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DEFINIÇÃO

Este tema está fundamentado na relação


PROPÓSITO
entre o conhecimento científico e o Os conceitos de transposição didática e de
conhecimento escolar a partir da ação pedagógica são fundamentais para
compreensão do conceito de transposição compreender como conseguimos trabalhar
didática e da ação pedagógica como com conhecimentos historicamente
atuação consciente do professor em sua constituídos no contexto acadêmico. A
prática cotidiana. compreensão desses conceitos torna-se,
portanto, fundamental para refletir acerca
da atuação do docente em sua prática
cotidiana.

OBJETIVOS

MÓDULO 1 MÓDULO 2
Identificar o conceito de ação pedagógica Definir o conceito de transposição didática
INTRODUÇÃO
Quando falamos em aprendizagem, logo pensamos na sala de aula. A figura do aprender ficou
marcada por muito tempo em um modelo tradicional de ensino, no qual o professor era o
centro e o detentor do conhecimento, tendo como objetivo do processo apenas o ato de
instruir. Posteriormente, por meio de estudos e reflexões sobre este tema, a ação, as práticas
do professor e a concepção de ensino e de educar tiveram novas perspectivas e abordagens.

Teorias mais antigas pensavam no aluno


como um papel em branco, prestes a ser
preenchido; por isso, sua voz e seus
saberes eram invisibilizados, ou seja,
descartados pelos desejos e saberes
daqueles que tinham o saber científico.

O processo de ensino-aprendizagem focava


na memorização e uniformidade de
currículos e métodos. Assim, os
professores se detinham em trabalhar
todos os saberes que vinham dos livros e
da academia utilizando as mesmas práticas
para todas as turmas e todos os alunos.

Foto 1: Sala de aula tradicional (Fonte: USP). Foto 2:


Cartilha (Fonte: Plataforma do letramento).
Com o passar do tempo, as concepções de ensino e do ensinar passaram por
mudanças, e a ação pedagógica começou a ser repensada, tendo o aluno como
centro do processo de ensino-aprendizagem.

AÇÃO PEDAGÓGICA
Para falarmos de ação pedagógica, precisamos antes entender alguns pontos:

1. O conceito de Ação 2. A ação pedagógica 3. A educação não


Pedagógica entrou em não é sinônimo de acontece apenas pelo
vigor ao longo do ação docente, mas a docente. Todos os
século XX. Antes disso, efetiva articulação envolvidos no
o entendimento da entre as ações do processo de
didática era filosófica. professor e do aluno. planejamento - sejam
Assim, perdia seu Então, a didática atua eles professores,
sentido diante da na reflexão da prática coordenadores
necessidade de que se dá entre pedagógicos e
estruturas mais professores e alunos. gestores - devem ter
concretas. Como como guia dessa ação
exemplo, a taxa de os alunos e seus
analfabetismo do conhecimentos e
Brasil, que saberes.
apresentava como
média nacional a
ordem de 74,6%.

A partir desses pontos, passamos a entender que a educação não acontece somente na escola.
Embora essa afirmação possa ser considerada óbvia, é necessário que percebamos o quanto
ela está relacionada à educação escolar e, consequentemente, com a prática docente.

Se por um lado a educação é um processo que não se restringe apenas à escola,


mas à sociedade, por outro a escola é um espaço privilegiado de ensino-
aprendizagem legitimamente estabelecido. Quando a escola se constitui
enquanto espaço social de ensino, aquilo que será ensinado passa a ter mais
legitimidade que outros tipos de saber que não passam por esse mesmo lugar. E,
se precisamos selecionar, também indicamos que tipo de saberes receberá ou
não tal legitimidade. Estamos entrando no espaço da intencionalidade e da
relação de poder, portanto, começamos a falar de Ação Pedagógica.
SABER X PODER
O espaço escolar é um local historicamente marcado pela relação entre saber e
poder.

