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ANÁLISE DE CIRCUITOS ELÉCTRICOS II

CHATAZA, Calulo A
UNIZAMBEZE FCT
FCT ANALISE DE CIRCUITOS ELECTRICOS

Sumário
CAPITULO I: CIRCUITOS TRIFÁSICOS .......................................................................................... 5
TENSÕES TRIFÁSICAS EQUILIBRADAS ................................................................................... 5
CARGA EQUILIBRADA................................................................................................................. 7
CONEXÃO ESTRELA-ESTRELA EQUILIBRADA ...................................................................... 8
CONEXÃO ESTRELA-TRIÂNGULO EQUILIBRADA ................................................................ 9
CONEXÃO TRIÂNGULO-TRIÂNGULO EQUILIBRADA ........................................................ 10
CONEXÃO TRIÂNGULO-ESTRELA EQUILIBRADA .............................................................. 11
POTÊNCIA EM UM SISTEMA EQUILIBRADO ........................................................................ 12
SISTEMAS TRIFÁSICOS DESEQUILIBRADOS ........................................................................ 13
EXERCÍCIOS SOBRE CIRCUITOS TRIFÁSICOS...................................................................... 14
CAPITULO II: FENÓMINOS TRANSITORIOS ................................................................................ 17
TRANSITÓRIO EM CORRENTE CONTINUA ............................................................................. 17
TRANSITÓRIO RL ......................................................................................................................... 17
TRANSITÓRIO RC......................................................................................................................... 21
CARGA NO TRANSITÓRIO RC ................................................................................................... 24
TRANSITÓRIO RLC ...................................................................................................................... 26
EXERCÍCIO SOBRE FENÓMENOS TRANSITÓRIOS .............................................................. 29
CAPITULO III: TEORIA DE QUADRIPOLOS ................................................................................ 30
PARÂMETROS DE IMPEDÂNCIA .............................................................................................. 30
PARÂMETROS DE ADMITÂNCIA ............................................................................................. 32
PARÂMETROS HÍBRIDOS .......................................................................................................... 33
PARÂMETROS DE TRANSMISSÃO .......................................................................................... 34
INTERCONEXÃO DE CIRCUITOS ELÉTRICOS ....................................................................... 35
CONEXÃO EM SERIE .................................................................................................................. 36
CONEXÃO EM PARALELO ........................................................................................................ 36
CONEXÃO EM CASCATA ........................................................................................................... 37
CAPITULO IV: CAMPO ELECTROSTÁTICO ................................................................................ 38
FORCAS ENTRE CARGAS. LEI DE COULOMB ....................................................................... 38
INTENSIDADE DO CAMPO ELÉCTRICO ................................................................................. 39
O CAMPO ELÉCTRICO COMO UM CAMPO DE POTENCIAL ............................................... 40
LINHAS DE FORÇAS E LINHAS EQUIPOTENCIONAIS ......................................................... 41
GRADIENTE DE POTECIAL ....................................................................................................... 42
O OPERADOR NABLA................................................................................................................. 43
O GRADIENTE DE POTENCIAL EM COORDENADAS CILÍNDRTICAS E ESFÉRICAS .... 44
FLUXO DE UM VECTOR ATRAVÉS DE UMA ELEMENTO DE SUPERFÍCIE E ATRAVÉS
DE UMA SUPERFÍCIE .................................................................................................................. 45

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CARGAS LIVRES E LIGADAS. POLARIZAÇÃO...................................................................... 45


DIPOLOS. MOMENTO ELÉCTRICO DIPOLAR ........................................................................ 46
DESLOCAMENTO ELÉCTRICO OU INDUCAO ELÉCTRICA ................................................ 47
TEOREMA DE GAUSS ................................................................................................................. 48
APLICACAO DO TEOREMA DE GAUSS AO CALCULO DE INTENSIDADE DE CAMPO E
DO POTENCIAL DE UMA CARGA PONTUAL ......................................................................... 49
TEOREMA DE GAUSS SOB A FORMA DIFERENCIAL .......................................................... 50
A DIVERGÊNCIA DE E EM COORDENADAS CARTESIANAS ............................................. 51
UTILIZAÇÃO DO OPERADOR NABLA PARA CALCULAR A DIVERGÊNCIA .................. 52
A DIVERGÊNCIA DE E EM COORDENADAS POLARES ESFÉRICS E CILÍNDRICAS ...... 53
CONDIÇÕES LIMITES ................................................................................................................. 55
O CAMPO ELECTROSTÁTICO NO INTERIOR DE UM CONDUTOR .................................... 55
CONDIÇÕES EXISTENTES NA SUPERFÍCIE DE SEPARAÇÃO DE UM CORPO
CONDUTOR E DE UM DIELÉTRICO ......................................................................................... 55
CONDICOES NA SUPERFICIE DE SEPARACAO DE DOIS DIELECTRICOS ....................... 56
TEOREMA DE UNICIDADE ........................................................................................................ 57
CAMPO ELECTROSTÁTICO CRIADO POR UM EIXO CARREGADO .................................. 58
CAMPO DEVIDO A DOIS CONDUTORES PARALELOS CARREGADOS ............................ 58
CAMPO DE UMA LINHA DE DOIS CONDUTORES ................................................................ 59
CAPACIDADE ............................................................................................................................... 59
CAPACIDADE DE UMA LINHA DE DOIS CONDUTORES..................................................... 60
MÉTODO DAS IMAGENS SIMETRICAS ................................................................................... 60
O CAMPO DE UM CONDUTOR CARREGADO PERTO DE UM PLANO CONDUTOR ....... 61
O CAMPO DUM CONDUTOR COLOCADO PERTO DA SUPERFÍCIE DE SEPARAÇÃO DE
DOIS MEIOS DE PERMITIVIDADES DIFERENTES ................................................................ 61
CAMPO ELECTROSTÁTICO DE UM SISTEMA DE CORPOS CARREGADOS COLOCADOS
PERTO DE UM PLANO CONDUTOR ......................................................................................... 63
COEFICIENTES DE POTENCIAL. O PRIMEIRO GRUPO DAS FORMULAS DE MAXWELL
......................................................................................................................................................... 63
COEFICIENTES CAPACITIVOS. O SEGUNDO GRUPO DAS FORMULAS DE MAXWELL64
AUTO-CAPACIDADE E CAPACIDADES MÚTUAS. O TERCEIRO GRUPO DAS
FÓRMULAS DE MAXWELL ....................................................................................................... 65
UMA ESFERA NUM CAMPO UNIFORME ................................................................................ 67
UMA ESFERA CONDUTORA NUM CAMPO UNIFORME ...................................................... 70
UMA ESFERA DIELÉCTRICA NUM CAMPO UNIFORME ..................................................... 71
UM CILIDRO DIELÉCTRICO NUM CAMPO UNIFORME ....................................................... 73
ENERGIA POR UNIDADE DE VOLUME DE UM CAMPO ELÉCTRICO ............................... 73
EXERCÍCIOS SOBRE TEORIA DE CAMPO ELECTROSTATICO........................................... 75

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CAPITULO V: CAMPO ELÉCTRICO DE UMA CORRENTE CONTÍNUA NUM MEIO


CONDUTOR....................................................................................................................................... 77
DENSIDADE DE CORRENTE E CORRENTE ............................................................................ 77
LEI DE OHM NA FORMA DIFERENCIAL. ALEI DAS MALHAS DE KIRCHHOFF NA
FORMA DIFERENCIAL ............................................................................................................... 77
FORMA DIFERENCIAL DA LEI DOS NÓS DE KIRCHHOFF .................................................. 79
LEI DE JOULE NA FORMA DIFERENCIAL .............................................................................. 80
EQUAÇÃO DE LAPLACE PARA CAMPO ELÉCTRICO NUM MEIO CONDUTOR .............. 80
CAMPO ELÉCTRICO DE UMA CORRENTE CONTINUA EM DOIS MEIOS CONDUTORES
DE DIFERENTES CONDUTIVIDADES. CONDIÇÕES LIMITES............................................. 80
ANALOGIA ENTRE O CAMPO NUM MEIO CONDUTOR E O CAMPO ELECTROSTÁTICO
......................................................................................................................................................... 81
RELAÇÃO ENTRE CONDUTIVIDADE E CAPACIDADE ........................................................ 82
CAMPO ELÉCTRICO NUM MEIO DIELÉCTRICO CERCANDO CONDUTORES QUE
TRANSPORTAM CORRENTES ................................................................................................... 83
EXERCICIOS SOBRE CAMPO ELÉCTRICO NUM MEIO CONDUTOR ................................. 84
CAPITULO VI: CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA ........................................ 85
EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS DO CAMPO MAGNÉTICO .................................................... 85
LEI DE AMPERE ........................................................................................................................... 85
FORMA DIFERENCIAL DA LEI DE AMPERE .......................................................................... 86
EXPRESSÃO DO ROTACIONAL COMO PRODUTO VECTORIAL ........................................ 87
EXPRESSÃO DE rotH SOB A FORMA DE DETERMINANTE NUM SISTEMA DE
COORDENADAS CARTESIANAS .............................................................................................. 87
CONTINUIDADE DO FLUXO MAGNÉTICO ............................................................................ 87
A EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE DO FLUXO MAGNÉTICO NA FORMA DIFERENCIAL
......................................................................................................................................................... 87
O CAMPO MAGNÉTICO EM ÁREAS ATRAVESSADAS E NÃO ATRAVESSADAS POR
CORRENTES CONTINUAS ......................................................................................................... 88
POTENCIAL ESCALAR MAGNÉTICO ...................................................................................... 88
CONDIÇÕES LIMITE ................................................................................................................... 89
O POTENCIAL VECTOR DE UM CAMPO MAGNÉTICO ........................................................ 90
EQUAÇÃO DE POISSON PARA O POTENCIAL VECTOR MAGNÉTICO ............................. 90
POTENCIAL VECTOR MAGNÉTICO DE UM ELEMENTO DE CORRENTE ........................ 92
MÉTODOS DAS IMAGENS MAGNÉTICAS .............................................................................. 92
EXERCÍCIOS SOBRE CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA ......................... 94
CAPITULO VII: CAMPO ELECTROMAGNETICO ....................................................................... 95
DEFINIÇÃO DO CAMPO ELECTROMAGNÉTICO .................................................................. 95
PRIMEIRA EQUAÇÃO DA TEORIA ELECTROMAGNÉTICA DE MAXWELL .................... 95
EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE ............................................................................................... 96

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SEGUNDA EQUAÇÃO DA TEORIA ELECTROMAGNÉTICA DE MAXWELL .................... 97


EQUAÇÕES DE MAXWELL NA NOTAÇÃO COMPLEXA ...................................................... 98
O TEOREMA DE POYNTING PARA VALORES INSTANTÂNEOS........................................ 98

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FCT-ANCE CIRCUITOS TRIFÁSICOS

CAPITULO I: CIRCUITOS TRIFÁSICOS


Em Análise de Circuitos I, tratamos de circuitos monofásicos. Um sistema de energia CA
monofásico é formado por uma fonte ligada por meio de um par de fios (linha de transmissão) a
uma carga. A Figura 1.1 representa um sistema bifilar monofásico, em que Uf é a magnitude da
tensão da fonte e β é a fase.

𝑈𝑓 ∠𝛽 𝑍𝐿

Figura 1.1 Sistema monofásico

Circuitos ou sistemas nos quais as fontes CA operam na mesma frequência, porém, em fases
diferentes, são conhecidos como polifásicos. A Figura 1.2 ilustra um sistema quadrifilar
trifásico. Diferentemente de um sistema monofásico, um sistema trifásico é produzido por um
gerador formado por três fontes de mesma amplitude e frequência, porém defasadas entre si
por 120º. Uma vez que o sistema trifásico é o sistema polifásico muito mais frequente e mais
econômico, discutiremos neste capítulo basicamente sobre sistemas trifásicos.
𝑈𝑓 ∠0𝑜 𝑍𝐿1
a A

𝑈𝑓 ∠−120𝑜 𝑍𝐿2
b B

𝑈𝑓 ∠+120𝑜 𝑍𝐿3
c C

n N
Figura 1.2 Sistema Trifásico
Os sistemas trifásicos são importantes, pois, em primeiro lugar, quase toda energia eléctrica é
produzida e distribuída em três fases, em uma frequência de operação igual a 60 Hz, na
América, ou 50 Hz, em Moçambique e algumas outras partes do mundo.
Iniciamos nossa discussão com tensões trifásicas equilibradas. Em seguida, analisamos cada
uma das quatro configurações possíveis dos sistemas trifásicos equilibrados. Também
tratamos dos sistemas trifásicos desequilibrados.

TENSÕES TRIFÁSICAS EQUILIBRADAS


As tensões trifásicas são produzidas normalmente por um gerador CA trifásico (ou alternador)
cuja vista em corte é mostrada na Figura 1.3a. Esse gerador é constituído, basicamente, por
um íman rotativo (denominado rotor) envolto por um enrolamento fixo (denominado estator).
Três bobinas ou enrolamentos distintos com terminais a-a’, b-b’ e c-c’ são dispostos e
separados fisicamente a 120º em torno do estator. Os terminais a e a’, por exemplo,
representam um dos terminais da bobina entrando e outro saindo da página. À medida que o
rotor gira, seu campo magnético “corta” o luxo das três bobinas e induz tensões nas bobinas.
Como elas se encontram separadas a 120º, as tensões induzidas nas bobinas são iguais em
magnitude, porém defasadas por 120º (Figura 1.3b). Uma vez que cada bobina pode ser
considerada ela própria um gerador monofásico, o gerador trifásico é capaz de fornecer
energia tanto para cargas monofásicas quanto trifásicas.
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Figura 1.3 (a) Gerador trifásico, (b) Tensoes produzidas se encotram desfasadas 120 entre si

Um sistema trifásico típico é formado por três fontes de tensão conectadas a cargas por três
ou quatro fios (ou linhas de transmissão). Um sistema trifásico equivale a três circuitos
monofásicos. As fontes de tensão podem ser interligadas em estrela, como indicado na Figura
1.4(a), ou então em triângulo, como indicado na Figura 4(b).
a a
𝑈𝑎𝑛
𝑈𝑐𝑎 𝑈𝑎𝑏
n
𝑈𝑐𝑛
𝑈𝑏𝑛
b b
𝑈𝑏𝑐
c c
(a) (b)
Figura 1.4 Fontes de tensão trifásicas: (a) fonte conectada em estrela; (b) fonte conectada em triângulo

Por enquanto, consideremos as tensões ligadas em triângulo da Figura 1.4(b). As tensões 𝑈𝑎𝑛 ,
𝑈𝑏𝑛 e 𝑈𝑐𝑛 , chamadas tensões de fase, são, respectivamente, aquelas entre as linhas a, b e c e
o neutro n. Se as fontes de tensão tiverem a mesma amplitude e frequência ω e estiverem
defasadas por 120º, diz-se que as tensões estão equilibradas. Isso implica
𝑈𝑎𝑛 + 𝑈𝑏𝑛 + 𝑈𝑐𝑛 = 0 1.1
|𝑈𝑎𝑛 | = |𝑈𝑏𝑛 | = |𝑈𝑐𝑛 | 1.2
Portanto: As tensões de fase são iguais em magnitude e estão desfasadas entre si por 120º.

Por conta dessa defasagem há duas situações possíveis.

Figura 1.5

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Uma delas é mostrada na Figura 1.5a e expressa matematicamente como:


𝑈𝑎𝑛 = 𝑈𝑓 ∠00
𝑈𝑏𝑛 = 𝑈𝑓 ∠−1200
𝑈𝑐𝑛 = 𝑈𝑓 ∠−2400 = 𝑈𝑓 ∠+1200 1.3
onde 𝑈𝑓 é o valor eficaz das tensões de fase. Isso é conhecido como sequência abc ou
sequência positiva. Nessa sequência de fases, 𝑈𝑎𝑛 está adiantada em relação a 𝑈𝑏𝑛 que, por
sua vez, está adiantada em relação a 𝑈𝑐𝑛 . Essa sequência é produzida quando o rotor da Figura
1.3a gira no sentido anti-horário. A outra possibilidade é mostrada na Figura 1.5b e dada por:
𝑈𝑎𝑛 = 𝑈𝑓 ∠00
𝑈𝐶𝑛 = 𝑈𝑓 ∠−1200
𝑈𝑏𝑛 = 𝑈𝑓 ∠−2400 = 𝑈𝑓 ∠+1200 1.4
Isso é denominado sequência acb ou sequência negativa. Para essa sequência de fases, 𝑈𝑎𝑛
está adiantada em relação a 𝑈𝐶𝑛 que, por sua vez, está adiantada em relação a 𝑈𝑏𝑛 . A
sequência acb é produzida quando o rotor na Figura 4 gira no sentido anti-horário. É fácil
demonstrar que as tensões nas Equações (1.3) ou (1.4) satisfazem as Equações (1.1) e (1.2).
Por exemplo, da Equação (1.3),
𝑈𝑎𝑛 + 𝑈𝑏𝑛 + 𝑈𝑐𝑛 = 𝑈𝑓 ∠00 + 𝑈𝑓 ∠−1200 + 𝑈𝑓 ∠+1200
= 𝑈𝑓 (1,0 − 0,5 − 𝑗0,866 − 0,5 + 𝑗0,866) = 0 1.5

CARGA EQUILIBRADA

Uma carga equilibrada é aquela no qual as impedâncias por fase são iguais em magnitude e
fase.
a a
𝑍1
n 𝑍𝑏 𝑍𝑐
𝑍3 𝑍2
b b
𝑍𝑎
c c
(a) (b)
Figura 1.6 (a) carga conectada em estrela (b) carga conectada em triângulo
Para uma carga conectada em estrela equilibrada,
𝑍1 + 𝑍2 + 𝑍3 = 𝑍𝑌 1.6
onde 𝑍𝑌 é a impedância de carga por fase. Para uma carga conectada em estrela equilibrada,
𝑍𝑎 + 𝑍𝑏 + 𝑍𝑐 = 𝑍∆ 1.7
onde 𝑍∆ é, nesse caso, a impedância de carga por fase. Portanto, sabemos que uma carga
conectada em estrela pode ser transformada em uma carga conectada em triângulo, ou vice-
versa, usando a Equação (1.8).
1
𝑍∆ = 3𝑍𝑌 𝑜𝑢 𝑍𝑌 = 𝑍∆ 1.8
3

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CONEXÃO ESTRELA-ESTRELA EQUILIBRADA

Sistema estrela-estrela equilibrado é um sistema trifásico com uma fonte conectada em


estrela equilibrada e uma carga conectada em estrela equilibrada.

Consideremos o sistema estrela-estrela quadrifilar equilibrado da Figura 1.7, em que uma


carga conectada em estrela é conectada a uma fonte conectada em estrela.
a A
𝑍𝑠 𝑍𝑙
𝑈𝑎𝑛 𝑍𝐿
n 𝑍𝑛 N
𝑈𝑐𝑛 𝑈𝑏𝑛 𝑍𝐿 𝑍𝐿
𝑍𝑠 b 𝑍𝑙 B
𝑍𝑠 c C
𝑍𝑙
Figura 1.7 Sistema trifásico estrela-estrela equilibrado mostrando as impedâncias da fonte, da linha e da carga.

Supomos uma carga equilibrada de modo que as impedâncias de carga sejam iguais. Embora
a impedância 𝑍𝑌 seja a impedância de carga total por fase, ela também pode ser considerada
a soma da impedância da fonte 𝑍𝑠 , a impedância da linha 𝑍𝑙 e a impedância de carga 𝑍𝐿 por
fase, já que essas impedâncias estão em série. Como ilustrado na Figura 1.7, 𝑍𝑠 representa a
impedância interna do enrolamento de fase do gerador; 𝑍𝑙 é a impedância da linha que conecta
a fase da fonte com a fase da carga; 𝑍𝐿 é a impedância de cada fase da carga; e 𝑍𝑛 é a
impedância da linha neutra. Portanto:
𝑍𝐿 + 𝑍𝑙 + 𝑍𝑠 = 𝑍𝑌 1.9
Supondo-se a sequência positiva, as tensões de fase (ou tensões linha-neutro) são
𝑈𝑎𝑛 = 𝑈𝑓 ∠00
𝑈𝑏𝑛 = 𝑈𝑓 ∠−1200
𝑈𝑐𝑛 = 𝑈𝑓 ∠+1200 1.10
As tensões linha-linha ou, simplesmente, as tensões de linha 𝑈𝑎𝑏 , 𝑈𝑏𝑐 e 𝑈𝑐𝑎 estão
relacionadas com as tensões de fase. Por exemplo,
𝑈𝑎𝑏 = 𝑈𝑎𝑛 + 𝑈𝑛𝑏 = 𝑈𝑎𝑛 − 𝑈𝑏𝑛 = 𝑈𝑓 ∠00 − 𝑈𝑓 ∠−1200 = √3𝑈𝑓 ∠300
𝑈𝑏𝑐 = 𝑈𝑏𝑛 − 𝑈𝑐𝑛 = √3𝑈𝑓 ∠−900
𝑈𝑐𝑎 = 𝑈𝑐𝑛 − 𝑈𝑎𝑛 = √3𝑈𝑓 ∠−2100 1.11
Portanto, a tensão de linha será:
𝑈𝐿 = √3𝑈𝑓 1.12
e
𝑈𝐿 = |𝑈𝑎𝑏 | = | 𝑈𝑏𝑐 | = |𝑈𝑐𝑎 | 1.13
Aplicando as Leis de Kirchhoff em cada fase, obtemos as seguintes corrente correntes de linha:
𝑈𝑎𝑛 𝑈𝑏𝑛 𝑈𝑐𝑛
𝐼𝑎 = = 𝐼𝑎 ∠00 ; 𝐼𝑏 = = 𝐼𝑎 ∠−1200 ; 𝐼𝑐 = = 𝐼𝑎 ∠−2400 1.14
𝑍𝑌 𝑍𝑌 𝑍𝑌
Podemos concluir imediatamente que a soma das correntes de linha é zero
𝐼𝑎 + 𝐼𝑏 + 𝐼𝑐 = 0 1.15
logo
𝐼𝑛 = −(𝐼𝑎 + 𝐼𝑏 + 𝐼𝑐 ) = 0 𝑜𝑢 𝑈𝑛𝑁 = 𝑍𝑛 𝐼𝑛 = 0 1.16

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isto é, a tensão no neutro é zero.


Enquanto a corrente de linha é a corrente em cada linha, a corrente de fase é a corrente em
cada fase da fonte ou carga. No sistema estrela-estrela, a corrente de linha é a mesma que a
corrente de fase. As correntes de fase fluem da fonte para carga.
Uma maneira alternativa de analisar um sistema estrela-estrela equilibrado é analise uma fase
como se fosse um circuito monofásico. A análise monofásica leva à corrente de linha 𝐼𝑎 de,
como segue:
𝑈
𝐼𝑎 = 𝑍𝑎𝑛 1.17
𝑌
A partir de 𝐼𝑎 , usamos a sequência de fases para obter outras correntes de linha. Portanto,
desde que o sistema esteja equilibrado, precisamos apenas analisar uma fase.

CONEXÃO ESTRELA-TRIÂNGULO EQUILIBRADA

Um sistema estrela-triângulo consiste em uma fonte conectada em estrela equilibrada


alimentando uma carga conectada em triângulo equilibrada.

O sistema estrela-triângulo equilibrado é mostrado na Figura 1.8.

a 𝐼𝑎 A

𝑈𝑎𝑛

𝐼𝑏 B
b C
𝐼𝑐 𝐼𝐵𝐶 𝑍∆
c
Figura 1.8 Conexão estrela-triângulo equilibrada

Neste caso, não há, obviamente, nenhuma conexão neutra da fonte para a carga. Supondo a
sequência positiva, as tensões de fase são novamente

𝑈𝑎𝑛 = 𝑈𝑓 ∠00
𝑈𝑏𝑛 = 𝑈𝑓 ∠−1200
𝑈𝑐𝑛 = 𝑈𝑓 ∠+1200 1.18
Como vimos a cima, as tensões de linha são:
𝑈𝑎𝑏 = √3𝑈𝑓 ∠300 = 𝑈𝐴𝐵
𝑈𝑏𝑐 = √3𝑈𝑓 ∠−900 = 𝑈𝐵𝐶
𝑈𝑐𝑎 = √3𝑈𝑓 ∠−2100 = 𝑈𝐶𝐴 1.19
A partir dessas tensões, podemos obter as correntes de fase, como segue:

𝑈𝐴𝐵 𝑈𝐵𝐶 𝑈𝐶𝐴


𝐼𝐴𝐵 = ; 𝐼𝐵𝐶 = ; 𝐼𝐶𝐴 = 1.20
𝑍∆ 𝑍∆ 𝑍∆

Essas correntes possuem a mesma magnitude, porém, estão defasadas entre si por 120º.
As correntes de linha são obtidas das correntes da fase aplicando a Lei de Kirchhoff nos nós
A, B e C. Portanto,

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𝐼𝑎 = 𝐼𝐴𝐵 − 𝐼𝐶𝐴 = √3𝐼𝐴𝐵 ∠300 1.21


Percebemos com isso que:
𝐼𝐿 = √3𝐼𝑓 1.22
Uma maneira alternativa de analisar o circuito estrela-triângulo é transformar a carga
conectada em triângulo em uma carga conectada em estrela equivalente. Usando a fórmula de
1
transformação triângulo-estrela na Equação (1.8) ( 𝑍𝑌 = 3 𝑍∆ ), após essa transformação,
teremos um sistema estrela-estrela.

CONEXÃO TRIÂNGULO-TRIÂNGULO EQUILIBRADA

Um sistema triângulo-triângulo é aquele no qual tanto a fonte equilibrada quanto a carga


equilibrada estão conectadas em triângulo.
A fonte, bem como a carga, pode estar conectada em triângulo, como podemos ver na Figura
1.9. a 𝐼𝑎 A

𝑈𝑐𝑎 𝑈𝑎𝑏 𝑍𝑐 𝑍𝑏

c b 𝐼𝑏 B C
𝑈𝑏𝑐 𝐼𝑐 𝐼𝐵𝐶 𝑍𝑎

Figura 1.9 Conexão triângulo-triângulo equilibrada

Nosso objetivo é obter as correntes de fase e de linha como.


Supondo uma sequência positiva, as tensões de fase para uma fonte conectada em triângulo
são:
𝑈𝑎𝑏 = 𝑈𝑓 ∠00
𝑈𝑏𝑐 = 𝑈𝑓 ∠−1200
𝑈𝑐𝑎 = 𝑈𝑓 ∠+1200 1.23
As tensões de linha são as mesmas que as tensões de fase. Da Figura 1.9, supondo que não
haja impedâncias na linha, as tensões de fase da fonte conectada em triângulo são iguais
àquelas das tensões nas impedâncias; isto é,
𝑈𝑎𝑏 = 𝑈𝐴𝐵 ; 𝑈𝑏𝑐 = 𝑈𝐵𝐶 ; 𝑈𝑐𝑎 = 𝑈𝐶𝐴 1.24
Logo, as correntes de fase são:

𝑈𝐴𝐵 𝑈𝐵𝐶 𝑈𝐶𝐴


𝐼𝐴𝐵 = ; 𝐼𝐵𝐶 = ; 𝐼𝐶𝐴 = 1.25
𝑍∆ 𝑍∆ 𝑍∆
As correntes de linha são obtidas das correntes da fase aplicando a Lei de Kirchhoff nos nós
A, B e C. Portanto,
𝐼𝑎 = 𝐼𝐴𝐵 − 𝐼𝐶𝐴 = √3𝐼𝑎 ∠300 1.26
Percebemos com isso que:
𝐼𝐿 = √3𝐼𝑓 1.27
Uma maneira alternativa de analisar o circuito triângulo-triângulo é converter tanto a fonte
quanto a carga em seus equivalentes estrela.

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CONEXÃO TRIÂNGULO-ESTRELA EQUILIBRADA

Um sistema triângulo-estrela equilibrado é formado por uma fonte conectada em triângulo


equilibrada alimentando uma carga conectada em estrela equilibrada.
Consideremos o circuito triângulo-estrela da Figura 1.10.
a A

𝑍1

𝑍2 𝑍3
c b B
C
𝑈𝑏𝑐

Figura 1.10 Conexão triângulo-estrela equilibrada

Novamente, supondo-se a sequência abc, as tensões de fase de uma fonte conectada em


triângulo são:
𝑈𝑎𝑏 = 𝑈𝑓 ∠00
𝑈𝑏𝑐 = 𝑈𝑓 ∠−1200
𝑈𝑐𝑎 = 𝑈𝑓 ∠+1200 1.28
Podemos obter as correntes de linha de várias maneiras. Uma delas é aplicar a segunda Lei de
Kirchhoff para a malha aANBba da Figura 10, escrevendo
−𝑈𝑎𝑏 + 𝐼𝑎 𝑍𝑌 − 𝐼𝑏 𝑍𝑌 = 0
portanto
𝑈𝑓 ∠00
𝐼𝑎 − 𝐼𝑏 = 1.29
𝑍𝑌
Mas 𝐼𝑏 está atrasada em relação a 𝐼𝑎 por 120º, já que supusemos a sequência abc; isto é,
𝐼𝑏 =𝐼𝑎 ∠−1200 . Logo,
𝐼𝑎 − 𝐼𝑏 = 𝐼𝑎 √3∠300 1.30
Substituindo a Equação (1.30) na Equação (1.29) obtemos:
𝑈𝑓
∠300
𝐼𝑎 = √3 1.31
𝑍𝑌
A partir dessa última, obtemos as demais correntes de linha, 𝐼𝑏 e 𝐼𝑐 , usando a sequência de
fases positiva, isto é, 𝐼𝑏 = 𝐼𝑎 ∠−1200 , 𝐼𝑐 = 𝐼𝑎 ∠+1200 . As correntes de fase são iguais às
correntes de linha.
Outra forma de obtermos as correntes de linha seria substituir a fonte conectada em triângulo
pela sua fonte conectada em estrela equivalente, como mostrado na Figura 11. Já vimos que
as tensões linha-linha de uma fonte conectada em estrela estão adiantadas em relação às suas
tensões de fase correspondentes a 30º.

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𝑈𝑎𝑛

c b
𝑈𝑏𝑐
Figura 1.11 Transformação de uma fonte conectada em triângulo em uma fonte em estrela equivalente

Consequentemente, obtemos cada tensão de fase da fonte conectada em estrela equivalente


dividindo a tensão de linha correspondente da fonte conectada em triângulo por √3 e
deslocando sua fase em–30º. Portanto, a fonte conectada em estrela equivalente apresenta as
seguintes tensões de fase
𝑈𝑓 𝑈𝑓 𝑈𝑓
𝑈𝑎𝑛 = ∠ − 300 ; 𝑈𝑏𝑛 = ∠−1500 ; 𝑈𝑐𝑛 = ∠+900 1.32
√3 √3 √3

POTÊNCIA EM UM SISTEMA EQUILIBRADO

Consideremos a potência em um sistema trifásico equilibrado. A potência média por fase, 𝑃𝑓 ,


tanto para a carga conectada em triângulo como para a carga conectada em estrela, é:
𝑃𝑓 = 𝑈𝑓 𝐼𝑓 cos 𝜑 1.33
e a potência reactiva por fase é
𝑄𝑓 = 𝑈𝑓 𝐼𝑓 sen 𝜑 1.34
A potência aparente por fase é
𝑆𝑓 = 𝑈𝑓 𝐼𝑓 1.35
A potência complexa por fase é
𝑆𝑓 = 𝑃𝑓 + 𝑄𝑓 = 𝑈𝑓 𝐼𝑓 ∗ 1.36
A potência média total é a soma das potências médias nas fases:
𝑃 = 𝑃𝑎 + 𝑃𝑏 + 𝑃𝑐 = 3𝑃𝑓 = 3𝑈𝑓 𝐼𝑓 𝑐𝑜𝑠 𝜑 = √3𝑈𝐿 𝐼𝐿 cos 𝜑 1.37
De forma semelhante, a potência reactiva total é
𝑄 = 3𝑈𝑓 𝐼𝑓 sen 𝜑 = √3𝑈𝐿 𝐼𝐿 sen 𝜑 1.38
e a potência complexa total é
𝑆 = 3𝑆𝑓 = 3𝑈𝑓 𝐼𝑓 ∗ 1.39

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SISTEMAS TRIFÁSICOS DESEQUILIBRADOS

Os sistemas trifásicos desequilibrados são provocados por duas situações possíveis:


(1) as tensões de fonte não são iguais em magnitude e/ou diferem em fase por ângulos
desiguais ou então
(2) as impedâncias de carga são desiguais.

Logo,
Um sistema desequilibrado se deve a fontes de tensão desequilibradas ou a uma carga
desequilibrada.

