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Processo Legislativo

Regimental

Aula 5
Incidentes Processuais
Regimentais
Professor Senado Federal
Luciano Henrique da Silva Oliveira Complexo Arquitetônico do Senado
Consultor Legislativo do Senado Federal Federal, Via N2. Bloco de apoio nº 12.
CEP | 70165-900
Ajuste / Descrição
Cláudio Cunha de Oliveira
Júnia Cláudia Gondim Melo

Desenho Editorial (PDF)


Vinicius Soares Motinha Instituto Legislativo Brasileiro
Plataforma de Ensino a Distância Saberes
Videoaulas
Equipe Programa Saber Jurídico

Produção
Tv Justiça
TV Justiça
Saber Direito

Distribuição:
saberes.senado.leg.br
Aula 5 – Curso Processo Legislativo Regimental -
Incidentes processuais

No Saber Direito desta semana, vamos aprender sobre Pro-


cesso Legislativo, Ritos Legislativos na Câmara e no Senado,
medidas provisórias e muito mais. As aulas são com o pro-
fessor Luciano Oliveira.

Olá, eu sou Luciano Oliveira, consultor legislativo do Senado


Federal. E essa é a nossa a quinta e última aula do curso do
Saber Direito de Processo Legislativo Regimental.

Na primeira aula, nós falamos sobre as regras constitucionais


do processo legislativo. Na aula 2, vimos os Ritos Regimentais
na Câmara dos Deputados. No terceiro encontro, falamos
sobre os procedimentos regimentais no Senado Federal. Na
última aula, número 4, falamos sobre o procedimento legis-
lativo regimental das medidas provisórias. E hoje vamos falar
sobre determinados incidentes processuais regimentais que
acontecem ao longo do processo legislativo.

Nós veremos, por exemplo, as regras de retirada de propo-


sições, de requerimento de tramitação conjunta, formulação
de questões de ordem, requerimento de destaque de maté-
rias para votação em separado e outros incidentes.

Vamos começar a falando um pouco sobre o procedimento


de retirada de proposição.

O que é a retirada de uma proposição?


Retirada é o requerimento formulado pelo autor da matéria,
quando ele desiste de tramitar esta matéria. Ele não tem
mais interesse, por algum motivo, de que a matéria avance,
de que o projeto, a proposição que ele apresentou se trans-
forme numa lei, numa PEC, numa emenda à constituição.

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E ele então promove a retirada dessa matéria. A retirada é
feita então por um requerimento, em nome do autor da pro-
posição, que apresente esse requerimento na casa onde a
matéria está tramitando. E aprovada essa retirada, a matéria
então é arquivada.

O autor do requerimento de retirada, portanto, é o autor da


matéria. É aquele que apresentou inicialmente a matéria. É
importante lembrar que uma matéria, uma proposição pode
ser de autoria individual e nesse caso, o próprio autor pode
requerer a retirada e o consequente arquivamento de sua
proposição, como pode ser também uma matéria de autoria
coletiva, por exemplo, uma proposta de emenda à constitui-
ção em que são necessários 27 Senadores ou 171 deputados
para apresentar uma PEC.

É claro que ela também pode ser de autoria individual do


presidente da república, mas me refiro aqui aquela que foi
apresentada coletivamente, por exemplo, por um grupo de
senadores. Neste caso, o regimento determina quais são as
regras para retirada da proposição e as casas têm autonomia
para fixar as regras, as soluções regimentais que acharem
melhor. Na Câmara, por exemplo, a proposição de autoria
coletiva deve ser retirada mediante requerimento assinado
pela maioria absoluta dos autores iniciais na matéria. Já no
Senado Federal basta a assinatura do primeiro signatário no
pedido de retirada.

A retirada de uma matéria é possível enquanto ela ainda não


foi votada porque uma vez votada pela casa, ela não pode
ser mais retirada. Se ela já foi aprovada ou já foi rejeitada,
está prescrito. Na verdade, é uma decadência do direito de
retirada pelo autor ou pelos autores. A retirada normalmente
é possível antes de a matéria estar incluída na ordem do dia.
E é deferida ou pelo presidente ou pela mesa. No entanto,
quando a matéria já consta da pauta deliberativa daquele

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dia e mesmo assim o autor decide apresentar um requeri-
mento de retirada, normalmente a regra regimental, que é
adotada nas casas, é de submeter o pedido de retirada ao
plenário para que ele então decida se ainda assim a matéria
já pautada, ela pode ser retirada.

A retirada pode ser utilizada pelo autor por exemplo, para


evitar que a matéria dele seja rejeitada e incida o chamado
princípio da irrepetibilidade, que disse que um projeto de
lei que foi rejeitado, não pode ser objeto de nova proposi-
ção, aquela matéria rejeitada, na mesma sessão legislativa.
Então pressentindo que o seu projeto será rejeitado antes
disso o autor solicita a retirada. O projeto retirado pode ser
reapresentado a seguir com as correções que se fizerem ne-
cessárias as quais iam causar a rejeição da matéria.

Então a retirada é um requerimento, utilizado apenas pelo


autor e pode ser útil usado inclusive para autores externos.
Um projeto, que foi apresentado por um tribunal do Judi-
ciário ou pelo presidente da república ou pelo Tribunal de
Contas da União, da mesma maneira podem ser objeto de
um requerimento de retirada. Neste caso, o agente ou órgão
externo ao parlamento, envia um ofício à Câmara dos Depu-
tados ou Senado Federal, onde a matéria está tramitando,
solicitando que a casa então retire essa matéria e a arquive.
Uma única observação que nós vimos nela passada é que
quanto às medidas provisórias o Supremo Tribunal Federal
não admite a retirada, uma vez que ela já é norma jurídica
em vigor desde a sua edição.

Na Câmara dos Deputados, há um entendimento de que se a ma-


téria já foi aprovada por uma das casas, não cabe mais a retirada.
Já o Senado Federal tem admitido a retirada mesmo assim. Por
exemplo, se a matéria iniciou no Senado, já foi aprovado agora está
na Câmara em princípio não caberia a retirada mais do projeto. É
uma questão de ordem que existe na Câmara dos Deputados.

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Um outro incidente processual que ocorre com certa frequ-
ência no processo legislativo é a tramitação conjunta.
Em que consiste a tramitação conjunta?

É aquele procedimento utilizado para apensar, unir dois ou


mais projetos que tratam do mesmo assunto. E então se já
há um projeto de lei, tratando de alíquotas de determinado
tributo e aí, um outro autor, um parlamentar ou até mesmo
presidente da república apresenta um outro projeto sobre
o mesmo assunto, as alíquotas daquele tributo, então nada
mais natural que essas duas matérias sejam apensadas para
terem tramitação conjunta e poderem ser decididas de uma
vez só pelo parlamento.

