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Filosofia

A Transição da Idade Moderna e a Ciência Política...

A TRANSIÇÃO DA IDADE MODERNA E A CIÊNCIA POLÍTICA: O


PODER EM MAQUIAVEL
Se no campo da ética o mais importante foi o rompimento com o ideal de
valores antigos e medievais, será na Política Moderna a elucidação da verdadeira
Ciência Política com um italiano de origem florentina, Nicolau Maquiavel.
A grande importância desse marco de pensamento está relacionado a análise
e a tendência do indivíduo às más paixões. Isso caracteriza uma moral mais secular,
laica, que permite que possamos analisar a política como ela realmente é, longe de
idealismos. Por esse motivo a política de Maquiavel é chamada de realista.
Descrevendo os bastidores do Poder, esse florentino se encontra no contexto
de fragmentação das Repúblicas italianas, dominadas por poderosas famílias
burguesas e por mercenários bem pagos. Vivendo intensamente a política foi capaz
de criar as razões que mostrassem ao governante a capacidade, a audácia e a
destreza para se manter no poder.
Ocupando o cargo da segunda Chancelaria de governo em Florença, Maquiavel
busca através de suas posições e status político demonstrar como funciona o poder
político na Itália e qual o modelo de governante ideal para perpetuá-lo. No entanto,
quando os Médici assumem o poder, o próprio Maquiavel cai em desgraça e dedica
sua obra-prima aos governantes que foram responsáveis pela sua deposição.
A princípio, a obra o Príncipe está carregada de metáforas e pode ser
compreendida como um manual para o povo se proteger das desventuras do
governante. Portanto, acima de tudo, o termo Maquiavélico tem de ser
desmistificado. Isso justamente porque o objetivo do governante não é a seu bel-
prazer desfrutar do poder e oprimir os pobres. Um Príncipe virtuoso é aquele que
consegue por quais meios necessários forem traçar suas estratégias para alcançar
um determinado fim. No entanto, implicitamente, Maquiavel demonstra uma forma
de desmascarar suas práticas despóticas, e buscando estabelecer um equilíbrio para
o governante se manter no poder. Nesse sentido, percebe-se um Maquiavel muito
mais voltado a tendências democráticas, que busquem o apoio do povo, o consenso
da população.
Para Maquiavel, os adjetivos a serem alcançados pelo governante devem levar
em consideração a virtú e a forturna; entendidas nesse contexto como a capacidade
do governante usar de artifícios para se manter no poder e se valer das ocasiões para
isso. Um exemplo bem contemporâneo no Brasil foi Getúlio Vargas, que soube usar
das qualidades enquanto líder nato e retirar disso situações, a fortuna, o acaso, a
sorte para se beneficiar em cima disso. Virtú, acima de tudo entendida aqui como
capacidade de agir conforme as destrezas e habilidades e fortuna como o momento

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A Transição da Idade Moderna e a Ciência Política...

certo para se valer de situações desfavoráveis mas retirando consequências


positivas.
A grande inovação de Maquiavel está no sentido de apresentar uma moral
muito mais consequencialista, lembra-se dela? O que Maquiavel propõe é, de fato,
percebermos não uma atitude amoralista, mas uma moral centrada nos valores que
são úteis a sociedade: capacitando o líder a perceber o bem da comunidade, mesmo
que para isso seja necessário o recurso ao mal (a guerra, a espionagem, a violência,
etc.). Isso nos permite concluir que a avaliação da moral, segundo os preceitos de
Maquiavel, nunca deve ser feita antes da ação política, segundo normas
determinadas a priori, mas a partir de resultado práticos observados na sobrevivência
da coletividade. Nessa lógica, Maquiavel não é um arrogante defensor da violência,
porém, o que se enfatiza é que as normas todas pela ação do líder devem ser
pensadas e elaboradas conforme as circunstâncias assim a permitirem.

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