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PODER E MANIPULAÇÃO

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Vítor Burity Silva

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PODER E MANIPULAÇÃO

Vítor Burity da Silva

Resumo

O poder e a manipulação são fenómenos presentes em


todas as esferas da vida humana, desde as relações
pessoais às relações políticas. Poder é a capacidade de
influenciar ou controlar os outros, enquanto a
manipulação é o uso de estratégias enganosas ou
coercitivas para obter vantagens ou benefícios. Neste
artigo, exploraremos algumas das lições mais
importantes retiradas de O Príncipe, de Maquiavel, um
clássico da filosofia política que trata do poder e da
manipulação. Veremos também como essas lições podem
ser aplicadas ao mundo moderno, com exemplos de
casos reais e atuais. Finalmente, vamos refletir sobre os
limites éticos e morais do uso do poder e da
manipulação, e como nos podemos proteger de pessoas
manipuladoras.
Palavras-chave: Maquiavel; O Príncipe; Política; Virtude;
Alimentação

Introdução

1
Poder e manipulação são temas que despertam a
curiosidade e o interesse de muitas pessoas, pois estão
relacionados à nossa capacidade de alcançar nossos
objetivos e lidar com os desafios e conflitos que surgem
em nosso caminho. Poder e manipulação também são
temas controversos, pois envolvem questões éticas e
morais sobre o que é certo ou errado, justo ou injusto,
legítimo ou ilegítimo.

Um dos autores mais famosos e influentes que abordou o


tema do poder e da manipulação foi Nicolau Maquiavel
(1469-1527), filósofo e político italiano que viveu na era
renascentista. Maquiavel escreveu um livro chamado O
Príncipe, no qual oferece conselhos práticos para
governantes que querem conquistar e manter o poder. O
livro é considerado um dos primeiros tratados de ciência
política da história, e também um dos mais controversos,
pois defende uma visão realista e pragmática do poder,
sem preocupação com princípios morais ou religiosos.

Neste artigo, apresentaremos 20 das mais valiosas lições


retiradas de O Príncipe, de Maquiavel, adaptado ao
mundo moderno. Essas lições podem nos ajudar a
entender melhor o funcionamento do poder e da
manipulação, e também desenvolver habilidades para
agir com mais segurança, ousadia e astúcia diante da

2
vida. No entanto, também discutiremos os riscos e as
consequências negativas do uso excessivo ou abusivo do
poder e da manipulação, tanto para nós como para os
outros. Por fim, vamos sugerir algumas maneiras de nos
defendermos de pessoas manipuladoras e de usar nosso
poder de forma responsável e ética.

Desenvolvimento

Lição 1: O Fim Justifica os Meios

A primeira lição que podemos aprender com Maquiavel


é que os fins justificam os meios. Isso significa que não
importa quais métodos são usados para atingir um
objetivo, desde que ele seja alcançado. Esta é uma das
frases mais famosas atribuídas a Maquiavel, embora ele
nunca tenha escrito exatamente essas palavras em seu
livro. O que ele escreveu foi:

"Os homens geralmente julgam mais pelos olhos do que


pelas mãos; porque todos podem ver, mas poucos podem
sentir. Todo mundo vê o que você parece ser; poucos
sentem o que você é; e estes poucos não ousam opor-se à
opinião de muitos" (Maquiavel, 2007, p. 97).

Esta frase revela a importância da aparência para


Maquiavel. Ele acreditava que os governantes deveriam

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se preocupar mais em parecer bons do que em ser bons.
Devem adaptar-se às circunstâncias e utilizar todos os
meios necessários para manter o seu poder e reputação.
Devem poder ser gentis ou cruéis, generosos ou
mesquinhos, leais ou traiçoeiros, conforme a situação
exigia.

Um exemplo moderno de alguém que usou essa lição foi


Adolf Hitler (1889-1945), o líder nazista que governou a
Alemanha entre 1933 e 1945. Hitler pretendia criar um
império germânico na Europa e exterminar todos os
judeus e outros grupos considerados inferiores por ele.
Para isso, usou todos os meios possíveis: propaganda,
censura, violência, terrorismo, guerra. Ele não se
importava com as consequências morais ou humanitárias
de suas ações; Ele só se importava com o seu fim.