Como vimos no vídeo, a Esfinge devorou todos aqueles que não conseguiam decifrar seu
enigma. Considerando sua própria atitude, após ter o enigma decifrado por Édipo, chegamos à
conclusão de que toda a sua identidade, a condição de sua existência, estava centrada no fato
de apenas ela possuir o saber, o que lhe garantia determinado poder. Essa relação também
está presente no cotidiano escolar.

Michel Foucault levanta em seu livro,


Microfísica do poder, Michel Foucault
levanta uma discussão sobre saber e
poder. Ele explica que precisamos notar
que o poder não se encontra nos polos ou
nas pontas de onde ele é exercido e para
onde ele exerce, ou seja, que a única forma
de percebermos relações de poder é pelas
relações. Ou seja, as nossas relações sociais
são marcadas por disputas, e essa teia de
relações de poder toca e modifica
constantemente o cotidiano.
Como a Ação Didática no ato educacional Por outro lado, ocorre o enfrentamento
nos remete à intencionalidade, essa constante dos alunos questionando a
relação é afetada pela teia de poderes, mas autoridade desses professores e a
também se integra em um conjunto de importância dos saberes presentes no
regras sociais que o professor se vale para currículo formal escolar. A desmotivação, o
manter do seu lado elementos do poder. A mau desempenho e o confronto atuam
noção de que ele estabelece uma vigília como indicadores dessas práticas de
constante sobre os alunos, e que seu poder questionamento sobre a detenção do
de punição de formas diversas está poder.
presente, faz parte do cotidiano estrutural
do ensino.

O professor se encontra em uma conjuntura complexa e necessita traçar


estratégias, construir práticas que permitam que o processo de ensino-
aprendizagem seja efetivo, apesar das disputas.

As pressões das relações escolares podem tornar a dinâmica da escola um espaço de tensão e
enfrentamento. Por isso, o professor deve ultrapassar o modelo tradicional de ensino e propor
um processo de ensino-aprendizagem repleto de intencionalidade.Com base nisso, discurse
como as relações de saber e poder ocorrem entre professores e alunos e como superá-las.

Diante dos enfrentamentos escolares, o aluno tende a tomar uma posição de resistência. Ele
questiona o significado do aprendizado, o valor do conhecimento curricular e o motivo dos
seus saberes de vida serem depreciados em relação aos saberes escolares. Por isso, as ações
que ocorrem na escola devem estar alinhadas às dinâmicas sociais e de pensamento. O
sujeito que atua na educação precisa se preparar, desenhar estratégias, perceber objetivos,
entender as forças que influem em seu trabalho.

Considerando todos esses aspectos, a ação pedagógica pode ser pensada em três
passos fundamentais: PERCEBER O PROFESSOR COMO UM AGENTE EDUCADOR,
DEFINIR O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM e IDENTIFICAR AS
NECESSIDADES DO EDUCANDO.
PERCEBER O PROFESSOR COMO UM
AGENTE EDUCADOR
É fundamental que aquele que ensina se reconheça como agente educador, devendo
entender que há a necessidade de uma série de procedimentos, escolhas, preparo e posturas.
Esse elemento fundamental da ação docente é, muitas vezes, mal compreendido, pois o
docente é apresentado como detentor absoluto do conhecimento e, portanto, não permitiria
interferência ou contribuição no ato de ensinar. Vamos entender na prática:

Em meu primeiro emprego como professora, meus alunos, além de não


prestarem atenção na aula, debochavam e até pareciam ter raiva de mim.
Tentando mudar aquele cenário, levei um encarte de jornal de um mercado do
bairro e propus que eles simulassem uma ida às compras.

Ao destacar a importância de se fazer contas corretamente para não faltar


dinheiro, demonstrei a importância da matemática. Percebi que, para alcançar os
meus objetivos com a turma, seria necessário assumir meu papel de agente
educador, planejando a aula antecipadamente, analisando os interesses dos
meus alunos e aproximando minha realidade da deles.

