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Figura 1. Diagrama esquemático das interrelações dos fatores envolvidos em epidemias de doenças de
plantas [adaptado de Agrios (1997)].
excelente alternativa, pois apresenta bons níveis de relativa resistência no início do estádio adulto e
resistência às duas doenças. depois suscetibilidade após a maturação.
do que aqueles que se reproduzem dentro da reduzem o números de vetores sobreviventes, bem
planta (ex: fungos e bactérias que infectam o como baixas temperaturas reduzem a atividade dos
sistema vascular, fitoplasmas, vírus e protozoários) mesmos durante a estação de cultivo.
ou que necessitam de vetores para a sua O efeito mais comum da temperatura em
disseminação. epidemias, no entanto, é sobre o patógeno durante
as fases de germinação de esporos, eclosão de
nematóides, penetração no hospedeiro,
3.3. Fatores do Ambiente crescimento ou reprodução, colonização e
esporulação. Quando a temperatura permanece
A maioria das doenças de plantas ocorrem em favorável durante estas fases, os patógenos
áreas onde o hospedeiro é cultivado, mas policíclicos completam o ciclo da doença em menos
normalmente não ocorrem epidemias severas e tempo, resultando em mais ciclos durante a
freqüentes. A presença numa mesma área de estação de cultivo.
plantas suscetíveis e patógenos virulentos nem No solo, baixas temperaturas reduzem a
sempre garantem numerosas infecções e, muito absorção de nutrientes e, conseqüentemente, a
menos, o desenvolvimento de uma epidemia. Esse planta permanece subdesenvolvida, facilitando a
fato reforça a influência do ambiente no ação de patógenos, principalmente dos causadores
desenvolvimento de epidemias. O ambiente pode de tombamentos.
afetar a disponibilidade, estádio de crescimento e
suscetibilidade genética do hospedeiro. Pode • Luminosidade
também afetar a sobrevivência, a taxa de
multiplicação, a esporulação, a distância de A qualidade e quantidade de luz disponível ao
disseminação do patógeno, a taxa de germinação hospedeiro afeta a fotossíntese e,
dos esporos e a penetração. Adicionalmente, o conseqüentemente, as reservas nutritivas,
ambiente pode também afetar o número e a afetando também a sua reação a uma determinada
atividade de vetores do patógeno. As variáveis doença.
ambientais que mais afetam o desenvolvimento de
epidemias de doenças de plantas são a umidade e • pH
a temperatura.
O pH influencia tanto as plantas como os
• Umidade patógenos. Se um pH desfavorecer a planta, poderá
favorecer o patógeno. Em geral, os fungos
Umidade abundante, prolongada ou freqüente, desenvolvem-se bem numa faixa de pH entre 4.5 a
seja na forma de orvalho, chuva ou mesmo 6.5, enquanto bactérias preferem de 6.0 a 8.0.
umidade relativa é fator predominante no
desenvolvimento da maioria das epidemias • Fertilidade do solo
causadas por fungos, bactérias e nematóides, pois
facilita a reprodução e a disseminação da maioria A nutrição mineral das plantas, governada pela
dos patógenos. Em alguns casos, no entanto, disponibilidade de nutrientes no solo, tem sido um
fitopatógenos habitantes do solo, como Fusarium e dos fatores mais estudados com relação à
Streptomyces, são mais severos em climas secos. suscetibilidade e resistência de plantas a doenças.
Tais doenças raramente se transformam em Certos patógenos infectam mais severamente
grandes epidemias. Epidemias causadas por vírus plantas subnutridas e outros preferem plantas
e fitoplasmas são apenas indiretamente afetadas vigorosas. De um modo geral, elevados teores de
pela umidade, no que se refere ao efeito sobre a Nitrogênio tendem a aumentar a suscetibilidade,
atividade do vetor. Tal atividade pode ser enquanto altas concentrações de Potássio reduzem
aumentada, como acontece com fungos e a suscetibilidade. Com respeito ao Fósforo,
nematóides que são vetores de certos vírus, ou nenhuma generalização pode ser feita.
reduzida em tempo chuvoso, como é o caso de
insetos vetores de vírus e fitoplasmas. Alta
umidade do solo é importante para certos fungos 3.4. Fatores do Homem
como Phytophthora e Pythium.
Muitas atividades humanas têm um efeito
• Temperatura direto ou indireto nas epidemias de doenças de
plantas, algumas favorecem e outras reduzem a
Epidemias são em geral favorecidas por freqüência e a taxa da epidemia.
temperaturas mais altas ou mais baixas que a
faixa ótima de temperatura para a planta, pois • Seleção e preparo do local de plantio
reduzem o nível de resistência do hospedeiro.
