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ÉTICA NA EDUCAÇÃO

Equipe de Elaboração
Instituto Mineiro de Formação Continuada

Coordenação Geral
Ana Lúcia Moreira de Jesus

Gerência Administrativa
Marco Antônio Gonçalves

Professor-autor
M.ª Jéssica de Freitas Lopes

Coordenação de Design Instrucional do Material Didático


Eliana Antonia de Marques

Diagramação e Projeto Gráfico


Cláudio Henrique Gonçalves

Revisão
Ana Lúcia Moreira de Jesus
Mateus Esteves de Oliveira

ZAYN –Instituto Mineiro de Formação


Continuada

Travessa Antônio Olinto, 33 – Centro

Carmópolis de Minas – MG

CEP: 35.534-000

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Ética na Educação
Boas-vindas

Olá!

É com grande satisfação que o ZAYN – Instituto Mineiro de Formação


Continuada agradece por escolhê-lo para realizar e/ou dar continuidade aos seus
estudos. Nós do ZAYN estamos empenhados em oferecer todas as condições para
que você alcance seus objetivos, rumo a uma formação sólida e completa, ao longo do
processo de aprendizagem por meio de uma fecunda relação entre instituição e aluno.

Prezamos por um elenco de valores que colocam o aluno no centro de nossas


atividades profissionais. Temos a convicção de que o educando é o principal agente
de sua formação e que, devido a isso, merece um material didático atual e completo,
que seja capaz de contribuir singularmente em sua formação profissional e cidadã.
Some-se a isso também, o devido respeito e agilidade de nossa parte para atender à
sua necessidade.

Cuidamos para que nosso aluno tenha condições de investir no processo de


formação continuada de modo independente e eficaz, pautado pela assiduidade e
compromisso discente.

Com isso, disponibilizamos uma plataforma moderna capaz de oferecer a você


total assistência e agilidade da condução das tarefas acadêmicas e, em consonância,
a interação com nossa equipe de trabalho. De acordo com a modalidade de cursos on-
line, você terá autonomia para formular seu próprio horário de estudo, respeitando os
prazos de entrega e observando as informações institucionais presentes no seu
espaço de aprendizagem virtual.

Por fim, ao concluir um de nossos cursos de pós-graduação,


segunda licenciatura, complementação pedagógica e capacitação profissional,
esperamos que amplie seus horizontes de oportunidades e que tenha aprimorado seu
conhecimento crítico a cerca de temas relevantes ao exercício no trabalho e na
sociedade que atua. Ademais, agradecemos por seu ingresso ao ZAYN e desejamos
que você possa colher bons frutos de todo o esforço empregado na atualização
profissional, além de pleno sucesso na sua formação ao longo da vida.

Ética na Educação
“É necessário cuidar da ética para
não anestesiarmos a nossa
consciência e começarmos a achar
que tudo é normal.”

Mario Sergio Cortella

Ética na Educação
ÉTICA NA
ZAYN
EDUCAÇÃO

EMENTA: CONTEÚDO PROGRAMÁTICO


Na disciplina Ética na Educação será - Introdução: Conceituando a ética
estudado o conceito de ética; as 1. Relações entre ética e moral
relações entre ética e moral; 2. Ética na educação
considerações sobre a ética na 3. A escola formadora de indivíduos
educação; a escola enquanto 4. Formação na família que antecede
formadora de indivíduos; a formação a escola
na família que antecede a escola e 5. Relação professor e aluno:
sua importância para o indivíduo; educação ética
relação professor e aluno na 6. Três dimensões do ato pedagógico
promoção da ética na educação e a - Atividades
importância das três dimensões do - Leitura Complementar
ato pedagógico: ética, axiológica e - Referências
epistemológica.

Organização do conteúdo:
Prof.ª M.ª Jéssica de Freitas Lopes

Ética na Educação
CARACTERIZAÇÃO DA DISCIPLINA
Curso:
Disciplina: Ética na educação

EMENTA

Na disciplina Ética na Educação será estudado o conceito de ética; as relações


entre ética e moral; considerações sobre a ética na educação; a escola
enquanto formadora de indivíduos; a formação na família que antecede a
escola e sua importância para o indivíduo; relação professor e aluno na
promoção da ética na educação e a importância das três dimensões do ato
pedagógico: ética, axiológica e epistemológica.

