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Unidade II
5 DIÁRIO DE CAMPO, ESTUDO SOCIAL, ESTUDO SOCIOECONÔMICO
Assim sendo, o estudo será focado nos instrumentais técnico‑operativos, ou seja, os dispositivos
dos quais nos valemos para dar concretude à ação profissional. Mas quais são eles? O diário de campo,
a entrevista, os estudos sociais e socioeconômicos, o laudo social, a observação, o parecer social, a
perícia social, os relatórios e as visitas domiciliares e institucionais. Também será discutido o trabalho
com grupo e com as comunidades, a educação popular e a elaboração de planos, programas e projetos,
incluindo a compreensão para a elaboração de orçamento público.
Certamente, você já ouviu falar do diário de campo. Ele é um instrumental do profissional que está
atuando, que tanto pode ser usado como um elemento para registro e reflexão quanto por profissionais
que já estão habilitados.
Saiba mais
Para conhecer um pouco mais sobre o diário de campo, leia o texto a seguir:
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
Em sua análise sobre o diário de campo, Fraga, Gaviragui e Goerk (2015) indicam que um critério
importante para tal documento é a redação. Isso porque o diário de campo pressupõe a descrição de
situações vivenciadas no cotidiano das práticas profissionais ou de formação. Assim, um bom diário
de campo é aquele em que o autor descreve, de forma clara e contextualizada, uma experiência.
Para ser elaborado, o diário de campo não precisa de uma linguagem composta por uma série de
palavras rebuscadas, diferenciadas, mas sim de um texto que transmita o conhecimento àquele que
o lê. Ou seja, não há necessidade de termos incompreensíveis, mas, observa‑se a norma culta e a
construção de sentido.
Observação
Os autores chamam a atenção para os vários fatores que comprometem negativamente a redação
de um texto dessa natureza. Dentre eles, apresentam a dificuldade de interpretação a que alunos e
profissionais estão submetidos cotidianamente. No caso, os autores precisam que a dificuldade dessa
natureza está vinculada a deficiências nos anos iniciais da escolarização, ou seja, a pessoa não vivenciou
de forma positiva seu processo formativo antes de ingressar na universidade. Dessa forma, é esperado
que o profissional apresente maior dificuldade para escrever e interpretar ou decodificar símbolos. Aliás,
essa deficiência, gestada em anos de escolarização precária, emerge na universidade, mas representa
um longo ciclo evolutivo de degradação da educação brasileira. Interessante que os autores destacam
o conceito de analfabeto funcional, que seria a pessoa que conhece o alfabeto, mas não sabe fazer uso
dele quando necessário, sobretudo, na leitura de um texto. É a dificuldade de interpretação. Por outro
lado, seguindo o caminho dos autores, pode‑se inferir que aquele que tem dificuldade de interpretar,
que não consegue ler texto, também apresentará dificuldade para a escrita.
De acordo com Fraga, Gaviragui e Goerk (2015), aqueles que chegam às universidades com essa
dificuldade podem minimizá‑la, sendo que para isso é importante a realização das leituras. Os autores
até indicam que têm ciência de que o cotidiano dos universitários e também dos profissionais acaba
dificultando que eles façam leituras que os ajudem a superar essas deficiências. Para tanto, eles indicam
que a realização de leituras seria o único caminho para a superação das dificuldades comumente
apresentadas na escrita e, por conseguinte, na elaboração do diário de campo. Claro que a leitura não
influencia positivamente somente nesse aspecto, mas em toda a produção de alunos e profissionais.
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Unidade II
Lembrete
Além de uma boa redação e de leitura, para elaborar o diário de campo, também é necessário
que o autor desenvolva uma postura investigativa, a qual requer que o assistente social sempre
busque manter‑se informado, atualizado e fortalecido no sentido do aprimoramento intelectual.
Aliás, o Código Profissional de Ética do Assistente Social apresenta o aprimoramento intelectual dos
profissional como um direito do assistente social, considerando‑o como algo basal para a efetivação
dos princípios indicados no referido código. No momento em que apresenta os direitos do assistente
social, o Código indica, no item f, “[...] aprimoramento profissional de forma contínua, colocando‑o a
serviço dos princípios desse código” (CFESS, 1993, p. 26). Apesar de o Código estar orientado para os
profissionais habilitados, é importante que os alunos também observem esses aspectos vinculados ao
Código, buscando incorporá‑los já durante seu processo formativo e sempre usando em seu benefício
para melhor qualificação constantemente.
Já no sentido da elaboração escrita, Fraga; Gaviragui e Goerk (2015) oferecem também algumas
indicações para a elaboração do diário, como, por exemplo, a necessidade de relatar o que aconteceu
no dia de trabalho ou de estágio. Mas, para isso, os autores indicam que é necessário não perder a
sensibilidade diante das situações com as quais os profissionais se deparam (FRAGA; GAVIRAGUI; GOERK,
2015). Portanto, citar autores, analisar os fenômenos à luz de um referencial teórico é muito válido e
importante, mas ficar preso a esse formato de relato e não expor a perspectiva do autor do diário de
campo torna este processo mecânico, comprometendo a capacidade crítica do autor. Por outro lado, na
elaboração do diário de campo, é importante “[...] usarem a sensibilidade, escutarem o que sentem [...]”
