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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Conceitos....................................................................... 4
3. Fisiopatologia............................................................... 4
4. Fatores influenciadores............................................ 9
5. Sintomas do climatério...........................................10
6. Diagnóstico.................................................................15
7. Tratamento .................................................................15
Referências bibliográficas .........................................22
CLIMATÉRIO 3

1. INTRODUÇÃO acompanhada de amenorreia, a qual


geralmente ocorre em torno de 51
Dos aproximadamente sete milhões
anos de idade.
de folículos ovarianos presentes em
um feto feminino, mais de 99% so- Durante este período, muitas mulhe-
frem atrofia durante a vida. E é a res ovulam irregularmente, devido a
menopausa a consequência deste um declínio do nível estrogênico,
processo, onde ocorre uma quase com consequente corpo lúteo in-
cessação completa da produção ova- suficiente e déficit de progesterona
riana de estrógeno e progesterona, ou resistência folicular ao estímulo
ovulatório.

Puberdade

Menopausa

Idade (anos)
Figura 1. Secreção de estrogênio durante toda a vida sexual da mulher . Fonte: Guyton et al. Tratado de fisiologia mé-
dica. 13 ed. Rio de Janeiro. (2017)

O atendimento à mulher climatéri- hormonais deste período e podem


ca deve ser voltado para a melho- ser manejadas através da terapia
ria da sua qualidade de vida, iden- hormonal.
tificando e corrigindo as alterações Observa-se aumento da expectati-
endócrinas e metabólicas comuns à va de vida da mulher através dos sé-
essa fase da vida, e provendo a pre- culos. Tal fato, associado ao aumento
venção particularmente das doenças da população feminina por grupo etá-
cardiovasculares, ósseas e neoplási- rio, faz com que esse período cons-
cas. As alterações urogenitais, psí- titua prioridade em saúde pública.
quicas e vasomotoras, assim como Segundo dados do Instituto Brasileiro
as alterações de pele, são conside- de Geografia e Estatística (IBGE), a
radas decorrentes das modificações previsão é de aumento crescente nas
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próximas décadas de mulheres acima Dentro deste período de climatério


dos 50 anos, igualando-se em núme- ocorre a menopausa, que é um mar-
ro às mulheres mais jovens. co dessa fase e corresponde ao úl-
timo ciclo menstrual espontâneo da
mulher, reconhecida após 12 meses
2. CONCEITOS consecutivos de amenorreia. Se dá
O climatério é definido pela Organi- em média aos 51 anos de idade, sen-
zação Mundial da Saúde (OMS) como do considerada como menopausa
o período de vida da mulher com- precoce quando se estabelece an-
preendido entre o final do período tes dos 40 anos de idade, e tardia
reprodutivo até a senilidade, con- após os 55 anos.
siderado o período não reprodutivo.
Apresenta duração variável, mas em SE LIGA! Climatério é um PERÍODO.
geral, ocorre entre 40 a 65 anos. Menopausa é uma DATA.

FLUXOGRAMA – CONCEITO DE CLIMATÉRIO

CLIMATÉRIO

± 40 anos ± 65 anos

NASCIMENTO SENILIDADE

Menarca Menopausa pulsátil pelo hipotálamo e se liga aos


± 12 anos ± 51 anos
seus receptores na hipófise para es-
timular a liberação cíclica das go-
Início do
período
Final do período nadotrofinas: LH e FSH. Essas go-
reprodutivo
reprodutivo nadotrofinas, por sua vez, estimulam
a produção de estrogênio e progeste-
rona, e também do peptídeo hormo-
3. FISIOPATOLOGIA nal inibina.
Alterações do Eixo Durante o ciclo reprodutivo da mu-
Hipotálamo-hipófise-ovários lher, o estrogênio e a progesterona
Durante a vida reprodutiva da mu- exercem feedback positivo e negativo
lher, o hormônio liberador de gonado- sobre a produção das gonadotrofinas
trofinas (GnRH) é liberado de forma hipofisárias e sobre a amplitude e a
CLIMATÉRIO 5

