação prevista
no ato expropriatório, sob pena de ensejar a retrocessão, ou seja, a coisa voltar ao desapropriado mediante a
devolução da importância recebida. Hoje, não importa se a desapropriação foi por necessidade pública e a
destinação foi outra, razão esta que muitos entendem não mais existir a figura da retrocessão.
ITEM 3.A: Da tutela e da curatela. Dos interditos. Processo de interdição.
Obras consultadas: AMARAL, Francisco Amaral. Direito civil: introdução. 5ª edição. Rio de Janeiro: Renovar,
2003; CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito civil: questões fundamentais e controvérsias na parte geral, no
direito de família e no direito das sucessões. 4ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010; GONÇALVES, Carlos Roberto.
Direito civil brasileiro. Volume VI, 2ª ed. Ver. E atual. – São Paulo: Saraiva, 2006; PEREIRA, Caio Mário da Silva.
Instituições de direito civil. Volume V, 17ª ed., ver. E atual. Por Tânia da Silva Pereira. Rio de Janeiro: Forense,
2009; TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método,
2011; VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: contratos em espécie. São Paulo: Atlas, 2005.
TUTELA (CC, art. 1.728): encargo conferido por lei a uma pessoa capaz para cuidar e administrar os bens de
menores não emancipados e não sujeitos ao poder familiar - não se confunde, portanto, com representação ou com
assistência (a tutela e o poder familiar não podem coexistir). É direito assistencial para defesa dos interesses do
menor - múnus público, ou seja, atribuição imposta pelo Estado para atender a interesses públicos e sociais. O ECA
(art. 28) a prevê como uma das formas de colocação em família substituta.
Classificação: a) testamentária- art. 1729 e 1730 do CC - atribuída pelos pais, em conjunto, por testamento
(instrumentos separados, ante a vedação a testamento conjuntivo) ou qualquer instrumento idôneo (codicilo,
escritura pública e escrito particular) - a nomeação por um dos genitores apenas é válida quando o outro for falecido
- apenas produz efeitos após a morte do nomeante – pais devem possuir poder familiar ao tempo da morte (nulidade
absoluta); b) legítima - art. 1731 do CC – lei aponta parentes que devem ser nomeados pelo juiz em caso de
ausência de nomeação pelos pais, indicando a seguinte ordem preferencial de nomeação:1) ascendentes e 2)
colaterais até terceiro grau - em qualquer caso, o de grau mais próximo prefere ao mais remoto; c) dativa – art. 1732
do CC - na falta, na exclusão, na escusa ou na remoção dos citados anteriormente, cabe ao juiz nomear pessoa
estranha à família, mas idônea e residente no domicílio do menor.
OBSERVAÇÕES: I) princípio do melhor interesse da criança e o princípio da proteção integral: permite que juiz
recuse o tutor nomeado pelos pais (testamentário) ou o tutor legítimo e nomeie tutor dativo; II) princípio da
unicidade da tutela (art. 1733, CC) : aos irmãos será dado apenas um tutor. Se houver designação de vários tutores
pelos pais, o primeiro designado assume o múnus e os demais são chamados subsidiariamente com a saída dos
anteriores; III) crianças sem parentes (art. 1734 + ECA): será nomeado tutor pelo juiz (tutela dativa) OU serão
incluídos em programa de colocação familiar (família substituta - ECA); IV) recusa da tutela por estranho: pode
recusar se houver parente idôneo no lugar (art. 1737).
Protutor (art. 1742, CC): auxilia o juiz, fiscalizando o tutor – recebe em troca indenização módica. Cotutor (tutela
parcial): tutela é indivisível, mas pode haver delegação parcial na hipótese do art. 1743 (bens complexos, etc).
Incapazes de exercer a tutela (CC, art. 1736 e ECA, art. 29): os que não possuem administração de seus bens; os
que possuem obrigações ou demandas contra o menor; inimigos do menor ou se seus pais, bem como por estes
expressamente excluídos da tutela; condenados por crime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra a família ou
os costumes, tenham ou não cumprido pena (são consideradas pessoas inidôneas); pessoas de mau procedimento,
falhas em probidade e culpadas de abuso em tutorias anteriores; os que exercem função pública incompatível;
ambiente familiar inadequado.
Escusa dos tutores (CC, art. 1736): mulheres casadas (há projeto de lei com vistas a excluir do rol as mulheres
casadas - duvidosa constitucionalidade); maiores de sessenta anos; aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de
três filhos; os impossibilitados por enfermidade; os que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela;
aqueles que já exercerem tutela ou curatela; militares em serviço. Não podem ser obrigados a aceitar a designação os
que não forem parentes do menor e demonstrarem a existência de outras pessoas habilitadas a exercer o múnus.
Deve ser apresentada em 10 dias da designação ou do motivo escusatório, se superveniente – juiz apreciará e contra
decisão desfavorável cabe agravo de instrumento, sem efeito suspensivo.
Incumbências do tutor SEM autorização judicial (CC, art. 1740 e 1747): educação, alimento, adimplir deveres
normais dos pais com oitiva do menor se for maior de 12 anos, representá-lo ou assisti-lo, reclamar ao juiz que
proceda a correções ao menor, receber suas rendas, conservar seus bens e alienar aqueles destinados a venda; COM
autorização judicial: pagar dívidas, aceitar herança, transigir, defesa judicial do menor e venda de bens móveis não
destinados a venda. Nesses casos, o ato é ineficaz até decisão ulterior do juiz. Na venda de imóveis, necessária
prévia avaliação e autorização judiciais e apenas se houver manifesta vantagem, sob pena de nulidade absoluta
(nulidade virtual, pois proíbe a prática sem cominar sanção, art. 166, II, CC). São causas de nulidade absoluta
previstas expressamente (art. 1749): dispor dos bens a título gratuito, adquiri-los para si ou tornar-se concessionário
de direito do menor.
Prestação de contas: são necessários balanços anuais e prestação de contas, sob forma contábil, de dois em dois
anos ou sempre que juiz entender necessário (prestação espontânea ou por meio de ação de prestação de contas).
Omissão ou desaprovação dá azo ao ajuizamento de ação indenizatória pelo Ministério Público ou outro interessado.
Responsabilidade: Juiz (direta na falta de nomeação de tutor e subsidiária na falta de remoção do ímprobo ou da
estipulação de garantia). Tutor (objetiva em relação a atos do menor e subjetiva em relação a atos da tutela). Juiz e
protutor: subjetiva e solidária pelos danos acarretados pelo tutor, em razão do dever de fiscalização (art. 1752). Foi
revogada a hipoteca legal e agora só há caução se o patrimônio do menor for de valor considerável e, ainda assim,
pode ser dispensada se o tutor for reconhecidamente idôneo. Os bens serão entregues mediante prestação de
compromisso e inventário de bens (termo que especifique bens e valores, ainda que os pais tenham dispensado).
Extinção da tutela: maioridade, emancipação , poder familiar (reconhecimento de paternidade, por ex.), fim do
prazo (2 anos prorrogáveis no interesse do menor e tutor), escusa superveniente e remoção (MP é legitimado).
CURATELA: encargo conferido por lei (múnus público) voltado à defesa dos interesses de maior incapaz, em regra
– cabível curatela de nascituro, para menor tomado por doença incapacitante (controvertido ) e para relativamente
incapaz por idade que sofra de incapacidade mental (o tutor apenas assiste o menor e, como não pode o enfermo
participar do ato, faz-se necessária a nomeação de curador , como consigna Carlos Roberto Gonçalves).
Características: a) fim assistencial; b) caráter publicista; c) caráter supletivo (supre a incapacidade, assim como a
tutela); d) temporária; e) sua decretação requer certeza absoluta da incapacidade.
Curatelados (CC, art. 1767) - rol taxativo: os que não tiverem o necessário discernimento, os sem
desenvolvimento mental completo, os toxicômanos, os pródigos e os que não puderem, por causa duradoura,
exprimir sua vontade. Curatela do nascituro (reforça teoria concepcionalista): possível quando o pai for falecido e
a mãe grávida não tiver poder familiar. Se esta for interditada, cabe ao seu curador ser o do nascituro. Curatela do
enfermo ou deficiente físico: estes podem requerer a nomeação de curador para cuidar de todos ou de alguns de
seus negócios, na impossibilidade de fazê-lo. Curatela do pródigo: se limita ao poder de emprestar, transigir, dar
quitação, hipotecar, alienar, demandar ou ser demandado em juízo e aos atos que não sejam mera administração.
Curadores Especiais, com finalidade específica: a) quando testador estipula curador para bens deixados a herdeiro
ou legatário menor; b) a que se dá à herança jacente; c) quando os interesses do filho ou menor e dos pais ou
representantes colidirem; d) réu preso; e) réu revel, citado por edital ou hora certa (CPC, art.9º - curadoria in litem).
Principais distinções entre tutela e curatela: I) curatela atinge, em regra, maiores; II) é sempre deferida pelo juiz
(não pode ser testamentária); III) curatela abrange apenas bens, enquanto tutela visa a resguardar pessoa e bens do
menor; IV) poderes do curador são mais restritos. Apesar das diferenças, as regras da tutela aplicam-se
residualmente à curatela.
REPRESENTAÇÃO ( CC, arts. 115/120): instituto através do qual um indivíduo (representante) pratica atos em
nome de outrem (representado), o que se pode dar em benefício somente do representado ou de ambos, como no
caso do mandato oneroso. A representação legal constitui um múnus público, sendo um poder-dever personalíssimo
sempre no interesse do representado. A representação convencional é manifestação da autonomia da vontade do
interessado. É anulável o negócio celebrado em conflito de interesses com o representado ou o celebrado com o
próprio representante, salvo se o representado ou a lei assim permitir. O prazo pra anulação (decadencial) é de 180
dias.
MANDATO (CC, art. 653/692): contrato através do qual se transfere poderes a outrem para agir em nome do
outorgante quanto a atos e administração de seus interesses. Difere de procuração, instrumento através do qual o
contrato de mandato é celebrado. Difere da representação, que é a investidura concedida ao mandatário.
Natureza jurídica - contrato unilateral, que pode tomar feição de bilateral imperfeito (ex: eventual pagamento de
despesas ao mandatário pelo mandante) – para MHD, bilateral; consensual; comutativo (deveres já previamente
estipulados); não solene (pode ser expresso ou tácito, verbal ou escrito). Seguem a forma exigida para a prática do
ato. Ex: venda de imóvel acima de 30 salários exige instrumento público, logo, mandato deve ser feito por
instrumento público. O STJ não é pacífico em considerá-lo como contrato de consumo (CDC).
Classificação: 1)legal (decorre da lei), judicial (nomeado pelo juiz. Ex: inventário) ou convencional (autonomia da
vontade); 2)oneroso/gratuito; 3)singular/plural (o plural pode ser conjunto [exige atuação de todos no mesmo
ato], solidário [qualquer um representa todos], fracionário [ação de cada um é delimitada] e sucessivo [um só atua
na falta do outro]), 4)expresso/ tácito, 5)verbal/escrito e 6)geral/especial (este é obrigatório para ato que exceda a
administração ordinária, como a atribuição para transigir, hipotecar). O relativamente incapaz por idade pode ser
mandatário (art. 180 c/c art. 666, CC).
Deveres do mandatário: agir com diligência, indenizar qualquer prejuízo (responsabilidade subjetiva), prestar
contas, não pode compensar prejuízo com benefício trazido ao mandante, deve concluir negócio inadiável ainda que
tenha havido morte ou incapacidade de qualquer das partes (também o herdeiro deverá atuar nesse sentido).
Deveres do mandante: satisfazer obrigações contraídas pelo mandatário, pagar sua remuneração e despesas por ele
antecipadas (direito de retenção para garantir esse pagamento). Se o valor da remuneração não for previsto, cabe a
do uso do lugar (operabilidade) ou arbitramento pelo juiz.
Responsabilidade: Em regra, o mandante responde pelo ato, salvo se o mandatário agir em seu próprio nome. Se o
ato exceder o mandato ou inexistir sua previsão, assim como ocorrer um substabelecimento vedado, ele será ineficaz
para o mandante, salvo se este o ratificar (princípio da conservação), o que gera efeitos ex tunc. Sem ratificação, o
mandatário é gestor de negócios. Se o ato não exceder, mas violar instrução do mandante, é eficaz para o mandante,
mas o mandatário deve pagar perdas e danos. No substabelecimento, se este for vedado, responde o substalecente
ainda que haja força maior, salvo se provar que o dano ocorreria ainda assim; se for permitido, responde o
substabelecente só por culpa na escolha; se o mandato for omisso, a responsabilidade do substabelecente é objetiva
indireta (pois deve o substabelecido agir com culpa, ainda que não haja culpa por parte do substabelecente na
escolha). Substabelecimento pode ocorrer por qualquer forma, salvo se o ato a ser praticado exigir uma forma
específica, como no caso da venda de imóvel acima de 30 SM. Obs: quem celebra com mandatário sabendo da
limitação de poder, não tem ação contra ninguém, salvo se este prometeu ratificação (ninguém pode se beneficiar da
própria torpeza).
Extinção: revogação ou renúncia (são feitas de forma unilateral, pelo mandante e mandatário respectivamente);
morte ou interdição (é contrato personalíssimo, mas não se extingue para esta causa se for contrato em causa
própria) – enquanto mandatário não estiver ciente, são válidos os atos; mudança de estado; término do prazo ou
conclusão do negócio.
Irrevogabilidade: se houver esta cláusula, cabem perdas e danos; se for mandato em causa própria, negócio já
concluído ou cláusula no exclusivo interesse do mandatário, será ineficaz a revogação. Pode a revogação ser tácita
com nomeação de outro mandatário. Obs: o terceiro ou qualquer das partes não é prejudicado por mudanças
ocorridas sem sua ciência (morte, incapacidade).
GESTÃO DE NEGÓCIOS (CC, art. 861/875): ato unilateral ou quase contrato (Tartuce), em que não se vislumbra,
inicialmente, pluralidade de vontades - o gestor age no interesse de um terceiro sem sua autorização e sem previsão
de qualquer remuneração (ato benévolo).
Responsabilidade do gestor de negócios: o gestor deve agir conforme vontade presumível do dono do negócio, sob
pena de responsabilidade subjetiva. Se agir contra vontade manifesta ou presumível do dono do negócio, a
responsabilidade é objetiva e responde até mesmo por força maior, salvo se provar que o dano ocorreria mesmo sem
sua atuação. Responde por caso fortuito quando fizer operações arriscadas, ainda que o dono costumasse fazê-las, ou
quando preterir interesse deste em proveito de interesses seus. Se os prejuízos excederem os benefícios, pode o
dono do negócio exigir restituição do status quo ante ou indenização pela diferença. A responsabilidade do gestor
por terceiro é objetiva. Se o dono do negócio concordar com a gestão, ratifica os atos ( eficácia ex tunc), com o
ressarcimento de todas as despesas efetuadas pelo gestor (transmuda-se para contrato de mandato); se discordar,
cabem perdas e danos. No caso de alimentos, o dono do negócio deve ressarcir o gestor ainda que ele não ratifique
os atos.
ITEM 3.C: Do condomínio e da empreitada.
Obras consultadas: AMARAL, Francisco Amaral. Direito civil: introdução. 5ª edição. Rio de Janeiro: Renovar,
2003; CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito civil: questões fundamentais e controvérsias na parte geral, no
direito de família e no direito das sucessões. 4ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010; GONÇALVES, Carlos Roberto.
Direito civil brasileiro. Volume VI, 2ª ed. Ver. E atual. – São Paulo: Saraiva, 2006; PEREIRA, Caio Mário da Silva.
Instituições de direito civil. Volume V, 17ª ed., ver. E atual. Por Tânia da Silva Pereira. Rio de Janeiro: Forense,
2009; TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método,
2011; VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: contratos em espécie. São Paulo: Atlas, 2005.
CONDOMÍNIO (CC, art. 1314/1358): ocorre quando há mais de um proprietário sobre uma mesma coisa,
atribuindo-se a cada condômino uma parte ideal. O condômino, perante terceiros, detém os atributos inerentes à
propriedade como um todo (alienar, usar, gozar, dispor, perseguir), independente de sua cota, mas em relação aos
demais condôminos, o seu direito é limitado.
Natureza jurídica: para a maioria da jurisprudência, é ente despersonalizado com capacidade processual. Para
Gustavo Tepedino e para Frederico Henrique Lima é pessoa jurídica, pois isso decorre das necessidades econômicas
atuais, pelo fato de os condomínios se apresentarem com características de associações (grandes piscinas, vasta área
recreativa) e por ser necessário lhes reconhecer oportunidade de adquirir imóveis através da adjudicação de imóveis
de inadimplentes. Enunciado 90 do CJF: deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício nas
relações inerentes às atividades de seus interesses. (redação alterada pelo Enunciado nº 246).
Classificação: o condomínio pode ser voluntário, eventual (imposto sem manifestação de vontade das partes. Ex:
legado) ou necessário (determinado por lei ou pela indivisibilidade do bem. Ex: muro que separa 2 casas). Pode ser
universal (compreende todo o bem) ou particular (compreende determinada coisa ou seus efeitos). Ainda pode ser
pro diviso (suscetível de divisão física. Ex: apartamento em relação ao prédio) ou pro indiviso (insuscetível de
divisão corpórea - fração ideal). Obs: STJ entende que o cônjuge pode cobrar aluguel do outro que ficou com a
posse exclusiva do imóvel antes da partilha. O STJ entende que não pode haver ação possessória entre condôminos,
pois todos exercem sua posse de forma indistinta sobre o bem. Para o STJ, não há que se falar em relação de
consumo no condomínio.
Indivisão: o condômino a qualquer tempo pode requerer a divisão da coisa, amigavelmente ou por ação de divisão.
Podem os condôminos estipular indivisibilidade por até 5 anos, mas o juiz pode permitir a divisão antes desse prazo
por razões graves. Na venda, há o direito de preempção: havendo empate do preço do condômino em relação a
estranho, vence o condomínio; entre condôminos, vence o que fez mais benfeitorias ou o de maior cota,
sucessivamente.
Condomínio edilício: se caracteriza pela existência de partes comuns (não podem ser vendidas. Ex: hall de entrada)
ao lado de partes exclusivas (podem ser vendidas e não há direito de preempção. Ex: apto). No condomínio geral,
qualquer parte do bem pode ser vendida (sempre com direito de preempção), salvo cláusula de indivisibilidade por
até 5 anos (que impede a divisão do bem neste período). Se o bem for indivisível, inexistir cláusula de
indivisibilidade, e os demais condôminos se opuserem à venda de parcela dele, cabe ao alienante entrar com ação de
divisão para a respectiva alienação judicial do bem com distribuição das cotas de cada um. Convenção de
condomínio: pode ser feita ou por escritura pública ou instrumento particular. S. 260 do STJ: A convenção de
condomínio aprovada, ainda que sem registro, é eficaz para regular as relações entre os condôminos. Para gerar
efeitos para terceiro, deve ser registrada. Os promitentes compradores e cessionários equiparam-se aos proprietários
e também devem observá-la. Direitos dos condôminos: usar, fruir e dispor das partes exclusivas; usar as comuns;
votar se estiver quite (o STJ entende que viola a dignidade humana impedir o uso de área comum pelo
inadimplente). Deveres: contribuir, não realizar obras que comprometam a segurança e sossego, não alterar a
fachada. Pode haver cobrança de multa de 5 vezes a contribuição por ato grave de condômino (antissocial).
Enunciado 91 do CJF: pode a convenção ou assembleia vedar locação de vaga de garagem a estranho. As despesas
condominiais são propter rem. Síndico - atribuições: convocar assembleia, diligenciar a conservação dos bens,
cobrar taxa, elaborar orçamento, prestar contas e fazer seguro do edifício. Assembleia: ordinária (aprovar orçamento
e taxa; analisar prestação de contas; eleger síndico) e extraordinária (tema relevante e urgente). Convocação: síndico
ou ¼ dos condôminos.
Extinção do condomínio: pode-se dar por destruição, reconstrução ou desapropriação.
EMPREITADA: forma especial de prestação de serviço por meio da qual alguém (empreiteiro) se compromete a
realizar obra, mediante remuneração, a favor de outrem (dono da obra). Não se confunde com prestação de serviço,
pois esta é personalíssima, enquanto na empreitada é possível a subempreitada.
Classificação e responsabilidade: pode ser empreitada sob administração (empreiteiro só administra a obra:
obrigação de meio), de mão-de-obra (empreiteiro fornece a mão-de-obra, mas não o material: obrigação de meio -
responsabilidade subjetiva) ou mista (empreiteiro fornece mão-de-obra e material – obrigação de resultado -
responsabilidade objetiva). Se o contrato for regido pelo CDC, pode haver responsabilidade objetiva se for pessoa
jurídica ou subjetiva se for profissional. Se o empreiteiro inutilizar os bens com culpa deve indenizar. Se a coisa
perecer antes da entrega, o empreiteiro não recebe o preço da obra.
Natureza jurídica: contrato sinalagmático, consensual, informal, oneroso e comutativo.
Garantia: o prazo é de 5 anos pela solidez da obra e o dono tem 180 dias para ajuizar ação contra o empreiteiro
(ambos prazos decadenciais). O enunciado 181 do CJF reza que além destes prazos há o prazo de 3 anos do CC e
de 5 anos de CDC para ação de reparação de danos para o dono da obra prejudicado . O dono pode rejeitar a obra
se o empreiteiro se afastou de suas instruções; pode requerer abatimento do preço, caso o serviço não tenha sido
prestado a contento.
Preço: aumento no custo da obra não implica aumento no preço, salvo se o dono visitava a obra e nunca protestou
(teoria da quebra da base objetiva do negócio- Karl Larenz).
Suspensão da obra: por culpa do dono (com pagamento de indenização e despesas já feitas ao empreiteiro); por
força maior; por dificuldades imprevisíveis que acarretem onerosidade excessiva sem complemento do preço; por
modificações vultosas no projeto por pedido do dono ainda que este arque com o valor do acréscimo.
ITEM 4.A: Dos bens. Registro Público.
Obras consultadas: Flávio Tartuce. Manual de Direito Civil: volume único. 2ª Edição. Ed. Método; Luiz
Guilherme Loureiro. Curso Completo de Direito Civil. 3ª Edição. Ed. Método.
Legislação básica: Lei n.º 10.406/02 – Novo Código Civil; art. 236, da Constituição Federal de 1988; Lei n. 6.15/73
- Lei de Registros Públicos..
1. Noções Gerais. Bem é o interesse juridicamente tutelado pela norma. O novo CC acabou com essa celeuma
jurídica e passou a utilizar a terminologia única de BENS. Os bens não patrimoniais já foram estudados no capítulo
de direitos da personalidade; no capítulo de bens, são tratados os patrimoniais. Para Pablo Stolze, ao conceito de
COISA fica restrito o conceito relacionado à MATERIALIDADE, sendo que BEM tem conceito mais amplo,
de relação jurídica. Para Flávio Tartuce, coisa constitui gênero, e bem a espécie – coisa que proporciona ao homem
uma utilidade, sendo suscetível de apropriação. PATRIMÔNIO é o conjunto de direito subjetivos sobre coisas
com valor pecuniário. O patrimônio constitui uma universalidade e é indivisível. Não se admite pluralidade de
patrimônios na mesma pessoa, já que se fosse facultado ao sujeito, a seu critério, separar bens do seu patrimônio e
com eles formar patrimônios separados, estes poderiam ser ocultados dos seus credores, facilitando as fraudes contra
credores e à execução. Destaque-se que doutrina mais nova tem admitido a expressão patrimônio de maneira
adjetiva: patrimônio jurídico, que é mais ampla em relação à gama de relações jurídicas tuteladas pelo direito.
2. Classificação dos bens. 1) Bens considerados em si mesmos: a) corpóreos (possuem existência corpórea) e
incorpóreos (existência abstrata). b) Bens móveis por natureza (podem ser transportados sem qualquer dano, por
força própria ou alheia), por antecipação (eram imóveis, mas foram mobilizados por uma atividade humana) e por
determinação legal (é a lei que determina que o bem é móvel) e imóveis por natureza (o solo e tudo que se lhe
incorporar de forma natural), por acessão física ou industrial (tudo que o homem incorporar ao solo, não podendo
removê-lo sem sua destruição), ou por acessão intelectual (empregados intencionalmente para exploração industrial,
aformoseamento e comodidade) e por definição legal (direitos reais e a sucessão aberta). Bens fungíveis (os que
podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade) e infungíveis (não podem ser
substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade). Bens consumíveis (seu consumo implica
destruição imediata e aqueles destinados à alienação) e inconsumíveis (proporcionam reiteradas utilizações sem que
se retire sua utilidade). Bens divisíveis (podem se partir em porções reais e distintas, formando cada qual um todo
ideal e perfeito) e indivisíveis (se partidos, deixam de formar um todo perfeito, desvalorizando-se ou perdendo as
qualidades essenciais do todo), que podem ser fisicamente indivisíveis e juridicamente indivisíveis. Bens singulares
(os que, embora reunidos, podem ser considerados de per si, independentemente dos demais) e coletivos (várias
coisas singulares, consideradas em conjunto e formando um todo individualizado), que considerados em sua
coletividade, são as universalidades, de fato (bens singulares, corpóreos e homogêneos, ligados entre si pela vontade
humana e que tenham utilização unitária ou homogênea, sendo possível que tais bens sejam objeto de relações
jurídicas próprias) ou de direito (bens singulares, tangíveis ou não, a que uma ficção legal, com o intuito de produzir
certos efeitos, dá unidade individualizada). 2) Bens reciprocamente considerados: Bens principais (existem de
maneira autônoma e independente, de forma concreta ou abstrata) e acessórios (sua existência e finalidade depende
de um outro bem, o principal). Espécies de bens acessórios FRUTOS, que, quanto à origem, podem ser naturais,
industriais e civis (utilidades que o bem principal produz de tempos em tempos, sem perder a sua substância), e
quanto ao estado em que se encontrem podem ser pendentes (ligados à coisa principal, ainda não foram colhidos),
percebidos (separados do principal), percipiendos (deveriam, mas não foram colhidos) e consumidos (foram
colhidos e não existem mais). PRODUTOS (saem da coisa principal, diminuindo sua quantidade e substância).
PERTENÇAS (destinados a servir a um outro bem principal, por vontade ou trabalho intelectual do proprietário).
PARTES INTEGRANTES (acessórios que estão unidos ao principal, formando com este um todo independente).
BENFEITORIAS (acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel, visando a sua conservação ou melhora da
sua utilidade), que podem ser necessárias, úteis ou voluptuárias. 3. Bens em relação ao seu titular. públicos (de
uso comum, especial e dominical) ou particulares (pertencentes aos particulares).
3. REGISTROS PÚBLICOS – Registro público é a denominação genérica dada a todo serviço concernente aos
registros instituídos por lei, para autenticidade, segurança, validade e publicidade dos atos jurídicos ou contratos.
Pode ser de natureza civil ou comercial. Compete privativamente à União legislar sobre registros públicos (art. 22,
XXV), sendo gratuito para os reconhecidamente pobres, na forma da lei, o registro civil de nascimento e a certidão
de óbito (art. 5º, LXXVI). A delegação do serviço de registro e notarial (Art. 236, CF/88) é um ato administrativo
complexo, irrevogável desde o ato perfeito e acabado da outorga, só podendo ser cassado nas hipóteses legais,
obedecido o devido processo legal. O registrador e o notário não são servidores da administração direta, mas
ocupem cargos públicos, conforme definiu o Pleno do STF. Ler artigos 9 (registro) e 10 (averbação) do CC Lei de
Registros Públicos (Lei n.º 6.015, de 31/12/1973): algumas disposições gerais. Espécies: o registro civil de pessoas
naturais; o registro civil de pessoas jurídicas; o registro de títulos e documentos; o registro de imóveis. Os Registros
Públicos têm em mira constituir formalidades, essenciais ou não para a validade do ato em si mesmo, ou apenas para
sua eficácia perante terceiros (erga omnes). Esquematicamente, podemos dizer que a formalidade do registro pode
ser: formalidade essencial (eficácia inter partes); formalidade para mera oponibilidade perante terceiros (eficácia
erga omnes); formalidade cautelar (autenticidade, segurança). As anotações e as averbações obrigatórias, entretanto,
serão efetivadas ex officio, se não houverem sido requeridas. Registro de Imóveis. No direito brasileiro, não basta o
contrato para a transferência ou aquisição do domínio. O domínio só se transfere pela tradição, se for coisa móvel
(art. 1.267) e pelo registro do título translativo, se for coisa imóvel (art. 1.245). Princípios que regem o Registro de
Imóveis. Publicidade; força probante (fé pública) ou presunção; princípio da legalidade; princípio da territorialidade,
princípio da continuidade (pelo qual somente se admite o registro de um título se a pessoa que nele aparece como
alienante é a mesma que figura como o seu proprietário); princípio da prioridade (que protege quem primeiro
registra seu título); princípio da especialidade, previsto no art. 225 da LRP, que exige a minuciosa individualização,
no título, do bem a ser registrado, princípio da inscrição, cuja idéia central é a de que a constituição, transmissão e
desconstituição dos direitos reais sobre imóveis por atos inter vivos só se operam com a publicidade no registro
imobiliário, o princípio da instância, que não permite que o oficial proceda a registros de ofício, mas somente a
requerimento do interessado, ainda que verbal (LRP, art. 13). A dúvida é pedido de natureza administrativa,
suscitado pelo oficial, a requerimento do apresentante de título imobiliário, para que o juiz decida sobre a
legitimidade de exigência feita como condição de registro pretendido.- Matrícula, registro e averbação. A atual LRP,
pretendendo melhor individualizar os imóveis, instituiu a matrícula, exigindo a sua realização antes do registro,
quando o imóvel sofrer a primeira alteração na titularidade após a sua vigência (arts. 176, § 1º, e 228). O registro
sucede à matrícula e é o ato que efetivamente acarreta a transferência da propriedade. O número inicial da matrícula
é mantido, mas os subsequentes registros receberão numerações diferentes, em ordem cronológica, vinculados ao
número da matrícula-base. A averbação é qualquer anotação feita à margem de um registro, para indicar as
alterações ocorridas no imóvel.
ITEM 4.B: Da fiança, do depósito e da corretagem.
Obras consultadas: DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 12ª ed., 2006;
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 7. 5.ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2011.
Trata-se de contrato celebrado entre uma parte (fiador) que se obriga a outra (credor) em razão de dívida de um
terceiro (afiançado) a partir de seu patrimônio pessoal, constituindo-se, assim, uma garantia fidejussória ou pessoal.
Na fiança há a responsabilidade (haftung) sem o débito ou dívida (schuld). É um contrato unilateral (só o fiador tem
deveres), gratuito (em regra), comutativo, formal (só escrito), não solene (prescinde de escritura pública) e acessório
(obedece à regra da gravitação jurídica: acessório segue o princ.). Na fiança por tempo indeterminado, o fiador pode
se exonerar a qualquer tempo, mas fica obrigado nos 60 dias seguintes. Prorrogada a locação, a partir da Lei
12112/09, a fiança segue automática, mas, se for por tempo indeterminado, o fiador pode se exonerar notificando o
credor, contudo, ainda se obriga nos 120 dias seguintes.
Fiança x aval: a fiança é contrato acessório, ao passo o aval é relação jurídica autônoma/a ; na fiança, em regra, há
benefício de ordem, no aval sempre há solidariedade.
2. Regras da fiança.
De acordo com Carlos Roberto Gonçalves, e à luz do artigo 821 do CC, afiança pode abarcar dívidas futuras, mas o
fiador só pode ser demandado quando ela se tornar certa e líquida. Em regra, é total (abarca juros, multa), mas pode
ser menos onerosa e por valor menor da obrigação principal. Quando esta for nula, isto repercute na fiança, salvo se
a nulidade resultar de incapacidade pessoal (se for mútuo feito a menor, a fiança ainda é válida). O fiador pode ser
rejeitado se for inidôneo, se não residir no município em que prestada a fiança, ou não tiver bens livres. A sua não
substituição causa vencimento antecipado da dívida. Há três exceções ao benefício de ordem: 1) renúncia expressa;
2) se o fiador se obrigou solidariamente pela dívida; 3) se o devedor for insolvente ou falido.
Vale mencionar a esse propósito o enunciado 364 do CJF: no contrato de fiança é nula a cláusula de renúncia
antecipada ao benefício de ordem quando inserida em contrato de adesão.
Entre fiador e devedor, a regra é a subsidiariedade (benefício de ordem).
Entre os fiadores, a regra é a solidariedade. Aquele que paga a dívida se sub-roga nos direitos do credor, mas só
pode cobrar a cota de cada fiador. A extinção da fiança pode se dar: a) com a morte do fiador (contrato
personalíssimo), mas os herdeiros respondem nos limites da herança pelas obrigações vencidas até o dia da morte;
b) alegação de exceções (nulidade, incapacidade, compensação, prescrição); c) se por ato do credor não for possível
ao fiador se sub-rogar em seus direitos; d) se ocorrer dação em pagamento; e) se o fiador apontar bens livres do
devedor e por culpa do credor não puder ser executado; f) por distrato (amigável).
3. Casuística.
Corretagem
Trata-se de negócio jurídico pelo qual uma das partes (corretor) se obriga a concluir um ou mais negócios em
benefício de outrem (comitente) sem qualquer relação de dependência, mas observadas as instruções deste. A
corretagem é bilateral (sinalagmático), oneroso, consensual, acessório (depende da realização de outro), aleatório
(com riscos) e informal (prescinde até de forma escrita).
Da comissão: o art. 725 do CC dispõe que o corretor receberá sua comissão ainda que haja desistência posterior das
partes. O STJ tem julgado que indica que a comissão, nesses casos, seria indevida. (Resp 753566/RJ). O STJ reza
que o corretor tem direito a receber a comissão por intermediações por ele realizadas, mas só firmadas pelas partes
após o fim do contrato de corretagem. Pode haver cláusula de corretagem exclusiva, hipótese em que, mesmo que o
contrato seja celebrado de forma direta entre as partes, o corretor receberá sua comissão. Pode haver corretagem
conjunta e a comissão será paga em partes iguais, salvo disposição em contrário.
2. Casuística
Depósito
Trata-se de negócio por meio do qual uma parte (depositário) se obriga a guardar um bem de outrem (depositante)
de forma voluntária ou obrigatória/necessária (por imposição legal ou por calamidade pública). Se o bem objeto do
depósito for infungível, diz-se regular; se fungível, diz-se irregular (aplicando-se as regras do mútuo). É um contrato
unilateral e gratuito (em regra, pois também há depósito oneroso e bilateral), comutativo (de antemão as partes
sabem seus deveres e prestações – não há álea), personalíssimo, real (aperfeiçoa-se com a entrega do bem e não com
a celebração da avença) e informal (a lei não exige forma escrita, mas a sua prova deve se dar somente de forma
escrita). O depósito não se confunde com o comodato, pois neste o bem pode seu usado pelo comodatário.
2. Espécies
Depósito voluntário: é o contrato em que o depositário recebe um objeto móvel, para guardar, até que o depositante
o reclame. Se a coisa for depositada em nome de terceiro, não pode o depositário restituir a coisa ao depositante sem
sua anuência (do 3º). Deve o depositário devolver a coisa assim que o depositante requerer, salvo: direito de
retenção dos valores devidos ao depositário (perdas e danos, despesas); se a coisa for embargada judicialmente ou
sobre ela pender execução, e, ainda, se houver motivo razoável de que a coisa foi dolosamente obtida. Pode haver
mais de um depositário e, nesse caso, presume-se que a divisão foi igualitária (concursu partes fiuntu). Se o
depositário, devidamente autorizado, confiar a coisa em depósito a terceiro, será responsável se agiu com culpa na
escolha deste.
A teor do 646 do CC, o depósito voluntário provar-se-á por escrito, portanto, é contrato formal.
Extinção: pode se dar por resolução voluntária (o bem foi entregue lacrado e o depositário violou o sigilo, o
depositário usou ou vendeu o bem sem consentimento do depositante), por compensação em relação a depósito
anterior, com a morte (é personalíssimo, devendo os herdeiros restituir o bem), por incapacidade superveniente (é
uma resolução involuntária, logo, não gera perdas e danos). Ainda: o depositário não responde por caso fortuito e
força maior.
Depósito necessário: para Maria Helena Diniz, este é o depósito realizado diante de fatos imprevistos e irremovíveis
que levam a pessoa a entregar o bem a um desconhecido pra evitar sua ruína.
Pode ser classificado: legal (realizado no desempenho de obrigação decorrente de lei); miserável (efetuado em
razão de calamidades); hospedeiro (é aquele que incide sobre as malas dos hóspedes. O hoteleiro tem
responsabilidade objetiva por atos de seus prepostos).
2. Casuística.
Alienação Fiduciária em Garantia. Histórico: Nos primórdios da civilização ocidental, autorizados pela Lei das
XII Tábuas, detinham os credores da sociedade romana o direito de matar e apoderar-se do cadáver do devedor que
não cumprisse com a obrigação devida, de forma que o devedor romano respondia com sua vida e liberdade pelos
seus débitos. Importante que se diga que somente foi alterado esse costume a partir do alastramento da doutrina
cristã e das mudanças oriundas do aparecimento do Estado Moderno, quando se transferiu o ônus pelo não
adimplemento da dívida do corpo do devedor para o seu patrimônio material, sendo então facultado ao credor
apoderar-se dos bens de propriedade do devedor assim que não pagas fossem as suas obrigações.
Eis então que, diante da impossibilidade da coerção corpórea, viu-se o credor em situação de grande vulnerabilidade
frente às não raras manobras protagonizadas pelo devedor para que não pagas fossem as suas obrigações. Diante de
tal panorama e devido à incidência reiterada de fraudes e simulações que denegriam a credibilidade das operações
creditícias, criou-se, para a proteção do crédito, duas espécies de garantia, quais sejam, a garantia pessoal ou
fidejussória e a garantia real ou material.
Na primeira um terceiro se comprometia a pagar o valor devido, caso o devedor principal não o fizesse; na segunda,
o próprio devedor empenhava parte de seu patrimônio e o entregava ao credor a fim de assegurar o adimplemento da
obrigação contraída, lhe restando o direito de reaver a coisa assim que adimplida fosse a sua obrigação.
O surgimento da fiducia no direito romano. Como perfeito exemplo de garantia real, temos a fiducia cum
creditore, instituto criado no direito romano pelo qual o credor recebia do devedor a propriedade e a posse de um
bem fungível, a fim de que garantido fosse o cumprimento de uma obrigação principal, lhe restando o dever de
restituí-lo tão logo fosse adimplida a obrigação pelo devedor.
De forma e procedimento semelhantes observa-se também no ordenamento jurídico romano a presença do fiducia
cum amico, que nada mais era que um contrato de confiança em que o fiduciante alienava seus bens a quem
confiasse, para que estes ficassem guardados, como em um depósito, até que cessadas fossem as circunstâncias que
ensejaram o receio do proprietário pela perda ou extravio dos bens, como por exemplo, em caso de guerras, viagens,
etc.
No entanto, grande inconveniente se fazia presente nestes dois procedimentos, posto que nestes casos eram os
alienantes que se viam sob grande vulnerabilidade. Em ambas as situações, não dispunha o alienante de remédio
jurídico hábil a fazer com que o credor restitua a coisa alienada quando adimplida a sua obrigação, sendo que o
único recurso a que podia o alienante socorrer-se era a actio fiduciae8, que ainda assim não podia impor que o
fiduciário restituísse a res alienada.
Anos mais tarde, observou-se no ordenamento jurídico germânico uma grande evolução ao instituto de garantia real
romano, ao possibilitar que o alienante se valesse de uma ação de natureza real que possibilitava que fosse o
fiduciário alemão despojado do bem se não agisse conforme o pactuado. Assim, poderia o alienante obrigar o
fiduciário a entregar a coisa alienada em garantia assim que quitada fosse a dívida assegurada.
Ainda, prevendo a possibilidade de ocorrência de ardil por parte do fiduciário, previu o legislador alemão a
possibilidade do que hoje se entende por direito de seqüela, ou seja, poderia o alienante reivindicar a coisa alienada,
mesmo que na posse de terceiros, de forma que, ainda que viesse o fiduciário a se desfazer da coisa, poderia o
alienante exercer seu direito sobre ela.
O surgimento do Trust Receipt. A partir da Revolução Industrial e do desenvolvimento do capitalismo financeiro,
tornaram-se as formas de garantia existentes à época, tais quais o penhor, a hipoteca e a anticrese, inadequadas
frente à nova sociedade que se formava, posto que a morosidade inerentes a elas obstavam a eficácia destas
modalidades frente ao ritmo acelerado que se imprimiu na circulação das riquezas.
Observou-se então, na Inglaterra e nos demais países cujo direito se baseia no sistema do common law, o surgimento
do trust receipt, instituto que nada mais é do que uma evolução do fiducia cum creditore romano e do negócio
fiduciário germânico, de forma e objetivo muito semelhantes e cuja principal distinção reside no fato de que, neste,
os bens alienados fiduciariamente não se transferem da propriedade nem da posse do fiduciante ao fiduciário, ou
seja, não passam a integrar o patrimônio ativo do credor.
No trust receipt, os bens alienados em garantia são meramente afetados por restrição quanto à sua disposição, de
maneira que ao devedor é defeso dele se desfazer, a fim de que possam efetivamente responder pelo inadimplemento
de suas obrigações, sem, no entanto, lhe desapossar do bem dado em garantia. Em sendo inadimplidas as obrigações
garantidas pela alienação fiduciária, aí sim se transfere a propriedade do bem ao fiduciário credor.
8Tratava-se a actio fiduciae de uma ação de cunho pessoal contra o credor, na hipótese de o mesmo deixar de restituir a coisa ou
não lhe dar a destinação contratada. Assim, em tendo o credor vendido a coisa a terceiro, poderia o devedor, ao invés do
desfazimento do negócio, obter indenização pelo não cumprimento do pacto de restituição da coisa.
O negócio fiduciário no direito positivo brasileiro. Foi então, nos moldes do trust receipt, introduzido o negócio
fiduciário no ordenamento jurídico brasileiro, a partir do advento da Lei de Mercados Capitais (Lei nº 4.728 de
1965, artigo 66), assumindo a expressão Alienação Fiduciária em Garantia como seu designador.
Propriedade fiduciária: é direito real de garantia sobre bens móveis ou imóveis, através do qual o devedor
transfere ao credor fiduciário a propriedade resolúvel9 do bem (tempo determinado), de modo que, quitada a
obrigação, extingue-se a propriedade. O credor fiduciário será proprietário resolúvel e possuidor indireto,
independentemente da tradição, efetiva do bem, tornando-se o alienante ou devedor possuidor direto e depositário
com todas as responsabilidades e encargos que lhe incumbem de acordo com a lei civil e penal. São institutos
distintos: alienação fiduciária (contrato que institui a garantia) e propriedade fiduciária (a garantia real instituída).
Inicialmente, é importante ressaltar que o contrato de alienação fiduciária em garantia, encontra-se regulamentado,
sobretudo, pelo Decreto-Lei n. 911 de 1º de outubro de 1969, sendo, portanto, este diploma legal de existência
anterior à Constituição Federal de 1988. Neste sentido, surgem, algumas indagações acerca de sua recepção pelo
ordenamento constitucional em vigor. Até porque a Constituição estabeleceu a proteção ao consumidor de maneira
absoluta, como Princípio orientador da própria ordem econômica do país.
O Código de Defesa do Consumidor consagra princípios, pressupondo o consumidor como a parte mais frágil, da
relação de consumo mantida com o fornecedor. Já o Decreto-Lei 911/69, tem suas disposições espelhadas em um
certo momento político de exceção no Brasil, marcado pela edição do denominado Ato Institucional n. 5, que
suprimia vários direitos constitucionais inerentes ao exercício regular da cidadania.
O Decreto- Lei n. 911/69, em seu art. 1o , modificando o artigo 66 da Lei n. 4.728/65, estabelece a seguinte
configuração jurídica para a alienação fiduciária em garantia:
"A alienação fiduciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse indireta da coisa móvel
alienada, independentemente da tradição, efetiva do bem, tornando-se o alienante ou devedor em possuidor direto e
depositário com todas as responsabilidades e encargos que lhe incumbem de acordo com a lei civil e penal."