OBJETIVOS

Refletir sobre a ética na educação, bem como as relações entre educadores e


educandos para a promoção de tal.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

- Introdução: Conceituando a ética

1. Relações entre ética e moral

2. Ética na educação

3. A escola formadora de indivíduos

4. Formação na família que antecede a escola

5. Relação professor e aluno: educação ética

6. Três dimensões do ato pedagógico

- Atividades

- Leitura Complementar

- Referências

SUMÁRIO

Ética na Educação
Introdução: Conceituando a ética 07
1. Relações entre ética e moral 07
2. Ética na educação 08
3. A escola formadora de indivíduos 08
4. Formação na família que antecede a escola 09
5. Relação professor e aluno: educação ética 10
6. Três dimensões do ato pedagógico 11
Atividades 12
Leitura Complementar 14
Referências 24

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ÉTICA NA EDUCAÇÃO

Introdução: conceituando a ética

A ética pode ser considerada a busca pela felicidade como a recompensa de


um esforço constante do ser humano, sendo este o que há de mais valioso na vida
dos indivíduos e dos povos. Neste caso, é de extrema importância investigar sobre o
que é bom e o que é mau para alcançar a felicidade. No cotidiano em que vivemos
essa busca já se tornou muito comum, embora pareça impossível, pois a cada
momento a idealização dessa felicidade muda, ou porque o objetivo já foi alcançado
e já existem outros desejos (COMPARATO, 2006).

Caetano e Silva (2009) afirmam que a ética gira em torno de princípios e


valores, o que orienta a ação do estabelecimento de regras para o bem. Ou seja, ter
ética pode significar ser bom.

Para Vasquez (1992, p.2) ética “é um comportamento pautado por normas,


em que consiste o bom - visado pelo comportamento moral, do qual faz parte o
procedimento do indivíduo concreto ou o de todos”.

1- Relações entre ética e moral

No Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, ética e moral são “o estudo dos


juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação
do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade,
seja de modo absoluto” (p.300; p.471).

A ética apresenta caráter teórico e a moral é um conjunto de normas e


condutas adequadas ao comportamento humano em meio à sociedade. A moral
institui princípios de vida capazes de orientar os indivíduos homem para ações
moralmente corretas. O homem é um ser moral, um ser que avalia sua ação a partir
de valores para designar as regras e princípios legitimados ou determinados
individualmente (RENGEL e GUAZZELLI, s/d).

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2- Ética na educação

É um grande desafio nas redes escolares contribuir para a formação moral e


ética dos educandos enquanto cidadãos. É necessário que, na educação, seja
construída e problematizada a participação do indivíduo na vida pública e na
sociedade no geral. Isso reflete a consciência de realidades, conflitos, interesses
individuais e sociais, o conhecimento de mecanismos de controle e defesa de
direitos, a noção dos limites e das possibilidades de ações individuais e coletivas
(RENGEL e GUAZZELLI, s/d).

De acordo com Benedetti e Urt (2008) existem características individuais,


sociais e ambientais, que contribuem para moldar a personalidade ou definir
comportamentos, sobretudo a qualidade dos relacionamentos humanos.

De acordo com Freire (1996), a escola apresenta o papel fundamental de


potencializar e sensibilizar o comportamento ético e civil de seus educandos que são
indispensáveis para uma boa convivência e participação ativa na sociedade.
Portanto, o espaço escolar deve ser envolvido pelo respeito às diversas diferenças.

3- A escola formadora de indivíduos

As crianças estão chegando cada vez mais cedo na escola e nela


permanecerão por um longo tempo de suas vidas. Cada vez mais a Escola exercerá
ou deveria exercer um papel que a ela jamais foi atribuído nos tempos passados: o
de ser a instituição formadora dos seres humanos (RODRIGUES, 2001).

Assim, cabe a ela formar cidadãos conscientes, o ensino não pode alienar as
pessoas. Os educandos devem ser formados para pensar e questionar e não para
aceitar o que a sociedade impõe.

Por isso se faz necessário estar sempre atento à qualidade no que diz
respeito ao papel do educador que reflete na formação educacional desde o primeiro
contato com a instituição (RENGEL e GUAZZELLI, s/d). O educador e suas relações

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com os educandos são de extrema importância para a formação cidadã dos


estudantes.

4- Formação na família que antecede a escola

Fonte: imagem retirada da internet

A escola estabelece a cidadania, é o lugar onde as crianças deixam de


pertencer exclusivamente à família para integrarem-se numa comunidade mais
ampla em que os indivíduos estão reunidos não por vínculos de parentesco ou de
afinidade, mas pela obrigação de viver em comum. Onde todos vivem sob as
mesmas regras e precisam aprender a respeitá-las (CANIVEZ, 1991).

