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1 10 Perguntas e Respostas Sobre Leishmaniose Visceral
1 10 Perguntas e Respostas Sobre Leishmaniose Visceral
Leishmaniose Visceral
10 perguntas e respostas sobre
Leishmaniose Visceral
Outubro 2012
Elaboração
Alexandre Sampaio Moura
Helen Maria Ramos de Oliveira Lopes
Marcia Costa Ooteman Mendes
Maria Vitória Mourão
Vanessa de Oliveira Pires Fiúza
Belo Horizonte
2012
Sumário
Leishmaniose visceral.............................................................................4
5 Como fazer o diagnóstico da leishmaniose visceral?...... 10
1 Por que a leishmaniose visceral é um problema de 6 Como notificar?............................................................................. 14
saúde pública?..................................................................................5
As leishmanioses são consideradas primariamente como uma zoonose No Brasil, a LV apresentava inicialmente um caráter eminentemente rural
podendo acometer o homem, quando este entra em contato com o ciclo de mas, a partir da década de 80, expandiu para áreas urbanas de médio e grande
transmissão do parasito, transformando-se em uma antropozoonose. Atual- porte. A urbanização da leishmaniose visceral, associada à grande mobilidade
mente, encontra-se entre as seis endemias consideradas prioritárias no mundo dos reservatórios e vetores, faz com que a doença exiba elevado potencial de
(TDR/WHO). expansão e maior dificuldade de controle. Em Belo Horizonte, a doença apre-
senta um padrão de transmissão tipicamente urbano (domicílio e peridomicí-
Figura 1 - Ciclo urbano de transmissão da leishmaniose visceral
lio) dada a sua incidência e alta letalidade (tabela 1), constitui-se em uma das
endemias mais importantes do município.
Na tabela 1, observa-se, a partir da ocorrência do primeiro caso de leishma-
niose visceral humana (LVH) em Belo Horizonte no ano de 1994, que a doen-
ça apresentou processo de expansão territorial no município, com aumento
cão infectado significativo de casos humanos até o ano de 2008 e taxas de letalidade altas,
mais recentemente, entre 2005 e 2007, a letalidade se manteve abaixo de 10%,
voltando a aumentar a partir de 2008, chegando a atingir 22,6%, em 2009.
Tabela 1 - Casos autóctones confirmados, de leishmaniose visceral humana, 1994 – 2012
(dados parciais), Belo Horizonte
4 5
As taxas de positividade canina do município aumentaram progressivamente até 2006, passando
de 4,3 em 1996 para 9,9. A partir de 2007 a positividade apresentou decréscimo chegando a 5,6
em 2011(Gráfico1).
Gráfico- Percentual
1 - Percentual de positividade da Leishmaniose Visceral
(LVC) Canina
em Belo (LVC)
2
Horizonte, 1996em
a 2011.
Belo Horizonte, 1996 a 2011.
9,9
10,0 9,0 9,3
8,0
8,0 7,6
7,8
7,4 6,8
6,0 5,6
5,1 5,6
4,4
Para conter o avanço da endemia a Secretaria Municipal de Saúde de Belo 4,0
4,3
3,1
Horizonte realiza ações sistemáticas de controle, conforme normas técnicas do 3,2
3,8
2,0
Ministério da Saúde. O objetivo do programa é diminuir os níveis de transmis-
são da doença por meio da identificação e eutanásia de cães sororreagentes, 0,0
96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11
controle químico do vetor (Lutzomyia longipalpis) e ações integradas de mane-
Fonte: GECOZ/GVSI/SMSA
jo ambiental. Fonte: GECOZ/GVSI/SMSA
A metodologia é baseada na estratificação epidemiológica, ou seja, defini- enfocando principalmente a importância do manejo ambiental para evitar a
Em 2011 foram examinados 171.937 cães, sendo que 9.722 tiveram resultado de exame
ção de áreas de risco, priorizando-se aquelas com maior incidência de casos formação depara
positivo criadouros
leishmaniosedosvisceral.
flebótomos e a guarda
Dos animais responsável
sororreagentes, dos animais.