DEFINIR O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM


Para que a proposta educacional faça sentido e tenha utilidade, devemos adequar as escolhas
metodológicas à contextualização da realidade do aluno. Para isso, precisamos introduzir o
aluno no processo educativo e permitir que ele traga elementos conhecidos e corriqueiros
para a sala de aula, alcançando, a partir desses elementos, novos saberes e sentidos para
conhecimentos anteriormente adquiridos. Vamos entender na prática:

Oriundo de uma ótima faculdade e com muitas especializações, entrei na escola


desejando revolucionar o ensino; assim, preparei uma aula que me agradaria se
eu fosse aluno. Para minha surpresa, as crianças mostravam desinteresse e
questionavam a necessidade de aprender aquilo.

Ao observar o trabalho de uma colega extremamente tradicional, vi uma turma


participativa e interessada. Foi uma grande decepção, pois eu estava preparado,
conhecendo as teorias mais modernas. Quando lhe pedi o seu segredo, ela me
questionou se eu conhecia os interesses e a realidade dos alunos. Entendi que eu
deveria levar em consideração o cotidiano deles, mostrando que me importava
com as suas opiniões e buscando estratégias adequadas à realidade deles – e
não à minha.
IDENTIFICAR AS NECESSIDADES DO
EDUCANDO
Como terceiro passo, é preciso planejar. Talvez esse pareça ser um elemento menos
importante que os anteriores pelo caráter meramente técnico que possa aparentar. Se por um
lado o planejamento e a escolha do processo de ensino-aprendizagem exigem determinados
conhecimentos didáticos, por outro, o professor não pode acreditar que essa opção técnica
seja totalmente independente das percepções anteriores.

Se o professor não tiver plena consciência das necessidades de seu educando, poderá estipular
que determinado encadeamento de conteúdo será apreendido pela turma toda, ao mesmo
tempo, sem se preocupar, assim, com as dificuldades (ou habilidades) específicas de grupos ou
alunos. Por isso, cabe ao docente identificar quais saberes são fundamentais e farão diferença
na vida e no cotidiano deles, escolhendo estratégias de ensino que tenham significado para as
suas vidas. Vamos entender na prática:

Fui convidado para ministrar um treinamento em uma empresa sobre um


assunto que eu dominava bastante. No primeiro dia, falei por horas e horas.
Tinha a certeza de ter me saído muito bem. Pedi para a turma fazer uma prova e
me assustei com o resultado: ninguém tinha entendido nada. Ao refletir sobre tal
processo, decidi mudar minha abordagem.

No dia seguinte, perguntei se sabiam por que estavam ali e o que gostariam de
aprender. Eles relataram seus medos e expectativas quanto à formação. Em
seguida, eu disse como poderia ajudá-los – e todo o processo mudou. Tentando
despertar sua curiosidade, trouxe para a realidade deles o conhecimento
abordado. Ali eu aprendi uma lição: minha ação como docente não deve estar
centrada no que eu preciso passar, mas na relação entre o meu conhecimento e
o que o aluno precisa aprender.
Acredito que você já percebeu que não é tão fácil ser professor. Esse profissional
deve pensar no cotidiano, no dia após dia da função e, ao mesmo tempo, não
perder o ímpeto e o ânimo de criar e recriar. Para que isso seja possível, é
importante que o professor nunca se esqueça que é um agente educador, que
deve sempre levar a sério a sua responsabilidade em conduzir e dinamizar o
processo de ensino-aprendizagem, respeitando o conhecimento do aluno como
forma de valorizar e redimensionar essa troca.

TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA
Você já teve um professor memorável? Aquele que sempre tinha novas abordagens para sua
matéria, trazia materiais diferentes para exemplificar o aprendizado ou até fazia músicas com
o conteúdo das disciplinas? Apesar da passagem dos anos, você ainda se lembra daquela aula
e dos ensinamentos aprendidos naquele dia.
Quando transformamos os conceitos científicos necessários para o aprendizado
escolar e trabalhamos de forma que eles passem a ter significado para o aluno,
chamamos esse processo de transposição didática. Através dela, é possível
realizarmos uma identificação dos conteúdos e conceitos científicos que
necessitam ser trabalhados para que façam sentido na escola. Mas, antes de
falarmos da transposição didática, é importante que conheçamos a diferença
entre os tipos de conhecimento que transitam pelo espaço escolar.

Agora que você entendeu a diferença entre o saber científico e o saber escolar, vamos pensar
na prática. Imagine a seguinte situação:

É o seu primeiro dia de aula como professor. Você já é um profissional


preparado, com grande bagagem histórica de leitura e de experiências, e recebe
como missão levar uma parte desse conhecimento a pessoas com vivências e
maturidades diferentes. Qual será a melhor abordagem para iniciar a sua aula?

a) Apesar de o meu conhecimento ser b) Eu sei que eles possuem experiência de


muito importante, os alunos não terão vida, mas sou eu que tenho o
capacidade de aprender. Por isso, devo conhecimento que eles realmente
reduzir o conteúdo ao máximo e deixá-lo precisam adquirir. Como meu
bem fácil, a fim de que eles possam conhecimento é o mais importante, todos
entendê-lo e aprendam apenas o básico. os alunos devem concentrar o máximo de
atenção apenas no conteúdo e seguir o
que eu determinar, pois o que falarei será
vital para eles.
NENHUMA DAS ALTERNATIVAS ESTÁ CORRETA.

Quando nos referimos aos saberes escolares e científicos, parece que ambos são isolados,
porém são indissociáveis. Não podemos pensar no saber científico sem levar em consideração
o cotidiano e as experiências que surgem dentro e fora da sala de aula. Ao mesmo tempo,
nossos alunos precisam ter acesso ao conhecimento acadêmico e ao resultado de suas
observações e experimentações, o que fomenta sempre o interesse e desperta a curiosidade.

Para que haja equilíbrio entre transmissão e aquisição do conhecimento, o professor deve
apresentar o conteúdo não só com qualidade conceitual e científica, mas coerente com a
realidade dos alunos, de modo que faça sentido para eles e que desperte o desejo de
aprender.

Para isso, é importante que entendamos que o aluno está no centro do processo e cabe a
você mediar esses conhecimentos de forma que ele se envolva com o tema e tenha interesse
em querer saber cada vez mais, sendo:
I - INFORMAÇÃO E - EMOÇÃO C - CONHECIMENTO

A apresentação do O aluno precisa ter suas A combinação da


conteúdo deve possuir emoções despertadas informação do conteúdo
informações de para que a informação com o impacto das
qualidade, bem possa lhe fazer sentido: emoções do aluno gera o
organizadas e ele não deve ficar apático conhecimento, e a
estruturadas de forma diante daquilo que lhe é ferramenta que auxilia no
que o aluno possa ter apresentado. equilíbrio dessa
acesso ao conhecimento combinação é a
facilmente em qualquer transposição didática.
lugar e de forma
compreensiva.

A junção da informação com a emoção para formar o conhecimento é chamada


de transposição didática.

Então, agora que você aprendeu esses conceitos, vamos repensar o caso da sala de aula visto
anteriormente?
Com a transposição didática compreendemos a importância de o professor
identificar que o seu trabalho é produzir um novo caminho para o
desenvolvimento do aluno, proporcionando novas formas de aprender e levando
em consideração o cotidiano escolar sem impedir o acesso dos alunos a essas
informações. Vamos, a seguir, entender mais profundamente esse conceito.

