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1
Produção desenvolvida no Projeto de Extensão “Acompanhamento do Desenvolvimento Neuropsicomotor de Prematuros e Crianças
a termo,” do Curso de Fisioterapia/Unijuí.
2
Acadêmica do curso de Fisioterapia da Unijuí; participante do Projeto DNPM; Bolsista Pibic/Unijuí. taniafassbinder@hotmail.com
3
Acadêmica do curso de Fisioterapia da Unijuí; bolsista Pibex/Unijuí do Projeto DNPM.
4
Docente do DCSa/Unijuí; extensionista do Projeto DNPM/Unijuí; mestre em Ciências do Movimento Humano/Udesc.
5
Docente do DCSa/Unijuí; coloboradora do Projeto DNPN/Unijuí; mestre em Saúde da Criança/PUCRS; especialista em Fisioterapia
Neurológica/Furb.
6
Docente do DCSa/Unijuí; Coordenadora do Projeto DNPM/Unijuí; doutora em Ciências da Saúde: Cardiologia e Ciências Cardiovas-
culares/UFRGS; mestre em Ciências Biológicas (Fisiologia)/UFRGS; especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória/Uniguaçu;
especialista em curso de Especialização Profissional em Acupuntura/ IBEHE. elianew@unijui.edu.br
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REVISTA CONTEXTO & SAÚDE IJUÍ EDITORA UNIJUÍ v. 8 n. 16 JAN./JUN. 2009 p. 87-100
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88 Tânia Regina Cavinatto Fassbinder – Luciana Meggiolaro Pretto – Elenita Costa Beber Bonamigo – Simone Zeni Strassburger – Eliane Roseli Winkelmann
Refletindo sobre estas situações ou problemas que As provas das operações lógicas são divididas
as crianças enfrentam e as soluções que constroem em vários aspectos e as que foram descritas são: de
no decorrer de seu desenvolvimento, propomos uma classificação (Prova de operação lógica de classifi-
produção técnica de vídeo baseada na publicação de cação aditiva visual, Prova de operação lógica de
Iris Barbosa Goulart (2005) com o livro “Piaget: Ex- classificação aditiva tátil-cinestésica, Prova de ope-
periências básicas para a utilização pelo professor” ração lógica de classificação aditiva antecipatória)
que sugere uma avaliação do desenvolvimento cog- de seriação (Prova de operação lógica de seriação
nitivo na base de experiências piagetianas, de tal complexa, Prova de operação lógica de seriação
maneira que para cada prova solicitada há respos- transitividade, Prova de operações lógicas de seria-
tas prováveis para as diferentes idades, mostrando ção correspondências seriais), de compensação (Pro-
a trajetória das etapas da cognição. va de operação lógica de compensação simples,
pensamento proporcional (Prova de Pensamento
Proporcional por meio da experiência pictórica),
combinatória (Prova de Combinações de Objetos),
Materiais e Métodos indução de leis (Prova de Indução de Leis mediante
a flutuação dos corpos e eliminação de contradi-
A avaliação do desenvolvimento cognitivo com
ções).
base nas experiências piagetianas foi realizada em
dez escolares entre 3 e 12 anos de idade, regular- Prova de Conceito estruturado de Espaço,
mente matriculados em duas escolas municipais in- Tempo, Ordem e Velocidade: nesta incluiu-se a
fantis de Ijuí/RS. A amostra foi selecionada de for- Prova de Conceito Estruturado de Espaço, Prova
ma aleatória, sendo representativa para cada idade. de Conceito Estruturado de Tempo – a noção de
Esta avaliação e as respectivas gravações para o sucessão de eventos, Prova de Conceito Estrutura-
vídeo foram desenvolvidas em 2010 pelas partici- do de Velocidade – noção de velocidade quando o
pantes do Projeto de Extensão “Acompanhamento movimento é de forma não visível e visível.
• Prova de operação lógica de classificação siderou mais difícil classificar de acordo com
aditiva visual: foram entregues à criança con- critérios táteis-cinestésicos do que com critérios
juntos de quadrados e círculos, nas cores azul e visuais.
vermelha, em dois tamanhos. Depois de mani-
• Prova de operação lógica de classificação
pular, deveria descrever as peças e organizar
aditiva antecipatória: foram utilizados seis cír-
em classes, de acordo com cor, forma e tama-
culos, seis quadrados e seis triângulos. De cada
nho (Figura 11). Nas operações lógicas, a clas-
conjunto de seis, três eram grandes e três peque-
sificação aditiva visual foi atingida somente com
nos e a cada três, um era azul, outro vermelho e
crianças de 5 ou 6 anos de forma simples. Por
outro amarelo. Foram dados à criança vários en-
volta de 8 ou 9 anos efetuaram a classificação
solicitada. velopes e solicitado que pusesse as figuras em
ordem, utilizando o mínimo de envelopes, ou seja,
todas as coisas que têm a mesma característica
vão ser postas num envelope (Figura 13). Para a
classificação aditiva antecipatória, observamos
diferentes graus de maturidade e evolução de
cada um. A transitividade e as correspondências
assim tiveram êxito com crianças de 7 anos.