9 A propriedade resolúvel, a rigor, é a que está sujeita a extinção por causa superveniente, inclusive em virtude do
implemento de condição resolutiva, ou do advento de termo final. Na propriedade resolúvel há um proprietário atual e um
proprietário diferido, ou um futuro proprietário, com direito eventual à propriedade da coisa. Com direito expectativo, nas
palavras do alagoano Pontes de Miranda. No direito pátrio a extinção da propriedade resolúvel pode ocorrer em virtude: a) da
ocorrência de fato já previsto no contrato – art. 1.359, CC; b) ou da ocorrência de fato superveniente não previsto no contrato
(título constitutivo) – art. 1.360, CC. Na primeira hipótese – art. 1.359, CC – o próprio título constitutivo (contrato) prevê a causa
da extinção do direito de propriedade: o implemento de condição resolutiva, ou a expiração de prazo (termo final). É o caso, por
exemplo, dos pactos de retrovenda (art. 505), da doação com cláusula de reversão (art. 547), do fideicomisso (art. 1.951), da
propriedade do credor na alienação fiduciária (Decreto-Lei 911/69), dentre outros. Nessa hipótese, a decisão que decreta a
extinção do direito de propriedade produz efeitos ex-tunc (retroage; produz efeitos desde a data da ocorrência do fato causador
da extinção da propriedade resolúvel).
Na segunda hipótese – art. 1.360, CC – a extinção do direito de propriedade se dá por fato alheio ao título
constitutivo, ou seja, de fato não previsto no contrato. É o que corre, por exemplo, no caso de desfazimento da venda feita por
condômino sem dar preferência aos demais condôminos (art.504, CC) e na revogação de doação por ingratidão (art. 555, CC).
Aqui a decisão que decreta a perda da propriedade produz efeitos ex-nunc (não retroage; não produz efeitos no passado). E por
se referir a fato não previsto no contrato, o terceiro, adquirente de boa-fé, tem seu direito de propriedade preservado, cabendo
ao alienante (aquele em cujo benefício houve a resolução), tão somente haver perdas e danos contra o adquirente (aquele cuja
propriedade se resolveu – não é o terceiro de boa-fé). A ação visando à retomada da coisa – ação reivindicatória – só tem lugar
se esta (a coisa) ainda estiver na posse do adquirente (proprietário resolúvel).
Características: a) o credor fiduciário pode ser PF ou PJ; b) desdobramento da posse (há constituto possessório10);
c) tradição brevi manu11 após o pagamento; d) resolubilidade da propriedade fiduciária; e) gera patrimônio de
afetação12 (juridicamente diferenciado em relação aos bens do titular, pois não responde pelas dívidas do credor
fiduciário); f) proibição do pacto comissório13 (MHD afirma na edição 2010 do CC anotado que a cláusula é
inválida em razão do art. 1365); g) sub-rogação do terceiro que paga o crédito (fugindo da regra geral do art. 304 do
CC, pouco importa se é interessado ou não).
Regime legal: O CC trata da propriedade fiduciária de bens móveis infungíveis em termos gerais.
O Código consolidou várias disposições do DL 911/69, e dispôs que demais espécies de propriedade fiduciária estão
submetidas à disciplina das leis especiais, somente se aplicando as suas disposições naquilo que não for
incompatível. Bens móveis: aplica-se o Código Civil, a Lei 4.728/65 (art. 66-B, que regula a alienação fiduciária de
bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais ou em garantia de créditos fiscais e previdenciários) e o
decreto-lei 911/69 (que, alterado pela lei 10.931/04, subsiste em relação à disciplina processual). A lei 10.931/04
também permitiu a alienação fiduciária de bem móvel fungível. Bens imóveis: Lei 9.514/97.
10 O constituto possessório é meio de aquisição fictícia da posse. Fictícia porque prescinde de apreensão física da coisa.
Assim ocorre quando o comprador já deixa a coisa comprada em poder do vendedor, seja em comodato (empréstimo de coisa
infungível), seja em locação, por exemplo.
Ou seja, de fato, o adquirente não chega nem mesmo a receber a coisa, mas, mesmo assim, adquire posse sobre ela.
Evita-se, desse modo, a necessidade de entrega da coisa pelo vendedor e, ato contínuo, de devolução por ato do adquirente.
O vendedor que até então tinha posse plena (direta e indireta), passa a ter apenas posse direta (“detenção” física),
enquanto o comprador, posse indireta (título de possuidor); no caso, a transmissão da posse se deu por força de contrato; não
em virtude de apreensão física.
Uma vez presente a cláusula constituti, o adquirente, aquele que passa a ter posse indireta sobre a coisa, poderá
manejar os interditos possessórios (ação de reintegração de posse, por exemplo, diante de eventual esbulho). Por se tratar de
modo excepcional de aquisição de posse, tal cláusula não se presume. Ela deve vir expressa ou resultar do conteúdo do
contrato, como no caso de haver cláusula prevendo a conservação da posse pelo vendedor, a título de aluguel.
No Código Civil, o instituto do constituto possessório está expressamente previsto na seção relativa à tradição – modo
de aquisição da propriedade móvel. Enquanto o caput do art. 1.267 estabelece que a propriedade das coisas não se transfere
pelos negócios jurídicos antes da tradição, seu parágrafo único, primeira parte, assim se expressa: “Subentende-se a tradição
quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório;...”.
Nem por isso a inserção da cláusula constituti nos contratos que envolvam bens imóveis se mostra impossível, até
porque inexiste proibição a respeito. Pelo cabimento, o Enunciado n° 77 do Conselho da justiça Federal (aprovado nas Jornadas
de Direito Civil de 2002): “A posse das coisas móveis e imóveis também pode ser transmitida pelo constituto possessório.”
Assim também o Superior Tribunal de Justiça. Para ilustrar, o REsp n° 143707-RJ, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira:
“Civil. Posse. Constituto possessório. Aquisição fictícia (CC, art.494-IV). Reintegração de posse. Cabimento. Comodato verbal.
Notificação. Escoamento do prazo. Esbulho. Aluguel, taxas e impostos sobre o imóvel devidos. Recurso provido. I - A aquisição da
posse se dá também pela cláusula constituti inserida em escritura publica de compra e venda de imóvel, o que autoriza o
manejo dos interditos possessórios pelo adquirente, mesmo que nunca tenha exercido atos de posse direta sobre o bem”.
11 O inverso do constituto possessório ocorre quando a pessoa que possuí em nome alheio passa a possuir em nome
próprio. Ex: o locatário que possui a casa em nome alheio compra a casa passando a possuir em nome próprio, neste caso a
cláusula será da traditio brevi manu.
12 De fato, por efeito da constituição da propriedade fiduciária, cria-se um patrimônio de afetação integrado pelo bem
objeto da garantia, que não é atingido pelos efeitos de eventual insolvência do devedor ou do credor, não integrando, portanto,
a massa falida de um ou do outro.
Disso resulta que, se o devedor-fiduciante cair em insolvência, o bem objeto da garantia, que foi excluído do seu
patrimônio e passou a constituir um patrimônio de afetação, permanecerá separado dos bens da massa “até o advento do
respectivo termo ou até o cumprimento da sua finalidade, ocasião em que o administrador judicial arrecadará o saldo a favor
da massa falida ou inscreverá na classe própria o crédito que contra ela remanescer” (Lei nº 11.101/2005 , art. 119, IX),
assegurada ao fiduciário, se for o caso, a restituição do bem e eventualmente sua venda, aplicando a importância que aí apurar
na satisfação do seu próprio crédito, sem concorrência com os demais credores (Lei nº 9.514/97 , art. 32, e Lei nº 11.101/2005,
art. 49, § 3º).
Diverso é o efeito em relação à falência de devedor hipotecário, pois, nesse caso, tendo em vista que o imóvel
hipotecado permanece em seu patrimônio, será arrecadado pelo administrador judicial e passará a integrar o ativo da massa,
submetendo o credor hipotecário à concorrência com os demais credores segundo a ordem legal de preferência.
Além desse relevante efeito decorrente das distintas características dessas garantias, outro aspecto a merecer atenção
é a impossibilidade de se aplicar à propriedade fiduciária a regra do art. 1.476 do Código Civil, pelo qual o dono do imóvel pode
constituir sobre ele sucessivas hipotecas, com diferentes graus de preferência.
Essa regra é absolutamente incompatível com a natureza da garantia fiduciária e, portanto, não se aplica à
Propriedade fiduciária no CC (arts. 1361 a 1368-A do CC): Propriedade resolúvel de coisa
móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor. Constitui-se com o registro do contrato
celebrado por instrumento público ou particular (Registro Títulos e Documentos ou repartição competente para
licenciamento de veículos). O devedor (fiduciante e alienante) fica com a posse direta da coisa, tendo o jus utendi e
fruendi (ele arca com despesas de conservação). Fiduciante possuirá em nome do fiduciário/credor (conserva a coisa
com obrigações de depositário). Pagando o valor total, o devedor/fiduciante adquirirá a propriedade desde o
momento do registro da alienação fiduciária. O instrumento escrito deve conter: total do débito; juros, se houver;
descrição da coisa. Vencida a dívida, o credor/fiduciário deve vender a coisa a terceiro a fim de se pagar.
Fiduciante/devedor continua obrigado
pelo remanescente da dívida.
Súmula vinculante 25: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade
de depósito.
Súmulas do STJ sobre alienação fiduciária: Súmula 28 (PODE TER POR OBJETO BEM QUE JA INTEGRAVA
O PATRIMONIO DO DEVEDOR); Súmula 72 (A COMPROVAÇÃO DA MORA É IMPRESCINDIVEL A
BUSCA E APREENSÃO DO BEM); Súmula 92 (A TERCEIRO DE BOA-FE NÃO É OPONIVEL A
ALIENAÇÃO FIDUCIARIA NÃO ANOTADA NO CERTIFICADO DE REGISTRO DO VEICULO
AUTOMOTOR); Súmula 245 (A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação
fiduciária dispensa a indicação do valor do débito); Súmula 284 (A purga da mora só é permitida quando já pagos
pelo menos 40% (quarenta por cento) do valor financiado) Súmula 384 (Cabe ação monitória para haver saldo
remanescente oriundo de venda extrajudicial do bem).
Contrato de transporte (arts. 730 a 756 do CC): Alguém se obriga, mediante retribuição, a
transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas. Dispõe o art. 732 que são aplicáveis preceitos da legislação
especial e tratados internacionais, desde que não contrariem o CC (MHD critica que tratados internacionais tenham
caráter subsidiário na disciplina do CC).
O contrato de transporte é consensual, bilateral e oneroso, realizando-se, em regra, sob a forma de
contrato de adesão. Conjugando mais de um meio de transporte, chama-se intermodal. Há contrato cumulativo
propriedade fiduciária de bem imóvel, de modo que é juridicamente inadmissível constituir-se propriedades fiduciárias em
primeiro grau, segundo grau etc.
13 Desde que o novo Código Civil entrou em vigor no início de 2003, restou sepultada a cláusula de pacto comissório,
até então presente na maioria absoluta dos contratos de compra e venda de imóveis.
Como se recorda, pacto comissório era a cláusula inserida nos contratos de alienação imobiliária com preço em
prestações, pela qual se o devedor deixasse de honrar algum dos pagamentos perderia automaticamente o bem adquirido em
favor do alienante, sem devolução dos valores pagos. Impunha com o máximo rigor o cumprimento das avenças.
Na década de 90, o Código de Defesa do Consumidor já havia estabelecido uma “nova mentalidade em favor dos
devedores e de sua dignidade”, acabando com a resolução automática do contrato e obrigando o credor a ressarcir o devedor
pelas importâncias pagas, conforme fixado em vasta jurisprudência.
No Código Civil revogado, o tema estava regulado com a seguinte regra: “Art. 1.163. Ajustado que se desfaça a venda,
não se pagando o preço até certo dia, poderá o vendedor, não pago, desfazer o contrato, ou pedir o preço. Parágrafo único. Se,
em 10 (dez) dias de vencido o prazo, o vendedor, em tal caso, não reclamar o preço, ficará de pleno direito desfeita a venda.”
Note que a disciplina é draconiana. Para desfazer o negócio, não precisava notificar o devedor, bastava aguardar o
transcurso do prazo de (apenas) 10 dias. No Código em vigor não existe artigo similar.
O Código de 2002 (art. 1.428) replicou norma já existente no diploma de 1916 (art. 765), nos seguintes termos: “É nula
a cláusula que autoriza o credor pignoratício, anticrético ou hipotecário a ficar com o objeto da garantia, se a dívida não for paga
no vencimento.” Acrescentou-lhe, contudo, um adendo: “Parágrafo único. Após o vencimento, poderá o devedor dar a coisa em
pagamento da dívida.”
Embora a legislação mencione apenas débitos decorrentes de penhor, anticrese e hipoteca, o Superior Tribunal de
Justiça (STJ) entende que a proibição do pacto comissório “não se limita aos casos expressamente previstos” no Código Civil,
incidindo em contratos de mútuo, parcelamento do solo, compra e venda e outras formas de transferência da propriedade
imobiliária com pagamento protraído no tempo, ou seja, todas as hipóteses em que se convenciona que o credor poderá ficar
com o imóvel prometido à venda caso o adquirente não cumpra a forma prevista de pagamento.
A inovação trazida pelo parágrafo único do artigo 1.428 permite que o devedor inadimplente dê o próprio imóvel
adquirido como pagamento de sua dívida, sem que tal ato constitua burla do princípio da proibição do pacto comissório.
No caso, há uma diferença fundamental. O que é proibido é estabelecer tal cláusula no instrumento de transferência
ou garantia, momento em que o pretendente ao bem se encontra sob a influência da vontade do credor. Depois de lavrado o
contrato e já tendo vencido uma ou algumas prestações, o devedor fica desvinculado psicologicamente, podendo, por sua livre
decisão, oferecer o bem como forma de pagamento do débito em que incorreu, sem constrangimento ou restrições de ordem
ética ou consumerista.
quando efetuado sucessivamente por vários transportadores, cabendo um percurso a cada um (responsabilidade será
solidária).
Transporte público – Quando exercido por particulares mediante autorização, permissão ou
concessão, é regido por tais atos e normas regulamentares (prestação indireta de serviço público, sem prejuízo do
disposto no CC. Aplica-se, em caso de dano, o art. 37, par 6º da CR/88 (responsabilidade objetiva fundada no risco
administrativo) inclusive para o transportador aéreo.
Transporte de pessoas: Transportador se obriga a remover pessoa e sua bagagem de um local a
outro, mediante remuneração. Transportador responde objetivamente por danos, pagando indenização variável,
conforme natureza e extensão dos prejuízos (é nula cláusula excludente de responsabilidade). Culpa de terceiro não
é excludente de responsabilidade. Não se aplicam as normas sobre o contrato ao transporte gratuito. O transportador
não pode, em regra, recusar passageiros. Transportador tem direito de reter bagagem para garantir o pagamento do
valor da passagem.
Transporte de coisas: Remetente entrega ao transportador determinado objeto para que, mediante
pagamento de frete, seja remetido a outra pessoa em local diverso. A responsabilidade civil objetiva do transportador
relativa à integridade da carga limitar-se-á ao quantum constante do conhecimento de frete (risco do transporte por
conta do transportador, exceto em caso de culpa do remetente ou força maior).
Obras consultadas: FARIAS, Cristiano Chaves de, ROSENVALD, Nelson. Direito civil: teoria geral. 9ª edição.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011; GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de
direito civil, vol. I: parte geral. 11ª edição. São Paulo: Saraiva, 2009; PELUSO, Cezar (Coord.). Código civil
comentado: doutrina e jurisprudência. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2010; TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil:
volume único. São Paulo: Método, 2011; VENOSA, Silvio. Código Civil Interpretado, 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.
2. Conceitos de personalidade jurídica. A) clássico: é a aptidão genérica para se adquirir direitos e obrigações na
ordem jurídica, ou seja, é a qualidade para ser sujeito de direito; B) moderno: tendo em vista que a personalidade
jurídica não pode estar atrelada ao conceito simplório de sujeito de direito, pois os entes despersonalizados
(condomínio edilício, sociedade de fato, massa falida, etc.) também podem titularizar relações jurídicas, conceitua-
se a personalidade jurídica como um atributo reconhecido a uma pessoa (natural ou jurídica) para que possa atuar
no mundo jurídico (titularizando diversas relações) e reclamar uma proteção mínima, básica, reconhecida pelos
direitos da personalidade.
2.1. Conceito de Pessoa Natural. É o ser humano dotado de personalidade jurídica conforme o entendimento que
se adote, ou seja, ora como sujeito de direitos e deveres (conceito clássico), ora como indivíduo apto a atuar no
mundo jurídico (titularizando diversas relações) e reclamar uma proteção mínima, básica, reconhecida pelos direitos
da personalidade (conceito moderno).
3. Início da Personalidade Jurídica da Pessoa Natural. A discussão acerca do início da personalidade jurídica da
pessoal natural gira em torno da questão de se o nascituro é ou não dotado de personalidade jurídica. EXISTEM 04
CORRENTES A RESPEITO: A) Natalista (mais conservadora) para esta teoria (segundo uma interpretação literal
do art. 2º do CC), o nascituro é apenas um ente concebido ainda não nascido, desprovido de personalidade, vale
dizer, o nascituro não é pessoa gozando apenas de mera expectativa de direitos (Caio Mário da Silva Pereira, Silvio
Rodrigues, Silvio de Salvo Venosa, Eduardo Espínola, Vicente Ráo e outros). Sustenta que a personalidade jurídica
somente é adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não seria considerado pessoa,
tendo mera expectativa de direito. Obs.: Nascer com vida significa o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório
do recém-nascido (Resolução n. 1 do Conselho Nacional de Saúde). O exame para saber se o recém-nascido
respirou é denominado Docimasia Hidrostática de Galeno. Assim, ao nascer com vida ele se torna sujeito de direito,
ainda que sobreviva apenas durante segundos; OBS.: é a posição majoritária na doutrina e adotada pelo STF na ADI
3510; B) Concepcionista: esta é a teoria adotada pela doutrina moderna, embora seja muito antiga. (Teixeira de
Freitas, Silmara Chinelato, Pontes de Miranda, Maria Berenice Dias, Nelson Rosenvald, etc.). Para esta teoria, o
nascituro seria considerado pessoa para efeitos patrimoniais ou extrapatrimoniais, desde a concepção. No momento
em que nasce com vida, se opera um efeito ex tunc, para ser considerado pessoa desde a sua concepção. Os
defensores desta teoria apontam que ela explica com mais lógica a segunda parte do art. 2º do CC. No âmbito
internacional, está consagrada no art. 4º, I, do Pacto de San José da Costa Rica1; C) Teoria da personalidade
condicional: (Washington de Barros, Serpa Lopes, Clóvis Beviláqua e Arnaldo Rizzardo) segundo esta teoria, que
se baseia na combinação entre os artigos 2º e 130 do CC, a personalidade civil da pessoa natural começa com o
nascimento com vida, mas os direitos do nascituro estão sujeitos a uma condição suspensiva, ou seja, são direitos
eventuais que só adquirem eficácia com o nascimento daquele que foi concebido (crítica: trata-se de uma teoria
essencialmente natalista, pois parte da premissa de que a personalidade tem início com o nascimento com vida); D)
Teoria da Dupla Personalidade: (MHD e Gustavo Tepedino): para esta teoria, que a personalidade jurídica divide-
se em formal e material, sendo que a formal está relacionada com os direitos da personalidade (que o nascituro já
titulariza desde a concepção), enquanto que a material está relacionada com os direitos patrimoniais e que só são
adquiridos pelo nascituro com o nascimento com vida; Na verdade esta teoria mescla as teorias concepcionista (para
os direitos da personalidade) e a natalista (para os direitos patrimoniais).
4.1. Distinção entre Personalidade e Capacidade de Direito. Duas correntes (não encontrei qual é a majoritária).
A) Há quem defenda, como Orlando Gomes e Flávio Tartuce, que não há diferença entre personalidade
jurídica e capacidade de direito, porquanto entende que a personalidade é a capacidade jurídica
genericamente reconhecida a qualquer pessoa, não havendo como distinguir, cientificamente, personalidade
de capacidade de direito; B) Outros, como Nelson Rosenvald, defendem que a capacidade jurídica consiste na
possibilidade daqueles que são dotados de personalidade de serem sujeitos de relações patrimoniais, ou seja, é
a maior ou menor extensão dos direitos de uma pessoa, sendo, portanto, a medida da personalidade.
5. Incapacidade de fato. Consiste na restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. ESPÉCIES: A) Absoluta -
art. 3° do CC: restrição para a o exercício de qualquer ato da vida civil; suprível pela representação; e B)
Relativa - art. 4° do CC: restrição relativa a certos atos da vida civil e complementada pela assistência; Obs.:
alguns atos poderão ser praticados pelos maiores de 16 e menores de 18 sem a assistência do seu
representante legal. Exemplo: fazer testamento (art. 1860) e ser testemunha (art. 228, I).
5.1. Incapacidade de fato absoluta. A) Menores de 16 anos (são os impúberes): incapacidade ope legis; B) Pessoa
que por enfermidade ou deficiência não tenha discernimento para os atos da vida civil: esta incapacidade absoluta é
declarada por meio do procedimento de interdição. A ação de interdição busca a declaração de incapacidade e é
nomeado um curador. Estes precisam ser interditados para serem privados totalmente da prática de quaisquer atos da
vida civil. Pronunciada a interdição, o juiz assinará limites à curatela (limites a interdição), que poderão
circunscrever-se às restrições do pródigo (art. 1.772 do CC). Reconhecendo a incapacidade absoluta, qualquer ato
praticado pelo interditado, sem a presença do curador, será manifestamente nulo. Obs1.: quanto ao efeito da
sentença de interdição (declaratório ou constitutivo) ver item próprio.Obs2.: Orlando Gomes afirma que o ato
praticado pelo incapaz, ainda não interditado, pode ser invalidado, desde que concorram três requisitos:
incapacidade de discernimento anterior, prejuízo ao incapaz e má-fé da outra parte; C) Os que por causa transitória
não possam exprimir a sua vontade: este dispositivo não trata de doença mental, mas sim da pessoa que não pode
praticar atos por estar impossibilitada de exprimir sua vontade, decorrente de causas transitórias, como a intoxicação
por ingerir “boa noite cinderela” ou em estado coma, por razões de traumatismo craniano. Idem fortuitamente
bêbado – caso de embriaguez involuntária, completa.
5.2. Incapacidade de fato relativa. Há possibilidade de a parte prejudicada promover ação para que o Judiciário
desfaça o negócio realizado com pessoa relativamente incapaz. A inércia das partes pode convalidar o ato.
ESPÉCIES DE INCAPACIDADE DE FATO RELATIVA: a) Maiores de dezesseis e menores de dezoito anos: são
os menores púberes; b) Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o
discernimento reduzido: a incapacidade somente é relativa quando a embriaguez reduzir a capacidade, não a
suprimindo por completo. OBS.: caso a embriaguez seja patológica (doentia), capaz de inquinar (corromper) o
discernimento, a incapacidade será absoluta; c) Excepcionais sem desenvolvimento mental completo: os portadores
da síndrome de down são exemplos de excepcionais; d) Pródigos: pessoas que desordenadamente dilapidam o seu
patrimônio, podendo reduzir-se a miséria. O sistema jurídico brasileiro admite a interdição do pródigo, de maneira
que seu curador irá assisti-lo em atos de conteúdo patrimonial (art. 1.782 do CC). Se justifica a interdição do
pródigo, além do interesse público, a teoria do estatuto jurídico do patrimônio mínimo, desenvolvida pelo professor
Luiz Edson Facchin. Obs.: quanto ao casamento do pródigo, o curador deve se manifestar quanto à celebração de
pacto antenupcial e do regime de bens (atos relacionados ao direito patrimonial), mas não pode interferir na prática
dos atos relativos ao estado da pessoa e da personalidade (atos de mera administração).
Observação geral: Caso haja conflito de interesse entre o representante e o incapaz, pode-se invocar o art. 119 do
CC que dispõe ser anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se
tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. É de 180 dias, a contar da conclusão do
negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo.
5.3. Capacidade Civil do Indígena. O CC não cuida mais da capacidade do índio. Segundo o art. 8º da Lei
6.001/73, são nulos os atos cometidos entre índios não civilizados e pessoas estranhas a comunidade, sem a
intervenção da FUNAI. Prevalece, contudo, que a nova ordem constitucional e a Convenção 169 da OIT, ao
agasalharem o multiculturalismo e o paradigma emancipatório de todos os indivíduos, concederam genericamente
capacidade civil aos índios. Como o art. 232 da CF garante a capacidade processual, que é uma manifestação do
direito da personalidade, acabou por conceder também, ainda que não haja menção expressa, a capacidade civil.
Dessa sorte, os índios não precisam ser representados, assistidos ou requerer liberação do regime de tutela para
exercer por si só os atos da vida civil. Assim, terão capacidade civil como regra, podendo exercer por si sós (sem
assistência, representação ou pedido de liberação do regime tutelar) os atos da vida civil. Somente se o índio não
tiver nenhuma noção ou conhecimento do idioma, leis e cultura brasileira é que terá que ter sua capacidade civil
suprida para exercer os atos da vida civil, sendo-lhes aplicável o regime geral de incapacidade civil prevista no CC.
5.4. Cessação da incapacidade. A incapacidade cessa quando desaparece a sua causa, conforme o esquema a
seguir: 1) Menoridade: cessará em dois casos, pela maioridade (aos 18 anos completos) e pela emancipação, que
pode ser: A) voluntária: concedida pelos pais, se o menor tiver 16 anos completos; B) judicial: é a concedida por
sentença; C) legal: é a decorrente de determinados fatos previstos em lei, tais como: pelo casamento, exercício de
emprego público efetivo, colação de grau em curso de ensino superior, pelo estabelecimento civil ou comercial, ou
pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha
economia própria; 2) Demais casos de incapacidade: ação de levantamento de interdição nos termos do art. 1186
do CPC.
6. Individualização da pessoa natural. A) Pelo nome: prenome, sobrenome e agnome: sinal que distingue pessoas
de uma mesma família (Júnior, Neto). B) Pelo estado: O estado da pessoa é a soma de suas qualificações Seus
aspectos podem ostentar caráter individual, familiar e político. C) Pelo domicílio: domicílio é a sede jurídica da
pessoa. É o local onde responde por suas obrigações. Espécies de domicílio: necessário ou legal e voluntário.
Muda-se o domicílio, transferindo a residência com a intenção manifesta de mudá-lo (art. 74, CC).
7. Extinção da Pessoa Natural. Ocorre pela morte que pode ser: Real (art. 6º, 1ª parte) e Presumida (com
declaração de ausência [art. 6°, 2ª parte] ou sem declaração de ausência [art. 7°]).
7.1. Morte Real. Para o Direito a extinção da pessoa física ocorre por meio da morte encefálica. Na esteira do
avanço científico mundial, o Conselho Federal de Medicina (Resolução 1.480/97 – art. 4º - o qual traz os parâmetros
clínicos), tem afirmado que o marco mais seguro para se aferir a extinção da pessoa física, inclusive para fins de
transplante de órgãos, é a morte encefálica. A morte deve ser declarada por profissional de medicina, admitindo-se,
na ausência deste, nos termos da Lei 6.015/73 (Lei de Registros Públicos – art. 77), a declaração de óbito feita por
duas testemunhas. A declaração de óbito tem inscrição no Registro Civil de Pessoas Naturais – livro de óbitos. Obs.:
não havendo o cadáver entraremos noutra seara: morte presumida.
7.2.1. Morte Presumida sem declaração de ausência. Chamada também de morte real sem cadáver (e consequente
ausência de declaração de óbito), trata-se de do óbito ocorrido em situações catastróficas previstas nos artigos 7º do
CC e 88 da Lei de Registros Públicos, em que se exige a realização de um procedimento justificatório em juízo
(justificação de óbito), nos termos do disposto nos artigos 861 a 866 do CPC. REQUISITOS: prova de que a pessoa
tida como morta estava no local em que ocorreu a catástrofe e de que, posteriormente, não há mais notícias desta
(exemplos: trabalhava num prédio que desabou e não sobrou nada, morava numa encosta onde houve um
deslizamento de terra ocasionado por fortes chuvas em também não sobrou nada). ATENÇÃO: outro caso de morte
presumida sem declaração de ausência vem previsto na Lei 9140/95 que reputa como mortas, para todos os fins de
Direito, as pessoas desaparecidas em razão de participação, ou simplesmente acusadas de participação, em
atividades políticas, no período compreendido entre 02/09/61 e 15/08/79 (época do Regime Militar).
7.2.2. Morte Presumida com declaração de ausência (art. 22 e ss). Consiste na situação de alguém que
desapareceu do seu domicílio sem que dele se tenham notícias e que não deixou representante, permitindo a
transmissão de seus bens para os herdeiros, mesmo sem a existência de comprovação de morte provável. Qualquer
interessado ou MP podem requerer. A) Sucessão Provisória (art. 26): decorrido um ano da arrecadação dos bens ou
três anos – se o ausente deixou representante ou curador, os interessados podem requerer a sucessão provisória. O
patrimônio do ausente fica sob a posse de seus herdeiros, que não têm a disponibilidade dos bens, não podendo
aliená-los, a não ser por autorização do juiz, para em casos de evitar a deterioração dos bens, preservando seu valor
econômico. Aberta a sucessão provisória, já gera efeitos patrimoniais, mas não podem os bens ser vendidos, podem
ser utilizados os frutos, a venda somente pode ocorrer com autorização judicial; B) Sucessão Definitiva: O prazo é
de 10 anos, durante os quais o ausente pode voltar e retomar seu patrimônio integralmente (a propriedade sobre os
bens do ausente é resolúvel). Esse prazo deverá ser reduzido para 05 anos, quando o desaparecido já contava com
80 anos; Aberta essa fase a propriedade dos bens do ausente se transfere aos herdeiros, mas existe ainda um prazo de
espera, consiste em um novo prazo de 10 anos, no qual o ausente ainda pode voltar e retomar o seu patrimônio.
7.2.3. Efeitos não patrinominais: No CC/16, a ausência tinha somente essa função patrimonial. No CC/02, a
ausência passa a ter um efeito que o anterior não tinha: efeito pessoal familiar. Desta feira, o casamento válido, ou
seja, o vínculo matrimonial, pode ser dissolvido pelo divórcio e pela morte de um dos cônjuges, tanto a real
como a presumida do ausente, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva (arts. 1571, §
1º e 6º, segunda parte).
8. Comoriência. A comoriência é a presunção de morte simultânea, de uma ou mais pessoas, na mesma ocasião
(tempo), em razão do mesmo evento (não necessariamente), sendo elas reciprocamente herdeiras. Caso não haja
indicação da ordem cronológica das mortes, nos termos do art. 8º do CC, considera-se ter havido morte simultânea,
de maneira que um comoriente não herda do outro, abrindo-se cadeias sucessórias, autônomas e distintas, como se
um não existisse para o outro e vise-e-versa. ATENÇÃO: os comorientes não necessariamente devem morrer no
mesmo lugar, podendo se encontrar em locais distintos. OBS.: não confundir com PREMORIÊNCIA (em que a
morte de parentes sucessíveis pode ser cronologicamente identificada).
2. Conceito. São situações jurídicas reconhecidas à pessoa, tomada em si mesma e em suas projeções sociais, que
lhes conferem direitos essenciais ao seu desenvolvimento, em que se convertem projeções físicas, psíquicas e
intelectuais do seu titular, individualizando-o de modo a lhe emprestar segura e avançada tutela jurídica (Rosenvald
e Farias). São direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto
físico, moral e intelectual (Francisco Amaral). Se diferenciam dos direitos patrimoniais ou do conceito de
patrimônio, porque encontram-se voltados à afirmação dos valores existenciais da pessoa humana, enraizados na
esfera mais íntima do indivíduo e não são suscetíveis de apreciação econômica (o dano moral é apenas uma
compensação pela afetação de tais direitos, bem como uma medida punitiva ao causador do dano).
3. Fontes dos Direitos da Personalidade (Teoria Pluralista X Teoria Monista). Existem duas correntes. A)
Pluralista: existem vários, desde que previstos em lei. Vale o princípio da taxatividade, da tipificação. Problema:
com o desenvolvimento tecnológico e aspectos novos relacionados com intimidade, privacidade, (manipulações
biológicas, genéticas; pesquisadores fazendo mapeamento genético de comunidades; empregadores exigindo
mapeamento genético de seus futuros empregados; câmeras de monitoramento em todos os lugares, públicos e
privados; etc.), não há como agasalhar tal teoria, pois a atividade legislativa não consegue acompanhar o
desenvolvimento da sociedade; B) Monista: basta um único direito geral, uma cláusula geral de proteção dos
direitos da personalidade a partir da qual todos os demais direitos são tutelados (art. 1º, III, da CF e art. 12 do CC –
todos os direitos da personalidade são protegidos por tais cláusulas). Não se exige taxatividade, tipicidade.
OBS.: Nosso ordenamento jurídico não adotou de forma ortodoxa nenhuma das duas teorias, pois tanto tutela vários
direitos da personalidade no CC/02 (vida, integridade física e psíquica, nome, imagem, honra [subjetiva e objetiva],
privacidade, intimidade, etc.), quanto possui duas cláusulas gerais de proteção dos direitos da personalidade a partir
das quais todos os demais direitos são tutelados: art. 1º, III, da CF e art. 12 do CC/02.
4. Características. A) absolutos: não no sentido de serem insuscetíveis de restrições, mas sim na acepção de que
são oponíveis erga omnes; B) relativamente indisponíveis: a pessoa não pode deles dispor de forma permanente
e/ou total; Requisitos para a disposição2: deve ser voluntária (Obs.: ver requisitos do consentimento), transitória,
específica e não afetar a dignidade da própria pessoa (ao contrário, a disposição deve promover a dignidade da
pessoa). A título de exemplo, admite-se a cessão onerosa de direito patrimoniais decorrentes da imagem (lembrar
dos reality shows), de direitos autorais (art. 28 da Lei 9610/98), de direitos sobre softwares (lei 9609/98), bem como
a doação de órgãos humanos duplos ou regeneráveis (art. 199, §, 4º da CF e lei 9434/97), doação de sangue (lei
10205/01), etc. ALGUMAS POLÊMICAS RELACIONADAS À INDISPONIBILIDADE RELATIVA: 1)
Princípio da consentimento informado, da beneficência ou da não maleficência (art. 15 do CC): consiste no
dever de informação ao paciente por parte dos profissionais de saúde acerca do risco de vida relacionado a qualquer
tratamento médico ou intervenção cirúrgica; 2) Princípio do consenso afirmativo (art. 14 do CC): trata da retirada
post mortem de órgãos da pessoa; segundo o princípio, a manifestação expressa do doador de órgãos em vida deve
prevalecer sobre a vontade dos familiares, implicando a incidência do disposto no art. 4º da lei 9434/97 apenas na
hipótese de silêncio do potencial doador3; 3) Testemunhas de Jeová e recusa de transfusão de sangue: colisão
entre direito à vida e liberdade religiosa – na doutrina tem-se entendido que em se tratando de incapazes a
intervenção é obrigatória, mas em se tratando de pessoas maiores e capazes não há uma posição definida; Obs.: a
Resolução nº 1012/80 do Conselho Federal de Medicina e os artigos 46 e 56 do Código de Ética Médica autorizam
os médicos a praticar a transfusão de sangue em seus pacientes, independentemente de consentimento, se houver
iminente perigo de vida; 4) Questão dos transexuais e o art. 13 do CC: caso de disposição permanente de um
órgão do corpo; cirurgia para fins de adequação do sexo fisiológico, ao sexo psicológico (o corpo da pessoa é
atentatório à sua dignidade; trata-se de uma mulher ou homem aprisionado a um corpo masculino ou feminino,
respectivamente); Consequência: necessidade de autorização de mudança de retificação do registro civil (mandar
fazer constar que a pessoa é um transexual, sob pena de violação à sua dignidade – Resp. 737.993/STJ); C)
intransmissíveis (art. 11 do CC): os direitos da personalidade em si não são suscetíveis de qualquer forma de
transmissão (o que engloba a alienação), mas admite-se a cessão de seus reflexos patrimoniais (reality shows,
revistas pornográficas, etc.); D) irrenunciáveis (art. 11 do CC): ninguém pode abrir mão da titularidade dos direitos
da personalidade; E) vitalícios: somente se extinguem com a morte de seu titular, não ocorrendo sucessão sobre os
direitos da personalidade, pois tais direitos são personalíssimos; Obs.: a doutrina controverte sobre se o art. 12 do
CC confere direitos da personalidade ao morto. Trata-se do dano indireto ou em ricochete, em que o dano atinge o
morto e repercute em seus familiares. Para a primeira corrente o dispositivo consagra a tutela de direitos da
personalidade do morto. Para a segunda tal dispositivo reconhece como direito da personalidade da pessoa viva (e
não do morto), a proteção de valores jurídicos da personalidade de alguém que já morreu (cônjuge ou companheiro e
parentes em linha reta ou colateral até o 4º grau); F) extrapatrimoniais: são direitos insuscetíveis de apreciação
econômica, ainda que eventual lesão possa produzir consequências monetárias (da lesão extrapatrimonial surge o
dever de indenização de caráter monetário que visa compensar, atenuar, servir de lenitivo para a dor e sofrimento a
vítima, bem como punir e educar o responsável pelo dano); G) impenhoráveis: decorrência do caráter
extrapatrimonial, os direitos da personalidade não podem ser objeto de penhora; H) imprescritíveis: não existe um
prazo extintivo para o exercício dos direitos da personalidade; Obs.: as lesões a estes direitos não convalescem com
o tempo, por isso que se diz que a pretensão voltada a assegurar seu livre exercício é imprescritível, o que não
ocorre com a pretensão indenizatória daí advinda, que está sujeita ao prazo prescricional de 03 anos (art. 206, § 3º,
V, do CC), salvo se decorrente de perseguição, tortura e prisão, por motivos políticos durante o Regime Militar
(conforme entendimento do STJ)4.
5. Titularidade. Via de regra somente a pessoa natural, porém também admite-se que a pessoa jurídica seja
dotada de alguns direitos da personalidade tais como honra objetiva, imagem ou bom nome, inviolabilidade
de sede ou domicílio, sigilo de correspondência, etc. (CRÍTICA: pessoa jurídica é patrimônio, patrimônio não
contem os atributos de uma pessoa natural). Quanto ao nascituro, adotada a teoria concepcionista ou da
personalidade condicional, este será titular de direitos da personalidade desde a concepção.
6. Proteção dos Direitos da Personalidade. Viabilizada por qualquer técnica processual (inclusive de forma
inaudita altera parte), exemplos: inibitória, compensatória, ressarcitória, de retratação, etc. Obs.: só não há
que se falar em reparação propriamente dita devido ao caráter extrapatrimonial de tais direitos.
Historicamente, a proteção jurídica dos direitos esteve baseada no binômio lesão – sanção, ou seja, imposição
de sanção para toda e qualquer lesão. A sanção imposta era perdas e danos. Todavia, desde o advento do CDC
em 1990 e da reforma processual civil em 1994, o sistema jurídico começou a discutir a idoneidade do
binômio lesão – sanção, se esse binômio se mostrava suficiente, idôneo para garantir a proteção dos direitos.
Chegou-se a conclusão que a vítima de violação a direitos não estava interessada somente na sanção do
agente, mas também tinha interesse na proteção efetiva do seu direito. Ex.: se uma pessoa teve o seu nome
indevidamente inserido no SPC/SERASA. O Novo Código Civil de 2002 rompeu o binômio lesão/sanção em
razão da sua ineficiência, porque o CC entendeu que a vítima não quer apenas perdas e danos. O CC ampliou a
proteção dos direitos da personalidade. Com essa nova perspectiva o CC estabeleceu novo esquema protetivo
para os direitos da personalidade.
A proteção jurídica dos direitos da personalidade se desdobra em duas vertentes (art. 12, CC):
a) Preventiva; e/ou b) Compensatória.
A) Dizer que a proteção aos direitos de personalidade é PREVENTIVA é dizer que processualmente ela se
estabelece através da tutela específica que decorre do art. 461, CPC (jurisdição individual) e art. 84, CDC
(jurisdição coletiva). O reconhecimento de uma tutela preventiva dos direitos da personalidade implica
despatrimonialização dos direitos da personalidade, porque a proteção deixa de ser dar somente através de
dinheiro, agora se dá, também, através de tutela específica. Tutela específica é o provimento judicial adequado para
solução de um conflito de interesses específicos, ou seja, é solução concreta de um caso (art. 461, CPC).
Antigamente todas as soluções judiciais eram perdas e danos, agora é a solução específica para um conflito
específico. Bem por isso, já se nota que dentro da tutela específica hospedam-se diferentes providências: a)
tutela inibitória; b) tutela subrrogatória; c) remoção do ilícito; d) etc., quer dizer que o rol das hipóteses da
tutela específica é exemplificativo. Ex.: Caso da Daniela Cicarelli que teve as imagens que estava na praia
indevidamente inseridas no site You Tube. Ela ajuizou ação em face do You Tube, pedindo que retirasse as imagens
(tutela inibitória) O juiz removeu o ilícito. B) Já a TUTELA COMPENSATÓRIA se dá através de indenização por
danos morais (art. 5º, V, X e XII, CF). (OBS.: Tem ganhado espaço, todavia, na doutrina e jurisprudência brasileiras,
a corrente de pensamento que sustenta a natureza pedagógica, do desestímulo ou punitiva da reparação por dano
moral. Funda-se na teoria do Punitive Damage do direito norte-americano é a teoria pedagógica que se
convencionou chamar de TEORIA DO DESESTÍMULO, a qual começou a chegar no Brasil. Trata-se de dar a
devida FUNÇÃO SOCIAL à responsabilidade civil por danos a direitos da personalidade. A partir de tais
premissas, a indenização deve compensar a vítima e, simultaneamente, pedagogicamente punir o responsável pelo
dano). Em termos gerais, é a indenização por danos morais que corresponde a violação da dignidade humana.
Existência da aproximação entre direitos da personalidade e dano moral, de modo que o dano moral não é
mais do vexame, humilhação, sofrimento, vergonha, ou seja, não é mais sentimentos negativos. Portanto, nada
mais é do que a violação da dignidade humana. O rol de possibilidades do dano moral também é exemplificativo.
Alguns chegam a afirmar que a prova do dano moral é in re ipsa/ínsita na própria coisa, na própria violação. Dizer
que o dano é a violação da dignidade humana deixa clara a autonomia do dano moral (Súmula 37, STJ - São
cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato). A indenização por dano moral
é a decorrente da violação aos direitos da personalidade, tais como, da honra, imagem, integridade física etc.
Quando alguém viola a sua honra, chama-se de dano moral, quando viola a imagem, chama-se de dano a
imagem, quando viola a sua integridade física, chama-se de dano estético etc. A mais moderna controvérsia
diz respeito à cumulatividade do dano moral com dano moral (conforme o bem jurídico atingido).
Antigamente diziam que não porque geraria bis in idem. O problema é que no Brasil o dano moral é utilizado como
gênero e como espécie. Talvez fosse melhor chamar o gênero não de dano moral, mas de dano extrapatrimonial
como no direito português. O dano extrapatrimonial seria o gênero, onde o dano moral seria uma de suas espécies.
Desde que se trate de bens jurídicos distintos, é possível cumular dano moral com outro dano moral, ou seja,
diversas categorias de dano moral. Ex.: dano moral com dano a imagem; dano moral com dano estético etc.
(Súmula 387, STJ - É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral). Para Maria Helena Diniz,
o dano estético é toda alteração morfológica do indivíduo decorrente do ato lesivo que, além do aleijão, abrange
quaisquer deformidades ou deformações, marcas e defeitos, ainda que mínimos, que impliquem sob qualquer
aspecto um afeiamento da vítima, consistindo numa simples lesão desgostante ou num permanente motivo de
exposição ao ridículo ou de complexo de inferioridade, exercendo ou não influência sobre sua capacidade
laborativa, por exemplo: mutilações (ausência de membros - orelhas, nariz, braços ou pernas etc.); cicatrizes mesmo
acobertáveis pela barba ou cabeleira ou pela maquilagem; perda de cabelos, das sobrancelhas, dos cílios, dos dentes,
da voz, dos olhos; feridas nauseabundas ou repulsivas, etc.
7. Colisões entre Direitos da Personalidade. Entende-se que nestes casos se aplica o postulado da
proporcionalidade em sentido estrito, ou seja, a ponderação dos direitos em conflito.
ITEM 5.B: Da compra e venda e de suas cláusulas especiais. Da promessa de compra e venda, do direito real
do promitente comprador.
Obras consultadas: FARIAS, Cristiano Chaves de, ROSENVALD, Nelson. Direito Civil: direitos reais. 7ª edição.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011; GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de
direito civil, vol. IV tomo 2: Contratos em Espécie - 12ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010; PELUSO, Cezar (Coord.).
Código civil comentado: doutrina e jurisprudência. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2010; TARTUCE, Flávio. Direito
civil, Vol. 3. Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie. 5ª edição. São Paulo: Método, 2009; TARTUCE,
Flávio. Manual de direito civil: volume único. São Paulo: Método, 2011; VENOSA, Silvio. Código Civil
Interpretado, 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.
