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Grandes Mestres da Pintura I APOSTILA

O Nascimento de Vênus (1484), Galleria Uffizi, Florença.

O Pintor
Sandro Bo celli (1445-1510)

Sandro Bo celli. Auto-retrato, detalhe de


A Adoração dos Magos, 1475. Galleria Uffizi,
Florença.

Nascido em Florença, Bo celli passou pra camente toda sua vida em sua cidade natal. A data de
seu nascimento é deduzida de um documento de 1447, no qual seu pai Mariano Di Vanni Filipepi
declara que o seu filho Sandro está com dois anos.

Em 1470, já devia ser pintor de certa fama, pois lhe fora encomendada uma obra para a
Corporação do Mercadores e em 1471 fazia parte da Companhia de San Luca. Em 1473 pintou um
São Sebas ão para a igreja de Santa Maria Maggiori, entre 1474-1475 negociou a execução de
pinturas no cemitério de Pisa, em 1480 pintou Santo Agos nho na igreja Ognissan e assim
prosseguiu produzindo muitas outras obras.

Apesar de ter permanecido em Florença a maior parte de sua vida, sua reputação e talento foram
reconhecidos pelo Papa e em 1481-82 trabalhou na decoração da Capela Sis na.

Mas o cliente mais importante de Bo celli foi a Família Medice, da qual Lorenzo, o Magnífico, era
chefe. A Família Medice governava a cidade de Florença e era uma grande patrocinadora das
artes. A obra O Nascimento de Vênus foi feita por encomenda de Lorenzo para sua casa de
campo. Em 1496, Michelangelo que estava em Roma, envia a Bo celli uma carta a ser entregue a
Lorenzo de Medici, o que demonstra que os dois ar stas se conheciam e que Bo celli era ín mo
dos Medici. Também conhecia Leonardo da Vinci, pois fora seu colega no ateliê de Andrea del
Verrocchio em Florença.

Este material é parte integrante do curso online «Grandes Mestres da Pintura I: Dani
conheça e entenda suas obras.» Criado e produzido por Daniele Porto Almeida. Porto
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Embora não hajam provas, consta que Bo celli teria se tornado um seguidor de Jerônimo
Savonarola. Este era um monge dominicano que expulsou os Medice de Florença e ins tuiu
uma teocracia muito severa, foi condenado a morte pelo Va cano. A hipótese de que Bo celli
tenha se tornado um seguidor de Savonarola surge de uma suposta conversa com uma
homem chamado Doffo Spini (contrário a Savonarola) ao qual Bo celli perguntou por que
Savonarola, embora não vesse sido julgado culpado, fora condenado à morte. Verdade ou
não, o certo é que Bo celli deixou de pintar mitologias e mulheres nuas.

Em sua obra, A Vida dos Ar stas, Vasari fala sobre a estranheza do caráter do ar sta, “sempre
inquieto” e o acusa de ser seguidor de Savonarola. Vasari acrescenta que “Bo celli deixou de
pintar e caiu em grandíssima desordem.” Embora Bo celli não es vesse decrépito quando
morreu, certamente estava ultrapassado como ar sta. Infelizmente, Bo celli morreu na
obscuridade e sua fama só ressurgiu no século XIX.

Entendendo o contexto do quadro


Contexto histórico e social:

Esta obra de Bo celli foi pintada no período do Renascimento italiano. Uma das caracterís cas
básicas da Renascença é à volta aos valores da An guidade Clássica, isto é, o reviver dos ideais da
Grécia e Roma an gos.

No Renascimento há a predominância de uma visão cien fica do mundo. O resultado disso nas
artes plás cas são os estudos da perspec va segundo princípios de Matemá ca e Geometria, que
conduziu a pintura a outro recurso, o claro-escuro, que consiste em pintar algumas áreas
iluminadas e outras na sombra.

Outra caracterís ca da pintura Renascen sta foi o surgimento de ar stas com es lo pessoal,
diferente dos demais. Na Idade Média (período anterior à Renascença) a produção ar s ca era
anônima, mas com o Renascimento este modelo se altera, pois este período se caracteriza pelo
ideal de liberdade e, portanto, pelo individualismo.
Assim sendo, é no Renascimento que surge a figura do ar sta como conhecemos hoje, um
profissional criador, individual e autônomo, que expressa suas ideias e sen mentos através de
suas obras.

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Tema da obra

Sandro Bo celli. O Nascimento de Vênus.


1484. Têmpera sobre tela, 172,5 x 278,5 cm.
Galleria degli Uffizi, Florença

A obra “O Nascimento de Vênus” foi revolucionária em sua época, uma vez que é a primeira obra
renascen sta com tema exclusivamente mitológico.

A pintura nos mostra Vênus emergindo do mar numa concha que é impelida à praia pelos deuses
do vento, em meio a uma chuva de rosas. Quando está prestes a pisar em terra, uma das Horas (ou
Ninfas) recebe-a com um manto púrpura.

Vênus é a deusa romana da beleza e uma das mais importantes da An guidade, seu nome grego é
Afrodite. A lenda conta que Urano (o céu) e Gaia (a terra) se uniram e deram origem aos Titãs. Mas
um deles, chamado Cronos, castrou seu pai com uma foice e jogou seus genitais no mar, e da
espuma que daí resultou nasceu Vênus.

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Caracterís cas técnicas da obra

Em sua obra O Nascimento de Vênus (172,5 x 278,5cm), Bo celli revelou-se um inovador no


plano técnico. Esta obra foi produzida com a técnica de Têmpera (emulsão de pigmentos, água,
ovo e cola) que normalmente era aplicada sobre madeira. Mas Bo celli não usou a tradicional
madeira de choupo e sim uma tela, tornando O Nascimento de Vênus o primeiro exemplo
conhecido na Toscana de um quadro em tela de grande formato. A tela ainda hoje se mantém
firme e elás ca.

