Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PEDAGÓGICA
autora
CINTIA CHUNG MARQUES CORRÊA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2019
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2019.
isbn: 978-85-5548-690-6.
1. A supervisão/orientação pedagógica:
conceitos, especificidades e história 7
A supervisão/orientação pedagógica: conceitos e especificidades 8
2. A supervisão/orientação pedagógica:
formação, atuação e mediação nas escolas 29
A formação acadêmica para atuar na função de supervisor/orientador
pedagógico 30
Concluindo 44
3. A supervisão/orientação pedagógica e
as políticas educacionais 49
As políticas públicas educacionais da atualidade 50
Avaliações institucionais 51
Enem 54
Pacto Nacional pela a Alfabetização na Idade Certa 55
Base Nacional Comum Curricular 58
4. As atribuições do supervisor/orientador
pedagógico 73
A importância do planejamento na supervisão/orientação pedagógica 74
Prezados(as) alunos(as),
A obra apresenta um resgate histórico e social da função do supervisor/orien-
tador pedagógico em nosso país. Por meio da literatura e das legislações vigentes,
apresentamos o perfil desse profissional, de maneira implícita, desde as primeiras
escolas jesuítas até a atualidade. Ressaltamos as características da função partindo
de uma imagem supervisora e controladora dos processos até seu caráter mediador
e formador do ambiente escolar.
Com base no conhecimento das tarefas desenvolvidas por esse profissional,
abordamos a formação necessária para a atuação na função e suas intervenções nas
organizações escolares. Entendemos que a função do supervisor/orientador peda-
gógico deve ser considerada uma conquista e uma forma de trabalhar o cotidiano,
planejando, acompanhando, avaliando e aperfeiçoando as atividades pedagógicas.
Assim, ressaltamos sua tarefa como agente integrador no processo de ensino e
de aprendizagem.
Nessa perspectiva, destacamos a importância do supervisor/orientador peda-
gógico diante das políticas educacionais propostas pelo Ministério da Educação
(MEC). Ao apresentarmos as políticas que têm impacto pedagógico, tais como as
Avaliações Institucionais, a Base Nacional Comum Curricular e o Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa, salientamos a atuação dinâmica do supervisor/
orientador pedagógico com a finalidade de garantir a implementação dessas polí-
ticas e garantir a melhoria do processo de ensino e de aprendizagem.
A implementação de políticas educacionais e a garantia da execução das tarefas
pedagógicas são destaque no plano de ação elaborado pelo supervisor/orientador
pedagógico. Enfatizamos que o planejamento das ações, organizado pelo supervi-
sor/orientador pedagógico, é um processo de institucionalização de suas ativida-
des diárias.
Por fim, apresentamos as funções e responsabilidades do supervisor/orientador
pedagógico nas instituições de ensino, sempre voltadas para a formação continuada
do professor, vislumbrando a melhoria do processo de ensino e de aprendizagem.
Os estudos apresentados são de grande relevância para o futuro pedagogo,
uma vez que mostram as características da função e a atuação do supervisor/orien-
tador pedagógico no espaço escolar e diante das políticas educacionais.
Bons estudos!
5
1
A supervisão/
orientação
pedagógica:
conceitos,
especificidades e
história
A supervisão/orientação pedagógica:
conceitos, especificidades e história
OBJETIVOS
• Compreender os diferentes conceitos utilizados para designar o profissional que atua na
supervisão e orientação pedagógica;
• Enumerar as ações inerentes aos profissionais que atuam nas funções de supervisor e
orientador pedagógico;
• Apresentar a história da função do supervisor e orientador pedagógico e suas especificida-
des de acordo com o contexto sócio-histórico;
• Compreender a atuação do supervisor/orientador pedagógico diante das políticas educa-
cionais a partir da década de 1990.
capítulo 1 •8
foi planejado. Foi por esse viés que a função do supervisor/orientador pedagógico
se tornou uma atividade de fiscalizar as atividades educacionais, seja no âmbito das
secretarias de educação, seja nas unidades escolares.
No cenário educacional, é possível encontrar diferentes nomenclaturas utiliza-
das pelos sistemas de ensino do nosso país para designar o profissional da educação
para a função de monitoramento das práticas pedagógicas desenvolvidas pelos
professores ou ainda pelos que atuam no âmbito das secretarias de educação.
Entendemos que as diferentes nomenclaturas utilizadas pelos sistemas de ensino
sejam em virtude da falta de uma análise mais ampla do significado das funções do
supervisor educacional, inspetor escolar, orientador pedagógico e coordenador peda-
gógico e da omissão das reais competências e campo de atuação desses profissionais na
Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Encontramos essas
funções sendo exercidas sem a existência da clareza do seu significado no meio acadê-
mico, portanto, profissionais com atuações semelhantes e com ações de acordo com
as exigências do cotidiano, com variações que obedecem a especificidades pontuais.
Alguns autores caracterizam a função do supervisor/orientador pedagógico por
meio de diversos prismas: aquele que coordena, supervisiona, acompanha, com a
responsabilidade de integrar, reunir esforços e liderar o trabalho da equipe docente.
Mary Rangel (2003) ressalta que a supervisão pedagógica refere-se à ativida-
de de debruçar-se sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas pelos professores
em sala de aula. O “olhar sobre” o processo pedagógico implica criar e estimular
oportunidades de estudar e analisar a própria prática. Neste sentido, as funções
desempenhadas estão voltadas para o acompanhamento das estratégias didáticas e
para o processo de ensino e de aprendizagem.
Heloisa Lück (1996) entende a supervisão escolar como uma área na qual se
deve dinamizar e intervir nas ações do processo educativo no âmbito escolar, vol-
tada para os aspectos pedagógicos.
Segundo Libâneo (2003), o coordenador pedagógico é o agente de ligação
com os professores, assistindo-os e promovendo encontros pedagógicos que os
levem a estratégias metodológicas inovadoras.
capítulo 1 •9
Celestino Alves (2003) acredita na necessidade de haver supervisores capazes de
estabelecer relações entre a filosofia superior e o senso comum, entre o pensamento
dos especialistas e o de todos os homens. Ressalta a percepção dos supervisores de
que os docentes devem ser referência para a concretização de projetos educacionais
de qualidade e significação, voltados para a realização do processo educativo signifi-
cativo e de relevância para a formação de sujeitos pensantes, reflexivos e autônomos.
Naura Syria Carapeto Ferreira (2002) considera o supervisor educacional um
agente articulador de práticas educativas que objetivam a qualidade da formação
do ser humano para o pleno exercício da cidadania.
capítulo 1 • 10
As ações do supervisor/orientador pedagógico estariam voltadas para o pla-
nejamento, a avaliação e a reformulação das diversas etapas do processo ensino/
aprendizagem, buscando o melhor desempenho da escola em sua tarefa educativa.
É o profissional que atua junto ao professor no desenvolvimento metodológico e
pedagógico com o objetivo de melhorar o rendimento escolar do aluno.
Enfim, o entendimento da realidade, o fazer a educação e a formação de pro-
fissionais da educação devem estar de acordo com as concepções e transformações
da ciência e da sociedade. Com a reflexão e discussão acerca desses conceitos,
podemos avançar para novos compromissos e responsabilidades, entre eles o de
transpor o espaço e o tempo da escola com a imposição de um novo paradigma
para a supervisão/orientação pedagógica: uma prática voltada não somente para
a qualidade do trabalho pedagógico, mas também para a construção de um co-
nhecimento emancipatório, num âmbito político, administrativo e educacional
mais amplo. Hoje, espera-se que o supervisor/orientador pedagógico desenvolva
um trabalho articulador, que ofereça subsídios para novas políticas educacionais
e formas de gestão a fim de acompanhar as transformações advindas desta era de
globalização dos conhecimentos e das tecnologias.
Neste sentido, o supervisor/orientador pedagógico deve estar inserido no con-
texto escolar, articulando novas práticas educativas, favorecendo o desenvolvimen-
to pleno de um currículo que atenda às diferenças culturais, cognitivas e pessoais
e contribuindo para a formação continuada do corpo docente, com a proposta de
propiciar o seu crescimento profissional para a melhoria do processo de ensino e
aprendizagem. Ressaltamos que esse profissional passa a assumir uma nova forma
de desempenho de suas funções. Passa de supervisor ou controlador para media-
dor das práticas pedagógicas, dinamizador de processos educativos e, corresponsá-
vel pela implementação de políticas educacionais.
capítulo 1 • 11
Em 1549, com a chegada
dos primeiros jesuítas no Brasil,
em companhia do primeiro
Governador-Geral, Tomé de Souza,
iniciou-se a organização das ativi-
dades educacionais em nosso país.
Atividades de cunho religioso des-
tinadas a formar sacerdotes para
as obras missionárias da nossa ter-
ra, que foram descritas no Plano
de Ensino formulado por Padre
Manoel da Nóbrega. Nesse Plano,
havia uma ideia implícita de ações
de controle das práticas desenvolvi-
das pelos professores.
Somente após a morte do Padre
Manoel da Nóbrega, em 1570, os
jesuítas adotaram, no Brasil, seu
Plano Geral de Ensino – o Ratio
Studiorum, que previa a figura do Prefeito-Geral de Estudos como assistente do
Reitor para auxiliá-lo na organização dos estudos, a quem os professores e alunos
deveriam obedecer. Aqui, podemos entender que a figura do supervisor/orien-
tador foi representada pelo Prefeito de Estudos, cuja função era fiscalizar as au-
las ministradas.
O Ratio Studiorum funcionou por duzentos e dez anos, até a expulsão dos jesuí-
tas do Brasil pelo Marquês de Pombal. Foram, então, instituídas as aulas régias, em
que o Prefeito de Estudos foi substituído por um Diretor-Geral de Estudos. Este,
com os comissários designados, tinha a tarefa de fazer um levantamento geral das
condições das escolas da localidade. Nesse contexto, a ideia de supervisão aparece
implícita na ação do Diretor-Geral ao fiscalizar, no sentido macro, o sistema. Já os
aspectos políticos e administrativos e a ação dos comissários, ou seja, com a visão
pontual, local, fiscalizavam a direção, a coordenação e a orientação dos estudos.
Em 1808, com a chegada de D. João ao Brasil, foram criadas condições cul-
turais para estimular os processos educacionais. Dentre as realizações, destaca-
ram-se a abertura da primeira Biblioteca Pública em 1810, a criação de cursos de
capítulo 1 • 12
anatomia, cirurgia, medicina, agricultura, desenho técnico e a fundação da Escola
Real de Ciências, Artes e Ofícios em 1816.
Entretanto, a educação elementar não recebeu idênticos cuidados da administra-
ção, pois, ao invés de divulgarem uma política de difusão do trabalho escolar, organi-
zaram uma escola que, antes de servir aos interesses da fé, servia aos interesses pessoais
e políticos da Coroa, voltados apenas a uma camada mais privilegiada da sociedade.
A Constituição de 25 de março de 1824 não enfatizou a importância da edu-
cação para o país. Ao contrário, elencou apenas princípios gerais sobre a gratuida-
de da instrução primária, com uma referência aos Colégios e Universidades.
capítulo 1 • 13
da Mesa de Desembargo do Paço. A Corte detinha o poder decisório com relação
às escolas. Como sua mantenedora financeira, expedia autorizações para o ensino
e nomeava os professores.
Antes da reforma constitucional descentralizadora de 1834, uma Lei Geral de
15 de outubro de 1827 estabelecera as diretrizes que deveriam nortear a criação de
escolas elementares em todo o país.
O Ato Adicional à Constituição promulgado em 1834 foi um pouco mais adiante
e determinou a descentralização da organização e administração do ensino elementar
e secundário, que ficaram submetidos à competência das Assembleias Provinciais.
Com a ampliação do número de escolas, surgia então, a necessidade de um
profissional que acompanhasse o trabalho pedagógico e administrativo nas escolas.
Assim, o Ministro do Império, Chichorro da Gama, em seu relatório de 1834, men-
cionou a importância de supervisores nas escolas, pois a execução dessa tarefa pelas
Câmaras Municipais não eram suficiente, principalmente nas escolas do interior.
Em 17 de fevereiro de 1854, no âmbito das reformas Couto Ferraz, ficou es-
tabelecido como missão do Inspetor Geral, supervisionar todas as escolas, colégios,
estabelecimentos de educação pública ou particular. Também competia ao Inspetor
Geral presidir os exames de professores e lhes conferir o diploma, autorizar a abertu-
ra de escolas particulares, rever livros, revisá-los e/ou substituí-los por outros.
Em pronunciamento, na sessão da Assembleia Legislativa Nacional de 11 de
abril de 1864, Liberato Barroso propôs a oferta de “uma instrução [...] derramada
por todas as classes da sociedade, dirigida de modo mais conveniente debaixo de
uma inspeção solícita e zelosa” (apud PAIVA, 1973, p.74).
Por volta de 1842, havia surgido a ideia da supervisão voltada para o pro-
cesso de ensino, e até 1875 priorizava-se a verificação das atividades docentes.
Com o advento da República, notou-se uma preocupação maior com o ensino
e a Constituição de 1891 tratou com mais profundidade o assunto. Atribuiu aos
Estados a tarefa de organizar seus sistemas educacionais e tomar sob sua responsa-
bilidade o ensino primário e normal e determinou que o ensino secundário seria
de inteira competência da União.
capítulo 1 • 14
1º – Velar na guarda da Constituição e das leis, e providenciar sobre as necessidades
de caracter federal;
2º – animar, no paiz, o desenvolvimento das lettras, artes, sciencias, bem como a im-
migração, a agricultura, a industria e o commercio, sem privilegios que tolham a acção
dos governos locaes;
3º – Crear instituições de ensino superior e secundario nos Estados;
4º – Prover à instrucção secundaria no Districto Federal.
Título IV – Dos Cidadãos Brazileiros
Secção II – Declaração dos Direitos
Art. 72 – A constituição assegura a brazileiros e estrangeiros residentes no paiz a
inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à pro-
priedade, nos termos seguintes:
[...]
§ 6º – Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos.
capítulo 1 • 15
A ação supervisora no final do século XIX foi marcada pelo compromisso com
o estabelecimento de padrões de comportamento bem definidos e de critérios de
controle do rendimento escolar, com o objetivo de atingir a qualidade e a eficácia
do ensino. Seguia a linha de inspecionar, reprimir, checar e monitorar as ativida-
des pedagógicas.
No início do século XX, verificou-se a utilização dos conhecimentos cientí-
ficos na melhoria do ensino e na avaliação dos resultados de aprendizagem dos
alunos. Surgiu, então, a supervisão voltada para os métodos, as técnicas e os con-
teúdos, sem preocupar-se, relativamente, com o processo educativo.
A partir de 1925, pôde-se perceber maior influência das ciências comportamen-
tais na supervisão, delegando ao supervisor o papel de líder democrático, em razão
do advento de introduzir princípios democráticos nas instituições educacionais.
Logo após a revolução de 1930, foi Criado o Ministério da Educação e Saúde,
encarregado dos serviços educacionais e, em 11 de abril de 1931, o governo provi-
sório sancionou decretos que organizavam o ensino secundário e regulamentavam
a criação de universidades brasileiras.
Entre 1920 e 1930, ocorreram várias reformas estaduais com novas propostas
pedagógicas. Fernando de Azevedo no Rio de Janeiro, Anísio Teixeira na Bahia e
Francisco Campos em Minas Gerais. Na reforma Francisco Campos, por meio do
Decreto-Lei nº 19.890 de 18 de abril de 1931, a supervisão apareceu pela primeira
vez no Brasil com caráter próprio de supervisão, diferente do que vinha acontecen-
do anteriormente, quando a função era exercida em caráter fiscalizador.
A Constituição de 1934 dispôs especificamente sobre a educação e a cultura,
consideradas direito de todos e devendo ser ministrada pela família e pelos poderes
públicos. Posteriormente, a Constituição de 1937 enfatizou o ensino pré-voca-
cional e profissional, valorizando, de forma implícita, a atuação do supervisor nas
instituições de ensino. A presença do supervisor nas escolas sinalizava a preocu-
pação com a qualidade do ensino e a intervenção do profissional no sentido de
desenvolver e criar métodos de análise para detectar problemas da realidade e,
posteriormente, gerar estratégias de ação.
Nesse contexto, a Lei Orgânica do Ensino Secundário, promulgada pelo
Decreto-Lei nº 4.244 de 9 de abril de 1942, já dizia em seu Art. 75, parágrafo
1º: “A inspeção escolar far-se-á, não somente sob o ponto de vista administrativo,
mas ainda com caráter de orientação pedagógica” (FÁVERO, 2001, p. 36), apli-
cando-se, dessa forma, uma ação supervisora voltada para o âmbito pedagógico da
escola, do currículo e do processo de ensino e aprendizagem.
capítulo 1 • 16
A Constituição de 1946 determinou a obrigatoriedade do ensino primário
e deu competência à União para legislar sobre as diretrizes e bases da educação
brasileira. Além disso, normatizou uma organização equilibrada do sistema edu-
cacional brasileiro.
Na década de 1950, a inspeção reapareceu no contexto educacional com uma
nova configuração e nomenclatura: com a denominação de supervisão escolar.
