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UNISA- UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO

PÓLO TERESÓPOLIS/RJ

LICENCIATURA EM HISTÓRIA

DISCIPLINA: HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

ANÁLISE DO ARTIGO:
Capas, Espadas e Sandálias: o mundo antigo por meio
das telas
Revista Mundo Antigo – Ano V, V. 5, N° 10 – junho – 2016 – ISSN 2238-8788

Por: Victor Henrique da Silva Menezes

ALUNO: Valdecy de Jesus Marques

TERESÓPOLIS/RJ - 2018
ANÁLISE DO ARTIGO: Capas, Espadas e sandálias: o mundo antigo por meio
das telas1

Este texto é uma análise do artigo “capas, espadas e sandálias: O


mundo Antigo por meio das telas”, no qual o autor tem o objetivo de
apresentar um breve panorama dos filmes e séries televisivas
ambientados no Mundo Antigo e, produzidos em particular pelos EUA e
Itália, ao longo do século XX e início do XXI.
Um dos objetivos do autor é, destacar o fato de que, “ao mesmo
tempo em que essas sociedades antigas serviam de palco para inúmeros
filmes, os seus roteiristas e diretores nem sempre embasavam os seus
trabalhos em pesquisas históricas e/ou arqueológicas. Ao buscarem
representar momentos e personagens do Mundo Antigo, essas obras
disseram, e ainda dizem, muito mais acerca dos ideais políticos,
religiosos e de gênero de seu tempo de execução que do período histórico
que buscaram tratar” 2. Por conseguinte, esta análise tem como premissa,
apontar as principais relações estabelecidas pelo autor entre as obras
cinematográficas por ele analisadas e o contexto histórico em que elas
foram produzidas. Para isto levaremos em consideração, as divisões dos
períodos utilizados por ele.

O artigo está dividido em quatro partes que se referem aos distintos


momentos de representação da Antiguidade nas grandes e pequenas
telas, a saber:

1 - Do início do século XX à década de 1940 (a ascensão das indústrias


cinematográficas italiana e norte-americana);
2 - As décadas de 1950 e 1960 (a chamada “era de ouro” de Hollywood);
3 – O período compreendido entre os anos 1970 e 1990 (“crise” dos
épicos hollywoodianos e ascensão das séries televisivas);
4 - Os anos 2000 (o advento do nouvelle peplum).

Ainda antes da análise propriamente dita, precisamos ressaltar


que, o título do artigo se dá pelo fato de que “Desde o seu início a
indústria cinematográfica viu a Antiguidade – com seus personagens
trajando capas, espadas e sandálias”3.
Segundo o autor, “Apoiado, muitas vezes, na iconografia
neoclássica dos séculos XVIII e XIX e nos romances históricos escritos no
XIX e XX, o cinema teve ainda, desde os seus primórdios, um papel
fundamental no estabelecimento de uma ideia de Antiguidade
monumental, ora representada como sinônimo de grandeza, ora de
decadência”4.

1 Menezes, Vitor Henrique da Silva - Revista Mundo Antigo – Ano V, V. 5, N° 10 – junho – 2016 – ISSN 2238-
8788, Pág. 1.
2 Ibidem, pág. 2.
3 Ibidem, pág. 1.
4 Ibidem, Pág. 2.
Dentro do primeiro período, que vai do início do século XX à década
de 1940, observamos que, “foram os italianos os primeiros a se
especializarem nas grandes construções cinematográficas sobre a
Antiguidade no geral, e acerca dos antigos romanos em particular
(ESPAÑA, 2013, p. 46)”5. Estes filmes tinham uma ideia meio nostálgica
de que o império romano antigo seria um patrimônio da cultura europeia,
e principalmente da Itália.
O autor, citando (PÉREZ & MORENO, 2004, p. 277), nos diz que
“os filmes aos poucos começaram a tomar características bélicas e
patrióticas e buscaram legitimar ou justificar a invasão do norte da África
e a participação italiana na Guerra Civil espanhola” 6 e nos dá como
exemplo o filme “... Cabiria que se utilizou da última Guerra Púnica e do
triunfo de Roma sob Cartago como metáfora do desejo italiano de criar
um novo império no norte da África”7.
Para auxiliar na construção da teoria de que os italianos do século
XX seriam os continuadores de uma missão civilizadora que inicialmente
fora levada a cabo pela Roma Antiga, os filmes Cipião, o Africano, e
Condottieri, surgem no contexto do imperialismo e fascismo italiano.
O fascismo exaltou o ditador italiano Mussoline por meio de
personagens da Roma Antiga e, em relação a cinematografia, o visual e
os roteiros, surgiram recheados de diálogos que lembravam os discursos
que este líder italiano pronunciava ao povo.
Após a era fascista de Mussoline, os filmes continuaram a exibir os
ideais políticos, ideológicos e culturais de seu tempo, constituindo assim
“um eficaz instrumento de propaganda política e ideológica destinados
em particular a aumentar a moral da população nos anos difíceis do pós-
guerra” Francisco Alonso (2013, p. 93). Destaca-se desta época os filmes
Fabíola e Os últimos dias de Pompeia.

