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MEMORIA FREUD

CARTA 52 (6/12/1896) – Vol I

“Trabalho com a hipótese que nosso mecanismo psíquico foi gerado por estratificações sucessivas, pois de
tempos em tempo o material preexistente de sequelas mnêmicas experimenta um reordenamento
segundo novos nexos, uma retranscrição ( Umschrift). O essencialmente novo em minha teoria é, então , a
tese de que a memória não preexiste de maneira simples, senão múltipla, está registrada em diversas
variedades de signos.”(p.274) Existem pelo menos três dessas transcrições.

Esquema:

I II III

P Ps Ic Pcs Cc

X X ----- X X -------- X X ----- X X ------- X X

X X X X X X X

Percepções – Sinais de percepções ---- Inconsciência ---Preconsciência ----Consciência

Percepções – são neurônios de onde se geram as percepções as quais se liga a Cs, porém em si não
conserva traço algum do acontecido. “É que Cs e memória se excluem entre si.”(p.275)

Sinais de percepções: é a primeira transcrição das percepções, insusceptível de consciência e articulada


segundo uma associação por simultaneidade.

Inconsciência: “é a segunda transcrição, ordenada segundo outros nexos, talvez causais. Os traços Ics talvez
correspondas a recordações de conceitos, de igual modo inacessíveis à Cs.”

Preconsciência: “é a terceira retranscrição, ligada à representações- palavra, correspondente a nosso Eu


oficial. Desde o Pcs, os investimentos se tornam conscientes de acordo com certas regras, e por certo que
esta consciência-pensar secundaria é em efeito posterior (nachträglich) na ordem do tempo,
provavelmente ligada à reanimação alucinatória da representação-palavra, de modo que os neuronios-
consciência seriam tb neurônios percepção e em si careceriam de memória.” (p.275)

“As transcrições que se seguem umas as outras constituem a operação psíquica de épocas sucessivas da
vida. Na fronteira entre duas dessas épocas tem que produzir-se a tradução para certos materiais, o que
tem algumas consequências. Estabelecemos com base firme a tendência para o nivelamento quantitativo”
(qualitativo?)” Cada reescritura posterior inibe a anterior e desvia dela o processo excitatório. Toda vez que
a reescritura posterior falta, a excitação é tramitada segundo leis psicológicas que valiam para o preríodo
psíquico anterior, e pelos caminhos que então se dispunham. Subsistirá assim um anacronismo...”

“ A denegação (Versagung) é o que clinicamente se chama repressão. O motivo dela é sp o desprendimento


do desprz que se geraria por uma tradução, como se este despz convocasse uma perturbação do pensar
que não consentiu o trabalho de tradução.”(p.276)

“Dentro da mesma fase psíquica, e entre transcrições da mesma variedade se põe em vigencia uma defesa
normal por causa de um desenvolvimento de desprz; e , em troca, uma defesa patológica só existe contra
um traço de memória não traduzido de uma fase anterior.

Que a defesa termine em uma repressão não pode depender da magnitude do desprendimento de despz.
Em efeito, frequentemente nos empenhamos em vão contra umas recordações de máximo despz. Então,
nos oferece a seguinte figuração. Se um evento A despertou certo despz quando era atual, a transcrição-
recordação A1 ou AII contem um meio para inibir o desprendimento de desprz no caso de re-despertar.
Quanto mais frequentemente se recorda, tanto mais inibido terminará por ficar esse desprendimento”
(veja o domínio das recordações no Projeto p. 428 e seg.). “Agora, tem um caso para o qual a inibição não
basta: Se A, quando era atual, desprendeu certo desprazer, e ao despertar desprende um desprazer novo,
então não é inibível. A recordação se comporta em tal caso como atual. E isso só é possível em eventos
sexuais, pq a magnitude de excitação que eles desprendem cresce por si só com o tempo( com o
desenvolvimento sexual).”

“A condição da defesa patológica (repressão) é então, a natureza sexual do evento e as ocorrência dentro
de uma fase anterior. “

“Nem todas as vivencias sexuais produzem despz;em sua maioria produzem pz. A reprodução da maioria
delas irá então conectada com um pz não inibivel. Um pz assim, não inibível, constitui uma compulsão...
Quando uma vivencia sexual é recordada com diferença da fase, à raiz de uma produção de pz se gera uma
compulsão, à raiz de uma produção de despz se gera repressão.” Em ambos os casos a tradução dos sinais
está inibido.(?)” (p.277)

FALARÁ de 3 grupos de psiconeuroses sexuais, cujas recordações reprimidas se dariam em diferentes


idades: Histeria: de um ano e meio a quatro. Neurose obsessiva: de quatro a oito. Paranoia de oito a
quatorze. Obs que até os quatro não haveria repressão alguma.

