Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Caso citado da obra de Fernando Torrão, “Casos Práticos de Direito penal e Direito Processual
Penal”, 7ª Edição, Almedina, 2020, p. 211-212. Com a introdução das 3 últimas questões que constituem
uma inovação.
1
Universidade Lusíada – Norte – Porto
Ano Letivo 2020/2021
Direito Processual Penal
se, desde logo, a indemnizar Beatriz e a pagar uma elevada quantia a uma
instituição de solidariedade social.
Durante a instrução, o juiz ordenou uma análise ao sangue de Arsénio
cujo resultado mostrou que o arguido era portador do vírus da SIDA.
Finda a instrução, Arsénio foi pronunciado pelos seguintes crimes:
Violação agravada, nos termos do artigo 177º, número 3 do CP.
Ofensa à integridade física qualificada, nos termos do artigo 145º do
CP, com remissão para o artigo 132º, número 2, alínea e) do mesmo
diploma.
Furto qualificado, nos termos do artigo 204º, número 1, alínea a) do
CP.
Exposição ou abandono, nos termos do artigo 138º, número 1, alínea
a) do CP.
Arsénio pretendeu reagir ao despacho de pronúncia, mas o seu defensor
disse-lhe que nada havia a fazer e que só no julgamento poderia contestar
aqueles factos.
O juiz de julgamento condenou o arguido pelos factos constantes no
despacho de pronúncia.
Responda, fundamentadamente, às seguintes questões:
1. Para o início do inquérito poderia haver conexão processual?
2. Qual (ou quais) a comarca (s) territorialmente competente para o
início do (s) inquérito (s)?
3. Podia o Ministério Público acusar por aqueles crimes?
4. É legalmente admissível o requerimento para abertura da instrução
por parte de Beatriz?
5. É legalmente admissível o requerimento para abertura da instrução
por parte de Arsénio?
6. Podia Arsénio impugnar o despacho de pronúncia? De que forma (s)?
2
Universidade Lusíada – Norte – Porto
Ano Letivo 2020/2021
Direito Processual Penal
3
Universidade Lusíada – Norte – Porto
Ano Letivo 2020/2021
Direito Processual Penal
3- Não. Em relação ao crime de furto praticado por Arsénio, temos de ver que o
disposto no artigo 204º, número 1, alínea a) do CP, não se aplica em termos concretos.
Isto porque o valor de €5.000 não preenche o conceitos jurídico-penal de valor elevado
4
Universidade Lusíada – Norte – Porto
Ano Letivo 2020/2021
Direito Processual Penal
(que seria €5.100). Assim, in casu, não estamos perante um crime de furto qualificado,
mas sim perante um crime de furto simples.
Temos ainda de ver que o crime de violação tem natureza semipública, o que
pressupõe a necessidade de apresentação de queixa por parte do respetivo ofendido
(Beatriz, de acordo com o artigo 113º, número 1 do CP). Embora Beatriz tenha
apresentado queixa posteriormente.
Já em relação ao crime de exposição ou abandono tem natureza pública, não se
colocando problemas.
4- Beatriz tinha legitimidade para se constituir como assistente, coisa que fez, e
assim tem, igualmente, legitimidade para apresentar o requerimento de abertura da
instrução segundo o artigo 287º, número 1, alínea b) do CPP. Esse requerimento é
válido porque Beatriz vem introduzir um facto novo no processo que altera
substancialmente a acusação do MP (atendendo ao disposto no artigo 1º, alínea f) do
CPP), ou seja um facto correspondente pelo qual o MP não deduziu acusação, dispondo
para isso do prazo de 20 dias, de acordo com a articulação entre os artigos 287º, número
1, e 284º, número 1, ambos do CPP, atendendo ao elemento sistemático e literal da
interpretação.
Conclui-se, assim, que em termos de direito adjetivo é admissível o
requerimento para abertura da instrução por parte de Beatriz.
