Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1295 5451 1 PB PDF
1295 5451 1 PB PDF
Jabr H. D. Ornar*
A
i n d a q u e o a s s u n t o E s t a d o versus m e r c a d o n ã o s e j a n o v o , o p a p e l d o
E s t a d o n a e c o n o m i a é u m d o s t e m a s m a i s d i s c u t i d o s d a política p ú b l i -
c a nos países desenvolvidos e nos menos desenvolvidos.
D e s d e o início d o s a n o s 7 0 , o g o v e r n o t o r n o u - s e u m alvo fácil p a r a o s q u e
d e f e n d e m o " s i s t e m a d o livre m e r c a d o " c o m o a m e l h o r a l t e r n a t i v a p a r a lograr o
r e s u l t a d o ideal n a e c o n o m i a e p a r a m a x i m i z a r o b e m - e s t a r e c o n ô m i c o e s o c i a l
d a s o c i e d a d e . O g o v e r n o é r e s p o n s á v e l por t o d o s o s m a l e s d a s o c i e d a d e ; a l t a
inflação, déficit público, alta dívida pública, ineficiência, e m p r e s a s públicas o n e -
r o s a s , d e s p e r d í c i o d o dinheiro d o s c o n t r i b u i n t e s , c o r r u p ç ã o , etc. A l é m d i s s o , o
f r a c a s s o d a s e c o n o m i a s d o s e x - p a í s e s socialistas e a c r i s e d o E s t a d o e m paí-
s e s m e n o s d e s e n v o l v i d o s nos a n o s 80 o f e r e c e r a m u m a r g u m e n t o p e r s u a s i v o e
munições para os que defendem o mercado contra o Estado.
N e s t e e s t u d o , o o b j e t i v o principal é r e s p o n d e r a t r ê s q u e s t õ e s . P r i m e i r o :
q u a i s s ã o a s linhas principais d a intervenção d o g o v e r n o n a e c o n o m i a ? S e g u n -
d o : q u a i s s ã o a s b a s e s teóricas e práticas p a r a o a t a q u e c o n t r a o g o v e r n o ? E
t e r c e i r o : s e r á q u e e s s e a t a q u e t e v e s u c e s s o , o u n ã o , e por q u ê ?
B a s e a d o s n e s s a s q u e s t õ e s e f u n d a m e n t a d o s n a t e o r i a e n o s fatos, d i s c u -
tir-se-á q u e o p a p e l d o g o v e r n o n a e c o n o m i a é u m efeito ( c o n s e q ü ê n c i a ) d e u m a
c a u s a . A s s i m , s e a c a u s a é p e r m a n e n t e , e n t ã o , o efeito t a m b é m s e r á p e r m a -
n e n t e . S e g u n d o , a p e s a r d e t o d o o sofisticado a t a q u e p r á t i c o e t e ó r i c o c o n t r a o
g o v e r n o , a e v i d ê n c i a m o s t r a q u e o papel dele n a e c o n o m i a s e i n c r e m e n t o u e n ã o
diminuiu, h a v e n d o indicações d e q u e esse papel se d e s e n v o l v e r á ainda m a i s n o
futuro.
N a p r i m e i r a p a r t e , a n a l i s a m - s e os f u n d a m e n t o s d a i n t e r v e n ç ã o d o E s t a d o
n a e c o n o m i a . N e s s e sentido, os principais a r g u m e n t o s d a f a l h a d o m e r c a d o s ã o
e x a m i n a d o s e d i s c u t i d o s . Na s e g u n d a , t r a t a - s e do a t a q u e c o n t r a o g o v e r n o .
Este parte d e três principais e s c o l a s d e p e n s a m e n t o : o m o n e t a r i s m o , as e x p e c -
tativas r a c i o n a i s e a e s c o l h a p ú b l i c a . N a terceira p a r t e , f a z - s e u m e s t u d o d o s
principais indicadores d a intervenção do g o v e r n o nos últimos 3 0 a n o s para medir
o grau de sucesso e o de fracasso desse ataque. Finalmente, na quarta parte,
a p r e s e n t a - s e u m r e s u m o d a s principais c o n c l u s õ e s .
P o r é m h á d u a s c o n s i d e r a ç õ e s para destacar. Primeiro, e s p e r a - s e q u e e s t e
' Professor Titular da UCPel e da UFPel, Economista, Pti.D. pela McGiLL University, Canadá,
t r a b a l h o e s t a b e l e ç a as b a s e s p a r a a i n t e r v e n ç ã o d o g o v e r n o e n ã o p a r a a s u a
e f i c á c i a . E s t a s s ã o d u a s c o i s a s nnuito d i f e r e n t e s . S e g u n d o , e s t e t r a b a l h o trata-
rá d o a s s u n t o e x c l u s i v a m e n t e nos p a í s e s d e s e n v o l v i d o s , por ter sido neles q u e
as t e o r i a s e c o n ô m i c a s e as s u b s e q i j e n t e s i d e o l o g i a s s o b r e o p a p e l d o E s t a d o
f o r a m primordialmente desenvolvidas e i m p l e m e n t a d a s . O s países e m d e s e n v o l -
v i m e n t o s e m p r e f o r a m late-comerse, principalmente, c o p i a d o r e s . A experiência
d e s t e s s e r á t r a t a d a n u m t r a b a l h o futuro.
A t e o r i a n e o c l á s s i c a é definida c o m o as principais i d é i a s e t e o r i a s d e s e n -
v o l v i d a s p a r a a n a l i s a r e d e s c r e v e r o f u n c i o n a m e n t o do s i s t e m a e c o n ô m i c o , b a -
s e a d a s n o s e s c r i t o s d o s e c o n o m i s t a s c l á s s i c o s , p r i n c i p a l m e n t e S m i t h , Ricardo
e S a y ; d o s m a r g i n a l i s t a s , c o m o J e v o n s , M e n g e r e Clarck; e d e A l f r e d M a r s h a l l .