Ps Ps + Ic Ps + Ic + Prc Ps + Ic + Prc

Ate 4 Ate 8 Até 14

Hist atual compulsão reprimido em Ps

N. Obs atual reprimido em sinais Ic

Paranoia atual reprimido em sinais Prc

Perversão atual atual compulsão atual Repressão impossível ou

não tentada.

A perversão é consequência de vivencias sexuais prematuras, parece que a defesa não compareceu antes
que o aparelho psíquico tivesse se completado. Tenho que dizer pq umas vivencias sexuais, enqto atuais
produziram prazer, recordadas com diferença de fase produzem despz em algumas pessoas e em outras
persistem como compulsão. E claro que esse pz produziu depois um desprz.

Segue com a teoria da periodicidade (28 dias) de Fliess e as questões da bissexualidade.

Fala da histeria como perversão desautorizada.

Por trás disso a ideia de zonas erógenas resignadas. Na infância, localizada em múltiplos lugares do corpo.
Depois, com o progresso da cultura e desenvolvimento moral, sofrem diferenciação e limitação. Sobrevêm
angustia.
PROJETO DE PSICOLOGIA (1895)

3- ) As barrreiras-contato

OBS : incompatibilidade entre percepção e memória:

Breuer Estudos sobre histeria 1895 II p.200-1.

Carta 52 1896 I p.275.

Projeto de Psicologia 1895 I p.346-6

Interpret. Sonhos 1900 cap VII B – V p.532.

Mais além pr. Prz. 1920 XVIII p.25.

Notas sobre o bloco mágico 1925 XIX p.244.

Sobre a teoria dos neurônios e a condução dos estímulos, Freud supõe a teoria das barreiras-contato: “
uma propriedade orientadora do tecido nervoso é a memória, ou seja, em termos gerais, a aptidão para ser
alterado duradouramente por um processo único, o qual se opõe ao procedimento de uma matéria que
deixa passar um movimento de onda, atrás do qual regressa ao seu estado anterior. Qualquer teoria
psicológica meritória tem que dar uma explicação para a memória. Mas, toda explicação dessa índole se
choca com a dificuldade de ter que supor, por um lado, que depois das excitações os neurônios seriam
duradouramente diferentes do que eram antes, e por outro lado, é impossível não admitir que as
excitações novas tropeçam, em geral, com idênticas condições de recepção que as anteriores. Ou seja, os
neurônios ficariam influenciados e , ao mesmo tempo inalterados, imparciais. Não podemos imaginar
facilmente um aparelho capaz desta complicada operação; então, o expediente reside em que atribuamos
a uma classe de neurônios ser influenciado duradouramente pela excitação, e a outra classe a
inalterabilidade frente a ela, ou seja, o frescor para excitações novas. Assim se geraria a separação entre
células de percepção e células de recordação, separação correntes porém que não tinha sido articulada em
nenhuma proposta.”(tradução livre p.343).

Se a teoria das barreiras de contato adota esse expediente é pq existem dois tipos de neurônios. Os que
deixam passar as Quantidades(Qn`) como se não tivessem nenhuma barreira de contato, e que ficam no
mesmo estado de antes e, em segundo lugar, os cuja barreira de contato se fazem valer de modo tal que
Qn` só com dificuldade ou só parcialmente pode passar por elas. Estas, depois de cd excitação ficam em um
estado outro que antes, e assim, dão por resultado a possibilidade de constituir a memória.

Assim existem neurônios passadores que não operam nenhuma resistência e não retem nada, que servem
a percepção, e neurônios não passadores, dotados de resistência e retentores de Qn`, que são portadores
de memória e provavelmente tb dos processos psíquicos em geral. Chamarei φ (Fi) ao primeiro e Ψ ao
segundo. Para que os neurônios Ψ caracterizem a memória, o argumento é que são alterados
duradouramente pelo decurso excitatório. Suas barreiras-contato caem em um estado de alteração
permanente. E, como a experiência psicológica mostra que existe um aprender-sobre com base na
memória, esta alteração tem que consistir em que as barreiras-contato se tornam mais susceptíveis de
condução, menos impermeáveis e por isso, mais semelhantes as do sistema φ . Designamos este estado das
barreiras-contato como grau de facilitação (Bahnung). “A memória está constituida pelas facilitações
existentes entre os neurônios Ψ.”
“Suponhamos que todas as barreiras-contato Ψ estivessem igualmente bem facilitadas ou, o que é o
mesmo, oferecessem a mesma resistencia; então é evidente que não resultaria nas características da
memória.” Em efeito, a memória evidentemente está, em relação com o decurso excitatório, um dos
poderes comandantes, que sinalizam o caminho, uma facilitação igual em todas partes não indicaria
preleção por um caminho. “ A memória está constituída pelas distinções dentro das facilitações entre os
neuronios Ψ.