Para simplificar a análise, vamos supor fontes de tensão equilibradas, porém, uma carga
desequilibrada.
Sistemas trifásicos desequilibrados são resolvidos pela aplicação direta de análise de malhas
e análise nodal.
A

𝑍𝐴
N
𝑍𝐵 𝑍𝐶

B
C
Figura 1.12 carga trifásica conectada em estrela desequilibrada
A Figura 1.12 mostra um exemplo de um sistema trifásico desequilibrado formado por tensões
de fonte equilibradas (não mostradas na figura) e por uma carga conectada em estrela
desequilibrada Uma vez que a carga está desequilibrada, 𝑍𝐴 , 𝑍𝐵 e 𝑍𝐶 não são iguais. As
correntes de linha são determinadas pela lei de Ohm, como segue
𝑈𝐴𝑁 𝑈𝐵𝑁 𝑈𝐶𝑁
𝐼𝑎 = ; 𝐼𝑏 = ; 𝐼𝑐 = 1.40
𝑍𝐴 𝑍𝐵 𝑍𝐶

Esse conjunto de correntes de linha desequilibradas produz corrente na linha


neutra, que não é zero como no sistema equilibrado. Aplicar a lei dos nós ao nó
N fornece a corrente da linha neutra, como segue:
𝐼𝑛 = −(𝐼𝑏 + 𝐼𝑏 + 𝐼𝑐 ) 1.41

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FCT ANALISE DE CIRCUITOS ELECTRICOS

EXERCÍCIOS SOBRE CIRCUITOS TRIFÁSICOS

1. Um sistema trifásico com sequência abc e 𝑼𝑳 = 440 𝑉 alimenta uma carga


conectada em estrela com 𝑍𝐿 = 40∠300 Ω . Determine as correntes de linha.
2. Obtenha as correntes de linha no circuito trifásico da Figura
a A

440∠00 6 − 𝑗8, Ω
n N
440∠1200 440∠ − 1200 6 − 𝑗8, Ω 6 − 𝑗8, Ω
b B
c C
Figura do exercício 2

3. Em um sistema trifásico estrela-estrela equilibrado, a fonte é uma sequência abc de


tensões e 𝑈𝑎𝑛 = 100∠200 𝑉. A impedância de linha por fase é 0,6 + j1,2 Ω, enquanto
a impedância por fase da carga é 10 + j14 Ω.Calcule as correntes de linha e as tensões
de carga.
4. Um sistema quadrifilar estrela-estrela equilibrado apresenta as seguintes tensões de
fase 𝑈𝑎𝑛 = 120∠00 𝑉, 𝑈𝑏𝑛 = 120∠−1200 𝑉, 𝑈𝑐𝑛 = 120∠1200 𝑉 . A impedância
de carga por fase é 19 + j13 Ω e a impedância de linha por fase é 1 + j2 Ω. Determine
as correntes de linha e a corrente do neutro.
5. Para o circuito da Figura, determine a corrente na linha neutra.

a A

440∠00 10 + 𝑗5, Ω
n N
440∠1200 440∠ − 1200 20Ω 10 + 𝑗5, Ω
b 2Ω B
c C

Figura do exercício 5

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6. No sistema estrela-triângulo mostrado na Figura, a fonte é uma sequência positiva com


𝑈 = 240∠0𝑜 𝑉 e impedância por fase 𝑍𝑝 = 2– 𝑗3 Ω. Calcule a tensão de linha 𝑈𝐿 e a
corrente de linha 𝐼𝐿 .
a A

𝑈𝑎𝑛

b B C
𝑍𝑝
c
Figura do exercício 6

7. No sistema trifásico estrela-triângulo equilibrado da Figura, determine a corrente de


linha IL e a potência média liberada para a carga.
a A
2, Ω

110∠00

110∠1200
110∠ − 1200
b 2, Ω B C
9 − 𝑗6, Ω
c 2, Ω

Figura do exercicio 7
8. Para o circuito triângulo-triângulo da Figura a baixo, calcule as correntes de linha e de
fase.
a A

c b B C
0
173∠ − 120 30 + 𝑗10, Ω

9. As tensões linha-linha em uma carga conectada em estrela têm magnitude igual a 440
V e estão na sequência positiva em 60 Hz. Se as cargas estiverem equilibradas com
𝑍1 = 𝑍2 = 𝑍3 = 25∠30𝑜 Ω, determine todas as correntes de linha e tensões de fase.

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FCT ANALISE DE CIRCUITOS ELECTRICOS

10. Considere o sistema triângulo-triângulo mostrado na Figura a baixo.


a A

c b B C
0
240∠ − 120 4,2 − 𝑗2,2, Ω

a) Determine as correntes de fase 𝐼𝐴𝐵 , 𝐼𝐵𝐶 𝑒 𝐼𝐶𝐴 .


b) Calcule as correntes de linha 𝐼𝑎𝐴 , 𝐼𝑏𝐵 𝑒 𝐼𝑐𝐶 .
11. Uma fonte trifásica conectada em estrela equilibrada com 𝑈𝑝 = 210𝑉 alimenta uma
carga trifásica conectada em estrela com impedância por fase 𝑍𝐴 = 80Ω, 𝑍𝐵 = 60 +
𝑗90, Ω 𝑒 𝑍𝐶 = 𝑗80Ω. Calcule as correntes de linha e a potência complexa total liberada
para a carga. Suponha que os neutros estejam interligados.

12. A figura mostra um diagrama unifilar de um sistema de distribuição de 480V de uma


pequena fábrica. Um engenheiro eléctrico formado na UZ pretende calcular a
corrente que deve ser fornecida pela concessionaria, com e sem o banco de
condensadores ligados ao sistema.

Banco de
condensadores Carga 1 em triângulo Carga 2 em estrela
em estrela 𝑍1 = 10∠300 Ω 𝑍2 = 4∠36,870 Ω
𝑍𝐶 = 5∠−900 Ω

a) Quando a chave estiver aberta, quais são os valores de: Corrente fornecida pela
concessionaria, A potência activa reactiva e aparente.
b) Repita a alínea a) quando a chave estiver fechada.
13. Tem-se uma carga desequilibrada conectada em triângulo:𝑍𝐴𝐵 = 10∠900 Ω, 𝑍𝐵𝐶 =
10∠900 Ω, 𝑍𝐶𝐴 = −10∠900 Ω, alimentada por um sistema de sequência positiva de
220V. Calcule:
a) As correntes de fase.
b) Correntes de linha

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FCT-ANCE II FENOMINOS TRANSITORIOS

CAPITULO II: FENÓMINOS TRANSITORIOS


Quando um circuito e comutado de uma condição para a outra, seja por uma mudança da tensão
aplicada, seja em variação em um dos elementos do circuito, ocorre um período de transição,
durante o qual correntes nos ramos e as quedas de tensão variam de seus valores iniciais para
novos valores. Depois desse intervalo de transição, chamado de transitório, diz-se que o circuito
atinge o estado estacionário.
A aplicação da Lei de Kirchhoff para as tensões a um circuito que contenha elementos capazes
de armazenar energia resulta em uma equação diferencial que pode ser resolvida por vários
métodos. Tal solução consta de duas partes, a função complementar e a solução particular. Para
as equações na análise de circuitos, a função complementar sempre tende a zero em um período
de tempo relativamente curto e constitui a parte transitória da solução. A solução particular é a
resposta em estado estacionário.
Os métodos por meio dos quais a solução particular e obtida neste capitulo são, geralmente,
longos e trabalhosos e não tão diretos como os métodos anteriormente usados. Entretanto, pela
aplicação desses métodos, obtém-se o significado físico da resposta em estado estacionário,
completa a resposta.
TRANSITÓRIO EM CORRENTE CONTINUA
TRANSITÓRIO RL
O circuito RL da figura 2.1 tem uma tensão aplicada constante U, ao se fechar o interruptor. A
lei de Kirchhoff para as tensões da a seguinte equação diferencial:
𝑑𝑖
𝑅𝑖 + 𝐿 =𝑈 2.1
𝑑𝑡
𝑑
Reagrupando e empregando o operador 𝐷 = 𝑑𝑡, vem:

Figura 2.1

𝑅 𝑈
(𝐷 + ) 𝑖 = 2.2
𝐿 𝐿
A equação (2.2) e uma equação diferencial linear de primeira ordem do tipo:
𝑑𝑦
− 𝑎𝑦 = 𝑅 𝑜𝑢 (𝐷 − 𝑎)𝑦 = 𝑅 2.3
𝑑𝑥
𝑑
Onde 𝐷 = 𝑑𝑡 , 𝑎 é uma constante e R pode ser uma função de 𝑥, mas não de 𝑦. A solução
completa de (2.3), composta da função completa e da solução particular, é:

𝑦 = 𝑦𝑐 + 𝑦𝑝 = 𝐶𝑒 𝑎𝑥 + 𝑒 𝑎𝑥 ∫ 𝑒 −𝑎𝑥 𝑅 𝑑𝑥 2.4

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FCT-ANCE II FENOMINOS TRANSITORIOS

Onde 𝐶 é uma constante arbitrária, determinada com conhecimento das condições iniciais. Pela
equação (2.4) a solução de (2.2) é:
𝑅⁄ )𝑡 𝑅⁄ )𝑡 𝑅⁄ )𝑡 𝑈 𝑅 𝑈
𝑖 = 𝑐𝑒 −( 𝐿 + 𝑒 −( 𝐿 ∫ 𝑒( 𝐿 ( ) 𝑑𝑥 = 𝑐𝑒 −( ⁄𝐿)𝑡 + 2.5
𝐿 𝑅
Para determinar C faz-se t=0 em (2.5) e substitui-se i pela corrente inicial i0 . Esta corrente inicial
é a corrente imediatamente após o fechamento do interruptor. A tensão e a corrente lidam-se à
𝑑𝑖 1
indutância pelas relações 𝑢 = 𝐿 𝑑𝑡 𝑒 𝑖 = 𝐿 ∫ 𝑢𝑑𝑡. A segunda expressão nos assegura que, seja
qual for a tensão aplicada, a corrente em um indutor deve ser nula, também, em 𝑡 = 0+ .
Substituindo em (2.5), temos

𝑖0 = 0 ⇒ 𝑐(1) + 𝑈⁄𝑅 = 0 𝑜𝑢 𝑐 = − 𝑈⁄𝑅 2.6

Substituindo esse valor de 𝑐 em (2.5), vem:


𝑅⁄ )𝑡 𝑈
𝑖 = − 𝑈⁄𝑅 𝑒 −( 𝐿 + 2.7
𝑅
Este tipo de equação é uma exponencial crescente, como mostra a figura 2.2

Figura 2.2

O traçado mostra o período de transição, durante o qual a corrente se ajusta, desde o seu valor
𝑈
inicial zero, ao valor final 𝑅 , o estado estacionário.

A constante de tempo 𝜏 de uma função tal como (2.7) é o tempo que faz o expoente de 𝑒 egual a
𝐿
unidade. Assim para o circuito RL, a constante de tempo é 𝛾 = 𝑅segundos. Para 1 𝜏 a quatidade
da figura entre parentes em (2.7) tem para valor (1 − 𝑒 −1 ) = (1 − 0,365) = 0,632. Decorrido
esse tempo a corrente é 63,2% do se valor final. Do mesmo modo para 2 𝜏 , (1 − 𝑒 −2 ) =
(1 − 0,135) = 0,865. E a corrente e 86,5% do seu valor final decorridos 5 𝜏, geralmente,
considera-se terminado o regime transitório por conveniência, usa-se a constante de tempo como
unidade para a representação gráfica da equação (2.7) da corrente.
Outro exemplo: no decréscimo exponencial da figura 2.3, cuja equação é 𝑓(𝑡) = 𝑒 −𝛼𝑡
Onde a constante de tempo (tempo que torna unitário o expoente de 𝑒) e 𝜏 = 𝛼𝑡, para 𝜏 = 1tem-
se 𝑒 −1 = 0,368, isto é, a função reduziu-se para 36,8% do seu valor inicial A. Para 𝜏 = 2tem-se
𝑒 −2 = 0,135, e a função reduziu-se para 13,5% do seu valor inicial A. após 5𝜏, considera-se
terminado o regime transitório.

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Figura 2.3

As tensões transitórias nos elementos do circuito RL são obtidas a partir da corrente. Assim a
tensão na resistência é:
𝑅⁄ )𝑡
𝑢𝑅 = 𝑅𝑖 = 𝑈 (1 − 𝑒 −( 𝐿 ) 2.9

E a tensão no indutor é:
𝑑𝑖 𝑑 𝑈 𝑅
𝑢𝐿 = 𝐿 = 𝐿 { (1 − 𝑒 −( ⁄𝐿)𝑡 )} 2.10
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑅
A tensão transitória na resistência cresce com a mesma constante de tempo que a corrente,
enquanto que a tensão na indutância cai exponencialmente, porem com a mesma constante de
tempo. A soma de 𝑈𝑅 𝑒 𝑈𝐿 , satisfaz a lei de Kirchhoff, durante o período transitório. Ver a
equação (2.4).

Figura 2.4
𝑅⁄ )𝑡 𝑅⁄ )𝑡
𝑢𝑅 + 𝑢𝐿 = 𝑈 (1 − 𝑒 −( 𝐿 )+ 𝑈𝑒 −( 𝐿 =𝑈 2.11

A potência instantânea em qualquer elemento do circuito é dada pelo produto da tensão pela
corrente. Assim, a potência no resistor é:

𝑅⁄ )𝑡 𝑈 𝑅⁄ )𝑡 𝑈2 𝑅 𝑅
𝑝𝑅 = 𝑢𝑅 𝑖 = 𝑈 (1 − 𝑒 −( 𝐿 ) (1 − 𝑒 −( 𝐿 ) = (1 − 2𝑒 −( ⁄𝐿)𝑡 + 𝑒 −2( ⁄𝐿)𝑡 ) 2.12
𝑅 𝑅
E na indutância:

𝑅⁄ )𝑡 𝑈 𝑅⁄ )𝑡 𝑈 2 −(𝑅⁄ )𝑡 𝑅
𝑝𝐿 = 𝑢𝐿 𝑖 = 𝑈 (𝑒 −( 𝐿 ) (1 − 𝑒 −( 𝐿 ) = (𝑒 𝐿 + 𝑒 −2( ⁄𝐿)𝑡 ) 2.12
𝑅 𝑅
E a potência total é, então:
𝑈2 𝑅
𝑝𝑇 = 𝑝𝑅 + 𝑝𝐿 = (1 − 𝑒 −( ⁄𝐿)𝑡 ) 2.14
𝑅

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𝑈2
A figura 2.5 mostra essas três funções, onde 𝑝𝑅 𝑒𝑝𝑇 𝑡𝑒𝑚 𝑅 𝑜𝑢 𝐼 2 𝑅 para valor estacionário,
enquanto que I é o valor estacionário da corrente. A potência transitória na indutância tem zero
para valores iniciais e final e é a potência que responde pela energia armazenada no campo
magnético da bobina. Verifica-se isso integrando 𝑝𝐿 desde zero ao infinito.

𝑈 2 −(𝑅⁄ )𝑡 𝑅 1 𝑈2 𝐿 1
𝑊=∫ (𝑒 𝐿 − 𝑒 −2( ⁄𝐿)𝑡 ) 𝑑𝑡 = ( ) = 𝐿𝐼 2 2.15
0 𝑅 2 𝑅 𝑅 2

Figura 2.5
𝑈
No circuito RL da figura 2.6, existe uma corrente inicial 𝑖0 = 𝑅 . Quando t=0, o interruptor é
deslocado para a posição 2, desligando a fonte e, ao mesmo tempo, pondo em curto-circuito o
braço de R e L em série. A aplicação da lei de Kirchhoff para as tensões ao circuito livre da fonte
resulta na equação:
𝑑𝑖 𝑅
𝑅𝑖 + 𝐿 = 0 𝑜𝑢 (𝐷 + ) 𝑖 = 0 2.16
𝑑𝑡 𝐿
Cuja solução é:
𝑅⁄ )
𝑖 = 𝑐𝑒 −( 𝐿 2.17

Figura 2.6
𝑈 𝑈
Para t=0, a corrente inicial é 𝑖0 = 𝑅 . Substituindo em (2.17) 𝑐 = 𝑅 e a equação da corrente é:
𝑈 −(𝑅⁄ )𝑡
𝑖= 𝑒 𝐿 2.18
𝑅
A figura 2.7(a) é uma representação dessa equação. As tensões correspondentes na resistência e
na indutância são:
𝑅⁄ )𝑡 𝑑𝑖 𝑅
𝑢𝑅 = 𝑅𝑖 = 𝑈𝑒 −( 𝐿 𝑒 𝑢𝐿 = 𝐿 = −𝑈𝑒 −( ⁄𝐿)𝑡 2.19
𝑑𝑡
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Mostardas na figura 2.7(b). a soma 𝑢𝑅 + 𝑢𝐿 satisfaz à lei de kirchhoff, já que a tensão aplicada é
𝑈2 𝑅⁄ )𝑡
nula com interruptor na posição 2. As potencias instantâneas 𝑝𝑅 = 𝑒 −2( 𝐿 𝑒 𝑝𝐿 =
𝑅
𝑈2 𝐿
𝑒 −( ⁄𝑅)𝑡
são mostradas na figura 2.7(c). integrando-se 𝑝𝐿 de zero ao infinito, verifica-se que a
𝑅
energia liberada é exatamente aquela que foi armazenada no campo magnético durante o período
1
transitório anterior, isto é, 2 𝐿𝐼 2 . Durante o período transitório de decréscimo, essa energia é
transferida ao resistor.

Figura 2.7

TRANSITÓRIO RC
Da aplicação da lei de Kirchhoff para tensões ao circuito RC da figura 2.8 resulta a seguinte
equação diferencial
1
∫ 𝑖𝑑𝑡 + 𝑅𝑖 = 𝑈 2.20
𝐶
E, após diferenciação, temos:
𝑖 𝑑𝑖 1
+ 𝑅 = 0 𝑜𝑢 (𝐷 + )𝑖 = 0 2.21
𝐶 𝑑𝑡 𝑅𝐶

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Figura 2.8

A solução dessa equação homogênea e constituída apenas pela função complementar, pois a
solução particular é zero. Assim, temos:
𝑡
𝑖 = 𝑐𝑒 −( ⁄𝑅𝐶 ) 2.22
Para determinar a constante c, observa-se que, na equação (20), para t=0, 𝑅𝑖0 = 𝑈. Substituindo
𝑈
o valor de 𝑖0 em (22), tem-se para t=0 𝑐 = 𝑅 . Então:
𝑈 −(𝑡⁄ )
𝑖= 𝑒 𝑅𝐶 2.22
𝑅
A equação (23) tem para representação uma exponencial decrescente, como mostra a figura
2.9(a)
As tensões transitórias correspondentes são:
𝑡 1 𝑡
𝑢𝑅 = 𝑅𝑖 = 𝑈𝑒 −( ⁄𝑅𝐶) 𝑒 𝑢𝑐 = ∫ 𝑖 𝑑𝑡 = 𝑈 (1 − 𝑒 −( ⁄𝑅𝐶) ) 2.24
𝐶
E estão representadas na figura 2.9. As potencias instantâneas são dadas por:
𝑈 2 −2(𝑡⁄ ) 𝑈 2 −(𝑡⁄ ) 𝑡
𝑝𝑅 = 𝑢𝑅 𝑖 = 𝑒 𝑅𝐶 𝑒 𝑝𝑐 = 𝑢𝑐 𝑖 = (𝑒 𝑅𝐶 − 𝑒 −2( ⁄𝑅𝐶 ) ) 2.25
𝑅 𝑅
Estão mostradas na figura 2.9 c.
A potência transitória 𝑝𝑐 , de valores iniciais e final nulos, é responsável pela energia que é
armazenada no campo eléctrico do capacitor. A integração do 𝑝𝑐 desde zero até o infinito verifica
essa afirmativa.

𝑈 2 −𝑡⁄ 𝑡 1
𝑊=∫ (𝑒 𝑅𝐶 − 𝑒 −2 ⁄𝑅𝐶 ) 𝑑𝑡 = 𝐶𝑈 2 2.26
0 𝑅 2

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Figura 2.9

O interruptor do circuito série RC da figura 2.10 é mantido na posição 1 por um tempo suficiente
para o estabelecimento do regime estacionário e, no estante t=0 e mudado para a posição 2.
Nessa situação a equação do circuito é:
1 1
∫ 𝑖 𝑑𝑡 + 𝑅𝑖 = 0 𝑜𝑢 (𝐷 + )𝑖 = 0 2.27
𝐶 𝑅𝐶
Cuja solução é:
𝑡
𝑖 = 𝑐𝑒 −( ⁄𝑅𝐶 ) 2.28

Figura 2.10

Para determinar a constante c, faz-se t=0 em (2.28) e substitui-se a corrente inicial𝑖0 . Como o
capacitor é carregado a uma tensão U, com a polaridade indicada no diagrama, a corrente inicial,
𝑈 𝑈
na situação 2, é oposta a i; então 𝑖0 = − 𝑅 . Logo, 𝑐 = − 𝑅 e a corrente é:
𝑈 −(𝑡⁄ )
𝑖=− .𝑒 𝑅𝐶 2.29
𝑅
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A fugura 2.11(a) representa esse transitório decrescente. As tensões transitórias correspondentes


nos elementos do circuito são:
𝑡 1 𝑡
𝑢𝑅 = 𝑅𝑖 = 𝑈𝑒 −( ⁄𝑅𝐶) 𝑒 𝑢𝑐 = ∫ 𝑖 𝑑𝑡 = 𝑈 (𝑒 −( ⁄𝑅𝐶) ) 2.30
𝐶
E estão representadas na figura 2.11(b). observe-se que 𝑢𝑟 = 𝑢𝑐 = 0, satisfazendo a lei de
Kirchhoff, uma vez que não há tensão aplicada, enquanto o interruptor esta na posição 2. As
potencias transitórias
𝑈 2 −2(𝑡⁄ ) 𝑈 2 −2(𝑡⁄ )
𝑝𝑅 = 𝑢𝑅 𝑖 = 𝑒 𝑅𝐶 𝑒 𝑝𝑐 = 𝑢𝑐 𝑖 = (𝑒 𝑅𝐶 ) 2.31
𝑅 𝑅
Aparecem na figura 2.11(c). não há evidente que a energia armazenada no capacitor se transfere
para o resistor, durante esse transitório. O resultado da integração de 𝑝𝑐 entre os limites zero e
1
infinito, será − 2 𝐶𝑈 2 .

Figura 2.11

CARGA NO TRANSITÓRIO RC
Algumas vezes é conveniente, num circuito série RC, conhecer a equação que representa a carga
𝑑𝑞
transitória q. como a corrente e a carga estão relacionadas por 𝑖 = 𝑑𝑡 , pode-se se necessário
determinar i por diferenciação.

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Figura 2.12

O capacitor da figura 2.12 carrega-se com a polaridade indicada, já que q tem o mesmo sentido
de i na figura 2.8. a equação do circuito em função da corrente
1
∫ 𝑖 𝑑𝑡 + 𝑅𝑖 = 𝑈 2.32
𝐶
𝑑𝑞
Pode ser escrita em função da carga, fazendo-se 𝑖 = . Assim,
𝑑𝑡

𝑞 𝑑𝑞 1 𝑈
+𝑅 = 𝑈 𝑜𝑢 (𝐷 + )𝑞 = 2.33
𝐶 𝑑𝑡 𝑅𝐶 𝑅
Empregando o método descrito na obtenção da equação (2.5), a solução é:
𝑡
𝑞 = 𝐶. 𝑒 −( ⁄𝑅𝐶) + 𝐶𝑈 2.34
Para t=0, a carga inicial do capacitor e 𝑞0 = 0 e, portanto:
𝑞0 = 0 = 𝐶(1) + 𝐶𝑈 𝑜𝑢 𝐶 = −𝑈𝐶 2.35
Substituindo esse valor de C em (2.34), obtém-se:
𝑡
𝑞 = 𝐶U(1 − 𝑒 −( ⁄𝑅𝐶 ) ) 2.36
A carga cresce exponencialmente para um valor final UC. Assim, se um circuito decresce, como
da figura 2.10, é analisado, sob o ponto de vista da carga, conclui-se que a carga cai
exponencialmente, desde o valor UC, de acordo com a equação:
𝑡
𝑞 = 𝐶U(𝑒 −( ⁄𝑅𝐶 ) ) 2.37
As funções representativas do crescimento e do decrescimento aparecem na figura 2.13(b). como
′ ′ ′
a carga deve ser uma função continua, q=CU para 𝑡(−) 𝑒 𝑡(+) , enquanto que i=0 para 𝑡(−) e para
′ 𝑈
𝑡(+) tem valor − 𝑅 .

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Figura 2.13

TRANSITÓRIO RLC
A aplicação da lei de Kirchhoff para as tensões ao circuito RLC série da figura 2.14 conduz à
seguinte equação
𝑑𝑖 1
𝑖𝑅 + 𝐿 + ∫ 𝑖𝑑𝑡 = 𝑈 2.38
𝑑𝑡 𝐶

Figura 2.14

Diferenciando, obtém-se:
𝑑𝑖 𝑑𝑖 𝑖 𝑅 1
𝑅 + 𝐿 + = 0 𝑜𝑢 (𝐷2 + 𝐷 + ) 𝑖 = 0 2.39
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝐶 𝐿 𝐿𝐶
Esta equação diferencial linear de segunda ordem é homogenia e tem solução particular nula. A
função complementar pode ser de qualquer dos três tipos, dependendo das amplitudes relativas
1
de R, L e C. os coeficientes na equação característica 𝐷2 + (𝑅⁄𝐿)𝐷 + 𝐿𝐶 = 0 são constantes e
as raízes da equação são
2 2
− 𝑅⁄𝐿 + √(𝑅⁄𝐿) − 4⁄𝐿𝐶 − 𝑅⁄𝐿 − √(𝑅⁄𝐿) − 4⁄𝐿𝐶
𝐷1 = 𝑒 𝐷2 = 2.40
2 2
2
Fazendo 𝛼 = − 𝑅⁄2𝐿 𝑒 𝛽 = √(𝑅⁄2𝐿) − 1⁄𝐿𝐶 , temos:

𝐷1 = 𝛼 + 𝛽 𝑒 𝐷2 = 𝛼 − 𝛽 2.41

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O radicando de β pode ser positivo, nulo ou negativo e a solução será superamortecida,


criticamente amortecida ou subamortecida (oscilatório).
𝟐
Caso 1 (𝑹⁄𝟐𝑳) > 𝟏⁄𝑳𝑪 𝑫𝟏 𝒆 𝑫𝟐 são raízes reais e desiguais, produzindo o
superamortecimento. A equação (2.39) pode, então, ser escrita, e a corrente será:
[𝑫 − (∝ +𝜷)][𝑫 − (∝ −𝜷)]𝒊 = 𝟎 𝟐. 𝟒𝟐
𝒊 = 𝑪𝟏 𝒆(∝+𝜷)𝒕 + 𝑪𝟐 𝒆(∝−𝜷)𝒕 𝒐𝒖 𝒊 = 𝒆𝜶𝒕 (𝑪𝟏 𝒆𝜷𝒕 + 𝑪𝟐 𝒆−𝜷𝒕 ) 𝟐. 𝟒𝟑

𝟐
Caso 2 (𝑹⁄𝟐𝑳) = 𝟏⁄𝑳𝑪. As raízes 𝑫𝟏 𝒆 𝑫𝟐 são iguais, resultando o caso de amortecimento
crítico. Pode-se escrever a equação (2.39) como:
[𝑫 − 𝜶][𝑫 − 𝜶)]𝒊 = 𝟎 𝟐. 𝟒𝟒
A solução é:
𝒊 = 𝒆𝜶𝒕 (𝑪𝟏 + 𝑪𝟐 𝒕) 𝟐. 𝟒𝟓
𝟐
Caso 2 (𝑹⁄𝟐𝑳) < 𝟏⁄𝑳𝑪. As raízes 𝑫𝟏 𝒆 𝑫𝟐 são complexas conjugadas, a solução é
𝟐
subamortecimento ou oscilatório. Fazendo 𝛽 = √𝟏⁄𝑳𝑪 − (𝑹⁄𝟐𝑳) e 𝜶 como anteriormente, a
equação (2.39) se torna:
[𝑫 − (∝ +𝒋𝜷)][𝑫 − (∝ −𝒋𝜷)]𝒊 = 𝟎 𝟐. 𝟒𝟔
A solução é:
𝒊 = 𝒆𝜶𝒕 (𝑪𝟏 𝐜𝐨𝐬 𝜷𝒕 + 𝑪𝟐 𝐬𝐞𝐧 𝜷𝒕) 𝟐. 𝟒𝟕
𝑅
Em todos os casos, a corrente contém o factor 𝑒 −𝛼𝑡 e, como 𝛼 = − 2𝐿 , o valor final é zero,
assegurando que a função complementar cai num tempo relativamente curto. Os três casos estão
representados na figura 2.15 com o valor inicial nulo e a inclinação positiva nesse instante.

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EXERCÍCIO SOBRE FENÓMENOS TRANSITÓRIOS

1. Fechando-se um interruptor, aplica-se, no instante 𝑡 = 0, uma tensão constante


𝑈 = 100𝑉 a um circuito serie RL, onde 𝑅 = 50Ω 𝑒 𝐿 = 10𝐻. Determinar:
a) As equações de 𝑖, 𝑢𝑅 𝑒 𝑢𝐿 ;
b) A corrente em 𝑡 = 5𝑠;
c) O instante em que 𝑢𝑅 = 𝑢𝐿 .
2. Achar as equações de 𝑝𝑅 𝑒 𝑝𝐿 do exercício 1 e mostrar que a potencia na indutância
corresponde a energia no regime estacionário, armazenada no campo magnético.
3. Uma tensão constante 𝑈 = 100𝑉 e aplicada, no instante 𝑡 = 0, a um circuito serie
RC, onde 𝑅 = 500Ω 𝑒 𝐶 = 20𝜇𝐹. Determinar as equações de 𝑖, 𝑢𝑅 𝑒 𝑢𝐶 .
4. O capacitor de 20𝜇𝐹 do circuito RC mostrado na figura tem uma carga inicial
𝑞𝑜 = 500𝜇𝐶, com a polaridade mostrada no diagrama. Fecha-se o circuito quando
𝑡 = 0, aplicando-se a tensão constante 𝑈 = 50𝑉. Determinar a corrente transitória.

5. Uma tensão constante 𝑈 = 50𝑉 é aplicada, no instante 𝑡 = 0, em um circuito RLC


série, em que 𝑅 = 3000Ω , 𝐿 = 10𝐻 𝑒 𝐶 = 200𝜇𝐹 .Determinar a corrente
transitória e o valor máximo da corrente, admitindo que o capacitor não tem carga
inicial.
6. Uma tensão constante 𝑈 = 100𝑉 é aplicada, no instante 𝑡 = 0, em um circuito
RLC série, em que 𝑅 = 50Ω , 𝐿 = 0,1𝐻 𝑒 𝐶 = 50𝜇𝐹 .Determinar a corrente
transitória, admitindo que o capacitor não tem carga inicial.
7. Na figura 𝑅 = 200Ω, 𝐿 = 0,1𝐻, 𝐶 = 13,33𝜇𝐹 𝑈𝐶(0−) = 200𝑉.
Obter o transitório de corrente se a chave for fechada em 𝑡 = 0

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FCT-ANCE II TEORIA DE QUADRIPOLOS

CAPITULO III: TEORIA DE QUADRIPOLOS


Um par de terminais através dos quais pode entrar ou sair uma corrente de um circuito é
conhecido como porta. Dispositivos ou elementos de
dois terminais (como resistores, capacitores e
indutores) resultam em circuitos de uma porta. Os
circuitos que tratamos até então são, em sua maioria, U
circuitos de dois terminais ou de uma porta,
representados na Figura 1a; a corrente que entra em um
terminal sai pelo outro terminal, de modo que o saldo
de corrente que entra pela porta é igual a zero.
Consideramos a tensão ou a corrente em um par simples
de terminais – como os dois terminais de um resistor,
capacitor ou indutor. Também estudamos circuitos com
quatro terminais ou duas portas envolvendo
amplificadores operacionais, transistores e U1 U2
transformadores, conforme ilustrado na Figura 1b.
Geralmente, um circuito pode ter n portas. Neste
capítulo, estamos interessados basicamente nos
circuitos de duas portas.
Figura 1
Circuito de duas portas é um circuito elétrico com duas portas distintas para entrada e saída.
Portanto, um circuito de duas portas possui dois pares de terminais atuando como pontos de
acesso. Como mostra a Figura1b, a corrente que entra por um terminal de um par deles sai
pelo outro terminal do par.
Caracterizar um circuito de duas portas requer que estabeleçamos uma relação entre as
quantidades 𝑈1 , 𝑈2 , 𝐼1 𝑒 𝐼2 nos terminais da Figura1b, dos quais dois são independentes. Os
vários termos que estabelecem relações entre essas tensões e correntes são chamados
parâmetros. Nosso objectivo, neste capítulo, é obter os conjuntos desses parâmetros.
Mostraremos a relação entre eles e como os circuitos de duas portas podem ser ligados em
série, em paralelo ou em cascata.

PARÂMETROS DE IMPEDÂNCIA
Os parâmetros de impedância e de admitância são geralmente usados na síntese de filtros, e
também são úteis no projecto e na análise de circuitos para casamento de impedâncias e em
redes de distribuição de energia. Trataremos dos parâmetros de impedância nesta secção e dos
parâmetros de admitância na secção seguinte.