A tramitação conjunta evita que as casas do Congresso Na-


cional tomem decisões contraditórias em relação a deter-
minada matéria, porque se uma matéria aprovada de de-
terminada maneira no projeto, ela não deve ser aprovada
de outra maneira em outro projeto. Então para evitar essas
contradições ocorre a tramitação conjunta e é uma decisão
única que é adotada.

Na tramitação conjunta as matérias uma vez a pensadas são


distribuídas a um único relator em cada comissão, então
os projetos são a pensados e continuam seu trâmite pelas
comissões desta vez simultaneamente andando juntos, e o
relator, ao dar um parecer sobre as matérias que estão ali
em tramitação conjunta, opina sobre todas elas escolhendo
uma para ser aprovada e as outras acabam prejudicadas se
escolhida esta para aprovação.

A tramitação conjunta ela pode acontecer de ofício por deci-


são do presidente da casa no momento em que um projeto
novo é apresentado ou posteriormente por requerimento
de qualquer parlamentar. No caso de tramitação de ofício,
isso ocorre quando um projeto novo é apresentado e já há

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outros projetos na casa tramitando sobre o mesmo assunto.
Neste caso o presidente da casa, verificando essa situação
desde logo determina de ofício o pensamento do projeto
mais recente ao projeto mais antigo que está tramitando.

Já quando ocorre um pedido de tramitação conjunta, pe-


dindo de apensamento a requerimento, isso ocorre quando
um parlamentar verificando que há projeto sobre o mesmo
assunto e que não foram desde logo a pensados de ofício,
ele apresenta ao plenário um requerimento de tramitação
conjunta o qual, se aprovado, permite que as matérias então
se juntem e passem a tramitar simultaneamente, de uma
vez só.

A tramitação conjunta pode ser feita apenas quando as pro-


posições são da mesma natureza. Então, por exemplo, um
projeto de lei ordinária vai ser apensado a outros projetos
de lei ordinária. Um projeto de lei complementar a outros
projetos de lei complementar. Uma PEC apensada a outras
PEC s e assim por diante.

Isso se deve a dois motivos, a primeira razão é que para


cada proposição legislativa existe um rito, um procedimento
legislativo específico. Por exemplo, uma PEC está sujeita ao
plenário em dois turnos de votação. Já o projeto de lei pode
ir ao plenário um turno só ou até tramitar no rito abreviado,
apenas pelas comissões. Então essa diferença de ritos faz
com que matérias diferentes não sejam apensadas. Propo-
sições de natureza diferentes não sejam apensadas. E uma
outra razão é que cada espécie de proposição trata de deter-
minado assunto. Então o projeto de decreto legislativo trata
de matéria de competência exclusiva do Congresso Nacional.
Já um projeto de lei complementar regulamenta dispositivos
gerais da constituição para os quais a constituição exige essa
espécie normativa. Então são matérias diferentes que natu-
ralmente não vão estar tramitando em conjunto.

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Assim como é possível o requerimento de tramitação con-
junta, também é possível requerimento de desapensamento,
ou seja, para desfazer uma tramitação conjunta. Isso pode
acontecer por vários motivos. Um deles é quando o autor de
um dos projetos que está tramitando conjuntamente verifica
que o relator do grupo de apensados selecionará para apro-
vação um projeto que não é o dele. Então o que acontece?
Quando o parecer é pelo sentido de aprovar uma das ma-
térias, as outras apensadas ficarão, o que a gente chama de
prejudicadas, serão arquivadas sem votação, portanto não
serão aprovadas. Se o autor de uma delas verificar isso, ele
pode antes de votada a matéria, solicitar o desapensamento
da sua para que ela continue tramitando autonomamente
antes de se tornar prejudicada.

Quando as matérias estão em tramitação conjunta, uma


delas é escolhida para ser a cabeça do conjunto, o líder, o
assunto, o tema líder, a proposição que lidera aquele con-
junto. E existem algumas regras para isso que são as regras
de precedência. Então normalmente quando os projetos são
da mesma casa, a proposição mais antiga tem precedência
sobre os demais. É escolhida para ser o líder, o cabeça do
conjunto. Por exemplo, no projeto número 1, que é o cabeça,
estão apensadas o número dois, três ou quatro que foram
apresentados posteriormente.

Quando as proposições são de casas diversas, normalmente


aqui vêm da outra casa que já está mais adiantada, em fase
de revisão, passa a ser o cabeça do conjunto mesmo que
seja mais recente em relação a outras que ainda estão na
casa iniciadora.

É importante ressaltar que o relator do conjunto de proposi-


ções em tramitação conjunta não é obrigado a escolher para
aprovação, aquela que tem a precedência, que é o cabeça

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do grupo. Ele pode escolher qualquer uma delas que ele
achar mais conveniente, inclusive talvez até mais recente,
possui uma solução jurídica mais adequada e atualizada a
situação real que se quer resolver e pode inclusive é oferecer
um substitutivo com partes de cada uma das proposições
apensadas, compondo assim uma solução jurídica com vá-
rias delas. No Senado Federal a praxe é escolher uma única
proposição para aprovação ficando as demais prejudicadas.
Na Câmara dos Deputados ocorre com um pouco mais de
frequência a escolha de duas ou três proposições para serem
formalmente aprovadas enquanto as outras são rejeitadas
ou prejudicadas.

Um outro incidente processual, que acontece com bastante


frequência no processo legislativo, é o chamado pedido de
vista. Em que consiste o pedido de vista? Enquanto a maté-
ria está tramitando na comissão, na fase de comissões no
momento em que o relator apresenta o seu relatório, o seu
parecer para leitura e posterior discussão dessa peça na co-
missão, qualquer membro da comissão pode solicitar um
pedido de vista sobre a matéria para que ele possa analisar
melhor em seu gabinete sobre aquele assunto,

Sobre aquele projeto e decidir como ele vai votar. Se será


pela aprovação, pela rejeição, se vai apresentar alguma
emenda nesse período. Então ele solicita esse pedido de vis-
ta. O pedido de vista pode ser formulado uma única vez pelo
parlamentar, mas ele pode ser formulado também por mais
de um parlamentar. Neste caso os regimentos costumam dar
a solução de que quando mais de um parlamentar, mais de
um deputado na Câmara, mais de um senador no Senado,
solicitam à vista sobre uma proposição, é concedida a cha-
mada vista conjunta. É a vista dada em conjunto para todos
os parlamentares. Normalmente até a semana seguinte, na
próxima reunião deliberativa da comissão, quando então a
matéria volta à pauta, o relatório já foi lido, a discussão pros-

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segue e aquele parlamentar que solicitou vista pode oferecer
uma emenda, pode simplesmente concordar com o projeto,
pode rejeitar, mas o fato é que ele teve tempo para estudar
um pouco mais sobre o assunto.