frequência da liberação de GnRH. Já Durante a vida produtiva da mulher,


a inibina exerce uma importante in- o eixo hipotálamo-hipofisário sofre
fluência no feedback negativo sobre a alterações no metabolismo dopami-
secreção de FSH pela adeno-hipófise. nérgico e diminuição dos recepto-
Esse sistema endócrino rigorosamen- res estrogênicos. No final da transi-
te regulado produz ciclos menstruais ção menopáusica, a mulher passa a
ovulatórios regulares e previsíveis, apresentar redução da foliculogê-
como descrito abaixo: nese e maior incidência de ciclos
anovulatórios.
SNC
Efeitos Além disso, nesse período, os folículos
comporta
mentais ovarianos sofrem uma taxa acelerada
de perda até que, finalmente, ocorre
um esgotamento no suprimento de
folículos, reduzindo ainda mais a
secreção de inibina.
Com a insuficiência ovariana na me-
nopausa, a liberação de estrogênio
Hipotálamo

cessa, ativando o feedback nega-


tivo. Como consequência, o GnRH é
liberado com frequência e amplitude
Pituitária máximas, sendo assim, os níveis cir-
culantes de FSH e LH aumentam
anterior

e se tornam quatro vezes maiores


que no ciclo reprodutivo.

Figura 2. Regulação por feedback do eixo hipotála-


mo-hipófise-ovariano em mulheres. Os efeitos estimu-
latórios são indicado por (+) e os efeitos de feedback
negativo estão indicados por (-). Os estrogênios e as
progestinas exercem tanto os efeitos do feedback
positivo quando do negativo, na hipófise anterior e no
hipotálamo, dependendo do estágio do ciclo ovariano. A
inibina tem efeito de feedback negativo na pituitária an-
terior. Fonte: Guyton et al. Tratado de fisiologia médica.
13 ed. Rio de Janeiro. (2017)
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FLUXOGRAMA – ALTERAÇÕES DO EIXO


prossegue em um padrão constan-
HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-OVÁRIOS te, independente de estimulação
hipofisária.
Uma depleção mais rápida dos folí-
culos ovarianos se inicia no final da
Alterações do quarta e início da quinta décadas de
eixo hipotálamo- vida e se mantém até o momento em
hipófise-ovários
que o ovário menopáusico é pratica-
mente destituído de folículos.
Em média, uma mulher pode ter apro-
Perda dos folículos ovarianos ximadamente 400 eventos ovula-
tórios durante sua vida reprodutiva.
↓ Inibina Isso representa um percentual muito
pequeno quando comparado aos 6
↓ Estrógeno a 7 milhões de oócitos presentes na
20ª semana de gestação, ou mes-
↑ GnRH
mo dos 400.000 oócitos presentes
no nascimento. O processo de atre-
↑ FH e FSH
sia dos folículos não dominantes é o
Atresia folicular
principal evento que leva, finalmen-
te, à perda da atividade ovariana e
à menopausa.
Alterações Ovarianas É no período do climatério que se ve-
rifica redução progressiva impor-
A senescência ovariana é um pro-
tante das dimensões dos ovários.
cesso que se inicia efetivamente na
Mulheres após a menopausa apre-
vida intrauterina, no interior do ová-
sentam menor volume ovariano que
rio embrionário, em razão da atresia
na pré-menopausa, sugerindo que a
de oócitos programada. A partir do
alteração volumétrica seja principal-
nascimento, os folículos primordiais
mente relacionada com a redução da
são ativados continuamente, ama-
capacidade funcional.
durecem parcialmente e, em segui-
da, regridem. Essa ativação folicular
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Mulher jovem Mulher na menopausa


Mesovário Mesovário Tuba uterina de Falópio

Tuba Fimbrias
Tuba

Pavilhão
Tubário Pavilhão
Tubário

Ligamento Ovário Mesosalpinge Ovário


útero-ovário

Corte do Corte do ovário


ovário
Corpo
albicans

Corpo lúteo Óvulo Corpo albicans

Figura 3. Diferença anatômica do ovário na menopausa. Fonte: https://bit.ly/3dqu95o

Alterações nos Esteroides contribuem para a produção desses


Suprarrenais hormônios durante os anos reprodu-
tivos, porém, após a menopausa, so-
O sulfato de desidroepiandrostero-
mente a glândula suprarrenal man-
na (SDHEA) é produzido quase ex-
tém essa síntese hormonal.
clusivamente pela suprarrenal. Com
o avanço da idade, observa-se de-
clínio na produção suprarrenal de Alterações no Nível de Globulina
SDHEA. Outros hormônios suprar- de Ligação ao Hormônio Sexual
renais também são reduzidos com a
idade. A androstenediona atinge seu Os principais esteroides sexuais, es-
ponto máximo entre 20 e 30 anos de tradiol e testosterona, circulam no
idade, e caindo para 62% em relação sangue ligados a um transportador
a esse nível em mulheres com idade de glicoproteínas produzido no fíga-
entre 50 e 60 anos. A pregnenolona do, conhecido como globulina de li-
diminui em 45% entre a vida repro- gação ao hormônio sexual (SHBG). A
dutiva e a menopausa. Os ovários produção de SHBG declina após a
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menopausa, o que pode aumentar diretamente o nível sistêmico de es-


os níveis de estrogênio e testoste- trogênio e de progesterona e, con-
rona livres ou não ligados. sequentemente, podem ser muito
diferentes dependendo da fase da
transição menopáusica. Durante a
Alterações Endometriais fase inicial da transição menopáusica,
As alterações microscópicas que o endométrio reflete ciclos ovulatórios
ocorrem no endométrio refletem que prevalecem nesse período.

