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Socrates e Os Sofistas
Socrates e Os Sofistas
2 Os sofistas
A origem dos sofistas
Quando Atenas se tornou no mais importante centro econômico, político e cultural da
época, após a vitória sobre os persas, um grande número de nobres de outras partes da Grécia
buscam a cidade a procura de sua intensa vida cultural.
Entre os estrangeiros que se instalam na cidade-Estado de Atenas, alguns passam a se
oferecer para atuar como mestres na educação dos jovens pertencentes à elite local. Alguns deles
ganham fama e se destacam nessa nova função e passam a ser chamados de sofistas (sábios).
Alguns os consideram os primeiros pedagogos, os iniciadores do ensino privado, pois
como eram estrangeiros e não podiam ter propriedade em Atenas, cobravam por seus
ensinamentos. São grandes mestres de Retórica e Oratória.
Atenção!
sophistés
Mais tarde, em função da imagem deixada por Sócrates, Platão e Aristóteles, que os
Humanismo e relativismo
Na sofística encontramos dois grandes princípios: o humanismo e o
relativismo. O primeiro coloca o homem no centro de tudo. O segundo se
refere à impossibilidade de se alcançar qualquer verdade absoluta ou que não
dependa de uma interpretação pessoal. Um fragmento do sofista Protágoras
O homem é a
medida de todas as coisas; das que são, enquanto são, e das que não são,
enquanto não são
Protágoras
Veja o que diz Marcondes sobre a tese de Protágoras.
Protágoras parece assim valorizar um tipo de explicação do real a partir de seus aspectos fenomenais
apenas, sem apelo a nenhum elemento externo ou transcendente. Isto é, as coisas são como nos
parecem ser, como se mostram à nossa percepção sensorial, e não temos nenhum outro critério para
decidir essa questão. Portanto, nosso conhecimento depende sempre das circunstâncias em que nos
encontramos e pode, por isso mesmo, variar de acordo com a situação. (MARCONDES, 2001, p. 43).
Ou seja, para Protágoras, cada opinião nada mais é que a avaliação que cada um faz de
sua própria experiência. Por isso, nenhuma opinião pessoal pode ser colocada como mais correta
que a opinião de qualquer outra pessoa.
A impossibilidade do conhecimento
Outro sofista de peso é Górgias
existe que possa ser conhecido; se pudesse ser conhecido não poderia ser comunicado; se
Complicado? Então, tomemos, novamente, as palavras de Marcondes (2001, p. 44) que indica
ser Górgias um crítico da possibilidade do conhecimento em sentido absoluto:
Górgias dá grande importância ao logos enquanto discurso argumentativo, e em seu Elogio a Helena
logos Entretanto, de certa maneira o logos é sempre
visto como enganoso, já que não podemos ter acesso à natureza das coisas, mas tudo de que dispomos
é o discurso, como fica claro no fragmento citado acima. O logos, contudo, pode ser persuasivo, e
Górgias chega mesmo a sustentar que mais importante do que o verdadeiro é o que pode ser provado
ou defendido.
Os sofistas se vangloriavam de que seus alunos aprendiam defender de forma
convincente tanto uma tese quanto a sua antítese; ou seja, podiam tanto argumentar em favor de
uma opinião quanto em favor da opinião contrária, provando a correção tanto de uma quanto de
outra. Essa arte de vencer o adversário num debate sem se preocupar com a verdade é a erística.
Ela é interessante na medida em que, numa disputa com as palavras, devemos estar preparados
para as contraposições do adversário. A prática nos mostra o quanto a disputa política
democrática depende disso.
A importância da linguagem!
Se nem a percepção da realidade através dos nossos sentidos nem a razão são capazes
de nos propiciar conhecimentos seguros, e se a verdade é uma questão de opinião e de
persuasão, é preciso valer-se de um outro instrumento para que o homem se relacione
com a realidade e com os outros seres humanos. Esse instrumento, segundo os sofistas,
é a linguagem. O sábio é aquele que, compreendendo os mecanismos e os recursos da
linguagem, domina as multidões através do discurso.
kósmos X nómos
Em sua nova forma de compreender a realidade, os sofistas produzem uma grande cisão
entre kósmos e nómos. As duas palavras originalmente estavam diretamente ligadas na língua
grega. O termo kósmos significa o bom ordenamento de pessoas e coisas, boa ordem,
organização do Estado, ordem estabelecida, ação dos seres em conformidade com um
comportamento estabelecido. Já a palavra Nómos, que literalmente significa regra, lei ou
norma, também pode ser usada no sentido de costume.
Os sofistas, no entanto, destacam que é um erro comparar as leis que regem os
fenômenos naturais com aquelas que norteiam a vida humana em sociedade. Para eles, o
universo ético, político e social, ou seja, tudo aquilo que é especificamente humano, não é
determinado pelas mesmas leis de regularidade encontradas na natureza (physis). Cada povo e
cada época dispõem de seus próprios modos de ser, costumes e regras, sem que, no fundo,
qualquer forma de organização cultural possa ser colocada como mais correta ou como sendo a
detentora da verdade definitiva.
