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Açao Pedagógica e Transposição Didática
Açao Pedagógica e Transposição Didática
OBJETIVOS
MÓDULO 1 MÓDULO 2
Identificar o conceito de ação pedagógica Definir o conceito de transposição didática
INTRODUÇÃO
Quando falamos em aprendizagem, logo pensamos na sala de aula. A figura do aprender ficou
marcada por muito tempo em um modelo tradicional de ensino, no qual o professor era o
centro e o detentor do conhecimento, tendo como objetivo do processo apenas o ato de
instruir. Posteriormente, por meio de estudos e reflexões sobre este tema, a ação, as práticas
do professor e a concepção de ensino e de educar tiveram novas perspectivas e abordagens.
AÇÃO PEDAGÓGICA
Para falarmos de ação pedagógica, precisamos antes entender alguns pontos:
A partir desses pontos, passamos a entender que a educação não acontece somente na escola.
Embora essa afirmação possa ser considerada óbvia, é necessário que percebamos o quanto
ela está relacionada à educação escolar e, consequentemente, com a prática docente.
Como vimos no vídeo, a Esfinge devorou todos aqueles que não conseguiam decifrar seu
enigma. Considerando sua própria atitude, após ter o enigma decifrado por Édipo, chegamos à
conclusão de que toda a sua identidade, a condição de sua existência, estava centrada no fato
de apenas ela possuir o saber, o que lhe garantia determinado poder. Essa relação também
está presente no cotidiano escolar.
As pressões das relações escolares podem tornar a dinâmica da escola um espaço de tensão e
enfrentamento. Por isso, o professor deve ultrapassar o modelo tradicional de ensino e propor
um processo de ensino-aprendizagem repleto de intencionalidade.Com base nisso, discurse
como as relações de saber e poder ocorrem entre professores e alunos e como superá-las.
Diante dos enfrentamentos escolares, o aluno tende a tomar uma posição de resistência. Ele
questiona o significado do aprendizado, o valor do conhecimento curricular e o motivo dos
seus saberes de vida serem depreciados em relação aos saberes escolares. Por isso, as ações
que ocorrem na escola devem estar alinhadas às dinâmicas sociais e de pensamento. O
sujeito que atua na educação precisa se preparar, desenhar estratégias, perceber objetivos,
entender as forças que influem em seu trabalho.
Considerando todos esses aspectos, a ação pedagógica pode ser pensada em três
passos fundamentais: PERCEBER O PROFESSOR COMO UM AGENTE EDUCADOR,
DEFINIR O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM e IDENTIFICAR AS
NECESSIDADES DO EDUCANDO.
PERCEBER O PROFESSOR COMO UM
AGENTE EDUCADOR
É fundamental que aquele que ensina se reconheça como agente educador, devendo
entender que há a necessidade de uma série de procedimentos, escolhas, preparo e posturas.
Esse elemento fundamental da ação docente é, muitas vezes, mal compreendido, pois o
docente é apresentado como detentor absoluto do conhecimento e, portanto, não permitiria
interferência ou contribuição no ato de ensinar. Vamos entender na prática:
Se o professor não tiver plena consciência das necessidades de seu educando, poderá estipular
que determinado encadeamento de conteúdo será apreendido pela turma toda, ao mesmo
tempo, sem se preocupar, assim, com as dificuldades (ou habilidades) específicas de grupos ou
alunos. Por isso, cabe ao docente identificar quais saberes são fundamentais e farão diferença
na vida e no cotidiano deles, escolhendo estratégias de ensino que tenham significado para as
suas vidas. Vamos entender na prática:
No dia seguinte, perguntei se sabiam por que estavam ali e o que gostariam de
aprender. Eles relataram seus medos e expectativas quanto à formação. Em
seguida, eu disse como poderia ajudá-los – e todo o processo mudou. Tentando
despertar sua curiosidade, trouxe para a realidade deles o conhecimento
abordado. Ali eu aprendi uma lição: minha ação como docente não deve estar
centrada no que eu preciso passar, mas na relação entre o meu conhecimento e
o que o aluno precisa aprender.
Acredito que você já percebeu que não é tão fácil ser professor. Esse profissional
deve pensar no cotidiano, no dia após dia da função e, ao mesmo tempo, não
perder o ímpeto e o ânimo de criar e recriar. Para que isso seja possível, é
importante que o professor nunca se esqueça que é um agente educador, que
deve sempre levar a sério a sua responsabilidade em conduzir e dinamizar o
processo de ensino-aprendizagem, respeitando o conhecimento do aluno como
forma de valorizar e redimensionar essa troca.
TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA
Você já teve um professor memorável? Aquele que sempre tinha novas abordagens para sua
matéria, trazia materiais diferentes para exemplificar o aprendizado ou até fazia músicas com
o conteúdo das disciplinas? Apesar da passagem dos anos, você ainda se lembra daquela aula
e dos ensinamentos aprendidos naquele dia.
Quando transformamos os conceitos científicos necessários para o aprendizado
escolar e trabalhamos de forma que eles passem a ter significado para o aluno,
chamamos esse processo de transposição didática. Através dela, é possível
realizarmos uma identificação dos conteúdos e conceitos científicos que
necessitam ser trabalhados para que façam sentido na escola. Mas, antes de
falarmos da transposição didática, é importante que conheçamos a diferença
entre os tipos de conhecimento que transitam pelo espaço escolar.
Agora que você entendeu a diferença entre o saber científico e o saber escolar, vamos pensar
na prática. Imagine a seguinte situação:
Quando nos referimos aos saberes escolares e científicos, parece que ambos são isolados,
porém são indissociáveis. Não podemos pensar no saber científico sem levar em consideração
o cotidiano e as experiências que surgem dentro e fora da sala de aula. Ao mesmo tempo,
nossos alunos precisam ter acesso ao conhecimento acadêmico e ao resultado de suas
observações e experimentações, o que fomenta sempre o interesse e desperta a curiosidade.
Para que haja equilíbrio entre transmissão e aquisição do conhecimento, o professor deve
apresentar o conteúdo não só com qualidade conceitual e científica, mas coerente com a
realidade dos alunos, de modo que faça sentido para eles e que desperte o desejo de
aprender.
Para isso, é importante que entendamos que o aluno está no centro do processo e cabe a
você mediar esses conhecimentos de forma que ele se envolva com o tema e tenha interesse
em querer saber cada vez mais, sendo:
I - INFORMAÇÃO E - EMOÇÃO C - CONHECIMENTO
Então, agora que você aprendeu esses conceitos, vamos repensar o caso da sala de aula visto
anteriormente?
Com a transposição didática compreendemos a importância de o professor
identificar que o seu trabalho é produzir um novo caminho para o
desenvolvimento do aluno, proporcionando novas formas de aprender e levando
em consideração o cotidiano escolar sem impedir o acesso dos alunos a essas
informações. Vamos, a seguir, entender mais profundamente esse conceito.
SURGIMENTO DA TRANSPOSIÇÃO
DIDÁTICA
O conceito de transposição didática surgiu em 1975 com Michel Verret e foi aprofundado por
Yves Chevallard em 1985. Chevallard desenvolveu a ideia de transposição em que o saber
científico se modifica quando é passado para o campo escolar, ou seja: não basta apenas
transmitir as informações aos alunos, desconsiderando o contexto necessário para sua
compreensão. Em nossa sociedade, os conhecimentos geralmente estão pautados em duas
grandes áreas: saber científico e saber escolar.
A transposição didática não auxiliará apenas a pensar nos conhecimentos que os alunos
podem trazer a partir das suas experiências. Mais que isso, ela permite identificar como os
conhecimentos formarão esse sujeito para o futuro.
E são justamente essas duas questões que vão sustentar e contextualizar a concepção da
transposição didática.
CONTEXTUALIZANDO A
TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA
O processo de contextualização da transposição didática permite que tornemos o
conhecimento científico ou de referências mais próximo à realidade e às experiências dos
alunos. Assim, o conhecimento se torna mais concreto e menos abstrato.
Mas não se engane, adaptar o conhecimento acadêmico para fins didáticos não é um processo
simples. Dois movimentos são centrais para essa transposição didática:
Vamos entender melhor esses conceitos por meio de um exemplo:
Juliana vai dar a sua primeira aula. Empolgada, ao ver que a primeiro tema da aula era sobre
Botânica, caprichou, levou os manuais clássicos que tinha, pois imaginou que os alunos iam
querer saber sobre aquilo.
Além disso, preparou uma apresentação virtual, na qual os alunos veriam todos os nomes e
formas do bioma da Mata Atlântica. Seria a melhor aula da sua vida.