Hoje, e s s e c o n j u n t o d e p e n s a m e n t o s é c o m p l e m e n t a d o , d e u m a f o r m a o u d e
o u t r a , p e l o s m o n e t a r i s t a s , c o m o s e u principal p a t r o c i n a d o r , Milton F r i e d m a n ;
pela e s c o l a d a s e x p e c t a t i v a s racionais ( L u c a s ) ; e pela e s c o l a d a e s c o l h a p ú b l i -
c a ( B u c a n o n ) . T o d a s elas d e s e n v o l v e r a m m o d e l o s t e ó r i c o s a l t a m e n t e sofistica-
d o s p a r a justificar o perfeito f u n c i o n a m e n t o d a s f o r ç a s d o livre m e r c a d o e p a r a
s o l a p a r (diminuir) o papel d o g o v e r n o n a e c o n o m i a .
E s s e c o n j u n t o d e literatura normalmente invoca as palavras de A d a m Smith
no s e u c o n h e c i d o livro A n I n q u i r y I n t o T h e N a t u r e a n d C a u s e s o f t h e W e a l t h
of N a t i o n s , publicado e m 1776, para defender o mercado contra o governo.
Nele, Smith a r g u m e n t a v a que o Produto nacional de u m país e o bem-estar d a
s o c i e d a d e s e r i a m m e l h o r m a n e j a d o s s e c a d a indivíduo f o s s e livre p a r a escolher
a f o r m a e a a l o c a ç ã o d e s e u próprio c a p i t a l :
' Este é o famoso termo "Mão Invisíver' de Smitti, no sentido de que os indivíduos que
procuram o seu próprio interesse, em geral, acabam servindo ao bem público da sociedade
como um todo.
2 Isto estabeleceu as bases do que veio a se conhecer como a teoria m o d e r n a da e s c o l h a
p ú b l i c a , que será explicada a seguir.
pelo setor privado, porque eles poderiam não ser suficientemente lucrativos,
principalmente a educação. Smith era contra a regulação e os subsídios,
porque, naquele m o m e n t o , o governo era considerado c o m o u m instrumento
a s e r v i ç o d e u m p e q u e n o g r u p o c o n h e c i d o c o m o o s m e r c a d o r e s . ^ E, f i n a l -
mente, a condição básica para a sua defesa era a existência dos mercados
competitivos.''
O s economistas neoclássicos, J e v o n s (1871), M e n g e r (1871), W a i r a s (1874)
e Marshall ( 1 8 9 0 ) , d e s e n v o l v e r a m m o d e l o s m a t e m á t i c o s a l t a m e n t e sofistjcados
e o f e r e c e r a m u m a d e f e s a muito e l a b o r a d a d a n o ç ã o d e A d a m S m i t h d a liberda-
d e d e e s c o l h a , d a c o n c o r r ê n c i a no m e r c a d o e d a política e c o n ô m i c a d e laissez-
-faire. Eles d e s e n v o l v e r a m a ' l e o r i a d a produtividade m a r g i n a l " d o c o n s u m o , d a
p r o d u ç ã o e d a distribuição e m o s t r a r a m q u e , n u m a e c o n o m i a d e m e r c a d o c o m -
petitiva, f o r m a d a por u m g r a n d e n ú m e r o d e p e q u e n o s p r o d u t o r e s e c o n s u m i d o -
res, a s f o r ç a s d a oferta e d a d e m a n d a distribuiriam os r e c u r s o s d a s o c i e d a d e de
u m a f o r m a n a q u a l , d a d o s os g o s t o s e c o n s i d e r a n d o a s d o t a ç õ e s d e fatores, o s
c o n s u m i d o r e s a l c a n ç a r i a m a m á x i m a diversificação d e m e r c a d o r i a s . Fatores d e
p r o d u ç ã o s e r i a m u s a d o s n a m a n e i r a m a i s eficiente p a r a m a x i m i z a r o valor d a
p r o d u ç ã o d a s o c i e d a d e . ^ Isto é o q u e P i g o u d e f i n e c o m o o p r o d u t o i d e a l : " N e -
n h u m p r o d u t o alternativo q u e puder s e obter por m e i o d a r e a l o c a ç ã o d o s recur-
s o s d a e c o n o m i a e n t r e as v á r i a s indústrias d e i x a r i a a c o m u n i d a d e m e l h o r q u e
a n t e s " , c i t a d o e m O c o n n e r ( 1 9 7 3 , p.369). A s s i m , q u a l q u e r tipo d e i n t e r v e n ç ã o
d o g o v e r n o p a r a realocar os r e c u r s o s d a s o c i e d a d e d e i x a r i a a s o c i e d a d e pior.
P o r é m , p a r a a l c a n ç a r e s s e " p r o d u t o ideal", Graaf ( 1 9 5 7 , p . 2 2 - 2 6 ; 6 6 - 7 0 )
e n u m e r o u 17 s u p o s i ç õ e s , e n q u a n t o W i n c h ( 1 9 7 1 , p.84-91) e n u m e r o u 13 n e c e s -
s á r i a s , m a s i m p o s s í v e i s d e cumprir. A s s i m , o m e r c a d o n ã o c o n s e g u i r á o p r o -
d u t o i d e a l n a b a s e d a teoria d a produtividade m a r g i n a l e n a política e c o n ô m i c a
d e laissez-faire. E s s e f r a c a s s o leva o g o v e r n o a intervir n a e c o n o m i a p a r a m e -
lhorar o b e m - e s t a r d a s o c i e d a d e .
A teoria m i c r o e c o n ô m i c a n e o c l á s s i c a identificou q u a t r o f o n t e s pelas quais
o mercado não produzirá o r e s u l t a d o ideal: bens públicos, externalidades,
poder d o m o n o p ó l i o e informação imperfeita. B e n s públicos p o d e m ser definidos
c o m o um b e m ou um serviço:
P a r a p r o v a r e s s e a r g u m e n t o , Ricardo c o n s t r u i u u m m o d e l o b a s e a d o n a
Teoria d a R e n d a d a Terra. Ele c h e g o u à c o n c l u s ã o d e q u e o s p r o p r i e t á r i o s d e
terra o b t ê m a maior parte da p r o d u ç ã o nacional e m f o r m a d e r e n d a ; os trabalha-
d o r e s o b t ê m o s salários d e s u b s i s t ê n c i a ; e o capitalista, u m a b a i x a t a x a d e
lucro.