Hoje como estamos na fase na internet todo o processa-


do, os autos daquela proposição, que no jargão legislativo
a gente chama de processado, estão publicados na internet
em formato PDF e outros formatos, de maneira que quan-
do um parlamentar pede vista, acaba que todos podem ter
mais tempo para estudar a matéria naquele período em que
está formalmente o projeto com vistas ao parlamentar que
o formulou.

É importante lembrar que o pedido de vista é feito na fase


de comissões. Não existe vista em plenário. Então uma vez
ultrapassada a fase de comissões e a matéria já está em
plenário, não há a previsão regimental de um pedido de vis-
ta com o projeto já em plenário. Nesse caso nada impede
de haver um requerimento de retirada de pauta, a matéria
pode. Se o plenário, aprovar retirar de pauta naquele dia e
voltar numa próxima sessão. Hoje como nós temos todos os
autos publicados na internet, o efeito prático é ganhar mais
tempo para estudar. Quase uma vista, mas, regimentalmente
falando, isso não se chama pedido de vista, pedido de vista
formulado na fase de comissões.

O fato de um parlamentar ter solicitado a vista em uma co-


missão não impede que ele, na próxima comissão, caso coin-
cida de ele também ser membro da próxima comissão, pedir
vista novamente para que possa analisar a matéria porque
pode ser que eles tenham sido oferecidas novas emendas,
que ele tenha recebido, por exemplo, representantes da so-
ciedade civil que lhe mostraram outros aspectos da propo-
sição, que podem ser aperfeiçoados. Então ele pode pedir
vistas novamente. O pedido de vista, após a sua formula-

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ção, é analisado então pelos parlamentares e quando do
seu retorno não caberá um novo pedido de vista porque já
foi concedido anteriormente. Por isso que quando mais um
parlamentar solicita à vista é dada vista em conjunto.

Então uma vez encerrado esse período de vista, a matéria


vai então para o prosseguimento da discussão e da votação.
Se fosse possível formular sucessivos pedidos de vista sema-
nalmente, isso acabaria paralisando o processo legislativo
praticamente em definitivo e a matéria nunca andaria. É por
isso que essa limitação do pedido de vista, uma vez só e se
formulado por mais um parlamentar, ele é concedido em
conjunto.

Vamos ver então uma questão para fixar nossos conheci-


mentos? Vamos à primeira questão do nosso QUIZ.

QUIZ

O pedido de vista:

A. Deve ser formulado após a conclusão da leitura do parecer


do relator
B. Não pode ocorrer de forma conjunta
C. Pode ser formulado em plenário
D. Pode ser concedido mais uma vez a cada parlamentar

Resposta: Letra “A”

Um pedido de vista deve ser formulado após a conclusão da


leitura do parecer do relator. Exatamente, o pedido de vista
é formulado após a leitura da peça do relator e não antes.

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Às vezes no dia a dia do processo legislativo quem assiste
TV Senado, TV Câmara pode verificar que um parlamentar
já anuncia “vou pedir vistas! ” Mas regimentalmente falando,
ele só pode ser formulado formalmente, após a leitura do
relatório e não antes. E é importante que o pedido de vista
tem que ser formulado até o final da discussão, quando o
presidente da comissão declara que está encerrada a discus-
são. Porque não há mais nenhum orador querendo discutir
sobre o projeto, defender seu ponto de vista, vamos iniciar
a votação não é mais cabível o pedido de vista.

Vejamos o erro das outras: A letra B, por exemplo, disse


que o pedido de vista não pode ocorrer de forma conjunta.
Está errado porque os regimentos dizem que se mais de um
parlamentar naquele mesmo momento pede vista sobre a
mesma matéria ela é concedida de forma conjunta.

O pedido de vista na letra C pode ser formulado em plená-


rio? Não porque ele é um procedimento aplicável a fase de
comissões.

E letra D, pode ser concedido mais uma vez a cada parla-


mentar? Não.

Cada parlamentar pode solicitar uma única vez um pedido


de vista sobre aquela matéria, pois do contrário se pudesse
ficar formulando sucessivas vezes a matéria nunca andaria,
ficaria eternamente em período de vistas.

Um outro incidente regimental, um incidente processual re-


gimental de interesse é o chamado requerimento de prefe-
rência.

Em que consiste isso?


Inicialmente vamos lembrar que nos regimentos internos,
há uma ordem de prioridade para a votação das matérias

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na pauta deliberativa, a chamada ordem de precedência. A
precedência é a prioridade para a votação, prevista como pa-
drão no regimento interno. Então, por exemplo, as matérias
mais antigas têm precedência para serem votadas sobre as
mais recentes. Aquelas que já estão em fase de votação com
discussão encerrada, têm prioridade para ser votadas em
relação àquelas que ainda estão sendo discutidas. Matérias
que estão em regime de urgência, seja a urgência constitu-
cional do presidente da república, seja a urgência regimental
interna, requerida pelos parlamentares, têm precedência as
matérias urgentes para serem votadas antes daquelas que
estão em regime não urgente. Na Câmara ainda um regime
intermediário chamado de prioridade. Então lá tem prece-
dência para serem votadas as em urgência, as em prioridade
e finalmente aquelas em regime ordinário.

Medidas provisórias normalmente que trancam a pauta, tem


precedência para serem votadas antes das demais matérias.
E então, diversas matérias têm essa precedência padrão no
regimento, mas a qualquer momento um parlamentar pode
solicitar preferência para que uma outra matéria seja votada
antes da que tenha precedência original.

Isso é feito por meio de um requerimento de preferência


conhecido também como inversão de pauta. O requerimento
então solicita a inversão de pauta para que um projeto, uma
matéria, uma proposição que esteja que esteja em votação,
depois de um anterior, seja votada primeiro.

Em que casos isso pode acontecer? É muito comum por


exemplo que haja uma polêmica, não haja um acordo, um
consenso político para a aprovação da matéria que esteja
digamos o item 1 da pauta. Já o item 2 já há um entendimen-
to pacífico de que ela pode ser votada e aprovada. Já há um
entendimento dos parlamentares. Então em vez de se ficar
debatendo por muito tempo, quase eternamente, o projeto

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1, sobre o qual ainda não há consenso, o parlamentar solicita
a inversão de pauta, o requerimento de preferência para o
item 2 de maneira que, seja logo votado e a matéria tome
o seu caminho. E o item 1, que teria precedência, pode até
neste caso de repente ser retirado de pauta porque ainda
será melhor negociado pelos parlamentares para uma fu-
tura sessão. A preferência também pode acontecer dentro
de um mesmo projeto, dentro de um mesmo item da pauta
nos casos em que há um parecer pela apresentação de um
substitutivo a um projeto. Vamos imaginar a seguinte situa-
ção. Determinado projeto recebeu parecer da comissão. E a
comissão concluiu pela apresentação de um substitutivo ao
projeto. Então uma emenda substitutiva global substitui inte-
gralmente o projeto. E assim, ele foi para a fase de plenário.