SURGIMENTO DA TRANSPOSIÇÃO
DIDÁTICA
O conceito de transposição didática surgiu em 1975 com Michel Verret e foi aprofundado por
Yves Chevallard em 1985. Chevallard desenvolveu a ideia de transposição em que o saber
científico se modifica quando é passado para o campo escolar, ou seja: não basta apenas
transmitir as informações aos alunos, desconsiderando o contexto necessário para sua
compreensão. Em nossa sociedade, os conhecimentos geralmente estão pautados em duas
grandes áreas: saber científico e saber escolar.

Em outras palavras, a transposição didática trabalha com a adaptação do


conhecimento científico para transmiti-lo ao aluno com base em estratégias
pedagógicas de ensino.
Como você pode ver no vídeo, o processo de passagem do saber científico para o saber escolar
ocorre de forma mais eficaz quando o conteúdo apresentado faz sentido e se adapta à
realidade do aluno.

A transposição didática não auxiliará apenas a pensar nos conhecimentos que os alunos
podem trazer a partir das suas experiências. Mais que isso, ela permite identificar como os
conhecimentos formarão esse sujeito para o futuro.

Talvez você esteja pensando:

Qual o significado do conteúdo para a realidade do aprendiz?


Qual é o objetivo desse conhecimento para o futuro do aluno?

E são justamente essas duas questões que vão sustentar e contextualizar a concepção da
transposição didática.

CONTEXTUALIZANDO A
TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA
O processo de contextualização da transposição didática permite que tornemos o
conhecimento científico ou de referências mais próximo à realidade e às experiências dos
alunos. Assim, o conhecimento se torna mais concreto e menos abstrato.

Esse processo permite a diversificação da metodologia, possibilitando o aprimoramento da


aula com conhecimentos vinculados aos cotidianos dos alunos. Sob essa perspectiva, elaborar
o conhecimento com a transposição didática faz com que possamos construir um saber com
significado e sentido, refletindo sempre sobre as questões apresentadas dentro da escola.

O processo de troca de conhecimentos é interligado pela transposição em três momentos:

Saber Sábio Saber Ensinar Saber Ensinado

É utilizado pelos autores, É usado para atingir os É produzido efetivamente


livros didáticos e pela objetivos em sala, ou seja, em sala de aula com os
ciência. o planejamento escolar. alunos.
1. O saber sábio vem do meio acadêmico
para a escola através dos livros e do
conhecimento do professor.

2. Através do planejamento, o saber sábio


se transforma em saber ensinar, pensando
e refletindo sobre as ações que ocorrerão
dentro da sala de aula.

3. No saber ensinado, a ciência e o


planejamento são colocados em prática e o
conhecimento é construído conjuntamente
com o aluno, aquele para quem é pensado
todo esse processo.

UM ESTUDIOSO DA FÍSICA O SABER ENSINAR É O O SABER ENSINADO


APRESENTA UM MOMENTO EM QUE O BUSCA PRODUZIR UMA
CONHECIMENTO “DURO”, PROFESSOR ORGANIZA OS NOVA LINGUAGEM PARA
ISTO É, COM LINGUAGEM CONTEÚDOS E O EDUCANDO, OU SEJA, O
E CÓDIGO ESPECÍFICOS CONHECIMENTOS PARA DOCENTE DESENVOLVE
DA FÍSICA (SABER SÁBIO). DIALOGAR COM OS SUA AULA E A APLICA DE
QUANDO PASSAMOS ESSE ALUNOS E REFLETIR UMA MANEIRA QUE O
CONHECIMENTO PARA A SOBRE A MELHOR FORMA ALUNO DESENVOLVA O
ESCOLA, ELE DEVE DE ABORDAGEM E PROCESSO DE ENSINO-
RECEBER UMA OUTRA ENTENDIMENTO. APRENDIZAGEM.
LINGUAGEM E UMA
NOVA FORMA DE SER
ENSINADO.

