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IV FÓRUM DO CUIDADO MISSIONÁRIO

CIM BRASIL – EXTENSÃO SÃO PAULO


19/09/2020

PALESTRANTE PSICÓLOGA-MISSIONÁRIA
VERÔNICA FARIAS
VOLTANDO PRA CASA:
REALIDADES ACERCA DA REENTRADA
Veronica Farias
Missionária-Psicóloga
CIM BRASIL/AMTB
I. Reentrada: Diferentes Propósitos,
Diferentes Abordagens
II. A Reentrada como um Continuum
da Vida Missionária
TÓPICOS GERAIS
III. Repercussões Psíquicas, identitárias
e Espaciais nas Reentradas
IV. Eu cuidador: Qual a minha parte
nesse processo?
1. REENTRADA PLANEJADA
▪ Geralmente é desejada por todas as partes
envolvidas
▪ Faz parte do ciclo de manutenção da saúde
I - e das relações
DIFERENTES ▪ Tempo ideal a cada 2 ou 3 anos de campo
PROPÓSITOS,
DIFERENTES ▪ Requer planejamento financeiro, ministerial,
ABORDAGENS hospedagem e agendamentos prévios
▪ Não significa unicamente férias, mas
também: tempo de reciclagem, reencontros,
revisões e reavaliações da saúde, do sustento
e do projeto.

Aqui entram em ação os diversos setores das esferas do cuidado!


2. A REENTRADA NÃO-PLANEJADA
• Característica mais dolorosa
• Indispensável tempo de Debriefing* e
I -
DIFERENTES
encaminhamentos
PROPÓSITOS, • Avalia-se sob diferentes focos
DIFERENTES (institucional e da saúde geral) a
ABORDAGENS
viabilidade do retorno posterior ao
campo, ou redirecionamentos.
• Requer plano de ação estratégica
imediato por todas as partes (M-I-A)
3. REENTRADA DEFINITIVA
Final do Ciclo de vida no campo/do projeto
Transitoriedade contemporânea

• Requer planejamento prévio de pelo menos


I - 12 meses
DIFERENTES • Fechamentos concretos e subjetivos
PROPÓSITOS,
DIFERENTES • Indispensável tempo de Debriefing e
ABORDAGENS encaminhamentos
• Redirecionamentos, reelaboração da
identidade ministerial-laboral, social e cultural
• Reengajamentos
4. REENTRADA DEFINITIVA
PARA APOSENTADORIA

• Requer planejamento prévio de pelo menos


18 a 36 meses*
I - • Fechamentos concretos e subjetivos
DIFERENTES • Indispensável tempo de Debriefing e
PROPÓSITOS, encaminhamentos
DIFERENTES
• Reelaboração da identidade social e cultural
ABORDAGENS
• Recolocações subjetivas e concretas (na
família, na igreja, etc)
• Reelaboração do sentido de vida
• Trabalho inicia antes do retorno e perdura
por dois anos ou mais após a volta.
*Deve-se ter à parte um PLANO DE PREVIDÊNCIA recolhido por todo a vida de trabalho.
“Só quem já é capaz de habitar
pode construir uma casa” . Questões que Emergem na REENTRADA
(Figueiredo, 2004)
 Regressar para onde?
 O que significa estar em casa?
 Quanto tempo leva pra eu me sentir em casa de
novo?
 O que ocorre em nível emocional/psíquico em
uma reentrada?

O CONCEITO DE LAR
HABITAÇÃO X OCUPAÇÃO
Construção do novo LAR
Raízes: casa, vizinhança, comunidade-igreja, rotina, novos vínculos,
ocupações, eu-cultural → Senso de Pertencimento
III - A Reentrada Como um Continuum da Vida Missionária

FARIAS, 2016

Montar
ITEM IMPRESCINDÍVEL
Estratégias
1. O que se
deve fazer
antes de
deixar o Reentrada
campo? Definitiva:
-Readaptação
1. Como -Reinserção
proceder uma
vez que já fez
a reentrada.
RADAR
RECONCLILAR-SE: perdoar, resolver
ANTES DE FAZER A REENTRADA

RAFT – DAVID problemas relacionais


POLLOCK
T H E T H I R D C U LT U R E
KIDS AGRADECER: à todos que
abençoara, expressar verbalmente
• Reconciliation DESPEDIR-SE: de pessoas, lugares,
• Affirmation animais de estimação
• Farewell
AVALIAR: as expectativas realisticas
• Think para o futuro
Destination
RECONHECER: a dor e o processo
da perda, não reprimir ou negar.
MODELOS DE AVALIAÇÃO DE RETORNO
(DE BRIE FING)
- D E B B I E H AW K E R , 2 0 0 2 - DEBRIEFING
É uma oportunidade para
DEPOIS QUE FEZ A REENTRADA

1. AVALIAÇÃO OPERACIONAL : Sobre o trabalho contar suas histórias,


realizado e o que foi alcançado expressar seus sentimentos,
avaliar suas experiências e
2. AVALIAÇÃO PESSOAL: Checagem de como foram as direcionar suas queixas.
experiência vividas e como o (a) afetaram.

