Dormir é uma necessidade biológica e é um processo natural e obrigatório que se
segue ao estado de acordado ou de vigília, num paralelismo com o ciclo dia/
noite. O sono é vital para a saúde pois influencia, como vem sendo provado pela crescente investigação dos últimos anos, o desempenho físico, mental e emocional No nosso dia-a-dia. A importância de um sono adequado e suficiente deve-se à sua atuação em multiplas funções do organismo que passam pela regulação e reparação de vários sistemas orgânicos, repondo a sua vitalidade e rejuvenescimento, bem como pela regulação da temperatura corporal e da tão importante imunidade. Igualmente fundamental, principalmente no bébé e na criança, os estudos ressaltam, a ação que o sono desempenha na maturação do sistema nervoso central, principalmente no desenvolvimento do sistema visual e na estruturação emocional e cognitiva nos primeiros anos de vida. Os dados atuais reforçam que qualquer das fases de sono (de movimento rápido dos olhos (REM) e os estados do sono Não-REM) são importantes para o desenvolvimento e maturação do cérebro do bébé e da criança.
Em qualquer idade, devemos olhar para o sono nas suas 3 carcaterísticas:
Quantidade
Qualidade
Hora certa do dia
Na qantidade é importante salientar que há uma variedade individual e ao longo
da vida, que deve ser conhecida e respeitada. Habitualmente, um bébé nas primeiras 4 semanas de vida necessita, em média, de dormir até 18 horas, havendo depois uma diminuição progressiva nas horas de sono até à sua estabilização na idade adulta. De salientar, que contrariamente ao adulto, os bébés e as crianças quando dormem menos horas do que as que necessitam apresentam um comportamento de excitação, agitação, irritabilidade e impaciencia que muitas vezes é confundido com o não ter necessidade de descansar. Idade Necessidade de Sono 0 a 2 meses 12 a 18 horas 3 a 12 meses 14 a 15 horas 1 a 3 anos 12 a 14 horas 3 a 5 anos 11 a 13 horas 6 a 10 anos 10 a 11 horas 10 a 18 anos 8 a 10 horas Idade adulta 7 a 9 horas
A qualidade de sono como o próprio conceito sugere está associado à sua
eficiência. Assim, dormir bem não significa simplesmente dormir o número de horas adequadas, mas também dormir com a qualidade necessária para que o sono cumpra efetivamente a sua função reparadora. As perturbações mais comuns na infância relacionadas com a qualidade de sono são a roncopatia, a apneia do sono e as parassónias. Estas perturbações influenciam de forma determinante a qualidade de sono da criança comprometendo a sua eficiência. É hoje reconhecida pela comunidade científica que as principais consequências de um sono insuficiente e/ou de fraca qualidade se refletem tanto ao nível cognitivo, como emocional, como fisiológico, com diagnósticos associados à Hiperatividade, Défice de Atenção, Dificuldades de aprendizagem, Depressão, Obesidade e Diabetes Mellitus tipo 2, a que assistimos, de forma crescente, nas crianças de hoje.
A hora certa do dia tem igualmente uma variação individual, a qual é
determinada geneticamente. Nos primeiros meses de vida, o bébé ainda não tem o seu ritmo circadiano estabelecido, pois a zona do cérebro responsável pela regulação do ritmo de sono e vigília – o núcleo supraquiasmático – só terá a sua maturação após os 4 meses. Assim, nas primeiras semanas de vida, o sono do bébé apresenta um ritmo ultradiano, de cerca de 90 a 120 minutos, não havendo diferença entre o sono que ocorre durante o dia e o sono que ocorre durante a noite. Entre os 6 e os 12 meses de vida é expectável que a criança consolide o seu sono, com um periodo contínuo de sono durante a noite e duas sestas durante o dia. Com o crescimento, a necessidade de sono durante o dia vai diminuindo, e a criança passa a fazer naturalmente apenas uma sesta, até que a mesma deixa de ser necessária. Entretanto, podem surgir alterações ao ritmo circadiano, como o frequente jet lag social, que acontece quando o nosso relógio biológico se encontra dessincronizado da agenda social. Este é um fenómeno que provoca uma intensa desregulação dos hábitos de sono (sono insuficiente, fora de horas e exposição excessiva à luz, como luzes de presença) que muitas vezes começa nos primeiros meses de vida por desconhecimento das necessidades e particularidades do sono dos bébés.
Apesar do sono da criança e do adulto apresentar ciclos de sono REM e de sono
NREM, a proporção e a distribuição dos ciclos de sono não é igual. O bébé nos primeiros meses de vida apresenta cerca de 50% de sono NREM e 50% de sono REM. O padrão de sono REM vai diminuido a sua proporção ao longo do tempo, estabilizando nos 25%, a qual se mantem na vida adulta. O sono REM, ou sono de Rapid Eyes Movements, é uma fase do sono particular pois durante este periodo, enquanto o corpo está imóvel, podemos observar rápidos movimentos de olhos, os quais acompanham os sonhos intensos e vívidos. É precisamente nesta fase de sono que podemos ver dormir com os olhos abertos. Este fenómeno, quando ocorre por curtos periodos de tempo durante o sono da criança, habitualmente não tem perigo e passa naturalmente com a idade. Deve ser diferenciado da lagoftalmia, situação patológica, que por vários fatores, pode impedir a capacidade do olho encerrar as palpebras. Igualmente até aos 2 anos de idade predominam, a nivel cerebral as onda delta e podemos sentir que a criança, no seu estado de vigília, “dorme de olhos abertos”.
Dormir é, pois essencial à nossa vida, à nossa saúde, ao nosso bem-estar.
Devemos, como tal, respeitar o nosso sono, o sono das nossas crianças e de quem nos rodeia.