DA COMPRA E VENDA
1. Conceito. Art. 481. Trata-se de um negócio jurídico bilateral, por meio do qual o vendedor transfere a
propriedade de coisa móvel ou imóvel ao comprador mediante o pagamento de um preço. A compra e venda por si
só já é título suficiente para exigir o cumprimento da obrigação (simples consensualidade). As obrigações são (do
vendedor) entregar a coisa e (do comprador) o pagamento pela coisa.
2. Observações Gerais. O Contrato de Compra e Venda não é suficiente para transferir a propriedade.
Aquisição da propriedade: o contrato de compra e venda no direito brasileiro gera apenas efeitos
OBRIGACIONAIS. Isso significa que, para haver efetiva transferência da propriedade é necessário, além do
contrato uma solenidade de transferência (TRADIÇÃO para os bens móveis ou REGISTRO para os bens imóveis).
O inadimplemento gera Ação Pessoal: Obrigação de fazer, Obrigação de Dar, Ação Cominatória. Não pode se
valer de ação real (o adquirente só será titular de Direito Real, pela Tradição e Registro).
3. Classificação. A) Típico: previsto no CC; B) Bilateral e Sinalagmático; C) Consensual, de regra (o art. 108,
CC exige solenidade: escritura pública, quando se tratar de compra e venda de bem imóveis com o valor acima de
30 salários-mínimos, ficará formal); D) Oneroso: ambas as partes obtém vantagens econômicas; E) Comutativo,
em regra: porque as vantagens obtidas pelas partes são previamente conhecidas (conhecidas de antemão). Obs.:
pode ser aleatório em determinados casos (eventualmente), na hipótese de Venda a contento (fica submetida ao
gosto do comprador, bebidas, alimentos), bem como na hipótese de Venda de uma Esperança (Art. 458, CC):
compra de safra agrícola futura (sujeito compra uma safra e ocorre uma chuva: excepcionalmente).
4. Elementos Constitutivos. A) Consentimento das partes: para o contrato de compra e venda, deve ser livre e
desembaraçado. Havendo vício de consentimento, o contrato se torna anulável. Obs1.: Incapaz pode realizar
Compra e Venda (art. 166), exp.: compra e venda de figurinha em Banca de Jornal, pequenas transações, aquisições
realizadas por absolutamente incapaz, podem ser realizadas; doces, pães, creme dental, etc; Obs2.: entre cônjuges,
exclusivamente em relação aos bens excluídos da união (são bens próprios) na comunhão universal será possível, na
separação obrigatória não, art. 499; Obs3.: de Ascendente para Descendente (Art. 496): É anulável, salvo se os
outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. § único: Em ambos os casos,
dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória. Admite-se
convalidação, por ser anulável. Prazo para que o interessado será decadencial de 2 anos (art.179 do CC) contados da
conclusão do ato; B) Objeto: pode ser todo e qualquer bem alienável (móvel, imóvel, corpóreo, incorpóreo) até
mesmo coisa incerta e coisa alternativa. Obs1.: bem incorpóreo (ex. Direito Autoral) ou direitos podem ser
negociados, mas o negócio jurídico será CESSÃO ONEROSA DE DIREITOS; C) Preço: precisa ser em dinheiro,
determinado ou determinável, e deve ser sério e real (fictício descaracteriza o contrato para doação, por exemplo,
venda de apartamento por R$ 1,00). Obs1.: O preço pode até estar submetido a indicação de um terceiro: mandatário
das partes (ex. corretor de imóveis), mas que a lei não admite é que uma das partes tenha o arbítrio exclusivo de
fixar o preço (artigos 485 e 489), nesse caso a cláusula e o contrato serão nulos; Obs2.: Princípio do Nominalismo: o
preço deve ser sempre pelo valor nominal e em moeda nacional (art. 315): o direito brasileiro não adota a cláusula
de escala móvel, salvo por disposição expressa das partes. Exceções: Compras realizadas no exterior e decorrentes
de contrato de exportação: excepcionalmente pode ser fixado em moeda estrangeira (o preço) nestes dois casos;
Obs3: Em se tratando de relação de consumo, o preço precisa ser informado diretamente ao consumidor, que possui
o direito à clara informação (ex. gôndola de supermercado: precisam ter o preço).
5. Principais efeitos da Compra e Venda. O contrato de compra e venda produz 04 diferentes efeitos: A)
Responsabilidade do Vendedor por eventuais vícios redibitórios; B) Responsabilidade do vendedor por evicção; C)
Responsabilidade pelo perecimento não-culposo da coisa; D) Responsabilidade pelas despesas de tradição e registro
(art. 490): despesas do registro: comprador, despesas da tradição: vendedor, salvo disposição em contrário.
6. Modalidades Especiais de Compra e Venda. A) Venda por Amostras: protótipo ou modelo (Avon, Natura), há
duas regras do art. 484: 1- O vendedor se responsabiliza que as coisas a serem entregues tenham as mesmas
qualidades e características da amostra. 2- Havendo divergência entre a amostra e a coisa a ser entregue, prevalecerá
a amostra (ex. de contrato por amostra: incerteza de que a coisa terá a mesma qualidade e o comprador poderá
rejeitá-lo); B) Venda Ad Corpus: é venda de unidade, independentemente da medida ou extensão. Sítio em SP
independentemente de sua medida; e C) Venda Ad Mensuram: submetida a uma medida ou extensão. Sítio com
500 alqueires (A diferença entre as duas últimas modalidades é importante para fins de vícios redibitórios por falta
de medida, mas se a Venda for Ad Corpus não pode se falar em vício redibitório, porque a medida é irrelevante).
1. Noções Gerais. O CC/16 não contemplava o direito real do promitente comprador. No entanto, leis especiais já
conferiam a possibilidade de registro ao compromisso de compra e venda, garantindo-lhe eficácia contra 3ºs e
impossibilitando o arrependimento. A primeira delas foi o Dec. Lei 58/37 que se destinava somente aos imóveis
loteados e que deu origem às súmulas 765 do STJ e 1666, 1677 e 1688 do STF; a segunda foi a Lei 649/49 que
estendeu o regime jurídico do referido Dec. Lei aos imóveis não loteados; a terceira foi a Lei 4591/64 que trata do
condomínio edilício e da incorporação imobiliária, contendo dispositivo sobre promessa de compra de unidade
autônoma futura e que deu origem à súmula 3089 do STJ; a última foi a Lei 6766/79 que disciplinou o parcelamento
do solo urbano e também o compromisso de compra e venda de imóveis loteados. Todas estas leis regulam hipóteses
especiais de contratos preliminares, às quais se aplicam as regras genéricas do CC/02 sobre tais contratos (artigos
462 a 464). Por outro lado, o CC/02 inovou positivando, como categoria autônoma, o direito real de aquisição
que emerge do compromisso irretratável de compra e venda de imóvel registrado na respectiva matrícula, nos
artigos 1417 e 1418.
3. Distinções com outros institutos. Difere do domínio, pois na promessa de compra e venda irretratável e
registrada o titular não tem os poderes inerentes da propriedade, mas apenas Direito Real de Aquisição da
propriedade do imóvel. Distingue-se do contrato preliminar consubstanciado no compromisso bilateral e irretratável
de compra e venda de imóvel não registrado na matrícula, pois este gera apenas direito obrigacional de fazer o
contrato definitivo que, se registrado, dará origem ao direito real de aquisição por parte do promitente-comprador
(ou seja, a diferença central está na ausência ou presença do registro do contrato de compromisso).
6. Adjudicação Compulsória. De acordo com a súmula 23910 do STJ, a adjudicação compulsória não é um direito
inerente aos compromissos irretratáveis de compra e venda de imóvel registrados, por isso também aplicável aos não
registrados. Trata-se de ação de natureza pessoal (e não real) pertinente ao compromissário comprador, ou ao
cessionário de seus direitos à aquisição, ajuizada em face do titular do domínio do imóvel (que tenha prometido
vende-lo através do compromisso de venda e compra e se omitiu quanto à entrega da escritura definitiva), tendente
ao suprimento judicial desta outorga, mediante sentença constitutiva com a mesma eficácia do ato não praticado.
Seus REQUISITOS são: A) que o contrato preliminar contenha todos os requisitos essenciais do contrato definitivo
a ser celebrado, com exceção da forma (art. 462 do CC); e B) ausência de cláusula de arrependimento.
7. Execução do Direito Real de Aquisição. Pela ação de outorga de escritura definitiva (obrigação de dar) ou por
sentença constitutiva na ação de adjudicação compulsória (suprimento da obrigação de dar a escritura).
Obras consultadas: COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. Proteção jurídica do meio ambiente: florestas. Belo
Horizonte: Del Rey, 2003; COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. A proteção do patrimônio cultural em face da
omissão do Poder Público. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, v. 13, n. 51, p. 185-192, jul./set. 2008; COSTA
NETO, Nicolao Dino de Castro e. Crimes e infrações administrativas ambientais: comentários à Lei n. 9.605-98. 3.
ed. rev. e atual. Brasília: Brasília Jurídica; COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. Direito Ambiental Brasileiro
(material do CEAD/AGU); AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito Ambiental Esquematizado, 3ª ed. São
Paulo: Método 2011; MARQUES, Claudia Lima. Manual de Direito do Consumidor, 4ª ed. São Paulo: RT, 2012;
NETTO, Felipe Peixoto Braga. Manual de Direito do Consumidor, 5ª ed. Salvador: Juspodivm, 2010.
1. Noções Gerais. Segundo Nicolau Dino, a CF/88 adotou uma concepção unitária do meio ambiente, que
compreende tanto os bens naturais (o solo, o ar, a água, a flora, a fauna e as belezas naturais) quanto os bens
culturais, o que se deduz da interpretação conjugada dos artigos 225, caput, 216. Assim, o patrimônio cultural
(composto por bens de natureza material e imaterial, considerados individual ou conjuntamente, portadores de
referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade, notadamente os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico) é uma das facetas do meio ambiente (classificado como cultural ou artificial). Neste sentido, qualquer
dano (ou ameaça de dano, dependendo do ramo do Direito) aos bens naturais ou culturais que compõem o
patrimônio ambiental brasileiro, ensejará responsabilização ambiental.
Ademais, art. 225, § 3º, da CF previu a tríplice penalização do poluidor do meio ambiente (penal, administrativa e
civil), consagrando a regra da cumulatividade das sanções respectivas, até porque cada espécie visa atender a
finalidades distintas sujeitas a regimes jurídicos diversos.
2. Dano Ambiental. É a ocorrência de qualquer alteração adversa das características do m.a. em qualquer de seus
aspectos que expresse um sentido de anormalidade, a partir da qual o equilíbrio do sistema é atingido. Essa
anormalidade deve evidenciar também a extrapolação de standards de suportabilidade do sistema ecológico (no
caso dos bens naturais), de molde a abalar sua funcionalidade. A tolerabilidade é o limite entre o uso sustentável e a
ruptura do equilíbrio. Assim, é o interesse em restabelecer o equilíbrio econômico-jurídico afetado pelo dano que faz
nascer a responsabilidade civil. OBS.: o dano ambiental possui feição dúplice: de um lado, afeta um interesse de
titularidade difusa, por ser o meio ambiente um bem de uso comum do povo; de outro, pode malferir interesses
particulares, eis que remanesce uma dimensão subjetiva referente à esfera particular do titular do bem lesado
(DANO POR RICOCHETE).
3. Espécies de Responsabilidade por Danos Ambientais. A) Responsabilidade civil: segundo Nicolau Dino é
Objetiva com base no Risco Integral dano + nexo de causalidade; Independe de culpa e da ilicitude da conduta;
Não admite excludentes; Respondem solidariamente o autor do dano (particular ou o Poder Público, sendo que este
último assim responde mesmo por ter propiciado a ocorrência do dano por uma ação ou omissão anterior) e seu
sucessor; Visa a reparação de dano ambiental. B) Responsabilidade administrativa: está ligada ao poder de polícia
do Estado, ao Direito Administrativo Sancionador em matéria Ambiental; segundo Nicolau, via de regra independe
de culpa ou dolo, que somente devem estar presentes conforme exigir o tipo legal de infração administrativa
respectiva (art. 70, caput da Lei 9.605/98 + PREVISÕES do Decreto 6.514, de 22 de julho de 2008 com as
alterações do Decreto 6.686/08); Admite excludentes (caso fortuito, força maior, culpa exclusiva de 3º); É pessoal.
C) Responsabilidade penal: é Subjetiva; É sempre pessoal; admite responsabilidade da pessoa jurídica pelo sistema
da dupla imputação (a pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ou indiretamente pela conduta praticada por
decisão de pessoa física, representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado que atuam em benefício
daquela11).
4. Responsabilidade Civil por Danos Ambientais. Baseada em dois princípios básicos: A) Poluidor-pagador: não
quer dizer “pagar para poder poluir”. Não estabelece uma liceidade para o ato poluidor, como se alguém pudesse
afirmar: “poluo, mas pago”. Pode-se identificar no princípio do poluidor pagador 02 órbitas de alcance: 1) busca
evitar a ocorrência de danos ambientais (caráter preventivo); 2) ocorrido o dano, visa sua reparação (caráter
repressivo). Na órbita repressiva do princípio do poluidor pagador há incidência da responsabilidade civil. Sendo
que, em matéria ambiental prevalece a Prioridade da reparação específica do dano ambiental, ou seja, primeiramente
deve-se verificar se é possível o retorno ao status quo ante por via da reparação específica ou “in natura”, e somente
diante da impossibilidade desta é q deve recair a condenação sobre um quantum pecuniário; B) Princípio da
natureza pública e coletiva da tutela do m.a.: é dever do Poder Público e da coletividade preservar e defender o
m.a., assim, qualquer um que de alguma forma contribua para a ocorrência do dano ambiental responderá
solidariamente pelo art. 942, caput, do CC.
4.1. Observações Gerais. A) Segundo o STJ a pretensão de reparação de danos ambientais é imprescritível,
pois o que está em jogo é um direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos (RESP
1.112.117/2009); B) Segundo o STJ a obrigação de reparação de danos ambientais (notadamente a de
recomposição florestal) é propter rem, ou seja, o atual proprietário do imóvel responde diretamente pela obrigação
mesmo que o causador do dano seja o antigo proprietário, podendo em face deste ingressar com ação de regresso
(RESP nº 745.363/2007); C) A responsabilidade do Estado pelos danos ambientais oriundos de omissão na
fiscalização (situação propiciatória), é solidária e de execução subsidiária, o que significa que o Estado integra o
título executivo sob a condição de, como devedor-reserva, só ser convocado a quitar a dívida se o degradador
original, direto ou material (= devedor principal) não o fizer, seja por total ou parcial exaurimento patrimonial ou
insolvência, seja por impossibilidade ou incapacidade, inclusive técnica, de cumprimento da prestação judicialmente
imposta, assegurado, sempre, o direito de regresso (art. 934 do CC), com a desconsideração da personalidade
jurídica pelo art. 50 do CC (STJ, REsp 1.071.741-SP de 2009); D) Segundo Nicolau Dino, o fato de a atividade do
particular estar devidamente licenciada não afasta sua responsabilidade e o Estado, que responderá solidariamente
com aquele nos casos em que se omitir na fiscalização (portanto, com maior razão ainda o Estado responde se a
licença foi outorgada de forma ilegal); E) Segundo a Lei 6938/81, também os sócios (gerentes e mandatários) da
empresa têm responsabilidade pelo dano ao m.a. causado pela p.j., mas respondem de forma subsidiária, ou seja,
apenas depois de exauridos os bens da empresa; F) Quando se cobra a responsabilidade pelo dano ambiental através
de ACP não é necessário o litisconsórcio no pólo passivo da ação entre os causadores do dano , pode-se ajuizar
apenas contra um dos causadores do dano, eis que se trata de obrigação solidária a sua reparação, e, assim, este
poderá busca uma indenização em face dos demais causadores do dano em ação de regresso (STJ, 2ª Turma, REsp
880.160-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/5/2010); G) Segundo o STJ, em ACP relativa a dano
ambiental, cabe inversão do ônus da prova por aplicação do CDC, devendo o empreendedor da atividade
potencialmente lesiva demonstrar a segurança do empreendimento (STJ. RESP 972.902 de 2009).
2. Qual é o momento adequado para a inversão do ônus da prova? 02 CORRENTES: 1) trata-se de uma regra de
procedimento, devendo adotá-la até o momento do despacho saneador, no máximo, como forma de possibilitar o
contraditório (STJ, através de sua 2ª Seção, entende pela regra de procedimento); 2) Para outros, trata-se de uma
regra de julgamento, podendo ser utilizada a qualquer momento, inclusive quando da apreciação do mérito. Trata-se
de hipótese em que o juiz aplica a inversão do ônus da prova para a formação do seu convencimento. É aplicável a
qualquer momento, até mesmo em 2º grau de jurisdição. Inversão “ope judicis”: é aquela realizada pelo juiz.
Inversão “ope legis”: art. 12, § 3º, II (produto); art. 14, § 3º, I (serviço); art. 38, CDC
3. Dano moral coletivo: ofensa ao sentimento comum da coletividade. A 1ª T. do STJ (capitaneada por Teori Albino
Zavascki; vencido Fux) entende que não cabe dano moral coletivo no Brasil, porque não se pode falar em direitos da
personalidade transindividuais. A doutrina sustenta que o art. 6º, VI, do CDC, alberga a previsão de indenização e
reparação por danos morais coletivos e difusos. A 3ª (em obiter dictum) e a 6ª T. entendem ser possível. Para o
MPF, é importantíssima essa questão e formular tal pedido na inicial das ações, porque o fornecedor, muitas
vezes, vai reiterar a prática. O importante é punir para se evitar futuros danos aos consumidores futuros. O objetivo
é inibir a atuação danosa do fornecedor. O art. 6º, VI, CDC, faz menção expressa à “ efetiva prevenção”, o que só
pode ocorrer através dessa função punitiva. Então, a doutrina consumerista faz menção à função preventiva.
4. Modalidades de Responsabilidade do Fornecedor: No CDC, não há diferença entre a responsabilidade
contratual e a extracontratual (aquiliana). Pouco importa se é antes, durante ou pós-contratual, por isso se fala em
teoria contratual unitária. A grande diferença que se faz é quanto à responsabilidade pelo fato ou por vício. O CDC
diferencia vício de defeito (parcela da doutrina defende que vício e defeito se implicam reciprocamente [teoria da
qualidade], em razão disso nos teríamos vício de qualidade por inadequação e vício de qualidade por insegurança).
Seguindo o CDC: 1) Vício: é a mera inadequação do produto ou serviço para os fins desejados. Ex: compra-se uma
TV em 36 x, recebendo garantia até a próximo copa, a TV não liga, há um vício; 2) Defeito: está relacionado com a
insegurança do produto ou do serviço. Há um fato relacionado com a segurança. Ex: TV que explode.
5.3. Direito de regresso do comerciante contra os demais responsáveis pela causação do dano X denunciação
da lide: CDC arts 13, § único e 88: vedação da denunciação da lide. Fundamento: a) traz nova pessoa à lide; b)
retarda a reparação de danos do consumidor; c) traz nova fundamentação jurídica ao processo (responsabilidade
subjetiva entre os fornecedores). A doutrina nunca fez diferença nessa vedação quanto a fato do produto ou fato do
serviço. *O STJ em alguns julgados, envolvendo, por exemplo, consumidor travado em porta giratória de banco,
vem entendo que a vedação à denunciação da lide restringe-se à responsabilidade por fato do produto, mas não por
fato do serviço (RESP 439.233 e RESP 1.024.791). Assim, o banco pode trazer a lide a empresa de segurança, não
tendo nenhum óbice a defesa do consumidor.
6. Modalidades de defeitos (03 teorias): 1) defeito de concepção/criação: nos casos de defeitos do projeto, da
formulação ou do design dos produtos, capazes de provocar acidentes de consumo (adotada pelo CDC no § 1º do
Art. 12, levando-se em consideração circunstâncias relevantes, dentre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e
os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação); 2) defeito de
produção/fabricação: são os defeitos na fabricação, construção, montagem, manipulação e acondicionamento dos
produtos; 3) defeito de Informação/comercialização: quando existir defeito da apresentação e informação
insuficiente e inadequada na oferta. A essência do produto esta perfeita, mas a falha na informação pode usar uma
falha no consumo.
6.1. Teoria do risco do Desenvolvimento (art. 12, §1º, III): os defeitos do produto eram desconhecidos e
imprevisíveis à época da colocação em circulação em face do estado da ciência e da tecnologia. Para a maioria não
é causa excludente de responsabilidade. Fundamento: seria a reintrodução da culpa como critério de
responsabilidade no CDC, sendo que a responsabilidade no CDC é objetivo. Mesmo para a minoria que admite a
teoria como uma causa excludente, toda a comunidade científica deveria desconhecer os malefícios do produto, e
não apenas o fornecedor. OBS.: Inovação tecnológica não gera produto defeituoso: o produto não é considerado
defeituoso se outro mais moderno for colocado no mercado (12, § 2º).
6.2. Espécies de periculosidade: 1) inerente: é admitida nas relações de consumo. Isso porque o risco é inerente
ao produto. O risco inerente é aquele normal e previsível. CDC art. 8º. Obs.: o fornecedor tem que dar as
informações necessárias e adequadas a respeito do produto (CDC art. 8º, parte final, e art. 9º); 2) adquirida. Não é
admitida na relação de consumo. Surge em razão de um defeito do produto. Característica principal:
imprevisibilidade; 3) exagerada: inadmissível na relação de consumo, pois o potencial danoso é evidente em
virtude da previsibilidade e da informação acerca do produto (art. 10 e §§).
6.3. Causas excludentes de responsabilidade pelo fato do produto: em regra, são as hipótese previstas no art. 12,
§3º, CDC. O fornecedor deve provar: I - que não colocou o produto no mercado (há quebra o nexo de causalidade);
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste (Min. Herman Benjamin entende que ao
consumidor basta provar o dano e o nexo causal, pois é obrigação do fornecedor provar que o defeito inexiste. Essa
não é a posição que prevalece); III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (Se a culpa do consumidor for
concorrente, a responsabilidade do fornecedor não é excluída, havendo apenas redução da indenização devida).
OBS.: caso fortuito e força maior (apesar de não previsto no CDC) excluem a responsabilidade do fornecedor se
ocorrerem após a colocação do produto ou do serviço no mercado de consumo.
7. Responsabilidade pelo fato do serviço (CDC art. 14): É aquele que decorre de um acidente de consumo em
razão da prestação de um serviço defeituoso. É uma responsabilidade objetiva. Basicamente tudo o que foi dito para
o produto defeituoso serve para o serviço defeituoso. Serviço defeituoso (art. 14, §1º): é aquele que não fornece a
segurança que o consumidor pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes: I - o modo de
seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido.
Art. 14, §2º: o serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
7.1. Responsabilidade das Concessionárias de Serviços Públicos: haverá responsabilidade objetiva das
concessionárias quando o dano decorrer de serviço prestado mediante o pagamento de tarifa (preço público) como
nos casos de coleta domiciliar de lixo, esgoto, fornecimento de água e energia elétrica, serviços de telefonia, não se
aplicando o CDC quando o serviço for remunerado mediante taxa (conforme RESPs 853.964, 848.287, 684.020,
793.422). OBS.: é lícito à concessionária de energia elétrica interromper seu fornecimento se, após aviso
prévio, o consumidor permanecer inadimplente no pagamento da respectiva conta (O princípio da continuidade do
serviço público assegurado pelo art. 22 do CDC deve ser obtemperado, ante a exegese do art. 6º, § 3º, II, da Lei nº
8.987/95 que prevê a possibilidade de interrupção do fornecimento de energia elétrica quando, após aviso,
permanecer inadimplente o usuário, considerado o interesse da coletividade - RESP 805113 de 2008), porém a
doutrina e alguns membros do STJ ressalvam os casos de hipervulnerabilidade de consumidores pessoas físicas
que são ou abrigam idosos, enfermos e crianças, bem como no caso de certas pessoas jurídicas a exemplo dos
hospitais, hipóteses nas quais a possibilidade de corte estará sujeita a prévio exame judicial - RESPs 684.442 e
853.392.
7.2. Causas excludentes de responsabilidade do fornecedor do serviço: deve provar: I - que, tendo prestado o
serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (o fato de 3º, para excluir a
responsabilidade do prestador de serviço, não pode estar relacionado com serviço em si). Obs1.: culpa concorrente
da vítima não exclui a responsabilidade, mas apenas atenua a indenização (STJ RESP 226.348: a responsabilidade
da companhia ferroviária não é excluída por viajar como “pingente”, podendo ser atenuada se demonstrada a culpa
concorrente; STJ RESP 437.195: há responsabilidade por culpa concorrente, da concessionária de transporte por
acidente de três em via férrea, em razão do dever de fiscalização). Obs2.: CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR:
para haver exclusão, o STJ faz distinção entre FORTUITO EXTERNO: que não tem relação com o serviço
prestado e exclui a responsabilidade; e o FORTUITO INTERNO: é aquele que guarda relação com o serviço
prestado e não exclui a responsabilidade (tem relação com o serviço prestado, exemplo: pneu do ônibus que estoura
e gera acidente). STJ RESP 142.186: fato de terceiro que não tem conexão com o transporte (ex: assalto), é causa
excludente de responsabilidade da concessionária (Diferentemente ocorre no fato de que em determinada região
sempre ocorre assalto. A empresa sabe que ali sempre ocorre assalto. Então ela não pode alegar fato fortuito,
porque, diante da previsibilidade do evento, é obrigação da concessionária mudar a rota). RESP 750.418: cheques
furtados de agências bancárias e posterior negativação do cliente no SPC. A segurança é prestação essencial da
agência bancária, este fato de terceiro tem conexão com o serviço prestado. Ação de terceiro que furta talão de
cheque no banco gera indenização, não é causa excludente de responsabilidade. É dever do banco garantir a
segurança do dinheiro, do cheque e do cartão de crédito dos clientes. Obs3.: “Recall”: se o fornecedor faz o recall e
o consumidor não comparece, não haverá excludente de responsabilidade do fornecedor (STJ RESP 1.010.392).
Fundamento: o simples fato de chamar não exclui a responsabilidade do fornecedor.
8. Responsabilidade do profissional liberal: é a exceção à regra, uma vez que aqui a responsabilidade é subjetiva,
fundada na idéia de culpa. Art. 14, §4º, CDC. Conceito de Profissional liberal: é o não empregado que trabalha por
conta própria em profissão de nível superior ou não, exercendo atividade intelectual ou braçal. Razões do
tratamento diferenciado para o profissional liberal: 1) É uma relação pautada na confiança, na fidúcia; 2) em
regra, profissional liberal desempenha atividade de meio, consistente no compromisso de empregar todo o
conhecimento para atingir o resultado desejado, não estando obrigado a atingir o resultado pretendido. OBS.: Se a
atividade for de resultado (ex: cirurgia plástica de embelezamento), haverá uma exceção da exceção à regra, não
respondendo de forma subjetiva, pois a atividade é de fim/resultado e não de meio, sendo a responsabilidade
objetiva. Obs.: a cirurgia plástica reparatória é de meio e não de resultado. STJ RESP 236.708: cirurgia plástica
estética: obrigação de resultado.
8.2. Serviços de advocacia: Prevalece no STJ que não se aplica o CDC às atividades envolvendo advocacia. RESP
757.867. RESP 914.105: o Fundamento é a existência de legislação própria que regulamento a atividade do
advogado com cliente, não se aplicando o CDC.
9.1. Vícios de qualidade, art. 18: É aquele que torna o produto impróprio ou inadequado ao consumo, capaz de
diminuir o valor do produto, bem como aquele decorrente de disparidade com as informações da oferta. O art. 18
não especifica cada um dos fornecedores. Logo, todos os entes da cadeia produtiva são responsáveis, inclusive o
comerciante (RESP 1.118.302 – outubro de 2009). O CDC, no art. 18, §6º, define “produto impróprio”: I -
produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II – produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,
falsificados, corrompidos, fraudados etc; III – produtos que por qualquer motivo ser revelem inadequados ao fim a
que se destinam (Obs1.: pequenos defeitos não são impeditivos da comercialização do produto, desde que haja
transparência na relação [informação ostensiva e adequada]. É a boa-fé objetiva; Obs2.: “Respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza”: em razão da natureza de alguns produtos, algumas variações não serão consideradas
como vício).
9.2. Alternativas conferidas ao consumidor diante do vício do produto (art. 18, §1º): I – substituição do produto
por outro de mesma espécie, em perfeitas condições de uso. Não havendo outro produto da mesma espécie, o §4º dá
a solução: poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelos diversos, mediante complementação ou
restituição de eventual diferença de preço; II – restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem
prejuízo de eventuais perdas e danos; III – abatimento proporcional do preço. OBS1: Antes de dar as opções ao
consumidor, o art. 18, §1º, concede ao fornecedor o prazo máximo de 30 dias para tentar resolver o problema.
Esse prazo para sanar o vício do produto pode também ser convencionado, podendo ser no mínimo 07 dias e no
máximo 180 dias (art. 18, §2º). EXCEÇÃO: art. 18, §3º: O consumidor poderá fazer uso imediato de qualquer
das 03 alternativas se a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do
produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial (O conceito de essencialidade deve ser aferido no
caso concreto). OBS2: nos contratos de adesão a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio
de manifestação expressa do consumidor.
Art. 18, §5º: produtos “in natura”. São aqueles que vêm diretamente do campo, sem passar pelo processo de
industrialização. No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o
fornecedor imediato (comerciante), exceto quando identificado claramente o produtor. Trata-se de uma exceção à
regra da responsabilidade solidária do “caput” do art. 18.
9.3. Vício de quantidade (art. 19): Ocorre quando o conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária. Todos da cadeia vão responder
solidariamente, em regra. Também aqui determinadas variações decorrentes da natureza de certo produto não
caracteriza vício. Ex.: gás liquefeito engarrafado. Obs.: não há prazo legal fixado ao fornecedor para resolver o vício
de quantidade.
10. Responsabilidade pelo vício do serviço no CDC (art. 20): Alternativas conferidas ao consumidor: I –
reexecução do serviço, sem custo adicional e quando cabível. Obs.: a reexecução dos serviços poderá ser confiada a
terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor (§1º); II – restituição imediata da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III – abatimento proporcional do preço.
Art. 23: a alegação de ignorância por parte do fornecedor não o exime de responsabilidade. Ou seja, é irrelevante a
apreciação da culpa do fornecedor.
11. Garantia Legal (art. 24): É a garantia de adequação do produto ou serviço ao fim a que se destina. A garantia
legal é obrigatória e independe de termo expresso.
12. Da Decadência para reclamar por vícios do produto e do serviço: Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios
aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não
duráveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis. § 1º Inicia-se a
contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. § 2º
Obstam a decadência (majoritariamente entendidas como causas de suspensão): I - a reclamação
comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa
correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; III - a instauração de inquérito civil, até seu
encerramento. § 3º Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar
evidenciado o defeito: I – 30 dias produtos e serviços são duráveis; II – 90 dias: produtos e serviços duráveis.
OBS1: Tratando-se de vício oculto o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito
(art. 26, §3º). Como se calcula isso? Qual é o critério? Se estiver dentro de sua vida útil, é possível falar em vício
oculto (critério da vida útil) RESP 760.262; OBS2: Como se sabe se um serviço é durável ou não? O critério está
relacionado à durabilidade do resultado. Ex: a detetização demorou 15 minutos, mas os efeitos demoram por meses.
Ou seja verifica-se a durabilidade do resultado e não o tempo de sua execução. OBS3: Se o vício for de fácil
constatação, ou aparente, inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do fim
da execução do serviço (art. 26, §1º).
13. Prazo prescricional para reclamar por fato do produto ou serviço (CDC art. 27). O prazo é de 05 anos,
iniciando-se sua contagem a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. ATENÇÃO: em provas, o
examinador troca a expressão “fato” por “vício”. Mistura-se decadência com prescrição. Fato do produto ou do
serviço defeituoso com prazos decadenciais. Decorre de um defeito. O prazo é de 05 anos. OBS1: RESP 575.479:
vício intrínseco que provavelmente vai dar ensejo a acidente de consumo: é possível a aplicação do art. 27.
14. Questões Polêmicas: 1) TABAGISMO. Cidadão cresceu aprendendo que cigarro é para pessoas bem sucedidas.
Depois de anos, constatou-se uma perda na capacidade respiratória. Entrou com uma reparação de danos contra
alguma das marcas que ele fumou a vida inteira. Entrou com ação com mais de 05 anos após o descobrimento.
Aplica o CDC ou o CC/1916? RESP 489.895 de 10.03.10: o prazo prescricional envolvendo a questão dos cigarros é
de 05 anos; 2) Reparação de danos decorrentes da inscrição indevida no CADIN: qual o prazo? RESP 740.061
(julgado em 02.03.10): não decorrendo do fato do serviço, isto é, acidente de consumo, inexistindo norma específica
para o caso, aplicável o CC/2002; 3) Prazo no caso de seguro de veículo. Ocorre um acidente, mas a seguradora
não paga o valor ou paga a menor. Prazo: CDC ou CC/2002 (art. 206, §1º, inciso II)? STJ: Resp 574.947/BA de
09.06.04: o não pagamento do seguro não constitui fato do serviço, mas sim inadimplemento contratual razão pela
qual se aplica o CC/2002 art. 206,§1º, II, cujo prazo é de 01 ano. STJ: Resp 842.688/SC: a ação para complementar
a indenização securitária prescreve em um ano, tendo como termo inicial a data da ciência, pelo segurado, do não
pagamento.
ITEM 6.A: Dos fatos jurídicos, dos atos jurídicos e dos negócios jurídicos.
Obras consultadas: Caio Mário da Silva Pereira. Direito Civil, volumes I, III e IV; Anotações de aulas de Cristiano
Chaves e Pablo Stolze.
Legislação básica: Código Civil, Parte Geral, Contratos em Espécie e Direitos Reais.
FATO JURÍDICO
1. Conceito. Todo acontecimento natural ou humano que deflagra efeitos na órbita do direito, criando, modificando,
conservando ou extinguindo relações jurídicas é fato jurídico.
2. Divisão. O fato jurídico em sentido amplo subdivide-se em: Fato jurídico em sentido estrito; Ato-fato; Ações
humanas.
B. ATO-FATO
Alguns autores resistem a essa categoria, a exemplo de Flávio Tartuce. Outros a consagram. O Código Civil de 2002
não trouxe norma específica a respeito dessa categoria, desenvolvida por Pontes de Miranda e, mais recentemente,
Marcos Bernardes de Mello.
O ato-fato traduz um comportamento gerador de efeitos jurídicos que, apesar de derivar do homem, é desprovido de
voluntariedade e consciência em face do resultado existente.
Trata-se de fato jurídico qualificado por uma atuação humana, por uma vontade não relevante juridicamente. Ou
seja: o ato humano é realmente da substância desse fato jurídico, mas não importa para a norma se houve, ou não,
intenção de praticá-lo. Ex.: compra e venda feita por crianças; alienado que pinta um quadro. Encontra-se entre o
fato natural e a ação do homem: comportamento humano que, apesar de gerar conseqüências jurídicas, é desprovido
de vontade e consciência quanto aos seus efeitos.
Convém relembrar o Enunciado 138 do CJF/STJ: 138 – Art. 3º: A vontade dos absolutamente incapazes, na
hipótese do inc. I do art. 3º, é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles
concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto.
C.1 Ato jurídico em sentido estrito. O ato jurídico em sentido estrito, também denominado de ato não negocial,
previsto no art. 185 do CC., traduz todo o comportamento humano voluntário e consciente gerador de efeitos
previamente determinados por lei.
Não há liberdade negocial e autonomia na escolha dos efeitos jurídicos pretendidos. Vale dizer, os efeitos de um ato
em sentido estrito são automaticamente conferidos pela lei. Ex.:
Percepção do fruto de uma árvore, gerando, automaticamente, o direito de propriedade;
Apreensão de coisa sem dono;
Ato de fixação de domicílio;
Atos de comunicação (protesto, notificação etc.). O único efeito que decorre do ato de notificar é a
comunicação.
C.2 Negócio jurídico. O negócio jurídico, por sua vez, de estrutura muito mais complexa, traduz uma declaração de
vontade, pela qual o agente, segundo a autonomia privada e a liberdade negocial, escolhe os efeitos jurídicos que
pretende alcançar. Ex.: Contrato; Testamento.
No negócio existirá sempre, em menor ou menor grau, liberdade na escolha dos efeitos jurídicos que se quer atingir.
As duas principais teorias que explicam o negócio jurídico são a voluntarista (o núcleo do negócio jurídico é a
vontade interna, a intenção do declarante; influenciou fortemente o CC/02) e a objetiva ou da declaração (o núcleo
do negócio jurídico é a vontade externa que se declara). Ocorre que as duas vontades têm que ser consideradas, o
negócio é o que se pensa e o que se declara. As teorias se conjugam. Se o que foi declarado não correspondeu ao
pensado, é porque houve um vício de vontade (erro, dolo, etc.).
Plano da existência do negócio jurídico: pressupostos existenciais ou elementos constitutivos do negócio jurídico.
São eles: manifestação de vontade (soma da vontade interna com a vontade externa que se declara), agente, objeto e
forma (oral, escrita, ou linguagem mímica).
Obs.: A forma é pressuposto de existência, mas a forma prescrita em lei é requisito de validade (negócio ad
solemnitatem); ex.: na compra e venda de imóvel de valor superior a 30 salários mínimos (atribuído pelas partes
contratantes e não o valor arbitrado pela Administração Pública, com finalidade tributária), o negócio é solene, exige
escritura pública como requisito de validade. Se a forma for exigida para prova do negócio (matéria de processo
civil), este é denominando ad probationem.
O silêncio: em regra, não traduz manifestação de vontade. Excepcionalmente, pode gerar efeitos jurídicos (art. 111
do CC).
Plano da validade do negócio jurídico: pressupostos de validade são pressupostos de qualidade do negócio
jurídico, a fim de que ele tenha aptidão para gerar efeitos, nada mais são do que os pressupostos de existência
qualificados.
Para ser válido o negócio, a manifestação de vontade tem que ser totalmente livre e de boa fé (sem os defeitos do
negócio jurídico: erro, dolo, coação moral, lesão, estado de perigo, simulação e fraude contra credores), o agente
tem que ser capaz e legitimado, o objeto tem que ser lícito (compatibilidade com a lei e com o padrão médio de
moralidade), possível e determinado (ou ao menos determinável) e a forma deve ser prescrita ou não defesa em lei.
A invalidade é gênero, a nulidade e a anulabilidade são espécies.
Plano da eficácia do negócio jurídico: os elementos que interferem na eficácia jurídica do negócio são chamados
de acidentais, porque podem ou não ocorrer. São eles: condição, termo e modo ou encargo.
Condição: acontecimento futuro e incerto que subordina a eficácia do negócio jurídico. Deve ser estipulada pelas
partes, não pode ser imposta por lei. Pode ser suspensiva ou resolutiva, não pode ser ilícita. A condição meramente
potestativa é ilícita, porque deriva do exclusivo arbítrio de uma das partes. A simplesmente potestativa também
depende da vontade de uma das partes, mas alia-se a fatores circunstanciais que a amenizam, por isso não é ilícita.
Termo: acontecimento futuro e certo que interfere na eficácia jurídica do negócio. Diferentemente da condição
suspensiva, o termo inicial suspende apenas o exercício, mas não os direitos e obrigações decorrentes do negócio.
Modo ou encargo: ônus que se atrela a uma liberalidade. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do
direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.
ITEM 6.B: Da troca, da doação, do jogo e da aposta.
DA TROCA OU PERMUTA: Historicamente, a troca foi o primeiro contrato existente, substituindo a fase da
aquisição dos bens pela força e passando a adotar a técnica do entendimento recíproco. Seu mecanismo consiste na
entrega de uma coisa por outra - rem pro re- objetivando a prestação de cada um dos contratantes uma coisa em
espécie. Foi sucedido pela compra e venda na escala do desenvolvimento humano, pois se passou a eleger valores-
paradigmas (gado, metal, moeda cunhada) ao invés da troca pelas coisas em espécie, razão pela qual a compra e
venda e a troca andam de forma parelha. Inclusive, no Direito Romano, para os proculeianos, a permuta era uma
espécie de compra e venda.
Assim, pode-se definir a troca ( permuta, escambo ou barganha) como o contrato mediante o qual uma das partes se
obriga a transferir à outra uma coisa, recebendo em contraprestação coisa diversa, diferente de dinheiro. Seus
caracteres são os mesmos da compra e venda ( bilateral, oneroso, comutativo, translatício do domínio, embora não a
opere diretamente (depende da tradição), consensual.
Especificidades:
a- é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem o consentimento expresso dos
demais descendentes e do cônjuge do alienante, salvo se casado no regime de separação absoluta de bens.
b- cada um dos contratantes deve pagar por metade as despesas com o instrumento da troca, ao contrário da compra
e venda, na qual se presume que as despesas da escritura ficam à conta do comprador e as da tradição sob
responsabilidade do vendedor.
obs:. Quando são desiguais os valores dos bens permutados e há uma torna em dinheiro, surge controvérsia sobre a
natureza do contrato: objetivista- cogita dos valores e considera que será troca ou compra e venda se a coisa tiver
maior valor do que o saldo ou vice-versa; subjetivista: dá relevância à intenção das partes e considera troca ou venda
o contrato se as partes tiveram o propósito de realizar uma ou outra. Terceira corrente, predominante na França, é
mais eclética, conjugando os elementos anímico e material.
DA DOAÇÃO
CONCEITO (ART. 538, CC)
Nos termos do art. 538 do CC, doação é liberalidade. Em verdade, a doação é a soma de dois elementos: um
objetivo e outro subjetivo. Ela consiste na transferência de patrimônio ou vantagens (elemento objetivo), por
vontade/intenção de praticar a liberalidade (elemento subjetivo).
A simples ausência de um desses elementos (objetivo/subjetivo) descaracteriza a doação. O art. 538 do CC-02
confirma isso.
CLASSIFICAÇÃO
-.Contrato solene (Mas atente: existe apenas uma hipótese em que o contrato de doação deixa de ser solene e passa a
ser real. É o caso que vem previsto no parágrafo único do art. 541, denominada doação manual, consistente na
doação verbal de bens móveis de pequeno valor, seguida da tradição.)
. Contrato unilateral
.Contrato gratuito
Muita atenção: não incidem, no contrato de doação, vícios redibitórios e evicção. O doador não responde por tais
eventos, por um motivo muito simples: se ele respondesse, estaríamos impondo uma responsabilidade pela prática
de ato meramente gratuito. Há duas exceções, dois casos em que o doador responde por vícios redibitórios e
evicção:
a) Doação remuneratória (doação em contrapartida da prestação de serviços não exigíveis);
b) Doação contemplativa de casamento futuro.
PROMESSA DE DOAÇÃO
O STJ já admite a promessa de doação. Ela é algo bem comum, trazendo consigo inúmeros casos. Ex.: dissolução de
união estável ou divórcio consensual (é muito comum o ajuste de que o patrimônio comum ficará para o filho,
havendo recusa posterior). Com o advento do art. 462/463 do CC, que trata de contrato preliminar, é possível
enquadrar, com perfeição, a promessa de doação como contrato preliminar, gerando, portanto, tutela específica.
REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO
De ordinário, a doação é irrevogável e irretratável. Logo, causa um pouco de estranheza falar de “revogação” da
doação.
É possível falar em revogação da doação apenas em determinados casos. Tecnicamente, nestas situações, não há
revogação (que significa voltar atrás), mas sim desconstituição do ato (cassação de seus efeitos), o que se faz pela
via judicial.
A revogação da doação, no CC-02, pode ocorrer por dois diferentes motivos:
a) Descumprimento de encargo;
b) Ingratidão do donatário.
A revogação da doação por descumprimento de encargo se dará quando o encargo não foi cumprido. Evidentemente,
essa revogação pressupõe mora do donatário, que não cumpre o encargo no prazo. Não havendo prazo, o juiz
assinalará prazo razoável. O CC-02 não contemplou prazo extinto para o ajuizamento de ação de revogação por
descumprimento do encargo, o que levou parte da doutrina a entender que ele seria de 1 ano (mesmo prazo da
revogação por ingratidão do donatário). O STJ, contudo, entendendo que essa ação tem natureza condenatória
(condenada o donatário à perda do bem) decidiu que este prazo é prescricional, de 10 anos.
A revogação da doação por ingratidão do donatário, prevista no art. 559 do CC, não se aplica em qualquer doação.
Com efeito, dispõe art. 564 que não admitem essa revogação:
As doações puramente remuneratórias;
As oneradas com encargo já cumprido;
As doações feitas em cumprimento de obrigação natural;
As feitas em contemplação de casamento futuro.
Todas as demais hipóteses de doação admitem revogação por ingratidão.