1 2

Figura 4. Diferença entre fase secretora menstrual e endométrio atrófico. Imagem 1 representa a fase secretora mens-
trual, com glândulas tortuosas grandes, contendo secreção. Imagem 2 representa o endométrio atrófico, com glându-
las em pequena quantidade, algumas muito pequenas, outras dilatadas. Fonte: https://bit.ly/319eJ2O

Durante o estágio final da transição são achados frequentes no exame


menopáusica, a anovulação é mui- patológico de amostras de biópsia
to comum, e o endométrio refletirá endometrial. Com a menopausa, o
o efeito do estrogênio atuando sem endométrio se torna atrófico em
oposição à progesterona. Portan- razão da ausência de estimulação
to, alterações proliferativas ou alte- estrogênica.
rações proliferativas desordenadas
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FLUXOGRAMA – FISIOPATOLOGIA DO CLIMATÉRIO

Perda dos folículos ovarianos

↓ Inibina e estrógeno

↓ Androstenediona
↑ GnRH, FH e FSH

↓ SDHEA
Alterações do Eixo
Hipotálamo-Hipófise-Ovários
Atresia de folículos ↓ Pregnenolona

Fisiopatologia Alterações de esteroides


Alterações ovarianas
do Climatério suprarrenais

Alteração de SHBG Alterações endometriais

↑ Estrogênio e testosterona
Endométrio atrófico
livres ou não ligados

4. FATORES • Paridade: Mulheres nulíparas têm


INFLUENCIADORES menopausa mais precocemente,
enquanto o aumento da parida-
A idade da ocorrência da menopausa
de correlaciona-se à menopausa
parece geneticamente programada
mais tardia devido a diminuição
para cada mulher, através do número
do número de ciclos menstruais
de folículos ovarianos, mas inúmeras
ovulatórios;
condições podem influenciar no en-
velhecimento ovariano, como: • Tabagismo: nesse caso, a idade
da instalação da menopausa é an-
• Fatores socioeconômicos: Mu-
tecipada de 12 a 18 meses. Essa
lheres que têm longas jornadas de
antecipação em fumantes tem
trabalho e exercem atividades es-
sido explicada pela deficiência
tressantes têm mais chances de
estrogênica causada diretamen-
entrar na menopausa mais cedo;
te pelo tabaco, podendo não só
CLIMATÉRIO 10

antecipar o aparecimento de sinto- • Nutrição: Deficiência nutricional e


mas da menopausa, mas também baixo peso levam à ocorrência pre-
das doenças estrógeno-relaciona- coce da idade da menopausa;
das, como a osteoporose e doen-
• Fatores Cirúrgicos e Medicamen-
ças cardiovasculares;
tosos: quimioterapia, radioterapia
• Altitude: Mulheres que vivem em pélvica, cirurgias ovarianas e histe-
países de altitudes maiores podem rectomia também podem resultar
apresentar a menopausa em idade em antecipação da menopausa.
mais precoce;

Histerectomia prévia FLUXOGRAMA – FATORES


INFLUENCIADORES NO CLIMATÉRIO
Tabagismo

Deficiência nutricional

Estresse Auto-imune

Genética/antecedente familiar Idiopática

Insuficiência ovariana primária Síndrome de Turner

Altitude elevada Quimioterapia e radioterapia

Menopausa mais tardia 5. SINTOMAS DO


CLIMATÉRIO
Embora o climatério e a menopausa
Fatores sejam eventos fisiológicos na biologia
influenciadores da mulher, o aparecimento ou não de
no climatério sintomas dependerá não somente de
variações hormonais próprias des-
se período, mas também de fatores
Menopausa mais precoce socioeconômicos.
No período do climatério ocorrem alte-
Genética/antecedente familiar
rações na fisiologia da mulher, carac-
Multiparidade terizadas por alterações hormonais,
modificações funcionais, como dis-
funções menstruais e sintomas vaso-
motores, modificações morfológicas,
CLIMATÉRIO 11