(FRAGA; GAVIRAGUI; GOERK, 2015, p. 266).
É preciso estar à vontade com a escrita, estar envolvido com esse processo, o qual deve ser um
momento de reflexão, que permita a junção entre teoria e prática. Portanto, não deve ser elaborado para
atender à necessidade dos supervisores, ou seja, não deve ser escrito de forma a “agradar” supervisor
acadêmico ou supervisor de campo, mas sim deve ser elaborado para que o estagiário consiga realizar
uma análise dialética da realidade. No caso do profissional habilitado, também é importante que o
registro não seja condicionado a interesses que lhes são superiores, de instâncias superiores, mas que, de
fato, represente a realidade vivida no espaço de trabalho. Esse tipo de documento, por sua vez, representa
a identidade profissional. Ou seja, ao ler um documento desse formato, temos muitas informações a
respeito do profissional que as elaborou ou mesmo do aluno.
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
O diário de campo se constitui ainda como um dispositivo de reflexão sobre a questão social, além
de ser um instrumento que mobiliza o autor à pesquisa. Ele é:
Nesse sentido, Lima, Mioto, Dal Prá (2007) enfatizam que a documentação incorpora um importante
aspecto do trabalho do assistente social. A sistematização da documentação é um dos elementos da
ação profissional. Dito de outra forma, apesar de os documentos de ação profissional serem flexíveis e
dinâmicos, eles permitem ao profissional uma revisão da ação, bem como o planejamento da intervenção
futura. De qualquer forma, a documentação, assim como o diário de campo, são elementos integrantes
do exercício profissional do assistente social. Assim, “[...] a documentação pode ser considerada como
um elemento constitutivo da ação profissional, uma vez que ela lhe dá materialidade ao compreender a
realização da ação” (LIMA; MIOTO; DAL PRÁ, 2007, p. 95).
Tanto Lima, Mioto e Dal Prá (2007) quanto Fraga, Gaviragui e Goerk (2015) nos advertem quanto ao
fato de que tanto profissionais atuantes quanto estagiários apresentam dificuldades em registrar suas
atividades todos os dias. No entanto, ao incorporar a documentação como um elemento constitutivo
da ação profissional, com o tempo, essa e outras dificuldades, como a de elaboração do relato, acabam
sendo suprimidas. No entanto, isso só é possível a partir de muito treino e leitura.
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Unidade II
Dentro dessa compreensão, os autores ainda indicam o diário de campo como um exemplo de
documentação, que representaria a “inteligência coletiva” (LIMA, MIOTO; DAL PRÁ, 2007, p. 95) da
categoria. Outrossim, quando é escrito um diário de campo e realizada a análise dos fenômenos
estudados à luz de uma teoria, que foi produzida ao longo dos anos pela categoria profissional, não é
uma análise com base em argumentos individualistas, mas sim com recorrência a saberes produzidos
e acumulados ao longo dos anos pelos assistentes sociais.
Mas Lima, Mioto e Dal Prá (2007) realizam ainda orientações mais específicas, sobre quais aspectos
devem ser observados quando elaboramos o diário de campo. Na verdade, alguns deles já salientamos
aqui, como a capacidade de escrever os relatos com clareza. As orientações de Lima, Mioto e Dal Prá
(2007), no entanto, oferecem um mapa de como elaborar o diário de campo. A primeira orientação
dos autores é que o diário seja elaborado todos os dias. Somente dessa maneira é possível uma “[...]
sistematização e detalhamento possível” (LIMA; MIOTO; DAL PRÁ, 2007, p. 99), conforme requer um
registro dessa natureza. Aliás, os autores ressaltam que, mesmo com todas as dificuldades, somente o
registro diário permite captar maiores detalhes e dados da realidade, até porque, quando não é feito
esse registro no dia, corre‑se o risco de acabar esquecendo de alguns detalhes e comprometendo
a descrição. Ao fazer o registro todos os dias, o profissional está com a memória mais recente e
fará o detalhamento das situações com as quais se deparou durante suas atividades. Uma indicação
interessante de Lima, Mioto e Dal Prá (2007) nesse sentido é que o diário de campo deve ser datado.
Observação
Mas, afinal, o que deve conter em um diário de campo? Quais são os elementos que o integram? O
que o compõe? Nesse sentido, o trabalho de Lima, Mioto e Dal Prá (2007) é extremamente válido, uma
vez que as autoras indicam como elementos‑chave do diário de campo a descrição, a interpretação
e o registro das conclusões preliminares. Dessa maneira, não apresentam um modelo rígido para
a elaboração da documentação, mas sugestionam sobre elementos que podem ser usados como
referência para a elaboração do diário de campo. Veja a seguir:
A interpretação deve vir assentada em valores e parâmetros defendidos pela profissão. Outrossim, a
análise deve ser construída com base no conhecimento acumulado pela categoria, e não com respaldo
do senso comum. Além das atividades cotidianas, rotineiras, o diário deverá ainda registrar debates
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
e embates que por ventura foram vivenciados durante o trabalho. Além disso, informações sobre a
economia, a realidade social e demais dados que ajudem a contextualizar o espaço onde a intervenção
acontece são vitais para o entendimento de todo o contexto em que a ação está acontecendo. Dessa
maneira, também é possível compreender como a realidade externa afeta as intervenções do serviço
social, além de um rol amplo de aspectos afins.