U1 U2 U1 U2

Figura 2

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FCT-ANCE II TEORIA DE QUADRIPOLOS

Um circuito de duas portas pode ser excitado por tensão como na Figura 2a ou por corrente
como na Figura 2b. Tanto na a quanto na b, as tensões nos terminais podem ser relacionadas
com as correntes nos terminais como segue
𝑈1 = 𝑍11 𝐼1 + 𝑍12 𝐼2
{ 3.1
𝑈2 = 𝑍21 𝐼1 + 𝑍22 𝐼2
Ou na forma matricial
𝑈1 𝑍 𝑍12 𝐼1
[ ] = [ 11 ][ ] 3.2
𝑈2 𝑍21 𝑍22 𝐼2
onde os termos z são denominados de parâmetros de impedância e têm unidades de Ohms.
Os valores dos parâmetros podem ser calculados, fazendo 𝐼1 = 0 ou 𝐼2 = 0. Portanto,
𝑈1 𝑈1
𝑍11 = | , 𝑍12 = |
𝐼1 𝐼2 =0 𝐼2 𝐼1 =0
𝑈2 𝑈2
𝑍21 = | , 𝑍22 = | 3.3
𝐼1 𝐼2 =0 𝐼2 𝐼1 =0

Como os parâmetros z são obtidos abrindo-se o circuito da porta de entrada ou de saída, eles
são denominados parâmetros de impedância de circuito aberto.
Especificamente,
𝑍11 = Impedância de entrada de circuito aberto.
𝑍12 = Impedância de transferência de circuito aberto da porta 1 para a porta 2.
𝑍21 = Impedância de transferência de circuito aberto da porta 2 para a porta 1.
𝑍22 = Impedância de saída de circuito aberto 3.4

U1 U2
U1 U2

Figura 3
De acordo com a Equação (3.3), obtemos 𝑍11 e 𝑍21 conectando uma fonte de tensão U1 à porta
1, enquanto deixamos a porta 2 como um circuito aberto, como indicado na Figura 3a e
determinando 𝐼1 e 𝑈2 ; obtemos, então,
𝑈1 𝑈2
𝑍11 = , 𝑍21 = 3.5
𝐼1 𝐼1
De modo similar, obtemos 𝑍12 e 𝑍22 conectando uma fonte de tensão 𝑈2 à porta 2, enquanto
deixamos a porta 1 como um circuito aberto, conforme indicado na Figura 19.3b, e
determinando 𝐼2 e 𝑈1 ; obtemos, então,

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𝑈1 𝑈2
𝑍12 = , 𝑍22 = 3.6
𝐼2 𝐼2
O procedimento anterior fornece um meio para calcularmos ou medirmos os parâmetros z.
Algumas vezes, 𝑍11 e 𝑍22 são denominadas impedâncias do ponto de excitação, enquanto 𝑍21
e 𝑍12 são chamadas impedâncias de transferência. Uma impedância do ponto de excitação é a
impedância de entrada de um dispositivo de dois terminais (uma porta). Portanto, 𝑍11 é a
impedância do ponto de excitação de entrada no qual a porta de saída é um circuito aberto,
enquanto 𝑍22 é impedância do ponto de excitação de saída no qual a porta de entrada é um
circuito aberto.
Quando 𝑍11 = 𝑍22 , diz-se que o circuito de duas portas é simétrico. Isso implica o circuito ter
simetria tipo espelho em relação a uma linha central; isto é, pode-se encontrar uma linha que
divide o circuito em duas metades semelhantes.

PARÂMETROS DE ADMITÂNCIA

Figura 4

Pode ser que os parâmetros de impedância não existam para um circuito de duas portas;
portanto, há a necessidade de uma forma alternativa para descrever um circuito destes, a qual
poderia ser atendida pelo segundo conjunto de parâmetros que são obtidos expressando-se as
correntes nos terminais em termos de tensões nos terminais. Seja na Figura 4a como na b, as
correntes de terminais podem ser expressas em termos das tensões nos terminais como segue
𝐼1 = 𝑌11 𝑈1 + 𝑌12 𝑈2
{ 3.7
𝐼2 = 𝑌21 𝑈1 + 𝑌22 𝑈2
Ou na forma matricial
𝐼 𝑌 𝑌12 𝑈1
[ 1 ] = [ 11 ][ ] 3.8
𝐼2 𝑌21 𝑌22 𝑈2
Os termos y são conhecidos como parâmetros de admitância e são expressos em siemens.
Os valores dos parâmetros podem ser calculados fazendo 𝑈1 = 0 (porta de entrada curto-
circuitada) ou 𝑈2 = 0 (porta de saída curto-circuitada). Portanto,

𝐼1 𝑏1
𝑌11 = | , 𝑌12 = |
𝑈1 𝑈2 =0 𝑈2 𝑈1 =0
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𝐼2 𝐼2
𝑌21 = | , 𝑌22 = | 3.9
𝑈1 𝑈2 =0 𝑈2 𝑈1 =0

Como os parâmetros y são obtidos curto-circuitando-se a porta de entrada ou de saída, eles


também são denominados parâmetros de admitância de curto-circuito. Especiicamente,
𝑌11 = Admitância de entrada de curto-circuito.
𝑌12 = Admitância de transferência de curto-circuito da porta 2 para a porta 1.
𝑌21 = Admitância de transferência de curto-circuito da porta 1 para a porta 2. 3.10
𝑌22 = Admitância de saída de curto-circuito.

De acordo com a Equação (3.9), obtemos 𝑌11 e 𝑌21 conectando-se uma fonte de corrente 𝐼1 à
porta 1 e curto-circuitando a porta 2, como mostrado na Figura 4a, determinando 𝑈1 e 𝐼2 ;
obtemos, então,
𝐼1 𝐼2
𝑌11 = , 𝑌21 = 3.11
𝑈1 𝑈1
De modo similar, obtemos 𝑌12 e 𝑌22 conectando-se uma fonte de corrente 𝐼2 à porta 2 e curto-
circuitando a porta 1, conforme indicado na Figura 4b, determinando 𝐼1 e 𝑈2 ; e, então,
obtendo
𝐼1 𝐼2
𝑌12 = , 𝑌22 = 3.12
𝑈2 𝑈1
Esse procedimento fornece um meio para calcularmos ou medirmos os parâmetros y.

PARÂMETROS HÍBRIDOS
Os parâmetros z e y de um circuito de duas portas nem sempre existem. Assim, há a
necessidade de criarmos um terceiro conjunto de parâmetros, que se baseia no acto de tornar
𝑈1 𝑒 𝐼2 as variáveis dependentes. Portanto, obtemos
𝑈1 = ℎ11 𝐼1 + ℎ12 𝑈2
{ 3.13
𝐼2 = ℎ21 𝐼1 + ℎ22 𝑈2
Ou na forma matricial
𝑈1 ℎ ℎ12 𝐼1
[ ] = [ 11 ][ ] 3.14
𝐼2 ℎ21 ℎ22 𝑈2
Os termos h são conhecidos como parâmetros híbridos (ou, simplesmente, parâmetros h),
pois são uma combinação híbrida de razões. Eles são muito úteis na descrição de dispositivos
eletrônicos como transistores,é muito mais fácil medir experimentalmente os parâmetros h
desses dispositivos que medir seus parâmetros z ou y.
Os valores dos parâmetros são determinados como segue
𝑈1 𝑈1
ℎ11 = | , ℎ12 = |
𝑏1 𝑈2 =0 𝑈2 𝐼1 =0
𝐼2 𝐼2
ℎ21 = | , ℎ22 = | 3.15
𝐼1 𝑈2 =0 𝑈2 𝐼1 =0

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Fica evidente que os parâmetros ℎ11 , ℎ12 , ℎ21 𝑒 ℎ22 representam, respectivamente, uma
impedância, um ganho de tensão, um ganho de corrente e uma admitância. É por essa razão
que eles são denominados parâmetros híbridos.
O procedimento para calcular os parâmetros h é similar àquele usado para os parâmetros z ou
y. Aplicamos uma fonte de tensão ou de corrente à porta apropriada, curto-circuitamos ou
deixamos como circuito aberto a outra porta, dependendo do parâmetro de interesse, e
realizamos uma análise de circuitos comum.
Um conjunto de parâmetros estreitamente ligado aos parâmetros h são os parâmetros g ou
parâmetros híbridos inversos. Estes são usados para descrever as correntes e tensões nos
terminais
𝐼1 = 𝑔11 𝑈1 + 𝑔12 𝐼2
{ 3.16
𝑈2 = 𝑔21 𝑈1 + 𝑔22 𝐼2
Ou na forma matricial
𝐼1 𝑔11 𝑔12 𝑈1
[ ] = [𝑔 𝑔22 ] [ 𝐼2 ] 3.17
𝑈2 21

Os valores dos parâmetros g são determinados como segue


𝐼1 𝐼1
𝑔11 = | , 𝑔12 = |
𝑈1 𝐼2 =0 𝐼2 𝑈1 =0
𝑈2 𝑈2
𝑔21 = | , 𝑔22 = | 3.18
𝑈1 𝐼2 =0 𝐼2 𝑈1 =0

PARÂMETROS DE TRANSMISSÃO
Já que não existem restrições sobre quais tensões e correntes terminais devem ser consideradas
variáveis independentes e quais devem ser consideradas dependentes, a expectativa é de
estarmos aptos a gerar diversos conjuntos de parâmetros.
Outro conjunto de parâmetros estabelece uma relação entre as variáveis na porta de entrada e
as variáveis na porta de saída. Portanto,
𝑈1 = 𝐴𝑈2 − 𝐵𝐼2
{ 3.19
𝐼1 = 𝐶𝑈2 − 𝐷𝐼2
Ou na forma matricial
𝑈1 𝐴 𝐵 𝑈2 𝑈
[ ]=[ ][ ] = [𝑇] [ 2 ] 3.20
𝐼1 𝐶 𝐷 −𝐼2 −𝐼2

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Os valores dos parâmetros de transmissão são determinados como segue


𝑈1 𝑈1
𝐴= | , 𝐵=− |
𝑈2 𝐼2 =0 𝐼2 𝑈2 =0
𝐼1 𝐼1
𝐶= | , 𝐷=− | 3.21
𝑈2 𝐼2 =0 𝐼2 𝑈2 =0

A e D são adimensionais, B é medido em ohms e C, em siemens. Como os parâmetros de


transmissão fornecem uma relação direta entre variáveis de entrada e de saída, eles são úteis
em circuitos em cascata.
O último conjunto de parâmetros pode ser definido expressando as variáveis da porta de saída
em termos das variáveis da porta de entrada. Obtemos
𝑈2 = 𝑎𝑈1 − 𝑏𝐼1
{ 3.22
𝐼2 = 𝑐𝑈1 − 𝑑𝐼1
Ou na forma matricial
𝑈2 𝑎 𝑏 𝑈1 𝑈
[ ]=[ ][ ] = [𝑡] [ 1 ] 3.23
𝐼2 𝑐 𝑑 −𝐼1 −𝐼1

Os parâmetros a, b, c e d são denominados parâmetros de transmissão inversa, ou parâmetros


t. Eles são determinados como segue:
𝑈2 𝑈2
𝑎= | , 𝑏=− |
𝑈1 𝐼1 =0 𝐼1 𝑈1 =0
𝐼2 𝐼2
𝑐= | , 𝑑=− | 3.24
𝑈1 𝐼1 =0 𝐼1 𝑈1 =0

Enquanto a e d são adimensionais, b e c são medidos, respectivamente, em ohms e siemens.

INTERCONEXÃO DE CIRCUITOS ELÉTRICOS


Um circuito eléctrico grande e complexo pode ser dividido em subcircuitos para fins de análise
e projecto, os quais são modelados como circuitos de duas portas interligados de modo a
formar o circuito original. Os circuitos de duas portas são, portanto, considerados como os
componentes básicos que podem ser interligados para formar um circuito complexo. A
interconexão pode ser em série, em paralelo ou em cascata. Embora o circuito interligado deva
ser descrito por qualquer um dois seis conjuntos de parâmetros, um determinado conjunto de
parâmetros pode ser vantajoso. Por exemplo, quando os circuitos estão em série, seus
parâmetros individuais z se somam para dar os parâmetros z do circuito maior. Quando estão
em paralelo, seus parâmetros individuais y se somam para fornecer os parâmetros y do circuito
maior. Quando estão em cascata, seus parâmetros de transmissão individuais podem ser
multiplicados entre si para se obter os parâmetros de transmissão do circuito maior.

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CONEXÃO EM SERIE
Consideremos a conexão em série de dois circuitos de duas
portas mostrada na Figura 5. Os circuitos são considerados
como estando em série porque suas correntes de entrada
são idênticas e suas tensões são somadas. Além disso, cada
circuito tem uma referência comum e quando eles são
colocados em série, os pontos de referência comuns de
cada circuito são ligados juntos.

Para o circuito Na,

𝑈1𝑎 = 𝑍11𝑎 𝐼1𝑎 + 𝑍12𝑎 𝐼2𝑎


{ 3.25
𝑈2𝑎 = 𝑍21𝑎 𝐼1𝑎 + 𝑍22𝑎 𝐼2𝑎
E para o circuito Nb,
𝑈1𝑏 = 𝑍11𝑏 𝐼1𝑏 + 𝑍12𝑏 𝐼2𝑏
{ 3.26
𝑈2𝑏 = 𝑍21𝑏 𝐼1𝑏 + 𝑍22𝑏 𝐼2𝑏
Percebemos da figura 5 que
𝐼1 = 𝐼1𝑎 = 𝐼1𝑏 , 𝐼2 = 𝐼2𝑎 = 𝐼2𝑏 3.27
E que

𝑈1 = 𝑈1𝑎 + 𝑈1𝑏 = (𝑍11𝑎 + 𝑍11𝑏 )𝐼1 + (𝑍12𝑎 + 𝑍12𝑏 )𝐼2


{ 3.28
𝑈2 = 𝑈2𝑎 + 𝑈2𝑏 = (𝑍21𝑎 + 𝑍21𝑏 )𝐼1 + (𝑍22𝑎 + 𝑍22𝑏 )𝐼2

Portanto, os parâmetros Z, para o circuito como um todo, são:


𝑍 𝑍12 (𝑍 + 𝑍11𝑏 ) (𝑍12𝑎 + 𝑍12𝑏 )
[ 11 ] = [ 11𝑎 ] 3.29
𝑍21 𝑍22 (𝑍21𝑎 + 𝑍21𝑏 ) (𝑍22𝑎 + 𝑍22𝑏 )
demonstrando que os parâmetros z, para o circuito global, são a soma dos parâmetros z para
os circuitos individuais. Isso pode ser estendido a n circuitos em série.
CONEXÃO EM PARALELO
Os circuitos de duas portas estão em paralelo quando as
tensões em suas portas forem iguais e as correntes nas
portas do circuito maior forem as somas das correntes em
cada porta. Além disso, cada circuito deve ter uma
referência comum e quando eles estiverem interligados,
devem ter suas referências comuns interligadas. A
conexão em paralelo de dois circuitos de duas portas é
indicada na Figura 6.
Para os dois circuitos,
𝐼1𝑎 = 𝑌11𝑎 𝑈1𝑎 + 𝑌12𝑎 𝑈2𝑎
{ 3.30
𝐼2𝑎 = 𝑌21𝑎 𝑈1𝑎 + 𝑌22𝑎 𝑈2𝑎
E
𝐼1𝑏 = 𝑌11𝑏 𝑈1𝑏 + 𝑌12𝑏 𝑈2𝑏
{ 3.31
𝐼2𝑏 = 𝑌21𝑏 𝑈1𝑏 + 𝑌22𝑏 𝑈2𝑏
Porém, a partir da figura 6, temos:
𝑈1 = 𝑈1𝑎 = 𝑈1𝑏 , 𝑈2 = 𝑈2𝑎 = 𝑈2𝑏 3.32𝑎
𝐼1 = 𝐼1𝑎 + 𝐼1𝑏 , 𝐼2 = 𝐼2𝑎 + 𝐼2𝑏 3.32𝑏
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Substituindo as equações (3.30) e (3.31) na equação (3.32b), obtemos


𝐼1 = (𝑌11𝑎 + 𝑌11𝑏 )𝑈1 + (𝑌12𝑎 + 𝑌12𝑏 )𝑈2
{ 3.33
𝐼2 = (𝑌21𝑎 + 𝑌21𝑏 )𝑈1 + (𝑌22𝑎 + 𝑌21𝑏 )𝑈2
Logo, os parâmetros Y para o circuito global são:
𝑏11 𝑌12 (𝑌 + 𝑌11𝑏 ) (𝑌12𝑎 + 𝑌12𝑏 )
[ ] = [ 11𝑎 ] 3.34
𝑌21 𝑌22 (𝑌21𝑎 + 𝑌21𝑏 ) (𝑌22𝑎 + 𝑌22𝑏 )
demonstrando que os parâmetros y do circuito global são a soma dos parâmetros y de cada
circuito. O resultado pode ser estendido para n circuitos de duas portas em paralelo.

CONEXÃO EM CASCATA
Diz-se que dois circuitos estão em cascata
quando a saída de um for a entrada do outro. A
conexão de dois circuitos de duas portas em
cascata é ilustrada na Figura 7. Para os dois
circuitos,
𝑈1𝑏 𝐴 𝐵𝑎 𝑈2𝑎
[ ]=[ 𝑎 ][ ] 3.35
𝐼1𝑎 𝐶𝑎 𝐷𝑎 −𝐼2𝑎
𝑈1𝑏 𝐴 𝐵𝑏 𝑈2𝑏
[ ]=[ 𝑏 ][ ] 3.36
𝐼1𝑏 𝐶𝑏 𝐷𝑏 −𝐼2𝑏
A partir da figura 7, temos:
𝑈1 𝑈 𝑈2𝑎 𝑈 𝑈2𝑎 𝑈
[ ] = [ 1𝑎 ], [ ] = [ 1𝑏 ], [ ]=[ 2] 3.37
𝐼1𝑎 𝐼1𝑎 −𝐼2𝑎 𝐼1𝑏 −𝐼2𝑎 −𝐼2
Assim, teremos:
𝑈1 𝐴 𝐵𝑎 𝐴𝑏 𝐵𝑏 𝑈2
[ ]=[ 𝑎 ][ ][ ] 3.38
𝐼1 𝐶𝑎 𝐷𝑎 𝐶𝑏 𝐷𝑏 −𝐼2
Portanto, os parâmetros de transmissão para o circuito global são o produto dos parâmetros
para cada parâmetro de transmissão individual:
𝐴 𝐵 𝐴 𝐵𝑎 𝐴𝑏 𝐵𝑏
[ ]=[ 𝑎 ][ ] 3.39
𝐶 𝐷 𝐶𝑎 𝐷𝑎 𝐶𝑏 𝐷𝑏

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CAPITULO IV: CAMPO ELECTROSTÁTICO


O campo electromagnético é uma forma de matéria. Transporta energia e possui um conjunto
de propriedades eléctricas e magnéticas.
O campo electrostático é um caso particular do campo electromagnético. Define-se como a
região na qual uma partícula carregada estacionaria estará sujeita a uma forca, devida a uma
distribuição de cargas em repouso em relação a uma referencial e invariável com o tempo.
Da física sabe-se que qualquer substancia é constituída por partículas elementares carregadas
rodeadas por um campo electromagnético. Assim pode dizer-se que em qualquer substancia
há descontinuidades microscópicas no espaço.
Além disso, as partículas elementares carregadas que constituem os átomos e moléculas de
uma substancia então continuamente em movimento ao acaso.
Assim, além das descontinuidades microscópicas no espaço, há sempre mudanças de posição
(os deslocamentos) de cargas microscópicas em espaços de tempo consecutivos.
Na teoria do campo, considera-se a média das descontinuidades microscópicas quer no espaço
e no tempo, isto é, os fenómenos, são examinados macroscopicamente.
Num corpo carregado (a carga total considera-se invariável com o tempo) as cargas
elementares movem-se ao acaso. Portanto, o campo magnético devido as cargas elementares
e praticamente inexistente mesmo perto da superfície do campo. É por esta razão que se pode
considerar apenas um aspecto do campo electromagnético ou seja o campo eléctrico.
Na nossa discussão trataremos de um campo produzido num meio isotrópico é uniforme, isto
é, um meio cujas propriedades eléctricas são as mesmas em todos os pontos e
independentemente da direcção. Todos os outros casos serão tratados em particular.
FORCAS ENTRE CARGAS. LEI DE COULOMB
Qualquer corpo carregado colocado num campo electrostático estará sujeita à acção de uma
forca que é proporcional à grandeza da carga.
Este efeito mecânico está na base de uma definição do campo electrostático. Foi formulado
por Coulomb em 1785.
Esta lei fundamental da electrostática, conhecida como a lei de Coulomb, diz que a forca de
atracção ou repulsão F, entre duas cargas eléctricas, 𝑞1 𝑒 𝑞2 , pontuais e colocadas no vazio, é
proporcional ao produto das suas grandezas e é inversamente proporcional ao quadrado das
distancia R entre elas ( ver figura 1)
𝑞2 F
𝑞1

Figura 1
𝑅0
𝑞 𝑞2
𝐹 = 4𝜋𝜀1 2
𝑅0 (4.1)
0𝑅

onde 𝑞1 𝑒 𝑞2 , são cargas em coulombs, 𝜀0 = 8,86 × 10−12 𝐹⁄𝑚 é a permitividade do vazio,


R é a distância das cargas em metros, 𝑅0 é o vector unitário cuja direcção é a da linha que une

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FCT-ANCE II TEORIA DE CAMPO ELECTROSTATICO

as cargas e cujo sentido é o da forca que actua entre elas e F é a forca em newtons. Para cargas
de sinais contrários é de atracção; para cargas do mesmo sinal é de repulsão.
Ainda que no enunciado da lei se fale em cargas pontuais, isto não significa que as cargas
sejam infinitesimais. O que se quer significar é que a distância entre elas é muito grande
comparada com as dimensões dos corpos.
INTENSIDADE DO CAMPO ELÉCTRICO
Qualquer campo é definido em termos de certas grandezas fundamentais. Para o campo
electrostático, estas grandezas são a intensidade do campo eléctrico E e o potencial 𝜑.
A intensidade do campo eléctrico é uma quantidade vectorial e como tal define-se em qualquer
ponto de um campo pela intensidade, direcção e sentido. O potencial de um campo eléctrico
em qualquer ponto é uma grandeza escalar.
Um campo eléctrico está completamente definido se se conhece a lei pela qual E ou 𝜑 varia
em todos os pontos do campo.
Se se coloca num campo electrostático uma carga positiva estacionaria tão pequena que não
de origem a qualquer a qualquer mudança na distribuição de cargas nos corpos que produzem
o campo, a razão entre a forca que actua sobre a carga e a grandeza da carga é igual à
𝐹
intensidade do campo eléctrico no ponto considerado: 𝐸 = 𝑞

A intensidade do campo eléctrico é numericamente igual à forca que actua sobre a carga
unitária.
Se um campo é devido a várias cargas (𝑞1 , 𝑞2 , 𝑞3 … . ), intensidade do campo eléctrico será
soma das intensidades dos campos eléctricos devido a cada uma das cargas: 𝐸 = 𝐸1 + 𝐸2 +
𝐸3 + ⋯
Por outras palavras, o princípio da sobreposição também e valido para o
campo eléctrico.
Consideremos uma carga 𝑞 colocada num campo eléctrico. A força que
actua sobre a carga é dada por 𝑞𝐸. Em seguida a carga 𝑞 move-se de 1 para
2 pelo trajecto 1-3-2 (Figura 2). Como a força 𝑞𝐸 em qualquer ponto do
trajecto pode ser diferente da do elemento 𝑑𝑙 do trajecto, o trabalho
realizado sobre a carga para a deslocar de 𝑑𝑙 e dado pelo produto escalar
da força pelo elemento do percurso, 𝑞𝐸 𝑑𝑙. Então o trabalho realizado sobre
a carga 𝑞 para a levar do ponto 1 ao ponto 2 pelo percurso 1-3-2 é dado pela
2
soma de trabalhos elementares. Esta soma pode representar-se pelo integral 𝑞 ∫1 𝐸 𝑑𝑙 .

A carga 𝑞 pode ter qualquer valor. Suponhamos que é uma carga unitária. Então o trabalho
realizado sobre carga ao levá-la de 1 para 2 e numericamente igual à diferença de potencial:
Figura 2 2

∫ 𝐸 𝑑𝑙 = 𝜑1 − 𝜑2 (4.2)
1

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FCT-ANCE II TEORIA DE CAMPO ELECTROSTATICO

A equação (4.2) define a diferença de potencial entre os pontos 1 e 2 como o integral curvilíneo
da intensidade do campo eléctrico.
2
Se o potencial no ponto 2 é zero, então o potencial no ponto 1 será dado por 𝜑1 = ∫1 𝐸 𝑑𝑙 ,
isto é, o potencial em qualquer ponto de um campo eléctrico é definido como o trabalho
realizado pelas forças do campo para transportarem uma carga positiva unitária de um ponto
para o outro onde o potencial é zero.
Qualquer ponto num campo pode ser considerado com potencial nulo. Desde que este ponto
tenha sido escolhido, os potenciais de todos outros pontos estão definidos.
Muitas vezes considera-se o ponto de potencial nulo no infinito. Portanto, especialmente em
textos de física, uma definição muito vulgar de potencial e a do trabalho realizado pelas forças

do campo ao deslocarem a unidade de carga de um certo ponto até infinito: 𝜑1 = ∫1 𝐸 𝑑𝑙 .

O CAMPO ELÉCTRICO COMO UM CAMPO DE POTENCIAL


Escrevamos uma expressão para uma diferença de potencial num campo de vida a uma carga
pontual. Para isto, consideremos que a carga pontual positiva 𝑞1 que produz o campo está no
ponto 𝑚, e a carga positiva unitária 𝑞 = 1 move-se do ponto 1 para o ponto 2 através do ponto
intermediário 3.
𝑅1 é a distância do ponto 𝑚 ao ponto inicial 1; 𝑅2 é a distância do ponto 𝑚 ao ponto 2; e 𝑅 é
a distância do ponto 𝑚 ao ponto intermédio 3 no percurso 1-3-2. O sentido da intensidade do
campo E e do elemento 𝑑𝑙 no ponto intermédio 3.
O produto escalar 𝐸𝑑𝑙 = 𝐸𝑑𝑅, em que 𝑑𝑅 é a projeção do elemento 𝑑𝑙 sobre o segmento de
reta que une os pontos 𝑚 e 3.
𝐹
Por definição, 𝑬 = 𝑞
𝑞 𝑞
Pela lei de Coulomb, 𝑭 = 4𝜋𝜀1 𝑅2 𝑅0
0

Como |𝑹0 | = 1e 𝑞 = 1, segue-se que o valor da intensidade do campo devido ã carga pontual
𝑞
𝑞1 é 𝑬 = 4𝜋𝜀1𝑅2
0

Substituindo E𝑑𝑙 por 𝑑𝑅/4𝜋𝜀0 𝑅 2 na equação (4.2) Obtemos


2 2 2
𝑞1 𝑑𝑅 𝑞1 1 1
𝜑1 − 𝜑2 = ∫ 𝐸𝑑𝑙 = ∫ 𝐸𝑑𝑅 = ∫ 2= ( − ) (4.2′ )
4𝜋𝜀0 𝑅 4𝜋𝜀0 𝑅1 𝑅2
1 1 1

Assim a diferença de potencial entre os pontos inicial e final do percurso ponto (1 e 2)


depende somente da posição destes pontos e é independente do percurso ao longo do qual a
carga é deslocada. Por outras palavras, se a carga fosse levada do ponto 1 ao ponto 2 ao longo
de outro percurso qualquer, por exemplo 1-4-2, a diferença de potencial neste caso 𝜑1 − 𝜑2
seria igual a diferença de potencial 𝜑1 − 𝜑2 obtido para o percurso 1-3-2.
Num campo devido a um conjunto de cargas, o que foi dito anteriormente é também válido
para o campo devido a cada uma das cargas. Em virtude do princípio de sobreposição aplicável

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FCT-ANCE II TEORIA DE CAMPO ELECTROSTATICO

a um campo num meio isotrópico e uniforme, as conclusões podem estender-se ao campo total
criado pelo conjunto de cargas.
Se tomarmos um percurso fechado 1-3-2-4-1 (figura 2) começamos e terminamos no mesmo
ponto (1) do percurso. Então ambos os membros da equação (4.2) devem ser nulos.

𝜑1 − 𝜑2 = 0 = ∮ 𝑬 𝑑𝑙 (4.3)

Onde ∮ 𝐢𝐧𝐝𝐢𝐜𝐚 𝐪𝐮𝐞 𝐬𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐬𝐢𝐝𝐞𝐫𝐚 𝐨 𝐢𝐧𝐭𝐞𝐠𝐫𝐚𝐥 𝐚𝐨 𝐥𝐨𝐧𝐠𝐨 𝐝𝐞 𝐮𝐦 𝐩𝐞𝐫𝐜𝐮𝐫𝐬𝐨 𝐟𝐞𝐜𝐡𝐚𝐝𝐨.


A equação (4.3) diz que num campo electrostático o integral curvilíneo da intensidade do
campo eléctrico ao longo de qualquer percurso fechado é nulo.
Fisicamente, isto explica-se pelo facto de que as forças do campo realizam o mesmo trabalho
sobre uma carga que move ao longo de um percurso fechado, que as forças exteriores que se
opõem a este movimento. Tomando o trabalho devido ao campo como positivo e o trabalho
devido as forças exteriores com negativo, a sua soma deve ser zero.
A equação (4.3) pode ler-se: a circulação do vector E ao longo de qualquer contorno fechado
é zero. Esta é a propriedade fundamental do campo electrostático. Os campos que satisfazem
a esta relação são chamados campos de potencial. Além dos campos electrostáticos, este
conceito abrange os campos gravitacionais, campos de temperatura em regime permanente,
etc.
LINHAS DE FORÇAS E LINHAS EQUIPOTENCIONAIS
Um campo electrostático pode ser representado por um conjunto de linhas de força e linhas
equipotenciais. Uma linha de força eléctrica é um percurso imaginário no campo, que começa
numa carga positiva e termina numa carga negativa igual. Desenha-se de tal modo que o
segmento de tangente à linha em qualquer ponto dá a direcção da intensidade de campo E
nesse ponto. Uma carga positiva muito pequena que se possa mover livremente no campo e
sem inércia seguiria o percurso da linha de forças. Assim, as linhas de forças eléctricas tem
um começo (numa carga positiva) e um fim (numa carga negativa igual). Contudo, como a
carga positiva e a carga negativa que produzem o campo não podem encontrar-se no mesmo
ponto, as linhas de forças não podem fechar-se sobre elas próprias.
Em qualquer campo electrostático podem considerar-se superfície nas quais todos os pontos
estão ao mesmo potencial. Tal superfície é chamada superfície equipotencial. As intersecções
de um plano com as superfícies equipotenciais são chamas linhas equipotenciais.
De definição de superfície equipotencial, não se realiza trabalho ao deslocar-se numa carga
sobre ela e, portanto, o potencial não varia. Do mesmo modo não se realiza trabalho ao
deslocar-se numa carga ao longo de uma linha equipotencial e, portanto, o potencial
permanece o mesmo.

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Figura 3
As superfícies equipotenciais interceptam as linhas de forças electrostáticas correspondentes,
perpendicularmente em qualquer ponto. A figura 3a representa dois corpos carregados e várias
linhas de força electrostáticas e linhas equipotenciais.
Ao contrário das linhas de força, as linhas equipotenciais fecham-se sobre elas próprias.
GRADIENTE DE POTECIAL
Como já vimos, a intensidade do campo eléctrico E e o potencial estão relacionados por um
integral da forma (4.2). A relação pode também ter a forma diferencial.
Já foi dito que um campo electrostático é um campo de potencial. No caso geral, existe uma
diferença de potencial entre dois pontos muito próximos do campo. Dividindo esta diferença
de potencial pela distância mais curta entre os dois pontos obtemos uma quantidade que
representa a velocidade de variação do potencial ao longo da mais curta distância entre pontos
dados. Esta velocidade depende do sentido em que os pontos são tomados.
Na matemática usa-se o conceito de gradiente de uma função escalar, que exprime, em
grandeza e sentido a velocidade de variação máxima desta função. Nesta definição há dois
aspectos importantes a considerar: (1) dois pontos vizinhos devem ser escolhidos num sentido
em que a razão de variação de variação do potencial seja a maior; e (2) este sentido deve ser
tal que a função escalr aumente e não diminua ao longo dele.
A figura 3b representa dois segmentos de linhas equipotenciais próximos. O potencial de uma
delas é 𝜑1 e o da outra 𝜑2 . Seja 𝜑1 > 𝜑2 . Então, por definição, o gradiente de potencial pode
ser representado por um vector (figura 3b) que é perpendicular as linhas equipotenciais e se
dirige de 𝜑2 para 𝜑1 (no sentido em que o potencial aumenta).
O vector intensidade do campo eléctrico está dirigido do potencial mais alto (𝜑1 ) para o
potencial mais baixo (𝜑2 ). Designado a distância, segundo a normal, entre as duas superfícies
equipotenciais por 𝜑1 e o vector com o sentido de E por 𝑑𝑛, tal que 𝑑𝑛 = 𝑛0 𝑑𝑛
(em que 𝑛0 é o vector unitário com o sentido de 𝑑𝑛), com base na equação (4.2) pode escrever-
2
se 𝜑1 − 𝜑2 = ∫1 𝐸𝑑𝑙 = 𝐸𝑑𝑛 = −𝑑𝜑

Em que 𝑑𝜑 = 𝜑2 − 𝜑1 é a variação do potencial no sentido do ponto 1 para o ponto 2.


