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“Dai a César o Que é de César”?

Daniel Conegero

“Dai a César o que é de César” significa que é lícito o pagamento de impostos


cobrados pelos governos humanos. Contudo, jamais alguém pode direcionar aos
governantes terrenos aquilo que é devido exclusivamente a Deus. Daí a
continuação da declaração é: “e a Deus o que é de Deus”.
Na verdade o significado da declaração: “Daí a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus”, é melhor compreendido à luz de seu contexto. Foi Jesus quem disse
essas palavras. Isso aconteceu quando Ele foi questionado por um grupo de
pessoas se era lícito pagar ou não pagar impostos a César (Mateus 22:15-22).
Mas essa pergunta era, na realidade, uma armadilha contra o Senhor Jesus. Os
fariseus queriam destruir Jesus. Mas eles não o atacavam pessoalmente porque
temiam a reação do povo. Então eles procuravam a todo custo apanhar Jesus em
suas próprias palavras.

O episódio da pergunta sobre a questão do tributo cobrado por César, era uma
dessas ocasiões. Os fariseus enviaram a Jesus alguns de seus discípulos. Esses
homens ainda estavam acompanhados por discípulos dos herodianos – que eram
os partidários da casa de Herodes. Esses dois grupos eram completamente opostos.
Os fariseus advogavam ser os mais zelosos com a Lei de Deus. Já os herodianos
não tinham interesse pela Palavra do Senhor; eles se preocupavam mesmo era com
seus interesses políticos.
Em comum, os dois grupos tinham um forte desejo de acabar com Jesus. Os
ensinos e a pessoa de Jesus Cristo ameaçavam tanto o sistema cultivado pelos
fariseus quanto o modo de vida dos herodianos. A identificação de Jesus como um
verdadeiro herdeiro da casa real de Davi era um problema para os herodianos; bem
como a reivindicação de que Jesus de fato era o Messias anunciado nas Escrituras
pelos profetas, também era visto como uma ameaça blasfema pelos fariseus.
Contudo, a união de fariseus e herodianos naquele contexto tinha ainda um
objetivo extremamente estratégico. No pensamento deles, a resposta da pergunta
que fariam a Jesus o colocaria em oposição a um dos dois grupos; e também
poderia minar sua popularidade junto do povo.

Daí a Cesar o que é de César


Aquele grupo formado por discípulos fariseus e herodianos chegou diante de Jesus.
Eles iniciaram a conversa com o Senhor através de um discurso elogioso. Aqueles
homens disseram reconhecer Jesus como um Mestre em Israel que ensinava a
vontade de Deus sem aceitar pressão de ninguém.

Então eles lhe perguntaram se Ele pensava que o pagamento de impostos a César,
por parte dos judeus, era legítimo ou não. O imposto citado por eles era um tributo
que devia ser pago ao tesouro imperial por cada homem adulto da Judeia.

Se Jesus respondesse simplesmente que o pagamento era lícito, Ele ficaria numa
posição complicada diante do povo que não estava satisfeito com o domínio
estrangeiro sobre Judá. Além disso, como o imperador romano reivindicava honras
e títulos divinos, os fariseus teriam um bom motivo para acusar Jesus de aprovar
um comportamento blasfemo. Por outro lado, se Jesus dissesse que o pagamento
do imposto não era lícito, Ele poderia ser acusado pelos herodianos de traição
contra o Império.

Jesus rapidamente percebeu a intenção perversa daqueles homens que queriam


prová-lo e denunciou sua hipocrisia. Então ele pediu que lhe mostrassem a moeda
do imposto. A moeda era o denário romano – uma moeda de prata equivalente
à dracma grega. O denário era muito comum naquela época; era a moeda usada
como referência para o salário padrão por um dia trabalhado.
A moeda do denário trazia a imagem do imperador cunhada nela junto de uma
inscrição que lhe atribuía um título divino. Um denário do tempo do imperador
Tibério, por exemplo, tinha de um lado a imagem de sua cabeça. Acompanhando
essa imagem, havia a seguinte legenda: “Tibério César Augusto Filho do Divino
Augusto”. Do outro lado da moeda, havia a figura do próprio imperador vestido
com vestes sacerdotais, coroado e assentado num trono; bem como uma inscrição
que dizia: “Sumo Sacerdote”.
Naquele momento de grande tensão, Jesus disse: “De quem é esta efígie e esta
inscrição? Disseram-lhe eles: De César. Então, ele lhes disse: Portanto, dai a César o
que é de César e a Deus, o que é de Deus” (Mateus 22:20,21).

Dai a Deus o que é de Deus


Imediatamente após dizer: “Daí a César o que é de César”, Jesus completou: “e a
Deus o que é de Deus”. Essa resposta completa destruiu totalmente qualquer
argumentação de seus opositores. Isso porque sua resposta ao mesmo tempo em
que não incitava a sonegação do imposto, também não deixava de atribuir a glória
devida somente a Deus.
W. Hendriksen explica que ao dizer: “Daí a César o que é de César e a Deus o que é
de Deus”, Jesus ensinou que honrar a Deus não significava desonrar o imperador ao
se recusa a pagar ao governo pelos privilégios prestados aos cidadãos, tais como:
uma sociedade organizada; proteção policial; boas estradas; infra-estrutura; etc.
Nesse ponto, então Jesus não podia ser acusado de traição.
Além disso, ao afirmar que a Deus devia ser entregue o que a Ele é devido, Jesus
estava ensinando uma lição muito clara. Ao imperador era lícito pagar os impostos
cobrados por direito; mas a honra divina devia ser dada exclusivamente a Deus.

Então se era lícito que os tributos terrenos fossem pagos regularmente ao


imperador, mais ainda deveria ser tributado a Deus todo louvor, honra, glória e
ações de graça que lhe pertencem. Assim, com sua resposta Jesus legitimou o
governo que regula a sociedade humana; mas não deixou de reprovar qualquer
apropriação indevida da glória de Deus.

Em última análise, a declaração: “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de


Deus”, se harmoniza perfeitamente ao ensino bíblico sobre o papel do governo civil
e o dever de seus cidadãos.
A Bíblia diz que os governos são legítimos e exercem uma autoridade conferida
pelo próprio Deus. Nesse sentido, eles servem como instrumentos na mão de Deus
para regular a sociedade humana (Romanos 13:1-7).

Contudo, Deus permanece soberano sobre todos (Daniel 4:34,35). Então os


governos devem ser respeitados e obedecidos; desde que suas leis não entrem em
conflito com a vontade do Senhor. Em ocasiões em que isso ocorre, o conselho
bíblico é muito claro. Em Atos 5:29, lemos: “Mais importa obedecer a Deus do que
aos homens”. Por tanto, daí a César o que é de César; mas jamais daí a César o que
é de Deus.

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