Tinha como finalidade efetivar uma política desenvolvimentista voltada para a
educação como progresso social.
Para a formação e a fundamentação do trabalho pedagógico nas escolas, foram
oferecidos cursos pelo Programa Americano Brasileiro de Assistência ao Ensino
Elementar, o Pabaee, que formou educadores de acordo com o modelo de educa-
ção americano que enfatizava os métodos e técnicas de ensino para atuar no antigo
ensino primário.
capítulo 1 • 17
Em fevereiro de 1962, de acordo com o Art. 8º da Lei de Diretrizes e Bases,
Lei nº 4.024/61, foi criado o Conselho Federal de Educação, que substituiu o
Conselho Nacional de Educação em vigor desde 1934.
capítulo 1 • 18
LEI DE DIRETRIZES E BASES – LEI Nº 4.024/61
De 20 de dezembro de 1961
Art. 52 – O ensino normal tem por fim a formação de professores, orientadores, super-
visores e administradores escolares destinados ao ensino primário e o desenvolvimen-
to dos conhecimentos técnicos relacionados à educação.
CONSTITUIÇÃO DO BRASIL
Promulgada a 24 de janeiro de 1967
Título IV – Da Família, da Educação e da Cultura
Art. 168 – A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola; assegurada
a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da unidade nacional e nos
ideais de liberdade e de solidariedade humana.
[...]
§ 2º – Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à iniciativa particular, a qual
merecerá o amparo técnico e financeiro dos Poderes Públicos, inclusive bolsas de es-
tudo.
§ 3º – A legislação do ensino adotará os seguintes princípios e normas:
[...]
II – o ensino dos sete aos quatorze anos é obrigatório para todos e gratuito nos esta-
belecimentos de ensino primário oficiais;
capítulo 1 • 19
A Constituição de 1969 preservou, basicamente, todos os aspectos da
Constituição anterior. No final da década de 1960, foi aprovado pelo Conselho
Federal de Educação o Parecer nº 252 de 1969, que reformulou os cursos
de Pedagogia.
Com essa reformulação, o curso de Pedagogia foi organizado na forma de ha-
bilitações. Seguido de um núcleo comum centrado nas disciplinas de fundamen-
tos da educação, o curso deveria oferecer uma parte diversificada de acordo com a
habilitação, garantindo assim uma função específica para atuar na área educativa.
Foram previstas quatro habilitações centradas nas áreas técnicas, individualizadas
por função: administração, inspeção, supervisão e orientação. Nesse contexto, foi
aberto o caminho para o reconhecimento profissional da atividade do supervisor/
orientador pedagógico no sistema de ensino.
Cinco anos depois da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases, Lei
nº 4.024/61, o Conselho Federal de Educação constatou que era preciso promo-
ver novas mudanças. Assim, um novo olhar para as universidades federais, que de-
veriam organizar-se com estrutura e métodos de funcionamento que preservassem
a unidade de suas funções de ensino e pesquisa e assegurassem a plena utilização
de seus recursos materiais e humanos.
Posteriormente, os ensinos primário e médio também passaram por uma re-
formulação. De fato, a Lei nº 5.692 de 11 de agosto de 1971, fixou as diretrizes e
bases para o ensino de primeiro e segundo graus, novas denominações do antigo
primário e médio.
A Lei nº 5.692/71 dispôs que a educação de primeiro e segundo graus tinha
por objetivo propiciar ao estudante a formação necessária ao desenvolvimento de
suas potencialidades, como elemento de autorrealização, qualificação para o traba-
lho e preparo para o exercício consciente da cidadania. O ensino de primeiro grau
destinava-se à formação da criança e do pré-adolescente, com duração de oito anos
letivos. O ensino de segundo grau destinava-se à formação integral do adolescente,
exigindo para o ingresso a conclusão do ciclo anterior.
Assim, nos anos 1970, em todo o país, a supervisão ganhou força institucional
com a nova Lei de Diretrizes e Bases do Ensino de 1º e 2º Graus, Lei nº 5.692/71.
Em seu Art. 33, essa lei citou a formação exigida para a atuação dos supervi-
sores em instituições educacionais, o que valorizou a função.
capítulo 1 • 20
LEI DE DIRETRIZES E BASES DO ENSINO DE 1º E 2º GRAUS
De 11 de agosto de 1971
Capítulo V – Dos professores e Especialistas
Art. 33 – A formação de administradores, planejadores, orientadores, inspetores, su-
pervisores e demais especialistas de educação será feita em curso superior de gradua-
ção, com duração plena ou curta, ou de pós-graduação.
capítulo 1 • 21
IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V – valorização dos profissionais do ensino, garantindo, na forma da lei, planos de car-
reira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente
por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas
as instituições mantidas pela União;
VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII – garantia de padrão de qualidade.
capítulo 1 • 22
última análise, o papel do supervisor/orientador passou a constituir-se de um so-
matório de esforços e ações contextualizadas, com o sentido de promover a melho-
ria do processo de ensino e aprendizagem. Esse esforço se volta, constantemente,
para o professor, no sentido de auxiliá-lo e de coordenar suas ações.
capítulo 1 • 23
Entre as diversas metas estabelecidas nesta conferência, destacam-se as rela-
cionadas à diminuição do índice de alunos com baixa aprendizagem e à organiza-
ção de um currículo que seja relevante e significativo para o desenvolvimento de
competências e habilidades necessárias para a participação do aluno nas diferentes
esferas da sociedade.
Embora, nos documentos citados, não se tenha feito referência a um articula-
dor para esses processos, julgamos serem necessários profissionais qualificados, que
atuem junto aos professores na dinâmica pedagógica para a melhoria do processo
de ensino. Assim, transportando isso para a nossa realidade, consideramos ser essa
a tarefa dos supervisores/orientadores pedagógicos. Podemos, ainda, acrescentar o
papel relevante desses profissionais como interlocutores entre a escola e a família,
capacitando e conscientizando a família para ocupar seu papel de formadora, no
que se refere à educação integral, junto à escola.
Quanto ao trabalho desenvolvido por esses profissionais ao longo da história
da educação brasileira, consideramos que, durante anos, a política educacional do
país, sugeriu à supervisão/orientação pedagógica funções no âmbito burocrático e
técnico, retirando a dimensão significativa da atuação deste profissional.
A ação do supervisor/orientador pedagógico, no final do século XIX, foi mar-
cada pela preocupação com o estabelecimento de padrões de comportamento bem
definidos e de critérios de controle do rendimento escolar, com o objetivo de
buscar a qualidade e a eficácia do ensino. Seguia a linha de inspecionar, reprimir,
checar e monitorar as atividades pedagógicas.
No início do século XX , verificou-se a utilização dos conhecimentos científi-
cos na melhoria do ensino e na avaliação dos resultados de aprendizagem dos alu-
nos. Surgiu, então, a supervisão/orientação pedagógica voltada para os métodos,
as técnicas e os conteúdos, sem preocupação quanto ao processo educativo.
No sentido de adequar sua prática às exigências das políticas educacionais, o
supervisor/orientador pedagógico deve estar centrado na gestão da qualidade do
ensino oferecido pela escola e na construção de um espaço produtivo para uma
convivência social e coletiva mais humana. Deve ser capaz de definir e articular as
múltiplas ações voltadas para a qualidade do ensino e de seus resultados na aprendi-
zagem dos alunos, no contexto onde essas ações acontecem. Para tanto, talvez deva
ter o domínio amplo da competência da comunicação, uma vez que a implemen-
tação efetiva dos significados de qualquer política educacional, apresentada por ele,
prevê a adesão de outros agentes da escola, principalmente dos docentes. Ao seguir
esse raciocínio, podemos destacar a função da capacitação dos docentes por esses
capítulo 1 • 24
profissionais, por meio da promoção de novos estudos que apresentem novos olhares
sobre o que é natural aos que frequentam o ambiente escolar. Pensar a educação no
presente, com a reflexão do passado e a presença do planejamento rumo ao futuro.
Diante das exigências das atuais políticas educacionais, a função do super-
visor/orientador pedagógico nas instituições escolares vem sendo discutida nos
diferentes sistemas de ensino, a fim de ajustar sua prática às mudanças na educação
do país. Entre vários estudiosos da área da orientação escolar, destacamos Mary
Rangel (2003), que, em sua teoria, propõe uma nova postura para esse profissio-
nal, com o objetivo de tirar dele a imagem fiscalizadora atribuída a ele anterior-
mente. Segundo a autora:
capítulo 1 • 25
oferta de práticas eficientes que tornem o sistema mais eficaz. Acrescentamos que
possa haver, também, a busca por parte do governo das razões para a ineficiência
de alguns resultados na educação, bem como a pesquisa de como e onde investir
recursos nesta área.
CONEXÃO
Para ampliar o conhecimento 1:
• A revolução industrial e a educação: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/
seminario/seminario7/TRABALHOS/M/Marcia%20CA%20Silva%20e%20%20Joao%20
L%20Gasparin2.pdf>.
Para ampliar o conhecimento 2:
• As metas educativas para o ano de 2021, estabelecidas na XVIII Conferencia Iberoameri-
cana de Educación. <http://www.oei.es/historico/metas2021/libro.htm>.
ATIVIDADES
01. Após a leitura e a análise do capítulo 1, apresente as responsabilidades do
supervisor/orientador pedagógico a partir das políticas educacionais contemporâneas.
02. Com base na Lei 9.394/96, qual é seu entendimento sobre as ações realizadas pelo
supervisor/orientador pedagógico e em que campo ele deve atuar?
03. Pesquise qual a nomenclatura utilizada pelo sistema educativo de seu município para
designar o profissional que atua junto aos professores, mediando as ações pedagógicas nas
unidades escolares. Enumere as ações por ele realizadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Ana M. L. De Souza e DUARTE, Elisa A. F. G. Supervisor escolar: missão, exercício, desafios
e perspectivas. Centro Universitário de Patos de Minas, Patos de Minas, Minas Gerais, 2012. Disponível
em: <http://pergaminho.unipam.edu.br/documents/43440/43870/supervisor-escolar.pdf>. Acesso
em: 10 maio 2018.
capítulo 1 • 26
ALVES, Nilda (Coord.). Educação e supervisão: o trabalho coletivo na escola. 10.ed. São Paulo:
Cortez, 1984.
CARNEIRO, Moaci Alves. LDB Fácil – Leitura crítico-compreensiva artigo por artigo. 5.ed. Petrópolis:
Editora Vozes, 2000.
FÁVERO, Osmar (Org.). A Educação nas Constituintes Brasileiras – 1823-1988. 2. ed. Campinas:
Autores Associados, 2001.
FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Org.). Supervisão educacional para uma escola de qualidade.
4.ed. São Paulo: Editora Cortez, 2002.
______ . et al. Para onde vão a orientação e a supervisão educacional? 2.ed. São Paulo: Papirus,
2003.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola – teoria e prática. 4.ed. Goiânia: Editora
Alternativa, 2003.
LÜCK, Heloisa. Ação integrada – administração, supervisão e orientação educacional. 12.ed.
Petrópolis: Editora Vozes, 1996.
RANGEL, Mary (Org.). Supervisão pedagógica – princípios e práticas. 3.ed. São Paulo: Papirus,
2001.
______ . et al. Nove olhares sobre a supervisão. 9.ed. São Paulo: Papirus, 2003.
SILVA, Celestino Alves. Supervisão, currículo e avaliação. In: FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Org.).
Supervisão educacional para uma escola de qualidade. 4.ed. São Paulo: Editora Cortez, 2003.
SILVA, Naura Syria F. Corrêa. Supervisão educacional – uma reflexão crítica. 10.ed. Petrópolis:
Editora Vozes, 1987.
capítulo 1 • 27
capítulo 1 • 28
2
A supervisão/
orientação
pedagógica:
formação, atuação
e mediação nas
escolas
A supervisão/orientação pedagógica:
formação, atuação e mediação nas escolas
OBJETIVOS
• Conhecer a formação necessária para atuar na função de supervisor/orientador pedagógico;
• Compreender a atuação do supervisor/orientador pedagógico nas organizações escolares;
• Entender como acontece a ação mediadora e integradora do supervisor/orientador peda-
gógico nas organizações escolares.
capítulo 2 • 30
a promulgação da Lei 9.394/96, essas leis foram revogadas. Desde então, buscaram-se
definições e estruturas a fim de qualificar profissionalmente esse especialista. Santos
(2002, p. 8) ressalta que, desde 1931 “havia, por parte do governo federal, a preocu-
pação de formar docentes para o magistério, especialmente para a educação básica”.
No Brasil, a supervisão surgiu pela primeira vez com a Reforma Francisco Campos –
Decreto Lei nº 19.890 de 18 de abril de 1931, concebida de forma bem diferente do
que vinha sendo realizado até aquele momento – simples fiscalização –, para assumir
o caráter supervisor (LIMA, 2001, p. 70).
capítulo 2 • 31
Nessa perspectiva, o papel do supervisor/orientador pedagógico passou a ser
constituído, de modo geral, por um conjunto de ações voltadas para a assistência
pedagógica ao professor, no sentido de orientá-lo a desenvolver uma metodologia
que promovesse a melhoria do processo de ensino e aprendizagem. Essas ações
voltavam-se para os programas curriculares, o processo de avaliação e recuperação
dos alunos, os métodos, as técnicas, os procedimentos metodológicos e a análise
do desempenho do professor.
Ao final dos anos 1950 e início dos anos 1960, foi introduzido no Brasil o Programa
Americano Brasileiro de Assistência ao Ensino Elementar – o Pabaee, que tinha
como finalidade treinar professores brasileiros em cursos nos Estados Unidos, na pers-
pectiva de trazer para o Brasil inovações metodológicas e com o objetivo de influen-
ciar a prática pedagógica das escolas da rede pública. A estratégia de implantação do
programa previa a criação de um centro piloto no Instituto de Educação em Belo
Horizonte e o estabelecimento de centros similares em São Paulo, Belém, Manaus,
Rio de Janeiro e Porto Alegre, com a colaboração de brasileiros e americanos, a fim de
formar instrutores para as Escolas Normais mais importantes do Brasil.
Em 1961, um novo acordo reformulou os objetivos do Pabaee, estendendo
o treinamento aos administradores e supervisores/orientadores pedagógicos. Tal
reformulação aconteceu atendendo às demandas do campo educacional brasileiro
relativas à influência do Programa e à necessidade de assistir professores já treina-
dos nas diversas escolas do país.
capítulo 2 • 32
e pouco criativa. Seu trabalho estava voltado não para uma análise ampla dos pro-
blemas que atingiam a educação básica, mas para a supervalorização dos métodos
de ensino, adotando como solução para ensinar apenas a teoria e a técnica.
A formação de orientadores, supervisores e administradores escolares para atuar
nas escolas primárias foi delegada ao Ensino Normal pela Lei 4024/61, não sendo
exigida formação em nível superior para atuar nesses cargos no ensino primário.
Art.52 – O Ensino Normal tem por fim a formação de professores, orientadores, super-
visores e administradores escolares destinados ao ensino primário e o desenvolvimen-
to dos conhecimentos técnicos relacionados à educação (LDB nº 4.024/61).
capítulo 2 • 33
A partir do parecer de 1969, o curso de Pedagogia passou a formar, além do
docente para o curso Normal, o chamado “especialista em educação”, já que fo-
ram introduzidas as habilitações em Orientação Educacional, Supervisão Escolar,
Administração Escolar e Inspeção Escolar. Outra modificação que destacamos foi
a modificação na duração do curso, que passou a ter duas modalidades de licencia-
tura: a plena (com duração de 2.200 horas) e a curta (om duração de 1.100 horas).
O Parecer 252/69 também aboliu a distinção entre o Bacharel e o Licenciado
em Pedagogia. O título a ser obtido passou a ser único, o de licenciado, para qual-
quer uma das habilitações.
Além das legislações que marcaram a história da formação do supervisor, os
ENSES – Encontros Nacionais de Supervisores – contribuíram para a construção
e enriquecimento da função supervisora/orientadora. Ocorreram nove encontros
promovidos por diversos grupos em todo o país, que buscavam repensar a ação
do supervisor/orientador para melhor atuação no contexto educacional brasileiro.
Em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEN) nº 9.394/96, a legislação que norteava o cenário da formação
de professores desde a década de 1960 foi revogada. A aprovação dessa Lei inten-
sificou a questão da identidade do pedagogo para atuar na docência e nas funções
administrativas e pedagógicas das organizações escolares.
capítulo 2 • 34
nº. 05/2005, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de
Pedagogia. O Parecer aprovado apresentou uma incoerência em relação ao artigo
64 da LDBEN nº 9.394/96, pois determinou, em seu texto, no artigo 14, que a
formação dos especialistas fosse realizada em cursos de pós-graduação, especial-
mente estruturados para esse fim e abertos a todos os licenciados.
capítulo 2 • 35
Art. 4 – O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores
para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação profis-
sional, na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos
conhecimentos pedagógicos.