A s s i m , a a n á l i s e r i c a r d i a n a leva o s i s t e m a c a p i t a l i s t a à q u i l o q u e é c o n h e -
c i d o n a a n á l i s e e c o n ô m i c a c o m o o "estado estacionário", u m a s i t u a ç ã o e m q u e
t u d o se p a r a l i s a : a a c u m u l a ç ã o , o c r e s c i m e n t o d a p o p u l a ç ã o e o c r e s c i m e n t o
d a e c o n o m i a . R i c a r d o , p o r é m , a c e i t a isso c o m o u m r e s u l t a d o n a t u r a l . Ele n ã o
p e d i u a i n t e r v e n ç ã o d o g o v e r n o p a r a modificar a s i t u a ç ã o e a c e i t o u o / a / s s e z -
-faire como u m a política ideal.
T h o m a s Malthus é outro e c o n o m i s t a inglês, m a s conservador, q u e d e f e n d e
o status quoeo mecanismo do mercado, principalmente conhecido e lembrado
p e l a s u a t e o r i a d a p o p u l a ç ã o ( 1 7 9 8 ) , pela s u a d e f e s a d a s m e d i d a s d r á s t i c a s
p a r a c o n t r o l a r a p o p u l a ç ã o e por ser c o n t r a q u a l q u e r política social d o g o v e r n o
p a r a a j u d a r o s p o b r e s , p o r q u e eles s ã o o s ú n i c o s c u l p a d o s . N a s u a t e o r i a d a
s u p e r p r o d u ç ã o ( 1 8 2 0 ) , q u a s e e s q u e c i d a entre o s a c a d ê m i c o s , ele a d m i t i u a
p o s s i b i l i d a d e d e a s c r i s e s n o s i s t e m a capitalista s e r e m d e c o r r e n t e s d e s e u
próprio f u n c i o n a m e n t o . E s s a s crises estão r e p r e s e n t a d a s pelo q u e ele c h a m o u
de superprodução e desemprego.
M a l t h u s r e c o n h e c e u q u e a m a n e i r a de distribuição d a r e n d a e n t r e a s três
c l a s s e s d a s o c i e d a d e — t r a b a l h a d o r e s , capitalistas e p r o p r i e t á r i o s d e terra —
hão garantira q ü è t u d o ó q u ê ép^^^^
ra é a m a i o r c l a s s e n a s o c i e d a d e , m a s o p o d e r aquisitivo d e l a é b a i x o , c o m o
r e s u l t a d o d o s b a i x o s salários e, p o r t a n t o , d a baixa p a r t i c i p a ç ã o na r e n d a . O s
capitalistas e os proprietários de terra d e t ê m u m a g r a n d e p a r t i c i p a ç ã o n a r e n d a
e t ê m u m alto p o d e r aquisitivo, m a s s ã o e m n ú m e r o reduzido p a r a g a s t a r tudo o
q u e g a n h a m . N e s s a situação, há a possibilidade de insuficiência d e g a s t o s para
c o m p r a r t o d a a produção.'' Isto é c o n h e c i d o e m terminologia k e y n e s i a n a c o m o a
falta d a d e m a n d a e f e t i v a . O resultado é s u p e r p r o d u ç ã o e d e s e m p r e g o , c o m o
c o n s e q ü ê n c i a d o s u b c o n s u m o . " ( . . . ) o q u e e u q u e r o dizer é q u e n e n h u m a n a ç ã o
t e m a p o s s i b i l i d a d e d e e n r i q u e c e r m e d i a n t e u m a a c u m u l a ç ã o d e capital decor-
rente d e u m a r e d u ç ã o p e r m a n e n t e d o c o n s u m o . " ( M a l t h u s , 1 9 8 3 , p . 1 9 8 ) .
P a r a corrigir a situação, Malthus questionava a intervenção d o g o v e r n o . Ele
v i a e s s a i n t e r v e n ç ã o na f o r m a de a u m e n t o d o s g a s t o s , o q u e e x i g e u m incre-
m e n t o n a s receitas d o g o v e r n o . I n c r e m e n t a r as receitas i m p l i c a u m a u m e n t o
n o s i m p o s t o s , a o q u e ele s e o p u n h a , pois p e n a l i z a a c l a s s e rica, o u imprimir
m a i s dinheiro, e isso n ã o é desejável, porque o resultado final s e r i a inflação, q u e
é prejudicial p a r a a c l a s s e p o b r e . Para tratar e s s e p r o b l e m a , M a l t h u s s u g e r i a
d u a s m a n e i r a s : primeiro, u m a u m e n t o no c o n s u m o i m p r o d u t i v o d o s proprietá-
rios d e t e r r a e, s e g u n d o , f a z e r g u e r r a s c o n t r a o u t r a s n a ç õ e s :
"A I n g l a t e r r a e a A m é r i c a s o f r e r a m o m í n i m o c o m a g u e r r a o u
e n r i q u e c e r a m c o m ela, e a g o r a e s t ã o s o f r e n d o m u i t o m a i s c o m a
p a z . C e r t a m e n t e , é u m a c i r c u n s t â n c i a muito infeliz q u e a l g u m a vez
t e n h a h a v i d o u m p e r í o d o e m q u e a paz t e n h a e s t a d o d e f o r m a t ã o
a c e n t u a d a ligada à d e s g r a ç a " (Oser, Blanchfield, 1 9 8 9 , p.112).
M a r x , n o s e u t r a b a l h o O C a p i t a l ( 1 8 9 4 , v.3), d e s e n v o l v e u a t e o r i a d o valor
t r a b a l h o , a teoria d a e x p l o r a ç ã o , a teoria d a t a x a d e lucros d e c l i n a n t e e a teoria
d o e x é r c i t o d e r e s e r v a . Ele inferiu a c e r t e z a d a s c r i s e s no s i s t e m a c a p i t a l i s t a e
a i m p o s s i b i l i d a d e d a s o b r e v i v ê n c i a d e s t e . Ele v i a o s i s t e m a c a p i t a l i s t a c o m o o
' Para maiores explicações sobre a teoria da superprodução de Malthus, ver Galbraith (p.71 -
-72).
eonjunto d e relações sociais e produtivas que c o n t é m as suas próprias fontes
d e c o n t r a d i ç õ e s . O c o l a p s o d o s i s t e m a capitalista é o r e s u l t a d o d a c o n c e n t r a -
ç ã o d a r e n d a n a s m ã o s d e u n s p o u c o s capitalistas via a c r e s c e n t e m i s é r i a d a s
m a s s a s c o m o o resultado d o uso intensivo d o capital e d a t e c n o l o g i a no p r o c e s -
s o p r o d u t i v o . O r e s u l t a d o final é o s u b c o n s u m o , d e v i d o à falta d e p o d e r a q u i s i t i -
vo, o que leva à crise capitalista.