Sandro Bo celli, um cristão devoto cuja oficina produzia numerosas encomendas de quadros
religiosos, em seu apogeu decidiu pintar uma série de quatro mitologias de grande formato
baseada na tradição pagã da An guidade Clássica. Uma delas era O Nascimento de Vênus.

A Vênus de Bo celli surge em uma concha, em tamanho natural, trazendo consigo o retorno do
nu feminino banido das artes por quase mil anos. A figura da Vênus resulta de estudos anatômicos
realizados pelo ar sta e inspira-se em modelos an gos. Bo celli a representa apoiada sobre uma
só perna, o que remonta a estatutária grega clássica, há uma leve curvatura de seu corpo e um
gesto de pudor. Ela corresponde ao cânone que ar stas da An guidade Clássica nham elaborado
nas suas pesquisas de harmonia e de um ideal esté co.

Quanto à representação, é caracterís ca da arte de Bo celli o uso de contornos ní dos e


precisos, com mãos e pés bem elaborados e longos dedos. A estrutura óssea destacada também é
um traço do ar sta que costumava pintar narizes elegantes, osso da maça do rosto elevado e uma
forte linha do maxilar. O olhar longínquo de seus personagens também é uma peculiaridade do
ar sta, Bo celli costumava pintar suas figuras como se es vessem recolhidas em seu mundo
interior e perdidas em pensamentos. Para ele, a beleza estava associada ao ideal cristão de graça
divina. Por isso as figuras humanas de seus quadros são belos por expressar essa graça, e são
também melancólicas por que supõem que perderam esse dom de Deus. Ele foi considerado o
ar sta que melhor expressou, através do desenho, um ritmo suave e gracioso para as figuras
pintadas.

Sandro Bo celli. O Nascimento de Vênus. Madonna. Detalhe do retábulo de


1484. Detalhe. São Barnabé.

Quanto ao esquema de cores, Bo celli procurou balancear os frios verdes e azuis com áreas
rosadas, suaves e quentes com toques dourados.

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Símbolos e curiosidades da obra


Por ser o primeiro quadro renascen sta com tema mitológico, O Nascimento de Vênus é uma obra
emblemá ca. O quadro faz referência à lenda de que Urano (o céu) e Gaia (a terra) se uniram e
deram origem aos Titãs. Mas um de seus filhos chamado Cronos, castrou seu pai com uma foice e
jogou seus genitais no mar, e da espuma que daí resultou nasceu Vênus (Afrodite para os gregos).
É a deusa do amor, da beleza, do riso e do casamento.

Elementos do quadro:

 Hora: a linda moça à espera de Vênus na beira da água é uma das quatro Horas,
personificação das estações. Seu ves do esvoaçante bordado com centáureas nos
contam que é a Hora da Primavera, estação da renovação na qual Vênus fazia regressar a
beleza depois dos rigores do inverno. Ao redor da cintura da moça encontra-se um ramo
de rosas cor-de-rosa e sobre os ombros há uma guirlanda de mitra verde, símbolo do amor
eterno.
A Hora segura um manto púrpura com o qual pretende envolve-la. Este manto tem um
significado ritual, ele marca a fronteira entre dois mundos: os recém-nascidos e os mortos
estavam sempre envoltos em um pano.
 Anêmonas aos pés da Hora: estas pequenas flores aos pés da ninfa reforçam a ideia de
que se trata da chegada da primavera.
 Laranjeiras: as árvores ao fundo da ninfa estão repletas de flores brancas e possuem
pontos dourados em suas folhas e tronco. A ideia do ar sta é fazer parecer que o bosque
está iluminado devido à presença da deusa.
 Zéfiro e Clóris: Zéfiro era o deus do vento, soprava de oeste e trazia a primavera. A moça
com o corpo enlaçado no deus do vento é Clóris, sua companheira. A mitologia conta que
a ninfa Clóris foi raptada por Zéfiro do jardim das Hespérides, mas este se apaixonou por
sua ví ma e ela consen u em ser sua esposa. Assim Clóris se tornou Flora, a deusa das
flores.
 Rosas sagradas de Vênus: a mitologia conta que as rosas foram criadas ao mesmo tempo
que o nascimento da deusa e são símbolo do amor. Seus espinhos nos lembram que o
amor pode ferir.
 Vênus sobre uma concha: Bo celli apresenta a deusa em uma pose chamada “Vênus
Pudica” em que ela esconde o corpo de forma casta com as mãos e apóia-se sobre uma
das pernas, esta uma referência clara à estatutária da Roma An ga.
Na Idade Média atribuíam-se símbolos tradicionais da Vênus an ga, como as rosas por
exemplo, à personagem que era agora sagrada e representava o oposto a deusa: a Virgem
Maria. Em relação à deusa pagã, a concha representa a fer lidade e ainda, devido a sua
semelhança com o sexo da mulher, o prazer dos sen dos e a sexualidade. Bo celli usa o
mesmo elemento, a concha, sobre a Madonna do retábulo de São Barnabé no qual ele
agora simboliza a virgindade (eles achavam que as conchas eram fecundadas pelo
orvalho). De qualquer modo, Bo celli não hesitou em usar o mesmo modelo nas duas
representações.
 A nudez da deusa: assim como em muitas outras obras da história da arte, aqui a nudez
representa a pureza.

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