Nessa mesma perspectiva, a escola apresenta a importante função de


contribuir para fortalecer a democracia. É o compromisso com a democratização de
suas práticas que contribui para que ela seja, de fato, um espaço público, e a
configura como um local que reconhece a necessidade do respeito à percepção do
outro e do seu modo de existir (RENGEL e GUAZZELLI, s/d).

Tanto a família como a escola devem ser responsáveis pela formação dos
indivíduos. Para melhores resultados ambas deveriam seguir sempre juntas em prol
da cidadania, formação e ética. É no cunho familiar que se inicia o processo de
formação cidadã. Muitas vezes a família é permeada por conflitos e relações
dificultosas, o que irá influenciar a formação do indivíduo também dentro da escola.

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5- Relação professor e aluno: educação ética

A relação professor-aluno implica conceber a educação como um processo


que contribui para um duplo processo: pensar um projeto plural de sociedade e
refletir a respeito do ser humano e das possibilidades que ele tem para se
transformar do que é para o que poderá vir a ser. Afinal, essas são dimensões que
se alimentam constantemente, visto que homem e educação criam-se
simultaneamente (SOUSA, s/d).

Para ser significativa, a aprendizagem ocorre mediante a criação, pelo


educador, de determinadas condições que ajudem o aluno na aprendizagem e
produção de conhecimentos. Tal processo implica que o trabalho do professor vá
além da transmissão de informações e conhecimentos, é preciso sensibilidade. Por
exemplo: ao fazer perguntas e ouvir os alunos, o educador cuida para que os
educandos possam expressar suas ideias, dar opiniões e construir conceitos
próprios. Sob esse ângulo, o seu trabalho desencadeia nos educandos reações
diversas, ao mesmo tempo em que nega o caráter tradicional de sua atuação
pedagógica (SOUSA, s/d).

Para o exercício da ética, educadores e educandos devem se encontrar como


aprendizes e conduzirem práticas pedagógicas que levem em consideração os
saberes e não-saberes uns dos outros.

A relação professor-aluno precisa assumir um caráter dialógico e


emancipatório. Portanto, é fundamental que essa relação gere um clima de liberdade
que, de fato, combata o vínculo de dependência e poder que, tradicionalmente, veio
se manifestando no aluno em relação ao professor (SOUSA, s/d).

Os educandos precisam encontrar apoio nos professores, mas não devem


considerá-los donos de saberes. E educandos devem respeitar seus educadores e
construírem juntos o conhecimento e maneiras de vencer possíveis dificuldades.

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6- Três dimensões do ato pedagógico

De acordo com Sousa (1999, p.23) na relação professor-aluno é importante


considerar que o ato pedagógico apresenta três dimensões complementares entre
si:

 Dimensão axiológica

Implica considerar que o ser humano deve ter sua expressão assegurada
integralmente, visto que a educação deve assumir a tarefa de propiciar o seu
desenvolvimento de forma gradativa [...] devemos evitar abrir mão dessa
integralidade dos valores educacionais, sob pena de fragmentarmos a ação
pedagógica (p. 23).

 Dimensão epistemológica

O professor deve evitar cair tanto em dogmatismo quanto em relativismos


pouco fundamentados e acríticos que possam vir a banalizar a discussão dos
conteúdos, bem como o seu próprio processo formativo como profissional da
educação (p. 23).

 Dimensão – ética

Sempre que alguém reconhece um conhecimento ético relacionado com os


valores morais [...] estabelece-se entre esse saber e o sujeito uma relação que é
instalada não a partir de uma votação democrática, mas de um compromisso de
natureza pessoal (p.23).

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ATIVIDADES

1-

Disserte em 10 linhas sobre a relação da imagem com o tema: “Ética na Educação”.

2- Cite as três dimensões pedagógicas abordadas na apostila e escreva o que


você compreendeu sobre elas.

3- Qual é a importância da relação professor-aluno no contexto da ética na


educação?

4- A formação familiar é vista como base da formação escolar. Você concorda


com essa afirmação? Justifique a sua resposta.

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5- Você concorda que a escola é formadora de indivíduos? Ela tem formado


adequadamente os educandos?

6- Para você qual é a relação entre ética e moral?

7- “A dimensão ética da relação professor-aluno merece especial atenção,


notadamente quando se parte da premissa que o professor é um profissional
que, ao invés de meramente transmitir saberes, é responsável pela mediação
entre o conhecimento e o educando, o que se dá por meio de sua prática
pedagógica.”

Com base no fragmento como deve ser a postura do educador para a


construção da ética na educação?

8- O que é ética para você?