Chegando à sala de aula, a turma estava uma confusão. A professora Juliana tentou acalmar a
turma, mas, quando começou a aula, três alunos dormiam, doze brincavam e quatro,
desesperados, tentando prestar atenção, faziam perguntas que iam irritando a professora
iniciante.
Eles também foram perdendo o interesse, mas o professor não conseguia entender, afinal,
tinha feito tudo tão certinho!
A professora Juliana teve dificuldades com a sua turma por realizar apenas a
transposição externa, ou seja, pensou apenas nos materiais que permitam que o
aluno aprenda. O problema ocorre quando a transposição externa é confrontada
com o cotidiano e, por isso, é fundamental que estejamos atentos aos
movimentos que ocorrem na transposição interna, ou seja, na instituição escolar,
mais especificamente na sala de aula.
Essas questões contextuais postas por Chevallard como esfera marcada pelas lutas, disputas e
negociações de grupos políticos, sociais e didáticos na escolha, seleção e transposição dos
saberes, são denominados de noosfera. Ela correspondente à dimensão social que conduz,
permite e indica como a transposição didática ocorre. Por isso, os professores devem estar
atentos aos caminhos tomados na construção da noosfera, às escolhas curriculares feitas e
como entram neste jogo. Como Chevallard nos aponta:
Por isso, o ato de refletir nossas práticas, dialogando com a realidade, o cotidiano do aluno, é
fundamental no compartilhamento e na troca do conhecimento.
Como podemos ver na situação do professor, quando utilizamos o saber da transposição
externa com a realidade da transposição interna, os alunos demonstram não só o aprendizado
pontual, mas toda a bagagem de conhecimento que os formam.
TRANSPOSIÇÃO DIGITAL
A transposição didática pode ocorrer não só no ambiente presencial, mas também à distância.
Quando falamos na adequação do conhecimento em meios digitais, temos a transposição
didática digital.
Esse tipo de abordagem busca dialogar sempre com quem está do outro lado da tela, seja
através de computadores, tablets ou até celulares, valendo-se de recursos e técnicas que
estimulam o aluno a interagir com diversos objetos de aprendizagem.
Além disso, na transposição digital, devemos ter atenção em relação à linguagem
utilizada para que ela seja acessível a diferentes públicos. Este tipo de linguagem
é chamada de hipermidiática.
LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA
A linguagem hipermidiática na transposição digital exige a integração de diferentes linguagens
(verbais e não verbais) em busca de um sentido ou objetivo. No nosso caso, fazer com que o
aluno adquira conhecimento de forma autônoma. Essa integração entre várias linguagens tem
como objetivo promover o interesse pelo assunto e oportunizar o melhor entendimento do
conteúdo.
Essa transposição didática pode ocorrer não só no ambiente presencial, mas também à
distância, através de elementos hipermidiáticos que minimizam a distância entre quem ensina
e quem aprende.
PODCAST
Agora, com a palavra os professores Luiz Rafael Silva e Rodrigo Rainha, no podcast.
CONQUISTAS ADQUIRIDAS
Reunimos as suas conquistas. Olha o que conseguiu fazer:
• Identificou o conceito de ação pedagógica.
• Definiu o conceito de transposição didática.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARTOLOMÉ MARTÍNEZ, B. La Educación en la Hispania antigua y medieval. Madrid: Morata,
1992.
CHEVALLARD, Y. La Transposition Didactique: Du Savoir Savant au Savoir Ensigné. Grenoble: La
pensée Sauvage, 1991.
MOURA, E.; ZUCCHETTI, D. Educação além da escola: acolhida a outros saberes. Cadernos de
Pesquisa, v.40, n.140, p. 629-648, maio/ago. 2010.
POLIDORO, L.; STIGAR, R. A Transposição Didática: a passagem do saber científico para o saber
escolar. Ciberteologia. Ano VI, n. 27, 2010, p. 1 – 7.
ZASLAVSKY, A. Ação pedagógica, ação comunicativa e didática. Conjectura: Filos. Educ., v. 22,
n. 1, p. 69-81, Caxias do Sul, jan./abr. 2017. p. 69-81.
EXPLORE +
• Transposição didática sobre o ensino de produção textual na BNCC;
• Symposium - Yves Chevallard;
• Rubem Alves - A Escola Ideal;
• A Transposição Didática: a passagem do saber científico para o saber escolar.