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Economia e Desenvolvimento: análise da oferta da educação em emergência em Moçambique.

Benedito Bento Juliasse1

1. Introdução

A educação é a estrada mestra para a preparação dos recursos humanos necessários ao crescimento de
um país e ao seu desenvolvimento. Em Moçambique, infelizmente, os programas educativos
realizados após a independência estão hoje seriamente ameaçados por factores externos ao sistema
educativo.

Moçambique é um país vulnerável a desastres naturais e as condições climáticas extremas (cheias,


inundações, ventos fortes, ciclones) que acabam por afectar severamente o sector da Educação e a
exigir medidas de prevenção e resposta adequadas. Além destes desastres as populações das zonas
norte e centro do país sofrem de vários ataques perpetrados pelos “insurgentes” e pela junta militar,
respectivamente. Estas catástrofes, associada a pandemia da COVID-19, privam os alunos de
continuar com o curso normal das aulas.

Este cenário coloca o Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano numa situação delicada
para garantir a continuidade das aulas, visto que são normalmente necessários custos elevados e o
sector apresenta algumas fragilidades para lidar com estas situações de emergência. É com base nesse
reconhecimento que a presente pesquisa objectiva analisar a oferta da educação em situação de
emergência que vêem caracterizando Moçambique. Para o efeito, a pesquisa, especificamente irá
caracterizar a educação em emergência em Moçambique; Explicar os efeitos da situação de
emergência para o sector da educação no país; e Descrever os desafios da educação em emergência
em Moçambique.

A pesquisa foi classificada como qualitativa e o método de abordagem foi o bibliográfico. Este tipo
de pesquisa permite a utilização de dados primários e secundários. As informações utilizadas para
fundamentar o estudo tiveram, como base, temáticas relacionadas a oferta da educação em situação
de emergência em Moçambique. Entende-se que o levantamento bibliográfico é um instrumento
metodológico de suma importância na discussão analítica dos temas investigados (Severino, 2007).

1.1. Colocação de Conceitos


1
Licenciado em Ensino de História pela Universidade Pedagógica, Delegação de Niassa.
Inspector na Unidade de Controlo Interno da Direcção Provincial de Niassa
O desenvolvimento económico é definido como processo histórico do crescimento sustentado da
renda, ou do valor adicionado por habitante, resultando em uma melhoria do padrão de vida da
população de um estado nacional, fruto da sistemática acumulação de capital e da incorporação de
conhecimento ou processo técnico à produção (Mayer & Rodrigues, 2013).

A educação é colocada como o alicerce para o desenvolvimento das nações e a solução para as
diferenças sociais. Investir na educação é fundamental para combater as desigualdades sociais e
melhorar as condições de países menos desenvolvidos, tal como o caso específico de Moçambique
(nosso campo de estudo).

1.2. A Educação em Emergência em Moçambique

Moçambique tem enfrentado constantes emergências nos últimos anos. Depois da destruição causada
pela passagem dos ciclones Idai e Kenneth, das inundações, das incursões dos insurgentes no norte,
dos ataques da Junta Militar no centro, acresce-se agora o desafio de fazer face à uma pandemia.

O sector da educação é fustigado por várias catástrofes naturais e as condições climáticas extremas,
como o caso de cheias, inundações, ventos fortes e ciclones, estes provocam a destruição de salas de
aulas privando os alunos de continuar com o curso normal das actividades lectivas.

Além do impacto forte causado pelo período chuvoso 2019-2020, as populações de Cabo Delgado e
da região centro do país também enfrentam desafios com os insurgentes devido a uma crescente onda
de insegurança registada nos últimos meses e ataques armados da Junta Militar da Renamo. Os
ataques recentes de grupos malfeitores em Cabo Delgado e na região centro têm vandalizado
instituições de ensino e causam abandono escolar de alunos e professores (MINEDH, 2020).
Outrossim, a pandemia COVID-19 está a causar perturbações na aprendizagem de milhões de
crianças e adultos em Moçambique.

Depreende-se que estas situações acrescem o risco de abandono escolar, principalmente das raparigas
e crianças em situação de vulnerabilidade, como as deslocadas, com problemas de saúde e de famílias
monoparentais devido ao encerramento das escolas.