Resposta 1: seis envelopes, um para círculos
grandes, um para círculos pequenos, um para qua-
drados grandes, um para quadrados pequenos, um
para triângulos grandes e um para triângulos peque-
nos.
Figura 11: Prova de classificação aditiva visual Resposta 2: três envelopes, um para círculos
(grandes e pequenos), um para quadrados (grandes
e pequenos) e um para triângulos (grandes e peque-
nos).
Resposta 3: dois envelopes, um para quadrados,
círculos e triângulos grandes e o outro para quadra-
dos, círculos e triângulos pequenos.
Figura 14: Prova de operação lógica de seriação Figura 15: Prova de operação lógica de seriação de
complexa transitividade
• Prova de operação lógica de seriação comple- tos segundo sua grandeza crescente ou decres-
xa: utilizou-se 10 pauzinhos cortados em tama- cente, que surge por volta dos 7 anos. Inicialmente
nhos diferentes, variando entre 5 e 15 cm, entre- a criança domina a seriação simples, depois as
gues à criança para que ordene do menor para o seriações complexas e, finalmente as correspon-
maior (Figura 14). A criança deve ser capaz de dências seriais ou seriações de duas dimensões.
fazer a ordenação usando a reversibilidade por
reciprocidade. Assim, as crianças com aproxima-
damente 6 anos formaram pares ou pequenos
conjuntos, mas não os coordenaram entre si, en-
quanto as crianças após os 7 anos utilizam o mé-
todo sistemático que consiste em procurar, com-
parando de dois em dois, primeiro o menor, de-
pois o maior que restou, etc.
• Prova de operação lógica de seriação transitivi-
dade: foi testada com um conjunto de 15 bolinhas
brancas (A), 20 bolinhas pretas (B) e 25 bolinhas
verdes (C) e dito às crianças que havia menos boli-
nhas brancas que pretas e que havia menos boli-
nhas pretas que verdes, e questionado qual a cor do
menor e do maior conjunto (Figura 15). Conclusão:
quando a criança compreende que A < C se A < B
e B < C, depois de comparar perceptivamente A e
B e depois B e C, escondendo A para deduzir sua
relação com C, ela dominou a transitividade, e isto
se dá por volta dos 7 a 8 anos de idade.
• Prova de operação lógica de seriação corres-
pondências seriais: foram utilizadas figuras de
bonecas e de sombrinhas de diversos tamanhos e
solicitado que ordenasse de forma correspondente
(Figuras 16 e 17). Conclusão: a seriação ou orde- Figuras 16 e 17: Prova de operação lógica de seriação de
nação consiste em ordenar, dispor seus elemen- correspondência
Figuras 18 e 19: Prova de operação lógica de compensação Figura 21: Prova de combinação de objetos
simples
Discussão
É possível afirmar que avaliar é comparar a “rea-
lidade” com um “modelo ideal”. Esse “modelo ideal”
Figura 25: Prova de conceito estruturado de velocidade – expressa, por meio do delineamento de metas e ob-
noção de velocidade quando o movimento é de forma jetivos, um padrão de qualidade a ser atingido.
não visível No processo de aprendizagem, a interação de ex-
periências e vivências viabiliza o desenvolvimento
• Prova de conceito estruturado de velocidade –
adquirido. Avaliadores e avaliados devem ter cons-
noção de velocidade quando o movimento é
ciência sobre qual é o ideal, e entender a serviço de
de forma não visível e visível: Na forma não
quem está esse ideal. Ideal para quê e para quem?
visível construímos dois túneis de papel, um maior
Avaliar é um processo dinâmico de reflexão sobre o
que o outro. De dentro deles foram puxados dois
que fazemos. É um movimento constante e perma-
carrinhos simultaneamente e perguntado qual
nente entre Ação, Reflexão e, novamente, Ação.
deles andou mais depressa (Figura 25). Já de for-
Nesse sentido, o processo de avaliação e o proces-
ma visível foram desenhadas em um papel duas
so de aprendizagem são entendidos como um só
pistas, uma em linha reta e outra com desvios,
mas ambas chegando ao mesmo destino. A crian- (Goulart, 2005).