como atrofia mamária e urogenital, al- da síndrome do climatério: ondas de


terações da pele e mucosas, além de calor, conhecidas como fogachos,
alterações em sistemas hormônio- sudorese, calafrios, palpitações,
-dependentes, como o cardiovascular cefaleia, tonturas, parestesia, insô-
e esquelético. Tais mudanças repercu- nia, perda da memória e fadiga.
tem na saúde geral da mulher, poden- O fogacho é o segundo sintoma mais
do alterar sua autoestima e qualidade frequente na perimenopausa, sendo
de vida, e também na longevidade. experimentado por cerca de 80% das
mulheres. A sua frequência não segue
Manifestações Menstruais um padrão, podendo ser diário, sema-
nal ou mensal. Cessa, na maioria das
No período da perimenopausa o in- vezes, sem que qualquer tratamento
tervalo entre as menstruações pode seja feito, entretanto, algumas mulhe-
diminuir devido ao rápido amadureci- res irão experimentar estes desconfor-
mento dos folículos, o que ocorre pe- tos por vários anos após a menopausa.
los elevados níveis de gonadotrofinas
A patogênese dos fogachos não é
ou os intervalos menstruais podem
conhecida, mas é aparentemente ori-
estar aumentados pela persistência
ginária no hipotálamo e pode estar
dos níveis de estrógeno e ausên-
relacionada com a queda estrogêni-
cia de progesterona. Quando ocorre
ca, levando à formação diminuída de
a menstruação, como o endométrio
catecolestrógenos no cérebro. Ou-
está hiperplasiado por essas altera-
tra hipótese é que a diminuição nos
ções hormonais, o sangramento pode
níveis estrogênicos levaria à queda
ser abundante e com maior duração.
nas concentrações dos receptores de
β-endorfinas, resultando na perda da
SE LIGA! A anovulação é a causa mais inibição da atividade noradrenérgica
comum de sangramentos erráticos du-
e, consequentemente, estimulação
rante a transição, no entanto é importante
considerar outras causas como hiperpla- dos neurônios produtores de GnRH.
sia e carcinoma endometrial, neoplasias A maioria das mulheres que experi-
sensíveis ao estrogênio, como pólipos
endometriais e leiomiomas uterinos, e menta os fogachos descreve sensa-
episódios relacionados com gravidez. ções de ondas de calor que ocorrem
no tórax, pescoço e face, esse descon-
forto dispara a resposta termorregula-
Manifestações Neurogênicas/ dora normal para o calor, incluindo su-
Vasomotoras dorese e vasodilatação cutânea, o que
As manifestações neurogênicas com- leva à ruborização da pele.
preendem os sintomas mais comuns
CLIMATÉRIO 12

SAIBA MAIS!
Os fogachos se caracterizam por aumento na pressão arterial sistólica tanto na vigília quan-
to durante o sono. Além disso, a frequência cardíaca aumenta entre 7 e 17 batimentos por
minuto, aproximadamente no mesmo período em que ocorrem vasodilatação periférica e su-
dorese. Sua duração é variável e ocorre principalmente à noite, atrapalhando o sono e apre-
sentando um efeito dominó sobre o humor, podendo surgir irritação, insônia e depressão.

Manifestações Psicogênicas mais importante, há reabsorção; a


matriz óssea se desfaz e libera cálcio,
As limitações impostas e a insegu-
ocorrendo alta remodelação óssea e
rança proveniente do quadro clínico
instalando-se progressivamente a
exacerbado, em decorrência de for-
osteopenia e a osteoporose.
te deficiência estrogênica, possam
influir desfavoravelmente no estado
emocional da mulher e interferir no
relacionamento familiar, na adapta-
ção sexual e na integração social. Al-
guns sintomas psíquicos atribuídos
a essa fase são: diminuição da au-
toestima, irritabilidade, labilidade
afetiva, sintomas depressivos, difi-
culdade de concentração e memó-
ria, dificuldades sexuais e insônia.
Osso normal Perda óssea na osteoporose

Figura 4. Diferença entre osso normal e a perda óssea


Manifestações no Metabolismo na osteoporose. Fonte: Guyton et al. Tratado de fisiolo-
Ósseo gia médica. 13 ed. Rio de Janeiro. (2017)