Com efeito, a ação de revogação por ingratidão do donatário também é personalíssima, estando sujeita ao prazo
decadencial de 1 ano, nos termos do art. 559 do CC-02. Embora seja ação personalíssima, por óbvio, se o doador
falece, os seus herdeiros podem dar continuidade à ação já proposta.
Dispõe o art. 561 do CC-02 que, “no caso de homicídio doloso do doador, a ação caberá aos seus herdeiros, exceto
se aquele houver perdoado”. Esse dispositivo é ridículo, pois não há como um morto perdoar alguém.
As quatro hipóteses de revogação da doação por ingratidão, previstas no art. 557, são:
Homicídio doloso, consumado ou tentado, praticado pelo donatário contra o doador;
Ofensa física;
Injúria grave;
Abandono material.
Ampliando esse rol, o art. 558 dispõe que também haverá ingratidão quando o ofendido for o cônjuge, companheiro,
ascendente, descendente ou irmão do doador. Pergunta-se: existem outras hipóteses de ingratidão ou o rol
apresentado pelo CC é exaustivo?
O rol pode ser ampliado, para considerar outras hipóteses que tenham a mesma finalidade. Ex.: o juiz pode revogar a
doação por ingratidão por auxílio, induzimento ou instigação ao suicídio. Aplica-se aqui a tese da tipicidade
finalística.
DO JOGO E DA APOSTA: os dois contratos são tratados conjuntamente pelo Código, em atenção ao elemento
comum, que é o azar ou álea essencial. Devem, contudo, distinguir-se: jogo é o contrato em que duas ou mais
pessoas prometem, entre si, pagar certa soma àquele que lograr um resultado favorável de um acontecimento
incerto; APOSTA é o contrato em que duas ou mais pessoas prometem, entre si, pagar certa soma àquele cuja
opinião prevalecer em razão de um acontecimento incerto. Ou seja, no jogo há propósito de distração ou ganho e
PARTICIPAÇÃO DOS CONTENDORES; na aposta há o sentido de uma afirmação a par de uma atitude de mera
expectativa.
Com efeito, as dívidas resultantes do jogo ou da aposta não são exigíveis. Pago o valor, não é cabível a restituição
(obrigação natural). Porém, existem duas exceções: primeira, fundada no dolo do ganhador, que não obtém da sorte
o resultado, mas sim de artifício empregado; a segunda, se o perdente for menor ou interdito.
ITEM 6.C: Do direito de superfície, da enfiteuse, das servidões, do uso e da habitação.
68
Não permite o resgate (aquisição do bem sobre o qual pairava a enfiteuse), afinal há inalienabilidade do bem
público;
Exige prévio consentimento da União para alienação da enfiteuse.
Se o enfiteuta deixar de pagar o foro por 3 prestações seguidas ou 4 intercaladas, ocorre a caducidade de terra
publica (comisso). A União tem o dever de notificar o enfiteuta para que possa purgar a mora e revigorar a enfiteuse,
como já decidiu o STJ em 2003.
F. Formas de constituição. A enfiteuse pode ser criada:
1) Por negócio jurídico entre as partes (inter vivos ou causa mortis);
2) Por usucapião (obs.: é possível a usucapião de enfiteuse de terra pública, pois, neste caso, a propriedade do
Estado se mantém.).
G. Objeto. A enfiteuse tem por objeto terras incultivas e terrenos para edificação.
É possível o chamado regime de co-enfiteuse, quando ela é constituída em favor de duas ou mais pessoas (espécie
de condomínio de enfiteuse). Em se tratando de regime de co-enfiteuse, os co-enfiteutas devem eleger um cabecel,
que consiste no administrador da enfiteuse.
Obs.: é nos Juizados Especiais cíveis que se fixa a competência para dirimir conflito no que diz respeito à eleição
do cabecel. Se os co-enfiteutas não o elegerem, a sua indicação passará para o senhorio.
H. Duração. A enfiteuse é perpétua e, conseqüentemente, não se extingue com a morte do foreiro. Morrendo o
foreiro, a enfiteuse é passada aos seus herdeiros. Mas veja: a única exceção a essa regra está no art. 692, III do
Código Civil de 19216: caso o foreiro que morreu não tenha deixado sucessores, abrir-se-á o procedimento de
herança jacente (ou vacante), parando a enfiteuse nas mãos do Poder Público. Neste caso, em razão da
inalienabilidade dos bens públicos, a morte do enfiteuta sem deixar sucessor implica em extinção da enfiteuse (seria
impossível ao senhorio consolidar a sua propriedade).
Também pode haver a extinção da enfiteuse pelo comisso, que ocorre com a paralisação do pagamento do foro
anual por 3 anos consecutivos.
A Súmula 122 do STF estabelece que “o enfiteuta pode purgar a mora enquanto não decretado o comisso por
sentença”. Conseqüentemente, o comisso só pode ser reconhecido por decisão judicial. Nestes casos, o foreiro ou
enfiteuta tem direito de indenização por benfeitorias necessárias que introduziu no imóvel.
É possível visualizar a extinção ainda nos seguintes casos:
Desapropriação;
Resgate;
Etc.
SERVIDÃO PREDIAL
A. Introdução. A servidão predial é expressão que deriva do latim “servidus”, que significa prestação de serviços,
utilidade. A servidão nada mais é do que uma utilidade, ou seja, uma prestação de serviços de um prédio em relação
ao outro.
Em palavras muito claras, servidão predial é o direito real na coisa alheia através do qual um prédio (um imóvel)
sofre uma restrição para gerar um benefício, uma utilidade, para outro prédio.
Entende-se por “prédio” um imóvel, que pode ser, v.g., uma casa. Em toda servidão predial há dois prédios
envolvidos:
Prédio dominante É aquele que recebe a vantagem;
Prédio serviente ou dominado É aquele que sofre a restrição.
Uma das mais comuns servidões é a servidão de passagem (comumente usucapida nas cidades do interior).
Temos ainda: servidão de águas, de luz etc. Muita atenção: não confundir servidão com direito de vizinhança:
Direito de vizinhança Servidão
Consiste em limitações ao direito de propriedade, Cuida-se de benefício de um prédio em relação ao
sempre em favor da coletividade. outro.
As limitações são recíprocas. Inexiste reciprocidade.
69
4) A servidão representa um benefício para o prédio e não para o titular. Não há servidão se o benefício é
pessoal.
5) Toda servidão é perpétua (perpetuidade). Ela estabelece para o prédio serviente uma obrigação propter rem,
aderindo à coisa (se o prédio for alienado, a servidão o acompanhará).
C. Modos de constituição. A servidão pode ser adquirida de múltiplas formas:
1) Através de negócio jurídico (vontade das partes), seja ele inter vivos ou causa mortis (testamento).
2) Pela usucapião.
3) Por sentença (decisão judicial). O juiz pode constituir a servidão. Como exemplo, temos a chamada ação de
divisão, prevista no art. 979, II do CPC:
A ação de divisão serve para dividir um condomínio, caso o bem seja divisível. Nesta ação, o juiz pode instituir uma
servidão, para que uma parte não fique prejudicada em relação à outra. Neste caso, se o prédio está encravado – não
tendo acesso algum à via pública – o caso não será de servidão, mas sim passagem forçada. Convém lembrar que
todos os direitos de vizinhança geram responsabilidade objetiva.
D. Espécies de servidão. As servidões se classificam em três critérios: positivas/negativas; contínuas/descontínuas;
aparentes/não-aparentes.
i. Servidões positivas e servidões negativas
l As servidões positivas são aquelas que conferem ao titular (prédio dominante) o poder de praticar algum ato no
prédio dominado. Ex.: servidão de trânsito e servidão de aqueduto.
l De outro lado, as servidões negativas são aquelas que impõem ao prédio serviente (dominado) uma abstenção
em relação à prática de um ato que lhe seria lícito e possível. Ex.: servidão de proibição de abertura de janela. Obs.:
nos artigos 1.301 e 1.303, o CC proíbe a abertura de janela, terraço, eirado ou varanda, a menos de 1,50m da zona
urbana e 3m, na zona rural. Cuida-se de direito de vizinhança, com deveres recíprocos, e não servidão, pois não é
lícito a ninguém violar estas normas.
Nenhuma servidão negativa pode violar direitos fundamentais. Não poderá, por exemplo, limitar ou proibir a prática
de um direito que seja fundamental.
ii. Servidões contínuas e descontínuas
l As servidões contínuas são aquelas que dispensam ato humano para o ser exercício. Ex.: servidão de
escoamento (a natureza materializa a servidão); servidão de passagem de água; servidão de luz.
l Descontínua, por sua vez, é a servidão cujo exercício depende de ato humano. Ex.: servidão de trânsito; servidão
de tirada de água; servidão de não construir acima de determinado andar.
iii. Servidões aparentes e não aparentes
l As servidões aparentes são aquelas visíveis por obras/sinais externas. Ex.: servidão de aqueduto.
l As não-aparentes são aquelas que não possuem sinal exterior (são imperceptíveis por sinal exterior). Ex.:
servidão de proibição de construção acima de determinado andar.
Somente para as servidões aparentes é permitido o uso de ações possessórias, já que somente elas são
suscetíveis de posse. Merece atenção a Súmula 415 do STF: uma servidão de trânsito visível por sinais externos
(reforço de uma ponte, realização de obra para passagem de pneus etc.) é considerada aparente, possuindo proteção
possessória.
STF Súmula nº 415 - Servidão de trânsito não titulada, mas tomada permanente, sobretudo pela natureza das obras
realizadas, considera-se aparente, conferindo direito à proteção possessória.
Merece atenção, neste ponto, a teoria do ato ilícito, aplicável às servidões. Com efeito, se o prédio dominante retira
mais do que o contrato lhe permite, pratica um ato ilícito. Indaga-se: esse ilícito é objetivo ou subjetivo? Depende.
Ex. trazido por Silvio Rodrigues: na servidão de retirada de água (acertada em até 10 litros diários), se o dominante
retira 15 litros num dia, pratica ato ilícito subjetivo. Se, por outro lado, retira 8 litros, quando lhe eram necessários
apenas 5 litros, pratica ato ilícito objetivo (abuso de direito)
E. Tutela processual das servidões. A mais comum e efetiva forma de proteção à servidão é o uso das ações
possessórias. Todavia, no campo das servidões, há duas ações específicas:
Ação confessória Cuida-se de ação promovida pelo prédio dominante, para que o juiz declare que a servidão
existe;
Ação negatória É aquela promovida pelo prédio dominado, para que o juiz reconheça que a servidão não
existe, ou se extinguiu.
F. Extinção. Ocorre nos seguintes casos:
Não exercício da servidão pelo prazo de 10 anos implica na sua extinção. Se o prédio dominado pratica o ato
que se comprometeu a não realizar, e o dominante não se manifesta em 10 anos, haverá extinção do direito real.
Cancelamento da servidão. Mas atente: se o prédio dominante estiver hipotecado, e a servidão for mencionada
no título hipotecário, será também preciso, para cancelar, o consentimento do credor.
Desapropriação;
Renúncia;
Cessação da utilidade ou comodidade que determinou a constituição.
Resgate;
70
Reunião dos dois prédios no domínio da mesma pessoa;
Supressão das respectivas obras por efeito de contrato ou de outro título expresso.
71
2) Extinto o direito de superfície, as construções e plantações nela existentes passam a pertencer ao
proprietário, salvo disposição em contrário. Isso estimula as pessoas a celebrarem contrato de superfície gratuito
(além de evitar as sanções pelo não atendimento da função social da propriedade).
3) Alguns autores enxergam que o Estatuto da Cidade, implicitamente, estaria permitindo um desdobramento do
direito de superfície chamado de sobrelevação. Sobrelevação é o direito de superfície do espaço aéreo (direito de
laje).
4) O CC-02 estabelece que as regras do direito de superfície também se aplicam às pessoas jurídicas de direito
público. Mesmo quando envolvendo pessoa jurídica de direito público, são aplicadas as regras.
5) Art. 1.374. Antes do termo final, resolver-se-á a concessão se o superficiário der ao terreno destinação diversa
daquela para que foi concedida.
6) Art. 1.376. No caso de extinção do direito de superfície em conseqüência de desapropriação, a indenização cabe
ao proprietário e ao superficiário, no valor correspondente ao direito real de cada um.
USO E HABITAÇÃO
A. Introdução. Uso e habitação não são outra coisa, senão um usufruto com finalidade específica (usufruto em
miniatura). Obs.: família aqui não está em sentido biológico, mas sim em sentido afetivo. Com isso, no conceito de
família para fins de uso e habitação, estão inseridos até os empregados do lar. No uso e na habitação, são
transferidas utilidades/vantagens específicas para a manutenção do núcleo familiar. Embora o usufruto possa ser
instituído em favor de pessoa jurídica, o uso e a habitação jamais poderão ser assim estipulados (pessoa jurídica não
pode ser beneficiada), já que visam à manutenção do núcleo familiar.
B. Características. O uso e a habitação devem ser regulados com as mesmas características do usufruto. Assim:
1) Se o usufruto é personalíssimo, o uso e a habitação também são;
2) Se o usufruto pode ser adquirido por usucapião, o uso e a habitação também podem ser. Neste sentido, cf.
Súmula 193 do STJ, que admite a usucapião de uso de linha telefônica: “o direito de uso de linha telefônica pode
ser adquirido por usucapião.”.
3) Nos termos do art. 1.831, o direito real de habitação é o direito que tem o cônjuge sobrevivente de continuar
residindo no imóvel particular único que servia de lar para o casal. Cuida-se de direito vitalício.
Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da
participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência
da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar.
Se o falecido tiver filhos menores (com outra mulher), não poderão reivindicar a coisa para morar, já que o direito
real de habitação é vialício e oponível erga omnes. A viúva só perde quando morrer. O art. 1831 trata do direito real
de habitação em relação ao cônjuge, ficando a dúvida em relação ao companheiro sobrevivente. Com efeito, de
acordo com o art. 7º da Lei 9.278/96, o companheiro sobrevivente também dispõe de direito real de habitação.
Só há um detalhe: o direito real de habitação do companheiro sobrevivente é vitalício condicionado, pois ele(a)
somente terá este direito real enquanto não constituir outra família. Caso case de novo ou constitua união estável,
extingue-se o direito real de habitação.
Direito de habitação do
Direito real de habitação do cônjuge
companheiro
É vitalício condicionado (enquanto
É vitalício
constituir outra família).
Obs.: o
credor
anticrético
pode, salvo
pacto em
Trata-se de direito real de garantia sobre bem sentido
Anticrese Máximo de 15 anos
frugívero contrário,
arrendar os
bens dados
em
anticrese a
terceiro
Obs.:
Direito real na coisa alheia de garantia sobre
Penhor Perpétuo admite-se o
bem móvel
subpenhor
Hipoteca Direito real de garantia sobre bem imóvel Máximo de 20 anos Obs.: a
coisa pode
ser
72
alienada.
No SFH,
exige-se
consentime
nto do
credor.
Admitem-
se
hipotecas
de
diferentes
graus.
Gera
Alienação Direito real de garantia que permite a circulação patrimônio
Duração do contrato
fiduciária de bens de
afetação.
Pode ser
repassado,
com direito
Enfiteuse Arrendamento perpétuo Perpétua
de
preferência
.
Direito real que gera utilidade em um prédio É
Servidão predial Perpétua
dominante, e um ônus ao serviente inalienável.
Pode ser
alienado,
Direito real concedido a terceiro para superfície
mas há
Superfície da propriedade de outrem para fins de Pode ser temporária ou não.
direito de
construção ou plantação.
preferência
.
Não admite
alienação.
É
personalíss
Temporário:
Direito real que permite ao terceiro retirar as imo.
Usufruto P. física: vitalício
vantagens, as utilidades produzidas por um bem Não se
P. jurídica: 30 anos
admite
usufruto de
primeiro
grau.
Não admite
alienação,
locação,
Usufruto com finalidade específica de arrendame
Uso e habitação É temporário.
manutenção da entidade familiar nto etc.
É
personalíss
imo.
73
ITEM 7.A: Da prescrição e da decadência, do enriquecimento ilícito e do pagamento indevido.
Obras consultadas:
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 16 ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2006;
CUNHA, Leonardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. São Paulo: Dialética, 2010; DUARTE, Nestor.
Código Civil Comentado. Coordenação de Cezar Peluso. Barueri: Manole, 2011; FARIAS, Cristiano Chaves de.
ROSENVALD, Nelson. Direito Civil. Teoria Geral. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008; JR., Hamid Charaf Bdine.
Código Civil Comentado. Coordenação de Cezar Peluso. Barueri: Manole, 2011; NEVES, Gustavo Kloh Muller.
Prescrição e Decadência no Código Civil. In: TEPEDINO, Gustavo (Coord.). A Parte Geral do Novo Código Civil.
2 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003; PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. I. 19 ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1998; VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Vol. I. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003; VENOSA,
Sílvio de Salvo. Direito Civil. Vol. II. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2002; TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil.
Volume único. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Método, 2011.
Legislação básica.
Código Civil; Decreto n. 20.910/32; Decreto-lei n. 4.597/42
1. DA PRESCRIÇÃO
Conceito: fato jurídico, que gera a perda da pretensão e da exceção. Decorre da inércia do titular do direito. A
prescrição se relaciona com direitos subjetivos patrimoniais e relativos, ao passo em que a decadência diz respeito a
direitos potestativos.
Fundamento: a paz social, a tranquilidade e a segurança da ordem jurídica.
Espécies: 1. extintiva ou liberatória; 2. aquisitiva ou usucapião. À segunda aplicam-se as regras legais da primeira
(ex: hipóteses de suspensão e interrupção do prazo). A prescritibilidade é a regra, a imprescritibilidade, a exceção.
São imprescritíveis:
a) direitos relativos à personalidade (vida, honra, liberdade, integridade física e moral);
b) direitos que se prendem ao estado das pessoas (estado de filiação, qualidade de cidadania, condição conjugal);
c) faculdades legais (faculdade de o proprietário utilizar a coisa sua – mas se tolera que um terceiro adquira um
direito contrário ao seu exercício, perde-as);
d) ações constitutivas sem prazo fixado em lei e declaratórias;
e) ações de ressarcimento de danos ao erário;
f) segundo atual entendimento da T2 do STJ, a ação de reparação por dano ambiental é imprescritível (vide AgRg no
REsp 1150479/RS;EDcl no REsp 1120117/AC)14;
g) “as ações de reparação de dano ajuizadas em decorrência de perseguição, tortura e prisão, por motivos políticos,
durante o Regime Militar” (vide STJ, AgRg no Ag 1337260/PR).
Incide, em regra, sobre os direitos patrimoniais, e, normalmente, estende-se aos efeitos patrimoniais de direitos
imprescritíveis (vide Súmula 85 do STJ).
Actio nata: “somente a partir do efetivo conhecimento do ato que viola um direito subjetivo, originando a pretensão,
é que se inicia a contagem do prazo extintivo contemplado na norma legal. A regra é aplicável, inclusive, aos prazos
decadenciais” (CHAVES, p. 566). Para o autor, o CC agasalhou o princípio no art. 189. Se o termo a quo não estiver
fixado em lei, a prescrição tem seu início no momento em que ocorre a lesão ao direito.
Prescrição nuclear (de fundo de direito)15 e prescrição parcelar. A primeira atinge a pretensão referente a uma
relação jurídica, ao passo em que a segunda fulmina apenas cotas periódicas.
14
CHAVES vai mais longe, ao afirmar que, apesar de sua natureza condenatória, a ação civil pública (em qualquer matéria)
não se submete à prescrição, justamente porque tutela interesses coletivos, no sentido lato, os quais não possuem, em
regra (exceto os individuais homogêneos), titular determinado.
15 Em tal caso, a prescrição começa a correr da negativa, e atingirá o fundo do direito. A esse propósito, lembra CUNHA
que leis ou atos normativos de efeitos concretos, cuja vigência já acarreta lesão a direitos da parte interessada, conduzem à
prescrição do fundo do direito, devendo o prazo prescricional ser contado a partir da publicação da lei/ato normativo, e
não da edição do ato administrativo que simplesmente os aplica.
74
Renúncia: expressa ou tácita (fatos do interessado incompatíveis com a prescrição. Ex: pagamento de dívida, oferta
de garantia, solicitação de prazo para pagamento). Não pode causar prejuízo a terceiro e só é possível depois que a
prescrição se consumar. Somente poderá renunciar à prescrição quem tiver capacidade para alienar seus bens.
Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo: não poderão ser dilatados nem reduzidos.
Conhecimento de ofício: pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita (CC-193), a
qualquer tempo, inclusive em grau recursal, desde que ainda nas vias ordinárias, em razão do efeito translativo dos
recursos. Nas vias extraordinárias, não pode ser conhecida de ofício, nem pode ser suscitada pela primeira vez nessa
ocasião, já que deveria ter sido ventilada desde a instância a quo, devido à necessidade de prequestionamento. Cessa
a faculdade de alegá-la com o trânsito em julgado. Na rescisória, não se pode alegar prescrição que não tenha sido
arguida na ação em que tenha sido proferida a sentença rescindenda. Não pode ser alegada na fase de execução,
porque, se o interessado não alegou na fase de conhecimento, tacitamente a ela renunciou. Contudo, CHAVES
defende que “a alegação de prescrição pode se dar em qualquer tipo de processo, seja de conhecimento, seja de
execução. Aliás, até mesmo no processo cautelar é possível o reconhecimento da prescrição ou da decadência” (p.
563). Apenas ressalva que a prescrição passível de ser ventilada no processo de execução é a superveniente à
sentença, ou seja, em relação à pretensão executiva. Segundo o Enunciado 295 CJF, a possibilidade de
reconhecimento de ofício da prescrição não retira do devedor a possibilidade de a ela renunciar.
Prescrição intercorrente: se, promovida a interrupção da prescrição por ato judicial, o autor da ação se mantiver
inerte, abandonando o processo sem impulsioná-lo, durante prazo superior ao fixado em lei para a prescrição da
pretensão, ocorrerá a prescrição intercorrente (ver Súmula 264 STF). Para que ocorra essa espécie de prescrição, é
necessária a intimação pessoal do autor para a prática do ato, não valendo a intimação do advogado. Se, ao
contrário, houver andamento regular e normal do processo, não ocorrerá a prescrição.
Prescrição/decadência a favor da Fazenda Pública: aplicam-se as regras do CC, bem como as previstas no
Decreto n. 20.910/32 e no Decreto-lei n. 4.597/42. As dívidas passivas da União, dos Estados/DF e dos municípios,
além de qualquer direito ou ação contra si ou contra suas autarquias e fundações públicas, seja qual for a natureza,
prescrevem em cinco anos, contados da data do ato ou fato que a originarem 16. Não estão abrangidas as sociedades
de economia mista e as empresas públicas. A prescrição quinquenal incide sobre qualquer tipo de pretensão,
inclusive para obtenção de créditos previdenciários. O despacho do juiz que ordena a citação interrompe a
prescrição, retroagindo à data de propositura da ação. Mesmo se o processo for anulado ou extinto sem resolução do
mérito, a interrupção ocorrerá. Interrompida a prescrição a favor da Fazenda, voltará a correr pela metade, mas
nunca por prazo inferior a cinco anos. Assim, se a interrupção se der no primeiro ano, voltará a correr por mais
quatro, e não por dois e meio. Se, contudo, for interrompida no quarto ano, voltará a correr por mais dois e meio, o
que somará um total de seis anos e meio. Para CUNHA, “no cômputo total do prazo prescricional, não haverá
período inferior a cinco anos, podendo ocorrer lapso de tempo superior, caso a interrupção tenha se operado quando
já ultrapassados dois anos e meio.” (P. 84).
Prescrição em ações de indenização propostas em face da Fazenda Pública: a prescrição de reparação civil em
face da Fazenda, devido aos decretos mencionados, submetia-se ao prazo de cinco anos. O CC02 passou a prever
que as pretensões de reparação civil prescrevem em três anos. Discute-se, então: o prazo segue a norma especial ou
a geral? Para CUNHA, aplica-se o art. 10 do Decreto n. 20.910/32, que reza: “o disposto nos artigos anteriores não
altera as prescrições de menor prazo, constantes das leis ou regulamentos, as quais ficam subordinadas às mesmas
regras”. Assim, para esse autor, “a pretensão de reparação civil contra a Fazenda Pública submete-se ao prazo
prescricional de 3 anos, e não à prescrição quinquenal.” (p. 89). Esse entendimento já foi acolhido pelo STJ: EREsp
1.066.063/RS; REsp 1.137.354/RJ; REsp 1215385/MG. Contudo, recentemente, o Tribunal decidiu que o prazo é de
cinco anos AgRg no REsp 1256676/SC e AgRg no AgRg no REsp 1251801/MS.
Prescrição em matéria tributária: submete-se à regulamentação do CTN. O mesmo se aplica em relação à
decadência em matéria tributária. Logo, não se aplicam ao assunto as regras do CC.
Suspensão x Interrupção: o impedimento e a suspensão da prescrição fazem cessar, temporariamente, seu curso.
Quando a prescrição é interrompida por ato judicial, retoma-se o prazo com o trânsito em julgado. As causas de
suspensão independem da iniciativa da titular, pois decorrem da lei; as causas de interrupção dependem da iniciativa
de seu titular. A interrupção só pode ocorrer uma única vez.
Causas impeditivas e suspensivas do curso da prescrição:
não corre a prescrição:
a) entre cônjuges, na constância do casamento. Idem para companheiros (união estável ou relações homoafetivas);
b) entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
c) entre tutelados ou curatelados e seus tutores e curadores, durante a tutela ou curatela;
d) não corre contra os absolutamente incapazes e se já tinha se iniciado o prazo, este se suspende (contra o
relativamente incapaz e a pessoa jurídica pode ocorrer a prescrição, mas estes têm direito de regresso contra os
representantes). Não se exige a interdição para o benefício da suspensão ou impedimento do curso do prazo
prescricional. Basta a verificação da incapacidade incidentemente no processo;
16 CUNHA anota que referido prazo quinquenal diz respeito tanto à decadência, quanto à prescrição. Assim, se a ação
contra a Fazenda tiver natureza condenatória, trata-se de prazo de prescrição. Se constitutiva, de decadência.
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e) não corre se pessoa estiver a serviço do Brasil no exterior ou se estiver servindo às Forças Armadas, em tempo de
guerra;
f) pendendo condição suspensiva;
g) não estando vencido o prazo;
h) pendendo ação de evicção, o evicto não pode acionar o vendedor;
i) quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, antes da respectiva sentença definitiva,
não fluirá a prescrição. Mesmo se houver absolvição ou qualquer outro modo de encerramento do processo penal
que não impeça a ação indenizatória, ainda assim o prazo prescricional estará suspenso. A suspensão se inicia com o
recebimento da denúncia e finda com o trânsito em julgado da sentença.
2. DA DECADÊNCIA (caducidade)
Conceito: fato jurídico que faz perecer direito devido à inércia durante prazo predeterminado. Atrela-se sobretudo
aos direitos potestativos (ou formativos, segundo Francisco Amaral), aqueles para os quais não há pretensão, mas
estado de sujeição. Se a lei não estabelecer qualquer prazo para a prática de um direito potestativo, este não estará
sujeito à extinção. Logo, o prazo decadencial é o estabelecido para o exercício de um direito potestativo.
Prazos de decadência: estão espalhados pelo CC. Todos os prazos que não estiverem previstos nos artigos 205
e 206 do CC serão decadenciais. Exemplos: a) 2 anos para ação rescisória; b) 120 dias para mandado de segurança;
c) 5 anos para a propositura da ação popular, contados a partir da efetiva prática do ato administrativo atacado. O
artigo 179, CC estabelece cláusula geral de decadência para as ações anulatórias, que é de dois anos, a contar da
conclusão do ato. Assim, a Súmula 494 do STF (anulação de venda por ascendente a descendente, sem o
consentimento dos demais) trata de ação submetida a prazo decadencial e, hoje, é de dois anos.
Espécies:
a) ex vi legis: advém de expressa disposição de lei, sendo de ordem pública e irrenunciável (decadência legal);
17 Para CHAVES, tal restrição só incide sobre as causas extrajudiciais de interrupção da prescrição, nunca sobre as
judiciais. E isso porque é perfeitamente possível a ocorrência de interrupção pelo protesto cambial e, posteriormente, a
ocorrência de nova interrupção quando da citação da ação de execução. Assim, a cada ato do processo, a prescrição se
interromperá.
18 São modificadas as regras dos arts. 219 e 617 do CPC, que afirmam ocorrer a interrupção da prescrição com a citação
válida. Fica, porém, mantida a regra do art. 219, §1º do referido diploma legal, retroagindo a interrupção da prescrição,
operada pelo despacho do juiz mandando citar o réu, à data da propositura da ação. Nos juizados especiais cíveis, onde não
há o despacho inicial, a interrupção ocorre com a propositura da ação.
19 Por isso, a súmula 153 do STF (“simples protesto cambiário não interrompe a prescrição”) resta superada.
76
b) ex vi voluntatis: voluntária, convencional ou contratual. Decorre de previsão das partes em negócios jurídicos.
Admite renúncia (nunca prévia), suspensão, alteração e interrupção do prazo. Não pode ser conhecida de ofício pelo
juiz. Exemplo de decadência convencional: prazo de 30 dias para alguém desistir de um negócio jurídico. Havendo
prazo decadencial convencional, obsta-se a contagem do prazo de decadência legal, que só se inicia após o término
daquele.
PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA
Prazo Fixado por lei. Fixado por lei ou pela vontade das partes.
Pode ser suspenso, impedido ou Corre contra todos, não admitindo suspensão,
interrompido. impedimento ou interrupção, exceto art. 198, I
CC e art. 26, §2º do CDC.
Análise pelo juiz Pode ser conhecida de ofício pelo A legal pode ser conhecida de ofício. A
juiz. convencional, não.
Arguição Só pode ser invocada nas instâncias Pode ser alegada em qualquer tempo ou grau
ordinárias. Para ser conhecida na de jurisdição. Para ser conhecida nas
instância especial, demanda instâncias superiores, demanda
prequestionamento. prequestionamento.
Renúncia Após a consumação, admite-se a A decadência legal não admite renúncia, nem
renúncia, se não prejudicar mesmo após sua consumação.
terceiros.
TIPO DE AÇÃO
PRAZO20
Ações constitutivas (positiva ou negativa)
Ações condenatórias
Ações meramente declaratórias
Direito intertemporal: vide artigo 2.028 CC. Se o prazo de prescrição/decadência tiver sido reduzido pelo CC02, e,
na data dessa lei (11/01/03), já havia transcorrido mais da metade do tempo, continuará a contagem pela norma
anterior, ou seja, pelo prazo mais longo. Se o prazo foi reduzido e, na data de entrada em vigor do CC02, ainda não
tinha fluído mais da metade, o caso passa a ser submetido ao novo prazo (reduzido). O termo inicial do novo prazo
será a data em que entrou em vigor a nova (e redutora) norma jurídica, ou seja, 11/01/03. Outrossim, se o CC02
aumentou os prazos ou mesmo os manteve conforme previsões anteriores, entende CHAVES que seguirão regidos
pelo prazo anterior, com fluência normal do lapso temporal (p. 584).
4. DO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
O enriquecimento sem causa é gênero, do qual o pagamento indevido é espécie.
Enriquecimento ilícito x enriquecimento sem causa: o primeiro se funda em um ato ilícito, ao passo em que o
segundo ocorre quando há enriquecimento sem causa jurídica.
Previsões legais específicas: a) coíbe-se o enriquecimento injusto quando manifestado através do pagamento
indevido; b) veda-se que o credor incapaz de quitar reclame um segundo pagamento, quando já se beneficiou do
primeiro; c) o possuidor que, ainda que de má-fé, recebe as despesas de manutenção e custeio; d) o especificador de
boa-fé adquire a matéria-prima alheia em que trabalhou, mas deve indenizar o proprietário.
No CC02, o enriquecimento sem causa é admitido com fonte autônoma de obrigação, como ato unilateral (art. 884.
Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido,
feita a atualização dos valores monetários).
Fundamento: a equidade não permite o ganho de um, em detrimento de outro, sem uma causa que o justifique.
Funda-se nos princípios da eticidade, da função social das obrigações e da boa-fé objetiva. A proibição ao
enriquecimento ilícito ocorre através da ação de in rem verso, concedida ao prejudicado.
Pressupostos da ação de in rem verso: a) um enriquecimento por parte do réu; b) um empobrecimento por parte do
autor21; c) a existência de uma relação de causalidade entre os dois fatos; d) a ausência de causa que os justifique
(quando houver diferença entre os montantes do enriquecimento e do empobrecimento, a indenização se fixará pela
20 Tabela feita de acordo com a doutrina de AGNELO AMORIM FILHO.
21 Vide, porém, o enunciado 35 do CJF: “Art. 884: a expressão ‘se enriquecer à custa de outrem’ do art. 884 do novo
Código Civil não significa, necessariamente, que deverá haver empobrecimento.”
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cifra menor); e) a inexistência de qualquer outra ação para socorrer a vítima (caráter subsidiário da ação de in rem
verso: art. 886 do CC22); f) prazo prescricional de 03 anos (art. 206, § 3º, IV).
Parâmetros da restituição: não pode ultrapassar o enriquecimento efetivo de um dos agentes; não pode ultrapassar
o montante de diminuição sofrida pelo patrimônio do outro. Além disso, o montante será calculado na data em a
restituição é devida.
O STJ já decidiu que valores pagos pela administração pública em virtude de decisão judicial provisória,
posteriormente cassada, devem ser restituídos, sob pena de enriquecimento ilícito por parte dos servidores
beneficiados. Vide STJ Resp 725.118; EDcl no RMS 32706/SP e AgRg no REsp 1191879/RJ, salvo se se tratar de
benefício previdenciário, dado o seu caráter irrepetível (AgRg no Ag 1287397/RS).
5. PAGAMENTO INDEVIDO
Têm obrigação de restituir: 1. aquele que recebeu o que não lhe era devido; 2. o que recebeu obrigação sujeita a
condição, antes do implemento desta. Se o pagamento sujeito a termo for feito antes deste, temos adimplemento
antecipado, daí porque o pagamento não pode ser repetido em tal hipótese!
Modalidades: objetivamente indevido – erro incide sobre a existência da obrigação ou sobre sua extensão;
subjetivamente indevido – erro incide sobre a pessoa a quem se deve pagar.
Pressupostos: a) animus solvendi (intenção de pagar); b) inexistência de débito ou pagamento endereçado a quem
não seja o credor.
Requisitos: a) pagamento involuntário: se houve coação, deve ser negado efeito ao ato que se consolidou pela
violência, quer esta provenha do accipiens, quer de terceiros. Em casos tais, haverá defeito no negócio, passível de
anulação; b) prova de erro do solvens (teoria subjetiva): se o solvens efetuou o pagamento consciente e
voluntariamente, o ato representa liberalidade (animus donandi). Contudo, nesse caso, a repetição pode encontrar
fundamento no enriquecimento sem causa (art. 884 e ss, CC). A esse respeito, o STJ tem entendido que, em
contratos bancários, é desnecessária a prova do erro para a restituição (Súmula 322).
Prazo: a ação prescreve em 10 anos (art. 205).
Frutos, acessões, benfeitorias e deteriorações: se o credor agiu de boa-fé ao receber a coisa, aplicam-se as
seguintes disposições: 1. terá direito aos frutos percebidos, enquanto a posse for de boa-fé. Os frutos pendentes ao
tempo de cessação da boa-fé devem ser restituídos, deduzidas as despesas da produção e custeio. Igualmente devem
ser restituídos os frutos colhidos em antecipação. 2. Se a coisa se deteriorar, o credor de boa-fé não reponde pela sua
perda ou deterioração, salvo se a elas tiver dado causa. 3. O credor de boa-fé tem direito à indenização das
benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o
puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Se, ao revés, agiu de má-fé: 1. responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa
sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e
custeio; 2. responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se
teriam dado, estando ela na posse de quem pagou indevidamente; 3. a ele serão ressarcidas somente as benfeitorias
necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
Pagamento indevido que teve por objeto um imóvel: se o accipiens procedeu sem malícia e recebeu a paga por
acreditá-la devida, é tratado como possuidor de boa-fé. Se, entretanto, atuou com malícia, responde como possuidor
de má-fé. No caso de o accipiens ter alienado o imóvel, a título oneroso ou gratuito, a terceira pessoa, de boa ou má-
fé, têm-se as seguintes situações: 1. alienação, a título oneroso, pelo accipiens, estando todas as partes de boa-fé: o
solvens não tem direito de reivindicar a coisa, devendo absorver o prejuízo, só lhe remanescendo a prerrogativa da
ação regressiva contra o accipiens. Protege-se o terceiro de boa-fé; 2. alienação, a título gratuito e de boa-fé, pelo
accipiens: a lei defere a ação reivindicatória contra o adquirente a título gratuito, ainda que vestido de boa-fé; 3.
alienação, a título oneroso, pelo accipiens, a terceiro de má-fé: permite-se a reivindicação do imóvel, quando o
terceiro adquirente agiu de má-fé; 4. alienação, a título oneroso e de má-fé, pelo accipiens, estando o terceiro
adquirente de boa-fé: a lei indefere ação reivindicatória a quem pagou indevidamente, mas lhe confere o direito de
reclamar, de quem maliciosamente recebeu o pagamento, não apenas o preço recebido pela venda do imóvel, mas
também as perdas e danos.
Casos em que o pagamento indevido não confere direito à restituição: 1. quando o solvens inutilizou o título da
dívida, deixou prescrever a ação ou abriu mão das garantias que asseguravam seu direito: o solvens que pagou mal
não fica de vez desprotegido, pois a lei lhe confere ação regressiva contra o verdadeiro devedor e seu fiador, para
haver a importância que despendeu. Nesses casos, é preciso que o credor esteja de boa-fé. Estando de má-fé, é
cabível a restituição; 2. quando o pagamento se destinava a solver obrigação natural ou dívida prescrita (esta,
espécie daquela); 3. quando o pagamento visava obter fim ilícito, imoral ou proibido por lei: o que se deu reverterá
em favor de estabelecimento local de beneficência, a critério do juiz. Segundo Hamid Charaf (pp. 903/904), tanto o
22 Se existir no ordenamento norma que respalde a obrigação de indenizar, a ação in rem verso não será utilizada.
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solvens quanto qualquer interessado ou o Ministério Público podem requerer a devolução do valor pago em favor
não do devedor, mas de instituição de beneficência. De igual modo, se, no curso da demanda de repetição, o juiz
verificar o fim ilícito, imoral ou ilegal, poderá determinar a medida de ofício.
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ITEM 7.B: Da locação, do mútuo e do comodato.
Obras consultadas: TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. Rio de Janeiro: Forense. São
Paulo: Método, 2011; GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil.
Contratos em espécie. Vol. IV. São Paulo: Saraiva, 2010; ROSENVALD, Nelson. Código Civil Comentado.
Doutrina e Jurisprudência. Coordenador: Cezar Peluso. Barueri: Manole, 2011.
(i) 1. DA LOCAÇÃO
OBS: o resumo somente trata da locação no CC. Para as demais, consultar a legislação específica.
Conceito: negócio jurídico pelo qual alguém (locador, que não precisa ser necessariamente proprietário) se obriga a
ceder a outrem (locatário), por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa
remuneração (aluguel, elemento essencial, que importa em cessão da posse).
Características: 1. Bilateral (obrigações recíprocas); 2. Oneroso (sacrifícios e vantagens recíprocos); 3. Comutativo
(prestações previamente conhecidas das partes); 4. Consensual (aperfeiçoa-se com o acordo de vontades1); 5.
Informal e não solene (salvo se houver fiança, quando deve ser escrito); 6. Típico (previsão no CC); 7. De execução
continuada (trato sucessivo); 8. Temporário (a perpetuidade implicaria uma enfiteuse).
CC: rege a locação de bens móveis e imóveis, estes se não sujeitos à Lei n. 8.245/91. Esta última lei trata das
locações de imóveis destinados à residência, indústria, comércio ou prestações de serviços. Aluguel de imóveis
destinados à agricultura, à pecuária e ao extrativismo é regido pela Lei n. 4.504/64 ou pelo CC.
Lei n. 8.245/91: exclui de sua abrangência 1. Imóveis que integram o patrimônio público (regidos pelo Decreto n.
9.760/46 e pela Lei n. 8.666/93); 2. Vagas autônomas de garagens ou espaços destinados a veículos (CC); 3. Espaços
publicitários/outdoors (CC); 4. Apart-hotéis/flats ou equiparados (CC e, para alguns, CDC); 5. Arrendamento
mercantil/leasing (Lei n. 6.099/74).
Bens fungíveis podem ser alugados? Sim, quando seu uso e gozo forem concedidos ad pompam vel ostentationem,
tal como ocorre quando se alugam garrafas de vinho para ornamentar uma festa.
Efeitos da locação regida pelo CC: 1. Deveres do locador – entregar a coisa e suas pertenças em condições de
serem usadas, manter o bem nesse estado durante o contrato e garantir o seu uso pacífico. Havendo
descumprimento, cabe rescisão e perdas e danos. 2. Deterioração da coisa durante o contrato sem culpa do locatário
– cabe a redução do aluguel ou a rescisão do contrato, caso a coisa não sirva mais. Aplica-se a regra segundo a qual
res perit domino (a coisa perece para o dono). 3. Tanto o locador quanto o locatário têm legitimidade para as
possessórias, pois o primeiro tem a posse indireta da coisa, ao passo em que o segundo tem a direta. 4. O locador
responde pelos vícios redibitórios ou de consumo. 5. Obrigações do locatário – vide art. 569 CC: tratar a coisa como
se sua fosse, restituí-la no estado em que a recebeu etc. Descumprindo, cabe resolução mais perdas e danos.
Locação com prazo fixo: cessa de pleno direito com o término do prazo, independentemente de aviso (art. 573:
consagra a possibilidade de denúncia vazia). Se, findo o prazo, o locatário continuar na posse da coisa, sem
oposição, o contrato passa a valer por prazo indeterminado, com o mesmo aluguel. Se o locador notificá-lo para
devolver a coisa, depois de vencido o prazo, responderá o locatário pelo aluguel arbitrado (que pode ser reduzido
pelo juiz, observado o seu caráter de penalidade), bem como por danos que sobrevenham à coisa, ainda que por caso
fortuito.
Locação com prazo fixo e resilição unilateral antes do prazo: não poderá o locador reaver a coisa antes do
vencimento do prazo, salvo se indenizar a outra parte por perdas e danos. Nesse caso, o locatário goza do direito de
retenção da coisa até que advenha o pagamento. De igual modo, o locatário somente poderá devolver a coisa, antes
do término do contrato com prazo certo, se pagar, de forma proporcional, a multa prevista. Se tal multa consistir no
pagamento do aluguel pelo tempo que restar do contrato e isso se mostrar excessivo, o juiz pode reduzir o montante
(art. 572). A norma é de ordem pública e não pode ser objeto de renúncia.
Redução da multa contratual pelo juiz: faculdade? À locação regida pelo CC, aplica-se o art. 572 (redução
judicial da multa é faculdade). Às demais, aplica-se o artigo 413 (o juiz deve reduzir equitativamente a multa).
Assim: redução da multa na locação do CC = o juiz pode. Redução da multa nas demais, em especial na locação da
Lei do Inquilinato = o juiz deve. Vide Enunciado 357 CJF.
Alienação da coisa alugada: a locação em regra não obriga o adquirente, salvo se se tratar de contrato por prazo
determinado, em plena vigência, com cláusula de vigência no caso de alienação, devidamente constante do Registro
de Imóveis (bens imóveis) ou do Cartório de Títulos e Documentos (bens móveis). O adquirente não responde pelas
benfeitorias do locatário, salvo cláusula contratual averbada em registro (Súmula 158 STF). O adquirente deve
notificar o locatário, concedendo-lhe o prazo de 90 dias para término da locação.
Contrato impessoal: a locação não é contrato intutu personae, pois, morrendo quaisquer das partes, transmite-se
aos herdeiros.
Benfeitorias: necessárias – locatário tem direito de retenção/indenização em todos os casos; úteis – só há o direito
de retenção/indenização se forem autorizadas. É válida a renúncia ao direito à indenização das benfeitorias e ao
direito de retenção (Súmula 335 STJ).
1. DO EMPRÉSTIMO: MÚTUO E COMODATO
Conceito: negócio jurídico mediante o qual alguém entrega a outrem uma coisa, obrigando-se o último a devolvê-la
ou outra da mesma espécie e quantidade.
Características: 1. Unilateral; 2. Gratuito (regra); 3. Comutativo (prestações previamente conhecidas das partes); 4.
Informal; 5. Real (aperfeiçoa-se com a entrega da coisa).