No plenário, quando há um projeto com um substitutivo, nor-


malmente, a regra regimental é que o substitutivo, apresen-
tado pela comissão, será votado primeiro. E se for acatado
pelo plenário, o projeto original fica prejudicado e arquivado
porque o substitutivo apresentado pela comissão tem pre-
cedência sobre o projeto original. Vamos supor, no entan-
to, que um parlamentar, um rupo de parlamentares, houve
uma negociação política e chegou-se ao consenso de que
é melhor votar o projeto original e não substitutivo. Neste
caso um parlamentar pode apresentar um requerimento de
preferência para o projeto original, que se esse requerimento
for aprovado, é então o projeto votado antes do substitutivo.
Há uma inversão de precedência. A preferência passa a ser
do projeto. E se o projeto for aprovado aí é o substitutivo é
que fica prejudicado.

Então nós temos que a inversão de pauta, o requerimento de


preferência pode ser feito tanto entre proposições diversas
que estão na mesma pauta, na mesma ordem do dia do ple-
nário como dentro de um mesmo item para dar preferência
do substitutivo em relação ao projeto, do projeto em relação

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ao substitutivo.

Tudo bem?
Um outro incidente processual muito importante, este de
grande uso, de grande ocorrência durante o processo legis-
lativo é o destaque, o chamado requerimento de destaque.

E o destaque o que é?
Nada mais é que a retirada, a separação, o destacamento, o
destaque, a separação de um item da proposição para ser
em geral votada separadamente, mas há também outras
finalidades.

Então o que é o destaque? É o requerimento, feito por um


Parlamentar, para que uma parte da proposição seja sepa-
rada enquanto se vota o resto da matéria.

Imagine a seguinte situação, um projeto tem dez artigos. Há


um relativo consenso sobre todo ele por parte dos Parla-
mentares. No entanto, o artigo qualquer, digamos o tercei-
ro, ainda está sendo negociado. Não há ainda um consenso
sobre qual o texto que deve ser aprovado ali neste artigo 3º.
Neste caso, para que a matéria possa prosseguir um par-
lamentar pode apresentar um requerimento de destaque,
destacando, separando o artigo 3º do resto do projeto. Aí,
os parlamentares podem votar o projeto todo, ressalvado
esse artigo 3º, que foi destacado e ele aprova o que a gente
chama de texto base da proposição. Aprovado o texto-base,
resta agora a negociação sobre o texto destacado. Esse texto
destacado é negociado. Verifica-se ele vai ser aprovado, ou
não, e para ele é feita uma votação em separado. E ele pode
ser então, por exemplo, rejeitado se não houver consenso
de maneira que no texto final ficará só os artigos de um a
dez, ressalvado o artigo 3º. Depois a mesa na redação final
reajusta a numeração desses artigos para que o projeto fique
com a numeração dos seus artigos corretamente.

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Se essa matéria, que foi destacada para votação em separa-
do é aprovada, ela se reincorpora ao texto do projeto origi-
nal sem problemas. Mas se ela não tem consenso para ser
aprovada, o destaque dela não prejudica que a casa vote
sobre o resto do projeto evitando assim paralisar a matéria.
Esse é o destaque para votação separada que a gente usa a
sigla DVS, lá no processo legislativo, destaque para votação
em separado.

Existem outros tipos de destaque. O destaque para a rejeição


e o destaque para aprovação. São dois tipos de destaque, de
uso um pouco mais raro na prática legislativa atual, mas que
também são previstos no regimento interno.

Neste caso, quando há o requerimento de destaque para


aprovação, ou para a rejeição, a aprovação desse requeri-
mento já promove desde logo a rejeição do trecho
destacado, ou, a aprovação do trecho destacado. Note que
há uma diferença em relação ao tipo de destaque anterior
que é o destaque para votação em separado. No destaque
para votação em separado é apresentado um requerimento
inicialmente para destacar o texto da proposição principal,
do texto base. Esse requerimento, se for aprovado, o texto
é destacado, mas ainda tem que ser votado. Ainda tem que
sofrer uma decisão, se ele será aprovado e se reincorpora
então ao texto-base ou rejeitado e isso desaparece defini-
tivamente do texto original. Já no destaque para a rejeição,
ou para aprovação, ao aprovar o destaque, o texto já está
automaticamente rejeitado ou aprovado. A modalidade pou-
co usada, mas que se for formulada tem que ser objeto de
atenção dos parlamentares, evitando e inadvertidamente
rejeitar ou aprovar diretamente um texto, certo.

E finalmente existe também um destaque também não muito


utilizado que é o destaque para proposição em separado,
DPS, destaque para projeto em separado ou ainda destaque

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para a constituição de proposição em separado ou proposi-
ção autônoma.

Enfim em que consiste esse destaque?


Consiste no requerimento para que um texto seja destacado,
mas não para ser votado em separado, seja para ser rejeitado,
seja para ser aprovado e se reincorporar o texto-base. Não.
Ele é destacado para constituir um novo projeto com uma
nova numeração e será apresentado novamente à mesa, tra-
mitando como uma proposição autônoma. O destaque para
a proposição em separado é feito quando não há consenso
sobre aquela matéria e se percebe que não será possível re-
solver na tramitação legislativa do texto base. Então há um
destaque para que se constitua em um novo projeto, enquan-
to se aprova aquele original. E o outro projeto depois vai ser
renumerado como uma nova proposição e começar o trânsito
todo tudo de novo, passando pela fase de comissão e pelo
plenário tudo novamente, de maneira autônoma.

Por exemplo, numa discussão de um projeto ou numa PEC


como a da previdência em que há grandes assuntos e que
geram muita polêmica pode ser que uma parte do texto que
não seja é considerada ainda consensual pelos parlamen-
tares seja destacado para uma proposição autônoma. No
caso de uma PEC, ela pode tramitar como uma chamada PEC
paralela, com uma nova numeração, que é o termo utilizado
pelos parlamentares.

Neste caso, o destaque ele tem algumas regras muito im-


portantes. Veja só. Imagina o destaque para votação em
separado de uma proposição. Uma vez aprovado o reque-
rimento de destaque. O texto sai e é votado o texto base.
Agora normalmente isso acontece quando há consenso para
aprovação do texto-base. E o texto destacado, por não haver
consenso provavelmente, será votado e rejeitado. Mas se o
inverso acontece é uma coisa – rara, mas que pode acon-

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tecer, é preciso que o resultado final do que foi deliberado
pelo plenário faça sentindo, tenha sentido completo. Então
imagine o seguinte exemplo: um texto é destacado do pro-
jeto original. O texto base é rejeitado. Ainda é preciso votar
o texto destacado. Se aquele texto destacado foi aprovado,
um ou mais, um artigo, um grupo de artigos, ele vai passar
a ser o texto restante da proposição final. Então o texto tem
que formar um sentido completo.