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LEITURA COMPLEMENTAR

ÉTICA E EDUCAÇÃO: QUE RELAÇÃO É ESTA?

José Vieira de Sousa

Introdução

Ao longo dos séculos, a importância da ética no processo formativo dos


indivíduos tem sido objeto de discussão de muitos filósofos, educadores e teóricos
de diversas áreas do conhecimento. Particularmente, nos últimos anos, esse debate
tem se intensificado, por vários motivos, merecendo aqui destacar dois deles. Um é
natureza mais geral, e diz respeito às profundas transformações sofridas pela
sociedade contemporânea, nos mais variados setores da vida humana. O segundo
refere-se ao desafio de a educação formar indivíduos que sejam, ao mesmo tempo,
reflexivos e autônomos, porém sem a perda dos laços de solidariedade social.
Esses dois fatores têm concorrido para ampliar reflexão sobre a relação ética
e educação, considerando que o caráter social desta última, acaba por configurá-la
em um processo por meio do qual se dá o próprio processo de constituição dos
humanos. Nessa perspectiva, a educação contribui para que os homens construam
suas relações buscando referência nos valores defendidos na vida social, os quais
ganham consistência em contextos sócio-históricos específicos.
Por sua vez, a escola é a instituição social que, no mundo moderno, assume
um duplo compromisso: trabalhar a sistematização, transmissão e (re)construção
dos saberes historicamente produzidos, e promover a formação ética dos indivíduos,
na perspectiva da construção e consolidação da cidadania plena. Em função disso, a
dimensão ética da relação professor-aluno merece especial atenção, notadamente
quando se parte da premissa que o professor é um profissional que, ao invés de
meramente transmitir saberes, é responsável pela mediação entre o conhecimento e
o educando, o que se dá por meio de sua prática pedagógica.
Considerando o exposto, o objetivo do presente artigo é analisar a relação
entre ética e educação, ressaltando elementos que concorram para sua

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compreensão em dois contextos interdependentes – educação concebida como


prática social e educação formal, desenvolvida no interior da instituição escolar.

Sentido e alcance da educação como prática social

Do ponto de vista etimológico, a palavra latina educare é a raiz do vocábulo


educação, e significa o ato de alimentar ou criar. Nesse sentido, educação pode ser
compreendida apenas como instrução ou mera aquisição de informações (alimentar
o outro com informações), sem uma reflexão crítica do conhecimento acumulado.
Em uma segunda acepção, educação significa a formação integral do ser
humano (educere) sendo, assim, o processo que indicaria o pleno desenvolvimento
das potencialidades do homem. Esse outro sentido implica considerar o educando
como um sujeito ativo que faz parte de determinado grupo social, e que acumula,
sistematiza e reelabora conhecimentos, levando em conta as relações que
estabelece com os demais membros desse mesmo grupo. Nessa perspectiva, a
educação pode ser concebida como uma prática social que ocorre em um contexto
histórico, de forma relacionada à maneira como os homens produzem sua própria
existência, possuindo múltiplos sentidos e alcances para o indivíduo e a coletividade.
De fato, nenhum indivíduo escapa da educação, pois ela ocorre em todos os
espaços sociais, sendo um deles o escolar. Assumindo um real significado para os
grupos humanos que o vivenciam, a educação revela um caráter eminentemente
social, considerando o contexto no qual se realiza. Nessa lógica, ela “[…] é um dos
principais meios de realização de mudança social ou, pelo menos um dos recursos
de adaptações das pessoas, em um mundo em mudança […]”. (BRANDÃO, p. 23)
Também é relevante destacar que, como prática social, a educação sempre
está fundada em uma visão de mundo, de conhecimento, e de homem. Essa visão
assume um caráter transformar ou não frente à realidade social, o que acaba por
influenciar diretamente o processo formativo dos indivíduos. Assim, sempre há uma
intencionalidade na prática pedagógica, bem como nas ações de professores e
alunos. Essas ações são orientadas por concepções que se originam em função de
determinados condicionantes de natureza política, econômica, social, cultural etc.
Mergulhado em avanços tecnológicos e científicos de grande alcance, a
sociedade contemporânea é marcada por perplexidades e incertezas diversas.
Todavia, paradoxalmente, essa mesma sociedade convive com um expressivo