ça deveria identificar qual o caminho mais rápido No processo de avaliação há três momentos im-
(Figura 26). No conceito de ordem aplicada a portantes: a coleta de informações, a subjetividade
corpos móveis, dos 4 a 7 anos todos tiveram con- e o conhecimento do avaliador referente ao julga-
dições lógicas para responder a questão. Ao con- mento do que é considerado padrão no teste solici-
ceituar velocidade de forma não visível, dos 5 a 6 tado e demonstrado pelo avaliado. Estes três mo-
anos foi admitido o mesmo tempo de chegada; mentos, ao mesmo tempo que definem a avaliação
aos 6 anos admitiram que um dos carros percor- como um processo, também indicam as suas etapas
esquemáticas na ordem em que se sucedem, obvia- mento X) é indicar o frasco A. Já a criança com 7
mente para efeito imediato de compreensão (Ra- anos (Comportamento Y) compreende que a quan-
mos, 2000). tidade de água em A e C permanece igual, o que
mudou foi a aparência. A diferença entre os con-
A falta de bibliografia e material de auxílio rela-
teúdos dos dois comportamentos indica estruturas
cionados com o desenvolvimento da inteligência in-
distintas para as crianças aqui exemplificadas. As
fantil nos motivaram a desenvolver as filmagens
estruturas explicam porque surgiu um determinado
destas avaliações, feitas com escolares do municí-
conteúdo, e não outro, compreendendo um contexto
pio de Ijuí/RS, para integrar um vídeo e comprovan-
de reversibilidade por compensações e por recipro-
do com experimento prático as teorias da literatura
cidade de relações (Goulart, 2005).
de Piaget.
Quando se exige uma explicação de alguma res-
O objetivo desta produção técnica permitiu dis-
posta que evidencia noção de causalidade na crian-
cutir as prováveis respostas dos testes avaliados
ça, as respostas são diferentes em cada nível de
quanto ao desenvolvimento cognitivo e lógico da
idade. A relação de causa e efeito é significativa
criança, conforme a publicação de Goulart (2005)
para a integralidade do raciocínio. As operações ló-
Piaget: Experiências básicas para a utilização
gicas de adição visual observam-se nas crianças de
do professor. Considerando que uma mesma pro-
5 – 6 anos de idade além da organização de objetos
va foi solicitada para várias idades, podemos verifi-
em grupos de acordo com um ou alguns atributos
car a resposta esperada para cada faixa etária, e
comuns a eles, e crianças por volta de 8 anos clas-
concluindo a idade em que a criança consegue rea-
sificam considerando dois a três atributos simulta-
lizar de forma prática e certa seguindo sua aprendi-
neamente.
zagem e conhecimento até sua idade atual.
Nas provas de conservação é a noção operató-
Assim, o experimento enfatiza os seguintes tópi-
ria que permite que a criança compreenda as alte-
cos: (a) os parâmetros do contexto, caracterizados
rações de quantidade, de forma ou de volume. Cri-
pelo modelo Jean Piaget (Goulart, 2005), o qual di- anças em nível pré-operatório (antes dos 6 anos) do
reta ou indiretamente proporciona à criança que desenvolvimento raciocinam apenas sobre os esta-
busque descobertas no mundo das experiências e dos ou configurações, desprezando as transforma-
descobertas de significados culturais; (b) os atribu- ções (Goulart, 2005). Por isso elas observam o re-
tos da criança, identificados como desempenho, ca- sultado final (estado), que é a água no copo e na
pacidades e lógicas; (c) as dimensões do conheci- taça, e desprezam a transformação observada, que
mento cognitivo, enfatizado tanto pelas suas carac- foi o derramar da água. Na fase pré-operacional a
terísticas lógicas quanto pelas histórico-culturais; e, criança é incapaz de descentração, isto é, de cen-
finalmente, (d) o processo, que explica as respostas trar sua atenção em dois ou mais aspectos da reali-
adequadas ou inadequadas do desenvolvimento hu- dade ao mesmo tempo. A conservação de peso é
mano. alcançada por volta dos 8 anos em diante e a con-
Por exemplo, o Comportamento X refere-se a servação de volume por volta dos 9-10 anos.
uma criança de 4 anos e o Comportamento Y a uma Em pesquisas realizadas sobre aprendizagem e
criança de 7 anos. Apresentam-se a estas crianças desenvolvimento infantil, Negrine (1994) destaca que
dois frascos (A e B) finos, contendo igual quantida- “quando a criança chega à escola, traz consigo toda
de de água colorida. Pergunta-se: Em qual dos dois uma pré-história, construída a partir de suas vivên-
você acha que tem mais água? Depois de se obter a cias, grande parte delas através da atividade lúdi-
resposta “estão iguais”, derrama-se, na frente das ca”. Dessa maneira, o desenvolvimento da aprendi-
crianças, o conteúdo do frasco B em um novo fras- zagem, com a estimulação de novos desafios, em
co C, que é baixo e largo. Terminada a operação, situações-problemas proporciona à criança um ganho
pergunta-se: E agora, qual dos dois tem mais? A para complementar e diferenciar o desempenho es-
resposta típica da criança com 4 anos (Comporta- colar.