3. AVALIAÇÃO DE RETORNO DE INCIDENTE É uma oportunidade para


CRÍTICO (ARIC): analisarem os estágios da
-Deve acontecer logo depois de uma experiência reentrada pelos quais estão
traumática (24-36hs) passando e perceber os
-É uma forma estruturada de avaliação (desastre natural, problemas associados.
incidente violento ou acidente).
-Objetivo é a recuperação do equilíbrio e evitar a Marion Knell, 2006
formação posterior do TEPT ou outros transtornos. Burn Up or Splash Down
ARIC
7 PASSOS PARA AVAL IAÇÃO DE RETORNO DE INCIDENT E CRÍTICO
( CR I T I C A L I N CI D E N T D E B R I E F I N G )

1. Apresentações “Incidentes traumáticos não são a


única razão para se oferecer uma
2. Fatos relacionados a experiência
avaliação de retorno. A AR oferece
3. Pensamentos durante e depois da experiência principalmente uma possibilidade
4. Impressões sensoriais e emoções de discutir dificuldades mais
5. Ensinando a respeito dos sintomas normais permanentes.”
6. Discutindo estratégias de ação e planos Problemas mais comuns:
futuros
- Relacionamentos
7. Encerrando a sessão - Diferenças
culturais/frustrações
Debbie HAWKER, Diretrizes para avaliações de retorno em situações de - Insatisfação com a organização
crise ou de rotina. In O´DONNELL. Cuidado Integral do Missionário:
Perspectivas e praticas ao redor do mundo, 2004. pags. 391-421
VARIÁVEIS

1. Planejamento
A REENTRADA
2. Tempo subjetivo
de readaptação
3. Estrutura psíquica
4. Infraestrutura de
recepção
5. Comunidade de
apoio
6. Ambientação
7. Saúde geral
8. Aporte financeiro
IV - Repercussões Psíquicas, Choque cultural:
identitárias e Espaciais nas Estado de desorientação vivido pela
Reentradas pessoa em terra estrangeira, quando
todos os seus mapas e diretrizes
culturais aprendidos não funcionam
mais. (HIEBERT, 1999)
ADAPTAÇÃO E
READAPTAÇÃO A intensidade do choque dependerá
CULTURAL: do grau de diferença entre as culturas
(hóspede e a do missionário). Além
Entendo A Ida para disso, dependerá da estrutura de
Entender o Retorno personalidade e do preparo anterior
do missionário. (PATE ,1988)
DINÂMICA
INTERNA (PSÍQUICA) EXTERNA (AMBIENTE E RELAÇÕES)
I V - Repercussões Psíquicas, Identitárias
e Espaciais nas Reentradas

o Processo inevitável
o É um tempo de zona neutra.
o Quanto maior o tempo fora, maior o impacto.
o Quanto mais fraca a estrutura de recepção,
mais profundos os efeitos da reentrada.
o Quanto menos planejada a reentrada, maior a
confusão interna e o sofrimento.
o Reentradas podem ser mais difíceis se o
último período no campo foi menos
produtivo ou menos positivo.
o No modelo de cuidado preventivo, o
missionário e família são assessorados ao
longo da jornada de campo, para uma
reentrada mais leve.
Aspectos do Choque Cultural Reverso
IV - Repercussões Psíquicas,
identitárias e Espaciais nas
Reentradas O Processo Avesso

1. O nível dos abalos dependerá da Estrutura


de Ego, de como cada sujeito vivencia
quebras de vínculos importantes.
(Avaliação Psicológica)
2. O processo de luto é vivenciado de novo no
retorno definitivo ou não programado.
3. A experiência do Desenraizamento Étnico (G.
Safra), sentida como:
“Perda da conexão com os elementos sensoriais e
culturais que remetem o ser humano à memória
de sua origem”
FENÔMENOS Desengajamento: quebra do antigo sistema COMPORTAMENTO
PSÍQUICOS DO que servia de amparo aos papéis/funções e LUGAR SOCIAL
DE SE NRAIZAME NTO comportamentos.

Desidentificação: quebra com as velhas


FORMAÇÃO DA
conexões do antigo mundo, perde a IDENTIDADE
capacidade de se autodefinir como sujeito
cultural.
Desencantamento: Expectativa da forma SENTIDO DA
como as coisas eram, fora do real. VIDA/SER

Desorientação: É uma condição em que o


indivíduo perde a sua percepção de tempo,
de lugar e identidade pessoal. (Jordan, 1992, p. 18) ESPACIAL

DEVEM SER TEMPORÁRIOS E ADAPTATIVOS!