As décadas de 1950 e 1960 e os épicos ambientados na antiguidade


da chamada “era de ouro” de hollywood.

Os filmes produzidos após a Segunda Guerra foram denominados


de peplum, termo originário do latim e de empréstimo do grego antigo
peplos, que pode ser traduzido como Túnica, “... ou como ficou conhecido
no Brasil ‘histórias de espada e sandálias’ (do inglês sword and sandal),
referia-se aos filmes de cunho bíblico ou ambientados na antiguidade
que, a priori, levavam para as grandes telas governantes sem escrúpulos,
heróis que surgiam para libertar os oprimidos, mocinhas que se
apaixonavam pelo herói, e histórias que giravam em torno de intrigas e
disputas palacianas”8.
As produções norte-americanas do período inicial da Guerra Fria -
ao contrário das películas italianas sobre o Mundo Antigo que
procuravam exaltar o ideal de sistema político e social que admiravam -
condenavam essa faceta da Antiguidade fazendo uma equiparação do

5 Ibidem, pág. 2.
6
Ibidem, Pág. 4.
7 Ibidem, Pág. 4.
8 Ibidem, Pág. 6,7.
despotismo imperial romano com o imperialismo da extinta União
Soviética.
Para mais um exemplo de relação cinematográfica com o contexto
histórico deste período, podemos tomar o filme Spartacus que retrata a
revolta de escravos que ocorreu entre 73 e 71 a.C trazendo várias
referências da situação política dos Estados Unidos naqueles anos. O
filme apresenta uma suposta bissexualidade do general romano Crassus
para tentar provar uma sociedade romana decadente e como contraposto,
apresentar e retratar o cristianismo como o redentor de uma sociedade
pagã.

Os anos 1970 e 1990 – A “crise” dos épicos hollywoodianos e ascensão


das séries televisivas)

Neste período houve “...um desaparecimento das grandes


produções de ‘histórias de espada e sandálias’. Os filmes de caráter épico
que retratavam o Mundo Antigo acabaram por tornarem-se fracassos de
bilheteria, e como resultado, foram substituídos por produções que
privilegiavam outras temáticas e gêneros cinematográficos, como a ficção
científica e o drama social”9.
Destaca-se aqui a obra Satyricon de Fellini, exibido na mostra de
Veneza em 1969 sem muito sucesso, “Porém, quando apresentado nos
EUA transformou-se em um filme de culto hippie e no Japão ficou por
quatro anos em cartaz”10. Este período foi marcado pela liberdade sexual
e o descobrimento pessoal, e para trabalhar estes conceitos, o filme
baseado na história do autor romano Petrônio, apresenta os personagens
como hippies, movimento social crescente nas décadas de 60 e 70 do
século passado.
Algo a se evidenciar nos anos 1990 foi a criação de séries televisivas
semelhantes aos peplums dos anos 1950 e 1960. Destacaram-se séries
como Hércules: a lendária jornada, Xena: a princesa guerreira, O Príncipe
do Egito, Asterix e Obelix contra César. Todavia, de todas estas, a que o
autor traça um paralelo com a atualidade é a obra Xena: a princesa
guerreira, que trouxe representações originais acerca do feminino, e pode
ser considerado o marco inicial de uma revolução na caracterização
feminina em produções midiáticas sobre o Mundo Antigo. A série teve
grande sucesso e acabou por tornar-se um fenômeno cultural e um ícone
pop feminista”11.
OS ANOS 2000 E O NOVO PEPLUM

“A essas novas produções o historiador Antela-Bernárdez (2013, p.