Como os vectores E e 𝑑𝑛 têm o mesmo sentido, o produto escalar E 𝑑𝑛 é igual ao produto do
valor de E pelo valor de 𝑑𝑛, ou 𝐸 𝑑𝑛 = 𝑑𝜑. Portanto, o valor da intensidade do campo
electico E é 0igual a 𝐸 = 𝑑𝜑/𝑑𝑛. O vector da intensidade do campo eléctrico é 𝑬 = 𝐸𝑛0 .
Portanto

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𝑑𝜑 𝟎
𝑬= 𝒏 (4.4)
𝑑𝑛
Da definição de gradiente vem
𝜑1 − 𝜑2 −𝑑𝜑
grad𝜑 = (−𝒏𝟎 ) = (−𝒏𝟎 ) (4.5)
𝑑𝑛 𝑑𝑛
Comparando as equações (4.4) e (4.5) Podemos escrever
𝑬 = −𝑔𝑟𝑎𝑑𝜑 (4.6)
A equação (4.6)traduz que a intensidade do campo eléctrico é igual a razão de variação do
potencial nesse ponto tomada com o sinal contrário. O sinal ‹‹ − ›› aparece porque 𝜑 e grad
E estão dirigidos segundo sentidos opostos (ver figura 3b).
No caso geral a normal 𝑑𝑛 não coincide com nenhum dos eixos coordenados .portanto, no
caso geral o gradiente de potencial pode ser representado pela soma das respectivas
componentes rectangulares ou projecções sobre os eixos coordenadas. Por exemplo, em
coordenadas cartesianas
𝜕𝜑 𝜕𝜑 𝜕𝜑
grad𝜑 = 𝒊 +𝒋 +𝒌 (4.7)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝜕𝜑
onde i = razão de variação de 𝜑 na direcção dos eixos dos xx (componente segundo x);
𝜕𝑥
𝜕𝜑
= valor da razão de variação (a razão de variação é uma quantidade vectorial);
𝜕𝑦

I, j, k = vectores unitários ao longo dos eixos x, y e z e z do sistema cartesiano.


Por sua vez, o vector intensidade de campo 𝐸 = 𝑖𝐸𝑥 + 𝑗𝐸𝑦 + 𝑘𝐸𝑧
𝜕𝜑 𝜕𝜑 𝜕𝜑
Assim: 𝑖𝐸𝑥 + 𝑗𝐸𝑦 + 𝑘𝐸𝑧 = − (𝒊 𝜕𝑥 + 𝒋 𝜕𝑦 + 𝒌 𝜕𝑧 )

Dois vectores são iguais se as respectivas componentes rectangulares (projecções) foram


iguais. Portanto
𝜕𝜑 𝜕𝜑 𝜕𝜑
𝐸𝑥 = − ( ) ; 𝐸𝑏 = − ( ) ; 𝐸𝑧 = − ( ) (4.8)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
A equação (4.8) diz-nos que a componente segundo x da intensidade do campo eléctrico é
igual a componente segundo x da razão de variação do potencial tomada com o sinal contrário,
etc.
O OPERADOR NABLA
O operador ∇ é um operador diferencial chamado nabla. É a soma de três derivadas parciais
segundo os três eixos coordenadas multiplicadas pelos respectivos vectores unitários. Em
𝜕 𝜕 𝜕
coordenadas cartesianas ∇= 𝑖 𝜕𝑥 + 𝒋 𝜕𝑦 + 𝒌 𝜕𝑧

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Sob o ponto de vista formal pode ser considerado como um vector. O operador nabla pode
ser aplicado a funções escalares ou vectoriais. A função respectiva é escrita a direita do sinal
do operador, e o operador nunca se utiliza sem que a função esteja escrita a sua direita.
Aplicando o operador nabla ao potencial 𝜑, podemos escrever
𝜕 𝜕 𝜕 𝜕𝜑 𝜕𝜑 𝜕𝜑
∇φ = (𝑖 +𝒋 + 𝒌 )𝜑 = 𝒊 +𝒋 +𝒌
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Comparando esta expressão com a equação verifica-se que os seus segundos membros são
iguais. Portanto, os seus primeiros membros são também iguais. Temos assim: grad𝜑 = ∇φ
Por outras palavras, a notação ∇𝜑 é equivante a notação grad 𝜑, e a colocação do operador ∇
a esquerda duma função escalar qualquer (o potencial 𝜑 no nosso caso) significa que se toma
o gradiente desta função escalar.

O GRADIENTE DE POTENCIAL EM COORDENADAS CILÍNDRTICAS E ESFÉRICAS


Em coordenadas cilíndricas (ver a figura 4a)
𝜕𝜑 𝜕𝜑 𝜕𝜑
grad𝜑 = 𝒓𝟎 + 𝜶𝟎 + 𝒛𝟎 (4.9)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Figura 4
Em coordenadas esféricas (ver a figura 4b)
𝜕𝜑 𝜕𝜑 𝜕𝜑
𝑔𝑟𝑎𝑑𝜑 = 𝑹𝟎 + 𝜽𝟎 + 𝜶𝟎 (4.10)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

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FLUXO DE UM VECTOR ATRAVÉS DE UMA ELEMENTO DE SUPERFÍCIE E


ATRAVÉS DE UMA SUPERFÍCIE
Consideremos um campo vectorial (tal como um campo electrostático de intensidade E) um
elemento de superfície cujo área numa das faces é numericamente igual a ds. Desenhemos a
normal ao elemento de superfície no sentido positivo e marquemos
sobre ela o vector ds igual, numa certa escala a área do elemento de
superfície de modo que o seu sentido coincide com o sentido
positivo da normal a superfície (figura 5). Suponhamos que a área
do elemento seja suficientemente pequena para que em todos os
pontos no interior do elemento o vector E seja o mesmo. Se E é
normal a ds, ele não passa atrás do elemento da superfície. Se E é
orientado segundo ds, o fluxo do vector E através do elemento de
Figura 5
superfície ds é dado pelo produto escalar E ds.
O fluxo de um vector através de um elento de superfície, igual ao produto escalar é ds, é uma
grandeza escalar. Pode ser positivo ou negativo. Se é positivo o fluxo tem o sentido de ds, se
é negativo o fluxo tem o sentido contrário a ds.
Para uma superfície grande em que E não é o mesmo em todos os pontos, divide-se a superfície
em elementos pequenos e representa-se o fluxo total através da superfície como a soma
algébrica dos fluxos individuais através de todos os elementos de superfície. O fluxo total
através de uma superfície pode ser escrito sob a forma de integral ∫𝑠 𝐸𝑑𝑠.

A letra ‹‹s›› no sinal de integral indica que a soma é feita segundo os elementos de
superfície.
Se o fluxo de um vector é calculado através duma superfície fechada isto indica-se traçando
um pequeno círculo sob o sinal de integral ∮𝑠 𝐸𝑑𝑠.

CARGAS LIVRES E LIGADAS. POLARIZAÇÃO


As cargas que podem mover-se livremente numa substância (como um condutor) sob a acção
de um campo eléctrico aplicado, isto é, o seu deslocamento não é limitado pelas forças
intermoleculares, são chamadas cargas livres.
Chamam-se cargas ligadas as cargas eléctricas que entram na composição da substância e são
mantidas em determinadas posições pelas forças intermoleculares (sobretudo nos
dieléctricos). Tais cargas estão ligadas a substâncias considerada e não podem ser desligadas
da substância. O número de cargas ligadas positivas numa substância, é igual ao número de
cargas ligadas negativas.
Se se coloca um corpo dialétrico num campo eléctrico o corpo polariza. Define-se
polarização como sendo uma orientação definida das cargas ligadas numa substância,
devida o campo eléctrico aplicado. A orientação manifesta-se pelo deslocamento das cargas
ligadas positivas no sentido do potencial mais baixo e das cargas ligadas negativas no sentido
de potencial mais elevado. As cargas deslocam-se enquanto que as forças exercidas pelo
campo eléctrico sobre as cargas ligadas não são equilibradas pelas forças intermoleculares.
Como consequência da polarização as cargas ligadas ficam distribuídas, por assim dizer, a
superfície da substância.

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DIPOLOS. MOMENTO ELÉCTRICO DIPOLAR


Duas cargas iguais e opostas separadas de uma distância infinitencial l constituem um dipolo.
A elas está associado o momento eléctrico, p. o momento eléctrico de duas cargas pontuais,
+𝑞 𝑒 − 𝑞 separadas de uma distância l, é um vector cujo grandeza q1, a direcção é a da linha
que une as cargas e o sentido é o da carga negativa para positiva (figura 5 a).

Figura 6
Numa substancia electrizada podem considerar-se as moléculas, sob o ponto de vista eléctrico,
como dipolos. Sob um campo eléctrico aplicado estes dipolos tendem a orientar-se no espaço
de modo que o seu momento eléctrico seja paralelo ao vector intensidade do campo eléctrico.
Sob o ponto de vista prático tem interesse o momento eléctrico devido a soma dos dipolos que
se encontram na unidade de volume da substância, e não o momento eléctrico de uma só
molécula ou de um par de cargas. O momento eléctrico da soma dos dipolos por unidade de
volume de uma substância é chamado vector polarização, P.
∑ 𝑞𝑙
𝑃= (4.11)
𝑉
Onde V é o volume de um dado eléctrico.
Para a maior parte dos dielectricos P é proporcional a intensidade do campo electricao E. o
coeficiente de proporcionalidade, é chamado susceptibilidade eléctrica:
𝑃
𝑘= (4.12)
𝐸
Sob o ponto de vista dos fenômenos que se produzem nos dieléctricos quando estes se
polarizam, todos os dieléctricos se podem dividir em dois grupos. O primeiro grupo
compreende os dieléctricos cujas moléculas são electricamente neutras quando nenhum campo
eléctrico externa está aplicado, ou seja, os ‹‹centros de gravidade›› dos seus protões e electrões
coincidem. Entre estes dieléctricos estão o hidrogénio, o azoto, a parafina, a mica, etc.
A polarização nos dieléctricos deste grupo coincide em que o campo eléctrico aplicado da
origem a que o ‹‹centro de gravidade›› dos protões se movem-no sentido do campo e o ‹‹centro
de gravidade›› dos electroes em sentido dos electrões no sentido contrar ao do caompo. Como
consequência a polécida da rigem a um dipolo.

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Figura 7
O outro grupo é dos dielécticos que têm moléculas polares, isto é, moléculas que são dipolos
permanentes ou dipolos mesmo na ausência de qualquer campo eléctrico externo. Nestes, os
dois ‹‹centros de gravidades›› estão sempre separadas de uma curta distância. Contudo, em
virtude da agitação térmica, estes dipolos permanentes estão orientados ao acaso, os seus
momentos Electricos anulam-se uns aos outros e a substância não está polarizada. Um
exemplo desta classe de dieléctricos é o cloreto de hidrogénio.
A polarização nestes dieléctricos consiste em que as moléculas fendem a rodar de tal modo
que os seus momentos eléctricos segundo o campo eléctrico aplicado, e deste modo os seus
momentos electricos aumentam.
A polarização dos dielectricos do primeiro grupo está representada nas fgs e nos dieléctricos
do segundo grupo das figuras nas figs. As figuras correspondem a ausência do campo exterior
e as fgs correspondem a presença de um campo externo aplicado.
DESLOCAMENTO ELÉCTRICO OU INDUCAO ELÉCTRICA
Além dos vectore E e P utiliza-se electrotécnica o vector D. chamado deslocamento eléctrico
ou indução eléctrica.
O deslocamento eléctrico ou indução eléctrica D define-se pela propriedade do campo que
consiste em induzir cargas em condutores neles colocados.
O vector D é igual a soma de dois vectores: o vector 𝜀0 𝐸, que caracteriza o campo no vazio,
e o vector polarização P: 𝐷 = 𝜀0 𝐸 + 𝑃
como
𝑘
𝑃 = 𝑘𝐸 = 𝜀0 𝐸 (4.13)
𝜀0
vem
𝑘
𝐷 = 𝜀0 𝐸 (1 + ) = 𝜀0 𝜀𝐸 = 𝜀𝛼 𝐸 (4.14)
𝜀0
onde
𝑘
𝜀𝛼 = 𝜀0 𝜀 ; 𝜀 = 1 + 𝜀 (4.15)
0

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O factor 𝜀 é chamado permitividade relativa. É a razão entre a permitividade absoluta 𝜀𝑎 de


uma dada substância e a permitividade absoluta do vazio 𝜀0 . A permitividade relativa é uma
grandeza sem dimensões.
No sistema de unidade S.I:
[D] = [P] = coulombs/metro quadrado.
TEOREMA DE GAUSS
O teorema de Gauss, um dos mais importantes da electrostática, deriva da lei de Coulomb e
do princípio da sobreposição. Pode ser enuciado de três modos diferente.
1. O integral superficial da componente normal do deslocamento eléctrico, isto é, o fluxo
do vector deslocamento, através duma superfície fechada que envolve um certo
volume é igual a soma algébrica das cargas livres no interior dessa superfície:

∮ 𝐷𝑑𝑠 = ∑ 𝑞𝑙 4.16
𝑠
Da fórmula, vê-se que, nestas condições, o vector D é uma característica do campo
que não depende das propriedades dieléctricas do meio, isto é, não depende de 𝜀.
2. Como 𝐷 = 𝜀0 𝜀𝐸 , então para um meio isotrópico e homogêneo:
∑ 𝑞𝑙
∮ 𝐷𝑑𝑠 = 4.17
𝑠 𝜀0 𝜀

Isto é, o fluxo do vector intensidade do campo eléctrico, através de uma superfície fechada
qualquer, é igual a soma das cargas livres no interior da superfície dividida por 𝜀0 𝜀 .
A fórmula (4.17) mostra que, ao contrário do vector D, o vector E é uma característica do
campo que, sob condições iguais, depende as propriedades dieléctricas do meio (do valor de
𝜀 ). É importante frizar que o fluxo do vector, depende unicamente da carga total e é
independente da distribuição da carga no interior da superfície fechada.
3. O fluxo de E através de qualquer superfície fechada é devido não só a carga livre total
(∑ 𝑞𝑙 ), mas também a carga ligada total. (∑ 𝑞𝑙𝑖𝑔 ) No interior da superfície.

Sabe-se que o fluxo do vector polarização através de uma superfície fechada qualquer é
igual a soma algébrica, considerada com o sinal ‹‹−››, das cargas ligadas no interior da
superfície:

∮ 𝑃𝑑𝑠 = − ∑ 𝑞𝑙𝑖𝑔 (𝑎)

É importante relembrar como esta equação é deduzida. Em primeiro lugar mostramos


que a densidade das cargas ligadas, que se encontram na superfície de separação de um
dieléctrico polarizado e do vazio é igual ao modo do vector polarização.
A figura 6b mostra a distribuição dos dipolos num dieléctrico polarizado de comprimento
L de secção S. A polarização deu origem a cargas ligadas em ambas as extremidades do
dieléctrico. Designemos 𝜎 a sua , densidade superficial. Ao longo do 𝐿’ as cargas positivas
e negativas anulam-se umas as outras. Portanto o dieléctrico polarizado da figura 6b, pode

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ser considerado como um dipolo de comprimento L com cargas 𝜎𝑆 concentradas nas


extremidades.
O momento eléctrico total do dieléctrico de comprimento L e 𝜎𝑆𝐿. O momento eléctrico
𝜎𝑆𝐿
por unidade de volume 𝑃 = =𝜎
𝑉

Em relação a figura 6c o dieléctrico foi polarizado por uma carga livre positiva.
Desenhemos uma esfera em volta desta carga e calculemos as cargas ligadas não
compensada que se encontram no interior da esfera. Tal cargas são as dos dipolos cortados
por uma superfície S. como a sua densidade superficial é 𝜎, temos∑ 𝑞𝑙𝑖𝑔 = − ∮ 𝑃𝑑𝑠 =
− ∮ 𝜎𝑑𝑠
O sinal “-” que aqui figura significa que o sinal das cargas ligadas não compensadas e
contrario ao da carga livre.
A equação (4.16) pode voltar a escrever-se de seguinte modo:
∑ 𝑞𝑙 + ∑ 𝑞𝑙𝑖𝑔
∮ 𝐸𝑑𝑠 = 4.17′
𝜀0
Por palavras, o integral superficial da componente normal da intensidade do campo
eléctrico, isto é, o fluxo total da intensidade do campo, ao longo de uma superfície fechada
e igual a carga eléctrica total no interior da superfície, dividida pela permitividade absoluta
no vazio. As equações (4.17) e (4.17′ ) diferem apenas nos segundos membros.
APLICACAO DO TEOREMA DE GAUSS AO CALCULO DE INTENSIDADE DE
CAMPO E DO POTENCIAL DE UMA CARGA PONTUAL
Necessariamente o teorema define intensidade do campo eléctrico, ou o deslocamento
eléctrico em qualquer ponto de um campo, deste que seja possível traçar uma superfície
fechada pelo ponto considerado de modo que todos os pontos da superfície sejam simétricos
em relação a carga no interior da superfície fechada. Para uma carga pontual a superfície
fechada e uma esfera. Para uma carga linear é um cilindro. Como todos os pontos da superfície
são simétricos em relação a carga, o valor da intensidade do campo será a mesma em todos os
pontos da superfície.
Como exemplo da aplicação do teorema de Gauss calculemos a intensidade do campo devido
a uma carga pontal a distância R da carga. Para começar, traçamos uma superfície esférica de
raio R pelo ponto considerado, supondo que a carga no centro da esfera, e aplicamos o teorema
de Gauss a esfera (figura 7e)
O vector 𝑑𝑠 é normal ao elemento de superfície 𝑑𝑠 e está dirigido para fora da esfera. No
nosso exemplo os vectores E e 𝑑𝑠 coincidem em sentido, em qualquer ponto da esfera e o
ângulo entre eles e nulo.
Notando que o modulo de E é o mesmo em qualquer ponto da esfera, podemos escreve-lo
𝑞
antes do integral ∮ 𝐸𝑑𝑠 = ∮ 𝐸𝑑𝑠 cos 00 = 𝐸 ∮ 𝑑𝑠 = 𝐸4𝜋𝑅 2 = 𝜀 𝜀
0

Portanto, a intensidade do campo eléctrico devido a carga pontual q a distancia R é


𝑞
𝐸 = 4𝜋𝑅2 𝜀 4.18
0𝜀

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Por simétrica esférica, a intensidade do campo tem apenas uma única componente, radical no
𝜕𝜑
sistema de coordenadas esféricas. Portanto 𝐸 = 𝐸𝑅 = − 𝜕𝑅

Donde
𝑞
𝜑 = − ∫ 𝐸𝑑𝑅 = +𝐶 4.19
4𝜋𝜀0 𝜀 𝑅
Assim, o potencial num ponto de um campo devido a uma carga pontual e inversamente
proporcional a distância R da carga ao ponto. C é a constante da integração. Recordemos que
obtivemos expressões semelhantes para E e 𝜑 utilizando a lei de Coulomb.
TEOREMA DE GAUSS SOB A FORMA DIFERENCIAL
O teorema de Gauss sob forma integral não permite conhecer o modulo como fluxo da linha
de D num ponto considerado de campo está ligado a densidade das cargas livres no mesmo
ponto. Esta relação e dada pela forma diferencial do teorema de Gauss. Para se obter dividem-
se ambos os membros da equação pela mesma quantidade escalar, o volume V limitada pela
superfície fechada S:
𝐷𝑑𝑠 ∑ 𝑞𝑙
∮ = (𝑏)
𝑉 𝑉
A equação () é aplicável a qualquer valor de V. quando este volume tende para zero
𝐷𝑑𝑠 ∑ 𝑞𝑙
lim ∮ = lim (𝑐)
𝑉→0 𝑉 𝑉→0 𝑉

Quando V tende para zero, o integral superficial da componente normal do deslocamento


eléctrico tende também para zero. Contudo, a razão de duas quantidades infinitesimais ∮ 𝐷 𝑑𝑠
e V é uma quantidade finita. O limite da razão entre o fluxo através de uma superfície fechada
que envolve um ponto e o volume limitado pela superfície, quando o volume tende para zero
é chamada divergência de um dado vector nesse ponto. Em relação ao deslocamento eléctrico
D no nosso caso, será a divergência de D (abreviadamente div D), que é representada pelo
termo do 1ᵒ membro da equação (c). No segundo membro da mesma equação temos a
densidade voluntária da carga livre no ponto considerado, designada por 𝜌𝑙 .
Isto leva-nos a forma diferencial do teorema de Gauss:
𝑑𝑖𝑣𝐷 = 𝜌𝑙 4.20
Que é uma das quatro equações fundamentais e Maxwell da teoria electromagnético. Em
termos mais simples, ela diz-nos que a divergência de D num ponto de um campo é
determinada pela densidade volúmico de carga neste ponto. Se a densidade volúmico de carga
num ponto é positivo (𝜌𝑙 > 0), as linhas do vector D partem do volume infinitamente pequeno
que rodeia considerado no Campo.

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Figura 8
Se no ponto considerado do campo 𝜌𝑙 < 0, as linhas do vector D convergem no volume
infinitamente pequeno, no interior do qual se encontra no ponto considerado. E finalmente, se
num ponto qualquer do campo 𝜌𝑙 = 0, não existe nesse ponto do campo nem divergência nem
convergência das linhas de D ou por outras palavras, no ponto considerado as linhas de D não
começam nem acabam.
Se o meio é homogêneo e isotrópico, 𝜀𝑎 = constante e podemos substituir a equação (4.20)
pela expressão segunte:
𝑑𝑖𝑣𝜀𝑎 𝐸 = 𝜌𝑙
Ponto 𝜀𝑎 antes do sinal de divergência obtemos
𝜀𝑎 𝑑𝑖𝑣𝐸 = 𝜌𝑙
e
𝜌𝑙
𝑑𝑖𝑣𝐸 = 4.21
𝜀𝑎

A equação (4.21) é uma segunda forma diferencial do teorema da Gauss. É apenas válida para
um meio homogêneo e isotrópico. Num meio não homogêneo 𝜀𝑎 é uma função das
coordenadas e não uma terceira forma do teorema de Gauss é
𝜌𝑙 + 𝜌𝑙𝑖𝑔
𝑑𝑖𝑣𝐸 = 4.21′
𝜀𝑎
Que nos diz que ao contrário de D, E é devida quer as cargas livres, quer as cargas ligadas.
A DIVERGÊNCIA DE E EM COORDENADAS CARTESIANAS

As expressões analíticas da div E variam com o sistema de coordenadas escolhido. Para


obtermos uma expressão analítica da div E, em coordenadas cartesianas, consideremos a
figura 8b. Envolvendo um ponto P (x,y,z) tracemos um paralelipido rectangular de arestas
dx, dy, dz, paralela aos três eixos ox, oy, oz, respectivamente.

O vector E no ponto P decompõe-se em três componentes retangulares de grandeza 𝐸𝑥 ,


𝐸𝑦 𝑒 𝐸𝑧 , paralelas aos três eixos respectivamente.

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Para se determinar div E é necessário em primeiro lugar calcular o fluxo total de E que sai da
superfície do paralelopípedo e dividido pelo seu volumo dx, dy, dz,.

O fluxo através da face esquerda do paralelipípedo perpendicular a 0z e de área dx dz é devido


somente a componente de E paralela a 0z. mas esta componente é 𝑗𝐸𝑦 No ponto P. como as
outras duas componentes não atravessam esta face, o fluxo total através dela é 𝐸𝑦 , 𝑑𝑥 𝑒 𝑑𝑧 .

Como E é uma função das coordenadas, as suas componentes são também funções das
coordenadas. A face da direita de área dx dz está a uma distancia dy da face da esquerda.
Portanto a componente de E sobre o eixo dos yy que passa através da face da direita de área
dx dz é
𝜕𝐸𝑦
𝐸𝑦 + 𝑑𝑦
𝜕𝑦

𝜕𝐸𝑦 𝜕𝐸𝑦
Onde É a velocidade de variação de Ey no sentido do eixo dos yy e 𝑑𝑦 É a variação da
𝜕𝑦 𝜕𝑦
componente segundo y de E ao longo de dy.
𝜕𝐸𝑦
O fluxo total através da face da direita de área dx dz é (𝐸𝑦 + 𝑑𝑦) 𝑑𝑥𝑑𝑧
𝜕𝑦

𝜕𝐸𝑦
O fluxo através das duas faces de área dx dz é 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧
𝜕𝑦

𝜕𝐸𝑥
Do mesmo modo o fluxo através das faces da área dy dz é 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧
𝜕𝑥

O fluxo através das duas faces de ares é dx dy (as faces de cima e de baixo de paralelepípedo)
𝜕𝐸𝑧
é 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧
𝜕𝑧

Soma as diferenças dos fluxos através de todas as faces e dividindo esta soma pelo volume do
paralelípipedo dx dy dz, obtemos
𝜕𝐸𝑥 𝜕𝐸𝑦 𝜕𝐸𝑧
𝑑𝑖𝑣𝐸 = + + 4.22
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

UTILIZAÇÃO DO OPERADOR NABLA PARA CALCULAR A DIVERGÊNCIA


Já mostramos que multiplicar o vector nabla ∇ por uma função posicional escalar é
equivalente a calcular o gradiente desta função profissional escalar. Agora vamos provar que
o produto escalar do operador ∇ por uma função vectorial qualquer, por exemplo E,
corresponde a tomar a divergência desta função vectorial, ou ∇E = divE
Para provarmos esta equação, observemos que o produto escalar de E e 𝛁 é
𝜕 𝜕 𝜕 𝜕𝐸𝑥 𝜕𝐸𝑦 𝜕𝐸𝑧
∇E = (𝑖 𝜕𝑥 + 𝑗 𝜕𝑦 + 𝑘 𝜕𝑧) (𝑖𝐸𝑥 + 𝑗𝐸𝑦 + 𝑘𝐸𝑧 ) = + + 4.23
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Os segundos membros nas equações (4.23) e (4.22) são iguais. Portanto os primeiros membros
também são iguais, e ∇E = divE

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A DIVERGÊNCIA DE E EM COORDENADAS POLARES ESFÉRICS E CILÍNDRICAS


Sem demonstração, a divergência de E em coordenadas cilíndricas é
1 𝜕 1 𝜕𝐸𝛼 𝜕𝐸𝑧
𝑑𝑖𝑣𝐸 = 𝑟 𝜕𝑟 (𝑟𝐸𝑟 ) + 𝑟 + 4.24
𝜕𝛼 𝜕𝑧

E em coordenadas polares esféricas,


1 𝜕 2
1 𝜕 (sen 𝜃 𝐸𝜃 ) 1 𝜕𝐸𝛼
𝑑𝑖𝑣𝐸 = (𝑅 𝐸𝑅 ) + + 4.25
𝑅 2 𝜕𝑅 𝑅 sen 𝜃 𝜕𝜃 𝑅 sen 𝜃 𝜕𝛼
AS EQUACÕES DE POISSON E LAPLACE
As equações de Poisson e Laplace, fundamentais para a electrostática, são extensões do
teorema de Gauss e são apresentadas sob a forma diferencial onde a velocidade de variação
das componentes do campo eléctrico está relacionada com a distribuição espacial de carga.
Por definição de potencial eléctrico 𝐸 = −𝑔𝑟𝑎𝑑𝜑
Por outro lado pelo teorema de Gauss (equação 4.21)
𝜌
𝑑𝑖𝑣𝐸 = 𝜀 𝑙
𝑎

𝜌
Substituindo E da equação (4.6) na equação (4.21) obtém-se 𝑑𝑖𝑣𝐸 = 𝑑𝑖𝑣(−𝑔𝑟𝑎𝑑𝜑) = 𝜀 𝑙
𝑎

𝜌
Pondo o sinal ‹‹−›› antes do sinal de divergência, obtemos 𝑑𝑖𝑣(𝑔𝑟𝑎𝑑𝜑) = − 𝜀 𝑙
𝑎

Escrevendo ∇φ em vez de grand𝜑, e ∇ em vez de div tem-se


𝜌
∇2 𝜑 = − 𝜀 𝑙 4.26
𝑎

Esta é a equação de Poisson um caso particular desta equação é a equação de Laplace quando
𝜌𝑙 = 0 Assim a equação de Laplace é
∇2 𝜑 = 0 4.27
O operador div grad ou ∇2 e conhecido como operador de Laplace ou Laplaciano que muitas
vezes se representa como ∆. Portanto podemos encotrar a seguinte forma da equação de
𝜌
Poisson ∆𝜑 = − 𝑙
𝜀𝑎

Para obtermos a equação de Poisson em coordenadas cartesianas escrevamos o produto dos


dois factores ∇ 𝑒 ∇𝜑 sobre uma forma desenvolvida:
𝜕 𝜕 𝜕 𝜕𝜑 𝜕𝜑 𝜕𝜑
∇(∇𝜑) = (𝑖 +𝑗 + 𝑘 ) (𝑖 +𝑗 +𝑘 )
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Multiplicando termo a termo obtemos:

2
𝜕 2𝜑 𝜕 2𝜑 𝜕 2𝜑
∇ 𝜑= + +
𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2
Assim, em coordenadas cartesianas a equação de Poisson é:

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𝜕 2𝜑 𝜕 2𝜑 𝜕 2𝜑 𝜌𝑙
2
+ 2+ 2 =− 4.28
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜀𝑎
Em coordenadas cartesianas a equação de Laplace tem a forma
𝜕 2𝜑 𝜕 2𝜑 𝜕 2𝜑
+ + =0 4.29
𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2
Em coordenadas cilíndricas tem a forma
1𝜕 𝜕𝜑 1 𝜕 2𝜑 𝜕 2𝜑
∇2 𝜑 = (𝑟 ) + 2 2 + 2 4.30
𝑟 𝜕𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝛼 𝜕𝑧
E em coordenadas polares esféricas
1 𝜕 𝜕𝜑 1 sen 𝜃 𝜕𝜑 1 𝜕 2𝜑
∇2 𝜑 = (𝑅 2
) + + 4.31
𝑅 2 𝜕𝑅 𝜕𝑅 𝑅 2 sen 𝜃 𝜕𝜃 𝑅 2 sen2 𝜃 𝜕𝛼 2

A equação de Poisson dá a relação entre as derivadas parciais de segunda ordem de 𝜑 num


ponto qualquer do campo e a densidade volumétrica das cargas livres no mesmo ponto. Por
outro lado 𝜑 num ponto depende de todas as cargas que criam o campo e não somente do valor
da carga livre nesse ponto.
É importante consideramos uma forma generalizada da equação de Poisson.
Consideraremos que um volume V contem cargas volumetrica (𝜌) superficiais (𝜎) e lineares
( 𝜏 ). Estas cargas podem ser apresentadas como um conjunto de cargas pontuais
𝜌𝑑𝑉, 𝜎𝑏𝑠, 𝜏𝑑𝑙 , onde
𝑑𝑉 𝑒 𝑢𝑚 𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒, 𝑑𝑠 𝑒 𝑢𝑚 𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑐𝑖𝑒 𝑐𝑎𝑟𝑒𝑔𝑎𝑑𝑎 𝑒 𝑑𝑙 𝑒 𝑢𝑚
𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑢𝑚 𝑒𝑖𝑥𝑜 𝑐𝑎𝑟𝑟𝑒𝑔𝑎𝑑𝑜 . Pela equação (4.19) a componete de
𝜌𝑑𝑣
potencial 𝑑𝜑, divida a 𝜌𝑑𝑉 num ponto do espaço a uma distancia R de 𝜌𝑑𝑉, é 4𝜋𝜀
𝑎𝑅

Do mesmo modo, as componentes do potencial devidas as cargas superficial e linear


𝜎𝑑𝑠 𝜏𝑑𝑙
consideradas como pontuais são 4𝜋𝜀 e 4𝜋𝜀
𝑎𝑅 𝑎𝑅

O potencial 𝜑 define-se como a soma ( o integral) dos potenciais devidos a todas as cargas do
campo:

1 𝜌𝑑𝑣 1 𝜎𝑑𝑠 1 𝜏𝑑𝑙


𝜑= ∫ + ∫ + ∫ 4.31′
4𝜋𝜀𝑎 𝑉 𝑅 4𝜋𝜀𝑎 𝑆 𝑅 4𝜋𝜀𝑎 𝑙 𝑅
Onde 𝜌, 𝜎 e 𝜏 são funções do raio R. Na pratica a equação (4.31′ ) raras vezes se usa, pois que
a distribuição 𝜎 sobre uma superfície, de 𝜏 ao longo de um comprimento e de 𝜌 num volume,
depende de uma maneira complexa da configuração do elétrodos e não é conhecida, em geral,
antes dos cálculos. Por outras palavras é difícil, proceder a interação, pois que as relações entre
𝜌, 𝜎 𝑒 𝜏, e o raio R são em geral desconhecidas.