No entanto, esta lição também tem um lado negativo:


pode levar ao cinismo, à desonestidade, à crueldade e à
perda de confiança dos outros. Além disso, pode voltar-
se contra aqueles que o usam: Hitler acabou por ser
derrotado pelos Aliados na Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) e suicidou-se no seu bunker em Berlim.

Lição 2: É melhor ser temido do que amado

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A segunda lição que podemos aprender com Maquiavel é
que é melhor ser temido do que amado pelos súditos.
Isso significa que os governantes devem inspirar respeito
e obediência em seus governos, mesmo que isso implique
uso da força ou intimidação. Maquiavel argumentava
que:

"Os homens têm menos escrúpulos em ofender aqueles


que se fazem amados do que aqueles que se fazem temer;
porque o amor é mantido por um laço de gratidão que se
rompe quando as pessoas não vêem nele lucro; mas o
medo é mantido pelo medo da punição" (Maquiavel,
2007, p. 87).

Maquiavel não negava a importância do amor nas


relações humanas; Ele apenas reconheceu que o amor é
uma emoção instável e volúvel que depende das
circunstâncias e interesses das pessoas. O medo, por
outro lado, é uma emoção mais constante e duradoura
que garante a ordem e a disciplina na sociedade.

Um exemplo moderno de alguém que usou essa lição foi


Joseph Stalin (1878-1953), o líder comunista que
governou a União Soviética entre 1924 e 1953. Stalin
pretendia consolidar seu poder absoluto no país e
expandir sua influência no mundo. Para isso, usou

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métodos brutais: repressão política, censura, expurgos,
gulags, fome, terror. Ele não se importava com o bem-
estar ou a felicidade de seus súditos; Ele só se importava
com sua autoridade.

No entanto, esta lição também tem um lado negativo:


pode levar ao ódio, à revolta, à traição e à solidão dos
outros. Além disso, pode voltar-se contra quem a usa:
Estaline acabou por ser vítima de várias tentativas de
assassínio e morreu sob suspeita de envenenamento no
seu palácio em Moscovo.

Lição 3: Você precisa saber como se adaptar à mudança

A terceira lição que podemos aprender com Maquiavel é


que é preciso saber adaptar-se à mudança. Isso significa
que os governantes devem estar atentos às
transformações que ocorrem no mundo e ajustar suas
estratégias de acordo com as novas circunstâncias.
Maquiavel afirmava que:

"Os homens andam de duas maneiras: por necessidade e


por vontade própria. Homens prudentes e capazes
seguem sempre o modo da necessidade; pois este modo é
sempre mais seguro e menos sujeito a acidentes"
(Maquiavel, 2007, p. 119).

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Esta frase mostra a importância da prudência e da
flexibilidade para Maquiavel. Ele acreditava que os
governantes deveriam reconhecer que o mundo é
governado pela fortuna, ou seja, pelo acaso e pela
imprevisibilidade dos acontecimentos. Ele também
reconheceu que os governantes não podem controlar
tudo o que acontece e que devem estar preparados para
enfrentar as adversidades e as oportunidades que
surgem. Ele disse que:

"A fortuna é mulher; e é necessário, se alguém quiser


mantê-la submissa, espancá-la e feri-la. E ver-se-á que se
deixa dominar mais por estes do que por aqueles que
procedem friamente" (Maquiavel, 2007, p. 121).

Esta frase mostra a visão machista de Maquiavel sobre a


fortuna, mas também revela sua ideia de que os
governantes devem ser ousados e audaciosos para
aproveitar as chances que a fortuna oferece. Devem ser
capazes de mudar o seu comportamento e opinião
conforme as circunstâncias o exigem, sem se agarrarem a
princípios ou dogmas fixos.