Lembrete
Por isso, as informações precisam ser registradas todos os dias e, sempre que possível, com o
máximo de dados que for possível. Afinal, o que caracteriza um diário como um material de qualidade
são os dados que ele apresenta. O detalhamento de informações é condição indispensável para um
diário de campo com qualidade. Claro que o diário de campo elaborado por aluno será diferente
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daquele que é feito por um profissional já atuante. Ao menos, espera‑se maior maturidade profissional
e intelectiva por parte do profissional. No entanto, é necessário ressaltar que nada disso é inato. Não
nascemos sabendo fazer diário de campo, mas vamos aprendendo. E só podemos aprender quando
tentamos várias vezes fazer uma atividade. Por isso, não importa, nesse momento, se você ainda têm
dificuldade, se acha o processo difícil ou cansativo demais. Importa é que você é capaz, mas, para isso,
é necessário treino e repetição.
5.2 Entrevista
A entrevista sempre será uma das técnicas mais utilizadas pelos assistentes sociais. Trata‑se de um
dispositivo de intervenção que está presente em praticamente qualquer área de atuação do assistente
social. No entanto, um dos livros mais populares da categoria, o qual discute os instrumentos e as
técnicas utilizados pelos assistentes social, foi inicialmente idealizado pensando na intervenção desse
profissional junto à área jurídica.
Saiba mais
Lewgoy e Silveira (2007) nos dizem que a utilização da entrevista como abordagem do serviço social
é algo muito recorrente. Os autores dizem que a entrevista foi proposta como abordagem dos assistentes
sociais por Mary Richmond, nos anos 1950, com sua obra Diagnóstico Social. Nessa época, a entrevista
era defendida como uma conversa inicial, por meio da qual o assistente social conseguiria alcançar seus
objetivos profissionais.
No entanto, conforme Magalhães (2006), fazer uma boa entrevista demanda ao assistente social
a observação de alguns aspectos basais, dentre os quais as posturas que devem ser fortalecidas pelo
assistente social e outras que devem ser evitadas. Então, podemos inferir que o assistente social deve
sempre demonstrar uma posição atenta e não paternalista, compreendendo, sempre, que o sujeito
entrevistado é portador de direitos.
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
Magalhães (2006) ainda coloca que, durante a entrevista, cabe ao profissional ouvir mais do que
falar. Apesar desta dever ser usada como um meio de reflexão do usuário, é preciso evitar as críticas
aos atendidos. Quando critica‑se um entrevistado, pode haver o afastamento dele com relação às
intervenções, perdendo‑se o sentido do trabalho do assistente. O profissional deve sempre falar de
forma com que o usuário o compreenda, porém, não deve usar a mesma linguagem dele. Aliás, há um
grande reforço para que sempre façamos uso da linguagem culta, ou seja, evitar vícios de linguagem ou
falar de forma não condizente com a norma culta da língua portuguesa.
Para o direcionamento da entrevista, é possível usar um roteiro, sem, obviamente, ficar muito preso
a ele. Ele ajuda a conduzir a entrevista aos objetivos e finalidades. No entanto, ele não é uma camisa de
força. Pode‑se alterá‑lo a depender da necessidade. Em todo caso, é comum que, durante a realização
de uma entrevista, o assistente social precise anotar alguns dados e informações dos atendidos, e é
importante que o entrevistado tenha ciência do porquê de tais anotações. No caso, o técnico deve
explicar ao atendido a metodologia que utiliza para que o entrevistado não se sinta envergonhado
(MAGALHÃES, 2006).
Já Lewgoy e Silveira (2007) dizem que o primeiro passo para a realização de uma entrevista é
planejá‑la, defendem ainda que todas as ações do assistente social demandam um planejamento e
organização prévia. Cabe ao assistente social, nesse processo de planejamento, identificar para qual
política social a entrevista está sendo realizada. Depois disso, o profissional precisa delimitar o objetivo
da entrevista e como será feita a coleta de dados. Por fim, o terceiro passo corresponderia a decidir
horário e local em que a abordagem será realizada.
Após o planejamento, passa‑se à execução, que também tem etapas a serem desenvolvidas, quais
sejam: inicial, coleta de dados, contrato, síntese (registro) e, por fim, a avaliação. A etapa inicial é
aquela em que o entrevistador dá início à intervenção, explicando ao entrevistado o objetivo da
entrevista. Os demais procedimentos em questão são assim definidos pelos autores:
Após essas etapas, é necessário que o profissional registre as informações do procedimento realizado.