Perecimento da coisa no mútuo e no comodato: como o mutuário se torna proprietário da coisa emprestada,
transfere para si os riscos da perda. No comodato, o domínio da coisa emprestada não se transfere, daí sua perda, por
caso fortuito ou força maior, ser sofrida pelo comodante (res perit domino).
1. DO MÚTUO
Conceito: empréstimo de bem fungível e consumível, em que coisa de mesma espécie, qualidade e quantidade
deverá ser restituída ao final (empréstimo de consumo).
Objeto: bens fungíveis móveis. Nunca os imóveis, porque estes são sempre infungíveis.
Partes: mutuante (quem entrega, precisa ser dono) e mutuário (quem recebe).
Características: 1. Unilateral; 2. Gratuito ou benéfico (regra); 3. Comutativo; 4. Informal e não solene (se for
oneroso, exige forma escrita); 5. Real (a entrega da coisa é pressuposto de existência do negócio); 6. Temporário; 7.
Translativo da propriedade (pois a coisa é consumida). Por transferir o domínio da coisa emprestada, por conta do
mutuário correm todos os riscos a partir da tradição.
Vencimento antecipado da dívida: ocorre se, antes do vencimento do contrato, o mutuário sofre notória mudança
em sua situação econômica e deixa de atender ao pedido de garantia feito pelo mutuante.
Mutuário menor de 18 anos: em regra, o negócio é ineficaz (inclusive a respectiva fiança), se feito sem
autorização do seu representante legal ou guardião. Há dívida (Shuld) sem responsabilidade (Haftung).
EXCEÇÕES: 1. Se houver ratificação pelo representante legal/guardião; 2. Mútuo contraído para aquisição de
alimentos habituais do incapaz, estando ausente o seu representante; 3. Se o incapaz auferir ganhos com trabalho
próprio, caso em que a execução do credor não pode ultrapassar referidos ganhos; 4. Mútuo revertido em benefício
do incapaz; 5. Mútuo obtido com sua malícia.
Perecimento da coisa: como o gênero não perece, mesmo havendo a destruição da coisa em virtude de fortuito,
remanesce a obrigação de restituir.
Mútuo oneroso (feneratício): art. 591 CC. Qualquer contrato de mútuo destinado a fins econômicos se presume
oneroso, sendo devidos juros compensatórios, conforme convencionados, ou, quando não convencionados, segundo
a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. Vide Enunciado 34
CJF. Se o mutuante for instituição financeira, aplica-se a Súmula 596 do STF, que admite a cobrança de juros em
limite superior ao estabelecido legalmente (STJ afastou a incidência do art. 591 nos contratos bancários, valendo as
regras de mercado).
Prazos do mútuo: art. 592 CC. Se o prazo não estiver expressamente convencionado, será: a) até a próxima
colheita, tratando-se de empréstimo de produtos agrícolas tanto para o consumo como para a semeadura; b) 30 dias,
se de dinheiro; c) do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungível.
1. DO COMODATO
Conceito: empréstimo de bem infungível e inconsumível, em que a coisa deverá ser restituída ao final (empréstimo
de uso).
Objeto: bens infungíveis e inconsumíveis, móveis ou imóveis. Contudo, pode ter por objeto bens fungíveis, quando
utilizados para enfeite (comodato ad pompam vel ostentationem). Nesse caso, a convenção das partes transforma a
coisa em infungível.
Partes: comodante (quem entrega, não precisa ser dono2) e comodatário (quem recebe).
Características: 1. Unilateral; 2. Gratuito ou benéfico (é da essência do negócio. Mantém-se a gratuidade mesmo
que incida um encargo sobre o comodatário); 3. Intuitu personae (não se transfere aos herdeiros, nem pode ser
objeto de cessão sem anuência do comodante); 4. Informal e não solene; 5. Real (a tradição é elemento do negócio);
6. Temporário (por prazo determinado ou não, isso que o difere da doação); 7. Fiduciário.
Promessa de comodato: é possível (se ao ajuste não segue a tradição da coisa) e se trata de contrato preliminar,
ensejando indenização por perdas e danos (arts. 462 a 466 CC).
Bens alheios confiados à administração de tutores/curadores/administradores: não podem ser dados em
comodato, salvo autorização especial do dono ou do juiz, ouvido o MP, no caso de interesse de incapazes.
Comodato com prazo determinado: findo o prazo, deve ser devolvida a coisa, sob pena de reintegração de posse e
cobrança do aluguel arbitrado pelo comodante. Encerrado o prazo, incide a mora ex re, aplicando-se a máxima dies
interpellat pro homine. Logo, desnecessária notificação do comodatário.
Comodato sem prazo determinado: presume-se que a coisa foi cedida para o uso concedido. Sob pena de perdas e
danos, antes de findo o prazo ou do uso concedido, não poderá o comodante reaver a coisa. Findo este, o comodante
deve notificar o comodatário a devolvê-la, pena de mora (ex persona), com cobrança do aluguel arbitrado pelo
comodante. Não devolvida a coisa, cabe ainda reintegração de posse. Para TARTUCE, em regra a mera notificação é
suficiente para a reintegração. Contudo, em algumas hipóteses, deve ser analisado o caso concreto (p. 639).
Retomada pelo comodante antes de vencido o prazo ou decorrido o uso concedido: o comodato pode ser
resolvido pela manifestação unilateral da vontade do comodante, uma vez que prove a superveniência de
necessidade imprevista e urgente. A resolução, neste caso, decorrerá de sentença judicial, que reconheça o advento
de necessidade urgente e imprevisível à época do negócio.
Consequências da mora do comodatário: 1. Arbitramento de aluguel pelo comodante (natureza de penalidade e
faculta-se ao juiz reduzi-lo, se excessivo, ver Enunciado 180 CJF); 2. Responsabilidade pelo caso fortuito/força
maior, salvo se provar que a perda sobreviria mesmo sem estar em mora.
Obrigações conjuntivas (ou cumulativas): o comandatário tem obrigações de fazer (guardar e conservar a coisa) e
não fazer (não desviar o seu uso). Descumprindo qualquer uma delas, poderá haver resolução com perdas e danos.
O comodatário pode responder, mesmo sem estar em mora, pela perda de coisa por caso fortuito/força
maior? Sim. Se, caindo em risco a coisa, o comodatário deixar de salvá-la para salvar coisa própria, responde pelo
perda. Vide art. 583. ROSENVALD entende que, porém, o estado de necessidade comprovado pode elidir essa
responsabilidade (p. 625).
Benfeitorias: há quem entenda que não podem ser indenizadas, forte no art. 584. Contudo, deve-se aplicar o art.
1.219 (regras do possuidor de boa-fé). Assim: necessárias e úteis – comodatário tem direito, em regra, à indenização
e à retenção por elas; voluptuárias – podem ser levantadas, se não houver dano ao bem. Podem as partes, porém,
prever o contrário, se o contrato for paritário.
Pluralidade de comodatários: implica solidariedade passiva. Se a coisa se perder por culpa de um, respondem
todos pelo seu valor, mas as perdas e danos só podem ser cobradas do culpado.
ITEM 7.C: Da relação de parentesco e dos alimentos. Da filiação e da guarda dos filhos.
Obras consultadas:
WALD, Arnoldo, “Curso de Direito Civil Brasileiro”, O Novo Direito de Família, 14ª edição, São Paulo, Saraiva,
2002; RODRIGUES, Sílvio, “Direito Civil”, Direito de Família, volume 6, 27ª edição, São Paulo, Saraiva, 2002;
DINIZ, Maria Helena, “Código Civil Anotado”, 8 edição, São Paulo, Saraiva, 2002; GONÇALVES, Carlos Roberto,
Direito de Família, 3ª edição, São Paulo, Saraiva, 1998; DIAS, Maria Berenice, Manual de Direito das Famílias, 4ª
edição, São Paulo, RT, 2007; NEGRÃO, Theotonio e GOUVÊA, José Roberto Ferreira, 26ª edição, São Paulo,
Saraiva, 2007; ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo; CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da
Criança e do Adolescente Comentado. Artigo por artigo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011; LOBO,
Paulo Luiz Netto. Código Civil Comentado. Vol. XVI. São Paulo: Atlas, 2003; TARTUCE, Flávio. Manual de
Direito Civil. Volume único. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Método, 2011.
Legislação básica:
CF/88: art. 14, §7º (inelegibilidade); ECA: arts. 25, parágrafo único; 28, §3º; 41; 41, §1º; 83, §1º, 1); 92, §4º; 94,
XX; 101, §3º, III; 143, parágrafo único; 165, II e 240, III; CC: arts. 1.583 a 1590 (guarda); arts. 1.591 (parentes em
linha reta), 1.592 (parentes em linha colateral), 1.593 (parentesco natural ou civil), 1.594 (graus de parentesco),
1.595 (parentesco por afinidade); arts. 1.694 a 1.710 (alimentos); Lei n. 5.578/68 (lei de alimentos); Lei n. 11.804/08
(alimentos gravídicos).
23
Para Paulo Netto Lôbo, “constituem parentesco ‘de outra origem’ os parentescos por afinidade ou por adoção.” (p. 27).
24 Aponta Maria Helena Diniz que o concubinato impuro ou mesmo o casamento inválido não têm o condão de gerar
afinidade. Apud Paulo Luiz Netto Lôbo, p. 34.
25 A doutrina admite que a afinidade possa produzir outros efeitos, entre os quais a obrigação recíproca de alimentos e
o direito de promover a interdição. O STJ, contudo, já rechaçou a tese. Vide RMS 957/BA: inexiste o dever em relação à
nora.
83
lado masculino; cognação: o que se firma pelo lado feminino; g) o parentesco transversal/colateral/oblíquo é
limitado ao quarto grau; o em linha reta é infinito.
Efeitos legais do parentesco: a) inelegibilidade (vide art. 14, §7º CR/88); b) nepotismo (vide art. 117, VIII da Lei
n. 8.112/90 e Súmula Vinculante 13); c) impedimentos processuais (art. 228 do CC; arts. 134, IV, V; 136; 406, I,
todos do CPC; arts. 252, I e IV; 253; 258; 267e 448, todos do CPP; ); d) possibilidade de dedução de certas despesas
no imposto de renda; e) direito a alimentos, sucessão, impedimentos para casamento, adoção etc; f) no direito da
infância e juventude, a autorização para viajar não será necessária quando a criança estiver acompanhada por
parente colateral até o terceiro grau; na apreciação de colocação da criança/adolescente em família substituta, levar-
se-á em conta, entre outras circunstâncias, o grau de parentesco; g) legitimidade para propositura de ações (arts. 12,
p. ún. e 20, p. ún., ambos do CC; art. 1.177 do CPC e 31 do CPP).
2. DOS ALIMENTOS
Conceito: prestação fornecida a uma pessoa, em dinheiro ou em espécie, para que possa atender às necessidades
vitais (patrimônio mínimo), desde que não possa provê-las por si.
Fundamento: princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade, ou seja, a fonte da obrigação alimentar
são os laços de parentesco que ligam as pessoas que constituem uma família.
Pressupostos: 1. Vínculo (parentesco, casamento, união estável ou parentalidade socioafetiva, vide Enunciado 341
CJF); 2. Necessidade credor; 3. Possibilidade do devedor.
Classificação: A) quanto à causa jurídica da obrigação: I) legais/legítimos/de direito de família: impostos pela lei,
em razão de um vínculo familiar; II) indenizatórios/ressarcitórios/judiciais: decorrentes da responsabilidade civil;
III) contratuais: decorrentes da autonomia da vontade; IV) voluntários/causa mortis: testamento. Aos listados nos
itens III e IV, aplica-se o direito das obrigações (transação, renúncia etc). B) quanto à abrangência da prestação: I)
civis/côngruos/necessarium personae: visam a atender todas as necessidades do beneficiário, inclusive as de
manutenção de padrão de vida, morais e intelectuais; II) naturais/necessários/humanitários/necessarium vitae:
cobrem apenas as necessidades básicas do credor. Hipóteses: a situação de necessidade surge por culpa do
reclamante; o cônjuge culpado pela separação, desde que não tenha parentes em condições de pagar alimentos, nem
aptidão para o trabalho. C) quanto à finalidade: I) provisórios: fixados liminarmente em ação de alimentos pelo rito
especial (Lei n. 5.578/68); II) provisionais: têm natureza cautelar e se destinam a possibilitar o ajuizamento de uma
demanda ou manter a parte durante o seu curso. Também chamados ad litem; III) definitivos/regulares: fixados por
acordo ou em sentença, em substituição aos provisórios ou provisionais; IV) transitórios: fixados por determinado
período de tempo, a favor de ex-cônjuge/companheiro, fixando-se previamente o seu termo final. D) quanto à forma
de prestação: I) de prestação própria (in natura): traduz-se na concessão de hospedagem e sustento; II) de prestação
imprópria: pagamento de uma pensão pecuniária periódica.
Binômio alimentar: a) possibilidade econômica do alimentante (também é critério de fixação do quantum). Em
relação aos pais, quando os alimentos forem reclamados por filhos menores, é irrelevante a alegação de falta de
recursos; b) necessidade do alimentando (critério de fixação do quantum): na obrigação alimentar dos genitores em
relação aos filhos incapazes, a necessidade é presumida. Para Maria Berenice Dias e Paulo Lôbo, há um trinômio.
Acrescentam, respectivamente, c) a proporcionalidade ou a razoabilidade.
Características: trata-se de uma obrigação sui generis: a) reciprocidade: são devidos reciprocamente entre cônjuges
e companheiros, entre pais e filhos, e extensivos a todos os ascendentes. Ascendentes: o grau mais próximo exclui o
mais remoto; descendentes: o grau mais próximo exclui o mais remoto; irmãos: primeiro os bilaterais, depois os
unilaterais; c) divisibilidade (regra) ou solidariedade (exceção): sendo várias as pessoas obrigadas, todas devem
concorrer na proporção dos respectivos recursos. Intentada ação contra uma delas, as demais serão chamadas a
integrar a lide. OBS: os alimentos são devidos solidariamente, quando o credor for idoso (art. 12 da Lei n.
10.741/03), podendo escolher a quem acionar; d) condicionalidade (cláusula rebus sic stantibus): submetidos à
alteração das necessidades do reclamante ou das possibilidades do alimentante; e) gera direito personalíssimo
(caráter intuitu personae): não se transmite aos herdeiros do credor; f) intransferível: não pode ser objeto de cessão,
gratuita ou onerosa; g) imprescritível. Contudo, as prestações fixadas e vencidas prescrevem no prazo de 2 anos, a
contar do vencimento – atentar para o fato de que não corre a prescrição contra absolutamente incapazes, nem entre
ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; h) insuscetível de compensação. A jurisprudência tem
admitido a compensação em caso de pagamento de alimentos a maior; i) irrepetíveis: o pagamento dos alimentos,
seja a que título for, é sempre bom e perfeito e não dá direito à repetição (é uma obrigação moral e satisfativa, daí
não caber ação in rem verso); j) absolutamente impenhoráveis; l) irrenunciáveis: a jurisprudência entende que é
possível renunciar a eles por ocasião do divórcio, da dissolução da união e da outrora admitida separação judicial
(Enunciado 263 CJF e Súmula 336 STJ). Para alguns, porém, não se admite a renúncia de alimentos entre os
cônjuges ou conviventes por força dos arts. 1707 e 1704 do Código Civil e da Súm. 374 do STF; m)
intransacionável e não suscetível de arbitragem: o direito aos alimentos não pode ser objeto de transação, mas é
possível o acordo sobre os valores e forma de pagamento; n) atualidade: são exigíveis no presente, e não no futuro.
Se, todavia, o alimentando fez empréstimos para poder viver, tem o direito de reclamar os alimentos pretéritos para
reembolsar os empréstimos que fez, mas somente os destinados a esse fim; o) transmissibilidade: a obrigação
transmite-se aos herdeiros do devedor. Discute-se se só as vencidas ao tempo da morte, ou se as vincendas. A
84
maioria entende que só se transmitem as vencidas, e até os limites das forças da herança. Para Mario Delgado, os
herdeiros assumem a obrigação alimentar de forma continuada.
Observações: a) o Código Civil e a jurisprudência reconhecem direitos e obrigações alimentares para os
conviventes em uma união estável, nas mesmas condições em que os cônjuges, valendo-se inclusive do disposto na
Lei n. 5.478/68. Vide REsp 60.778-SP; b) se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de
prover o seu sustento, impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência social (art. 14 da Lei n.
10.741/03); c) em regra, o dever alimentar cessa para os pais com a maioridade dos filhos. Mas, caso estejam estes
frequentando curso universitário, a jurisprudência tem estendido tal obrigação até o término do curso ou até que
completem os alimentandos 24 anos (Resp 442.502). De igual modo, a Súmula 358 do STJ assegura ao filho o
direito ao contraditório nos casos em que, por decorrência da idade, cessaria o direito de receber pensão alimentícia;
d) os parentes colaterais (exceto irmãos) não têm obrigação de prestar alimentos (Maria Berenice entende que sim),
bem assim os afins. Há, contudo, uma tendência a aceita a obrigação aos afins na linha reta descendente
(padrasto/madrasta).
Alimentos gravídicos: Lei n. 11.804/08. CREDOR: mulher gestante; OBJETO: valores que cubram despesas da
gravidez, desde a concepção até o parto (inclusive alimentação especial, assistência médica, psicológica, exames,
internações, parto, medicamentos e outras consideradas pertinentes pelo juiz), consideradas proporcionalmente para
cada um dos envolvidos, conforme suas possibilidades; REQUISITOS: indícios da paternidade + necessidade do
autor + possibilidade do réu; VIGÊNCIA: até o nascimento da criança, quando serão convertidos em alimentos em
favor desta, até revisão judicial.
Alimentos Provisórios e Provisionais (ad litem): os primeiros são os fixados liminarmente pelo juiz, ao despachar
a inicial de ação de alimentos, de rito especial (Lei n. 5.578/68). São não serão fixados se o autor expressamente
dispensá-los. Exigem prova pré-constituída do parentesco/casamento. Os segundos são fixados em outras ações
(divórcio, anulação ou nulidade de casamento, investigação de paternidade etc), para subsistência da parte no curso
da lide. Não exigem prova pré-constituída. A Lei n. 11.340/06 (Maria da Penha), traz como medida protetiva de
urgência a fixação de alimentos provisórios ou provisionais (art. 22, V).
Prisão civil: é a única modalidade de prisão por dívidas atualmente admitida no direito brasileiro (vide art. 7, 7 do
Pacto de San Jose). Somente cabe no caso débito de alimentos legais. Os convencionais e os ressarcitórios
nãopossibilitam a prisão do devedor. Prazo: pelo CPC – até 90 dias. Pela Lei n. 5.578/68 – até 60 dias. O
cumprimento integral da prisão não exime o devedor do pagamento das prestações vincendas ou vencidas e não
pagas (art. 733, § 2º, CPC). Para fins de prisão civil, consideram-se as três últimas prestações devidas anteriores à
propositura da execução, além das vencidas e não pagas no decorrer do processo (Súmula 309 STJ). Os alimentos
vencidos há mais de três meses perdem a natureza alimentar, não justificando o decreto da prisão. A execução delas
deve ocorrer na forma do artigo 732 CPC (STJ). O não-cumprimento deliberado da obrigação alimentar por parte de
indivíduo são e capaz para o trabalho pode configurar o crime de abandono material (art. 244 CP).
Lei n. 5.578/68: as ações processadas pela lei correm sob rito especial; REQUISITOS: prova do
parentesco/obrigação alimentar de natureza legal + necessidade do alimentando + possibilidade do alimentante;
CAPACIDADE POSTULATÓRIA: a lei possibilita que o credor atue pessoalmente ou por intermédio de advogado.
Se ingressar pessoalmente, o juiz deverá nomear um advogado, que poderá apresentar petição por escrito ou pedir
que o escrivão a reduza a termo; AUSÊNCIA DO AUTOR À AUDIÊNCIA: arquivamento do pedido; AUSÊNCIA
DO RÉU À AUDIÊNCIA: revelia e confissão quanto aos fatos; MINISTÉRIO PÚBLICO: intervém em todos os
termos do processo e fala depois das partes; TERMO A QUO DOS ALIMENTOS: retroagem à data da citação;
APELAÇÃO: cabe da sentença, mas apenas no efeito devolutivo; AGRAVO DE INSTRUMENTO: cabe da decisão
que decretar a prisão do devedor, mas não suspende a execução da ordem de prisão; PRESTAÇÃO DE
ALIMENTOS NO ESTRANGEIRO: regida pelo Decreto n. 56.826/65, de competência o juízo federal da Capital da
Unidade Federativa Brasileira em que reside o devedor, sendo considerada instituição intermediária a Procuradoria-
Geral da República.
Extinção da obrigação alimentar: 1. novo casamento, união estável e concubinato do credor; 2. Indignidade
deste26; 3. Falecimento do credor ou do devedor (OBS: as pensões vencidas e não pagas se transmitem aos
sucessores, nas forças do limite da herança); 4. Alteração substancial do binômio alimentar; 5. Maioridade do
alimentando (vide Súmula 358 STJ e Enunciado 344 CJF).
3. DA FILIAÇÃO
Conceito: relação jurídica existente entre ascendentes e descendentes de primeiro grau.
Presunções legais de filiação: 1. Filhos nascidos 180 pelo menos depois de estabelecida a convivência (juris
tantum); 2. Filhos nascidos nos 300 dias subsequentes à dissolução da sociedade (juris tantum); 3. Filhos havidos
26 Enunciado 264 das Jornadas de Direito Civil: “Na interpretação do que seja procedimento indigno do credor, apto a
fazer cessar o direito a alimentos, aplicam-se, por analogia, as hipóteses dos incs. I e II do art. 1.814 do Código Civil”.
Enunciado 345 das Jornadas de Direito Civil: “O ‘procedimento indigno’ do credor em relação ao devedor, previsto no
parágrafo único do art. 1.708 do Código Civil, pode ensejar a exoneração ou apenas a redução do valor da pensão
alimentícia para quantia indispensável à sobrevivência do credor”.
85
por fecundação artificial homóloga (utilização do material genético dos cônjuges), mesmo que falecido o marido.
Vide Enunciado 106 CJF, segundo o qual é necessário haver autorização escrita do marido, para que a mulher utilize
o material genético após a morte dele. Tal presunção aplica-se à união estável; 4. Filhos havidos a qualquer tempo,
desde que se tratem de embriões excedentários, decorrentes de fecundação artificial homóloga (são os embriões
crioconservados, não introduzidos no ventre materno). Tal presunção aplica-se à união estável; 5. Filhos havidos por
inseminação artificial heteróloga, desde que com prévia autorização do marido (com material genético de terceiro).
A autorização não pode ser revogada após o emprego da técnica. Tal presunção é absoluta (Enunciado 258 CJF) e se
aplica à união estável27. Logo, depois de empregada a técnica, não pode o marido negar a paternidade.
Reprodução assistida heteróloga e união homoafetiva: considerando que o STF reconheceu a tais uniões o caráter
de entidade familiar, é possível. Nesse sentido: Maria Berenice Dias.
Reprodução heteróloga e investigação de paternidade: não cabe a ação contra o doador, nem mesmo para efeitos
sucessórios ou de alimentos. Contudo, há quem sustente caber, com fundamento no princípio do melhor interesse da
criança.
Gestação de substituição (barriga de aluguel): somente se admite a título gratuito e desde que ocorra em âmbito
familiar, com parentesco até segundo grau. A doadora do material (genetrix) é a mãe, ao passo em que a gestatrix
(que cede o útero) não o será.
Impotência generandi: a impotência do marido para gerar, à época da concepção, afasta a presunção de
paternidade. A impotência instrumental (coeundi) não tem tal condão (maioria da doutrina).
Paternidade socioafetiva: cabe ao marido contestar os filhos nascidos da mulher, em ação imprescritível. Contudo,
não cabe a negatória de paternidade, se há parentalidade socioafetiva e posse de estado de filho. A ausência de
vínculo biológico é fato que por si só não revela a falsidade da declaração de vontade consubstanciada no ato de
reconhecimento. Logo, aquele que registra filho de outrem como seu não pode depois querer negar a paternidade, se
há vínculo de afeto.
Prova da filiação: 1. Pela certidão do termo do nascimento registrado no Registro Civil; 2. Mediante prova escrita,
proveniente dos pais, de forma conjunta ou separada; 3. Diante de veementes presunções decorrentes de fatos já
certos (ex: posse de estado de filho).
Ação de prova de filiação: não se confunde com a investigatória de paternidade. É imprescritível e compete ao
filho. O direito de propô-la transmite-se aos herdeiros em duas hipóteses: 1. se o filho morrer menor ou incapaz; 2.
se, iniciada por ele a demanda, falecer no seu curso, salvo se julgado extinto o processo.Já se decidiu, contudo, que é
juridicamente possível o pedido dos netos, formulados contra os herdeiros do avô, visando ao reconhecimento
judicial da relação voenga.
27 A Resolução 1.957/10 – Conselho Federal de Medicina possibilita que companheiros utilizem as técnicas de
fecundação artifical homóloga, heteróloga e de embriões excedentários.
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psicológico/biopsicossocial; 5. alteração da guarda para compartilhada ou sua inversão; 6. fixação cautelar do
domicílio da criança/adolescente; 7. suspensão da autoridade parental; 8. inversão da obrigação de levar para ou
retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência
familiar. Não previu a lei a possibilidade de destituição do poder familiar.
Direito de visitas: cabe ao pai/mãe que não detém a guarda dos filhos. Estende-se aos avós (e também a outros
parentes, v.g. irmãos), a critério do juiz, observados os interesses da criança ou do adolescente. No caso de violência
doméstica contra a mulher, esse direito pode ser suspenso ou restrito (art. 22, IV Lei n. 11.340/06).
Filhos maiores e incapazes: as disposições relativas à guarda e prestação de alimentos aos filhos menores
estendem-se aos maiores incapazes.
Cláusula rebus sic stantibus: a guarda e o direito de visitas podem ser modificados a qualquer tempo, sempre em
atenção ao interesse da criança/adolescente.
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ITEM 8.A: Do seguro e da promessa de recompensa.
Obras consultadas: Arnaldo Rizzardo. Contratos. 6ª Edição. Ed. Forense; Caio Mario Pereira da Silva. Instituições
de Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações, vol. II. 20ª Edição. Ed. Forense; Caio Mario Pereira da Silva.
Instituições de Direito Civil: Direito das Sucessões, vol. VI. 17ª Edição. Ed. Forense.; Cristiano Chaves de Farias e
Nelson Rosenvald. Direitos das Obrigações. 5ª Edição. Ed Lumen Juris; Gustavo Tepedino, Heloisa Helena
Barboza e Maria Celina Bodin de Moraes. Código Civil Interpretado Conforme a Constituição da República. Vol. I.
Renovar; Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barboza e Maria Celina Bodin de Moraes. Código Civil Interpretado
Conforme a Constituição da República. Vol. II. Renovar; Orlando Gomes. Contratos. 26ª Edição. Ed. Forense;
Pedro Alvim. O Seguro e o Novo Código Civil. Ed. Forense.
Legislação básica: Art. 21, VIII; 22, VII; e 187, V CF; arts 286 a 298; 417 a 420; 757 a 802; 840 a 850; 854 a 860;
1.912 a 1.922; 1.991; 1.992 a 1.996; 2.002 a 2.012; 2.012 a 2.022; e 2.027 do Código Civil; Arts. 982 a 1.045 do
Código de Processo Civil.
I. Seguro
1. Noções Gerais.
Embora o ponto esteja inserido no programa de direito civil, entende-se hoje que o seguro é um contrato pertencente
ao campo do Direito Empresarial (GOMES, p. 504), pois somente empresas organizadas sob a forma de sociedade
anônima ou cooperativas (seguros agrícolas de saúde) podem celebrá-lo na qualidade de segurador.
2. Conceito.
O Brasil adota um conceito unitário de seguro (ALVIM, p. 5): “pelo contrato de seguro, o segurador se obriga,
mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo à pessoa ou à coisa, contra
riscos predeterminados” (GOMES, p. 504).
4. Natureza Jurídica.
Como visto, a natureza jurídica do seguro é de “contrato” quando tem natureza privada.
5. Classificações.
Em regra, o contrato de seguro é sinalagmático (bilateral), oneroso, consensual (se constitui pela avença e não pela
entrega do bem), aleatório (há riscos) – há controvérsia na doutrina: entendem alguns que o cálculo atuarial em que
se baseia o contrato de seguro elimina a aleatoriedade da prestação, tendo em vista que o contrato de seguro deveria
ser visto sob uma ótica global, ou seja, do mutualismo que o pressupõe – e de adesão.
7. Espécies.
O seguro pode ser a prêmio fixo (feito pelo segurado com uma companhia seguradora) ou variável (várias pessoas
assumem mutuamente a responsabilidade pelo prejuízo que qualquer uma delas sofrer – cada segurado é, ao mesmo
tempo, segurador de outro, nesse caso são seguros cíveis).
8. Prescrição
É de um ano o prazo da ação do segurado contra o segurador, contado, em regra, da ciência do fato gerador da
pretensão ou do dia em que o segurado é citado para responder à ação de indenização no seguro de responsabilidade
civil. O prazo do segurado não influencia o do beneficiário, que será de 10 anos (regra geral) no caso de seguro de
vida, acidentes pessoas e outros em favor da pessoa. Será de três anos o prazo da seguradora para reaver seus danos.
O prazo para o beneficiário contra o segurador nos seguros de responsabilidade civil também é de três anos.
(ALVIM, 209/210).
I. Cessão de Crédito
1. Noções Gerais
A cessão de crédito é uma modalidade de transferência das obrigações (relação jurídica de natureza prestacional).
Assim, o termo alienação só pode ser utilizado para a transmissão de coisas corpóreas, enquanto o vocábulo cessão
implica transferência onerosa ou gratuita de bens imateriais, intangíveis – aliena-se um quadro ou imóvel, enquanto
cedem-se direitos autorais (FARIAS e ROSENVALD, p. 352).
2. Conceito.
Trata-se de negócio jurídico pelo qual um crédito é transferido a outrem (cessionário) pelo credor originário
(cedente) sem necessidade de anuência do devedor (cedido). Entretanto, o cedido precisa ser comunicado da cessão
para fins de eficácia do negócio em relação a ele. Não se confunde com a novação na modalidade subjetiva ativa,
pois o direito que o cessionário recebe é o mesmo do qual o cedente era titular, com todos os seus acessórios – e não
direito novo que surgiu da extinção de um anterior. Também não se confunde com a sub-rogação, pois esta é baseada
no cumprimento da obrigação, pressupondo a satisfação do crédito – a situação jurídica do sub-rogado está
subordinado a esse cumprimento (ex.: obrigação de R$ 1.000 adimplida em R$ 600,00 – há sub-rogação apenas em
relação a R$ 600,00) – na cessão, por outro lado, não há necessária correspondência entre o valor do negócio
jurídico e a obrigação transmitida.
3. Natureza Jurídica
Como visto, a cessão de crédito é um negócio jurídico e modalidade de transferência das obrigações.
4. Regras Gerais
A cessão pode ser gratuita (doação) ou onerosa (regra geral). Todos os elementos da obrigação são transferidos,
salvo disposição em contrário (princípio da gravitação jurídica). Pode o crédito ser incessível se a lei assim dispuser
(alimentos) ou por previsão em convenção (esta cláusula não pode ser oposta a 3º de boa-fé se não constar no
contrato expressamente). P/ a cessão ter eficácia perante 3º’s, deve ser feita por instrumento público ou por
particular segundo os requisitos do art. 654 do CC (qualificação das partes, local e data da cessão, objetivo da
transmissão e indicação do q foi transferido). Se houver pluralidade de cessões, deve o devedor pagar ao que portar
o título de cessão ou, no caso de previsão em escrituras públicas, o notificado primeiramente tem preferência. O
devedor que pagar ao credor originário antes de ser notificado da cessão ou da penhora do crédito se exime da
obrigação. Pode o devedor manejar exceções que tinha contra o credor originário, nascidas até a data da cessão, bem
como as que têm em face do cessionário. Em regra, o cedente não responde pela solvência do devedor, mas sempre
pela existência do crédito na cessão onerosa. Se a cessão for gratuita só responde pela existência se houver má-fé de
sua parte. Se o cedente se obrigou pela solvência, diz-se que o crédito é pro solvendo, na medida em que a extinção
da obrigação fica condicionada à adimplência do devedor. Em regra, a cessão é pro soluto, na qual ocorre a quitação
imediata do débito em relação ao cedente. Na pro solvendo, a responsabilidade do cedente se limita ao valor que
recebeu pela cessão (+ juros + despesas de cobrança). A cessão pode decorrer de lei (acessório segue o principal), de
ordem judicial (herança) ou de convenção (ex: factoring). A cessão pode ser total (principal + juros + garantia) ou
parcial (parte do principal, ou só principal).
II. Arras
Trata-se de valor entregue por uma das partes a fim de trazer presunção de celebração de contrato definitivo. Podem
ser confirmatórias (entrada ou sinal): visam confirmar o contrato celebrado e não há previsão de arrependimento
por qualquer das partes, motivo pelo qual as arras, neste caso, funcionam como penalidade e adiantamento de
indenização mínima, a qual pode ser complementada se não for suficiente para abarcar todas as perdas e danos – se
o contrato é cumprido, são devolvidas, ou podem ser abatidas da prestação de quem as deu se for de mesma natureza
que esta; ou podem ser penitenciais (visam assegurar direito de arrependimento e são uma antecipação das
perdas e danos, sem possibilidade de complementação, ainda que os danos sejam maiores. É uma pré-fixação
da indenização). Se o descumprimento contratual for do devedor, cabe perda das arras, se for do credor, cabe
pagamento das arras em dobro. Importante destacar que se não houver previsão contratual de direito de
arrependimento, presume-se que as arras foram confirmatórias (FARIAS e ROSENVALD, p. 612).
III. Transação
1. Noções Gerais
Alguns códigos incluem a transação entre os modos de extinção da obrigação. Tem-na a doutrina, porém, como um
contrato (GOMES, p. 543). Podem ser criadas novas relações jurídicas pela transação. Dois requisitos essenciais
são: a) incerteza de uma relação jurídica e; b) eliminação contratual da incerteza, mediante c) concessões
recíprocas. Não pode transigir quem não tenha poder especial para dispor da coisa.
2. Conceito
“É contrato pelo qual, mediante concessões mútuas, os interessados previnem ou terminam um litígio,
eliminando a incerteza de uma relação jurídica.” (GOMES, p. 544)
3. Classificações
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É bilateral, oneroso, consensual, comutativo, formal (exige, no mínimo, forma escrita) e não solene (em regra, pois
se o objeto for imóvel ou a obrigação estiver em litígio judicial exige-se escritura pública. Neste último caso, deve
haver homologação pelo juiz). A transação pode ser preventiva (antes da lide) ou terminativa.
4. Regras Gerais
Pode ser judicial ou extrajudicial. Pode recair sobre direitos reais, obrigacionais, familiares ou sucessórios –
excluindo-se do âmbito desse contrato certas relações (matrimônio, estado de filho), mas é lícito transigir quanto aos
interesses patrimoniais vinculados ao estado da pessoa. Parte da doutrina entende que cabe transação quanto
aos valores dos alimentos, mas ORLANDO GOMES entende que não. Em regra, só gera efeitos inter partes
com as seguintes exceções: se feita por um dos credores solidários, desobriga o devedor em relação aos demais
credores; se feita em benefício de só um devedor solidário, desobriga os demais co-devedores; se feita sem
anuência do fiador, desobriga-o. Se ocorrer evicção, não há restauração da obrigação, mas só perdas e danos
ao evicto. Não se confunde com novação, pois esta é um negócio jurídico bilateral pelo qual se dá um pagamento
indireto, enquanto a transação é contrato bilateral que diminui a obrigação. Também não se confunde com dação em
pagamento, que é forma de pagamento indireto (negócio jurídico bilateral) com a mera substituição da prestação.
Em regra, não se aplica o princípio da conservação contratual, salvo se os direitos forem contestados e
independentes entre si. Pode ser nula ou anulável, como qualquer negócio jurídico. A transação é nula se dispuser
sobre objeto sobre o qual incida coisa julgada ou se for descoberto ulteriormente que nenhuma das partes
tinha direito sobre a coisa. O art. 849 elenca hipóteses de anulabilidade da transação (dolo, coação, erro
essencial quanto à pessoa ou coisa. Se o erro for de direito, não se anula questões que foram controvertidas
entre as partes). Venosa entende que esse rol de nulidades elencadas no art. 849, cabendo qualquer outra
modalidade do CC.
91
ITEM 8.C: Da sonegação e das colações. Dos legados, do inventário e da partilha. Anulação da partilha.
I. Da Sonegação e da Colação
1. Sonegação
Consiste na ocultação intencional de bens que deveriam ser inventariados ou levados à colação. A pena de
sonegados só se pode impor por ação própria. Vem a ser uma sanção ou penalidade civil imposta para os casos
mencionados, de ocultação de bens da herança, gerando a perda do direito sobre os bens ocultados. Para essa
imposição, exige-se a presença de dois elementos: a) objetivo: ocultação dos bens; b) subjetivo: má-fé/dolo. Bens
sonegados – sujeitos à sobrepartilha. *Ação de sonegados: meio judicial para obrigar o sonegador a apresentar os
bens que ocultou maliciosamente – aplica punição – não participa da divisão do bem sonegado. Prazo prescricional:
10 anos. Legitimados: interessados na herança e no inventário.
2. Colação
É o ato pelo qual os descendentes e o cônjuge sobrevivente promovem a devolução ao acervo hereditário dos
valores recebidos junto ao falecido, a título de doação, para a subsequente inclusão na partilha, para que esta seja
levada a efeito com igualdade entre os herdeiros descendentes e cônjuge sobrevivente. Doador pode expressamente
dispor que a doação saia da parte disponível: dispensa-se a colação. Se não devolve: sonegadores. Objetivo: igualar
a legítima dos herdeiros necessários com base na equidade e na vontade presumida do de cujus (princípio da
igualdade entre os quinhões). Obrigação de colacionar: descendentes (sucessíveis por direito próprio ou os que
receberam por direito de representação) e cônjuge sobrevivente (só quando concorrer com os descendentes) –
ascendentes, colaterais e estranhos não tem obrigação de colacionar. Realizada por substância/espécie/in natura
(bem doado se integra à herança) e por estimação/imputação/ideal (restituição em dinheiro do valor correspondente).
Valor do bem = da época da doação, nos termos do caput do art. 2.004, exclusivamente na hipótese em que o
bem doado não mais pertença ao patrimônio do donatário. Se, ao contrário, o bem ainda integrar seu
patrimônio, a colação se fará com base no valor do bem na época da abertura da sucessão (Obs.: Enunciado
119 CJF) – ambos os casos abrigam a correção monetária. Prazo: 10 (dez) dias, a contar de sua citação, para
manifestar-se sobre as primeiras declarações (art 1014 do CPC). Dispensa da colação: a) dispensa determinada pelo
doador que dispõe ter realizado com base na parte disponível; b) gastos ordinários do ascendente com o descendente
enquanto menor; c) doações remuneratórias; d) benfeitorias acrescidas aos bens doados. e) frutos e rendimentos dos
bens, até a data do falecimento do autor da herança.
1. Legados
Típicos da sucessão testamentária: é sucessão a título singular, que recai sobre coisa certa e determinada (PEREIRA
DA SILVA, p. 251) – rejeita-se a idéia de legado universal. Assemelha-se à doação – todavia somente opera após a
morte e independe do animus do de cujus. O herdeiro pode ser tacitamente indicado, o legatário só existe quando
expressamente indicado. Testador – Onerado – Legatário (pode ser pessoa estranha ou não à sucessão legítima).
Caso legatário seja também herdeiro legítimo: legado precípuo ou prelegado. Quanto ao objeto: a) coisas corpóreas
(móveis, imóveis, semoventes); b) bens incorpóreos (títulos, ações e direitos); c) alimentos; d) créditos; e) dívidas; f)
pode incidir em fato, desde que seja lícito, possível e útil ao legatário – tudo que seja economicamente apreciável
pode ser transmissível por legado. Espécies: a) puro ou modal – varia pelo fato de ter encargo ou não; b) coisa
alheia – é ineficaz o legado de coisa alheia que não pertença ao testador no momento da abertura da sucessão;
c) coisa do herdeiro ou legatário – se a determinação de entrega a terceiro não for cumprida, presume-se a
renúncia à herança (presunção juris et de iure); d) Legado de gênero – determinada coisa móvel determinada por
gênero ou espécie, ainda que não exista na herança; e) Coisa singularizada e legado de universalidade – quando se
lega uma universalidade “todos os meus livros” englobam-se todas as unidades que integram; f) Determinação do
lugar – só terá eficácia o legado se a coisa for encontrada no lugar determinado (a remoção feita por terceiro da
coisa não afeta o legado); g) Crédito – de crédito ou de débito, o legado terá eficácia em relação à quantia relativa;
h) Quitação de dívida – exonera algum devedor; i) Compensação – não se opera a compensação com o legado, a
não ser que expressamente declarado; j) Alimentos – se vinculados a um imóvel, constituem ônus real, inscrevendo-
se no registro; l) Imóvel – engloba as benfeitorias; m) Usufruto – presume-se vitalício, só o proprietário pleno
pode fazer, não existe usufruto sucessivo; n) Legado Remuneratório – aceitando a liberalidade, o legatário
abre mão do direito de ação. Efeitos: só terá posse após a partilha, ainda que a propriedade já tenha desde a
abertura da sucessão; direito de pedir legado; direito aos frutos e juros da coisa certa legada desde a morte; escolha
do legado (legatum optiones: escolha do legatário. Legatum electiones: testador indica herdeiro para escolher.
Legado alternativo: cabe ao herdeiro a escolha entre 2 ou mais coisas diversas). Não necessita aceitação expressa,
todavia cabe renúncia. Caducidade: ineficácia face causa superveniente (ex: modificação substancial do bem,
alienação voluntária da coisa pelo testador em vida, perecimento ou evicção da coisa etc).
2. Inventário
“É o meio técnico de anotar e registrar o que ‘for encontrado’, pertencente ao morto, para ser atribuído a seus
sucessores” (PEREIRA DA SILVA, p. 339). O inventário era obrigatoriamente judicial, no entanto, em 2007
passou-se a permitir o inventário e a partilha por escritura pública, quando não houver testamento ou
herdeiro incapaz. Processo de inventário: abertura (prazo de 60 dias, art. 983 do CPC) → nomeação do
inventariante → citação dos interessados → primeiras declarações → avaliação dos bens inventariados →
declarações finais do inventariante → liquidação dos impostos. (prazo geral de 12 meses) – os prazos podem
ser dilatados pelo Juiz. Legitimados – qualquer pessoa com legítimo interesse (cônjuge; companheiro;
herdeiro, legatário ou o cessionário de um ou de outro; o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da
herança; o testamenteiro; curador do herdeiro; o síndico da falência do herdeiro, do legatário do autor da
herança ou do cônjuge sobrevivo; o MP se houver incapaz; e, finalmente, a Fazenda Pública – também o
administrador do espólio. A legitimação é concorrente, não há ordem. Se ninguém o fizer, pode o Juiz de
oficio). Competência: foro do último domicílio do finado – tem-se entendido que o critério de competência é
relativo (PEREIRA DA SILVA, p. 340). Inventariante – o inventariante não é um mandatário dos herdeiros. O
inventariante tem poderes de administração, mas não de alienação, os atos do inventariante estão sob
fiscalização dos herdeiros. O inventariante tem a responsabilidade passiva e ativa de representação do espolio.
A sanção para a violação dos deveres do inventariante (relacionar herdeiros e legatários, administração proba, não
sonegar, etc) são a responsabilidade civil e o afastamento da função. Arrolamento: processo de inventário
simplificado. Inventário negativo: modo de provar a inexistência de bens do extinto casal. Inventário
Extrajudicial: art. 982 do CPC. É possível receber valores independentemente de inventario por mera
expedição de alvará: FGTS, PIS-PASEP e parcelas de benefícios previdenciários não recebidos em vida. A
prova objetiva do 26º continha uma opção na questão 75 que afirmava caber sempre e em primeiro lugar ao cônjuge
supérstite a investidura da inventariança. A assertiva estava errada porque a sequência do art. 1.797 do CC prevê que
o cônjuge supérstite administrará o inventário até o compromisso do inventariante e somente poderá
administrar os bens se ainda convivia com o falecido à época do óbito. Além disso, inventariante não é
necessariamente aquele que tocará a administração provisória da herança (PEREIRA DA SILVA, p. 344).
3. Partilha
Divisão oficial do monte líquido, apurado durante o inventário, entre os sucessores do de cujus, para lhes adjudicar
os respectivos quinhões hereditários. O estado de indivisão máximo no ordenamento pátrio e de 5 anos (art.