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crescimento de problemas graves, como, por exemplo, fome e miséria que


avassalam continentes e regiões bastante diferenciadas do planeta. Neste contexto,
cabe perguntar: O significa educar? Que valores éticos devem ser defendidos em
um mundo que, de repente, ficou pequeno e globalizado, considerando o avanço do
conhecimento e suas repercussões sobre a vida das pessoas?
Perguntas como essas reforçam a convicção de que, no mundo atual, a
educação vê-se diante de diversos problemas, frente aos quais precisa se posicionar
de forma crítica. Dentre esses problemas, merecem destaque a formação para a
cidadania plena, a necessidade do respeito à diversidade cultural, a democratização
tanto da sociedade quanto do próprio espaço escolar e o combate à violência.
Particularmente, em relação ao último item, Chauí (2000) enfatiza que os atos
de violência cometidos contra os homens caracterizam-se como ações que retiram
dos indivíduos sua autonomia, coisificando-os, desumanizando-os. Situando o
debate no âmbito da formação cultural brasileira, a autora ressalta que nossa
sociedade revela também diversas formas de violência simbólica, sendo

[...] marcada pela estrutura hierárquica do espaço social que


determina a forma de uma sociedade fortemente verticalizada em
todos os seus aspectos: nela, as relações sociais e intersubjetivas
são sempre realizadas como relação entre um superior, que manda,
e um inferior, que obedece. As diferenças e assimetrias são sempre
transformadas em desigualdades que reforçam a relação mando-
obediência. O outro jamais é reconhecido como sujeito nem como
sujeito de direitos, jamais é reconhecido como subjetividade nem
como alteridade. (p. 89).

Considerando esse cenário, é fundamental que as políticas públicas definidas


para a educação, no país, invistam, cada vez mais, em ações que estabeleçam e
consolidem a relação educação e cidadania, bem como em outros temas a ela
relacionados como democracia, justiça, solidariedade e autonomia.
Dentre as várias questões que circundam a discussão sobre a formação para
a cidadania, duas merecem destaque: O que é cidadania? Como formar um
cidadão? Para a primeira pergunta, podemos sinalizar, ainda que provisoriamente,
que cidadania é algo complexo, que vai além da mera formalidade: trata-se, na
verdade, de um processo político. Quanto à segunda pergunta, Coutinho (1994) nos
esclarece que, para formar um cidadão, a educação precisa atualizar “[...] todas as

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possibilidades de realização humana abertas pela vida social em cada contexto


historicamente determinado” (p. 2).
No Brasil, do ponto de vista legal, a formação para a cidadania é um dos
princípios e fins da educação nacional. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – Lei 9.394/96 – trata a questão nos seguintes termos:
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.

Na perspectiva filosófica de Kant (1985), a autonomia dos sujeitos


corresponde à conquista da sua maioridade intelectual e moral. É por meio de uma
consciência autônoma, que os indivíduos sabem resolver problemas diversos,
desenvolvendo uma reflexão própria. Para tanto, é preciso utilizar conhecimentos e
não apenas informações, e apoiar-se em princípios éticos e não apenas em
vivências que, muitas vezes, podem não traduzir os valores morais do coletivo.
Sem dúvida, toda educação exige, em alguma medida, o diálogo entre os
sujeitos que realizam. Assim, a ética torna-se indispensável, sobretudo, porque pode
contribuir para o processo de humanização dos homens, considerando os valores
que norteiam suas condutas. Dessa questão trataremos no próximo item do texto.

Natureza e alcance da ética para a educação: negociando entendimentos

Toda ação humana é baseada em determinados valores que, por sua vez,
estão estreitamente relacionados aos interesses que movem os atos de cada
indivíduo. Essa premissa leva ao reconhecimento de que a ética precisa estar
permanentemente presente nas práticas da escola! Para tanto, é fundamental que
todos os educadores questionem o sentido de suas ações em sua prática
pedagógica, afinal a ética não se ensina de forma isolada como uma disciplina
qualquer. Ao contrário, ela perpassa todos os componentes curriculares, mostrando-
se nas atitudes dos docentes e dos outros indivíduos que vivenciam a escola.
Todavia, uma compreensão mais contextualizada da questão ora levantada
supõe a discussão, ainda que breve, do que podemos entender por ética, bem como
de sua natureza e alcance em relação ao fenômeno educativo.