É importante então que o destaque forme sentido completo


porque, se o texto base é rejeitado e somente ele resta, ele
pode ser utilizado como uma proposição autônoma.

O destaque pode recair sobre um dispositivo inteiro, um ar-


tigo inteiro, um parágrafo inteiro, mas também sobre uma
expressão, até sobre uma pequena palavra, sobre a qual
pode não haver consenso. Então vamos dizer que um deter-
minado projeto vede a conduta A, B e C, na mesma frase. De
repente, eu posso destacar só conduta B, de maneira que o
projeto vedará, proibirá quando tais e C e a B são eliminadas
depois na votação em separado.

O requerimento de destaque pode ser normalmente for-


mulado por qualquer parlamentar. Em algumas situações,
apenas por líderes. Isso mais nas sessões conjuntas do Con-
gresso Nacional. Mas existe também um requerimento de
destaque especial que é o chamado requerimento de banca-
da partidária, que é formulado por um partido político, cha-
mado requerimento de bancada. O líder do partido, nesse
caso, pode formular um requerimento, que independe de
aprovação do plenário. Como se fosse um direito do partido
de destacar aquele texto. Quando o destaque é formulado
por um parlamentar, ele precisa ainda ser votado pelo ple-
nário. A votação é simbólica: aqueles que concordam per-
manecem como estão, mas ele precisa ser submetido à deli-
beração do plenário. Já o destaque de bancada e de partido,

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no momento em que ele é apresentado é já considerado de
aprovação automática, como um direito do parlamentar, ou
melhor, do partido de reformular esse destaque.

Nós sabemos que os partidos podem atuar isoladamente


ou unidos em bloco parlamentar nas casas do Congresso
Nacional. Mesmo quando o partido está unido em bloco,
quem formula um requerimento de destaque de bancada é
o líder de um partido e não líder do bloco. Então os partidos,
ele tem esses direitos. Dependendo do tamanho do parti-
do, cada um deles pode formular um determinado número
de destaques. Então existem algumas regras regimentais:
partidos pequenos podem formular somente um destaque
de bancada. Partidos médios: dois destaques. Partidos um
pouco maiores: 3 e às vezes até quatro destaques, conforme
uma tabela que é dada nos próprios dispositivos regimentais.
O fato é que formulado um destaque de bancada, o trecho
destacado está automaticamente separado do texto para ser
votado separadamente depois.

O destaque ele pode recair não somente sobre um texto


do projeto principal, mas também sobre uma emenda. Uma
emenda pode ser destacada para aprovação, para a rejeição
para a constituição de uma proposição em separado, mas o
caso mais comum de destaque realmente é o primeiro que
nós falamos, que é o destaque para votação em separado.
Imagine o seguinte exemplo: determinado projeto recebeu
parecer da comissão e a comissão opta por apresentar, por
aprovar o projeto, aprovar juntamente com emenda número
um, que tenha sido apresentada. E o parecer opina ainda
pela rejeição de uma emenda número 2, que foi apresen-
tada. Suponha então esse exemplo: ao projeto foram apre-
sentadas as emendas 1 e 2. O parecer da comissão opta por
aprovar o projeto e a emenda 1, rejeitando a emenda 2.

A matéria chega nesses termos ao plenário. Se o plenário

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resolver votar o projeto, nos termos desse parecer, aque-
les que disserem sim à matéria vão aprovar o projeto e à
emenda 1 e rejeitar a emenda 2. Agora suponhamos que
um partido deseje também rejeitar a emenda 1.Ele gostaria
apenas de aprovar o projeto original sem emendas. Neste
caso, ele pode formular um requerimento de destaque para
votação em separado dessa emenda 1. Destacada a emenda
um, vota- se inicialmente o texto base do projeto, o qual se
aprovado, não implica a aprovação da emenda um, que es-
tava nos termos do parecer porque ela foi destacada. Após
essa primeira votação sobre o texto base, ocorre então a
votação em separado da emenda destacada, que se apro-
vada, se reincorpora ao texto. E se rejeitada, fica eliminada
definitivamente do texto.

Pode ser também aprovado um destaque para votação em


separado da emenda 2, que estava sendo rejeitada no pare-
cer. Neste caso quem faz o destaque muito provavelmente
quer votar em separado para aprova-la e fazê-la se reincor-
porar o texto. Enfim o destaque é usado para esse tipo de
finalidade: separar partes da proposição para normalmente
se votar em separado ou para rejeição ou aprovação direta,
sem precisar a nova votação ou ainda para constituir um
projeto autónomo uma proposição autônoma que começará
a sua tramitação desde o início.

Vamos então ao nosso QUIZ.

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Processo Legislativo Regimental
QUIZ

Vamos ver agora mais uma questão para fixar os conhe-


cimentos ministrados até agora. Em relação ao destaque,
assinala incorreta.

A. O destaque pode ser feito para votação em separado, para


aprovação, para supressão ou para constituição de propo-
sição autônoma
B. Concedido destaque para votação em separado, subme-
ter-se-á votos primeiramente a matéria principal e, em se-
guida, a destacada.
C. O texto destacado deve ter sentido completo e ajustar-se
à proposição principal.
D. O requerimento de destaque dever ser sempre aprovado
pelo Plenário.

Resposta: Letra “D”

Vejam só. O requerimento de destaque deve ser sempre


aprovado pelo plenário. Por que está errado? Porque nem
sempre o destaque precisa ser aprovado pelo plenário. Se
for um destaque de bancada e de partido, a sua mera apre-
sentação pelo partido implica a automática aprovação do
destaque. Somente nos destaques de autoria de parlamenta-
res individualmente é que eles precisam ainda ser aprovados
pelo plenário.

Vamos comentar rapidamente as outras opções. Veja só.


Na letra A, elenca justamente as quatro finalidades que o
destaque pode assumir. Eu posso destacar um texto para ser
votado em separado. Uma votação separadamente apenas
para ele. Um destaque para aprovação. Se eu aprovo des-

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taque imediatamente, o texto está aprovado sem precisar
ser votado em separado. Um destaque para supressão ou
rejeição. São sinônimos em que é aprovado o destaque o
texto está suprimido, ou rejeitado, sem precisar passar por
nova votação. Ou um destaque para a constituição de pro-
posição autônoma.