Parágrafo único – As atividades docentes também compreendem participação na or-
ganização escolar e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando:
I – planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas
próprias do setor da Educação;
II – planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e
experiências educativas não escolares;
III – produção e difusão do conhecimento científico tecnológico do campo educacional,
em contextos escolares e não escolares (RESOLUÇÃO CNE/CP nº 1/2006).
capítulo 2 • 36
atuação nas escolas. No caso dos supervisores/orientadores pedagógicos, podemos
ressaltar a mudança do caráter fiscalizador para o de uma ação mediadora dos pro-
cessos educacionais. Mas como proporcionar essa mudança nos espaços escolares?
Como prover os conhecimentos necessários ao supervisor/orientador pedagógico
em sua formação acadêmica para proporcionar as mudanças exigidas? Para sub-
sidiar as presentes indagações, apresentamos parte do texto do livro A escola tem
futuro? Das promessas às incertezas, escrito por Rui Canário, professor catedrático
da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.
CONCEITO
Construir competências em contexto de trabalho
O conceito de qualificação remete à obtenção de títulos acadêmicos ou diplomas de
natureza escolar que representariam a garantia de que teria sido realizada a aquisição prévia
de determinados saberes, considerados requisitos para o exercício de certo tipo de atividade
profissional. Em contrapartida, a noção de competência refere-se não a saberes adquiridos
por via escolar, mas, como afirma Lise Demilly (1997) a “um não sei que através do qual a
qualificação se torna eficiente e se atualiza em uma situação de trabalho”. Assim, enquanto
que as qualificações são suscetíveis de acumulação, as competências, que não podem ser
armazenadas, mas só produzidas em contexto, a partir da experiência de trabalho. É desse
ponto de vista que faz sentido afirmar que a escola é o lugar onde os professores aprendem
o essencial da sua profissão, já que esta aprendizagem corresponde a um processo de socia-
lização profissional. [...] A competência não corresponde a um estado nem a uma conquista
da formação, mas corresponde sim, a algo que só pode ser compreendido e produzido “em
ato”. (CANÁRIO, 2006, p. 64-65).
capítulo 2 • 37
prazo por parte do supervisor/orientador pedagógico. Podemos acrescentar que,
além dos saberes acadêmicos e das competências construídas, esses profissionais
precisam articular diferentes saberes para solucionar os desafios do cotidiano esco-
lar: saberes que foram adquiridos na família, na escola, nas relações interpessoais,
na formação profissional e em outros espaços educativos não formais.
Para exemplificar o que apresentamos, tomaremos o relato de um dia de traba-
lho de um supervisor/orientador pedagógico em uma escola que tem 750 alunos
e atende a crianças e adolescentes do 1o ao 9o ano do ensino fundamental. Com
base no relato, analisaremos a ação do supervisor/orientador pedagógico por meio
dos saberes adquiridos e das competências construídas.
CURIOSIDADE
Relato das atividades de um supervisor/orientador pedagógico
Ao chegar à escola, a supervisora/orientadora pedagógica consulta sua agenda para
verificar suas atividades do dia. Estava agendado o atendimento do responsável por um aluno
do 2o ano do ensino fundamental que vinha apresentando dificuldades na leitura e na escrita.
Durante o atendimento, ficou nítida a resistência da mãe do menino em aceitar as dificul-
dades do filho. Após uma longa conversa e apresentação de atividades que comprovavam a
dificuldade do aluno, a mãe entendeu que precisava reforçar suas ações em casa, ajudando
nas tarefas escolares. Após o atendimento, alguns alunos do 7o ano solicitaram ajuda para
resolver um problema ocorrido em sala com o professor de matemática. Segundo o relato, o
professor não estava conseguindo explicar a matéria de forma que pudessem compreender.
A supervisora/orientadora pedagógica escutou os alunos, fez algumas perguntas em relação
à forma como as aulas eram ministradas e comprometeu-se a conversar com o professor.
Aproveitou que o professor estava com um intervalo entre uma aula e outra e pediu que
comparecesse à sua sala. Após ouvir as explicações do professor, percebeu que precisava
acompanhar seu trabalho com mais atenção e oferecer ajuda didática para a organização
dos conteúdos. Em seguida, foi até a sala da direção para conversar sobre o projeto insti-
tucional da escola. Esse projeto fora solicitado numa reunião para todos os supervisores/
orientadores pedagógicos ocorrida na Secretaria de Educação, para a sistematização das
práticas pedagógicas e administrativas. Algumas ideias foram compartilhadas e sugestões
anotadas. Na semana seguinte iriam discutir o projeto com toda a equipe da escola. Passou
pela sala dos professores, tomou um cafezinho e conversou com alguns professores que
estavam em horário de recreio.
capítulo 2 • 38
Após um momento de pausa, conversa com a professora Giulia, recém-formada, que as-
sumiu uma turma de 3o ano com alunos ainda não alfabetizados. Orienta a professora sobre
os procedimentos didáticos que devem fazer parte do seu planejamento e oferece algumas
atividades para ajudá-la na condução de suas aulas. No final do turno, consegue um tempo
para organizar o material da reunião de formação que terá início às 12h30. Na reunião, serão
tratados assuntos sobre o ciclo de alfabetização e estratégias pedagógicas para auxiliar os
alunos ainda não alfabetizados. O supervisor/orientador pedagógico fica satisfeito com as
reflexões e soluções apresentadas pelos professores.
E assim, finaliza o seu dia.
capítulo 2 • 39
4. Informar e envolver pais – receber o responsável por um aluno para informar
sobre seu desenvolvimento escolar e saber conduzir a conversa de forma amigável e
convincente são competências que se constroem a partir de vivências no dia a dia
da escola.
Além das competências citadas e que estiveram presentes no relato das ativida-
des de um dia de um supervisor/orientador pedagógico, podemos citar outras, que
são de grande relevância para o desenvolvimento de sua prática. São elas:
1. Administrar a progressão da aprendizagem – o supervisor/orientador pe-
dagógico tem como função acompanhar o desenvolvimento cognitivo dos alunos
por meio das informações dos professores ou pessoalmente, sondagens específicas
e individualizadas. Com esse acompanhamento, tem a possibilidade de orientar os
professores nas suas práticas diárias e minimizar o índice de reprovação na escola.
2. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação – nesse caso, cabe
ao supervisor/orientador pedagógico, acompanhar os casos de inclusão na escola.
Organizar, com os professores as adaptações curriculares para atender aos diferentes
níveis de aprendizagem, favorecendo a evolução do aluno em sistema de inclusão.
3. Utilizar novas tecnologias – discutir com os professores e sugerir o uso de
ferramentas multimídias no sentido de estimular e melhorar o processo de ensino
e aprendizagem.
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho – proporcio-
nar atividades como dinâmicas, palestras, seminários, entre outras, para motivar
os alunos a se envolver com os estudos. Organizar e dinamizar regras de estudo
diário e promover conversas com pequenos grupos são ações que possivelmente
motivam os alunos a se manterem atualizados nos estudos.
5. Administrar sua própria formação continuada – diante de um mundo em
constante mudança e das novas políticas educacionais, o supervisor/orientador pe-
dagógico deve manter-se atualizado por meio da leitura de livros, jornais, revistas
e de cursos de atualização.
capítulo 2 • 40
esta professora, há pouco tempo, sobre as tarefas desenvolvidas pelos orientado-
res escolares, pudemos constatar que oitenta por cento desses profissionais ainda
exercem atividades de controle, priorizando a cobrança de planos de aula bem
estruturados, preenchimento de pautas, executando serviços burocráticos, elabo-
rando horários para os professores e auxiliando a direção nas tarefas administra-
tivas. Torna-se relevante enfatizar que, em alguns momentos, é preciso deixar de
lado os serviços burocráticos e priorizar uma reflexão sobre a prática educativa,
sobre os procedimentos avaliativos e as formas de atender à diversidade presente
em nossas escolas. Assim, talvez possamos entender que este perfil de supervisor/
orientador pedagógico já não se encaixa mais em nossa realidade educacional. As
políticas educacionais vigentes esperam que o profissional compreenda a realidade
do processo de ensino e aprendizagem e de seus desafios e que consiga mobilizar
os professores em direção ao alcance dessas metas.
REFLEXÃO
[...] se o ensino é uma profissão relacional (Perrenoud) e se boa parte dos saberes dos
professores é construída na relação com o outro (Tardif), o coordenador* pedagógico precisa
conhecer e valorizar a trama das relações interpessoais nas quais ele e seus professores
interagem. E, ao lidar com professores que trabalham com seres humanos usando a si pró-
prios como instrumento de trabalho, precisa desenvolver com esses professores uma relação
calorosa e autêntica, relação que lhes permita desenvolver-se como pessoas que vão se
relacionar com pessoas (ALMEIDA, 2009, p. 70).
* Desenvolve a mesma função do supervisor/orientador pedagógico. Apenas a nomen-
clatura é diferente.
capítulo 2 • 41
Nos dias de hoje, os alunos que chegam às escolas são oriundos de diferentes
camadas sociais e fazem parte de famílias que apresentam todos os tipos de com-
portamentos éticos e morais. Uns se destacam por terem famílias presentes na
escola e que comungam valores que desejamos ver presentes na sociedade. Outros
não apresentam as mesmas características e destacam-se por provocarem confli-
tos e desavenças no espaço escolar. Tais situações disciplinares podem provocar
grandes problemas de relacionamento entre alunos e professores e dificuldades no
processo de ensino e aprendizagem.
Diante das possíveis situações conflituosas presentes na escola, cabe ao supervi-
sor, com a equipe gestora, organizar momentos de reflexão e análise dos problemas
para organizar estratégias a fim de minimizá-los. Podemos citar alguns exemplos:
a. Conflitos entre alunos e professores – conversa individual com os envolvi-
dos, conversa coletiva com os envolvidos (supervisão/orientação, direção, profes-
sor, aluno e pais) e organização de regras de conduta.
b. Conflitos entre escola e comunidade – reunião com a participação do
Conselho Escolar.
capítulo 2 • 42
Alguns professores ainda têm dificuldades para entender o trabalho envolvendo
diferentes disciplinas. Nesse sentido, o supervisor/orientador pedagógico pode
promover reuniões com os professores de diferentes disciplinas e segmentos no
sentido de informar e sugerir atividades interdisciplinares. Nesse caso, deverá ser o
mediador das ações entre os professores, pois será o profissional que, de certa for-
ma, manterá o contato com todo o grupo em dias ou horários diferentes. Podemos
perceber que ele será o canal de integração e mobilização de todo o grupo nos
diferentes momentos da rotina escolar.
Assim, podemos compreender que as funções desempenhadas pelo supervi-
sor/orientador pedagógico não se restringem apenas a ações técnicas e burocrá-
ticas. Ele precisa articular seus saberes e competências no sentido de promover
a boa convivência entre os sujeitos da comunidade escolar, garantir a qualidade
do processo de ensino e aprendizagem e mobilizar toda a equipe escolar para a
construção coletiva de projetos pedagógicos que contemplem as necessidades da
comunidade escolar interna. Bruno e Abreu ressaltam que
REFLEXÃO
Parece-nos então oportuno recolocar a questão da qualidade e da natureza das relações
que se dão no interior da escola e propor o salto reflexivo na direção do entendimento de que
o sucesso e a efetividade (ou o mais absoluto fracasso) da atuação do supervisor/orientador
capítulo 2 • 43
pedagógico junto à comunidade escolar dependem sobremaneira da relação e dos vínculos
que esse profissional constrói com o seu grupo. Dependem das possibilidades de que esse
profissional consiga estabelecer na escola relações que possam, de fato, propiciar o diálogo
colaborativo entre a essência e a existência do educador com vistas à oxigenação de suas
práticas docentes e à (re)construção de um conhecimento que é – e deve ser – pessoal, pro-
fissional e social. É preciso propiciar ao educador a construção de sua identidade, a percep-
ção de seu papel diante das demandas sociais, a construção de sua autonomia intelectual e
de sua autoridade docente. (BRUNO, 2007, p. 105-106.)
Concluindo
1 PCN, Diretrizes Curriculares para a Educação Básica, Elementos conceituais e metodológicos para definição
dos direitos de aprendizagem, proposta curricular da rede municipal de ensino de Petrópolis do ano de 2002 (em
vigor até o ano de 2014).
capítulo 2 • 44
A mesma consideração pode ser feita sobre as ações dos supervisores/orien-
tadores pedagógicos que hoje atuam nas escolas públicas e privadas. Formados
e orientados a seguir uma diretriz fiscalizadora, centrada em resultados e não no
processo de ensino e aprendizagem podem ser levados a ignorar as necessidades
do mundo onde a escola está inserida. Se assim acontecer, pode-se correr o risco
de não preparar as crianças e os jovens para o futuro, com suas determinações e
limites, e não inserir os adultos que buscam na educação uma ferramenta de ca-
pacitação, os quais podem não dar conta das exigências contemporâneas, ficando
fora do circuito dos que tiveram o direito a uma educação dita de qualidade.
Atualmente, diante das reformas educacionais, somos compelidos a pesquisar
novas estratégias para atender à demanda dos professores, dos alunos e do sistema
educacional. Há que se despertar a atenção para novos tempos, novas ações, novas
relações, quiçá novos saberes e novos rumos na educação brasileira.
MULTIMÍDIA
Sugestões de filmes para trabalhar situações de:
Conflito: Os Incríveis; A fantástica fábrica de chocolates; Madagascar.
Ética: Eu, Robô; Ilha das Flores.
Solidariedade: Doutores da Alegria; Diários de motocicleta.
Globalização, relações humanas, diversidade cultural: Babel; Cinema, aspirinas
e urubus.
ATIVIDADES
01. Leia a crônica Pirraça de adulto, extraída do livro Um brinde aos mestres: crônicas do
cotidiano escolar, e desenvolva um texto reflexivo sobre a função mediadora do supervisor/
orientador pedagógico. Apresente argumentos com base nos estudos realizados no capítulo 2.
Pirraça de adulto
Estando numa posição de coordenação, nem sempre podemos atender a todas as so-
licitações de uma equipe. Interesses pessoais precisam ser repensados, em detrimento de
decisões que beneficiarão o trabalho coletivo e, num contexto escolar, especialmente em prol
dos alunos. Trabalhar num grande colégio exige uma boa capacidade de mediação das rela-
capítulo 2 • 45
ções que permeiam aquele ambiente, além de habilidades especiais, tanto nas questões pe-
dagógicas e administrativas, quanto no que tange ao relacionamento interpessoal. Inúmeras
são as questões que surgem no cotidiano escolar, exigindo atitudes coerentes e estratégias
eficazes. Fundamentados em teorias e aliados à experiência e ao conhecimento da realidade,
processos são determinados e decisões precisam ser tomadas. Algumas delas, infelizmente,
não agradam a todos, especialmente aos mais imaturos e incapazes de compreender que as
necessidades do grupo diferem das individuais.
Havia, no contexto de uma grande escola, uma professora de matemática bastante infle-
xível em sua maneira de lidar com processos e pessoas. Exigente ao avaliar, não considerava
diferentes formas de trabalhar com a avaliação, restringindo o processo ensino e aprendiza-
gem a práticas rígidas e tradicionais. Além de dificultar o desenvolvimento dos alunos, des-
considerando respostas diferentes e reforçando o “fantasma da matemática”, a professora
Bárbara possuía certa incapacidade em lidar com mudanças e adaptações que, muitas vezes,
são inerentes ao funcionamento de uma grande estrutura organizacional.
Era final de ano. De um ano em que a referida professora estava visivelmente insatisfei-
ta, mesmo com nossas frequentes tentativas de satisfazer suas solicitações. Calendário es-
tendido pela Secretaria de Educação, avaliações definidas, conselhos de classe previamente
marcados, prazos certos para a entrega de resultados finais aos alunos e responsáveis. Os
conselhos de classe, momentos coletivos de avaliação, em que os professores ponderam
sobre cada aluno, estavam agendados para a data limite, nas turmas da professora Bárbara.
As orientadoras arrumando a sala para a reunião, os colegas chegando e tomando seus luga-
res, pautas, planilhas, provas, tudo pronto para o início do conselho; exceto a professora de
matemática. Iniciar um conselho final sem a presença de um professor, especialmente de uma
disciplina como matemática é praticamente inviável à conclusão de um ano letivo. E a espera
foi longa! A professora não apareceu, não avisou e não deixou suas pautas! Sem sucesso,
tentamos ligar para Bárbara, que não nos atendeu. Foi preciso colher as observações dos de-
mais professores e terminar em outro dia o conselho daquelas turmas, pois a professora “por
pirraça”, não compareceu aos conselhos, inviabilizando a conclusão das avaliações.
Lamentável ter professores que, além de equivocados e inflexíveis, fecham-se em seu
egoísmo, a ponto de prejudicar todo o trabalho de uma escola. Desejamos que, após tantos
anos, tenha amadurecido pessoal e profissionalmente. (CORRÊA; IBRAHIM, 2018, p. 33-34)
02. A crônica Muita coisa se descobre na escola! relata uma situação vivenciada por um
supervisor/orientador pedagógico em um de seus dias de trabalho. Após a leitura do texto,
destaque as ações realizadas pelo profissional e as competências por ele desenvolvidas para
resolver a situação.
capítulo 2 • 46
Muita coisa se descobre na escola!