1.320, §1º, CC). A partilha tem efeito meramente declaratório, já que a propriedade é transmitida desde a
abertura da sucessão (saisine). O objeto da partilha é a herança líquida. Os herdeiros são garantes uns dos
outros, assim, havendo evicção, todos respondem pelo prejuízo do evicto (pelo valor do bem ao tempo da
partilha). Impossibilidade de partilha: e necessário ter em conta, especialmente em face da legislação agrária, a
capacidade produtiva do imóvel – se de seu fracionamento resultar partes inferiores ao mínimo economicamente útil
não poderá haver partilha Espécies de partilha: a) amigável (escrito público ou particular assinado por todos os
interessados sujeito a homologação judicial; amigável da Lei 11.441/07 (não havendo testamento ou incapaz pode
ser feita por escritura publica, independente de homologação posterior), b) judicial (obrigatória se os herdeiros
divergirem ou houver incapaz) ou b) em vida (feita pelos ascendentes, é válida desde que não prejudique a legítima,
não se trata de “pacta corvina”, vedada pelo ordenamento jurídico. Pode ser feita por testamento ou por doação,
motivo pelo qual controverte a doutrina sobre sua natureza). Discute a doutrina se essa última modalidade de
partilha “parenttum inter líberos” transmite as dívidas. CAIO MARIO entende que se for feita por doação
(partilha-doação) não haverá transmissão de dívidas, já se feita por testamento (partilha-testamento), sim.
93
ITEM 9.A: Atos jurídicos. Dos defeitos, nulidade e anulabilidade, da fraude a credores e da onerosidade
contratual. Dos atos ilícitos e sua reparação.
Obras consultadas: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. I. São Paulo: Saraiva, 2003;
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito Civil – Teoria Geral. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2008; TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Série Concursos Públicos. Vol. 1. 2ª Ed. São Paulo: Método, 2006;
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 5ª Ed. São Paulo: Atlas, 2005.
Legislação básica: CC, arts. 104 a 188, 478 a 480; Súmulas do STJ nº 195, 322, 375; Enunciados do CJF nº 12, 13,
37, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 159, 175, 176, 290, 291, 293, 294, 365, 366, 367, 410, 411, 412, 413, 414, 439,
440.
1. Atos Jurídicos
Venosa define os atos jurídicos como sendo “aqueles eventos emanados de uma vontade, quer tenham intenção
precípua de ocasionar efeitos jurídicos, quer não” (p. 362). Em sentido lato, pois, os atos jurídicos derivam,
necessariamente, de uma atuação do ser humano ou de sua exteriorização de vontade, produzindo efeitos
reconhecidos pelo direito (fato jurídico humano voluntário). Elementos caracterizadores do ato jurídico em sentido
amplo: a) ato humano de vontade; b) exteriorização da vontade pretendida; c) consciência dessa exteriorização de
vontade; d) que essa vontade exteriorizada dirija-se à obtenção de resultado permitido (não proibido) pela ordem
jurídica. Dividem-se os atos jurídicos em: ato jurídico stricto sensu, negócio jurídico e ato-fato jurídico. Enquanto o
ato jurídico em sentido estrito (ou ato não-negocial) tem consectários previstos em lei, afastando, em regra, a
autonomia privada (neles a intenção está em segundo plano, ganhando realce a consequência desejada), o negócio
jurídico (ou ato negocial) é ato de autonomia privada, com os quais o particular regula por si os próprios interesses.
Quando a autonomia da vontade não exercer influência nos efeitos decorrentes ter-se-á ato jurídico sentido estrito,
cujo efeito se produz ex lege, sem considerar a vontade do agente (há uma manifestação de vontade); já se o
resultado depender da vontade (ex voluntate), é caso de negócio jurídico (há uma declaração de vontade). Aplicam-
se as regras dos negócios jurídicos (dada a maior complexidade e riqueza estrutural) aos atos jurídicos lícitos não
negociais ou em sentido estrito (art. 185 do CC). Por seu turno, o ato-fato jurídico, categoria criada por Pontes de
Miranda, consiste no comportamento que, conquanto provenha da atuação humana, é desprovido da
intencionalidade ou da consciência (voluntariedade) em face de um resultado jurídico (ex: compra de confeito por
uma criança de cinco anos). Os fatos abarcados por essa definição, não fosse a supracitada particularidade, poderiam
ser enquadrados como fato jurídico ou ato jurídico stricto sensu.
NULIDADE ANULABILIDADE
Fundamenta-se em razões de ordem pública, cuja
Fundamenta-se em razões de ordem privada.
proteção interessa a todos.
Pode ser declarada de ofício pelo juiz, a requerimento Somente poderá ser invocada por aquele a quem
do MP, ou de qualquer interessado. aproveite, não podendo ser reconhecida de ofício.
É suscetível de confirmação ou redução, que pode ser
Não é suscetível de confirmação (é irratificável).
expressa ou tácita.
Não convalesce pelo passar do tempo (é Prazo decadencial de, em regra, 4 anos. Quando a lei
imprescritível). não estabelecer prazo, será de 2 anos.
Não produz efeitos. Produz efeitos, enquanto não for anulado.
Reconhecida através de ação desconstitutiva, sujeita a
Reconhecida através de ação meramente declaratória.
prazo decadencial.
Admite conversão substancial. Admite sanação pelas próprias partes.
Ex: arts. 166 e 167 do CC. Ex: art. 171 do CC.
Erro ou ignorância (arts. 138 a 144 do CC): O erro é um engano fático, uma falsa noção, em relação a uma
pessoa, negócio ou direito, que acomete a vontade de uma das partes que celebrou o negócio jurídico. Trata-se de
um vício de consentimento no qual o agente engana-se sozinho. A ignorância é um desconhecimento total quanto ao
objeto do negócio; a distinção em relação ao erro é meramente teórica; ambos geram a anulabilidade do negócio
jurídico. Erro essencial ou substancial é o que recai sobre as circunstâncias e aspectos relevantes do negócio,
constituindo a causa determinante do ato (art. 139 do CC). Erro acidental é aquele que recai sobre motivos ou
qualidades secundárias do objeto ou da pessoa, não alterando a validade do negócio; o caso concreto deve ser alvo
de exame do juiz (art. 142 do CC). Para dar azo à anulação do negócio, o erro deve ser substancial, podendo ser
percebido por pessoa de diligência normal. Não interessa se o erro é escusável (justificável) ou não. O art. 138 do
CC adotou o princípio da confiança. Com esse teor, o Enunciado nº 12 do CJF. O vício redibitório é erro objetivo
sobre a coisa, que contém um defeito oculto; o erro quanto às qualidades essenciais do objeto é subjetivo, pois reside
na manifestação da vontade. O falso motivo, em regra, não pode gerar a anulabilidade do negócio, salvo quando
estiver expresso como razão determinante do negócio. Trata-se do erro quanto ao fim colimado. O erro de cálculo
não anula o negócio, mas apenas autoriza a retificação da declaração de vontade. Tal disposição, consagrada no art.
143 do CC, está afinada com o princípio da conservação dos negócios jurídicos. O erro não prejudica a validade do
negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na
conformidade da vontade real do manifestante. O erro obstativo ou impróprio é o de relevância exacerbada, que
apresenta uma profunda divergência entre as partes, impedindo que o negócio venha a se formar. É portanto, o que
obsta a sua formação e, destarte, inviabiliza a sua existência.
Dolo (arts. 145 a 150 do CC): Enquanto no erro há uma (espontânea) falsa impressão das circunstâncias do
negócio, no dolo tem-se vício de consentimento em que o agente é induzido a se equivocar em virtude de manobras
ardilosas e maliciosas perpetradas por outrem; ou seja: o erro é provocado por terceiro. No dolo essencial, uma das
partes do negócio utiliza artifícios maliciosos para levar a outra a praticar um ato que não praticaria normalmente,
visando obter vantagem, geralmente com vistas ao enriquecimento sem causa. O dolo acidental não gera a
anulabilidade do negócio jurídico, mas somente a satisfação de perdas e danos a favor do prejudicado. Haverá dolo
acidental quando o negócio seria praticado pela parte, embora de outro modo. Não só o dolo do próprio negociante
gera a anulabilidade do negócio, mas também o dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse
ter conhecimento. Em caso contrário, ainda que válido o negócio jurídico, o terceiro responderá por perdas e danos à
parte a quem ludibriou. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder
civilmente até a importância do proveito que teve. Mas se o dolo for do representante convencional, o representado
responderá solidariamente com ele por perdas e danos. Segundo Venosa (p. 443), “o dolo positivo (ou comissivo)
traduz-se por expedientes enganatórios, verbais ou de outra natureza que podem importar em série de atos e
perfazer uma conduta”, enquanto “o dolo negativo (ou omissivo) é a reticência, a ausência maliciosa de ação para
incutir falsa ideia ao declaratário”. Dolo recíproco ou bilateral é a situação em que ambas as partes agem
dolosamente, um tentando prejudicar o outro mediante o emprego de artifícios ardilosos. Não podem as partes
alegar os dolos concorrentes, permanecendo incólume o negócio jurídico celebrado, não cabendo inclusive qualquer
indenização a título de perdas e danos. Também é denominado de dolo compensado ou dolo enantiomórfico.
Coação (arts. 151 a 155 do CC): Coação é toda a pressão física ou moral exercida contra alguém, de modo a forçá-
lo à prática de um determinado negócio jurídico, contra a sua vontade, tornando defeituoso o negócio. É a coação
fator externo apto a influenciar a vítima no sentido de realizar, efetivamente, o negócio que a sua vontade (interna e
livre) não deseja. Enquanto no erro o declarante se engana sozinho, espontaneamente, e no dolo é levado a se
equivocar, por força de manobras ardilosas, na coação o agente sofre intimidação moral: ou pratica o ato ou sofrerá
as consequências decorrentes da ameaça que lhe é imposta. Coação física (vis absoluta): É o constrangimento
corporal que retira toda capacidade de manifestação de vontade, implicando ausência total de consentimento,
acarretando nulidade do ato (Venosa). Nesse caso, o coato pode ser enquadrado no art. 3º, III do CC. Alguns autores,
como Renan Lotufo, entendem que se tal modalidade de coação estiver presente, o negócio será inexistente (Farias,
Rosenvald, Gonçalves). Coação moral ou psicológica (vis compulsiva): Coação efetiva e presente, fundada em
temor de dano iminente e considerável à pessoa do negociante, à sua família ou aos seu bens. O ato praticado nessas
circunstâncias é passível de anulação, desde que proposta a ação no prazo decadencial de 4 (quatro) anos, contados
de quando cessar a coação. Não são causas da anulação do negócio jurídico por coação a ameaça de exercício
regular de direito e o temor reverencial. Também não constitui defeito a ameaça a um mal impossível ou remoto,
assim como de mal evitável ou menor do que o ato extorquido. A coação exercida por terceiro somente será causa de
anulabilidade do ato se o beneficiário dela tivesse ou devesse ter ciência.
Lesão (art. 157 do CC): Configura-se quando alguém obtém lucro exagerado, desproporcional, aproveitando-se da
falta de malícia (inexperiência) ou da situação de necessidade do outro contratante. Prende-se à ideia de justiça
contratual. No Direito Consumerista, a lesão é causa de nulidade. A desproporcionalidade entre as prestações que
incumbe às partes deve ocorrer no momento da declaração da vontade, no instante da contratação; se for
superveniente, não se trata de lesão, mas de onerosidade excessiva, capaz de ensejar a revisão do contrato. A
ineficácia negocial poderá ser afastada se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar
com a redução do proveito, conforme Enunciado nº 149 (“Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a
verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua
anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de
2002.”). A ação judicial movida pelo lesado pode postular, desde logo, a revisão do negócio jurídico (Enunciado nº
291 – “Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil, pode o lesionado optar por não pleitear a
anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista à revisão judicial do negócio por meio da
redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço”). Não se presume a inexperiência ou premente
necessidade do lesado (Enunciado nº 290). Restam dúvidas quanto à possibilidade de a lesão usurária gerar a
nulidade absoluta do negócio jurídico celebrado, porque o art. 11 da Lei de Usura (Decreto 22.626/33) menciona
que qualquer infração ao que constar naquela lei é capaz de gerar nulidade plena e absoluta do pacto. Por outro lado,
a lesão subjetiva, regra geral, gera anulabilidade pelo teor do novo Código Civil (art. 171, II). Adotando a
conservação contratual, princípio anexo à função social do contrato, Flávio Tartuce é adepto do posicionamento pela
anulabilidade. Isso porque deve sempre o magistrado procurar a revisão do negócio, mantendo a vontade
manifestada pelas partes. A lesão está configurada na prática do truck system, hipótese em que o empregador coloca
à disposição do empregado mercadorias, no próprio local de trabalho, com preços bem superiores aos praticados no
mercado. A lesão não exige dolo de aproveitamento (Enunciado nº 150).
Estado de perigo (art. 156 do CC): O estado de perigo é a projeção do estado de necessidade do direito penal na
seara negocial. Caracteriza-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou pessoa de
sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação onerosamente excessiva. Tratando-se de
pessoa não pertencente à família do contratante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias fáticas e regras da razão.
O estado de perigo ocorre no momento em que se declara a vontade, assumindo obrigação excessivamente onerosa,
por conta da necessidade de salvar a si ou a alguém a quem se liga por vínculo afetivo. O estado de perigo e a
coação (moral) se distinguem porque na coação a ameaça ou violência é oriunda de pessoa interessada na prática do
ato (uma das partes do negócio ou terceiro), enquanto no estado de perigo a ameaça provém de simples
circunstância fática, que exerce contundente influência sobre a vontade do agente que declarará a vontade). Na
lesão, a necessidade é econômica; no estado de perigo, visa-se salvar uma vida. Tem de demonstrar o dolo de
aproveitamento da pessoa que contrata com a outra que age sobre o estado de perigo, isto é, um contratante deve ter
conhecimento da situação de risco que atinge o outro. O estado de perigo surgiu com o CC/2002, valendo apenas
para o negócio jurídico celebrado a partir de janeiro de 2003.
6. Questões de Prova
25º CPR
- O ato ilícito produz efeitos jurídicos, que não são desejados pelo agente, mas impostos por lei (V).
- O erro de cálculo, quando viciar o consentimento, pode gerar a anulação do negócio jurídico (F).
- O dolo positivo ocorre quando uma das partes ocultar algo que, se a outra fosse sabedora, não efetivaria o negócio
(F).
- O negócio jurídico é anulável tanto em virtude de vícios sociais quanto em virtude de vícios de consentimento (V).
- O erro de direito, para gerar a anulação do negócio, tanto pode recair sobre normas cogentes quanto sobre normas
dispositivas (F).
26º CPR
- Os atos ou negócios puros são exceção no ordenamento pátrio porque não comportam condição (V).
- O temor reverencial, que exclui a coação, é o receio de desgostar pessoas a quem se deve respeito hierárquico (F).
ITEM 9.B: Da extinção das obrigações. Do inadimplemento. Da cláusula penal e dos juros. Das perdas e
danos.
Obras consultadas: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. II. 1ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2004; FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2009; TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Série Concursos Públicos. Vol. 2. 3ª Ed. São Paulo: Método, 2008;
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 5ª Ed. São Paulo:
Atlas, 2005.
Legislação básica: CC, arts. 389 a 416; Súmulas do STF nº 121, 122, 123, 164, 173, 254, 412, 618, 619.
Súmulas do STJ nº 12, 37, 54, 56, 69, 70, 76, 102, 113, 114, 176, 188, 204, 227, 245, 283, 284, 285, 288, 295, 296,
379, 382, 408, 422 e 426; Enunciados do CJF nº 20, 161 a 165, 354 a 359 e 427 a 430.
2. Do Inadimplemento.
O inadimplemento das obrigações é gênero que engloba, como principais espécies, a mora, o inadimplemento
absoluto e a violação positiva do contrato. Traduz o que Venosa (p. 336) chama de “crise da obrigação”, uma
patologia que causa uma ruptura violenta e repentina de um estado de equilíbrio. Em qualquer dessas situações, o
patrimônio do devedor servirá como garantia dos credores (art. 391 do CC) – é o chamando princípio da imputação
civil dos danos ou princípio da responsabilidade patrimonial do devedor. Não satisfeito voluntariamente o direito
subjetivo ao crédito, surge a responsabilidade do devedor (Haftung), e a possibilidade de o credor ingressar em seu
patrimônio (art. 591 do CPC).
Inadimplemento Absoluto: É a completa impossibilidade de cumprimento da obrigação. A viabilidade da prestação
será aferida pelo ângulo do interesse econômico do credor em receber, e não do devedor em prestar. Segundo
FARIAS e ROSENVALD (p. 458), “o inadimplemento absoluto poderá ser total ou parcial, conforme ocorra o
perecimento ou apenas a deterioração da coisa”. A impossibilidade do objeto deve se superveniente à constituição
do vínculo obrigacional; se existir ao tempo da contratação, ter-se-á uma invalidade do negócio jurídico. Nas
obrigações negativas (não-fazer), todas as hipóteses de descumprimento serão casos de inadimplemento absoluto
(art. 390 do CC). A principal consequência do inadimplemento absoluto é o pagamento de perdas e danos. Nos
contratos benéficos, responderá por culpa aquele que tem benefícios com a obrigação do contrato e por dolo aquele
a quem não favoreça (art. 392 do CC). Em regra, o devedor não responde por prejuízos advindos de caso fortuito ou
força maior, a não ser que tenha sido assim acordado por meio da cláusula de assunção convencional. Preconiza o
Enunciado nº 162 do CJF que “A inutilidade da prestação que autoriza a recusa da prestação por parte do credor
deverá ser aferida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do sinalagma, e não de acordo
com o mero interesse subjetivo do credor”.
Mora: É o inadimplemento parcial ou relativo da obrigação. Caracteriza-se por ser o retardamento ou cumprimento
imperfeito da prestação (art. 394 do CC), a qual, contudo, continua sendo útil à outra parte. Leciona Venosa (p. 339)
que a mora é o retardamento culposo da obrigação, quando se trata de mora do devedor; em outras palavras, na mora
solvendi, a culpa é essencial (posição majoritária – ver REsp 474395/RS -, embora encontre vozes dissonantes na
doutrina pós-moderna). A mora do credor, accipiendi, é simples ato ou fato e independe de culpa. Os principais
efeitos da mora do devedor (solvendi, debitoris ou debendi) são: (i) responsabilização pelo atraso no cumprimento
da prestação, mediante a indenização dos prejuízos e o dever de pagar juros, atualização monetária e honorários de
advogado (art. 395 do CC); (ii) dever de responder pela impossibilidade da prestação, mesmo que resulte de caso
fortuito ou força maior (art. 399 do CC), salvo se o devedor provar isenção de culpa ou que o dano adviria ainda que
a obrigação fosse oportunamente desempenhada. Se o atraso no cumprimento da obrigação acarretar o fim do
interesse do credor, este pode resolver o negócio jurídico, convertendo a mora em inadimplemento absoluto (art.
395, parágrafo único do CC). Orienta o Enunciado nº 354 do CJF que “a cobrança de encargos e parcelas
indevidas ou abusivas impede a caracterização da mora do devedor”. Há mora ex re ou automática quando a
obrigação for positiva, líquida e com data fixada para o adimplemento. A inexecução da obrigação implica na mora
do devedor de forma automática, vigorando o brocardo dies interpellat pro homine (art. 397, caput do CC). Já a
mora ex persona ou mora pendente caracteriza-se quando não há estipulação de termo certo para o cumprimento da
obrigação, sendo necessário que o credor notifique o devedor para efetuar o pagamento (art. 397, par. único do CC).
Diz-se que a mora é presumida ou irregular quando a obrigação provém de ato ilícito; nesse caso, é dispensada a
notificação do causador do dano, pois ele assume os riscos no momento da perpetração do ato. De outra banda, a
mora do credor (accipiendi, creditoris ou credendi), ocorre quando há recusa imotivada no recebimento de prestação
ofertada pelo devedor no tempo, lugar e modo convencionados ou quando o credor exige o pagamento em modo
superior ou diverso ao ajustado (art. 394 do CC). Quando as moras de credor e devedor são simultâneas, uma
elimina a outra, pela compensação (GONÇALVES, p. 370). São consequências da mora do credor (art. 400 do CC):
(i) isenção da responsabilidade do devedor pela conservação da coisa; (ii) obrigação de ressarcir as despesas
efetuadas pelo devedor com a conservação da coisa; (iii) obrigação do credor de receber a prestação pela estimação
mais favorável ao devedor, se o valor oscilar entre a data estabelecida para o pagamento e sua efetivação. Purgar ou
emendar a mora significa afastar ou neutralizar os efeitos decorrentes do atraso (art. 401 do CC). O devedor purga a
mora mediante a oferta da prestação atrasada mais os prejuízos decorrentes até o dia da oferta (juros moratórios,
cláusula penal e outros); já o credor, purga a mora ao se oferecer a receber o pagamento e ao se sujeitar aos efeitos
da mora até a mesma data. “Terceiro pode purgar a mora, nas mesmas condições em que pode adimplir, suportando
os mesmos encargos que incidem sobre o devedor” (GONÇALVES, p. 371). Segundo posição prevalecente, a
purgação da mora pode ocorrer a qualquer tempo, desde que não cause dano à outra parte. A purgação da mora, que
produz efeitos futuros (ex nunc), não se confunde com a cessação da mora, que independe de um comportamento
ativo do contratante moroso para sanar sua falta ou omissão (ex: renúncia do débito pelo credor), decorrendo da
extinção da obrigação. A cessação da mora produz efeitos pretéritos (ex tunc).
Violação Positiva do Contrato: Corresponde ao inadimplemento decorrente não do descumprimento da obrigação
pactuada, mas de deveres anexos advindos do princípio da boa-fé objetiva, que, segundo Judith Martins-Costa e
Clóvis Couto e Silva são: cuidado; respeito; informação; agir conforme a confiança depositada pela outra parte;
lealdade e probidade; colaboração ou cooperação; razoabilidade e equidade (apud TARTUCE, p. 211-212). Também
é conhecida como adimplemento ruim ou insatisfatório. Enunciado 24 do CJF: “Em virtude do princípio da boa-
fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento,
independentemente de culpa”. A quebra antecipada do contrato é uma modalidade de inadimplemento que
consiste na recusa antecipada ao cumprimento da obrigação; um dos contratantes revela, expressamente ou por meio
dos seus atos, que descumprirá, no futuro, a prestação que lhe cabe.
Obras consultadas: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. VII. São Paulo: Saraiva, 2007;
TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil. Série Concursos Públicos. Vol. 6. 2ª Ed. São Paulo:
Método, 2008.
Legislação básica: CC, arts. 1.790 e 1.829 a 1.856; 1.798 a 1.803; 1.819 a 1.823; 1.857 a 1.896; 1.947 a 1.965;
CPC, art. 1.142 a 1.158; Enunciados do CJF nº 116, 117, 266, 267, 268, 269, 270, 271, 529.
1. Da sucessão legítima
Ocorre a sucessão legítima (ou ab intestato) em caso de inexistência, invalidade ou caducidade do testamento e em
relação aos bens que eventualmente não forem objeto dele. Nesses casos, ocorre a sucessão por força de lei,
transmitindo-se a herança para familiares ou, na ausência desses, para a Fazenda Pública. Representa a vontade
presumida do de cujus e tem caráter supletivo.
O chamamento dos sucessores é perpetrado de acordo com uma sequência chamada ordem da vocação hereditária,
em um mecanismo no qual a existência de herdeiros de uma classe mais próxima exclui os da classe mais remota. A
ordem em tela é estabelecida pelo art. 1.829 do CC.
Os descendentes, primeiros na ordem de vocação hereditária, podem suceder por cabeça (direito próprio) ou por
estirpe (representando ascendente pré-morto). O cônjuge concorre com os descendentes em igualdade de condições,
salvo quando casado no regime de comunhão universal ou separação obrigatória de bens; “o art. 1.829, I, só
assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes do autor da herança quando
casados no regime da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou
participação final nos aquestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência restringe-
se a tais bens, devendo os bens comuns (meação) serem partilhados exclusivamente entre os descendentes”
(Enunciado nº 270 do CJF).
Na classe dos ascendentes, havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha paterna
herdam metade e os da linha materna, a outra metade. Não há direito de representação na linha ascendente. Se
concorrer com ascendente de primeiro grau, o cônjuge fará jus a um terço da herança; se houver um único
ascendente ou for maior o grau, caberá ao cônjuge metade da herança.
Na falta de descendentes e ascendentes, a herança será deferida ao cônjuge supérstite, terceiro na ordem de vocação
hereditária, desde que, ao tempo da morte do outro cônjuge, não estivessem separados judicialmente nem separados
de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do
sobrevivente. Qualquer que seja o regime de bens e sem prejuízo na participação na herança, é assegurado ao
cônjuge direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único
daquela natureza a inventariar. O cônjuge pode renunciar ao direito real de habitação, nos autos do inventário ou por
escritura pública, sem prejuízo de sua participação na herança (Enunciado nº 271 do CJF). Segundo o art. 1.832 do
CC, quando concorre com descendentes do de cujus, a quota do cônjuge não poderá ser inferior à quarta parte da
herança se for ascendente dos herdeiros com quem concorrer. Há cizânia doutrinária acerca da forma como deve ser
ultimada a divisão da herança quando o cônjuge concorre com filhos comuns e filhos exclusivos do de cujus; são
três as correntes: 1) no caso de filiação híbrida, há a reserva de ¼ da herança (Venosa, Francisco José Cahali, José
Fernando Simão – é a posição minoritária na doutrina); 2) no caso de filiação híbrida, NÃO há a reserva de ¼
(Flávio Tartuce, Maria Berenice Dias, Maria Helena Diniz, Sebastião Amorim e Euclides de Oliveira – interpretação
dominante); 3) teorias da sub-herança, buscam soluções matemáticas de divisões proporcionais do patrimônio do de
cujus.
A sucessão do companheiro é disciplinada pelo art. 1.790 do CC, que dispõe que o (a) companheiro (a) participará
da sucessão do outro quanto aos bem adquiridos na vigência da união estável. Se concorrer com filhos comuns, terá
direito a uma quota equivalente à atribuída ao filho; se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-
lhe-á metade do que couber a cada um daqueles; se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um
terço da herança; não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. Quanto aos bens sobre os
quais o companheiro tem a meação decorrente da comunhão parcial, terá também direito à sucessão. Em relação aos
bens particulares, o companheiro não tem a meação, em decorrência do regime, e não tem qualquer direito
sucessório. “O direito real de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter sido revogada a
previsão da Lei n. 9.278/96, seja em razão da interpretação analógica do art. 1831, informado pelo art. 6º, caput,
da CF/88” (Enunciado nº 117 do CJF).
Os colaterais figuram em quarto lugar na ordem de vocação hereditária, sendo considerados herdeiros facultativos.
Serão chamados a suceder se não houver cônjuge sobrevivente. Se houver companheiro, concorrerão com ele,
cabendo àquele 1/3 da herança. Entre os colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, garantido o direito
de representação conferido aos filhos de irmãos. Os irmãos unilaterais fazem jus a metade da cota dos irmãos
germanos ou bilaterais.
Herdeiro necessário é todo parente em linha reta não excluído da sucessão por indignidade ou deserdação, bem
como o cônjuge, a quem a lei assegura o direito à legítima (metade dos bens do de cujus, também chamada de
reserva legal). A legítima é calculada sobre o valor dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e
as despesas do funeral, adicionado, em seguida, o valor dos bens sujeitos à colação.
2. Da vocação hereditária
Trata-se da legitimação para invocar a titularidade da herança. Vige a regra de que todas as pessoas têm legitimação
para suceder, exceto aquelas afastadas por lei.
Segundo o art. 1.798 do CC, legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura
da sucessão (logo, animas e coisas inanimadas não podem herdar).
O nascituro pode ser chamado a suceder tanto na sucessão legítima como na testamentária, mas a eficácia da
vocação depende do seu nascimento com vida, ocasião em que adquire a personalidade civil. Se o feto nascer morto,
não haverá aquisição de direitos, como se nunca tivesse existido. Segundo o Enunciado nº 267 do CJF, “A regra do
art. 1.798 do CC deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida,
abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem às
regras previstas para a petição da herança”. Contudo, é de bom alvitre ter em mente as lições de Maria Helena
Diniz: “poder-se-ia até mesmo afirmar que na vida intra-uterina tem o nascituro e na vida extra-uterina tem o
embrião concebido in vitro personalidade jurídica formal, no que atina aos direitos personalíssimos, ou melhor aos
direitos da personalidade, visto ter carga genética diferenciada desde a concepção, seja ela in vivo ou in vitro,
passando a ter personalidade jurídica material, alcançando os direitos patrimoniais e obrigacionais que se
encontravam em estado potencial, somente com o nascimento com vida (CC, art. 1.800, §3º). Se nascer com vida
adquire personalidade jurídica material, mas se tal não ocorrer, nenhum direito patrimonial terá” e conclui “não
distinguimos os concebidos dos obtidos in vitro” (apud TARTUCE; SIMÃO, p. 41-42).
Além daqueles abarcados pelo art. 1.798 do CC, podem ser chamados a suceder na sucessão testamentária as
pessoas listadas no art. 1.799 do CC (estas últimas só podem receber herança ou legados por disposição de última
vontade). Em primeiro lugar (inciso I), sucedem por testamento os filhos, ainda não concebidos, de pessoas
indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão (trata-se de concepturo e não de nascituro); se
não concebido o herdeiro esperado após dois anos da abertura da sucessão, a herança caberá aos herdeiros legítimos,
salvo disposição em contrário do testador; após a liquidação ou partilha, os bens serão confiados a um curador
nomeado pelo juiz, e, em regra, será a pessoa cujo filho o testador esperava ter como herdeiro. De acordo com a
doutrina majoritária (Gonçalves, Zeno Veloso, Venosa, Débora Gozzo, Francisco José Cahali, Sebastião Amorim e
Euclides de Oliveira), o filho adotivo preenche a condição de “filho não concebido”. Em segundo lugar (inciso II),
podem ser chamadas a suceder por testamento as pessoas jurídicas existentes ao tempo do falecimento do testador,
sejam simples, empresárias, de direito público ou de direito privado, incluindo fundações já existentes. Em terceiro
lugar (inciso III), podem suceder por testamento as pessoas jurídicas cuja organização for determinada pelo testador
sob a forma de fundação; se os bens destinados a esse propósito forem insuficientes, a deixa será incorporada a outra
fundação com objetivos semelhantes.
Não têm legitimidade para suceder: a) a pessoa que escreveu o testamento a rogo do testador, bem como seu cônjuge
ou companheiro, ascendentes e irmãos – a lei excluiu essas pessoas por motivo de suspeição, porém tal limitação
não se aplica ao testamento particular, que deve ser necessariamente escrito pelo próprio testador; b) as testemunhas
do testamento – para evitar a influência, por interesse, na vontade do testador; c) o concubino do testador casado,
salvo se este, por culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos – a doutrina critica a menção
à culpa e o prazo estipulado, tal vedação não se aplica à união estável, independentemente do período de separação
de fato (Enunciado nº 269 do CJF); d) o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fez
ou como o que fez ou aprovou o testamento.
São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob
a forma de contrato oneroso ou feitas mediante interposta pessoa. Se se tratar de herança ou legado a ascendente,
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro de pessoa não legitimada, há presunção iure et de iure de simulação.
Deserdação: Ato unilateral pelo qual o testador exclui herdeiro necessário, mediante disposição testamentária,
tendo como pressuposto a ocorrência de uma das causas legalmente previstas em rol taxativo (numerus clausus), nos
artigos 1.814, 1.962 e 1.963 do CC. Já a indignidade é a pena civil cominada ao herdeiro acusado de atos
criminosos ou reprováveis contra o de cujus.
Semelhanças entre os institutos: ambos só produzem efeitos se confirmados por sentença; tanto a ação de
indignidade como a de deserdação só podem ser propostas após a morte do testador, já que o direito à herança só
surge quando se abre a sucessão. Diferenças entre os institutos: enquanto a indignidade decorre de determinação
legal e da vontade dos interessados, a deserdação resulta da vontade do falecido, que a determina no testamento; a
indignidade é matéria de sucessão legítima e testamentária, a deserdação envolve apenas sucessão testamentária; a
pena de indignidade pode ser cominada aos herdeiros necessários ou facultativos, a deserdação só atinge os
herdeiros necessários, sendo destinada a lhes retirar o direito à legítima; circunstâncias posteriores à morte do autor
da herança podem ensejar indignidade, a deserdação só se estabelece por causas anteriores à morte do testador.
Os efeitos da deserdação são pessoais, atingindo apenas o herdeiro excluído; seus descendentes herdam por direito
de representação (entendimento não pacífico, porém predominante). O ônus de provar a causa estabelecida em
testamento será daquele a quem a deserdação aproveita; a demanda tem natureza constitutiva negativa e deve ser
proposta no prazo decadencial de quatro anos, contados da abertura do testamento.
No caso do art. 1.814, inciso I do CC, não se exige a prolação de sentença penal condenatória.
Embora o CC/2002 tenha incluído o cônjuge no rol de herdeiros necessários, não o relacionou como passível de ser
deserdado, razão por que TARTUCE e SIMÃO (p. 87) entendem que o cônjuge só pode ser deserdado pelos motivos
previstos no art. 1.814 do CC, mas não nos arts. 1.962 ou 1.963.
6. Questões de Prova
25º CPR
- A sucessão ab intestato apresentar-se-á como um testamento tácito ou presumido do de cujus, obedecendo-se a
ordem hereditária (V).
26º CPR
- Havendo testamento contemplando o primeiro filho, o Código Civil dispõe que, nascendo gêmeos, serão estes
considerados de igual idade para tal fim (F).
- A declaração de vacância, quando não aparecerem herdeiros, incorpora a herança definitivamente ao patrimônio
público (F).
- A indignidade do herdeiro é uma pena e, se ele falecer antes da sua declaração por sentença, seu direito hereditário
passa aos sucessores (V).
ITEM 10.A: Forma e prova dos atos jurídicos. Das modalidades dos atos jurídicos, da evicção e dos vícios
redibitórios.
Obras consultadas: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Saraiva: São Paulo, 2011. Vol. 2. 25.
ed; PELUSO, Cezar (Coord.). Código Civil Comentado. Manole: Rio de Janeiro, 2010. 4. ed.; VENOSA, Sílvio de
Salvo. Direito Civil. Vol. II e III. São Paulo: Atlas, 2010; Resumo do 24º CPR.
Legislação básica: Código Civil.
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c) Testemunhas. A prova de que certos sujeitos integravam uma relação negocial pode decorrer do relato de
fatos pertinentes feito por uma ou mais testemunhas perante o juiz. Não se pode, contudo, provar exclusivamente
por testemunhas a existência do negócio jurídico cujo valor ultrapasse dez vezes o maior salário mínimo vigente no
país. Para os negócios dessa envergadura, a prova testemunhal é subsidiária ou complementar da prova escrita,
exceto se a lei a considerar plena em casos específicos (CC, art. 227).
Certas pessoas estão impedidas de testemunhar, seja em razão da falta de amadurecimento, seja por
obstáculo físico ou carência de isenção. Os menores absolutamente incapazes, os cegos e surdos, quando a ciência
do fato depender dos sentidos deficientes, bem como os interessados no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital
das partes, o cônjuge e parentes até certo grau não são confiáveis o suficiente para que o relato deles ao juiz prove a
existência do negócio jurídico. A critério do juiz, porém, poder-se-á colher o depoimento dessas pessoas quando
apenas elas conhecerem os fatos objeto de disputa judicial. Há, também, pessoas que estão dispensadas servir de
testemunhas, ainda que conheçam os fatos que a justiça quer esclarecer. São as que devem guardar segredo sobre
eles em razão do estado ou profissão, as que não possam falar sem se expor à desonra, risco de vida, demanda ou
dano patrimonial imediato, ou sem que exponham a esses riscos o cônjuge, parente em grau sucessível ou amigo
íntimo (CC, art. 229).
d) Presunção. A presunção que deriva da constatação de fatos pelo juiz é meio de prova. Se algum
acontecimento é notório, o juiz pode presumir que as partes dele tinham conhecimento. Também, se há indícios de
que certo ato fraudulento foi praticado, mas não há acerca dele nenhuma prova definitiva, o juiz, a menos que haja
elementos probatórios indicando o contrário, está autorizado a presumir a ocorrência do ilícito. Feita a presunção,
considera-se provado o fato.
Anote-se que as presunções listadas, pela lei, como meio de prova (CC. art. 212, IV) são apenas as derivadas
de constatações de fato pelo julgador (chamadas de presunções simples). As presunções legais, caso se relacionem
com a questão probatória, não podem ser consideradas propriamente como provas. Há dois tipos de presunção legal,
a absoluta e a relativa, e nenhum deles é meio de prova. Quando a norma jurídica estabelece uma presunção
absoluta, ela está tornando certo fato (o presumido) insuscetível de contraprova. A presunção desse tipo, na verdade,
não prova o negócio jurídico, mas o considera existente para todos os efeitos de direito. E, quando a norma
estabelece uma presunção relativa, ela está apenas distribuindo o ônus probatório. Nas hipóteses de responsabilidade
subjetiva com inversão do ônus de prova, por exemplo, presume-se a culpa do agente causador do dano. Isso não
significa que ele será inexoravelmente responsabilizado; significa apenas que a vítima não tem o ônus de provar a
conduta culposa do agente causador do dano, e este, por sua vez, tem o ônus de provar a inexistência de culpa. Em
outros termos, a presunção relativa importa a redistribuição dos encargos probatórios entre as partes da relação
jurídica.
As presunções estabelecidas pela lei são de duas espécies: absolutas ou relativas. As presunções absolutas tornam
determinado fato insuscetível de contraprova. As relativas invertem o ônus de prova, transferindo-o de quem alega
o fato presumido para quem favoreceria a prova de sua inocorrência.
A presunção simples é admissível como meio de prova unicamente nas hipóteses em que o fato é passível de
comprovação por testemunhas (CC, art. 230).
e) Perícia. A perícia é a prova derivada de exame de objeto periciável por especialistas. Se alguém alega que sua
assinatura foi falsificada no instrumento particular em que declara celebrar certo negócio jurídico, a outra parte pode
provar, por perícia, que a firma é autêntica. Nesse caso, peritos em grafologia examinam o documento particular e a
assinatura da parte e, em laudo técnico, atestam a semelhança. Ficará, então, provada a existência do negócio
jurídico pela prova pericial. Em determinadas hipóteses, a recusa em se submeter à perícia pode ser considerada,
pelo juiz, a prova que se pretendia demonstrar pericialmente (por exemplo, recusa de exame de dna – a recusa à
perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame, art. 232, CC).
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sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes (puramente potestativas). Exemplo da última: se eu quiser, se eu
permitir etc. A condição ilícita leva à invalidação do negócio jurídico (art. 123).
Quanto à possibilidade, a condição pode ser possível ou impossível, física ou juridicamente. Fisicamente impossível
é a condição que não pode ser atendida por qualquer ser humano, por exemplo, levar o mar ao sertão baiano.
Juridicamente impossível é a vedada pelo ordenamento jurídico, como a disposição de herança de pessoa viva (art.
426 CC). Quando suspensiva, a condição impossível, física ou juridicamente, leva à invalidação do negócio jurídico
(123, I). Quando resolutiva, tem-se por não escrita (art. 124).
Quanto à fonte de onde se origina, a condição pode ser casual (quando deriva do acaso, evento fortuito), potestativa
(da vontade de um dos negociantes) ou mista (da vontade de um dos agentes e de outra circunstância). Exemplo de
condição casual é a ocorrência de tempestade. Exemplo de condição potestativa (aqui se trata da condição
meramente ou simplesmente potestativa, e não da condição puramente potestativa, vedada pelo art. 122) é a
realização de uma viagem. Exemplo de condição mista é a doação que será feita se o donatário se casar com
beltrana.
Se a condição for resolutiva, enquanto esta se não realizar, vigorará plenamente o negócio jurídico. Sobrevindo a
condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe. Nas hipóteses, porém, de
negócios de execução continuada ou periódica, o implemento da condição resolutiva não tem eficácia quanto aos
atos já praticados, salvo disposição em contrário, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e
conforme aos ditames de boa-fé.
Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos
destinados a conservá-lo.
Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela
parte a quem desfavorecer. Considera-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por
aquele a quem aproveita o seu implemento.
Termo é o evento futuro e certo que subordina a eficácia do negócio jurídico, sem prejudicar a aquisição de direitos.
O termo pode ser determinado (certo) ou indeterminado (incerto), conforme haja certeza ou não quanto à data de sua
ocorrência. Exemplo do primeiro é quando se afirma que o contrato tem eficácia até o dia 10 de novembro. Exemplo
do segundo é a morte. Em virtude de o termo poder ser certo ou incerto, Cristiano Chaves prefere conceituar termo
como o evento futuro e inevitável (podendo ser certo ou incerto).
Fala-se ainda em termo a quo(inicial) e ad quem(final), sendo que o primeiro firma o início da eficácia do negócio e
o segundo estabelece o fim de sua eficácia. Não se confunde com o prazo, que é o intervalo entre o termo inicial (a
quo) e o final (ad quem). Computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. Meado
considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número
do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a
minuto.
Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor.
Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva.
Encargo ou Modo é cláusula acessória pela qual se impõe um ônus ao beneficiário de uma liberalidade, como nas
doações, heranças e promessas de recompensa.
Exceto se for imposto como condição suspensiva, o encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito. O
encargo é coercitivo, de modo que o beneficiário pode ser constrangido a cumpri-lo, sob pena de anulação da
liberalidade. Quando o encargo for a benefício do interesse geral, o Ministério Público pode exigir o seu
cumprimento, depois da morte do instituidor.
Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade,
caso em que se invalida o negócio jurídico.
3. Evicção
Evicção (derivada de evincere, ser vencido) é a perda da coisa em virtude de sentença judicial que a atribui a outrem
em decorrência de causa pré-existente ao contrato. Funda-se no princípio da garantia. Somente se aplica aos
contratos onerosos e também para as aquisições em hasta pública (mediante os quais se transfere a propriedade, a
posse ou o uso). Pode assim ocorrer em ações petitórias e possessórias. Há três personagens: o alienante, que
responde pelos riscos da evicção, o evicto (adquirente que perde o bem) e o evictor (terceiro reivindicante e
vencedor da ação). A responsabilidade do alienante é de natureza objetiva (independe de dolo ou culpa).
A responsabilidade pode ser reduzida ou reforçada por cláusula expressa. Porém, ainda que excluída
contratualmente a responsabilidade, o evicto terá sempre o direito de receber de volta o preço que pagou pela coisa,
exceto se sabia do risco da evicção. Se não houver redução da responsabilidade, o adquirente terá direito à
restituição do que pagou, a indenização dos frutos que for obrigado a restituir, à indenização pelas despesas dos
contratos, às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído e às benfeitorias necessárias ou úteis
por ele custeadas. O valor da coisa será calculado pelo valor na data da evicção (tempo da sentença) e não na data do
contrato (CC, art. 450).
112
Tratando-se de evicção parcial, porém considerável, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição
da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a
indenização.
Requisitos da evicção: a) perda total ou parcial da propriedade, posse ou uso da coisa alienada; b) onerosidade da
aquisição; c) ignorância pelo adquirente da litigiosidade da coisa. Se a conhecia, presume-se ter assumido o risco de
a decisão ser desfavorável ao alienante; d) anterioridade do direito do evictor. O alienante somente responde se a
causa da perda da coisa é pré-existente ao contrato. Se é posterior, não (como no caso da desapropriação). Se o
decreto de desapropriação é anterior ao contrato e o processo de desapropriação é posterior, Carlos Roberto
Gonçalves entende que o alienante deve responder. No caso de o alienante transferir a propriedade da coisa ao
adquirente e terceiro adquirir a propriedade mediante a usucapião, o adquirente não terá direito a ser indenizado pela
evicção, se não interrompeu a prescrição aquisitiva, quando esta ocorreu depois da alienação do bem. e)
denunciação da lide ao alienante (456 CC). A doutrina tem entendido que essa denunciação da lide é obrigatória, sob
pena de o evicto não mais poder exercer o direito que resulta da evicção. Há decisões, todavia, no sentido de que o
evicto terá direito a propor ação autônoma de indenização, considerando o princípio que veda o enriquecimento sem
causa. Tal ação autônoma deve ser admitida quando o evicto é demandado em ação sumária, na qual não é possível a
denunciação da lide. Também é possível, quando o evicto não foi parte na ação originária, que resultou na evicção,
não tendo a oportunidade de denunciar a lide. Também nos casos em que a perda do bem resulta de ato
administrativo (apreensão de bem contrabandeado, v.g.).
113
ITEM 10.B: Das obrigações por declaração unilateral de vontade. Liquidação das obrigações e correção
monetária.