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Quando se usa a equação (4.31′ ) considera-se que o potencial no infinito é zero, e que as
cargas que formam o campo estão distribuídas numa região (não infinitamente extensa)
restricta (pois de outro modo o integral será divergente).

CONDIÇÕES LIMITES
Quando existe um campo eléctrico é mais do que um meio dieléctrico é importante conhecer
as condições que existe nas superfícies de separação dos meios que tem propriedades eléctricas
diferentes. Estas são chamadas condições limites.
Na discussão dos fenômenos transitórios foi chamada atenção para a importância das
condições iniciais e das leis de comutação. Na resolução de problemas de fenômenos
transitórios pelo método clássico são usadas explicitamente e pelo método operacional são
usadas implicitamente. Com efeito, nenhum dos problemas sobre fenômenos transitórios pode
ser resolvido sem elas, pos que permitem determinar as constantes de integração.
Um papel semelhante tem as condições limites na electrostática. A resolução das equações de
Paisson e de Laplace envolvem o uso de constantes de integração. Elas são calculadas a partir
das condições limites.
Antes de passaremos a discussão detalhada do conceito de condições limites é importante
examinarmos as propriedades de um campo electrostático no interior de um corpo condutor.
O CAMPO ELECTROSTÁTICO NO INTERIOR DE UM CONDUTOR
Um corpo condutor colocado num campo electrostático as
cargas separam-se devido a indução electrostática, ficando
as cargas negativas acumuladas a superfície do corpo do
lado onde o potencial e mais elevado e as cargas positivas
no lado oposto (figura 9).
Na electrostática todos os pontos de um corpo condutor
estão ao mesmo potencial. Isto pode provar-se redução ao
absurdo. Suponhamos que pode existir uma diferença de
potencial entre dois pontos de um corpo condutor sobre condições electrostáticas. Então esta
diferença de potencial fará com que os electrões do corpo se movam. Um movimento ordenado
de electrões no interior do corpo vai contra a definição de campo electrostático.
A superfície de um corpo condutor é equipotencial, sendo o vector intensidade de campo
exterior perpendicular em qualquer ponto desta superfície. A intensidade de campo eléctrico
no interior de um condutor é zero, porque a intensidade devida ao campo exterior é
compensada pela intensidade devida as cargas situadas a superfície do corpo.
CONDIÇÕES EXISTENTES NA SUPERFÍCIE DE SEPARAÇÃO DE UM CORPO
CONDUTOR E DE UM DIELÉTRICO
Há duas condições que são sempre satisfeitas na superfície de separação entre um corpo
condutor, não percorrido por uma corrente eléctrica, e um dieléctrico:
(1) A componente tangencial da intensidade de campo eléctrico é zero:
𝐸𝑡 = 0 4.32

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(2) O deslocamento eléctrico D em qualquer ponto do dieléctrico imediatamente vizinho da


superfície do condutor é numericamente igual a densidade de carga 𝜎 na superfície do
condutor no ponto considerado:
𝐷=𝜎 4.33
Consideremos a primeira condição. Todos os pontos da superfície de um condutor estao ao
mesmo potencial. Portanto, a variação do potencial entre dois pontos separados por uma
distância infinitesimal é também zero, 𝑑𝜑 = 0. Contudo, como 𝑑𝜑 = 𝐸𝑡 𝑏𝑙 , segue-se que
𝐸𝑡 𝑑𝑙 = 0 Mas como o elemento dl entre os dois pontos não é zero, então 𝐸𝑡 tem e ser nula.

Para provarmos a segunda condição, consideremos um


paralelipepo infinitamente pequeno (figura 10) tal que
a face superior seja paralela a superfície do corpo
condutor e colocada no condutor do dieléctrico e a face
interior no interior do condutor. Suponhamos que a
altura do paralelepípedo e apliquemos-lhe o teorema
de Gauss. Como as condições lineares do paralelipepípedo são muito pequenas podemos
considerar que a densidade de carga 𝜎 na superfície ds dentro do paralelepípedo é a mesma
em toda superfície.
O Fluxo de D através da face superior do volume é D ds=D ds. O fluxo através das faces
laterais é zero porque o volume é muito pequeno e o vector D desliza ao longo destas faces.
O fluxo D através do “fundo” do paralelepípedos e também zero, porque dentro dum condutor
E=0 e D=0. Assim o fluxo total do vector D que sai do paralelepípedo é 𝐷𝑑𝑠 = 𝜎𝑑𝑠 𝑜𝑢 𝐷 =
𝜎.
CONDICOES NA SUPERFICIE DE SEPARACAO DE DOIS DIELECTRICOS
As condições satisfeitas na superfície de separação de dois dieléctricos de permitividades
diferentes são as seguintes:
1. As componentes tangenciais das intensidades do campo eléctrico são iguais
𝐸1𝑡 = 𝐸2𝑡 4.34
2. As componentes normais da indução eléctrica são iguais
𝐷1𝑛 = 𝐷2𝑛 4.35
A primeira condição vem de facto de que num
campo de potencial ∮ 𝐸𝑑𝑙 = 0 ao longo de qualquer
contorno. A segunda condição é um corolário do
teorema de Gauss. Para provarmos a primeira
condição, consideremos um contorno plano fechado
mnpqm (figura 11 ) e tomemos o integral curvilinio
da intensidade de campo eléctrico ao longo deste
contorno. A parte superior do contorno esta no
interior de um dieléctrico de permitividade 𝜀1 . A
lado mn, iqual ao lado pq tem de comprimento 𝑑𝑙. Escolhamos o contorno de tal modo que np
e qm sejam desprezáveis comparados com𝑑𝑙. Então as componentes de ∮ 𝐸𝑑𝑙 ao longo dos
lados verticais podem desprezar-se. A componete de ∮ 𝐸𝑑𝑙 ao longo de mn é 𝐸2 𝑑𝑙2 = 𝐸2𝑡 𝑑𝑙,

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e ao longo de pq é 𝐸1 𝑑𝑙1 = −𝐸1𝑡 𝑑𝑙. O sinal “-” significa que 𝐸1𝑡 e pq têm sentidos opostos.
Assim ∮ 𝐸𝑑𝑙 = 𝐸2𝑡 𝑑𝑙−𝐸1𝑡 𝑑𝑙 = 0 ou 𝐸1𝑡 = 𝐸2𝑡
Para provamos a segunda condição, consideremos um
pequeno paralelepípedo na superfície de separação de
dois meios (figura 12) de tal modo que no seu interior
existam cargas ligadas e nenhumas cargas livres.
Portanto ∮ 𝐷𝑑𝑠 = 0.
O fluxo do vector D através da face superior de área 𝑑𝑠
é 𝐷2 𝑑𝑠2 = 𝐷2𝑛 𝑑𝑠2𝑛 , e através da face inferior
𝑜
−𝐷1 𝑑𝑠1 = 𝑏1 𝑑𝑠1 cos 180 = −𝐷1𝑛 𝑑𝑠 , , onde |𝑑𝑠1 | = |𝑑𝑠2 | = 𝑑𝑠.
Portanto ∮ 𝐷𝑑𝑠 = −𝐷1𝑛 𝑑𝑠 + 𝐷2𝑛 𝑑𝑠 = 0 , ou 𝐷1𝑛 = 𝐷2𝑛 .
Quando há cargas livres de densidade 𝜎 na superfície de separação de dois meios

∮ 𝐷𝑑𝑠 = −𝐷1𝑛 𝑑𝑠 + 𝐷2𝑛 𝑑𝑠 = 𝜎𝑑𝑠, 𝑜𝑢 𝐷1𝑛 − 𝐷2𝑛 = 𝜎 4.36

Por outras palavras, na presença de cargas livres na superfície de separação de dois meios, a
componete normal de D varia por superfície de separação. Como o potencial é um trabalho
não sofre variações bruscas na superfície de separação de dois meios.
TEOREMA DE UNICIDADE
Um campo eléctrico pode ser descrito pela equação de Laplace ou Poisson. Ambas são
equações às derivadas parciais. Ao contrário das equações diferenciais ordinárias, podem ter,
em geral, uma multiplicidade de soluções linearmente independentes. Naturalmente, para cada
caso concreto deve haver apenas uma solução. A escolha de uma solução única de entre a
multiplicidade de soluções linearmente independentes da equação de Laplace ou de Poisson é
feita com base nas condições limites.
Se uma função satisfaz a equação de Laplace ou de Poisson e às condições limites num dado
campo, é esta a solução única que se procura. É nisto que consiste o sentido da noção muito
importante, chamada teorema de unicidade.

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CAMPO ELECTROSTÁTICO CRIADO POR UM EIXO CARREGADO


Consideremos um condutor metálico muito fino e de
comprimento infinito (um fio muito fino), com uma carga
𝜏 por unidade de comprimento rodeado por um meio de
permitividade 𝜀𝛼 . Para determinamos a intensidade do
campo eléctrico em qualquer ponto a uma distância r do
eixo (figura 13), desenha-se uma superfície cilíndrica à
volta do condutor de modo que os eixos de ambos
coincidem.
Apliquemos agora o teorema de Gauss à superfície fechada formada pela superfície lateral e
pelas bases do cilindro. Seja qual for o fluxo de E este passa somente através da superfície
lateral do cilindro, enquanto através das bases o fluxo é obviamente nulo.
Os elementos ds da superfície lateral e a intensidade do campo eléctrico E tem o mesmo
𝜏
sentido em qualquer ponto do campo eléctrico, de modo que 𝐸2𝜋𝑟 = 𝜀 ou
𝛼

𝜏
𝐸 = 2𝜋𝑟𝜀 4.37
𝛼

A intensidade do campo eléctrico devido a um condutor carregado é inversamente


proporcional à distância r entre o ponto e o eixo do condutor. O potencial é dado por:
𝜏 𝜏 𝜏 1
𝜑 = − ∫ 𝐸 𝑑𝑟 = − ∫ 𝑑𝑟 = − 𝑙𝑛𝑟 + 𝐶 = 𝑙𝑛 + 𝐶 4.38
2𝜋𝑟𝜀𝛼 2𝜋𝑟𝜀𝛼 2𝜋𝑟𝜀𝛼 𝑟
CAMPO DEVIDO A DOIS CONDUTORES PARALELOS CARREGADOS
Consideremos dois condutores carregados, um com uma carga
+𝜏 por unidade de comprimento, e o outro com uma carga – 𝜏
por unidade de comprimento. Consideremos o campo no ponto
M (figura 14). A intensidade do campo eléctrico resultante EM
neste ponto é igual ao vector soma das intensidades dos campos
eléctricos devidos a ambas as cargas. Seja a a distância do ponto
M ao condutor carregado positivamente, e b a distância ao
condutor carregado negativamente. O potencial e uma grandeza escalar. O potencial em M é
igual à soma dos potenciais devido a cada condutor:
𝜏 1 −𝜏 1 𝜏 𝑏
𝜑𝑀 = 𝑙𝑛 + 𝑙𝑛 + 𝐶 = 𝑙𝑛 + 𝐶 4.39
2𝜋𝑟𝜀𝛼 𝑎 2𝜋𝑟𝜀𝛼 𝑏 2𝜋𝑟𝜀𝛼 𝑎
Uma linha equipotencial num campo criado por dois condutores carregados é representada
𝑏
pela equação = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 e define-se como lugar geométrico dos pontos para os quais, a
𝑎
razão das suas distancias a dois pontos dados é uma quantidade constante. Segundo o teorema
de Appolonius o lugar geométrico dos pontos para os quais a razão das suas distancias a dois
pontos dados é uma constante, é uma circunferência. Portanto, uma linha equipotencial num
campo criado por dois condutores carregados é um círculo. Pode construir-se como se segue.
Une-se o ponto M aos externo e traça-se as bissectrizes dos ângulos interno (aMb) e externo
(pMa). As intersecções das bissectrizes (ponto 1 e 2) com a linha que une os condutores

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carregados e o ponto M são três pontos da circunferência procurada. O seu centro O está
situado a meio da distância entre 1 e 2.
CAMPO DE UMA LINHA DE DOIS CONDUTORES
Os dois condutores são cilindros paralelos
e compridos, de raio r afastados de uma
distância d (figua 15a). Apliquemos aos
dois condutores uma diferença de
potencial tal que um deles um deles
adquire uma carga +𝜏 por unidade de comprimento, e o outro com uma carga – 𝜏 por unidade
de comprimento. As forças e o potencial no espaço entre os condutores são os mesmos que se
as cargas estivessem sobre os eixos dos condutores, e o problema reduz-se ao que já foi
discutido.
Coloquemos os dois eixos carregados de modo que as superfícies dos condutores sejam
equipotenciais. Os pontos 𝑂1 𝑒 𝑂2 são os eixos geométricos dos condutores, e 𝑚 𝑒 𝑛 , os
pontos correspondentes aos eixos carregados. Por simetria estes eixos estão à mesma distância
x dos eixos geométricos.
Escrevamos a condição de igualdade dos potenciais dos pontos 1 e 2 do condutor da esquerda.
𝑏 𝑑−𝑟−𝑥 𝑑+𝑟−𝑥
A razão para o ponto 1 é , e a mesma razão para o ponto 2 é . Partindo da
𝑎 𝑟−𝑥 𝑟+𝑥
𝑑−𝑟−𝑥 𝑑+𝑟−𝑥
igualdade = , temos:
𝑟−𝑥 𝑟+𝑥

𝑑 𝑑 2
𝑥= ± √( ) − 𝑟 2 4.40
2 2

O sinal ≪ −≫ antes da raiz corresponde ao ponto n e o sinal ≪ +≫ ao ponto m.


Em vez de usamos a equação (4.40) podemos determinar a posição dos eixos eléctricos (eixos
carregados) graficamente como se segue. Traçamos a linha pq tangente a ambos os condutores,
dividimos ao meio a distância pq (ponto s) e traçamos a circunferência de raio ps. Os pontos
de intersecção (m e n) da circunferência e da linha. 𝑂1 𝑂2 , definem a posição dos eixos
carregados, isto é, eixos onde se podem considerar concentradas as cargas do condutores de
modo que as superfícies destes seja equipotenciais. Como o campo devido aos dois condutores
e criado por eles satisfaz à equação de Laplace e ao mesmo tempo as condições nas superfícies
de separação também são satisfeitas (a superfície de cada condutor é equipotencial e 𝐸𝑡 = 0
sobre ela), a solução obtida é única. Pode mostrar-se que se 𝑑 ≫ 𝑟, então x torna-se muito
mais pequeno que r, e os eixos geométrico e eléctrico coincidem praticamente.
Por exemplo o espaço entre dois eletrodos cilíndricos coaxiais (figura 15b) de raio R e r e
cujos eixos distam ∆, podem definir-se como um como um campo criado por cargas +𝜏 𝑒 −
𝜏 concentradas em eixos eléctricos. A posição dos eixos e determinada pelos valores de x e d,
que podem ser calculados pela equação (4.40) e pela expressão que dá a igualdade dos
potenciais dos pontos 4 e 5 na circunferência de raio R.
CAPACIDADE
Se dois condutores separados por um dieléctrico estão carregados com cargas +𝑄 𝑒 − 𝑄,
estabelece-se uma diferença de potencial U ente eles. A razão entre a carca e a diferença de
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potencial estabelecida e chamada capacidade do par de condutores. A capacidade representa-


se por C e define-se como
𝑄
𝐶= 4.41
𝑈

CAPACIDADE DE UMA LINHA DE DOIS CONDUTORES


Escrevamos a expressão da tensão entre dois condutores em função da carga 𝜏 por unidae de
comprimento. O ponto 1 (figura 15a) pertence a superfície do condutor da esquerda e o ponto
3 à superfície do condutor da direita. A diferença de potencial entre eles é dada por
𝑏 𝑑−𝑟−𝑥 𝜏 𝑟−𝑥
𝑈13 = 𝜑1 − 𝜑3 = 2𝜋𝑟𝜀 𝑙𝑛 − 2𝜋𝑟𝜀 𝑙𝑛 𝑑−𝑟−𝑥 , 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑑 ≫ 𝑟, 𝑥 ≪ 𝑟, 𝑑𝑒 𝑚𝑜𝑑𝑜 𝑞𝑢𝑒
𝛼 𝑟−𝑥 𝛼

𝜏 𝑑 𝜏 𝑑
𝑈13 = 2𝑙𝑛 = 𝑙𝑛 4.42
2𝜋𝑟𝜀𝛼 𝑟 𝜋𝑟𝜀𝛼 𝑟
Portanto, para 𝑑 ≫ 𝑟 , a capacidade por unidade de comprimento de uma linha de dois
condutores “e
𝜏 𝜋𝜀𝛼
𝐶= = 4.43
𝑈13 𝑙𝑛 𝑑
𝑟
Como se vê , depende somente das dimensões geométricas dos condutores e das propriedades
do meio e é independente do valor da carga 𝜏 e do valor da tensão 𝑈13 . À medida em que a
distancia entre os condutores aumenta, a capacidade diminui.
MÉTODO DAS IMAGENS SIMETRICAS
A distribuição de cargas induzidas numa superfície de forma regular ou na superfície de
separação de dois dieléctricos, de forma geométrica regular, pode calcular-se em muitos casos
pelo método das imagens simétricas. Este é um método artificial que leva muitas vezes ao
conhecimento da intensidade do campo eléctrico e da distribuição do potencial. O método
consiste em colocarem-se cargas auxiliares num dos lados duma superfície ou na superfície
de separação, de valores e posições tais que darão lugar ao mesmo campo eléctrico no outro
lado da superfície que o que é criado pelas cargas reais. Neste caso, podem desprezar-se as
cargas reais e usar as imagens para determinar as características do campo. Quando se substitui
a carga real numa superfície ou na superfície de separação de dois meios, por uma imagem
(ou sistema de imagens), deve-se ter o cuidado de não violar as condições que já existem.
Esta imagem pode ser considerada como solução do problema em virtude do teorema da
unicidade.

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O CAMPO DE UM CONDUTOR CARREGADO PERTO DE UM PLANO CONDUTOR


Consideremos um condutor de carga 𝜏 por
unidade de comprimento paralelo à superfície
de um meio condutor (uma parede metálica ou
a terra, por exemplo).
Deseja-se determinar a distribuição do campo
no semi-plano superior (no dieléctrico).
A indução electrostática dá origem a cargas induzidas na superfície do condutor. A sua
densidade decresce à medida que aumenta a distância x. O campo eléctrico no dieléctrico é
criado pela carga do condutor e pelas cargas induzidas. As características do campo eléctrico
podem calcular-se pelo método das imagens simétricas.
Para isso consideremos uma carga fictícia no ponto m cuja carga tem sinal contrário à carga
dada (isto é, −𝜏). A distância h do ponto m à superfície de separação é a mesma que a distância
da carga real a esta superfície. Deve acrescentar-se entre parêntesis que a carga artificial não
é sempre igual em grandeza e de sinal contrário ao da carga real.
O passo seguinte consiste em verificar se a intensidade do campo devido as duas cargas
(+𝜏 𝑒 − 𝜏) tem somente a componente normal em qualquer ponto da superfície de separação
e não tem componente tangencial nesse mesmo ponto. Com efeito, as componentes
tangenciais de ambas as cargas tem sentido opostos e a sua soma é nula em qualquer ponto.
Pode mostrar-se que o potencial devido a cada carga, que pode calcular-se pela equação (4.38)
satisfaz à equação de Laplace (equação 4.30). Para isso substitui-se o segundo membro da
equação (4.38) na equação (4.30) e verifica-se que ∇2 𝜑 e igual a zero:
1 𝜕 𝜕 𝜏 1
. ⌈𝑟 𝜕𝑟 (2𝜋𝜀 𝑙𝑛 𝑟 )⌉ = 0
𝑟 𝜕𝑟 𝛼

Como o potencial devido a cada carga satisfaz à equação de Laplace e satisfaz também a
condição fronteira, a solução obtida pode considerar-se como verdadeira em virtude do
teorema da unicidade.
A imagem do campo de um condutor carregado colocado paralelamente a um plano condutor
esta representado na figura 16b. As linhas de forca são perpendiculares à superfície do
condutor e a superfície do plano condutor. Os sinais ≪ −≫ refere-se às cargas induzidas na
superfície do plano condutor.

O CAMPO DUM CONDUTOR COLOCADO PERTO DA SUPERFÍCIE DE


SEPARAÇÃO DE DOIS MEIOS DE PERMITIVIDADES DIFERENTES
Em relação a figura 17a o semi-espaco
superior é constituído por um dieléctrico de
permitividade 𝜀1𝑎 , e o semi-espaco inferior é
constituído por um dieléctrico de
permitividade 𝜀2𝑎 . A superfície de separação
entre os dois meios é ab. A polarização dos
dieléctricos dá origem a cargas ligadas na
superfície de separação que exercem influência sobre os campos nos dois sentidos.
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Para se conhecer a distribuição do campo, substituem-se as cargas induzidas por um sistema


de duas cargas-imagens 𝜏2 𝑒 𝜏3 e não uma carga como no caso anterior. A razão é que no
problema anterior somente uma condição (𝐸𝑡 = 0) tinha de ser satisfeita e isto podia ser feito
com uma carga imagem. No problema presente há duas condições fronteira a ser satisfeitas,
isto pode fazer-se considerando duas cargas adicionais desconhecidas.
O campo num ponto qualquer do semi-espaco inferior e calculado a partir das cargas 𝜏1 𝑒 𝜏2 ,
supondo que ambos os semi-espaco inferior é constituído por um dieléctrico de permitividade
𝜀1𝑎 (figura 17b) .
O campo num ponto qualquer do semi-espaco superior e calculado a partir da carga fictícia
𝜏3 colocada no mesmo ponto que 𝜏1 , supondo que ambos os semi-espacos estao cheios de
um dieléctrico de permitividade 𝜀2𝑎 (figura 17c) .
Da condição de que na fronteira as componentes tangenciais da intensidade eléctrica em
1
ambos os lados da fronteira são iguais, segue-se que: 𝐸𝑡𝐼 + 𝐸𝑡𝐼𝐼 = 𝐸𝑡𝐼𝐼𝐼 ou 2𝜋𝜀 𝑟 [𝜏1 +
1𝑎
𝜏
𝜏2 ] cos 𝛼 = 2𝜋𝜀3 cos 𝛼
2𝑎 𝑟

Portanto
𝜀1𝑎
𝜏1 + 𝜏2 = 𝜏3 4.44
𝜀2𝑎
Da condição e que na fronteira as componentes normais do deslocamento eléctrico são iguais
segue-se que (supondo que o sentido positivo da normal é o descendente) 𝐷𝑡𝐼 − 𝐷𝑡𝐼𝐼 = 𝐷𝑡𝐼𝐼𝐼 ou
1 𝜏
desenvolvendo [𝜏1 − 𝜏2 ] sen 𝛼 = 3 sen 𝛼.
2𝜋𝑟 2𝜋𝑟

Portanto:
𝜏1 − 𝑏2 = 𝜏3 4.45
Resolvendo as equações (4.44) e (4.45) simultaneamente obtem-se :
𝜀1𝑎 − 𝜀2𝑎
𝜏2 = 𝜏1 4.46
𝜀1𝑎 + 𝜀2𝑎
E
2𝜀2𝑎
𝜏3 = 𝜏1 4.47
𝜀1𝑎 + 𝜀2𝑎
A carga 𝜏2 tem o mesmo sinal com a carga 𝜏1 quando 𝜀1𝑎 > 𝜀2𝑎 , enquanto que o sinal de 𝜏3
e sempre o mesmo com o de 𝜏1 .
Os métodos de cálculo e as equações (4.46) e (4.47) podem ser utilizadas em problemas em
que se consideram cargas pontuais em vez de condutores, excepto que 𝜏 nesse caso representa
o valor da carga pontual.

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CAMPO ELECTROSTÁTICO DE UM SISTEMA DE CORPOS CARREGADOS


COLOCADOS PERTO DE UM PLANO CONDUTOR
Tomemos para sistema de corpos carregados uma linha com
vários condutores, constituída por n condutores muito longos com
uma carga linear 𝜏𝑘 (o índice da carga corresponde ao numero do
condutor considerado), colocados paralelamente a superfície da
terra.
A altura em relação à terra e o raio de cada condutor são
conhecidos, assim como a permitividade 𝜀𝑎 do meio em que se
encontram os condutores.
Consideremos um ponto arbitrário M no dieléctrico (figura 18) e
determinemos o seu potencial. É igual a soma dos potenciais
criados por cada condutor e pela sua imagem simétrica. De acordo com a equação (4.39) o
potencial resultante no ponto M devido ao condutor 1 e à sua imagem é dado por 𝜑𝑀1 =
𝜏1 𝑏
𝑙𝑛 𝑎1𝑀 , onde 𝑏1𝑀 = 𝑑𝑖𝑠𝑡𝑎𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑝𝑜𝑛𝑡𝑜 𝑀 𝑎 𝑖𝑚𝑎𝑔𝑒𝑚 𝑑𝑜 𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑖𝑟𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑑𝑢𝑡𝑜𝑟;
2𝜋𝜀𝛼 1𝑀

𝑎1𝑀 = 𝑑𝑖𝑠𝑡𝑎𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑝𝑜𝑛𝑡𝑜 𝑀 𝑎𝑜 𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑖𝑟𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑑𝑢𝑏𝑜𝑟.


Consideremos que a distância dos condutores a terra é bastante maior do que o raio dos
condutores. Então os eixos eléctricos coincidem praticamente com os eixos geométricos dos
condutores. A componente do potencial em M criado pelo segundo condutor e pela imagem é
𝜏2 𝑏2𝑀
𝜑𝑀2 = 𝑙𝑛 . Assim
2𝜋𝜀𝛼 𝑎2𝑀

𝜏1 𝑏1𝑀 𝜏2 𝑏2𝑀 𝜏3 𝑏3𝑀


𝜑𝑀 = 𝜑𝑀1 + 𝜑𝑀2 + 𝜑𝑀3 … . = 𝑙𝑛 + 𝑙𝑛 + 𝑙𝑛 + ⋯.
2𝜋𝜀𝛼 𝑎1𝑀 2𝜋𝜀𝛼 𝑎2𝑀 2𝜋𝜀𝛼 𝑎3𝑀
COEFICIENTES DE POTENCIAL. O PRIMEIRO GRUPO DAS FORMULAS DE
MAXWELL
O mesmo ponto M pode ser colocado à superfície do primeiro condutor. Então 𝜑𝑀 =
𝜑1 ; 𝑏1𝑀 = 2ℎ1 ; 𝑎1𝑀 = 𝑟1 ; 𝑏𝑀2 = 𝑏12 é a distância do primeiro condutor à imagem do
segundo condutor, 𝑎𝑀2 = 𝑎12 é a distância do primeiro condutor à imagem do segundo
condutor, etc, e
1 2ℎ1 1 𝑏12 1 𝑏13
𝜑1 = 𝜏1 𝑙𝑛 + 𝜏2 𝑙𝑛 + 𝜏3 𝑙𝑛 +⋯ 4.48′
2𝜋𝜀𝑎 𝑟1 2𝜋𝜀𝑎 𝑎12 2𝜋𝜀𝑎 𝑎13
Os coeficientes das cargas 𝜏1 , 𝜏2 , etc., conhecidos como coeficientes de potencial mostram
como os potenciais de um dado sistema dependem das dimensões das dimensões geométricas
dos corpos, das suas posições relativas, e das propriedades do meio. São independentes da
grandeza e do sinal das cargas e dos potenciais.
Para simplificar, a equação (4.48′ ) e todas as equações semelhantes podem escrever-se:
𝜑1 = 𝜏1 ∝11 + 𝜏2 ∝12 + 𝜏3 ∝13 + ⋯
{𝜑2 = 𝜏1 ∝21 + 𝜏2 ∝22 + 𝜏3 ∝23 + ⋯ 4.48
𝜑3 = 𝜏1 ∝31 + 𝜏2 ∝32 + 𝜏3 ∝33 + ⋯
Onde

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1 𝑏𝑘𝑚
∝𝑘𝑚 = 𝑙𝑛
2𝜋𝜀𝑎 𝑎𝑘𝑚
4.48′′
1 ℎ𝑘
∝𝑘𝑘 = 𝑙𝑛
{ 2𝜋𝜀𝑎 𝑟𝑘
1 𝑏
O coeficiente ∝𝑚𝑘 = 2𝜋𝜀 𝑙𝑛 𝑎𝑚𝑘 . Como 𝑏𝑘𝑚 = 𝑏𝑚𝑘 e 𝑎𝑘𝑚 = 𝑎𝑚𝑘 , segue-se que ∝𝑚𝑘 =∝𝑘𝑚 .
𝑎 𝑚𝑘

As equações (4.48) constituem o primeiro grupo das formulas de Maxwell.


