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1° edição

Organizadores:
Eliézio José da Silva
Luiz Henrique Monteiro Barreto da Costa

Recife SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL EM


2020 PERNAMBUCO - SENAC/PE
© Todos os Direitos Reservados 2020 Senac - Pernambuco

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial em Pernambuco – Senac/PE


Av. Visconde de Suassuna, 500 - Santo Amaro, Recife - PE, 50050-540
Tel.: (81) 3413-6730
http://www.pe.senac.br/

1° Edição 2020

Editor Comercial
Senac Pernambuco

Projeto gráfico e Diagramação


Luiz Henrique Monteiro Barreto da Costa

Organização
Eliézio José da Silva
Luiz Henrique Monteiro Barreto da Costa

Análise Técnica do Conteúdo


Guiomar Albuquerque Barbosa
Maria Isabel Vieira de Vasconcelos
Leda Laura Campos Silva
Luiz Henrique Monteiro Barreto da Costa
Silvio Ferreira Passos Gonçalves

Revisão Textual
Adriano José Pereira Lôbo
Luiz Henrique Monteiro Barreto da Costa

Normalização Técnica
Alessandra Jacome de Santana
Maria Auxiliadora de Albuquerque

Produção
Senac Pernambuco

Capa e Imagem da Capa


Luciano Davi de Oliveira

Tratamento da Imagem Gráfica


Wagner Barbosa Sobreira Tine

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Alessandra Jácome de Santana) – CRB-4/1847

P912

Práticas pedagógicas: experiências do Senac Pernambuco 2019 /


Organização de Eliézio José da Silva e Luiz Henrique Monteiro Barreto da
Costa. – Recife: Senac Pernambuco, 2020.

Recurso digital: il.; 169 p.


Formato: ePub e PDF
Requisitos do sistema: Adobe PDF
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN: 978-85-93317-01-9

1. Educação profissional. 2. Ensino superior. 3. Práticas pedagógicas 4.


Modelo Pedagógico Senac PE. 5. Encontro Pedagógico Senac PE 2019.
I. Senac Pernambuco.


CDD 370.113
PRE

CIO.
Como educadora me sinto honrada em prefaciar esta obra acerca
de Práticas Pedagógicas ativas e colaborativas vivenciadas nos ambien-
tes de aprendizagem do Senac Pernambuco. O objetivo da publicação do
livro é oportunizar a produção científica sobre os projetos integradores
realizados em sala de aula e experiências exitosas apresentadas no En-
contro Pedagógico Senac-PE 2019, estimulando a análise crítica, reflexão,
investigação e a proposição de soluções ou alternativas tecnológicas so-
ciais e educacionais no âmbito da Educação Profissional e Ensino Supe-
rior, alicerçados nos marcos legais do Modelo Pedagógico da instituição
em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais.

Foram selecionados 13 artigos para compor a obra nos segmentos de Gestão


e Negócios, Idiomas, Imagem Pessoal, Moda, Design, Turismo e Hospitalidade,
Tecnologia da Informação, Saúde. Com vasta formação na área técnica, em
educação e áreas afins, os autores e coautores dos artigos convidam os leitores
não apenas a refletir sobre Práticas Pedagógicas, mas sobretudo inovar
diariamente o seu fazer pedagógico.

As experiências compartilhadas não apresentam fórmulas nem


modelos a seguir, mas propostas pedagógicas inovadoras, criativas, pro-
blematizadoras que promovam o protagonismo do aluno e o desenvolvi-
mento de competências por meio do ciclo ação-reflexão-ação, “no qual se
aprende fazendo e analisando o próprio fazer” (SENAC, 2015c, p,12).

Em todas as experiências relatadas percebemos as marcas formati-


vas do Senac onde o aprendizado se dá “em comunhão, em experiências
e vivencias de construção colaborativa nas quais o aluno assume respon-
sabilidades em ações conjuntas, promovendo seu protagonismo diante
de situações problematizadoras”. (Diretrizes do Modelo Pedagógico Se-
nac, 2018, p. 7)

O Senac Pernambuco coloca nas mãos dos leitores um rico instru-


mento que toma forma e ocupa o seu espaço, revelando as singularidades
das experiências relatadas através das Práticas Pedagógicas de docentes
que são mestres na arte de educar, criar, reinventar, ressignificar, inovar.

Guiomar Albuquerque
Gerente Regional Acadêmica do Ensino Profissional Técnico no Senac Pernambuco
A PRE
SEN
TA
ÇÃO.
As transformações que vivenciamos no mundo nos últimos tempos
têm exigido um novo olhar e novas práticas pedagógicas na educação
profissional. Neste cenário de forte influência das tecnologias digitais,
a inovação torna-se uma necessidade emergente e os alunos cambiam
suas formas de agir, pensar, viver, conviver e desenvolver competências
na mesma velocidade em que as mudanças acontecem.

A Era Digital auxiliou na reinvenção das formas de ensinar e apren-


der. A tecnologia na educação é uma realidade irrefutável e os métodos
de ensino que se resumiam a aulas expositivas e livros ou apostilas físi-
cas já não produzem os efeitos de outrora no processo de aprendizagem
dos alunos, principalmente quando este processo está centrado no de-
senvolvimento de competências. Assim, o entendimento de metodologia
privilegia o desenvolvimento de competências por meio de práticas pe-
dagógicas ativas, inovadoras, integradoras e colaborativas, centradas no
protagonismo do aluno.

Neste contexto, se apropriar das metodologias ativas utilizando-as


de forma adequada pode gerar qualidade, contemporaneidade e equi-
dade para o ensino, afiançando “aprendizagem significativa”. Utilizar-se
dessas metodologias na busca de alcançar os objetivos educacionais pro-
porciona a oferta de melhores soluções em educação profissional e tec-
nológica.
É certo que toda revolução traz consigo algumas dificuldades e con-
flitos de adaptação do tradicional ao novo. As metodologias ativas con-
tribuem para dar maior sentido e efetividade às aulas, porém isso não
significa que o processo de aprendizagem será sem dificuldades. Em sin-
tonia com a concepções educacionais, os docentes são responsáveis por
planejar, desenvolver e executar estratégias pedagógicas que promovam
a aprendizagem, articulando as competências em desenvolvimento com
as experiências de vida dos estudantes, incentivando-os a buscar solu-
ções criativas para os problemas. Atuar nessa perspectiva requer a ressig-
nificação do papel do docente, cuja atuação se aproxima da tutoria, tendo
em vista orientar, acompanhar e facilitar o processo de aprendizagem.

Esta publicação aglomera algumas experiências pedagógicas dos


cursos de formação profissional do Senac Pernambuco em diversos seg-
mentos, desenvolvidas por docentes em ambientes presencias e virtuais,
utilizando diferentes espaços, oportunidades de aprendizagem e recur-
sos. Apresentamos ao leitor essas experiências e esperamos que esse re-
A PRE
SEN
TA
ÇÃO.
sumo possa fortalecer as práticas que estão sendo desenvolvidas, sendo
motivador para novas práticas pedagógicas no âmbito do ensino profis-
sional.

A qualidade da educação, centrada nas inovações pedagógicas e a


incorporação das novas tecnologias podem contribuir para uma maior
vinculação entre os contextos de ensino e as mudanças que se desenvol-
vem fora do âmbito escolar. Logo, as instituições educacionais enfrentam
o desafio de reconhecer, desenvolver e avaliar práticas pedagógicas que
promovam o desenvolvimento de competências exigidas no mundo do
trabalho. Atualmente, os processos de desenvolvimento de competências
assumem um papel de realce e passam a exigir um profissional crítico,
criativo, com capacidade de pensar, de aprender a aprender, de trabalhar
em grupo e de se conhecer como indivíduo.

Portanto, cabe a educação formar esse profissional, mas essa for-


mação não se apoia apenas na instrução que o professor passa ao aluno,
mas na construção do conhecimento pelo aluno e no desenvolvimento
de novas competências, como: capacidade de inovar, criar o novo a partir
do conhecido, adequabilidade ao novo, criatividade, autonomia, comuni-
cação.

Esperamos que os trabalhos aqui publicados contribuam para avan-


ços na pratica pedagógica.

Boa leitura!

Eliezio José da Silva


Diretor de Educação Profissional do Senac Pernambuco
SU

RIO.
ARTIGOS
8 | GAMIFICAÇÃO NO ENSINO DE EMPREENDEDORISMO E GESTÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Autora: Michelle Pinheiro Rodrigues Silva

18 | A SALA DE AULA INVERTIDA: POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA COM O


USO DO GOOGLE SALA DE AULA
Autor: Saulo Fernando Bernardo

32 | SONC150: UMA EXPERIÊNCIA FORMATIVA NO MODELO PEDAGÓGICO SENAC


Autora: Maria Carolina de Jesus Pontes Pereira. Coautores: Cláudia Célia Barbosa Ferreira, José Adriano Alves Soa-
res e Margarete Carneiro dos Santos Soares

46 | ENTRE MÁSCARAS, LUVAS, TOUCAS E PELOS: UMA EXPERIÊNCIA DO CURSO DE DEPILADOR DA UNIDADE DE
IMAGEM PESSOAL DO SENAC- RECIFE
Autora: Roseane Silva de Souza. Coautores: Christiana Santoro, Eliane Cristina Ferreira da Silva Pereira e Silvio Fer-
reira Passos Gonçalves

58 | APLICATIVO SEU GARÇOM: ESTRATÉGIA TECNOLÓGICA PARA A MELHORIA NO ATENDIMENTO AOS


CLIENTES NO SEGMENTO DE A&B
Autor: Inácio Belo da Silva Neto. Coautores: Helen Maria Lima da Silva e Jailton Fernando Bezerra da Silva

64| EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA VIVÊNCIA DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA


Autora: Beatriz Priscila Deodato Ferreira da Silva

74| MODA CONSCIENTE: O PAPEL RESPONSÁVEL DO DESIGN DE MODA


Autora: Daniela Vasconcelos de Oliveira. Coatores: Selma Maria Barbosa dos Anjos, Alba Valéria Sousa da Silva e
Maria de Fátima Silva

82| PROTAGONISMO JUVENIL: UMA EXPERIÊNCIA DO PROJETO INTEGRADOR DOS JOVENS APRENDIZ CURSO DE
VENDAS, SENAC-PE
Autora: Margarete Carneiro dos Santos Soares. Coautora: Maria da Conceição Gomes de Albuquerque Duarte

94| RELATOS DA PRÁTICA DOCENTE SOB A ÓTICA DO MODELO PEDAGÓGICO SENAC


Autor: Guilherme Fernandes da Costa. Coautores: Ângela Consuelo Martins Arruda, Carlos Alberto Muniz Leal e
Rosângela Pereira Lima

106| DPTOKEN: DESBUROCRATIZANDO O DEPARTAMENTO PESSOAL


Autora: Azenilda de Paula Cabral

116| A INTRODUÇÃO PRECOCE DO JOVEM AO MERCADO DE TRABALHO: UM ESTUDO DE CASO


Autor: Hamilton Pereira de Souza Neto

134| O PRAZER DE SENTIR, DESCOBRIR, VER E OUVIR: TRABALHANDO EM EQUIPE NA PROMOÇÃO DO


BEM-ESTAR E DA QUALIDADE DE VIDA
Autor: Luis Guilherme da Silva Dutra

146| PROJETO AMOR E ESPERANÇA: RESULTADO DE UMA NOVA ABORDAGEM PEDAGÓGICA


Autora: Karlla Simonett Barreto Pinto Soares. Coautores: Alexandre Henrique Lins, Jacira Rodrigues Cardoso, Karine
Maria Gonçalves Cortez e Odilon Carlos de Oliveira Filho

160| AUTORES
AR
TI
GO.

GAMIFICAÇÃO NO ENSINO DE EMPREENDEDORISMO


E GESTÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

Michelle Pinheiro Rodrigues Silva

Introdução docente. Sendo assim, a pergunta de


pesquisa é como aplicar as metodolo-
Os métodos tradicionais de educa- gias ativas em atividades que visam cria-
ção estão fadados a um descompasso tividade, competitividade e engajamento
com o mercado de trabalho contempo- para o negócio no mercado? O Objetivo
râneo. Ou seja, privilegiar a transmissão Geral é compreender os diferenciais no
uso das metodologias ativas em ativida-
de informações dadas pelos docentes
des que visam criatividade, competitivi-
não é um dos melhores meios de pro- dade e engajamento para o negócio no
mover sentido no ensino e na aprendi- mercado. Os Objetivos Específicos são:
zagem dos jovens estudantes da edu- identificar aspectos de inovação e cria-
cação superior. De acordo com Moran tividade no desenvolvimento das mar-
(2015, p. 16) cas no mercado de moda por meio das
metodologias ativas e apresentar ferra-
mentas de ensino-aprendizagem na ges-
A escola padronizada, que ensina e tão empreendedora.
avalia a todos de forma igual e exige
resultados previsíveis, ignora que a É bem verdade que as Metodolo-
sociedade do conhecimento é ba- gias Ativas precisam ter conexão com os
seada em competências cognitivas,
objetivos pretendidos, deixando claro
pessoais e sociais, que não se adqui-
rem da forma convencional e que aos estudantes o propósito da atividade
exigem proatividade, colaboração, e como a construção do saber passa a ter
personalização e visão empreende- sentido no processo de aprendizagem
dora. e de conhecimento que são adquiridos
de forma prática, estimulando os alunos
a pensar em novas possibilidades de
Com isso, a forma de como se mostrar suas habilidades, desenvolven-
aprende está diretamente ligada ao fa- do as competências ao longo das aulas.
zer, promovendo protagonismo discen- Segundo Moran (2015) os desafios bem
te, com orientação e acompanhamento planejados contribuem para mobilizar

8
Michelle Pinheiro Rodrigues Silva

as competências desejadas, intelectuais, dagógica é a remoção de barreiras peda-


emocionais, pessoais e comunicacio- gógicas no processo de ensino docente
nais. Por isso, o professor tem que ter a para com o discente, promovendo gran-
capacidade de ser mediador neste pro- de acesso e comunicação na relação. E
cesso de ensino, de aprendizagem, de ainda para o MEC (2015) a acessibilidade
crescimento e desenvolvimento de com- atitudinal refere-se à percepção do ou-
petências com foco no diferencial profis- tro, sem preconceito, estigmas, estereó-
sional discente para o mercado. Vale sa- tipos ou discriminação, eliminando qual-
lientar que existem alguns componentes quer barreira negativa. Sendo assim,
que são fundamentais para o sucesso da quando se trata de educação superior,
aprendizagem, como a criação de desa- a relação de respeito e acesso entre pro-
fios, os jogos que realmente promovem fessor e aluno deve ser baseada e reco-
o estímulo e engajamento discente, a nhecidamente pedagógica e atitudinal,
motivação para realizar as atividades e pois se trouxermos este cenário para
se sentir parte deste processo. Para tan- o mercado de trabalho, teremos muito
to, é necessário também que o docente mais êxito na qualidade da formação
tenha em mente um processo de avalia- humana, no tratamento e no desenvol-
ção bem planejado, assim como todas vimento de carreira. Segundo Gadotti
as ações pensadas na aplicabilidade me- (2010) qualidade significa melhorar a
todológica, quando usa metodologias vida das pessoas, na educação a quali-
ativas como a Gameficação. De acordo dade está ligada ao bem viver de todas
com Moran (2015) os jogos e as aulas as comunidades de ensino. Neste aspec-
roteirizadas com a linguagem de jogos to, podemos verificar que a qualidade
cada vez estão mais presentes no coti- do ensino exige um olhar sistêmico, que
diano escolar. Podendo ser estimuladas considera a multiplicidade de significa-
com recompensas, percursos de partici- dos e aspectos. Não deixando de citar
pação por meio de sensibilização e mo- também as experiências de vida, e as as-
bilização, inserindo mecanismos tecno- pirações que os indivíduos trazem consi-
lógicos e promovendo a acessibilidade go ao longo de suas vidas.
pedagógica e atitudinal. Na concepção
do MEC (2015) A propósito, uma abordagem dife-
renciada nos conteúdos de sala de aula,
promove uma inovação acessível e inte-
A acessibilidade pedagógica é a au- grada quando estimulada e orientada,
sência de barreiras nas metodolo- por isso, os professores devem prezar
gias e técnicas de estudo, está dire- pelo desenvolvimento das habilidades
tamente ligada à atuação docente e criativas e práticas discente, de forma
a forma como concebe o conheci-
mento, a aprendizagem e a avalia-
relevante e planejada. No ensino do em-
ção como inclusão educacional. preendedorismo a gestão do negócio
está diretamente ligada às demandas
do mercado, a aceitação da marca e a
identidade visual. Na opinião de Meira
Na realidade, a acessibilidade pe- (2013), criar um ambiente propício a cria-

9
GAMEFICAÇÃO NO ENSINO DE EMPREENDEDORISMO E GESTÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

ção e desenvolvimento, sustentação e te da sociedade, dos estudantes e das


evolução de novos negócios inovadores instituições de ensino superior. E diante
de crescimento empreendedor deveria desta afirmação verificamos que o criar,
ser o foco das ações de inovação e em- fazer e o executar são aspectos direta-
preendedorismo no Brasil. E assim, pro- mente ligados ao espírito empreende-
movermos grandes ideias por meio dos dor. Conforme ressalta Drucker (1986)
Mascotes das marcas criadas pelas alu- muitas oportunidades exigem mais do
nas do 5º Módulo do Curso Superior de que mera sorte ou intuição, elas exigem
Tecnologia em Design de Moda da Facul- que a empresa busque a inovação, or-
dade Senac Pernambuco, foi um grande ganiza-se adequadamente e seja admi-
diferencial na disciplina de Empreende- nistrada de maneira a poder explorá-la.
dorismo e Gestão, especialmente por se Some-se a isto o fato de que as metodo-
tratar da disciplina líder do PI – Projeto logias ativas estimulam o protagonismo
Integrador, com o uso das metodologias discente, onde o cerne da educação está
ativas, a Gameficação teve destaque, uti- no conhecimento prévio, estimulado,
lizando a tecnologia, com atividades de- orientado e o objetivo maior é o fazer, se
safiadoras, com competitividade, com sentindo parte do processo e mais, com
descrição de regras, com características autonomia, criticidade e segurança.
específicas e por fim, com um grande
time de profissionais da área de moda, Desta forma, a pergunta de pesqui-
professores e coordenação, votando no sa do presente artigo está relacionada
Mascote Master, com um momento so- ao como aplicar as metodologias ativas
lene de premiação, sem deixar de enal- em atividades que visam criatividade,
tecer a participação, o engajamento e o competitividade e engajamento para o
trabalho realizado por cada aluna neste negócio no mercado? Segundo Nunes
processo de gameficação, mas sobretu- (2016) a educação superior é o com-
do, de crescimento social. bustível maior na construção de uma
sociedade inclusiva e de conhecimento
diversificado, devendo ser ampliados
os conhecimentos em pesquisa, inova-
Referencial Teórico ção e criatividade. Além disso, o objetivo
Geral é compreender os diferenciais no
O cenário do empreendedorismo uso das metodologias ativas em ativida-
no Brasil tem mudado muito, especial- des que visam criatividade, competitivi-
mente nos negócios contemporâneos, dade e engajamento para o negócio no
que requerem competências e habilida- mercado e os objetivos específicos são:
des bem desenvolvidas para as relações identificar aspectos de inovação e cria-
e para a imagem que se deseja para o tividade no desenvolvimento das mar-
mercado. Segundo Lopes (2017) houve cas no mercado de moda por meio das
um crescimento do interesse sobre em- metodologias ativas e apresentar ferra-
preendedorismo nos dias atuais por par- mentas de ensino-aprendizagem na ges-

10
Michelle Pinheiro Rodrigues Silva

tão empreendedora. Aliás, grande papel co, com especificidades no aprendizado


docente no que se refere a orientação como a Gameficação em sala de aula e
e o acompanhamento discente para o extensão dela. De acordo com Bacich
crescimento de carreira que se deseja e Moran (2018) os estudantes do sécu-
do estudante em formação. lo XXI, inseridos em uma sociedade do
conhecimento, demandam um olhar do
educador focado na compreensão dos
Ao pensar sobre o dever que tenho, processos de aprendizagem. E também
como professor, de respeitar a dig-
promovendo a relevância deste apren-
nidade do educando, sua autono-
mia e sua identidade, devo pensar dizado para a vida, trazendo sentido
também, em como ter uma prática no que é repassado pelo docente e na
educativa que exija de mim uma re- forma como se é aprendido o conheci-
flexão crítica e permanente sobre mento pelo discente. Na opinião de Car-
minha prática, por meio da qual vou
bonell (2016) já não se serve o velho mo-
fazendo a avaliação do meu próprio
fazer com os educandos (FREIRE, delo, baseado na aceitação passiva dos
2001.p.63). conteúdos produzidos por meritocracias
e indústrias da publicação fechada ao
mundo. Ou seja, o interesse pela relação
entre a teoria e a prática é algo real e que
Além disto, planejar práticas de en- está inserido na sociedade contemporâ-
sino-aprendizagem no ensino superior é nea, nas aulas interativas, conectadas e
pensar em estratégias de atuação mer- em rede.
cadológica, comportamental e, sobre-
tudo, os aspectos voltados as questões
de criatividade e inovação. Vale salientar
que as metodologias ativas promoveram Metodologia
grande contribuição neste novo cenário
do fazer na educação superior. De acor- O estudo teve como eixo norteador
do com Carvalho e Ching (2016) para a aplicabilidade da metodologia ativa por
os docentes, o ato de ensinar sempre meio da Gameficação, uso de jogo lúdico,
trouxe várias preocupações e desafios e criativo e com normas e regras de proce-
é atualmente o grande foco de estudos dimento. Além disso, buscou a inovação
sobre como ensinar. Por isso, a forma- na Disciplina de Empreendedorismo e
ção docente é muito importante para Gestão do Curso Superior de Tecnolo-
aplicabilidade das metodologias ativas, gia em Design de Moda. O instrumento
todas as etapas do processo de ensino de coleta foi uma pesquisa qualitativa e
e de aprendizagem devem ser esclare- bibliográfica, especialmente na área de
cidas para os alunos. E foi desta forma gestão, nos aspectos comportamentais,
que realizamos um jogo na disciplina de por meio do cenário de moda local, pes-
Empreendedorismo e Gestão no Curso quisa de mercado. Os mascotes foram
Superior de Tecnologia em Design de colocados e apresentados em slides,
Moda na Faculdade Senac Pernambu-

11
GAMEFICAÇÃO NO ENSINO DE EMPREENDEDORISMO E GESTÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

power point, por meio de infográficos, quisa qualitativa promove um material


corel draw, compondo depois os planos indispensável, fornecendo para o traba-
de negócios que foram feitos com uma lho informações ricas. Segundo Bacich e
amostra de 12 alunas do último período Moran (2018) quem está no centro desta
do curso, ou seja, 5º Módulo, estudantes percepção são os alunos e as relações
da Faculdade Senac Pernambuco, locali- que se estabelecem com o educador,
zada em Recife. com os pares, e, principalmente, com o
objeto do conhecimento. Desta forma,
Por meio da criação destes mas- na metodologia ativa, o professor é um
cotes, foram estabelecidas regras e in- mediador neste processo de construção
seridas na Sala do Google For Education, do conhecimento.
ambiente virtual de aprendizagem Class-
room, utilizado por professores e alunos, Por fim, foi realizada a entrega do
entre as regras estavam a relevância do Mascote Master em sala de aula, com
mascote com a marca criada, aspectos a entrega de brindes e uma grande ex-
que tenham capilaridade com o merca- pectativa foi criada no cenário deste mo-
do e o negócio, competências empreen- mento, o objetivo foi de causar realmen-
dedoras que marcam a identidade dele te grande surpresa e motivação de todas
com o cliente, prazos de entrega e, por as alunas que fizeram parte de forma
fim, houve uma votação com 18 profes- espontânea desta aprendizagem ativa e
sores de design de Moda da Faculdade que requereu grande esforço e partici-
1 Coordenadora do Curso e 1 Monitora pação das estudantes.
por meio do WhatsApp, para a escolha
do “Mascote Master”.

Salientamos que a Pesquisa teve Desenvolvimento


característica Qualitativa. De acordo com
Yin (2016) a pesquisa qualitativa difere Há um grande interesse em enfa-
por sua capacidade de representar as vi- tizar na educação superior tecnológica
sões e perspectivas dos participantes de o ensino do empreendedorismo. Para
um estudo, já que capturar suas perspec- Meira (2013) novos negócios inovadores
tivas pode ser um propósito importante são criados recentemente, por vários
de um estudo qualitativo. Além disso, motivos, são diferentes do que haviam
descrever qualitativamente as coletas no mercado e que tem o potencial de
dos dados, permite apresentar uma ri- mudar o comportamento do consumi-
queza de informações que são captadas dor ao seu redor. É justamente neste
de forma subjetiva. Para Merriam (2009) âmbito acadêmico que as estudantes
a pesquisa qualitativa assume que a rea- que foram locus deste estudo, fizeram
lidade é construída socialmente, ou seja, a Disciplina de Empreendedorismo e
não existe uma realidade única e obser- Gestão no Curso Superior de Tecnologia
vável. Em vez disso, há múltiplas realida- em Design de Moda na Faculdade Senac
des que podem ser observadas através Pernambuco em Recife, participando
de um único evento. Em resumo, a pes- de uma metodologia ativa cujo objeti-

12
Michelle Pinheiro Rodrigues Silva

vo foi criar mascotes para suas marcas. jetivo da sala de aula, o desenvolvimen-
E o método docente utilizado foi o uso to humano. Portanto, apresentaremos
da metodologia ativa, Gameficação. Se- como resultado relevante o “Mascote
gundo Carvalho e Ching (2016, p. 07) “os Master” e mais dois dos resultados en-
pesquisadores na área de educação tem contrados na atividade:
buscado criar, recriar, adaptar e testar
novas metodologias e práticas de ensi-
no”. Na realidade, é um grande desafio
Imagem 01: Mascote Master
para o professor, mas com formação
docente, a aprendizagem passa a ter um
significado único, pautado na qualidade,
no sentido do fazer e da aplicabilidade
com os aspectos mercadológicos.

Desta forma, as alunas permiti-


ram neste processo de desenvolvimen-
to pessoal, protagonizar seus planos
de negócios na percepção acerca da
gestão, da inovação e na identidade do
negócio. Além das pesquisas bibliográ-
ficas realizadas, foi feita também uma
Fonte: Alunas de Design de Moda da Faculdade Senac Pernambuco, 2018.

pesquisa qualitativa por meio de outras


fontes como sites, artigos, textos, blogs,
que permitissem ampliar o conhecimen- É isso mesmo, começaremos com a
to acerca do tema apresentado. Em se imagem 01, escolhida por professores, a
tratando de estudantes do último perí- coordenadora e a monitora do Curso de
odo do Curso Superior de Tecnologia Design de Moda, com 100% de votos. Foi
em Design de Moda, percebemos um o Mascote premiado porque teve como
conhecimento da área em profundida- destaque algumas características elen-
de, algumas inseguranças sobre o que cadas por duas alunas que gentilmente
representar a marca enquanto objeto, fizeram um release muito interessante
imagem, personagem, mas não faltaram sobre o mascote como o fato de que o
orientações e aulas temáticas para nor- quadrado simboliza pausa, refletindo
tearem as alunas quanto ao propósito estabilidade e perfeição. Muitos espaços
da atividade. Segundo Freire (2011) o trazem a forma dessa figura geométri-
docente deve saber respeitar à autono- ca, tais como altares e templos e, para
mia, à dignidade e à identidade do edu- muitas culturas, ele representa a Terra e
cando, e na prática, procurar a coerência os pontos cardeais. No Islamismo, esse
com este saber, levando- o inapelavel- símbolo é a representação do coração e
mente à criação de algumas virtudes e para Pitágoras, o quadrado representa
qualidades. Some-se a isto, o fato de que perfeição. A escolha de um sapato inspi-
a aprendizagem se torna algo mágico e rado no modelo all-star, possui um signi-
sobretudo, significativo para o maior ob-

13
GAMEFICAÇÃO NO ENSINO DE EMPREENDEDORISMO E GESTÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

ficado muito interessante, pois é consi- sociedade patriarcal, Diana representa


derado uma inovação, já que se trata do a lua e seu ciclo, tendo o arco e flecha
primeiro tênis feito em lona e com sola como representante de sua coragem.
de borracha, a iniciativa da empresa foi Todo esse simbolismo se encaixa bem
a de criar uma linha de calçados para as com o conceito da  marca, o upcycling
estrelas do basquete americano. O tê- trazendo a chance da renovação do ci-
nis mantém sua popularidade até hoje. clo de peças e materiais, os tecidos na-
Ícone fashion, é capaz de agradar a to- turais com o menor impacto ambiental
das as idades e tribos com modelos que e a preocupação de gerar o mínimo de
conquistam não só pela beleza como resíduos! Portanto, perceber quais são
também pela praticidade, durabilida- as demandas do mercado, entender o
de e fama. O nome do Mascote é SAM perfil do cliente, saber qual o posiciona-
que significa Smart, Adorable e Modern, mento da empresa, avaliar vantagens e
em relação as cores, o preta representa riscos, são algumas características que
força, modernidade, neutralidade, curio- compõem a visão estratégica dos bons
sidade e o laranja, criatividade, alegria, empreendedores.
mudança, dinamismo, amizade, confian-
ça. Desta forma, foram apresentados os Imagem 03: Mascote
diferenciais e a relevância deles para a
construção do conhecimento do masco-
te para a marca com foco no mercado.

Imagem 02: Mascote

Fonte: Alunas de Design de Moda da Faculdade Senac Pernambuco, 2018.

Em relação a imagem 03, o mas-


cote apresentado chama-se Guilherme,
Fonte: Aluna de Design de Moda da Faculdade Senac Pernambuco, 2018.
tem o apelido de Gee, ele é um jovem
de 20 anos, tímido e introvertido, tem
No que se refere a mascote da ima-
dificuldade de socializar, acaba demons-
gem 02, o nome dela é Diana veio ins-
trando seus gostos e personalidade por
pirado na Deusa Romana da Lua. Guer-
meio das roupas que veste. Ou seja, a
reira dos bosques, sensitiva e aversa à

14
Michelle Pinheiro Rodrigues Silva

ideia é que a cada segmento lançado mental importância o estudo acerca da


o Gee encontre um novo amigo, como educação e suas práticas pedagógicas
divulgação e uma maneira de atrair o até o contexto do ensino-aprendizagem
cliente, deixando a marca mais divertida contemporâneo, especialmente na edu-
e interessante. Sendo assim, concluímos cação superior, que requer total conexão
que as alunas foram capazes de com- entre os aspectos teóricos e práticos, ou
preender as etapas estratégicas do uso seja, entre os conceitos bibliográficos e
da metodologia, com a capacidade de de impacto qualitativo com o mercado
aproveitar oportunidades do mercado de trabalho, promovendo grande dife-
de moda e de inovar enquanto gestoras, rencial de atuação profissional, merca-
enfatizando aspectos comportamentais dológica e acadêmica.
dos indivíduos, a empatia, ou seja, todas
as alunas que participaram interagiram Quanto ao objetivo geral de com-
de forma ativa e dinâmica. Perceberam preender os diferenciais no uso das
também que apesar de ter sido uma ati- metodologias ativas em atividades que
vidade passada em sala de aula, a me- visam criatividade, competitividade e
todologia ativa extrapola os muros da engajamento para o negócio no mer-
Faculdade, sendo acompanhadas pelas cado, percebemos que a metodologia
mídias sociais, por meio da tecnologia e ativa, Gameficação, inserida no ensino-
sempre com orientação docente. Fican- -aprendizagem dos planos de negócios
do enfim, valores como espírito compe- para a criação de um “Mascote Master”,
titivo, participação, respeito, compro- foi um incremento pedagógico diferen-
misso e o senso de contribuição social ciado no âmbito da gestão, pensando o
enquanto futuras empreendedoras. mercado e as especificidades da marca
para o segmento de moda, na competi-
tividade, na recompensa e no destaque.
Se trouxermos para visão organizacional
Conclusão os objetivos específicos sobre identificar
aspectos de inovação e criatividade no
Muitas são as estratégias de elabo- desenvolvimento das marcas no mer-
ração para a identidade de uma marca, cado de moda por meio das metodolo-
seja negócio ou serviço, mas começar a gias ativas, verificamos grande interface
pensar as suas características empreen- na atuação discente com o mercado de
dedoras a partir do lúdico, sem dúvida é trabalho, com pesquisas, informações
um passo para o despertar da inovação qualitativas, estudo comportamental e
e da criatividade que o mercado espera de demandas em uma área de alto con-
dos empreendedores. O presente arti- sumo como moda e em relação a apre-
go teve como foco apresentar o uso das sentar ferramentas de ensino-aprendi-
metodologias ativas no ensino superior zagem na gestão empreendedora, o fato
a partir do conteúdo de Empreendedo- é que não tem como dissociar aspectos
rismo e Gestão no Curso Tecnológico competitivos da gestão e do empreen-
de Design de Moda da Faculdade Senac dedorismo, onde existe grande concor-
Pernambuco. Sendo assim, foi de funda- rência, ausência de fidelidade do cliente

15
GAMEFICAÇÃO NO ENSINO DE EMPREENDEDORISMO E GESTÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

e apenas um detalhe pode fazer a dife- CARBONELL, Jaume. Pedagogias do


rença como o conhecimento e a inova- século XXI: bases para a inovação
ção na identidade do negócio. educativa. 3. Ed. Porto Alegre: Penso,
2016.
Na verdade, recomendamos que CARVALHO, Fátima Franco Oliveira.
as práticas pedagógicas voltadas ao fa- CHING, Hong Yuh. Práticas de ensino-
zer sejam cada vez mais prioridade nas aprendizagem no ensino superior:
instituições de ensino superior, que haja experiências em sala de aula. Rio de
formação docente de qualidade para Janeiro: Alta Books, 2016.
aplicabilidade de metodologias ativas DRUCKER, Peter Ferdinand. Inovação
que promovam sentido e diferenciais no e espírito empreendedor: práticas e
ensino discente e mais, que as tecnolo- princípios. São Paulo: Cengage Learning,
gias sejam utilizadas, sobretudo, a favor 2012.
do conhecimento e da disseminação de FREIRE, Paulo. Ação cultural para a
boas experiências, agregando valor às liberdade e outros escritos. 14. ed. Rio
relações, com ações docentes que ge- de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
rem movimentos discentes engajadores, GADOTTI, M. Qualidade na educação:
de maneira inovadora, com protagonis- uma nova abordagem. São Paulo:
mo e garantindo que sejam aprendidas Instituto Paulo Freire, 2010.
lições de perdas, ganhos, engajamento, LOPES, Rose Mary Almeida. Ensino
sociabilidade, respeito e espírito parti- do empreendedorismo no Brasil:
cipativo, onde na realidade todos saem panorama, tendências e melhores
ganhando a partir de uma nova experi- práticas. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017.
ência acadêmica. MEC, Brasil. Instrumento de avaliação
de cursos de graduação: presencial e a
Portanto, diante do estudo dei- distância. Brasília, agosto de 2015.
xamos como sugestão para trabalhos MEIRA, Sílvio Lemos. Novos Negócios
futuros, um estudo sobre o perfil e as Inovadores de Crescimento
caraterísticas de gestão que impactam Empreendedor no Brasil. Rio de Janeiro:
no desenvolvimento discente no ensino Casa da Palavra, 2013.
superior nos cursos tecnológicos e os MERRIAM, Sharan B. Qualitative
benefícios que a aplicabilidade da me- Research: a guide to design and
todologia ativa promove no ensino e no implementation. USA: Jossey-Bass, 2009.
aprendizado. MORAN, J. M. A educação que
desejamos: novos desafios e como
chegar lá. 5. ed. Campinas: Papirus,
2015.
Referências
NUNES, Terezinha de Souza Ferraz.
BACICH, Lilian. MORAN, José. Educação Superior: um olhar sobre a
Metodologias ativas para uma docência na graduação de tecnólogos.
educação inovadora: uma abordagem Curitiba: Appris, 2016.
teórico – prática. Porto Alegre: Penso,
2018. YIN, Robert K. Pesquisa qualitativa do

16
Michelle Pinheiro Rodrigues Silva

início ao fim. Porto Alegre: Penso, 2016.

17
AR
TI
GO.

A SALA DE AULA INVERTIDA: POSSIBILIDADES


PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA
COM O USO DO GOOGLE SALA DE AULA

Saulo Fernando Bernardo

Introdução ampliar a dimensão do estudo.

As metodologias de ensinos tradi- Quando parte das atividades se re-


cionais nem sempre acompanham as alizam totalmente de forma não presen-
inovações tecnológicas. O uso de novas cial e a outra parte se realiza em sala de
tecnologias digitais da informação e da aula, caracteriza o que se denomina de
comunicação (TDIC) está presente em ensino híbrido ou blended learning. Esta
nosso dia a dia em plataformas, currícu- categoria de ensino híbrido aborda, de
los, softwares e metodologias de ensino modo intercambiável, com outra meto-
que nascem com o objetivo de construir dologia ativa de aprendizagem, a sala
modelos mais colaborativos, persona- de aula invertida, ou, flipped learning. De
lizados e alinhados com as competên- acordo com os precursores desta me-
cias e habilidades para um mundo mais todologia, Bergmann y Sams (2018), es-
complexo, onde as interações são cons- clarece-nos que, previamente, se acessa
tantes e a aprendizagem se apresenta o conteúdo teórico e expositivo fora da
de modo não linear dentro de ações co- sala de aula através de tablets, smar-
laborativas. tphones ou computadores, deixando
que o debate e a ampliação de tópicos
Conforme menciona Bacich e Mo- mais avançados, com atividades indi-
ran (2018), a expansão do uso de tecno- viduais ou em grupos, fazendo uso de
logias digitais da informação e da comu- metodologias baseadas em projetos de
nicação ganhou, com a introdução da aprendizagem, sejam desenvolvidos e
internet WIFI, uma dissolução de frontei- aperfeiçoados na sala de aula, de forma
ras entre espaço virtual e espaço físico, colaborativa na tentativa de solucionar
criando deste modo um espaço híbrido. problemas.
Assim, o uso combinado de ferramentas
online e o ensino presencial passa a ser Para que essa contínua ação acon-
uma contínua ação a fim de promover o teça, é necessário organizar a comuni-
trabalho colaborativo, bem como otimi- cação entre estes dois universos, o pre-
za o uso do tempo em sala de aula para sencial e o virtual. Para isso, faltava uma

18
Saulo Fernando Bernardo

aplicação onde os professores pudes- uma escola presencial com a mesma


sem criar tarefas, enviar avisos e iniciar proposta de um ambiente virtual, aco-
debates simultâneos com o grupo. Um modando diversas ferramentas, visto
espaço virtual onde professores e alu- que o Google Sala de Aula funciona com
nos pudessem compartilhar recursos e diversas outras soluções como o Docu-
interagir em um ambiente comum. Um mentos Google, Google Agenda, Gmail,
ambiente que os professores também Google Drive e Formulários Google.
pudessem ver rapidamente as conclu- Além disso, interage com outros aplicati-
sões de trabalhos, dar feedbacks em vos Google, como o Youtube, Hangouts,
tempo real ou remoto, atribuir concei- Google Keep, entre tantos outros.
tos e notas, e que ao mesmo tempo, os
alunos pudessem ver as tarefas em um A pesquisa se fez presente por
mural e na agenda do grupo, bem como meio de uso prático de sala de aula, sen-
realizar as mesmas atividades através do imprescindível para comprovar o uso
de um dispositivo móvel, de fácil acesso e os benefícios do aplicativo Google Sala
e seguro, sem custos aos usuários finais, de Aula como ferramenta auxiliar no uso
alunos e professores. de sala de aula invertida no curso de lín-
gua espanhola, a participação ativa dos
Visto que um dos pontos funda- alunos. Além do mais, serviu para averi-
mentais da aplicabilidade da sala de guar o uso desta nova tecnologia de for-
aula invertida é o planejamento das ati- ma híbrida, mesclando-a com atividades
vidades a serem realizadas tanto na sala presenciais fazendo-se uso de metodo-
de aula virtual como na sala presencial logias ditas como tradicionais, pois bem
é preciso rever pontos como flexibilida- nos lembra Freire
de, incluindo conceitos como espaços,
acompanhamento individualizado e di-
versidade das atividades. Tudo isso com a aceitação do novo que não pode
a finalidade de que os alunos possam ser negado ou acolhido apenas por-
acessar o modelo de sala de aula inverti- que é novo, bem como o critério
da da forma clara e natural possível, fa- de rejeitar o que é velho pelo fator
zendo com que o aluno não sinta a dico- cronológico. O velho que preserva
sua validez ou que encarna uma
tomia do ambiente virtual e do ambiente tradição ou marca uma presença no
presencial, pois a sala de aula invertida, tempo continua novo. (FREIRE, 2009,
dentro do conceito híbrido, compõe um p. 17)
elemento único de aprendizagem.