“Agora, do que depende as facilitações dos neurônios Ψ? Segundo a experiência psicológica, a memória (o
poder de uma vivencia para seguir produzindo efeitos) depende de um fator que se designa “magnitude da
impressão”, e da frequência com que essa mesma impressão se tem repetido...A facilitação depende da
Qn´ que dentro do processo excitatório corre através dos neuronios, e do numero de repetições do
processo.” Nas Qn´ aparece como fator eficaz, a quantidade. E na facilitação, como um resultado de Qn` e
ao mesmo tempo como aquilo que pode substituir a Qn`. “As facilitações servem à função primária.”(p.345)

A memória terá tudo a ver com teoria das barreiras-contato: é preciso atribuir aos neuronios Ψ vários
caminhos de conexão com outros neurônios, portanto, várias barreiras-contato.Nisto se assenta a
possibilidade da seleção que é determinada pela facilitação. O estado de facilitação de uma é independente
do de outras. É a facilitação presente em certas barreira-contato que se conserva como sequela. Assim a
facilitação não tem seu fundamento em um investimento retentivo.

Mas em que consiste a facilitação? Na absorção de Qn`pelas barreiras-contato? A Qn´ cuja sequela foi a
facilitação é descarregada, justamente em virtude disso que aumento o caráter de permeabilidade. É
possível que fique uma facilitação duradoura.

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SOBRE O PROJETO

(GARCIA ROZA, Freud e o Ics, Zahar 1983, p. 46-54)

No Projeto o aparelho psíquico aparece segundo o referencial termo-dinamico. Nem mecânico, nem
anatômico. Trata-se de uma formulação metapsicológica.

O AP. psíquico é explicado a partir de duas hipóteses: 1) existe uma quantidade Q que distingue a atividade
do repousa das partículas materiais 2) a identificação dessas partículas materiais com os neurônios. O
principio de regulação é o Principio de Inercia Neuronica, no qual os neurônios tendem a descarregar Q.

Os neurônios são investidos de uma Q da qual tendem a ser ver livres. Haveriam dois tipos de Q. 1)
Quantidade de excitação referida à estimulação sensorial externa Q; 20 quantidade de excitação ligada à
ordem interna Qn`

Trata-se dos neurônios carregados de Q Besetzung –catexia, investimento.

“ É a maneira como Q circula no sistema de enuronios, passando de um para outro e tomando os vários
caminhos possíveis atavés das múltiplas bifurcações neuronais, que vai caracterizar o ponto de vista
econômico em Freud” A economia é regulada por dois princípios: Principio de inércia e principio de
Constancia. (GARCIA ROZA, Freud e o Ics, Zahar 1983, p. 48)

Os neurônios tendem a se desfazer de Q : modelo do arco reflexo – a Q recebida pelo polo perceptivo deve
ser descarregada na extremidade motora. Essa descarga regulada pelo Pr. De Inercia representa a função
primordial do sistema nervoso, sendo que a essa função primordial soma-se uma outra secundária,
segundo a qual o sistema neurônico procura não apenas livrar-se de Q, mas conservar aquelas vias de
escoamento que o possibilitam manter-se afastado das fontes de excitação. Portanto alem da função de
descarga há tb a de fuga do estimulo. ISSO NÃO SERIA UMA FUNÇAO PRIMORDIAL DA MEMORIA? A DITA
PERDA DA EXPONTANEIDADE.

Mas o princ. De inércia não atua só. Há a função tb presente no psiquismo de evitar o livre escoamento da
energia. O Sistema Nervoso percebe não apenas os estímulos vindos do exterior, mas tb os de natureza
endógena, como provenientes do pp organismo: fome, respiração, sexualidade.... Estes, não podem ser
evitados.. Desaparecem só mediante ação específica, e é preciso energia para satisfazer essas exigências. É
preciso tolerar um acumulo de Q para essa finalidade.Assim a tendência de Q não pode ser zero, tem que
haver uma cota de Q que deverá ser mantida o mais baixo possível. Aparece a lei da Constancia, que
aparecerá de suma importância no texto Mais Alem do Pr. Prz.