Um exemplo moderno de alguém que usou esta lição foi


Deng Xiaoping (1904-1997), o líder comunista que
governou a China entre 1978 e 1992. Deng Xiaoping

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pretendia modernizar a economia e a sociedade chinesas
após o fracasso do regime de Mao Tsé-Tung (1893-1976).
Para isso, adotou uma política de reforma e abertura,
introduzindo elementos do mercado e do capitalismo no
sistema socialista. Não se importava com as contradições
ideológicas nem com as críticas dos ortodoxos; Ele só se
preocupava com os resultados práticos. Ele disse que:

"Não importa se o gato é branco ou preto; desde que cace


ratos" (Deng Xiaoping, apud Kissinger, 2012, p. 420).

No entanto, esta lição também tem um lado negativo:


pode levar à instabilidade, incoerência, perda de
identidade e valores. Além disso, ela pode se voltar
contra aqueles que a usam: Deng Xiaoping enfrentou
forte resistência interna e externa às suas reformas,
especialmente após o massacre da Praça da Paz Celestial
em 1989.

Lição 4: É preciso saber escolher ministros

A quarta lição que podemos aprender com Maquiavel é


que devemos saber escolher ministros. Isso significa que
os governantes devem se cercar de pessoas competentes
e leais que possam auxiliá-los nas decisões e ações do
governo. Maquiavel afirmava que:

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"O primeiro método para estimar a inteligência de um
governante é olhar para os homens ao seu redor"
(Maquiavel, 2007, p. 105).

Esta frase mostra a importância da delegação e da


confiança para Maquiavel. Ele acreditava que os
governantes não podem fazer tudo sozinhos e que
precisam contar com o apoio e conselhos de pessoas
capazes e honestas. Ele disse que os bons ministros
devem ter quatro qualidades: fidelidade, capacidade,
integridade e gratidão.

Um exemplo moderno de alguém que usou esta lição foi


Nelson Mandela (1918-2013), o líder sul-africano que
governou o país entre 1994 e 1999. Mandela tinha como
objetivo promover a reconciliação nacional e a
democracia na África do Sul após décadas de apartheid e
violência racial. Para o efeito, formou um governo de
unidade nacional, incluindo membros do seu partido (o
Congresso Nacional Africano) e os partidos da oposição
(o Partido Nacional e o Partido da Liberdade Inkatha).
Ele também escolheu como vice-presidente Frederik de
Klerk (1936-), o último presidente do regime do
apartheid, reconhecendo seu papel na transição pacífica
para a democracia.

9
No entanto, esta lição também tem um lado negativo:
pode levar à dependência, ingratidão, traição e corrupção
dos outros. Além disso, pode voltar-se contra aqueles
que a utilizam: Mandela enfrentou vários problemas
internos e externos durante o seu governo, como a
violência política, a pobreza, a desigualdade, a SIDA e as
pressões internacionais.

Lição 5: Você precisa saber como usar armas

A quinta lição que podemos aprender com Maquiavel é


que devemos saber usar armas. Isto significa que os
governantes devem estar preparados para defender e
expandir o seu território e poder através da força militar.
Maquiavel argumentava que:

"Entre as outras coisas infames que fazem o príncipe


perder o Estado, está sendo desprezado e odiado; e uma
das principais coisas que a torna desprezada é ter
exércitos desprezíveis próprios" (Maquiavel, 2007, p. 79).

Esta frase mostra a importância da guerra para


Maquiavel. Ele acreditava que os governantes deveriam
ter seus próprios exércitos bem treinados, capazes de
enfrentar qualquer inimigo ou rebelião. Ele disse que os
exércitos mercenários ou auxiliares eram perigosos e
ineficazes, pois lhes faltava lealdade ou coragem. Ele

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também disse que os governantes deveriam estudar e
praticar a arte da guerra, pois era a principal ocupação
dos príncipes.

Um exemplo moderno de alguém que usou esta lição foi


Winston Churchill (1874-1965), o líder britânico que
governou o país entre 1940 e 1945, e entre 1951 e 1955.
Churchill pretendia derrotar o nazismo e preservar a
liberdade e a democracia na Europa e no mundo. Para
isso, mobilizou todo o seu povo e todo o seu império
para a guerra contra Hitler. Ele também formou uma
aliança com os Estados Unidos e a União Soviética,
apesar das diferenças ideológicas. Foi um dos principais
estrategistas militares da Segunda Guerra Mundial e um
dos maiores oradores da história.