Estas plantas tornam-se fracas e predispostas à Campos mal drenados e, consequentemente,
doença, uma vez que o patógeno permanece com aeração do solo deficiente, especialmente se
vigoroso e mais forte que o hospedeiro. próximos a outros campos infestados, tendem a
Temperaturas também reduzem a quantidade de favorecer o aparecimento e desenvolvimento de
inóculo de fungos, bactérias e nematóides que epidemias. Além disso, o histórico da área
sobrevivem a invernos rigorosos, ou de vírus e selecionada para o plantio em relação à ocorrência
fitoplasmas que sobrevivem a verões muitos de doenças é fundamental, pois poderá evitar o
quentes. Adicionalmente, invernos muito frios
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• Práticas culturais
4.1. Métodos Diretos de Avaliação de
Monocultura contínua, grandes áreas Doenças
plantadas com uma mesma variedade, altos níveis
de fertilização nitrogenada, manutenção de restos Entre os métodos diretos de avaliação de
culturais no campo, plantio adensado, irrigação doenças encontram-se as estimativas da incidência
excessiva e injúrias pela aplicação de herbicidas, e da severidade, e as técnicas de sensoriamento
dentre outras práticas inadequadas, aumentam a remoto, utilizadas na quantificação de doenças em
possibilidade e a severidade de epidemias. áreas extensas.
Práticas culturais como rotação de culturas e
medidas sanitárias, uso de variedades resistentes,
pulverizações com produtos químicos e outras 4.1.1. Quantificação da Incidência
medidas de controle, reduzem ou eliminam a
possibilidade de uma epidemia. Algumas vezes, A variável incidência é a de maior simplicidade,
entretanto, certas medidas de controle, como o uso precisão e facilidade de obtenção. A contagem do
de determinado produto químico ou o plantio de número de plantas de tomateiro com murcha
determinada variedade, pode levar à seleção de bacteriana, do número de frutos de manga com
isolados virulentos do patógeno que são resistentes antracnose e do número de plantas de milho com
aos químicos ou podem atacar a resistência da carvão fornece uma idéia clara da intensidade de
variedade, levando a epidemias severas. cada doença, sem nenhuma subjetividade. Esses
valores podem ser expressos em porcentagem ou
• Introdução de novos patógenos através de outros índices.
Muitas vezes a avaliação da doença baseada na
A facilidade e a freqüência de viagens ao redor incidência fornece dados alarmantes e não reflete a
do mundo têm aumentado o movimento de intensidade real da doença no campo, pois leva em
sementes, tubérculos, estacas e outros materiais. consideração somente a presença do sintoma e não
Esses eventos aumentam a possibilidade de a intensidade deste. Além disso, do ponto de vista
introdução de patógenos em áreas onde o da quantificação de danos, a utilização da
hospedeiro não teve chance de evoluir para incidência está sujeita a algumas limitações, uma
resistência a estes patógenos, o que resulta vez que só pode ser usada para aquelas doenças
freqüentemente em epidemias severas. que atacam a planta todo, como as viroses
sistêmicas e as murchas vasculares, ou para
aquelas em que uma única infecção é suficiente
para impedir a comercialização do produto, como
4. QUANTIFICAÇÃO DE DOENÇAS as podridões de frutos.
Figura 3. Escala diagramática para quantificação da mancha parda da mandioca, causada por
Cercosporidium henningsii, indicando níveis de 1, 2, 4, 8, 16 e 32% de severidade da doença
[segundo Michereff et al. (1999)].
Exemplo: Em experimento sobre o progresso de determinada doença foliar, a severidade da foi estimada
com o auxílio de uma escala diagramática de 0 a 6, onde: 0 = sem sintomas; 1 = menos que 1%
de área foliar lesionada; 2 = 1 a 5%; 3 = 6 a 15%; 4 = 16 a 33%; 5 = 34 a 50%; 6 = 51 a 100%.
Considerando que foram avaliadas 12 (doze) folhas por planta, quais os índices de infecção (INF),
conforme Mckinney, das 5 (cinco) plantas abaixo?