2 SOE – Serviço de Orientação Escolar, denominação dada ao local/ setor onde trabalham os supervisores/
orientadores pedagógicos.
capítulo 2 • 47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Laurinda R. O relacionamento interpessoal na coordenação pedagógica. In: ALMEIDA, L.
R.; PLACCO, V. (Orgs.). O coordenador pedagógico e o espaço de mudança. São Paulo: Edições
Loyola, 2009.
ARROYO, Miguel. Currículo, território em disputa. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2013
BRASIL, Série Documental – relatos de pesquisas. Vol. 4. 2.ed. s/d. Disponível em: <http://portal.
inep.gov.br/>. Acesso em: 27 maio 2018.
BRUNO, Eliane; ABREU, Luci. O coordenador pedagógico e a questão do fracasso escolar.
In: ALMEIDA, L. R.; PLACCO, V. (Orgs.). O coordenador pedagógico questões da
contemporaneidade. São Paulo: Edições Loyola, 2007.
CANÁRIO, Rui. A escola tem futuro? Das promessas às incertezas. Porto Alegre: Artmed, 2006
FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Org.). Supervisão educacional para uma escola de qualidade.
4.ed. São Paulo: Editora Cortez, 2003.
______ . et al. Para onde vão a orientação e a supervisão educacional? 2.ed. São Paulo: Papirus,
2003.
LIMA, Elma Corrêa. Um olhar histórico sobre a supervisão. In: RANGEL (Org.) Supervisão
pedagógica – princípios e práticas. São Paulo: Papirus, 2001.
PERRENOUD, Philippe. 10 Novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
SANTOS, Clóvis Roberto dos. Educação escolar brasileira: estrutura, administração, legislação. São
Paulo: Pioneira, 1999.
__________. O gestor educacional de uma escola em mudança. São Paulo: Pioneira, 2002.
capítulo 2 • 48
3
A supervisão/
orientação
pedagógica e
as políticas
educacionais
A supervisão/orientação pedagógica e as
políticas educacionais
OBJETIVOS
• Conhecer as políticas educacionais que contribuem para a melhoria da qualidade da edu-
cação em nosso país;
• Compreender as responsabilidades e ações do supervisor/orientador pedagógico perante
as políticas educacionais da atualidade.
capítulo 3 • 50
de ensino e de aprendizagem nas escolas do país. Tendo em vista a grandiosidade
de nosso território nacional e os diferentes costumes e culturas, as políticas edu-
cacionais precisam ser adaptadas para atender às diversas realidades. Contudo não
podem perder seu foco principal.
As políticas educacionais que vamos apresentar neste capítulo – Avaliações
Institucionais, Enem, Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa e BNCC
– estão diretamente ligadas ao processo de melhoria da qualidade do ensino ofe-
recido pelas escolas. Assim, podemos ressaltar a importância do supervisor/orien-
tador pedagógico para compreender, analisar e mediar ações que viabilizem as
adaptações necessárias para a sua implementação.
Avaliações institucionais
capítulo 3 • 51
devem medir. Os descritores traduzem a associação entre os conteúdos curriculares
e as operações mentais desenvolvidas pelos alunos. Portanto, especificam as implica-
ções de cada habilidade e são utilizados como base para a construção dos itens dos
testes das diferentes disciplinas. Com base nos resultados da avaliação, proficiência,
associados ao fluxo escolar (índices de aprovação e reprovação de cada escola), atri-
bui-se o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que tem servido
de parâmetro para medir a qualidade da educação oferecida nas escolas públicas
do país. Pela média calculada, o fluxo escolar tem mais peso do que a proficiência.
Portanto, não basta a escola atingir cem por cento na área do conhecimento.
A Provinha Brasil é também um teste padronizado, elaborado pelo Inep e
aplicado às crianças do segundo ano do ensino fundamental de todo o país. É
uma avaliação diagnóstica, realizada mediante a adesão das redes municipais, e
seus resultados não compõem os indicadores nacionais. Norteia-se a partir dos
seguintes objetivos:
capítulo 3 • 52
a atenção voltada ao Ciclo de Alfabetização deve-se à concepção de que esse período
é considerado necessário para que seja assegurado a cada criança o direito às apren-
dizagens básicas da apropriação da leitura e da escrita, e também à consolidação de
saberes essenciais dessa apropriação, ao desenvolvimento das diversas expressões e
ao aprendizado de outros saberes fundamentais das áreas e componentes curriculares
obrigatórios.
capítulo 3 • 53
e do segundo ano do ensino fundamental. As turmas dos anos iniciais contarão
com um assistente para auxiliar o professor regente no processo alfabetizador. O
Programa Mais Alfabetização faz parte de uma série de ações do governo federal
para apoiar os alunos que apresentam baixo desempenho no processo de leitura,
escrita e raciocínio matemático.
Enem
O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) foi criado em 1998 pelo Ministério
da Educação (MEC), com o propósito de avaliar o desempenho do estudante ao
fim da escolaridade básica. Apresenta como objetivo aferir o desenvolvimento das
competências e habilidades necessárias ao exercício pleno da cidadania. Segundo o
MEC, o exame exerce a função de um auxiliador da escola para que se construa o
conhecimento do aluno “desenvolvendo capacidades de aprender, criar, formular, ao
invés do simples exercício de memorização” (Brasil, 2000, p. 5).
Assim, podemos observar que, além de avaliar estudantes ao final de seus es-
tudos básicos e de criar novas políticas educacionais de ingresso na educação su-
perior, o Enem deve promover mudanças na prática pedagógica dos docentes que
atuam no ensino médio da educação básica.
Considerando a escola como o local onde acontece a educação formal e, por-
tanto, onde se constitui o exercício de diferentes práticas pedagógicas, cabe ao
professor promover junto aos seus alunos competências e habilidades para que
sejam capazes de desenvolver o pensamento crítico e criativo. Nesse contexto, o
Enem pode ser considerado um instrumento indutor de mudanças na prática do
professor e nas ações pedagógicas promovidas pela escola. No que diz respeito à
ação pedagógica, esta deve acompanhar as mudanças e transformações das políti-
cas educacionais para atender aos interesses dos sujeitos envolvidos. Sendo assim,
para que as mudanças na prática docente sejam realmente implementadas, devem
estar institucionalizadas no projeto político-pedagógico das escolas.
Diante do exposto sobre o Enem, podemos levantar algumas questões: Quem
deve articular junto aos professores as modificações propostas por essa política
educacional? Como inserir essas ações no projeto político-pedagógico da escola?
As respostas estão presentes nas ações desenvolvidas pelo supervisor/orientador
pedagógico. Abordaremos tais ações mais adiante.
capítulo 3 • 54
Pacto Nacional pela a Alfabetização na Idade Certa
O que é o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa? Qual é sua fina-
lidade como política educacional?
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, criado pela Portaria MEC
nº 867, de 4/7/2012, é um acordo formal assumido pelo governo federal, pelos
estados, pelos municípios e por entidades para firmar o compromisso de alfabe-
tizar crianças até, no máximo, 8 anos de idade, ao final do ciclo de alfabetização.
Foi organizado para atender à Meta 5 do Plano Nacional de Educação – PNE3.
COMENTÁRIO
Conhecendo a finalidade e as metas do PNE
Plano Nacional de Educação (2014/2024)
O Plano Nacional de Educação (PNE) determina diretrizes, metas e estratégias para a
política educacional dos próximos dez anos. O primeiro grupo são metas estruturantes para a
garantia do direito à educação básica com qualidade, a fim de promover a garantia do aces-
so, a universalização do ensino obrigatório e a ampliação das oportunidades educacionais.
Um segundo grupo de metas diz respeito especificamente à redução das desigualdades e
à valorização da diversidade, caminhos imprescindíveis para a equidade. O terceiro bloco de
metas trata da valorização dos profissionais da educação, considerada estratégica para que
as metas anteriores sejam atingidas, e o quarto grupo de metas refere-se ao ensino superior.
As 20 metas do PNE são:
META 1. Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de
quatro a cinco anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma
a atender, no mínimo, 50% das crianças de até três anos até o final da vigência deste PNE.
META 2. Universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda a população de
seis a 14 anos e garantir que pelo menos 95% dos alunos concluam essa etapa na idade
recomendada, até o último ano de vigência deste PNE.
META 3. Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a
17 anos e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de matrículas
no ensino médio para 85%.
META 4. Universalizar, para a população de quatro a dezessete anos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à
educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede
capítulo 3 • 55
regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos
multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados.
META 5. Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3o ano do ensino fun-
damental.
META 6. Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públi-
cas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos(as) alunos(as) da educação básica.
META 7. Fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades,
com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem de modo a atingir as médias nacionais
para o Ideb.
META 8. Elevar a escolaridade média da população de 18 para 29 anos, de modo a
alcançar, no mínimo, 12 anos de estudo no último ano de vigência deste Plano, para as popu-
lações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres, e igualar
a escolaridade média entre negros e não negros declarados à Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).
META 9. Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5%
até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir
em 50% a taxa de analfabetismo funcional.
META 10. Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos,
nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional.
META 11. Triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, asse-
gurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% da expansão no segmento público.
META 12. Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líqui-
da para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão
para, pelo menos, 40% das novas matrículas no segmento público.
META 13. Elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres e
doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de educação supe-
rior para 75%, sendo, do total, no mínimo, 35% doutores.
META 14. Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu,
de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores.
META 15. Garantir, em regime de colaboração entre a União, os estados, o Distrito Fede-
ral e os municípios, no prazo de um ano de vigência deste PNE, política nacional de formação
dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei no
9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurando que todos os professores e as professoras
da educação básica tenham formação específica de nível superior, obtida em curso de licen-
ciatura na área de conhecimento em que atuam.
capítulo 3 • 56
META 16. Formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professo res da educação bá-
sica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos (as) os (as) profissionais da
educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessida-
des, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.
META 17. Valorizar os (as) profissionais do magistério das redes públicas de educação
básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos (as) demais profissionais com
escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE.
META 18. Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de Carreira para os
(as) profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e,
para o plano de Carreira dos (as) profissionais da educação básica pública, tomar como re-
ferência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII
do art. 206 da Constituição Federal.
META 19. Assegurar condições, no prazo de dois anos, para a efetivação da gestão de-
mocrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta
pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio
técnico da União para tanto.
META 20. Ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no
mínimo, o patamar de 7% do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5o ano de vigência desta
Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio.
capítulo 3 • 57
4. Gestão, controle social e mobilização – organização do planejamento junto às
equipes pedagógicas e aos professores para viabilizar o desenvolvimento de ações
que garantam o domínio da leitura, da escrita e dos princípios matemáticos.
capítulo 3 • 58
Ressaltamos ainda que, além da preocupação com o processo de ensino, torna-
-se necessário discutir com os professores o que sabem sobre o currículo. Embora
aparentemente simples, o processo de discussão, elaboração e implementação de
novas propostas curriculares não é tarefa fácil. O campo de estudos pode envol-
ver muitas dúvidas e suscitar debates, a começar pela compreensão do conceito
de currículo pelos diferentes segmentos da educação: administrativo, pedagógico
e docente. Ao perguntar “o que é currículo”, inúmeras respostas podem surgir.
Podemos entender o currículo como uma lista de conteúdos, programas e ementas
de um curso, planos de ensino das escolas, atividades propostas pelos professores a
seus alunos, matriz curricular de um curso, diretrizes para se organizar um plane-
jamento, ou como competências e habilidades a serem construídas pelos alunos.
Enfim, muitas interpretações podem ser oferecidas como objeto de estudo para
conceituar currículo. Contudo, outras questões ainda se escondem por trás dos
possíveis conceitos apresentados anteriormente, que podem se tornar objetos de
disputas na teoria curricular da atualidade. Dentre elas, podemos destacar a in-
fluência dos diferentes discursos políticos, das políticas internacionais e nacionais e
dos interessados na modificação do perfil sociocultural de determinada sociedade.
A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) apresenta seus fundamen-
tos pedagógicos focados no desenvolvimento de competências. Para Perrenoud
(1993), uma competência traduz-se na capacidade de agir eficazmente perante de-
terminado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem se limitar a eles.
Ao adotar esse enfoque, a BNCC indica que as decisões pedagógicas devem es-
tar orientadas para o desenvolvimento de competências. Por meio da indicação
clara do que os alunos devem “saber” (considerando a constituição de conhecimentos,
habilidades, atitudes e valores) e, sobretudo, do que devem “saber fazer” (considerando
a mobilização desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver de-
mandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do
trabalho [...]. (BRASIL, 2017, p. 13)
capítulo 3 • 59
são observáveis em relação à prática diária do professor. Um deles relaciona-se
com a organização do planejamento das aulas e o desafio de transformá-lo em um
marco referencial para o desenvolvimento de competências e não apenas de trans-
missão de conhecimentos. O outro refere-se à reflexão sobre sua própria prática, a
fim de aperfeiçoar as estratégias didáticas.
Após uma breve exposição sobre as políticas educacionais da atualidade, apre-
sentaremos as ações do supervisor/orientador pedagógico para garantir sua ade-
quação e aplicabilidade no âmbito escolar.
capítulo 3 • 60
Apresentamos, a seguir, as ações que devem estar presentes no plano de traba-
lho do supervisor/orientador pedagógico para atender às políticas educacionais da
atualidade e garantir sua eficácia.
Avaliações Institucionais
os resultados obtidos pelos alunos são expressos por meio de um valor numérico po-
sicionado em uma escala de proficiência. Essa escala nada mais é do que uma régua
construída com base em informações previamente estabelecidas sobre o comporta-
mento dos itens (questões) aplicados nos testes, com base no uso do modelo da Teoria
da Resposta ao Item (TRI). Na Prova Brasil, a escala de proficiência é construída para
cada uma das áreas de conhecimento avaliadas e vai de 0 a 500 pontos. Ela é dividida
em intervalos de 25 pontos, que são chamados níveis de proficiência. Cada nível com-
preende um conjunto de habilidades que os alunos nele posicionados provavelmente
dominam (BRASIL, 2015, p. 35).
capítulo 3 • 61
LÍNGUA PORTUGUESA – 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
NÍVEL DESCRIÇÃO DAS HABILIDADES DESENVOLVIDAS
Os estudantes provavelmente são capazes de: localizar infor-
Nível 1 Desempe-
mações explícitas em textos narrativos curtos, informativos e
nho maior ou igual
anúncios; identificar o tema de um texto; localizar elementos
a 125 e menor que
como o personagem principal; estabelecer relação entre par-
150
tes do texto: personagem e ação, ação e tempo, ação e lugar.
capítulo 3 • 62
LÍNGUA PORTUGUESA – 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
NÍVEL DESCRIÇÃO DAS HABILIDADES DESENVOLVIDAS
Além das habilidades anteriormente citadas, os estudantes
provavelmente são capazes de: identificar assunto e opinião
em reportagens e contos; identificar assunto comum a cartas e
poemas; identificar informação explícita em letras de música e
contos; reconhecer assunto em poemas e tirinhas; reconhecer
Nível 5 Desempe- sentido de conjunções e de locuções adverbiais em verbetes,
nho maior ou igual lendas e contos; reconhecer finalidade de reportagens e carta-
a 225 e menor que zes; reconhecer relação de causa e consequência e relação en-
250 tre pronome e seu referente em tirinhas, contos e reportagens;
inferir elementos da narrativa em fábulas, contos e cartas; inferir
finalidade e efeito de sentido decorrente do uso de pontuação e
assunto em fábulas; inferir informação em poemas, reportagens
e cartas; diferenciar opinião de fato em reportagens; interpretar
efeito de humor e sentido de palavra em piadas e tirinhas.
capítulo 3 • 63
LÍNGUA PORTUGUESA – 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
NÍVEL DESCRIÇÃO DAS HABILIDADES DESENVOLVIDAS
Além das habilidades anteriormente citadas, os estudantes
provavelmente são capazes de: identificar assunto principal e
opinião em contos e cartas do leitor; reconhecer sentido de
Nível 8 Desempe-
locução adverbial e elementos da narrativa em fábulas e con-
nho maior ou igual
tos; reconhecer relação de causa e consequência e relação
a 300 e menor que
entre pronomes e seus referentes em fábulas e reportagens;
325
reconhecer assunto comum entre textos de gêneros diferen-
tes; inferir informações e efeito de sentido decorrente do uso
de pontuação em fábulas e piadas.
5,72 5
3,24 3,33 0
Nível 0 Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5 Nível 6 Nível 7 Nível 8 Nível 9
Com base nos resultados apresentados, quais ações podem ser desenvolvidas
pelo supervisor/orientador pedagógico?
• Analisar os dados do gráfico de desempenho dos alunos;
• Identificar os alunos que se encontram em cada nível;
• Verificar as competências e as habilidades inerentes a cada nível;
5 Nome fictício.
capítulo 3 • 64
• Organizar uma reunião pedagógica para a apresentação dos resultados;
• Discutir com os professores as competências e as habilidades de cada nível;
• Sistematizar, com os professores, atividades que levem os alunos que se en-
contram nos níveis 0, 1, 2, 3 e 4 a melhorar seu desempenho;
• Sugerir a utilização de materiais didáticos diferenciados (jogos, brincadei-
ras, material concreto, livros de literatura);
• Ajudar os professores no planejamento das aulas;
• Sugerir aos professores leituras complementares para o aperfeiçoamento da
prática didática;
• Promover encontros de partilha, onde possa acontecer a troca de experiências.