Partindo destas necessidades de


Averiguar o uso e os benefícios de
gestão de sala de aula é que me colo-
novas tecnologias para a educação atra-
quei para averiguar a aplicabilidade do
vés das metodologias ativas, de mode-
Google Sala de Aula no uso da metodo-
los mais flexíveis, híbridos, pode trazer
logia ativa de sala de aula invertida. Este
contribuições importantes para o desen-
aplicativo do Google For Education traz
volvimento de soluções atuais aos per-
recursos pedagógicos requeridos para

19
A SALA DE AULA INVERTIDA: Possibilidades Pedagógicas no Ensino de Língua Espanhola com o Uso do Google Sala de Aula

fis dos alunos de hoje. Ajuda a construir efetiva dos alunos na construção do
modelos mais colaborativos, personali- processo de aprendizagem, de for-
ma flexível. As metodologias ativas
zados e alinhados com as competências em um mundo conectado e digital
e habilidades para um mundo cada vez se expressam através de mode-
mais complexo. los de ensino híbridas, com muitas
possível combinações. A união de
metodologias ativas com modelos
flexíveis, híbridos traz contribuições
Referencial Teórico importantes para o desenho de so-
luções atuais aos perfis de aprendi-
zes de hoje. (MORAN, 2017, p.9)
Metodologias ativas

O ensino baseado em metodolo-


E dentro dessa interação global, a
gias ativas é um ensino centrado no alu-
língua espanhola ocupa no mundo de
no, em suas competências próprias na
hoje uma importância que, quem de-
construção do saber da disciplina. Estas
cidir ignorá-la poderá correr o risco de
metodologias concebem a aprendiza-
perder muitas oportunidades de cunho
gem como um processo construtivo e
comercial, econômico, cultural, acadê-
não receptivo. Os métodos tradicionais,
mico ou pessoal. E visto que o idioma
que privilegiam a transmissão de infor-
espanhol é a língua oficial de 21 países,
mações pelos professores, faziam senti-
como Argentina, Bolívia, Colômbia, Cos-
do quando o acesso à informação era di-
ta Rica, Cuba, Chile, República Domini-
fícil. Com a internet e a divulgação aberta
cana, Equador, El Salvador, Espanha,
de muitos cursos e materiais, podemos
Guatemala, Guiné Equatorial, Honduras,
aprender em qualquer lugar, a qualquer
México, Nicarágua, Panamá, Paraguai,
hora e com pessoas distintas. Almeida
Peru, Porto Rico, Uruguai e Venezuela,
(2010) esclarece que isso é complexo,
faz-se necessário que se leve em con-
necessário e algo assustador, porque
sideração o uso da língua espanhola e
não temos modelos prévios de sucessos
suas variedades linguísticas. Neste cená-
para aprender de forma flexível em uma
rio, o ensino da língua espanhola como
sociedade altamente conectada.
língua estrangeira no nosso país cresce
em função do aumento das trocas eco-
Para que haja uma maior interação
nômicas entre as nações que integram o
entre a prática pedagógica do ensino da
mercado internacional. Foi preciso criar
língua espanhola em um ambiente signi-
novas estratégias de fomentar o acesso
ficativo e ao mesmo tempo se produza
do idioma espanhol, fazendo-se uso de
a construção do conhecimento dentro e
novas tecnologias no processo de ensi-
fora da sala de aula, é fundamental que
no-aprendizagem em distintas platafor-
se faça uso de metodologias ativas para
mas e acesso desse idioma.
colocar o aluno no centro do processo
da aprendizagem.
Stein (2011) menciona que o estí-
mulo às produções em ambientes e lin-
guagens virtuais em plataformas intera-
Metodologias ativas são estratégias tivas desenvolve nos participantes uma
de ensino centradas na participação
linguagem mais colaborativa, refletindo

20
Saulo Fernando Bernardo

o mundo vivencial. Portanto, a partir nos quais o aluno enfrenta problemas


dos estímulos dos professores, atra- que deve estruturar, e esforçar-se, com
vés de exercícios online, debates com o ajuda do professor, por encontrar solu-
aplicativo Hangouts, vídeos do Youtube, ções significativas. Estes componentes
pesquisa sobre a língua e cultura espa- podem sintetizar da seguinte forma,
nhola, videoconferências com ex-alunos conforme Johnson et al (2000): a) O ce-
que vivem em países de fala hispânica, nário. O cenário estabelece o contexto
pode-se vivenciar o uso da linguagem para o problema, no caso o projeto. Cos-
em diversos ambientes, autênticos e sig- tuma-se dizer aos alunos que função,
nificativos. papel ou perfil tem que assumir quando
resolvem o problema, introduzindo os
São muitos os métodos associa- alunos no contexto do problema. Pode-
dos às metodologias ativas com poten- ria ser a notícia de um jornal, uma ima-
cial de levar os alunos à aprendizagem gem ou um vídeo. É mais um elemento
por meio da experiência impulsora da contextualizador e motivador, que cria
autonomia, da aprendizagem e do pro- uma necessidade de aprendizagem; b)
tagonismo. Neste sentido, ao tratar de trabalho em grupo. Os alunos trabalham
problematização, aula compartilha- associados em pequenos grupos. Os
da, aprendizagem por projetos, design grupos proporcionam um marco de tra-
thinking, gamificação, ensino híbrida e balho no qual os alunos podem provar e
sala de aula invertida, associamos os di- desenvolver seu nível de compreensão.
ferentes métodos e metodologias rela- A complexidade dos problemas podem
cionados à construção do conhecimento chegar a tal ponto que os membros do
de forma misturada, blended, híbrida. grupo terão que repartir as tarefas para
avançar na solução do problema; c) so-
Na prática pedagógica adotada lução de problemas. Os problemas pla-
neste trabalho, daremos ênfase ao uso nejados no ambiente de metodologias
intercambiável de ensino híbrido, com ativas costumam ser complexos por
a metodologia de sala de aula inverti- natureza e são indicadores, de diversas
da. Como afirmam Bergmann e Sams muitas formas, dos tipos de problemas
(2018), todos estes modelos apresentam enfrentados pelos alunos; d) descoberta
atributos semelhantes e provavelmente de novos conhecimentos. Com o objetivo
seriam intercambiáveis, visto que um de encontrar uma solução significativa,
método não necessariamente exclui o os alunos acabam por procurar novos
outro, senão que as diversas metodolo- conhecimentos. e) baseado no mundo
gias ativas acrescentam saberes para a real. A ênfase principal é incentivar os
construção do conhecimento, valorizan- alunos a pensar, desde o início dos cur-
do a participação dos alunos no desen- sos, facilitando assim a transição dos
volvimento de competências, respeitan- cenários e problemas propostos, tanto
do os distintos estilos, tempo e ritmo de teóricos como práticos, a descobrirem
cada aluno. que não existe necessariamente ape-
nas uma resposta correta, mas sim leis e
Estes princípios educativos comuns modelos que formam o corpo teórico de
às metodologias ativas de ensino levam uma disciplina.
a apresentar uma série de componente

21
A SALA DE AULA INVERTIDA: Possibilidades Pedagógicas no Ensino de Língua Espanhola com o Uso do Google Sala de Aula

Com o uso das metodologias ativas também se encontra o mundo digital.


podemos transformar a aprendizagem
em um autêntico e eficaz resultado, es-
tabelecendo a mudança conceitual atra- O ensino híbrido é um programa
de educação formal onde o aluno
vés do compromisso e da participação
aprende, pelo menos em parte, por
dos alunos, construindo de forma autô- meio do ensino online, com algum
noma o seu conhecimento. elemento de controle do aluno so-
bre o tempo, lugar, modo ou ritmo
de estudo, e pelo menos em parte,
em um lugar físico supervisionado,
O ensino híbrido fora de sua residência. (CHRISTEN-
SEN, HORN & STAKER, 2013, p. 7).
Hoje em dia, o professor precisa se-
guir comunicando-se diretamente com
As escolas podem implementar o
os alunos, porém, também, de forma di-
ensino híbrido, tanto as que possuem
gitalmente, com as tecnologias móveis,
uma infraestrutura tecnológica sofistica-
equilibrando a interação com todos e
da como as mais carentes de recursos.
com cada um. As metodologias preci-
É um modelo facilmente replicável. Os
sam acompanhar os objetivos propos-
professores também podem fazer uso
tos. Se queremos que os alunos sejam
do ensino híbrido dentro e fora da esco-
proativos, precisamos adotar metodolo-
la, através de desafios, atividades, proje-
gias com as quais os alunos se envolvam
tos, jogos, grupais e individuais, colabo-
em atividades cada vez mais complexas,
rativos e personalizados.
em que tenham que tomar decisões e
avaliar os resultados, com apoio de ma-
Porém é preciso refletir sobre tais
teriais relevantes. Se queremos que os
mudanças de mentalidade e a forma
alunos sejam criativos, nós, os professo-
de transmitir informações, e com isso,
res, precisamos experimentar inúmeras
construir o conhecimento por meio das
novas possibilidades de apresentar ini-
tecnologias digitais, colocando o aluno
ciativas.
como coautor de sua própria constru-
ção cognitiva. Cabe fazer uma análise
A tecnologia digital proporciona
sobre os atores envolvidos nesse pro-
hoje uma integração de todos os es-
cesso. Adultos, jovens e crianças rece-
paços e tempos. O ensino e a apren-
bem, transmitem e produzem informa-
dizagem acontece em uma interação
ções em uma rede que se atualiza dia
profunda e constante entre o que cha-
a dia. Segundo Prensky (2010), temos
mamos de mundo físico e mundo digital.
gerações distintas envolvidas nesse pro-
Não são dois mundos ou dois espaços,
cesso: a dos nativos e a dos imigrantes
mas um espaço estendido, um sala de
digitais. Os primeiros são aqueles que já
aula ampliada, que se mistura, de forma
nasceram inseridos em uma cultura di-
híbrida, de forma contínua. Por essa ra-
gital e cujas relações com essas tecno-
zão, a educação formal é cada vez mais
logias foram absorvidas intuitivamente
misturada, blended, híbrida, porque não
e marcam sua forma de relação com a
acontece apenas no espaço físico, senão
construção do conhecimento. A maioria
nos múltiplos espaços do dia a dia, onde

22
Saulo Fernando Bernardo

dos professores, imigrantes digitais que A sala de aula invertida: uso do tempo e do
foram inseridos no mundo da tecnolo- espaço
gia, têm uma forma de ensinar que nem
sempre está em sintonia com o modo A sala de aula invertida é uma me-
como os nativos aprendem melhor, ou, todologia ativa. Esta modalidade de e-le-
pelo menos, que lhes despertem maior arning onde o conteúdo e as instruções
interesse. As metodologias ativas aju- são online, antes mesmo do aluno chegar
dam a aproximar estes dois mundos, à sala de aula, que agora passa a ser o
pois dá lugar a uma postura mediadora espaço destinado ao trabalho dos conte-
ao professor. údos já estudados, realizando atividades
práticas como resolução de problemas e
As metodologias ativas são pontos projetos, discussão em grupo, laborató-
de partida para avançar para proces- rios, entre outras estratégias pedagógi-
sos mais avançados de reflexão, de in- cas. A inversão acontece uma vez que no
tegração cognitiva, de generalização, de ensino tradicional a sala de aula serve
reelaboração de novas práticas. Teóri- para que o professor transmita informa-
cos como Freire (2009) e Novack (1999) ções ao aluno que, após a aula, deve es-
enfatizam a importância de superar a tudar o material que lhe foi transmitido
educação bancária, tradicional e focar a e, em seguida, realizar alguma atividade
aprendizagem no aluno, envolvendo-o, de avaliação para demonstrar que esse
motivando-o e dialogando com o aluno. tema foi assimilado. Na abordagem de
sala de aula invertida, o aluno estuda
Segundo consta em Bacich, Tanzi e antes da aula e na sala de aula se trans-
Trevisani (2015) é necessário inserir es- forma em um espaço de aprendizagem
ses meios na educação de forma criati- ativo, onde há perguntas, discussões e
va e dinâmica, proporcionando ao aluno atividades práticas. O professor trabalha
uma forma mais ampla de formação, vis- as dificuldades dos alunos, ao contrário
to que a convivência com as novas tec- de apresentações passivas sobre o con-
nologias seguem sendo trabalhada dia- teúdo da disciplina.
riamente no meio em que vivem essas
pessoas. Além do mais, os não usuários A sala de aula invertida é uma meto-
de tecnologias digitais têm a oportunida- dologia que foi divulgada por Bergmann
de da inclusão digital. Hoje em dia, per- e Sams (2012) a partir da experiência por
cebe-se que essas tecnologias já estão eles realizada em escolas de nível médio
sendo trabalhadas no ambiente escolar, nos Estados Unidos. Tais autores, a par-
e os professores já estão utilizando des- tir de estudos anteriores realizados em
sas ferramentas para deixar suas aulas diversas universidades, trouxeram a me-
mais dinâmicas e menos expositivas. todologia ao ensino médio com o obje-
Portanto haverá mais participações e in- tivo de atender a alunos atletas, que se
teração dos alunos nas salas de aula de ausentavam das aulas devido aos cam-
ambientes híbridos, já que o ambiente peonatos que participavam.
virtual traz novas competências, e pro-
porciona uma relação do indivíduo com O modelo pedagógico da sala de
os meios digitais, sem que as interações aula invertida faz referência a um en-
presenciais sejam menos importantes.

23
A SALA DE AULA INVERTIDA: Possibilidades Pedagógicas no Ensino de Língua Espanhola com o Uso do Google Sala de Aula

foque integral que busca aumentar o ção entre alunos-professor e alunos-alu-


compromisso e a implicação dos alunos nos; ajuda aos alunos mais ocupados,
com os conteúdos curriculares para o visto que há uma maior flexibilidade nas
aperfeiçoamento de sua compreensão atividades; que se tornam mais transpa-
conceitual. Ao publicar uma aula online, rentes as tarefas propostas e os conteú-
o tempo presencial dedicado à explica- dos nas aulas invertidas; que a inversão
ção é revertido em tempo para a partici- muda a gestão da sala de aula e as aulas,
pação dos estudantes na aprendizagem, entre outros benefícios.
utilizando perguntas, gerando discus-
sões e realizando atividades para explo- Além do mais, Bergmann e Sams
rar, articular e construir conhecimento. (2018) demonstram o uso do tempo na
sala de aula, em atividade de sala de
Para inverter uma aula se deve fa- aula invertida, através do uso de vídeo,
zer um caminho pelas distintas ferra- introduzindo um novo conteúdo e rees-
mentas e aplicações que permitam ao truturando o tempo do planejamento da
docente suprir suas explicações, desde aula da seguinte forma (Quado 1).
espaços virtuais, o uso das diferentes
estratégias para expor os conteúdos e Observando o quadro 1, podemos
uma série de recursos que permita in- ver a reestruturação do tempo nos mo-
corporar práticas colaborativas. delos de salas de aula tradicionais e nos
de salas de aula invertida. Há uma inver-
Entretanto, embora pareça como são bastante significativa baseada nas
algo extremamente novo, a ideia de “in- práticas orientadas e independentes,
verter” a sala de aula vem desde a dé- promovendo a autonomia e o trabalho
cada de 1990, com o crescimento das em grupos para solução de problemas.
possibilidades de uso e acesso às Tec- Nota-se, segundo Bergmann e Sams
nologias da Informação e Comunicação (2018), que nitidamente o enfoque da
(TIC). aula é o aluno. O professor está presen-
te estrategicamente para fornecer fee-
Bergmann e Sams (2018) pontuam dbacks especializados, bem como para
que o uso de aula invertida traz benefí- orientar e ajudar a ampliar os conceitos
cios como, intensificar uma maior intera- avançados. É oferecido aos alunos uma

Quadro 1 – O tempo nas salas de aula tradicional e invertida.

Sala de aula tradicional Sala de aula invertida


Atividade Tempo Atividade Tempo
Atividade de aquecimento 5 minutos Atividade de aquecimento 5 minutos
Repasse da tarefa de casa da 20 minutos Perguntas e respostas sobre 10 minutos
noite anterior o vídeo
Explicação do novo conteúdo 30-45 minu- Prática orientada e indepen- 75 minutos
tos dente e/ou atividade de labo-
ratório
Prática orientada e indepen- 20-35 minu-
dente e/ou atividade de labo- tos
ratório
Fonte: Bergmann e Sams (2018)
24
Saulo Fernando Bernardo

guia de soluções, motivando-os a solu- cordar informação previamente


cionar os problemas postos, tanto pelo aprendida;
professor como apontados durante o • Compreensão: “Fazer nosso” aqui-
processo de estudo compartilhado en- lo que aprendemos e ser capazes
tre os alunos. Observa-se também, que de apresentar a informação de ou-
o trabalho do professor é o de amparar tra maneira;
os alunos e não o de transmitir informa- • Aplicação: Aplicar as destrezas ad-
ções, otimizando deste modo o uso da quiridas a novas situações que nos
sala de aula para o desenvolvimento de são apresentadas;
competências que antes era destinado • Análise: Decompor o todo em suas
ao uso do tempo em explicações, muitas partes e poder solucionar proble-
vezes exaustivas. mas a partir do conhecimento ad-
quirido;
Dentro desta perspectiva, Cintra • Síntese: Ser capazes de criar, inte-
(2012) aponta que a aula expositiva tra- grar, combinar ideias, planejar e
dicional tem como enfoque o conteúdo, propor novas maneiras de fazer;
é desmotivadora e, muitas vezes, auto- • Avaliação: Emitir juízo a respeito
ritária. Antes, onde havia pouco acesso do valor de um produto segundo
ao conhecimento e aos materiais, e não opiniões pessoais a partir de obje-
havia internet, esta metodologia fun- tivos dados.
cionava. Ao aluno lhe restava apenas a
alternativa de ficar atento ao monólogo
do professor e copiar o assunto propos- Dentro desta reflexão é preciso ter
to para estudar em seguida. O papel do em mente duas questões. A primeira é,
professor era centralizador e o objetivo em que momento do ciclo de aprendiza-
do ensino era a quantidade de conteúdo gem os alunos precisam estar em frente
transmitida ao aluno. ao professor durante a explicação? A se-
gunda questão é, com o uso de tecnolo-
Para Valente (2018), os aspectos gía digital, que parte da instrução posso
fundamentais da implantação da sala de enviar para o ambiente virtual o conteú-
aula invertida são a produção de mate- do da aula para aumentar o tempo em
rial para que o aluno trabalhe online e o sala de aula? O professor deve avaliar os
planejamento das atividades que se rea- conteúdos da disciplina, o desempenho
lizam na aula presencial. de seus alunos na sala de aula, as ava-
liações obtidas em cada assunto, entre
Outro aspecto a se observar com o outros elementos de sua aula que o aju-
modelo de sala de aula invertida é que dem a determinar como implementar a
esta metodologia abarca todas as fases aprendizagem da sala de aula invertida.
do ciclo de aprendizagem na dimen-
são cognitiva da taxonomia de Bloom As estratégias utilizadas pelo pro-
(BLOOM et al, 1972, p. 24) fessor no processo de sala de aula in-
vertida, dentro de um ambiente híbrido,
deve ser pensada nos dois ambientes, no
• Conhecimento: Ser capazes de re- virtual e no presencial. No virtual as ativi-
dades podem ser criadas pelo professor,

25
A SALA DE AULA INVERTIDA: Possibilidades Pedagógicas no Ensino de Língua Espanhola com o Uso do Google Sala de Aula

como vídeo, quizzes, podcast, organizar O Google Sala de Aula


um gráfico, solicitar a elaboração de um
texto sobre tema proposto, formulários O Google Sala de Aula é um am-
de exercícios, leitura de paradidático se- biente virtual, onde o professor organi-
guido de resumo, montagem de apre- za as turmas e direciona as atividades,
sentações, perguntas elaboradas pelo usando ou não, de acordo com as estra-
professor e para o professor, tarefas de tégias de trabalho, as demais ferramen-
reflexão, interações aluno-aluno e pro- tas das soluções do Google For Education.
fessor-aluno. No ambiente presencial, Este aplicativo nos propõe soluções tec-
após a introdução do âmbito virtual, o nológicas desenvolvidas para facilitar a
professor poderá direcionar as ativida- vida de professores e alunos, dentro e
des em sala de aula com discussão em fora das salas de aula, a qualquer hora e
grupos, direcionar o trabalho a proble- a partir de dispositivo móvel conectado
mas concretos, fazer uso de atividades a internet. Todas estas ferramentas são
diferenciadas ou personalizadas, aplicar utilizadas como aplicações – inicialmen-
pedagogia baseada em projetos a fim de te projetadas para o mundo do traba-
consolidar, ampliar e comprovar o tema lho - de comunicação, trabalho colabo-
proposto pelo professor através de fer- rativo e ferramentas de produtividade,
ramentas avaliativas. construindo com o aluno competências
não apenas para a aprendizagem de um
Contextualizando estas práticas no novo idioma, mas desenvolvendo pa-
ensino da língua espanhola como língua ralelamente, competências essenciais
estrangeira, farei uso dos aplicativos do para a entrada ao mundo do trabalho.
Google For Education, em especial o Goo-
gle Sala de Aula como ferramenta faci- O Google Sala de Aula é um sistema
litadora do processo de ensino híbrido, de gestão de sala de aula para profes-
fazendo práticas de sala de aula inver- sores que gerencia múltiplas classes e
tida como estratégia metodológica ativa níveis; envia mensagens anúncios, per-
e, deste modo, juntando os dois mundos guntas, avisos e tarefas para uma ou
do ambiente híbrido, a sala de aula vir- mais classes; também gerencia tarefas
tual e a sala de aula presencial. O Goo- e compartilhamento de arquivos do tipo
gle Sala de Aula será a ferramenta em formulários, documentos, vídeos, entre
análise para viabilizar tanto a produção outras soluções.
de material para o aluno online, através
vídeos, infográficos, imagens, textos, si- De acordo com a Google (2018), o
tes, podcasts, formulários de verificação serviço da aplicação do Google Sala de
da aprendizagem, bem como servirá de Aula já contam com mais de 80 milhões
ferramenta de gestão de sala de aula in- de alunos e professores em todas as
vertida, facilitando o planejamento das partes do mundo, facilitando a comu-
atividades a serem realizadas na sala de nicação entre os processos de ensino e
aula presencial, através de discussões aprendizagem.
em grupo, resolução de problemas, dra-
matizações, atividades de fixação, exer- O Google Sala de Aula é gratuito e
cícios e projetos. restrito aos estudantes e funcionários
cadastrados pela escola. Este cadastro

26
Saulo Fernando Bernardo

é vinculado a um domínio relacionado à borativos, em textos online, diminuindo


instituição, promovendo assim mais au- o uso de papel em sala de aula. Além do
tenticidade e organização dos assuntos mais, o mecanismo de busca Google, in-
relacionados à escola, além do mais, o terage diretamente dentro da aplicação
Google Sala de Aula não exibe anúncios do Google Documentos, facilitando as
e nunca usa conteúdo ou dados dos alu- pesquisas de fontes de informações nas
nos para fins publicitários. composições de expressões escritas.
Outra aplicação que se destaca é o Goo-
Outra vantagem desse aplicativo é gle Apresentações, quando se trata de
a redução do uso do papel em sala de competências de expressões orais. A fer-
aula, visto que as tarefas, avaliações, ramenta facilita o mecanismo de apre-
redações, feedbacks, relatórios de diag- sentações na sala de aula, bem como de
nósticos e desempenhos são realizadas forma remota, as explanações em mi-
através de ferramentais digitais. Dessa niaulas, seminários sobre países, cultura
forma contribui e exemplifica o uso sus- hispânica, árvore genealógica, entre ou-
tentável dos recursos ambientais. tras estratégias. Esta aplicação também
permite que se trabalhe de forma cola-
O aplicativo da Google propõe fa- borativa, onde vários alunos trabalham
cilitar as interações dessas atividades na mesma apresentação, sendo que o
como ferramenta de gestão de sala de professor pode acompanhar a constru-
aula, tais como distribuições de tare- ção de cada aluno individualmente. Um
fas, compartilhamento de informações, outro ponto que merece uma atenção
realização de feedbacks remotos e em especial é o feito de anexar os Google
tempo real, atribuições de conceitos, co- Formulários dentro do aplicativo Google
municação aos pais dos resultados de Sala de Aula. Esta ação facilita o uso de
desempenhos. Outro ponto relevante exercícios de fixação, simulados, exa-
é o conceito do que significa estar pre- mes de nivelamento, avaliações de uni-
sente em sala de aula. Esse conceito é dades. O Google Formulário encurta o
mais agravante quando se trata de um caminho entre a aplicação da avaliação
curso de língua estrangeira, onde a par- e a entrega dos resultados obtidos pelo
ticipação do aluno em atividades comu- aluno, diminuindo a ansiedade em rece-
nicativas, sejam orais ou escritas, são ber o resultado de seu desempenho. O
indicadores essenciais na construção aluno tem a autonomia, dentro ou fora
das competências no acesso à aprendi- da sala de aula, de verificar o desenvolvi-
zagem de um novo idioma. mento de sua aprendizagem através de
exercícios com feedbacks pré-formula-
A ferramenta do Google Sala de dos pelos professores, deixando as dú-
Aula está composta de outras aplica- vidas e a ampliação do conhecimento
ções do Google For Education, como o para que sejam esclarecidas na sala de
Google Documentos, Google Apresenta- aula ou através da interação promovida
ções e Google Formulários. Em especial no Google Sala de Aula.
destaque o uso do Google Documentos
para o desenvolvimento de competên-
cias de expressões escritas, através de
redações de textos individuais ou cola-

27
A SALA DE AULA INVERTIDA: Possibilidades Pedagógicas no Ensino de Língua Espanhola com o Uso do Google Sala de Aula

Um exemplo prático de sala de aula invertida conhecimento ou habilidade dos alunos.


com o uso do Google Sala de Aula.
Dependendo do nível da turma A1,
Um exemplo prático de uso de uma A2, B1, C1 ou C2, marcos referenciais
metodologia ativa é a atividade intitula- para o domínio de um idioma, o profes-
da La palabra del día. Trata-se de uma sor pode contar com variações: a) Ex-
dinâmica de sala de aula realizada atra- pressão idiomática do dia; b) Pergunta
vés do uso de metodologia ativa, fruto do dia; c) Pretérito indefinido do dia, en-
de minhas práticas pedagógicas híbridas tre outros. O aluno pode contribuir com
do curso de espanhol no Senac Pernam- a atividade anexando frases, vídeos,
buco, fazendo-se uso de sala de aula in- links de site que contenha o vocabulário
vertida com o aplicativo Google Sala de do dia.
Aula.
Esta prática pode ser replicável
Parece haver, no universo das pa- para os professores de diversos segui-
lavras, uma hierarquia lexical quando se mentos de atuação. É uma atividade de
trata de construção da aprendizagem sala de aula invertida para alunos de di-
de um novo idioma. Nesse processo de versos níveis linguísticos ou distintas dis-
aquisição linguística, é comum o acesso ciplinas.
às palavras bases que compõem a cons-
trução de um vocabulário cotidiano. Pa- A dinâmica intitulada La Pregunta
lavras como casa, livro, maçã, porta, car- del Día, possibilitou mais diálogos e es-
ro são alvos certos nos livros didáticos. paços de comunicação, criando grupos
Embora seja importante se basear na para debater os temas propostas, den-
frequência das palavras mais comuns, tro e fora da sala de aula. É uma boa ma-
aprender vocábulos como dobradiça, neira de incorporar as inovações tecno-
cais, orçamento, pegadas, alavanca, que lógicas de sala de aula invertida, dentro
não fazem parte do dia a dia de sala de do ensino híbrido.
aula, pode trazer um diferencial na qua-
lidade de um falante de um idioma es-
trangeiro. Metodologia
Com o aplicativo do Google Sala A pesquisa apresenta uma abor-
de Aula, se lança com antecedência, dagem qualitativa e de natureza aplica-
uma palavra de léxico menos usual na da. O uso do aplicativo Google Sala de
plataforma e solicita aos alunos que es- Aula se realizou durante 05 meses com
crevam uma frase com dita proposta. A os alunos do curso de espanhol básico
cada dia uma palavra distinta. Os alunos e pós-intermédio da unidade de idio-
escrevem suas frases em casa, no tra- mas Senac do Estado de Pernambuco,
balho ou em qualquer lugar através de compondo o aporte metodológico des-
computadores, tablets ou smartphones, te trabalho. A metodologia do trabalho
e ao chegar na sala de aula leem suas buscou analisar os resultados sobre a
frases em voz alta. Pode-se aproveitar aplicabilidade do Google Sala de Aula
para realizarmos debates e ampliar o como estratégia no uso da metodologia

28
Saulo Fernando Bernardo

de sala de aula invertida. A pesquisa se Gráfico 1 - Acesso à internet.


fez presente por meio de uso prático de
sala de aula, sendo imprescindível para
comprovar o uso e os benefícios do apli-
cativo Google Sala de Aula como ferra-
menta auxiliar no uso de sala de aula in-
vertida no curso de língua espanhola, a
participação ativa dos alunos.

Resultados
Fonte: Autor

Após o encerramento do curso de Por ter acesso à internet em casa,


espanhol básico e pós-intermediário foi ficou mais evidente que 43,5% do desen-
aplicado um questionário de satisfação volvimento das atividades vinculada no
com o objetivo de coletar dados relevan- Google Sala de Aula no processo de en-
tes para a pesquisa e, também, para ave- sino híbrido foram realizados em casa,
riguar a opinião dos alunos a respeito da conforme gráfico 2. Por outro lado, o
utilização do Google Sala de Aula no pro- grupo de alunos que desenvolviam suas
cesso de sala de aula invertida, com uso atividades apenas em sala de aula, 8,7%,
de metodologia híbrida. A população do mencionaram que, por sair muito cedo
curso, e da pesquisa, é composta de 23 de casa e por desenvolver as atividades
alunos de duas turmas, espanhol bási- laborais durante todo o dia, reservavam
co e pós-intermediário. O questionário o começa da sala de aula para escrever e
aplicado está composto de perguntas enviar as suas atividades de sala de aula
fechadas com espaço para justificativas invertida.
e algumas questões abertas. Analisemos
estes elementos com as informações co-
letadas.
Gráfico 2 - Momento de produção da sala de
aula invertida.
O primeiro tópico tem o objetivo
de verificar se os alunos tinham acesso Geralmente você escrevia as frases de La Palavra del
Dia (ou Pergunta del Día) em que momento?
à internet. Ter acesso à internet é uma
das chaves propulsoras para que possa-
mos extrair elementos mais significados
da metodologia de sala de aula inverti-
da. Conforme o gráfico 1, o número de
alunos acessando a internet desde a sua
residência.

Fonte: Autor

29
A SALA DE AULA INVERTIDA: Possibilidades Pedagógicas no Ensino de Língua Espanhola com o Uso do Google Sala de Aula

Como vimos anteriormente, o uso o uso da tecnologia em atividades de


combinado de ferramentas online e o aprendizagem, inovação e motivação,
ensino presencial passa a ser uma con- dentro e fora de sala de aula, é possível
tínua ação a fim de promover o trabalho afirmar que este modelo pedagógico
colaborativo, bem como otimizar o uso possa ser aplicado em 100% dos casos,
do tempo em sala de aula para ampliar o é evidente que o aluno precisa de míni-
que vem sendo estudado. Dentro deste mos recursos e conhecimentos tecnoló-
conceito de ensino híbrido, e conforme gicos. O que se nota é que sala de aula
gráfico 3, no tocante ao uso do tempo invertida, no processo híbrido, amplia o
em sala de aula e sua otimização, 73,9% espaço na construção da aprendizagem
demonstrou que a sala de aula invertida, de forma mais atrativa.
com as atividades realizadas fora de sala
de aula, aumenta o tempo de práticas de A atividade intitulada La Palabra del
expressões orais e escritas. Día ampliou o léxico dos alunos, pois se
trata de ensinar, através da plataforma
Gráfico 3 - Uso do tempo no processo de sala Google Sala de Aula, um vocabulário não
de aula invertida. muito comum ao cotidiano do aluno. O
As atividades de sala de aula invertida ajudam a otimizar feedback desta atividade se fez após a
o tempo em sala de aula, pois promovem a produção leitura das frases pelos alunos, deste
desta a... horário de aula. Você está de acordo? modo, a correção dos erros se transfor-
ma em uma oportunidade de aprendi-
zagem para todos, desenvolvendo as
competências de expressão escrita e de
compreensão de leitura.

Aproveitando esta preparação


antecipada, o professor pode dedicar
mais tempo a implementar estratégias
de aprendizagem ativa com os alunos
bem como realizar pesquisas ou traba-
lhar em projetos em equipe. Também
foi possível utilizar o tempo de aula para
Fonte: Autor
comprovar a compreensão dos temas
de cada aluno e, quando necessário,
ajudá-los a desenvolver a fluidez de pro-
Considerações finais cedimentos através de apoio individua-
lizado, permitindo realizar ao professor,
A utilização do Google Sala de Aula, durante a aula, outros tipos de ativida-
durante o ciclo das aulas, configurou-se des mais individualizadas com os alu-
como um momento para confirmar as nos, pois permitiu uma distribuição não
potencialidades da metodologia híbrida linear das mesas na sala de aula, e com
no processo de sala de aula invertida. A esta mudança potencializou o ambiente
interação, na língua espanhola, entre os de colaboração. E fomentando a colabo-
alunos e os professor serviu para am- ração do aluno, foi possível reforçar sua
pliar vocabulário, desenvolver expres- motivação.
sões orais e escritas, além de promover
30
Saulo Fernando Bernardo

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JOHNSON, David W; JOHNSON, Roger
T.; SMITH, Karl A. Active Learning:
Cooperation in the College Classroom,
3. ed. Mineápolis, EUA: Interaction Book
Company, 2000. 316 p.
31
AR
TI
GO.

SONC150: UMA EXPERIÊNCIA FORMATIVA NO


MODELO PEDAGÓGICO SENAC
Maria Carolina de Jesus Pontes Pereira
Cláudia Célia Barbosa Ferreira
José Adriano Alves Soares
Margarete Carneiro dos Santos Soares

Introdução metodologia de projetos beneficia os


alunos na aquisição de seus conheci-
Em um cenário mundial educacio- mentos, tornando-os protagonistas da
nal dinâmico que faz uso de metodolo- sua aprendizagem por meio de situa-
gias ativas e amplamente atualizadas, a ções problematizadoras.
proposta do Modelo Pedagógico SENAC
surge como uma resposta neste univer- Como afirma a coleção de Docu-
so, trazendo para a sala de aula um pen- mentos Técnicos do SENAC, Projeto In-
sar diferenciado ao mesmo tempo que tegrador (2015, p.7):
vanguardista das metodologias atual-
mente utilizadas pela comunidade aca-
dêmica. A Metodologia de Projetos é uma al-
ternativa pedagógica que privilegia
a relação dialógica e aprendizagem
Nesse sentido, levantou-se o se-
coletiva. Parte da concepção de que
guinte questionamento: se aprende em comunhão, em ex-
periências e vivências de construção
- De que forma a metodologia de colaborativa, ao assumir respon-
projetos abordada no Modelo Pedagó- sabilidades em ações conjuntas e
gico SENAC promove um processo de promover o protagonismo do aluno
diante de situações problematizado-
reflexão eficaz e leva os alunos, da edu- ras [...]. (SENAC, 2015, p.7)
cação profissional, a terem uma maior
visão crítica em seu desenvolvimento
cognitivo e no seu domínio técnico-cien- Sendo assim, nesta metodologia de
tífico, nesse processo de construção do projetos é de fundamental importância
aprendizado, habilitando-os com exce- o docente trabalhar com os seus alunos
lência para sua atuação no mundo do várias situações problematizadoras que
trabalho? os levem a refletir sobre a sua realida-
de, as suas vivências e os seus saberes,
Para responder a essa indagação mobilizando os conhecimentos prévios
norteadora foi preciso analisar como a sobre o que eles possuem em relação

32
Maria Carolina de Jesus Pontes Pereira et. al.

a determinados temas, motivando-os gem dessa interação.


e instigando-os a encontrar caminhos
para possíveis soluções aos problemas A problematização deve ter como
e/ou situações apresentadas. ponto de partida um contexto bem es-
truturado, desde o início de todo pro-
Vale salientar que a metodologia de cesso de aprendizagem, gerando nos
projetos vem se tornando bastante pre- alunos curiosidades e reflexões e, por
sente nas escolas em todos os níveis de sua vez, irá instigá-los a buscar respos-
ensino e, na educação profissional não é tas mais efetivas. Assim sendo, é papel
diferente. No Serviço Nacional de Apren- do docente orientar, estimular e desen-
dizagem Comercial (SENAC) essa práxis volver atividades que contemplam res-
tem ganhado mais expressão no desen- peitosamente os conhecimentos prévios
volvimento dos projetos integradores, dos alunos, evidenciando o processo pe-
uma vez que interpassam as Unidades dagógico formativo para que estes iden-
Curriculares, na concepção do Modelo tifiquem as reais situações-problemas
Pedagógico do SENAC. apontadas como centro do seu trabalho,
conduzindo-os sempre ao ciclo de ações
A unidade curricular Projeto In- e reflexões contínuas.
tegrador (PI) é a base pedagógica que
favorece a aquisição da aprendizagem Como proposto por Paulo Freire no
dos alunos de uma forma coletiva e co- seu livro Pedagogia da Autonomia:
laborativa. O PI está fundamentado na
Aprendizagem Baseada em Problemas.
O professor que desrespeita a curio-
Borochovicius & Tortella descreve- sidade do educando, o seu gosto
estético, a sua inquietude, a sua lin-
ram sobre a importância desse método guagem, mais precisamente, a sua
para o aluno: sintaxe e a sua prosódia; o profes-
sor que ironiza o aluno, que minimi-
niza, que manda que “ele se ponha
[...] o método da Aprendizagem no seu lugar” ao mais tênue sinal de
Baseada em Problemas tem como sua rebeldia legítima, tanto quanto
propósito tornar o aluno capaz de o professor que se exige do cumpri-
construir o aprendizado conceitu- mento de seu dever de se ensinar,
al, procedimental e atitudinal por de estar respeitosamente presente
meio de problemas propostos que o à experiência formadora do educan-
expõe a situações motivadoras e o do, transgride os princípios funda-
prepara para o mundo do trabalho mentalmente éticos de nossa exis-
[...] (BUROCHOVICIUS; TORTELLA, tência. (FREIRE,1996, p. 35).
2014, p.263).

Vale salientar que, é imprescindível


Ele estimula o aluno a intervir no que a situação problematizadora, norte-
seu ambiente social tendo como objeti- ada pelo tema gerador, a ser investigada
vo solucionar problemas reais que sur- pelos alunos esteja dentro do planeja-

33
SONC150: uma experiência formativa no Modelo Pedagógico SENAC

mento integrado do curso. Ele pode ser De acordo com a problematização


definido pela equipe pedagógica e pelos identificada na vivência laboral, incre-
docentes antes do início do curso o qual mentada pela visão crítica dos alunos
é ou pode ser estabelecido, assim como nos processos organizacionais e em so-
seus desdobramentos e desafios. Toda- matória às práticas na instituição forma-
via, este tema gerador também pode ser dora SENAC, como resposta, os alunos
desenvolvido com os alunos no trans- desenvolveram um aplicativo que visa
correr do projeto. facilitar aos clientes o acesso às infor-
mações nutricionais de uma maneira efi-
Partindo dos expostos acima, pre- ciente e eficaz sobre produtos que estão
tende-se trazer à discussão que, por sendo adquiridos por esse público para
meio de uma metodologia de projetos, o seu consumo diário.
convenientemente ancorada em um pla-
nejamento capaz de articular e desen-
volver as devidas competências, a par-
tir da consideração dos conhecimentos Desenvolvimento
prévios dos alunos, propicia o desenvol-
Justificativa
vimento de uma aprendizagem significa-
tiva.
Por meio das metodologias ativas
e propostas sugeridas pelo Modelo Pe-
O Modelo Pedagógico SENAC ba-
dagógico, os alunos, instigados pelas
seado no desenvolvimento de compe-
atividades tais como: roda de conversa,
tências, tendo como estrutura a meto-
estudos de casos, pesquisas bibliográfi-
dologia de Projetos Integradores (PI),
cas, pesquisa de campo e pelas experi-
mobiliza nos alunos, em seus exercícios
ências pessoais vivenciadas no primeiro
profissionais, ações que respondem
momento nas empresas, identificaram
acertadamente a diversas situações co-
problemas comuns nos supermercados
locadas pelo mundo do trabalho.
em vários setores.
Desta forma, para melhor esclare-
Entre essas dificuldades, eles apon-
cimentos sobre a metodologia de pro-
taram falhas na disponibilização de bens
jetos, esse artigo pretende mostrar, por
de consumo aos clientes, principalmente
meio da prática em sala de aula e dos
no que se refere à orientação nutricional
estudos teóricos, as metodologias ativas
dos produtos descrita nas embalagens,
aplicadas para a construção do Projeto
o que restringe ao público a transmissão
Integrador que ocorreu em uma turma
de informações corretas na escolha do
de Aprendizagem Profissional Comercial
produto ideal para o seu consumo, cuja
em Serviços de Supermercados, na qual
prática ainda não contempla a relevância
o objetivo consistiu em abordar o tema:
e a responsabilidade quanto à qualidade
Orientar os clientes em relação a mer-
de vida percebida por todos os públicos
cadorias e produtos, ou seja, ajudar o
envolvidos nesse processo de consumo.
cliente a localizar os produtos com infor-
mações nutricionais conforme as suas
É fato que o número de pesso-
necessidades.
as que são acometidas por problemas

34
Maria Carolina de Jesus Pontes Pereira et. al.

oriundos do consumo de gêneros ali- Ter qualidade em produtos e servi-


mentícios tem se elevado ao longo dos ços é uma obrigação fundamental. Pois,
anos. Ribeiro, coordenadora do labora- a organização precisa possuir visão ho-
tório da Vigilância Sanitária do Rio de lística, compreender as necessidades e
Janeiro em entrevista ao jornal O Globo superar as expectativas dos consumido-
em 09/04/2018, apontou que: res.

As empresas que possuem estra-


Mais de 60% dos 3.100 rótulos de tégias voltadas à gestão de qualidade,
alimentos analisados pela Subsecre-
estando explícitas ou implícitas em seu
taria de Vigilância, Fiscalização Sani-
tária e Controle de Zoonoses (Subvi- plano de negócios, podem vir a lidar com
sa) do município do Rio, em pouco as oportunidades e as ameaças encon-
mais de três anos, foram classifica- tradas no mercado de trabalho, assim
dos como insatisfatórios. Em alguns como têm a possibilidade de conquis-
casos, faltam informações na em-
tar uma clientela diversificada, superar
balagem. Em outros, os dados não
correspondem à realidade e podem a concorrência realizando um melhor
induzir o consumidor a uma escolha trabalho de atendimento e satisfazer as
errada. E ainda há casos em que se necessidades do consumidor, fidelizan-
tem as duas situações simultane- do-os de forma mais perene.
amente. Entre os 1.905 rótulos em
que foram identificadas falhas, 68%
traziam informações que induziam Desta forma, em um mundo alta-
o consumidor a engano, caso de ex- mente informatizado no qual os con-
pressões em destaque como “100% sumidores estão cada vez mais bem
natural” ou “sem adição de açúcar”. informados e exigentes e tendo- se em
O segundo problema mais frequen- vista sua plena satisfação, a qualidade
te, apontado em 58% das embala-
gens, foi a informação nutricional de bens e serviços deixa de ser uma op-
— como cálculo de valor energético ção e se torna uma questão de sobrevi-
e percentual de nutrientes — dife- vência para qualquer empresa. Sem os
rente do que o produto apresenta. clientes a organização não tem propó-
(CASEMIRO; LUQUES, 2018) sito de existência, aliás, nem crescerá e
nem prosperará. Para satisfazer o con-
sumidor é necessário ter, primeiro, uma
A gestão da qualidade é muito im-
compreensão profunda de suas neces-
portante para garantir a sobrevivência e
sidades e, em seguida, possuir os pro-
permanência da empresa em um merca-
cessos de trabalho ideais, para de forma
do altamente competitivo e globalizado,
efetiva e consistente, resolver essas ne-
segundo afirmam Lee e Zuanetti:
cessidades.

Nesse ambiente competitivo, surge Pensando nessa problematização a


o cliente mais exigente à qualidade
turma 150, composta por 22 alunos, do
de produtos e serviços que vai con-
sumir. Em resumo, a qualidade pas- Programa de Aprendizagem em Servi-
sou a ser o principal diferencial não ços Profissionais em Supermercado da
só dos produtos em si mas, sobretu- Unidade de Tecnologia da Informação
do, dos serviços oferecidos pela em- e Comunicação (UTIC), criou um Siste-
presa. (LEE; ZUANETTI, 2014, p.12)
ma de Orientação Nutricional ao Cliente

35
SONC150: uma experiência formativa no Modelo Pedagógico SENAC

(SONC150) que irá auxiliar no aprimo- balho. As referidas marcas são: Domínio
ramento das informações dos bens de técnico-científico; Visão crítica; Atitude
consumo oferecidos aos seus clientes. empreendedora; Atitude sustentável e
Atitude colaborativa.

De acordo com os Documentos


Referencial Teórico Técnicos, Concepções e Princípios do SE-
NAC:
Vive-se hoje em dia em um mundo
As Marcas Formativas são caracte-
repleto de constantes mudanças, princi- rísticas a serem evidenciadas nos
palmente tecnológicas, e o mercado de alunos, ao longo do processo for-
trabalho prima, cada vez mais, por um mativo. Derivam dos Princípios Edu-
profissional competente, inovador e em- cacionais e valores institucionais
que regem o Modelo Pedagógico
preendedor. Preparar um aluno com as
Senac e, por essa via, representam
competências e habilidades em sintonia o compromisso da Instituição com
com essas tais demandas é o objetivo da a formação integral do profissional
Educação Profissional do SENAC. Como cidadão. Como Marcas Formativas,
afirma seus referenciais para educação espera-se que o profissional forma-
do pelo Senac evidencie domínio
profissional:
técnico-científico em seu campo
profissional, tenha visão crítica so-
bre a realidade e as ações que reali-
Em face às transformações do mun- za e apresente atitudes empreende-
do contemporâneo e aos processos doras, sustentáveis e colaborativas,
de reestruturação produtiva, a qua- atuando com foco em resultados.
lificação para o trabalho deixa de ser (2015, p.34)
compreendida como fruto da aquisi-
ção de modos de fazer, passando a
ser vista como resultado da articula-
ção de vários elementos, subjetivos
Partindo-se dessa ideia, do Mode-
e objetivos, tais como: natureza das lo Pedagógico SENAC e o Plano de Tra-
relações sociais vividas pelos indiví- balho Docente (PTD) que são os instru-
duos, escolaridade, acesso à infor- mentos norteadores do fazer docente
mação, a saberes, a manifestações na instituição, foi proporcionada uma
científicas e culturais, além da dura-
ção e da profundidade das experi-
prática pedagógica mais adequada à re-
ências vivenciadas, tanto na vida so- alidade dos alunos e maior facilidade de
cial, quanto no mundo do trabalho. planejamento das aulas, utilizando-se
(SENAC, 2004, p.31) a metodologia do desenvolvimento de
competências, chamada também de de-
senvolvimento dos sete passos, uma vez
Destaque-se que, dentro dos prin- que cada passo experimentado é muito
cípios institucionais e valores educacio- significativo, por favorecer um diagnós-
nais, o Modelo Pedagógico SENAC traba- tico, do processo de aprendizagem de
lha no aluno ao longo do seu processo cada aluno, nas situações de aprendiza-
pedagógico, marcas formativas que são gem construídas como práticas propos-
eficazmente evidenciadas nos alunos tas.
egressos do SENAC no mercado de tra-

36
Maria Carolina de Jesus Pontes Pereira et. al.

Vale ressaltar que em cada situação Ao utilizar, detalhadamente, cada


de aprendizagem é proposto o desenvol- passo metodológico descrito acima, tan-
vimento dos sete passos metodológicos, to o aluno quanto o docente se benefi-
a saber: contextualização e mobilização; ciam. Este último por ter em suas mãos
definição da atividade de aprendizagem; uma ferramenta que norteia a sua práti-
organização da atividade de aprendiza- ca pedagógica cotidiana em sala de aula,
gem; coordenação e acompanhamen- lhe proporcionando uma aproximação à
to; análise e avaliação da atividade de realidade dos alunos, um planejamento
aprendizagem; outras referências e sín- flexível, diversificado, dinâmico, benefí-
tese e aplicação. cios esses que se estendem a ambos.

A metodologia do desenvolvimento
1- Contextualização e mobilização: de Competências tem por objetivo dire-
norteia o aluno a compreender a si- cionar a prática dos docentes de Educa-
tuação de aprendizagem com vivên-
cia de situações concretas da vida
ção Profissional. São métodos que visam
do trabalho. às atividades mais dinâmicas, produtivas
2- Atividade de aprendizagem: é a e iniciativas de resolução proposta pe-
proposta do envolvimento dos par- los alunos, para isso, a metodologia usa
ticipantes a enfrentar um desafio, o recurso de esboçar uma situação de
solucionar um problema, realizar
alguma atividade dentro dos princí-
aprendizagem com um desafio que, ao
pios metodológicos. final da unidade curricular, proporciona-
3- Organização/ Desenvolvimento rá ao aluno condições de solucioná-las,
das atividades de aprendizagem: a partir dos seus conhecimentos pré-
são as orientações minuciosas des- vios, trabalhados nas aulas pelo docen-
critas para o desenvolvimento da
atividade proposta no passo ante-
te e os conhecimentos construídos nas
rior. unidades curriculares, seguindo sempre
4- Coordenação e acompanhamen- o ciclo Ação-Reflexão-Ação que é o eixo
to: o docente deve acompanhar o central da teoria construtivista e não da
desenvolvimento da atividade de prática tradicional, mecânica que geral-
aprendizagem de forma que os alu-
nos possam ter autonomia.
mente tudo costuma chegar pronto ao
5- Análise e avaliação da atividade aluno.
de aprendizagem: o passo de fun-
damental importância é o momento Essa metodologia de aprendiza-
de refletir, discutir, socializar os re- gem promove ao aluno não apenas uma
sultados da atividade proposta.
6- Outras referências: veicular aos
mudança na sua aprendizagem, como
alunos novas produções (vídeos, também fornece ao mesmo uma intera-
textos etc.) ção entre o saber e o desenvolvimento
7- Síntese e aplicação: o aluno deve- de suas competências e habilidades que
rá sintetizar toda aprendizagem da lhe possibilitarão o enfretamento de si-
competência e aplicar em situação
similar ou diferente da competência
tuações e desafios de forma a encon-
inicialmente desenvolvida. (KÜLLER, trar a solução adequada com eficiência
2012, p.7) e qualidade que ocorrem não só na sua
vida profissional, mas em sua vida pes-
soal.

37
SONC150: uma experiência formativa no Modelo Pedagógico SENAC

que entendemos por competência.