165) prefere denominar de nouvelle peplum [novos pepluns] visto que,
apesar de algumas das características dos peplums dos anos 1950 e 1960

9
Ibidem. Pág. 12
10
Ibidem, Pág. 13
11
Ibidem, pág. 15.
serem perceptíveis, as novas produções possuem suas próprias
particularidades”12.
Como resultado de uma nova concepção na compreensão das
relações de gênero, os filmes desta época, ao contrário das décadas de
1950 e 1960, passaram a não mais apresentar mocinhas donzelas e sim,
passaram a apresentar mulheres “guerreiras (como a Genebra de O Rei
Arthur; Naevia de Spartacus), intelectuais (como Hipátia do filme
Alexandria), de grande perspicácia política (como a rainha Gorgo de 300;
Átia de Roma), e dispostas e lutarem para proteger sua família (como
Lucila de Gladiador)”13.
As mulheres sensuais, vilãs e pagãs de antes, agora são mostradas
usando dois novos “ingredientes”, força bélica e sabedoria. Da utilização
de força bélica, destaca-se: Etain de Centurião; Artemísia do filme 300 –
A ascensão do Império e como detentoras de sabedoria: Olímpia de
Alexandre e Lucretia de Spartacus. “As sexualidades dessas personagens
continuam presentes, mas as suas representações possuem diferenças
quando comparadas com as de outrora”14.
Pode-se entender que esta mudança aconteceu porque as
abordagens historiográficas sofreram duras críticas de historiadoras
feministas que, procuraram debater o papel das mulheres na História.
Outra mudança nestes novos pepluns se dá com os personagens
masculinos que não se tornaram em anti-heróis, mas, que como outrora
deixaram de ser os heróis perfeitos, ter atitudes nobres, virtuosas ou
sábias e também passaram a ser apresentados como homossexuais ou
bissexuais. Como destaque “Não sem muita polêmica, a título de
exemplo, o filme Alexandre trouxe insinuações de uma relação
homoafetiva entre o protagonista Alexandre (Collin Farrell) e seu amigo
Heféstion (Jared Leto)”15.
Outra mudança que o autor destaca, se encontra no fato de que os
protagonistas das décadas de 1950 e 1960 eram homens mais velhos e
duros que lutavam em favor de um bem maior. Os personagens dos anos
2000, são jovens, corpos sarados que lutam por vingança. A exemplo,
temos “Perseu de Fúria de Titãs, Dastan de Príncipe da Pérsia, Teseu de
Imortais, o Hércules de Renny Harlin, Spartacus de Spartacus, entre
outros)”16.
A individualidade destes personagens também contrasta com os
personagens de outrora que apresentavam um sentimento de
coletividade.
Outra analogia é traçada em filmes como Fúria de Titãs, Imortais,
Hércules, Pompeia e a série Spartacus, as quais os “críticos de cinema
atribuem o sucesso de tal gênero à popularidade do MMA (Artes Marciais

12
Ibidem, pág. 15.
13
Ibidem, pág. 17.
14
Ibidem, pág. 17
15
Ibidem, pág. 18,19.
16
Ibidem, pág. 20.
Mistas), lutas cuja ‘estilo’ remontaria aos tempos greco-romanos”17 e
muito sucesso nas tevês de hoje em dia.

Apesar de perceber um enorme “forçar de barra” para que algumas


histórias do passado “falem” ou “ensinem” algo a nós hoje e ajudem a
retratar o presente tendo como pano de fundo o passado, percebemos
que estas produções cinematográficas nos ajudam a compreender o
passado de forma mais significativa ao presente. Apesar do fato de haver
uma lacuna histórica, cronológica e cultural muito grande entre os dias
hodiernos e, por exemplo, a Roma antiga, conseguimos de alguma forma
submergir na história; conseguimos nos transferir para aqueles tempos.
Estes recursos ajudam muito ao historiador e aos acadêmicos de história
na reconstrução de um mundo “perdido” e “esquecido”.

17
Ibidem, pág. 21.

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