A memória neurônica constituída pelo acumulo de Q é possibilitada pelo que Freud denomina barreira-
contato. As barreiras de contato são resistências localizadas nos pontos de contato entre os neurônios,
impedindo a passagem da energia que deveria ser escoada. Assim há neurônios permeáveis (deixam passar
Q, não oferecem resistência, servem à percepção, chamados neurônios φ) e neurônios impermeáveis (não
deixam passar Q, dotados de resistência, retentivos de Q e portadores de MEMORIA, chamados Ψ. Sua
impermeabilidade porem, não é total.)

Em função dessa passagem parcial de excitação que Freud elaborou a noção de facilitação (Bahnung) –
passagem parcial de Q pelas barreiras de contato, ficando essas barreiras alteradas, marcadas. Sua
resistência fica diminuída de tal modo que daí por diante a excitação tende a percorrer o mesmo caminho
através do qual houve uma facilitação, isto é , uma menor resistência das barreiras. É essa maior ou menor
facilitação que vai caracterizar a memória neurônica, existente apenas entre os neurônios Ψ. O grau de
facilitação depende da maior ou menor Q com o qual o neurônio tem que se defrontar.

A função primordial dos dois sistemas é manter afastadas as grandes Q externas. Evitar a dor ou o
desprazer resultante do acumulo de Q no sistema formado pelos neurônios Ψ. Prazer está aí identificado à
descarga de Q.

Td que foi dito até agora se refere ao nível Ics de funcionamento e foi visto do pto de vista quantitativo.
Mas é preciso saber onde se originam as diferenças qualitativas que a cs percebe em relação à realidade.
Então Freud postula um terceiro tipo de neurônio responsável pela qualidade: os neurônios ω (Ômega).
Eles são excitados junto com a percepçao e são responsáveis pelas sensações conscientes. Tem de ser
inteiramente permeáveis, como os φ, já que como veículos da cs, implicam a mutabilidade do seu
conteúdo, na transitoriedade que caracteriza os fatos da cs, na fácil e rápida combinação de qualidades
simultaneamente percebidas, etc. Isso só é possível com um sistema de neurônios possuidores de completa
permeabilidade, possibilitando o seu retorno ao estado anterior. Nesses neurônios não há lugar para
memória, eles se comportam como órgãos da percepção. (p.52)

A permeabilidade dos neurônios foi atribuída a uma maior quantidade de Q que, ao contato com o
estimulo externo, não podia formar barreira de contato.(φ) Os neurônios Ψ, alimentados diretamente por
fonte endógena e apenas indiretamente pela exógena estão expostos a uma menor quantidade de Q,
podendo, em decorrência disso formar barreiras de contato. Agora Freud “fala de um tipo de neurônio que
não é alimentado diretamente nem por fonte exógena, nem endógena, mas retira toda sua energia dos
neurônios Ψ, e que, no entanto são permeáveis, isto é, não formam barreiras de contato e não tem
memória.” (p.52) Seria lógico que por sua Q ser mais fraca eles constituíssem barreiras mais fortes e
numerosa, no entanto, são absolutamente permeáveis pq funcionam como órgãos de percepção, o que
implica total fluidez.

No Projeto essa questão será resolvida com a introdução da temporalidade ou periodicidade nos neurônios
ω. Eles não são capazes de receber Q, o que eles recebem é uma temporalidade, ou um período de
excitação que lhes possibilita uma carga mínima de Q necessária para a cs. (carta Fliess 1/1/1896) Nela
corrige o esquema anterior dizendo que os neurônios se afetam mutuamente transferindo Q entre si, ou
transferindo qualidade ente si, ou ainda exercendo uma forma de excitação recíproca. É essa possibilidade
de excitação recíproca que não implica um acúmulo de carga energética, que vai ter a ver com o
funcionamento de ω. A resistência oferecida pelas barreiras de contato só se aplica à transferência de Q,
mas não a essa excitação recíproca.Os ω embora não recebam Q assumem o período de excitação
decorrente de sua articulação com os neurônios Ψ. Qdo há um aumento de Q em Ψ, aumenta o
investimento em ω, e vice versa. Esses neurônios não necessitam de descarga, seu nível de investimento
aumenta e diminui pela excitação recíproca que mantém com Ψ.

É ao tratar desses neurônios ω que Freud introduz a questão do prazer-desprazer.Essas sensações


constituem o conteúdo da cs. Pz e dpz são sensações “correspondentes à própria catexia de ω, ao seu pp
nível, e aqui, ω e Ψ funcionariam, por assim dizer, como vasos comunicantes.” (p.54)

Os resíduos das exp. de satisfação e de dor vão constituir os afetos e os estados de desejos.(idem)
INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS FREUD

CAP.VII

b)regressão:

O processo psíquico transcorre da percepção à motilidade.

P M

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