Enem
capítulo 3 • 65
Mas como tornar possível tais ações? A princípio, o supervisor/orientador pe-
dagógico pode organizar momentos de formação continuada e levar os professores
a algumas reflexões: O que as políticas públicas sugerem que eles façam? Como as
novas atuações se comparam às atuais e às anteriores? Quais mudanças devem ser
feitas a partir das atividades que já realizam e quais atividades devem ser mantidas?
Quando e como realizarão as mudanças pretendidas/projetadas? O que seus colegas
fazem? O que os administradores, a sociedade e os pais esperam que eles façam?
As respostas a essas perguntas servirão de norte para a organização de no-
vos encontros e, também, para a apresentação dos documentos que organizam
a estrutura curricular para o ensino médio. A seguir, novas ações poderão estar
pautadas na leitura e na análise das Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio
da Base Nacional Comum Curricular. Nesse momento, a atuação mediadora do
supervisor/orientador pedagógico é relevante. Acreditamos que, ao refletir sobre a
prática, inserida em distintos contextos, seja no social, histórico, ideológico, cul-
tural, o docente pode adquirir novos conhecimentos e (re)construir e (re)significar
sua prática. Essa etapa é apenas o início de uma trajetória que implica um esforço
constante para a atualização dos conhecimentos, a adaptação a novas demandas,
o reconhecimento público do trabalho e a valorização da atividade. Entender esse
processo de mudanças produzidas pelo Enem na prática pedagógica contribui
para evidenciar que o professor deve mobilizar diferentes saberes que atendam às
expectativas das políticas públicas. O exame do Enem deve tornar-se um aliado
do docente em seu processo de ensino e aprendizagem e ser, por conseguinte, um
norteador no que diz respeito a fazer uso dele em sua prática diária.
Cabe ressaltar a relevância das ações do supervisor/orientador pedagógico a
fim de proporcionar momentos de formação continuada para auxiliar os docentes
a ressignificar sua prática e a planejar atividades que contribuam para a formação
de sujeitos pensantes e questionadores da realidade.
capítulo 3 • 66
Uma das primeiras estratégias do PNAIC no âmbito escolar é a delimitação
de conhecimentos, habilidades e capacidades a serem contempladas em cada ano
de escolaridade. Neste caso, a formação continuada interna faz-se necessária para
que haja um consenso entre os professores que trabalham nas turmas do ciclo de
alfabetização. Vale ressaltar que legitimar os direitos de aprendizagem para cada
ano do ciclo, pode evitar que os alunos cheguem ao terceiro ano sem estarem alfa-
betizados. Neste caso, cabe ao supervisor/orientador pedagógico a organização de
reuniões de formação para levar os professores à compreensão das competências
e habilidades que devem ser desenvolvidas em cada ano do ciclo de alfabetização.
A segunda estratégia está no acompanhamento do planejamento dos professo-
res. A verificação e a devolutiva semanal das atividades organizadas pode garantir
o sucesso do processo de ensino e aprendizagem.
A terceira estratégia está no acompanhamento do processo de leitura e de es-
crita dos alunos. Recomenda-se que o supervisor/orientador pedagógico organize
sondagens coletivas ou individuais para saber sobre o conhecimento desenvolvido
pelos alunos. A sondagem pode constar de um ditado de palavras que façam parte
de um mesmo campo semântico, ou seja, agregados por uma unidade de sentido, e
de uma frase adequada ao contexto desse grupo. O ditado pode ser iniciado por uma
palavra polissílaba, seguida de uma trissílaba, de uma dissílaba e, por último, de uma
monossílaba. Após a lista, é preciso ditar uma frase que envolva pelo menos uma das
palavras já mencionadas, para poder observar se o aluno volta a escrevê-la de forma
semelhante, ou seja, se a escrita da palavra permanece estável mesmo num contexto
diferente. Feita a sondagem, o supervisor/orientador pedagógico deverá realizar a
análise da escrita e da leitura e orientar o professor da turma a organizar atividades
que contemplem as dificuldades apresentadas pelos alunos. É um momento de par-
tilha, em que o professor e o supervisor/orientador pedagógico trocam experiências
e ideias que possam contribuir para a melhoria da prática docente.
A quarta estratégia está relacionada à seleção e à distribuição do material didá-
tico enviado para as escolas pelo Ministério da Educação para que os professores os
insiram em seu planejamento. Para o ciclo de alfabetização, são enviados livros da
literatura infantil e jogos pedagógicos. Para garantir que o material seja incluído
na rotina diária, cabe ao supervisor/orientador pedagógico apresentar o material
para os professores e ajudá-los a inseri-los nos planejamentos das aulas.
Podemos, assim, perceber a relevância do acompanhamento do supervisor/
orientador pedagógico do processo de ensino e aprendizagem das turmas do ciclo
de alfabetização.
capítulo 3 • 67
Base Nacional Comum Curricular
capítulo 3 • 68
O documento da BNCC apresenta, ainda, inúmeras possibilidades de dis-
cussão no ambiente escolar. Por ser um material amplo e minucioso, precisa ser
analisado, discutido e avaliado por todos os profissionais envolvidos no processo
pedagógico da escola. Desta forma, cabe ao supervisor/orientador pedagógico,
aprofundar seus conhecimentos sobre o documento e promover encontros para
sua análise e discussão junto aos professores.
Para finalizar, uma pausa para pensarmos sobre o fazer do supervisor/orienta-
dor pedagógico, suas atitudes e ações nos encontros de formação com os profes-
sores em que são necessárias a análise e a reflexão sobre uma política educacional.
REFLEXÃO
“Escrevi há algum tempo que ‘ordenar a reflexão educativa é a expressão-síntese das al-
ternativas que se apresentam ao supervisor/orientador pedagógico’. Parece-me importante,
nas condições de negociação e de luta que se desenvolvem hoje na sociedade brasileira, re-
tomar essa afirmação a fim de tentar situá-la em seus contornos e em seus desdobramentos.
Ao se dedicar à tarefa de organizar uma sólida reflexão sobre o momento atual da educação
e da sociedade brasileira, não poderá o supervisor/orientador pedagógico desconsiderar a
necessidade do alargamento dos limites da reflexão que pretende. Se não cabe ao super-
visor impor soluções ou estabelecer critérios obrigatórios de interpretação, cabe-lhe, sem
dúvida, por ser um educador responsável, ajudar na construção da consciência histórico-po-
lítica necessária à luta contra a dominação. Isso implica uma posição de profunda atenção
aos fatos do cotidiano escolar e do cotidiano da sociedade que lhe assegure condições
de análise adequada do significado das ocorrências que se vão acumulando. Coordenando
necessidades e aspirações, o supervisor/orientador pedagógico certamente não pode per-
mitir que se revigore seu antigo papel de controlador a serviço dos interesses estabelecidos.
Mas há interesses a estabelecer e necessidades a atender. [...] Coordenador de uma escola
que busca a elaboração de uma nova visão de mundo, o supervisor/orientador pedagógico
responde também pela oportunidade da análise consciente e pela erradicação do arbítrio e
do dogmatismo. Não conseguirá ir sozinho, evidentemente, e é a própria impossibilidade da
ação individual que deverá orientá-lo para a necessidade do trabalho coletivo e do respeito
às necessidades da maioria.” (RANGEL, 2003, p. 96)
capítulo 3 • 69
Neste capítulo, apresentamos algumas ações que podem ser desenvolvidas
pelo supervisor/orientador pedagógico com base nas políticas públicas educacio-
nais da atualidade. As atividades inerentes a este profissional serão discutidas e
organizadas nos próximos capítulos.
MULTIMÍDIA
Sugestões de filmes para trabalhar situações de:
Aprendizagem, metodologia, avaliação: Coach Carter – Treino para vida; Ser e Ter;
Mr. Holland – Adorável Professor; Sociedade dos Poetas Mortos; O Clube do Imperador;
Pride – O orgulho de uma nação; Ao Mestre, com carinho; Escritores da Liberdade; O sorriso
de Monalisa.
Comportamento: A voz do coração; Meow; Escritores da Liberdade; Cidade de Deus;
Pro dia nascer feliz.
ATIVIDADES
01. Leia os casos apresentados e organize um planejamento com ações do supervisor/
orientador pedagógico para atender às demandas relatadas.
Caso 1: Após verificar o resultado da Prova Brasil, o supervisor/orientador pedagógico
da Escola Golfinho Azul observou que 50% dos alunos de uma turma do 5o ano encontra-
vam-se no nível 1 da Tabela de Habilidades Desenvolvidas – Os estudantes provavelmente
são capazes de: localizar informações explícitas em textos narrativos curtos, informativos e
anúncios; identificar o tema de um texto; localizar elementos como o personagem principal;
estabelecer relação entre partes do texto: personagem e ação, ação e tempo, ação e lugar.
Quais ações podem ser desenvolvidas pelo supervisor/orientador pedagógico para me-
lhorar o desempenho dos alunos?
capítulo 3 • 70
Caso 3: Os professores do ensino médio do Colégio Colibri Dourado procuraram o su-
pervisor/orientador pedagógico solicitando sua ajuda para organizar o planejamento das au-
las com a finalidade de atender às competências solicitadas pelo Enem.
Quais ações podem ser desenvolvidas pelo supervisor/orientador pedagógico para aju-
dar os professores?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular.
__________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96.
__________. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira. Provinha Brasil: guia de correção e interpretação dos resultados: teste 1: primeiro semestre.
Brasília, 2014.
__________. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira. Avaliação Nacional da Alfabetização. Brasília, 2013. Disponível em: <www.inep.gov.br>.
Acesso em: 25 jun. 2018.
__________. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares para o Ensino
Médio. Brasília: MEC, 2000. Disponível em: <www.inep.gov.br>. Acesso em: 20 jun. 2018.
PERRENOUD, Philippe. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação. Lisboa: Publicações
D. Quixote e Instituto de Inovação Educacional, 1993.
RANGEL, Mary (Org.) et al. Nove olhares sobre a supervisão. 9.ed. São Paulo: Papirus, 2003.
ROLDÃO, Maria do Céu. Os professores e a gestão do currículo: perspectivas e práticas em
análise. Portugal: Porto Editora, 2010.
VELÁSQUEZ, Alejo Vargas. Notas sobre el estado y las políticas públicas. Bogotá: Almudena
Editores, 1999.
capítulo 3 • 71
capítulo 3 • 72
4
As atribuições
do supervisor/
orientador
pedagógico
As atribuições do supervisor/orientador
pedagógico
OBJETIVOS
• Compreender a importância do planejamento para sistematizar as ações do supervisor/
orientador pedagógico;
• Apontar as principais atribuições do supervisor/orientador pedagógico;
• Organizar um plano de ação para institucionalizar a atuação do supervisor/orientador pe-
dagógico na escola.
capítulo 4 • 74
c) a comunidade escolar desconhece a real função do supervisor/orientador
pedagógico;
d) em alguns casos, a ação pedagógica tem sido assistemática e descontínua.
Entendemos que, se essas situações existem e são mantidas pela equipe escolar,
isso é devido, em parte, à falta de um planejamento eficaz do supervisor/orienta-
dor pedagógico em relação à sua ação. As ações planejadas tornam-se institucio-
nalizadas e minimizam, em grande proporção, as solicitações de tarefas que não
são inerentes à supervisão/orientação pedagógica. De acordo com Lück (1986,
p. 19), “deve-se entender que o planejamento, por si, não resolve essas situações,
uma vez que é a ação que produz modificações, e que medidas administrativas são
necessárias para produzir resultados”.
Com base em uma ação planejada, o supervisor/orientador pedagógico poderá
mostrar que seu trabalho é relevante e consistente, garantir sua ação profissional,
demonstrar sua eficácia e tornar sua prática sistemática e contínua.
Ressaltamos que um planejamento bem organizado otimiza o tempo de reali-
zação das ações, compensam o tempo nele despendido e, ainda, sinaliza as metas
e os objetivos a serem alcançados a curto, médio e longo prazo. Segundo Lück
(1986, p. 19), por meio de um planejamento é possível:
capítulo 4 • 75
As figuras, a seguir, sintetizam os passos e as funções do planejamento.
Caracterizada a situação
de fato deve-se
Resultados
Mudanças
Estabelecer os obje�vos; Que se
(situação futura desejada) Acréscimos pretende
Correções a�ngir
Melhorias
Caracterizada a situação
desejada deve-se
humanos
1. O campo de ação materiais
�sicos
2. Os recursos a serem u�lizados financeiros
3. As restrições existentes (obstáculos)
Levantar 4. Limites de tempo para a realização da ação
5. A�vidades
6. Métodos
7. Recursos de avaliação
capítulo 4 • 76
Funções do Planejamento
O planejamento
Situação atual
O que
Como
Prevê Onde Se quer realizar
Quando
Porque
Obje�vidade
Operacionalidade
Garante Funcionalidade Da ação
Exequibilidade
Con�nuidade
Produ�vidade
ATENÇÃO
Para entender um pouco mais sobre o planejamento...
O Escoteiro Inteligente
capítulo 4 • 77
encontrar uma saída. Mas, inteligentemente, organiza sua mente e sua ação. Faz isto em
quatro etapas que, sendo as de um procedimento científico, como mostra Rubem Alves, são,
também, as de um processo de planejamento.
1. Compreender a situação
Antes de mais nada, o escoteiro abre seu mapa. Esse “abrir o mapa” lhe dá uma primeira
aproximação tranquilizadora com a realidade. O mapa permite que ele se situe, ou seja, que
reconheça o contexto em que vai inserir sua prática e seu pensamento. Mesmo que o mapa
traga informações preocupantes, a compreensão do todo é tranquilizadora, porque esclarece
as dimensões da situação em que está inserido.
No planejamento, o “abrir o mapa” significa organizar a visão que o grupo ou a instituição
tenha da realidade global. Trata-se de ver o todo; é preciso que o grupo diga como sente e como
interpreta o mundo, tanto o mundo tomado inteiro, como o mundo que aquela determinada ins-
tituição ou grupo esteja vivendo. Não se trata da realidade específica da instituição ou do grupo
– isso é tarefa para o momento diagnóstico; mas da realidade social, econômica, política, religiosa,
com aqueles enfoques que mais chamam a atenção do grupo ou da instituição em planejamento.
2. Estabelecer o rumo
Qual a primeira coisa que o escoteiro procura no mapa? Essa é a pergunta que Rubem
Alves nos propõe. A resposta pode surpreender: o costume de agir sem saber para onde se
vai é tão arraigado que a maioria das pessoas responderá que o escoteiro vai procurar, pri-
meiro, o lugar em que ele está. Em geral, isso ocorre porque as pessoas aprenderam, com o
passar do tempo, que sempre se soube para onde se vai, que isso já está definido e que sobre
isso não há o que discutir. Penso que essa é a pior desgraça que acontece entre nós: não nos
damos conta de que nada adianta saber onde estamos se não sabemos para onde vamos.
Dito de outra maneira: só tem sentido saber onde se está para relacionar esse conhecimento
com o horizonte que se tem, com o resultado que se pretende alcançar. Como, no social, no
educacional em especial, não alcançamos saber o que queremos buscar – não relacionamos
nossa prática com os resultados – ficamos preocupados com dados, com levantamentos,
para descobrirmos onde estamos.
Mesmo que, no caso do escoteiro, o acampamento esteja claramente assinalado, de
modo a não ter ele que procurar de maneira mais demorada, é para lá que dirige seu primeiro
olhar. No caso de uma instituição ou de um grupo em planejamento, esse “acampamento”,
isto é, essa direção para a qual deve mover-se não está, de modo algum, assinalado ou esta-
belecido: deve ser opção fundamentada pelas pessoas que participam do processo. Pensar
que isso esteja dado e que é preciso preocupar-se com o lugar onde se está é tão comum
quanto nocivo: deixa as pessoas sem rumo e fazendo muitas coisas para dar a impressão de
capítulo 4 • 78
trabalho; como um escoteiro que, sem olhar onde fica o acampamento, caminhasse bastante
pela mata, para todos os lados, se cansasse bastante e, depois, se queixasse que não chegou
a lugar algum, apesar de se ter esforçado de maneira constante e corajosa.
Por isso, é que Rubem Alves, ao falar do escoteiro e dessa sua primeira ação, que é a
de identificar o acampamento, cita G. Polya (livro How to solve it, p. 223): “O sábio começa
no fim; o tolo termina no começo”. É por isso, também, que Francisco W. Ferreira (escritor
de Planejamento sim e não, pela Ed. Paz e Terra) definiu o planejamento, numa palestra em
Porto Alegre, como “o processo de abrir espaços para que as pessoas discutam sua utopia”.
capítulo 4 • 79
insistir que as categorias, os tipos de propostas para transformação da realidade (da prática)
são os mesmos para o escoteiro e para o grupo, uma instituição ou movimento: ações, atitu-
des e comportamento, normas (GANDIN, 1994, pp. 48-51).
capítulo 4 • 80
Ser um especialista na área pedagógica implica dedicar-se às questões que são es-
pecíficas de seu trabalho, ou seja, ao conhecimento, à formação e à prática pedagógi-
ca que são partes de um todo para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem.