No entanto, esta lição também tem um lado negativo:


pode levar à violência, à morte, à destruição e ao
sofrimento dos outros. Além disso, pode voltar-se contra
aqueles que o usam: Churchill enfrentou várias derrotas
e dificuldades durante a guerra, como a invasão da
França, o bombardeio de Londres, a batalha de
Stalingrado e os desembarques na Normandia.

Lição 6: Você deve saber como combinar força e astúcia

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A sexta lição que podemos aprender com Maquiavel é
que é preciso saber combinar força e astúcia. Isto significa
que os governantes devem ter as qualidades de dois
animais: o leão e a raposa. O leão representa a força e a
violência, enquanto a raposa representa a astúcia e a
inteligência. Maquiavel dizia que:

"Como o príncipe precisa saber usar bem a natureza do


animal, ele deve escolher a raposa e o leão, pois o leão
não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe
se defender da força bruta dos lobos. Por isso, é preciso
ser raposa, conhecer as armadilhas e o leão, aterrorizar os
lobos" (Maquiavel, 2007, p. 99).

Esta frase mostra a importância da versatilidade e


adaptação para Maquiavel. Ele acreditava que os
governantes deveriam ser capazes de usar a força e a
astúcia conforme a situação exigisse. Devem poder impor
o seu poder por meios violentos, mas também enganar e
persuadir por meios subtis.

Um exemplo moderno de alguém que usou essa lição foi


Franklin Roosevelt (1882-1945), o líder americano que
governou o país de 1933 a 1945. Roosevelt tinha como
objetivo superar a crise econômica da Grande Depressão
e liderar os Aliados na Segunda Guerra Mundial. Para

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isso, usou a força e a astúcia: implementou uma série de
reformas sociais e económicas conhecidas como New
Deal, que visavam recuperar a confiança e o bem-estar
dos cidadãos; ele também negociou alianças diplomáticas
com outros países, como a Grã-Bretanha e a União
Soviética, para enfrentar o nazismo e o fascismo.

No entanto, esta lição também tem um lado negativo:


pode levar à ambiguidade, hipocrisia, deslealdade e
violação dos direitos dos outros. Além disso, pode voltar-
se contra aqueles que a utilizam: Roosevelt enfrentou
várias críticas e resistências às suas políticas interna e
externa, tanto por parte dos seus adversários como dos
seus aliados.

Lição 7: É preciso saber usar a religião

A sétima lição que podemos aprender com Maquiavel é


que é preciso saber usar a religião. Isso significa que os
governantes devem aproveitar a influência da religião
sobre seus súditos para obter seu apoio e obediência.
Maquiavel dizia que:

"A religião é um dos fundamentos de qualquer Estado


bem ordenado e de qualquer bom governo" (Maquiavel,
2007, p. 51).

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Esta frase mostra a importância da religião para
Maquiavel. Ele acreditava que a religião era um
instrumento político, que servia para incutir nos súditos
o temor de Deus e o amor à pátria. Ele disse que a
religião ensinava os homens a reconhecer e respeitar as
leis e autoridades, e também a agir com virtude e honra.
Ele também disse que os governantes devem respeitar e
promover a religião, mas também manipulá-la como bem
entenderem.

Um exemplo moderno de alguém que usou esta lição foi


Mahatma Gandhi (1869-1948), o líder indiano que lutou
pela independência da Índia contra o domínio britânico.
Gandhi pretendia libertar o seu povo da opressão
colonial e da violência sectária. Para isso, usou a religião
como fonte de inspiração e mobilização. Ele foi baseado
nos princípios do hinduísmo, especialmente a doutrina
de ahimsa (não-violência) e satyagraha (adesão à
verdade). Ele também respeitou e dialogou com outras
religiões, como o Islã, o Budismo e o Cristianismo.

No entanto, esta lição também tem um lado negativo:


pode levar à hipocrisia, intolerância, intolerância e
conflito, entre outros. Além disso, pode voltar-se contra
aqueles que o usam: Gandhi enfrentou várias oposições e
resistências às suas ideias e ações, tanto dos

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colonizadores como dos seus compatriotas. Foi
assassinado por um extremista hindu em 1948.