8.122 (83,5%) foram
eutanasiados (dado parcial). Foram borrifados 87.534 imóveis (tabela 2).
humanos, maiores taxas de positividade canina e situações ambientais propí- Pode-se considerar como fatores limitantes do programa de
Ações educativas são feitas pelos agentes de combate a endemias com o objetivo de
controle da
cias para ocorrência da doença. LV emimportância
Belo Horizonte
orientar a população a alta densidade demográfica, elevada população ca-
sobre as formas de prevenção da doença, enfocando principalmente
do manejo ambiental para evitar a formação de criadouros dos flebótomos e a guarda
a
Os inquéritos censitários caninos são realizados durante todo o ano nas nina (276.091
responsável cães/censo
dos animais. canino 2012), recusa de entrega de cães soroposi-
Pode-se considerar como fatores limitantes do programa de controle da LV em Belo
áreas de média, alta e muito alta transmissão e o controle vetorial direciona- tivos, rápida reposição de cães
Horizonte a alta densidade demográfica,naselevada
áreaspopulação
de inquérito, resistência
canina (284.552 cães/censoà canino
borrifação
2011), recusa de entrega de cães soropositivos, rápida reposição de cães nas áreas de inquérito,
do para setores ou micro-áreas com maior concentração de cães infectados. no intra-domicílio, e o pouco conhecimento da população sobre as formas de
resistência à borrifação no intra-domicílio, e o pouco conhecimento da população sobre as formas
As amostras de sangue canino coletadas são encaminhadas ao Laboratório prevenção, diagnóstico
de prevenção, diagnóstico e dotratamento
e do tratamento da doença.
da doença.
6 7
Qual a posição atual da saúde O que pode ser feito para reduzir
3 pública quanto ao uso das 4 a letalidade da LV humana?
vacinas anti-leishmaniose e o
tratamento da leishmaniose Com o objetivo de reduzir a letalidade da leishmaniose visceral em nosso
visceral canina? município, a Gerência de Assistência alerta para a importância do diagnóstico
precoce e para a indicação correta de anfotericina B nos casos que apresen-
tarem critérios de gravidade da doença (Quadro 1).
8 9
Como fazer o diagnóstico da O diagnóstico da coinfecção Leishmania-HIV pode ter implicações na abor-
5 leishmaniose visceral?
dagem da leishmaniose quanto à indicação terapêutica, à resposta terapêutica
e à ocorrência de recidivas. Portanto, deve-se oferecer a sorologia anti-HIV a
todos os pacientes com LV, independentemente da idade, conforme as reco-
mendações do Ministério da Saúde.
10 11
Figura 1 - Fluxograma de realização de aspirado medular em pacientes com suspeita de LV. Figura 2 - Impresso para solicitação de aspirado medular na URS Sagrada Família.
12 13
Quais são as referências para
6 Como notificar? 7 atendimento e/ou internação de
A leishmaniose visceral é doença de notificação compulsória ime-
casos supeitos?
diata. A notificação deve ser feita em impresso próprio do Sistema Nacional
de Agravos de Notificação (SINAN). Caso o serviço não disponha do impresso,
este deve ser solicitado à Gerência de Regulação Epidemiologia e Informação Referências ambulatoriais
(GEREPI) à qual a unidade esteja vinculada. O impresso preenchido deve ser Ambulatório do Hospital Eduardo de Menezes
retornado para esta mesma gerência. A comunicação do agravo pode ser fei- Av Dr. Cristiano de Resende, 2213 - Bonsucesso. Tel.: 3328-5055.
to também através de preenchimento on-line (http://notificacao.pbh.gov.br). Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecto-Parasitárias Orestes Diniz
Ressalta-se que casos suspeitos de leishmaniose visceral devem ser co- Alameda Alvaro Celso, 241A - Santa Efigênia. Tel: 3409-9547.
municados também por telefone para a GEREPI nos dias úteis de 8 às 17 horas Centro de Pesquisas Rene Rachou
e demais dias e horários, comunicar o plantão do Centro de Informações Estra- Av. Augusto de Lima, 1715 - Barro Preto. Tel: 3349-7700.
tégicas em Vigilância em Saúde - CIEVS. Referências Hospitalares
Hospital Eduardo de Menezes
Av Dr. Cristiano de Resende, 2213 - Bonsucesso. Tel.: 3328-5000.
Telefone do Plantão e das Hospital Infantil João Paulo II
Vigilâncias Epidemiológicas Alameda Ezequiel Dias, 345 - Santa Efigênia. Te.: 3239-9074
Plantão 24h: 8835-3120 Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais
Av. Prof. Alfredo Balena, 110 - Santa Efigênia. Tel.: 3409-9327.
Barreiro 3277-5946
Centro-Sul 3277-4331
Leste 3277-4477
Nordeste 3277-6241
Como obter o Glucantime para
Noroeste 3277-7645
Norte 3277-7853
8 tratamento e como administrá-lo?