Antes de relacionar as principais atribuições do supervisor/orientador pedagó-
gico, destacamos os aspectos que norteiam o seu princípio de formador, articula-
dor e transformador da prática educacional. São eles:
1. Formador de formadores: o supervisor/orientador pedagógico observa o de-
senvolvimento pedagógico dos docentes, acompanha o processo de ensino e de
aprendizagem e incentiva o trabalho interdisciplinar e de projetos educacionais.
2. Articulador e mediador dos processos educacionais: o supervisor/orienta-
dor pedagógico desenvolve trabalhos pedagógicos junto aos professores, realiza re-
uniões pedagógicas e conselhos de classe, atende aos professores individualmente,
faz a mediação entre a direção, as famílias, os alunos e os professores, articula o
planejamento, o currículo, a avaliação da aprendizagem e a formação continuada
dos professores.
3. Transformador da prática educacional: o supervisor/orientador pedagógico
organiza estudos para orientar o planejamento dos professores, faz o mapeamen-
to de dados que possam interferir na condução negativa do processo de ensino,
sugere a implementação das novas tecnologias no planejamento diário, identifica
as necessidades e dificuldades pedagógicas dos professores e dos alunos e realiza a
intervenção por meio de sugestões didáticas.
capítulo 4 • 81
na proposta curricular vigente. Nessa função, deve também propor novas formas de
lidar com as turmas e com os alunos que necessitam de uma atenção especial no seu
desenvolvimento pedagógico. Por meio desse acompanhamento, esse profissional
terá condições de oferecer o suporte necessário para atender às dificuldades de ensi-
no e de aprendizagem que possam surgir para o professor e para o aluno.
c) Incentivar o trabalho coletivo: o supervisor/orientador pedagógico precisa in-
centivar o trabalho em grupo e motivar os professores no desenvolvimento de ativida-
des interdisciplinares. A promoção de uma boa comunicação entre a equipe pedagógi-
ca e os professores pode ser a garantia para um trabalho interdisciplinar eficaz.
d) Ouvir e orientar os professores: estabelecer um bom relacionamento com
os professores, implica saber ouvir suas necessidades e angústias e, na medida do
possível, orientá-los em seu fazer pedagógico. Implica, ainda, motivá-los a desen-
volver e se engajar nos projetos educacionais coletivos e individuais. Nesse sen-
tido, o supervisor/orientador pedagógico deve traçar estratégias e ações focadas
na melhoria do processo de ensino e de aprendizagem, no desenvolvimento do
conhecimento e no estreitamento das relações interpessoais.
e) Garantir a boa comunicação: o supervisor/orientador pedagógico tem a fun-
ção de garantir uma boa comunicação entre a direção e os professores, entre os
alunos e os professores e também entre as famílias e a escola.
f ) Sugerir novas estratégias às práticas escolares: no intuito de garantir um
trabalho pedagógico coletivo de qualidade, o supervisor/orientador pedagógico
deve sugerir estratégias diferenciadas para serem inseridas nos planejamentos dos
professores. A articulação de novas práticas pedagógicas contribui para o desenvol-
vimento de aulas mais dinâmicas e criativas.
g) Ser líder: a liderança pode ser um dos condicionadores para uma relação dialó-
gica e a base para conduzir e resolver conflitos. Nesse sentido, o bom líder apresenta
flexibilidade para saber ouvir, analisar a situação e discuti-la de maneira profissional.
h) Acompanhar o processo de ensino e de aprendizagem: o acompanhamento
do processo de ensino e de aprendizagem pelo supervisor/orientador pedagógico con-
tribui para a obtenção de melhores resultados por parte dos alunos. Nesse caso, esse
profissional irá planejar, com o professor, formas de trabalhar as demandas dos discen-
tes e criar condições reais para a aprendizagem. Ao promover o acompanhamento do
processo de ensino e aprendizagem, passa a oferecer a abertura do espaço pedagógico
para os questionamentos, as intervenções e para as propostas colaborativas.
i) Dinamizar as reuniões de conselho de classe: por meio das reuniões de con-
selho de classe, o supervisor/orientador pedagógico age como um mediador do
processo de ensino e aprendizagem. O momento proporciona uma reflexão sobre
a prática desenvolvida pelos professores e analisa o processo de aprendizagem dos
alunos. É um momento coletivo de discussão sobre os procedimentos que devem
capítulo 4 • 82
ser adotados pela equipe para a promoção de melhorias no processo de ensino e
ajuda aos alunos com dificuldades de aprendizagem.
Além dessas atribuições, Alarcão e Tavares (2003, p. 56-57) sugerem que a
prática do supervisor/orientador pedagógico deve estar pautada em conhecimen-
tos técnicos e didáticos que contribuam para o desenvolvimento continuo do pro-
cesso de ensino. Nesse sentido suas ações estarão sempre subordinadas ao verbo
“ajudar”, ou seja, o seu fazer diário está voltado para ajudar os professores no seu
desenvolvimento pedagógico. Para que isso aconteça, deve ajudar a:
estabelecer e manter um bom clima afetivo-relacional que, sem ser castrante ou intimi-
dante, é exigente e estimulante; criar condições de trabalho e interação que possibilitem
o desenvolvimento humano e profissional dos professores; desenvolver o espírito de
reflexão, autoconhecimento, inovação e colaboração; criar condições para que os pro-
fessores desenvolvam e mantenham o gosto pelo ensino e pela formação em contínuo;
analisar criticamente os programas, os textos de apoio, os contextos educativos; planifi-
car o processo de ensino-aprendizagem dos alunos e dos próprio professor;
capítulo 4 • 83
um resultado. Esse documento geralmente é criado no formato de uma planilha
(eletrônica ou mesmo de papel), contendo informações como objetivos, ações e
responsáveis com suas respectivas datas de entregas.
Gestão pedagógica
capítulo 4 • 84
GESTÃO PEDAGÓGICA
99 Organização e elaboração dos informativos: pedagógico, cultural;
99 Organização dos horários para as avaliações;
99 Organização dos gráficos avaliativos bimestralmente;
99 Verificação bimestral das pautas;
99 Leitura dos relatórios avaliativos;
99 Conselhos de classe;
99 Reuniões pedagógicas;
99 Acompanhamento dos projetos pedagógicos;
99 Organização/participação das atividades extracurriculares (Feira de Conhecimentos,
concursos – internos e externos, passeios culturais);
99 Informática: agendamentos, relatórios e ficha de acompanhamento;
99 Audiovisual: acompanhamento e agendamento;
99 Biblioteca: agendamento e acompanhamento;
99 Planejamentos: anual e diário.
GESTÃO DE PESSOAS
99 Acompanhamento do processo avaliativo;
99 Com base na leitura, na interpretação e na apresentação dos resultados, desenvolvi-
mento, junto aos professores, de avaliação do planejamento estratégico;
99 Orientação e acompanhamento dos relatórios avaliativos;
99 Sondagem (trimestral) dos alunos do ciclo de alfabetização;
99 Acompanhamento do processo de leitura e escrita dos alunos do 3o ano;
99 Auxílio pedagógico (com sugestões de atividades e procedimentos) aos professores;.
99 Acompanhamento dos alunos com dificuldade de aprendizagem;
99 Orientação aos pais dos alunos com dificuldade de aprendizagem;
99 Acompanhamento e avaliação dos alunos incluídos;
99 Conselhos de classe;
99 Reuniões com os responsáveis (bimestralmente e quando necessário);
99 Reuniões pedagógicas;
99 Acompanhamento da prática pedagógica dos professores;
99 Informática: o que será realizado;
99 Planejamentos: anual e diário – acompanhamento.
capítulo 4 • 85
ESCOLA AQUARELA - PLANO DE AÇÃO DO SUPERVISOR/ORIENTADOR PEDAGÓGICO ANO LETIVO: XXXX
capítulo 4
ciclo de alfabetização (do 1º no processo de aprendizagem supervisor/ Novembro Aquarela individualmente – processo ensino/
ao 3º ano) do aluno orientador leitura e escrita aprendizagem
responsável
• 86
Auxílio pedagógico (com Melhoria da qualidade Nome do Diariamente Escola Apresentação de Melhoria do
sugestões de atividades do processo de ensino/ supervisor/ ou definir uma data Aquarela sugestões para processo ensino/
e de procedimentos aos aprendizagem orientador para início e fim enriquecimento da aprendizagem
professores) responsável prática pedagógica
Acompanhamento dos Diminuição do índice de Nome do Diariamente Escola Sondagem individual Melhoria do
alunos com dificuldades de reprovação supervisor/ ou definir uma data Aquarela processo ensino/
aprendizagem orientador para início e fim aprendizagem
responsável
Orientação aos pais dos Orientação a respeito dos Nome do Sempre que Escola Reunião ou conversa Melhoria do
alunos com dificuldades de melhores procedimentos a supervisor/ necessário Aquarela individual processo ensino/
aprendizagem serem aplicados pela família orientador aprendizagem
para ajudar o aluno responsável
ESCOLA AQUARELA - PLANO DE AÇÃO DO SUPERVISOR/ORIENTADOR PEDAGÓGICO ANO LETIVO: XXXX
capítulo 4
Conselhos de Classe Avaliação, análise e Nome do Bimestralmente Escola Reunião com os Melhoria do
acompanhamento do processo supervisor/ Aquarela professores processo ensino/
de ensino/aprendizagem orientador aprendizagem
e prática pedagógica dos responsável
• 87
professores. Para recolhimento
de evidências que comprovam o
desempenho dos alunos
Reunião com os professores Estabelecimento da Nome do Quinzenal/Mensal Escola Por ano de Melhoria do
continuidade do processo de supervisor/ (de acordo com a Aquarela escolaridade e/ processo ensino/
formação interna Veiculação orientador disponibilidade) ou por segmento. aprendizagem
de novas práticas Discussão responsável Estabelecendo
de temas para a melhoria data e tema após
do processo de ensino e levantamento das
aprendizagem sugestões dos
professores e
elaboração de Plano
de formação
ESCOLA AQUARELA - PLANO DE AÇÃO DO SUPERVISOR/ORIENTADOR PEDAGÓGICO ANO LETIVO: XXXX
capítulo 4
Projetos escolares Auxílio na elaboração do projeto Nome do Sempre que Escola Por meio de Melhoria do
sugerindo a melhor formatação supervisor/ necessário Aquarela relatórios feitos processo ensino/
e práticas diversificadas orientador pelos professores aprendizagem
Acompanhamento dos projetos responsável e observação
• 88
implementados das atividades
desenvolvidas
Planejamento anual e diário Organização e acompanhamento Nome do Mensalmente Escola Acompanhamento Melhoria do
do conteúdo proposto supervisor/ Aquarela dos planos diários e processo ensino/
Auxílio na aplicação das práticas orientador sugestão de novas aprendizagem
pedagógicas responsável práticas
Vídeos educativos Motivação e enriquecimento do Nome do Mensalmente Escola Recebimento e Melhoria do
conhecimento dos alunos supervisor/ Aquarela análise do formulário processo ensino/
orientador de solicitação aprendizagem
responsável
ESCOLA AQUARELA - PLANO DE AÇÃO DO SUPERVISOR/ORIENTADOR PEDAGÓGICO ANO LETIVO: XXXX
capítulo 4
desenvolvimento pedagógico e material de apoio e
pessoal acompanhando os
eventos
• 89
Observamos assim que, em educação, não se age por agir, não se faz algo ape-
nas por fazer. Toda ação educativa deve ser intencional e buscar alcançar determi-
nados resultados referentes à aprendizagem ou a mudanças de comportamentos.
E o modo de agir do supervisor/orientador pedagógico não pode ser diferente. Se
esse profissional tem como meta sistematizar e viabilizar os processos educacio-
nais, necessita organizar seu plano de ação e colocá-lo em prática.
Ressaltamos, ainda, a importância de o plano de ação do supervisor/orientador
pedagógico estar de acordo como o projeto político-pedagógico da escola. Como
sabemos, o projeto político-pedagógico é o documento que norteia as práticas de-
senvolvidas por todos os sujeitos envolvidos na escola: diretor, supervisor/orienta-
dor, professores, funcionários e comunidade escolar. Assim, todas as ações previstas
no campo da supervisão/orientação escolar devem estar pautadas nos princípios que
regem o PPP da escola, especialmente no que tange ao processo de ensino e de
aprendizagem, à avaliação, às adaptações curriculares e aos projetos pedagógicos.
SAIBA MAIS
Qual perfil o supervisor/orientador pedagógico deve possuir para atuar com competên-
cia na escola?
Segundo especialistas, para exercer suas funções, o coordenador/supervisor pedagógi-
co deve possuir algumas competências genéricas:
• Competência 1: compreender e expressar-se de forma clara e objetiva;
• Competência 2: compreender fenômenos naturais de processos históricos e da produção
tecnológica por meio de bases teóricas do processo de ensino/aprendizagem;
• Competência 3: enfrentar situações problema;
• Competência 4: coordenar diferentes pontos de vista, refutando ou defendendo uma hipótese;
• Competência 5: intervir de forma participativa na escola, respeitando os valores da comu-
nidade e considerando a diversidade sociocultural.
capítulo 4 • 90
• Segurança: deve ter solidez no seu posicionamento e atuação no planejamento, no asses-
soramento e na execução dos projetos educativos, com segurança, uma vez que conhece a
problemática educacional.
• Consciência do papel de suas funções: deve ter muito claro seu espaço de atuação e
de exercício de suas funções. Dessa forma, obtém o respeito de outros profissionais, inclu-
sive dos professores.
• Criticidade: deve possuir capacidade de julgar e emitir juízo crítico com base em pressu-
postos racionais, provocando em sua equipe a capacidade de constante reflexão.
• Racionalidade: deve ser o profissional que utiliza a razão, tendo o cuidado de não pulve-
rizar o planejamento, de tal forma que perca o sentido da globalidade e disperse o trabalho
coletivo, e de não esquecer sua estratégica posição de mediador entre professores, alunos,
direção e pais.
• Diligência: deve trabalhar de forma estimulante e cooperativa, havendo constante reava-
liação e replanejamento das atividades quando necessário.
• Liderança: deve exercer a função de líder, visto que é capaz de comandar, orientar e es-
timular toda a equipe na busca dos objetivos educacionais, agindo não de forma autoritária,
mas como um profissional seguro das orientações, sugestões e concepções defendidas. O
espírito de liderança por competência supõe uma aceitação de todos aqueles com quem
compartilha ações.
Para Zieger (apud ROSA e ABREU, 2001, p.35), entre as qualidades do coordenador/
supervisor pedagógico, estão:
• Respeita as atribuições de cada setor, somando as suas para o sucesso do processo en-
sino/aprendizagem.
• Toma iniciativa no sentido de dinamizar, constantemente, as etapas do processo educativo.
capítulo 4 • 91
• Desperta a imaginação e a criatividade para buscar soluções para os problemas novos e
velhos voltados à aprendizagem.
• Envolve a vida da escola e o processo educativo de um sentido profundamente huma-
no, de tal forma que favoreça um ambiente propício para o diálogo entre todos os agentes
comprometidos com a aquisição de conhecimentos e formação de competências do aluno
(LIBÂNEO, 2001, p. 26-27.
ATIVIDADES
01. Pesquise no seu campo de estágio:
a) Como o supervisor/orientador pedagógico entende a sua prática?
b) Como organiza as suas ações na escola?
03. Apresente, em sala de aula, os resultados da pesquisa. Discuta com o seu professor o
que foi observado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALARCÃO, Isabel; TAVARES, José. Supervisão e prática pedagógica: uma perspectiva de
desenvolvimento e aprendizagem. Coimbra: Almedina Edições, 2003.
GANDIN, Danilo. A prática do planejamento participativo. Petrópolis: Vozes, 1994.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2001.
LÜCK, Heloísa. Planejamento em orientação educacional. Petrópolis: Vozes, 1986.
RANGEL, Mary. Supervisão: do sonho à ação: uma prática em transformação. In: FERREIRA, Naura (Org.).
Supervisão educacional para uma escola de qualidade: da formação à ação. São Paulo: Cortez,
2003.
capítulo 4 • 92
5
A supervisão
e a orientação
pedagógica: ações
para a melhoria
do ensino e da
aprendizagem
A supervisão e a orientação pedagógica:
ações para a melhoria do ensino e da
aprendizagem
Neste capítulo, abordamos as ações do supervisor/orientador pedagógico que
contribuem para a melhoria do processo de ensino e de aprendizagem. Ressaltamos
a sua importância na mediação das ações pedagógicas voltadas para a transforma-
ção das práticas dos sujeitos envolvidos no processo educacional.
Destacamos sua contribuição na formação continuada dos professores, nas
reuniões de conselho de classe, no acompanhamento do processo de ensino e de
aprendizagem, no atendimento e acompanhamento dos alunos em sistema de in-
clusão e nas ações mediadoras para uma escola reflexiva.