A intenção não é simplificar ou exemplificar os conteúdos, mas demonstrar como


podemos transformá-los para que o conhecimento seja mais acessível para quem
está aprendendo. É preciso trazer o conhecimento para uma linguagem
cotidiana, que afete o aluno, fazendo com que ele possa estabelecer o
conhecimento.
O conceito de transposição didática é fundamental para se pensar sobre a produção do
conhecimento escolar. Sendo assim, quando nos debruçamos sobre o conceito, podemos
perceber que alguns professores estão acostumados a pegar o conhecimento de forma bruta e
transmiti-lo da mesma forma ao aluno e, por isso, algumas matérias podem ser consideradas
incompreensíveis e até desestimulantes.

Quando pegamos o conhecimento científico, planejamos levando em


consideração a realidade e as experiências empíricas e escolares dos alunos;
respeitando os seus saberes e seu cotidiano, o processo de ensino-aprendizado
se torna prazeroso, relevante e dotado de sentido.

Mas não se engane, adaptar o conhecimento acadêmico para fins didáticos não é um processo
simples. Dois movimentos são centrais para essa transposição didática:
Vamos entender melhor esses conceitos por meio de um exemplo:

Juliana vai dar a sua primeira aula. Empolgada, ao ver que a primeiro tema da aula era sobre
Botânica, caprichou, levou os manuais clássicos que tinha, pois imaginou que os alunos iam
querer saber sobre aquilo.

Além disso, preparou uma apresentação virtual, na qual os alunos veriam todos os nomes e
formas do bioma da Mata Atlântica. Seria a melhor aula da sua vida.
Chegando à sala de aula, a turma estava uma confusão. A professora Juliana tentou acalmar a
turma, mas, quando começou a aula, três alunos dormiam, doze brincavam e quatro,
desesperados, tentando prestar atenção, faziam perguntas que iam irritando a professora
iniciante.

Eles também foram perdendo o interesse, mas o professor não conseguia entender, afinal,
tinha feito tudo tão certinho!

A professora Juliana teve dificuldades com a sua turma por realizar apenas a
transposição externa, ou seja, pensou apenas nos materiais que permitam que o
aluno aprenda. O problema ocorre quando a transposição externa é confrontada
com o cotidiano e, por isso, é fundamental que estejamos atentos aos
movimentos que ocorrem na transposição interna, ou seja, na instituição escolar,
mais especificamente na sala de aula.
Essas questões contextuais postas por Chevallard como esfera marcada pelas lutas, disputas e
negociações de grupos políticos, sociais e didáticos na escolha, seleção e transposição dos
saberes, são denominados de noosfera. Ela correspondente à dimensão social que conduz,
permite e indica como a transposição didática ocorre. Por isso, os professores devem estar
atentos aos caminhos tomados na construção da noosfera, às escolhas curriculares feitas e
como entram neste jogo. Como Chevallard nos aponta:

Quando consideramos as mudanças didáticas com mais cuidado, percebemos


que muitas vezes elas ocorrem apenas em nível superficial, alterando pouco as
estruturas mais profundas do fazer docente.

Por isso, o ato de refletir nossas práticas, dialogando com a realidade, o cotidiano do aluno, é
fundamental no compartilhamento e na troca do conhecimento.
Como podemos ver na situação do professor, quando utilizamos o saber da transposição
externa com a realidade da transposição interna, os alunos demonstram não só o aprendizado
pontual, mas toda a bagagem de conhecimento que os formam.

TRANSPOSIÇÃO DIGITAL
A transposição didática pode ocorrer não só no ambiente presencial, mas também à distância.
Quando falamos na adequação do conhecimento em meios digitais, temos a transposição
didática digital.

Esse tipo de abordagem busca dialogar sempre com quem está do outro lado da tela, seja
através de computadores, tablets ou até celulares, valendo-se de recursos e técnicas que
estimulam o aluno a interagir com diversos objetos de aprendizagem.
Além disso, na transposição digital, devemos ter atenção em relação à linguagem
utilizada para que ela seja acessível a diferentes públicos. Este tipo de linguagem
é chamada de hipermidiática.

LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA
A linguagem hipermidiática na transposição digital exige a integração de diferentes linguagens
(verbais e não verbais) em busca de um sentido ou objetivo. No nosso caso, fazer com que o
aluno adquira conhecimento de forma autônoma. Essa integração entre várias linguagens tem
como objetivo promover o interesse pelo assunto e oportunizar o melhor entendimento do
conteúdo.

Assim, a linguagem hipermidiática realiza a combinação de diversos recursos e objetos de


aprendizagem em prol do aprendizado. Vamos entender isso na prática:
Pense que você é um professor tutor de um curso EAD. O que você vai escrever será lido por
um aluno que deseja aprender. Seu conteúdo é extenso e com termos específicos do
conteúdo. Você precisa de uma ponte para transpor esse conhecimento, que em um primeiro
momento é inacessível a ele. Mas como fazer isso?

Este é o nosso principal desafio como professor:


Transformar o conteúdo considerado puramente acadêmico de modo que ele se
torne acessível e agradável ao entendimento do aluno.

Quando um professor consegue fazer a transposição didática de um conteúdo é porque ele


trouxe aquele assunto complexo para um nível de fácil compreensão, ou seja, para o
inteligível, de modo a democratizar o conhecimento. E é através da linguagem hipermidiática
que será possível realizar uma transposição didática digital eficaz, recursos esses que
ilustrarão ou simplificarão os conceitos sem reduzi-los.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ação pedagógica não deve ser confundida com a prática docente. Embora ambas estejam
intimamente ligadas ao cotidiano do professor, a prática docente está conectada diretamente
a uma preocupação metodológica (portanto, didática), já a ação pedagógica parte de
pressupostos políticos de que toda ação é atravessada por escolhas que podem ou não ser
explícitas e conscientes. E é nesse âmbito que entra a transposição didática, como ação de
transformar o conhecimento científico em um conteúdo adequado às necessidades e à
potencialidade dos alunos.

Essa transposição didática pode ocorrer não só no ambiente presencial, mas também à
distância, através de elementos hipermidiáticos que minimizam a distância entre quem ensina
e quem aprende.

PODCAST
Agora, com a palavra os professores Luiz Rafael Silva e Rodrigo Rainha, no podcast.

CONQUISTAS ADQUIRIDAS
Reunimos as suas conquistas. Olha o que conseguiu fazer:
• Identificou o conceito de ação pedagógica.
• Definiu o conceito de transposição didática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARTOLOMÉ MARTÍNEZ, B. La Educación en la Hispania antigua y medieval. Madrid: Morata,
1992.
CHEVALLARD, Y. La Transposition Didactique: Du Savoir Savant au Savoir Ensigné. Grenoble: La
pensée Sauvage, 1991.

CHEVALLARD, Y. Sobre a teoria da transposição didática: algumas considerações introdutórias.


Revista de Educação, Ciências e Matemática, v.3, n.2, mai-ago 2013, p. 1 – 14.

MOURA, E.; ZUCCHETTI, D. Educação além da escola: acolhida a outros saberes. Cadernos de
Pesquisa, v.40, n.140, p. 629-648, maio/ago. 2010.

POLIDORO, L.; STIGAR, R. A Transposição Didática: a passagem do saber científico para o saber
escolar. Ciberteologia. Ano VI, n. 27, 2010, p. 1 – 7.

ZASLAVSKY, A. Ação pedagógica, ação comunicativa e didática. Conjectura: Filos. Educ., v. 22,
n. 1, p. 69-81, Caxias do Sul, jan./abr. 2017. p. 69-81.

EXPLORE +
• Transposição didática sobre o ensino de produção textual na BNCC;
• Symposium - Yves Chevallard;
• Rubem Alves - A Escola Ideal;
• A Transposição Didática: a passagem do saber científico para o saber escolar.

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