M a r x n ã o a c h a v a q u e o g o v e r n o tivesse o p a p e l d e corrigir o s i s t e m a , por-
q u e ele o c o n s i d e r a v a c o m o parte d a s u p e r e s t r u t u r a f o r m a d a p e l a c l a s s e c a p i -
talista e a s e r v i ç o d e l a , q u e iria d e s a p a r e c e r c o m o p r ó p r i o s i s t e m a .
Keynes, na sua obra A Teoria Geral d o E m p r e g o , d o J u r o e da M o e d a
( 1 9 3 6 ) , identificou dois principais defeitos d o s i s t e m a capitalista q u e o i m p e d e m
d e a l c a n ç a r o nível d e p l e n o e m p r e g o : "distribuição ineqüitativa d a r e n d a " e " i n -
certezas sobre futuras decisões de investimento". C o m o resultado desses pro-
blemas, a d e m a n d a e f e t i v a (gasto em c o n s u m o e investimento) não será s u -
ficiente p a r a s u s t e n t a r o pleno e m p r e g o para as forças produtivas d a s o c i e d a d e .
A a n á l i s e d e K e y n e s d o c o n s u m o , d o multiplicador, d a p o u p a n ç a e d o s
fatores que determinam o investimento a curto e longo prazos levou-o a apelar
para a intervenção do g o v e r n o n a e c o n o m i a por meio d e políticas fiscais e m o n e -
tárias p a r a o f e r e c e r u m a m b i e n t e s a u d á v e l p a r a a e c o n o m i a c a p i t a l i s t a c o n t i -
nuar crescendo.
K e y n e s , p o r é m , e m a l g u m a s s i t u a ç õ e s , d u v i d o u d a e f i c i ê n c i a d a política
m o n e t á r i a e solicitou a i n t e r v e n ç ã o direta d o g o v e r n o por m e i o d o i n v e s t i m e n t o
público e m c o o p e r a ç ã o c o m o setor p r i v a d o :
K e y n e s d e f e n d e u a i n t e r v e n ç ã o d o g o v e r n o por d u a s r a z õ e s principais:
p r i m e i r o , p a r a o f e r e c e r u m a m b i e n t e s ã o p a r a q u e o " j o g o livre d a s f o r ç a s
e c o n ô m i c a s realize t o d a s a s p o t e n c i a l i d a d e s d e s u a p r o d u ç ã o " e, d e p o i s , p a r a
tratar c o m o s d e f e i t o s d o s i s t e m a capitalista e evitar a s u a d e s t r u i ç ã o .
"Por isso, e n q u a n t o a a m p l i a ç ã o d a s f u n ç õ e s d o g o v e r n o , q u e s u p õ e
a tarefa de ajustar a propensão a consumir c o m o incentivo para investir,
p o d e r i a p a r e c e r a u m populista d o s é c u l o X I X o u a u m f i n a n c i s t a
americano contemporâneo u m a terrível transgressão do individualismo,
e u a d e f e n d o , a o contrário, c o m o o único m e i o e x e q ü í v e l d e evitar a
d e s t r u i ç ã o total d a s instituições e c o n ô m i c a s a t u a i s e c o m o c o n d i ç ã o
d e u m b e m - s u c e d i d o exercício d a iniciativa individual." (Ibid., p.257).
b) a c o n c e n t r a ç ã o d a r e n d a é u m resultado natural d o f u n c i o n a m e n t o d a s
f o r ç a s d o livre m e r c a d o no s i s t e m a capitalista d e m e r c a d o ;
c) n a a n á l i s e ricardiana, e s s a c o n c e n t r a ç ã o levará a o E s t a d o e s t a c i o n á -
rio; e m Malthus, ao desemprego e à superprodução; e m Marx, à des-
' Uma das principais causas estabelecidas por Gaibraith para explicar o Great Crash de 1929
foi a má distribuição da renda nos EUA. Em 1929, os 5% mais ricos da população recebiam
quase um terço de toda a renda pessoal (Gaibraith, 1972, p 182-183). De fato, desde a
publicação do livro de Smith, a concentração, e não a competição, tornou-se a regra na
economia capitalista. No estudo de Berle e Means (1932), T h e M o d e r n C o r p o r a t i o n and
Private Property, eles constataram que as 200 maiores corporações não-bancárias nos
EUA tinham perto da metade da riqueza corporativa não-bancária do pais, quase um quarto
do total da riqueza nacional. Citado em Gaibraith (1987, p. 198).
t r u i ç ã o d o s i s t e m a capitalista; e, e m K e y n e s , e s t e s e r á o p r i n c i p a t d e -
feito d o s i s t e m a capitalista, e v i t a n d o q u e o s i s t e m a f u n c i o n e a p r o p r i a -
damente ou m e s m o que funcione;
2 - Ataque ao Estado
o a t a q u e a o E s t a d o n ã o é n o v o , v e m d e s d e os e s c r i t o s d e F r i e d m a n , e m
1956, no seu trabalho C a p i t a l i s m o e L i b e r d a d e , e m que ele descreve as des-
v a n t a g e n s d e q u a l q u e r p a p e l alocativo o u distributivo d o g o v e r n o n a e c o n o m i a .