114
O pagamento indevido pode ser analisado pelo aspecto objetivo (haverá pagamento indevido pelo simples fato de
um pagamento sem causa) e subjetivo (exige-se como requisito o erro do solvens). Conforme o art. 877 do Código
Civil, gao que voluntariamente pagou o indevido incumbe a prova de tê-lo feito por erro.h
Casos em que aquele que recebeu não é obrigado a restituir: a) pagamento de dívida já prescrita (art. 882); b)
pagamento de obrigação natural (dívida de jogo); c) na situação em que se deu alguma coisa para obter fim ilícito,
imoral ou proibido por lei (art. 883).
No caso de pagamento indevido que teve por objeto um imóvel, é possível a aplicação dos arts. 876 e 877 do Código
Civil. Assim, aquele que transferiu um imóvel em pagamento indevido pode tê-lo de retorno, provando que incidiu
em erro. Nesse caso, o solvente terá o direito de reivindicar o imóvel, se ainda se achar em poder do accipiens; se
este o alienou gratuitamente; ou se, o tendo alienado a título oneroso, o terceiro adquirente estava de má-fé.
É na equidade e nos princípios gerais de direito que encontramos o nascedouro dos princípios do enriquecimento
sem causa e do pagamento indevido: dar a cada um o que é seu; a ninguém é dado prejudicar; viver honestamente.
115
extrajudicialmente, apresentando-o com o requerimento de execução, podendo o juiz valer-se do contador do juízo,
quando a memória apresentada aparentemente exceder os limites da decisão exeqüenda e nos casos de assistência
judiciária. Não há propriamente liquidação, podendo ser feita no pedido de cumprimento da sentença. Por
arbitramento: dá-se mediante atividade de perito judicial, com conhecimentos além do “homem comum”, quando a
sentença ou convenção das partes impuser seu uso e quando a natureza do objeto da liquidação o impuser,
aplicando-se, no que cabível, a disciplina da prova pericial (art. 420 e ss, CPC). Por artigos: deve ser feita quando,
para a determinação do valor da condenação, houver necessidade de se alegar e provar fato novo, que, para
Marinoni e Arenhart, é aquele que ficou de fora da condenação por não ter sido alegado em virtude de autorização
legal, como ocorre na liquidação de sentença penal condenatória e nas sentenças de condenação genéricas por dano
ambiental. O procedimento será ordinário ou sumário, conforme a natureza do procedimento do qual provenha a
sentença.
Para Marinoni e Arenhart, os termos do art. 475-A, § 2º, CPC indicam que a liquidação poderá ser requerida na
pendência do recurso, ainda que recebido no efeito suspensivo. A liquidação da decisão provisória ocorre em autos
apartados, no juízo de origem, por cópias das peças necessárias.
Por último, aponte-se que a distinção entre obrigação líquida e ilíquida é relevante para efeito da caracterização da
mora do devedor. Assim, por exemplo, diz o CC (art. 397) que se considera em mora o devedor que descumpre
obrigação positiva e líquida. Ou seja, só depois do procedimento de liquidação que se têm os efeitos da mora.
Segundo Maria Helena Diniz, a obrigação ilíquida não comporta compensação (art. 396, CC), imputação de
pagamento (art. 352), consignação de pagamento e concessão de arresto (CPC, art. 814, I), e é suscetível de fiança,
embora o fiador só possa ser demandado depois que se tornar líquida e certa a obrigação do principal devedor (art.
821, CC).
3. Correção Monetária
O Código Civil adotou, como regra, o princípio do nominalismo (art. 315), pelo qual as dívidas em dinheiro
deverão ser pagas em moeda corrente e pelo mesmo valor constante do título. Pressupõe, pois, que a moeda tem
valor fixo, imutável, desconsiderando-se a sua desvalorização. É atenuado pela Lei 6.899/1981, que determina a
aplicação de correção monetária aos débitos oriundos de decisão judicial, acrescentando que nas execuções de
títulos de dívida líquida e certa, a correção será calculada a contar do respectivo vencimento, e, nos demais casos, a
partir do ajuizamento da ação. Tem-se, então, que a ausência de correção monetária (nominalismo) só vige no
período entre a celebração do negócio e o vencimento da dívida, pois, a partir daí, por força da Lei 6.899/1981,
opera-se a fluência da atualização monetária. Decorre desse princípio a nulidade das convenções de pagamento em
ouro (cláusula-ouro) ou em moeda estrangeira (obrigação valutária), conforme art. 318 do CC, e art. 1º, Lei
10.192/01, excetuados os casos previstos em lei (ex: contratos internacionais).
Tal princípio ganha exceções, segundo o próprio art. 315. A primeira delas é correção monetária, que tem por
finalidade evitar que o pagamento de um determinado valor, efetuado após o vencimento, sem o respectivo reajuste,
represente enriquecimento sem causa do devedor, em prejuízo do credor. Não gera, pois, acréscimo, mas apenas
atualiza o valor nominal expresso em moeda. É uma exigência de equidade, pois. Sua fixação sujeita-se ao princípio
da legalidade estrita, segundo índices oficiais (art. 389, CC). A outra exceção é a cláusula da escala móvel, referida
no art. 316: “é lícito convencionar o aumento progressivo das prestações sucessivas”. Na dicção de Tepedino, “é a
que faz oscilar a prestação do devedor segundo os índices do custo de vida, os preços de determinadas mercadoria
ou a variação dos salários”. Flávio Augusto Monteiro de Barros e Flávio Tartuce inserem a correção monetária na
cláusula de escala móvel, a permitir estipulação de correção monetária inclusive no período entre a celebração do
negócio e seu vencimento. Mas Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves advogam que a correção monetária não se
submete à convenção das partes, operando automaticamente a partir do inadimplemento da obrigação, mediante
limites impostos legalmente pelo Estado. Referida disposição deve ser interpretada em consonância com o Plano
Real (v. Leis nºs 9.069/95 e 10.192/2001), em que é vedada a estipulação de reajuste ou correção monetária de
periodicidade inferior a um ano. A outra exceção ao nominalismo é a onerosidade excessiva, tratada nos artigos 317
e 478 do CC.
Dívidas de dinheiro e dívidas de valor: dívida de dinheiro tem por objeto a entrega de soma em dinheiro, como no
aluguel, e dívida de valor, uma prestação diversa, servindo o dinheiro apenas para medir o conteúdo da prestação,
como nos alimentos e indenização por ato ilícito. Nesta, o pagamento é feito em dinheiro, mas o conteúdo da dívida
é outro: garantir a subsistência do alimentando e reparação do dano, nos exemplos respectivos. É também uma
exceção ao nominalismo, por aplicação do art. 317, podendo o juiz corrigir o valor, a pedido da parte, de modo que
assegure, quanto possível, o valor real da prestação.
Súmulas do STJ:
Súmula 271 - A correção monetária dos depósitos judiciais independe de ação específica contra o banco
depositário.
116
Súmula 114 - Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, incidem a partir da ocupação, calculados sobre
o valor da indenização, corrigido monetariamente.
Súmula 113 - Os juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem a partir da imissão na posse, calculados
sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.
Súmula 67 - Na desapropriação, cabe a atualização monetária, ainda que por mais de uma vez, independente do
decurso de prazo superior a um ano entre o cálculo e o efetivo pagamento da indenização.
Súmula 43 - Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.
Súmula 36 - A correção monetária integra o valor da restituição, em caso de adiantamento de câmbio, requerida
em concordata ou falência.
Súmula 35 - Incide correção monetária sobre as prestações pagas, quando de sua restituição, em virtude da
retirada ou exclusão do participante de plano de consórcio.
Súmula 30 - A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis.
Súmulas STF:
Súmula 561 - Em desapropriação, é devida correção monetária até a data do efetivo pagamento da indenização,
devendo proceder-se á atualização do cálculo, ainda que por mais de uma vez.
Súmula 562 - Na indenização de danos materiais de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizando-se, para
esse fim, dentre outros critérios, dos índices de correção monetária.
Correção monetária no Código Civil de 2002: ver artigos 389, 395, 404, 418, 772 e 884.
117
ITEM 10. C: Da transformação, da incorporação, da fusão e da cisão das sociedades. Da sociedade limitada e
da sociedade anônima.
- Transformação
A transformação é a operação pela qual uma sociedade altera o seu tipo, sem implicar a sua dissolução ou
liquidação. Representa mera mutação na sua roupagem, sem afetar-lhe a personalidade jurídica. A sociedade
mantém a sua personalidade jurídica, porém sob outro tipo societário. Contudo, deve obedecer aos preceitos
reguladores da constituição e inscrição próprios do tipo em que se vai converter.
Sua realização depende de consentimento unânime dos sócios, o que se justifica em função das profundas alterações
que poderão resultar na responsabilidade destes. A unanimidade só é dispensada se originariamente prevista no ato
constitutivo a possibilidade de sua implementação. Nesse caso, será decidida, no momento desejado, pelo quorum
contemplado no contrato social ou, no seu silêncio, será deliberada, na sociedade limitada, por votos
correspondentes a, no mínimo, ¾ do capital (artigo 1.076, I c/c artigo 1.071, V). Nas sociedades em nome coletivo e
em comandita simples, a omissão resultará na exigência da unanimidade, porquanto o tema envolverá alteração da
responsabilidade dos sócios e modificação do nome social, matérias elencadas no artigo 997 (artigos 1.406, 1.040 e
999). A aprovação por maioria dá ao dissidente o direito de se retirar da sociedade, mediante o reembolso de seus
haveres (artigo 1.114).
Permanecem os créditos e os débitos anteriores. Os bens do patrimônio social não são objeto de transmissão, pois
não mudaram de titular, mas cumpre promover averbação do novo nome da sociedade nos registros de propriedade.
A transformação, em nenhuma hipótese, prejudicará os direitos dos credores, os quais continuarão, até a quitação
integral de seus créditos, com as mesmas garantias que o tipo anterior lhes assegurava. Portanto, somente os créditos
surgidos após a transformação é que irão obedecer à disciplina do novo tipo societário.
Se uma sociedade em nome coletivo transforma-se em limitada, os credores anteriores à operação permanecerão a
desfrutar da responsabilidade pessoal, subsidiária, solidária, e ilimitada dos seus integrantes. Somente os créditos
nascidos posteriormente é que se sujeitarão à responsabilidade limitada dos sócios ao total do capital social.
Ocorrendo a falência da sociedade transformada, os seus respectivos efeitos só serão produzidos em relação aos
sócios que, no tipo anterior, a eles estariam submetidos. Mas para que a providência se verifique, devem os titulares
de créditos anteriores à transformação requerê-la e, assim acontecendo, somente estes se beneficiarão (parágrafo
único do artigo 1.115 do CC/02).
- Incorporação
Na incorporação, uma ou mais sociedades (incorporadas), de tipos iguais ou diferentes, são absorvidas por outra
(incorporadora), que lhes sucede em todos os direitos e obrigações, devendo todas aprová-la, consoante as regras
próprias dos seus respectivos tipos.
Da incorporação não surgirá nova sociedade, uma vez que a incorporadora irá suceder as suas incorporadas,
permanecendo ela, incorporadora, com sua personalidade jurídica intacta. As incorporadas é que serão extintas sem
liquidação com a implementação da incorporação, cujos respectivos atos deverão ser averbados no Registro Público
de Empresas Mercantis.
A deliberação dos sócios da sociedade incorporadora deverá aprovar tanto as bases da operação, bem como o projeto
de reforma do ato constitutivo.
- Fusão
A fusão consiste na operação onde duas ou mais sociedades, de tipos diferentes ou iguais, se unem para formar
sociedade nova que as sucederá em todos os direitos e obrigações, determinando, assim, a extinção das sociedades
objeto do ato jurídico.
Na criação da nova sociedade dever-se-ão observar as formalidades e normas reguladoras de constituição de seu
tipo. A providência será objeto de deliberação que obedecerá à forma estabelecida para os respectivos tipos de
sociedade que desejam se unir.
118
A decisão dos sócios, tomada em assembléia ou reunião realizada em cada sociedade, versará sobre a aprovação da
fusão em si, e, ato contínuo, sobre a aprovação do projeto do ato constitutivo da nova sociedade.
Não poderão os sócios votar acerca do laudo de avaliação do patrimônio da sociedade de que participem, dado o
notório conflito de interesse. A votação dar-se-á em relação ao laudo da outra ou das outras sociedades que irão se
agregar.
As operações de fusão e incorporação na sociedade limitada que demandam quorum de votação correspondente a,
no mínimo, ¾ do capital social (artigo 1.076, O c/c artigo 1071, VI), ensejam modalidade específica de recesso ao
sócio dissidente, exercitável em trinta dias subseqüentes ao conclave em que foram deliberadas (artigo 1.077).
Para as sociedades em nome coletivo e em comandita simples não há regra específica traçada no Código. Tomando
por referência o princípio que emana do artigo 223 da Lei nº 6.404/76, até então regra geral de direito societário, as
operações de fusão, cisão e incorporação devem ser deliberadas na forma prevista para alteração do ato constitutivo.
Dentro dessa perspectiva, conclui-se que, nas sociedades em apreço, a deliberação demandará consentimento de
todos os sócios, na medida em que irão ser alteradas matérias indicadas no artigo 997. Assim, esse é o quorum
exigido pelo artigo 999 do Código Civil.
- Cisão
A cisão é a operação na qual uma sociedade transfere, para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já
existentes, parcelas do seu patrimônio. Verificando-se a versão de todo o seu patrimônio, a sociedade restará extinta,
qualificando-se a cisão de total; sendo a versão parcial, a sociedade não se extingue, ocorrendo a divisão de seu
capital, nominando-se o evento, nesse caso, de cisão parcial.
A sociedade que absorve parcela do patrimônio da sociedade cindida sucede a esta nos direitos e obrigações
relacionados no ato da cisão; os direitos e as obrigações não relacionados permanecem com a sociedade primitiva
cindida. Na hipótese de cisão total, em que ocorrerá a extinção da cindida, os direitos e as obrigações não
relacionados serão transferidos na proporção das parcelas líquidas do patrimônio absorvidas.
O quorum para deliberação na limitada será o de ¾, no mínimo, do capital social. Nas sociedades em nome coletivo
e em comandita simples, será o que exige unanimidade.
Perante os credores, a responsabilidade da sociedade cindida e das que absorverem parcela do seu patrimônio será,
contudo, solidária, segundo o STJ: “Em se tratando de cisão parcial, e tendo sido afastada a solidariedade entre a
sociedade cindida e as sociedades que vierem a absorver parcela do patrimônio cindido, os credores anteriores a
cisão podem se opor à estipulação de ausência de solidariedade com relação a seus créditos” (AgRg no REsp
885.185/MT, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS),
TERCEIRA TURMA, julgado em 19/05/2009, DJe 10/06/2009)
As três operações (incorporação, fusão e cisão) envolvem transmissão de bens; cumpre promover registro efetivo (e
não mera averbação) nos registros de propriedade respectivos.
O reflexo destas três operações em relações aos credores, no âmbito do Código Civil, é diverso do tratamento que se
tem em relação a sociedades por ações.
Pela Lei nº 6.404/76, o credor prejudicado em razão da fusão ou da incorporação poderá pleitear a anulação do ato
(artigo 232), o que não se estabelece em relação à cisão, na qual, sendo total, com a extinção da sociedade cindida,
as sociedades que absorverem parcela de seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da sociedade
extinta; sendo parcial, a sociedade cindida e a aquela para qual verteu parcela do seu patrimônio respondem
solidariamente pelas obrigações da primeira anteriores à cisão. Contudo, na parcial, permite-se que fique
estabelecido o respectivo instrumento de cisão que a sociedade ou as sociedades que absorverem parte do
patrimônio só se responsabilizem pelas obrigações que lhes forem transferidas no ato, sem que haja solidariedade.
Mas neste caso, os credores anteriores poderão se opor à estipulação e, assim o fazendo, a cláusula de ressalva da
solidariedade não será eficaz em relação ao oponente (artigo 233).
Segundo o tratamento dispensado pelo Código, até noventa dias após publicados os atos relativos à incorporação,
fusão ou cisão, o credor anterior, por ela prejudicado, poderá promover judicialmente a sua anulação.
A sociedade limitada tem seu capital dividido em quotas. Deve ser constituída por, no mínimo, dois sócios
(importante observar a inovação legislativa contida no art. 980-A, do Código Civil, que passou a permitir a criação
de empresa individual de responsabilidade limitada, constituída por uma única pessoa titular da totalidade do
capital social, que não será inferior a cem vezes o maior salário mínimo vigente no país), cuja responsabilidade é
restrita ao valor de suas respectivas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital
social.
O contrato pode ser formalizado por escritura pública ou particular. O contrato mencionará, entre outras, as
indicações do art. 997, ou seja, firma ou denominação social, objeto, sede e prazo da sociedade, capital social e a
quota de cada sócio, com o respectivo modo de realização e os administradores.
119
A legislação aplicável a este tipo societário é o Código Civil e, nas omissões existentes no capítulo das sociedades
limitadas será aplicável a disciplina conferida à sociedade simples, salvo se, no contrato social, os sócios
deliberarem a regência supletiva por normas disciplinadoras das sociedades anônimas.
A integralização das quotas pode ser efetuada em dinheiro ou em bens, sendo vedada contribuição que consista em
prestação de serviços.
A cessão das quotas será disciplinada, livremente, no contrato social. Entretanto, na omissão deste, o sócio pode
ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros. Pode também
cedê-las a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social. A transferência das
quotas deve ser procedida por meio de alteração contratual.
A sociedade pode ser administrada por um ou mais sócios designados no contrato social ou em ato separado.
Entende-se que a administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende aos que posteriormente
ingressarem na sociedade.
A renúncia de administrador torna-se eficaz em relação à sociedade desde o momento em que esta toma
conhecimento da comunicação escrita do renunciante. Em relação a terceiros, é eficaz após a averbação e
publicação.
Pode o contrato instituir conselho fiscal composto de três ou mais membros (sócios ou não, residentes no país) e
respectivos suplentes. Não podem fazer parte do conselho fiscal, os membros dos demais órgãos da sociedade ou de
outra por ela controlada, bem como os empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, além do
cônjuge ou parente destes até o terceiro grau. A remuneração dos membros do conselho fiscal será fixada,
anualmente, pela assembléia dos sócios que os eleger.
É assegurado aos sócios minoritários (desde que representem pelo menos um quinto do capital social) o direito de
eleger um dos membros do conselho fiscal e o respectivo suplente. A deliberação em assembléia será obrigatória se
o número dos sócios for superior a dez.
Depende da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato, a aprovação das contas
da administração; a designação e destituição dos administradores; o modo de sua remuneração, quando não
estabelecido no contrato; a modificação do contrato social; a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a
cessação do estado de liquidação e o pedido de concordata (nos termos do que dispõe a letra do artigo 1.071, VIII,
do CC).
A reunião ou a assembléia tornam-se dispensáveis quando todos os sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria
que seria objeto delas.
As deliberações tomadas de conformidade com a lei e o contrato vinculam todos os sócios, ainda que ausentes ou
dissidentes.
A assembléia dos sócios instala-se com a presença, em primeira convocação, de titulares de no mínimo três quartos
do capital social, e, em segunda, com qualquer número. O sócio pode ser representado na assembléia. A assembléia
será presidida e secretariada por sócios escolhidos entre os presentes. Cópia da ata será apresentada ao Registro
Público de Empresas Mercantis para arquivamento e averbação.
A assembléia dos sócios deve realizar-se ao menos uma vez por ano, nos quatro meses seguintes ao término do
exercício social, com o objetivo de tomar as contas dos administradores e deliberar sobre o balanço patrimonial e o
de resultado econômico. Deve também designar administradores, se for o caso.
Quando houver modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação de outra, ou dela por outra, terá o sócio
que dissentiu o direito de retirar-se da sociedade, nos trinta dias subseqüentes à reunião.
A aprovação, sem reserva, do balanço patrimonial e do resultado econômico, salvo erro, dolo ou simulação, exonera
de responsabilidade os membros da administração e, se houver, os membros do conselho fiscal. O direito de pleitear
a anulação desta aprovação extingue-se em dois anos.
As deliberações infringentes do contrato ou da lei tornam ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as
aprovaram (art. 1.080, CC).
O capital pode ser aumentado com a correspondente modificação do contrato. A sociedade também pode reduzir o
capital, mediante a correspondente modificação do contrato, nas seguintes hipóteses: depois de integralizado, se
houver perdas irreparáveis; se excessivo em relação ao objeto da sociedade.
Quando a maioria dos sócios, representativa de mais da metade do capital social, entender que um ou mais sócios
estão pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade, poderá excluí-los da
sociedade, mediante alteração do contrato social, desde que prevista neste a exclusão por justa causa. A exclusão
somente poderá ser determinada em reunião ou assembléia especialmente convocada para esse fim, ciente o acusado
em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa.
A sociedade dissolve-se, de pleno direito, quando ocorrer o vencimento do seu prazo de duração; mediante o
consenso unânime dos sócios; pela deliberação dos sócios por maioria absoluta. Também a dissolvem a falta de
pluralidade de sócios não suprida no prazo de 180 dias (exceto se o sócio remanescente, inclusive na hipótese de
concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas
Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário individual ou para empresa individual de
responsabilidade limitada, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código – art. 1.033,
parágrafo único, CC) e a declaração de falência.
120
A sociedade anônima ou companhia tem o seu capital dividido em ações (títulos livremente negociáveis),
obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. Não há
responsabilidade pelas ações dos demais acionistas.
A sociedade anônima rege-se por lei especial (Lei 6.404/76), aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições do
CC.
As sociedades anônimas só podem usar denominação, acrescida da expressão “sociedade anônima” (S/A) ou
expressão “Companhia”, vedada a utilização desta última no final da denominação.
As Sociedades Anônimas podem ser abertas (que podem negociar seus títulos – ações, debêntures, etc – em bolsa de
valores ou mercado de balcão) ou fechadas.
O capital da sociedade, quando de sua constituição, deve ser integralmente subscrito. Neste ato, caberá subscrição
pública (com apelo ao público e supervisão da CVM) e intervenção de instituição bancária, para que ocorra o
chamado underwriting. Também poderá ser feita subscrição particular (sem necessário apelo público, registro na
CVM ou participação de instituição financeira).
As ações são títulos negociáveis que representam o capital social da Sociedade Anônima e são, normalmente,
representadas por certificado conferido ao acionista. Atualmente, todas as ações são nominativas (com o nome do
acionista no registro), não havendo mais ações ao portador.
As ações podem, em suma, ser ordinárias (que asseguram direitos comuns aos acionistas, inclusive-sempre-o voto),
preferenciais (que conferem alguma vantagem, como, p. ex. recebimento de dividendos) e de fruição (conferidas a
acionistas que tiveram o valor de suas ações amortizados).
A sociedade também pode emitir outros títulos como o debênture (que representam verdadeiro empréstimo, captação
de recursos à sociedade) e o bônus de subscrição (são espécie de preferência aos detentores destes em subscrever
ações que venham ser a emitidas para aumento no capital social).
A Assembléia Geral é verdadeira reunião de acionistas para, conforme disposição legal, deliberar sobre assuntos de
interesse da sociedade. Pode ser ordinária (acontece todo ano nos 4 primeiros meses após o final do exercício e
serve para, dentre outras coisas, distribuir os dividendos) ou extraordinária (que pode ocorrer a qualquer tempo,
podendo tratar de qualquer assunto que não seja privativo de assembléia ordinária).
A Administração societária compete à Diretoria (responsável pela efetiva realização da vontade social) ou a ela e, se
existir, ao Conselho de Administração (que é órgão responsável pela intermediação entre a assembléia geral e a
diretoria), sendo este órgão obrigatório apenas para sociedades com capital aberto, com capital autorizado e de
economia mista.
O Conselho Fiscal é órgão social responsável pela fiscalização dos negócios sociais, inclusive, com a verificação de
documentos confeccionados pela sociedade (ex. balancetes, relatórios, etc). Este órgão social, embora de criação
obrigatória (deve vir previsto no estatuto), tem o funcionamento facultativo. Em suma, ocorre a inusitada situação de
ser o conselho fiscal um órgão de criação obrigatória e funcionamento facultativo.
O Conselho é composto de membros eleitos por assembléia geral, em um mínimo de 3 e máximo de 5 integrantes,
acionistas ou não, diplomados em curso universitário ou que tenham exercido cargo de administrador de
empresas/conselheiro fiscal por um período mínimo de 3 anos.
121
ITEM 11.A: Do inadimplemento das obrigações e da responsabilidade contratual.
O inadimplemento das obrigações pode ser absoluto (descumprimento total, desdobra-se em inadimplemento
culposo e inadimplemento fortuito) ou relativo.
O inadimplemento absoluto fortuito deriva de fato não imputável ao devedor, decorrente de caso fortuito ou força
maior. Salvo se o devedor tiver expressamente se responsabilizado por isso (ex.: companhias de seguro), a
consequência do descumprimento fortuito é a extinção da obrigação sem perdas e danos.
O inadimplemento absoluto culposo deriva de fato imputável ao devedor (culpa ou dolo), a quem se impõe, então,
o dever de pagar perdas e danos (dano emergente ou positivo e lucro cessante ou dano negativo), sem prejuízo de
eventual tutela jurídica específica.
A regra da teoria das obrigações (campo da responsabilidade contratual) é que o inadimplemento culposo gera
dever de pagar perdas e danos. Entretanto, há um movimento na doutrina mais moderna para banir a noção de
culpa em determinados pontos. Porque o contrato não gera apenas uma obrigação principal (dar, fazer e não
fazer), mas, também, deveres anexos, acessórios ou colaterais (que derivam da boa-fé objetiva e são cláusulas
implícitas em qualquer contrato; são eles o dever de informação, de lealdade, de assistência e de sigilo), o
descumprimento desses deveres (violação positiva do contrato) gera o descumprimento da obrigação e
consequente responsabilidade civil sem aferição de culpa, responsabilidade objetiva (inadimplemento objetivo, o
credor não precisa provar que o devedor teve culpa no descumprimento).
Vejamos o Enunciado 24 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil: “Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no
art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento,
independentemente de culpa.”
O inadimplemento relativo (já que ainda permite o cumprimento da obrigação) configura a mora, a qual ocorre
quando o pagamento não é feito no tempo, lugar e forma convencionados.
Tipos de Mora: a) do credor (mora accipiendi ou credendi); b) do devedor (mora solvendi ou debendi).
Se a mora for recíproca (tanto de credor quanto do devedor), a doutrina sugere que se opere uma espécie de
compensação.
A mora do credor deve ser analisada objetivamente, independentemente de investigação sobre sua culpa ou dolo.
Assim, se o credor, diante de uma oferta real de pagamento, recusa-se a receber, não há que se perquirir o
elemento anímico, a intenção dele.
A mora do credor subtrai do devedor isento de dolo a responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor
a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao
devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.
A mora do devedor traduz o retardamento culposo do cumprimento da obrigação. Requisitos da mora do devedor:
1) existência de dívida líquida e certa, 2) vencimento da dívida (exigibilidade), 3) culpa do devedor (fato ou omissão
imputável ao devedor, o que exclui o caso fortuito e a força maior), salvo os casos de responsabilidade objetiva (ex.:
contrato de transporte) e 4) viabilidade do cumprimento tardio da obrigação (se, por força da mora, a prestação se
tornar desinteressante para o credor, não houver mais utilidade nenhuma, não existirá inadimplemento relativo –
mora –, mas, sim, descumprimento absoluto da obrigação).
Quando a obrigação tem vencimento certo, a constituição do devedor em mora opera-se de pleno direito (dies
interpellat pro homine: o dia do vencimento interpela a pessoa), há mora ex re ou automática. Quando não há
termo, a mora se constitui mediante interpelação do devedor, pelo credor, judicial ou extrajudicialmente (mora ex
persona ou pendente). Há, ainda, a mora irregular ou presumida, que ocorre nas obrigações provenientes de ato
ilícito (o devedor está em mora desde a prática do ato).
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que, na alienação fiduciária, a mora constitui-se ex re, isto é,
decorre automaticamente do vencimento do prazo para pagamento. Assim, o comunicado que o banco expede ao
devedor, via cartório de protestos, é apenas comprobatório da mora que já existe.
Efeitos da mora do devedor: 1) responsabilidade civil pelos prejuízos causados ao credor em virtude da mora, mais
juros, atualização dos valores monetários e honorários de advogado; e 2) responsabilidade civil pela integridade da
coisa devida (perpetuatio obligationis).
O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso
fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa (na mora, e não
no fortuito, ou seja, provar que procurou o credor mas este não pôde ou não quis receber a prestação no termo)
ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.
Do Inadimplemento das Obrigações: Inadimplemento é a inexecução, descumprimento ou cumprimento
incompleto de uma obrigação anteriormente avençada.
Espécies:
a) Inadimplemento Parcial
b) Inadimplemento Total ou Absoluto
c) Violação Positiva do Contrato
Inadimplemento Parcial: mora no cumprimento da obrigação, por fato ou omissão imputável ao Credor (mora
accipiendi, creditoris ou credendi) ou ao Devedor (mora solvendi, debitoris ou debendi).
“Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo,
lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer” (CC, art. 394).
Inadimplemento Total ou Absoluto: hipótese na qual a obrigação não pode mais ser cumprida, tornando-se inútil
ao credor.
Violação Positiva do Contrato: cumprimento inexato ou defeituoso da obrigação. Não consiste no atraso ou na
inexecução definitiva, mas em deficiências da prestação que é desempenhada, todavia não pelo modo que fora
estabelecida, havendo ofensa a sua qualidade.
Dentro da idéia de violação positiva, pode ser enquadrada a quebra dos deveres anexos (laterais ou secundários)
de conduta, decorrentes da boa-fé objetiva.
Responsabilidade Contratual: O inadimplemento tem como conseqüência a responsabilidade contratual da parte
inadimplente.
Em caso de inadimplemento parcial, o responsável deve indenizar os prejuízos causados, mais juros moratórios e
atualização monetária (ver CC, art. 395).
No inadimplemento total, o responsável deve responder pelo valor correspondente ao objeto obrigacional,
acrescido de perdas e danos, juros compensatórios e demais cominações previstas no art. 389 do CC.
Observação: “O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente
não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato
necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.” (CC, art. 393).
ITEM 11.B: Do regime de bens entre os cônjuges. Da dissolução da sociedade e do vínculo conjugais. Causas
legais da separação litigiosa. Efeitos da separação judicial e do divórcio.
O regime de bens pode ser conceituado como o conjunto de normas que delineiam a feição patrimonial do
casamento. Princípios do regime de bens: Princípio da autonomia privada: é o direito dos cônjuges de
regulamentar as questões patrimoniais (art. 1639, CC). Os nubentes podem estipular o regime de bens, por meio do
pacto antenupcial. Caso não haja estipulação, o regime será o da comunhão parcial (regime legal ou supletório). É
possível, ainda, a combinação de normas de diferentes regimes. Essa combinação não poderá, contudo, importar na
adoção de regimes distintos para cada um dos cônjuges (ambos devem estar sujeitos ao mesmo regime). Princípio da
indivisibilidade do regime de bens: É possível a criação juridicamente de outros regimes de bens que não seja
previsto em lei, porém não é licito fracionar os regimes em relação aos cônjuges, ou seja, o regime é único para
ambos os conjugues. Princípio da variedade de regime de bens. O CC consagrou quatro formas de regime de bens
(Comunhão parcial; Comunhão universal; Participação final nos aquestos e Separação de bens). O regime de bens
começa a vigorar desde a data do casamento. Princípio da mutabilidade justificada: É possível a alteração do regime,
mediante autorização judicial, em pedido motivado de ambos os cônjuges. A modificação não pode prejudicar
direitos de terceiros. (por ex., desaparecimento de causa suspensiva do casamento, sendo possível alterar o regime
da separação obrigatória para outro). Pode haver alteração do regime de bens de casamento realizado sob a égide do
CC/16? Sim, consoante enunciado 260 CJF/STJ “A alteração do regime de bens prevista no § 2º, do art. 1639, do
CC, também é permitida nos casamentos realizados na vigência da legislação anterior”. No mesmo sentido é a
posição do STJ (REsp 730.546, 03.10.2005). Regras gerais sobre os regimes de bens: Regime da separação legal
de bens obrigatório: “Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: I - das pessoas que o
contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; II – da pessoa maior de 70
(setenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 12.344, de 2010); III - de todos os que dependerem, para casar, de
suprimento judicial.” Cumpre mencionar que a previsão do inciso II do mencionado sobre críticas severas da
doutrina acerca de sua inconstitucionalidade por discriminar o idoso, tratando-o como incapaz (CJF 125 é nesse
sentido). Atos praticados pelos cônjuges sem a autorização do outro, independente do regime de bens: O art.
1647, estabelece que é dispensada a outorga conjugal se os cônjuges forem casados pelo regime da separação
absoluta. Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente: I -
praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão, com as
limitações estabelecida no inciso I do art. 1.647; II - administrar os bens próprios; III - desobrigar ou reivindicar
os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem suprimento judicial; IV -
demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com
infração do disposto nos incisos III e IV do art. 1.647; V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados
ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço
comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos; VI - praticar todos os atos que não lhes
forem vedados expressamente. Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro: I -
comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica; II - obter, por empréstimo, as quantias que a
aquisição dessas coisas possa exigir. Atos e negócios que exigem a outorga conjugal : Art. 1.647. Ressalvado o
disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação
absoluta: I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou
direitos; III - prestar fiança ou aval; IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que
possam integrar futura meação. A outorga conjugal pode ser suprida pelo Juiz, quando um dos cônjuges não puder
concedê-la ou a denegue de maneira injusta. A falta de outorga gera nulidade relativa, estando sujeita a ação
anulatória no prazo de 2 (dois) anos, a partir da dissolução da sociedade conjugal. Segundo a exegese do art. 1.647,
III, do CC/2002, é necessária a vênia conjugal para a prestação de aval por pessoa casada sob o regime da
separação obrigatória de bens. (REsp 1.163.074-PB, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 15/12/2009).
Administração dos bens: Quando um dos cônjuges não puder exercer a administração dos bens, caberá ao outro: a)
gerir os bens comuns e os do consorte; b) alienar os bens móveis comuns; c) alienar os bens imóveis comuns e os do
consorte, com autorização judicial. Economia doméstica: O cônjuge pode, sem autorização do outro, adquirir as
coisas necessárias para a economia doméstica ou obter empréstimo para o mesmo fim. Os cônjuges serão
solidariamente responsáveis pelas dívidas contraídas para tal fim. Regime de bens: 1) Comunhão parcial: É o
regime legal de bens, desde a Lei do Divórcio de 77 (antes era o da comunhão universal). Opera a comunicabilidade
dos bens adquiridos a título oneroso na constância do matrimônio, por um ou ambos os cônjuges. Preserva-se a
incomunicabilidade do patrimônio exclusivo de cada um, bem como dos bens adquiridos a título gratuito (herança
ou doação) ou por causa anterior (bens adquiridos antes do casamento ou sub-rogados em seu lugar), por um dos
cônjuges. O art. 1.659 aduz que excluem-se da comunhão: I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que
lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; II - os bens
adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; III -
as obrigações anteriores ao casamento; IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito
do casal; V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; VI - os proventos do trabalho pessoal de
cada cônjuge; VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. Por fim, reza o enunciado
340 do CJF/STJ que “no regime da comunhão parcial de bens é sempre indispensável a autorização do cônjuge, ou
seu suprimento judicial, para os atos de disposição sobre bens imóveis”. 2)Comunhão universal:
Comunicabilidade quase total dos patrimônios dos cônjuges, inclusive dos bens adquiridos antes do casamento.
Porém, são incomunicáveis, entre outros: a) bens herdados ou recebidos em doação, com cláusula de
incomunicabilidade, por um dos cônjuges; b) bens gravados de fideicomisso; c) dívidas anteriores ao casamento,
salvo as relativas aos aprestos ou que tenham se revertido em bem comum. E relação aos frutos, são eles
comunicáveis, mesmo que sejam retirados de bens incomunicáveis, mas que vençam ou sejam percebidos na
constância do casamento. (art. 1669, CC). Quanto a administração dos bens aplica-se as regras da comunhão parcial.
3) Participação final nos aquestos: Como regra fundamental do regime, durante o casamento há uma separação
convencional de bens, e, no caso de dissolução da sociedade conjugal, haverá algo próximo de uma comunhão
parcial de bens. Haverá a possibilidade de meação apenas dos bens adquiridos a título oneroso pelo casal ao longo
do casamento. Difere da comunhão parcial de bens, sobretudo pelo fato de que, nesta última, os bens adquiridos a
título oneroso por apenas um dos cônjuges se comunicam. Em princípio, exige-se outorga conjugal para prática dos
atos do art. 1.647, o que pode ser dispensado, por força de pacto antenupcial. 4) Separação de bens: a)
convencional (origem em pacto antenupcial): Os bens permanecem sob administração exclusiva de cada um dos
cônjuges, podendo livremente aliená-los ou gravá-los de ônus reais. b) legal ou obrigatória (art. 1641, CC): Ocorre
nas seguintes hipóteses: a) casamento celebrado com inobservância das causas suspensivas; b) casamento de pessoa
maior de 70 anos; c) casamento em que houve suprimento judicial. A S. 377 do STF estabelece que, na separação
obrigatória, comunicam-se os bens adquiridos na constância do casamento.
Dissolução da sociedade conjugal de do casamento. A doutrina de Flávio Tartuce, Paulo Lôbo, Zeno Veloso,
Maria Berenice Dias e Rodrigo da Cunha Pereira apontam que com a entrada em vigor da nova redação do art. 226,
§ 6º, da CF, dada pela EC 66/2010, restou abolida a figura da separação judicial ou por escritura pública, restando
somente o divórcio, que ao mesmo tempo rompe a sociedade conjugal e extingue o vínculo matrimonial. Mister
consignar que na V Jornada de Direito Civil realizada pelo CJF/STJ restou aprovado o enunciado nº 514, que traz
entendimento contrário ao defendido pelos autores acima mencionados “Art. 1.571: A Emenda Constitucional n.
66/2010 não extinguiu o instituto da separação judicial e extrajudicial.” A doutrina aponta que o divórcio indireto
ou por conversão não subsiste mais, fala-se atualmente apenas em divórcio. Após a EC não há mais prazo para o
casal se divorciar. Nos termos do art. 1.571 do CC, a dissolução do casamento pode se dar: I- pela morte de um dos
cônjuges197; II- pela nulidade ou anulação do casamento; III- pela separação judicial; IV- pelo divórcio.
Dissolução do casamento antes EC 66/2010: Antes da EC 66/2010, o casamento poderia ser dissolvido pelo
divórcio, em duas situações: 1) precedido de separação judicial (ou cautelar de separação de corpos) por mais de 1
(um) ano; 2) separação de fato por mais de 2 (dois) anos. Havia duas categorias de divórcio: 1) divórcio-conversão
(indireto); 2) divórcio direto. Pela nova redação do art. 226, §6°, “o casamento civil pode ser dissolvido pelo
divórcio”. Assim, o divórcio pode ser realizado diretamente, sem condicionamentos.
Separação e EC 66/2010: Tradicionalmente, a separação de direito é meio para a dissolução da sociedade conjugal,
pondo fim aos deveres de fidelidade, coabitação (separação de corpos) e ao regime de bens (partilha). O divórcio,
por sua vez, dissolve a sociedade conjugal e o vínculo matrimonial. Separação de direito: modalidades: Existem
três modalidades de separação de direito: 1) Separação judicial consensual: é típico procedimento de jurisdição
voluntária, devendo o juiz homologar o pedido das partes, desde que casados por mais de um ano. 2) Separação
judicial litigiosa: a) separação-sanção: grave violação aos deveres conjugais e insuportabilidade da vida em
comum; b) separação-falência: ruptura da vida em comum por mais de um ano e impossibilidade de reconstituição;
c) separação-remédio: fundada em doença mental superveniente que acomete um dos cônjuges, com duração de 2
(dois) anos pelo menos e cura improvável, tornando a vida conjugal insuportável. A separação-sanção é a única
modalidade em que se atribui culpa a um dos cônjuges (ou a ambos). O cônjuge declarado culpado pode vir a sofrer
dois tipos de sanção: a) perda do direito de uso do sobrenome do outro, ressalvadas hipóteses do art. 1.578 do CC;
b) perda do direito aos alimentos, salvo os indispensáveis à subsistência (alimentos indispensáveis, naturais ou
necessários). 3) Separação (e divórcio) extrajudicial – Requisitos: a) Consensual; b) não haver filhos menores ou
incapazes do casal; c) escritura pública, na qual serão definidos partilha de bens, alimentos e nome. Divórcio e
nome: Os cônjuges têm direito à manutenção do nome de casado. Divórcio e partilha: A partilha é consequência
natural do fim da sociedade conjugal. Todavia, o CC admite a concessão do divórcio mesmo sem que haja prévia
partilha. Divórcio e guarda: Segue a regra geral: melhor interesse do menor; preferência pela guarda
compartilhada. Ação de divórcio: Trata-se de ação personalíssima (cabe apenas aos cônjuges). Porém, em caso de
incapacidade, terão legitimidade para sua propositura curador, ascendente ou irmão (art. 1.582, CC). A lei não prevê
legitimidade do MP, mas parte da doutrina o admite. Efeitos da Separação: Quando se busca a separação judicial
o objetivo imediato é a cessação dos efeitos civis da sociedade conjugal. A Lei 6.515/77, prevê em seu art. 3º “A
separação judicial põe termo aos deveres de coabitação, fidelidade recíproca e ao regime matrimonial de
bens, como se o casamento fosse dissolvido”. Divórcio e alimentos: Questão tormentosa relativa à interação entre
a Emenda do Divórcio e os alimentos, refere-se à fixação dos chamados alimentos pós-divórcio. É cediço que o
Código Civil de 2002 admite a sua fixação expressa na sentença de dissolução do casamento, pela redação do seu
art. 1.709, in verbis: “O novo casamento do cônjuge devedor não extingue a obrigação da sentença de divórcio”.
Desse modo, sendo fixados alimentos na sentença de divórcio, poderão ser pleiteados em posterior momento o que
não desperta maiores dúvidas. O problema está em saber se é possível o pleito posterior de alimentos quando a
sentença do divórcio não fixá-los, porque um dos cônjuges a eles renunciou ou abriu mão; ou mesmo porque a
questão dos alimentos foi deixada pelo juiz para decisão em posterior momento. Consigne-se que, apesar da
literalidade do art. 1.707 do CC/2002, segundo o qual os alimentos são irrenunciáveis, doutrina e jurisprudência têm
admitido sua renúncia nas relações de conjugalidade. A propósito da doutrina, prevê o Enunciado 263, da III
Jornada de Direito Civil, que “O art. 1.707 do Código Civil não impede que seja reconhecida válida e eficaz a
renúncia manifestada por ocasião do divórcio (direto e indireto) ou da dissolução da união estável”. Da
jurisprudência superior, admitindo a renúncia aos alimentos, por todos: STJ, AgRg no Ag 1044922/SP, Rel. Ministro
RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 22/06/2010, DJe 02/08/2010 e REsp 226.330/GO, Rel. Ministro
CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 05/12/2002, DJ 12/05/2003, p. 304). Em uma visão
tradicional, como se extrai das ementas pesquisadas, a resposta à possibilidade de alimentos posteriores é negativa,
pelo desaparecimento do vínculo familiar existente entre as partes, a fundamentar o pleito alimentar nos termos do
caput do art. 1.694 do CC. Todavia, com a entrada em vigor da Emenda do Divórcio parece ganhar corpo a tese de
permanência dos alimentos, mesmo quando dissolvido o vínculo, o que está fundado no princípio constitucional da
solidariedade, retirado do art. 3º, inc. I, da CF/1988. A esse propósito leciona Maria Berenice Dias . Entende Flávio
Tartuce que é viável juridicamente a fixação de alimentos pós-divórcio, pois caso contrário a Emenda
Constitucional 66/2010 representaria uma reforma em desfavor ao alimentando, o que não se pode admitir.
3. Convenção da Haia relativa à proteção das crianças e à Cooperação em matéria de adoção internacional de
1993.
Tal Convenção foi concluída em Haia em 29 de maio de 1993 e promulgada pelo Decreto 3087 de 21 de junho de
1999. Aplica-se as suas normas desde que antes da criança atingir a idade de 18 anos, quando a Convenção não mais
poderá ser aplicada.
Inicialmente, insta salientar que a adoção internacional é aquela pleiteada por pessoa ou casal domiciliado fora do
país, o que implicará deslocamento definitivo da criança ou adolescente para o país de acolhida. (ROSENVALD,
Nelson e FARIAS, Cristiano Chaves. Direito de Famílias, p. 940). Há que se atentar que a definição diz respeito a
localização do adotante, logo, mesmo se tratar-se de casais brasileiros residentes no exterior, será regido pelas
normas de Direito Internacional. A adoção de um estrangeiro realizada por brasileiro concede ao adotado a condição
de brasileiro nato, por não se admitir qualquer tratamento discriminatório, conforme a Carta Magna de 1988.