A natureza possui uma ordem (kósmos) que não depende de uma escolha do ser
humano. Mas a pólis é regida por leis (nómos) que são convenções humanas.
No direito, na política e na ética, portanto, não existem princípios necessários nem
regras que sejam universalmente válidas. Toda norma é humana e, justamente por isso, é
transitória.
filosófica da realidade natural para a realidade humana, funda a ética e propõe um novo objetivo
para a prática da Filosofia. Vamos conhecê-lo um pouquinho melhor?
Es
não escreveu livro nenhum. No entanto, embora não tenha escrito nenhuma obra, Sócrates
deixou uma herança marcante para a cultura ocidental através da influência que exerceu sobre
toda uma geração de intelectuais. Entre os seus muitos seguidores, merecem ser citados o
historiador Xenofonte e o filósofo Platão.
Sócrates não escreveu nada, pois acreditava que o debate discursivo oral era mais
adequado à busca do verdadeiro conhecimento. Através do diálogo, ele procurava recuperar no
espírito de seu interlocutor o significado daquilo que deveria ser o essencial para o ser humano.
O método socrático
Sócrates dizia que só é possível filosofar a partir do momento em que reconhecemos nossa
própria ignorância. Por isso, ele desenvolveu um método de busca do conhecimento composto por
duas etapas: a ironia e a maiêutica.
Na primeira etapa, a ironia (do grego eiróneia, perguntar), Sócrates solicita ao seu
interlocutor que lhe esclareça sobre um determinado tema. A partir daí, interroga-o alegando não ter
conhecimento suficiente sobre o tema em questão. No entanto, na medida em que o interlocutor vai
dando esclarecimentos sobre o assunto, Sócrates vai formulando perguntas cada vez mais
perspicazes, de forma que o interlocutor acaba se dando conta de que aquilo que ele mesmo defendia
a pouco agora parece ser contraditório. Atônito, o interlocutor acaba reconhecendo que aquele
conhecimento que ele julgava possuir era, no fundo, uma idéia sem sentido.
A segunda etapa do método socrático é a maiêutica, ou parto das idéias. Assim como na
primeira etapa, Sócrates apenas faz perguntas ao seu interlocutor. Mas agora são perguntas que o
forçam a buscar em sua própria inteligência uma saída para as contradições em que ele mesmo se
enredou. Com perguntas bem elaboradas, feitas no momento apropriado, Sócrates ajuda o seu
interlocutor a descobrir por si mesmo a verdade. Esse processo é chamado de maiêutica (do grego
maieutiké, técnica de realizar um parto) porque é semelhante a um parto: não é a parteira quem gera
o bebê, ela apenas auxilia aquelas que já o trazem dentro de si e precisam de ajuda para fazê-lo vir à
luz. (Vale a pena lembrar que a mãe de Sócrates era parteira; ao que parece, ele herdou um pouco da
sua arte).
Atenção!
Sócrates usa a palavra alma (psyché) num sentido diferente daquele que é dado pela
religião. Para Sócrates a alma é a consciência que cada um tem de si mesmo, é a
personalidade intelectual e moral, é a razão. É o poder intelectual que cada um tem para
descobrir em si mesmo e por si mesmo a verdade. É a capacidade de descobrir por si
mesmo as regras da vida virtuosa.
O pai da ética
Sócrates é considerado por muitos como fundador da reflexão racional, sistemática e
as
situações e às mais diversas pessoas. A virtude (areté) é a ação correta, excelente, meritória.
Mas como saber se uma ação é correta? Aliás, correta para quem? O que é correto para
um pode não ser para outro?
Pelo que já estudamos até aqui, já é possível deduzir as respostas que Sócrates dá a
essas perguntas. Acompanhe o seguinte raciocínio:
A ação correta para o ser humano é aquela que condiz com sua essência.
A essência do homem é a razão.
Portanto, areté consiste em agir de acordo com a razão.
Ninguém é perfeito
sei que nada sei
O que ele quer dizer com isso?
Embora defenda a possibilidade de se superar a doxa e de se alcançar a episteme,
Sócrates rejeita ser chamado de sábio. Acredita que ninguém, nem mesmo ele, é sábio.
Considera-se apenas um filósofo alguém que busca a sabedoria.
Certa vez, um amigo de Sócrates foi a Delfos, cidade em que havia um famoso templo
no qual a pitonisa (a sacerdotisa desse templo) trazia oráculos (mensagens dos deuses aos
Referências:
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1994.
GUTHRIE, W. K. C. Os sofistas. São Paulo: Paulus, 1997.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2001.
PLATÃO; XENOFONTE; ARISTÓFANES. Sócrates. [Os pensadores], São Paulo: Nova
Cultural, 1996.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. Volume I: Antigüidade e Idade
Média. São Paulo: Paulus, 1990.