Esse ataque, p o r é m , foi m a i s forte no início dos a n o s 70, oriundo de d u a s direções
d i f e r e n t e s : t e ó r i c a e p r á t i c a . E m nível t e ó r i c o , o a t a q u e v e i o d e três e s c o l a s d e
p e n s a m e n t o : o m o n e t a r i s m o , as e x p e c t a t i v a s racionais e a e s c o l a d a e s c o l h a
pública. E m nível prático, a c o n t e c e u c o m o resultado do f r a c a s s o d a e x p e r i ê n c i a
s o c i a l i s t a , d a r e c e s s ã o e d a c r e s c e n t e d í v i d a p ú b l i c a n o s p a í s e s industrializa-
dos e das crises do Estado nos países em desenvolvimento.^
E m t e r m o s i d e o l ó g i c o s , o conjunto d o p e n s a m e n t o d e s e n v o l v i d o pelas e s -
colas mencionadas é conhecido como n e o l i b e r a l i s m o . O elemento c o m u m
e n t r e e l a s é d e s m a n t e l a r a política e a teoria k e y n e s i a n a e d e f e n d e r a s f o r ç a s
d e livre m e r c a d o como instrumento para organizar a sociedade. Elas s ã o
uma versão mais sofisticada das escolas clássica e neoclássica.
F r i e d m a n , o pai d o m o n e t a r i s m o , r e s u m i u o e n f o q u e d e C h i c a g o p a r a a
política e c o n ô m i c a d a s e g u i n t e f o r m a :
" N a d i s c u s s ã o d a política e c o n ô m i c a , C h i c a g o e s t a b e l e c e a c r e n ç a
n a e f i c i ê n c i a d o m e r c a d o livre c o m o m e i o p a r a o r g a n i z a r r e c u r s o s
E s s a s r e c o m e n d a ç õ e s t ê m levado a u m a m u d a n ç a n a o p i n i ã o p ú b l i c a e m
favor d e reduzir a s a t i v i d a d e s d o g o v e r n o n u m a série d e p a í s e s .
3 - O fracasso do ataque
o a t a q u e prático e intelectual ao Estado parecia atrativo p a r a a m a i o r i a dos
e c o n o m i s t a s e d o s f o r m u l a d o r e s d e políticas. Refletia-se, p r i m e i r o , n o P r ê m i o
N o b e l d e E c o n o m i a d a d o a o s f u n d a d o r e s d e s s a s e s c o l a s e, s e g u n d o , n a c h e -
g a d a a o p o d e r d e g o v e r n o s c o n s e r v a d o r e s , tais c o m o o d e Margaret T h a t c h e r na
" As atividades de procura de renda não se limitam só ao setor público. Foi demonstrado que
também podia acontecer nas organizações privadas. Em relação a isso, ver Schiiefer e
Vishny (1989), Elding e Stiglitz (1995) e Stem (1991).
'° Krueger (1974, p. 291 -303) foi o primeiro em demonstrar as distorções da competição induzidas
pelo Estado no comércio internacional, através do uso de medidas restritivas, como as quotas.
Inglaterra, e m 1979, e o d e R o n a l d R e a g a n nos E U A , e m 1 9 8 1 , o n d e eles lidera-
ram o ataque contra o estado do bem-estar como ineficiente, oneroso e insus-
t e n t á v e l , p o r t a n t o , h a v i a n e c e s s i d a d e d e reduzir o s e u t a m a n h o .
Para julgar o t a m a n h o d o g o v e r n o na e c o n o m i a , o indicador m a i s u s a d o é a
relação entre os g a s t o s d o g o v e r n o e o Produto Interno Bruto ( P I B ) . O u t r o s dois
indicadores — o percentual d a dívida pública e m relação a o PIB e a participação
d o e m p r e g o público d o g o v e r n o e m relação a o e m p r e g o total — s e r ã o u s a d o s c o m
a m e s m a finalidade. C o m o e s t a análise s e limita a o s países industrializados,
esses i h d í c M õ r é s s e T ã õ l j s ã d õ s p W a l ^ ^
d e 1 9 9 0 n o s sete p a í s e s principais (G7), na União E u r o p é i a (UE) e n a O r g a n i z a -
ção para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Analisahdo-
-se o c o m p o r t a m e n t o d e s s e s indicadores n e s s e s g r u p o s d u r a n t e o m e n c i o n a d o
p e r í o d o , a i m a g e m f a l a por si m e s m a : é o b v i o q u e o t a m a n h o d o g o v e r n o t e m
a u m e n t a d o e que todo o ataque ao Estado não t e m tido resultados lógicos.
A T a b e l a 1 i n f o r m a s o b r e a p a r t i c i p a ç ã o d o g a s t o público e m r e l a ç ã o a o
PIB no G 7 , n a U E e na O C D E no período 1970-95. P o d e m - s e fazer as s e g u i n t e s
o b s e r v a ç õ e s : e m primeiro lugar, e m todo o p e r í o d o , o g a s t o público t e m a u m e n -
t a d o s i g n i f i c a t i v a m e n t e . E s s e a u m e n t o foi d e , a p r o x i m a d a m e n t e , 6 5 % n o G 7 e
7 6 % n a E U ; e m n e n h u m E s t a d o o u g r u p o , e s s a c i f r a foi m e n o r d o q u e o s e u
nível e m 1 9 7 0 . E m s e g u n d o , o t a m a n h o do g o v e r n o r e p r e s e n t a m a i s d e 4 0 % d o
P I B e, e m a l g u n s p a í s e s c o m o a F r a n ç a e a Itália, a l c a n ç a q u a s e 5 4 % e 5 2 %
r e s p e c t i v a m e n t e . Isso significa q u e , e m c a d a d ó l a r p r o d u z i d o n a F r a n ç a , por
e x e m p l o , 5 4 c e n t a v o s v ã o p a r a o g o v e r n o . A t é n a Inglaterra, n o p e r í o d o d o
g o v e r n o c o n s e r v a d o r , e s s a cifra c h e g o u perto d e 4 3 % d o P I B .
