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Gabriel Fontenelle Micas Psicólogo 30/03/2020

Residência de Saúde Mental do Adulto ESCS/FEPECS

Resenha Tutorial

Objetivos – Tutor
1. Conhecer as características do hospital como instituição de assistência aos pobres e
necessitados;
2. Analisar as condições históricas que possibilitaram a transformação do hospital em
instituição médica;
3. Reconhecer a importância do hospital no desenvolvimento e na reprodução do saber e
da prática médica contemporâneos;
4. Entender o que Foucault chama de terceira ordem da repressão, grande
enclausuramento e disciplina;
5. Conhecer quais são os métodos das ciências naturais que os médicos utilizaram no
hospital;

4- Segundo Amarante (1998). o Grande Enclausuramento está relacionado ao contexto


marcado pela ética do trabalho, um antídoto contra a pobreza. Se deu pela necessidade de
ordenação do espaço público, abrigava todo tipo de indivíduos marginais às classes
hegemônicas. Prostitutas, libertinos, sifilíticos, doentes venéreos, desafetos do Rei, doentes
moribundos, mendigos, andarilhos, loucos, desordeiros. Porém loucura não é doença.
Buscava-se eliminar a desordem e impor a ordem pública. De acordo com o nascimentos das
cidades. Isso vem diante da grande migração do campo ao ambiente urbano. Isso se dá
também pela insalubridade, doenças e excessos de população. Tem o fim com o Ato de Pinel.

Segundo REVEL & FOUCAULT (2005), disciplina: regime disciplinar se caracteriza por técnicas
de coerção, esquadrinhando tempo, espaço e movimento dos indivíduos. Impõe-se uma
relação de docilidade-utilidade, encontram-se em conventos, forças armadas. Torna mais
obediente quanto mais útil ele for. Arquitetura caracterizada por enclausuramento e pela
repressão de indivíduos; e o abrandamento do funcionamento do poder.

Terceira ordem da repressão: instituição assistencial situada entre polícia e justiça, não tem a
ver com questões da loucura, porém com a exclusão de indivíduos considerados perigosos
porque associais. Lugar de pobres e ociosos, e a obrigação do trabalho tem valor de exercício
ético e garantia moral. Agrupamento do que é o outro, diferente, estrangeiro aos olhos da
razão e moral. QUAL A DIFERENÇA DISSO E GRANDE ENCLAUSURAMENTO?

1- Segundo Amarante (1998), o hospício tem uma função que se resume a hospedaria, de
recolhimento para todo tipo de marginal: leprosos, prostitutas, ladrões, loucos, vagabundos e
todos aqueles que simbolizam uma ameaça à lei e à ordem social. Não se possui uma
conotação de medicalização, de natureza patológica. É a proteção e guarda dessas pessoas,
principalmente os loucos.
Porém o que marca essas figuras é a desrazão. Isso é um marco do Iluminismo, o primado da
razão, dessacralização do mundo. O trabalho como valor simbólico ressignifica a pobreza, e
inaugura num campo de negatividade, desordem moral e obstáculo a ordem social.

No período anterior ao século XVIII existe uma exigência de moralidade pública , o hospital
é um misto de casa de correção, caridade e hospedaria, onde há populações diferentes entre
si. Não está instalada a norma médica, há um imaginário de depósito de inadaptados ao
convívio social. Tem sua origem numa ordem social de exclusão/assistência/filantropia aos
abandonados e desafortunados.

2- Segundo Amarante (1998), na metade do século XVIII, a desrazão vai gradativamente


perdendo espaço e a alienação ocupa um lugar como critério de distinção do louco diante da
ordem social. A doença mental é seu objeto fundante. A característica do louco se
representante de risco e periculosidade social, inaugura a institucionalização da loucura pela
medicina e a ordenação do hospital. O saber psiquiátrico é um lugar de classificação do
espaço institucional, arranjo nosográfico das doenças mentais, imposição de uma relação
específica entre médico e doente: o tratamento moral. A noção de periculosidade social
aliada a doença mental cria o cruzamento entre medicina e justiça, e permite a interlocução
entre punição e tratamento. Essa relação tutelar se torna um pilar das práticas manicomiais.
Cria-se territórios de segregação e morte.

A figura do médico clínico surge com Pinel. Sua tecnologia estabelece a doença como
problema de ordem moral e sugere um tratamento da mesma forma. Ordena o espaço
diante das diferentes formas de alienados existentes, e postula-se o isolamento como pilar
fundamental para executar os regulamentos da disciplina interna e observação dos
sintomas para depois descrevê-los.

Pontua-se que a racionalidade dessa psiquiatria inaugural tem característica meramente


classificatória. Buscam-se os sinais e sintomas. Busca-se constituir nosografias. Gesto de
libertação das correntes os coloca acorrentados em objetos de saberes psiquiátricos.

Resumo: A instituição da medicina no hospital se dá por Pinel, através dos pilares da


primeira nosografia, organização do espaço asilar e o tratamento moral. Assim deixa de ser
uma instituição social e filantrópica, porém médica.

5- Isolamento do objeto de estudo, ou seja, isolamento do sujeito. Desenvolvimento de


nosografias e classificações nesse sentido. Visão biológica como referência. Modelo de
causalidade. Intermináveis discussões sobre organogesia versus psicogênese, enfermidade
de origem endógena versus exogeinidade, inato versus adquirido. Pretensão de
neutralidade e objetividade; e descoberta da essência dos distúrbios através das relações
de causalidade.

Referências
AMARANTE, Paulo (Ed.). Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil.
SciELO-Editora FIOCRUZ, 1998.

REVEL, Judith; FOUCAULT, Michel. Conceitos essenciais. Trad. Maria do Rosário Gregolin, Nilton
Milanez, Carlos Piovesani. São Carlos (SP): Claraluz, 2005.

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