Oeste 3277-7082
Pampulha 3277-7938
Venda Nova 3277-5413 O Glucantime é distribuído aos hospitais, tanto público quanto privado, e
Para NOTIFICAÇÃO on-line, aos Centros de Saúde através das farmácias distritais da Secretaria Municipal de
consultar a internet: Saúde, mediante receita médica e ficha de notificação.
http://notificacao.pbh.gov.br Orientações sobre dose e forma de administração estão descritas no quadro 3.
14 15
Quando usar o desoxicolato condições clínicas em que o médico assistente julgue apropriado o uso de
9 de anfotericina B?
anfotericina B lipossomal podem ser discutidas individualmente com os pro-
fissionais médicos do CIEVS (Centro de Informações Estratégicas em Vigilância
em Saúde) pelo telefone 8835-3120.
A dose preconizada é de 3mg/kg/dia, durante sete dias, ou 4mg/kg/dia,
durante cinco dias, por infusão venosa, em dose única diária. Orientações sobre
Existe a necessidade de internação e de se considerar o uso do desoxico- dose e forma de administração estão descritas no quadro 3.
lato de anfotericina B (1mg/kg/dia (máx: 50mg/d) por infusão venosa duran- A solicitação do medicamento para pacientes atendidos em Belo Horizonte
te 14 a 20 dias em dose única diária) como medicação de primeira escolha deverá ser feita por meio de contato do médico assistente com os profissionais
para o tratamento de pacientes com fatores associados à maior risco de médicos do CIEVS (Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saú-
óbito por leishmaniose visceral (quadro 2). Orientações sobre dose e forma de) pelo telefone 8835-3120. O caso será discutido e, após autorização, o medi-
de administração estão descritas no quadro 3. camento deverá ser retirado na GEMED (Gerência de Medicamentos) da SMSA
Orientações mais detalhadas em relação à assistência ao paciente podem com apresentação da cópia da ficha de solicitação de anfotericina B lipossomal
ser consultadas nos seguintes documentos: do Ministério da Saúde, da receita médica e cópia da ficha de notificação do
SINAN. Esta ficha é fornecida pela GEREPI à qual a unidade esteja vinculada e
• “Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral” deve estar disponível nos Serviços de Controle de Infecção Hospitalar de cada
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_leish_visceral2006.pdf hospital ou pode ser obtido no manual de “Leishmaniose Visceral Grave - Nor-
• “Leishmaniose Visceral Grave - Normas e Condutas” mas e Condutas”
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_lv_grave_nc.pdf http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_lv_grave_nc.pdf.
A ficha original preenchida deve ser enviada à GEREPI.
• “Redução de Letalidade”
Após o tratamento com anfotericina B lipossomal, o médico solicitante fica-
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/lv_reducao_letalidade_web.pdf
rá responsável pelo envio das informações referentes à resposta terapêutica e à
evolução do caso, também em formulário próprio, que deve ser encaminhado
10 a anfotericina B lipossomal?
Quadro 3 - Resumo dos medicamentos disponíveis para tratamento da LV humana
(Adaptado de Ministério da Saúde, 2009)
desoxicolato de anfotericina B
Frasco com 50 mg de desoxicolato sódico de
Apresentação
A anfotericina B lipossomal apresenta custo elevado, o que restringe seu anfotericina B liofilizada.
uso. De acordo com o Ministério da Saúde, esta medicação deve ser usada em 1 mg/kg/dia por infusão venosa durante 14 a
pacientes com Leishmaniose Visceral Grave que apresentem falha terapêutica 20 dias. A decisão quanto à duração do trata-
ou toxicidade ao desoxicolato de anfotericina. A anfotericina B lipossomal deve mento deve ser baseada na evolução clínica,
Dose e via de aplicação
ser usada como primeira escolha em Leishmaniose Visceral Grave em pacien- considerando a velocidade da resposta e a
tes com insuficiência renal documentada (taxa de filtração glomerular menor presença de co-morbidades.
que 60mL/min/1,73 m2). Embora não existam evidências para escolha do tra- Dose máxima diária de 50 mg.
tamento em pacientes com mais de 50 anos de idade e em transplantados continua
renais, cardíacos e hepáticos, o comitê assessor do Ministério da Saúde suge-
re que estes pacientes sejam tratados com a anfotericina B lipossomal. Outras
16 17
Quadro 3 - continuação. Quadro 3 - continuação.
18 19
Fluxo de Abordagem do Paciente Residente em
Quadro 3 - continuação.