Nos seus estudos sobre crianças Jean Piaget Assim, a aprendizagem tem um vínculo direto
descobriu que elas não raciocinam como os adultos. com o meio social que circunscreve não só as con-
Esta descoberta levou-o a recomendar aos adultos dições de vida do indivíduo, mas também a sua rela-
que adotassem uma abordagem educacional dife- ção com o ambiente escolar e o estudo, sua percep-
rente ao lidar com crianças. Ele modificou a teoria ção e compreensão das matérias. A consolidação
pedagógica tradicional que, até então, defendia que dos conhecimentos depende dos significados que
a mente de uma criança é vazia, esperando ser pre- eles carregam em relação à experiência social do
enchida pelo conhecimento (Goulart, 2005). Na vi- jovem e dos adultos na família, no meio social e no
são de Piaget, as crianças são as próprias constru- trabalho. Esta produção técnica, portanto, é um
toras ativas do conhecimento, constantemente crian- material que irá auxiliar pais, profissionais da saúde
do e testando suas teorias sobre o mundo. Grande e educadores no conhecimento de provas de avalia-
ção cognitiva, assim como identificar o período em
parte desse conhecimento é adquirida por meio das
que as provas são automatizadas na construção da
zonas do conhecimento em que os jogos e brinca-
inteligência da criança.
deiras infantis têm sua principal influência, as no-
ções de regras são criadas, a socialização se faz
presente, o simbólico é exercitado, além do físico e
do mental. Referências
Retomando os conceitos piagetianos de assimi-
lação e acomodação citados anteriormente, é preci- ATKINSON, R. L. et al. Introdução à neuropsi-
so considerar, como aponta Perrenoud (1999), que cologia. Porto Alegre: Artmed, 2002.
todo hábito se caracteriza como um esquema, mas COHEN, H. Neurociências para fisioterapeutas
nem todo esquema é um hábito, ou seja, a prática é – incluindo correlações clínicas. São Paulo: Ma-
fundamental para a utilização dos conceitos apren- nole, 2001.
didos na escola, e quando o sujeito tem a oportuni- COLL, C.; GILLIÈRON, C. Jean Piaget: o de-
dade de ser desafiado, não permanece com os es- senvolvimento da inteligência e a construção do pen-
quemas rígidos, mas torna-os cada vez mais com- samento racional. In: LEITE, L. B. (Org.). Piaget
plexos. e a escola de Genebra. São Paulo: Cortez, 1987.
p. 15-49.
Nas palavras de Fonseca (2005), a cognição ou
DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. Psicologia na educa-
processos cognitivos que dão sustentação ao pen-
ção. São Paulo: Cortez, 2005.
samento são modos e estratégias de processamen-
FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e
to da informação, são dispositivos potenciais de adap-
aprendizagem. Lisboa: Âncora, 2005.
tação e de pensamento lógico que podem ser apren-
didos. GOULART, I. B. Piaget: Experiências básicas para
a utilização pelo professor. Revista e Ampliada. 21.
ed. São Paulo: Vozes, 2005.
MATOS, A. A. Fundamentos da teoria Piagetiana:
Considerações Finais Esboço de um modelo. Revista Ciências Huma-
nas, Brasil, Universidade de Taubaté (Unitau), v. 1,
A análise das respostas dos participantes indica n. 1, 2008.
que os níveis de capacidade de raciocínio lógico es- NEGRINE, A. Aprendizagem e desenvolvimento
tão coerentes com as respostas esperadas para cada infantil. Porto Alegre: Prodil, 1994.
idade, correspondendo com os estudos experimen- PERES, M. R.; OLIVEIRA, M. H. M. A. Psicope-
tais de Piaget. Provavelmente isso decorre do pro- dagogia: limites e possibilidades a partir de relatos
cesso de aprendizagem, que privilegia a automati- de profissionais. Revista Ciências & Cognição, Rio
zação pelas experiências vivenciadas. de Janeiro, ano 4, v. 12, p. 115-133, dez. 2007.