5
Universidade Lusíada – Norte – Porto
Ano Letivo 2020/2021
Direito Processual Penal
6
Universidade Lusíada – Norte – Porto
Ano Letivo 2020/2021
Direito Processual Penal
pronunciado por factos que constituírem uma alteração substancial dos factos na
acusação do MP e do requerimento da abertura da instrução. Devendo esta nulidade ser
deduzida em 8 dias.
7
Universidade Lusíada – Norte – Porto
Ano Letivo 2020/2021
Direito Processual Penal
com o critério quantitativo previsto no artigo 16º, número 2, alínea b) do CPP, porque o
crime apresenta uma pena inferir ou igual a 5 anos de prisão. É assim competente para
apreciar este crime o tribunal singular. Quanto à competência territorial pode-se colocar
uma dúvida quanto ao elemento de conexão. Podemos, desde logo, entender que se
aplicaria o artigo 19º, número 3 do CPP, considerando-se como competente o tribunal
em cuja área tiver cessado na consumação, o que, no caso, seria o tribunal de Penafiel.
Mas parecer ser ainda possível invocar o artigo 21º número 1 do CPP, considerando-se
este crime como de localização duvidosa porque as agressões foram praticadas no
momento da deslocação dentro do veículo de automóvel (dentro da viagem entre
Matosinhos e Penafiel), passando por diversas áreas, o que permite sustentar que esse
crime pode ser de localização duvidosa, e, assim seria competente o tribunal de
qualquer das comarcas, preferindo o daquela onde primeiro tiver havido a notícia do
crime.
Porém, como supra referido, estamos perante um concurso efetivo de crimes que
possibilita a conexão de processos, daí que se torne necessário apurar qual o tribunal
competente para julgar todos os crimes. De acordo com o artigo 14º, número 2, alínea b)
do CPP, quando exista um concurso efetivo de crimes superior a 5 anos é competente o
tribunal coletivo. Tal solução é ainda sufragada pelo artigo 27º do CPP, que atribui
competência ao tribunal coletivo. Seria então competente para apreciar este processo o
tribunal Coletivo.
Em relação à competência territorial, temos de atender ao disposto no artigo 28º,
alínea a) do CPP, sendo territorialmente competente aquele que seja competente para
apreciar o crime a que couber a pena mais grave, o que no caso é a comarca de
Matosinhos (remetemos a justificação para o supra exposto).
Assim, é competente para apreciar estes crimes em conexão de processos o
Tribunal Coletivo da Comarca de Matosinhos.
8
Universidade Lusíada – Norte – Porto
Ano Letivo 2020/2021
Direito Processual Penal
9- De acordo com o artigo 1º, alínea f) do CPP, estamos perante uma alteração
não substancial dos factos, porque apenas existe uma discrepância quanto ao local onde
teve lugar o facto criminoso, pois não chegou a ser praticado em Penafiel mas no
conselho conexo. Portanto, o novo facto poderá integrar o objeto do processo.
Assim, como aqui já estamos perante a fase de julgamento, temos de atender ao
disposto no artigo 358º do CPP. Segundo o seu número 1, deve o tribunal comunicar tal
alteração ao arguido e conceder-lhe o tempo estritamente necessário para a sua defesa,
ou seja para que se possa defender da imputação modificada pela alteração geográfica
da prática do crime (sob pena de violação dos interesses da defesa).
10- Sim. De acordo com o artigo 256º, número 1, 1ª parte, estamos perante uma
situação de flagrante delito porque o crime acabou de ser cometido. E havendo flagrante
delito por qualquer facto punível por pena de prisão, Amílcar como entidade policial
pode proceder à detenção (artigo 255º, número 1, alínea a) do CPP). Este último
presenciou ainda um crime de denúncia obrigatória (artigo 242º, número 1, alínea a) do
CPP), razão pela qual deveria ter lavrado auto de notícia, segundo o artigo 243º, número
1 do CPP.