Processo de (Re)Adaptação Cultural

MUDANÇAS EFEITOS EMOCIONAIS


CULTURAIS Identidade em Crise!

EM GERAL, são comuns sentimentos e sintomas:


Abandono, solidão, tristeza, raiva, descontentamento, cansaço
mental e físico.
Irritabilidade, labilidade do humor, alterações do sono, do
apetite, autoestima baixa, etc.

“A cultura é uma estratégia para garantir a existência.”


(Käser, 2004)

Mandato Cultural GN
MODELO DE RESPONSABILIDADE
COMPARTILHADA ( K E L LY O ´ D O N N E L L )
V - Eu Cuidador: Qual a minha parte nesse processo?
CONEXÃO E COMPREENSÃO:
O PAPE L DA IGRE JA NO 1. Uma das importantes funções da equipe de cuidado na
RE TORNO reentrada é reconectar o miss com sua igreja. ET
DOS MISSIONÁRI OS
2. Ser fonte de apoio e ajuda prática
“E tendo anunciado a
palavra em Perge, desceram para 3. Engajar o miss nas agendas da igreja, quando ele estiver
Atália e dali navegaram para pronto.
Antioquia... -Aposentadoria relacionada a PERDAS: amigos, sua casa,
seu estilo de vida, sua missão.
Ali chegados, reunida a
igreja, relataram quantas coisas 3. Se certificar de que ele terá fonte de renda para sustentar-
fizera Deus com eles e como abrira se. Se não, ajudar a encontrar saídas viáveis.
aos gentios a porta da fé. E
permaneceram não pouco tempo 4. Se especialista, ofertar ou ajudar com a sua especialidade.
com os discípulos.”
5. Ouvir com interesse, é sempre terapêutico e reconstrutor.
(Atos 14:25-28)
DEVOCIONALIDADE, RELACIONAMENTOS
E SUSTENTO
Victalino, 2014
RE FE RÊ NCIAS E OUTRAS INDIC AÇÕE S DE LE ITURAS
• BERRY, J.W. Et al. Cross-Cultural Psychology: Research and applications. New York: Cambridge University Press, 2002.
• ________________. Immigration, acculturation and adaptation. Aplied Psychology. An International Review. 1997
• FARIAS, Verônica. Formação de Identidades multiculturais entre missionários em campos estrangeiros. (Dissertação
de Mestrado, 2016)
• O´DONNELL, Kelly. Cuidado Integral do Missionário. Londrina: Descoberta, 2004.
• JORDAN, Peter. Re-Entry: Making the trasnition from missions to life at home. Ywam Publishing: USA,1992.
• J.WILSON. David. Mind the Gaps: Engaging the Church in Missionary Care. USA, 2015.
• KÄSER, Lothar. Diferentes culturas: uma introdução à etnologia. Londrina: Descoberta, 2004.
• KNELL, Marion. Families on the move. Monark Books: UK, 2001.
• ____________. Burn Up or Splash Down: surviving the culture shock of re-entry. London, 2007.
• PRINS, Marina. Member Care for Missionaries: A practical guide for senders. Member Care Southern Africa, 2009.
• VICTALINO, Sérgio. Igreja missionária, igreja cuidadora, 2014.

• HAY, Rob. Dignos de Cuidados: Perspectivas globais na melhor prática de retenção missionária. Descoberta, 2008.
• LOSS, Myron. Choque cultural: lidando com o estresse em um ambiente transcultural. Myron Loss, 2005.
• MEER, Antônia Leonora Van Der (org.). Perspectivas do Cuidado Missionário: Contribuições a partir do Brasil. PB: Betel
Publicações, 2011.
• ________________________. Missionários feridos: como cuidar dos que servem. Viçosa-MG: Ultimato, 2009.
• PIROLO, Neal. A Missão de Enviar. Londrina: Descoberta, 2005.
• PRADO, Oswaldo. Do chamado ao campo. São Paulo: Sepal, 2000.
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM GRUPOS

1. De acordo com a sua experiência (igreja, agência, consultório ou ministério), quais os pontos
mais críticos encontrados no retorno de missionários a sua pátria?
2. O que você identifica como fatores da nossa cultura brasileira, que afetam positiva e
negativamente na qualidade do retorno de missionários?
3. Discuta brevemente qual seria um bom plano de retorno para missionários solteiros e para
famílias missionárias, distintamente.
4. Como identificar que é hora do missionário (solteiro ou família) retornar para seu país?
Quais os sinais ou critérios?
5. Como lidar com missionários que apesar das orientações, não querem voltar para a sua
pátria? O que se pode/deve fazer e quais os envolvidos nesse processo?
(reflita sob o viés do retorno definitivo para aposentadoria, e do retorno por
situações de risco)
DEPARTAMENTO DA AMTB

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