(KÜLLER; RODRIGO, 2013, p.65)
[...] Isso implica que a prática das
habilidades básicas e das compe- Na mesma linha de definição do
tências devem ser planejadas e termo competência, os Documentos
realizadas de maneira integrada. Técnicos do Modelo Pedagógico SENAC,
Quando são praticadas no contexto
de desenvolvimentos das compe-
apresentam:
tências, as habilidades básicas são
aprendidas de forma mais rápida
e mais fácil. Aprender a conhecer Vista como práxis, o movimento
nunca deve ser separado de apren- para o desenvolvimento da com-
der a fazer. Assim, aprendizagem petência é esse que parte da ação
contextualizadas por uma atividade para, depois de uma reflexão sobre
é a metodologia mais efetiva para ela, a ela retornar de uma nova for-
ensinar as competências essenciais ma. Além de nova, a ação que fina-
necessárias aos cidadãos [...] (MO- liza o processo sempre deve levar
RAIS; KULLER, 2016, p.345) a uma transformação efetiva, tanto
nas condições objetivas de vida e
trabalho como na capacidade de o
trabalhador produzir essa transfor-
Para uma melhor compreensão do
mação [...]. (SENAC/DN, 2015, p.10)
ciclo Ação-Reflexão-Ação mencionado
anteriormente, faz-se necessário que o
docente parta de uma ação inicial com Ou seja, todos os estudos voltados
os seus alunos, instigando-os a construir para a construção do planejamento in-
algo dentro do seu conhecimento da ati- tegrado do curso pela equipe pedagógi-
vidade (conhecimento prévio do assun- ca que privilegie o desenvolvimento de
to), para então realizar, a partir dessa competências são impactantes para o
ação inicial, uma reflexão que pode ocor- aluno e desafiador para o docente, por
rer por meio de estudos dirigidos (texto), adaptar as novas práticas pedagógicas
pesquisa por meio de mídias, bibliotecas diferentes das utilizadas no modelo tra-
e vídeos, para depois disso o aluno po- dicional.
der fazer uma nova ação transformada
(que são os possíveis direcionamentos) Considera-se que a execução de
realizados na primeira ação. Ratificando todos os passos propostos na constru-
o supracitado, assim como afirmam Kül- ção do Projeto Integrador proporciona
ler e Rodrigo em seu livro Metodologia e possibilita não só ao aluno, mas ao
de Desenvolvimento de Competência: docente também, desenvolver compe-
tências, habilidades que supõe-se serem
fundamentais na sua prática, dentre elas
Uma competência implica o de-
destaca-se a prioridade em considerar
sempenho sempre potencialmen-
te criativo e renovado. Para isso, é o conhecimento prévio dos alunos du-
necessária a reflexão constante so- rante o processo de desenvolvimento
bre o trabalho a desenvolver ou o da aprendizagem, desde o início até ao
trabalho desenvolvido. A concepção final das unidades curriculares, com as
do trabalho, a criatividade, o pla-
mínimas interferências possíveis do do-
nejamento e a autonomia no fazer
são características fundamentais do cente nesse caminho da construção da
aprendizagem.

38
Maria Carolina de Jesus Pontes Pereira et. al.

Dentro do modelo proposto pelo nho, que se inicia com um planejamento


SENAC, enxerga-se que o aluno é uma integrado do curso no qual existe a pos-
fonte de conhecimento para toda e qual- sibilidade de definição de Tema Gerador,
quer prática docente. O entendimento e pela equipe pedagógica, e levado para
o discernimento que o aluno traz que desdobramentos e desafios aos alunos.
não está fundamentado só nos livros e
sim na vida, na realidade em que eles vi- Como afirma o material textual
venciam em seu fazer laboral e social é Projeto Integrado do curso Transparên-
um grande passo para a elaboração de cia e Unicidade do SENAC:
uma aprendizagem significativa basea-
da em metodologias ativas.
Os temas geradores devem ser es-
Como afirma Ausubel: critos de forma que possibilitem
diversas abordagens nos mais dife-
rentes contextos. Deles decorrem
problemáticas, desafios e resulta-
[...] o conhecimento é significado dos que são esperados do próprio
por definição. É o produto signifi- Projeto Integrador. Os desafios são
cativo de um processo psicológico questões que contribuem para o
cognitivo (“saber”) que envolve a in- recorte do tema, contextualizam e
terecção entre ideias “logicamente” direcionam o planejamento do Pro-
(culturalmente) significativas, ideias
jeto Integrador [...] (2019, p.11)
anteriores (“ancoradas”) relevantes
da estrutura cognitiva particular do
aprendiz (ou estrutura dos conhe-
cimentos deste) e o “mecanismo” Após o planejamento integrado do
mental do mesmo para aprender de curso para a definição do tema, vem a
forma significativa ou para adquirir segunda etapa, que é a problematiza-
e reter conhecimentos”. (AUSUBEL, ção. Nesta etapa são realizados debates
2003, p.4)
por meio dos quais os alunos levantam
e identificam os problemas decorrentes
de sua interação/desenvolvimentos de
Enfatiza-se que o Modelo Peda-
suas atividades relacionadas aos seus
gógico SENAC leva em consideração os
fazeres laborais/ sociais contemplando
conhecimentos prévios do aluno, fa-
seus saberes prévios associando-os às
zendo-o refletir sobre as suas ações e
atividades desenvolvidas nas unidades
tornando-o literalmente protagonista
curriculares. Levando-os a fundamentar
de seu próprio conhecimento, desenvol-
o conhecimento técnico-cientifico, com
vendo as competências necessárias para
uma visão crítica apurada, que deverá
a atuação na sua área de trabalho. Assim
servir de base às possíveis resolutivas.
como, possibilitando ao docente um le-
que de oportunidades para incrementar
Na sequência da estruturação do
uma prática pedagógica atualizada e em
Projeto Integrador segue-se a etapa do
sintonia com os mais relevantes avanços
Desenvolvimento, no qual é implemen-
na área de educação.
tado todo plano de ação decorrente das
construções verificadas nas atividades
Para a construção de um Projeto
que favorecem a integração das compe-
Integrador é necessário seguir um cami-
tências, o desenvolvimento das respon-

39
SONC150: uma experiência formativa no Modelo Pedagógico SENAC

sabilidades, o protagonismo do aluno, Procedimentos Metodológicos


as avaliações de acordo dos indicadores
da competências, levando-se em consi- A partir de uma aprendizagem ba-
deração todos os elementos de compe- seada em problemas, fomentando me-
tência trabalhados, alinhadas às marcas todologias ativas e significativas apli-
formativas do SENAC, que deverão ser cadas aos alunos dentro do curso de
evidenciadas durante todo o processo Aprendizagem Profissional Comercial
do fazer, havendo necessidade, as ações em Serviços de Supermercado ofereci-
poderão ser replanejadas. do pelo SENAC, foram tomadas algumas
ações em sala de aula voltadas a um
Como última etapa neste método melhor aproveitamento das potenciali-
destaca-se a Síntese que se traduz como dades dos alunos, bem como uma eficaz
a efetiva consolidação/ apresentação de administração do tempo durante o perí-
todas as etapas anteriores que foram odo do curso na instituição formadora.
trabalhadas com os alunos e por meio
das quais faz-se passível a verificação/ A partir daí, deu-se início a um de-
eficácia de todos os processos metodo- bate com todos os alunos da turma por
lógicos elencados, bem como a reflexão meio do qual foi proposto um tema ge-
acerca dos resultados. Este momento rador, apresentado aos alunos para que
permite a constatação se todos os pas- eles avaliassem de acordo com a saída
sos do processo foram devidamente se- formativa, tema esse que serviria como
guidos, possibilitando uma ressignifica- norteador para que fosse possível a
ção por parte dos alunos de seu próprio identificação da problematização a ser
agir a partir da ação inicial, ampliando trabalhada.
seu entendimento sobre seu fazer pro-
fissional. Em seguida, os alunos com base
em suas experiências prévias, de forma
É importante sempre ter em con- colaborativa, fizeram um levantamen-
sideração que o mais relevante dentro to acerca dos entraves identificados na
desta metodologia adotada está direta- construção de todo processo teoria-prá-
mente ligado ao processo em si e não tica. Na medida em que iam ocorrendo
necessariamente a um produto, uma vez as discussões, eles foram se aproprian-
que é nesta etapa que também são apli- do das informações que serviriam como
cadas as relevantes e metódicas ações base para a resolução das problematiza-
de avaliação de todos os elementos e ções apontadas.
agentes envolvidos desde o planejamen-
to até a solução encontrada como refle- Tendo como referência o terceiro
xão/desfecho da articulação envolvendo perfil de saída de formação cuja ocupa-
a aprendizagem adquirida concomitan- ção é Operador de supermercado/Repo-
temente às experiências vivenciadas em sitor, que teve como proposta de tema
ambientes laboral e social. gerador a reposição de mercadorias e
produtos no ponto de venda, os alunos,
assim identificaram as problematizações
levantadas e ressaltaram os seguintes
pontos: a perda de tempo na localiza-

40
Maria Carolina de Jesus Pontes Pereira et. al.

ção dos produtos em seus respectivos te ao marketing de varejo a busca pela


setores com eficiência; a dificuldade dos inovação e flexibilização de acordo com
clientes em identificar os componentes as necessidades do público-alvo, para
nos rótulos dos referidos produtos; o que assim a empresa se estabeleça e
não cumprimento legal no tocante à de- prospere.
vida identificação dos nutrientes cons-
tantes e descritos em cada produto. O SONC150 foi desenvolvido por
meio de avaliações e constantes pesqui-
Como resposta às questões levan- sas sobre as necessidades do forneci-
tadas, os alunos desenvolveram o siste- mento de informações precisas sobre os
ma SONC150 com vistas à orientação e valores nutricionais para que os clientes,
auxílio ao cliente que tenha algum tipo mapeados nestes levantamentos a par-
de dúvida sobre produtos e mercado- tir da identificação de seus respectivos
rias. Este serviço tecnológico pode ser comprometimentos de saúde, pudes-
implantado em um Toten e/ou em Com- sem prevenir possíveis novas doenças
putador, o qual disponibilizará infor- ou seu agravamento, quando já existen-
mações de suma relevância ao cliente, tes, em decorrência dessa desinforma-
maximizando sua percepção acerca da ção advinda da rotulagem dos produtos.
qualidade dos serviços prestados e a
uma facilitação quanto à fidelização des- Como é relatado no Plano de Ações
tes consumidores. Estratégicas para o enfrentamento das
Doenças Crônicas Não Transmissíveis
Por meio deste sistema será possí- (DCNT) no Brasil 2011-2022:
vel o acesso a informações nutricionais,
bem como o mapeamento por meio da
identificação do cliente de acordo com As doenças crônicas não transmissí-
os seguintes perfis: diabético; hiperten- veis constituem o problema de saú-
de de maior magnitude e correspon-
so; intolerante à lactose; intolerante à dem a 72% das causas de mortes. As
soja; obeso e intolerante a glúten. Além DCNT atingem fortemente camadas
disso, permite englobar outros aspectos, pobres da população e grupos vul-
a saber: responsabilidade socioambien- neráveis. Em 2007, a taxa de mor-
tal; valor; preço; benefícios; característi- talidade por DCNT no Brasil foi de
540 óbitos por 100 mil habitantes
cas e marcas cujos atributos propiciam (BRASIL, Ministério da Saúde, 2011.
sua validação e priorização. p.11).

Assim como registrou Lee e Zua-


netti (2014, p.12), “Podemos dizer que a Outrossim, o sistema SONC150
qualidade de um produto ou de um ser- também está habilitado para facilitar a
viço é medida pelo conjunto de caracte- localização com mais precisão e rapidez
rísticas capazes de atender às necessi- dos produtos nos corredores, gôndolas
dades implícitas e explícitas do cliente”. e suas respectivas prateleiras.
A gestão da qualidade em produtos e
serviços é a base da competitividade e
está diretamente ligada à sobrevivência
e ao sucesso das Organizações. Compe-

41
SONC150: uma experiência formativa no Modelo Pedagógico SENAC

Resultados Conclusão

Durante toda construção do proje- Após as experiências nas atividades


to integrador, percebeu-se claramente e estudos proporcionados pelos alunos
nos alunos um desenvolvimento relativo e desenvolvidos na prática do Projeto
à apropriação do conhecimento técnico- Integrador SONC150, pôde-se concluir
-científico mais apurado e significativo que é possível vivenciar-se, enquanto
em sua aprendizagem, além das dinâ- docente, um método diferente e cons-
micas de refazer as atividades e a auto trutivo no ensino profissionalizante que
avaliação que os impulsionou a buscar permite não só ao aluno um crescimen-
autonomia, integração e o espírito de to pessoal e profissional, como também
equipe. ao docente por meio do ciclo ação-refle-
xão-ação viabilizando a construção do
Dessa forma, quando surgiam al- saber e a valorização do ser.
gumas dificuldades de compreensão do
que fazer e divergências de ideias em to- Trabalhar, inicialmente, com o Mo-
das as etapas do projeto, essas situações delo Pedagógico SENAC apresentou-se
exigiram deles intensa atitude colabora- como fator desafiante para o docente
tiva no intuito de serem resolvidas as di- pela necessidade de ter que adaptar a
ficuldades, fazendo uso de senso crítico sua práxis a um novo caminhar pedagó-
aguçado, considerando com proprieda- gico com significação. Após cada etapa
de as ideias expostas mais relevantes, da construção do PI, foi gerado um mo-
tornando assim a turma motivada e sa- mento de reflexão para uma nova ação
tisfeita com cada resultado apresentado. metodológica, o que evidenciou, de fato,
que o papel do docente não é apenas
E pensando nos vastos campos de ministrar aulas ou privar o aluno de seu
atuação da Educação e em consonância protagonismo prático, e sim a função de
aos seus quatro pilares, a saber: “apren- acompanhar, propor e coordenar as si-
der a fazer”, “aprender a conhecer”, tuações de aprendizagem que resultem
“aprender a viver” e “aprender a ser” uti- em seu desenvolvimento de competên-
lizados como fundamento da educação cias.
de acordo com o descrito no Relatório
da UNESCO, idealizado pela Comissão Também se faz necessária a utiliza-
Internacional sobre Educação para o ção de métodos inovadores, interativos
Século XXI, coordenada por Jacques De- em seu planejamento e sempre levan-
lors, ressalta-se que, em cada etapa do do em consideração, na construção do
projeto integrador, ficou evidenciada, na conhecimento do aluno, seus saberes
essência das atitudes dos alunos, a aqui- prévios, mobilizando o desenvolvimen-
sição das marcas formativas do SENAC, to de uma aprendizagem significativa e
como também a possibilidade de um consequentemente uma realização pro-
aprender a fazer de forma significativa fissional de todos os agentes envolvidos
com a prática enfatizada nas suas neces- nesse processo. Vale ressaltar que a ava-
sidades e suas vivências. liação de desempenho dos alunos, ado-
tada durante o processo de aprendiza-
gem, não foi estabelecida apenas como

42
Maria Carolina de Jesus Pontes Pereira et. al.

destino final, pois ela é processual na Significativa. 2011. (Online). Disponível


execução do plano de trabalho docente, em: <https://novaescola.org.br/
dentro de uma perspectiva de avaliação conteudo/262/david-ausubel-e-a-
diagnóstica, formativa e somativa. aprendizagem-significativa>. Acesso em:
03 jun. 2019.
Portanto, foi necessário estabele- BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria
cer critérios avaliativos diante da finali- de Vigilância em Saúde. Departamento
dade do desenvolvimento das compe- e Análise de Situação de Saúde. 2011
tências embasadas nos indicadores de (Online). Disponível em<http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_
aprendizagem a serem desenvolvidos
acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf>. Acesso
no aluno. A partir dos resultados obser- em: 29 maio 2019.
vados, ficou evidente que os alunos con-
seguiram, neste PI, por meio da metodo- BUROCHOVICIUS, Eli & TORTELLA,
Jussara Cristina Barbosa. Aprendizagem
logia utilizada, alcançar a proposta.
Baseada em Problemas: um método de
ensino-aprendizagem e suas práticas
O Modelo Pedagógico SENAC pode educativas. 2014. (Online).   Disponível
trazer um novo olhar educacional na em: <http://www.scielo.br/pdf/ensaio/
vida profissional dos envolvidos, pro- v22n83/a02v22n83.pdf >. Acesso em: 29
porcionando transformações muito po- maio 2019.
sitivas e enriquecedoras em sua ação CASEMIRO, Luciana; LUQUES, Ione.
laboral, possibilitando uma autoanálise Mais de 60% dos rótulos de alimentos
constante, salientando-se que a fun- no Rio têm problemas de informação.
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constantemente a aquisição de conheci- globo.com/economia/defesa-do-
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aprendizagem significativa, formando e de-alimentos-no-rio-tem-problemas-de-
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trazendo para o mercado de trabalho maio 2019.
profissionais que solucionem proble-
mas, resolvam conflitos e criem novas DELORS, Jacques (org.). Educação: um
formas de fazer. tesouro a descobrir – Relatório para
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2012. (Online) Disponível em: <http://
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Acesso em: 14 jun. 2019.
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43
SONC150: uma experiência formativa no Modelo Pedagógico SENAC

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ZUANETTI, Rose; LEE, Renato. Qualidade
em prestação de serviços. Rio de
Janeiro: SENAC, 2014. 112 p.

44
Maria Carolina de Jesus Pontes Pereira et. al.

45
AR
TI
GO.

ENTRE MÁSCARAS, LUVAS, TOUCAS E PELOS:


UMA EXPERIÊNCIA DO CURSO DE DEPILADOR DA
UNIDADE DE IMAGEM PESSOAL DO SENAC- RECIFE
Roseane Silva de Souza
Christiana Santoro
Eliane Cristina Ferreira da Silva Pereira
Silvio Ferreira Passos Gonçalves

Introdução tegrador abordando a temática: “Bios-


segurança na área de depilação”. Nosso
A Lei Federal nº 12.592/20121, pro- objetivo é descrever o Projeto Integra-
mulgada em 18 de janeiro de 2012 re- dor enquanto Metodologia de Projetos
conhece e regulamenta as atividades desenvolvida pelo Senac, bem como,
profissionais de diversos trabalhadores apresentar a experiência vivenciada no
da área de beleza, entre eles, o Depila- curso de Depilador da Unidade de Ima-
dor. Esta Lei, além de reconhecer essa gem Pessoal do Senac Recife-PE, a partir
profissão, também impõe normas para da análise dos depoimentos e das fon-
exercê-la. Com base na proposta do tes produzidas pelos estudantes (depoi-
Modelo Pedagógico Senac, a formação mentos, vídeo, cartilha, banner).
desse profissional requer um ensino de
qualidade, que lhe confira competências Nessa perspectiva, abordaremos
específicas na realização de suas ativida- uma experiência em que evidenciamos
des, que desenvolva um fazer observá- os Projetos Integradores como ferra-
vel, potencialmente criativo, que articula menta de desenvolvimento pedagó-
conhecimentos, habilidades, atitudes e gico que visam propiciar experiências
valores, permitindo sempre um desen- de aprendizagem que se sustentam no
volvimento contínuo, tendo em vista as “aprender fazendo” e no diálogo entre a
constantes transformações do mundo sala de aula e a realidade do mundo do
do trabalho. trabalho.

Este artigo consiste em um relato


de experiência da instrutora Eliane Sil- Referencial Teórico
va, do Curso de Depilador da Unidade
de Imagem Pessoal do Senac Recife-PE, Segundo Garcia (2000), a formação
que aconteceu no período de agosto a do trabalhador no Brasil é marcada com
outubro de 2016, com o intuito de socia- o “estigma da servidão”, pois os primei-
lizar a prática pedagógica desenvolvida ros aprendizes de ofício foram os índios
pelos estudantes através do Projeto In- e escravos, o que pode ter facilitado a

46 1
Lei Federal nº 12.592/2012 disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12592.htm, acesso em 27/06/2017.
Roseane Silva de Souza et. al.

construção social dessa imagem distor- Garcia (2000) ressalta que mesmo
cida, “[...] habituou-se o povo de nossa com a fundação do Império, datada no
terra a ver aquela forma de ensino como ano 1822 e a Assembleia Constituinte
destinada somente a elementos das de 1823, não houve nenhum avanço re-
mais baixas categorias sociais”. (FONSE- lacionado ao entendimento do que se
CA, 1961 apud GARCIA, 2000). pensava sobre o ensino de ofício. Havia
ainda o pensamento que esse ofício de-
Foi devido a descoberta de ouro veria ser designado só para as pessoas
em Minas Gerais, que surgiram as casas “humildes, pobres e desvalidos”. Com o
de Fundição e de Moedas, e, por conse- fim da escravidão e o advento da procla-
guinte, houve a necessidade do ensino mação da República é que surgiu uma
de ofício de aprendizes para nelas tra- perspectiva de mudança no modo como
balharem. Entretanto, havia diferenças era visto o ensino de ofício. Nesse perí-
entre a aprendizagem desenvolvida nas odo, no governo de Nilo Peçanha, foram
casas de Moeda em relação a que era criadas em todas as capitais do País es-
realizada nos engenhos, pois, só os ho- colas profissionalizantes, pois era neces-
mens brancos, filhos dos empregados sário melhorar a mão-de-obra, ou seja,
das casas de Moeda, tinham acesso a qualificar trabalhadores para o mercado
aprendizagem que ali se desenvolvia. de trabalho.

Outro diferencial era que os ho- Considerando esses aspectos, este


mens dos engenhos “faziam-no de forma texto traz um relato de experiência do
assistemática e não precisaram provar o curso profissionalizante de depilador
seu conhecimento prático por meio de desenvolvido no Serviço Nacional do
exame” (GARCIA, 2000, p. 1). Enquanto Comércio - Senac, Unidade Recife, no Es-
que, os das casas de Moeda, suas habi- tado de Pernambuco-Brasil, e tem dois
lidades eram avaliadas por uma equipe objetivos, sendo: a) descrever o projeto
de avaliadores e, que sendo aprovados integrador enquanto metodologia de-
pelos mesmos, recebiam um certificado senvolvida pelo Senac e aplicada por do-
de aprovação. centes que ministram cursos profissio-
nalizantes na instituição; e b) apresentar
A autora diz ainda que no ano de uma experiência ocorrida no interior da
1808, D. João VI cria um colégio de fábri- Unidade de Imagem Pessoal, especial-
ca. Esse fato ocorre devido a abertura mente no curso de depilador, a partir da
dos portos ao comércio estrangeiro e, análise das fontes: vídeo, banner, depoi-
simultaneamente, a permissão da insta- mentos e cartilha produzida pelos estu-
lação de fábricas que antes eram proibi- dantes do referido curso.
das no País. Esse colégio foi o primeiro a
ser instalado no Brasil pelo poder públi- A partir desses objetivos, este rela-
co com objetivo de atender a educação to resguarda um razoável valor para o
dos artistas e aprendizes que vieram de estado da arte no que se refere às ino-
Portugal. vações no campo educacional profis-
sionalizante, porque permitirá ao leitor

47
ENTRE MÁSCARAS, LUVAS, TOUCAS E PELOS: Uma Experiência do Curso de Depilador da Unidade de Imagem Pessoal do Senac- Recife

compreender a estrutura do Modelo Pe- Além disso, outras fontes também


dagógico Senac - MPS, iniciado em 2013 compõem o corpus documental para a
e que vem sendo aplicado em todas as contextualização da situação problema
unidades regionais dessa instituição. A e a análise propriamente dita da expe-
socialização e as reflexões daí subtra- riência objeto deste trabalho, como ví-
ídas, também podem servir de inspira- deos produzidos pelo Departamento de
ção para entidades e profissionais preo- Comunicação do Senac no Encontro Pe-
cupados com a formação humana a ser dagógico 2017, evento realizado no perí-
almejada quando diante das exigências odo de 01 a 16 de fevereiro de 2017, que
do mercado ou das demandas da atual tratam de depoimentos de docentes
sociedade de consumo. sobre o Modelo Pedagógico aplicado, e
o material (slides, cartilha, banner) que
É importante registrar que não serviu de apresentação dos estudantes
somos os personagens que viveram a em outro suporte de comunicação aca-
experiência objeto deste relato, comu- dêmico-científica.
mente o que se espera da autoria deste
gênero textual e acadêmico. Entretanto, Então, estamos diante de uma aná-
o que nos autoriza a relatar é o fato da lise documental bastante significativa,
nossa participação na instituição Senac, o que corrobora com o que Aróstegui
enquanto membros da equipe pedagó- (2006) chama de “adequação das fon-
gica subordinada, até certo ponto, aos tes”, por considerar a abundância de
parâmetros expostos na política do De- material que permite um número razo-
partamento Nacional, com sede no esta- ável de respostas a serem ditas acerca
do do Rio de Janeiro. dos problemas investigados, como é o
caso aqui descrito por utilizarmos uma
De qualquer modo, para efeito de variedade de fontes das mais diversifica-
um trabalho científico, resguardaremos das tipologias.
o devido distanciamento a partir da aná-
lise documental tão necessária ao meio Para além da análise documental
acadêmico. embasada em Aróstegui (2006) que se
preocupa, inclusive, com a autenticida-
Contudo, esperamos poder contri- de e a história das próprias fontes, nos
buir com algumas reflexões acerca do valemos também de Pisnky (2015) ao
campo profissional que lida com a ima- verificar a importância da contextuali-
gem pessoal, a partir do Modelo Peda- zação quando da coleta das fontes pelo
gógico desenvolvido pelo Senac, docu- pesquisador, o que requer uma análise
mentos publicados sobre os princípios sempre crítica, porque em sua perspec-
norteadores que regem os processos de tiva, “documento algum é neutro, e sem-
formação para o trabalho nessa institui- pre carrega consigo a opinião da pessoa
ção de educação profissional, e por meio e/ou do órgão que o escreveu”. (PINSKY,
do depoimento concedido pela instru- 2015, p. 63).
tora Eliane Silva do curso de depilador,
na elaboração e na execução do Projeto Entretanto, cabe registrar que es-
Integrador, enquanto atividade pedagó- tamos diante de uma farta documen-
gica. tação institucional, gentilmente cedida

48
Roseane Silva de Souza et. al.

pelo Senac-Recife para efeito deste arti- Considerações sobre o Modelo Pedagógico
go, e embora o discurso institucional já do Senac – MPS
esteja explicito nas fontes, caberá sem-
pre uma análise mais apropriada para a Todos os níveis e processos educa-
compreensão da dinâmica social ali de- cionais preocupam uma faixa conside-
senvolvida, o que somente será possível rável de pesquisadores atentos a uma
mediante um arcabouço teórico que dê formação do indivíduo condizente com
conta de entender o campo em que se o que se espera da sociedade, seja na
inscreve os principais argumentos deste perspectiva da mera transmissão de co-
trabalho. nhecimento, seja uma formação mais
humana.
De qualquer modo, ainda cabe as
observações de Pinsky (2015) ao veri- Brandão (2002) compreende que
ficar os tipos e condições de arquivos a educação é inevitável, e acontece em
disponíveis numa determinada investi- vários momentos e lugares da vida co-
gação, como arquivos eclesiásticos, car- tidiana. Para o autor, “a educação pode
toriais, públicos e privados, como é este existir livre e, entre todos, pode ser uma
o caso, em que entidades privadas não das maneiras que as pessoas criam para
costumam arquivar sua “memória”. En- tornar comum, como saber, como ideia,
tretanto, trata-se aqui do contrário, de como crença, aquilo que é comunitário,
uma entidade que arquiva e submete como bem, como trabalho ou como
seus arquivos ao crivo acadêmico-cien- vida”. (BRANDÃO, 2002, p. 10).
tífico para contribuir com a socialização
de seus feitos, bem como das condições De qualquer maneira, as socieda-
de produção de seus atores. des criam formas e sistematizam “o fa-
zer” a educação e em como educar seus
Feitas essas considerações iniciais, membros, orientando-os num sentido
faremos uma descrição do Modelo Pe- bem próprios de suas necessidades.
dagógico Senac, para verificar a estrutu- Considerando o pensamento do autor,
ra filosófica e sociológica que possibili- sem a educação não há possibilidade de
tou o êxito da experiência de um curso existência humana. A vida é educação! A
de formação profissional na Unidade de educação sustenta as ligações humanas,
Imagem Pessoal, e para suporte teórico tudo aquilo feito pelo ser humano em
traremos autores como Brandão (2002), suas necessidades cotidianas.
Freire (1996) e Küller e Rodrigo (2013)
por compreendermos que o Senac, en-
quanto instituição que atua no campo [...] os códigos sociais de conduta,
as regras do trabalho, os segredos
educacional, vem interferindo e ressigni- da arte ou da religião, do artesana-
ficando a formação técnica, tornando-a to ou da tecnologia que qualquer
inovadora e mais humanizada. povo precisa para reinventar, todos
os dias, a vida do grupo e de cada
um de seus sujeitos, através de tro-
cas sem fim com a natureza e entre
os homens, trocas que existem den-
tro do mundo social onde a própria
educação habita [...]. A educação

49
ENTRE MÁSCARAS, LUVAS, TOUCAS E PELOS: Uma Experiência do Curso de Depilador da Unidade de Imagem Pessoal do Senac- Recife

participa do processo de crenças e Essa ideia de pensar o aluno como


ideias, de qualificações e especiali- agente de mudança é fundamental para
dades [...]. (BRANDÃO, 2002. p. 10-
11).
atribuir responsabilidade ao indivíduo
no sentido de compreender-se como
sujeito da sua própria história. Mas pen-
Considerando a fala de Brandão sar o aluno, futuro profissional dessa
(2002), em toda a parte, há instituições maneira, é ter institucionalmente uma
que buscam materializar as formas para análise estratégica de que o mundo do
atendimentos das necessidades sociais trabalho exige algumas competências
a partir da educação, ou maneiras espe- necessárias não só as especificidades
cializadas de educar para o trabalho, por técnicas, mas “domínio técnico científi-
exemplo. Assim, criado em 1946, o Senac co”, “visão crítica”, “atitude empreende-
possui uma rede consolidada de escolas dora, sustentável e colaborativa” com
espalhadas pelo Brasil. Enquanto insti- foco em resultados. Essas características
tuição de educação profissional, sempre o Senac denomina de “Marcas Formati-
teve a preocupação de atribuir unicida- vas” que durante o processo de forma-
de nos conteúdos que preparam os indi- ção nos seus cursos a instituição procu-
víduos para o mercado de trabalho, bem ra desenvolvê-las nos seus alunos para
como os princípios norteadores de uma que possuam marcas imprescindíveis,
política educacional que valorizasse as inclusive, enquanto egresso da própria
diversas dimensões humanas. escola Senac.

Os marcos legais que alicerçam o Nesse sentido, a inovação peda-


Modelo Pedagógico da instituição, es- gógica requer vigilância constante dos
tão em consonância com as Diretrizes agentes formadores da instituição, na
Curriculares Nacionais para a Educação medida em que precisam elaborar for-
Profissional, e por isso “o Senac tem in- mas diversificadas no contexto do en-
vestido esforços no sentido de viabilizar sino-aprendizagem profissionalizante.
e promover um processo de ensino e Não basta simplesmente inventar mode-
aprendizagem centrado no desenvolvi- lo novo, mas se apropriar de ferramen-
mento de competências e na plena for- tas que, intrinsecamente promovam a
mação do aluno, quem considera como mudança. Logo, a metodologia de pro-
agente de mudanças educativas”. (SE- jetos constitui uma dessa ferramentas
NAC, 2015a, p. 5). ressignificadas pela metodologia do Se-
nac, para atender aos desafios de edu-
O Senac desde 2000 vem promo- car para o trabalho ou educação profis-
vendo aprendizagem que possibilite o sionalizante.
desenvolvimento de competência em
seus cursos profissionalizantes. Sendo No Senac, o uso da Metodologia
definida pelo Senac como “ação/fazer de Projetos se dá mediante a elabora-
profissional observável, potencialmen- ção e execução do Projeto Integrador.
te criativo, que articula conhecimentos, “O Projeto Integrador, na perspectiva da
habilidades, atitudes e valores e permi- instituição, visa propiciar experiências
te desenvolvimento contínuo” (SENAC, de aprendizagem que se sustentem no
2015b, p.12). “aprender fazendo” e no diálogo entre

50
Roseane Silva de Souza et. al.

sala de aula e a realidade do mundo do res críticos; superando, assim, os efeitos


trabalho” (SENAC, 2015b, p.10). negativos do ensinar falso.

O Senac defende que o Projeto In-


tegrador é um instrumento importan- Uma competência implica desempe-
nho sempre potencializado, criativo,
te para a articulação de competências,
renovado. Para isso, é necessário a
bem como espaço em que as marcas reflexão constante sobre trabalho
formativas possam ser desenvolvidas e a desenvolver ou trabalho desen-
em especial, desenvolver o “Perfil Profis- volvido. A concepção do trabalho, a
sional”. criatividade, o planejamento e a au-
tonomia no fazer são característica
fundamentais do que entendemos
Considerando esses aspectos, se- por competência. (KÜLLER; RODRI-
gundo Küller e Rodrigo (2013), a educa- GO, 2013, p.65).
ção profissional que tem como base o
desenvolvimento de competência, colo-
ca em questão a pedagogia tradicional Pensar em desenvolver competên-
a qual centraliza a transmissão do co- cia é estar sempre avaliando a práxis, é
nhecimento e as formas prontas do fa- estar em constante movimento de ação-
zer pedagógico. Portanto, os docentes -reflexão-ação. Este movimento permite
precisam reavaliar suas práticas, dentro que o docente reflita o planejamento e a
dos padrões que foram estabelecidos prática a ser desenvolvida na educação
para reproduzir modelos educacionais profissional bem como em toda área
que são vivenciados nas instituições es- educacional que atue. Os educadores
colares, bem como nas empresas. Esta devem refletir criticamente sua prática,
reavaliação também é necessária para analisando os conteúdos trabalhados
os docentes que estão inseridos numa e as formas como eles são trabalhados
perspectiva construtivista. com os educandos. O educador tem que
refletir sobre sua prática de ensino, ana-
O educador deve ter consciência lisar se sua forma de educar está contri-
de que ensinar não é transferir conheci- buindo para o aprendizado do educan-
mento, e sim possibilitar a sua constru- do.
ção. Ele deve trabalhar maneiras, cami-
nhos e métodos de ensinar, para que o Esse movimento de ação-reflexão-
educando seja capaz de recriar o que lhe -ação promove uma prática pedagógica
foi ensinado, pois não existe ensino sem significativa, contextualizada, favorecen-
aprendizado. A prática docente deve ser do o desenvolvimento da criticidade, da
a do pensar certo, pensar criticamente e criatividade e da autonomia do educan-
o educando deve aprender criticamente, do. Nessa perspectiva, os educandos
tornar-se protagonista do processo de tornam-se sujeitos críticos, criativos,
ensino-aprendizagem. Apesar dos mes- ativos, autônomos, construtores do seu
mos estarem submetidos, sujeitados próprio conhecimento e conscientes do
ao ensino bancário, eles devem romper seu papel na sociedade. Cabe ao educa-
com essa dominação e serem sujeitos dor reforçar nos educandos, sua capaci-
investigadores do ato de conhecer, revo- dade crítica, curiosidade epistemológica
lucionários, desafiadores, investigado- e ajuda-los a conscientizar-se que eles

51
ENTRE MÁSCARAS, LUVAS, TOUCAS E PELOS: Uma Experiência do Curso de Depilador da Unidade de Imagem Pessoal do Senac- Recife

são sujeitos da construção do conheci- para o planejamento das ações a atin-


mento e da reconstrução do saber, que é gir o objetivo proposto, em busca das
fundamental conhecer o conhecimento possíveis respostas. Em seguida, se fez
que existe e que são capazes, também, uma síntese do projeto para avaliar os
de construir conhecimento e intervir no conhecimentos prévios dos estudantes,
mundo. bem como os adquiridos no curso, os
procedimentos utilizados e as atitudes
Küller e Rodrigo (2013) dizem ainda que deveriam ser incorporadas à forma-
que o desenvolvimento das competên- ção profissional.
cias não se esgota, as possibilidades do
seu desenvolvimento são permanentes Por meio do Projeto Integrador, o
e, mesmo um indivíduo sendo mestre fazer pedagógico ocorre de maneira ino-
em seu ofício, faz-se necessário sempre vadora e dinâmica, onde os alunos as-
estar atualizado, sempre aprendendo sumem o papel de pesquisador e cons-
mais da área em que atua. Essa ideia trutor do conhecimento; sujeitos ativos,
também encontra respaldo em Freire autônomos.
(1996) quando diz que “não há ensino
sem pesquisa e pesquisa sem ensino” Nessa perspectiva, há uma quebra
(FREIRE, 1996, p. 32). Logo, é fundamen- de paradigma, pois rompe com o mode-
tal que todo educador independente- lo de educação tradicional. “[...] de que o
mente da área que atua esteja sempre educador é o sujeito, conduz os educan-
pesquisando, renovando os seus conhe- dos à memorização mecânica do conte-
cimentos, se mantendo sempre atualiza- údo narrado”. (FREIRE, 2005, p.66). Edu-
do. cação onde os docentes são o centro do
processo de ensino aprendizagem e os
educandos meros recipientes onde os
Metodologia
conteúdos são depositados.
Este relato diz respeito ao curso
Contrariando o paradigma tradi-
de depilador ministrado na Unidade de
cional, o Projeto Integrador do Senac, se
Imagem Pessoal do Senac-Recife, por
alimenta das reflexões de Freire ao afir-
meio do Projeto Integrador executado
mar que “ensinar não é transferir conhe-
pelos alunos do referido curso sob a
cimento” (FREIRE, 2005, p. 58), mas criar
orientação da instrutora Eliane Silva.
possibilidade para sua construção. Ele
deve permitir que o aluno seja um sujei-
O tema/assunto escolhido foi a
to autônomo, que possa fazer suas esco-
“Biossegurança nos Processos de Traba-
lhas, ter liberdade de escolher o melhor
lho do Depilador”, e teve como objetivo:
caminho para sua aprendizagem. O edu-
sensibilizar os alunos e os profissionais
cador deve ser sensato, estar aberto às
da área de depilação sobre a importân-
mudanças e aceitar as diferenças.
cia da biossegurança dentro do espaço
de trabalho.
Constatamos que o Projeto Integra-
dor desenvolvido pelo Senac e aplicado
A partir desse tema, foram levan-
pelos seus docentes, privilegia a apren-
tadas as questões a serem discutidas
dizagem significativa, contextualizada,

52
Roseane Silva de Souza et. al.

promovendo a articulação das compe- cia a própria Unidade Curricular (UC).


tências e seu desenvolvimento, bem
como a visualização das marcas formati- O Projeto Integrador do curso de
vas que a instituição procura deixar nos depilador foi realizado no período de
alunos, futuros profissionais. agosto a outubro do ano de 2016 e teve
a duração de 16 horas-aulas distribuídas
As questões trabalhadas a partir dentro das unidades curriculares. Para
da escolha do tema, tem relação direta seu desenvolvimento, foi necessário a
com o mundo do trabalho dos educan- escolha de uma temática, em que a ins-
dos. Dessa forma, o Projeto Integrador trutora do referido curso Eliane Silva,
visa promover experiências de aprendi- solicitou aos estudantes que sugerissem
zagem no “aprender fazendo”, por isso algo que fosse relevante para a profis-
é necessário um diálogo entre a sala de são. Após debate, foi decidido que o Pro-
aula e a realidade que o aluno vivencia- jeto Integrador desenvolvesse a seguinte
rá como profissional, ou seja, o próprio temática: Biossegurança nos Processos
mercado de trabalho. de Trabalho do Profissional Depilador.

De acordo com o Plano de Curso A partir da temática escolhida foi


Depilador 2, o curso de depilador forma preciso levantar uma problemática, ele-
um perfil profissional de conclusão, um mento fundamental para que o Projeto
profissional que realiza procedimentos Integrador fosse desenvolvido e tivesse
de depilação da face e do corpo em di- impacto na formação do Depilador. A
versos tipos de públicos, considerando questão a ser trabalhada foi: O alto nível
as características, necessidades e pre- de infecção por vírus e bactérias. Devi-
ferências do cliente. Desempenha suas do ao conhecimento dos alunos acerca
atividades como prestador de serviços, de vários casos de pessoas que foram
autônomo ou empregado, em salões infectadas por meio de procedimentos
e institutos de beleza, spas, clínicas de de depilação, a problemática escolhida
estética, hotéis, cruzeiros marítimos, teve como objetivo sensibilizar os pro-
clubes, academias e em domicílio. Esse fissionais da área de depilação sobre a
profissional atende clientes, realiza Biossegurança dentro dos espaços de
procedimentos de higienização e pre- trabalho.
paração da pele, aplicando técnicas de
depilação e depilação artística, relacio- Em busca de respostas às questões
nando-se ainda com fornecedores e levantadas, os alunos optaram como
demais profissionais de beleza. O curso metodologia a pesquisa bibliográfica
possui uma carga horária de 160 horas, e a pesquisa de campo. Para pesquisa
distribuídas em 2 Unidades Curriculares bibliográfica, os alunos consultaram o
(UC 1 e UC 2) e uma Unidade Curricular acervo de bibliotecas de faculdades e si-
Projeto Integrador (UC PI). tes de pesquisa. Já na pesquisa empírica,
foram feitas visitas técnicas em espaço
O Modelo Pedagógico Nacional do de depilação. Apesar da carência de bi-
Senac traz a competência para o ponto bliografia sobre a área de depilação, os
central do currículo dos cursos de Quali- alunos fizeram uma revisão bibliográfi-
ficação Profissional, sendo a competên- ca. E deste conhecimento adquirido, os

2
SENAC. DN. Plano de curso: depilador. Rio de Janeiro, 2015. 21 p. Eixo tecnológico: Ambiente e Saúde. Segmento: Beleza. 53
ENTRE MÁSCARAS, LUVAS, TOUCAS E PELOS: Uma Experiência do Curso de Depilador da Unidade de Imagem Pessoal do Senac- Recife

alunos selecionaram algumas questões alunos tiveram a ideia de elaborar uma


e pontos relevantes para área, tais como: cartilha e um banner para que fossem
apresentados.

A cartilha foi um produto pedagó-


1. Como eram realizados os procedi-
gico desenvolvido após a discussão pro-
mentos de depilação nos espaços
vocada em sala de aula, como forma de
especializados?
registro, onde sua diagramação, confec-
2. O material utilizado estava sendo
ção e elaboração se deu por iniciativa
descartado de maneira correta?
dos próprios alunos do curso de depila-
3. Se os profissionais utilizavam ma-
dor sob a orientação da Instrutora Elia-
teriais de proteção individual? e
ne Silva, com o tema “Biossegurança na
4. Os materiais usados nos procedi-
Área de Depilação” (Fotos 1 e 2). Surgiu
mentos de depilação eram esterili-
da necessidade de fornecer informações
zados de maneira adequada?
relevantes sobre “Biossegurança na Área
de Depilação”, bem como alertar os pro-
fissionais da área e demais alunos sobre
Esses pontos elencados serviram
os riscos a que estão expostos. Desta
de embasamento para elaboração de
forma, abordou-se informações básicas
um questionário, que orientou a pesqui-
desde a História da Depilação, conceito
sa de campo, ou seja, as visitas técnicas
de Biossegurança, uso dos Equipamen-
nos espaços de depilação.
tos de Proteção Individual – EPI’s na ro-
tina profissional do depilador e riscos
Durante as visitas técnicas, os alu-
ocupacionais, assim como os processos
nos constataram que alguns espaços vi-
de esterilização dos instrumentos utili-
sitados e os procedimentos de depilação
zados e o manuseio dos mesmos, visan-
eram realizados de maneira inadequa-
do uma maior segurança tanto para o
da, não respeitando as normas de Bios-
profissional quanto para o cliente, tendo
segurança estabelecidas pela vigilância
em vista a preocupação com os riscos
sanitária. Mediante o que foi constatado
de transmissões por agentes infecciosos
em campo, os alunos elaboraram um
nos espaços de depilação.
relatório e socializaram o conhecimento
em sala de aula.

Entretanto, os alunos gostariam


que o conhecimento adquirido durante
o processo de desenvolvimento do Pro-
jeto Integrador fosse registrado e sociali-
zado com outros alunos e demais profis-
sionais da área de depilação para que os
mesmos tivessem conhecimento sobre
a Biossegurança e, consequentemente
fossem sensibilizados sobre a impor-
tância do seu uso nos espaços de traba- Fotos 1 e 2 – Capa e índice da cartilha “Biossegurança na área de depilação”

lho do depilador. Nessa perspectiva, os

54
Roseane Silva de Souza et. al.

Entendemos que a proposta do O envolvimento dos alunos nesta


Projeto Integrador apresentado pelos Metodologia de Projetos, por meio do
alunos, além de sua relevância, justifi- Projeto Integrador em Biossegurança na
ca-se o tema “Biossegurança”, devido a área de depilação, fundamenta as pro-
possibilidade de se contrair infecções, postas do Modelo Pedagógico Senac, re-
pela manipulação inadequada de arti- fletidos no reforço das marcas formati-
gos habitualmente usados no processo vas, que buscam formar um profissional
depilatório que podem colocar em risco com domínio técnico científico, que seja
todos os envolvidos neste fazer. crítico, tenha atitudes empreendedoras,
sustentáveis e colaborativas, que atue
Como complementação da cartilha, na resolução de problemas, com foco
foi elaborado um banner (fotos 3 e 4), ob- nos resultados. Tal afirmação, reflete o
jetivando a sintetização das informações depoimento de alguns alunos, quando
contidas na cartilha e a exposição ao pú- afirmam que: “Uma vez que promoven-
blico, dos resultados alcançados através do biossegurança nos estabelecimentos,
do Projeto Integrador. Foram abordados evitaremos possíveis riscos ocupacio-
no banner informações sobre a impor- nais. Esperamos, pois, que esta cartilha
tância da Biossegurança nos processos possa auxiliar no crescimento dos pro-
de depilação, Equipamentos de Prote- fissionais da área”.
ção Individual – EPI’s, classificação dos
materiais esterilizáveis e os tipos de es- Esse material foi apresentado no
terilização utilizados no dia a dia deste próprio Senac ao público-alvo, ou seja,
profissional. Todas essas informações, aos profissionais e alunos da área de
voltadas para a reflexão sobre o fazer depilação, tanto na Unidade de Imagem
profissional responsável e sustentável. Pessoal Recife/PE, quanto em exposição
no Hall da lanchonete da Unidade de
Educação Profissional Recife/PE.