Sabe-se que a idade está associada


com progressiva rarefação do esque- Manifestações no Metabolismo
leto, dessa forma, a perda óssea e as Lipídico
fraturas osteoporóticas são bastante
Os esteroides sexuais podem influen-
comuns nas mulheres na menopau-
ciar o metabolismo lipídico e induzir
sa. Essa situação acontece devido à
alterações nas apolipoproteínas que
queda de estrogênio que diminui a
constituem a parte proteica do sistema
atividade dos osteoblastos e au-
de transporte dos lipídeos. Tanto a apo-
menta a atividade dos osteoclastos.
lipoproteína A (apo-A) como a apolipo-
Assim, não se forma osso e, o que é
proteína B (apo-B) mostram aumento
CLIMATÉRIO 13

significativo como resultado do decrés- determinada geneticamente, e a influ-


cimo dos estrógenos sanguíneos. ência de agentes externos e internos,
Antes da menopausa, os níveis de que agem sobre ela durante a vida.
LDL são menores e os de HDL são O hipoestrogenismo atua diminuin-
maiores nas mulheres se compara- do a produção de colágeno pela al-
dos com homens da mesma idade. teração da polimerização dos muco-
Após a menopausa, os níveis de LDL polissacarídeos. Consequentemente
aumentam, com tendência para par- a derme diminui a síntese de ácido
tículas menores, mais densas e po- hialurônico resultando na diminuição
tencialmente mais aterogênicas, en- do conteúdo de água.
quanto os níveis de HDL diminuem. Com o avançar da idade, a pele per-
de a elasticidade, os músculos en-
SE LIGA! A deficiência estrogênica da fraquecem e ficam frouxos, o coxim
pós-menopausa é considerada como subcutâneo dissolve-se e a pele mais
fator relevante na etiopatogenia da do-
afinada perde o apoio, permitindo o
ença cardiovascular e das doenças ce-
rebrovasculares isquêmicas. aparecimento das rugas. Dada à re-
dução no número de melanócitos, po-
dem aparecer manchas hipocrômicas
Manifestações Urogenitais ou formação de sardas e melanose
Devido à origem embriológica co- nas áreas expostas ao sol, devido à
mum, tanto a bexiga quanto a uretra hiperplasia de melanócitos da junção
e órgãos genitais têm respostas se- dermoepidérmica.
melhantes às mudanças hormonais,
especialmente ao estrógeno. Sendo Outras alterações
assim, a deficiência estrogênica oca-
siona atrofia epitelial de tais órgãos À medida que as mulheres evoluem
e dos tecidos de sustentação, mani- para a menopausa, elas experimentam
festando-se com prolapsos genitais, mudanças na função sexual que são
sintomas vaginais como resseca- multifatoriais e compreendem domínios
mento, sangramento e dispareunia, biológicos, psicológicos e sociais. Os
e sintomas uretrais como disúria, sintomas climatéricos, principalmente
frequência e urgência miccional. os fogachos e a dispareunia são fatores
associados à disfunção sexual.
A histologia das mamas após a meno-
Manifestações Tegumentares
pausa é de progressiva involução de
No climatério ocorrem alterações em todos os tecidos componentes da
todas as camadas da pele, que va- glândula, exceto o adiposo, ficando
riam com a vulnerabilidade individual, mais pesadas, flácidas e pêndulas.
CLIMATÉRIO 14

FLUXOGRAMA – SINTOMAS DO CLIMATÉRIO

Oligo ou
Osteoporose
polimenorreia

Osteopenia Sangramento irregular

Ósseos Menstruais
↓ HDL Perda de elasticidade

↑ LDL Lipídicos Tegumentares Ressecamento


Sintomas do
Climatério
Irritabilidade Psicológicos Vasomotores Fogacho

Déficit de memória Sudorese noturna


Urogenitais Composição corpórea

Dificuldade de
Distúrbios do sono
concentração Dispareunia ↓ Colágeno

Disúria ↓ Massa muscular

Ressecamento vaginal ↑ Tecido adiposo

Prolapsos genitais
CLIMATÉRIO 15

6. DIAGNÓSTICO realizar exames para excluir outras


causas.
De maneira geral, o diagnóstico de
transição menopáusica é essencial- Além disso o rastreamento e a iden-
mente clínico, e pode ser feito com tificação das doenças crônicas, em
a comprovação de sintomas próprios especial daquelas de mais interesse
da idade e exame físico completo. para esse período da vida, deve fazer
parte obrigatória do protocolo de in-
Entretanto, muitos sintomas caracte-
vestigação de mulheres no climatério.
rísticos da menopausa também po-
Segue os exames que podem ser
dem refletir condições patológicas e,
solicitados:
em muitos casos, há indicação de