Planta 1: INF = [(0x1) + (1x3) + (2x3) + (3x2) + (4x1) + (5x2) + (6x0)] x 100 / (12 x 6) = 40,28
Planta 2: INF = [(0x1) + (1x2) + (2x1) + (3x1) + (4x4) + (5x2) + (6x1)] x 100 / (12 x 6) = 54,17
Planta 3: INF = [(0x5) + (1x0) + (2x2) + (3x0) + (4x1) + (5x2) + (6x2)] x 100 / (12 x 6) = 41,67
Planta 4: INF = [(0x4) + (1x1) + (2x2) + (3x3) + (4x0) + (5x1) + (6x1)] x 100 / (12 x 6) = 34,72
Planta 5: INF = [(0x5) + (1x1) + (2x3) + (3x1) + (4x0) + (5x1) + (6x1)] x 100 / (12 x 6) = 29,17
25 100
A B
20 80
Severidade (%)
Incidência (%)
15 60
10 40
5 20
0 0
105 119 133 147 161 175 189 203 217 16 32 58 70 82
Dias após o plantio Dias após o plantio
Figura 4. Curvas de progresso de doenças: (a) queima das folhas do inhame, causada por Curvularia
eragrostidis, em Aliança [segundo Michereff (1998)]; (b) murcha bacteriana do tomateiro,
causada por Ralstonia solanacearum, em Camocim de São Félix (segundo Silveira et al.(1998)].
Tabela 2. Demonstração de rendimentos por juros simples e compostos, considerando um capital (y0) de
R$ 100,00 e uma taxa de rendimento (dy) mensal de 10% (r = 0,1).
Tipo de Aplicação
Juros Simples Juros Compostos
Tempo - meses Y = yo + yo . r. t Y = yo . exp r.t
(t) Capital dy Capital dy
(R$) (R$/mês) (R$) (R$/mês)
1 110 10 110 10
2 120 10 122 12
3 130 10 135 13
... ... ... ... ...
58 680 10 33.029 3.142
59 690 10 36.503 3.474
60 700 10 40.343 3.840
Na aplicação de capital a juros simples, juros principalmente o interior do xilema das plantas
ganhos não rendem novos juros, enquanto na infectadas. O aumento gradativo do número de
aplicação a juros compostos, juros ganhos rendem plantas doentes durante o ciclo da cultura não é
novos juros. devido, primariamente, à movimentação do
Numa abordagem epidemiológica, taxas de patógeno a partir de plantas doentes a novos sítios
juros tornam-se taxas de infecção e capital torna- de infecção e, sim, ao inóculo original, no caso da
se doença, sendo caracterizados dois grupos: doença citada anteriormente, devido a
doenças de juros simples e doenças de juros clamidosporos previamente existentes no solo.
compostos. No caso de doenças de juros compostos,
No caso de doenças de juros simples, também também denominadas doenças policíclicas,
denominadas doenças monocíclicas, plantas plantas infectadas durante o ciclo da cultura
infectadas durante o ciclo da cultura não servirão servirão de fonte de inóculo para novas infecções
de fonte de inóculo para novas infecções durante o durante o mesmo ciclo. É o caso típico da queima
mesmo ciclo. É o caso típico da murcha-de-fusário das folhas do inhame, cujo agente causal
do tomateiro, cujo agente causal (Fusarium (Curvularia eragrostidis ), em condições favoráveis,
oxysporum f.sp. lycopersici) coloniza pode produzir uma geração a cada 15 dias. Essa
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onde y0 é a quantidade de doença no tempo t0 . A A curva descrita por essa equação é conhecida
curva descrita por essa equação é uma linha reta como curva monomolecular (Figura 5).
(Figura 5).
Para o caso das doenças de juros composto, Pelo mesmo raciocínio anterior, a equação de
considerando que plantas doentes (ou lesões) dão juros compostos pode ser alterada para:
origem a novas plantas doentes (ou novas lesões)
no mesmo ciclo da cultura, a velocidade de dy/dt = r.y.(1 - y)
aumento da doença é proporcional à própria
quantidade de doença em cada instante. Assim, se onde (1 - y) representa a quantidade de tecido
uma lesão der origem a 10 lesões, 10 lesões darão sadio. A integração dessa equação produz:
origem a 100, 100 a 1000, 1000 a 10.000 e assim
por diante. Esta cinética de crescimento é expressa ln[y/(1-y)] = ln [y0/(1-y0)] + r.t
matematicamente pela equação diferencial:
A curva descrita por essa equação tem a forma
dy/dt = r.y de S, sendo conhecida como curva logística
(Figura 5).
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100 100
Linear Exponencial
80 80
Severidade (%)
Severidade (%)
60 60
40 40
20 20
0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Dias após o plantio Dias após o plantio
100 100
Monomolecular Logístico
80 80
Severidade (%)
Severidade (%)
60 60
40 40
20 20
0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Dias após o plantio Dias após o plantio
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