Tabela 1
Despesa total do governo, em percentual do PIB, em alguns
países selecionados — 1970-1995
PAÍSES 1970 1975 1980 1985 1990 1991 1992 1993 1994 1995
Canadá 33,5 38,5 38,8 45,3 46,0 49,2 50,2 49,4 47,2 46,5
França 38,5 43,4 46,1 52,1 49,8 50,4 52,0 54,6 54,0 53,9
Alemanha 38,3 48,4 47,9 47,0 45,1 47,9 48,5 49,5 48,9 49,5
Itália 33,0 41,5 42,1 51.2 53,4 53,7 56,3 57,1 54,8 52,1
Japão 19,0 26,8 32,0 31,6 31,3 30,9 31,7 33,7 34,4 35,7
Reino Unido .... 36,7 44,4 43,0 44,0 39,9 40,7 43,1 43,5 43,1 43,2
Estados Unidos 30,0 32,8 31,4 32,9 32,8 33,4 34,4 33,9 33,0 33,2
G7 27,2 33,2 40,2 43,4 42,6 43,7 45,2 46,0 45,1 44,9
Países europeus... 32,1 39,3 43,0 48,1 45,8 46,5 47,6 49,2 48,5 47,9
OCDE 36,5 38,9 38,4 39,3 40,5 41,1 40,3 40,3
FONTE DOS DADOS BRUTOS: PUBLIC MANAGEMENT REFORM AND ECONOMIC AND
SOCIAL DEVELOPMENT (1998). Paris: O E C D ; Minis-
terial Symposium on the Future of Public Services, p.66.
A m e s m a t e n d ê n c i a aplica-se à p r o p o r ç ã o d a dívida pública e m relação a o
PIB. O s d a d o s d i s p o n í v e i s (Tabela 2) m o s t r a m q u e , n o s países d o G 7 , n a U E e
na O C D E , a dívida pública cresceu drasticamente, quase dobrou e m todas as
c a t e g o r i a s . E m p a í s e s c o m o o C a n a d á e a Itália, a dívida p ú b l i c a e l e v o u - s e
n u m a f o r m a tal q u e c h e g o u a m a i s de 1 0 0 % d o P I B . Na Itália, p o r e x e m p l o , o u
a c r e s c e u d e 38,1 % e m 1970 p a r a 1 2 4 , 7 % e m 1995, u m a u m e n t o d e 2 7 3 % . Nos
E s t a d o s U n i d o s , a u m e n t o u d e 4 1 , 5 % até 6 3 , 4 % , u m c r e s c i m e n t o d e a p r o x i m a -
d a m e n t e , 5 3 % . S ó n o R e i n o U n i d o , e s s e n ú m e r o foi m e n o r d o q u e o s e u nível
e m 1 9 7 0 . D i m i n u i u d e 77,1 % p a r a 6 0 % . E s s a baixa ( 2 8 % ) , p o r é m , t e v e m a i s a
ver c o m o período p r é - c o n s e r v a d o r (1970-80) do q u e c o m as políticas e as práti-
cas neoliberais após 1980.
Tabela 2
Divida pública bruta do governo, em percentual do PIB, em alguns
paises selecionados — 1970-1995
PAlSES 1970 1975 1980 1985 1990 1991 1992 1993 1994 1995
Canadá 52,8 43,3 44,0 64,1 72,5 79,4 87,2 94,4 97,5 100,5
França 30,9 38,6 40,2 41,0 45,8 53,0 56,4 60,7
Alemanha 18,1 23,8 31,1 42,8 45,5 44,4 45,8 51,9 51,7 62,2
Itália 38,1 57,6 58,1 82,3 104,5 108,4 117,3 118,9 125,5 124,7
Japão 11,5 22,4 51,2 67,0 65,1 62,4 63,6 67,4 73,1 80,6
Reino Unido 77,1 61,6 54,0 58,9 39,3 40,6 47,6 56,6 54,3 60,0
Estados Unidos 41,5 39,9 37,0 49,5 55,5 59,5 61,8 63,3 62,8 63,4
G7 39,9 41,4 43,8 57,6 60,4 62,2 67,0 72,2 74,5 78,9
UE 40,7 49,6 45,6 69,3 71,5 73,2 78,0 84,7 84,7 86,6
OCDE 40,2 54,4 57,1 58,9 62,2 66,1 67,5 70,6
FONTE DOS DADOS BRUTOS: PUBLIC MANAGEMENT REFORM AND ECONOMIC AND
SOCIAL DEVELOPMENT (1998). Paris: OECD; Minis-
terial Symposium on the Future of Public Services, p.65.
A p a r t i c i p a ç ã o d o e m p r e g o público e m r e l a ç ã o a o e m p r e g o total é o u t r o
indicador possível d e ser u s a d o para medir o t a m a n h o d o g o v e r n o n a e c o n o m i a .
A Tabela 3 m o s t r a q u e a participação do e m p r e g o no g o v e r n o foi maior e m 1995
d o q u e e m 1 9 7 0 , a p e s a r d e t o d o s os p r o c e s s o s d e p r i v a t i z a ç ã o o c o r r i d o s n o s
p a í s e s d e s e n v o l v i d o s . E x c e t o no R e i n o U n i d o , o n d e o g o v e r n o foi c a p a z d e
reduzir o e m p r e g o p ú b l i c o e m 2 4 % , e n o s E U A , e m 3 % , e m t o d o s o s o u t r o s
p a í s e s , o e m p r e g o público e r a m a i s alto d o q u e o s e u nível e m 1970. N a m é d i a ,
a u m e n t o u 2 0 % no G 7 e 3 2 % n a U E (Tabela 3 ) .
Emprego público, em percentual do emprego total, em alguns -
países selecionados — 1970-1995
PAÍSES 1970 1975 1980 1985 1990 1991 1992 1993 1994 1995
Canadá 19,20 20,90 19,50 20,70 20,50 21,40 21,90 21,80 21,50 20,70
França.. 18,00 19,20 20,20 22,80 22,60 22,90 23,50 24,30 24,60 24,70
Alemanha... 11,20 13,80 14,60 15,50 15,10 15,90 16,10 16,00 15,80 15,60
Itália.... 12,20 14,40 15,40 16,70 17,30 17,20 17,40 17,70 17,90 17,80
Japão 7,70 8,70 8,80 8,70 8,10 8,10 8,10 8,20 8,40 8,30
Reino Unido 18,10 20,80 21,20 21,50 19,40 19,50 19,20 17,00 14,90 14,30
Estados Unidos 16,00 17,10 16,40 15,30 15,40 15,60 15,70 15,70 15,50 15,50
G7 14,60 16,40 16,60 17,30 16,90 17,20 17,40 17,20 16,90 16,70
UE 11,90 13,90 15,60 17,10 16,90 17,10 14,40 17,50 17,30 17,70
Tabela 5
{%)
EUA 15 a 64 66 67 65 61 62
65 e mais 11 12 16 19 19
Reino Unido 15 a 64 64 65 64 62 62
65 e mais 15 14 16 20 19
Canadá 15 a 64 68 68 64 59 60
65 e mais 10 13 16 22 21
Japão 15 a 64 67 67 62 60 60
65 e mais 9 15 21 23 23
Alemanha 15 a 64 66 67 65 57 59
65 e mais 16 18 22 28 24
FONTE: BALL, James (1994). T h e w o r l d e c o n o m y ; trends and prospects for the next
decade. Londres ; Needhams Design. p.57.