Para garantir a continuidade das aulas em zonas afectadas por estes eventos, são normalmente
necessárias, espaços temporários de aprendizagem, material para os alunos, professores e
equipamentos escolar, fundos adequados e uma logística profissional incluindo processos de
aquisição rápida de materiais, transporte, armazenamento e contratação de empresas para a
reabilitação de obras. E, igualmente a criação de condições sanitárias para decurso seguro das aulas,
em caso de aumento de casos de COVID-19. Dada a tipologia das salas de aulas (material
convencional, misto, local) e a situação económica do país, o sector da educação apresenta algumas
dificuldades para lidar com estas situações.

1.3. Implicações da Situação de Emergência para o Sector da Educação em


Moçambique

Devido aos dois ciclones Idai e Kenneth, escolas e salas de aula sofreram danos consideráveis e
destruição. Uma alta percentagem de escolas sofreu grandes danos em telhados, janelas e portas,
afectando mais de 100.000 crianças e aproximadamente 2.000 professores em todo o país. A
necessidade total de recuperação e reconstrução para o sector da educação nos próximos cinco anos,
foi estimada em 7.829.119.423 meticais (US $ 122,3 milhões), (MINEDH, 2020).

Aliado aos ciclones somam-se os confrontos nas regiões norte e centro do país. Estudantes e
professores passaram por eventos traumáticos devido à crise. As deslocalizações de locais de origem
anteriores podem ter um impacto negativo na capacidade de reintegração rápida das crianças no
sistema de educação.

Entende-se que o crescente absentismo possível de professores e outros profissionais da educação nas
áreas afectadas, é uma questão de como eles enfrentam necessidades familiares prioritárias, como a
reconstrução de suas casas e vidas, luto e recuperação do trauma causado pelo impacto dos ciclones,
inundações e ataques. Além disso, as crianças com fome não podem aprender muito bem. Danos a
residências e meios de subsistência sugerem riscos potenciais de trabalho forçado e infantil.

Relativamente a COVID-19, evidências mostram que as crianças que estão fora da escola por
períodos prolongados de tempo têm menor probabilidade de voltar a frequentar ou de frequentar a
sala de aula. A falta de equipamentos, materiais de ensino e aprendizagem e professores bem
preparados que saibam ensinar sem muitos materiais numa situação de emergência, e como incluir
todas as crianças, podem prejudicar os resultados da aprendizagem e se tornarem motivadores do
absenteísmo infantil, e professores (MINEDH, 2020).

1.4. Oferta da Educação em Situação de Emergência em Moçambique

Relativamente a oferta da educação, o seu acesso foi significativamente interrompido devido aos dois
ciclones Idai e Kenneth, visto que em algumas províncias certas escolas ainda estavam sendo usadas
como abrigo para famílias. Nos sítios onde tem espaços de aprendizagem, as condições nestas escolas
não são favoráveis pelo processo ensino-aprendizagem. Em consideração às lições de emergências
anteriores em Moçambique é provável que os resultados de aprendizagem, já baixos, sejam afectados
negativamente.
Em relação as directrizes relativas a retoma das aulas face a propagação da pandemia da COVID-19,
reconheçamos que, estudos moçambicanos - como o realizado pelo MINEDH em 2020, mostram que
os pais e/ou encarregados de educação têm muita dificuldade em fazer acompanhamento dos
educandos (Cambrão e Julião, 2020). Há que tornar claro que existem muitos moçambicanos sem
condições para comprar equipamentos informáticos e megabytes para pesquisa, assistir as aulas
“online” e nem para tirar cópias. Não estaríamos a cometer exclusão dentro da inclusão, perante a
realidade socioeconómica do país?

Estas questões complicam ou pioraram a realidade precária do sistema de ensino nacional. Ademais,
sublinhe-se que a qualidade do ensino deve ser guiada por princípios, normas e objectivos
estabelecidos constitucionalmente. O acesso ao ensino é direito público subjectivo e o seu não
oferecimento pelo Poder Público, ou a sua oferta insuficiente e irregular, poderá acarretar
responsabilização culposa para a autoridade de tutela (Cambrão e Julião, 2020).