OBJETIVOS
• Destacar as contribuições do supervisor/orientador pedagógico na formação continuada
dos professores;
• Compreender as formas de atuação do supervisor/orientador pedagógico no atendimento
e acompanhamento dos alunos em sistema de inclusão;
• Compreender a atuação do supervisor/orientador pedagógico nas reuniões de conselho
de classe;
• Entender as ações realizadas pelo supervisor/orientador pedagógico para transformar a
escola num espaço contínuo de reflexão das práticas pedagógicas.
capítulo 5 • 94
Em que aspectos os educadores devem evoluir para proporcionar esse desen-
volvimento? Ainda que o grande volume de trabalho e a falta de tempo façam
parte do dia a dia do educador, quando a formação continuada é colocada como
uma prioridade, é possível desenvolver um programa estruturado e contínuo que
promova a melhoria dos processos na escola.
Quando nos referimos à formação continuada na escola, consideramos os es-
paços temporais disponibilizados para que os professores se reúnam com frequên-
cia e continuidade. Não consideramos a escola, como espaço de eventuais encon-
tros de professores, palestras ou outras atividades pedagógicas, o único modo de
formação continuada. A oferta de formação continuada para os professores deve
ser caracterizada como um espaço contínuo de formação, em que os assuntos
inerentes ao processo de ensino e aprendizagem estejam sempre em pauta e haja a
participação de toda a equipe docente e pedagógica.
Entendemos que a formação continuada também acontece fora do espaço
escolar, quando os professores, espontaneamente, procuram cursos de aperfeiçoa-
mento, congressos, seminários ou mesmo quando se dedicam a estudos individuais
em livros ou pesquisas pessoais. Contudo, como nosso foco é a ação do supervisor/
orientador pedagógico perante a formação continuada dos professores, vamos nos
ater apenas à formação oferecida pela equipe pedagógica aos professores.
Compreendemos que o supervisor/orientador pedagógico exerce um relevante
papel na formação continuada dos professores, em serviço. Esta importância se deve
à sua função que é planejar e acompanhar a execução de todo o processo pedagógico
da escola. Nesse sentido, para contribuir para o desenvolvimento de boas práticas
escolares, é preciso oferecer momentos de estudo e reflexão sobre a prática dos pro-
fessores e o processo e aprendizagem dos alunos. Geglio (2008, p. 117) ressalta que
capítulo 5 • 95
instigar a pesquisa de novos procedimentos pedagógicos. E o mais importante:
promover a integração do grupo por meio da valorização e da troca de experiências.
Nos momentos voltados à formação continuada de profissionais da educação,
deparamo-nos com diferentes experiências e perspectivas, que proporcionam im-
portantes momentos de reflexão e de aprendizado, além de fornecer ferramentas
significativas, que contribuem para o desenvolvimento de competências que ali-
mentam o universo profissional e pessoal de todos os sujeitos envolvidos.
Ressaltamos que os momentos de formação continuada na escola, assim como
sua periodicidade, devem ser institucionalizados no projeto pedagógico e no plano
de ação dos supervisor/orientador pedagógico.
capítulo 5 • 96
REFLEXÃO
A educação continuada: função essencial do coordenador pedagógico (supervi-
sor/orientador pedagógico)
A atribuição essencial do coordenador pedagógico (supervisor/orientador pedagógico) está,
sem dúvida alguma, associada ao processo de formação em serviço dos professores. Esse pro-
cesso tem sido denominado de educação continuada, tanto nos textos oficiais de secretarias
municipais e estaduais de educação, como na literatura recente sobre formação em serviço.
A expressão “educação continuada” traz uma crítica a termos anteriormente utilizados,
como: treinamento, capacitação e reciclagem, que não privilegiavam a construção da autono-
mia intelectual do professor, uma vez que se baseavam em propostas previamente elabora-
das a ser apresentadas aos professores para que as implantassem em sala de aula.
Nos anos 1990, já podemos contar com diversas reflexões publicadas a respeito de for-
mação de professores que criticam a concepção acima e sugerem novos encaminhamentos.
A educação continuada faz-se necessária pela própria natureza do saber e do fazer hu-
manos como práticas que se transformam constantemente. A realidade muda e o saber que
construímos sobre ela precisa ser revisto e ampliado sempre. Dessa forma, um programa de
educação continuada é importante para atualizarmos nossos conhecimentos, principalmente
para analisarmos as mudanças que ocorrem em nossa prática, bem como para atribuirmos
direções esperadas a essas mudanças.
Educação continuada é um programa composto por diferentes ações, como cursos, con-
gressos, seminários, HTPC (horário de trabalho pedagógico coletivo), orientações técnicas,
estudos individuais. Um programa de educação continuada pressupõe:
• um contexto de atuação: uma escola, um município, um país, uma sociedade;
• a compreensão de que ela não será a responsável exclusiva pelas transformações neces-
sárias à escola, uma vez que isso depende de um conjunto de relações, mas poderá ser um
elemento de grande contribuição para essas transformações;
• condições para a viabilização de suas ações, que podem ser resumidas em três grandes
aspectos: vontade política por parte de educadores e governantes, recursos financeiros e
organização do trabalho escolar com tempo privilegiado para estudos coletivos e individuais
por parte dos professores.
capítulo 5 • 97
Em artigo publicado no Caderno CEDES nº 36, dedicado integralmente ao tema “Edu-
cação continuada”, Alda Junqueira Marin diz: “A atividade profissional dos educadores é algo
que, continuamente, se refaz mediante processos educacionais formais e informais variados,
amalgamados sem dicotomia entre vida e trabalho, entre trabalho e lazer. Com as contradi-
ções, certamente, mas, afinal mantendo as inter-relações múltiplas no mesmo homem. O uso
do termo educação continuada tem significação fundamental do conceito de que a educação
consiste em auxiliar profissionais a participar ativamente do mundo que os cerca, incorporan-
do tal vivência no conjunto dos saberes de sua profissão”.
Angel Perez Goméz, em artigo publicado no livro Os professores e sua formação, coor-
denado por Antonio Nóvoa e editado pela Publicações Dom Quixote, em 1995, afirma que,
para se superar a racionalidade técnica, ou seja, uma utilização linear e mecânica do conhe-
cimento científico, é preciso partir da “análise das práticas dos professores quando enfren-
tam problemas complexos da vida escolar, para a compreensão do modo como utilizam o
conhecimento científico, como resolvem situações incertas e desconhecidas, como elaboram
e modificam rotinas, como experimentam hipóteses de trabalho, como utilizam técnicas e
instrumentos conhecidos e como recriam estratégias e inventam procedimentos e recursos”.
[...]
Estamos cientes de que precisamos construir novas bases para pensarmos e para in-
tervirmos nas escolas. Essa construção tem o professor coordenador (supervisor/orientador
pedagógico), um agente fundamental para garantir que os momentos de encontro na escola
sejam proveitosos. É fundamental, ainda, a reorganização do tempo/espaço escolar, uma vez
que experiências comprovam a importância de contarmos com o mínimo de duas horas por
semana para reflexões coletivas. (CHRISTOV, 2007, p. 9- 12)
capítulo 5 • 98
e avalia seu procedimento e o outro que aprende e que é, geralmente, avaliado. O
compromisso social que o professor assume ao aceitar a docência requer um ajuste
constante das atitudes, das ações e a consciência clara dos porquês dos comporta-
mentos adotados. A avaliação que o professor faz de seu trabalho inclui a reflexão
sobre seu envolvimento real com a formação dos estudantes, com seu próprio
crescimento como pessoa e como profissional.
No momento em que o grupo de professores e a equipe pedagógica da escola,
nas reuniões de conselho de classe, retomam a reflexão de quais competências, ha-
bilidades e atitudes os alunos devem desenvolver ao final da passagem pela escola,
e em que aspectos os educadores devem evoluir para proporcionar esse desenvol-
vimento, estabelece-se uma relação integrada, voltada para a melhoria do processo
de ensino e de aprendizagem.
No conselho de classe, os procedimentos com as turmas ou os alunos podem ser
explicitados e discutidos, e podem ser tomadas decisões que denotem uma equipe
coesa, integrada e coerente. A existência de um professor porta-voz da turma facilita
o conhecimento das expectativas e das reivindicações dos alunos em relação à escola
como um todo. Avalia-se também, nos conselhos de classe, as resoluções que a equi-
pe tomou anteriormente, e se as soluções propostas tiveram resultados positivos ou
se há necessidade de um novo redirecionamento do problema estudado.
Cabe ao supervisor/orientador pedagógico, em parceria com o orientador
educacional (caso exista na escola), elaborar a dinâmica do conselho de classe.
Sugere-se a elaboração de uma pauta aberta, sem imposições, para que os demais
participantes possam acrescentar ou suprimir tópicos. Cada bimestre ou trimestre
(de acordo com a organização de cada escola) tem suas peculiaridades dentro do
ano letivo; dessa forma, as abordagens serão diferentes. Vejamos como pode acon-
tecer a dinâmica dos conselhos de classe em cada bimestre.
99 1o bimestre: traz como principal característica o ajuste do planejamento.
Ressaltamos a necessidade do ajuste, pois o planejamento organizado por cada
professor foi feito antes de seu contato com a turma e de uma avaliação diagnósti-
ca. Assim, a percepção que cada professor tem de sua turma é fundamental para o
redimensionamento do plano de curso. O supervisor/orientador pedagógico deve
ter a flexibilidade para promover a adaptação dos conteúdos programáticos e da
metodologia às necessidades demonstradas pelas turmas nos primeiros meses de
aula. Os casos de alunos com problemas sérios de aprendizagem devem ser enca-
minhados para o supervisor/orientador pedagógico para orientações e atendimen-
tos adequados às suas necessidades.
capítulo 5 • 99
99 2o bimestre: neste bimestre, avaliam-se as medidas adotadas no 1o bimes-
tre, fazendo os devidos ajustes e promovendo novas tomadas de decisões. Cada
pessoa envolvida nas soluções faz seu depoimento e, dessa maneira, informa a
todos dos esforços dispendidos. Reafirma-se, nessa fase do ano letivo, que o plane-
jamento de uma turma é feito em função dos alunos reais e não de uma abstração,
de um aluno ideal que não irá usar os conteúdos em sua vida na sociedade.
99 3o bimestre: além da avaliação do desempenho das turmas e das medidas
adotadas no 2o bimestre, busca-se estabelecer estratégias para recuperar os alunos
que não responderam às medidas anteriores no nível esperado. Um último ajuste no
planejamento pode ser feito. As famílias devem ser alertadas pelo supervisor/orien-
tador pedagógico, que lhes participará também as medidas tomadas nos bimestres
anteriores. É aconselhável um registro assinado pelo responsável, a fim de salvaguar-
dar a escola de acusações posteriores. O aluno deve participar desse encontro para
que ele assuma a responsabilidade que lhe cabe em seu processo de aprendizagem.
99 4o bimestre: faz-se uma avaliação final do trabalho desenvolvido durante
todo o ano e fecham-se os estudos sobre os encaminhamentos feitos. A indicação
dos alunos para refazer o ano de escolaridade será em referência àqueles casos em
que não houve correspondência a nenhum estímulo e em que todos os envolvidos
esgotaram suas estratégias didáticas para ajudá-lo.
REFLEXÃO
Avaliação escolar e conselho de classe
capítulo 5 • 100
Os processos de avaliação escolar refletem os posicionamentos dos profissionais e são
fundamentados pelas concepções de escola, de ensino, do papel do professor, do papel do
aluno etc. A organização e as condições de trabalho do professor apresentam-se como fato-
res determinantes no processo e orientam as diferentes práticas docentes. A transformação
da prática pedagógica liga-se estreitamente à mudança do conceito de avaliação, porque a
construção do processo avaliativo expressa o conhecimento da e sobre a escola.
A ideia de avaliação que aponta para os atos de aprovar ou reprovar o aluno com base
em um registro numérico consiste em procedimentos nos quais o professor assume o papel
de juiz ao utilizar-se de provas, consubstanciado por mecanismos de verificação da aprendi-
zagem de conteúdos específicos, em determinado momento do processo. Assim, entende-se
que há uma visão reduzida e equivocada do processo de avaliação, já que a nota, produto
concreto dessa aferição, reflete apenas o resultado do desempenho cognitivo do aluno e
nunca o processo educativo que o levou a tal resultado.
É importante ressaltar que essa simples verificação não possibilita a melhoria do ensino
e, consequentemente, da aprendizagem, pois ela é estática, somente constatando erros e
acertos que classificam os alunos em aprovados ou reprovados, provocando a exclusão e a
evasão escolar.
Repensar essa prática deve ser tarefa urgente e substituí-la pela avaliação como proces-
so de formação humana é uma necessidade. A avaliação, como atividade dinâmica presente
na escola, deve subsidiar decisões e reencaminhamentos da prática docente por intermédio
da coleta, da análise e da síntese de dados resultantes da prática pedagógica que considera
a aprendizagem um processo onde a socialização do saber científico deve ser garantida,
contribuindo para a inclusão e a melhoria da qualidade da aprendizagem.
Avaliar democraticamente supõe democratizar a relação professor-aluno, valorizando o
diálogo, o diagnóstico das necessidades e a qualidade das intervenções a serem realizadas,
para manter os alunos informados do processo ensino-aprendizagem, a fim de que possam
sugerir e até intervir na escola, nos meios, nos instrumentos e critérios dos processos de ava-
liação. Essa possibilidade sugere a necessidade de implementação de uma autoavaliação do
próprio aluno e do grupo, caracterizando uma avaliação democrática e formativa, ao favorecer
o desenvolvimento do aluno e do professor, conforme análise de Villas Boas (2001, p. 181).
Nesse sentido, mudar a forma de avaliar pressupõe alterar a relação ensino e aprendi-
zagem. É necessário ver a aprendizagem como um processo e as disciplinas curriculares
como um meio para se formar um cidadão, e não como conteúdos que se dominam pela
memorização. Daí a necessidade de um currículo centrado no desenvolvimento, na cons-
trução, na experiência que oportuniza a autonomia e transformações sociais significati-
vas e de uma avaliação que contribua para a formação humana. Nessa perspectiva, Lima
capítulo 5 • 101
(2001, p. 32) afirma que a avaliação para a formação humana contrapõe-se à noção vigente,
uma vez que seus objetivos são nortear o aluno, informar ao professor o estágio de desenvol-
vimento em que ele se encontra e orientar os próximos passos do processo. Dessa forma, ela
não classifica, mas situa. E situa para auxiliar no processo de formação do aluno, decorrendo
daí sua importância para a prática pedagógica, que deve sempre propiciar ao educando no-
vas possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem. (MACHADO, s/d, p. XX-XX)
capítulo 5 • 102
De acordo com a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação,
considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo pra-
zo, de natureza física, mental ou sensorial que, em interação com diversas barrei-
ras, podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade.
Os alunos com transtornos globais de desenvolvimento são aqueles que apresen-
tam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e da comunicação, um
repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se
nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose in-
fantil. Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado
em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadê-
mica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade,
envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. No
sentido de entender os conceitos de cada uma das necessidades educacionais men-
cionadas, os supervisores/orientadores pedagógicos devem procurar a formação
continuada adequada à sua realidade, realizar cursos de especialização oferecidos
pelo Ministério da Educação e procurar parcerias junto às secretarias de educação
e com profissionais da área da saúde. Todas as ações citadas são imprescindíveis
para o supervisor/orientador pedagógico organizar suas ações e intervenções com
os professores que têm, em suas turmas, alunos em sistema de inclusão.
Uma das ações mais importantes que deve ser promovida pelo supervisor/orien-
tador pedagógico é a organização, com os professores, das adaptações curriculares
para atender às necessidades dos alunos incluídos em cada ano de escolaridade.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu Capítulo 5, con-
solida a Educação Especial como a modalidade de educação escolar oferecida ao
estudante com necessidades educacionais especiais. Propõe o recurso da adaptação
curricular como resposta às demandas de aprendizagem dos estudantes prejudica-
dos pela massificação existente na educação formal, decorrentes da homogeneiza-
ção da ação pedagógica e da rigidez dos currículos.
A Resolução nº 02/2001, do Conselho Nacional de Educação, no item III
do Art. 8º, descreve, por sua vez, que as escolas da rede regular de ensino devem
organizar suas classes comuns a fim de dar suporte para:
capítulo 5 • 103
Nessa perspectiva, as adaptações curriculares podem ser compreendidas como
ações pedagógicas que se destinam ao atendimento dos alunos com necessidades
educacionais especiais de modo a ajudar em sua escolarização. Podemos ressaltar que
o currículo regular é tomado como referência básica e, com base nele, são adotadas
formas progressivas para adaptá-lo, a fim de nortear a organização do trabalho de
acordo com as necessidades de cada aluno. Essas adaptações curriculares correspon-
dem às modificações nos conteúdos e na forma como o professor irá desenvolvê-lo
com o aluno. Essas adequações são definidas como alterações ou recursos especiais,
materiais ou de comunicação, voltados a facilitar a aplicação do currículo escolar de
forma mais compatível com as características específicas de cada aluno.