3.3 - Regulações
O principal p a p e l d a r e g u l a ç ã o é tratar c o m o s p r o b l e m a s d a s f a l h a s d o
m e r c a d o . N ã o h á d ú v i d a de q u e a f u n ç ã o d o E s t a d o c o m o r e g u l a d o r está c r e s -
c e n d o c o m o t e m p o . A incerteza, o c o n h e c i m e n t o i m p e r f e i t o , o m o n o p ó l i o e as
externalidades são razões para implementar regulações a fim de melhorar o
bem-estar social. A i n d a q u e governos, hoje, na E u r o p a f a l e m s o b r e flexibilização
d a política d e s a l á r i o s e m m u i t o s p a í s e s , n ã o h á d ú v i d a d e q u e a g l o b a l i z a ç ã o ,
a tecnologia e a concorrência terão um impacto dramático nas rendas da mão-
- d e - o b r a n ã o e s p e c i a l i z a d a ( M u n d o . . . , 1 9 9 5 ) . Isso j á v e m a c o n t e c e n d o n o s paí-
s e s i n d u s t r i a l i z a d o s , p r i n c i p a l m e n t e n o s E U A , no J a p ã o e n a E u r o p a , o n d e a
desigualdade, a insegurança no e m p r e g o e a política salarial p e r m a n e c e r ã o c o m o
á r e a s i m p o r t a n t e s p a r a o g o v e r n o regular o m e r c a d o .
O e s t a b e l e c i m e n t o , pelo g o v e r n o , d e p r e ç o s p a r a o s m o n o p ó l i o s c o n t i -
n u a r á t e n d o a m a i o r i m p o r t â n c i a p a r a o b e m - e s t a r social. De m a n e i r a a l g u m a , o
e s t a b e l e c i m e n t o d e p r e ç o s p a r a á g u a s , eletricidade e t e l e c o m u n i c a ç õ e s s e r á
d e i x a d o à d e t e r m i n a ç ã o d o m e r c a d o . O m e r c a d o d o s i s t e m a c a p i t a l i s t a virtual-
m e n t e d e s a p a r e c e u . Está-se a s s i s t i n d o a u m s i s t e m a c a p i t a l i s t a s e m m e r c a -
do. A formação dos mercados monopolistas e oligopolistas não é nova, mas
e s t á a u m e n t a n d o d r a m a t i c a m e n t e d e v i d o à s t e n d ê n c i a s d e f u s ã o e n t r e as e m -
presas. O Q u a d r o 1 mostra alguns indicadores da concentração mundial para
oito i n d ú s t r i a s .
Quadro 1
A i n d a m a i s , a instabilidade d o s m e r c a d o s financeiros e a q u e s t ã o a m b i e n t a l
são outros casos clássicos e m que o governo tem de desenvolver um papel
principal p a r a p r o m o v e r o c o n t r o l e a m b i e n t a l e estabilizar o s m e r c a d o s f i n a n c e i -
ros p o r m e i o d a r e g u l a ç ã o .
Olhados e m conjunto, essas observações representam uma implicação
empiVica i n t e r e s s a n t e p a r a o s q u e e x i g e m a r e d u ç ã o d o p a p e l d o g o v e r n o n a
e c o n o m i a , isto é, n a m é d i a , o s g o v e r n o s e m p a í s e s d e s e n v o l v i d o s e s t ã o - s e
tornando maiores e há indicações de que o seu t a m a n h o a u m e n t a r á ainda mais
no f u t u r o .
4 - Conclusões
Neste trabalho, mostrou-se que a intervenção do governo na economia é
efeito d e u m a c a u s a . É u m a c o n s e q ü ê n c i a d a f a l h a d o m e r c a d o e m a l c a n ç a r a
a l o c a ç ã o eficiente d e recursos e redistribuir a r e n d a d e m a n e i r a m a i s equitativa
entre o s fatores de p r o d u ç ã o p a r a garantir o f u n c i o n a m e n t o d o s i s t e m a capitalis-
t a . N e s s e c a s o , o g o v e r n o d e v e tratar e s s e s p r o b l e m a s p o r m e i o d a r e g u l a ç ã o
e d e políticas d e redistribuição. A s s i m s e n d o , o p a p e l do g o v e r n o na e c o n o m i a é
indispensável.
A p e s a r d e t o d o s os sofisticados a t a q u e s teóricos a o g o v e r n o e d o f r a c a s s o
dos ex-países socialistas, a evidência mostra que os países do G 7 , d a União
E u r o p é i a e d a O C D E n ã o f o r a m c a p a z e s d e reduzir o u s e q u e r d e restringir o
t a m a n h o d o g o v e r n o n a e c o n o m i a . A o c o n t r á r i o , ele c r e s c e u c o m o t e m p o até
c h e g a r a, a p r o x i m a d a m e n t e , 4 5 % d o P I B , h a v e n d o sinais d e q u e e s s e papel
crescerá ainda m a i s no futuro. Essas observações, d e fato, d e s t r o e m exatamente
a s b a s e s intelectuais s o b r e a s q u a i s s e a s s e n t a m as e s c o l a s q u e a t a c a m a
intervenção d o E s t a d o na e c o n o m i a .