Aqui também não há uma sequência flexível, mas sim indicações de como o processo de entrevista pode
ser conduzido no cotidiano das práticas profissionais de assistentes sociais.
Lewgoy e Silveira (2007) ainda colocam que há técnicas que devem ser observadas pelos
assistentes sociais quando estes realizam uma entrevista. São elas que garantem que o profissional
consiga alcançar seus objetivos profissionais, além de tornar a realização da entrevista um processo
de humanização da relação firmada entre assistente social e o sujeito entrevistado. Os autores ainda
colocam que a primeira técnica que deve ser utilizada no momento da entrevista é o acolhimento,
o qual consiste em uma aproximação que o técnico faz com aquele que irá atender, podendo ser
descrito pelas seguintes práticas:
Essa técnica deve ser usada pelo assistente social logo que ele inicia a abordagem, buscando
fazer com que o entrevistado se sinta bastante à vontade e confiante com o processo em que está
inserido. Os autores chamam a atenção para que os vícios de linguagem (como “mãe”, por exemplo)
sejam evitados, fortalecendo a necessidade de usar os nomes das pessoas; aliás, isso é vital para o
acolhimento se efetivar.
Outra técnica que seria de grande importância a essa abordagem é o questionamento. Afinal, não há
como realizar uma entrevista sem fazer perguntas para aqueles que estão sendo atendidos. Para definir
as questões a serem realizadas, é preciso ter muita clareza dos objetivos e também amplo conhecimento
do caso pelo profissional. “O questionamento tem de ir ao encontro da finalidade da entrevista, o que
exige do assistente social estudo e conhecimento para tanto” (LEWGOY; SILVEIRA, 2007, p. 245).
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
As autoras ainda indicam outras técnicas que podem ser usadas quando realizamos uma entrevista,
como, por exemplo, o silêncio sensível, pois há momentos em que é necessário não interferir nas
expressões do entrevistado. Indicam ainda a apropriação do conhecimento como outra técnica por
meio da qual o profissional obtém as informações de que precisa para intervir da melhor forma
junto ao caso atendido, buscando sempre resguardar os direitos dos usuários. E, por fim, destaca
a síntese integradora como a metodologia final para a realização da entrevista, que consistiria
em: “O encerramento da entrevista é introduzido pela elaboração da síntese integradora daquele
momento e não pode ser confundida com resumo” (LEWGOY; SILVEIRA, 2007, p. 248). Ou seja,
são passos que estão presentes em todas as entrevistas e, por meio das colocações de Lewgoy e
Silveira (2007), nos auxiliam na realização de uma boa entrevista. Magalhães (2006) não indicou
tantos aspectos de forma tão pormenorizada, mas ofereceu informações genéricas. No âmbito
da especificidade, para tanto, são extremamente relevantes as colocações da autora sobre os
tipos de entrevista.
• Livres: são abordagens em que o entrevistador traz à tona o tema a ser debatido e partindo do que
o entrevistado diz, orienta o atendimento.
• Semidirigidas: são aquelas técnicas em que o entrevistador deixa que o entrevistado tenha maior
liberdade para falar, discorrer e, somente partindo de suas falas, vai conduzindo o processo de
atendimento. Essa seria uma junção da entrevista livre com a dirigida.
Todas essas modalidades de entrevista estão presentes no cotidiano dos assistentes sociais.
Em grande parte, elas provêm da demanda contemplada pelo profissional.
A seguir, é apresentado um quadro com a síntese dos conteúdos, para que fique simples a diferenciação
entre esses instrumentais.
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Unidade II
Outro instrumental que é largamente utilizado pelos assistentes sociais é o estudo social ou estudo
socioeconômico. O estudo é compreendido como uma “[...] análise sobre algo que se quer conhecer
por meio da observação e do exame detalhado, ou seja, é a pesquisa sobre determinado assunto”
(MAGALHÃES, 2006, p. 50). O estudo em tese está presente em todos os momentos do fazer profissional.
No entanto, a história nos mostra que no contexto do surgimento do serviço social no Brasil, o estudo era
nomeado com o termo socioeconômico. Neste momento, serão estudados os aspectos que demarcam
essa mudança terminológica, bem como a postura dos assistentes sociais.
Observação
O termo estudo surgiu no serviço social brasileiro por influência do aporte ao serviço social de
casos individuais, trazido por Mary Richmond no contexto dos anos 1950. Inicialmente, o estudo era
usado visando ao conhecimento do indivíduo e seu consequente ajustamento à ordem social vigente.
No entanto, a incorporação do termo socioeconômico adveio da utilização desse dispositivo para
viabilizar o acesso a elementos materiais, ligados à sobrevivência dos atendidos (MIOTO, 2000).
Em tese, a abordagem proposta por Mary Richmond pressupunha o estudo do caso, seguido pelo
diagnóstico, no qual o assistente social deveria identificar informações individuais e ambientais do caso
atendido e os recursos para corrigir a situação apresentada. Assim, os recursos não eram restritos às
situações econômicas, mas incorporavam também a mobilização de aspectos ligados à subjetividade dos
atendidos. Caberia ao assistente social analisar caso a caso que lhe era apresentado por meio do estudo
e, quando necessário, também realizar o estudo socioeconômico.