FLUXOGRAMA – EXAMES COMPLEMENTARES

Exames
complementares:

FSH TSH Prolactina Beta HCG

Mamografia Papanicolau USG Transvaginal Densitometria óssea

Colonoscopia e sangue
Perfil lipídico Glicemia
oculto nas fezes

7. TRATAMENTO
SE LIGA! Poucas alterações hormonais
no eixo hipotálamo-hipófise-ovários O tratamento é focado no alivio de
apresentam variações suficientemente sintomas climatéricos, sendo os
distintas para serem usadas como mar- principais sintomas tratados os foga-
cadores séricos da transição para a me-
chos e a secura vaginal. A terapia de
nopausa. Na pós-menopausa, entretan-
to, em razão do aumento acentuado nos reposição hormonal (TRH) continua
níveis de FSH que foi descrito, esta go- sendo uma possibilidade terapêutica
nadotrofina se torna um marcador mais importante para mulheres no climaté-
confiável.
rio, devendo-se sempre lembrar que
CLIMATÉRIO 16

quando bem indicada, ela deve fazer Janela de oportunidade para início da terapia de
parte de uma estratégia global que reposição hormonal
inclua recomendações concernentes
a atividade física, alimentação saudá- Vias de administração da terapia de reposição
vel, combate ao tabagismo e ao ex- hormonal
cesso de peso, entre outros.
A orientação é tratar as sintomáti- Esquemas de terapia de reposição hormonal
propriamente ditos
cas com menopausa menor que 10
anos ou abaixo dos 60 anos, sen-
do contraindicada nos casos de cân-
cer de mama, doença hepática ativa, Janela de Oportunidade
Ca de mama e endométrio, porfiria, A Associação Brasileira de Climatério
sangramento vaginal de causa des- (SOBRAC) cunhou em 2004 o termo
conhecida, doenças coronarianas ou “janela de oportunidade”, indicando
cerebrovascular, LES, meningioma, que haveria um momento propício
histórico de trombose venosa profun- para o início da terapia de reposição
da, tromboembolismo pulmonar, in- hormonal após a menopausa. Dessa
farto agudo do miocárdio ou acidente forma, a terapia de reposição hormo-
vascular cerebral. nal deveria ser iniciada nos primeiros
O principal hormônio utilizado na te- meses ou anos após a menopausa
rapêutica é o estrogênio, que é o para que se pudesse pensar em au-
melhor para minimizar os fogachos. A sência de risco cardiovascular.
reposição hormonal pode ser por es- Enquanto isso, a International Me-
quema puro estrogênico ou com- nopause Society (IMS) publicou re-
binado a progesterona. Em pacien- comendações em 2007 que consi-
tes histerectomizadas a reposição deraram a existência de tal “janela
deve-se apenas por estrogênio, em de oportunidade”. Segundo a posi-
contra partida, mulheres com útero ção oficial da IMS, não há evidência
a terapêutica é combinação do es- de benefício da terapia de reposição
trogênio e da progesterona, já que a hormonal em doença cardiovascular
progesterona é usada para proteção instalada, mas existe potencial para
endometrial. prevenção se iniciada na transição
Ao se indicar e escolher a forma apro- menopáusica, no entanto, não se re-
priada de reposição hormonal a cada comenda a indicação da terapêuti-
caso deve-se levar em conta os se- ca apenas com a finalidade de pro-
guintes parâmetros fundamentais: teção cardiovascular.
CLIMATÉRIO 17