S e o p a p e l d o g o v e r n o na e c o n o m i a é a s s i m i n d i s p e n s á v e l , o g o v e r n o n ã o
p o d e e s c o l h e r s e d e v e intervir o u n ã o , s ó p o d e e s c o l h e r c o m o intervir. N ã o h á
d ú v i d a de q u e o s g o v e r n o s e r r a m e, às v e z e s , n ã o d e s e m p e n h a m s u a s f u n ç õ e s
eficientemente e m algumas áreas, mas a questão é se a situação da sociedade
está m e l h o r c o m o u s e m o g o v e r n o . T a m b é m p o d e ser d i s c u t i d o se o s instru-
m e n t o s u s a d o s p e l o g o v e r n o s ã o eficientes p a r a c u m p r i r a s u a f u n ç ã o ; p o d e m
ser r e f o r ç a d o s , a u m e n t a n d o a s u a eficiência e n ã o o s d e s t r u i n d o e, a s s i m , d e s -
truindo o setor público.
F i n a l m e n t e , a s c o n c l u s õ e s d e s t e t r a b a l h o s e r v e m c o m o u m a b o a lição
p a r a os países e m d e s e n v o l v i m e n t o q u e t e n t a m copiar m o d e l o s e l a b o r a d o s nos
p a í s e s d e s e n v o l v i d o s . Eles t ê m q u e estar c o n s c i e n t e s d a d i f e r e n ç a e n t r e as
teorias e os fatos.
Bibliografia
B A L L , J a m e s . ( 1 9 9 4 ) . T h e w o r l d e c o n o m y : t r e n d s a n d p r o s p e c t s for t h e next
decade. L o n d r e s : Needhams Design.
B H A G W A T I , J . ( 1 9 8 2 ) . Directiy U n p r o d u c t i v e P r o f i t - S e e k i n g Activities ( D U P ) .
J o u r n a l o f P o l i t i c a l E c o n o m y , v.90, n.5, p . 9 8 8 - 1 0 0 2 .
B L I N D E R , A l a n (1989). T h e e c o n o m i c m y t h s t h a t the 1980sexplodeGl. B u s i n e s s
Weel<, 2 7 nov. 2 7 , p.15.
C H E S N A I S , Francois ( 1 9 9 6 ) . A m u n d i a l i z a ç ã o d o c a p i t a l . S ã o P a u l o : X a m ã .
D A V I D S O N , P a u l ( 1 9 9 7 ) . Reality a n d e c o n o m i c theory. J P K E .
D O W , J . C . R., S A V I L L E , I. D. ( 1 9 8 8 ) . A c r i t i q u e o f m o n e t a r y p o l i c y : t h e o r y
a n d british e x p e r i e n c e . L o n d r e s : O x f o r d University.
E D L I N , A a r o n , S T I G L I T Z , J o s e p h E. ( 1 9 9 5 ) . D i s c o u r a g i n g rivais: managerial
rent-seeking a n d economic inefficiencies. A m e r i c a n E c o n o m i c R e v i e w ,
v.85,n.5,p.1301-1312.
F E R G U S O N , C . a n d J . G o u l d ( 1 9 7 5 ) . M i c r o e c o n o m i c t h e o r y . Illinois: R i c h a r d
D. In/vin.
G A L B R A I T H , J . K. ( 1 9 7 2 ) . T h e g r e a t c r a s h , 1 9 2 9 . B o s t o n : H o u g h t o n Mifflin
Company.
G A L B R A I T H , J . K. ( 1 9 8 9 ) . O p e n s a m e n t o e c o n ô m i c o e m p e r s p e c t i v a : u m a
história crítica. S ã o P a u l o : E d i t o r a d a USP.
G A L B R A I T H , J . K. ( 1 9 9 2 ) . A c u l t u r a d o c o n t e n t a m e n t o . S ã o P a u l o : E d i t o r a
Pioneira.
G E O R G E S C U - R O E G E N , N. ( 1 9 6 7 ) . Analytical e c o n o m i c s . Cambridge :
H a r v a r d University Press.
G R E E N W A L D , B r u c e , S T I G L I T Z , J o s e p h E. (1986). Externalities in e c o n o m i c s
w i t h i m p e r f e c t i n f o r m a t i o n a n d i n c o m p l e t o markets. Q u a r t e r l y J o u r n a l o f
E c o n o m i c s , v , 1 0 1 , n.3, p.229-264.
K E Y N E S , J . M. (1983). Teoria g e r a l d o e m p r e g o , d o j u r o e d o d i n h e i r o .
S ã o P a u l o : Abril C u l t u r a l .
K R U E G E R , A n n e ( 1 9 7 4 ) . T h e political e c o n o m y of t h e r e n - s e e k i n g society.
A m e n c a n E c o n o m i c R e v i e w , v^64^ n^.3, p.291 - 3 0 3 .
L A N D R E T H , Harry, C O L A N D E R , D a v i d (1994). H i s t o r y o f e c o n o m i c t h o u g h t .
B o s t o n : H o u g h t o n Mifflin C o m p a n y .
M A L T H U S , T h o m a s ( 1 7 9 8 ) . A n e s s a y o n t h e p r i n c i p i e o f p o p u l a t i o n : reprints
of e c o n o m i c c l a s s i c s . N e w York : A. M. Kelley. 1 9 6 5 .
M A L T H U S , T h o m a s (1983). P r i n c í p i o s d e e c o n o m i a p o l í t i c a . S ã o Paulo :
N o v a Cultural.
M U N D O dei t r a b a j o e n u n a e c o n o m i a i n t e g r a d a , El ( 1 9 9 5 ) . W a s h i n g t o n , D . C . :
Banco Mundial.
P E R E I R A , Luiz C a r l o s B r e s s e r ( 1 9 9 2 ) . A c r i s e d o e s t a d o . S ã o P a u l o : N o b e l .
S T I G L I T Z , J o s e p h E. ( 1 9 9 6 ) . T h e role of g o v e r n m e n t in e c o n o m i c d e v e l o p m e n t .
in: A N N U A L W O R L D BANK CONFERENCE ON DEVELOPMENT
E C O N O M I C S 1996. Washington, D.C.: Banco Mundial.
S T I G L I T Z . J o s e p h E. ( 1 9 9 6 ) . S o m e l e s s o n s f r o m t h e east a s i a n m i r a c l e .
R e s e a r c h O b s e r v e r , B a n c o M u n d i a l , v i 1, p.151 - 1 7 7 , A u g .
W I N C H , D. M. ( 1 9 7 1 ) . A n a l y t i c a l w e l f a r e e c o n o m i c s . Baltimore : Penguin
Books.