Mioto (2000), no entanto, aponta muitas mudanças na categoria ao longo dos anos; dentre as quais,
o movimento de reconceituação do serviço social, que proporcionou à profissão uma profunda revisão
de sua base teórica e metodológica. Dentre as alterações processadas no interior da categoria, temos a
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
alteração do termo estudo socioeconômico para estudo social. Isso porque se passou a compreender
que o termo estudo socioeconômico restringia a ação do assistente social a uma análise financeira,
pontual, ao passo que o estudo social busca evocar para a profissão uma análise alicerçada na noção
de efetivação dos direitos sociais e que, sobretudo, vai além da demanda econômica apresentada pelos
usuários. Assim, não houve apenas uma mudança terminológica, mas sim alterações na forma de
compreender como abordar um indivíduo.
Hoje, o estudo social tem como missão a realização de uma análise ampla, crítica e calcada na noção
de totalidade junto aos indivíduos. Conforme salienta Mioto: “[...] o estudo social tem por finalidade
conhecer com profundidade, e de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão
social, objeto da intervenção profissional especialmente nos seus aspectos socioeconômicos e culturais”
(FÁVERO, 2004, p. 42 apud MIOTO, 2000, p. 6). Ou seja, trata‑se de estudo e pesquisa de questões e
situações específicas, mas compreendendo‑as ligadas à noção de totalidade.
Via de regra, os estudos sociais são desenvolvidos em vários serviços públicos e privados, e, em grande
parte, estão ligados ao acesso aos benefícios por parte da população. Dentre esses benefícios, podem
ser citados os materiais e os financeiros. Nesse espectro, pode‑se citar como exemplo da utilização
desse instrumental a prática desenvolvida nos plantões, em que há concessão de benefícios financeiros.
Porém, o estudo social também tem sido cada vez mais usado para subsidiar decisões judiciais. Nesse
sentido, junto ao Judiciário, é comum que os profissionais confiram o estudo social em face do caso que
lhe foi apresentado, sendo usado como referência para as decisões judiciais em casos específicos.
A definição de Mioto (2000, p. 9) sobre o estudo social chama a atenção para o fato de que esses
dispositivos condensam atos do profissional, que são realizados de maneira consciente e que devem
estar alicerçados nos princípios éticos da nossa categoria. A autora assim o define:
Pode‑se inferir também que todos os instrumentais, assim como as técnicas usadas pelos assistentes
sociais, devem ser condicionados ao Código Profissional de Ética. O texto a seguir é bastante interessante
e apresenta relação com o conteúdo que estudamos.
Benefício BPC‑Loas do INSS: valor pode ser pago para quem nunca contribuiu
É possível que a pessoa que nunca pagou o INSS tenha direito a um benefício da Previdência
Social? A resposta é sim. Mas apenas tem direito a este benefício quem tem mais de 65 anos
de idade ou, de qualquer idade, se tiver alguma incapacidade de longa duração.
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Unidade II
A avaliação será realizada através de um assistente social. Para isso, será necessário que
o interessado leve no INSS, no dia do protocolo do pedido, um estudo social feito por um
assistente social.
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
É possível verificar que o estudo social é apresentado como um elemento basal para acesso ao
benefício de prestação continuada. Nesse sentido, pode‑se dizer que o estudo social é um meio de
afirmar a importância da profissão, fortalecendo a noção de ser uma atividade socialmente necessária.
O estudo social deve ser planejado e organizado previamente e sempre deve partir das necessidades
apresentadas pelos sujeitos, compreendidos como sujeitos de direitos. Os estudo sociais não podem
observar apenas o indivíduo de forma isolada, fragmentada, mas considerar a família na qual está inserido
o atendido. Para Mioto (2000), é basal identificar aspectos relacionados ao domicílio dos atendidos, seus
parentescos e afetos. Após a realização de toda essa análise, a qual deve ser essencialmente construída
de maneira dialógica com aqueles que são atendidos, é necessária a emissão de um parecer.
Observação
Mas como realizar o estudo social? O técnico deve recorrer a abordagens individuais, grupais,
assim como aos instrumentais: entrevista, observação, reunião, visita e análise documental. Ou seja,
deve se valer de todos os elementos que estejam a sua disposição e assim identificar todos aspectos
possíveis em relação aos atendidos. No entanto, toda e qualquer intervenção do assistente social
deverá ser desenvolvida considerando‑se o projeto ético‑político e os documentos que embasam a
ação profissional.
Estudo social/socioeconômico
Assentado na noção de totalidade
Utilizados em empresas públicas e privadas
Podem ser usados para concessão de benefícios materiais e como apoio para decisões judiciais
Desenvolvidos por meio de abordagens individuais e grupais
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Unidade II
Agora serão vistos outros instrumentais que são largamente utilizados por assistentes sociais: os
laudos e os pareceres. Dada a sua especificidade, laudos e pareceres ainda provocam muitas confusões
entre os profissionais. Na sequência, tal conteúdo será esmiuçado.