Lição 8: Você Deve Saber Equilibrar Generosidade e


Avareza

A oitava lição que podemos aprender com Maquiavel é


que devemos saber equilibrar generosidade e avareza.
Isso significa que os governantes devem ser prudentes no
uso dos recursos públicos, evitando tanto o desperdício
quanto a mesquinhez. Maquiavel dizia que:

"Não há nada que se consuma tanto quanto a


generosidade, porque ao usá-la perde-se a capacidade de
usá-la, e torna-se pobre ou desprezado, ou então, para
evitar a pobreza, torna-se rapaz e odioso" (Maquiavel,
2007, p. 85).

Esta frase mostra a importância da parcimônia para


Maquiavel. Ele acreditava que a generosidade era uma
virtude perigosa para os governantes, pois os levava a
gastar mais do que podiam e a perder o respeito e o
apoio de seus súditos. Ele disse que os governantes
deveriam ser miseráveis, mas não ostensivamente, mas
sim secretamente. Devem parecer generosos, mas sem
prejudicar as finanças do Estado.

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Um exemplo moderno de alguém que usou essa lição foi
Margaret Thatcher (1925-2013), a líder britânica que
governou o país entre 1979 e 1990. Thatcher pretendia
recuperar a economia e o prestígio do Reino Unido após
anos de crise e declínio. Para tal, adotou uma política de
rigor fiscal e monetário, reduzindo a despesa pública e os
impostos, privatizando as empresas públicas e
combatendo os sindicatos. Ela não se importava com as
críticas ou as manifestações dos descontentes; ela só se
importava com os resultados.

No entanto, esta lição também tem um lado negativo:


pode levar à insensibilidade, à injustiça, à desigualdade e
à revolta dos outros. Além disso, ela pode se voltar
contra aqueles que a usam: Thatcher enfrentou vários
problemas sociais e políticos durante seu governo, como
o conflito das Malvinas, a agitação urbana, o terrorismo
do IRA e a divisão de seu próprio partido.

Lição 9: É preciso saber medir a crueldade e a clemência

A nona lição que podemos aprender com Maquiavel é


que é preciso saber medir a crueldade e a clemência. Isso
significa que os governantes devem ser capazes de usar a
violência e o perdão conforme necessário e conveniente.
Maquiavel dizia que:

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"Não há dúvida de que é uma coisa muito louvável para
um príncipe ser gracioso e não cruel; mas deve ter
cuidado para não abusar dessa clemência" (Maquiavel,
2007, p. 93).

Esta frase mostra a importância da moderação para


Maquiavel. Ele acreditava que a crueldade e a clemência
eram virtudes relativas, que dependiam das
circunstâncias e dos efeitos. Ele disse que os governantes
deveriam ser cruéis quando era necessário manter a
ordem e a segurança, mas também deveriam ser
graciosos quando fosse possível e vantajoso. Ele também
disse que os governantes devem evitar ser odiados ou
desprezados por seus súditos por causa de sua crueldade
ou fraqueza.

Um exemplo moderno de alguém que usou esta lição foi


Nelson Mandela (1918-2013), o líder sul-africano que
governou o país entre 1994 e 1999. Mandela tinha como
objetivo promover a reconciliação nacional e a
democracia na África do Sul após décadas de apartheid e
violência racial. Para isso, usou de crueldade e clemência:
liderou uma luta armada contra o regime racista, mas
também negociou uma transição pacífica para o poder;
denunciou as atrocidades cometidas pelos opressores,
mas também perdoou os seus algozes; defendeu os

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direitos humanos e a justiça social, mas também
respeitou as diferenças culturais e políticas.

No entanto, esta lição também tem um lado negativo:


pode levar à ambivalência, inconsistência, indecisão e
manipulação dos outros. Além disso, pode voltar-se
contra aqueles que a utilizam: Mandela enfrentou vários
desafios e dilemas durante o seu governo, como a
reconciliação com os brancos, a integração com os negros,
a reforma agrária, a corrupção, a SIDA e o terrorismo.