Ética na Educação
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Ainda que não seja intenção deste texto proceder á uma “arqueologia teórica”
do conceito de ética, é fundamental registrar que a ética começa a ser discutida
ainda no mundo grego. Contudo, para os interesses do presente trabalho esse
conceito será focalizado de forma associada a outro que lhe é complementar,
quando se discutem as ações humanas – a moral. Tal reflexão é necessária para, no
item seguinte, discutirmos a dimensão ética na relação professor-aluno.
Na verdade, tanto a ética quanto a moral vêm sendo objeto de discussão dos
diversos ramos das ciências humanas e da filosofia. Particularmente, no campo
desta última, é grande o volume de obras produzidas a respeito, desde os filósofos
gregos até os dias atuais. Apesar disso, é muito comum, na vida cotidiana, serem
igualados os significados de ética e moral. Todavia, é preciso distinguir esses
conceitos, visto que ambos, em uma análise mais cuidadosa, não são sinônimos.
De fato, algumas palavras possuem um alcance polissêmico considerável.
Dentre elas, está a ética que, muitas vezes, é vista como uma “[...] daquelas coisas
que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando
alguém pergunta” (VALLS, 1993, p. 7). Mas é preciso lembrar, também, que ética é
um vocábulo a ser interpretado levando em conta a cultura na qual é invocado.
No plano etimológico, ética é "o estudo dos juízos de apreciação referentes à
conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja
relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto". (FERREIRA, 1995,
p. 280).
Aprofundando a etimologia dessa palavra, cabe registrar que ética deriva do
grego ethos, que quer dizer o modo de ser, o caráter. Todavia, o mundo romano
traduziu o ethos grego para o latim mos, moris, cujo significado é costume, do qual
se originou a palavra moral. Nessa perspectiva, as duas palavras sinalizam um tipo
de conduta – o comportamento propriamente humano, que não é natural. Em função
disso, a ética é histórica e socialmente construída, tomando como referência as
relações coletivas dos humanos.
Todavia, é importante um exame mais detalhado da natureza e do alcance
dos dois termos mencionados, especialmente quando desejamos associá-los à
educação. De acordo com Vázquez (1980), a ética corresponde à preocupação na
maneira como os indivíduos tornam legítimas suas relações sociais, o que a
caracteriza como uma reflexão crítica a respeito dos atos morais dos sujeitos,

Ética na Educação
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considerando determinada realidade. Para o autor, trata-se de algo conquistado e


adquirido pelo hábito, no sentido de universidade do comportamento humano.

Em decorrência de um contexto social, político, econômico e cultural,


a ética é universal, possibilitando o estabelecimento de um código
regulador de condutas para todos os indivíduos que compõem certo
grupo social. Nesse sentido, o código estabelecido pela ética é
relativo ao contexto no qual os sujeitos éticos vivem e praticam suas
ações de caráter moral. Em síntese, a ética pode iluminar a
consciência do homem, fundamentando e dirigindo suas ações, no
plano individual e social. (SOUSA, 2007, p. 226).

A ética pode ser compreendida, portanto, como uma crítica reflexiva a


respeito da moral que orienta a conduta humana. Sob esse ângulo, sua principal
função é problematizar as atitudes, bem como as finalidades e os valores que
orientam a ação do homem. Portanto, a ética situa-se no campo dos princípios
morais e dos valores que orientam os homens em suas ações, tomando como
referência outros indivíduos de determinada sociedade. Sendo um produto histórico
social, a ética ilumina a consciência humana, à medida que “[...] sustenta e dirige as
ações do homem, norteando a conduta individual e social [...] e define o que é
virtude, o que é bom ou mal, certo ou errado, permitido ou proibido, para cada
cultura e sociedade.” (SOUZA, 1995, p. 187)
Devido ao seu alcance para a conduta humana, a ética tem figurado como um
grande eixo aglutinador de discussões de um considerável número de teóricos
vinculados às mais variadas áreas do conhecimento. Do ponto de vista sociológico,
por exemplo, uma importante contribuição vem de Weber (1991) para quem, na
conduta dos humanos, há duas éticas que estabelecem, entre si, uma relação de
antinomia – ética da responsabilidade e ética das finalidades.
De acordo com o autor, podemos compreender a ética da responsabilidade
como sendo aquela que leva os humanos a orientarem suas condutas, refletindo
sobre possíveis repercussões das atitudes que possam vir a tomar em determinado
contexto social. Embora não regule a conduta do homem comum, mas do homem
político, essa ética suscita nos indivíduos a reflexão em torno da relação meio-fins e
chama o homem à responsabilidade de fazer uma previsão do que pode decorrer de
suas decisões. Nessa dimensão ética, o sujeito social modela seus atos e “[...] age
sempre tendo outros sujeitos em mente, à medida que precisa imprimir uma