Belo Horizonte com Leishmaniose Visceral
antimoniato de N-metil glucamina
Pode ser utilizado em pacientes com LV sem fatores de Paciente com esplenomegalia e com febre de qualquer duração
risco para óbito e que não apresentem contra-indicação OU com febre igual ou superior a 14 dias1.
a esta medicação. Neste caso deve-se garantir rigoroso
Indicação
acompanhamento de possíveis eventos adversos ou com-
plicações secundárias às co-morbidades, uma vez que a
Sinais clínicos de gravidade2?
sua resposta terapêutica parece ser mais demorada.
Ampolas de 5 mL contendo 1.500 mg (300 mg/mL)
de antimoniato de N-metil glucamina, equivalen-
Apresentação
tes a 405 mg (81 mg/mL) de antimônio pentava- Sim Não
lente (Sb+5).
20 mg/ Sb+5 /kg/dia por via endovenosa ou intra-
Dose e via de aplicação muscular, uma vez ao dia, durante 30 dias. A dose Encaminhar para UPA Solicitar exames
prescrita refere-se ao antimônio pentavalente para estabilização clínica complementares
e propedêutica ambulatorialmente3
(Sb+5). Dose máxima de 3 ampolas/dia.
Endovenosa ou intramuscular. Administrar pre-
ferencialmente por via endovenosa lenta. A dose
Administração Presença de alterações
poderá ser diluída em soro glicosado a 5% para fa- Sim
laboratoriais graves?
cilitar a infusão endovenosa.
Artralgias, mialgias, inapetência, náuseas, vômitos,
plenitude gástrica, epigastralgia, pirose, dor abdomi- Não
Eventos adversos
nal, dor no local da aplicação, febre, cardiotoxicida-
Diagnóstico de LV
de, hepatotoxicidade, nefrotoxicidade e pancreatite. confirmado Diagnóstico de LV
• Monitorar as enzimas hepáticas, função renal, ou provável4. confirmado
amilase e lipase séricas; ou provável4.
• Realizar eletrocardiograma no início, durante e
ao final do tratamento para monitorar o intervalo
QT corrigido, arritmias e achatamento da onda T;
• Está contra-indicado em pacientes com insufi- Solicitação de
Recomendações ECG pré-tratamento.
ciência renal, insuficiencia hepática, insuficien- Se não houver contra-indicações
cia cardíaca, uso concomitante de medicamentos ao Glucantime5, prescrever o
que alteram o intervalo QT corrigido com duração medicamento6. Caso apresente
maior que 450 ms e pacientes que foram submeti- contra-indicações com
dos a transplante renal e em gestantes. serviços de referência7.
20 21
A C B Anotações
Não
1- A presença de esplenomegalia e/ou emagrecimento reforça a suspeita, mas não devem ser conside-
rados imprescindíveis para início da propedêutica para LV.
2- Vide quadro 1 “Fatores associados a maior risco de óbito por LV”.
3- Solicitar hemograma com contagem de plaquetas, coagulograma (PTT e RNI), perfil hepático (proteí-
nas totais e frações, TGO/TGP, fosfatase alcalina, bilirrubinas), função renal (uréia e creatinina), amilase,
lipase e RIFI para pesquisa de anticorpos anti-Leishmania (esta última é realizada na FUNED, devendo
o pedido ser acompanhado da ficha de notificação). A pesquisa de Leishmania em aspirado de medula
óssea pode ser realizada no PAM Sagrada Família, sendo agendado pelo telefone 3277-5636. O teste
rápido para LV está disponível nas UPAs e em hospitais de referência.
4- Diagnóstico de LV confirmado: encontro de formas de leishmania no aspirado medular. Diagnóstico
provável de LV: hemograma com pancitopenia e sorologia positiva (>=1:80).
5- Gestantes, cardiopatas, nefropatas, hepatopatas, portadores de doença de Chagas, tuberculose em
atividade, uso de betabloqueador. No caso de contra-indicações, solicitar avaliação do ambulatório de
referência antes de iniciar tratamento.
6- Vide Quadro 3. Resumo dos medicamentos disponíveis para tratamento de LV humana.
7- Referências hospitalares: Hospital Eduardo de Menezes, Centro Geral de Pediatria, Hospital das Clí-
nicas - UFMG; Referências ambulatoriais; CTR-DIP Orestes Diniz, Ambulatório do Hospital Eduardo de
Menezes, Centro de Pesquisas René Rachou.
8- O C.S. deverá encaminhar o paciente, nos finais de semana, às UPAs, acompanhado de relatório médico
e cartão de doses do glucantime. Os casos deverão ser previamente comunicados à Gerência da UPA.
22 23
Anotações
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