As dimensões dos coeficientes de potencial são as da unidade de comprimento dividida por
um farad. Como em todos os coeficientes há o logaritmo de uma fracção cujo numerador e
sempre maior que o denominador, todos os coeficientes são sempre positivos.
Os coeficientes de potencial podem ser interpretados sob o ponto de vista físico do seguinte
modo: consideremos que no sistema de n condutores isolados e independentes, a carga em
todos os condutores é nula excepto a do primeiro: 𝜏2 = 𝜏3 = 𝜏4 = ⋯ = 0 e 𝜏1 = 1.
Então 𝜑1 =∝11, isto é, ∝11 é numericamente igual ao potencial do primeiro condutor se este
tem uma carga unitária e as cargas dos outros condutores são nulas. Do mesmo modo, ∝21 é
numericamente igual ao potencial do segundo condutor sob as mesmas condições.
As equações (4.48) permitem calcular os potenciais de corpos carregados a partir das suas
cargas totais conhecidas. Por vezes é necessário determinar as cargas totais a partir dos
potenciais dos corpos.
COEFICIENTES CAPACITIVOS. O SEGUNDO GRUPO DAS FORMULAS DE
MAXWELL
Resolvendo equações (4.48) em ordem às cargas, e supondo que os potenciais 𝜑 e os
coeficientes 𝛼 são conhecidos, obtemos:
𝜏1 = 𝜑1 𝛽11 + 𝜑2 𝛽12 + 𝜑3 𝛽13 + ⋯
{𝜏2 = 𝜑1 𝛽21 + 𝜑2 𝛽22 + 𝜑3 𝛽23 + ⋯ 4.49
𝜏3 = 𝜑1 𝛽31 + 𝜑2 𝛽32 + 𝜑3 𝛽33 + ⋯
𝐷𝑘𝑛
Os coeficientes 𝛽𝑘𝑛 = , onde 𝐷 é o determinante da equação (4.48)
𝐷
𝛼11 𝛼12 𝛼13
𝐷 = | 𝛼21 𝛼22 𝛼23 |
𝛼31 𝛼32 𝛼33
O complemento algébrico 𝐷𝑘𝑛 obtem-se do determinante 𝐷, eliminando a linha de ordem k e
a coluna n e multiplicando o determinante resultante por (−1)𝑘+𝑛 .
O sistema (4.49) constitui o segundo grupo de formulas de Maxwell. Os coeficientes 𝛽 são
chamados coeficientes capacitivas e as suas dimensões são o recíproco das dos coeficientes
𝛼. Como o determinante 𝐷 é simétrico em relação a diagonal principal, segue-se que 𝐷𝑘𝑛 =
𝐷𝑛𝑘 𝑒 𝛽𝑘𝑛 = 𝛽𝑛𝑘 . Todos os coeficientes 𝛽 com índice diferente são negativos.
Para provamos que 𝛽11 é positivo enquanto 𝛽21 𝑒𝛽31 são negativos, liguemos todos os
condutores à terra excepto o primeiro, utilizando fios muito finos (para não se alterar o campo).
Suponha que o potencial da terra é zero, então de (4.49) vem:

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𝜏1 = 𝜑1 𝛽11
{𝜏2 = 𝜑1 𝛽21 4.49′
𝜏3 = 𝜑1 𝛽31
Agora coloquemos uma carga positiva (em
relação à terra) no primeiro condutor ligando-o à
terra por intermédio de uma pilha (figura 19a). O
primeiro condutor torna-se positivo quando a
carga e o potencial (𝜑1 > 0; 𝜏1 > 0 ). A carga
negativa é conduzida para a terra e para todos os
corpos a ela ligados eléctricamente. Todos os condutores, excepto o primeiro, adquirem cargas
negativas por estarem ligadas à terra: 𝜑2 = 0; 𝜏2 < 0, 𝜑3 = 0; 𝜏3 < 0 .
𝜏 𝜏 𝜏
Das equações (4.49′ ) segue-se que 𝛽11 = 𝜑1 > 0, enquanto 𝛽21 = 𝜑2 < 0 𝑒 𝛽31 = 𝜑3 < 0 .
1 1 1

Os coeficientes 𝛽𝑘𝑚 𝑒 𝛽𝑘𝑘 podem também ser determinados experimentalmente. Vejamos


como podemos proceder para determinar 𝛽11 𝑒 𝛽21.
Se, depois do condutor 1 ter sido carregado ao potencial 𝜑1 , abrimos o interruptor K (figua
19b), retiramos a pilha, colocamos os galvanômetros 𝐺1 𝑒 𝐺2 , e fechamos o interruptor K
novamente, o sistema ficara desagregado. 𝐺1 mede a carga 𝜏1 , e 𝐺2 a carga 𝜏2 .
𝜏 𝜏
Em seguida calculamos 𝛽11 = 𝜑1 e 𝛽21 = 𝜑2 .
1 1

AUTO-CAPACIDADE E CAPACIDADES MÚTUAS. O TERCEIRO GRUPO DAS


FÓRMULAS DE MAXWELL
O sistema (4.49) pode escrever-se sob outra forma, em função das diferenças de potencial
entre um dado corpo e outros corpos, incluindo a terra. Por (4.49) a carga do corpo k é
𝑚=𝑛

𝜏𝑘 = 𝛽𝑘𝑘 𝜑𝑘 + ∑ 𝛽𝑘𝑚 𝜑𝑚
𝑚=1
𝑚≠𝑘

Onde 𝛽𝑘𝑚 𝜑𝑚 = 𝛽𝑘𝑚 (𝜑𝑚 − 𝜑𝑘 + 𝜑𝑘 ) = −𝛽𝑘𝑚 𝑈𝑘𝑚 + 𝛽𝑘𝑚 𝜑𝑘


Portanto
𝑚=𝑛 𝑚=𝑛 𝑚=𝑛 𝑚=𝑛

𝜏𝑘 = 𝛽𝑘𝑘 𝜑𝑘 + 𝜑𝑘 ∑ 𝛽𝑘𝑚 − ∑ 𝛽𝑘𝑚 𝑈𝑘𝑚 = 𝜑𝑘 ∑ 𝛽𝑘𝑚 − ∑ 𝛽𝑘𝑚 𝑈𝑘𝑚


𝑚=1 𝑚=1 𝑚=1 𝑚=1
𝑚≠𝑘 𝑚≠𝑘 𝑚≠𝑘

Fazendo
𝑚=𝑛

∑ 𝛽𝑘𝑚 = 𝛽𝑘1 + 𝛽𝑘2 + ⋯ + 𝛽𝑘𝑘 + ⋯ + 𝛽𝑘𝑛 = 𝐶𝑘𝑘 (4.50)


𝑚=1

E
−𝛽𝑘𝑚 = 𝐶𝑘𝑚 (4.51)

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Obtemos
𝑚=𝑛

𝜏𝑘 = 𝐶𝑘𝑘 𝜑𝑘 + 𝐶𝑘1 𝑈𝑘1 + 𝐶𝑘1 𝑈𝑘1 + ⋯ = 𝐶𝑘𝑘 𝜑𝑘 + ∑ 𝐶𝑘𝑚 𝑈𝑘𝑚 (4.52)


𝑚=1
𝑚≠𝑘

Fazendo k=1,2,3,..., obtemos:


𝜏1 = 𝜑1 𝐶11 + 𝜑2 𝐶12 + 𝜑3 𝐶13 + ⋯
{𝜏2 = 𝜑1 𝐶21 + 𝜑2 𝐶22 + 𝜑3 𝐶23 + ⋯ 4.53
𝜏3 = 𝜑1 𝐶31 + 𝜑2 𝐶32 + 𝜑3 𝐶33 + ⋯

O sistema (4.53) constitui o terceiro grupo das formulas de constitui o terceiro grupo das
formulas de Maxwell. Os coeficientes 𝐶𝑘𝑘 são chamados auto-capacidades e os coeficientes
𝐶𝑘𝑚 capacidade mútua.
As dimensões destes coeficientes são as mesmas que as dos coeficientes 𝛽 . As auto-
capacidades e as capacidade mútua são positivas. Como 𝐶𝑘𝑚 = −𝛽𝑘𝑚 𝑒 𝛽𝑘𝑚 < 0 , e
evidente que 𝐶𝑘𝑚 > 0. Para provamos isto, liguemos todos os condutores ao condutor k por
meio de um condutor metálico muito fino. Todos os 𝑈𝑘𝑚 = 0, e da equação (4.52) vemos que
𝜏𝑘 = 𝐶𝑘𝑘 𝜑𝑘 . Se se comunica ao condutor k um potencial positivo em relação à terra ligando-
o ao polo positivo de uma pilha cujo polo negativo se liga à terra, então 𝜏𝑘 e 𝜑𝑘 são positivos
𝜏
e a sua razão 𝐶𝑘𝑘 = 𝜑𝑘 > 0.
𝑘

𝐶𝑘𝑘 é positivo ainda que possa incluir um grande numero de coeficiente negativos 𝛽𝑘𝑚 (o
coeficiente 𝛽𝑘𝑘 é numericamente maior do que ∑𝑚=𝑛
𝑚=1 𝛽𝑘𝑚 ).
𝑚≠𝑘

De acordo com o sistema (4.53) a carga total no corpo k é igual à soma das cargas. A carga
𝐶𝑘𝑘 𝜑𝑘 é devida a diferença de potencial entre o corpo k e a terra, 𝑈𝑘𝑚 𝐶𝑘𝑚 é a carga devida à
diferença de potencial entre os corpo k e m.
Portanto, a capacidade mutua 𝐶𝑘𝑚 entre os corpos k
e m pode definir-se como a razão entre a componente
da carga do corpo k devida a 𝑈𝑘𝑚 e esta diferença de
potencial 𝑈𝑘𝑚 .
O significado físico do sistema (4.53) pode ser
compreendido imaginando o sistema de três
condutores (figura 20) no qual o primeiro condutor
esta ligado as armaduras de três condensadores,
𝐶11 , 𝐶12 𝑒 𝐶13 . As cargas na armaduras mais perto do
primeiro condutor são, respectivamente 𝜑1 𝐶11 , 𝑈12 𝐶12 𝑒 𝑈13 𝐶13 . As cargas nas outras
armaduras são dadas na figura 20.
Os três grupos das formulas de Maxwell aplicam-se a sistemas de corpos carregados de
qualquer forma. Contudo, para corpos de forma arbitraria os coeficientes de potencial não

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podem ser calculados pelas expressões (4.48′′ ) que somente são validas para sistemas de
condutores lineares paralelos, suficientemente compridos. Neste caso os coeficientes
capacitivos, as auto-capacidades e as capacidades mutuas tem de ser determinadas
experimentalmente.
As auto-capacidades e as capacidade mutuas são utilizadas não so nos cálculos dos campos
electrostáticos mas também nos cálculos de fenômenos que se desenvolvem rapidamente em
circuitos eléctricos, assim como nos cálculos de certos processos nos circuitos eléctricos que
envolvem auto-capacidades.
Por outro lado devem considerar-se as auto-capacidades e capacidades mutuas entre os
eléctrodos das válvulas eléctrodos das válvulas electrónicas e entre os eléctrodos dos
transitores, quando se calculam fenômenos rápidos.

UMA ESFERA NUM CAMPO UNIFORME


Uma esfera metálica ou dieléctrica (cuja permitividade é diferente da
do meio ambiente) colocada num campo uniforme de intensidade 𝐸0
(ver figura 21) distorce a distribuição do campo, especialmente perto da
esfera, de modo que o campo deixa de ser uniforme. O carácter de
perturbação do campo depende das dimensões da esfera, da sua
permitividade e da carga da esfera.
Se a esfera e metálica as linhas de forca dirigem-se para a superfície da
esfera numa direcção perpendicular. Se a esfera metálica esta
descarregada a indução eletrostática produzira cargas induzidas e as linhas de forca começam
e terminam nestas cargas. Se a esfera metálica está carregada, a carga está distribuída à sua
superfície.
Se a esfera e constituída por um dieléctrico, o campo externo da origem a polarização da
substancia. As cargas superficiais perturbam o campo uniforme existente anteriormente. As
linhas de forca encontram a superfície da esfera de modo que as condições fronteira sejam
satisfeita.
Dentro de uma esfera metálica, 𝐸 = 0 𝑒 𝜑 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 . Quer a esfera seja metálica ou
dieléctrica, não há carga livre na região exterior à esfera, e por conseguinte o campo nesta
região pode ser escrito pela equação de Laplace. Se a esfera é de uma substancia dieléctrica e
a sua carga livre é nula, o campo no interior da esfera pode ser descrito pela equação de
Laplace.
Assim, em qualquer caso o problema é resolvido integrando a equação de Laplace, ∇2 𝜑 = 0.
Este é um problema típico da electrostática. Para qualquer problema especifico é muito
importante escolher um sistema de coordenadas apropriado. O sistema de coordenadas deve
ser escolhido de modo que as superfícies de separação, que existem no campo, podem ser
descritas de uma maneira cômoda. No nosso problema a superfície de separação é uma esfera.
A esfera é descrita da maneira mais cômoda num sistema de coordenadas esféricas.
O segundo passo consiste em verificar se o campo em questão possui qualquer forma de
simetria. A simetria do campo pode muitas vezes simplificar a solução do problema. No nosso

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casso o campo é independente da coordenada 𝛼. Para o provamos, consideremos uma plano


que corte o campo perpendicularmente ao eixo z das coordenadas cartesianas, e tracemos uma
circunferência neste plano de modo que o centro esteja sobre o eixo z. para todos os pontos
desta circunferência o raio R que une o ponto considerado a origem das coordenadas, tem o
mesmo valor; o ângulo 𝜃 situado no plano meridiano entre o raio R e o eixo dos z é o mesmo.
Todos os pontos da circunferência estão em condições idênticas no campo. Portanto, estao
todos ao mesmo potencial. O valo do ângulo 𝛼 , que determina a posição dos pontos da
circunferência é diferente. Se para um conjunto de pontos R é constante, 𝜃 é constante e 𝛼
varia enquanto 𝜑 é o mesmo, conclui-se que no campo considerando 𝜑 é independente de 𝛼.
Portanto, o campo pode ser descrito pela seguinte equação:
1 𝜕 𝜕𝜑 1 𝜕 𝜕𝜑
. (𝑅 2 𝜕𝑅 ) + 𝑅2 sen 𝜃 . 𝜕𝑅 (sen 𝜃 𝜕𝜃 ) = 0 4.54
𝑅 2 𝜕𝑅

A equação (4.54) é uma equação às derivadas parciais. Pode integrar-se pelo método de
Fourier-Bernoulli. Por este método, a função desconhecida. no caso 𝜑 é representada pelo
produto de duas funções (desconhecidas) M e N, uma das quais (M), depende somente de R,
e a outra (N) somente de 𝜃:
𝜑 = 𝑀(𝑅)𝑁(𝜃) 4.55
Em primeiro lugar, determina-se a forma das funções M e N. A representação da função 𝜑
como produto de duas funções torna possível decompor a equação (4.54) em duas equações
diferente ordinárias, uma em relação a M e outra em relação a N.
𝜕𝜑 𝜕𝑀 𝜕𝜑 𝜕𝑁
Sendo 𝜕𝑅 = 𝑁 𝜕𝑅 𝑒 = 𝑀 𝜕𝜃 e substituindo a equação (4.54) na equação (4.54), obtém-se
𝜕𝜃

𝑁 𝜕 𝜕𝑀 𝑀 𝜕 𝜕𝑁
2
. (𝑅 2 )+ 2 . (sen 𝜃 )=0 4.56
𝑅 𝜕𝑅 𝜕𝑅 𝑅 sen 𝜃 𝜕𝜃 𝜕𝜃
2
Multiplicando a equação (4.56) por 𝑅 ⁄𝑀𝑁

1 𝜕 𝜕𝑀 1 𝜕 𝜕𝑁
. (𝑅 2 )+ . (sen 𝜃 )=0 4.57
𝑀 𝜕𝑅 𝜕𝑅 𝑁 sen 𝜃 𝜕𝜃 𝜕𝜃
Nesta equação o primeiro termo é uma função de R e o segundo termo é uma função de 𝜃. A
sua soma é zero para uma infinidade de pares de valores de R e o 𝜃 (a equação (4.57) é valida
para todos os pontos do campo). Isto é verdadeiro quando cada uma da funções é nula:
1 𝜕 𝜕𝑀 1 𝜕 𝜕𝑁
. (𝑅 2 )=0 . (sen 𝜃 )=0 4.57′
𝑀 𝜕𝑅 𝜕𝑅 𝑁 sen 𝜃 𝜕𝜃 𝜕𝜃
Ou quando
1 𝜕 𝜕𝑀 1 𝜕 𝜕𝑁
. (𝑅 2 )=𝑝 . (sen 𝜃 ) = −𝑝 4.57′′
𝑀 𝜕𝑅 𝜕𝑅 𝑁 sen 𝜃 𝜕𝜃 𝜕𝜃
Onde p é um certo número para já desconhecido.
Assim o problema reduziu-se à integração das equações (4.57′ ) e (4.57′′ ). De acordo com a
equação (4.55) a solução geral de 𝜑 é igual ao produto das e igual ao produto das soluções das

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equações (4.57′ ) mas o produto das soluções de M e N obtidas da equação (4.57′′ ). Em


primeiro lugar, calculemos a solução da equação (4.57′ ). como na equação (4.57′ ) M depende
somente de R e N somente de 𝜃, podemos passar das derivadas para derivadas simples:
1 𝑑 𝑑𝑀 1 𝑑 𝑑𝑁
. (𝑅 2 )=0 . (sen 𝜃 )=0
𝑀 𝑑𝑅 𝑑𝑅 𝑁 sen 𝜃 𝑑𝜃 𝑑𝜃
O integral de primeira é
𝐴1
𝑀= + 𝐴2 4.58
𝑅
O integral da segunda é
𝑑𝑁 𝑑𝑁 𝐴3 𝜃
sen 𝜃 = 𝐴3 ; = 𝑜𝑢 𝑁 = 𝐴3 𝑙𝑛 tg + 𝐴4 4.59
𝑑𝜃 𝑑𝜃 sen 𝜃 2
𝜃
Demostremos que 𝐴3 é necessariamente nulo, porque só assim é que o termo 𝐴3 𝑙𝑛 tg 2 não
figura na solução.
O potencial é uma solução continua e não pode tornar-se num infinitamente grande dentro de
um intervalo finito. Por razões físicas e evidente que o potencial dos pontos do eixo dos z na
𝜃
vizinhança da esfera não pode ser infinito. Ora, se 𝐴3 é diferente de zero, o termo 𝐴3 𝑙𝑛 tg 2
figura na expressão do potencial; este termo é igual a −∞ para todos os pontos em 𝜃 = 0.
Assim, a solução parcial para 𝜑, será:
𝐶1
𝜑= + 𝐶2 (𝐶1 = 𝐴1 𝐴4 , 𝐶2 = 𝐴2 𝐴4 ) 4.60
𝑅
A solução das equações (4.59 ′′ ) é
1 𝑑 𝑑𝑀
. (𝑅 2 ) = 𝑝,
𝑀 𝑑𝑅 𝑑𝑅
ou
𝑑𝑀 𝑑2𝑀
2𝑅. + (𝑅 2 ) = 𝑝𝑀
𝑑𝑅 𝑑𝑅 2

Aplicando a substituição de Euler 𝑀 = 𝐶𝑅 𝑛


𝑑𝑀 𝑑2𝑀
= 𝑛𝐶𝑅 𝑛−1 , 𝑅2 = 𝑛(𝑛 − 1)𝐶𝑅 𝑛−2
𝑑𝑅 𝑑𝑅 2
Substituindo estas derivadas na equação precedente
2𝑅. 𝑛𝐶𝑅 𝑛−1 + (𝑅 2 𝑛(𝑛 − 1)𝐶𝑅 𝑛−2 ) = 𝑝𝐶𝑅 𝑛
Ou
𝑛2 + 𝑛 − 𝑝 = 0
As raízes da equação do segundo grau são:

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1 1
𝑛1,2 = − ± √ + 𝑝 4.61
2 4

O valor de p obtém-se integrando a segunda equação (4.57′′ ):


1 𝑑 𝑑𝑁
. (sen 𝜃 ) = −𝑝
𝑁 sen 𝜃 𝑑𝜃 𝑑𝜃
A sua solução pode escrever-se sob a forma 𝑁 = 𝐵 cos 𝜃. Podemos prova-lo por substituição
e calculando ao mesmo tempo o valor de p:
𝑑𝑁 𝑑𝑁 1 𝑑 𝑑𝑁 −2𝐵 cos 𝜃 sen 𝜃
= −𝐵 sen 𝜃 ; sen 𝜃 𝑑𝜃 = −𝐵 sen2 𝜃 ; . 𝑑𝜃 (sen 𝜃 𝑑𝜃 ) = = −2 =
𝑑𝜃 𝑁 sen 𝜃 𝐵 sen 𝜃 cos 𝜃
−𝑝
Assim, p=2. Substituindo o valo de p na equação (4.61) achamos 𝑛1 = 1 𝑒 𝑛2 = 2.
Deste modo, a solução comum das equações (4.57′′ ) dá para 𝜑 a seguinte expressão:
𝐶4
𝜑 = ( 2 + 𝐶3 𝑅) cos 𝜃
𝑅
E a solução completa é
𝐶1 𝐶4
𝜑= + 𝐶2 + ( 2 + 𝐶3 𝑅) cos 𝜃 4.62
𝑅 𝑅
UMA ESFERA CONDUTORA NUM CAMPO UNIFORME
A equação (4.62) contem quatro constantes desconhecidas𝐶1 , 𝐶2 , 𝐶3 , 𝑒 𝐶4 , os seus valores
depende do facto de a esfera colocada no campo ser condutora ou dieléctrica.
Para se determinarem as quatro constantes, é necessário tomar em conta não só as condições
a satisfazer a superfície da esfera, mais também as condições que existem no infinito, ou seja
em pontos muito distantes da esfera.
Se a esfera esta descarregada, todos os pontos do plano XOY que passam pelo cetro da esfera
estão ao mesmo potencial,𝜑0 .
A uma distancia 𝑍 = 𝑅 cos 𝜃 da esfera, muito grande em relação ao raio a, a acção
perturbadora da esfera no campo ou se torna desprezível ou se manifesta como a perturbação
devida a uma carga pontual. Então o potencial no infinito será dado por:
𝑄
𝜑= + 𝜑0 + 𝐸0 𝐸 cos 𝜃 4.63
4𝜋𝑅𝜀𝑎
O primeiro termo dá a componente do potencial devido à carga Q da esfera, e o termo
𝐸0 𝐸 cos 𝜃 diz respeito à variação do potencial devido à intensidade 𝐸0 do campo uniforme ao
longo do percurso 𝑍 = 𝑅 cos 𝜃. Como solução da equação (4.62) também se aplica a pontos
de campo muito afastados da esfera pode-se concluir que a equação (4.62) e a equação (4.63)
devem dar o mesmo resultado. Isto é verdadeiro somente se os termos correspondentes em
𝑄
ambas as equações forem iguais. Portanto, 𝐶2 = 𝜑0 ; 𝐶1 = 𝑒 𝐶3 = 𝐸0 .
4𝜋𝜀𝑎

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Contudo, não se obtém deste modo o valor de 𝐶4 , porque a equação (4.63) não contem o termo
que é inversamente proporcional ao quadrado de R.
Para se determinar 𝐶4 , devemos nos basear no facto de que na electrostática, todos os pontos
de uma esfera estão ao mesmo potencial. Ou seja, que componente tangencial da intensidade
do campo à superfície de uma esfera é nula. Para R=a.
𝑄 𝐶4
𝜑 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 = + 𝜑0 + (𝐸0 𝑎 + 2 ) cos 𝜃
4𝜋𝑅𝜀𝑎 𝑎
É obvio que o segundo membro se manterá constante enquanto 𝜃 varia somente se
𝐶
(𝐸0 𝑎 + 𝑎42 ) = 0.

Portanto, 𝐶4 = −𝐸0 𝑎3
Assim, para todos os pontos do dieléctrico
𝑄 𝑎3
𝜑= + 𝜑0 + 𝐸0 (𝑅 + 2 ) cos 𝜃 4.64
4𝜋𝑅𝜀𝑎 𝑅

Como o potencial depende somente de R e 𝜃, segue-se que a intensidade do campo eléctrico


tem somente duas componentes
𝜕𝜑 𝑄 2𝑎3
𝐸𝑅 = − = − 𝐸0 (1 + 2 ) cos 𝜃
𝜕𝑅 4𝜋𝑅 2 𝜀𝑎 𝑅
3 4.64′
𝜕𝜑 𝑎
𝐸0 = − = 𝐸0 (1 + 3 ) sen 𝜃
{ 𝑅𝜕𝜃 𝑅

Se q=0, então à superfície da esfera (para R=a): 𝐸𝑅 = −3𝐸0 cos 𝜃


Para 𝜃 = 0, 𝐸𝑅 = −3𝐸0 , e para 𝜃 = 1800 , 𝐸𝑅 = 3𝐸0 . Por outra palavras, a intensidade do
campo nestes pontos é três vezes maior que a intensidade do campo uniforme 𝐸0 , na qual a
esfera tinha sido colocada.
Deste modo uma gota de agua que tenha caído no tanque cheio de óleo de um transformador,
provoca um aumento local considerável do campo eléctrico.
UMA ESFERA DIELÉCTRICA NUM CAMPO UNIFORME
Se uma esfera dieléctrica não carregada é colocada num campo uniforme, não haverá cargas
livres quer no interior quer no exterior da esfera, e o campo pode ser descrito pela equação de
Laplace. A solução geral de (4.62) é igualmente válida para resolver este problema.
Atribuímos o índice i as grandezas que caracterizam o campo no interior da esfera, e o índice
e as grandezas que se utilizam para descrever o potencial na região exterior à esfera. Então
para a região no interior da esfera.
𝐶1𝑖 𝐶4𝑖
𝜑𝑖 = + 𝐶2𝑖 + (𝐶3𝑖 𝑅 + 2 ) cos 𝜃 4.65
𝑅 𝑅
E para região exterior à esfera

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𝐶1𝑒 𝐶4𝑒
𝜑𝑒 = + 𝐶2𝑒 + (𝐶3𝑒 𝑅 + 2 ) cos 𝜃 4.66
𝑅 𝑅
É necessário calcular oito constantes de integração. O potencial no infinito neste caso será:
𝜑 = 𝜑0 + 𝐸0 𝐸𝑅 cos 𝜃
Comparando esta equação com a equação (4.66) conclui-se que
𝐶2𝑒 = 𝜑0 𝑒 𝐶3𝑒 = 𝐸0
Sabe-se que o potencial no campo devido a uma carga pontual é inversamente proporcional a
𝐶1𝑒
R. portanto, o termo é a componente do potencial devido à carga total da esfera considerada
𝑅
como uma carga pontual. Como a carga total da esfera é zero, esta componente não deve
figurar na expressão de 𝜑𝑒 . Portanto:
𝐶4𝑒
𝜑𝑒 = 𝜑0 + (𝐶3𝑒 𝑅 + ) cos 𝜃 4.66′
𝑅2
A única incógnita da equação (4.66′ ) é a constante 𝐶4𝑒 .
Consideremos a expressão para o potencial 𝜑𝑖 no interior da esfera. Ela deve dar um valor
finito para todos os pontos no interior da esfera. Isto só é possível se 𝐶1𝑖 = 0 𝑒 𝐶4𝑖 = 0. A
constante 𝐶2𝑖 , que figura no cálculo do potencial no campo considerado, é igual à constante
análoga 𝐶2𝑒 = 𝜑0 para a região exterior.
Assim para a região exterior:
𝜑𝑖 = 𝜑0 + (𝐶3𝑖 𝑅) cos 𝜃 4.66′′
As constantes 𝐶4𝑒 𝑒 𝐶3𝑖 que continuam desconhecidas, podem ser calculadas a partir das
condições limites. Da igualdade dos potenciais 𝜑𝑖 𝑒 𝜑𝑒 para 𝑅 = 𝑎, resulta que:
𝐶4𝑒
𝐶3𝑖 𝑎 = 𝐸0 𝑎 +
𝑎2
Da igualdade das componentes normais do deslocamento eléctrico na superfície de separação,
obtém-se
2𝐶4𝑒
−𝜀𝑖 𝐶3𝑖 = 𝜀𝑒 (𝐸0 − )
𝑎3
Resolvendo as duas equações simultaneamente, obtem-se:
3𝜀𝑒 𝜀𝑒 −𝜀𝑖
𝐶3𝑖 = 𝐸0 ; 𝐶4𝑒 = 𝑎3 𝐸0
2𝜀𝑒 + 𝜀𝑖 2𝜀𝑒 + 𝜀𝑖
O potencial no interior da esfera
3𝜀𝑒 3𝜀𝑒
𝜑𝑖 = 𝜑0 + 𝐸0 𝑅 cos 𝜃 = 𝜑0 + 𝐸0 𝑧 4.67
2𝜀𝑒 + 𝜀𝑖 2𝜀𝑒 + 𝜀𝑖
𝑧 = 𝑅 cos 𝜃
O potencial no exterior da esfera
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𝑎3 𝜀𝑒 −𝜀𝑖
𝜑𝑒 = 𝜑0 + 𝐸0 (𝑅 + ) cos 𝜃 4.68
𝑅 2 2𝜀𝑒 + 𝜀𝑖
A intensidade do campo no interior da esfera
𝜕𝜑𝑖 3𝜀𝑒
𝐸𝑧 = − = −𝐸0 4.69
𝜕𝑧 2𝜀𝑒 + 𝜀𝑖
A intensidade E é dirigida segundo o eixo dos z e é independente das coordenadas do ponto.
Por outras palavras, o campo no interior da esfera é uniforme.
UM CILIDRO DIELÉCTRICO NUM CAMPO UNIFORME
Seja 𝐸0 a intensidade de um campo uniforme (antes da introdução do
cilidro) paralelo ao eixo dos x de um sistema cartesiano (figura 22)
Coloquemos no campo um cilindro dieléctrico de modo que o eixo do
cilindro coincida com o eixo dos z.
Resolvendo as equações de Laplace num sistema de coordenadas
cilíndricas, obtemos as expressões seguintes para o potencial no
interior e no exterior, 𝜑𝑖 𝑒 𝜑𝑒 :
3𝜀𝑒 3𝜀𝑒
𝜑𝑖 = − 𝐸0 𝑟 cos 𝛼 = − 𝐸𝑥 6.70
2𝜀𝑒 + 𝜀𝑖 2𝜀𝑒 + 𝜀𝑖 0
𝑎2 𝜀𝑒 −𝜀𝑖
𝜑𝑒 = 𝐸0 ( − 𝑟) cos 𝛼 4.71
𝑟 2𝜀𝑒 + 𝜀𝑖

A intensidade do campo uniforme no interior do cilindro está dirigida segundo o eixo dos x e
é dada por:

𝜕𝜑𝑖 3𝜀𝑒
𝐸𝑖 = − = 𝐸0 4.72
𝜕𝑥 2𝜀𝑒 + 𝜀𝑖
No caso de um cilindro condutor de raio a, introduzido num campo uniforme de intensidade
𝐸0 , de modo que o seu eixo longitudinal seja perpendicular a 𝐸0 , o potencial do eixo do
cilindro, será:
𝑎2
𝜑𝑒 = 𝐸0 ( − 𝑟) cos 𝛼
𝑟

ENERGIA POR UNIDADE DE VOLUME DE UM CAMPO ELÉCTRICO


Consideremos que num certo instante, a tensão aplicada às armaduras de um condensador é
𝑢, quando a tensão aplicada ao condensador aumenta de 𝑑𝑢, a carga de uma das armaduras
aumenta de 𝑑𝑄 e a outra de −𝑑𝑄, sendo a variação 𝑑𝑄 definida do seguinte modo:
𝑑𝑄 = 𝐶𝑑𝑢
Onde C é a capacidade do condensador.

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Para o transporte da carga 𝑑𝑄é necessária uma energia, 𝑢𝑑𝑄 = 𝐶𝑢𝑑𝑢, que vai produzir um
campo eléctrico no dieléctrico. A energia fornecida pela para carregar um condensador desde
𝑢 = 0 ate 𝑢 = 𝑈 é convertida em energia do campo eléctrico e é dado por
𝑈
𝐶𝑈 2 𝑄 2
𝑊𝑒 = 𝐶 ∫ 𝑢𝑑𝑢 = =
0 2 2𝐶
Para encontramos uma expressão que dê energia por unidade de volume de um dieléctrico,
consideremos um condensador plano e suponhamos que a distância entre as armaduras é x, e
a área de uma das faces de cada armadura é S, a permitividade do dieléctrico entre as
armaduras ´𝜀𝑎 . A tensão entre as armaduras é U. desprezando o efeito dos bordos, podemos
considerar o campo uniforme.
O modulo da intensidade do campo eléctrico é
𝑈
𝐸=
𝑥
O modulo do vector deslocamento eléctrico é
𝑄
𝐷 = 𝜀𝑎 𝐸 =
𝑆
A capacidade de um condensador plano é dada por
𝜀𝑎 𝑆
𝐶=
𝑥
A energia por unidade de volume sera:
𝜀𝑎 𝐸 2 𝐸𝐷
𝑊𝑒 = =
2 2

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EXERCÍCIOS SOBRE TEORIA DE CAMPO ELECTROSTATICO


1. Estende-se dois fios paralelos, com 10mm de diâmetro, no ar (figura 1) à distancia de
20mm (de centro a centro). A carga por metro de comprimento em cada fio é de 10−8 𝐶.
O fio da esquerda está carregado positivamente, e o da direita negativamente.
Determine as densidades de carga máxima a mínima à superfície do fio.
2. Determinar o gradiente de potencial num ponto colocado a meia distância dos fios do
exercício anterior.
3. Determine as capacidades próprias e mutuas da linha de dois fios da figura 2. O raio
dos fios é igual a 6mm, e as restantes dimensões (dadas na figura) estão em metros.
4. O fio número 1 do exercício anterior está ligado à terra através de uma fonte de tensão
E=127V. o fio número 2 está ligado a terra por meio de um condutor metálico para que
o seu potencial seja zero (figura 3). Determine as cargas por metro de comprimento
nos fios 1 e 2.
5. A carga por unidade de comprimento, 𝜏1 , no fio 1 (figura 2) é 2 × 10−9 𝐶⁄𝑚. A carga
por unidade de comprimento, 𝜏2 = −10−9 𝐶⁄𝑚. Determine o potencial no ponto M,
supondo que o potencial da terra é zero.
6. Determine a densidade de carga induzida no ponto N da superfície terrestre (figura 2),
supondo que os fios suportam as mesmas cargas do exercício 5.
7. Duas placa de metal estão colocadas no ar (figura 3), de modo a formarem um diedro
𝛼2 sem se tocarem. O potencial numa das placas é 𝜑1 , e na outra 𝜑2 .
a) Determine as expressões de 𝜑 𝑒 𝐸 em qualquer ponto do campo dentro do diedro, e
também a densidade de carga nas placas
b) Determine a solução numérica para 𝜑1 = 0𝑉, 𝜑2 = 100𝑉 𝑒 𝛼2 = 300 .
8. Dois condutores planos estão distanciados de 2cm no vácuo (figura 4) o condutor da
direita esta ligado à terra, e o da esquerda esta ligado ao terminal positivo de uma fonte
de 200V. o terminal negativo da fonte esta ligado a terra. O espaço entre as chapas é
ocupado por uma carga distribuída em volume de densidade 𝜌 = −𝑎𝜀0 𝑥, onde 𝑎 =
30 𝑘𝑉⁄𝑚3 e x é a distância à chapa da esquerda. Determine a distribuição do potencial
no espaço entre as chapas.
9. Um condensador cilíndrico com um eléctrodo central de raio 𝑟0 e cujo dieléctrico é ar,
contem uma carga em coroa de densidade volumétrica igual a 𝜌 𝐶⁄𝑐𝑚3. O raio exterior
da coroa é 𝑟1(figura 5). O raio do eléctrodo exterior é 𝑟2 . O potencial do eléctrodo
inferior é 𝜑0 ; o potencial do eléctrodo exterior é zero. Deseja-se determinar:
a) Uma expressão para a distribuição de potencial no espaço ocupado pelas cargas
volumétricas.
b) Uma expressão para a distribuição de potencial no espaço ocupado por cargas livres

10. Uma esfera metálica não carregada de raio 𝑎 = 1𝑐𝑚 está colocada num campo
uniforme de densidade 𝐸0 = 103 𝑘𝑉⁄𝑚 . Determine 𝐸𝑅 𝑒 𝐸𝜃 no ponto A. as
coordenadas do ponto A são 𝑅 = 2𝑐𝑚 𝑒 𝜃 = 300 .

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FCT-ANCE II TEORIA DE CAMPO ELECTROSTATICO

11. Determinar as expressões da intensidade de campo e da capacidade de um condensador


plano com o dieléctrico feito em duas camadas diferentes. Traçar o diagrama de E, D
e 𝜑 em função da distância x. sabendo que a espessura da primeira camada do
dieléctrico é 𝑑1 , a da segunda 𝑑2 . A permitividade absoluta da primeira camada é 𝜀1𝑎
e da segunda 𝜀2𝑎 . Supondo que 𝜀2𝑎 = 2𝜀1𝑎 𝑒 𝑑2 = 1,5𝑑1.