Ética na Educação
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intencionalidade às suas ações; ao levar o outro em consideração, realiza, portanto,


uma ação refletida.” (SOUSA, 2007, p. 237)
O segundo tipo – ética das finalidades – ganha consistência e visibilidade em
relação ao homem comum, levando-o a agir conforme seus sentimentos e valores, o
que muitas vezes implica ações dotadas de certa ingenuidade. Portanto, ao utilizar-
se dessa ética, o homem não mede muito as consequências dos seus atos, nem
tampouco a coerência e adequação dos meios que pode utilizar para obter certos
resultados, considerando as relações que estabelece com os outros indivíduos. Por
isso, nessa postura prevalece a noção de eficácia e não o caráter refletido da própria
ética.
Também é relevante considerar que toda reflexão ética e moral possui uma
historicidade. Vázquez (1980) explicita a relação entre ambas nos seguintes termos:

A moral não é ciência, mas objeto da ciência; e, neste sentido, é por


ela estudada e investigada. A ética não é a moral e, portanto, não
pode ser reduzida a um conjunto de normas e prescrições; sua
missão é explicar a moral efetiva [...] A ética pode servir para
fundamentar uma moral, sem ser em si mesma normativa ou
preceptiva. (p. 13).

Sob esse ângulo, o caráter de reflexividade assegura à ética uma posição


acima da moralidade. Assim, a ética é a reflexão crítica a respeito da moral, à
medida que busca distanciar-se das ações para melhor analisá-las, embora preserve
com essas mesmas ações a necessária articulação, levando em conta os contextos
sociais nos quais elas são realizadas.
Então, em que se diferenciam ética e moral? Para Lalande (1993), a resposta
para esta questão implica considerar que “[...] historicamente a palavra ética foi
aplicada à moral sob todas as suas formas, quer como ciência, quer como arte de
dirigir a conduta”. (p. 348). Levando em conta essa ideia, o autor define a ética como
uma ciência cujo objeto de estudo corresponde aos juízos de apreciação a respeito
do conjunto de atos humanos, considerados estes como bons ou maus. Essa é outra
ideia que contribui para o entendimento de porque a ética possui um caráter mais
genérico que a moral.
Todavia, por mais que possam ser tomadas como instâncias intercambiáveis
entre si, ética e moral são conceitos distintos. Ricoeur (1990) diferencia ambas nos
seguintes termos: “[...] é por convenção que reservarei o termo ética para a procura

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de uma vida boa e o de moral para a articulação entre esta perspectiva e as normas
caracterizadas ao mesmo tempo pela pretensão à universalidade e por um efeito de
coação.” (1990, p. 200)
Para Lalande (1993), a moral corresponde ao conjunto de determinações de
comportamentos aceitos em uma época e sociedade. Assim, ela equivale a regras
que restringem a liberdade do indivíduo, caracterizando-se como um campo no qual
são estabelecidos os valores que dizem respeito ao bem e ao mal, ao desejável e ao
indesejável em termos de comportamento dos indivíduos.
A ética efetivamente contribui para o convívio da pluralidade nos vários
espaços públicos, dentre os quais se destaca a instituição escolar. Nesse nível de
entendimento, cabe perguntar: como a escola pode contribuir, na sociedade
contemporânea, para a formação ética dos indivíduos, desenvolvendo valores como,
por exemplo, justiça, solidariedade e autonomia?
A resposta a essa pergunta, certamente não é fácil e rápida. Todavia, no
mundo globalizado, cresce substantivamente a importância e responsabilidade da
escola com a formação integral dos indivíduos e, portanto, com a dimensão ética
dos sujeitos. Considerando essa ideia, a escola é um espaço extremamente
favorável para a construção e formação ética dos indivíduos.

Mesmo com limitações, a escola participa da formação moral de seus


alunos. Valores e regras são transmitidos pelos professores, pelos
livros didáticos, pela organização institucional, pelas formas de
avaliação, pelo comportamento dos próprios alunos, e assim por
diante. [...] Isso significa que essas questões devem ser objeto de
reflexão da escola como um todo, ao invés de cada professor tomar
isoladamente suas decisões. Daí a proposta de que se inclua o tema
ética nas preocupações oficiais da educação. (RIOS, 2002, p. 70)

Por outro lado, é preciso compreender que a escola está inserida em uma
realidade que a influencia e, ao mesmo tempo, é influenciada por ela. Nessa
realidade, diversos problemas fazem-se presentes, como, por exemplo, diversas
formas de violência – agressões, consumo de drogas, ameaças, preconceitos e
discriminações contra as diferenças culturais, desrespeito aos direitos humanos dos
vários segmentos que a compõem (professores, alunos, funcionários técnico
administrativo, pessoal de apoio, pais). Além disso, há uma gama de situações que,
frequentemente, acabam por afrontar a dimensão ética da formação dos indivíduos.
Em nossas escolas não é diferente, por isso discutir