Em matérias de serviço social, é importante ressaltar que laudos, pareceres e perícias são atribuições
privativas dos profissionais habilitados na área. Conforme indicado pela lei que regulamenta a
profissão, são atribuições privativas do assistente social: “IV – realizar vistorias, perícias técnicas,
laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social” (BRASIL, 1993). Ou seja,
somente assistentes sociais podem emitir tais documentos que discutam matéria de serviço social.
Outros profissionais podem emitir laudos, relatórios ou pareceres, porém, em matéria de serviço social,
somente assistentes sociais.
Tendo tais colocações arroladas, segue‑se ao estudo do laudo social, o qual é “[...] um documento
escrito que contém um parecer ou opinião conclusiva do que foi estudado e observado sobre determinado
assunto” (MAGALHÃES, 2006, p. 60). Ou seja, o laudo só pode ser realizado se anteriormente a ele o
técnico realizar um estudo amplo sobre o assunto que lhe foi requerido.
Após o estudo, o laudo social deve apresentar uma análise da situação, seguida por uma opinião
técnica. Em alguns casos, é preciso que o emissor do laudo social, via de regra, um perito, possa até
mesmo responder a quesitos já previamente formulados em forma de análise conclusiva. O laudo deve
incorporar ainda diretrizes e sugestões de ação, as quais sempre devem ser fundamentadas.
Os laudos sociais são mais comuns para os assistentes sociais que atuam junto ao Judiciário ou ao
INSS. No entanto, para a emissão de um laudo social, é preciso que o profissional tenha domínio do
assunto. Obviamente, o laudo é emitido somente após a realização de um estudo. Mas, como documento,
precisa ser sistematizado e deve demonstrar que o profissional tem compreensão daquilo que está
fazendo (MAGALHÃES, 2006).
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
Magalhães destaca ainda que, via de regra, os laudos devem possuir cabeçalho, indicando dados do caso e
a quem se destina o documento. Deve apresentar ainda os instrumentos usados na construção do documento
e os sujeitos que dele participaram. Além disso, Magalhães (2006) salienta que há instituições, citando como
exemplo o INSS, que já possuem um modelo específico de laudo social, denominado laudo impresso, porque se
trata de formulário já previamente elaborado para que o profissional faça o preenchimento. Esse documento
deveria ser elaborado de maneira democrática, mas nem sempre isso é possível.
Já Mioto (2000), que parte de uma análise mais voltada para a utilização do laudo social no sistema
Judiciário por assistentes sociais, fortalece a noção de laudo social como um instrumento, um dispositivo
que pode ser usado como prova perante uma situação processual. Assim, um laudo, ao final, pode
apresentar um parecer conclusivo emitido pelo profissional que realizou o estudo. A autora assim define
o laudo social:
Para ser elaborado, o laudo demanda que o técnico recorra a outros instrumentos e técnicas, os
quais servem de sustentação para a realização do estudo social. O laudo social também deve incorporar
as noções e referências que são usadas e defendidas pela categoria profissional.
Além de enfatizar que o laudo social precisa ser escrito em norma culta, Mioto (2000) ainda destaca o
fato de que no laudo não é necessário fazer descrições muito detalhadas das intervenções desenvolvidas,
uma vez que isso cabe aos relatórios. Para melhor orientar a elaboração dos laudos sociais, a autora
propõe também um modelo para a elaboração desse documento, composto pela estrutura: introdução,
identificação dos envolvidos, metodologia de ação e os conceitos usados, conduzindo para a emissão de
um parecer conclusivo.
Escrita clara, estruturada e bem elaborada são requisitos basais para a elaboração de um laudo social.
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Unidade II
Agora será abordado o conceito de perícia social. Em tese, a perícia é descrita como “[...] a vistoria ou
o exame de caráter técnico especializado” (GOMES, 2018, p. 7). Pode‑se inferir que uma perícia requer
que aquele que a realize possua domínio de conhecimento. Essa premissa é válida para qualquer área
de conhecimento, incluindo o serviço social. Não podemos atuar com perícia social se não possuirmos
domínio de conhecimento.
Além disso, a perícia é requerida para subsidiar uma decisão. Em grande medida, a perícia social é
solicitada no Judiciário, sendo comum também no INSS e outros órgãos como a Defensoria Pública, por
exemplo. Independentemente do local de atuação do assistente social, ao realizar uma perícia social, é
fundamental que esse profissional esteja assentado no saber que fundamenta a sua profissão. Por outro
lado, é igualmente validada a premissa de que o assistente social não pode atuar como perito em temas
que não estejam vinculados a sua área de formação.
Ao buscar deixar clara a noção de perícia social vinculada ao serviço social, Gomes (2018, p. 8) indica
dois conceitos de perícia social, sendo o primeiro:
Ou seja, a perícia é compreendida como uma atuação que requer um especialista, um saber
específico para a emissão do parecer. Além do saber específico do assistente social, é necessário ainda
o desenvolvimento de competências nas áreas técnica e teórico‑metodológica, além de autonomia e
compromisso ético. Somente com essas características o profissional poderá desenvolver uma ação
realmente de qualidade e efetivadora de direitos.