Vias de Administração da terapia de HDL e diminuiu os de LDL. Toda-


de reposição hormonal via, faz também com que os níveis de
triglicerídeos sejam aumentados.
Os hormônios da terapia de reposi-
ção hormonal podem ser administra- Com a administração parenteral, o
dos por via oral ou parenteral. A via estradiol administrado atinge pri-
oral é mais difundida pela facilidade meiramente a circulação sistêmica e
de administração e a via parenteral é apenas depois chega ao fígado onde
representada no Brasil principalmen- será metabolizado. Isso é mais próxi-
te por via transdérmica, via per- mo de como o ovário entrega o estra-
cutânea, implante subdérmico, via diol endógeno na circulação, ou seja,
vaginal e via intramuscular. Dentre via circulação sistêmica. Sendo assim,
estes, os mais utilizados são os trans- a dose administrada pode ser me-
dérmicos e os percutâneos. nor, adquirindo o mesmo efeito, não
apresentando os efeitos da primei-
Quando o hormônio é administrado
ra passagem hepática. Observando
por via oral, ele é absorvido no tubo
então os efeitos da via de administra-
digestivo, atinge o sistema porta che-
ção do estrogênio, pode-se fazer uma
gando ao fígado, no qual os esteroi-
escolha mais adequada a cada caso.
des são parcialmente metabolizados
e também exercem influências no
metabolismo. Apenas após essa pas- SE LIGA! Para mulheres as quais haja
sagem hepática é que os hormônios maior preocupação com o risco de do-
ença tromboembólica venosa, deve-se
da terapia de reposição hormonal evitar a via oral e, caso indicada a terapia
chegarão à circulação sistêmica que de reposição hormonal, deve-se esco-
os levará aos diversos órgãos e teci- lher a via transdérmica. Com relação ao
perfil lipídico, o estrogênio por via oral é
dos onde seus efeitos são desejados.
mais eficaz para melhorar o padrão das
Com isso, a “primeira passagem he- frações do colesterol, já que diminui LDL
pática” favorece mudanças enzimá- e aumenta HDL. Todavia, é necessário
observar que a via oral aumenta os ní-
ticas impactando na cascata de coa- veis de triglicerídeos, assim para mulhe-
gulação e, portanto, aumentando o res que os apresentem elevados, deve-
risco de doença tromboembólica -se escolher a via não oral.
venosa. Além disso, o elevado nível
do estrogênio no fígado na adminis-
tração por via oral também interfere
nos processos hepáticos do metabo-
lismo dos lipídeos e das lipoproteínas.
É por este motivo que o estrogênio
por via oral eleva os níveis séricos
CLIMATÉRIO 18

FLUXOGRAMA – EFEITO DAS VIAS DE Esquemas de TH


ADMINISTRAÇÃO
Os esquemas podem ser estrogêni-
cos puros, estroprogestagênicos/te-
↑ HDL rapia hormonal combinada e outras
opções terapêuticas, como: tibolona,
anticonvulsivantes ou inibidores sele-
↓ LDL​
tivos da recaptação da serotonina.

↑ Triglicérides​
Esquemas de Estrogênios Puros
Maior associação com TEV​ Esse esquema apresenta indicação
exclusivamente para mulheres his-
ORAL terectomizadas. Pela via oral, podem
ser utilizados o estradiol ou os estro-
gênios conjugados, enquanto que
pela via transdérmica, percutânea ou
EFEITO DAS subdérmica, o estradiol é o esteroide
VIAS DE
ADMINISTRAÇÃO
disponível.
O estrogênio deve ser administrado
de forma contínua, uma vez que po-
dem ocorrer sintomas climatéricos
PARENTERAL nos intervalos de esquemas cíclicos.
Os esquemas com dose baixa são os
Intramuscular preferidos para iniciar o tratamento,
pois apresentam grande eficácia no
Vaginal
controle dos sintomas, e é recomen-
dado que seja utilizada a menor dose
para atingir o efeito desejado.
Subdérmico

Menor
Percutânea associação com Esquemas Estroprogestativos/
AVC​ Combinados
Não interfere no
Transdérmica triglicérides​
Podem ser realizados em esquemas
contínuos ou cíclicos, sendo recomen-
Menor
associação com dado um mínimo de 12 ou 14 dias
TEV de administração de progestagênio
por ciclo, a fim de se reduzir o risco
CLIMATÉRIO 19

de hiperplasia e de carcinoma endo- deve ser contraposto pelo progesta-


metrial. No entanto, o esquema cícli- gênio e da via de administração.
co vem sendo questionado, por ter a
possibilidade de não evitar as altera-
ções endometriais neste esquema. Outras opções