Considerações finais

Embora este relato tenha se origi-


nado da documentação oferecida pelo
Senac, unidade Recife, portanto, uma
documentação oficial, as considerações
a que chegamos permitem compreen-
der a eficácia da metodologia aplicada
na mobilização de instrumentos para
compor uma formação técnica mais hu-
manizada possível, por levar em conta
os principais debates da sociedade atu-
al, como sustentabilidade, diversidade e
igualdade, enquanto princípios nortea-
Fotos 3 e 4 – Culminância do Projeto Integrador: apresentação no Senac Recife
com exposição do banner e distribuição da cartilha “Biossegurança na área de dores.
depilação”

55
ENTRE MÁSCARAS, LUVAS, TOUCAS E PELOS: Uma Experiência do Curso de Depilador da Unidade de Imagem Pessoal do Senac- Recife

Essa prática diferenciada através foi muito relevante, tendo em vista a


da Metodologia de Projeto é vivenciada promoção da saúde, não só para os pro-
pelos alunos dos cursos do Senac em fissionais e alunos mais para os usuários
especial no Projeto Integrador. Nesse dos procedimentos de depilação.
espaço pedagógico a metodologia traba-
lhada valoriza a participação direta dos Acreditamos que essa experiên-
alunos na construção do conhecimento, cia vivenciada no Projeto Integrador do
de questionamentos baseados na reali- curso de depilador, impulsiona ao de-
dade ou nos espaços de trabalho. senvolvimento de ações inovadoras, e
incentiva os docentes da instituição a
Essa iniciativa possibilita o aluno desenvolverem novos projetos e a en-
a construir o seu próprio conhecimen- frentarem novos desafios.
to, estimula a criticidade, criatividade e
a autonomia dos educandos, além de
promover o desenvolvimento das com-
petências obrigatórias nos cursos, na
perspectiva de deixar as marcas institu- Referências
cionais exigidas pelo Senac na formação ARÓSTEGUI, Júlio. A Pesquisa histórica:
profissional. teoria e método. Tradução: Andréa Dora.
Bauru, SP: EDUSC, 2006.
No desenvolvimento do Projeto In- BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é
tegrador do curso do depilador, a parti- educação? 41ª ed. São Paulo: Brasiliense,
cipação direta dos alunos nos processos 2002.
investigativos da temática significativa BRASIL. Lei nº 12.592, de 18 de janeiro
levou os mesmos a tomada de consci- de 2012. Dispõe sobre o exercício das
ência da realidade e o aprofundamento atividades profissionais de Cabeleireiro,
dessa temática. O conhecimento levou Barbeiro, Esteticista, Manicure, Pedicure,
a conscientização da necessidade de Depilador e Maquiador. Disponível em em:
transformar a realidade vivenciada. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2011-2014/2012/lei/l12592.htm>. Acesso
O Projeto Integrador de Biossegu- em: 27 jun. 2017.
rança desenvolvido, e os materiais edu- FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia:
cativos que foram elaborados median- Saberes Necessários à prática educativa.
te o seu desenvolvimento, serviram de São Paulo: Paz e Terra, 1996.
instrumentos para conscientizar alguns ____________. Pedagogia do oprimido. Rio
profissionais e alunos da área de depila- de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
ção sobre a importância do uso da Bios- GARCIA, Sandra Regina de Oliveira. O fio da
segurança nos ambientes de trabalho. história: a gênese da formação profissional
no Brasil. Disponível em: <http://www.
A iniciativa de elaborar o material anped.org.br/biblioteca/item/o-fio-da-
educativo para promover a sensibiliza- historia-genese-da-formacao-profissional-
ção e a tomada de consciência dos pro- no-brasil>. Acesso em: 17 fev. 2017.
fissionais e alunos da área de depilação, KÜLLER, José Antônio; RODRIGO, Natália de
bem como da importância do uso da Fátima. Metodologia de desenvolvimento
Biossegurança nos espaços de trabalho, de competências. Rio de Janeiro: Senac

56
Roseane Silva de Souza et. al.

Nacional, 2013. 
PISNKY, Carla Bassanezi. (org.). Fontes
históricas. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2015.
SENAC. DN. Competência. Rio de
Janeiro: Senac nacional, 2015. (Coleção
de Documentos Técnicos do Modelo
Pedagógico Senac, 2)
_________. Concepções e princípios. Rio
de Janeiro: Senac Nacional, 2015. (Coleção
de documentos Técnicos do Modelo
Pedagógico Senac, 1)
_________. Plano de curso: depilador. Rio
de Janeiro, 2015. 21 p. Eixo tecnológico:
Ambiente e Saúde. Segmento: Beleza.
_________. Projeto integrador. Rio de
Janeiro: Senac nacional, 2015. (Coleção
de documentos Técnicos do Modelo
Pedagógico Senac, 4).

57
AR
TI
GO.

APLICATIVO SEU GARÇOM:


ESTRATÉGIA TECNOLÓGICA PARA A MELHORIA NO
ATENDIMENTO AOS CLIENTES NO SEGMENTO DE A&B
Inácio Belo da Silva Neto
Helen Maria Lima da Silva
Jailton Fernando Bezerra da Silva

Introdução encarar de frente a competição entre as


empresas concorrentes.
Mesmo diante da crise, o turismo
vem crescendo ano após ano, de acordo Segundo Fachin; Garcez; Andrade
com a Organização Mundial do Turismo Júnior (2000), observa-se, que há um
(OMT). Os relatórios são positivos e o grande desafio em atingir e manter o
panorama não é diferente para o setor padrão de qualidade que os clientes de-
de alimentos e bebidas, que tem estrei- sejam e esperam dos serviços prestados
ta ligação com o setor turístico, que vem em bares e restaurantes. Sendo assim,
apresentando crescimento de clientes algumas empresas estão procurando
com um perfil cada vez mais exigente, melhorar seu desempenho de manei-
frequentando restaurantes, bares e si- ra que se tornem mais eficazes no em-
milares. prego de seus serviços investindo em
soluções tecnológicas e buscando uma
Segundo Akel, Gândara e Brea maior interação entre empresa e cliente.
(2012), as mudanças na sociedade em
função de processos de globalização e Os avanços tecnológicos relaciona-
os impactos das novas tecnologias pres- dos aos celulares têm possibilitado que
sionam empresários e profissionais que os mesmos realizem diversas funções,
atuam no atendimento para que tenham com desempenhos cada vez melhores.
um olhar mais aguçado ao modelo de Essa evolução permitiu oferecer ao usu-
prestação de serviços e atendimento ao ário recursos que vão muito além da re-
cliente em bares e restaurantes. Para alização de uma chamada ou do envio
obter vantagem competitiva, a empresa de uma mensagem. Com sistemas ope-
e colaboradores devem considerar cada racionais mais avançados foi possível
vez mais os serviços prestados com o desenvolver aplicativos diversos, ofere-
melhor desempenho possível. A necessi- cendo cada vez mais recursos e serviços
dade de se buscar a qualidade e de se al- ao usuário. Devido a esta evolução, um
cançar níveis de excelência naquilo que aparelho celular se transformou em uma
se faz nunca foram tão grandes, visando ferramenta de entretenimento, acesso a

58
Inácio Belo da Silva Neto et. al.

informação e solução de problemas, in- presente e nortear a ação do professor.


tegrando-se assim ao cotidiano das pes- É preciso também trabalhar através de
soas e facilitando diversas tarefas do dia problemas e projetos, propor tarefas
a dia. complexas e desafios que incitem os
alunos a mobilizar seus conhecimentos
Segundo Pine II & Gilmore (1998), e, em certa medida, completá-los. Nes-
esta demanda é justificada pela com- te cenário, torna-se primordial valorizar
binação de certos fatores, que quando o consumidor, compreender a qualida-
assimiladas aos processos de mudanças de da experiência de seus clientes e se
no comportamento do consumidor que adaptar à demanda, fatores que enal-
ao perceber que os produtos são tangí- tecem e valorizam a figura dos clientes
veis, os serviços intangíveis e as experi- dentro dos estabelecimentos. Assim
ências inesquecíveis. este artigo tem como objetivo apresen-
tar a proposta da implementação de um
A educação brasileira atravessa um aplicativo utilizado neste trabalho, a ser
grande desafio, a adaptação a um novo utilizado em bares e restaurantes que
contexto tecnológico que cresce consi- visa analisar a qualidade da experiência
deravelmente todos os dias. As tecno- do consumidor, por meio de uma ava-
logias digitais estão muito presentes na liação real dos serviços oferecidos pelo
vida dos jovens e adultos atualmente, estabelecimento e do atendimento reali-
sendo muito utilizadas dentro das salas zado pelo garçom, avaliando: o compor-
de aula. Segundo documento da UNES- tamento do garçom, agilidade no servi-
CO: ço de alimentos e bebidas, expectativa
em relação ao perfil do bar, eventos ou
Atualmente, um volume crescente restaurante, condições de higiene do
de evidências sugere que os apare-
lhos móveis, presentes em todos os
ambiente e garçom, conhecimento das
lugares – especialmente telefones técnicas para o serviço de alimentos e
celulares e, mais recentemente, ta- bebidas, sabor e apresentação dos ali-
blets – são utilizados por alunos e mentos e bebidas.
educadores em todo o mundo para
acessar informações, racionalizar e
simplificar a administração, além de
Foi a necessidade de interação en-
facilitar a aprendizagem de manei- tre clientes e empresas para garantir a
ras novas e inovadoras (MENEZES satisfação num mercado cada vez mais
JÚNIOR; ROCHA, 2017, p. 33) competitivo e tecnológico, que instigou a
construção deste trabalho. Dentro des-
ta visão, os alunos do curso de Garçom,
da Unidade de Hotelaria e Turismo em
Segundo SENAC, 2015, para que
Recife/PE, adotaram como estratégia
isso ocorra é necessário o estabeleci-
pedagógica o Projeto Integrador para a
mento de práticas educativas onde o
construção do aplicativo “Seu Garçom”,
aluno seja estimulado ao pensar e ao
que tem como objetivo realizar uma ava-
fazer. A metodologia das Competências
liação real dos serviços oferecidos pelos
enfatiza que a prática deve estar sempre
estabelecimentos e atendimento reali-

59
APLICATIVO SEU GARÇOM: estratégia tecnológica para a melhoria no atendimento aos clientes no segmento de A&B

zado pelo garçom nos bares, eventos e Partindo deste princípio, o Serviço
restaurantes. Para isso foram realizadas Nacional de Aprendizagem Comercial
visitas técnicas, debates em grupo, pes- (SENAC), adotou como estratégia peda-
quisas bibliográficas e buscas em sites gógica o Projeto Integrador. Esse projeto
relacionados a construção deste produ- na perspectiva do SENAC visa propiciar
to. Estas informações foram reunidas experiências de aprendizagem que se
para a construção do aplicativo que se sustentem no “aprender fazendo” e no
apresentasse como alternativa para mi- diálogo entre a sala de aula e a realida-
nimizar os impactos negativos durante o de do mundo do trabalho. Com foco no
atendimento oferecido pelos profissio- desenvolvimento do Perfil Profissional
nais de serviço, pois ao saber que serão de Conclusão e das Marcas Formativas,
avaliados, os mesmos farão o melhor suas atividades pressupõem participa-
possível para superar as expectativas ção coletiva, decisões em grupo e traba-
dos clientes nos bares, eventos e restau- lho em equipe (SENAC/DN, 2015).
rantes.
Esta foi a estratégia pedagógica uti-
Construção do Aplicativo SEU GARÇOM lizada para a construção do aplicativo
“Seu Garçom” pelos alunos do curso de
Segundo Neto (2017), o papel do pro- garçom, da Unidade de Hotelaria e Tu-
fessor/educador de Educação Profissio- rismo, Recife/PE. Diante de discussões
nal não é simplesmente, facilitar didati- em sala de aula os alunos visualizaram
camente o acesso a um conhecimento a necessidade de um aplicativo avaliati-
acumulado. A metodologia para o esti- vo dos serviços prestados pelos garçons,
mulo de competências envolve ativida- seja em um bar, eventos ou restaurante.
des que propiciam ao aluno capacidade Com o auxílio dos professores desen-
de resolver problemas, uma participa- volveram todas as perguntas a serem
ção ativa nas aulas de forma reflexiva, inseridas no questionário de avaliação,
crítica e coletiva; a oportunidade de cria- layout do aplicativo e forma de rece-
ção, modificação e construção do conhe- ber feedback sobre o serviço prestado
cimento, enfim, atividades centradas na e atendimento do profissional garçom.
ação do aluno, orientadas, monitoradas Para garantir toda a interação entre pro-
e assessoradas pelo professor. fessor e turma utiliza-se a ferramenta do
“CLASSROOM”, tornando o ensino mais
Segundo Etiene; Lerouge (1997 apud produtivo, colaborativo e relevante.
PERRENOUD, 1999, p.07) [...] “é uma uto-
pia acreditar que a exposição sequencial
de conhecimentos provoca espontane-
amente sua integração operacional em
uma competência”. A apresentação do
conteúdo, demonstração de como exe-
cutar uma operação ou tarefa não leva
necessariamente o aluno a aprender. É
preciso que o próprio aluno execute as
operações, elaborando-as internamen-
te, de modo a torná-las conhecimento.
Figura 1 - Tela inicial. Fonte: aplicativo Seu Garçom.

60
Inácio Belo da Silva Neto et. al.

Além da avaliação que o cliente pode Conclusão


realizar dentro de um estabelecimento,
o aplicativo traz uma variação de fun- Dentro desse contexto, os alunos do
ções para o cliente, como agendamento curso de Garçom, perceberam a neces-
de evento particular e publicar suas fo- sidade de melhoria no segmento de
tos nas redes sociais (Figura 2). Alimentos e Bebidas, assim surgiu den-
tro do Projeto Integrador a construção
do aplicativo “Seu Garçom”, que busca
oferecer serviços com qualidade para
atender clientes cada vez mais exigentes
dentro de um contexto tecnológico e in-
terativo. Apresenta-se como alternativa
para minimizar os impactos negativos
durante o atendimento, haja visto que o
atendimento aos clientes é de suma im-
portância neste segmento, uma vez que
os profissionais serão avaliados pelos
seus clientes. Desta forma, será gerado
esforços dos profissionais para superar
as expectativas dos clientes dentro dos
bares, restaurantes e eventos.

O aplicativo foi utilizado pelos alunos


Figura 2 – Telas do aplicativo Seu Garçom. A: avaliação. B: agendamentos. C:
no dia da apresentação do Projeto Inte-
publicação nas redes sociais.
grador. Ocorreu uma dramatização de
um atendimento ao cliente, onde os pró-
prios clientes fictícios e convidados que
O desenvolvimento do Projeto Inte- assistiam à apresentação tiveram a opor-
grador que resultou na construção do tunidade de baixar o aplicativo e acessar
aplicativo “Seu Garçom”, aconteceu du- realizando uma avaliação em tempo real
rante todo o processo de ensino apren- do atendimento realizado no momento.
dizagem do curso de garçom. Neste pe- O resultado inicial foi extremamente po-
ríodo houve interação dos alunos em sitivo pois o aplicativo conseguiu realizar
todo processo, participando da cons- todas as funções ao qual foi desenvolvi-
trução e atualização dessa informação. do, atendeu todas as expectativas dos
Desta forma, é perceptível a desenvoltu- alunos e convidados que participaram
ra do grupo, na busca do conhecimento da apresentação, garantido a interação
e construção da informação, onde o pa- entre alunos e convidados.
pel do docente passa a ser de articula-
dor e facilitador no processo de ensino
aprendizagem, proporcionando e opor-
tunizando ao alunado, a descoberta, o
avanço e a construção de uma nova vi-
vência no processo.

61
APLICATIVO SEU GARÇOM: estratégia tecnológica para a melhoria no atendimento aos clientes no segmento de A&B

Referências Pedagógico Senac, 4). Inclui bibliografia.


AKEL, G. M.; GÂNDARA, J. M. G.; BREA, J. A. TINOCO, Maria. Auxiliadora Cannarozzo;
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Caxias do Sul, RS, v. 4, n. 3, p.416-439, de restaurantes à la carte. Gestão e
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FACHIN, Gleisy R. B.; GARCEZ, Eliane
M. S.; ANDRADE JÚNIOR, Pedro
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utilização do Tablet Educacional, 2017.
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(Pós-Graduação) - Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS,
2017.
NETO, I.B.S. O ensino por competências
como alternativa para uma formação
profissional mais eficiente. 2017. 18 f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-
Graduação) - Faculdade Frassinetti do
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PINE II, B.J.; GILMORE, J.H. Welcome
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as competências desde a escola.
Tradução de Bruno Charles Magne.
Porto Alegre: Artes Medicas Sul, 1999. 90
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SENAC. DN. Projeto Integrador. Rio
de Janeiro, 36 p. 2015. (Coleção de
Documentos Técnicos do Modelo

62
Inácio Belo da Silva Neto et. al.

63
AR
TI
GO.

EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA VIVÊNCIA DO TÉCNICO DE


ENFERMAGEM: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Beatriz Priscila Deodato Ferreira da Silva

Introdução de temas relacionados à saúde. Nes-


te contexto de intervenções propostas
A educação em saúde compõe um com a total participação da comunida-
cenário importante de construção e vei- de percebemos o profissional de saúde
culação de conhecimentos e práticas re- com ligação entre o usuário e os serviços
lacionadas ao modo como cada cultura oferecidos.
idealiza uma vida saudável como uma
instância de produção de sujeitos e iden-
É imprescindível que os profissio-
tidades sociais. A prática busca respeitar nais estabeleçam uma relação entre
a cultura das pessoas, considerando as as ciências sociais, humanas e da
saúde, com a finalidade de promo-
experiências e os valores que elas acu- ver uma ação que respeite o ser hu-
mularam e não pretendem retirá-los de mano, sua liberdade de expressão
através de um processo de cons-
suas vivências. Não basta apenas reali- cientização. (PESSANHA; CUNHA,
zar as ações com propostas hiperativas 2009).
ou práticas que não toquem a realidade
dos grupos ou indivíduo, mas, sim, rea-
lizar a educação em saúde num proces- Uma das concepções filosóficas du-
so estimulador para diálogo e reflexão rante à formação de um técnico de En-
das ações partilhadas. Para Buss (2000) fermagem é compreender não apenas
os modelos de intervenções educativas o ser humano mais também o mundo
propostos são essencialmente participa- que este novo profissional está inserido
tivos, sendo oferecidos à população com (SENAC, 2018). Através da experiência
a finalidade de abordar uma vasta rede profissionalizante, os alunos do curso

64
Beatriz Priscila Deodato Ferreira da Silva

técnico de enfermagem possuem opor- de saúde, os gestores que apoiem esses


tunidade de contato com a população profissionais; e a população que neces-
de forma muito precoce. O que possi- sita construir seus conhecimentos. “Tra-
bilita uma construção de experiências dicionalmente à prática é compreendida
muito valiosas e trocas de conhecimen- como transmissão de informações em
tos possibilitando novas formas de práti- saúde, com o uso de tecnologias mais
cas assistenciais de educação em saúde. avançadas. (SALCI et al., 2013”. “Uma
Observamos na literatura escassez de discussão que vem sendo modificada ao
registros que discuta o papel do técnico longo do tempo. À abordagem na cons-
de Enfermagem no processo de trans- trução da educação em saúde precisa ser
formação o qual está inserido à educa- muito mais ampla e não focar apenas na
ção em saúde. Buscamos através deste doença” (COLOMÉ; OLIVEIRA, 2012). Os
relato de experiências socializar à im- fatores sociais e humanos como: Respei-
plantação prática da pedagogia ofereci- to a cultura, religiosidade e poder de en-
da pelo SENAC – PE e desenvolvida pelos tendimento tornam-se imprescindíveis
estudantes através do Projeto Integra- para que o resultado final seja a cura ou
dor com objetivo de descrever as ações melhora do processo patológico. “Todo
educativas em saúde mais exitosas rea- trabalho de grupo almeja o desenvolvi-
lizadas pela turma a partir dos registros mento da autonomia das pessoas, para
criados pelos alunos (fotos e relato das que as mesmas sejam os próprios cuida-
ações). dores da sua saúde, apoiado pela rede
de profissionais contando, é claro, com o
apoio dos profissionais”. (CONVERSANI,
2004).
Referencial Teórico
Nesta ótica inserir o técnico de en-
“O termo educação em saúde vem
fermagem em formação como o profis-
sendo utilizado desde as primeiras dé-
sional de saúde ativo desta equipe de
cadas do século XX devido à expansão
múltiplas funções em saúde como agen-
da medicina preventiva no Brasil a par-
te transformador de realidades parti-
tir da década de 1940 épocas estas que
cipando ativamente de ações e grupos
cresciam as epidemias de varíolas” (VAS-
que visam direcionar à educação em
CONCELOS, 2001). As práticas de educa-
saúde.
ção em saúde envolvem três segmentos
de atores prioritários: os profissionais O papel fundamental do técnico de

65
EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA VIVÊNCIA DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM: um relato de experiência

enfermagem é realizar ações de educa- domínio técnico das patologias e proces-


ção em saúde a grupos específicos e a sos, mas, uma construção amplificada
famílias em situação de risco, conforme sobre a realidade atuante e os principais
planejamento da equipe (BRASIL, 2007). impactos gerados como resultado de to-
Corroborando dados de Colomé; Olivei- das as estratégias implementadas. Capa-
ra (2012) evidenciou-se que a maior par- citar pessoas a aprender durante a vida
te das ações educativas foram realiza- caracteriza-se um importante elemento
das em grupos de riscos da população, para o enfrentamento da tomada de de-
homens e mulheres em idade fértil e cisões e manutenção da saúde. (MOTTA,
regular com as principais comorbidades 2018). Capacitação sendo à habilidade
da população e região (hipertensos, dia- que possibilita o exercício do fazer pro-
béticos em condições de doença instala- fissional competente. (SENAC, 2018).
da ou ciclo reprodutivo).
O grande elo de autonomia e atua-
O processo pedagógico da enfer- ção da enfermagem toma força quando
magem, com ênfase na educação em são entendidos os processos que circun-
saúde, encontra-se em constante cres- dam à educação em saúde. E através
cimento e reconhecimento, sendo esta das experiências práticas aliadas a um
uma ferramenta para o combate dos elo pedagógico pode-se construir uma
vários problemas de saúde que afetam assistência digna e adequada e incluir o
as populações e seus contextos sociais. sujeito como peça fundamental no pro-
Além do elo educador e educando o cesso de cura ou melhora da condição
mais importante é garantir que as estra- atual.
tégias estabelecidas sejam fortificadas
e ajudem na transformação do cenário
à qual estão inseridos. A assistência de
Procedimentos Metodológicos
enfermagem como cuidado holístico
tornou o sujeito mais próximo da equi- Esta pesquisa trata-se de um rela-
pe percebendo que as necessidades vão to de experiências das ações que foram
além da doença. desenvolvidas pela turma 138 do curso
técnico de enfermagem, unidade móvel
Buscando essa reflexão ressalta-
sediada no município de Agrestina – PE
mos a importância da formação profis-
no período de 2016 a 2018. A idealização
sional para a equipe de saúde. Respal-
do projeto ocorreu através da constru-
dadas pela marca formativa trabalhada
ção do Projeto Integrador, parte do pro-
durante todo o curso de busca não só ao
cesso avaliativo obrigatório para conclu-

66
Beatriz Priscila Deodato Ferreira da Silva

são do curso. Este processo viabilizou tra na unidade móvel do Senac, seguido
a articulação de todas as competências da oferta de serviços básicos (aferição
criadas com a educação e o ambiente de de pressão arterial, hemoglicoteste e
trabalho. Os registros fotográficos e os orientações nutricionais). Houve grande
relatos das ações foram construídos à resistência dos homens para participar
medida que as unidades curriculares fo- da ação tendo em vista que muitos esta-
ram trabalhadas as ações ocorriam e os vam no local trabalhando, sendo este o
alunos alimentavam um valioso banco grande desafio: estabelecer um vínculo
de dados. A socialização deste projeto de confiança com o usuário para cons-
ocorreu na sede do SENAC Caruaru, uni- trução da proposta e atingir as metas da
dade de Educação Profissional Dr. Luiz campanha.
Pessoa, localizada na cidade de Caruaru/
PE, para todos os instrutores, discentes
Imagem 1 e 2: Ação: “Câncer de Próstata rea-
da turma, convidados, coordenação pe-
lizada em Agrestina/PE.
dagógica e gerência da Unidade.

Ação do Câncer de Próstata

Ação denominada como “novem-


bro azul”, ocorreu na feira livre da cida-
de. O evento foi destinado ao público
masculino e abordou doenças do gêne-
ro. De acordo com as responsabilidades
das equipes de saúde as famílias (2007)
estão a busca ativa da população nos
principais locais para desenvolvimento
destas: escolas, nos bares, locais de tra-
balho e em outros espaços comunitá-
rios. O objetivo desta ação foi à sensibili-
zação dos participantes para adoção de
hábitos simples de saúde e busca a rede
de saúde preventiva e para seguimento
contínuo das doenças. Na ocasião ocor-
reram rápidas dinâmicas e uma pales-
Fonte: própria

67
EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA VIVÊNCIA DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM: um relato de experiência

Ação de Primeiros Socorros

A ação foi realizada no Centro de


Referência de Assistência Social (CRAS)
da cidade para os moradores do bairro.
As temáticas abordadas foram dicas de
como agir em situações de engasgo e
acidentes automobilísticos. Além da pa-
lestra foram distribuídos folhetos expli-
cativos com as orientações fornecidas,
além disso, os alunos realizaram afe-
Fonte: Arquivo Pessoal | Ação: “Primeiros Socorros CRAS em Agrestina/PE.
rição da pressão arterial e orientações
aos grupos. Um aspecto importante
deste momento foi o poder de persua-
Câncer de Mama
são criado pelos alunos para convencer
a população a participar desta ação uma Este momento foi realizado em um
vez que as famílias interessadas preci- dos principais centros de comércio da ci-
savam ir ao centro de apoio. Os alunos dade com intuito de rastreio e diagnós-
organizaram doações de cestas básicas tico precoce do câncer de mama. Foram
para cada família ali representada e pro- ofertados serviços como: Aferição dos
dutos de higiene pessoal como forma de sinais vitais e uma palestra sobre o au-
beneficiá-los pela adesão à ação. toexame das mamas. Os alunos produ-
ziram jogos educativos com a temática
proposta e as mulheres receberam brin-
des como forma de agradecimento pela
participação. “O câncer de mama sem-
pre foi tema de grande relevância para
a saúde pública, há uma estimativa de a
cada 100 mil mulheres 50 novos casos
são esperados”. (INCA, 2014).

68
Beatriz Priscila Deodato Ferreira da Silva

Esse intuito de detalhar o programa é


garantir uma perspectiva de formação
familiar consciente. Tema de extrema
importância no local de formação de no-
vos cidadãos, a escola.

A escola como espaço essencial


para o desenvolvimento do conheci-
mento comum e para a integração
com a comunidade, encontrando-se
nela grande parte da população que
demonstra interesse em aprender
e residindo grande potencial dis-
seminador de informações, sendo
ambiente favorável à promoção da
saúde. (PAES; PAIXÃO, 2016.)

Fonte: Arquivo Pessoal | Ação: “Câncer de Mama, Centro da cidade de


Agrestina/PE.

Ações sobre Doenças Sexualmente


Transmissíveis

A Escola de Referência do Ensino


Médio (EREM) Professor José Constan-
tino foi o espaço idealizado para esta
ação pelos alunos do curso para ofere-
cer aos estudantes orientações sobre as
IST’s (Infecções Sexualmente Transmissí-
veis) e suas principais características. O
evento foi algo dinâmico e contou com a
distribuição de preservativos, ação inclu-
ída no programa de planejamento fami-
liar. Para Luna (2012) o programa é um
componente importante da assistência
à saúde reprodutiva como o objetivo pri-
Fonte: Arquivo Pessoal | Ação: “IST’s na Escola EREM de Agrestina/PE.
mordial de retardar ou evitar a gravidez.

69
EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA VIVÊNCIA DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM: um relato de experiência

Ação da Dengue

Neste momento a equipe multi-


disciplinar da estratégia de saúde da
família atuou junto aos técnicos de en-
fermagem em formação. O Loteamento
Campo novo recebeu a visita guiada pe-
los agentes de endemias e na ocasião fo-
ram realizadas visitas domiciliares com Fonte: Arquivo Pessoal | Ação: “Dengue, Loteamento Campo Novo, cidade

intuito de oferecer à população informa- de Agrestina/PE.

ções de prevenção e como identificar ca-


Nosso projeto foi concluído e so-
sos suspeitos de dengue além de ações
cializado na sede do SENAC Caruaru.
preventivas em reservatórios de água.
Este momento foi muito enriquecedor
pois realizamos a produção científica
Campanhas informativas, que uti- em curso profissionalizante de forma
lizam os principais meios de comu- pioneira para a unidade Móvel da região
nicação fortalecem as comunidades
para o combate na eliminação dos Agreste. Contemplamos a unidade com
focos de mosquitos. Os momentos além do trabalho científico um banner
em comunidade para discutir temas
atuais com exemplos corriqueiros como forma de registro dessa pesquisa.
têm sido cada vez mais valorizados,
ao lado das ações ambientais e da
vigilância epidemiológica, entomo-
lógica e vira, problemas estes consi-
derados de saúde pública no mun-
do. (ZARA et al., 2016).

Fonte: Arquivo Pessoal | Apresentação do Projeto Integrador. Alunos


escolhidos pela turma– Caruaru/PE

70
Beatriz Priscila Deodato Ferreira da Silva

Recebemos as famílias e os de-


mais alunos e todos os instrutores para
prestigiar em este evento. Contamos
com apoio da Gerência da Unidade e Co-
ordenação Pedagógica que incentivou e
se tornou parceira deste momento que
certamente fará toda a diferença para a Fonte: Arquivo Pessoal | Presente à instituição - Trabalho nas normas da
ABNT e banner (Instrutora, alunas e Coordenador Pedagógico – Caruaru/PE
formação de cada aluno que vivenciou
esta experiência.
Conclusão

Todas as ações desenvolvidas ini-


cialmente foram realizadas para cumpri-
mento das unidades curriculares para
estimular o processo de aprendizagem
no quesito educação em saúde e con-
tato com diversas realidades sociocul-
turais. Ganhando dimensão tal que se
tornou objeto de estudo para os futuros
profissionais de saúde.

As ações escolhidas como as mais


exitosas foram assim descritas devido à
proporção de sucesso e resposta positi-
va emitida pela população beneficiada
Fonte: Arquivo Pessoal |Convidados (Instrutores e familiares) e presença da
com os serviços. Os temas abordados
Gerência Senac Caruaru – Caruaru/PE
apesar de comum e frequente na po-
pulação não eram do conhecimento de
muitos da comunidade. Para o público-
-alvo Educação em Saúde tinha à cono-
tação de um conjunto de orientações
imperativas por quem não conhecia a
realidade de todos.

A temática é ampla permeada pela


necessidade não só da preocupação em
garantir saúde física, mas saúde psíqui-

71
EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA VIVÊNCIA DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM: um relato de experiência

ca e bem-estar social. A aproximação p. 177-84, jan./mar. 2012.


do técnico de enfermagem com o públi- CONVERSANI, Danaé Terezinha
co contribuiu de forma positiva para o Nogueira. Uma reflexão crítica sobre a
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promisso social. Destacando-o para o coletiva. Ciência e saúde coletiva,  Rio
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gar, informar e conectar os indivíduos Nacional do Câncer. Estimativa de
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Brasileiro com adolescentes vulneráveis
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Promoção da Saúde: conceitos, em saúde e suas perspectivas teóricas:
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FIOCRUZ,p 19- 42, 2003. Enfermagem. Florianópolis, v. 22, n. 1,
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COLOMÉ, Juliana Silveira; OLIVEIRA,
Dora Lúcia Leidens C. de. Educação SENAC. DN. Diretrizes do modelo
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72
Beatriz Priscila Deodato Ferreira da Silva

saúde nas palavras e nos gestos:


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Popular nos Serviços de Saúde. São
Paulo: Hucitec, 2001.
ZARA, Ana Laura de Sene Amâncio et al.
Estratégias de controle do Aedes aegypti:
uma revisão. Epidemiologia e Serviços
de Saúde, Brasília, v. 25, n. 2, p. 391-404,
abr./jun, 2016.

73
AR
TI
GO.

MODA CONSCIENTE:
O PAPEL RESPONSÁVEL DO DESIGN DE MODA

Daniela Vasconcelos de Oliveira


Selma Maria Barbosa dos Anjos
Alba Valéria Sousa da Silva
Maria de Fátima Silva

Introdução xo custo, que imitam as tendências do


mercado de luxo, uma moda efêmera,
Conhecer o mercado para o estu- que procura realizar os desejos de con-
dante de design de moda é fundamental sumidores, seguidores de tendências
para o desenvolvimento de suas compe- passageiras. Segundo Martins e Santos
tências. Atrelado a esse conhecimento, (2008), o Fast Fashion é caracterizado
o grande desafio dos designers estar em pela agilidade de produção a preços
identificar e compreender qual o papel muito baixos e novidades constantes.
do criador, bem como, perceber quais Em contrapartida, encontra-se a moda
são as limitações colocadas pelo merca- “Slow Fashion” com seu conceito de uma
do, que podem interferir no processo de moda mais lenta, com produtos mais
desenvolvimento dos produtos carrega- sustentáveis e emocionalmente mais va-
dos de elementos estéticos simbólicos, lorizados, o que proporciona uma moda
mas que precisam também gerar ele- mais consciente. Enfoca a “atitude sem
mentos para uma moda mais conscien- pressa”, o que não significa fazer menos,
te. Neste duelo da moda atual, encon- ou baixa produtividade, mas sim traba-
tram-se os conceitos de “Fast Fashion” e lhar para a melhoria da produtividade
“Slow Fashion”, que são debatidos com através da criatividade e da qualidade,
os alunos por diferentes unidades temá- o que torna o processo amigo do meio
ticas. ambiente. (Black, 2008)

O primeiro conceito “Fast Fashion”


refere-se à coleção de roupas de bai-

74
Daniela Vasconcelos de Oliveira et al.

A Moda Consciente que a moda não pode estar sempre pre-


ocupada com o novo, contudo deve tam-
Antes da argumentação de uma bém valorizar os recursos locais. Assim,
moda mais consciente, faz-se necessário parece-nos clara a necessidade de reali-
pontuar o conceito de moda ao longo zar uma conexão entre teoria e prática
da história. Segundo Barnard (2002), a na escola, visando o enfoque globaliza-
moda pode ser entendida como um jogo dor dos conteúdos por parte do aluno
de distinção entre classes, surge para (ZABALA, 2002).
distinguir a classe dominante da classe
dominada.

Do mesmo modo, a definição de Referencial Teórico


Lauwaert (2006), no qual o vestuário não
é um meio de representação, mas um O referencial teórico abordado re-
meio de apresentação. O vestuário não flete no contexto do desenvolvimento
define, ele posiciona, vem a somar com de produtos com responsabilidades na
simbologia da moda ao longo da histó- sociedade. O papel do designer como
ria, associados aos contextos sociais, po- um criador de olhar sistêmico, que seja
líticos e econômicos. amplo, percorrendo da escolha de ma-
teriais, até o consumo e descarte deste
Contudo, a sociedade passa por produto. Neste momento, o aluno ex-
uma transição social, política e econô- plora diversos processos de aprendiza-
mica, e, portanto, consequentemente a gem, que busquem como resultado um
moda acompanha e apresenta suas pro- produto mais sustentável. Neste mo-
postas para somar aos novos cenários. mento a aprendizagem envolve o exercí-
Assim sendo, é certo que o design, como cio de uma ou mais competências, acer-
campo de conhecimento deve conside- tos e erros dos experimentos ou ainda,
rar o problema do impacto ambiental descobertas de novos processos. Segun-
da humanidade e suas consequências e do kuller e Rodrigo (2014), a aprendiza-
buscar por soluções mais sustentáveis gem envolve o exercício de uma ou mais
(ROCHA, 2013). competências, assim, ao avaliar a ativi-
dade e os resultado, indiretamente tam-
Neste contexto, os estudantes de
bém se estará avaliando o desempenho
design precisam ser estimulados a desa-
da competência.
fios de pesquisa e criação, com soluções
sustentáveis, ser desafiados a pensar

75
MODA CONSCIENTE: o papel responsável do design de moda.

A reflexão crítica do aluno, sobre adotado por muitas pessoas em muito


o consumo de produtos agressivos ao pouco tempo, ou seja, um ciclo de vida
meio ambiente, também foi trabalhada bastante curto; com a moda o ciclo de
em sala de aula, bem como produtos vida do produto é mais longo, e geral-
que seguem tendências de estação em mente acompanha as estações do ano
contraponto a produtos atemporais. quando se trata de produto vestuário;
Trocar os produtos a cada estação ou, a no clássico, muitos consumidores ado-
cada coleção. Este comportamento pre- tam o produto e permanecem com ele
cisa ser revisto. Vezzoli questiona sobre por um longo tempo, tendendo a um ci-
o porquê necessita-se de tantas coisas, clo de vida infinitamente longo.
de que coisas se têm realmente neces-
sidade, e o que é melhor fazer para au-
mentar o bem-estar enquanto se redu-
zem os consumos?

Por outro lado, Vezzoli (2006) res-


salta que são propostas de cenários que
precisam ser implementadas e testadas,
para serem difundidas e aceitas pelos
consumidores. A partir destas propos-
tas podem surgir desdobramentos que
resultem num ciclo de vida mais longo
para os produtos do vestuário de moda.
Figura 1 - Gráfico de Aceitação do Modismo, da Moda e do Clássico
Trata-se de um grande desafio, pois a in-
dústria da moda como está estabelecida
atualmente, propõe um cenário muito Kaiser (1985) afirma que o proces-
diferente. so de adoção de uma moda ocorre den-
tro de cada uma das categorias daquilo
O ciclo de vida do produto de moda que é comumente chamado de ciclo de
está mais relacionado com o número moda. O intervalo de tempo entre a ino-
de pessoas que adotam aquele deter- vação e a obsolescência é aquele que ca-
minado estilo do que a durabilidade do racteriza as diferenças entre modismos,
produto-roupa, ou seja, sua vida útil. modas e clássicos.
Na figura 1, é apresentada a relação de
tempo que os produtos são aceitos pe- O ciclo de vida dos produtos de
los consumidores: modismo o produto é moda é estudado e debatido juntamen-
te com os conceitos de “Fast Fashion” e

76
Daniela Vasconcelos de Oliveira et al.

“Slow Fashion”. Para Cietta (2010), o sis- as variáveis que seriam capazes de in-
tema “Fast Fashion” faz sucesso pela sua fluenciá-lo, definir as formas de controle
velocidade de resposta ao público con- e de observação dos efeitos que a variá-
sumidor, já que consegue produzir arti- vel produz no objeto.
gos de vestuário de um modo extrema-
mente veloz, chegando a lançar coleções O curso tecnólogo em design de
no prazo de poucas semanas. moda, da faculdade Senac Pernambuco,
tem como um dos cinco projetos inte-
Com as reflexões os projetos são gradores (PI), o foco na sustentabilida-
desenvolvidos, a fim de gerar soluções de. Com este PI o estudante de moda foi
para uma moda mais consciente, mais desafiado a projetar produtos de moda
lenta no seu ciclo de vida e que gerem mais conscientes. Inicialmente os alu-
produtos atemporais e clássicos. nos foram agrupados em equipes, que
através das abordagens vivenciadas em
sala, foram delineando os estudos que
seriam abordados em cada estudo.
Metodologia

Em seguida, cada unidade temáti-


O artigo, apresenta uma pesquisa
ca foi pontuando aspectos importantes,
experimental desenvolvida através de
teóricos e práticos, que deram suporte
cinco disciplinas, integradas com o ob-
a construção de produtos com olhares
jetivo comum de desenvolver produtos
para uma moda mais consciente e a pro-
mais sustentáveis. Para Gil (2007), a pes-
dução de um produto mais sustentável
quisa experimental consiste em deter-
(Figura 2).
minar um objeto de estudo, selecionar

Figura 2 - Estrutura do estudo

77
MODA CONSCIENTE: o papel responsável do design de moda.

A unidade temática de história do demais porque não traz em sua essên-


design e da moda contemporânea trou- cia nenhuma lista de conteúdos prescri-
xe para a discussão a reflexão da cons- tos, mas se torna realidade a partir das
trução do vestuário do ponto de vista necessidades de alunos e professores
da história, fornecendo elementos es- em estudar um determinado tema, que
téticos e simbólicos para a criação dos é gerador, para solucionar uma questão
produtos, identificando também os perí- ou problemática do mundo do trabalho,
odos históricos dos conceitos de susten- do universo familiar, social, histórico e
tabilidade e os impactos gerados pelas cultural.
descobertas de materiais ao longo da
história. Através de todo o conhecimento
adquirido em sala, diversas pesquisas
Somado a esse conhecimento, as experimentais foram desenvolvidas,
unidades temáticas de tecnologia da con- como apresentadas nos resultados da
fecção e gestão da produção abordaram seção a seguir.
os processos de técnicas para confecção
de produtos sustentáveis, apresentando
Resultados Alcançados
matérias primas e beneficiamentos com
menos impactos ambientais, como por
Ao final do semestre os projetos
exemplo, tingimentos naturais e o uso
foram concluídos e geraram como pro-
dos resíduos gerados pela indústria da
duto final vestuários versáteis, com pro-
moda.
cessos mais sustentáveis, em fibras na-
turais e tingimentos que agridem menos
Além disso, as unidades temáticas
o meio ambiente. Os processos foram
de desenho técnicos e modelagem pla-
implementados e testados e os alunos
na ainda abordou diferentes formas de
defenderam suas ideias, com o objetivo
construção e representação de produtos
de serem aceitas pelos possíveis consu-
versáteis, com uma usabilidade diferen-
midores.
ciada, permitindo assim o uso prolonga-
do dos produtos criados.

Todo o conjunto de informações


adotadas pelas disciplinas constituiu o
projeto de integrador com o tema da
moda consciente. Segundo Zen e Oli-
veira (2013), o Projeto Integrador é um
componente curricular que difere dos

78
Daniela Vasconcelos de Oliveira et al.

Imagem 1 - defesa dos projetos

Imagem 2 - processo de tingimento natural

A visão sistêmica de cada projeto,


permitiu também o olhar para a edu-
2. Aproveitamento de tecidos com lonas
cação ambiental, com a construção de
e sobras de banners para a criação de
processos democráticos e participati-
acessórios de moda, como cintos e bol-
vos, voltados para a qualidade de vida e
sas.
a consolidação do papel do designer na
sociedade e natureza. Segundo Zaballa
(2002), caso se pretenda formar um su-
jeito que compreenda a realidade e nela
atue, é necessário que se eduque para a
complexidade.

Outros destaques apresentados


pelos alunos, durante o projeto na cons-
trução de roupas e acessórios, na busca
de produtos com design sustentável, fo-
ram as ações apresentadas a seguir:

1. Processos de tingimentos naturais


com cascas de cebola, urucum e beter-
raba foram testados dos por alguns alu-
nos, obtendo resultados incríveis com
tecidos de algodão e linho. A experiência
foi socializada durante a apresentação
final dos projetos pelo grupo com os de- Imagem 3 - processo reaproveitamento de resíduos para a construção de acessórios

mais alunos e professores.

79
MODA CONSCIENTE: o papel responsável do design de moda.

3. A construção de roupas versáteis, com cias do mercado e que o designer cada


diferentes formas de uso que possibilita vez mais tem um papel preponderante
o uso prolongado do vestuário, são pro- nas mudanças culturais de consumo.
dutos construídos para serem usados
de ambos os lados, duas peças em uma, O projeto integrador com foco
além de ser construído com pedaços de na sustentabilidade permite também a
sobras de tecidos e couro. Resíduos sóli- formação de um profissional mais res-
dos que seriam descartados pela indús- ponsável com a ética, a cidadania e a
tria da moda. sustentabilidade. Segundo Morin (2000;
2001) e Nicolescu (1999), o pensamento
complexo e o currículo sistêmico apre-
sentam-se como desafios a serem en-
frentados pelos que pensam e fazem as
instituições de ensino de nosso país.

Referências
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Imagem 4 - apresentação de uma saia versátil com dupla face
Communication. London: Routledge,
2002.
BLACK, Sandy. Eco-chic: the fashion
Considerações Finais paradox. London, UK: Black Dog
Publishing, 2008.
Este trabalho buscou apresentar a CIETTA, Enrico. A revolução do
importância da aplicação de teorias do fast fashion: estratégias e modelos
desenvolvimento de produtos sustentá- organizativos para competir nas
indústrias híbridas. São Paulo: Estação
veis, apontadas pelos autores Manzini e das Letras e Cores, 2010.
Vezzoli, como também os conceitos de GIL, A. C. Como elaborar projetos de
“Fast Fashion” e “Slow Fashion”, aponta- pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
dos por Cietta, em unidades temáticas KAISER, S. B. The social psychology
que trabalharam com o projeto integra- of clothing. New York and London:
Macmillan Publishing Company, 1985.
dor focado na sustentabilidade.
KULLER, José Antônio; RODRIGO,
Natália de Fátima. Metodologias de
A partir dos resultados alcançados desenvolvimento de competências.
pelos projetos de cada equipe, fica evi- Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2014.
dente que o conhecimento do aluno pre- LAUWAERT, D. Morality and Fashion. In:
BRAND, J. & TEUNISSEN, J. The Power of
cisa atender às mudanças e às exigên-

80
Daniela Vasconcelos de Oliveira et al.

Fashion: about design and meaning.


Terra ArtEZ Press, 2006.
MANZINI, E; VEZZOLI, C. O
desenvolvimento de produtos
sustentáveis: os requisitos ambientais
dos produtos industriais. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo,
2005.
MARTINS, Suzana Barreto; SANTOS,
Aguinaldo dos. Estratégias genéricas
para a sustentabilidade no setor do
vestuário In: CONGRESSO BRASILEIRO
DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM
DESIGN, 8., 2008, São Paulo. Anais [...].
São Paulo: AEND, 8 a 11 de outubro de
2008.
MORIN, Edgar. Os sete saberes
necessários à educação futuro. São
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NICOLESCU, Basarab. O manifesto
da transdisciplinaridade. São Paulo:
Triom, 1999.
ROCHA, M. A. V. O fast fashion e a
identidade de marca. Projética Revista
Científica de Design, Londrina, v. 3 , n.
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ZABALLA. Antoni. Enfoque globalizador
e pensamento complexo: uma
proposta para o currículo escolar. São
Paulo: Artmed, 2002.