Por exemplo, suponhamos que um capítulo inteiro de um


projeto de lei seja destacado para virar um novo projeto.
Lembrando que os casos mais comuns, as finalidades mais
comuns para u destaque, utilizados no cotidiano do processo
legislativo é a do destaque para votação em separado e um
pouco mais raro, o destaque para a constituição de propo-
sição autônoma. São muito raros hoje em dia, mas já foram
mais utilizados no passado, o destaque para aprovação di-
reta e o destaque para a rejeição direta.

Vamos falar agora um pouco sobre o instituto da prejudicia-


lidade no processo legislativo. A prejudicialidade é um fenô-
meno que acontece quando a matéria deixa de ser deliberada
pela casa do parlamento por algumas razões. Basicamente
são dois os motivos que levam à prejudicialidade de um proje-
to: ou o parlamento perdeu o timing, um momento oportuno
para votar aquela matéria. Ou então, a casa já votou aquele
assunto em uma outra oportunidade uma outra proposição
ou até na mesma proposição conforme veremos a seguir.

No caso da perda de oportunidade, isso ocorre quando havia


um prazo específico para que o parlamento decidisse sobre
a matéria e ele não o fez nesse prazo. Vamos supor, por
exemplo, que o parlamento precisasse aprovar a renovação
de um tratado internacional dentro de determinado prazo.
E se isso não ocorresse nesse prazo, o acordo internacional
do Brasil com esse país estaria desfeito. Se por algum moti-
vo parlamento não consegue votar neste prazo, ele perde a
oportunidade não poderá mais voltar. Depois o presidente

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Processo Legislativo Regimental
da república terá que renegociar os termos do acordo com
outro país.

Um outro exemplo de perda de oportunidade pode ser um


caso em que o parlamento esteja votando uma lei, um pro-
jeto de lei para que essa futura lei autorize um auxílio finan-
ceiro com recursos públicos às vítimas de uma catástrofe
natural, um terremoto, uma enchente ou alguma coisa desse
tipo, um desastre natural. E durante a tramitação do projeto
infelizmente as pessoas vêm a falecer. Nesse caso não há
mais necessidade do auxílio. Infelizmente porque o parla-
mento perdeu a oportunidade. Então a perda de oportuni-
dades refere isso: a perda do timing. Havia um prazo estabe-
lecido por algum motivo para votar o projeto e o Congresso
não conseguiu votar nesse momento. E e aí por causa disso,
a matéria fica prejudicada, ou seja, deixa de ser deliberada
porque o prazo que a casa tinha poder liberar já passou.

Um outro motivo de prejudicialidade e esse de mais frequen-


te ocorrência, é o pré-julgamento da casa sobre o mesmo
assunto. Isso pode acontecer, por exemplo, quando há dois
projetos de lei que tratam do mesmo assunto. Um projeto
de lei é aprovado pela casa e outro que tratava de matéria
quase idêntica, conexa ou semelhante deixa de ser votado
porque a casa já adotou uma solução jurídica no outro pro-
cesso. E o projeto pode ser igual ou até antagônico, o opos-
to. Se a casa resolve proibir a importação de determinada
mercadoria, um outro projeto que, por exemplo, permite,
estabelecia alíquota do imposto de importação, pode ser
declarado prejudicado porque já foi adotada uma solução
jurídica de proibir aquele tipo de importação.

Pode ocorrer também a prejudicialidade da matéria no âm-


bito de um mesmo projeto. Nós demos um exemplo quando
falamos da preferência de projeto, substitutivo, no mesmo
item da pauta. Imagine que um projeto de lei está na pauta

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Processo Legislativo Regimental
e sobre ele há um substitutivo, apresentado por comissão.
Pelas regras regimentais, o substitutivo tem precedência re-
gimental para ser votado antes do projeto original. Se a casa
aprova o texto do substitutivo, o projeto original não será
mais votado.

Ele fica prejudicado porque já houve um pré-julgamento da


matéria, ou seja, um julgamento anterior da matéria, sob a
forma do substitutivo. Da mesma maneira as emendas apre-
sentadas ao projeto podem ficar prejudicadas, se o projeto
original foi rejeitado. Imagine que um projeto vai ser vota-
do no plenário por partes. Primeiro vamos votar o texto do
projeto. E depois haverá uma votação para as emendas ao
projeto. Então uma vez aprovado o projeto, o plenário vota
agora as emendas que, se aprovado se reincorporam ao tex-
to, se incorporam ao texto. E se rejeitados ficam excluídas
definitivamente. No entanto, se por alguma razão o plenário
resolve rejeitar o projeto principal, as emendas que, são é
proposições acessórias ao projeto principal, elas ficam pre-
judicadas, ou seja, deixam de ser votadas.

A prejudicialidade não é automaticamente declarada. Ela


pode até ser, mas normalmente não é. Pode acontecer de
um projeto ser aprovado pelo plenário e depois mais tarde,
dias, semanas, até meses, a casa verificar que há um outro
projeto que trata de matéria que já foi liberada pela casa em
outro momento. Neste caso, se esse projeto for distribuído
a um relator de uma comissão, por exemplo, a conclusão do
relatório ali, o parecer que a comissão irá acatar pode ser
não pela aprovação, não pela rejeição, mas pela prejudicia-
lidade da matéria. Então a comissão opina pela prejudiciali-
dade a matéria de maneira que quando ela vá ao plenário,
o plenário corrobora esse parecer. Acata esse parecer e a
matéria então é declarada prejudicada.

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Uma matéria prejudicada, ela pode ou não sofrer o princípio
da irredutibilidade que é aquele princípio, que não permi-
te que a matéria seja repetida. Um projeto com o mesmo
assunto seja reapresentado na mesma sessão legislativa.
No caso de projeto de lei, a constituição diz que o proje-
to rejeitado não pode ser reapresentado na mesma sessão
legislativa, salvo iniciativa da maioria absoluta de qualquer
das casas, mas se ele foi prejudicado, não há impedimento
constitucional que ele seja reapresentado no mesmo ano. Já
com uma proposta de emenda à constituição, a constituição
expressamente disse que a PEC rejeitada, ou considerada
prejudicada, sofre o princípio da irrepetibilidade só pode ser
apresentada no ano seguinte. Inclusive nem com iniciativa de
mais da maioria absoluta da casa ela pode ser apresentada,
na mesma sessão legislativa. Inclusive a prejudicada.

Um outro incidente regimental, que acontece com alguma


frequência, nas casas são as questões de ordem e as recla-
mações. O que são questão de ordem e o que são reclama-
ções? São parecidos, mas vamos pontuar as diferenças.