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FCT-ANCE II CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA

CAPITULO V: CAMPO ELÉCTRICO DE UMA CORRENTE CONTÍNUA


NUM MEIO CONDUTOR

DENSIDADE DE CORRENTE E CORRENTE


Quando uma fonte externa produz um campo eléctrico num meio condutor (condutor metálico,
terra, líquidos, etc.) existe uma corrente que passa através dele.
Por corrente eléctrica entende-se um movimento ordenado de partículas carregadas
eléctricamente sob acção de um campo eléctrico. O movimento ordenado dos electrões livres
nos metais e dos iões nos líquidos sob a acção de um campo eléctrico constitui a chamada
corrente de condução.
A propriedade do material que determina a sua capacidade de conduzir corrente é chamada
condutividade ou condutância especifica (símbolo 𝛾). A condutividade de um meio condutor
depende das suas propriedades físicas e da temperatura.
O principal parâmetro do campo eléctrico num meio condutor é a densidade de corrente. É
uma grandeza vectorial (símbolo 𝛿) actuando no sentido da intensidade do campo.
Para uma superfície finita, podem não se verificar as condições de perpendicularidade entre o
vector densidade de corrente e todos os elementos em que se pode decompor a superfície
assim como pode o vector 𝛿 variar de elemento para elemento. Nesse caso define-se corrente
como:

𝐼 = ∫ 𝛿𝑑𝑠
𝑠

A corrente é o fluxo do vector densidade de corrente. Contrariamente à densidade de corrente,


a corrente é uma grandeza escalar.
LEI DE OHM NA FORMA DIFERENCIAL. ALEI DAS MALHAS DE KIRCHHOFF NA
FORMA DIFERENCIAL
Num meio condutor, imagine-se um paralelepípedo rectangular muito pequeno de volume ∆𝑉,

Figura 1
de lado∆𝑙 e de base ∆𝑠. O paralelepípedo esta colocado de tal modo que o campo dentro dele
é por um vector perpendicular a aresta (figura 1 a). Como o paralelepípedo é muito pequeno,
pode-se dizer que a intensidade de campo é a mesma em todo o volume.
∆𝐿 = ∆𝑙𝑛0 ; ∆𝑆 = ∆𝑠𝑛0
Onde 𝑛0 é o vector unitário no sentido ∆𝐿, ∆𝑆 e E. então a corrente sera:

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FCT-ANCE II CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA

𝐼 = ∫ 𝛿𝑑𝑠 = 𝛿∆𝑆
𝑠

A tensão através do elemento é:


𝑈 = 𝐸∆𝐿 = 𝑅𝐼
A resistência do elemento é:
∆𝑙
𝑅=
𝛾∆𝑠
Substituindo os equivalentes de R e I na expressão 𝐸∆𝐿 = 𝑅𝐼, obtem-se:
∆𝑙
𝛿∆𝑠𝑛0 = 𝐸∆𝑙𝑛0
𝛾∆𝑠
Donde,
𝛿 = 𝛾𝐸 5.1
Ista é a lei de ohm na forma diferencial; relaciona a densidade da corrente num dado ponto
dum meio condutor com a intensidade de campo nesse mesmo ponto.
A equação (5.1) é válida para regiões exteriores às fontes de tensão. Em regiões ocupadas por
fontes de tensão, existe, além do campo eléctrico externo responsável pelo movimento
contínuo de cargas à volta do circuito eléctrico.
A intensidade de campo eléctrico externo simboliza-se por Eext. numa região ocupada por uma
f.e.m. a intensidade de campo total é o vector soma das intensidades dos campos de Coulomb
e externo E+ Eext.
A figura 1b representa o diagrama de um circuito de c.c. constituído por uma fonte de
alimentação e uma resistência. Uma fonte externa de f.e.m. produziu dentro da fonte de
alimentação uma intensidade de campo Eext. O integral curvilíneo da intensidade do campo
externo dentro da fonte é chamada a f.e.m. (𝐸1 ):
3
∫ 𝐸𝑒𝑥𝑡 𝑑𝑙 = 𝐸1 5.2
1

Dentro de uma fonte o campo de Coulomb é dirigido contra o campo exterior. A intensidade
de campo total dentro da fonte é E+ Eext. fora da fonte o campo de Coulomb e dirigido do lado
positivo para o lado negativo, isto é, no sentido do campo exterior que provoca a circulação
no circuito. Quando há corrente no circuito |𝐸𝑒𝑥𝑡 | > |𝐸|. Quando o circuito esta aberto
|𝐸𝑒𝑥𝑡 | = |𝐸| .
Assim, para regiões ocupadas por fontes pode escrever a equação:
𝛿 = 𝛾(𝐸 + 𝐸𝑒𝑥𝑡 ) 5.3
Que é conhecida por lei de ohm generalizada na forma diferencial.

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FCT-ANCE II CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA

O integral de ambos os membros da equação (5.3) num contorno fechado contendo f.e.m.
constitui a segunda lei de kirchhoff na forma diferencial.
Consideremos o circuito fechado da figura 1c à volta do qual a corrente I circula. O troco 1-
2-3 conte uma fonte de f.e.m. externa, enquanto que o troço 3-4-1 não tem nenhuma. Seja 𝑅1
a resistência do troço 1-2-3 e R a resistência do troço 3-4-1. Admitamos que em todo o circuito
a área de qualquer secção recta é tão pequena que a densidade de corrente e a intensidade de
campo em qualquer ponto estão na direcção do elemento dl nesse ponto.

Multiplicando ambos os membros da equação (5.3) por 𝑑𝑙⁄𝛾 e calculando a circulação no


circuito fechado 1-2-3-4-1 (figura 1c), obtém-se

∮ 𝛿𝑑𝑙
= ∮(𝐸 + 𝐸𝑒𝑥𝑡 )𝑑𝑙
𝛾
O integral de uma soma é a soma dos integrais dos termos constituinte. Assim:

∮(𝐸 + 𝐸𝑒𝑥𝑡 )𝑑𝑙 = ∮ 𝐸𝑒𝑥𝑡 𝑑𝑙 + ∮ 𝐸𝑑𝑙

Visto que o campo de Coulomb deriva de um potencial ∮ 𝐸𝑑𝑙 = 0. Por outro lado

∮ 𝐸𝑒𝑥𝑡 𝑑𝑙 = ∮ 𝐸𝑒𝑥𝑡 𝑑𝑙 + ∮ 𝐸𝑒𝑥𝑡 𝑑𝑙


123 341
Mas ∮123 𝐸𝑒𝑥𝑡 𝑑𝑙 = 𝐸1 e ∮341 𝐸𝑒𝑥𝑡 𝑑𝑙 = 0, porque não há f.e.m. externa na secção 3-4-1.
∮ 𝛿𝑑𝑙
Para determinar o valor de , multiplica-se e divide-se pela secção recta S, substituindo-se
𝛾
𝛿𝑑𝑙
𝛿𝑆 por I e por dR:
𝛾𝑆
𝛿𝑑𝑙 𝑆 𝐼𝑑𝑙 1
= = 𝐼𝑑𝑅
𝛾 𝑆 𝛾 𝑆
∮ 𝛿𝑑𝑙
= 𝐼 ∮ 𝑑𝑅 = 𝐼 ∮ 𝑑𝑅 + 𝐼 ∮ 𝑑𝑅
𝛾 123 341
Dai,
𝐼(𝑅1 + 𝑅) = 𝐸1
Esta equação deduzida a partir de (5.3) não é mais que a lei das malhas de kirchhoff.

FORMA DIFERENCIAL DA LEI DOS NÓS DE KIRCHHOFF


Consideremos um volume num meio condutor através do qual passa uma corrente invariável
no tempo. A conclusão sugerida é que a corrente que entra nesse volume deve ser igual à que
sai, doutro modo haveria uma acumulação de cargas nesse volume. A soma algébrica das
correntes que entram e que saem é nula, o que pode exprimir-se do seguinte modo:
𝐼 = ∮ 𝛿𝑑𝑠 = 0 5.4

Dividindo ambos os membros da equação (5.4) pela mesma grandeza (neste caso o volume
considerado), a igualdade mante-se
∮ 𝛿𝑑𝑠
=0
𝑉

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FCT-ANCE II CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA

É óbvio que a relação acima transcrita também se mantem à medida que o volume tende para
zero
∮ 𝛿𝑑𝑠
lim = 𝑑𝑖𝑣𝛿 = 0
𝑉→0 𝑉
Assim, para um campo permanente invariável no tempo existente num meio condutor temos
𝑑𝑖𝑣𝛿 = 0 5.5
Esta equação é a primeira lei de Kirchhoff na forma diferencial.

LEI DE JOULE NA FORMA DIFERENCIAL

É sabido que a quantidade de calor dissipado por uma corrente invariável I através de um
circuito eléctrico de resistência constante R por unidade de tempo (um segundo) é dado por
𝐼 2 𝑅 . temos de determinar uma expressão para a dispersão de calor por unidade de volume de
um meio condutor. De acordo com a figura 1ª.
𝐼2𝑅 (𝛿∆𝑠)2 ∆𝑙 𝛿2
= ( )= = 𝛾𝐸 2 5.6
𝑉 ∆𝑙∆𝑠 𝛾∆𝑠 𝛾

EQUAÇÃO DE LAPLACE PARA CAMPO ELÉCTRICO NUM MEIO CONDUTOR

Como num campo electrostático, a intensidade de um campo eléctrico num meio condutor é
𝐸 = −𝑔𝑟𝑎𝑑𝜑.
Para um campo não variável com o tempo
𝑑𝑖𝑣𝛿 = 𝑑𝑖𝑣𝛾𝐸 = 0 5.7
Se 𝛾de um meio não varia de ponto para ponto, isto é, se o meio é homogénio e isotrópico, 𝛾
pode ser colocado antes do sinal da divergência. Dai:
𝑑𝑖𝑣𝐸 = 0 5.8

Por outras palavras


∇2 𝜑 = 0 5.9
Assim, a distribuição do campo num meio homogénio e isotrópico obedece à equação de
Laplace.

CAMPO ELÉCTRICO DE UMA CORRENTE CONTINUA EM DOIS MEIOS


CONDUTORES DE DIFERENTES CONDUTIVIDADES. CONDIÇÕES LIMITES

Quando existe um campo eléctrico em dois meios condutores de condutividade 𝛾1 𝑒 𝛾2 , é


importante conhecer as condições que pode ser obtidas na superfície de separação ente eles.
Consideremos a linha 00 (figura 2) como como separação dos dois meios de diferentes
condutividades. Consideremos o contorno rectangular 1-2-3-4 na linha de separação e
calculemos a circulação do campo neste contorno. Os lados 1-2 e 3-4 são desprezíveis em face
dos lados 2-3 e 4-1 (que são designados por dl).

Figura 2
Como ∮ 𝐸𝑑𝑙 em qualquer contorno fechado é zero, também o é para o contorno 1-2-3-4.

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FCT-ANCE II CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA

Desprezando as componentes da circulação nos lados 1-2 e 3-4, temos:


𝐸1𝑡 = 𝐸2𝑡 5.10

Figura3
Vamos agora provar que as componentes normais da densidade de corrente são iguais de
ambos os lados da superfície de separação. Para isso consideremos um paralelipipedo muito
achatado no limite dos dois meios (figura 3) o fluxo de 𝛿 de fora para dentro do paralelepípedo
através da primeira base é −𝛿1𝑛 ∆𝑆 e o fluxo 𝛿 de detro para fora através da face oposta é
𝛿2𝑛 ∆𝑆. Como ∮ 𝛿𝑑𝑠 = 0, temos −𝛿1𝑛 ∆𝑆 + 𝛿2𝑛 ∆𝑆 = 0 e
𝛿1𝑛 = 𝛿2𝑛 5.11
Suponhamos que as linhas de forca do campo 𝐸1 no primeiro meio de condutividade 𝛾1 fazem
um ângulo 𝛽1(ângulo de incidência) com a normal à superfície de separação. Seja 𝛽2 o ângulo
que o campo 𝐸2 no segundo meio faz com a normal (ângulo de refracção). Os ângulos de
incidência e refracção estão ligados por
𝛿1𝑡 𝐸1𝑡 𝛾1 𝛿2𝑡 𝐸2𝑡 𝛾2
tg 𝛽1 = = ; tg 𝛽2 = =
𝛿1𝑛 𝛿1𝑛 𝛿2𝑛 𝛿2𝑛
Ou
tg 𝛽1 𝛾1
= 5.12
tg 𝛽2 𝛾2

ANALOGIA ENTRE O CAMPO NUM MEIO CONDUTOR E O CAMPO


ELECTROSTÁTICO
O campo electrostático e o campo de uma c.c. num meio condutor diferem na natureza. O
campo electrostático é produzido por cargas invariáveis no tempo e fixas no espaço, enquanto
que o campo eléctrico num meio condutor é caracterizado pelo movimento ordenado das
cargas sob a acção de uma fonte externa. Verifica-se, contudo, certas analogias entre eles.
Por um lado, o campo electrostático em regiões não ocupadas por cargas satisfaz a equação
de Laplace. O mesmo é verdadeiro para o campo de uma c.c. num meio condutor fora de
fontes exteriores. Em ambos os tipos de campo intervém o vector intensidade de campo E.
podemos comparar o vector deslocamento eléctrico, 𝐷 = 𝜀𝑎 𝐸 com o vector densidade de
corrente, 𝛿 = 𝛾𝐸 . O fluxo de D ( 𝜓 = ∫ 𝐷𝑑𝑠 ) pode ser comparado ao fluxo do vector
densidade 𝐼 = ∫ 𝛿𝑑𝑠.
Por outro lado, as condições no limite de separação de dois dieléctricos de diferentes
permitividades são como já vimos
𝐸1𝑡 = 𝐸2𝑡 𝑒 𝐷1𝑛 = 𝐷2𝑛
De modo semelhante no limite entre dois meios diferentes condutividades verificam-se as
condições
𝐸1𝑡 = 𝐸2𝑡 𝑒 𝛿1𝑛 = 𝛿2𝑛
É evidente que se os dois campos satisfazem à mesma condição ∇2 𝜑 = 0 e cumprem as
mesmas condições para idênticas formas de superfícies limitadoras relativamente a grandezas
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FCT-ANCE II CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA

semelhantes, pode afirmar-se baseando-nos no teorema de unicidade que a distribuição de


linhas de força e linhas equipotenciais em ambos os campos é a mesma.
Esta analogia formal é largamente utilizada na pratica. Se. Por exemplo, se sabe tudo a respeito
de um campo electrostático, podemos entender esses conhecimentos para um campo
geometricamente igual num meio condutor. A reciproca também é verdadeira.

RELAÇÃO ENTRE CONDUTIVIDADE E CAPACIDADE


Quando um par de eléctrodos ligados a uma determinada fonte de f.e.m. é colocado num meio
condutor, passara uma corrente através desse meio. Suponhamos que a d.d.p. entre os
eléctrodos é 𝑈12 𝑒 𝐼 a corrente que passa através do meio, a condutância desse meio é dada
𝐼 2
por 𝐺 = 𝑈 , visto que 𝐼 = ∮ 𝛿𝑑𝑠 = 𝛾 ∫ 𝐸𝑑𝑠 𝑒 𝑈12 = ∫1 𝐸𝑑𝑙 , temos:
12
𝛾 ∫ 𝐸𝑑𝑠
𝐺= 2 5.13
∫1 𝐸𝑑𝑙
Por outro lado, num campo eléctrico, a capacidade entre dois eletrodos idênticos carregados
com cargas iguais e de sinais contrários C é dado por
𝑄 𝜀𝑎 ∫ 𝐸𝑑𝑠
𝐶= = 2 5.14
𝑉 ∫ 𝐸𝑑𝑙1
Dividindo a equação (5.14) pela equação (5.13) temos:
𝐶 𝜀𝑎
= 5.15
𝐺 𝛾
Utilizando a equação (5.15), pode determinar-se a condutância entre dois corpos se a
capacidade for conhecida, ou vice-versa.
Assim, a capacidade de uma linha de dois fios é
𝜋𝜀𝑎 𝑙
𝐶= 5.16
𝑑
ln 𝑟
Onde: 𝑙 = 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝑓𝑖𝑜𝑠; 𝑑 = 𝑒𝑠𝑝𝑎𝑐𝑜 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑜𝑠 𝑓𝑖𝑜𝑠(𝑑𝑒 𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 𝑎 𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜); 𝑟 =
𝑟𝑎𝑖𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝑓𝑖𝑜𝑠
Para determinar uma expressão para a condutância entre dois fios paralelos (cilindros) imersos
num meio de condutividade 𝛾, podia, de acordo com a equação (5.15) substituir 𝜀𝑎 por 𝛾 na
equação (5.16). que dá
𝜋𝛾𝑙
𝐺= 5.16
𝑑
ln 𝑟

Figura 4

A capacidade de um cabo coaxial (figura 4a) é dada por

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FCT-ANCE II CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA

𝜋𝜀𝑎 𝑙
𝐶= 𝑟
ln 𝑟2
1
A condutância entre dois cilindros coaxiais de comprimento l, separados por um meio de
condutividade 𝛾 (figura 4b) é
𝜋𝛾𝑙
𝐺= 𝑟
ln 𝑟2
1
A analogia pode ser alargada para incluir casos mais complicados. Assim, o potencial de uma
esfera de condutividade 𝛾𝑖 colocada num meio de condutividade 𝛾𝑒 é:
3𝛾𝑒
𝜑𝑖 = 𝜑0 + 𝐸0 𝑧
2𝛾𝑒 + 𝛾𝑖

CAMPO ELÉCTRICO NUM MEIO DIELÉCTRICO CERCANDO CONDUTORES QUE


TRANSPORTAM CORRENTES

É costume pensar-se que o campo eléctrico num dieléctrico


onde estão mergulhados condutores que transportam
correntes é análogo ao campo electrostático.
Rigosamente falando, isto é apenas verdade para uma
aproximação não muito correcta. Sob as condições de
electrostática, a componente das intensidades de campo
tangente à superfície de um corpo condutor é zero; na
presença de uma corrente continua através de um condutor,
a componente tangencial da intensidade de campo é
diferente de zero, apesar de ser desprezível em comparação
Figura 5 com a componente da intensidade normal nesse ponto. Para
provar isto, suponhamos que a diferença de potencial U entre duas barras de cobre paralelas
(figura 5) é de 100V. as barras distam entre si 2cm. A densidade da corrente é 𝛿 = 2,5 ×
106 𝐴⁄𝑚2 e a condutividade 𝛾 = 5,6 × 107 .Entao
𝛿 𝑈 𝐸𝑡
𝐸𝑡 = = 4,46 × 10−2 𝑉⁄𝑚 ; 𝐸𝑛 = = 5 × 103 𝑉⁄𝑚 ; = 1.12 × 105
𝛾 𝑏 𝐸𝑛

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FCT-ANCE II CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA

EXERCICIOS SOBRE CAMPO ELÉCTRICO NUM MEIO CONDUTOR


1. Determinar o escoamento da corrente por km de comprimento para um cabo coaxial. O
espaço entre o fio condutor central e a cinta exterior esta preenchido com um dieléctrico
imperfeito de condutividade 𝛾 = 10−8 𝑚ℎ𝑜⁄𝑚. O raio do fio condutor central é 𝑟1 , e o do
cinta é 𝑟2 = 𝑒𝑟1 ,em que 𝑒 é a base do logaritmo natural. A diferenca de potencial entre o
fio condutor central e a cinta é de 10kV.
2. Queremos determinar um campo devido a uma ligação à terra. A corrente que passa
para a terra é conduzida através de eléctrodos
enterrados. A corrente de fugas passa por um
eléctrodo (figura 1), espalha-se pela terra e é
recolhido no outro eléctrodo, da terra. Assim, a terra
serve de fio de retorno.
a) Determine a diferença de potencial entre os pontos
1 e 2 na superfície. Dados 𝑅1 = 22𝑚, 𝑅2 =
23𝑚, 𝐼 = 1000𝐴 𝑒 𝛾 = 10−2 𝑚ℎ𝑜⁄𝑚 .

3. Dois tubos metálicos com 50cm de diâmetro exterior é 3m de comprimento estão


imersos verticalmente na agua do mar de condutividade 0,1mho/m. determinar a
condutância entre os tubos. Os tubos distam entre si 25m (de centro a centro).
4. Determinar uma expressão para a condutância entre a
superfície 𝑆1 𝑒 𝑆2 de um corpo condutor com a forma de
uma cunha (figura 2)

5. Numa chapa de alumínio (𝛾𝑒 = 3,57 × 107 𝑚ℎ𝑜⁄𝑚) há um campo eléctrico uniforme
de intensidade 𝐸0 = 0,1 𝑉⁄𝑚. Determine a densidade de corrente num corpo cilíndrico de
cobre (𝛾𝑖 = 5,6 × 107 𝑚ℎ𝑜⁄𝑚) colocado perpendicularmente ao campo.

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CAPITULO VI: CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA

EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS DO CAMPO MAGNÉTICO


É sabido que um campo magnético é completamente definido pela indução magnética B,
intensidade do campo H, e magnetização J, relacionados por:
𝐵 = 𝜇0 (𝐻 + 𝐽) = 𝜇0 𝜇𝐻 = 𝜇𝑎 𝐻 6.1
Uma das manifestações de um campo magnético consiste da força exercida sobre um condutor
que transporte uma determinada corrente. A experiência mostra que essa força F está
relacionada com o elemento dl do condutor sobre o qual actua o campo e com a corrente I pela
expressão:
𝐹 = 𝐼𝐵 × 𝑑𝑙 6.2
Esta força é perpendicular à indução no ponto do condutor
considerado, e perpendicular ao respectivo elemento do corrente 𝐼𝑑𝑙
(figura 1). Da equação (6.2) conclui-se que a indução pode ser
definida como sendo a força que actua sobre um elemento de
condutor de comprimento unitário transportando a corrente de um
ampere.
Se a indução B e um elemento de comprimento 𝑑𝑙 são paralelos, não
se exerce qualquer força sobre o elemento devido ao campo
magnético. O efeito mecânico de um campo magnético sobre um elemento de corrente é
máximo quando B e 𝑑𝑙 são perpendiculares.
Um campo electromagnetico é constituído por um campo eléctrico e um campo magnético
intimamente ligados. Portanto, um campo magnético é um aspecto particular de um campo
electromagnetico.
Qualquer condutor atravessado por uma corrente é sujeito a uma força quando colocado numa
região onde existe um campo magnético, proporcional à intensidade da corrente.
Reciprocamente quando, esta força nos aparece sobre um condutor atravessado por uma
corrente, é porque existe um campo magnético na região do espaço onde se encontra o
condutor. Examinaremos os campos magnéticos produzidos por corrente continuas, supondo
a não existência de correntes de deslocamento.

LEI DE AMPERE
Quantitativamente, a circulação do vector H num percurso fechado e a corrente total que
atravessa a área limitada por esse percurso, são relacionadas pela Lei de Ampere, cuja
expressão matemática é:
∮ 𝐻𝑑𝑙 = 𝐼 6.3
Em que I representa a soma algébrica de todas as correntes que atravessam o espaço limitado
pelo contorno de integração.
A equação (6.3) dá a forma integral da lei de Ampere. A forma
diferencial referir-se-ia à relação entre o campo num ponto e a densidade
de corrente nesse ponto.
Recorre-se à forma integral da lei de Ampere quando um dado campo
apresenta simetria. Assim, a intensidade de campo num ponto A, quando
este campo é produzido por um condutor retilíneo que conduz corrente
I, (figura 2) é determinado por aplicação da lei de Ampere do seguinte
modo: Descreve-se uma circunferência de raio R num plano normal ao condutor passando por
A e tendo como centro o ponto em que esse plano corta o condutor. Por considerações de

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FCT-ANCE II CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA

simetria podemos afirmar que o campo tem o mesmo valor em qualquer ponto da
circunferência. Também sabemos que o campo tem a direcção da tangente à circunferência
em todos os pontos desta. Portanto:
𝐼
∮ 𝐻𝑑𝑙 = ∮ 𝐻𝑑𝑙 cos 00 = 𝐻 ∮ 𝑑𝑙 = 𝐻2𝜋𝑅 = 𝐼; 𝐻 =
2𝜋𝑅
Por outras palavras, o campo magnético decresce hiperbolicamente quando R cresce.
Nos casos em que é impossível considerar um contorno fechado em perfeitas condições de
simetria relativamente ao campo, a forma integral da lei de Ampere não pode ser usada para a
determinação do campo magnético porque H não pode nesse caso colocar-se fora do sinal de
integração.

FORMA DIFERENCIAL DA LEI DE AMPERE


A equação (6.3) emprega-se para contornos fechados de quaisquer dimensões.
Consideremos um contorno muito pequeno (figura 3) e calculemos a circulação de H nesse
contorno.
A circulação calculada terá forçosamente que ser igual à corrente total
que atravessa a área limitada por esse contorno.
Se essa área é muito pequena, podemos supor que nela a densidade de
corrente 𝛿 é constante. A corrente que atravessa é então:
∆𝑖 = 𝛿∆𝑠 = 𝛿𝑛 ∆𝑠
Em que 𝛿𝑛 é a componente normal do vector densidade de corrente 𝛿,
isto é, a projecção de 𝛿 na direcção de ∆𝑠, e

∮ 𝐻𝑑𝑙 = 𝛿𝑛 ∆𝑠
O sentido positivo da componente normal é dado pelo avanço do saca-rolhas que gira no
sentido tomado como positivo para a circulação.
Dividindo ambos os membros da equação por ∆𝑠 e fazendo ∆𝑠 tender para zero o que significa
uma contracção até zero da área considerada e tornando o limite temos:
∮ 𝐻𝑑𝑙
lim = 𝛿𝑛
∆𝑠→0 ∆𝑠
No primeiro membro temos a componente normal ao elemento ∆𝑠 do rotacional de H. esta
componente normal é designada por 𝑟𝑜𝑡𝑛 𝐻. Portanto

𝑟𝑜𝑡𝑛 𝐻 = 𝛿𝑛
Se o elemento de superfície ∆𝑠esta orientado de tal modo que a sua normal tem a direcção do
vector densidade de corrente 𝛿 no ponto considerado, a igualdade das componentes normais
dos dois vectores (𝑟𝑜𝑡𝑛 𝐻 𝑒 𝛿𝑛 ) pode ser substituída pela igualdade entre os próprios vectores,

𝑟𝑜𝑡𝐻 = 𝛿 6.4
A equação (6.4) constitui a forma diferencial da lei de Ampere.
O rotacional de um vector dá-nos o valor do “spin” desse vector.
A equação (6.4) é geral, não dependendo de qualquer sistema de coordenadas em particular.
Nas suas formas especificas de aplicação é que intervém o sistema escolhido.

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EXPRESSÃO DO ROTACIONAL COMO PRODUTO VECTORIAL

Sob o ponto de vista formal, rotH pode ser representado sob forma do produto vectorial do
operador diferencial ∇ (nabla) pelo vector H, isto é

rotH = ∇H
é fácil verificar que multiplicando vectorialmente ∇ por H se obtém:
𝜕 𝜕 𝜕
[(𝑖 +𝑗 + 𝑘 ) (𝑖𝐻𝑥 + 𝑗𝐻𝑦 + 𝑘𝐻𝑧 )]
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝜕𝐻𝑧 𝜕𝐻𝑦 𝜕𝐻𝑥 𝜕𝐻𝑧 𝜕𝐻𝑦 𝜕𝐻𝑥
= 𝑖( − )+𝑗( − )+𝑘( − )
𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦

EXPRESSÃO DE rotH SOB A FORMA DE DETERMINANTE NUM SISTEMA DE


COORDENADAS CARTESIANAS

O rotacional de qualquer vector usado na teoria do campo electromagnetico pode exprimir-se


por um determinante de terceira ordem. Por exemplo o rotH pode representar-se pelo
determinante seguinte:
𝑖 𝑗 𝑘
𝜕 𝜕 𝜕
𝑟𝑜𝑡𝐻 = 6.5
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
[ 𝐻𝑥 𝐻𝑦 𝐻𝑧 ]

CONTINUIDADE DO FLUXO MAGNÉTICO

Chama-se fluxo magnético ao fluxo do vector “indução magnética” através de uma superfície
qualquer

Φ = ∫ 𝐵𝑑𝑠
𝑠
O índice “s” que figura sob o sinal de integração mostra que se trata de um integral estendido
à superfície “s”. se esta superfície é fechada, o fluxo que a atravessa é
Φ = ∮ 𝐵𝑑𝑠
A experiência mostra que o fluxo magnético que entra num volume qualquer é igual ao que
sai desse volume. Por consequência a soma dos fluxos que entram e que saiem num volume
qualquer é igual a zero
∮ 𝐵𝑑𝑠 = 0 6.6
Esta é a expressão que traduz matematicamente a propriedade conservativa (ou de
continuidade) do fluxo magnético.

A EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE DO FLUXO MAGNÉTICO NA FORMA


DIFERENCIAL

Vamos dividir ambos os membros da equação (6.6) pelo volume V encerrado pela superfície
“s” e tomemos o limite quando V tende para zero.
∮ 𝐻𝑑𝑙
lim =0
𝑉→0 𝑉

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Ou
𝑑𝑖𝑣𝐵 = 0 6.7
A equação (6.7) pode ser considerada como a equação da continuidade do fluxo magnético na
sua forma diferencial. Aplica-se em qualquer ponto do espaço onde existe um campo
magnético. Portanto não há nenhum ponto de um campo magnético que possa ser considerado
como origem ou terminal de linhas de força (de fluxo) do vector “indução magnética”. Estas
linhas nunca são interrompidas; fecham-se sobre si mesmas.
Contudo, as linhas de H em pontos nos quais J varia, como seja na separação entre dois meios,
são continuas. Isto é uma consequência da equação (6.7):
𝑑𝑖𝑣𝐵 = 𝑑𝑖𝑣𝜇0 (𝐻 + 𝐽) = 0
E daqui
𝑑𝑖𝑣𝐻 = −𝑑𝑖𝑣𝐽

O CAMPO MAGNÉTICO EM ÁREAS ATRAVESSADAS E NÃO ATRAVESSADAS


POR CORRENTES CONTINUAS

Naquelas áreas de um campo magnético que são atravessadas por uma corrente continua, o
campo magnético é um campo rotacional enquanto que naquelas que não são atravessadas por
corrente, o campo magnético é um campo irrotacional.
Um campo de vectores H diz-se rotacional numa determinada região do espaço quando nessa
região podemos definir 𝑟𝑜𝑡𝐻 ≠ 0. É irrotacional no caso contrário ( 𝑟𝑜𝑡𝐻 = 0).

POTENCIAL ESCALAR MAGNÉTICO

Para um conjunto de pontos nos quais 𝛿 = 0, 𝑟𝑜𝑡𝐻 = 0 , o campo magnético pode ser
considerado como irrotacional, ou, um campo em que a cada ponto podemos associar um certo
potencial escalar magnético 𝜑𝑀 . Isto equivale a dizer que o campo H é definido pelo gradiente
de uma função, ou
𝐻 = −𝑔𝑟𝑎𝑑𝜑𝑀 6.8
Dado que 𝑑𝑖𝑣𝐵 = 𝑑𝑖𝑣𝜇𝑎 𝐻, então para 𝜇𝑎 constante, temos divH=0. Substituindo nesta ultima
expressão H por −𝑔𝑟𝑎𝑑𝜑𝑀 temos:
𝑑𝑖𝑣𝑔𝑟𝑎𝑑𝜑𝑀 = 0
Portanto, o potencial magnético 𝜑𝑀 nas áreas que estamos a considerar (não atravessadas por
correntes) satisfaz à equação de Laplace.
∇ 2 𝜑𝑀 = 0 6.9
A diferença de potencial magnético escalar entre dois pontos 1 e 2 é chamado queda de
potencial magnético entre esses pontos e definida por:
2
𝑈𝑀12 = 𝜑𝑀1 − 𝜑𝑀2 = ∫ 𝐻𝑑𝑙
1
A queda de potencial magnético entre os pontos 1 e 2 ao longo de
determinado percurso (digamos 1-3-2 da figura 4) e igual à queda de
potencial magnético entre os mesmos pontos tomada ao longo de outro
qualquer percurso (1-4-2, por exemplo), desde que esses percursos
constituam um contorno fechado no interior no interior do qual a
corrente é nula.
Se o interior do contorno fechado formado pelos dois percursos for atravessado por uma
corrente, a queda de potencial magnético no primeiro já não é igual à que se verifica no
segundo, sendo a diferença entre as duas quedas igual ao valor dessa corrente. Esta conclusão
é imediata da lei circuital de Ampere. Aplicando-a à figura 4 temos:
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∫ 𝐻𝑑𝑙 ≠ ∫ 𝐻𝑑𝑙
152 132
Porque

∫ 𝐻𝑑𝑙 + ∫ 𝐻𝑑𝑙 = −𝐼
152 132
Há uma diferença fundamental entre as noções de queda de potencial magnético e diferença
de potencial magnético.
A primeira noção e definida pelo integral curvilíneo de H sobre dl ao longo do percurso
escolhido. A segunda depende não somente deste integral, mas ainda das f.m.m. encontradas
no percurso. Existe aqui uma analogia completa destas noções com as de queda de tensão
aplicados aos circuitos eléctricos.