81
AR
TI
GO.

PROTAGONISMO JUVENIL:
UMA EXPERIÊNCIA DO PROJETO INTEGRADOR DOS
JOVENS APRENDIZ CURSO DE VENDAS, SENAC-PE
Margarete Carneiro dos Santos Soares
Maria da Conceição Gomes de Albuquerque Duarte

Introdução profissional para jovens implanta-


das em nosso país, em geral, apre-
sentam-se como mecanismo de
O presente artigo tem como obje- redução da violência juvenil e rati-
tivo descrever a experiência vivenciada ficam a consciência da importância
estratégica da juventude para a so-
por parte de uma turma de jovens do ciedade. O Programa Aprendizagem
curso de vendas no Senac Recife, parti- não foge à regra e tem como objeti-
vo a inserção do jovem no mercado
cipante do programa de aprendizagem, de trabalho (ARAUJO, 2008, p. 9)
com destaque em uma das marcas for-
mativas do programa que é o protago-
nismo Juvenil. Diversos fatores levam esses jo-
vens à margem da sociedade, entre eles
É importante ressaltar que no Bra-
podemos destacar os conflitos deriva-
sil, através da Lei 10.097/2000, foi cria-
dos da idade, convívios familiares, crises
do o Programa Aprendizagem, que tem
de identidade etc. É um grande desafio
como objetivo a preparação profissional
para o jovem superar essas questões e
do jovem aprendiz para a geração de
buscar sua inserção no mundo do traba-
emprego e renda. De acordo com essa
lho, que hoje ocorre através dos progra-
Lei, toda empresa de grande ou médio
mas voltados para primeiro emprego.
porte deve ter de 5% a 15% de  Jovens
Aprendizes entre seus funcionários. Dentre as instituições considera-
É sabido que das habilitadas para a oferta e realização
do Programa Aprendizagem, destaca-
mos aqui o Serviço Nacional de Apren-
as políticas públicas de educação

82
Margarete Carneiro dos Santos Soares et al.

dizagem Comercial - SENAC, que é nos- ma a alcançar os objetivos de ensino


e a propiciar experiências de apren-
sos lócus de pesquisa. Criado em 10 de dizagem significativas. (SENAC-DN,
janeiro de 1946, através do decreto-lei 2018 p.8)
8.621, com o objetivo de realizar a quali-
ficação profissional na área do comércio
de bens e serviços. Tem como missão Diante desse contexto, o presen-
“educar para o trabalho em atividades te artigo tem objetivo responder às se-
de bens, serviços e turismo”. guintes indagações: a Metodologia de
Projetos do Senac viabiliza o protagonis-
No âmbito do Programa Apren- mo juvenil dos estudantes do Programa
dizagem, o SENAC encontra-se compro- Aprendizagem? Considerando que den-
metido em proporcionar aos jovens a tre as Marcas Formativas do SENAC, o
qualificação profissional com atividades protagonismo juvenil seja uma das mar-
teóricas e práticas. No cumprimento ao cas que mais têm relevância quando no
referido programa, além da profissiona- desenvolvimento do Projeto Integrador
lização, os jovens aprendem valores de dos cursos ofertados no âmbito desse
cidadania, respeito e ética. programa, cabe-nos refletir como ocorre
o processo de construção desse prota-
O Senac, no cenário atual, implan- gonismo?
tou o Modelo Pedagógico com um cur-
rículo flexível, norteado pelo PTD (Plano O desejo de realizar esse estu-
de Trabalho Docente), tendo como pre- do tem razões pessoais e profissionais.
missa o aluno ser o centro do processo Pois, experiências vividas como docen-
de ensino e aprendizagem, bem como, o tes deste programa, fizeram emergir
professor ser o mediador dessa apren- essas inquietações apresentadas. Com-
dizagem. Ou seja, na perspectiva das preendemos, porém, que elas fazem
metodologias ativas que, conforme do- parte do cotidiano profissional daqueles
cumentos técnicos do SENAC: que atuam no Programa Aprendizagem,
comprometidos com um projeto de edu-
cação profissional de qualidade.
Entende-se por Metodologias Ativas
de Aprendizagem um conjunto de
procedimentos didáticos centrados A seguir, apresentaremos de for-
no aluno, expressos pelos métodos ma breve, o Modelo Pedagógico SENAC
e técnicas de ensino com forte cará-
ter colaborativo e participativo, ten- que vem buscando atender as exigên-
do docente como mediador, de for- cias atuais da Educação Profissional.

83
PROTAGONISMO JUVENIL: uma experiência do projeto integrador dos jovens aprendiz curso de vendas, SENAC-PE

Em sequência, discorremos sobre o Visando superar esses desafios, o


percurso metodológico do Projeto Inte- Senac implantou um Modelo Pedagógi-
grador do grupo participante do estudo co1 que se apropria de ferramentas ino-
de caso. E por fim, nossas conclusões e vadoras e tem como objetivo qualificar
a apresentação do sistema criado pelos os jovens para o bom desempenho de
estudantes, como produto do projeto in- atividades específicas, e estimulá-los
tegrador. ao desenvolvimento das competências
através de novos olhares e perspecti-
vas  da educação profissional (SENAC,
Referencial teórico 2015).
A Educação Profissional no Contexto Atual
e o Modelo Pedagógico SENAC
Dentre vários diferenciais que esse
modelo pedagógico apresenta, aqui des-
Ao pensar que em tempos não mui- tacamos a organização dos cursos que
to distante, a educação era vista como são estruturados por competência, e
reprodução mecânica, podemos evi- essas são descritas como uma unidade
denciar que vivemos hoje uma prática curricular. Também destacamos o fato
educativa mais dinâmica. Ao focarmos desse modelo ser imerso na metodo-
a educação profissional, podemos ainda logia do desenvolvimento das compe-
afirmar que essa prática, por estar inte- tências com a prática na Ação-Reflexão-
grada na transformação do mundo cor- -Ação (SENAC.DN, 2015), bem como no
porativo, vive em mudança constante, desenvolvimento de projetos norteados
objetivando levar o estudante a atingir pela metodologia dos “Sete Passos”, que
o perfil profissional exigido do tão com- foi elaborado pelos autores Küller e Ro-
petitivo mundo do trabalho. Portanto, é drigo (2010), com o objetivo de promo-
visível a quebra de paradigmas consti- ver a capacitação dos docentes de edu-
tuintes e identificados nesse modelo tra- cação profissional.
dicional de educação profissionalizante.
Para o desenvolvimento do Modelo
Considerando as exigências que o Pedagógico do SENAC, foram elabora-
indivíduo vivencia na contemporanei- dos os documentos técnicos orientado-
dade, os docentes da educação profis- res, nos quais apontam que o docente
sional têm encontrado muitos desafios, deve construir seu Plano de Trabalho a
por exemplo, para com a formação do partir das informações contidas no Pla-
jovem aprendiz participante do Progra- no de Curso, e nesse encontram-se as
ma Aprendizagem. Marcas Formativas que fundamentam a

84 1 Com o objetivo de criar uma unidade pedagógica institucional, o Senac, desde de 2013, através do seu Departamento Nacional, vem buscando um alinhamento pedagó-
gico dos seus Regionais e com isso promover um Modelo Pedagógico Senac
Margarete Carneiro dos Santos Soares et al.

elaboração do Projeto Integrador, que é grande contribuição para o desenvolvi-


o nosso objeto de estudo aqui apresen- mento de um processo ensino apren-
tado. dizagem de forma efetiva e eficaz, isso
porque
Quanto as Marcas Formativas, tra- [...] A principal contribuição do Mo-
ta-se de delo consiste em tornar mais obje-
tiva e eficiente a prática pedagógica
[...] características a serem evi- orientada para o desenvolvimento
denciadas nos alunos, ao longo do de competências, que se explicita na
processo formativo. Derivam dos concepção e estruturação do mode-
Princípios Educacionais e valores lo curricular, nos parâmetros para
institucionais que regem o Modelo avaliação dos alunos e nas orienta-
Pedagógico Senac e, por essa via, ções para a prática pedagógica [...]
representam o compromisso da Ins- (SENAC.DN, 2015, p. 29):
tituição com a formação integral do
profissional cidadão. Como Marcas
Formativas, espera-se que o profis-
sional formado pelo Senac evidencie
domínio técnico-científico em seu
É notório o fato de que o Jovem
campo profissional, tenha visão crí- Aprendiz, participante do Programa
tica sobre a realidade e as ações que
realiza e apresente atitudes empre-
Aprendizagem, necessita se sentir au-
endedoras, sustentáveis e colabora- tor no processo de construção do seu
tivas, atuando com foco em resulta-
dos (SEANC.DN, 2015, p.34)
conhecimento, bem como, desenvolver
suas habilidades e atingir o perfil profis-
sional desejado pelo mundo do traba-
lho.
Já no Plano do Curso, em sua ma-
triz curricular, apresenta-se o tema gera-
Dentre as competências profissio-
dor para o desenvolvimento do Projeto
nais exigidas no mundo do trabalho,
Integrador. Em alguns casos, os estu-
destacamos aqui a gestão de conflitos e
dantes, por já estarem atuando como
foco em resultados que podem ser de-
aprendizes junto as empresas, conse-
senvolvidas a partir do Projeto Integra-
guem identificar um problema merece-
dor que tem sua prática norteada ação-
dor de investigação e possível criação de
-reflexão-ação constante no MPS. Nesse
uma solução inovadora, no entanto, no
contexto, pode-se entender que para de-
estudo de caso aqui apresentado, os es-
senvolver um projeto com jovens, estes
tudantes utilizaram o tema gerador ex-
serão agentes da ação com participação
posto na matriz curricular do plano do
em todas as fases do processo, desde o
curso de Vendas.
planejamento, a execução e a avaliação
com objetivo de promover um desenvol-
Podemos inferir que a construção
vimento social, técnico e profissional.
do Modelo Pedagógico do SENAC trouxe

85
PROTAGONISMO JUVENIL: uma experiência do projeto integrador dos jovens aprendiz curso de vendas, SENAC-PE

Segundo Porto (2011) aprendiza- gem é o que o aluno já sabe. No entanto,


gem formativa não pode ser voltada para haver aprendizagem significativa é
apenas para aquisição do conhecimento, preciso haver duas condições, a saber:
pois o sujeito deve ser capacitado para
realizar atividades por meio do processo
• O aluno precisa ter uma disposição
mental da ressignificação. Assim, a tare- para aprender: se houver memori-
fa da aprendizagem formativa volta-se zação a aprendizagem será mecâ-
nica;
com objetivo de orientar para a vida.
• O material a ser aprendido tem que
ser potencialmente significativo:
Neste âmbito teórico, destacamos
Cada aprendiz faz uma filtragem
Ausubel (1980), ao afirmar que a apren- dos materiais que têm significado
dizagem não necessita necessariamente ou não para si próprio.
da motivação, pois, ela ocorre por si só.
Para esse autor, motivação é a própria
aprendizagem. Quando se aprende algo, Entretanto, para Moran (2008, p.
há uma satisfação inicial. Porém, na Teo- 06) “a condição fundamental para que
ria de David Ausubel, o aspecto cognitivo haja uma aprendizagem significativa é
é a sua maior preocupação, pois, o acolhimento afetivo”. Utilizar recursos
cotidianos dos alunos (filmes, histórias,
artes etc.), lançar mais desafios e menos
[...] aprendizagem significativa, en-
tendida como um processo em que
soluções, incentivar a busca de respos-
as novas informações ou novos co- tas e não levar ao aluno respostas pron-
nhecimentos interagem com um
aspecto relevante existente na es-
tas, com isso facilita a aprendizagem.
trutura cognitiva inicial do aluno. Ou
seja, um conteúdo é aprendido de Dessa forma, o objetivo da forma-
forma significativa quando se arti-
cula com outras ideias, conceitos ou ção deve ser a aprendizagem do aluno,
proposições relevantes e inclusivos e essa aprendizagem deve ser signifi-
disponíveis na estrutura cognitiva
do sujeito, funcionando como ânco- cativa para sua vida. E isso não pode
ras. Nessa interação, ocorre um pro- ocorrer através do modelo de educação
cesso de modificação mútua tanto
da estrutura cognitiva prévia como tradicional, em que aprendente recebe
do material que é aprendido. (AUSU- informações prontas. Essa formação só
BEL, 1980 apud FERRO, 2017, p. 55)
é possível por meio de um modelo edu-
cacional dinâmico, que possibilite a (re)
Ausubel preocupa-se com a apren- construção do conhecimento que será
dizagem que ocorre na sala de aula, pois usado na vida.
o fator mais importante da aprendiza-
No estudo de caso aqui exposto,

86
Margarete Carneiro dos Santos Soares et al.

constatamos que ao aplicarmos o Mode- Percurso metodológico do Projeto


lo Pedagógico Senac, os Jovens Aprendi- Integrador (PI)
zes apresentaram um grande desempe- No processo de aquisição do co-
nho, e se envolveram efetivamente até nhecimento no Programa de Aprendiza-
alcançar o resultado desejado. Potencia- gem, o Projeto Integrador (PI) é um dos
lizando assim, o protagonismo Juvenil. grandes desafios e uma importante es-
tratégia para mobilizar os aprendizes a
Quando se trata de projetos de pro-
tagonismo juvenil, o acerto e o erro assumir diversos papeis no planejamen-
têm valor positivo, pois ambos po-
to do trabalho, uma vez que, por meio
dem ser usados para alimentar e
retroalimentar o processo de apren- desse projeto, os jovens desenvolvem as
dizagem, crescimento e desenvolvi-
competências do trabalho em equipe,
mento dos jovens, como pessoas e
como cidadãos.(COSTA, 2007, p.17). se reconhecendo dentro do processo de
construção coletiva, amadurecendo pro-
A aprendizagem significativa apre- fissionalmente por meio dos conflitos
sentada por Küller e Rodrigo (2010), está inerentes ao trabalho coletivo, desenvol-
exposta nas metodologias ativas, tam- vendo assim o protagonistas nesse fazer
bém utilizadas pelo Modelo Pedagógico laboral, por vezes, possibilitando eviden-
do SENAC. Não podemos deixar de elu- ciar a liderança nata, latente no próprio
cidar que os princípios essenciais para sujeito.
desenvolver metodologias ativas estão
Como exemplo desse processo,
alicerçadas no processo ensino aprendi-
aqui apresentaremos um estudo de
zagem, no qual o estudante é o prota-
caso realizado com os alunos da turma
gonista, através de atividades colabora-
do Curso de Vendas que tem suas aulas
tivas e da ação-reflexão (Filatro, 2018).
no espaço de uma instituição parceira, o
Instituto Shopping Recife (ISR)2.
A ideia de se ter o estudante
como centro do processo ensino apren- A nossa opção por trabalhar com
dizagem é alicerçada em teóricos como o estudo de caso, diz respeito a sua apli-
como Dewey (1950), Freire (2009), Ro- cabilidade a acontecimentos da vida hu-
gers (1973), Novack (1999), entre outros. mana, a circunstâncias atuais da realida-
de do próprio sujeito (Dooley, 2002).
Nessa perspectiva, desenvolve-
mos o Projeto Integrador em uma tur- O estudo de caso é abordado por
ma do Programa Aprendizagem, o qual diversos autores como Yin (1993 e 2005),
apresentaremos a seguir a metodologia Stake (1999), Rodríguez et al. (1999),
e seus resultados. Ponte (1994), para os quais, o estudo de

2 O Instituto Shopping Recife é a entidade de Responsabilidade Social/ Braço Social do Shopping Recife, centro de compras situado em Boa Viagem vizinho à comunidade 87
de baixa renda denominada - Entra A Pulso
PROTAGONISMO JUVENIL: uma experiência do projeto integrador dos jovens aprendiz curso de vendas, SENAC-PE

caso é caracterizado como o estudo de: Como instrumento de recolha de


uma entidade, um programa, uma insti- dados, realizamos a observação dos par-
tuição, um curso, uma disciplina, um sis- ticipantes, registramos todas as ações
tema educativo, uma pessoa, uma uni- em diário de campo e posteriormente
dade social, “mas também pode ser algo transformamos em relatório da obser-
menos definido ou definido num plano vação, o qual foi utilizado para a escrita
mais abstrato como: decisões, progra- deste artigo.
mas, processos de implementação ou
mudanças organizacionais” (MEIRINHOS O projeto foi desenvolvido em dois
e OSÓRIO, 2010, p. 52). momentos, e teve toda sua elaboração
realizada pelos estudantes, só ocorren-
Para Ponte o estudo de caso é
do intervenção dos docentes quando
solicitados pelo grupo para esclarecer
[...] uma investigação que se assu- alguma dúvida. As reuniões de organiza-
me como particularista, isto é, que ção por partes dos estudantes ocorriam
se debruça deliberadamente sobre
uma situação específica que se su- periodicamente uma vez por semana,
põe ser única em muitos aspectos, de forma avaliativas onde elencaram os
procurando descobrir a que há nela
de mais essencial e característico e, resultados alcançados e os que precisa-
desse modo, contribuir para a com- vam ser desenvolvidos.
preensão global do fenómeno de in-
teresse (1994, p. 02).
É importante ressaltar que todo
procedimento foi protocolado na Blitz3,
documento que serve para registrar to-
O tema gerador proposto foi: Or-
dos os passos da construção do projeto.
ganização, Controle e Administração do
Também foi criada uma Sala de aula no
Estoque. Este tema está descrito no pla-
Google Classroom com objetivo de ar-
no de curso cuja ênfase reside na saída
quivar e socializar os materiais pesqui-
formativa de Estoquista.
sados e produzidos, recurso que trouxe
A carga horária do PI foi de 16 ho- grande contribuição para o fazer peda-
ras/aula, sendo vivenciadas com encon- gógico agregado à metodologia de pro-
tros de 02 horas/aula por semana, du- jetos do Senac.
rante as duas unidades curriculares do
Houve, como parte integrante da
curso que contemplam o PI, o que possi-
metodologia, a criação do portfólio e o
bilitou aos docentes do curso a realizar o
diário de bordo como já descrito ante-
trabalho de forma integrada.
riormente. Esses instrumentos contribu-

88 3 Documento criado pelo grupo de docentes do SENAC-PE (Unidade de Tecnologia – UTIC) que atuam no Programa Aprendizagem, para registrar todas as ações realizadas
com a turma em relação a execução do projeto.
Margarete Carneiro dos Santos Soares et al.

íram para o processo avaliativo dos es- resultado positivo considerando que
tudantes, cada jovem aprendiz realizou 60% dos empresários afirmaram que o
um resumo descritivo do funcionamento sistema é viável e que adotariam em sua
do PI utilizando as referidas ferramentas empresa. Pois, ele beneficia vários seto-
da Sala de aula do Google Classroom. res e engloba outros sistemas já existen-
tes.
No segundo momento do Projeto
Integrador, os jovens aprendizes viven- Os estudantes montaram o mate-
ciaram um processo de reconstrução no rial demonstrativo sobre o SERA com-
projeto idealizado no primeiro momen- posto de vídeo tutorial e apresentação
to. Isso porque surgiram várias ideias em PowerPoint. Esse material foi apre-
divergentes no grupo, provocando um sentado em um evento realizado no dia
replanejamento, caracterizando assim o 9 de janeiro de 2019, no auditório do Se-
processo descrito no Modelo Pedagógi- nac-PE que contou com a participação
co Senac, a ação/reflexão/ação. de todos os estudantes do Programa
Aprendizagem de períodos semelhan-
Esse fato contribuiu para o amadu- tes.
recimento profissional dos estudantes,
pois permitiu que corrigissem desvios A seguir descrevemos como se dá
identificados, trazendo soluções criati- o funcionamento do sistema construído
vas. Este momento do projeto permitiu pelos estudantes, como produto final do
aos docentes observar o desenvolvimen- PI.
to de uma das mais importantes Marcas
Formativas Senac, que é o protagonismo
juvenil dos estudantes. O projeto Sistema de Estoque e
Rastreamento Automatizado – SERA
Destarte, os estudantes criaram o
É um sistema que monitora e orga-
Sistema de Estoque e Rastreamento Au-
niza todo o estoque do armazém, rastre-
tomatizado – SERA, o qual está descrito
ando e registrando o recebimento, saída
ao final desse artigo.
de itens do estoque e fazendo o armaze-
Depois de desenvolvido, os jovens namento e localização dos produtos.
aprendizes realizaram uma pesquisa
Tem como objetivo manter o es-
junto a três grandes lojas do Centro Co-
toque sempre organizado, atualizado e
mercial Shopping Recife, buscando certi-
eficaz para garantir o bom atendimento
ficar que o sistema atendia as necessida-
ao consumidor final. O qual viabiliza di-
des de seu empreendimento. Obtiveram

4 Ferramenta gerencial que classifica informações para que se separem os itens de maior importância ou impacto, os quais são normalmente em menor número, também 89
chamado de 80–20 ou analise de Pareto ligado ao valores dos produtos.
5 Método XYZ é planejamento de estoque baseada na criticidade do produto no que se refere a produção
PROTAGONISMO JUVENIL: uma experiência do projeto integrador dos jovens aprendiz curso de vendas, SENAC-PE

minuir os gastos da empresa com o uso por telas de vídeos, assim os funcioná-
da curva ABC4 e XYZ5. rios ficam cientes das operações que
devem ser feitas pelas empilhadeiras
Sendo de fácil administração e ágil automáticas, bem como, quais dessas
identificação da posição das mercado- empilhadeiras deverão ser comandadas
rias, visa também, pouca mão de obra e pelo SERA, e se locomovem por meio de
mais segurança. trilhos pelo galpão.

O sistema disponibiliza uma trava Vale ressaltar que ao usar o SERA


de segurança para as máquinas, ao con- não será necessário ter que implantar
cluir a conferência do recebimento ou um software para cada função da em-
saída das mercadorias. presa.

Também autoriza à utilização das Dessa forma, o sistema SERA ofe-


empilhadeiras através de uma chave de rece economia – menos custos e mais
acesso que todo fornecedor terá em seu benefícios; é um sistema inteligente – de
cadastro. Cadastro no qual os fornece- fácil adaptação e segurança – protege a
dores farão no sistema. Logo, o SERA en- integridade e a capacidade de trabalho
viará a demanda de produtos e o ende- dos colaboradores. Ou seja, por motivos
reço da armazenagem. de segurança e sigilo de informações ou
pela política da empresa, determinada
Para melhor organização do esto-
informação só será acessada por meio
que, o sistema sugere, de acordo com
de senha.
o tipo de produto, qual será o melhor
controle de estoque, se é o PEPS6 ou o Assim, ratificamos que o Sistema
UEPS7. SERA pode ser aplicado a qualquer orga-
nização e adaptado conforme a necessi-
Considerando o valor da carga e
dade da empresa que for utilizar.
a urgência de entrega, o SERA indicará
onde as mercadorias devem ser guarda-
das. Depois de efetuada esta operação,
nenhuma carga sai da prateleira sem Conclusão
liberação do SERA, pois estará fechada
Uma formação que busque de-
por uma porta travada no local de arma-
senvolver as competências e habilidades
zenamento.
exigidas pelo mundo do trabalho é o ob-
O monitoramento será realizado jetivo da educação profissional, conse-

90 6 PEPS significa no estoque: Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair, também conhecido como FIFO (First in, First out)
7 UEPS significa no estoque: Último que entra, Primeiro que Sai, também conhecido como LIFO (Last in, First out).
Margarete Carneiro dos Santos Soares et al.

quentemente da instituição SENAC. produto com soluções criativas, desen-


volvendo a competência de administrar
Dessa forma, torna-se um grande os conflitos e assumir o papel principal
desafio contribuir com o jovem aprendiz no processo.
na construção de projetos que objetivam
proporcionar experiências no “aprender Neste contexto, inferimos que
fazendo”, com o foco na participação co- esse projeto apresentado pelo grupo
letiva, contemplando o Perfil Profissio- participante do nosso estudo de caso,
nal de Conclusão do Curso, bem como atendeu todas as marcas formativas do
das Marcas Formativas do SENAC. SENAC, sendo um projeto inovador.

Assim, sabendo que o objetivo do Compreendemos assim, a rele-


projeto integrador é a articulação de to- vância da divulgação desses resultados,
das as competências do Perfil Profissio- podendo contribuir para realização de
nal dos Cursos, alinhado às concepções outras experiências.
do Modelo Pedagógico, pode-se verificar
que a metodologia de projetos estimu-
la no participante uma autonomia em
suas decisões que é evidenciado como Referências
a marca formativa do programa, ou seja, ARAÚJO, M.D.O. O programa
aprendizagem: um estudo da formação
o protagonismo juvenil. Pois na elabora- do jovem aprendiz no SENAC/PE. 2008.
ção do projeto a sistematização permite Dissertação (Mestrado em Educação) –
que cada jovem contribua no desenvol- Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, 2008.
vimento do trabalho de forma efetiva,
BRASIL, Leis, Decretos. Decreto-Lei nº
com visão crítica. 10.096/2000. Regulamenta o Programa
Aprendizagem. Disponível em: <http://
Com isso, pode-se afirmar que www.mte.gov.br>. Acesso em: 5 jun.
2019
essa construção do saber adotado pelo
Modelo Pedagógico Senac promove o COSTA, Antonio Carlos Gomes da.
Protagonismo juvenil: o que é e como
crescimento dos agentes envolvidos, as- praticá-lo. 2007. Disponível em: <
sim como é satisfatório participar do pro- http://www.institutoalianca.org.br/
Protagonismo_Juvenil.pdf>. Acesso em 5
grama de aprendizagem e contemplar jun. 2019
a formação profissional de aprendizes DEWEY, John. Vida e educação. São
que inicialmente não têm conhecimento Paulo: Melhoramentos, 1959.
do mundo do trabalho, nem tão pouco, DOOLEY, L. M. Case Study Research
de projetos científicos, e de construir um and Theory Building. Advances in
Developing Human Resources. v. 4, n.

91
PROTAGONISMO JUVENIL: uma experiência do projeto integrador dos jovens aprendiz curso de vendas, SENAC-PE

3, p. 335-354. 2002. cualitativa. Málaga: Aljibe, 1999.


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Metodología de la investigación

92
Margarete Carneiro dos Santos Soares et al.

93
AR
TI
GO.

RELATOS DA PRÁTICA DOCENTE SOB A ÓTICA


DO MODELO PEDAGÓGICO SENAC

Guilherme Fernandes da Costa


Ângela Consuelo Martins Arruda
Carlos Alberto Muniz Leal
Rosângela Pereira Lima

Introdução tes, criados em âmbito nacional, respei-


tando a peculiaridade de cada região e
Na prática docente do ensino pro- especialmente para este programa, na
fissionalizante, inúmeros desafios envol- condição de trabalhadores em treina-
vem os métodos aplicados no ambiente mento sem perderem sua essência juve-
educacional que são balizados pelo po- nil.
sicionamento comportamental e social Neste contexto, os docentes me-
dos jovens aprendizes. diadores das turmas em questão, pre-
Despertar-lhes a motivação capaz cisam lançar mão de planejamentos de
de mobilizá-los no engajamento das aula, técnicas didáticas e instrumentos
possíveis soluções às problemáticas en- metodológicos alavancadores do poten-
contradas inerentes ao campo laboral cial crítico, criativo e impetuoso desses
torna-se uma conquista ainda mais de- jovens.
safiadora. Com o objetivo de relatar, sob a óti-
Inseridos na Lei de Aprendizagem ca dos instrutores, o percurso construti-
(Programa Jovem Aprendiz) que tem vo do Projeto Integrador 3 da turma 56
como objetivo promover a inclusão so- do Programa de Aprendizagem Profis-
cial e profissional, oferecendo formação sional Comercial em Serviços de Super-
técnico-profissional a jovens com idade mercado do Senac-Recife/Pernambuco,
entre 14 e 24 anos e que estejam estu- este artigo ressalta como este esforço
dando ensino fundamental ou médio ou foi problematizado na condição da ocu-
que o tenham concluído1, esses jovens pação de Operador de Supermercados/
ingressam nos cursos profissionalizan- Repositor de mercadorias e incitado

94 1 Disponível em: https://www.rj.senac.br/jovem-aprendiz/


Guilherme Fernandes da Costa et al.

pela proposta de tema gerador “a re- como peça inviolável de todo um con-
posição de mercadorias e produtos no texto metodológico exposto quando de
ponto de venda (PDV), o que contempla sua prática laboral.
o posicionamento dessas mercadorias e
A reflexão sobre a prática não re-
produtos no PDV, acesso às prateleiras, solve tudo, a experiência refletida
displays, exigindo a mobilização de uma não resolve tudo. São necessárias
estratégias, procedimentos, modos
série de recursos necessários para aten- de fazer, além de uma sólida cultura
der públicos diversos.” (SENAC, 2015, p. geral, que ajudam a melhor realizar
o trabalho e melhorar a capacidade
22) reflexiva sobre o que e como mudar
(LIBÂNEO, 2015, p. 76)

Desenvolvimento
Justificativa Nessa mesma linha de pensamen-
to, nesse fazer pedagógico, é natural
A prática docente deve ser cons- um mergulho nas profundezas filosófi-
tantemente avaliada e reavaliada sob cas da concepção humana, bem como,
pena de tornar-se obsoleta aos olhos um enveredar sob aspectos psicológicos
de quem, de fato, conta com ela: o alu- e sociais oriundos de pontos de vistas
no, afinal, “[...] quem, mais que eles, utópicos e sublimes. Entretanto, pen-
para ir compreendendo a necessidade samentos baseados em pressupostos
da libertação?” (FREIRE, 2013, p.6). O profissionais e mais pragmáticos, trazi-
jovem aprendiz espera na atuação dos dos pela nova educação, têm contribuí-
professores, que possuem uma impor- do para uma maneira mais racional no
tância chave no seu desenvolvimento tratar do cunho didático, ao passo que,
profissional, uma relação cognitivo-in- se prevaleça o pensamento científico.
terativa, não meramente pela troca de (MATTOS; CASTRO, 2011).
conhecimentos específicos, mas por se
tornarem os mestres cerimoniais, que De acordo com Oliveira (2009, p.
apresentarão a esse jovem um mundo 114), “[...] a vontade e o esforço apenas
possível de conquistas e intervenções. não levam a pessoa a ser professor, é
preciso também algumas condições ob-
Outrossim, o registro documental jetivas, institucionais, de recursos estru-
é necessário em toda autoavaliação do- turais etc., da escola”. Com professores
cente, alimentada na sua essência pelo bem guiados e avaliados, é possível sa-
processo científico que lhe é inerente, ber o quanto a prática didática da apren-

95
RELATOS DA PRÁTICA DOCENTE SOB A ÓTICA DO MODELO PEDAGÓGICO SENAC

dizagem profissional se aproxima do de- gógico Senac vem inovando no proces-


sejado pelo mercado de trabalho, bem so de ensino e aprendizagem nas áreas
como, da realidade corporativa em voga. técnica e profissional, utilizando dois
tipos de Unidades Curriculares que tra-
Segundo Castro (2014), no ambien- balham, concomitantemente, os conhe-
te avassalador do mundo globalizado, o cimentos da teoria e da prática, possi-
que consta como trabalho final ou pro- bilitando ao educando uma articulação
duto acabado para os jovens aprendizes, maior nos fazeres profissionais de con-
se trata de matéria-prima para a produ- clusão e nas Marcas Formativas.
ção de suas vidas profissionais. Sob essa
ótica, o docente deve estar atento para a
continuidade de sua prática pedagógica, A partir da trajetória histórica do SE-
NAC Pernambuco, pode-se demons-
mesmo quando lhe pareça o desfecho trar a preocupação constante da
de um processo em si, propriamente instituição em se colocar a serviço
do desenvolvimento e qualificação
dito, mas o início, meio e fim dessa con- para a vida produtiva, atingindo o
dução pedagógica em específico. Peran- aluno como um todo, sempre sinto-
nizado com as mudanças temporais
te a importância da perpetuação de seu e a preparação para o futuro. Sinto-
fazer laboral e como ele influenciará o nia que se traduz na Missão do Se-
nac: Educar para o trabalho em ativi-
futuro trabalho daqueles, o professor dades de comércio de bens, serviços
solidifica sua fundamentação baseada e turismo. (SENAC, 2018, p. 7)

numa estrutura objetiva e clara, com a


consciência de que uma das fontes de
As Unidades são divididas em: Uni-
dados para a sua avaliação é justamente
dades Curriculares (UCs) – desenvol-
o aprendiz.
vedoras de competência, habilidades,
Dessa forma, neste documento em atitudes e valores e as Unidades Curricu-
particular, registra-se a ação de profes- lares de Natureza Diferenciada - Estágio
sores para posterior apreciação, bem Profissional Supervisionado e a Prática
como, avaliação do processo educativo Profissional, assim como os Projetos In-
implementado com base estruturada no tegradores que, somados à metodolo-
Modelo Pedagógico Senac. gia de projetos, fortalecem ainda mais o
conceito de ação-reflexão-ação, em que
os jovens aprendem fazendo e analisan-
do o próprio fazer.
Referencial Teórico
Desse modo, ao contrário de ape-
Nos últimos anos, o Modelo Peda-
nas espectadores, passivos no concer-

96
Guilherme Fernandes da Costa et al.

nente às rédeas de suas vidas, mas sim 18) “uma perspectiva, portanto, que su-
reativos ao enfrentarem algo que lhes pere tanto o academicismo quanto a vi-
poderia pertencer e tomarem como são de profissionalização adestradora”.
seus ao mesmo tempo. O Modelo Pedagógico Senac baseia-se
em dois princípios fundamentais para a
O professor que pensa certo, deixa formação do jovem aprendiz: a concep-
transparecer aos educandos que ção filosófica e a pedagógica. A filosófica
uma das bonitezas de nossa manei-
ra de estar no mundo e com o mun- trata da maneira como o fazer educativo
do, como seres históricos, é a ca- pode formar na perspectiva da constru-
pacidade de, intervindo no mundo,
conhecer o mundo. (FREIRE, 2011, p. ção humana e do trabalho, especialmen-
29). te quando são discutidos temas acerca
do respeito à diversidade de toda or-
Não obstante, na visão de Parente, dem.
Valle e Mattos (2015), na educação pro- Já na concepção pedagógica, a
fissionalizante, o jovem aprendiz deixou orientação à prática educativa do Se-
de ser um receptor de conhecimento e nac expressa os valores da instituição
passou a interagir naturalmente na aula e contribui para a prática das melhores
com suas pesquisas instantâneas, fazen- escolhas metodológicas e ações promo-
do com que o docente esteja mais aten- vidas por todos na Instituição (SENAC.
to às mudanças acerca da atualização de DN,2015).
suas práticas e, acima de tudo, transfor- Ainda dentro da concepção pe-
mando aquilo que, inicialmente, poderia dagógica, dois elementos, não menos
se tratar de uma mera ferramenta ine- importantes que os demais, desempe-
rente à sua aula em um aliado potencia- nham um papel positivo dentro da Me-
lizador do processo de aprendizagem. todologia Pedagógica Senac, são eles: o
Desse modo, os docentes em questão, currículo que se define como um con-
sem desconsiderar os livros propostos junto integrado e articulado de compe-
para o curso, lançaram mão da tecnolo- tências, indicadores e elementos, tor-
gia disponível na ocasião em suas aulas, nando-se um instrumento importante
tais como celulares, tablets dos próprios para o planejamento, a execução e a
jovens e laboratórios de informática da avaliação de situações de aprendizagem
instituição quando necessário, perce- significativas, baseada na teoria de Da-
bendo-se, assim, pesquisas mais dinâ- vid Ausubel onde, para ele, “o fator iso-
micas nestes encontros. lado mais importante que influencia o
Em concordância com Moll (2010, p aprendizado é aquilo que o aprendiz já

97
RELATOS DA PRÁTICA DOCENTE SOB A ÓTICA DO MODELO PEDAGÓGICO SENAC

conhece”, compreendendo que, neste


método proposto pelo pesquisador, na Ensinar, aprender e pesquisar lidam
com esses dois momentos do ciclo
sua obra Psicologia Educacional, quanto gnosiológico: o em se ensina e se
mais sabemos, mais aprendemos, sendo aprende o conhecimento já existen-
te e em que se trabalha a produção
assim, devemos levar em consideração do conhecimento ainda não existen-
os conhecimentos prévios do jovem que te. A ‘dodiscência’ – docência-discên-
cia – e a pesquisa, indicotomizáveis,
é orientado para o desenvolvimento de são assim práticas adquiridas por
competências, contribuindo, assim, para esses momentos do ciclo gnosioló-
gico (FREIRE, 2011. p.29).
a formação contínua e atual do profis-
sional; e a metodologia que por meio de
práticas pedagógicas ativas, inovadoras, Dentro desta perspectiva, os Pro-
integradoras e colaborativas permite ao jetos Integradores (PI’s) vêm sendo uma
docente romper as barreiras do modelo ferramenta fundamental para a busca
tradicional e centralizar o protagonismo de soluções às problematizações encon-
do aluno na proposta de ação-reflexão- tradas em sala, em síntese, são os fios
-ação. (SENAC. DN, 2015). condutores dos cursos estruturados sob
De acordo com Freire (2011), res- a ótica a colaboração, empreendedoris-
peitando-se o arcabouço cultural e so- mo e inovação, a partir de situações reais
cial dos jovens aprendizes e entrelaçan- trazidas pelos jovens aprendizes, suas
do práticas pedagógicas próximas às respectivas empresas e docentes media-
profissionais é possível conquistar o in- dores do processo.
teresse deles de forma lúdica por meio Como forma de incentivar a criati-
de simulações do ambiente profissional vidade e pensando em inovações tecno-
no qual tais estudantes serão inseridos lógicas, a metodologia de projetos mo-
posteriormente. Relacionando a realida- biliza os jovens a repensar as práticas
de empresarial à realidade dos discen- profissionais comuns do dia a dia, identi-
tes, permite-se um entendimento claro ficando falhas, estudando e aperfeiçoan-
e objetivo para ambas as perspectivas. do produtos e serviços que estão à dis-
Portanto, conhecer o ambiente do qual posição de todos nas áreas do comércio.
emergem os jovens aprendizes possibi-
O curso de Aprendizagem Profissio-
lita ao professor um sentimento de em- nal Comercial em Serviços de Super-
mercados deve atender ao disposto
patia capaz de torná-lo membro honorá-
na Portaria MTE nº 723/12, contem-
rio do grupo. Um perfeito elo, uniforme plando os conteúdos de formação
humana e científica que estão indi-
e igualitário, sensível a cada diferença e
cados no inciso III, do Art. 10, que
peculiaridade perante ele. deram origem às marcas formativas
específicas da aprendizagem: atitu-

98
Guilherme Fernandes da Costa et al.

de saudável e protagonismo juve- Por esses motivos, em busca de


nil, social e econômico. (SENAC. DN,
2015) profissionais que sanem seus proble-
mas corporativos, muitas empresas,
ao disponibilizarem vagas para jovens
Neste contexto, destacam-se as profissionais, habitualmente reforçam
Marcas Formativas do Senac, que tratam a necessidade de desenvolvimento da
de diferenciais comportamentais e téc- competência de lidar com situações re-
nicos facilmente percebidos no mercado ais, adversas e complexas dentro das or-
de trabalho2, que são: domínio técnico- ganizações.
-científico, visão crítica, atitudes empre-
endedora, sustentável e colaborativa,
Procedimentos Metodológicos
assim como as específicas do Programa
de Aprendizagem que são: protagonis- Partindo do princípio que as ins-
mo juvenil, social e econômico e atitude tituições de ensino profissionalizante
saudável. e superior são as grandes formadoras
desses jovens e que promovem a cons-
[...] o mundo do trabalho requer trução do saber e troca de conhecimen-
sujeitos que demonstrem claro
domínio técnico-científico em seu tos a partir da vivência de cada um, o
campo profissional, tenham visão modelo de ensino pedagógico precisa
crítica sobre a realidade e as ações
que realizam e apresentem atitudes estar em consonância às inovações tec-
empreendedoras, sustentáveis e co- nológicas educacionais, trazendo para a
laborativas, atuando com foco em
resultados. (SENAC, 2015) sala de aula problematizações baseadas
em experiências reais enfrentadas pelas
empresas e não apenas no campo da te-
Com o advento de tecnologias re- oria sobretudo na prática coerente e que
novadas, profissionais multidisciplinares responde às demandas do mercado.
e estrategistas, o mercado de trabalho
vem se tornando cada vez mais compe- Consequentemente, essa fragmen-
titivo, criterioso e exigente, em especial tação afeta todas as áreas do co-
nhecimento, especialmente a edu-
num cenário de uma taxa de subutiliza- cação, e mais particularmente a
cisão teoria e prática na formação
ção da força de trabalho de 25% – que do professor juntamente com a re-
conta com desocupados ou trabalhado- lação professor versus pesquisador.
Afirmo isso, pois ainda é comum
res com carga horária de trabalho me- uma visão dicotômica do trabalho
docente e da pesquisa, como se fos-
nor que 40 horas semanais e os que es- sem atividades dissociáveis, assim
tão disponíveis para trabalhar - segundo como a teoria e a prática pedagógica
(FERREIRA, 2014, p.34).
o IBGE3.