A questão de ordem é qualquer dúvida sobre a interpretação


de dispositivo regimental. Considerando-se o regimento iso-
ladamente aplicado a determinado caso Concreto. Ou corre-
lacionado ao dispositivo constitucional. A questão de ordem
então pode ser uma dúvida na interpretação regimental do
regimento em si mesmo, ou do regimento, correlacionado
com a Constituição Federal. Caso em que a dúvida regimental
será também uma dúvida constitucional.

A questão de ordem ela pode ser formulada por qualquer


parlamentar durante os trabalhos da sessão na ordem do
dia. Ela deve se relacionar a um caso concreto que está sen-
do tratado naquele momento. O formulador, o requerente
da questão de ordem deve indicar qual é o dispositivo regi-
mental sobre o qual recai a dúvida interpretativa, de como

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Processo Legislativo Regimental
aplicar aquela regra regimental. E a questão de ordem não
pode tratar de tema especulativo, doutrinário. Tem que ser
realmente uma coisa prática, concreta daquela ocasião, re-
ferente à matéria da ocasião. É muito importante a indicação
do dispositivo regimental. De maneira que quando um par-
lamentar levanta para formular uma questão de ordem, ele
fala: “Presidente, por favor, uma questão de ordem. A primei-
ra pergunta que normalmente o presidente faz é: Excelência,
qual é o dispositivo regimental sobre o qual o senhor quer
um esclarecimento sobre a interpretação?

Normalmente o parlamentar tem cerca de cinco minutos


para formular sua questão de ordem e o regimento prevê
que um outro parlamentar pode fazer a chamada contradita
ou seja, o contraditório sobre a questão de ordem. Um par-
lamentar pode de repente alegar na sua questão de ordem,
o recorrente, o formulante, vamos dizer assim, que aquele
dispositivo regimental não se aplica àquele caso concreto.
Depois um outro parlamentar que entende diversamente
pode dar a contradita. Olha eu entendo que sim, que se apli-
ca a este caso por causa disso, disso, disso. A questão de or-
dem após ter sido formulada e após ter recebido a contradita
de outro parlamentar é decidida pelo presidente da sessão,
pelo presidente dos trabalhos.

A questão de ordem pode ser formulada em plenário, ou


então, numa reunião de comissão. Em qualquer caso, o
presidente é quem decide. Na comissão, o presidente da
comissão que está conduzindo os trabalhos da reunião. No
plenário, o presidente da sessão plenária. Normalmente é
o presidente da casa que conduz a sessão, ou então, o seu
substituto eventual, vice-presidente, por exemplo, responde
à questão de ordem naquele momento.

A questão de ordem, uma vez respondida pelo presidente,


pode sofrer recurso normalmente por parte de quem formu-

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Processo Legislativo Regimental
lou questão de ordem que Não ficou satisfeito com a solu-
ção regimental que foi dada pelo presidente. Neste caso, o
requerente recorre da decisão do presidente ao plenário e a
questão de ordem tem que ser submetida ao plenário. Se a
posição que o formulando e fez na questão de ordem deve ser
acatada ou não pela casa, o plenário é que costuma decidir.

Nos casos em que há recurso sobre a questão de ordem,


normalmente a Comissão de Constituição e Justiça pode ser
ouvida e dar um parecer sobre esse recurso, posicionando-
se aquela questão de ordem procede ou não. Ou seja, se o
pedido, o entendimento formulado pelo autor da questão
de ordem deve ou não ser acatado pela casa. No caso do
Senado Federal, a previsão de oitiva da Comissão de Consti-
tuição e Justiça é adotada, quando a questão envolvida en-
volve também um dispositivo constitucional. Já na Câmara
dos Deputados é possível motivo da CCJ mesmo que se trata
de questão de ordem puramente regimental.

Falamos então das questões de ordem. O que seriam então


as reclamações? As reclamações são queixas que o parla-
mentar faz ao plenário ao presidente para o correto anda-
mento dos trabalhos. A diferença em relação à questão de
ordem é que esta, a questão de ordem, envolve o esclareci-
mento sobre a interpretação de um dispositivo regimental,
a uma dúvida sobre a correta interpretação do dispositivo.
Já na reclamação, o parlamentar que faz a queixa não tem
dúvida. Ele estava apenas está arguindo que se cumpra a
regra regimental, que não está sendo aplicada por algum
motivo aos trabalhos. Então ele reclama do andamento dos
trabalhos. Para isso ele faz essa reclamação. Questões de
ordem e reclamações são também incidentes legislativos.
Incidentes processuais e regimentais que são muito utiliza-
dos durante o processo legislativo.

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Vamos então chamar nossa terceira questão do QUIZ para
fixar os conhecimentos.

QUIZ

Assinale a alternativa correta sobre as questões de ordem.

A. Considera-se questão de ordem a dúvida sobre interpre-


tação do Regimento Interno não relacionada com a Consti-
tuição Federal.
B. A questão de ordem deve ser objetiva, indicar o dispositivo
em que se baseia e referir-se à matéria tratada na ocasião,
podendo também versar sobre tese doutrinária ou
especulativa.
C. A questão de ordem decidida pelo presidente, com recurso
ao plenário.
D. Não a contradita nem audiência da CCJ em questão de
ordem.

Resposta: Letra “C”

Vamos ver o porquê.


A questão de ordem é decidida pelo presidente com recurso
ao plenário. Isso é o que dizem os regimentos das casas.
Uma vez formulada e contraditada por outro parlamentar, o
presidente então decide a questão de ordem e se o formu-
lador, o autor da questão de ordem não ficar satisfeito, ele
pode recorrer ao plenário. O plenário então decidirá uma vo-
tação colegiada, se o posicionamento interpretativo sugerido
pelo autor da questão de ordem deve ser acatado, ou não,
pela casa. Uma coisa que pode ser falado sobre questões de
ordem é que elas, uma vez decididas tornam-se preceden-
tes, precedentes interpretativos que podem ser invocados

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em outras ocasiões, na votação de matérias. E elas podem
inclusive ser consagradas pelo entendimento da casa. Serem
futuramente incorporadas como regras escritas no Regimen-
to Interno, quando este for reformado, for alterado por uma
nova resolução da casa.

Vamos ver o erro das outras.


Na letra A, considera-se questão de ordem a dúvida sobre
interpretação do Regimento Interno, não relacionada com
a Constituição Federal. Essa questão está errada, a letra A,
porque a dúvida pode ser puramente regimental ou pode
ser uma dúvida relacionada a um dispositivo da Constituição
Federal, certo?

