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Bibliografia

Batalha, Luis, 1998. “Emics/Etics Revisitado: `Nativo´ e Antropólogo Lutam Pela


Última Palavra”. Etnográfica, Vol. II (2). pp. 319-343.

O texto reavalia o fazer antropológico enquanto ciência social, com discurso


amplamente relativista, a fim de superar a descriminação como a arte de penetrar o
sistema cultural do outro para explicar. Assim discute a questão de émico e ético,
categorias que surgiram em trono dessa superação nos anos 60 e a luta pela última
palavra entre o antropólogo e o nativo.

O autor diz que os termos emics e etics foram publicados pela primeira vez pelo
linguista americano Kennety Lee Pike em 1954 aquando procurava alargar princípios
metodológicos adoptados em linguística ao estudo do comportamento humano - a
missão crista de traduzir a bíblia para línguas nativas. Emics e etics derivam dos
conceitos linguísticos fonémico e fonético. O fonémico tem a ver com os sons que numa
língua têm valor contrastante para os falantes (os nativos), enquanto fonético representa
diferenças não contrastantes para os falantes mas que podem ser medidas com aparelhos
ou percebidas pelo próprio linguista devido a sua condição de estrangeiro.

O autor considera que o papel do antropólogo seria de descobrir o sistema


behaviorémico de cada sociedade estudada, de modo a entender o comportamento
humano em cada um dos diferentes contextos culturais. O autor nota que alguns
antropólogos superiorizaram o sistema émico enquanto outros equipararam
privilegiando o discurso do observador do que o do nativo. Entretanto, o autor nota que
não existe a contra distinção emico/etic.

O autor argumenta que o que o antropólogo faz é impor o seu sistema emic ao mundo
do nativo e assumir que ele possui maior capacidade para desvendar mistérios da cultura
do que qualquer outro. Assim, diferentemente das ciências naturais, em antropologia o
discurso ético é mais problemático, ainda ninguém foi capaz de criar um sistema de
categorias capaz de representar um conjunto significativo de fenómenos socioculturais.

Pike citado pelo autor defende que o conhecimento émico permite ao nativo orientar-se
dentro da sua própria cultura, embora possa não ser capaz de explicar essa orientação.
Enquanto o observador pode através de um sistema ético, ajudar o nativo a compreender
o significado profundo do seu próprio sistema émico. Para Harris, émico de um
observador treiando é diferente do émico do nativo. Assim, o sistema ético designa um
sistema de categorias definido pela comunidade de observadores, por mais que algumas
existam em determinados sistemas émicos. A questão de emic e etic não tem nada a ver
com subjectividade/objectividade porque, tanto o nativo como o observador poder ser
subjectivos ou objectivos de acordo com os procedimentos adoptados.

O autor conclui que a chave para o entendimento do fenómeno está no estudo


comparativo do emico e ético mentais e comportamentais das pessoas. Ou seja, a
diferença entre o que elas dizem que pensam e o que elas realmente pensam, o que elas
dizem que fazem e o que elas realmente fazem. Porém, tudo não passa de uma retórica
que apenas visa credenciar o etnógrafo com uma autoridade que ele não tem direito.

NB: o texto tem a ver com o etnocentrismo cujo pesquisador usa suas próprias
categorias ou termos linguísticos do seu contexto para explicar a realidade do
pesquisado. Eis a inadequação dos termos ao traduzirem não condizem com a realidade
na visão do antropólogo, daí a luta pela última palavra no trabalho de campo.

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