2 - Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/24283-desemprego-sobe-para-12-7-com-13-4-milhoes- 99


-de-pessoas-em-busca-de-trabalho
3 - Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/24283-desemprego-sobe-para-12-7-com-13-4-milhoes-
-de-pessoas-em-busca-de-trabalho
RELATOS DA PRÁTICA DOCENTE SOB A ÓTICA DO MODELO PEDAGÓGICO SENAC

É importante ressaltar que a neces- seus posicionamentos prévios e os que


sidade de solucionar problemas reais foi eles adquiriram nos supermercados
a mola propulsora para o surgimento onde eles passaram o período anterior à
da ideia e a criação de uma ferramenta Unidade Curricular 7 (UC 7), os jovens da
tecnológica, inovadora e sustentável que turma 56 pensaram, discutiram e chega-
pudesse auxiliar tanto os funcionários ram à conclusão que seu PI 3 abordaria a
quanto os clientes da loja. problemática percebida nas tradicionais
etiquetas de preços das gôndolas que,
Desenvolvida face à vivência dos jo-
segundo eles, se apresentavam com di-
vens no período em que estiveram nas
versas falhas, dentre elas:
suas respectivas empresas, sob a ado-
ção de visão crítica previamente traba-
lhada pelos docentes em sala de aula, • Lentidão na atualização dos preços;
• Visualização deficitária para quem
assim como, com a colaboração de toda tem baixa visão;
turma contribuindo com relatos, percep- • Desencontro entre os preços nas
etiquetas e os registrados nos cai-
ções e colheita de depoimentos dos fun- xas;
cionários mais experientes de suas lojas, • Baixa capacidade de concentração
a realização deste projeto foi incitada de informações como prazo de va-
lidade e momentos promocionais;
por meio de um tema gerador o qual foi • Pouca atratividade no visual das
apresentado com critérios previamente etiquetas.
estabelecidos.
De acordo com a proposta do Pro-
jeto Integrador que consiste em criar
Problematização uma solução para as questões-desafio
Como este projeto se refere à ter- factuais identificadas a partir da proble-
ceira entrada formativa, operador de matização norteada pelo tema gerador
supermercados/repositor, a proposta e com base nos conhecimentos prévios
de seu tema gerador foi a reposição de e na vivência de mundo dos jovens, adi-
mercadorias e produtos no Ponto de cionada à soma cognitiva adquirida em
Venda (PDV), o que contempla o posi- sala de aula, foi traçado um plano de
cionamento dessas mercadorias e pro- ação, no qual, foram estabelecidas me-
dutos no PDV, acesso às prateleiras, tas, equipes e caminhos que chegariam
displays, exigindo a mobilização de uma aos resultados esperados.
série de recursos necessários para aten- Como parte do planejamento re-
der públicos diversos. (SENAC, 2015) alizado, em que os jovens aprendizes
Diante do exposto, considerando estiveram intrinsicamente envolvidos,

100
Guilherme Fernandes da Costa et al.

dentre outros, foi utilizado o recurso di- e serviços e 8 – Abastecer o Ponto de


dático do quadro branco, o qual foi ad- Venda com mercadorias e produtos, os
ministrado de modo democrático. De jovens aprendizes partiram para o al-
forma notória, os jovens participaram cance dos objetivos do PI.
ativamente com evidente protagonismo
e proatividade acerca de todos os ele- Entretanto, após algumas reuni-
mentos constitutivos desse ato de pla- ões, os aprendizes identificaram que no
nejar, impulsionador do fator de criativi- grupo não havia alguém com habilidade
dade nestes jovens. suficiente para o desenvolvimento tec-
nológico do produto, assim perceberam
Assim, foi decidida pelo grupo a
que seria necessário um suporte para
elaboração de uma linha do tempo, con-
dar sequência ao projeto. A busca por
tendo o cronograma com o marco inicial
conhecimento específico se tornou, as-
do projeto o qual foi intitulado de “Es-
sim, decisiva.
tamos Aqui”. E, em continuação, foram
inseridas as metas propostas e seus De pronto, foi articulado com a
desdobramentos, a saber: construção UTIC (Unidade de Tecnologia e Comuni-
do protótipo, elaboração da produção cação), unidade operativa especializada
escrita e montagem da apresentação, em cursos voltados para a tecnologia, a
assim como as equipes pertinentes e intervenção técnico-didática de um pro-
responsáveis por cada uma dessas eta- fessor especialista em internet das coi-
pas e suas respectivas datas até o dia da sas. Com a contribuição deste docente,
apresentação do projeto. os Jovens Aprendizes apropriaram-se
das ferramentas fundamentais para de-
senvolver competências, além daquelas
Desenvolvimento do Projeto Integrador inicialmente requeridas para construí-
rem um protótipo com todas funcionali-
Partindo do plano de ação criado dades previstas no projeto com enfoque
em conjunto com a turma, onde foram nas marcas formativas do Senac e no
monitorados os prazos estipulados, ati- princípio da inovação.
vidades das equipes, bem como, as eta-
pas que por todos determinadas, com Nesta etapa, foi crucial a integra-
base nos conhecimentos desenvolvidos ção dos eixos tecnológicos de Gestão e
durante o curso, em especial nas suas de Tecnologia da Informação uma vez
Unidades Curriculares 7 – Orientar clien- que o produto em questão se tratava de
tes em relação a mercadorias, produtos etiqueta eletrônica controlada pelo que

101
RELATOS DA PRÁTICA DOCENTE SOB A ÓTICA DO MODELO PEDAGÓGICO SENAC

os especialistas em TI chamam de “in- bibliografia institucional trabalhada em


ternet das coisas”, na qual, por meio de sala de aula e amplamente discutida
aparatos próprios, neste caso “Arduino”, pela turma sob a tutela dos seus respec-
torna-se possível o controle imediato, e tivos professores.
via rede de dados, de aparelhos diver-
Também foi fundamental a explo-
sos. Esta exitosa parceria reforçou a per-
ração da Visão Crítica, por exemplo, na
cepção das Marcas Formativas do Senac
detecção dos problemas a serem abor-
neste projeto.
dados e exaustivamente debatidos pela
turma, contando com a efetiva colabo-
Como Marcas Formativas, espera-se
que o profissional formado pelo Se- ração de cada membro com seu ponto
nac evidencie domínio técnico-cien- de vista particular. Sem contar que esse
tífico em seu campo profissional,
tenha visão crítica sobre a realidade projeto se trata de uma evidente de-
e as ações que realiza e apresente monstração de Atitude Empreendedora.
atitudes empreendedoras, susten-
táveis e colaborativas, atuando com
foco em resultados. (SENAC, 2015, p. Além das Marcas Formativas já ci-
15) tadas, ao Jovem Aprendiz do Senac
somam-se marcas específicas que
buscam evidenciar o protagonismo
juvenil, social e econômico e as ati-
Dentre as Marcas Formativas do tudes saudáveis, expressas em itens
Senac, destaca-se, neste projeto, a Atitu- legais que explicitam uma necessá-
ria abordagem nas ações de forma-
de Colaborativa, uma vez que, a gestão ção 17 dos Programas de Aprendiza-
dos talentos pertencentes a cada inte- gem Profissional Comercial. Os itens
a seguir sintetizam os conteúdos de
grante dessa turma, se deu de maneira formação humana e científica pre-
harmoniosa e motivadora, transforman- vistos em legislação específica. (SE-
NAC, 2015, p. 16)
do em destaque a participação dos jo-
vens como equipe, oferecendo suas me-
lhores contribuições respeitando suas Já o Protagonismo, social e eco-
peculiaridades. nômico, adentra no rol de Marcas For-
mativas específicas do Programa de
Não obstante, evidencia-se, em
Aprendizagem Senac, ao expressar suas
todo processo e documentos elabora-
preocupações no cunho da acessibili-
dos por esses Jovens Aprendizes, as de-
dade, aporte econômico incrementado
mais Marcas Formativas, assim quando
pela introdução de milhares de deficien-
são incorporadas ao Projeto Integrador
tes economicamente ativos no comércio
elementos respaldados por pesquisas
e assumindo para si a responsabilidade
na internet, em campo ou na própria
deste projeto, essa turma de Aprendiza-

102
Guilherme Fernandes da Costa et al.

gem Comercial em Serviços de Super- percalços vencidos e experiências ad-


mercados do Senac Recife, estabelecen- quiridas em todo processo e cada etapa
do uma relação profissional saudável e concluída.
harmônica, consolidaram a representa-
ção dessas marcas dedicadas exclusiva-
mente para eles.
Resultados

Com base em procedimentos


Síntese científicos que direcionam os métodos
a serem aplicados e, ainda, em especial
Neste momento do projeto, foi na perspectiva analógica, se a proposta
provocada uma reflexão a respeito da tiver como viés de análise comparativa
essência dele, numa oportunidade de a avaliação diagnóstica a partir do dia
avaliação antes do seu desfecho. Bus- em que esses jovens chegaram à sala de
cou-se estimular nos jovens aprendizes aula do Senac, com seus conhecimentos
um questionamento mais perene acer- de mundo, perspectivas e conceitos e ,
ca de suas potencialidades, quanto ao após ser posta em prática a metodolo-
protagonismo desse fazer coletivo, es- gia do SENAC nesse processo formativo
gotando as possibilidades concernentes de reconstrução a partir de um posicio-
à experimentação proporcionada a cada namento crítico deste refazer-se, com
partícipe desse processo, evidenciando foco constante na excelência de suas
seu senso crítico no tocante à necessi- produções; ao se avaliar o desempenho
dade do refazer constante como meta dos jovens aprendizes na culminância
incessante no desenvolvimento de com- da apresentação do Projeto Integrador,
petências. Saliente-se que foram consi- por meio de suas construções escritas,
derados, como instrumentos deste ato participações, interações e pelos relatos
reflexivo, aspectos funcionais, técnicos, dos próprios jovens em um processo de
práticos e teóricos. autoavaliação, foi possível perceber o
quanto eles evoluíram como cidadãos e
Então, foi percebido que os re- profissionais. Assim sendo, pôde-se veri-
sultados esperados foram satisfatoria- ficar, tendo como objeto de análise esse
mente alcançados, respondendo aos Projeto Integrador em específico, que
questionamentos postos, aos objetivos com as marcas formativas do Senac de-
pretendidos e às problemáticas abor- monstradas em suas práticas laborais,
dadas. Também foi avaliada a eficácia eles se portaram com notável empode-
do plano de ação, de nada obstante, os

103
RELATOS DA PRÁTICA DOCENTE SOB A ÓTICA DO MODELO PEDAGÓGICO SENAC

ramento, verificado em suas produções, vida laboral, assim como o seu relato.
nos trabalhos em equipe, bem como
na postura profissional, interpessoal e Portanto, a preocupação do do-
como indivíduos capazes de enfrentar cente em fazê-lo participante nessa atu-
desafios propostos pelo mundo do tra- ação pedagógica deve ser constante,
balho. uma vez que a transformação esperada
pela educação voltada ao jovem apren-
diz contando com seu protagonismo,
Conclusão vivências prévias e desejo de crescimen-
to, só se torna plena quando o docente
Na condição de jovem, a inserção adota práticas e ações didáticas perten-
no mercado profissional se torna desa- centes a um plano metodológico focado
fiadora e, muitas vezes frustrante, uma no próprio ato de transformar com um
vez que ter experiência é um fator de objetivo claro na vida desse jovem. O
grande peso competitivo para este fim. que é motivador é notar essa transfor-
O Programa de Aprendizagem abre as mação reverberando por toda sua órbi-
portas do primeiro emprego para quem ta social, amigos, colegas, instituições e
carece dessa experiência através da família. Todos os olham e os tratam com
capacitação profissional. A condução mais respeito e dignidade pelo fato de
pedagógica focada no ato do fazer, fo- evidenciarem com sua conduta marcas
mentando ação-reflexão-ação, proce- formativas próprias de um grande pro-
dimento este voltado às realidades do fissional.
mercado de trabalho, favorece mais pro-
tagonismo, mais criatividade nos jovens
aprendizes, os habilitando a resolver os
Referências
problemas e trazer possíveis soluções
BRASIL. AGÊNCIA IBGE. Desemprego sobe
dentro dessa perspectiva laboral. para 12,7% com 13,4 milhões de pessoas
em busca de trabalho. Disponível em:
Dessa forma, o Modelo Pedagó- <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/
agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/
gico SENAC pode possibilitar uma visão noticias/24283-desemprego-sobe-para-12-
holística, uma vez que traz por condu- 7-com-13-4-milhoes-de-pessoas-em-busca-
ção essa ação pragmática, ou seja, traz a de-trabalho>. Acesso em: 03 jun. de 2019.

constatação daquilo que se pode ser fei- FERREIRA, J.L. Formação de Professores:
teoria e prática pedagógica. Petrópolis:
to com sentido lógico. O processo meto- Vozes, 2014.
dológico dessa capacitação é importante FREIRE, Paulo Pedagogia da autonomia:
para o êxito do ingresso dos jovens na saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 2011.

104
Guilherme Fernandes da Costa et al.

______. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Pedagógico Senac, 4).


Paz e Terra, 2013.
______. Concepções e princípios. Rio de
______. Pedagogia do oprimido [recurso Janeiro: Senac Nacional, 2015. (Coleção
eletrônico]. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013. de documentos Técnicos do Modelo
Pedagógico Senac, 1)
LIBÂNEO, J.C. Educação Escolar: políticas,
estrutura e organização. São Paulo: Cortez, SENAC.RJ. Jovem aprendiz. Disponível
2005. em:<https://www.rj.senac.br/jovem-
aprendiz/>. Acesso em: 24 de junho de 2019.
MATTOS, C.L.G.; CASTRO, P.A. Etnografia
e Educação: conceitos e usos. Campina
Grande: EDUEPB, 2011.
MOLL, J. Educação Profissional e
Tecnológica no Brasil contemporâneo
[recurso eletrônico]: desafios, tensões e
possibilidades. Porto Alegre. Artmed, 2010.
NOVA ESCOLA, David Ausubel e a
aprendizagem significativa. Disponível em:
< https://novaescola.org.br/conteudo/262/
david-ausubel-e-a-aprendizagem-
significativa>. Acesso em: 27 set. 2019.
OLIVEIRA. M.L. (Im)pertinências da
educação [livro eletrônico]: o trabalho
educativo em pesquisa. São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2009.
PARENTE, C.M.D.; VALLE, L.E.L.R; MATTOS.
M.J.V.M. A Formação dos professores
frente às mudanças sociais, políticas e
tecnológicas [recurso eletrônico]. Porto
Alegre: Penso, 2015.
PARO, V H. Administração Escolar:
introdução crítica. São Paulo: Câmara
Brasileira do Livro, 2010.
SENAC. DN. Avaliação da aprendizagem.
Rio de Janeiro, 2015.
______. Diretrizes do modelo pedagógico
Senac 2018. Rio de Janeiro: Senac Nacional,
2018.
______. Itinerários formativos: metodologia
de construção. 2. ed. Rio de Janeiro, 2008.
______. Plano de curso: aprendizagem
profissional comercial em serviços de
supermercados. Rio de Janeiro, 2015.
______. Projeto integrador. Rio de
Janeiro: Senac nacional, 2015. (Coleção
de documentos Técnicos do Modelo

105
AR
TI
GO.

DPTOKEN:
DESBUROCRATIZANDO O DEPARTAMENTO PESSOAL

Azenilda de Paula Cabral

Introdução Mas sabemos que só a aquisição de


conhecimentos não é suficiente na educa-
Este artigo vislumbra mostrar a im- ção profissional, fazendo-se necessário o
portância do uso da metodologia de pro- desenvolvimento de habilidades e atitudes
jetos na elaboração do Projeto Integrador que, geralmente, são evidenciadas na prá-
do Curso de Aprendizagem Profissional tica.
Comercial de Serviços Administrativos,
do Programa de Aprendizagem do Senac O jovem que procura o Programa
Pernambuco, correspondente as unidades de Aprendizagem, em sua maioria, busca
curriculares sete, oito, nove e dez, sendo uma colocação no mercado de trabalho
a última, exigência para ocupação de Au- possuindo expectativas de médio prazo, e,
xiliar de Pessoal. Lembramos que o Pro- muitas vezes, o interesse pelo curso não é
jeto Integrador compõe uma carga horária o suficiente para garantir sua contratação
de dezesseis horas com quatro encontros, ao término do projeto. Uma das possibili-
mas todas as unidades curriculares cola- dades para manter o empenho do jovem
boram com a sua execução pode ser o uso de metodologias diferen-
ciadas, significativas e ativas.
Afirma Perrenoud (2002), que a edu-
cação, emerge o conceito de competência Dentre essas metodologias, com a
na organização curricular, transferindo o implantação do Modelo Pedagógico Senac
foco do “ensinar” para o “aprender”, articu- - MPS, passamos a trabalhar com foco na
lando os conhecimentos - saber, habilida- proposta da ação-reflexão-ação, ao qual
des - saber fazer e as atitudes - saber ser. possibilita um olhar mais aguçado do jo-

106
Azenilda de Paula Cabral

vem em relação ao cotidiano profissional, Esse processo metodológico, que


enfatizando a Metodologia de Projetos. O tem como base a problematização, opor-
MPS nos oportuniza a trabalhar de manei- tuniza o envolvimento do jovem no proble-
ra exitosa o “Projeto Integrador”, através ma, que necessita investigar, registrar da-
de uma problematização e com um plano dos, formular hipóteses, tomar decisões,
de ação, que tem sido utilizado para inte- resolver o problema, tornando-se sujeito
grar conhecimentos e habilidades adquiri- de seu próprio conhecimento. O docente
das em sala e preexistentes, despertando deixou de ser o único responsável pela
a motivação, a inovação e a criatividade aprendizagem do jovem e tornou-se um
do jovem proporcionando a aquisição de pesquisador, um orientador do interesse
seu desenvolvimento, fato que justifica o de seus discentes, tendo a necessidade
uso da metodologia de projetos como es- de levantar questões e se tornar um par-
tratégia de aprendizagem na educação ceiro na procura de soluções dos proble-
profissional. mas, gerenciando todo o processo de de-
senvolvimento do projeto, coordenando os
Ao trabalhar com a Metodologia de conhecimentos específicos de sua área de
Projetos, é possível desenvolver compe- formação e atuação com as necessidades
tências, propor tarefas complexas e desa- dos discentes de construir conhecimentos
fios que estimulem os alunos a mobilizar específicos.
seus conhecimentos e completá-los. A ex-
periência com projetos no Serviço Nacio- A metodologia de projetos pode ser
nal de Aprendizagem Comercial – SENAC, desenvolvida em três etapas: a) pro-
blematização: questão, problema
Pernambuco, tem se mostrado eficiente e ou tema gerador; Momento em que
eficaz. os discentes expressam ideias, ex-
pectativas e conhecimentos sobre
No desenvolvimento das inteligências o problema ou situação em foco. É
múltiplas, no trabalho com os conte- quando ocorre a organização do tra-
údos atitudinais e procedimentais, balho e delineamento dos objetivos;
além de permitir que o conhecimento b) desenvolvimento: estratégias para
passe a ser tratado como uma “rede buscar as respostas às questões se-
de significados” que, contrapondo o rão desenvolvidas através do con-
olhar cartesiano, possui múltiplos ou fronto de ideias e revisão de hipóte-
nenhum centro, o que depende do in- ses. É estimulada a organização de
teresse dos docentes e discentes so- pequenos grupos e o uso de espaços
bre o tema em estudo. (MACHADO, alternativos de estudo e pesquisa; e
2004, p.101). c) síntese: momento em que as con-
vicções iniciais vão sendo superadas
e outras mais complexas vão sendo
construídas. (LEITE apud BARBOSA;
GONTIJO; SANTOS, 2004, p.192),

107
DPTOKEN: desburocratizando o Departamento Pessoal

A abordagem da metodologia de pro- Todo o trabalho foi mediado com


jetos possibilita a valorização de uma práti- acompanhamento presencial, mantendo a
ca pedagógica que estimula a iniciativa dos busca para atender a proposta prevista na
jovens através da pesquisa, desenvolve o realização do projeto, que o jovem preci-
respeito às diferenças pela necessidade sará demonstrar sua atuação profissional
do trabalho em equipe, incentiva o saber baseadas na construção do domínio téc-
ouvir e expressar-se, o falar em público e nico-científico, com uma visão crítica, ado-
o pensamento crítico e autônomo. Ao qual tando atitude colaborativa, sustentável,
está autonomia é conquistada através da empreendedora e saudável, trabalhando
pesquisa, com toda a diversidade de cami- em equipe, priorizando o exercício da éti-
nhos percorridos e as competências que ca, da responsabilidade social, através do
os jovens desenvolvem. protagonismo juvenil na ocupação de as-
sistente de pessoal.

Na prática do trabalho com projetos, De acordo com Freire (2002) desta-


os jovens adquirem a habilidade de
resolver problemas, articular saberes ca-se a importância de o docente precisar
adquiridos, agir com autonomia dian- atuar como mediador do conhecimento,
te de diferentes situações que são
propostas, desenvolver a criatividade utilizando práticas problematizadoras,
e aprender o valor da colaboração. possibilitando que atos de cognoscentes
(HERNANDEZ, 1998, p 38).
se renovem constantemente.

Uma das formas de empregar a prá-


Durante a orientação do projeto, os
tica problematizadora é feita através do
jovens foram orientados a realizarem pes-
diálogo, entendimento, roda de conversa,
quisas, a fim de obter dados exploratórios
pois a rememoração é impulsionada em
bibliográficos e qualitativos sobre a ne-
grande parte pela reflexão. Por intermé-
cessidade existente para a satisfação na
dio da troca de reflexões é que ocorre a
comunicação com os colaboradores das
reconstrução do conhecimento, para tan-
empresas e desburocratização dos pro-
to foi necessário idealizar atividades que
cessos de um departamento pessoal em
despertasse o pensamento crítico do jo-
relação ao efetivo aprendizado através do
vem aprendiz.
Programa de Aprendizagem, em contrapo-
sição a exigência do atual cenário do mun-
do do trabalho, levando em consideração
Referencial Teórico
as percepções dos profissionais que atu-
am na respectiva área, os de outras áreas Atualmente, as mudanças são muito
e os gestores de maneira generalizada.

108
Azenilda de Paula Cabral

rápidas, o volume de informações é cada O avanço tecnológico, é um facilita-


vez maior, as novas tecnologias invadem dor na vida dos indivíduos e das empre-
nossas vidas, o que tem exigido dos jovens sas, mas é evidente que computadores
um novo perfil. A maioria deles dominam e robôs estão cada vez mais aptos para
o universo tecnológico, recebem informa- realizarem atividades que até então eram
ções em tempos reais e vivem conectados desenvolvidas pessoas.
em fóruns, sendo assim, os jovens bus-
cam novos recursos para aprimorar seus Segundo Costa (2002), fica cada vez
conhecimentos, diante de uma proposta mais claro que as condições sociais, eco-
inteligente, criativa e inovadora. nômicas, culturais e, obviamente, organi-
zacionais, são determinantes às práticas
Durante o desenvolvimento do tema, de RH. Sendo assim, a era da informação
foi necessário o jovem agir, confrontar as também influenciou a gestão de pessoas.
próprias ideias com os conhecimentos
pesquisados, levantando dúvidas e curio- Concordando com o autor, Mateo-
sidades. Se fez necessário desenvolver a -Sidron (2009) que afirma o uso da tec-
habilidade do registro dos fatos, resulta- nologia da informação na administração
dos, discussões ocorridas durante o pro- dos recursos humanos é, cada vez mais,
jeto. A avaliação permeia todas as etapas um requisito indispensável para empresas
do processo e não tem apenas o aspecto que buscam competir em uma economia
quantitativo das avaliações tradicionais. globalizada.
Feita durante o processo, ela faz ajustes
A metodologia de projeto subsidiou a
entre o ensino e aprendizagem, compara
prática pedagógica sem descartar a pro-
resultados alcançados com resultados es-
posta da ação-reflexão-ação, centrada no
perados. Analisa como o conhecimento foi
jovem como protagonista e estruturada no
sendo construído, as estratégias usadas
foco de ações que levam ao aprendiz à re-
pelos jovens para aprender e continuar
flexão continua, privilegiando uma apren-
aprendendo.
dizagem autônoma, considerando o saber
preexistente e o saber a ser construído,
Esses projetos possuem um tipo de favorecendo a inter-relação das pessoas
organização e planejamento do tem-
po e dos conteúdos que envolvem
com atividades que possibilitaram uma vi-
uma situação-problema e têm como são global e o desenvolvimento das apti-
objetivo articular propósitos didáticos
e sociais, ou seja, construir a apren-
dões para o exercício da cidadania e vida
dizagem juntamente com um produto produtiva.
final. (MOÇO, 2011, p 18).

Diante da condução de uma tempes-

109
DPTOKEN: desburocratizando o Departamento Pessoal

tade de ideias com os jovens, para solu- nológica, além de possibilitar ao mercado
cionar a problematização, surgiu o uso da lucratividade e sustentabilidade.
inteligência artificial para ajudar na elabo-
ração da folha de pagamento como tema Essa nova era da tecnologia contri-
gerador do terceiro projeto integrador da bui de forma vantajosa para o crescimento
turma que atenderá a saída formativa de organizacional, através das informações
Assistente de Pessoal. Diante das possi- que a cada dia chega com mais velocida-
bilidades exploradas, tais como: visita téc- de, agilizando processos dentro das em-
nica, entrevistas, pesquisas bibliográfica presas, também prepara de forma com-
e qualitativa, foi percebido que em uma petitiva o capital humano, dependendo da
síntese extrema, a revolução digital e a busca que cada um realiza, traduz dentro
inteligência artificial não mais se situam, do mercado uma grande fonte de cresci-
apenas, para computadores, máquinas in- mento.
teligentes e softwares específicos que pro-
Para atender tal demanda, foi criado
jetam instrumentos para melhorar nossas
o DPTOKEN, que é uma ferramenta dire-
habilidades físicas.
cionada para esclarecer todas as dúvidas
O funcionamento do departamento dos colaboradores em relação aos seus di-
pessoal que tem como principal objetivo reitos e deveres, enquanto internos da em-
gerenciar as questões legais e burocráti- presa. Com o intuito de agilizar o trabalho
cas relacionadas aos funcionários da em- do Departamento Pessoal, trazendo a pra-
presa, sendo dessa forma, confirmada por ticidade e agilidade em serviços executa-
unanimidade a ideia da desburocratização dos que o mesmo fornece aos colaborado-
deste setor, através da inteligência artifi- res de uma empresa. O DPTOKEN utiliza
cial. tecnologia com inteligência artificial, forne-
ce serviços como: Contracheques, Férias,
Mediante da importância da comuni- Dúvidas sobre faltas devidas/indevidas,
cação com o setor de Departamento Pes- ponto em aberto, previsão de descontos,
soal, diante da grande quantidade de ser- Dúvidas sobre a Reforma trabalhista, Leis;
viços designados para esse setor, como Licença maternidade, INSS, depósito de
dúvidas referente a contracheques, férias, FGTS. O DPTOKEN conta também com
entre outros, foi pensado em uma ferra- a tecnologia de leitor de digital, reconhe-
menta, denominada de “DPTOKEN” sur- cimento de íris e acessibilidade aos porta-
gindo como alternativa para solucionar a dores de necessidades especiais por co-
demanda excessiva deste departamento, mando de voz.
desburocratizar, de forma inovadora e tec-

110
Azenilda de Paula Cabral

A ferramenta auxilia todo o processo sob a perspectiva de análise de conteúdo,


de admissão e demissão de funcionários, que segundo GRAY (2009), faz inferências
integração, controle de frequência, benefí- sobre os dados identificando, de forma sis-
cios, encargos sociais, relações sindicais, temática e objetiva, características espe-
declarações trabalhistas, cálculos como: ciais.
folha de pagamento, 13º salário, férias, va-
riáveis, FGTS, IRRF, INSS e rescisão con- Para isso foi realizada uma pesqui-
tratual; organização e manutenção de ar- sa qualitativa através de um procedimento
quivos, que ressaltamos existir exigência minucioso, nela buscamos entender um
do governo, para comprovação do desen- fenômeno através de comparações, inter-
volvimento da empresa e obrigações tra- pretações e descrições.
balhistas junto aos colaboradores, desde
a admissão, a prática de atividades, até a O método qualitativo é útil e necessá-
rio para identificar e explorar os sig-
demissão, também responsável pelo cum- nificados dos fenômenos estudados e
as interações que estabelecem, assim
primento das Normas Regulamentadoras possibilitando estimular o desenvolvi-
que fornecem orientações sobre procedi- mento de novas compreensões sobre
a variedade e a profundidade dos fe-
mentos obrigatórios relacionados à segu- nômenos sociais (BARTUNEK; SEO,
rança e medicina do trabalho no Brasil. 2002, p. 50).

Sendo assim, com essa proposta de


Foi feito através dos questionários
informações de cada colaborador de uma
aplicados aos jovens, que apresentaram
empresa, pretende-se, através da inteli-
o projeto e demais aprendizes que viven-
gência artificial, alcançar padrões e mode-
ciavam a mesma unidade curricular, foi
lo de procedimentos que facilitem a comu-
possível obter o percentual da percepção
nicação corporativa e elimine o retrabalho
do desempenho dos cinco aspectos ques-
no departamento pessoal.
tionados e a importância dada a cada um
Para mensurar os resultados, atra- desses aspectos, conforme a Tabela abai-
vés da análise dos dados, foi realizada xo.

Tabela 1 – Importância e Desempenho na visão dos alunos

Aspecto avaliado pelos alunos Importância Desempenho

Interesse pelo Curso 100% 95%


Aprendizagem significativa 100% 100%
Interdisciplinaridade 100% 100%
Satisfação com o resultado 100% 95%
Formação de competências 100% 100%
111
Fonte: questionário de avaliação/feedback aplicado pela docente aos jovens discentes
DPTOKEN: desburocratizando o Departamento Pessoal

Na Tabela 1, apresentam-se os per- outras competências.


centuais relacionados à importância e de-
sempenho resultantes da elaboração e De acordo com Perrenoud (2002), o
apresentação do trabalho sendo avaliado desenvolvimento de competências ocorre
o Interesse pelo curso: este aspecto bus- por meio de construções de esquemas,
ca avaliar o nível de motivação e interes- tanto por parte do docente quanto do jo-
se dos alunos pelo curso, desempenho na vem aprendiz e o importante é que seja
unidade curricular e tempo dedicado ao percebido o caminho trilhado.
estudo;
Ressaltamos que todas as Unidades
Aprendizagem significativa: avalia- Curriculares trabalhadas apoiaram a ela-
ção do grau de relação entre o material de boração do Projeto Integrador, perpassan-
estudo, ou assuntos ensinados em aula, do toda a aprendizagem através da prati-
e algum aspecto da vida. Caldeira, (2009) ca pedagógica e metodologia de projetos,
propõe a utilização de materiais introdu- com a proposta de ação-reflexão-ação,
tórios com o objetivo de fornecer conhe- que se constitui em uma perspectiva de si-
cimentos prévios para facilitar o processo tuações desafiadoras a serem cumpridas
de aprendizagem e dar um significado real pelo jovem aprendiz. Enfatizando que o
ao conhecimento; planejamento e a execução deste projeto
devem articular as competências previstas
Interdisciplinaridade: avaliação do no perfil profissional de conclusão do cur-
nível de inter-relação dos conhecimentos so, devendo o jovem refletir acerca das si-
escolares entre as competências do curso. tuações que estimulam o seu desenvolvi-
A interdisciplinaridade, segundo ZIEGER mento profissional, com possibilidades de
(1998), busca a reciprocidade dentro das decidir, opinar e debater com todo o grupo
competências e entre elas; envolvido, sobre a resolução dos proble-
mas a partir do tema gerador.
Satisfação com a atuação: avalia-
ção do grau de satisfação dos alunos com Cada projeto pode ser considerado
uma estratégia de trabalho em equi-
a atuação de todos, impactos das ativi- pe que favorece a articulação entre
dades didáticas mais usadas e relaciona- os diferentes temas das áreas do co-
nhecimento estudado, na solução de
mento docente-discente; um dado problema focado na apren-
dizagem de conceitos, procedimentos
Formação de competências: o e valores, durante o desenvolvimento
das competências. Pode ser imple-
quanto o Programa de Aprendizagem con- mentado e conectado a outras áreas,
tribuiu na formação de conceitos e funda- ao mesmo tempo em que novos con-
ceitos, procedimentos e valores vão
mentos que poderão ser requeridos em surgindo. (BAGETTI, 2005, p 78).

112
Azenilda de Paula Cabral

A atividade proposta para o Projeto seus jovens discentes, assumindo, inclusi-


Integrador foi enfatizada as normas e dire- ve, uma posição de aprendiz junto a eles.
trizes construídas nas empresas, correla- Nesse contexto, estabelece um diálogo e
cionando aos valores éticos e morais que uma integração que muito favorece o pro-
semeiam a formação de cidadãos cons- cesso de aprendizagem.
cientes dos seus direitos e deveres, pos-
sibilitando ao jovem a desenvolver a cria- Lembramos que o Programa de
tividade, a sociabilidade e as inteligências Aprendizagem visa a preparação do jovem
múltiplas; adotar uma postura resiliente; para desenvolver as marcas formativas do
ter bom relacionamento interpessoal; pra- Senac e do programa, valorizando o ser
ticar o saber adquirido e refletir sobre suas humano e fortalecendo o princípio da res-
atitudes. ponsabilidade social e a promoção da ci-
dadania.

Ressaltamos que o atual mercado


Conclusão tem exigido desses jovens profissionais
alta capacidade de relacionamento inter-
Resgatando a questão motivadora pessoal, pois tem contato direto com os
deste trabalho, confirmou-se que a Meto- todos os clientes da empresa, e o Depar-
dologia de Projetos pode interferir no in- tamento Pessoal também tem a finalidade
teresse dos jovens aprendizes do Curso de administrar não somente cálculos tra-
de Aprendizagem Profissional Comercial balhistas, mas o relacionamento, a quali-
em Serviços Administrativos desde que ficação, os esclarecimentos de dúvidas e
aplicada numa dinâmica dialógica-pro- a intermediação entre colaboradores e a
blematizadora e ainda de acordo com os organização.
resultados, verificou-se que o Projeto In-
tegrador, aplicado desde a implantação do Destacamos que o uso da Metodolo-
Modelo Pedagógico do Senac Pernambu- gia de Projetos no Projeto Integrador tem
co, encontra-se em um estágio acelerado, importante relevância na construção do
motivador e empreendedor, despertando profissional que formamos, uma vez que
e vislumbrando descobertas e possibilida- nos instiga a adentrar em problemáticas
des de realização de sonhos nos nossos dentro da organização em que o assis-
jovens aprendizes. tente de pessoal está inserido, buscando
trazer soluções viáveis e inovadoras para
Na condição de orientador de eta- as mesmas, proporcionando assim uma
pas, que tem como papel desafiar e orien- melhora no desenvolvimento e nas solici-
tar, o docente se mantém lado a lado com

113
DPTOKEN: desburocratizando o Departamento Pessoal

tações aos colaboradores em seu local de BARTUNEK, J. M.; SEO M. Qualitative


trabalho. research can add new meanings to
quantitative research. Journal of
Organizational Behavior, v. 23, n.2, p.
Concluímos que trabalhar a forma- 237-242, mar. 2002.
ção profissional de nossos jovens extrapo- CALDEIRA, Maria de Andrade. Ensino de
la as paredes de uma sala de aula, preci- ciências e matemática, II: temas sobre a
formação de conceitos. São Paulo: Cultura
samos usar vários meios e recursos para Acadêmica, 2009.
superar as expectativas levantadas. Após
COSTA, Tatiana Ribeiro da; FISCHER,
a apresentação do Projeto Integrador, e a André Luiz. E-RH: o impacto da
escuta das declarações dos protagonistas, tecnologia para a gestão competitiva de
recursos humanos. 2002. Trabalho de
com um olhar reflexivo, foi identificada e Conclusão de Curso, II: Relatório final. –
comprovada a mediação pedagógica do Universidade de São Paulo, Faculdade de
docente de maneira exitosa através da Economia, Administração e Contabilidade,
Departamento de Administração, 2002.
transformação nítida dos jovens discentes, Disponível em: <http://www.ead.fea.usp.
adquirindo novos conhecimentos e vislum- br/tcc/trabalhos/Artigo_Tatiana%20Costa.
pdf.> Acesso em: 10 mar. 2018.
brando novos horizontes de atuações pro-
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.
fissionais através da motivação, reflexão 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
e felicidade em fazer o seu melhor para
GRAY, David. Pesquisa no mundo real.
atender a atual exigência corporativa. En- 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2009
fim foi comprovado que o jovem aprendiz HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão
foi o autor de seu aprendizado mediante a e mudança na educação: os projetos
de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas,
metodologia de projetos aplicada pela do- 1998.
cente. MACHADO, Nilson José. Educação:
projetos e valores. 5. ed. São Paulo:
Escrituras, 2004.
MATEO-SIDRON, Francisco. Tecnologia
em RH: necessidade essencial para o
Referências
século XXI. Valor Econômico, v. 15, n. 1,
BAGETTI, Aline; et al. Metodologia do maio. 2009.
ensino de ciências naturais e suas MOÇO, Anderson. Tudo o que você
tecnologias: 4º semestre. Santa Maria, sempre quis saber sobre projetos. Nova
RS: UFSM, 2005. Escola, São Paulo, n. 241, p. 50-57, abril.
BARBOSA, Eduardo Fernandes; 2011.
GONTIJO, Alberto de Figueiredo; PERRENOUD, Phlippe. et al. As
SANTOS, Fernanda Fátima dos. O método competências para ensinar no século
de projetos na educação profissional: XXI: a formação de professores e o desafio
ampliando as possibilidades na formação da avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2002.
de competências. Educação em Revista,
Belo Horizonte, n. 40, p. 182-212, 2004. ZIEGER, Lilian. Escola: um lugar para ser
feliz. Canoas: ULBRA, 1998.

114
Azenilda de Paula Cabral

115
AR
TI
GO.

A INTRODUÇÃO PRECOCE DO JOVEM AO MERCADO DE


TRABALHO: UM ESTUDO DE CASO

Hamilton Pereira de Souza Neto

Introdução do Trabalho) na cidade de Caruaru no


Agreste Pernambucano. O texto inicia
A proposta deste artigo é discutir com uma breve reflexão sobre o jovem
as razões que levam os jovens a procu- no contexto do mundo do trabalho. Em
rarem cada vez mais cedo a sua inser- seguida apresentamos os aspectos re-
ção ao mercado de trabalho. A proposta ferentes ao Programa de Aprendizagem
parte do pressuposto que não é mais instituído pela Legislação Brasileira e o
possível admitir que, a título de assistên- perfil de seus participantes. Na sequên-
cia social, a sociedade promova a mera cia, são apresentadas as características
intermediação da mão de obra juvenil, das entidades participantes do Progra-
de maneira precária, sem garantias dos ma de Aprendizagem na cidade de Caru-
direitos trabalhistas básicos, e sem que aru e as atividades desenvolvidas pelos
se promova qualquer qualificação pro- aprendizes nestas instituições. O texto
fissional. termina apresentando os resultados
obtidos com a implantação do Progra-
O trabalho foi desenvolvido com
ma de Aprendizagem e como este pode
base em pesquisa de campo, orientan-
apresentar-se como uma ferramenta efi-
do-se através de observações e análises
caz para a qualificação da mão de obra
dos resultados obtidos pelo Programa
juvenil.
de Aprendizagem desenvolvido pelo SE-
NAC (Serviço Nacional de Aprendizagem O objetivo deste trabalho é contex-
Comercial), pelo segmento empresarial tualizar as competências a serem desen-
da região e pela DRT (Delegacia Regional volvidas no Programa de Aprendizagem

116
Hamilton Pereira de Souza Neto

com a qualificação exigida pelo mercado mundo do trabalho, onde se exige do


de trabalho atual e comparar os resulta- trabalhador alta performance, o jovem
dos obtidos com vistas na inclusão e na precisa se profissionalizar, ter conheci-
permanência do jovem no mercado de mento de informática, ler bastante, as-
trabalho. sistir noticiários, falar mais de um idio-
ma; ser determinado, identificar suas
habilidades, traçar suas metas, acreditar
Referencial Teórico no seu potencial, e conquistar seu es-
paço no mercado de trabalho. Em con-
O jovem e o mercado de trabalho trapartida, o jovem se depara com duas
questões cruciais: de um lado a exigên-
Estudos realizados no Brasil e no
cia por parte do mercado da qualificação
mundo revelam que uma política de me-
e da experiência do trabalho; do outro
lhoria da qualidade de ensino teria efei-
a falta de oportunidade de se qualificar
tos muito mais relevantes na diminuição
adequadamente para atender às exigên-
das desigualdades sociais. Devido à he-
cias deste mercado.
terogeneidade da população jovem bra-
sileira, o desenvolvimento de uma polí-
Tendo em vista as constantes trans-
tica voltada para o primeiro emprego e
formações na sociedade e no mundo do
para melhoria da inserção no mercado
trabalho, surge a necessidade de se ob-
do jovem também não pode ser homo-
servar todas as competências exigidas
gênea. É fato que grande parte dos jo-
para o profissional nesse novo contexto.
vens brasileiros estuda, porém muitos
O trabalho precisa oferecer um significa-
deixaram de frequentar as instituições
do, além de sua materialidade. Ser um
de ensino ao qual se matricularam. Den-
meio de realização pessoal, não de obri-
tre os que estudam, alguns estão nas
gação por salário, para que resulte em
universidades, outros ainda cursam o
algo positivo. O trabalho traz em si um
ensino fundamental. Muitos trabalham,
valor agregado.
outros ainda estão procurando empre-
go. Ainda existe uma parcela destes jo- As transformações sociais pelas
vens que estão duplamente excluídos: quais temos passado nas últimas déca-
não estudam e não trabalham. das desencadearam profundas mudan-
ças nas relações de trabalho. No que se
Na conjuntura social, econômica, refere à qualificação profissional, o con-
política e cultural em que se insere o ceito de competência foi largamente am-

117
A INTRODUÇÃO PRECOCE DO JOVEM AO MERCADO DE TRABALHO: um estudo de caso

pliado e hoje ser competente não signi- dial, as competências profissionais mais
fica apenas demonstrar o conhecimento requisitadas até 2022 são:
técnico exigido por uma profissão, mas
também, pelo conjunto de valores, atitu-
des, habilidades e conhecimentos adqui- 1) Pensamento inovador e analítico
2) Aprendizado ativo e estratégias de
ridos ao longo do processo da formação
aprendizado
profissional. 3) Criatividade, originalidade e
iniciativa
Com vistas no futuro, o profissional 4) Tecnologia, design programação
de hoje deve se predispor a aprender 5) Pensamento crítico e analítico
sempre coisas novas e jamais achar que 6) Resolução de problemas complexos
7) Liderança e influência social
sabe tudo.
8) Inteligência emocional
9) Racionalidade, resolução de
Segundo relatório divulgado pelo problemas e ideação
Fórum Econômico Mundial (2019) inti- 10) Análise e avaliação de sistemas
tulado “O Futuro do Trabalho”, que faz
uma análise sobre as tendências do mer-
cado de trabalho, contemplando as mu-
O relatório também apontou dez
danças que poderão ocorrer até o ano
habilidades profissionais que estão em
de 2022, com o passar do tempo, as má-
declínio no mercado de trabalho:
quinas desempenharão mais funções do
que os seres humanos, pois novas habi-
lidades serão requisitadas e a revolução 1) Habilidades manuais, resistência e
tecnológica criará, 58 milhões de novos precisão
empregos. 2) Competências verbais, auditivas,
espaciais e de memória
A pesquisa foi baseada nas opini- 3) Gestão de recursos financeiros e
materiais
ões de líderes de recursos humanos,
4) Instalação e manutenção de
executivos e grandes empregadores. tecnologia
Além disso, também foram usadas infor- 5) Leitura, escrita, matemática e
mações fornecidas pelo LinkedIn, uma habilidades de escuta ativa
rede social de negócios. Vinte países 6) Gestão de pessoal
7) Controle de qualidade e de
com economias desenvolvidas e mais de
segurança
300 empresas de diversos setores parti- 8) Coordenação e gestão do tempo
ciparam da elaboração do relatório. De 9) Habilidades visuais e de oratória
acordo com o Fórum Econômico Mun- 10) Uso, monitoramento e controle
de tecnologia

118
Hamilton Pereira de Souza Neto

E estas são as profissões emergen- não é mais. Pensar que após o término
tes em 2022: da faculdade se está “livre” do estudo, é
simplesmente decretar a morte de uma
carreira profissional. O profissional de
1) Analistas de dados e cientistas de hoje precisa estar sempre estudando,
dados
atualizando-se. Estamos vivendo a era
2) Especialistas em AI e machine
learning da informação, da velocidade e da orien-
3) Gerentes de operações e gerais tação para resultados.
4) Analistas e desenvolvedores de apps
e software Muitas vezes, ficamos espantados
5) Profissionais de marketing e vendas com a rapidez com que as mudanças
6) Especialistas em big data
acontecem. Já não basta ser especialis-
7) Especialistas em transformação
digital ta em única área, tem que ser generalis-
8) Especialistas em novas tecnologias ta, e não basta ser bom, tem que ser o
9) Especialistas em desenvolvimento melhor, ou o mais veloz. Atualmente o
organizacional capital intangível da empresa, formado
10) Serviços de informação
pelos seus colaboradores e pela própria
tecnológica
marca, tem tido muito mais valor finan-
ceiro que o tangível, constituído pelos
equipamentos e local onde a empresa
A qualificação profissional de hoje
está instalada.
está baseada menos nas capacidades
técnicas, mas principalmente na capa-
Essa análise mostra que ocorreu
cidade de organizar, coordenar, inovar,
uma grande transformação no merca-
agir em situações nem sempre previsí-
do de trabalho, pois, há pelo menos uns
veis, decidir e cooperar com a equipe de
trinta e cinco anos, a ótica estava inverti-
trabalho. Essas competências, constru-
da e o profissional não era tão valoriza-
ídas mediante aprendizagem em situ-
do e tão exigido como hoje.
ações de trabalho ou não, tornaram-se
indispensáveis para que o profissional Contudo, a introdução do jovem
venha a garantir o seu lugar no mercado ao mercado de trabalho continua sendo
de trabalho. De acordo com o artigo pu- uma questão crucial para a sociedade
blicado por Luiz Paulo Luppa, ex-presi- em geral. Um mercado cada vez mais
dente da TREND Operadora de Viagens, competitivo e que exige dos profissio-
Mercado de Trabalho, o diploma de um nais um alto grau de qualificação. Ainda
curso superior já foi garantia de empre- assim, aos jovens são destinados os pio-
go, até meados da década de 70, hoje

119
A INTRODUÇÃO PRECOCE DO JOVEM AO MERCADO DE TRABALHO: um estudo de caso

res postos e formas de trabalho. senvolvimento físico, afetivo e cognitivo


de crianças e adolescentes, além de con-
Culturalmente ainda atribuímos dicionar uma situação de desqualifica-
ao trabalho a ideia de que o mesmo é o ção e pobreza que, por sua vez, tem sido
grande responsável pela transformação a mola impulsionadora para a introdu-
de vidas. O trabalho dignifica o homem. ção cada vez mais precoce ao mercado
Porém, em que circunstâncias? A verda- de trabalho. É o trabalhar por trabalhar.
de é que esta ideia não só tem permitido
a introdução precoce do jovem ao mun- Numa sociedade com imensas desi-
do do trabalho como também se apre- gualdades e contradições, a educação se
senta como solução para os problemas apresenta como um fator de esperança
relacionados a juventude. e transformação, não apenas permitin-
do o acesso ao conhecimento, à partici-
A preocupação dos jovens com a pação, mas propiciando condições para
inserção no mercado de trabalho, ge- que o indivíduo construa sua cidadania.
ralmente advém do desejo de ajudar a
família e atender às necessidades pes- A formação técnico-profissional de
soais, embora nem sempre a esse de- adolescentes e jovens, sem dúvidas, am-
sejo correspondessem iniciativas prá- pliará as possibilidades de inserção no
ticas direcionadas à sua viabilização. É mercado de trabalho e torna promissor
importante frisar que algumas famílias o futuro das novas gerações. A apren-
exercem pressão, direta ou indireta, em dizagem deve ser encarada como uma
relação ao trabalho. Muitos adolescen- ação de responsabilidade social e um
tes são ameaçados de serem expulsos importante fator de promoção da cida-
de casa se não contribuírem com as des- dania, redundando, porém, numa me-
pesas. Alguns chegam, inclusive, a aban- lhor produtividade.
donar a escola para se lançar no merca-
do de trabalho, engrossando as fileiras
da economia informal. A escola, por sua O Programa de Aprendizagem e o perfil de
vez, é negligente em relação às questões seus participantes

do trabalho e de orientação profissional.