A qualidade da aprendizagem e o alcance dos níveis padrão de alfabetização e numeracia estão agora
em risco, porque o ensino e a aprendizagem em casa ainda não foram desenvolvidos e muitas
crianças e professores não possuem a facilidades adequadas da Tecnologia, Informação e
Comunicação (TIC).

Efectivamente, com a COVID-19 e a Instrução Ministerial n o 04/GM/MINEDH/2019 de 24 de


Setembro em vigor, em várias escolas muitos pais e/ou encarregados de educação reduziram, ou
mesmo deixaram de fazer, as contribuições que vinham realizando em anos anteriores o que criou,
problemas de gestão administrativa em determinadas escolas públicas.

No entanto, face a situação aludida algumas escolas iniciaram com o despedimento dos trabalhadores
com a situação contratual sem garantias. Neste sentido, o quadro actual dessas instituições é precário:
casas de banho, pátio e jardim não tratados. Nestas condições, o regresso às aulas não acontece de
forma segura devido aos altos riscos de contágio pela Covid-19.

1.5. Desafios da Educação em Emergência em Moçambique

Moçambique nos últimos anos tem experimentado eventos extremos tais como ataques nas regiões
norte e centro, pandemia da COVID-19, e eventos climáticos recorrentes tais como inundações, secas
e ciclones que têm um impacto negativo no bem-estar das crianças e no acesso a educação devido a
interrupção do curso normal das aulas motivado pela destruição total ou parcial das salas de aulas e
matérias de ensino e aprendizagem.

Face ao cenário acima enuncia-se vários desafios, nomeadamente a falta de recursos suficientes para
o funcionamento em condições das escolas, não só no período do Estado de Emergência mas assumir
de facto a sua responsabilidade no que concerne ao correcto funcionamento da educação gratuita em
Moçambique (MINEDH, 2020).

Os Espaços Temporários de Aprendizagem não tem merecido a manutenção, se deterioram


rapidamente e não podem mais ser usados após um período de 3-6 meses. Muitos desses espaços
precisam ser substituídos por novos, agora o novo ano lectivo acaba de começar, o sector da edução
precisa criar condições para esses espaços.

Outrossim, há necessidade de se concentrar em aumentar o acesso, a capacidade de ensino, os


ambientes escolares propícios, a segurança física e emocional, além de outros aspectos relacionados à
alimentação escolar, melhoria do acesso à água e saneamento nas escolas (MINEDH, 2020).

Depreende-se que isso visa fortalecer os sistemas de gestão, coordenação e informação e da


monitoria e avaliação nas fases de preparação, resposta e recuperação de emergência, com vista a
contribuir para a melhoraria da qualidade do ensino, das raparigas e rapazes em idade escolar
afectados pela emergência através oportunidades de aprendizagem de qualidade e inclusivo num
ambiente seguro.

2. Conclusão

A partir das análises feitas sobretudo do tema em estudo, percebe-se que o aprendizado é diferente e
muito mais complexo para crianças e jovens em situação de crises e emergências, incluindo conflitos
armados, deslocamento forçado e desastres causados pelas mudanças climáticas ou pandemias como
COVID 19. Estresse, trauma, medo e ansiedade dificultam a concentração na escola, em casa e a
aprendizagem. De maior preocupação, muitas raparigas e rapazes são simplesmente deixados para
trás e excluídos da esperança, oportunidade e protecção.

3. Referências bibliográficas

Cambrão, P. & Julião, D. (2020). Covid-19 e suas Implicações em Moçambique: Uma Análise
Antropo-sociológica. Revista Electrónica de Investigação e Desenvolvimento, Vol. 2, No 11.

Mate, R. (2020). Em Tempos de Emergência Devido a Covid-19, Estado Moçambicano Deixa Parte
da Gestão das Escolas Públicas à Sua Sorte. Centro de Integridade Pública (CIP). Maputo.

Mayers & Rodrigues, F. (2013). A Influência do Capital Humano Sobre o Desenvolvimento


Econômico: um olhar sobre a educação. Revista de Administração do UNISAL, v. 3, n.3, p. 1-16.
ISSN 1806-5961.

Severino, A.J. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Editora Cortez, 2007. 154p.

MINEDH, (2020). Programa de Educação em Emergência 2020-2021. Parceria Global da Educação

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