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
Outra definição interessante, apresentada por Gomes (2018), refere‑se ao seguinte conceito:
Apesar de ambas as autoras concordarem que a perícia social é usada para subsidiar uma decisão,
e que os parâmetros que regem o exercício do profissional devem ser considerados no processo de
elaboração da perícia social, para Mioto (2000), a perícia social é construída por meio do estudo social,
ao passo que, para Fávero (2000), a perícia social é o estudo social.
Em que pese as divergências das autoras, pode‑se inferir que o perito é aquele que detém um
saber específico e que emite um parecer com base nos parâmetros da sua profissão, da sua formação.
Independentemente do fato de o estudo anteceder a perícia ou de o estudo se constituir na perícia,
é necessário que o assistente social faça uso dos seus instrumentos e técnicas. Assim, a perícia pode
requerer visitas, entrevistas e outros instrumentais afins.
Fávero (2000) ainda nos coloca que a perícia social deve ser construída pelo assistente social seguindo
dois passos básicos: o primeiro seria o conhecimento amplo da situação, e no caso de perícia judicial,
isso importa conhecer todo o processo. No caso de perícia social desenvolvida fora do espaço judiciário,
esta demanda o conhecimento de todos os dados e documentos da situação analisada. No segundo
passo, seria necessária a definição dos instrumentos que serão utilizados para a realização da perícia,
ou seja, quais instrumentos e quais técnicas permitirão ao assistente social uma maior aproximação da
realidade analisada.
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Unidade II
6.3 Relatórios
Há uma infinidade de abordagens no serviço social que buscaram, e buscam, ainda delimitar aspectos
relacionados aos relatórios que existem em nosso cotidiano profissional. A perspectiva metodológica
usada para elaborar o presente livro‑texto recorre à análise de Magalhães (2006), uma vez que essa é
uma literatura corrente e amplamente utilizada pela categoria.
Saiba mais
Observe um modelo de relatório que foi incorporado a um artigo
científico por meio do acesso ao texto no link a seguir:
ORTIZ, M. C. O relato de um caso. Psicol. cienc. prof. Brasília, v. 8, n. 1, p. 26,
1988. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S1414‑98931988000100016&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 8 jul. 2019.
O relatório apresentado foi elaborado com nomes fictícios e usa uma
experiência prática desenvolvida junto ao Judiciário.
A autora define o relatório elaborado pelo assistente social como uma forma de descrever a “[...]
pesquisa e a apresentação de atividades desenvolvidas em determinado setor, a visitas realizadas”, sendo
também possível a elaboração de relatórios que descrevam providências tomadas diante do caso ou à
situação que motivou a elaboração do relatório.
O relatório também deve ser construído usando‑se como referência princípios teórico‑metodológicos
e ético‑políticos que norteiam o exercício profissional. Demandam ainda competência técnica e domínio
da língua culta. Martins (2017, p. 91‑92) assevera também a importância das capacidades do assistente
social na elaboração dos relatórios:
Os relatórios que são elaborados para arquivo de um dado serviço devem ser elaborados consoantes
com os aspectos indicados anteriormente, ou seja, norma culta e vinculação aos parâmetros difundidos
pela categoria. Aliás, Martins indica que os relatórios não devem ter uma suposta neutralidade científica,
mas sim defender os parâmetros da categoria. Assim,
A própria elaboração do relatório deve ser um processo de análise crítica do profissional sobre a sua
conduta e sobre o objeto de sua intervenção.
Observação
• De inspeção: é aquele em que há a descrição da análise realizada por meio da visita às instituições
de atendimento.
Relatórios
(características)
Descrevem atividades desenvolvidas, visitas
realizadas e providências tomadas
Demandam vinculação do assistente social aos
parâmetros de sua profissão
Observação da linguagem culta
Há vários tipos de relatórios, e cada um deles se
destina a descrever um tipo de ação desenvolvida
pelo assistente social
Neste momento, serão apresentadas duas técnicas que são basais aos assistentes sociais: a visita
domiciliar e a visita institucional. Interessante pontuar que essas atividades não são atribuições
privativas dos assistentes sociais. Em tese, vários outros profissionais podem usar a visita domiciliar ou
institucional como método de ação. Isso depende muito das orientações e normativas de cada categoria
(MAGALHÃES, 2006; PEREIRA; SOUZA, 2016).
63
Unidade II
No entanto, é uma técnica de abordagem muito usado pelo serviço social com o objetivo de
conhecer um pouco mais da realidade observada. De acordo com Pereira e Souza (2016), as visitas
surgiram no contexto de seu surgimento no Brasil, porém alicerçadas na perspectiva de possibilitar
ao assistente social a realização da fiscalização e da moralização de determinados segmentos. Nesse
contexto, vemos que a profissão era orientada pela ótica de que as ações profissionais deveriam
alterar os comportamentos dos desajustados, ajustando‑os às necessidades capitalistas. A visita surge
nesse momento, mais voltada a indivíduos e famílias, sendo apresentada como uma especialização do
método de serviço social de casos, uma ação que viabilizava de maneira mais adequada o ajustamento
de condutas dos atendidos. No contexto dos anos 1980, no entanto, perante as mudanças processadas
no interior da categoria, a visita domiciliar passou a ser compreendida como um instrumento de
conhecimento do público‑alvo das ações dos assistentes sociais, e não mais como um instrumento
de fiscalização desse segmento.