Lição 10: É Preciso Buscar Glória e Honra

A décima lição que podemos aprender com Maquiavel é


que é preciso buscar glória e honra. Isto significa que os
governantes devem ter como principal objetivo o
reconhecimento e admiração dos seus súbditos e dos seus
contemporâneos, pela sua virtude e pelo seu valor.
Maquiavel dizia que:

"O desejo de conquistar é uma coisa muito natural e


comum; e os homens, quando puderem fazê-lo, serão
sempre louvados ou não censurados; mas quando não
podem e querem fazê-lo de qualquer maneira, eis o erro e
a censura" (Maquiavel, 2007, p. 29).

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Esta frase mostra a importância da glória e da honra para
Maquiavel. Ele acreditava que a glória e a honra eram os
bens mais altos a que um governante poderia aspirar,
pois demonstravam sua capacidade de realizar grandes
feitos e superar grandes desafios. Ele disse que os
governantes deveriam buscar glória e honra, mas não de
forma imprudente ou desmedida, mas sábia e
moderadamente. Devem saber avaliar os seus pontos
fortes e as suas oportunidades e agir em função deles.

Um exemplo moderno de alguém que usou essa lição foi


Winston Churchill (1874-1965), o líder britânico que
governou o país entre 1940 e 1945, durante a Segunda
Guerra Mundial. Churchill pretendia defender o seu país
e o seu império contra as ameaças do nazismo e do
fascismo. Para tal, usou a sua eloquência e coragem para
inspirar e mobilizar o seu povo e os seus aliados. Não se
rendeu nem se intimidou com dificuldades e perigos;
Resistiu e lutou até à vitória final.

No entanto, esta lição também tem um lado negativo:


pode levar à vaidade, arrogância, imprudência e
rivalidade com os outros. Além disso, pode voltar-se
contra aqueles que o utilizam: Churchill enfrentou vários
problemas e críticas durante o seu governo, como a
guerra em África, o bombardeamento de Dresden, os

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desembarques na Normandia e a perda das eleições em
1945.

Conclusão

Neste artigo, procuramos apresentar dez lições que


podemos aprender com Maquiavel, o fundador da
ciência política moderna. Estas lições baseiam-se na sua
obra mais famosa, O Príncipe, na qual expõe os
princípios e estratégias para um governante conquistar e
manter o poder. Maquiavel não está preocupado em
idealizar um governo perfeito ou uma sociedade justa;
preocupa-se em descrever a realidade política tal como
ela é, com as suas virtudes e os seus vícios, com as suas
oportunidades e os seus riscos. Ele não se deixa levar
pela moral ou pela religião; Ele é guiado pela razão e pela
experiência. Ele não é enganado por aparências ou
palavras; Ele presta atenção aos fatos e ações.

As lições de Maquiavel são valiosas não só para os


governantes, mas também para os cidadãos que desejam
compreender melhor o funcionamento do poder e da
política. Mostram-nos que a política é uma arte complexa
e dinâmica que exige inteligência e prudência, que
envolve conflito e negociação, que exige virtude e
fortuna. Mostram-nos também que a política tem um

20
lado positivo e um lado negativo, que depende da forma
como é exercida e dos fins que prossegue. Mostram-nos,
finalmente, que a política é uma atividade humana,
sujeita às paixões e aos interesses dos homens.

Maquiavel não nos oferece receitas prontas ou soluções


definitivas; oferece-nos reflexões provocadoras e
desafiantes. Ele convida-nos a pensar por nós próprios e
a agir com responsabilidade. Convida-nos a sermos
príncipes virtuosos, mas também a sermos cidadãos
vigilantes.
Referências:

• MAQUIAVEL, n. O Príncipe. Tradução de Livio


Xavier. São Paulo: Nova Cultural, 2007. (Coleção
Pensadores).
• CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática,
2008.
• BOBBIO, N. Maquiavel e Maquiavelismo. In:
BOBBIO, N. Teoria Geral da Política: Filosofia
Política e as Lições dos Clássicos. Rio de janeiro:
Campus, 2000.
• SKINNER, Q. Maquiavel. Rio de janeiro: Jorge
Zahar, 2000.

21
• VILLARI, P. Vida e tempos de Nicolau Maquiavel.
São Paulo: Unesp, 2011.

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