Antes de propor a modalidade de apoio e as consequentes adaptações curri-
culares para os alunos que delas necessitam, o professor e o supervisor/orientador
pedagógico devem conhecer as necessidades educacionais especiais desse aluno,
suas potencialidades e suas deficiências. Isso será imprescindível para a definição
das adaptações necessárias nos conteúdos, nas metodologias, nos recursos, nos
processos de avaliação e na temporalidade, de forma a potencializar o ensino e a
aprendizagem. Dessa forma, somente após essa análise, deverão ser definidas as
estratégias de ensino a serem utilizadas. O supervisor/orientador pedagógico pode
propor diferentes tipos de adaptações curriculares. Dentre elas, podemos citar:
99 As organizativas: agrupamento de estudantes, disposição das cadeiras
e carteiras em sala de aula, trabalhos em grupos, organização temporal (tempo
maior para a realização das atividades e das avaliações) e materiais didáticos a
serem utilizados.
99 Aos objetivos e conteúdos: prioridade dos conteúdos, de acordo com cri-
térios de sua funcionalidade; inserção ou eliminação de conteúdos, de acordo com
as condições e necessidades do estudante; sequência gradativa de conteúdos (do
mais simples ao mais complexo).
99 As avaliativas: seleção de técnicas e de instrumentos, de acordo com a
identificação das necessidades educacionais especiais dos estudantes, respeitando
as diferenças individuais.
99 Aos procedimentos didáticos e atividades de ensino e aprendizagem:
seleção e adaptação de métodos à apresentação de atividades previamente ao es-
tudante com necessidades educacionais especiais, antes de propor a atividade aos
demais estudantes, alteração dos níveis de complexidade da tarefa, disponibili-
zação de tempo flexível, tanto no que se refere à duração, quanto ao período das
atividades propostas.
capítulo 5 • 104
A seguir, uma sugestão de plano de adaptação curricular organizado pelo su-
pervisor/orientador pedagógico e o professor da turma.
EXEMPLO
Plano Individual De Ensino
Introdução
Considerando a educação como tarefa global do desenvolvimento humano, faz-se neces-
sário oferecer a todos os aprendizes uma estrutura adequada, além de amplas oportunidades
de aprendizagem, dentro da fase de desenvolvimento em que cada um se encontra, diante de
suas habilidades e potencialidades. Com base em dados da avaliação neuropsicológica do
aluno, de entrevistas com os responsáveis e da convivência da professora da turma, traçamos
um plano individual de trabalho para melhor atender ao aluno. De acordo com o art. 4º da
Lei 9394/96 – LDBEN – que estabelece diretrizes e bases da educação nacional, a escola
deve promover um atendimento educacional adequado aos alunos com necessidades espe-
ciais, de modo que seja assegurada a qualidade da educação, atendendo-lhes de maneira
individualizada. Considerando que cada um possui características, interesses, capacidades
e necessidades de aprendizagem que lhe são próprias, a Declaração de Salamanca (1994)
destaca que a criança tem direito a integrar-se na escola por meio de uma pedagogia cen-
tralizada em suas necessidades, que enfatize os projetos educativos que devem ser imple-
mentados de forma a contemplar essa gama de diferenças. Também é importante destacar
que os pais e a família têm papel importantíssimo nesse processo, apoiando a escola e parti-
cipando do trabalho com as orientações sugeridas pela equipe.
Sempre fez parte da nossa proposta trabalhar com uma pedagogia centrada no aluno,
respeitando a dignidade e as diferenças individuais, variando os contextos trabalhados e
considerando a diversidade do mundo em que vivemos, o que torna as aulas mais dinâmicas
capítulo 5 • 105
e favorece a participação e a interação dos alunos. Entendemos que todos os alunos, em
determinados momentos de sua vida escolar, podem apresentar necessidades educacionais
especiais, temporárias ou permanentes e seus professores precisam conhecer diferentes
estratégias para melhor atendê-los.
2. Características do aluno
99 Segundo laudo neurológico, xxxxxxx apresenta sequelas de paralisia cerebral, com dis-
função neuromotora típica de quadriplegia atetoide, necessitando de muita estimulação tera-
pêutica de fisioterapia e fonoaudiologia;
99 Cabe assinalar que o aluno ficou aproximadamente um ano afastado da escola, o que
dificultou seu desenvolvimento;
99 No ambiente escolar, o aluno necessita de uma pessoa exclusivamente para atendê-lo,
papel esse que vem sendo desempenhado por uma estagiária, devidamente orientada pela
professora da classe.
3. Estratégias de trabalho
Além da necessidade de manter as terapias extraescolares, o aluno conta com a interven-
ção ativa e comprometida da professora da classe, que orienta devidamente a estagiária que o
acompanha. Orientamos amplo trabalho com atividades perceptivas e psicomotoras, com es-
timulação e valorização da oralidade, utilização de jogos e computador apara auxiliar a escrita.
capítulo 5 • 106
5. Implementação das atividades
Inicialmente, é importante observar e avaliar as reais limitações e possibilidades do aluno,
para melhor planejar atividades que contemplem três áreas de desenvolvimento:
a) Estimulação
99 Trabalhar atividades da vida diária e do desenvolvimento de habilidades adaptativas so-
ciais, de comunicação, cuidado pessoal e autonomia, com a finalidade de tornar a criança o
mais independente possível, dentro de suas possibilidades;
99 Trabalhar potencialmente seus sentidos, por meio de atividades com música, ritmo, traba-
lhos manuais adaptados, oralidade e também atividades que explorem o paladar e o olfato;
99 Utilizar imagens, figuras e objetos concretos, para a explicação de conteúdos, e materiais
de apoio como figura-fundo, blocos de construção, quebra-cabeças, material dourado e es-
cala de Cousiner;
99 Valorizar os trabalhos do aluno, com estímulos constantes e incentivos à participação;
99 Fazer elogios para fortalecimento da autoestima e da autoconfiança, ressaltando sempre
os acertos;
99 Atribuir tarefas que possam fazê-lo sentir-se útil e participante.
b) Remediação (alterações pedagógicas que possam adaptar a forma de trabalhar, a fim
de adequar os conteúdos a serem trabalhados pelo o aluno)
99 Utilizar o método fônico de leitura e escrita, com exploração de atividades de consciência
fonológica, para trabalhar questões ortográficas e aprimorar a leitura;
99 Utilizar material concreto na representação de quantidades e na introdução de conceitos
de adição e subtração;
99 Utilizar pranchas, presilhas ou fitas, para prender o papel na mesa de trabalho, e placa
imantada, quando isso puder favorecer os movimentos;
99 Utilizar, sempre que possível, materiais maiores e com encaixe, suporte para lápis, tesoura
adaptada, presilhas de braço, cobertura de teclado, para tornar o material mais acessível;
99 Realizar interpretação progressiva de textos, iniciando com pequenas histórias.
c) Acomodação
99 Respeitar o ritmo de desenvolvimento do aluno e observar seu tempo de concentração;
99 Utilizar espaço diferenciado que favoreça a concentração, para a realização de determi-
nadas atividades;
99 Realizar atividades fracionadas e com maior tempo para realização;
99 Proporcionar mobiliário e materiais adequados a seu uso e favoráveis ao seu bem-estar.
capítulo 5 • 107
6. Condutas e habilidades importantes a serem trabalhadas
a) Condutas de domínio afetivo: autonomia, motivação, respeito, responsabilidade, direi-
tos e deveres, liberdade, confiança, iniciativa, reconhecimento de papéis sociais.
b) Condutas psicomotoras:
Þ Condutas de base:
99 Coordenação dinâmica global – estimular a utilização correta dos membros superiores
e inferiores, dentro das possibilidades do aluno;
99 Postura e equilíbrio – verificar postura correta ao sentar e ao realizar atividades, com
uso de material adequado;
99 Respiração e salivação – a partir de uma postura correta, incentivar o controle da res-
piração e da salivação;
99 Coordenação motora – estimular o manuseio de materiais didáticos, dentro das possi-
bilidades do aluno.
Þ Condutas neuromotoras:
99 Estruturação do esquema corporal – verificar o conhecimento das partes do corpo e
estimular a utilização delas, dentro das possibilidades do aluno;
99 Lateralização – verificar a definição da lateralidade e o reconhecimento de lados em si
e nos outros;;
99 Sincinesias – estimular a realização de dois movimentos distintos ao mesmo tempo.
Þ Condutas perceptivomotoras:
99 Organização espacial – abstração, espelhamento, limites, posições no espaço, relação
espacial (percepção da relação entre dois ou mais objetos em relação a si e aos outros);
99 Organização temporal – noção de tempo, duração do tempo, antes, depois, hoje, ontem,
amanhã;
99 Estruturação espaço temporal – abstração no tempo, organização do pensamento re-
lacionada ao tempo e ao espaço, expressão coerente do pensamento;
99 Simbolização – reconhecimento de símbolos associados a palavras ou ações.
capítulo 5 • 108
d) Linguagem:
99 Discriminação verbal – discriminar o som ouvido e tentar a pronúncia mais correta possível;
99 Decodificação verbal – compreender e interpretar o que foi ouvido;
99 Memória semântica – memorizar o significado da palavra, fazendo a decodificação verbal;
99 Memória léxica – memorizar vocabulário, palavras novas, expressões;
99 Reprodução verbal de sons – desenvolver atenção à leitura feita por ele e pela professora,
tentando reproduzir da melhor maneira possível, com estímulos corretos;
99 Memória verbal – nomear pessoas, objetos, ações;
99 Sequência verbal – falar com lógica e coerência adequadas;
99 Expressão verbal – desenvolver a expressão correta, mesmo com pequenas frases;
99 Representação da linguagem escrita – representar a escrita de forma correta, podendo
utilizar alfabeto móvel ou computador;
99 Correspondência letra/som – trabalhar as dificuldades ortográficas, observar as possíveis
trocas e omissões de letras;
99 Estímulo à liberação criativa e espontânea da linguagem.
e) Linguagem musical:
99 Sensibilização aos sons (graves, agudos, muito fortes, bem baixinhos etc.);
99 Pesquisa e exploração de sons por meio da utilização de objetos e seus sons característicos;
99 Acompanhamento de ritmos com o corpo ou com objetos.
f) Habilidades matemáticas:
99 Contagem, comparações, agrupamentos, discriminação de formas, raciocínio aritmético,
classificações, cálculo com material concreto.
8. Avaliação
A avaliação desse aluno está diretamente vinculada às adaptações feitas em seu plano
individual de ensino, bem como à implementação das atividades. Considerando o caráter
abrangente da avaliação formativa, que coloca como proposta o auxílio ao aluno na edifi-
capítulo 5 • 109
cação de seus conhecimentos, de forma dinâmica e construtiva, percebendo-o como um
ser total em constante desenvolvimento, xxxxxxx será avaliado sob múltiplos aspectos e de
acordo com os conteúdos e habilidades que estejam compatíveis com suas possibilidades de
aprendizagem, tendo como parâmetro seu próprio desenvolvimento.
capítulo 5 • 110
motivar todos os sujeitos envolvidos no processo educacional a promover a escola
como espaço de reflexão coletiva e levá-los ao entendimento de que uma “escola
reflexiva” se faz por meio da transformação de seus atores. Mas, o que de fato vem
a ser uma escola reflexiva? De acordo com Alarcão e Tavares (2003, p. 133), “é
uma escola inteligente, autônoma e responsável, que decide o que deve fazer nas
situações específica da sua existência e registra seu pensamento no projeto edu-
cativo que vai pensando para si e experienciando.” Entendemos que, ao adotar
uma perspectiva reflexiva, a escola e os profissionais nela envolvidos criam espaços
aprendentes e promovem o alargamento para as práticas pedagógicas inovadoras.
Diante do exposto, ressaltamos que o supervisor/orientador pedagógico tem
uma tarefa importante no desenvolvimento de uma escola reflexiva e, para a mo-
bilização do grupo, necessita desenvolver ações diferenciadas. Inicialmente, ele
precisa fazer uma avaliação diagnóstica da escola, para detectar os pontos positivos
e os negativos e, com base nos dados identificados, elaborar, com toda a equipe,
um projeto educativo. No caso, consideramos que o projeto educativo se refere às
ações que proporcionarão mudanças no espaço escolar por um período de tempo
determinado. Após a conclusão dessas ações, novo plano educativo deverá ser ela-
borado, de acordo com as necessidades do momento.
A organização de um plano educativo demanda do supervisor/orientador pe-
dagógico a preparação de grupos de estudos e de momentos de reflexão coletiva
sobre as situações-problema apresentadas e a constituição de uma comissão con-
sultiva. Aos grupos de estudo, sob a gerência do supervisor/orientador pedagógi-
co, cabe a análise dos casos que estejam interferindo negativamente nos processos
da escola e a apresentação das possíveis soluções para eles. As sugestões deverão ser
apresentadas a toda a equipe da escola, para que haja uma análise e uma reflexão
coletiva da situação. Nesse momento, novas sugestões poderão surgir para serem
incorporadas ao plano educativo. Após ampla discussão pelos membros da escola,
o plano deverá ser encaminhado para a comissão consultiva, previamente definida
no PPP da escola. Ressaltamos que as discussões acontecerão periodicamente, de
acordo com o planejamento interno de cada escola. Essa comissão pode ser for-
mada pelo diretor da escola, pelos professores, funcionários, pais e membros da
secretaria de educação da localidade. A comissão deve examinar as ações do ponto
de vista legal e emitir um parecer endereçado ao supervisor/orientador pedagógi-
co. Assim, após ampla reflexão sobre os pontos negativos que possam interferir no
processo de ensino e aprendizagem, as ações propostas são colocadas em prática.
Lembramos que, durante todos o processo de execução das ações, avaliações vão
capítulo 5 • 111
sendo realizadas para direcionar o processo da melhor forma possível, a fim de que
a intervenção seja positiva. Por meio das atividades reflexivas desenvolvidas por
todos os atores envolvidos no processo educacional, entendemos que:
Uma escola reflexiva pensa-se e organiza-se para saber como desempenhar a missão
de educar em dado contexto temporal e sociocultural. Quer, além disso, saber se está
no bom caminho e para tal investiga-se e avalia-se a si própria. É uma escola que sabe
onde está e para onde quer ir. Tem um projeto orientador de ação e trabalha em equipe,
pois a escola é constituída por pessoas animadas por um objetivo comum: a educação
(ALARCÃO; TAVARES, 2003, p. 136).
capítulo 5 • 112
REFLEXÃO
As novas tendências supervisivas
capítulo 5 • 113
Tomou-se consciência de que o desenvolvimento humano, individual e coletivo, é a pedra
de toque para o desenvolvimento organizacional. E reconheceu-se a importância capital da
liderança estratégica, baseada numa visão partilhada da escola.
A resolução cooperativa dos problemas evidenciou-se como fator de aprendizagem e de
coesão organizacional e reconheceu-se que a linguagem, como expressão do pensamento
crítico e fator de consciencialização, aumenta o nível de conhecimento e de empenhamento
e dá visibilidade à ação educativa.
É neste pano de fundo que deve enquadrar-se a reconceptualização que vimos fazendo
sobre a supervisão (supervisão/orientação pedagógica) como dinamização e acompanha-
mento do desenvolvimento qualitativo da organização escolar e dos que nela realizam seu
trabalho de estudar, ensinar ou apoiar a função educativa através de aprendizagens indivi-
duais e coletivas, incluindo a dos novos agentes. (ALARCÃO; TAVARES, 2003, p. 152-154)
ATIVIDADES
01. Organize uma pauta para uma reunião de formação continuada para professores alfa-
betizadores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALARCÃO, Isabel; TAVARES, José. Supervisão da prática pedagógica: uma perspectiva de
desenvolvimento e aprendizagem. Coimbra: Almedina, 2003.
BRASIL, Resolução nº 02/2001. MEC/SEESP, 2001. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/
dmdocuments/rceb004_09.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2018.
CHRISTOV, Luzia Helena. Educação continuada: função essencial do coordenador pedagógico. In:
GUIMARÃES, Ana. O coordenador pedagógico e a educação continuada. São Paulo: Loyola,
2007.
capítulo 5 • 114
GEGLIO, Paulo César. O papel do coordenador pedagógico na formação do professor em serviço.
In: PLACCO, Vera Maria (Org.) O coordenador pedagógico e o cotidiano da escola. São Paulo:
Loyola, 2003.
MACHADO, Maria Cristina. O papel do conselho de classe na escola pública atual. Disponível
em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2199-6.pdf>. Acesso em: 20 ago.
2018.
GABARITO
Capítulo 1
01.
a) As políticas educacionais contemporâneas exigem do supervisor/orientador peda-
gógico ações criativas e proativas no seu âmbito de atuação. Suas ações devem
estar voltadas para a mediação pedagógica junto aos professores, a fim de sistema-
tizar o currículo, as práticas docentes e os processos avaliativos.
b) As ações do supervisor/orientador pedagógico estariam voltadas para o planeja-
mento, a avaliação e a reformulação das diversas etapas do processo de ensino/
aprendizagem, buscando o melhor desempenho da escola em sua tarefa educativa.
É o profissional que atua junto ao professor no desenvolvimento metodológico e
pedagógico, com o objetivo de melhorar o rendimento escolar do aluno.
capítulo 5 • 115
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 116
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 117
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 118
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 119
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 120