Lembrete
Atualmente, a visita domiciliar tem sido compreendida como um meio para “[...] clarificar
situações, considerar o caso na particularidade de seu contexto sociocultural e de relações sociais”
(MAGALHÃES, 2006, p. 54). Ou seja, um modo para ampliar os dados que o técnico possui sobre
uma dada situação, visando assim melhor qualificar sua ação não mais com o objetivo de impor
normas de conduta aos atendidos. A visita domiciliar permite a apreensão da singularidade da
vida dos atendidos, além de ser um meio que possibilita a intervenção do assistente social sob um
determinado aspecto, bem como é um espaço de reflexão em que o próprio profissional revê suas
práticas e estimula os usuários atendidos em fazer o mesmo processo. A visita domiciliar pode ser
assim compreendida como:
64
ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
Assim como os demais instrumentos e técnicas aos quais o serviço social recorre, a visita domiciliar
também deve ser utilizada valendo‑se de parâmetros que orientam a ação do assistente social na
contemporaneidade, motivo pelo qual abordagens invasivas e que deixam os usuários em situações
desagradáveis devem ser refutadas. A definição anterior indica ainda que, apesar de a visita domiciliar
buscar melhor compreender uma dada situação específica e singular, sua realização não pode ser
desenvolvida de forma dissociada do todo. Assim, ao analisar uma determinada situação, deve‑se
considerá‑la como resultado de questões econômicas, sociais e políticas que influenciam a vida dos
seres humanos. Melhor dizendo, ao realizar uma visita domiciliar, é basal considerar o contexto histórico,
político e societário vivenciado.
Closs e Scherer (2017), assim como Magalhães (2006), colocam que as visitas domiciliares devem
ser planejadas previamente, mas a utilização desse instrumental e sua organização irá depender
muito do contexto em que ele será utilizado. Aliás, quanto a isso, é interessante atentar‑se ao fato de
que a visita domiciliar é um instrumento muito utilizado por assistentes sociais, independentemente
da sua área de atuação.
Nessa direção, Closs e Scherer (2017) colocam que a visita domiciliar possui três etapas a saber:
planejamento, execução e registro, sendo que cada uma delas apresenta especificidades que as definem
e são basais para que os profissionais desenvolvam uma abordagem positiva e que seja promotora de
direitos, e não um meio de fiscalização dos usuários atendidos.
Observação
Magalhães (2006) ainda propõe que, na visita domiciliar, seja possível observar situações singulares,
mas nunca tentar julgar aqueles que são atendidos segundo nossos parâmetros de vida. Além disso, a
autora recomenda não realizar procedimentos invasivos e que comprometam a relação com os usuários.
Como algo inerente à prática do assistente social, a visita deve, essencialmente, ser usada como meio de
efetivação de direitos sociais e nunca como uma forma de fortalecimento da submissão dos atendidos.
65
Unidade II
Saiba mais
Por fim, há a visita institucional. Importante salientar que Magalhães (2006) a nomeia como visita de
inspeção. Também nesse caso não é uma abordagem privativa do assistente social, mas pode ser realizada por
qualquer profissional que dela necessite. A visita institucional ou visita de inspeção “[...] tem como finalidade
verificar o trabalho desenvolvido nas instituições, bem como se suas instalações físicas atendem aos
objetivos aos quais elas se destinam” (MAGALHÃES, 2006, p. 56).
Assim, muitas dessas visitas são realizadas por assistentes sociais para verificar o serviço
desenvolvido por instituições, não com o objetivo de empreender críticas ou julgamentos ao
serviço disponibilizado, mas com o enfoque de analisar se o serviço atende às prerrogativas legais
ao público para o qual se destina. Aliás, Magalhães (2006) cita como exemplo a visita à instituição
que atende crianças e adolescentes. Quando o técnico faz essa abordagem, precisa observar se o
serviço está de acordo, por exemplo, com as prerrogativas que Estatuto da Criança e do Adolescente
preconiza. No caso da identificação de falhas, cabe ao profissional participar aos responsáveis, para
que possam ser realizados ajustes.
Dessa forma, a visita domiciliar destina‑se a situações específicas, envolvendo sujeitos e famílias,
ao passo que a visita institucional ou de inspeção é orientada para serviços institucionalizados. Para
consolidar esse conteúdo, segue o quadro síntese:
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
Resumo
Foram vistos alguns dos principais instrumentais que são usados pelos
assistentes sociais nas mais variadas esferas de atuação. Assim, nesse
conteúdo inicial, foram abordados alguns conceitos, como o de diário de
campo, o estudo social, o laudo social, o parecer social, os relatórios sociais,
além das visitas domiciliar e a de inspeção ou institucional.
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