Em geral, os progestagênios são ad- A tibolona é um esteróide sintético


ministrados por via oral, com exce- proveniente do noretinodrel, derivado
ção do acetato de norestisterona que da 19-nortestosterona, com proprie-
também está disponível em associa- dade estrogênica, progestagênica​e
ção com estradiol por via transdérmi- androgênica​​. Ao contrário da terapia
ca. O dispositivo intrauterino liberador hormonal combinada tradicional, a ti-
de levonorgestrel é uma alternativa a bolona não estimula o tecido mamário.
fim de se obter redução dos eventos Além disso, dificulta a conversão para
adversos associados ao progestagê- estrogênios ativos no tecido mamá-
nio sistêmico. rio. Em resumo, a tibolona se compor-
Um terceiro esquema estroprogesta- ta em nível uterino como uma terapia
tivo é o de progestagênio intermiten- hormonal combinada contínua, po-
te, no qual há alternância de períodos rém, sem efeito estimulante no tecido
de três dias só de estrogênio seguidos mamário, com ação menos favorável
por três dias com estrogênio e pro- nas lipoproteínas, efeito protetor ós-
gestagênio e assim, sucessivamente. seo com redução do risco de fraturas,
O produto disponível no mercado traz associado a efeito androgênico.
estradiol associado ao norgestimato. Os inibidores seletivos da recaptação
As doses de progestagênios empre- da serotonina são eficazes nas quei-
gadas são extremamente variáveis xas vasomotoras, os mais usados na
a depender do tipo de progestagê- terapêutica são Desvenlafaxina​, Ven-
nio, do esquema escolhido, da dose lafaxina​, Paroxetina, Escitalopram​ e
de estrogênio cujo efeito endometrial Citalopram​.
CLIMATÉRIO 20

FLUXOGRAMA – TERAPÊUTICA HORMONAL DO CLIMATÉRIO

Anticonvulsivantes

Tibolona

Inibidores seletivos da
recaptação da serotonina

Outras opções

Deve ser iniciada


precocemente

TERAPÊUTICA
Janela de
Esquemas HORMONAL DO
Oportunidade
CLIMATÉRIO

Combinados

Estrogênio puro Vias de Administração

Vaginal
Pacientes Oral
histerectomizadas Transdérmica

Parenteral Percutânea

Intramuscular

Subdérmica

SAIBA MAIS!
A Síndrome geniturinária da menopausa surge muitas vezes após a menopausa e caracteri-
za-se pela secura vaginal, irritação e flacidez da mucosa, diminuição da líbido, dores durante
o ato sexual e associação com incontinência urinária de urgência. A principal causa é a dimi-
nuição dos estrogénios. À medida que os estrogénios diminuem, as paredes da vagina ficam
mais finas, mais secas e menos elásticas, provocando frequentemente ardor. Também pode
ocorrer um desequilíbrio da flora vaginal, aumentando o risco de infeções vaginais e urinárias.
A terapêutica utiliza-se de estrogénios locais, com aplicação vaginal na forma de creme, gel,
ou comprimidos, existe também hidratantes vulvovaginais.
CLIMATÉRIO 21

MAPA RESUMO DO CLIMATÉRIO

Irritabilidade Osteoporose
Anticonvulsivantes

Sintomas vasomotores Sangramento irregular


Tibolona

Inibidores seletivos da Atrofia da mucosa vaginal Fogachos


recaptação da serotonina

Diagnostico clinico
Estrogênio puro Esquemas Histerectomia prévia

Combinados Sintomas do Tabagismo


Tratamento
Climatério

Fatores socioeconômicos
Período compreendido entre o final do Fatores influenciadores
período reprodutivo até a senilidade no climatério
Genética/antecedente
familiar
Ocorre em média entre Menopausa é um marco
40 a 65 anos do climatério Fisiopatologia Insuficiência
ovariana primária

Perda dos folículos Multiparidade


Alterações Endometriais Endométrio atrófico
ovarianos
Alterações do
Alterações no Nível de ↑ Estrogênio e testosterona
↓ Inibina e estrógeno Eixo Hipotálamo-
Globulina de Ligação ao livres ou não ligados
hipófise-ovários
Hormônio Sexual
↑ GnRH, FH e FSH ↓ SDHEA

Alterações nos Esteroides


Alterações ↓ Pregnenolona
Atresia de folículos Suprarrenais
Ovarianas
↓ Androstenediona
CLIMATÉRIO 22

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Aarão Mendes Pinto Neto et al. FEBRASGO: Manual de Orientação em Climatério. 2010.
Guyton et al. Tratado de fisiologia médica. 13 ed. Rio de Janeiro. (2017)
Hoffman et al. Ginecologia de Williams. Tradução: Ademar Valadares Fonseca et al. 2. ed.
Porto Alegre: AMGH, 2014.
PRIMO Walquíria Quida Salles Pereira, et al. Manual de Ginecologia da Sociedade de Gi-
necologia e Obstetrícia de Brasília. 2. ed. Brasília: Editora Luan Comunicação, 2017.
URBANETZ, Almir Antônio. Ginecologia e obstetrícia Febrasgo para o médico residente.
São Paulo. 2016.
WENDER, Maria Celeste Osório et al. Consenso Brasileiro de Terapêutica Hormonal da
Menopausa. Associação Brasileira de Climatério (SOBRAC). São Paulo: Leitura Médica,
2014.
CLIMATÉRIO 23

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