Segundo Paulo Henrique Gonçalves Portella, em Direito Internacional Público e Privado: “Os signatários da
Convenção entendem que é necessário prever medidas para garantir que as adoções internacionais sejam feitas no
interesse superior da criança e com respeito a seus direitos fundamentais, bem como para prevenir o sequestro, a
venda ou o trafico de crianças e ilícitos correlatos, como o trafico de órgãos e a exploração sexual de menores de
dezoito anos no exterior. Cada Estado deverá indicar uma Autoridade Central, encarregada de dar cumprimento às
obrigações impostas pela Convenção As Autoridades centrais deverão cooperar entre si e promover a colaboração
entre as autoridades competentes de seus respectivos Estado, com o intuito de assegurar a proteção das crianças e
alcançar todos os objetivos da Convenção. Uma adoção certificada, em conformidade com a Convenção, pela
autoridade competente do Estado onde ocorreu será reconhecida de pleno direito pelos demais Estados-Partes, nos
termos dos artigos 23 a 28 da Convenção. A Convenção ora em analise não admite reservas. O Brasil por meio do
Decreto 3174 de 16 de setembro de 1999 indicou como Autoridade Central Federal, a Secretaria de Estado dos
Direitos Humanos (SEDH) e, como Autoridades Centrais no âmbito dos Estados federados e do Distrito Federal, as
Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção, tendo sido a SEDH ratificada pelo Decreto 7.256/2010. O Decreto
3.174 instituiu também o Programa Nacional de Cooperação em Adoção Internacional e criou o Conselho das
Autoridades Centrais Administrativas Brasileiras. De resto, a adoção por estrangeiros no Brasil é também permitida
e regulada pela Constituição Federal (artigo 227 §5º), elo ECA e pelo supramencionado Decreto 3.174/1999. O ECA
dispõe em seu artigo 52 §1º que se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, admite-se que os pedidos de
habilitação à adoção internacional sejam intermediados por organismos credenciados.”
ITEM 12.A: Das pessoas jurídicas. Das associações e das fundações.
Poder familiar (e não mais “pátrio poder”, expressão incompatível com a 'despatriarcalização' do Direito de Família)
ou autoridade parental (como consta no Estatuto da Famílias – PL 2.285/2007) é o conjunto de direitos e deveres,
quanto à pessoa e aos bens do filho menor não emancipado, exercido em igualdade de condições (se houver
divergência, recorre-se ao juiz) por ambos os pais (ou só por um deles, na falta do outro), no interesse do filho.
Características: a) munus público; b) irrenunciável (salvo o art. 166 do ECA: adesão a pedido de colocação do
menor em família substituta, v.g., pedido de adoção); c) indelegável; d) imprescritível (dele não decaem os
genitores pelo não exercício; somente podem perdê-lo por sentença judicial nos casos previstos em lei); e)
incompatível com a tutela.
Conteúdo do poder familiar:
- Quanto à pessoa do filho: dirigir-lhes a criação e educação; tê-los em sua companhia e guarda; conceder-lhes ou
negar-lhes consentimento para casarem; nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro
dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; representá-los, até os 16 anos, nos
atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios
de sua idade e condição.
- Quanto aos bens do filho: simples administração (atos de disposição exigem autorização judicial, sob pena de
nulidade) e usufruto. Exceções ao poder de administração e direito de usufruto: os bens adquiridos pelo filho
havido fora do casamento, antes do reconhecimento; os valores auferidos pelo filho maior de 16 anos, no exercício
de atividade profissional e os bens com tais recursos adquiridos; os bens deixados ou doados ao filho, sob a
condição de não serem usufruídos, ou administrados, pelos pais; os bens que aos filhos couberem na herança,
quando os pais forem excluídos da sucessão.
Suspensão do exercício do poder familiar: em caso de o pai/mãe abusar da autoridade, faltando aos deveres a eles
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, ou caso o pai/mãe seja condenado por sentença irrecorrível, em
virtude de crime cuja pena exceda a 2 anos de prisão. Suspensão é a privação, por tempo determinado, de todos os
atributos do poder familiar ou de somente parte deles, em relação a um dos filhos ou a alguns; pode ser
restabelecido o seu exercício se desaparecida a causa da suspensão.
Perda ou destituição do poder familiar: em caso de morte dos pais ou do filho, emancipação, maioridade, adoção
ou decisão judicial (pai/mãe que castiga imoderadamente o filho ou o deixa em abandono, ou pratica atos
contrários à moral e aos bons costumes, ou, ainda, reincide numa causa de suspensão do poder familiar). Neste
último caso (decisão judicial), abrange toda a prole (e não somente um ou alguns filhos) e pode ser restabelecido o
seu exercício apenas se provada a regeneração do genitor.
A suspensão ou a perda do poder familiar não desobrigam o genitor do dever de sustentar o filho (dever de
alimentos).
O divórcio e a dissolução da união estável não alteram o poder familiar, com exceção da guarda (salvo os casos de
guarda compartilhada ou alternada), que representa parcela desse poder e fica com um dos pais, enquanto o outro
fica apenas com o direito de visita.
A Lei n. 12.318/10 trouxe nova hipótese de suspensão do poder familiar: a alienação parental ou implantação de
falsas memórias (“lavagem cerebral” feita por um genitor alienador no filho, de modo a prejudicar a imagem do
outro genitor).
ITEM 13.A: Dos Registros Públicos.
Obras consultadas: LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. 3ª Ed. 2012. Ed. Método.
Legislação básica: Art. 22, XXV e Art. 236, CRFB; Lei 6.015/73 – Lei dos Registros Públicos (LRP); Lei 8.935/94
– Lei dos Serviços Notarias e de Registro.
1. Noções gerais: Ramo autônomo. Competência da União para legislar sobre “Registros Públicos” (Art. 22, XXV,
CRFB).
2. Conceito: Registro é o conjunto de atos autênticos tendentes a ministrar prova segura e certa do estado das
pessoas (físicas ou jurídicas), de títulos e documentos, da propriedade imobiliária e do inadimplemento do devedor.
3. Efeitos: a) constitutivo: o direito nasce a partir do registro (ex.: emancipação e aquisição de propriedade imóvel
por ato inter vivos); b) comprobatório: o registro prova e existência e a veracidade do ato jurídico a que se reporta
(ex.: assento de óbito de pessoa presumidamente morta); c) publicitário: o ato registrado, salvo raras exceções, é
acessível ao conhecimento de todos, interessados e não interessados (ex.: interdição e declaração de ausência).
4. Fins do registro público: a) publicidade; b) autenticidade: é a qualidade do que é confirmado por ato de
autoridade: de coisa, documento ou declaração verdadeiros. O registro cria presunção de verdade juris tantum; c)
segurança: d) eficácia: é a aptidão para produzir efeitos jurídicos.
5. Espécies: a) registro civil das pessoas naturais: prova o estado do indivíduo; b) registro civil das pessoas jurídicas
(inscrição de contratos, atos constitutivos ou estatutos de pessoa jurídica de direito privado, sendo onde começa sua
existência); registro de títulos e documentos; e d) registro de imóveis.
7. Outros conceitos:
Averbação: é acessório do registro (mas obedece às mesmas cautelas deste); consiste em referir, à margem de
registro existente, fato jurídico que o modifica ou cancela. Atinge direito da parte.
Anotações: remissões recíprocas dos registros e das averbações feitos nos diversos livros do oficial; tem o fim de
recordar, para facilidade de buscas, outros registros ou outras averbações. Não atinge direito da parte.
Regime jurídico dos notários e registradores: exercem atividade estatal, entretanto não são titulares de cargo
público efetivo, tampouco ocupam cargo público. Não são servidores públicos, não lhes alcançando a (...)
aposentadoria compulsória aos setenta anos de idade. (ADI 2602, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EROS GRAU,
Tribunal Pleno, julgado em 24/11/2005). Em razão da natureza estatal das atividades exercidas pelos serventuários
titulares de cartórios e registros extrajudiciais, exercidas em caráter privado, por delegação do Poder Público, o
Estado responde objetivamente pelos danos praticados a terceiros por esses agentes no exercício de tais funções,
assegurado o direito de regresso contra o notário, nos casos de dolo ou culpa (C.F., art. 37, § 6º). (RE 209354 AgR,
Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 02/03/1999)
8. Novidades: Atentar para as inovações trazidas pela lei 12.424/11 que alterou a regularização fundiária dos
assentamentos urbanos de interesse social (Lei 11.977/09) e LRP. Ex: gratuidade de custas nos assentamentos de
interesse social.
ITEM 13.B: Do Estabelecimento.
Obras consultadas: RAMOS, Andre Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2ª Edição. Ed. Método.
1. Noções gerais: Instituto do Direito Empresarial. Previsão normativa no Titulo III do Livro II , Código Civil.
2. Conceito: Conjunto de bens móveis ou imóveis, materiais ou imateriais organizados para o exercício da atividade
de empresa (atividade econômica organizada para produção bens ou serviços)
3. Características
(i) Universalidade de fato – complexo de bens reunidos para finalidade específica
(ii) Estabelecimento não é sujeito de direitos, e sim objeto unitário de negócios jurídicos.
5. Clausula de não-restabelecimento: O alienante não pode fazer concorrência (estabelecer-se logo em seguida
com o mesmo ramo de negócio) ao adquirente nos cinco anos subsequentes à transferência. Trata-se de cláusula de
não restabelecimento, implícita em qualquer contrato de trespasse, pois, ainda que não conste expressamente no
instrumento do contrato, é imposta por lei. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, essa proibição
persistirá durante o prazo do contrato.
7. Efeitos:
-Transferência importa sub-rogação do adquirente nos contratos condizentes com a exploração do estabelecimento,
se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em 90 dias a contar da publicação da
transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante. Enunciado nº 234: -
Quando do trespasse do estabelecimento empresarial, o contrato de locação do respectivo ponto não se transmite
automaticamente ao adquirente.
-A cessão dos créditos produzirá efeitos em relação aos respectivos devedores desde o momento da publicação da
transferência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente.
ITEM 13.C: Dos direitos de vizinhança.
Obras consultadas: VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Vol V. 5ª Ediçao. Ed. Atlas.
1. Noções gerais: Limitações à propriedade; função social; interesse da coletividade; propriedades vizinhas e
vontade do homem.
2. Conceito de Direito de vizinhança: Limitações à propriedade na utilização e fruição dos imóveis impostos em
favor da convivência social. Vizinhança em sentido mais amplo, não restrita aos prédios confinantes.
3. Características:
-É obrigação propter rem: devedor por estar na condição de titular de direito real.
-Não se confunde com direito real de servidão (obrigação unilateral, decorrente de NJ + registro).
-D. vizinhança é limitação externa, enquanto na função social da propriedade a limitação é interna.
4. Espécies no CC:
USO ANORMAL DA PROPRIEDADE: prejuízo à segurança, sossego e saúde: utilização que excede o
razoável. Atos ilegais, abusivos ou excessivos. Enseja responsabilidade objetiva – teoria do abuso de direito. Análise
da anormalidade: homem médio + zona de conflito + pré-ocupação
ÁRVORES LIMÍTROFES: pertence a ambos. Os frutos pertencem ao dono do solo onde caírem.
ÁGUAS: necessidade de suportar o curso das águas naturalmente escoadas pela propriedade superior.
Gratuito.
DIREITO DE CONSTRUIR: Gozo e fruição inclui o direito de realizar acessões, que por sua vez está
limitado pela vontade das partes, regimentos administrativos, função social da propriedade e também pelo direito de
vizinhança. Preservação da intimidade e da privacidade. Ex: aberturas de janelas, paredes divisórias.
ITEM 14.A: Do casamento religioso com efeitos civis. Do casamento de estrangeiros e no exterior. Dos efeitos
jurídicos e do regime de bens do casamento. Do casamento inexistente, nulo e anulável.
Obras consultadas: Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil: Direito de Família. 9ª Edição. Ed. Atlas. v. VI.
Legislação básica: Art. 226, §§, CF/88; Arts. 1.511 a 1.570, do Código Civil.
1. Noções Gerais.
Na evolução do Direito Civil Brasileiro, mais especificamente do Direito de Família, percebe-se grande influência
religiosa e romana1, de modo que o instituto do casamento esteve, por muito tempo, engessado pelo caráter
conservador da sociedade, passando, somente nas últimas décadas – e com mais intensidade nos últimos anos
–, por uma flexibilização/remodelação. Washington de Barros Monteiro e Sílvio Rodrigues, p.ex., não vêem
com bons olhos a união diversa do casamento, por eles denominada, genericamente, de concubinato. Todavia,
com a CF/88 a união estável ganha proteção estatal, seguida do reconhecimento de direitos alimentícios,
sucessórios, previdenciários etc. É nesse contexto de novas formas de família que, hoje, deve ser visto o
casamento, inclusive aquele oriundo de relações homoafetivas, como já admitido pelo STJ ( infra), muito
embora seja moderno demais até mesmo para Venosa, crítico de Washington de Barros e Sílvio Rodrigues
quando o tema era união estável.
2. Conceito.
Ao conceituar o casamento, Venosa cita Guilherme Borda, para quem trata-se de “união do homem e da mulher
para estabelecimento de uma plena comunidade de vida”, conceito que se aproxima do texto do art. 1.511 do CC.
Já Washington de Barros fala em união para reprodução, enquanto que Sílvio Rodrigues traz a noção de contrato de
Direito de Família. Venosa conclui que o conceito não pode ser imutável – muito embora não admita, inicialmente, o
casamento de pessoas de mesmo sexo –, mas não abre mão da noção de negócio jurídico e do aspecto formal.
Caracteriza, então, o casamento como o ato solene, pessoal (liberdade de escolha) e puro (não admite condição
ou termo), eminentemente civil e que estabelece um vínculo jurídico de convivência, auxílio, integração físico-
psíquica e amparo à prole, além de regularizar as relações sexuais.
Venosa, como já dito, aponta a diversidade de sexo como característica do casamento, salientando que a relação
homoafetiva é obrigacional, demandando alteração legislativa e do art. 226, §3º, da CF para ser admitido o
casamento nesses casos. Chega a dizer que, para tais relações, o “nível jurídico nunca poderá ser o de
matrimônio”, pois estariam “fora do sublime e histórico conceito de família e casamento”. Diverso foi o
entendimento do STJ no REsp 1183378/RS (Quarta Turma, DJe 01/02/2012).
3. Natureza Jurídica.
Quanto à natureza jurídica do casamento, Venosa cita a corrente Institucionalista, adotada por aqueles que negam a
natureza contratual do casamento, entendendo que este seria um negócio jurídico sui generis (Duguit) ou, mesmo
sem negar a natureza contratual, tratam o casamento como uma instituição à qual aderem os nubentes (Maria
Helena). Ele próprio afirma que, quanto ao aspecto sociológico, trata-se de uma adesão a uma estrutura jurídica
cogente e predisposta. A concepção contratualista, por sua vez, é adotada pela maior parte da doutrina
(Beviláqua, Orlando Gomes, Caio Mário), concebendo o casamento como um contrato especial de Direito de
Família, pois leva em consideração aspectos de celebração e deveres recíprocos. Resume, então, que o
casamento-ato é um negócio jurídico, enquanto que o casamento-estado é uma instituição.
4. Casamento Civil.
O casamento civil surgiu na Holanda, em 1580, ao passo que no Brasil só foi instituído em 1861, passando a ser
obrigatório em 1890, com a proclamação da República e a separação entre o Estado e a Igreja. A regra atual, então,
é o casamento civil, sendo gratuita sua celebração (art. 1.512 do CC). Deve ser precedido de processo da
habilitação, que tramita perante o Oficial do Registro Civil, com participação do Ministério Público, só sendo
submetido ao Juiz caso haja impugnação (NOVIDADE – Lei n. 12.133/09), nos termos do art. 1.526 do CC.
Após a publicação de editais e em não havendo oposição de impedimentos ou causas suspensivas – ou sendo
elas afastadas –, será expedida certidão de habilitação com eficácia limitada ao prazo de 90 dias (arts. 1.527 a
1.532). A celebração do casamento deve se dar na forma dos arts. 1.533 a 1.542, podendo ser realizado mediante
procuração por instrumento público, com poderes especiais e prevendo a pessoa com quem se deve casar,
além de eficácia limitada a 90 dias (art. 1.542). Poderá, ainda, no caso de moléstia grave de um ou de ambos os
cônjuges, ser celebrado pela autoridade competente no local em que ele(s) se encontre(m), de dia ou de noite,
na presença de duas testemunhas (eram quatro no CC/1916) que saibam ler e escrever, devendo ser levado a
registro em até 5 dias (art. 1.539). Já no caso de iminente risco de vida de um ou dos dois contraentes, em
sendo impossível o comparecimento da autoridade competente, podem eles mesmos celebrarem o casamento,
desde que na presença de 6 testemunhas que com eles não possuam parentesco em linha reta ou na colateral
até segundo grau (art. 1.540). Neste último caso, chamado casamento nuncupativo, in articulo mortis ou in
extremis, as testemunhas têm 10 dias para comparecerem perante o juiz para terem suas declarações
reduzidas a termo (art. 1.541), sendo que qualquer interessado pode pedir que sejam intimadas a fazê-lo. O
juiz, então, averiguará se os cônjuges poderiam ter se habilitado e, em caso positivo, mandará registrar o casamento.
Em qualquer das hipóteses os efeitos do casamento retroagem à data da celebração.
5. Casamento Religioso.
O casamento religioso, que por muito tempo foi a única forma no Brasil, foi substituído pelo casamento
obrigatoriamente civil em 1890, com a proclamação da República. A CF/88, contudo, assegura efeitos civis ao
casamento religioso (art. 226, §2º), que deve se dar nos termos da lei, ou seja, depende de habilitação, prévia
ou posterior, e de registro. Além de atender aos requisitos de validade do casamento civil (art. 1.515 do CC), o
casamento religioso precedido de processo de habilitação deve ser levado a registro no prazo de 90 dias da sua
celebração, sob pena de ter de ser realizada nova habilitação (art. 1.516, §2º, do CC). Venosa destaca que o
STF, por seu Tribunal Pleno, já afastou a necessidade de observação deste prazo, muito embora a decisão seja de
1979 (RE 83859, DJ 03-07-1979). Se não houver habilitação prévia, ainda assim o casamento religioso pode ser
levado a registro, mas desde que, primeiro, os cônjuges passem pelo processo de habilitação, não sendo
necessária nova celebração porque os efeitos do ato retroagirão à data do casamento religioso (art. 1.515). Por
fim, Venosa destaca que esta modalidade de casamento abrange “todos os credos moralmente aceitos que não
contrariam a ordem pública” (p. 96).
8. Casamento inexistente.
Entre os pressupostos/elementos de existência do casamento podemos elencar o consentimento, a celebração por
autoridade materialmente competente e, segundo a doutrina tradicional, a diversidade de sexo dos
contraentes. A partir daí se deduz ser inexistente o casamento realizado sem manifestação de consentimento (o
que não se confunde com vício de consentimento, causa de anulabilidade), celebrado por autoridade que seja
materialmente incompetente (ressalvada a hipótese do art. 1.554 do CC5) ou entre pessoas do mesmo sexo
(ressalvado o entendimento do STJ no REsp 1183378/RS6). Trata-se de categoria não prevista, por óbvio, entre
as hipóteses legais de vícios do casamento, pois o ato não existe. Decorre da adoção, entre nós, da regra das
nulidades textuais, que não podem ser aumentadas. Com isso, às hipóteses de atos que evidentemente não podem
produzir efeitos, mas que não se encontram elencados entre os casos de nulidade ou anulabilidade, restam a
classificação como atos inexistentes. Venosa destaca, porém, que alguns atos inexistentes acabam por produzir
efeitos materiais, caso em que os efeitos da inexistência serão idênticos aos da nulidade, já que a intervenção judicial
para expurgar os efeitos práticos do ato será imprescindível. As grandes diferenças estariam, então, no fato de que
“contra o casamento inexistente não corre qualquer prescrição, e pode o juiz assim declará-lo de ofício e
qualquer interessado pode demandar sua declaração. Por outro lado, a nulidade do casamento não pode ser
decretada de ofício; somente determinadas pessoas estão legitimadas para requerer a declaração e existem
situações em que a nulidade pode ser escoimada pelo decurso do tempo” (p. 105)7. Por fim, Venosa ainda cita um
último caso de casamento inexistente, que seria o casamento nuncupativo sem confirmação posterior.
9. Casamento nulo.
O casamento, por sua vez, é nulo se contraído “por infringência de impedimento” ou “pelo enfermo mental sem o
necessário discernimento para os atos da vida civil” (art. 1.548). Como bem sintetiza Venosa, “se analisarmos a
natureza dos impedimentos que tornam nulo o casamento, veremos que são doravante de três ordens: incesto (I a
V), bigamia (VI) e homicídio (VII)”, todos do art. 1.521 do CC (p. 107). Segundo a doutrina, permanece a
validade do casamento avuncular, ou seja, o casamento com parente colateral de 3º grau (tio / sobrinho), mas
desde que haja parecer médico favorável (Dec. n. 3.200/41)9. “Os impedimentos podem ser opostos, até o momento
da celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz ” (art. 1.522) e, em não ocorrendo tal oposição, “a
decretação de nulidade de casamento (…) pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado,
ou pelo Ministério Público” (art. 1.549). Venosa destaca que, no caso da bigamia, “utiliza-se, porém, sempre que
possível, o princípio em favor do casamento: anulado o primeiro casamento, o casamento seguinte será válido. Da
mesma forma, se a existência do primeiro cônjuge é duvidosa, por ausência prolongada, não se ataca o
casamento” (p. 108)11. Por fim, corroborando o sistema das nulidades textuais, Venosa destaca que a existência de
irregularidades na habilitação não leva à nulidade do casamento (p. 64).
Dos Impedimentos: Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural
ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi
do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;V - o
adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por
homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o
momento da celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz. Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de
registro, tiver conhecimento da existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo.
1. Da teoria da imprevisão.
1.1 Noções Gerais.
A teoria da imprevisão, que não é novidade entre nós14, fundamenta a relativização dos pilares do direito
obrigacional, o adágio pacta sunt servanda e o princípio da força obrigatória dos contratos, pois autoriza a
intervenção judicial para alteração/revisão do negócio jurídico. Justifica, portanto, a revisão ou a resolução do
contrato caso acontecimento superveniente e imprevisível desequilibre a base econômica do negócio, impondo a
uma das partes obrigação excessivamente onerosa. Venosa salienta, contudo, a necessária presença de um fator de
relevância geral, pois “o princípio da obrigatoriedade dos contratos não pode ser violado perante dificuldades
comezinhas de cumprimento (…). A imprevisão que pode autorizar uma intervenção judicial na vontade contratual
é somente aquela a que refoge totalmente às possibilidades de previsibilidade” (p. 430). Já a onerosidade excessiva
é explicada ora por teorias subjetivas, como da pessuposição de continuidade da situação existente quando o
contrato foi ultimado ou da condição implícita de continuidade daquela situação, ora por teorias objetivas, como o
do princípio da reciprocidade ou equivalência das condições ou, ainda, da função social e econômica do contrato.
1.2 Requisitos
Venosa aponta 4 requisitos: (a) fato extraordinário e imprevisível15, ou seja, que se afaste do curso ordinário das
coisas e que as partes16 não tenham tido condições de prever17; (b) repercussão sobre a prestação18, que, segundo
Venosa, é o que distingue a imprevisão do caso fortuito e da força maior; (c) contrato bilateral comutativo, ou
unilateral oneroso, a prazo ou de duração, pois nos contratos de cumprimento instantâneo não há espaço para
previsão e nos aleatórios o risco é inerente, ressalvada a hipótese de o fato imprevisível ser estranho ao risco
assumido19; (d) ausência de culpa do devedor e de mora no que diz respeito às demais cláusulas. Venosa não coloca
entre os requisitos e critica a previsão legal contida no art. 478 do CC que exige como resultado a extrema vantagem
para a outra parte20.
1.3 Efeitos
A revisão por meio da intervenção judicial pode resultar tanto em extinção da obrigação quanto na sua revisão21,
readequando-a a patamares entendidos como justos e equilibrados (arts. 479 e 480 do CC), mas, para tanto, depende
de pedido do autor da ação, para não se revelar extra petita22. Cláusula que vede o acesso ao Judiciário para fins de
revisão contratual no caso de imprevisão só é admitida se específica para determinados fatos, não sendo válida a
cláusula genérica.
1.4 Casuística – Jurisprudência do STJ (2008-2012)
- “ferrugem asiática”, “lavoura”, “atinge as plantações de soja no Brasil desde 2001”, “não é imprevisível” (REsp
945166/GO – 4ª Turma – DJe 12/03/2012);
- “maxidesvalorização do Real frente ao Dólar (1999)”, “aplicação da teoria da imprevisão”, “correção monetária
pela variação cambial” (EDcl-REsp 742717/SP – 4ª Turma – DJe 16/11/2011);
- “impedem a aplicação da teoria da imprevisão”, “contratos não são de execução continuada ou diferida”, “compra e
venda de coisa futura”, “alta do preço da soja não tornou a prestação excessivamente onerosa, mas apenas reduziu o
lucro”, “variação cambial (…) não configurou um acontecimento extraordinário e imprevisível”, “contratantes
conhecem o mercado” (REsp 936741/GO – 4ª Turma – DJe 08/03/2012);
- “a eficácia da coisa julgada tem uma condição implícita, a da cláusula rebus sic stantibus, norteadora da Teoria da
Imprevisão”, “atua enquanto se mantiverem íntegras as situações de fato e de direito existentes quando da prolação da
sentença” (AgRg-REsp 1193456/RJ – 2ª Turma – DJe 21/10/2010);
- “instituição da Unidade Real de Valor URV”, “cláusula de preservação da moeda”, “não se aplica a teoria da
imprevisão” (REsp 1129738/SP – 2ª Turma – DJe 21/10/2010);
- “inaplicável a contrato de compra futura de soja a teoria da imprevisão”, “cotação em bolsa de valores”, “flutuação
do preço é inerente ao negócio” (REsp 849228/GO – 4ª Turma – DJe 12/08/2010);
- “aumento salarial determinado por dissídio coletivo de categoria profissional é acontecimento previsível”, “não
havendo falar em aplicação da Teoria da Imprevisão para a recomposição do equilíbrio econômico-financeiro do
contrato administrativo” (AgRg-REsp 695912/CE – 2ª Turma – DJe 27/11/2009);
- “irrelevante o fato de que o contrato foi firmado antes da vigência do novo Código Civil para a análise da Teoria da
Imprevisão”, “não se mostra razoável (…) a inflação (...), no Brasil, como álea extraordinária”, “[não há]
desequilíbrio na equação econômica” (REsp 744446/DF – 2ª Turma – DJe 05/05/2008).
2. Da prestação de serviços.
A disciplina do CC não se aplica às atividades sujeitas às leis trabalhistas ou especiais (art. 593). Tem como objeto
“toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial” (art. 594), podendo, inclusive, haver
contratação para prestação de serviços gerais (art. 601), desde que compatíveis com as forças e condições do
contratado. Trata-se de contrato sinalagmático, bilateral, oneroso, consensual e comutativo. Não é formal, apesar do
disposto no art. 595 (“poderá ser assinado a rogo e subscrito por duas testemunhas” quando qualquer das partes não
souber ler nem escrever). Não se presume gratuito, tanto que, em não havendo acordo sobre a remuneração, ela será
objeto de arbitramento (art. 596) e paga após o término do serviço (art. 597). Venosa nega que o contrato seja intuitu
personae, apesar da afirmação do seu caráter pessoal (p. 197) e do teor do art. 605. Ainda neste tema, o art. 608
pune aquele que aliciar pessoa vinculada a outrem por contrato escrito (Sanção: pagamento do equivalente a 2 anos
de trabalho ao contratante que perdeu o prestador de serviços). Venosa ressalva a hipótese em que não haja causa de
exclusividade e ele consiga atender eficazmente a ambos (p. 200). Sobre essa questão, defende, ainda, a existência
de situações em que é dispensada a existência de contrato escrito24. Não se confunde com a empreitada, focada na
obra final (obrigação de resultado) e não na atividade (obrigação de meio), nem com o mandato, haja vista a
subordinação que caracteriza a prestação de serviço.
A falta de habilitação legal obsta o direito de cobrar a remuneração em montante equivalente ao devido ao
profissional habilitado (art. 606), ressalvada a prestação de boa fé que resulte em benefício para outra parte, hipótese
em que a remuneração deverá ser razoável, podendo alcançar aquele montante, evitando o enriquecimento sem
causa. O parágrafo único do dispositivo afasta a incidência desta ressalva no caso de infringência de lei de ordem
pública, mas não o pagamento de remuneração (Venosa, pp. 201-2).
A lei estipula um prazo máximo de 4 anos para o contrato (art. 598), sem vedação de que seja renovado. O excesso
de prazo no contrato não implica sua nulidade, mas ineficácia do prazo exorbitante (Venosa, p. 202). Mas se for por
tempo indeterminado, qualquer das partes poderá resilir unilateralmente o contrato (denúncia vazia) mediante aviso
prévio (art. 599) com antecedência de oito dias se o pagamento for mensal; de quatro dias se semanal ou quinzenal;
e de véspera quando inferior a sete dias. Esse aviso, porém, é dispensado no caso de justa causa. Segundo o art. 600,
não se conta no prazo do contrato o tempo em que o prestador deixou de servir por culpa sua, mas a remuneração é
devida se a paralisação se deu por culpa do outro. No contrato por tempo certo, ou obra determinada, o prestador
não pode se ausentar ou despedir sem justa causa antes da conclusão. Se o fizer, terá direito à retribuição vencida,
mas deverá pagar perdas e danos ao tomador. O mesmo vale quando o prestador é demitido por justa causa. Se o
prestador for demitido sem justa causa, o tomador terá de pagar-lhe a retribuição vencida e metade da que lhe tocaria
até o final do contrato (art. 603). Extingue-se com a morte de qualquer das partes, pelo fim do prazo, pela conclusão
da obra, pela rescisão mediante aviso prévio, por inadimplemento ou pela impossibilidade da continuação do
contrato (força maior) (art. 607). Alienada a propriedade rural em que se preste o serviço, o prestador pode optar por
continuá-lo para o adquirente (art. 609).
3. Da constituição de renda.
Contrato por meio do qual o instituidor aliena certo capital ao rendeiro, que se obriga a periodicamente prestar a
renda prometida no contrato ao credor. No CC/16 era contrato e direito real sobre coisa alheia, permanecendo no
CC/2002 apenas como contrato. Venosa o aproxima da previdência privada e salienta a sua importância atual (f.
372). O instituidor é chamado rentista ou censuísta, enquanto que o devedor é o rendeiro ou censuário. O contrato
pode ser gratuito (art. 803) ou oneroso (art. 804), aproximando-se, neste caso, do mútuo feneratício, mas dele se
diferencia pela inexistência de obrigação de restituição da coisa e pela álea. O contrato é real para maioria da
doutrina. Para Venosa, porém, é consensual, sendo a entrega do bem ato posterior (pp. 373-4). É oneroso e bilateral,
mas pode ser gratuito em favor de terceiro. O art. 805 autoriza a exigência de garantia. Pode ser temporário (prazo
certo) e comutativo ou aleatório, caso o prazo seja a duração da vida. É um contrato solene (escritura pública - art.
807). Pode ser instituído por ato inter vivos ou causa mortis, sendo que, neste caso, o testamento terá de ser público.
Há nulidade absoluta na constituição de renda em favor de pessoa falecida, ou que venha a falecer nos 30 dias
seguintes de moléstia que já sofria (art. 808). Salvo disposição expressa em contrário, não há direito de acrescer. No
caso de inadimplemento, ou risco de, o credor pode exigir tanto as parcelas em atraso quanto garantia das futuras. O
domínio dos bens entregues é do devedor (art. 809) e aplica-se ao caso o princípio res perit domino, de modo que
perecendo o capital a obrigação pelo pagamento continua. O instituidor do contrato gratuito pode gravar os bens
com impenhorabilidade/inalienabilidade, resguardando-os inclusive de execuções já ajuizadas. O contrato se
extingue-se com o fim do prazo ou com a morte do credor, desde que assim contratado, pois, caso contrário, pode
ser transferido aos herdeiros.
ITEM 15.A: Do concubinato. Da união estável. Da união homoafetiva.
Obras consultadas: BERENICE DIAS, Maria. Manual de Direito das Famílias. 7º edição. RT. 2010; DINIZ, Maria
Helena. Código Civil Anotado. 15º edição. Saraiva. 2010; SARMENTO, Daniel. Por um Constitucionalismo
Inclusivo. Lumen Juris. 2010..
O item está inserido dentro do ramo de Direito de Família, regulado nos arts. 1.511/1590 e de modo esparso pelo
Código Civil. O concubinato vem a ser "as relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar
(...)" (art. 1.727, CC). Divide-se em (i) adulterino, pessoa casada que mantém ao lado da família matrimonial uma
outra, (ii) e incestuoso, se houver parentesco próximo entre os amantes. O Código Civil regula os efeitos do
concubinato e transparece um forte conteúdo repressivo do instituto. Em especial, destaca-se a sanção de nulidade
relativa da doação do cónjuge adúltero (art. 550, CC), a possibilidade de resgate de bens transferidos ao concubino
(art. 1.642, inciso V, CC), impedimento do concubino ser herdeiro ou legatário (art. 1.801, CC), e a impossibilidade
de constituição da união estável (art. 1.727, CC). Diante da ausência de expresso reconhecimento do concubinato
como espécie do gênero família e com a finalidade de vedar o enriquecimento sem causa do cónjuge adúltero, a
jurisprudência reconhece o instituto como sociedade de fato (art. 981, CC e Súmula 380 do STF) e permite a
dissolução judicial com a partilha dos bens adquiridos. O referido tratamento está relacionado a um conceito
tradicional de família (modelo patriarcal e hierárquico inseparável do casamento), motivo pelo qual alguns
doutrinadores sustentam a inconstitucionalidade de referido tratamento. Conforme esta corrente, a Constituição
Federal de 1988 impõe uma nova visão de família, tendo como centro a dignidade da pessoa humana e os princípios
da liberdade e igualdade, permitindo um conceito plural de família (não apenas a constituída pelo casamento, mas
também a família monoparental, a união estável, a família homoafetiva e a família paralela). Nota-se, contudo, que a
jurisprudência continua a tratar o concubinato no âmbito do direito societário e dos direitos das obrigações.
A união estável é entidade familiar reconhecida quando preenchida os seguintes elementos (art. 1.723, CC):
diversidade de sexo, ausência de impedimento matrimonial, convivência pública, contínua e duradoura, com o
objetivo de constituir família (conviência more uxorio). A união estável é regulada nos arts. 1.723/1.727, CC, sendo
relevante destacar as seguintes normas: aplicação do regime da comunhão parcial de bens, quando ausente a
indicação de regime diverso (art. 1.725, CC); vínculo de afinidade entre os conviventes (art. 1.595, CC) e o dever de
prestar alimentos (art. 1.694, CC); diferenciado regime de sucessão hereditária do companheiro (art. 17.90, CC);
direito real de habitação do companheiro ao imóvel destinado à residência da família (art. 7º, parágrafo único, Lei
9.278/1996).
A união homoafetiva é a união contínua e duradoura de pessoas do mesmo sexo. A Constituição Federal e o Código
Civil se omitiram em regular o instituto. O tratamento tradicional equipara o referido instituto às sociedades de fato.
Contudo, a lacuna legislativa não impedia que a parcela da doutrina incluísse a união homoafetiva como espécie do
gênero família sob os seguintes argumentos: o art. 226 da CF é cláusula geral protetora da família e as espécies ali
relacionadas (família constituída pelo casamento, união estável e a família monoparental) não esgotam todas as
formas de convívio merecedoras de tutela; o princípio da dignidade da pessoa humana, como elemento axiológico
da Constituição e vetor interpretativo, reconhece o direito de autodeterminação de cada pessoa, em especial o direito
à orientação sexual; o princípio da igualdade impõe que as diferenciações sejam dotadas de razoabilidade (no caso, o
elemento sexual não supre este requisito); Após a progressiva evolução da jurisprudência sobre o tema, o STF
conferiu interpretação conforme ao art. 1.723, CC "para excluir do dispositivo em causa qualquer significado que
impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como família.
Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável
heteroafetiva" (ADPF 132).
ITEM 15.B: Dos títulos de crédito. Do concurso de credores.
Os títulos de créditos estão regulamentados nos arts. 887/926, CC e são conceituados como obrigações por
declaração unilateral de vontade (materializada em um instrumento) pelo qual o agente se obriga a uma
prestação determinada. O CC adotou o tratamento conferido por Cesare Vivante concebendo o título de crédito
como o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido (art. 887, CC).
Na definição de Cesare Vivante estão contidos os três princípios do direito cambiário: cartularidade (o direito de
crédito não existe sem a cártula, não pode ser transmitido sem a sua tradição e não pode ser exigido sem a sua
apresentação), literalidade (o título vale pelo que nele está escrito), autonomia (o título configura documento
constitutivo de direito novo, autônomo, originário e desvinculado da relação que lhe deu origem). Maria
Helena Diniz acrescenta ainda o princípio da abstração: a eficácia cambiária independe da causa debendi.
Os títulos podem ser classificados quanto: (i) à forma de circulação, sendo título ao portador (circula pela mera
tradição), título nominal (identifica o titular e pode ser transferido por endosso - quando cláusula à ordem -
ou cessão civil de crédito - cláusula não à ordem), nominativo (art. 921, CC; o titular é identificado em
registro e a transferência do título possui eficácia apenas com a alteração neste); (ii) ao modelo, sendo modelo
livre (a lei não estabelece uma padronização obrigatória) ou vinculado; (iii) quando à estrutura, sendo ordem
de pagamento (há a figura do sacador - emite o título ou ordena o pagamento, sacado - contra quem o título é
emitido, e tomador/beneficiário) ou promessa de pagamento (há a figura do sacador ou promitente - que
promete pagar determinada quantia, e a do tomador; (iv) quanto à hipótese de emissão, sendo causal (a lei
elenca as hipóteses nas quais o título pode ser emitido) ou abstrato.
As quatro espécies de títulos próprios mais relevantes não são regidas pelo CC, uma vez que possuem legislação
específica (Art. 903, CC).
Letra de Câmbio: regulada no Decreto 57.663/1966 (Lei Uniforme de Genebra) e Decreto 2.044/1908. Trata-se de
título nominal, de modelo livre, estruturado como ordem de pagamento. Emitida a Letra, ela é entregue ao
tomador e apresentada ao sacado para que a aceite. O sacado não possui obrigação de aceite, sendo este
facultativo, mas irretratável. A recusa do aceite promoverá o vencimento antecipado do título, podendo o
tomador exigir do sacador o pagamento.
Nota Promissória: regulada no Decreto 57.663/1966. Trata-se de título nominal, de modelo livre, estruturado como
promessa de pagamento, abstrato. Trata-se de título com regime jurídico similar à Letra de Câmbio, devendo ser
destacado o seguinte: inaplicabilidade das regras sobre aceite (uma vez que a Nota é uma promessa de
pagamento); a Nota emitida pela instituição financeira quando da abertura de crédito é ilíquida, a ela se aplicando a
Súmula 247 do STJ ("o contrato de abertura de crédito em conta-corrente acompanhado do demonstrativo de
débito, constitui documento hábil ao ajuizamento da ação monitória"); é nula a Nota emitida pelo procurador do
mutuário vinculado ao mutuante (Súmula 60 do STJ);
Duplicata: regulada na Lei 5.474/1968 e Decreto-Lei 436/1969. Trata-se de título nominal, de modelo vinculado,
estruturado como ordem de pagamento, causal. Trata-se de título concebido pelo direito brasileiro e detém a
relevante característica do aceite obrigatório. Ressalte-se que o aceite é obrigatório, mas não irrecusável: o
devedor deve justificar a recusa nas hipóteses estipuladas no art. 8º da Lei 5.474/1968. A duplicata pode ser
emitida em duas hipóteses: compra e venda mercantil ou contrato de prestação de serviços.
Cheque: regulado na Lei 7.357/1985 e Decreto 57.595/1966. Trata-se de título nominal, de modelo vinculado,
estruturado como ordem de pagamento direcionado a uma instituição financeira, abstrato. Modalidades:
cheque cruzado (aposição de dois traços transversais e paralelos no anverso do título) - o pagamento somente pode
ser feito a um determinado banco ou ao correntista deste; cheque visado - o banco confirma no título a existência de
fundos e se obriga a reservar a quantia durante o período de apresentação; cheque administrativo - cheque emitido
por um banco contra ele mesmo; cheque para ser creditado em conta - o pagamento não pode ser dinheiro mas
através de crédito em conta.
Concurso de credores: O concurso de credores está regulado nos arts. 955/965 do CC e é iniciado a partir da
declaração de insolvência no processo de execução (arts. 748/790, CPC). O concurso será caracterizado pelo
exame da existência de título legal à preferência e, não existindo qualquer credor assim qualificado, da
proporção de cada crédito.
Os títulos legais de preferência são aqueles em que a lei outorga uma vantagem ao credor, não somente para
reaver o bem, mas também para preterir os concorrentes no recebimento do crédito (art. 958, CC). Os títulos
podem ser privilégios pessoais - especiais (art. 964, CC) ou gerais (art. 965, CC) - e reais (direitos reais de
garantia). A regra de preferência é estabelecida no art. 961, CC: o crédito real prefere ao pessoal; o pessoal
especial prefere ao pessoal geral e por último está o crédito quirografário.
ITEM 15.C: Das sociedades dependentes de autorização oficial. Das sociedades simples e da sociedade
cooperativa. Sociedades nacionais e estrangeiras.
Sociedades dependentes de autorização (arts. 1.123/1.141, CC): em regra, as sociedades submetem-se ao regime de
livre criação, bastando a licitude do objeto e a observância de certas formalidades. Contudo, diante dos
elementos da nacionalidade, do dinheiro público aplicado ou da relevância de certos bens jurídicos, algumas
sociedades dependem de prévia autorização do governo federal. Rol exemplificativo: sociedades estrangeiras,
agência de seguros, instituições financeiras, estabelecimentos de ensino, empresas de transporte aéreo,
sociedade de advogados (ressalva: a autorização é dada pela OAB).
Sociedades nacionais e estrangeiras: é nacional a sociedade que for organizada conforme a lei brasileira e tiver a
sede (domicílio) de sua administração no Brasil (critério da sede social). A sociedade será brasileira, apesar de
ter no quadro societário somente sócios estrangeiros, caso preenchido o critério da sede social no Brasil.
A sociedade será estrangeira quando a sede não estiver localizado no Brasil. Neste caso, a análise da sua
constituição será conforme o local de constituição (lex loci actus), conforme art. 11 da LICC.
Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei
do Estado em que se constituirem.
§ 1o Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos
aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.
§ 2o Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham constituido,
dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptiveis
de desapropriação.
§ 3o Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos
representantes diplomáticos ou dos agentes consulares.
Sociedade simples: trata-se de pessoas jurídica que visa fim lucrativo, sendo alcançada pelo exercício de certas
profissões ou pela prestação de serviços técnicos. Trata-se de uma sociedade de pessoas. Enunciado CJF 57: A
opção pelo tipo empresarial não afasta a natureza simples da sociedade. Enunciado CJF 196: A sociedade de
natureza simples não tem seu objeto restrito às atividade intelectuais. Enunciado CJF 213: O art. 997, inc. II, não
exclui a possibilidade de sociedade simples utilizar firma ou razão social. Enunciado CJF 477: O art. 983
permite que a sociedade simples opte por um dos tipos empresariais dos arts. 1.039 a 1.092 do Código Civil.
Adotada a forma a sociedade anônima ou de comandita por ações, porém, ela será considerada empresária.
Enunciado CJF 479: Na sociedade simples pura (art. 983, parte final, do CC), a responsabilidade dos sócios depende
de previsão contratual. Em caso de omissão, será ilimitada e subsidiária, conforme o disposto nos arts. 1.023 e
1.024 do CC.
Sociedade cooperativa: É uma associação sob a forma de sociedade simples, com número aberto de membros,
que tem por escopo estimular a poupança, a aquisição de bens e a economia de seus sócios, mediante atividade
econômica comum. Trata-se de modalidade especial de sociedade simples. O instituto está tratado nos arts.
1.093/1.096. Enunciado CJF 69: As sociedade cooperativas são sociedades simples sujeitas à inscrição nas juntas
comerciais. Enunciado CJF 207: A natureza de sociedade simples da cooperativa, por força legal, não a impede de
ser sócia de qualquer tipo societário, tampouco de praticas atos de empresa.