Ética na Educação
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[...] ética hoje, na sociedade brasileira, constitui um desafio, porque,


ao mesmo tempo que vemos os indivíduos se referirem a ela com
frequência, percebemos uma descrença em relação à possibilidade
de sua interferência. Na medida em que por todo lado verificamos
ações que rompem com a dignidade humana, parece não ter sentido
reclamar a presença da ética. [...] Na verdade, é por essa razão
mesmo que temos necessidade de buscá-la. É ela que, ao ter no
horizonte o bem comum e a dignidade humana, exige que estejam
presentes o respeito mútuo, a justiça, a solidariedade, o diálogo,
bases de construção da cidadania. (RIOS, 2002, p. 68)

Com efeito, a dimensão ética da educação contribui para formar e construir o


indivíduo, além de lhe permitir perceber-se como um membro do grupo social. Por
esse motivo, a ética não pode ser reduzida ao campo da teorização a respeito do
agir moral. Ao contrário, ela é algo extremamente prático que preserva estreita
relação com a ação dos sujeitos na sociedade, em seus diferentes contextos –
político, social, econômico, cultural, educacional etc. Em função disso, a ética acaba
assumindo efetivamente um caráter eminentemente coletivo e não individual.
Diante desse cenário, trazer a ética para a educação escolar impõe aos
educadores vários desafios, como, por exemplo, desenvolver a capacidade de
distinguir os limites que assegurem a coexistência de valores que traduzam a
diversidade das culturas e dos indivíduos, bem como reconhecer e administrar os
conflitos que possam decorrer da convivência dessas diferenças. Outros desafios
dizem respeito a promover uma educação ética que ensine os educandos a
combater preconceitos e discriminações de naturezas diversas, e abrir-se ao diálogo
com valores diferentes daqueles presentes em seu meio social. Para tanto, o
educador precisa assumir um compromisso que articule conhecimento científico e
consciência político-social na prática educativa, como nos alerta Freire (1996):

O preparo científico do professor ou da professora deve coincidir com


sua retidão ética. É uma lástima qualquer descompasso entre aquela
e esta. Formação científica, correção ética, respeito aos outros,
coerência, capacidade de viver e aprender com o diferente, não
permitir que o nosso mal-estar pessoal ou a nossa antipatia com
relação ao outro nos façam acusá-lo do que não fez, são obrigações
a cujo cumprimento devemos humilde mas perseverantemente nos
dedicar. (p. 16)

De fato, a formação ética dos indivíduos na escola exige um novo


relacionamento entre professor e aluno, de forma a ocorrer o reconhecimento e a

Ética na Educação
23

legitimidade da ética no processo educativo. Por isso, mais do que ensinar conceitos
e valores como cidadania, crítica, democracia, solidariedade e respeito, é preciso
que os atores vivenciem e compartilhem tais valores no ambiente escolar. Este pode
ser o caminho para que ocorram atitudes transformadoras no espaço escolar.

Texto completo disponível em:

http://servicos.catolicavirtual.br/conteudos/graduacao/disciplinas/cursos_virtuais/etic
a/html/uea_01/leituras/artigo_etica_e_educacao.pdf

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Referências

BENEDETTI, Ieda; URT, Sônia da Cunha. “Escola, ética e cultura contemporânea:


reflexões sobre a constituição do sujeito que 'não aprende'". Psicologia da
Educação, n. 27, p. 141-155, 2008.

CAETANO, Ana Paula; SILVA, Maria de Lurdes. Ética profissional e Formação de


Professores. 2009.
CANIVEZ, Patrice. Educar o cidadão? São Paulo: Papirus, 1991.
COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. São
Paulo: Companhia das Letras, 2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática docente.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.
RENGEL, Patrícia; GUAZZELLI, Carolina Torres. Reflexões sobre a ética na
educação. S/d.
SOUSA, José Vieira. Ética e educação: que relação é esta? s/d. Disponível em:
http://servicos.catolicavirtual.br/conteudos/graduacao/disciplinas/cursos_virtuais/etic
a/html/uea_01/leituras/artigo_etica_e_educacao.pdf acesso em 18 de agosto de
2017.
SOUSA, José Vieira. Os sujeitos sociais, éticos e políticos e suas relações sociais.
Curso de Pós-Graduação/Especialização Fundamentos Educacionais para a
Formação de Recursos Humanos da Polícia Federal, Brasília - DF: FE/UnB, v. 4, p.
45-76, 1999.
VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Civilização Brasileira, 1992.

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