Por exemplo, nós temos hoje que os vetos em sessões con-


juntas do Congresso Nacional são deliberados pelo voto
aberto, nominal de todos os parlamentares. Então conhece-
se a posição de cada parlamentar na votação do veto. Se ele
votou sim ou não. No entanto, o regimento interno precisa
ser atualizado, o Regimento Comum do Congresso precisa
ser atualizado para que contemple o voto aberto porque
antes de 2013 votará secreto. Se de repente um parlamentar
quiser arguir uma interpretação desse dispositivo, ele vai
estar relacionado à Constituição. Olha aqui tá dizendo que
é fechado, mas na Constituição diz que o voto aberto. En-
tão como deve ser interpretado? Então a questão de ordem
pode ser também uma dúvida regimental de interpretação
relacionada a um dispositivo de Constituição Federal.

A lera B também está errada porque realmente a questão de


ordem deve ser objetiva, deve indicar o dispositivo em que
se baseia. É o pré-requisito e referência na matéria tratada
na ocasião, podendo também versar sobre tese doutrinário
especulativa. Este final é que está errado. Não pode versar
sobre tese doutrinária especulativa. Tem que ser realmen-
te um caso concreto de matéria tratada na ocasião. Aliás é

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importante lembrar que uma vez decidida uma questão de
ordem, nenhum parlamentar pode continuar discutindo so-
bre ela na mesma sessão. Em uma outra sessão num outro
dia, ele pode até tentar formular a questão de ordem nova-
mente para conseguir um aperfeiçoamento da interpretação,
mas não naquela sessão em que a questão de ordem já foi
decidida pelo presidente. E realmente porque se tratava de
um caso concreto daquela sessão.

E a letra D está errada porque há previsão de contradita


por um outro parlamentar sobre a questão de ordem pelo
mesmo prazo, que foi concedido ao autor da questão de
ordem, normalmente é de cinco minutos para cada um. E
há previsão também de audiência da CCJ, caso o autor da
questão de ordem formule um recurso ao plenário contra o
entendimento, contra a resposta que o presidente deu sobre
a questão de ordem formulada. Então o gabarito realmente
é a letra C.

Vamos falar agora do incidente legislativo que acontece que


é referente às proposições de legislaturas anteriores. Uma
legislatura dura quatro anos. É o mandato de um deputado.
O senador tem mandato de oito anos. Nós costumamos fa-
lar que o mandato do senador é de duas legislaturas. Então
ao final da legislatura, os regimentos preveem que todas
as proposições que estão em trâmite são arquivadas por-
que não foram aprovadas naquela legislatura. A doutrina
diz que esse é o princípio da unidade da legislatura, em que
cada Congresso Nacional, cada casa o Senado e a Câmara
compõe uma legislatura a cada quatro anos. E de maneira
que iniciada uma nova legislatura é como se fosse um novo
Congresso Nacional. Ainda que se tratem de parlamentares
reeleitos, mas é um novo Congresso. É o princípio da unidade
da legislatura.

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Essa regra de proposições de legislaturas anteriores são ar-
quivadas ao final da legislatura cntem algumas exceções prin-
cipalmente no Senado Federal. No Senado, como o mandato
de um Senador é de oito anos, em que ele pode ultrapassar
de uma legislatura para outa, há exceções ao arquivamento
de matérias ao final da Legislatura. Por exemplo, quando se
trata de um projeto de autoria de um senador, que continua no
exercício do mandato. Não haveria lógica em arquivar um pro-
jeto de um autor que ainda está na continuidade do mandato?

Também há exceção para arquivamento de proposições ao


fim da legislatura no Senado, quando se trata de matéria
que já tem parecer favorável de comissão; quando se trata
de proposição, que é oriunda da Câmara e está agora no
Senado. Quando se trata de proposição referente a decreto
legislativo ou a resolução. São exceções ao princípio geral de
que as matérias são arquivadas ao final da legislatura.

Já na Câmara essa regra é mais rigorosa. Não há Exceções. Ao


final da legislatura as proposições são arquivadas. E aí quando
uma proposição é arquivada, no início da legislatura seguinte,
em fevereiro, o autor pode solicitar o desarquivamento da sua
proposição para que ela continue tramitando. Na Câmara,
embora haja um maior rigor de todas as proposições serão
arquivadas, é possível a cada legislatura solicitar o desarqui-
vamento da proposição para que ela continue tramitando.

Já no Senado Federal, embora haja várias exceções a que a


proposição seja arquivada, de maneira que ela pode continu-
ar tramitando, para aquelas que são arquivadas, é possível
pedir o desarquivamento apenas duas vezes. Uma primeira
vez na legislatura seguinte e uma segunda vez na outra le-
gislatura seguinte. Se após isso não foi lá não foi aprovada,
ela é definitivamente arquivada.

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Agora vejam. O fato de uma proposição ser arquivada não
impede que ela seja reapresentada como um novo proje-
to com uma nova numeração. Não há impedimento, mas a
desvantagem disso é que muitas vezes aquela proposição já
estava num estágio adiantado de tramitação, por exemplo,
já tinha passado pela fase de comissões, já estava só pen-
dente de deliberação em plenário, e aí a legislatura acaba
e ela termina arquivada. Depois se uma nova proposição
com o mesmo assunto é apresentada, trata se de uma nova
proposição. Ela tem que reiniciar novamente o seu caminho
pelas comissões até chegar ao plenário. No entanto, se ela
pode ser desarquivada, trata se da mesma proposição, que já
passou pelas comissões e pode ser agora desde logo votada
pelo plenário.

Isso inclusive pode ser até mais grave, se uma proposição já


passou por uma casa e agora já está na revisão. Está num
processo bem adiantado. Se ela é arquivada, um novo projeto
é apresentado, tem que começar tudo de novo e passar pelas
duas casas para finalmente conseguir chegar à sua aprovação.

Então esse é o incidente regimental, referente a arquivamen-


to de proposições de legislaturas anteriores e o consequente
requerimento de desarquivamento por aquele parlamentar
que tem interesse em que a matéria não fique arquivada e
continue tramitando, embora tenha virado de uma legisla-
tura para outra.

Então nessa aula, nós vimos diversos incidentes processuais


e regimentais, que podem acontecer durante o processo le-
gislativo: o requerimento de tramitação conjunta; o pedido
de retirada de proposições, que deixam de tramitar; o pe-
dido de vista nas comissões; o requerimento de destaque,
normalmente para votação em separado.

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Vimos também que é possível pedir o desarquivamento de pro-
posições arquivadas ao final da legislatura. É possível formular
questões de ordem e reclamações e outros incidentes regimen-
tais que podem acontecer ao longo do processo legislativo.

E com isso nós encerramos essa nossa quinta aula em que fala-
mos em Processo Legislativo Regimental, abordando o Proces-
so Legislativo na Constituição, as regras regimentais na Câmara
dos Deputados, as regras regimentais no Senado Federal.

Falamos das regras regimentais das medidas provisórias en-


cerramos esta aula deste curso com os principais incidentes
processuais legislativos no Congresso Nacional. Espero que
tenham gostado e muito obrigado.

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