A Legislação brasileira estabeleceu
Estudos comprovam que mera co- um conjunto de normas que tem por
locação do jovem ao mercado de traba- princípio a proteção integral aos indiví-
lho, além de não produzir os efeitos que duos em desenvolvimento. Desse prin-
se esperam, pode ser prejudicial ao de- cípio, decorre a política de erradicação
do trabalho infantil e de proteção ao tra-

120
Hamilton Pereira de Souza Neto

balhador adolescente. É nesse contex- profissional, devidamente registradas


to que a Aprendizagem Profissional se no Conselho Municipal dos Direitos da
apresenta como uma forma de garantir, Criança e do Adolescente (CMDCA), bem
conforme previsto no art. 69 do ECA (Es- como as Escolas Técnicas de Educação.
tatuto da Criança e do Adolescente), “o De acordo com esta legislação, além do
direito à profissionalização e à proteção registro no CMDCA, as escolas deverão
no trabalho, observados os seguintes as- apresentar uma estrutura física adequa-
pectos, entre outros: o respeito à condição da às propostas dos cursos e um progra-
peculiar de pessoa em desenvolvimento ma pedagógico que contemple as fases
e capacitação profissional adequada ao teóricas e práticas.
mercado de trabalho.”
De acordo com o art. 430 da CLT,
No contexto da legislação, para o modificada pela lei 10.097/00, as En-
ECA (Estatuto da Criança e do Adoles- tidades Sem Fins Lucrativos e Escolas
cente), no seu artigo 62, a aprendizagem Técnicas oferecerão aprendizagem pro-
é a formação técnico-profissional minis- fissional “na hipótese de os Serviços
trada ao adolescente/jovem segundo as Nacionais de Aprendizagem não ofere-
diretrizes e bases da legislação de edu- cerem cursos ou vagas suficientes para
cação em vigor, implementada por meio atender a demanda...”
de contrato de aprendizagem, ajustado
por escrito e de prazo determinado, com As empresas obrigadas a contratar
duração máxima de dois anos. Nele o aprendizes são caracterizadas por esta-
empregador garante ao adolescente/jo- belecimentos de qualquer natureza que
vem com idade entre 14 e 24 anos, uma tenham pelo menos 7 (sete) emprega-
formação técnica e profissional compa- dos, em conformidade com o art. 429 da
tível com o seu desenvolvimento físico, CLT, redigido na Lei nº 10.097/00. Estas
moral e psicológico. Por outro lado, o empresas são obrigadas a contratar e a
aprendiz se compromete a executar to- matricular em programas de aprendiza-
das as tarefas necessárias a essa forma- gem, o número equivalente a 5%, no mí-
ção (art. 428 da CLT). nimo e 15%, no máximo, dos seus fun-
cionários que exerçam atividades que
O programa de aprendizagem é demandem formação profissional.
desenvolvido por entidades sem fins lu-
crativos, governamentais ou não gover- Para os jovens aprendizes que ain-
namentais que tenham como objetivo a da não tenham concluído o ensino fun-
assistência ao adolescente e a educação damental, a jornada de trabalho diária

121
A INTRODUÇÃO PRECOCE DO JOVEM AO MERCADO DE TRABALHO: um estudo de caso

corresponderá a, no máximo, 6 horas ção previdenciária dos aprendizes bem


diárias ou 36 horas semanais. Já para como sua contribuição sindical.
aqueles que concluíram o ensino funda-
mental a jornada de trabalho poderá ser As normas de segurança e medi-
estendida a 8 horas diárias ou 40 horas cina no trabalho (Capítulo V do Título II
semanais, desde que nelas sejam inclu- da CLT com a redação da Lei 6.514/77 e
ídas as horas destinadas a atividades Portaria 3.214/78 que aprovou a reda-
teóricas, recomendando-se, neste caso, ção das NRs – Normas Regulamentado-
pelo menos 2 horas diárias para esta fi- ras) devem ser aplicadas rigorosamente
nalidade. aos aprendizes, que serão incluídos no
PCMSO – Programa de Controle Médico
Ao aprendiz é garantido o direito e Saúde Ocupacional (NR 7), observan-
à carteira assinada e a receber o salário do-se as suas características psicofisio-
mínimo-hora, observando-se, caso exis- lógicas, de modo a proporcionar-lhes
ta, o piso estadual. Porém, o contrato de um máximo de conforto, segurança e
aprendizagem, a convenção ou o acor- desempenho eficiente, respeitando sua
do coletivo da categoria poderá garantir condição de indivíduo em desenvolvi-
ao aprendiz salário maior que o mínimo mento. Todos os exames médicos ocu-
(art. 428 da CLT e art. 17, parágrafo único pacionais (admissional, periódico, de
do Decreto nº 5.598/05). Contudo, além mudança de função, de retorno ao tra-
das horas destinadas às atividades práti- balho e o demissional) devem ser reali-
cas, deverão ser computadas no salário zados.
também as horas que forem destinadas
às aulas teóricas, o descanso semanal O artigo 3º da Resolução nº 74 do
remunerado e os feriados. Também CONANDA (Conselho Nacional dos Di-
consiste em direito do aprendiz, rece- reitos da Criança e do Adolescente),
ber vale-transporte para os trajetos ne- diz que os “Conselhos Tutelares devem
cessários ao seu deslocamento entre promover a fiscalização dos programas
sua residência e a empresa, e entre sua desenvolvidos pelas entidades”, esclare-
residência e a instituição onde cursa o cendo que as possíveis irregularidades
programa de aprendizagem. A alíquota que venham a ser encontradas deverão
do FGTS é reduzida ao percentual de 2%, ser comunicadas ao CMDCA e à unidade
devendo ser recolhida pelo Código nº 7 descentralizada do Ministério do Traba-
da Caixa Econômica Federal (art. 24 pa- lho e Emprego.
rágrafo único, do Decreto nº 5.598/05).
No programa de aprendizagem,
A empresa deverá recolher a contribui-

122
Hamilton Pereira de Souza Neto

geralmente, os currículos dos cursos são estéticos, políticos e éticos relacionados


elaborados contemplando as competên- à sua atuação profissional. Profissionais
cias profissionais do mundo do trabalho, que saibam aplicar os conhecimentos
a serem vivenciadas com foco no perfil adquiridos em situações reais com efici-
profissional de conclusão, prevendo situ- ência e criatividade, desenvolvendo com
ações que levem o participante a apren- autonomia seu projeto de vida e profis-
der a pensar, a aprender a aprender, a sional.
mobilizar e a articular com pertinência
conhecimentos, habilidades e atitudes Geralmente, para matricular-se
em níveis crescentes de complexidade. nestes cursos, o aprendiz deverá apre-
Nesse sentido, a organização dos conte- sentar declaração de frequência no En-
údos privilegiará os estudos contextua- sino Fundamental ou Médio ou algum
lizados, o desenvolvimento de compe- documento comprobatório de conclu-
tências cognitivas, sociocomunicativas, são do Ensino Médio. A critério de cada
emocionais e qualidades pessoais, tais instituição, poderão ser admitidos pro-
como: espírito empreendedor e de equi- cessos seletivos, nele incluída avalia-
pe, autonomia, iniciativa, cooperação, ção de conhecimentos ou habilidades
flexibilidade, criatividade, dentre outras específicas ou recebimento de jovens
relacionadas ao perfil do trabalhador. encaminhados pela empresa vinculada
Contudo, cabe às instituições formado- ao Programa de Aprendizagem. As ma-
ras uma permanente atualização, sinto- trículas geralmente são efetivadas de
nia com as transformações tecnológicas acordo com o cronograma estabelecido
e socioculturais do mundo do trabalho, pela instituição em reuniões previamen-
contato permanente com agentes e re- te realizadas com as empresas e a SRTE
cursos atualizados, assim como a ado- (Superintendência Regional do Trabalho
ção de metodologias compatíveis com e do Emprego).
a proposta político-pedagógica destas
No desenvolvimento dos cursos,
instituições.
os módulos apresentam-se de forma
Ao oferecer os cursos, as institui- harmônica e inter-relacionada, de modo
ções formadoras devem ter por objetivo que teoria e prática se completam em
formar profissionais capazes de compre- um todo indissolúvel e necessário ao
ender a importância de sua profissão e perfil do trabalhador cidadão.
executar as atividades pertinentes com
As estratégias pedagógicas adota-
qualidade, competência e segurança. Ci-
das no desenvolvimento do curso de-
dadãos que saibam respeitar os valores

123
A INTRODUÇÃO PRECOCE DO JOVEM AO MERCADO DE TRABALHO: um estudo de caso

vem proporcionar ao aluno a sua parti- Conta com um parque industrial


cipação ativa nas condições de aprender instalado na zona oeste da cidade, mais
a aprender. Devem abranger situações precisamente nos bairros Distrito Indus-
diversificadas possibilitando flexibilida- trial I e II, onde a indústria mais desen-
de de comportamento e autodesenvol- volvida é de transformação: calçados,
vimento, especialmente nas aulas com confecções, cerâmica, produtos alimen-
atividades práticas, através de ambien- tícios, etc. O comércio, outro suporte
tes adequados e da adoção de técnicas econômico de Caruaru, é ativo por ata-
que reflitam, na medida do possível, si- cado e no varejo de gêneros alimen-
tuações reais de trabalho. tícios, tecidos, confecções, autopeças,
móveis, eletrodomésticos e plásticos. A
Para garantir uma real aprendiza- agricultura concentra-se na produção
gem devem ser adotados procedimen- de milho, feijão, mandioca e algodão. A
tos que envolvam análise e solução de Associação Comercial e Industrial de Ca-
problemas, estudos de casos, pesquisa, ruaru é o órgão diretor da economia da
simulações e demais procedimentos, de cidade, auxiliada, na preparação da mão
modo a mobilizar conhecimentos, esti- de obra, pelas unidades do “Sistema S”
mular a percepção analítica, a contextu- (SENAC, SENAI e SENAT) na cidade.
alização de informações e a construção
e a reconstrução do conhecimento, vi- As feiras livres ficam localizadas
sando assegurar o saber, o saber fazer em vários pontos da cidade. Além da fei-
e o saber ser. ra central, a famosa “Feira de Caruaru”,
com sua origem se confundindo com o
surgimento da própria povoação (anti-
Características das entidades participantes ga Fazenda Caruaru) nos fins do século
do Programa de Aprendizagem na cidade de XVIII, é uma das maiores do Nordeste
Caruaru/PE brasileiro, que se estende por uma área
de mais de três quilômetros e que tem
A cidade de Caruaru está situada projetado turisticamente a cidade não
a aproximadamente 140 km do Recife, só a nível regional, como a nível nacional
capital do estado de Pernambuco, com e internacional.
uma população estimada em 356.000
habitantes segundo o IBGE (2018), que Além de importante ponto de ven-
como na maioria das cidades brasileiras, da e troca de mercadorias, a Feira de Ca-
agrega jovens e adolescentes em busca ruaru funciona, também, como local de
de seu espaço no mercado de trabalho. encontro e trocas de informações e “no-

124
Hamilton Pereira de Souza Neto

vidades” para milhares de habitantes da nas empresas da região. A princípio não


zona rural da cidade, “ [...] um polo de in- houve uma boa aceitação do Programa,
tercâmbio sócio cultural que o rádio e a te- por parte dos empresários, tendo vista
levisão ainda não conseguiram substituir” a sua obrigatoriedade oriunda das De-
(Onildo Almeida – Cantor e Compositor legacias Regionais do Trabalho. A con-
filho da cidade de Caruaru, em entrevis- tratação de um aprendiz representava
ta realizada por Joalline Nascimento, Ma- apenas “mais uma despesa” conforme
vian Barbosa e Anderson Melo, G1 Caru- afirmaram vários empresários notifi-
aru e TV Asa Branca em 13/08/2018). cados a participarem do Programa de
Aprendizagem.
Em pleno desenvolvimento eco-
nômico, Caruaru se consolida como ci- Com o passar do tempo o entendi-
dade predominantemente comercial. O mento dos reais objetivos do Programa
mercado informal abriga a maioria da fora sendo assimilado. Com a finalidade
população economicamente ativa da re- de desenvolver pessoas e organizações
gião. Suas feiras semanais atraem com- e, em contrapartida, ajudar a diminuir
pradores de todos os lugares do país e a violência, a discriminação e a insegu-
representam o sustento de muitas famí- rança social, o SENAC, o SENAI e as em-
lias que buscam nestas atividades a sua presas notificadas pelas DRT´s (Delega-
sobrevivência. A mão de obra infantil é cia Regional do Trabalho), selecionam
largamente explorada como forma de jovens que procuram seu primeiro em-
complementação da renda familiar. prego com carteira assinada. A seleção
normalmente se dá através de escolhas
A maioria das empresas comer-
de currículos e desenvoltura.
ciais e prestadoras de serviços da re-
gião apresentam um modelo de gestão Inicialmente, na Unidade de Edu-
familiar, fechado, centralizado e ofere- cação Profissional do Senac, formou-se
cem poucas oportunidades de carreiras uma turma com 70 adolescentes, hoje o
em sua estrutura organizacional. Ainda Programa de Aprendizagem na cidade
é muito forte a prática do trabalho sem de Caruaru conta com, aproximadamen-
carteira assinada. A garantia dos direitos te, 350 jovens em processo de formação
trabalhistas ainda se mostra como uma profissional.
despesa na instituição e que deve ser
O programa foi elaborado para
evitada.
atender as demandas de empresas e
Neste contexto, em 2004, foi intro- dos órgãos fiscalizadores do trabalho,
duzido o Programa de Aprendizagem com a implantação da Lei 10.097 de

125
A INTRODUÇÃO PRECOCE DO JOVEM AO MERCADO DE TRABALHO: um estudo de caso

19/12/2000, “que obriga estabelecimen- desenvolverá em dois ambientes: na


tos a empregar e matricular nos cursos unidade de formação profissional, que
do “Sistema S” um número de aprendi- proporcionará ao aprendiz a capacita-
zes equivalente a cinco por cento, no mí- ção técnico profissional e na empresa
nimo, e quinze por centro, no máximo, empregadora, onde o aprendiz deverá
dos trabalhadores existentes em cada desempenhar tarefas da prática profis-
estabelecimento, cujas funções deman- sional em ambiente compatível com sua
dem formação profissional”. idade e com a aprendizagem metódica
recebida na escola.
Os aprendizes recebem formação
técnico-profissional, nos setores de co- O anexo I da Portaria nº 20, de 13
mércio de bens, serviços e turismo, e de setembro de 2001, do Ministério do
ao mesmo tempo são contratados por Trabalho e Emprego - Secretaria de Ins-
uma empresa. “A metodologia utilizada peção do Trabalho apresenta um qua-
privilegia o estudo contextualizado, le- dro descritivo dos locais e serviços con-
vando o participante a aprender a pen- siderados perigosos ou insalubres para
sar, a aprender a aprender, a mobilizar, menores de 18 anos.
articular e colocar em ação conhecimen-
tos, habilidades e atitudes em crescente A ideia é evitar que as empresas
nível de complexibilidade”, em total ali- empregadoras dos jovens aprendizes
nhamento com o Modelo Pedagógico do os submetam às práticas que não es-
SENAC. tão compatíveis à sua idade e desen-
volvimento físico e mental, bem como à
O programa de aprendizagem tam- formação técnica adquirida nos cursos
bém é importante no que diz respeito à de formação profissional. Assim, enten-
convivência nas organizações empresa- de-se que teoria e prática devem andar
riais, nas interações cotidianas com ou- juntas no programa de aprendizagem.
tros trabalhadores e na relação da em-
presa com as demais instituições. As instituições empregadoras de-
vem criar um cronograma de atividades
a serem desenvolvidos pelos aprendi-
Atividades desenvolvidas pelos aprendizes zes. Este cronograma deve incluir roti-
nas que contemplem práticas que envol-
Em conformidade com a cláusu-
vam ações que vão desde a integração
la segunda do Contrato de Aprendiza-
do aprendiz à empresa, bem como as ta-
gem (Lei 10097, de 19 de dezembro de
refas específicas que serão vivenciadas
2000) o programa de aprendizagem se

126
Hamilton Pereira de Souza Neto

por ele em cada setor/departamento da propiciando ao aprendiz situações que o


empresa. levem a aprender a pensar, a aprender
a aprender, a mobilizar e a articular com
O ECA - Estatuto da Criança e do pertinência conhecimento, habilidades e
Adolescente – Lei N2 8.069, de 13 de atitudes dentro das organizações que os
julho de 1990, Capítulo V – Do Direito à contrataram.
Profissionalização e à Proteção no Tra-
balho, diz:
Metodologia da Pesquisa
ART. 68 – O programa social que te-
nha por base o trabalho educativo, Quanto à realização deste artigo,
sob responsabilidade de entidade
governamental ou não-governa- teve como tipo a pesquisa descritiva,
mental sem fins lucrativos, deverá com abordagem qualitativa e o método
assegurar ao adolescente que dele
participe condições de capacitação dedutivo. Para Gil (1999, p.43) a pesquisa
para o exercício de atividade regular descritiva tem como objetivo primordial
remunerada.
a descrição das características de deter-
Parágrafo 1º- Entende-se por traba-
minada população ou fenômeno ou o
lho educativo a atividade laboral em
que as exigências pedagógicas rela- estabelecimento de relações entre vari-
tivas ao desenvolvimento pessoal e
áveis e as pesquisas exploratórias são
social do educando prevalecem so-
bre o aspecto produtivo. desenvolvidas com o objetivo de propor-
Parágrafo 2º - A remuneração que cionar visão geral, de tipo aproximativo,
o adolescente recebe pelo trabalho acerca de determinado fato.
efetuado ou a participação na venda
dos produtos de seu trabalho não
desfigura o caráter educativo. Na abordagem foi utilizada a quali-
ART. 69 – O adolescente tem direito tativa, segundo Lakatos (2007) refere-se
à profissionalização e à proteção no a distinção entre leis e teoria do ponto
trabalho, observados os seguintes
aspectos, entre outros: de vista da característica qualitativa, a
I – Respeito à condição peculiar de possibilidade de formular relações entre
pessoa em desenvolvimento; características observáveis ou experi-
II – Capacitação profissional adequa- mentalmente determináveis.
da ao mercado de trabalho.

Com o propósito de evidenciar que


As rotinas devem ser elaboradas
o Programa Jovem Aprendiz desenvolvi-
com vistas a contemplar as competên-
do pelo Senac responde positivamente
cias profissionais do mundo do trabalho,
às essas novas demandas de mercado, e
a serem vivenciadas com foco no perfil
reafirmar que o caminho para inserção e
do profissional que se pretende formar,
permanência desses jovens e adolescen-

2
SENAC. DN. Plano de curso: depilador. Rio de Janeiro, 2015. 21 p. Eixo tecnológico: Ambiente e Saúde. Segmento: Beleza. 127
A INTRODUÇÃO PRECOCE DO JOVEM AO MERCADO DE TRABALHO: um estudo de caso

tes no mundo do trabalho, realmente, carem possíveis entraves na operacio-


passa pela profissionalização metódica, nalização desses processos. A ideia é
encontramos na experiência vivenciada instigar a problematização e propor so-
pela turma de Aprendizagem Profissio- luções criativas e inovadoras para esses
nal Comercial em Serviços Administra- problemas com base nos conhecimen-
tivos (276-2017/2018) na Unidade de tos vivenciados nas unidades curricula-
Educação Profissional de Caruaru/PE, res do curso.
quando da elaboração do projeto inte-
grador, o caminho para superação do Através de um relato de um dos alu-
trabalho sem qualificação e precoce. nos, os aprendizes ressaltaram sobre o
direito à permanência do acompanhan-
O projeto integrador consiste em te no ambiente hospitalar. Segundo a
uma unidade curricular dos cursos de Lei 8080/90 de 19 de setembro de 1990
Aprendizagem Profissional Comercial, que dispõe sobre as condições para a
Qualificação Profissional e Habilitação promoção, proteção e recuperação da
Técnica, que visa articular as compe- saúde, a organização e o funcionamento
tências desenvolvidas ao longo destes dos serviços correspondentes:
cursos. O mesmo é parte integrante do
Modelo Pedagógico do Senac que visa Este direito já é reconhecido para
ampliar os espaços de aprendizagem algumas parcelas de usuários do
sistema de saúde brasileiro. Ido-
totalmente conectados com o perfil pro- sos, gestantes, crianças e indivíduos
fissional exigidos pelo mundo do traba- com necessidades especiais não ne-
cessitam de autorizações especiais
lho voltados para o desenvolvimento de para possuírem acompanhantes
competências, onde as competências nos hospitais. Porém, o paciente
adulto, de modo geral, usufrui do
são as próprias unidades curriculares; acompanhamento como uma con-
e evidenciar as marcas formativas que cessão. Nesses casos, a negociação
é muitas vezes desgastante e de-
diferenciam o profissional formado pelo pendente das condições estruturais
Senac (domínio técnico científico, visão do hospital ou da necessidade do
acompanhante em suprir o déficit
crítica e atitudes empreendedora, sus- de profissionais de enfermagem;
tentável e colaborativa; e evidenciar o em ambos os casos, não são con-
sideradas prioritariamente as ne-
protagonismo juvenil, social e econômi- cessidades do indivíduo internado.
co e as atitudes saudáveis). (SANCHES, Ieda C. Pereira; COUTO,
Ingrid R. R; ABRAHÂO, Ana Lúcia;
ANDRADE, Marilda. Acompanha-
Os aprendizes foram instigados a mento Hospitalar: direito ou con-
pesquisarem processos vivenciados nas cessão ao usuário hospitalizado?.
Escola de Enfermagem Autora de
mais diversas organizações, e identifi- Afonso Costa. Niterói. Rio de Janeiro.

128
Hamilton Pereira de Souza Neto

Artigo apresentado em 01/03/2012. A ideia era dividir a turma em três


Disponível em http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttex- grandes grupos com o intuito de facilitar
t&pi=S141381232013000100008) e agilizar os trabalhos de construção do
Projeto Integrador da turma. Os alunos
“Porém, mais do que um direito o poderiam escolher o grupo em que hou-
tema nos remete a questão da humani- vesse atividades que lhes eram afins,
zação no atendimento ao paciente e ao tais como descritas a seguir:
acompanhante no ambiente hospitalar”,
1. Equipe - Administrativo: Curiosi-
concluem os aprendizes. dades, histórias e/ou estatísticas
sobre o segmento de saúde e tec-
Uma vez identificado o problema, nologia; Missão, Visão de Futuro e
surgiu a ideia de desenvolver um aplica- Valores do aplicativo; Orçamento
(Preço, Custos, Patrocínio, dentre
tivo voltado para o acompanhamento à
outros).
distância dos pacientes internados em
hospitais públicos ou privados. O mes- 2. Equipe - Vendas e Marketing:
Layout do aplicativo (enfocando
mo seria conectado aos sistemas opera- os temas Sustentabilidade e Aces-
cionais informatizados dos hospitais tra- sibilidade); Estratégia de marke-
zendo informações sobre o andamento ting (descrevendo os potenciais
de mercado, patrocínios, parce-
do tratamento dos pacientes que não
rias, outros); preparar o vídeo da
podem ter acompanhantes. Entenden- apresentação do Projeto Integra-
do a complexidade da rotina hospitalar, dor.
o aplicativo seria disponibilizado para o 3. Equipe - Operacional: Planejar e
acompanhante trazendo informações preparar a vitrina (ambientação
dos procedimentos básicos que foram do local da apresentação); prepa-
rar uma recepção temática (de-
aplicados ao paciente, tais como: admi- gustação e/ou brindes) e ensaiar
nistração de medicamentos, resultados uma apresentação cultural.
de exames, sinais vitais, entre outros.

Após a escolha do tema do projeto, A apresentação do Projeto Integra-


foi definida, coletivamente, a metodolo- dor da turma foi realizada no evento Jo-
gia que seria aplicada para o desenvol- vem Empreendedor 2018, no Shopping
vimento da proposta de maneira que Difusora da cidade de Caruaru, durante
todos os alunos estivessem envolvidos dois dias, das 10h às 22hs, para o públi-
no processo, incentivando a atitude co- co passante e convidados para o evento.
laborativa dos grupos em total conexão É promovido pela Unidade de Educação
com modelo pedagógico do Senac. Profissional de Caruaru com as turmas

129
A INTRODUÇÃO PRECOCE DO JOVEM AO MERCADO DE TRABALHO: um estudo de caso

de Aprendizagem, e já se encontra na das no projeto integrador. Além de de-


sua sexta edição. monstrarem total conexão e harmonia
nos trabalhos que foram desenvolvidos
Os procedimentos e instrumentos em equipe, evidenciando atitude colabo-
utilizados para coleta e análise de dados rativa.
foram referenciados pelos planos de
cursos e documentos técnicos do Mode- Portanto, cremos que o Programa
lo Pedagógico do SENAC - Departamen- Jovem Aprendiz se mostra como uma
to Nacional. das possibilidades que melhor traduz o
conceito de profissionalização eficaz sob
Resultados alcançados
um aspecto prático e que realmente fun-
ciona. Representa, também, um grande
Os resultados obtidos foram incrí-
desafio das entidades de ensino profis-
veis. Estavam totalmente alinhados aos
sional no que se refere ao desenvolvi-
objetivos propostos pelo Modelo Pe-
mento de competências alinhadas com
dagógico do Senac e evidenciaram as
as demandas do mundo trabalho.
marcas formativas que os diferenciam
enquanto profissionais formados pela
Segundo Marcos Bragança,  geren-
instituição.
te de Educação Profissional da ESPRO-RJ
(Escola Social Profissionalizante), a edu-
Os alunos demonstraram dominar
cação profissional realizada por compe-
os conhecimentos técnico-científico ne-
tência desenvolve no jovem a percepção
cessários para o embasamento de suas
“do quê e do porquê?”  dos fatos. Faz
práticas profissionais. Incorporaram os
com que ele aprenda “como fazer” e ain-
conceitos trabalhados e demonstravam
da estimula o “querer, a determinação”
total articulação dos mesmos em suas
em realizar. Assim, aqui temos a prática
falas e exposição de ideias, ampliando a
do famoso CHA: Conhecimento, Habili-
visão crítica relacionando os saberes te-
dade e Atitudes.
óricos e práticos conectando-os de for-
ma lógica e eficaz.
O propósito é que com estas práti-
cas, o jovem venha assumir em sua vida
Além de promoverem discussões
profissional uma postura de protagonis-
que demonstraram o entendimento e o
ta, buscando constante profissionaliza-
desenvolvimento de atitudes empreen-
ção, responsabilize-se por suas ações,
dedoras e sustentáveis, no que se refe-
trabalhe pelo sucesso coletivo e se pro-
re aos aspectos proativos e conscientes
ponha a agir, resolver e fazer acontecer.
nas estratégias que foram desenvolvi-

130
Hamilton Pereira de Souza Neto

Quem tem competência profissio- escola de ensino convencional.


nal está aberto a soluções criativas e à
inovação. A preparação dos jovens para um
mercado de trabalho globalizado e exi-
gente é de responsabilidade de todos os
segmentos sociais: família, estado, esco-
Conclusão
la, empresas, etc. A educação profissio-
Há uma profunda compreensão a nal, não pode ser vista como a solução
nível mundial sobre a questão da qualifi- única, para o impasse entre os jovens e
cação profissional dos jovens. O grande o mercado de trabalho.
desafio da sociedade do conhecimento
Os modelos preestabelecidos pelo
é a produção, a difusão e a aplicação do
setor produtivo para o profissional que
saber, como também, entender que ela
ele precisa se baseia no modelo de de-
passa por profundas transformações.
senvolvimento de competências. Nos
A implantação de políticas públicas e o
documentos que definem as diretrizes
redirecionamento da Educação volta-
para a educação profissional, compe-
dos para a real qualificação profissional
tência é capacidade pessoal de articular
constituem-se tendências para qualida-
com autonomia os saberes (saber, saber
de de vida de jovens e adolescentes.
fazer, saber ser e saber conviver) nas si-
O papel da Escola de ensino con- tuações reais de trabalho. O desenvolvi-
vencional precisa ser repensado no sen- mento destas competências requer do
tido de garantir os conhecimentos que a aprendiz não só as habilidades técnicas
educação profissional não pode corrigir. para uma determinada função, mas um
Ao atingir a idade em que o adolescente conjunto de valores e atitudes que de-
sente a necessidade de trabalhar, devi- vem ser adquiridos ao longo de toda a
do a uma série de razões específicas, a sua vida.
tendência é este procurar cursos profis-
As empresas atualmente contra-
sionalizantes como meio mais rápido de
tam por currículo e demitem por com-
seu ingresso ao mercado de trabalho.
portamento.
No entanto, para que se consiga desen-
volver as competências propostas pelos
A grande questão é: de que adianta
cursos profissionalizantes oferecidos
um profissional extremamente bem pre-
pelas mais diversas instituições, o jovem
parado tecnicamente se as suas atitudes
esbarra na ausência de conhecimentos
são antiéticas? E como avaliar essas ati-
prévios que deveriam ser adquiridos na
tudes? Somente a escola prepara o pro-

131
A INTRODUÇÃO PRECOCE DO JOVEM AO MERCADO DE TRABALHO: um estudo de caso

fissional nessas questões éticas? Como reitos trabalhistas básicos e a promoção


resolver esses impasses? da qualificação profissional,

Esse conjunto de questionamentos Não é possível vislumbrar ou dese-


revela que ainda há muito por se fazer nhar um modelo único para a temática
no sentido de melhorar a relação jovem/ discutida neste artigo. No entanto, no
mercado de trabalho. contexto de mudanças contínuas, é pos-
sível apontar caminhos alternativos para
No Brasil, o Programa de Aprendi- esse impasse.
zagem tem se mostrado como uma for-
ma de dirimir o vácuo existente entre Contudo, apesar das dificuldades, é
jovens e adolescentes e o mundo do tra- preciso enfrentar o problema de frente.
balho. Não se trata de uma solução de- É necessário que a sociedade em geral
finitiva e única, mas, sem dúvidas, abre reflita sobre todos os aspectos que en-
possibilidades para a inserção destes jo- volvem a temática do jovem no seu sen-
vens a este mercado. Infelizmente este tido mais amplo.
programa não atinge a todos. Algumas
empresas ainda não entenderam a sua
filosofia, e infelizmente só contratam os
aprendizes por conta de sua obrigatorie- Referências Bibliográficas
dade fiscal. BRASIL. Consolidação das Leis do
trabalho. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de
Os resultados obtidos ao longo maio de 1943. Aprova a Consolidação
das Leis do Trabalho.
dos quinze anos em que o Programa de
BRASIL. Ministério do Trabalho e
Aprendizagem foi implantado na cidade
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de Caruaru, demonstram que o cami- o que é preciso saber para contratar o
nho é a educação voltada para o cumpri- aprendiz. 4. ed. Brasília, DF: MTE, SIT,
SPPE, ASCOM, 2009.
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A conscientização empresarial aliada a Lei 8.078 de 11/09/90. Brasília, Diário
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mera colocação, mas sim de garantir os Serviços: a chave do sucesso nos
benefícios esperados pelo trabalho: di- negócios. Rio de Janeiro: Senac Nacional,
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132
Hamilton Pereira de Souza Neto

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administrativas em escritório. Rio de PRADO, Maria Regina; BARBOSA, Paulo
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PORTO, Bruno; AMARAL, Mariana;
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133
AR
TI
GO.

O PRAZER DE SENTIR, DESCOBRIR, VER E OUVIR:


TRABALHANDO EM EQUIPE NA PROMOÇÃO DO
BEM-ESTAR E DA QUALIDADE DE VIDA
Luis Guilherme da Silva Dutra

Introdução ficas indicam que o toque é necessário


para o crescimento, o desenvolvimento
O Projeto Integrador, como Unida- e a função imunológica (BRAUN, 2007,
de Curricular diferenciada, foi apresenta- p. 19). Aliados ao tato, os outros quatro
do à turma de Massagista já no primeiro sentidos fortalecem o processo de bem-
dia de aula. Foi sugerida ao grupo uma -estar e sensação de relaxamento, tra-
proposta de tema envolvendo os cinco zendo alívio, conforto e agradabilidade
sentidos no processo da massagem. A para quem o recebe.
temática foi discutida e aceita entre o
grupo. O Prazer de Sentir, Descobrir, Ver Partindo do tema central, os alu-
e Ouvir - trabalhando em equipe na pro- nos desenvolveram uma problemática e
moção do bem-estar e da qualidade de uma situação desafiadora, em que cada
vida foi o tema gerador do projeto inte- um dos sentidos, personificados pelos
grador e surgiu a partir do momento em próprios alunos, discutiam entre si qual
que se discutiu a importância dos órgãos deles era o elemento primordial na dinâ-
do sentido como elementos relevantes mica da massagem.
na atuação do massagista, sendo, den-
tre esses, o tato como sentido primário O projeto integrador foi construído
(MONTAGU, 1988, p. 34). De acordo com e elaborado em formato de dramatiza-
Braun, o tato, através do toque, pode ser ção, apresentando textos poéticos reci-
usado como método de comunicação e tados e representados por cada um dos
aprendizado, além de proporcionar con- personagens do enredo. A proposta do
forto e autoestima. As pesquisas cientí- projeto integrador foi destacar a impor-

134
Luis Guilherme da Silva Dutra

tância da integração dos órgãos dos sen- superior cuja potência sobre-huma-
na nos ilumina” (FREINET, 1998, p.
tidos na dinâmica da massagem, pro- 304).
porcionando bem-estar e qualidade de
vida ao seu praticante. Ainda nesse con- A introdução do lúdico no projeto
texto, o projeto integrador apresentado integrador, não necessariamente como
intencionou também a execução de um brincadeira, pôde servir de incentivo à
trabalho em equipe, em que foi possível aprendizagem. Foram usados textos,
observar a participação do grande grupo músicas, expressão corporal por meio
de forma bastante integrada e engajada. da dança, dramatização, entre outras ati-
vidades, incentivando a aprendizagem
Os cinco sentidos – visão, olfato, por meio da ludicidade, desenvolvendo
paladar, audição e tato – foram personi- assim a construção das competências,
ficados por cinco alunos, e um sexto per- informando e formando o profissional
sonificou a massagem, traduzindo seu para seu ingresso no mundo do traba-
papel por meio da recitação de versos, lho.
prosas e gestual. A proposta do projetor
integrador, elaborada e construída ao O presente artigo científico foi de-
longo do curso e perpassada por todas senvolvido a partir da elaboração, apli-
as Unidades Curriculares, foi a de apre- cação, desenvolvimento e acompanha-
sentar elementos que evidenciassem a mento firmado no Plano de Trabalho
assertividade do uso das atividades lú- Docente do Senac específico para a Uni-
dicas dentro do ambiente escolar profis- dade Curricular diferenciada, aqui intitu-
sional, levando o aluno a investigar, or- lado de Projeto Integrador e baseado na
ganizar e produzir estratégias eficientes, construção de competências, inserindo
bem como o fazer profissional, dentro o aluno em situação de aprendizagem
de sua área de atuação. semelhante às que serão vivenciadas na
sua futura prática profissional.

A dimensão das práticas lúdicas Este trabalho foi desenvolvido a


“não é apenas um exercício especí-
fico de alguma atividade, mas um partir das experiências vivenciadas nas
estado de bem-estar que é a exacer- quatro unidades curriculares (UCs) do
bação de nossa necessidade de vi-
ver, de subir e de perdurar ao longo Curso de Massagista do Senac/PE, con-
do tempo. Atinge a zona superior do forme exposto a seguir: UC1 – Organizar
nosso ser e só pode ser comparada
à impressão que temos, por uns ins- o Ambiente de Realização da Massagem;
tantes, de participar de uma ordem UC2 – Avaliar as Necessidades do Clien-

135
O PRAZER DE SENTIR, DESCOBRIR, VER E OUVIR: trabalhando em equipe na promoção do bem-estar e da qualidade de vida

te Relativas à Realização da Massagem; estimulado à medida que se desenvolve


UC3 – Realizar Procedimentos Massote- o aprendizado cognitivo do indivíduo,
rapêuticos Ocidentais de Relaxamento dentro de um processo chamado Meto-
e Estimulação Muscular; UC4 – Realizar dologia Ativa.
Procedimentos Massoterapêuticos de
Prevenção de Lesões e Recuperação O lúdico, de acordo com Huizinga
Muscular no Esporte. (2000), é o campo da ilusão e da simu-
lação. Tem uma conotação de prazer,
de algo que se realiza sem conflitos e
com finalidade. Para compreendermos
Referencial Teórico
a total extensão do significado do lúdico,
Considerando sua origem isola- precisamos descobrir o significado do
damente, o lúdico estaria se imputan- jogo, brincadeira e brinquedo (HUIZIN-
do apenas ao jogar, brincar e ao movi- GA, 2000).
mento espontâneo, porém a evolução e
O lúdico esteve presente em todas
progressão semântica do termo “lúdico”
as épocas da humanidade, mantendo-se
não cessaram simplesmente nas suas
até os dias atuais. Em cada período da
origens, mas acompanharam as pes-
história, sempre foi algo natural, vivido
quisas de psicomotricidade. O termo lú-
por todos e também utilizado como ins-
dus, segundo Luckesi (1994) e Huizinga
trumento de caráter educativo para o
(2000), tem sua origem no latim e signi-
desenvolvimento do indivíduo.
fica brincar. Nesse brincar, estão incluí-
dos as brincadeiras, os jogos e os diverti-
A utilização da ludicidade como ins-
mentos e a relativa conduta daquele que
trumento metodológico, mesmo dentro
brinca, joga e se diverte.
do contexto da aprendizagem profissio-
nal, é um desses ensinamentos que não
Para entender a ludicidade como
deve ser desconsiderado. Envolver o
prática de uma metodologia docente se
aluno nesse universo favorece o apren-
faz necessária uma reflexão acerca do
dizado e, consequentemente, o desen-
histórico desde a Antiguidade, quando
volvimento das competências para sua
o lúdico era uma prática frequente na
atuação na profissão escolhida. O uso
vida do ser humano em todas as suas
de jogos, músicas, mímicas, dinâmicas,
atividades, começando pelo seu nasci-
entre outros, leva os discentes a um uni-
mento. O lúdico não é um pedagogismo,
verso descontraído e interativo, condu-
nem foi inventado, mas é inerente ao
zindo-os a um aprendizado qualitativo,
ser humano e, portanto, pode e deve ser

136
Luis Guilherme da Silva Dutra

significativo e permanente. diferentes das outras e também com


sua forma de desenvolvimento da ludi-
Segundo Almeida (1998), em me- cidade entre seus pares; todavia, essa
ados de 367 a.C., Platão afirmava que herança torna nosso país ainda mais
crianças, de ambos os sexos, deveriam rico do ponto de vista cultural e educa-
praticar juntas atividades educativas cional, ficando evidente o vasto cabedal
através dos jogos. Com isso, o filósofo de atividades lúdicas disponíveis para o
grego apontava a importância da utiliza- ensino-aprendizagem no contexto pro-
ção da ludicidade para que o aprendiza- fissional.
do pudesse ser construído, apresentan-
do provas de estudos sobre o lúdico e Desenvolver atividades lúdicas den-
seu poder de ação na educação e a im- tro da aprendizagem profissional contri-
portância dos jogos no desenvolvimento bui para melhor conhecimento interno
da aprendizagem do indivíduo (ALMEI- do grupo de discentes, além de desen-
DA, 1998). volver cooperação, interação, desinibi-
ção e socialização. O processo de inclu-
No século XV, François Rabelais, são de atividades lúdicas permite que o
escritor renascentista francês, afirmava indivíduo encontre meios de comunicar-
que a aprendizagem deveria ser funda- -se consigo mesmo e com o mundo. Na
mentada nas diversas atividades lúdicas, ação de “brincar”, acontece um processo
estimulando nos indivíduos o gosto pela de troca, de partilha, confronto e nego-
leitura, pelo desenho, por jogos de car- ciação, originando momentos de dese-
tas e fichas que serviam para ensinar até quilíbrio e equilíbrio, propiciando novas
mesmo disciplinas consideradas intrica- conquistas individuais e coletivas.
das e complexas, tais como Aritmética e
Geometria. As atividades lúdicas equivalem a
um impulso natural do ser humano e,
De acordo com os Parâmetros Cur- nesse sentido, satisfazem uma necessi-
riculares Nacionais (PCNs), no Brasil, o dade interior, pois o ser humano apre-
desenvolvimento dos modelos da me- senta uma tendência lúdica; as situações
todologia lúdica que conhecemos até lúdicas mobilizam esquemas mentais.
os dias atuais teve como precursores ín- Assim sendo, vê-se que a atividade lú-
dios, portugueses e negros. Nos últimos dica se assemelha à atividade artística
séculos, houve no Brasil uma grande como um elemento dos vários aspectos
mistura de povos e raças, cada qual com da personalidade.
suas culturas, crenças, educação; umas

137
O PRAZER DE SENTIR, DESCOBRIR, VER E OUVIR: trabalhando em equipe na promoção do bem-estar e da qualidade de vida

O ser que brinca e joga é, também, lúdico e ativo. Sua definição deixou de
o ser que age, sente, pensa, aprende e ser um simples sinônimo de jogo, pois a
se desenvolve, pois, segundo VOOS et necessidade lúdica ultrapassou os limi-
al. (2009), “a ludicidade constitui um ca- tes do brincar espontâneo, passando à
minho para o conhecimento e para o aspiração natural e muitas vezes incons-
desenvolvimento do raciocínio, tanto na ciente da personalidade, não importan-
escola quanto na vida cultural e social do a sua origem e o seu tempo. O lúdico
fora da escola”, e ainda acrescentam que é um referencial importante da natureza
o jogo é repleto de espírito inovador, que humana, devendo, portanto, ser explo-
desafia os alunos à busca de um resulta- rado e utilizado dentro da docência pro-
do positivo, ao acerto, fazendo com que fissional como instrumento que favore-
eles cumpram regras, desenvolvam res- ça o aprendizado.
ponsabilidade, decisão interdisciplinar e
aprendizagem VOOS et al. (2009).
A educação pela via da ludicidade
propõe-se a uma nova postura exis-
A ludicidade é uma atividade que tencial, cujo paradigma é um novo
tem valor educacional intrínseco, mas, sistema de aprender brincando,
inspirado numa concepção de edu-
além desse valor, ela tem sido utiliza- cação para além da instrução. (SAN-
da como recurso pedagógico. Segundo TOS, 2001, p. 53).

Teixeira (1995), várias são as razões que


levam os educadores a recorrer às ati-
vidades lúdicas e a utilizá-las como um
recurso no processo de ensino-aprendi- Ludicidade e o Modelo Pedagógico Senac
zagem. Através da ludicidade, terá uma
finalidade no aprendizado, uma vez que A ludicidade é o fazer humano
o ser que brinca e joga é, também, o ser mais amplo que se relaciona não apenas
que age, sente, pensa, aprende e se de- à presença das brincadeiras ou dos jo-
senvolve. gos, mas também a um sentimento, ati-
tude do sujeito envolvido na ação, que
Viver ludicamente denota uma for- se refere a um prazer de celebração em
ma de intervenção no mundo e revela função do envolvimento genuíno com a
que não apenas estamos incluídos no atividade, a sensação de plenitude que
mundo, mas, sobretudo, que somos par- acompanha as coisas significativas e
te desse conhecimento prático e que es- verdadeiras (LUCKESI, 2000). Observam-
sas reflexões são os nossos instrumen- -se nesse contexto dois aspectos funda-
tos para exercitarmos um protagonismo mentais e que, analisados à luz da me-

138
Luis Guilherme da Silva Dutra

todologia de aprendizagem implantada pois a construção da competência acon-


e implementada pelo Senac, a partir de tece de forma gradativa.
2015, tornam-se elementos prioritários
na construção do saber significativo e Mesmo dentro do contexto profis-
embasado em competências. sional, é possível utilizar os recursos da
ludicidade para atingir uma aprendiza-
O primeiro aspecto é o fazer hu- gem significativa, pois música, dança,
mano mais amplo, ou seja, as atividades pintura, jogos, poemas e brincadeiras
lúdicas focadas em objetivos específi- fazem parte do cotidiano de vida das
cos tornam o aprendizado mais efetivo, pessoas, sejam elas crianças ou adultos.
desenvolvendo no indivíduo elementos Ao longo do desenvolvimento do curso,
próprios da competência, tais como co- tendo por base a aprendizagem desen-
nhecimentos, habilidades e atitude/valo- volvida em cada uma das unidades cur-
res. O segundo referencial está centrado riculares, foi sendo construído o projeto
na atitude do sujeito envolvido na ação. integrador, que culminou na apresenta-
Esse fato nos remete aos princípios ção do mesmo e registrado nesse artigo
apresentados na metodologia de Küller acadêmico. A ludicidade se fez presente
e, consequentemente, no modelo peda- com o objetivo de assegurar a constru-
gógico Senac, que se baseia na constru- ção das competências, seguindo assim
ção de uma aprendizagem significativa, as orientações contidas no Modelo Pe-
na qual o discente, protagonista desse dagógico Nacional Senac, 2013.
enredo, é mobilizado a agir, alicerçando
os seus saberes. O desenvolvimento de
competências se dá na prática, em situ- Metodologia
ações complexas envolvendo problemas
que exigem a mobilização e a busca de O presente artigo se refere ao pro-
saberes para a sua resolução (KÜLLER; jeto integrador desenvolvido pela tur-
RODRIGO, 2013). ma de massagista da Unidade de Ima-
gem Pessoal do Senac-Recife/PE, sendo
Isso permite, no desenvolvimento orientado pelo docente do curso Luis
das aulas, o uso de atividades lúdicas, Guilherme da Silva Dutra.
colocando o aluno diante de situações
reais de uma forma descontraída, favo- O tema proposto foi o “Prazer de
recendo melhor memorização das téc- Sentir, Descobrir, Ver e Ouvir - traba-
nicas de massagens exigidas do profis- lhando em equipe na promoção do
sional e maior aprendizado significativo, bem-estar e da qualidade de vida” e teve

139
O PRAZER DE SENTIR, DESCOBRIR, VER E OUVIR: trabalhando em equipe na promoção do bem-estar e da qualidade de vida

como objetivo central a importância dos servando indicações e contraindicações


cinco sentidos no ato do toque nos pro- específicas, bem como as normas de
cedimentos de massagens, além de for- biossegurança e ergonomia, com o obje-
talecer o trabalho em equipe. Partindo tivo de contribuir com a promoção e ma-
dessa ideia central, os discentes criaram nutenção da saúde e do bem-estar. Atua
situação de aprendizagem que, no con- em diferentes estabelecimentos, como:
texto, apresentava problematização e clubes desportivos, saunas, spas, insti-
desafios a serem solucionados. tutos de beleza, academias esportivas
e de ginástica, meios de hospedagem e
O projeto integrador é um recurso condomínios, clínicas, centros estéticos,
de ensino-aprendizagem cujo objetivo casas de repouso, instituições de longa
é proporcionar a interdisciplinaridade permanência e centros de convivência
entre todos os temas/assuntos/bases para idosos, cruzeiros marítimos e even-
abordados durante o curso, e um mé- tos, espaços próprios e atendimentos
todo eficaz de atingir resultados signifi- em domicílio, de forma autônoma ou
cativos. É um elemento importante na sob supervisão em equipes multidisci-
construção das competências e fornece plinares. O curso contempla uma carga
base para a criatividade, sendo possível, horária de 240 horas, distribuídas em
nesse contexto, inserir as atividades lú- quatro unidades curriculares (UC1, UC2,
dicas. Através do projeto integrador, os UC3 e UC4), além de uma unidade curri-
discentes assumem o papel de protago- cular de natureza diferenciada, designa-
nistas, sendo orientados e coordenados da de projeto integrador (UC PI).
pelo docente do curso. O objetivo do
projeto integrador, como unidade cur- O Projeto Integrador do Curso de
ricular diferenciada, é estimular os dis- Massagista foi realizado no período de
centes na elaboração de estratégias que setembro a outubro do ano de 2018, ten-
os coloquem próximo da realidade que do carga horária total de 24 horas/aulas,
vivenciarão na atuação profissional. distribuídas dentro das quatro unidades
curriculares do curso. Para o seu desen-
De acordo com o plano de curso volvimento, o docente do curso apresen-
massagista1, o curso de massagista for- tou essa unidade curricular mostrando a
ma um perfil profissional de conclusão, sua importância no contexto do desen-
o profissional que realiza massagens volvimento da aprendizagem, e ressal-
baseadas em técnicas ocidentais, consi- tou que a partir daquele momento seria
derando aspectos anatômicos, fisiopato- necessário a escolha de um tema central
lógicos e biomecânicos essenciais e ob- que fosse relevante para a profissão de

140 1 SENAC. DN. Plano de curso: massagista: qualificação profissional. Rio de Janeiro, 2017. Eixo tecnológico: Ambiente e Saúde. Segmento: Saúde.
Luis Guilherme da Silva Dutra

massagista. Após debate e sugestões, processo da curiosidade por meio da


foi decidido que o projeto integrador estimulação de perguntas, reflexão crí-
desenvolvesse a seguinte temática: O tica sobre a própria pergunta, o que se
Prazer de sentir, Descobrir, Ver e Ouvir pretende com esta ou com aquela per-
– Trabalhando em equipe na promoção gunta em lugar da passividade em face
do bem-estar e da qualidade de vida. das explicações discursivas do professor
e espécies de resposta a perguntas que
Partindo dessa ideia central, os não foram feitas (FREIRE, 2006).
alunos foram incentivados a apresentar
uma problemática e desafios para que A decisão dos discentes foi criar
o projeto integrador fosse construído e versos e prosas abordando o papel de
tivesse efeito positivo na formação do cada um dos cinco sentidos no contexto
perfil profissional do massagista. Atra- da massagem. O texto poético foi sen-
vés de aula discursiva, os alunos conclu- do criado e discutido entre eles, levando
íram que, para o sucesso do profissional em consideração o grau de importância
massagista no mercado de trabalho, é dos cinco sentidos, bem como aspectos
necessário, além do conhecimento técni- éticos, de biossegurança e ergonomia.
co-científico e da ética profissional, criar À medida que as unidades curriculares
elementos que garantam o bem-estar e eram vivenciadas, os textos eram adap-
a qualidade de vida do cliente. A decisão tados, agregando mais elementos ao
foi criar uma problemática em cima da conjunto de textos poéticos.
temática já estabelecida: Massagista -
como proporcionar bem-estar e qualida- A situação de aprendizagem apre-
de de vida nas pessoas sem sentir, des- sentada como elemento norteador foi
cobrir, ver e ouvir? Essa problemática foi a importância do trabalho em equipe
sugerida tendo em vista o conhecimen- na busca do bem-estar e da qualidade
to dos alunos acerca dos muitos massa- de vida, fazendo alusão à integração
gistas que desconsideram a relevância dos cinco sentidos. O contexto geral do
dos cinco sentidos no papel desse pro- projeto integrador foi pautado em uma
fissional. Iniciaram suas pesquisas por estória criada pelos próprios discentes,
meio de acervo bibliográfico, pesquisas na qual se relatava que os cinco senti-
de campo, procurando identificar o uso dos discutiam entre si qual deles era o
dos cinco sentidos na prática do massa- sentido primordial. A massagem, no en-
gista e de que forma isso implicava no tanto, apelava e implorava pela união
resultado final no pós-atendimento das do quinteto, que insistia e debatia na
massagens. Foi instigado nos alunos o soberania de quem seria o sentido mais

141
O PRAZER DE SENTIR, DESCOBRIR, VER E OUVIR: trabalhando em equipe na promoção do bem-estar e da qualidade de vida

completo. A disputa se acirrou, e a mas- de recursos teatrais com simulações e


sagem, entristecida, deixou de ser cura, representação simbólica dos sentidos.
e num toque frio e sem vida se tornou. Foram escolhidos entre si cinco alunos
Todo o texto do enredo foi construído para personificar cada um dos sentidos
em forma de rimas e prosas. Diante do (visão, olfato, paladar, audição e tato),
contexto apresentado, os alunos traça- enquanto um sexto aluno personificou a
ram o desafio da situação de aprendiza- atuação da massagem. O ciclo de ordem
gem, sendo questionado de que forma na apresentação do projeto integrador
os cinco sentidos poderiam conviver de seguiu uma ordem cronológica e con-
forma harmoniosa, desenvolvendo um templou todo o aprendizado construído
trabalho em equipe que proporcionasse ao longo da abordagem de cada uma
bem-estar, qualidade de vida e cura. Ao das Unidades Curriculares do curso.
longo do desenvolvimento das Unidades
Curriculares, docente e alunos discutiam
o andamento do projeto integrador, fa- Figura 1: Parte do texto em versos e prosas
construído pelos alunos do Curso Massagista
zendo os ajustes necessários, tais como
UIP 130.
ordem cronológica de eventos, seguindo
o que foi apresentado em cada Unida-
de Curricular, disposição e organização
dos textos, escolha de personagens e
ensaios da apresentação. Toda organi-
zação do projeto foi coordenada pelo
docente titular do curso. Fonte: Arquivo pessoal do autor.

O produto final foi um texto em ver-


sos e rimas, destacando toda a aprendi- A apresentação avaliativa do
zagem adquirida ao longo das unidades projeto integrador do curso de massa-
curriculares (figura 1). A metodologia gista foi exposta para docentes e alunos
desenvolvida teve como ponto central do segmento de beleza, estética e saú-
a ludicidade, embasada nas metodolo- de, bem como coordenação pedagógi-
gias ativas e, diante disso, os discentes ca e analistas da Diretoria de Educação
decidiram representar os textos criados Profissional – DEP do Senac, Recife/PE.
em forma de dramatização, utilização de
poemas, músicas e expressão artística
através da dança, com os versos e rimas
construídos sendo recitados por meio

142
Luis Guilherme da Silva Dutra

Figuras 2 e 3: Apresentação do Projeto Integra- ram integrados e atuantes no processo


dor: O aluno Luiz Guilherme Lopes, personifican-
do a Massagem, considera com um dos sentidos, do desenvolvimento das competências
personificado pelo aluno Thiago Freitas, a neces- em cada uma das Unidades Curriculares
sidade de integração dos cinco sentidos para
que a massagem cumpra seu objetivo (figura 2). contempladas no Curso de Massagista.
Luiz Guilherme Lopes, personificando a Massa-
gem, executa suas manobras atuando em parce-
ria com os cinco sentidos (figura 3).

Conclusão

O Modelo Pedagógico Senac priori-


za uma educação profissional com foco
na aprendizagem significativa, colocan-
do o aluno como protagonista do pro-
cesso de construção de competências.
Nesse contexto, o projeto integrador
desenvolvido pela Turma de Massagista
UIP 130 apresentou metodologia ativa,
em que a ludicidade pode proporcionar
informações precisas acerca do papel
do massagista em desenvolver suas ati-
vidades, levando em consideração o uso
dos sentidos, sua responsabilidade em
proporcionar bem-estar e qualidade de
vida, bem como seu papel dentro de um
trabalho em equipe. A representação
Fonte: arquivo pessoal do autor. dos cinco sentidos, encenadas na apre-
sentação do projeto integrador, possibi-
Sendo assim, a importância dos litou melhor entendimento da atuação
cinco sentidos para execução da massa- do profissional massagista no desenvol-
gem foi o resultado final do projeto, tra- vimento de suas massagens, com cada
zendo como elemento principal a perso- um dos cinco sentidos enriquecendo o
nificação da massagem e a atuação dos ambiente de trabalho. A cada apresen-
sentidos de forma harmônica. O projeto tação dos sentidos, o cenário foi sendo
integrador, ao longo de sua construção e construído. A visão trouxe luzes e cores;
apresentação, fortaleceu o trabalho em o olfato, aromas; o paladar personalizou
equipe, pois todos os discentes estive- o processo de massagem, colocando no

143
O PRAZER DE SENTIR, DESCOBRIR, VER E OUVIR: trabalhando em equipe na promoção do bem-estar e da qualidade de vida

cenário chocolates e vinhos; a audição A experiência vivenciada, tendo


propagou a música que promove o rela- como resultado final o referido projeto
xamento e, por fim, o tato representan- integrador, proporcionou aos docentes e
do o sentido do toque. No final, a massa- alunos conhecer, discutir e refletir sobre
gem, também personificada por um dos as metodologias ativas como estratégias
discentes, executou a massagem con- inovadoras, bem como propor oportu-
templando todos os sentidos apresen- nidades e formas para a aplicação da
tados. Todo o contexto foi apresentado ativação da aprendizagem, incentivando
em forma de dramatização, baseado docentes e alunos na elaboração e cons-
numa metodologia ativa e explorando a trução de propostas desafiadoras. Além
ludicidade. disso, fortaleceu nos alunos a importân-
cia de executar os procedimentos de
A metodologia ativa tem uma con- massagens sem desconsiderar o valor
cepção de educação crítico-reflexiva das luzes e cores, dos odores fragrantes,
com base em estímulo no processo de dos sabores, das músicas relaxantes e
ensino-aprendizagem, resultando em do toque que cura.
envolvimento por parte do educando
na busca pelo conhecimento. Dentro do Pelo exposto, é possível afirmar
conceito de metodologia ativa, existe o que a atividade lúdica pode se constituir
método a partir da construção de uma em poderosa ferramenta pedagógica,
situação-problema, a qual proporciona aplicável em atividades nas mais dife-
uma reflexão crítica; mobiliza o educan- rentes unidades curriculares para atingir
do para buscar o conhecimento, a fim de objetivos diversificados, com integrantes
solucionar a situação-problema; ajuda em condições variadas, o que pressu-
na reflexão e na proposição de soluções põe um preparo em profundidade e em
mais adequadas e corretas para solução constante aprimoramento e atualização
e apresentação de resultados. O projeto de todos os envolvidos no processo de
integrador contemplou esse tipo de me- ensino-aprendizagem, o que remete
todologia e o processo de aprendizagem imediatamente à necessidade da capaci-
se fez presente, resultando numa apre- tação continuada.
sentação lúdica, poética e instrutiva,
fortalecendo o princípio de que os cinco
sentidos são essenciais no processo das
massagens, culminando em resultados
satisfatórios no pós-atendimento.

144
Luis Guilherme da Silva Dutra

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119-131
MONTAGU, Ashley. Tocar: o significado
humano da pele. 2. ed. São Paulo:
Summus. 2. ed., 1988.

145
AR
TI
GO.

PROJETO AMOR E ESPERANÇA:


RESULTADO DE UMA NOVA ABORDAGEM
PEDAGÓGICA
Karlla Simonett Barreto Pinto Soares
Alexandre Henrique Lins
Jacira Rodrigues Cardoso
Karine Maria Gonçalves Cortez
Odilon Carlos de Oliveira Filho

Introdução sentado neste artigo, alcança plenamen-


te as competências exigidas aos alunos.
Nas últimas décadas tem-se ob- Além de um “profissional competente,
servado a necessidade de mudanças um cidadão autônomo e criativo que sai-
nos espaços internos, o surgimento de ba solucionar problemas e manter cons-
novas tecnologias e a busca de serviços tante iniciativa para questionar e trans-
com soluções criativas e inovadoras. formar a sociedade” (BEHRENS, 2006).
Fica  evidente uma profissão que agora
se destaca pela necessidade da deman- Atualmente na educação o termo
da e da competências exigidas no De- “projeto” é apresentado com associa-
sign de Interiores. “Na atual sociedade ções de: intenção (propósito, objetivo,
do conhecimento este profissional deve problema a resolver); metodologia (pla-
trazer além do profissionalismo, impac- nos, procedimentos, estratégias, desen-
to positivo em suas vidas, na comunida- volvimento). “Projetos podem ser conce-
de em que vivem e para sociedade como bidos por uma atividade intelectual de
um todo” (SENAC, 2015). elaboração do conhecimento e envol-
vem atividades múltiplas em sua realiza-
A necessidade por este profissio- ção”, como afirma Boutinet (2002).
nal no mercado de trabalho direcionou
o surgimento do curso Técnico em De- O profissional deste segmento é
sign de Interiores no Serviço Nacional de responsável pela elaboração, acompa-
Aprendizagem Comercial (SENAC), que nhamento e execução de projetos de
através do Projeto Integrador (PI), apre- interiores de espaços residenciais, co-

146
Karlla Simonett Barreto Pinto Soares et al.

merciais, institucionais, promocionais e ambientação e reforma da ONG Amor


também em vendas especializadas. Vi- e Esperança. A escolha desse ambiente
sando atingir todas estas habilidades e se confirmou pela avaliação dos profes-
solucionar um projeto real, foi através sores diante de locações pesquisadas e
de estudo e pesquisa por meio do (MPS) apresentadas por grupos de alunos da
que a equipe pedagógica conclui o uso turma, onde os critérios de viabilidade,
da Metodologia de Projeto como abor- impacto social, sem fins lucrativos e prin-
dagem relevante para alcançar a com- cipalmente que atenda as competências
plexibilidade profissional necessária na exigidas no curso, sejam pré-requisitos,
formação dos alunos. fundamentando mais uma vez o uso da
metodologia de projeto como meio ideal
O referido curso está situado no de alcançar estes itens.
eixo tecnológico Produção Cultural e De-
sign, “cuja natureza é buscar soluções A ONG em estudo situa-se na co-
criativas e acessíveis na construção e munidade de Brejo de Beberibe, no Bair-
aperfeiçoamento de espaços projeta- ro de Nova Descoberta, Recife/PE, e de-
dos, a fim de torná-los cada vez mais senvolve as seguintes atividades sociais:
acessíveis, além de mobilizar os indi- aula de música, informática e reforço
víduos a promoverem a qualidade de escolar, para crianças entre cinco e treze
vida e transformarem esses espaços em anos; berçário para bebês, a partir dos
ambientes esteticamente atraentes” (SE- seis meses, bem como aula de artesa-
NAC, 2015). O curso Técnico em Design nato e costura para as mães. Devido à
de Interiores foi sancionado pela lei nº localização e às atividades desenvolvi-
13.369/2016, que reconhece e garante o das, a reforma gerou um impacto social,
exercício da profissão àqueles que pos- como facilitação do reconhecimento da
suem tal formação acadêmica. ONG na comunidade através de uma
nova identidade visual, aumento de pes-
Este artigo consiste em apresen- soas atendidas devido a ampliação dos
tar a prática pedagógica desenvolvida ambientes por meio de novos layouts,
pelos instrutores e coordenadora do facilidade de atuação das pessoas vo-
Curso Técnico em Design de Interiores luntárias através das ergonomias im-
do Senac PE, no período de março de plantadas, requalificação dos serviços
2018 a março de 2019, bem como a vi- prestados devido ao conjunto de todas
vência dos estudantes do Projeto Inte- as melhorias, que também contribuíram
grador (PI), que consistiu no projeto de

147
PROJETO AMOR E ESPERANÇA: Resultado de Uma Nova Abordagem Pedagógica

em gerar interesse de novos familiares de atividades desenvolvidas, mobiliários


usufruírem da ONG, e principalmente o inadequados, falta de decoração e har-
bem estar das crianças e mães ali pre- monia estética, e diferenças de idades
sentes. das pessoas que frequentam, canalizou
a formação dos alunos a um nível pro-
fissional de competência, domínio téc-
Objetivo geral nico-científico, apresentando uma visão
crítica, além de demonstrar atitudes em-
Descrever a experiência vivenciada no preendedoras, sustentáveis e colabora-
Projeto Integrador da turma 1/2018 do Cur- tivas, diante do desafio proposto pelas
so Técnico em Design de Interiores do SE- competências que os alunos precisam
NAC Pernambuco, utilizando a Metodologia desenvolver ao longo do curso para so-
de Projetos citada no Modelo Pedagógico lucionar todos os problemas identifica-
Senac (MPS) e sua eficácia em um trabalho dos, tornando a ONG um exemplo de
real dos alunos e equipe pedagógica. ação comunitária que passa a oferecer
um serviço de maior qualidade a comu-
nidade.

Objetivos específicos
O presente trabalho tem com rele-
• Apresentar a vivência dos alunos, vância o fato de apresentar a experiên-
instrutores e coordenadora ao lon- cia vivenciada pela Turma 01/2018 com
go do desenvolvimento do projeto, o Projeto Integrador, o qual resultou
levando em consideração que a
obra foi executada conforme suge- num ganho pedagógico para aprendiza-
re o curso; gem dos alunos.
• Relatar o desempenho dos alunos
na relação teoria-prática; O PI proporcionou a aplicabilidade
• Compartilhar o desafio do trabalho dos conceitos aprendidos em sala, no
em equipe na execução de um pro- momento em que foi estruturado um
jeto. escritório-escola de interiores para que
os alunos pudessem desenvolver o pro-
cesso criativo, elaborar plantas baixas,
Justificativa vistas, levantamentos métricos, briefing
do cliente, programa de necessidades,
A modalidade eclética que o am-
estudos de cores, definição de materiais
biente escolhido proporcionou como
de acabamento, projeto de iluminação,
quantidade de ambientes, degradação e
mobiliário, bem como o acompanha-
mau uso dos mesmos, fluxo e variedade

148
Karlla Simonett Barreto Pinto Soares et al.

mento e a administração da obra junto co-científico, a terem visão crítica e ati-


com o cliente, os fornecedores e os pro- tudes empreendedoras, sustentáveis e
fissionais, entre outros aspectos. colaborativas. Não por acaso, são essas
as marcas formativas do SENAC, justa-
Com isso, pretende-se relatar os mente porque a instituição acredita que
benefícios que a vivência do PI trouxe “o aprendizado nasce da comunhão, em
tanto para os alunos quanto para as co- experiências e vivências de construção
munidades atendidas pelo projeto. colaborativa, das responsabilidades em
ações conjuntas assumidas e da promo-
ção do protagonismo do aluno diante
Referencial Teórico de situações problemas.” (SENAC, 2015,
p.7).
O ensino-aprendizagem, a partir
do desenvolvimento de competências, Com o objetivo de reduzir a seg-
requer práticas pedagógicas que sejam mentação do ensino e sinalizar a cons-
capazes de ir além do domínio teórico trução de competências pelo aluno, a
ou apenas operacional ao se executar partir da realização conjunta do trabalho
uma determinada atividade. “É neces- em equipe, utiliza-se como estratégia o
sário que tais práticas compreendam o desenvolvimento do PI. De acordo com
processo produtivo, as ações do saber SENAC (2015), na perspectiva da institui-
tecnológico, a valorização da cultura do ção, o projeto integrador “visa propiciar
trabalho e haja, principalmente, a articu- experiências de aprendizagem que se
lação efetiva da teoria e prática. Ao ser sustentam no ‘aprender fazendo’ e no
iluminada pela teoria, a prática a torna diálogo entre a sala de aula e a realidade
mais clara, compreensível e revigorada” dos espaços de trabalho, bem como no
(GRILLO, 2005). envolvimento dos docentes na atividade
pedagógica”.
Neste sentido, o uso de estratégias
didático-pedagógicas voltadas ao estí- O Design de Interiores pode ser de-
mulo do ensino integrado e interdiscipli- finido como “o planejamento e arranjo
nar apresentam-se como uma eficiente dos ambientes conforme padrões ergo-
ferramenta de aproximação dos alunos nômicos, estéticos e funcionais.” (GON-
às reais demandas do mundo do traba- ÇALVES; CRUZ, 2014, p. 28). É sabido que
lho. Por meio dessas estratégias, os alu- o Design de Interiores possui uma im-
nos são estimulados a serem capazes portância que vai além da estética, posto
de demonstrar melhor domínio técni- que este procura soluções sustentáveis

149
PROJETO AMOR E ESPERANÇA: Resultado de Uma Nova Abordagem Pedagógica

para aperfeiçoar e facilitar a vida do ho- conhecer a característica das cores, bem
mem (VEIGA, 2016; AZEVEDO, 2012). De- como saber utilizá-las para que sejam
vido a isso, faz-se necessário entender uma forte aliada em um projeto de de-
elementos, como proporção de mobili- sign de interiores” (GURGEL, 2007; FRA-
ário, formas e revestimentos, cores, te- SER; BANKS, 2012).
cidos, fibras, texturas e iluminação, que
poderão determinar a funcionalidade de A ergonomia é outro importante
cada ambiente. Nas palavras de Azeve- ponto a ser levado em consideração em
do (2012), “o Design é um processo cria- um projeto, posto que “estuda e fornece
tivo que envolve estudos e projetos com dados relativos à luz, à cor, ao conforto
intento de criar soluções práticas e ergo- térmico, ao ruído, ao ar e ao mobiliário.
nómicas, facilitando a vida humana”. Os estudos desta disciplina garantem ao
Designer uma boa prática na sua área”
Como dito anteriormente, “a forma (AZEVEDO, 2012, p. 6). A ergonomia
dos objetos, das paredes, do espaço e constitui uma disciplina que visa resol-
seu contorno estão interligados” (GUR- ver problemas pautados na interação
GEL, 2007). Outro elemento importan- homem/meio, com vistas a melhorar as
te são as texturas que, segundo Gurgel condições do homem graças a esta inte-
(2007), servem muito mais que apenas ração.
complementar o estilo de um ambiente,
posto que elas, juntamente com as pa-
dronagens, possuem propriedades e ca-
Procedimentos Metodológicos
racterísticas essenciais em um projeto,
de forma a se complementarem. Metodologicamente, o Projeto In-
tegrador enquadra-se como uma pes-
A iluminação constitui um dos mais
quisa-ação, posto que exigiu o “envolvi-
importantes e interessantes aspectos de
mento ativo do pesquisador e a ação por
um determinado projeto, “pois, como as
parte das pessoas ou grupos envolvidos
cores, pode atuar na psique, no humor,
no problema” (GIL, 2002, p. 55). Segun-
no estado de espírito” (GURGEL, 2007, p.
do Thiollent (1985) apud Gil (2002), p. 14
33), de forma a poder alterar a atmosfe-
apud GIL, 2002, p. 55), a pesquisa-ação é
ra de um ambiente.

“A cor, assim como a luz, apresenta


influências psicológicas sobre os indiví- um tipo de pesquisa com base em-
pírica que é concebida e realizada
duos. Desta forma, torna-se importante em estreita associação com uma
ação ou com a resolução de um pro-

150
Karlla Simonett Barreto Pinto Soares et al.

blema coletivo e no qual os pesqui- turas. Os dados coletados formaram a


sadores e participantes representa-
tivos da situação ou do problema base para estruturação das fases seguin-
estão envolvidos de modo coope- tes desenvolvidas nas unidades curricu-
rativo ou participativo (THIOLLENT,
1985 apud GIL, 2002, p. 55). lares 5 e 6, em que os alunos munidos
das informações chegaram na fase do
Anteprojeto. Divididos novamente em
grupos, cada ambiente teve suas melho-
Dessa forma, ao aliar teoria à práti-
rias apresentadas. Estudo de layout, de
ca, o Projeto Integrador permeou todas
cores, dos materiais, da ergonomia dos
as unidades curriculares do Curso de
espaços, do mobiliário, da iluminação,
Design de Interiores. Iniciado na Unida-
além do conceito sustentável, com a
de Curricular 3, o projeto teve o foco de
análise e o reaproveitamento de equipa-
criar o Tema Gerador. Nessa fase, os alu-
mentos existentes foram as atividades
nos, divididos em grupo, apresentaram
atendidas pelos alunos alinhando o co-
espaços nos quais poderiam ser desen-
nhecimento teórico aplicado em sala à
volvidos projetos de melhorias e execu-
vivência prática.
ção de obra. Com uma avaliação conjun-
ta da problemática, o espaço escolhido O espaço recebeu uma nova iden-
apresentou uma variedade de caracte- tidade visual, tema abordado pelos alu-
rísticas que permitiam uma diversidade nos para melhor caracterização do local,
de atividades entre os alunos, entre elas associando sua função a uma marca em
a localização e a multiplicidade de áreas que se apresenta a essência das suas
para serem trabalhadas tanto interna- atividades. Ainda nessa fase, os projetos
mente como externamente. foram expostos e avaliados pelos instru-
tores, bem como pela administradora
A segunda fase de desenvolvimen-
do espaço. Concluídos os ajustes e ade-
to do Projeto foi executada na Unidade
quações deu-se início à última fase do
Curricular 4. Iniciadas as visitas técnicas
Projeto.
acompanhadas de instrutores, foram re-
alizados levantamentos métricos, regis- Nas unidades 7 e 8, o Projeto en-
tros fotográficos dos ambientes, identi- tra na fase Executiva, momento dos alu-
ficação in loco das situações adversas, nos levantarem os materiais necessá-
coleta de informações das atividades rios a serem adquiridos, o orçamentos
realizadas em cada ambiente, entrevista dos materiais, o cronograma de obra e
com a responsável pelo espaço na busca o recrutamento da mão de obra. Um di-
das suas necessidades e projeções fu- ferencial do projeto se dá pelo fato de

151
PROJETO AMOR E ESPERANÇA: Resultado de Uma Nova Abordagem Pedagógica

que todos os recursos para realização • Fomento de ação beneficente


da obra vieram de doações de empresas das empresas em relação à ONG;
e pessoas físicas e da realização de ba- • Satisfação dos alunos e dos ins-
zar e rifas. A mão de obra foi realizada trutores no processo de aprendi-
com a ajuda de voluntários, como: pro- zagem;
fissionais liberais especializados (pedrei- • Aprendizagem significativa;
ros, pintores, eletricistas e marceneiros), • Preocupação com a questão am-
pessoas atendidas por projetos sociais e biental, na reforma dos mobiliá-
também pelos próprios alunos. rios existentes;
• Estudo e aplicação das cores
para uma harmonização do am-
biente;
Resultados e Discussão
• Iluminação mais eficiente e eco-
Diante das etapas vivenciadas, o nômica para os espaços;
projeto integrador desenvolvido pela • Banheiros com acessibilidade;
turma de Design de Interiores trouxe di- • Mudança da característica de
versos desafios e ganhos tanto para os ambiente residencial para co-
alunos quanto para os instrutores, que mercial, por meio da ambienta-
também, pela primeira vez, vivenciavam ção
aquela experiência. Vale destacar que • Acessibilidade no berçário: com
essa experiência sinalizou, de um modo móveis nas dimensões corretas;
muito cuidadoso, a construção de com- • Cozinha limpa, clara e funcional;
petências pelo aluno, bem como serviu • Layout e circulação acessíveis.
de apoio para a realização de outros
projetos.
O resultado final do projeto pode
Os benefícios colhidos foram:
ser visualizado na seção “Anexos” no fi-
nal deste artigo.
• Desenvolvimento da competên-
cia do trabalho em equipe, hoje
imprescindível no mundo do tra-
balho; Considerações Finais
• Beneficiamento das crianças
com espaços planejados e ade- Obtivemos um resultado positivo
quados ao desenvolvimento das com a implementação do Projeto Inte-
atividades ofertadas pela ONG; grador, que trouxe para os alunos, bem

152
Karlla Simonett Barreto Pinto Soares et al.

como aos instrutores, uma nova dinâ- Referências


mica pedagógica na vivência de sala de AZEVEDO, Liliana Pamela S.L. Design
aula, uma vez que os discentes assumi- de interiores e espaços escolares:
influências na aprendizagem. Dissertação
ram um posicionamento de protagonis- apresentada à Universidade da Beira Interior
mo no desenvolvimento do projeto. para a obtenção do grau de mestre em Design
Industrial Tecnológico 2012 (COMPLETAR
OS DADOS)
A estruturação do PI, por meio de
BRASIL. Conselho Nacional de Educação.
uma rotina de trabalho, atuando em um
Diretrizes curriculares nacionais para
Escritório de Interiores, seguindo o pa- a educação profissional. Brasília, DF,
drão que o mercado de trabalho exige, 1999.
possibilitou aos alunos o desenvolvi- FRASER, Tom; BANKS, Adam. O essencial
mento das marcas formativas do Senac, da cor no design. São Paulo: SENAC São
Paulo, 2013.
que garante ao profissional um maior
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar
domínio técnico-científico, visão crítica
projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas,
sobre suas ações profissionais, focada 2002.
nos resultados, sempre motivados por GONÇALVES, Eder Lenon Athanasio;
atitudes empreendedoras, sustentáveis CRUZ, Kauane de Moraes Rodrigues
e colaborativas. da. Design de interiores em uma
instituição de longa permanência para
idosos. 2014. Trabalho de Conclusão
Faz-se necessário pontuar que as de Curso (Graduação) - Universidade
ações promovidas no decorrer deste Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba
2014. (COMPLETAR OS DADOS)
projeto contribuíram não apenas para
GRILLO, M. Saberes docentes, identidade
o objetivo-fim, mas, também, proporcio-
profissional e docência. In: ENRICONE,
naram outros ganhos, como, por exem- D.; GRILLO, M. Educação superior:
plo, a inclusão de voluntários socialmen- vivências e visões de futuro. Porto
te excluídos, assim questões referentes Alegre: EDIPUCRS, 2005.
à sustentabilidade, posto que houve GURGEL, Miriam. Projetando espaços:
design de interiores. 4. ed. São Paulo:
uma preocupação com o reuso e/ou re- SENAC São Paulo, 2011. 224 p. Il. ISBN
aproveitamento de materiais e móveis 9788573599176.
que seriam descartados, e que foram de SENAC. DN. Projeto integrador. Rio de
grande valia para a conclusão do proje- Janeiro: Senac nacional, 2015. (Coleção
to. de documentos Técnicos do Modelo
Pedagógico Senac, 4).
______. Plano de Curso: técnico em design
de interiores: habilitação profissional
técnica de nível médio. Rio de Janeiro,
2015. 26 p.

153
PROJETO AMOR E ESPERANÇA: Resultado de Uma Nova Abordagem Pedagógica

VEIGA, Marília. Com a diminuição dos


espaços, a importância da decoração
está em evidência. 2016. Disponível em:
www.vivadecora.com.br/pro/design-
de-interiores/importancia-decoracao/.
Acesso em 28 jun. 2019.

154
Karlla Simonett Barreto Pinto Soares et al.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Senac pela oportunidade a nós concedida de vivenciarmos o


Modelo Pedagógico da instituição, sendo atores que efetivam uma prática pedagógica
viva;

Aos nossos alunos, por construírem conosco este projeto integrador, que foram
muito além do que propusemos para eles, que nos desafiaram e nos surpreenderam
a cada dia, no projeto e na execução da obra;

Aos parceiros (pessoas jurídicas), que doaram recursos para execução da obra:
Sanvidro, Produtos Matinal, Pamesa, EletroleD, Fort Laje e Projeto Purim;

Às pessoas físicas, que doaram tempo e esforços: Elderes, Charles e Nildo


(pedreiros), Fernando (gesseiro), Amaury (marceneiro) e Nadilson (eletricista).

À Polícia Militar de Pernambuco;

À Nadjane Cristina, diretora da ONG, por nos encantar com o seu


empreendedorismo.

Agradecemos às crianças que nos receberam de braços abertos e que disseram


que a casa estava tão linda que queriam “morar ali”.

155
PROJETO AMOR E ESPERANÇA: Resultado de Uma Nova Abordagem Pedagógica

ANEXOS

Foto 1 - Sala principal sem reforma Foto 2 - Sala principal reformada Foto 1 - Visão posterior da sala principal sem
reforma

Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto

Foto 4 - Visão lateral da sala principal reformada Foto 5 - Banheiro social sem reforma Foto 6 - Banheiro social reformado

Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto

Foto 7 - Banheiro dos colaboradores sem reforma Foto 8 - Banheiro dos colaboradores reformado Foto 9 - Ambiente de música sem reforma

Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto

156
Karlla Simonett Barreto Pinto Soares et al.

ANEXOS

Foto 10 - Ambiente de música reformado Foto 11 - Cozinha sem reforma Foto 12 - Cozinha reformada

Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto

Foto 13 - Sala de aula sem reforma Foto 14 - Sala de aula reformada Foto 15 - Sala de brinquedos e jogos sem reforma

Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto

Foto 16 - Sala de brinquedos e jogos reformada Foto 17 - Área externa - playground e jardim sem Foto 18 - Área externa - playground e jardim
reforma reformado

Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto

157
PROJETO AMOR E ESPERANÇA: Resultado de Uma Nova Abordagem Pedagógica

ANEXOS

Foto 19 - Ambiente de informática sem reforma Foto 20 - Ambiente de informática reformado Foto 21 - Ambiente da biblioteca sem reforma

Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto

Foto 22 - Ambiente da biblioteca sem reforma Foto 23 - Ambiente da biblioteca reformado Foto 6 - Banheiro social reformado

Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto Fonte: Compilação do projeto

158
Karlla Simonett Barreto Pinto Soares et al.

159
Autores
AU
TO
RES.

Alba Valéria Souza da Silva é uma profissional com vasta ex-


periência acadêmica. Atua como professora da Faculdade Senac
Pernambuco. Possui especialização em Cultura de Moda pela
Universidade Anhembi Morumbi (2006), graduação em Relações
Públicas pela Escola Superior de Relações Públicas (1996) e for-
mação em Experiências e Atendimento em Mercado de Luxo pelo
Instituto de Luxo (SP) (2018).

Alexandre Henrique Lins é arquiteto e professor com larga ex-


periência em docência. Atua como arquiteto, professor da rede
pública de ensino e instrutor no Senac PE. Está fazendo pós-
-graduação no curso de especialização em Design de Interiores,
Iluminação e Paisagismo pela Universidade dos Guararapes –
UNIFG (2020), possui graduação em Arquitetura e Urbanismo
pela Universidade dos Guararapes – UNIFG (2018), licenciatura
em Geografia pela Faculdade de Formação de Professores da
Mata Sul – PE (2007),

Ângela Consuelo Martins Arruda é instrutora dos cursos de


Aprendizagem com experiência em Gestão e Comércio. Atua
como instrutora no Senac Pernambuco. Possui especialização
em Logística Empresarial pelo Senac SP (2020) e no Ensino da
Matemática pela UFRPE (2009) e graduação em Matemática pela
UNIVAP (2005).

Azenilda de Paula Cabral é uma empreendedora educacional


com vasta experiência em Psicopedagogia Clínica e Institucional
e Docência na Educação Profissional. Atua como Instrutora no
Senac Pernambuco. Especializanda em Neuropsicopedagogia
pela Faculdade Única / PROMINAS (2020), especialista em Gestão
de Pessoas pela USDB (2015), Psicopedagogia pela FEPAM
(2013), Docência na Educação Profissional pela Faculdade Senac
Pernambuco (2010) e Gestão Empresarial pela ESURP (2009)
e é Bacharel em Administração de Empresas com ênfase no
Marketing pela FADEPE/FACIPE (2007).
160
AU
TO
RES.

Beatriz Priscila Deodato Ferreira da Silva é enfermeira com ex-


periência em Gestão de Saúde. Atua como Instrutora do Curso
Técnico de Enfermagem no Senac Pernambuco (Caruaru). Possui
especialização em Terapia Intensiva pela CBPEX (2015) e gradua-
ção em Enfermagem pela Asces Unita (2013).

Carlos Alberto Muniz Leal é um profissional com ampla expe-


riência na educação regular e profissional. Atua como professor
das séries finais do Ensino Fundamental e da educação profis-
sional, e desenvolve projetos com jovens aprendizes utilizando
ferramentas do Google for Education e Desing Thinking para o
mercado de trabalho. Possui pós-graduação em MBA em Gestão
Empresarial e de Serviços pela UNISÃOMIGUEL (2018), em
Docência em Educação Profissional pela Faculdade Senac (2012)
e graduação em Letras - Português/Inglês pela UFPE (2004).

Christiana Santoro é gestora educacional com experiência em


processos de regulação educacional e ensino na modalidade téc-
nica e superior. Atua como Gerente Regional Acadêmica do Ensino
Superior no Senac Pernambuco, docente nas instituições ESUDA
e ETEPAM, coordenadora e avaliadora na Comissão de Regulação
da Secretaria de Educação de Pernambuco, especialista docente
na Consultoria em Educação Profissional Cenarsa e pesquisadora
na área de instrumentação nuclear em dosimetria. Possui douto-
rado e mestrado em Tecnologias Energéticas e Nucleares - UFPE
(2013 e 2007) e graduação em Licenciatura Plena em Física pela
UNICAP (1993).

Cláudia Célia Barbosa Ferreira é turismóloga com vasta expe-


riência na educação profissional. Atua como instrutora do eixo
de gestão e negócios do Senac Pernambuco. É especialista em
Cozinha Internacional pela Faculdade Senac (2019), especializan-
da em Tutoria EAD pela Universidade Cândido Mendes (2019),
graduada em Turismo pela FACOTTUR (2016) e possui capacita-
ção em docência para educação profissional.

161
AU
TO
RES.

Daniela Vasconcelos de Oliveira é uma profissional com vasta


experiência em consultoria empresarial, nas áreas design de pro-
duto, design de serviços, design estratégico, criatividade e inova-
ção. Atua como professora e coordena do curso superior tecnó-
logo em Design de Moda e é membro da CPA – Comissão Própria
de Avaliação da Faculdade Senac Pernambuco. Possui mestra-
do em Gestão Empresarial pela FBV - Faculdade de Boa Viagem
(2016), pós-graduação em Design de Moda pela UFPE (2005) e
Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela UNINTER/
SC e graduação em Design Industrial - Projeto do Produto pela
UFPE (2011).

Eliane Cristina Ferreira da Silva Pereira é empreendedora na


área da beleza com experiência no mercado a mais de 12 anos.
Atua como instrutora nos cursos de Depilador, Cabeleireiro,
Design de sobrancelhas, modelagem de sobrancelhas com linha
dentre outros, no Senac Pernambuco. Possui pós-graduação em
Tricologia e Ciências Cosmética pelo CINTEP (2019) e graduação
em Pedagogia pela UNINABUCO (2015).

Guilherme Fernandes da Costa é administrador de empre-


sas. Atua como instrutor em gestão de negócios no Senac
Pernambuco. Possui pós-graduação em Gestão Educacional pela
ESAB (2014) e graduação em Administração de Empresas pela
Faculdade Senac PE (2010).

Hamilton Pereira de Souza Neto é um profissional com vasta ex-


periência nas áreas de: Economia, Financeira, Gestão Empresarial
e Controladoria. Atua como coordenador de projetos, palestran-
te e instrutor do Senac Pernambuco. Possui pós-graduação em
Gestão de Pessoas pela UNINTER (2011) e Tutoria On Line pela
Faculdade Senac (2010) e graduação em Ciências Econômicas
pela UFPB (1992).

162
AU
TO
RES.

Helen Maria Lima da Silva é uma profissional com experiência


no segmento de hotelaria. Atua como professora de cursos de
graduação e pós-graduação e instrutora dos cursos profissionali-
zantes da Unidade de Hotelaria e Turismo do Senac Pernambuco.
Possui mestrado na área de alimentos pela UFPE (2008) e gradua-
ção em Nutrição pela UFPE (2015).

Inácio Belo da Silva Neto é um profissional com ampla vivência


na área de Hotelaria e Turismo. Atua como instrutor dos cursos
de qualificação profissional e aperfeiçoamento para Garçom no
Senac Pernambuco. Possui especialização em Docência do Ensino
Superior pela FAFIRE (2017), graduação em Gestão de Pequenas e
Médias Empresas pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú
(2013) e formação profissional em Sommelier de Cerveja pelo
Instituto Ceres de Educação Cervejeira (2019), Sommelier de
Vinhos – WSET nível 1 – pela The Wine School (2018) e Sommelier
de Cachaças pelo Centro Universitário Senac Campos do Jordão
(2014).

Jacira Rodrigues Cardoso é pedagoga e coordenadora pedagó-


gica com 27 anos de experiência. Atua como coordenadora do
curso Técnico em Design de Interiores há 15 anos. Possui espe-
cialização em RH em Educação pela Instituição FAFIRE (2003) em
Gestão Educacional pela Faculdade Senac Pernambuco (2008),
e Docência em Educação Profissional pela Faculdade Senac
Pernambuco (2012) e graduação em Pedagogia pela UNICAP
(1990).

Jailton Fernando Bezerra da Silva é um profissional com ex-


periência no ramo de Hotelaria. Atua como instrutor dos cursos
de qualificação profissional e aperfeiçoamento para Garçom no
Senac Pernambuco. É graduando do curso superior tecnólogo
em Gastronomia na Faculdade Senac/PE (2014), graduação em
Teologia pela FATIN (2013) e formação técnica em Hotelaria pelo
Senac Pernambuco (2002).

163
AU
TO
RES.

José Adriano Alves Soares é administrador com vasta experiên-


cia na educação profissional. Atua como Instrutor do eixo de ges-
tão e negócios do Senac Pernambuco. É especialista em Docência
do Ensino Superior pela Universidade Cândido Mendes (2018), em
Tutoria em EAD pela Universidade Cândido Mendes (2019), em
Gestão em Logística pela Universidade Cândido Mendes (2019)
e em Neurospicopedagogia pela Universidade Cândido Mendes
(2019). Possui graduação em Administração pela UFPE (2005) e é
graduando do curso de licenciatura em Letras pela UFPE (2016).

Karine Maria Gonçalves Cortez é arquiteta e urbanista com ex-


periência na área de projetos de arquitetura, design de interiores
e ensino. É funcionária pública da Universidade Estadual do Rio
Grande do Norte - UERN e atuou como instrutora do curso técni-
co em Design de Interiores no Senac. É mestranda em Desenvol-
vimento Urbano pela UFPE (2021), está cursando a especialização
em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Senac (2020), é
graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFPE (2015) e possui
curso técnico em Design de Interiores pela ETEPAM (2011).

Karlla Simonett Barreto Pinto Soares é arquiteta e urbanista


com experiência em Projetos de Iluminação e Interiores. Atua
como Instrutora do Curso de Design de Interiores no Senac Per-
nambuco. Possui especialização em Iluminação e Design de Inte-
riores pela Faculdade Senac PE (2013) e graduação em Arquitetu-
ra e Urbanismo pela UFPE (1995).

Luis Guilherme da Silva Dutra é profissional docente da área


de saúde, com larga experiência em metodologias ativas e desen-
volvimento em atividades lúdicas na aprendizagem profissional.
Atua como instrutor na Unidade de Imagem Pessoal – UIP/Recife/
Senac Pernambuco. Possui pós-graduação Lato Sensu em Do-
cência para o Ensino Profissional pelo Senac Pernambuco (2016),
especialização em Fisioterapia Dermato Funcional pela Unyleya
(2019), graduação em Fisioterapia pela Universo (2011) e forma-
ção complementar em Podoposturologia e Massoterapia (2005).
164
AU
TO
RES.

Margarete Carneiro dos Santos é uma profissional com ampla


vivência na educação profissional. Atua como instrutora do eixo
de Gestão e Negócios do Senac Pernambuco. Possui especializa-
ção em Psicopedagogia pela UNINABUCO (2013), em Gestão de
Arquivo Público e Privado pela Universo (2008) e em Docência
para Educação Profissional pela Centro Universitário Senac SP
(2013). É graduada do curso de licenciatura em Letras pela FAFIRE
(2000), graduanda em Pedagogia pela UNIP (2012), possui curso
técnico em Logística pela ETEPAC (2019). e está em andamento
no curso Técnico em Design Interiores pela ETEPAC (2019).

Maria Carolina de Jesus Pontes Pereira é psicóloga e psicope-


dagoga com larga experiência na formação de professores e na
formação profissional de jovens e adultos. Atua como Instrutora
dos eixos de gestão e negócios e saúde do Senac Pernambuco.
É especialista em Docência para Educação Profissional pelo Cen-
tro Universitário Senac SP (2017), em Psicopedagogia pela FACHO
(2009) e graduação em Psicologia pela FACHO (2001).

Maria da Conceição Gomes de Albuquerque Duarte é uma


profissional com ampla vivência. Atua como instrutora do Senac
Pernambuco na área de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas.
Possui especialização em Dinâmica de Grupo e Gestão de Pes-
soas pela Instituição CDG (1994) e graduação em Psicologia pela
UFPE (1991).

Maria de Fátima Silva é uma profissional com vasta experiên-


cia em design e moda. Atua como professora no curso superior
tecnólogo em Design de Moda da Faculdade Senac Pernambuco.
Possui mestrado em Gestão Empresarial – UniFBV/ WYDEN (2015),
especialização em Designer de Interiores pela ESUDA (2018), em
Produção de Moda e Styling pela Faculdade Senac - Pernambuco
(2010) e Design da Informação pela UFPE (2002)

165
AU
TO
RES.

Michelle Pinheiro Rodrigues Silva é uma profissional com


vasta experiência em gestão educacional. Atua como presi-
dente da CPA da Faculdade Senac Pernambuco, coordenado-
ra de Avaliação Institucional da Faculdade Senac Pernambuco,
Avaliadora do MEC e docente da Educação Superior na
Faculdade Senac Pernambuco. Possui mestrado em Inovação e
Desenvolvimento pela UNIFG, Rede Laureate (2017), especiali-
zação em Docência do Ensino Profissional pela Faculdade Senac
Pernambuco (2013) e em Gestão Educacional no Ambiente
Escolar e Não Escolar pela FAFIRE (2013). É graduada no curso
Bacharelado em Administração pela FAMA/ESM (2006).

Odilon Carlos de Oliveira Filho é publicitário com larga expe-


riência no campo da Criação e da Educação Profissionalizante.
Atua como Instrutor de cursos de Formação Profissional, mi-
nistra aulas no curso Técnico em Design de Interiores do
Senac Pernambuco e desenvolve atividades no mercado de
Comunicação Visual voltado às áreas de Concept, Design
Gráfico, Desenho Técnico, Levantamento e Digitalização de
Projetos Patrimoniais, Modelagem e Renderização 3D, Ilustração
Digital, Edição de Imagem e Vídeo. Possui formação superior em
Publicidade e Propaganda pela Escola de Marketing do Recife -
FAMA (2006).

Rosângela Pereira de Lima é instrutora dos cursos de


Aprendizagem com foco em Comunicação. Atua como Instrutora
no Senac Pernambuco. É especializanda em Comunicação e
Semiótica pela Estácio (2020), possui pós-graduação em Teoria
do Discurso pela FAFIRE (2014) e Linguística Aplicada ao Ensino
da Língua Portuguesa pela FAFIRE (2012) e graduação em Letras
pela UPE (2009).

Roseane Silva de Souza é educadora com ampla experiência na


área de educação. Possui doutorado em Educação, na linha de
pesquisa Teoria e História da Educação, pela UFPE (2019), mes-
trado em Educação pela UFPE (2014) e graduação em Pedagogia
pela Faculdade Frassinetti do Recife - FAFIRE (2006).

166
AU
TO
RES.

Saulo Fernando Bernardo é educador com larga experiência


em ensino de idiomas. Atua como Instrutor de língua espanhola
e inglesa no Senac Pernambuco, líder do Grupo de Educadores
Google em Recife e youtuber do canal "Aprenda Rápido" so-
bre ferramentas digitais para professores. Possui especializa-
ção em EAD e Novas Tecnologias pela UFPE (2019), em Gestão
de Projetos pela UNIBRATEC (2015) com Certificação CAPM
(PMI), graduação em Gestão de Eventos pela Faculdade Senac
Pernambuco (2012) e em Letras (Língua Espanhola) pela UFPE
(2017). É Trainner certificado pelo Google for Education (desde
2017).

Selma Maria Barbosa dos Anjos é professora com 7 anos de ex-


periência na educação profissionalizante e superior. Atua como
professora do curso superior tecnólogo em Design de Moda na
Faculdade Senac Pernambuco | Recife/Caruaru, professora no
Centro Universitário Brasileiro – UNIBRA e professora do curso
de corte e costura no Grau Profissionalizante. Possui especiali-
zação lato sensu em Fashion Design pela Faculdade Boa Viagem
DeVry Brasil (2012), em convênio com o Instituto Europeo di
Design, é graduada em Design de Moda pela Faculdade Senac
PE (2011).

Silvio Ferreira Passos Gonçalves é empreendedor e inovador


educacional com larga experiência em Projetos Pedagógicos.
Atua na Educação Profissional como Analista Pedagógico
no Senac Pernambuco. Possui especialização em Ensino da
Matemática pela FUNESO (2005), graduação em Pedagogia
pela UNINASSAU (2019) e em Matemática com Habilitação em
Informática pela FACIG (2003).

167
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL EM PERNAMBUCO - SENAC/PE
Av. Visconde de Suassuna, 500 - Santo Amaro, Recife - PE, 50050-540
(81) 3413-6730

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