CONDIÇÕES LIMITE
Existem duas condições limites inerentes ao campo magnético que são:
𝐻1𝑡 = 𝐻2𝑡 ; 6.10
𝐵1𝑛 = 𝐵2𝑛 ; 6.11

Por outras palavras, quando um fluxo magnético passa de um meio de permeabilidade 𝜇1 a


outo meio de permeabilidade 𝜇2 :
a) As componentes tangenciais de campo magnético são as mesmas nos dois meios
considerados homogénios e isotrópicos; isto é há continuidade da componente
tangencial do campo mesmo que se atravesse a superfície de separação dos dois meios.
b) As componentes normais da indução são as mesmas nos dois meios, isto é estas
componentes são continuas, ou, o que é o mesmo, não sofrem qualquer
descontinuidade ao atravessar de um meio ao outro.
A equação (6.10) estabelece-se facilmente calculando a circulação
de H através do percurso fechado rectangular mnpq (figura 5),
∮ 𝐻𝑑𝑙 e igualando a zero. Os lados np e qm fazem-se desprezíveis
em presença dos lados mn e pq (de facto podemos faze-los tão
pequenos quanto quisermos) chamando dl aos lados mn e pq,
temos:
𝐻1 sen 𝛼1 𝑑𝑙 − 𝐻2 sen 𝛼2 𝑑𝑙 = 0 mas 𝐻1 sen 𝛼1 =
𝐻1𝑡 , 𝑒 𝐻2 sen 𝛼2 = 𝐻2𝑡 . Portanto
𝐻1𝑡 = 𝐻2𝑡
Devemos notar que a condição (6.10) não é satisfeita se houver uma corrente, chamada
corrente de superfície a circular sobre a superfície de separação de dois meios. Chama-se
corrente se superfície uma corrente que circula num condutor infinitamente delgado colocado
sobre a superfície de separação.
Neste caso ∮ 𝐻𝑑𝑙 não é nulo, sendo igual a corrente de superfície 𝜎𝑑𝑙 referida no interior do
percurso fechado. Temos então:
𝐻1 sen 𝛼1 𝑑𝑙 − 𝐻2 sen 𝛼2 𝑏𝑙 = 𝜎𝑑𝑙
Por outras palavras, a presença de uma corrente de superfície de densidade 𝜎 provoca uma
descontinuidade na componente tangencial do campo H. geralmente, contudo, não há corrente
de superfície na junção dos dois meios, e a equação (6.10) é satisfeita.
A continuidade das componentes normais do vector indução magnética é consequência da
continuidade do fluxo magnético.
∫ 𝐵𝑑𝑠 = 0

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Para demostrar a equação (6.11), consideremos um paralelipipedo rectangular muito pequeno


na superfície de separação e calculemos o fluxo de B através das suas faces paralelas a essa
superfície (nas outras o fluxo pode considerar-se nulo porque podemos torna-las tão pequenas
quanto quisermos).
O fluxo total é zero
−𝐵1𝑛 ∆𝑠 + 𝐵2𝑛 ∆𝑠 = 0
Portanto
𝐵1𝑛 = 𝐵2𝑛
Das equações (6.10) e (6.11) conclui-se que
tg 𝛼1 𝜇1𝑎
= 6.12
tg 𝛼2 𝜇2𝑎
A equação (6.12) dá-nos a relação entre o ângulo de incidência 𝛼1 e o ângulo de refracção 𝛼2
(ver figura 5). Se as linhas de força magnéticas passarem de um meio de alta permeabilidade,
digamos 𝜇1𝑎 = 104 𝜇0 , para um meio de baixa permeabilidade, por exemplo 𝜇2𝑎 = 𝜇0 (𝑎𝑟),
então:
tg 𝛼1
= 104
tg 𝛼2
E
tg 𝛼2 = 10−4 tg 𝛼1
Como se vê, o ângulo 𝛼2 é muito menor que o ângulo 𝛼1 .

O POTENCIAL VECTOR DE UM CAMPO MAGNÉTICO

No estudo dos campos magnéticos faz-se largo uso de potencial vector do campo magnético,
representado por A. é uma grandeza vectorial definida por
𝐵 = 𝑟𝑜𝑡𝐴 6.13
Esta definição do vector indução magnética por um rotacional baseia-se no facto de ser nula a
divergência de qualquer rotacional.
Ora, sabemos que num campo magnético
𝑑𝑖𝑣𝐵 = 0
Substituindo nesta expressão B por rotA, temos
𝑑𝑖𝑣𝑟𝑜𝑡𝐴 = 0
Se o potencial vector é conhecido em função das coordenadas, podemos determinar a indução
em qualquer ponto de um campo pelo seu rotacional, de acordo com a equação (6.13).
Contrariamente ao potencial escalar magnético 𝜑𝑀 , que se pode utilizar só nas regiões não
atravessadas por correntes, pode empregar-se o potencial vector quer nas regiões onde não
existem correntes quer naquelas em que existem, isto é, em todos os casos.
Na electricidade e no magnetismo, o potencial vector magnético usa-se na determinação de:
1) Indução magnética pela equação (6.13)
2) Fluxo magnético através de qualquer superfície (ver teorema de Stokes)

EQUAÇÃO DE POISSON PARA O POTENCIAL VECTOR MAGNÉTICO

O potencial vector magnético é dado em qualquer ponto de um campo em função da densidade


de corrente nesse ponto, pela equação de Poisson.
Multiplicando ambos os membros da equação (6.4) pela permeabilidade do meio temos:
𝜇𝑎 𝑟𝑜𝑡𝐻 = 𝜇𝑎 𝛿

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Limitaremos as nossas considerações a campos que podem ser distribuídos em regiões tais
que a permeabilidade 𝜇𝑎 de cada região é constante. Se 𝜇𝑎 é constante, a equação anterior
pode ser escrita assim:

𝜇𝑎 𝑟𝑜𝑡𝐻 = 𝑟𝑜𝑡𝐵 = 𝜇𝑎 𝛿 6.14


Substituindo B por rotA na equação (6.14) temos:
𝑟𝑜𝑡 𝑟𝑜𝑡𝐴 = 𝜇𝑎 𝛿 6.15
O rotacional de um rotacional é um duplo produto vectorial:
𝑟𝑜𝑡 𝑟𝑜𝑡𝐴 = [∇[∇𝐴]] = 𝑔𝑟𝑎𝑑𝑑𝑖𝑣𝐴 − ∇2 𝐴 = 𝜇𝑎 𝛿 6.16
Ate aqui não impusemos qualquer condição ao potencial vector, a não ser que é uma função
de posição que admite derivadas parciais.
Dado que A é uma função puramente teórica, utilizada nos cálculos, nos podemos impor para
um campo magnético de corrente continua a condição seguinte:
𝑑𝑖𝑣 𝐴 = 0 6.17
Esta condição estabelece que as linhas do vector A se fecham sobre si mesmas. Em face da
equação (6.17), podemos dar outra forma à equação (6.16):
∇2 𝐴 = −𝜇𝑎 𝛿 6.18
Que é a equação de Poisson. Ao contrário da equação que refere à grandeza escalar 𝜑, esta
relaciona grandezas vectoriais.
Substituindo A por 𝑖𝐴𝑥 + 𝑗𝐴𝑦 + 𝑘𝐴𝑧 𝑒 𝛿 𝑝𝑜𝑟 𝑖𝛿𝑥 + 𝑗𝛿𝑦 + 𝑘𝛿𝑧 na equação (6.18) temos:
∇2 𝑖𝐴𝑥 + ∇2 𝑗𝐴𝑦 + ∇2 𝑘𝐴𝑧 = −𝜇𝑎 𝑖𝛿𝑥 −𝜇𝑎 𝑗𝛿𝑦 −𝜇𝑎 𝑘𝛿𝑧
Dividindo esta equação em três equações escalares temos:
∇2 𝐴𝑥 = −𝜇𝑎 𝛿𝑥
∇2 𝐴𝑦 = −𝜇𝑎 𝛿𝑦
∇2 𝐴𝑧 = −𝜇𝑎 𝛿𝑧
Podemos escrever a solução destas equações como sendo:
𝜇𝑎 𝛿𝑥 𝑑𝑉
𝐴𝑥 = ∫
4𝜋 𝑉 𝑅
𝜇𝑎 𝛿𝑦 𝑑𝑉
𝐴𝑦 = ∫ 6.19
4𝜋 𝑉 𝑅
𝜇𝑎 𝛿𝑧 𝑑𝑉
𝐴𝑧 = ∫
4𝜋 𝑉 𝑅
Multiplicando estas equações respectivamente por i,j e k e somando, temos:
𝜇𝑎 (𝑖𝛿𝑥 + 𝑗𝛿𝑦 + 𝑘𝛿𝑧 )𝑑𝑉
𝑖𝐴𝑥 + 𝑗𝐴𝑦 + 𝑘𝐴𝑧 = ∫ 6.20
4𝜋 𝑉 𝑅
A equação (6.20) da a solução geral (6.18). O potencial vector magnético, como se vê pela
dedução feita, pode ser calculado em qualquer ponto de um campo pelo integral de volume
(6.20). Este integral de volume deve ser estendido ao conjunto das regiões atravessadas pela
corrente.
Embora a equação (6.20) dê a solução geral, deve ser usada com precaução, porque a
integração do seu segundo membro envolve um grande número de cálculos na maioria dos
casos.

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POTENCIAL VECTOR MAGNÉTICO DE UM ELEMENTO DE CORRENTE

Seja i a corrente que circula num elemento dl de um condutor linear.


Designemos por R a distancia entre o elemento de corrente e um ponto
qualquer do espaço (figura 6). De acordo com a expressão geral podemos
escrever
𝜇𝑎 𝛿𝑑𝑉
𝑑𝐴 =
4𝜋𝑅
Mas
𝛿𝑑𝑉 = 𝛿𝑑𝑠𝑑𝑙 = 𝑖𝑑𝑙
Em que ds é a secção recta do condutor. Logo
𝜇𝑎 𝑖𝑑𝑙
𝑑𝐴 = 6.21
4𝜋𝑅

Esta expressão diz-nos que: “ O potencial vector divido a um elemento de corrente, num ponto
do espaço tem a mesma direcção e sentido que a corrente circulante no elemento de condutor”.

MÉTODOS DAS IMAGENS MAGNÉTICAS

No estudo dos campos magnéticos devido a correntes circulando próximas de massas de ferro,
usa-se correntemente o método das imagens magnéticas.
Consideremos um
condutor
transportando a
corrente 𝐼1 (figura
7a), situado no ar ou
em qualquer outro
meio de
permeabilidade 𝜇1 ,
paralelo à superfície de separação entre dois meios. Seja 𝜇2 a permeabilidade do outro meio.
Vamos determinar a intensidade de campo em qualquer ponto de ambos os meios.
Para fazermos a analise introduzimos duas correntes 𝐼2 𝑒 𝐼3 . O condutor percorrido por 𝐼2 é
colocado de modo a que apareça como a imagem num espelho do condutor percorrido por 𝐼1 ,
e o condutor onde passa 𝐼3 é colocado na posição do condutor percorrido por 𝐼1 . As duas
correntes ainda desconhecidas 𝐼2 𝑒 𝐼3 são dispostas de modo que se preencham as duas
condições limites.
O campo no semi-plano superior (contendo 𝐼1 figura 7b) preenchido por um meio de
permeabilidade 𝜇1 é divido a 𝐼1 𝑒 𝐼2 . O campo em qualquer ponto do semi-plano inferior
ocupado por um meio de permeabilidade 𝜇2 (figura 7c) é devido unicamente a 𝐼3 .
Consideremos um ponto arbitrário a na fronteira entre os dois meios de modo que possa ser
visto como pertencendo a ambos. Se se considera pertencente ao primeiro meio, a componente
tangencial da intensidade de campo será dado pelo primeiro membro da equação (6. 22′ ); se
se considera pertencente ao segundo meio, a componente tangencial da intensidade de campo
será dada pelo segundo membro da equação (6. 22′ ), ou seja:
𝐼1 𝐼2 𝐼3
( − ) cos 𝛼 = cos 𝛼 6. 22′
2𝜋𝑅 2𝜋𝑅 2𝜋𝑅
Logo
𝐼1 − 𝐼2 = 𝐼3

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Escrevendo uma equação que relacione as componentes normais da indução magnética no


ponto a da fronteira

𝐼1 𝐼2 𝐼3
( + ) 𝜇1 sen 𝛼 = 𝜇 sen 𝛼 6. 22′′
2𝜋𝑅 2𝜋𝑅 2𝜋𝑅 2

Temos
𝜇2
𝐼1 + 𝐼2 = 𝐼3
𝜇1
Resolvendo o sistema obtemos:

𝜇2 − 𝜇1
𝐼2 = 𝐼1
𝜇1 + 𝜇2
2𝜇1
𝐼3 = 𝐼1
𝜇1 + 𝜇2

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EXERCÍCIOS SOBRE CAMPO MAGNETICO DA CORRENTE CONTINUA

1. Calcular o ângulo 𝛼2 sob o qual as linhas de força penetram num meio de


permeabilidade 𝜇2𝑎 , quando 𝛼1 = 890 , 𝜇1𝑎 = 104 𝜇0 , 𝑒 𝜇2𝑎 = 𝜇0 .
2. Pretende-se determinar a intensidade do campo nos pontos m e n (figura 1). As
dimensões geométricas em cm são dadas na figura. As permeabilidades relativas são
𝜇1 = 1 𝑒 𝜇2 = 999. 𝐼1 = 10𝐴
3. Um condutor muito longo é percorrido por uma corrente continua I (figura 2). O núcleo
tem raio 𝑟1, e o revestimento tem um raio 𝑟2 . As repectivas condutividades são 𝛾1 𝑒 𝛾2.
Pretende-se determinar o potencial vector magnético A e a indução magnética nas
regiões I, II e III.
4. Usando a expressão Φ = ∮ 𝐴𝑑𝑙 e os dados do exercício 4, determine o fluxo
magnético que atravessa o condutor composto do numero anterior ao longo do
comprimento l=1m.
5. Determinar a diferença do potencial magnético entre os pontos A e B no campo
magnético produzido por uma corrente linear I=10A (figura 3)

Figura1 Figura2 Figura3

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CAPITULO VII: CAMPO ELECTROMAGNETICO

DEFINIÇÃO DO CAMPO ELECTROMAGNÉTICO


Um campo magnético variável produz sempre um campo eléctrico. Inversamente, um campo
eléctrico variável produz sempre um campo magnético. Esta interacção das forças eléctricas e
magnéticas dá origem a uma região no espaço conhecida por campo electromagnetico.
Um campo electromagnetico é uma força da matéria. Possui energia, massa e momento e pode
ser convertido em outras formas de matéria. Quaisquer distúrbios do campo num dieléctrico,
as ondas electromagnéticas, propagam-se a grande distancias a uma velocidade muito próxima
da velocidade da luz.
As condições num campo magnético são expressas matematicamente pelas quatro equações
da teoria electromagnética de Maxwell.
Estas quatro equações clássicas fundamentais da teoria electromagnética são:
𝜕𝐸
1. 𝑟𝑜𝑡 𝐻 = 𝛿 + 𝜀𝑎 𝜕𝑡 , que relaciona o rotacional da intensidade de campo H num ponto
do campo com densidade de corrente no mesmo ponto.
𝜕𝐵
2. 𝑟𝑜𝑡 𝐸 = − 𝜕𝑡 , que relaciona o rotacional da intensidade de campo eléctrico E num
ponto do campo com a variação do campo magnético no mesmo ponto.
3. 𝑑𝑖𝑣 𝐵 = 0, que expressa a continuidade do fluxo magnético.
𝜌
4. 𝑑𝑖𝑣 𝐸 = 𝜀 𝑓 , que relaciona a divergência da intensidade de campo eléctrico E num
𝑎
ponto do campo com a densidade de carga livre nesse ponto.
A análise das relações existentes no campo electromagnetico também faz uso da equação da
continuidade e do teorema de Poynting.
PRIMEIRA EQUAÇÃO DA TEORIA ELECTROMAGNÉTICA DE MAXWELL
Esta equação escreve-se
𝜕𝐸
𝑟𝑜𝑡 𝐻 = 𝛿 + 𝜀𝑎 7.1
𝜕𝑡
O segundo membro da equação contém duas densidades de corrente, a densidade de corrente
𝜕𝐸
de condução 𝛿 e a densidade de corrente de deslocamento 𝜀𝑎 𝜕𝑡 . A corrente de deslocamento
aparece em qualquer dieléctrico, incluindo o vazio, onde quer que haja uma variação da
intensidade de campo eléctrico com o tempo. A corrente de deslocamento dá origem a um
campo magnético exatamente como a corrente de condução. Assim, embora que as duas
correntes difiram na origem, ambas são capazes de estabelecer um campo magnético.
Assim, a primeira equação da teoria electromagnética de Maxwell pode ser lida como
𝜕𝐸
estabelecendo que qualquer mudança na intensidade do campo eléctrico com o tempo. 𝜕𝑡 (isto
é, o aparecimento de uma corrente de deslocamento), em qualquer ponto do campo produz
nesse ponto um campo magnético rotacional exatamente como a corrente de condução.

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Se houver qualquer variação com o tempo de um campo electrostático num dieléctrico, este
será percorrido por uma corrente de deslocamento. Consideremos um condensador plano com
o ar como dieléctrico. Quando o ligamos a uma fonte de tensão U através de uma resistência
R, a variação do potencial nas placas será descrita por
𝑡
𝑢𝑐 = 𝑈 (1 − 𝑒 −𝑅𝐶 )

Como a intensidade de campo eléctrico num condensador plano é


𝑢𝑐
𝐸=
𝑑
Em que d é a distância entre as placas, conclui-se que
𝑈 𝑡
𝐸 = (1 − 𝑒 −𝑅𝐶 )
𝑑
Ora a capacidade de um condensador plano é
𝜀𝑎 𝑠
𝐶=
𝑑
Portanto a corrente de deslocamento que atravessa um centímetro quadrado da secção recta
do dieléctrico, normal as linhas de força é
𝜕𝐸 𝑈 𝑡 1 𝑈 −𝑡
𝜀𝑎 = 𝜀𝑎 𝑒 −𝑅𝐶 = 𝑒 𝑅𝐶
𝜕𝑡 𝑑 𝑅𝐶 𝑅𝑠
𝑡
𝑈
A corrente de deslocamento em toda superfície s é 𝑅 𝑒 −𝑅𝐶 , que é a mesma que a corrente de
condução nos condutores que ligam o condensador à fonte de tensão. Logo, a corrente total
não tem descontinuidades, ou, o que é o mesmo, as linhas de força da corrente total são
circuitos fechados.
Pode-se mostrar que a primeira equação de Maxwell é a diferencial da lei de Ampere. Para o
provar, consideremos um contorno arbitrário e escrevamos a equação do teorema de Ampere
para esse contorno. A corrente total que atravessa a área limitada pelo condutor é a soma das
correntes de condução e de deslocamento. Portanto,

𝜕𝐸
∮ 𝐻𝑏𝑙 = ∫ (𝛿 + 𝜀𝑎 ) 𝑑𝑠
𝑠 𝜕𝑡
Pelo teorema de Stokes,
∮ 𝐻𝑑𝑙 = ∫ 𝑟𝑜𝑡𝐻 𝑑𝑠
Assim,
𝜕𝐸
∫ 𝑟𝑜𝑡𝐻 𝑑𝑠 = ∫ (𝛿 + 𝜀𝑎 ) 𝑑𝑠 7.2
𝑠 𝜕𝑡

EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE
𝜕𝐸
As linhas de força da corrente total (𝛿 + 𝜀𝑎 𝜕𝑡 ) são circuitos fechados, o que fisicamente
significa que na fronteira entre um meio condutor e um dieléctrico a corrente de condução se
transforma em corrente de deslocamento. Para o mostrar, tomemos a divergência de ambos os
membros da equação (7.1). como sabemos do antecedente, a divergência de um rotacional é
identicamente igual a zero. Portanto,
𝜕𝐸
𝑑𝑖𝑣 (𝛿 + 𝜀𝑎 ) = 0 7.3
𝜕𝑡
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A equação (7.3) pode tomar outra forma.


𝜕
𝑑𝑖𝑣𝛿 = 𝑑𝑖𝑣𝐷
𝜕𝑡
Mas
𝑑𝑖𝑣𝐷 = 𝜌𝑓
Portanto,
𝜌𝑓
𝑑𝑖𝑣𝛿 = −
𝑑𝑡

SEGUNDA EQUAÇÃO DA TEORIA ELECTROMAGNÉTICA DE MAXWELL


A equação pode escrever-se
𝜕𝐵
𝑟𝑜𝑡 𝐸 = − 7.4
𝜕𝑡
O significado físico da equação é o de que qualquer variação com o tempo do campo
𝜕𝐵
magnético ( 𝜕𝑡 ), em qualquer ponto produz nesse ponto um campo eléctrico rotacional.
A segunda equação de Maxwell é a diferencial da lei da indução electromagnética (lei de
Faraday).
Isto pode provar-se conforme se segue. Imaginemos um circuito fechado situado num campo
electromagnetico. A queda de tensão ao longo dele é ∮ 𝐸𝑑𝑙que deve ser igual à f.e.m. induzida
pelo fluxo magnético alternado que atravessa o circuito, isto é,
𝑒 = ∮ 𝐸𝑑𝑙
Contudo, a f.e.m. é
𝜕Φ
𝑒=−
𝜕𝑡
Portanto,
𝜕Φ
∮ 𝐸𝑑𝑏 = −
𝜕𝑡
Por outro lado,
𝜕B
Φ = ∫ 𝐵𝑑𝑠 𝑒 𝑒 = − ∫ 𝑑𝑠
𝑠 𝑠 𝜕𝑡
Logo,
𝜕Φ
∮ 𝐸𝑑𝑙 = − ∫ 𝑑𝑠
𝑙 𝑠 𝜕𝑡
Em que a superfície s se apoia no contorno l.
Pelo teorema de Stokes, ∮ 𝐸𝑑𝑙 = ∫𝑠 𝑟𝑜𝑡𝐸𝑑𝑠. Portanto
𝜕B
∫ 𝑟𝑜𝑡𝐸𝑑𝑠 = − ∫ 𝑑𝑠 7.5
𝑠 𝑠 𝜕𝑡
A equação (7.5) deve ser valida para qualquer superfície s, o que só pode acontecer se os
integrandos de ambos integrais forem iguais.
Assim
𝜕B
𝑟𝑜𝑡𝐸 = −
𝜕𝑡
O sinal menos no segundo membro da segunda equação de Maxwell é devido à aplicação da
regra do saca-rolhas. Se rodamos um saca-rolhas de modo que o sentido positivo do vector
indução magnética num ponto do espaço coincida com o avanço do saca-rolhas à medida que
a indução aumenta, o sentido positivo do vector intensidade do campo eléctrico ao escrever a

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circulação de E em torno de um circuito infinitesimal que contenha o ponto e esteja num plano
normal a B coincidirá com o sentido de rotação do saca-rolhas.
O sinal menos no segundo membro da equação (7.4) é introduzido para correlacionar o sentido
efectivo de E nas condições acima especificadas com o sentido que se tornou positivo para E.
Nas duas primeiras equações de Maxwell trabalha-se com derivadas temporais parciais. A
explicação reside no facto de que as equações de Maxwell são escritas para corpos e circuitos
estacionários em relação ao sistema de referência escolhido.

EQUAÇÕES DE MAXWELL NA NOTAÇÃO COMPLEXA


As equações (7.1) e (7.4) estão escritas para valores instantâneos. Se H e E variarem
sinusoidalmente com o tempo podemos usar a notação complexa e reescrever as equações
(7.1) e (7.4) da seguinte maneira:
𝐻 = 𝐻𝑚 sen(𝜔𝑡 + 𝜓𝐻 )
E
𝐸 = 𝐸𝑚 sen(𝜔𝑡 + 𝜓𝐸 )
Podemos também escrever

𝐻 = Im𝐻𝑚 𝑒 𝑗𝜔𝑡
Onde Im indica a parte imaginaria.
Além de variarem sinusoidalmente com o tempo, as intensidades E e H são funções vectoriais.
Isto é, vectores perfeitamente orientados no espaço. Consequentemente devem ser escritos
𝜕𝐸
normado com uma seta por cima. Então 𝛿 deve se substituído por 𝛾𝐸 𝑒 𝑗𝜔𝑡 ; 𝜀𝑎 ( 𝜕𝑡 ) por
𝜕
𝑗𝜔𝜀𝑎 𝐸 𝑒 𝑗𝜔𝑡 (𝜕𝑡 𝐸𝑚 𝑒 𝑗𝜔𝑡 = 𝑗𝜔𝐸 𝑒 𝑗𝜔𝑡 ) , 𝑒 𝑟𝑜𝑡𝐻 𝑝𝑜𝑟 𝑟𝑜𝑡[𝐻 𝑒 𝑗𝜔𝑡 ] = 𝑒 𝑗𝜔𝑡 𝑟𝑜𝑡𝐻 . Como 𝑒 𝑗𝜔𝑡 é
uma constante independente das coordenadas pode ser colocada antes do sinal de rotacional.
Então a primeira equação de Maxwell pode escrever-se:
𝑒 𝑗𝜔𝑡 𝑟𝑜𝑡𝐻 = (𝛾𝐸 + 𝑗𝜔𝜀𝑎 𝐸 )𝑒 𝑗𝜔𝑡
Eliminando 𝑒 𝑗𝜔𝑡 em ambos membros vem
𝑟𝑜𝑡𝐻 = (𝛾𝐸 + 𝑗𝜔𝜀𝑎 𝐸 )𝑒 𝑗𝜔𝑡 7.6
Semelhantemente, a segunda equação de Maxwell escrever-se-á em notação complexa,
𝑟𝑜𝑡𝐸 = −𝑗𝜔𝜇𝑎 𝐻 7.7

O TEOREMA DE POYNTING PARA VALORES INSTANTÂNEOS

As relações energéticas existentes no campo electromagnetico são expressões


matematicamente sob a forma do teorema de Poynting (usualmente designado por teorema de
Umov-Poynting).
O teorema pode ser escrito sob duas formas, uma para valores instantâneos e a outra, em
notação complexa, para valores sinusoidais.
2
Como sabemos, a energia eléctrica por unidade de volume é 𝜀𝑎 𝐸 ⁄2, e a energia magnética
2
por unidade de volume é 𝜇𝑎 𝐻 ⁄2. A energia no volume dV é
2 2
(𝜀𝑎 𝐸 ⁄2 + 𝜇𝑎 𝐻 ⁄2) 𝑑𝑉
Para deduzimos a expressão da energia total dV multiplicamos a equação (7.1) por EdV, e a
equação (7.4) por HdV, o que dá:
𝜕 𝜀𝑎 𝐸 2
𝐸𝑟𝑜𝑡 𝐻𝑑𝑉 = (𝛾𝐸 2 + ) 𝑑𝑉 7.8
𝜕𝑡 2

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𝜕 𝜇𝑎 𝐻 2
𝐻𝑟𝑜𝑡 𝐸𝑑𝑉 = (− ) 𝑑𝑉 7.9
𝜕𝑡 2
Substituindo a equação (7.9) da equação (7.8) temos
𝜕 𝜀𝑎 𝐸 2 𝜀𝑎 𝐸 2
(𝐸𝑟𝑜𝑡𝐻 − 𝐻𝑟𝑜𝑡𝐸)𝑑𝑉 = {𝛾𝐸 2 + ( + )} 𝑑𝑉 7.10
𝜕𝑡 2 2
Como
𝑑𝑖𝑣[𝐸𝐻] = 𝐻𝑟𝑜𝑡𝐸 − 𝐸𝑟𝑜𝑡𝐻
Conclui-se que o primeiro membro da equação (7.10) é −𝑑𝑖𝑣[𝐸𝐻]𝑑𝑉. Portanto:
2
𝜕 𝜀𝑎 𝐸 2 𝜀𝑎 𝐸 2
−𝑑𝑖𝑣[𝐸𝐻]𝑑𝑉 = {𝛾𝐸 + ( + )} 𝑑𝑉
𝜕𝑡 2 2
O produto vectorial [𝐸𝐻]pode ser representado pelo vector S:
[𝐸𝐻] = 𝑆
Conhecido por vector de Poynting. As suas dimensões são o produto das dimensões de E e H:
[𝑆] = [𝐸][𝐻] = 𝑊⁄ 2
𝑚
Por outras palavras, o vector de Poynting tem dimensões de uma
potência (ou de energia por unidade de tempo) por unidade de área,
e considera-se positivo se tomado num sentido (figura 1) igual ao do
avanço de um saca-rolhas que rodasse no sentido que levaria o vector
[𝐸] a sobrepor-se ao vector [𝐻]. Resumindo,
𝜕 𝜀𝑎 𝐸 2 𝜀𝑎 𝐸 2
−𝑑𝑖𝑣𝑆𝑑𝑉 = {𝛾𝐸 2 + ( + )} 𝑑𝑉 7.11
𝜕𝑡 2 2
A equação (7.11) pode ser estendida a volumes finitos. Integremos a equação (7.11) estendida
ao volume V:
2
𝜕 𝜀𝑎 𝐸 2 𝜀𝑎 𝐸 2
∫ 𝑑𝑖𝑣𝑆𝑑𝑉 = ∫ 𝛾𝐸 𝑑𝑉 + ∫ [ + ] 𝑑𝑉 7.11′
𝑉 𝑉 𝜕𝑡 𝑉 2 2
Assim como um integral de superfície pode ser convertido num integral linear pelo teorema
de Stokes, também um integral de volume se pode converter num integral de superfície pelo
teorema da divergência de Gauss:

∫ 𝑑𝑖𝑣𝑆𝑑𝑉 = ∮ 𝑆𝑑𝑠
𝑉
Qualitativamente, esta transformação pode ser explicada como segue.
Dividamos o volume V (figura 2) em elementos de volume ∆𝑉 e
Δ𝑠
substituamos S por ∑ 𝑆 , onde Δ𝑠 é um elemento da superfícies do
Δ𝑉
Δ𝑠
volume ∆𝑉 . Então ∫𝑉 𝑑𝑖𝑣𝑆𝑑𝑉 = ∑ ∑ 𝑆 Δ𝑉 Δ𝑉 = ∑ ∑ 𝑆Δ𝑠 em que o primeiro sinal de
somatório indica a soma de todas as superfícies do elemento do volume e o segundo estende-
se a todos os elementos de volume.
O somatório ∑ ∑ 𝑆Δ𝑠 pode ser dividido em dois, a soma de 𝑆Δ𝑠 estendida a todas as
superfícies que separam elementos de volume adjacentes (isto é,
superfícies “internas”) e a soma de 𝑆Δ𝑠 estendida às superfícies
“periféricas”. A primeira soma é zero, visto que para dois
elementos de volume adjacentes as normais exteriores à superfície
comum são opostas. Referindo-nos à figura 3, mn é a face comum
a dois elementos do volume. Para o elemento superior a normal à
face aponta para baixo (Δ𝑠1); para o elemento inferior a normal
aponta para cima (Δ𝑠2). Multiplicando o vector S por (Δ𝑠1 + Δ𝑠2 )

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obtemos zero. A soma de SΔ𝑠 estendida a todos elementos de superfície periféricos dá ∮ 𝑆𝑑𝑠.
O teorema de Poynting para valores instantâneos escreve-se:
2
𝜕 𝜀𝑎 𝐸 2 𝜀𝑎 𝐸 2
− ∮ 𝑆𝑑𝑠 = ∫ 𝛾𝐸 𝑑𝑉 + ∫ [ + ] 𝑑𝑉 7.12
𝑆 𝑉 𝜕𝑡 𝑉 2 2
O primeiro termo da equação (7.12) expressa o fluxo normal para dentro (note-se o sinal
“menos”) do vector Poynting através da superfície S do volume V. pela lei de Joule sob a
forma diferencial, 𝛾𝐸 2 é a energia dissipada sob a forma de calor por unidade de volume e por
unidade de tempo. Portanto ∫𝑉 𝛾𝐸 2 𝑑𝑉 dá-nos o ritmo a que a energia é gerada sob a forma
𝜕 𝜀 𝐸2 𝜀 𝐸2
de calor no volume V do meio. Somado a isto vem 𝜕𝑡 ( 𝑎2 + 𝑎2 ) que é o grau de variação
da energia eléctrica e magnética armazenada na unidade de volume.
Contudo o grau de variação da energia electromagnética é uma potência. Portanto, o fluxo do
vector Poynting através de qualquer superfície de um volume V é a potência dissipada no
volume sob a forma de calor mais a potência electromagnética armazenada nesse volume.
O teorema de Poynting deve ser tratado como uma equação de equilíbrio de energias. O
primeiro membro da equação (7.2) é a potência total, ou a variação total do armazenamento
de energia por unidade de tempo, introduzida no volume sob a forma do fluxo do vector de
Poynting; o segundo membro da equação (7.2) é o grau de dissipação de energia dentro desse
volume.
A relação (7.12) foi deduzida supondo que o meio no interior do volume V é homogéneo e
isotrópico e também que não há onda refletida nem f.e.m. dentro do volume.
Se o campo for constante no tempo, então
𝜕 𝜀𝑎 𝐸 2 𝜀𝑎 𝐸 2
( + )=0
𝜕𝑡 2 2
E

− ∮ 𝑆𝑑𝑠 = ∫ 𝛾𝐸 2 𝑑𝑉
𝑆 𝑉
A energia electromagnética é transmitida através do dieléctrico e os condutores de uma linha
de transmissão agem apenas como canais para a corrente e servem como “núcleos” estruturais
do campo no dieléctrico.
Isto pode ser provado com um exemplo simples. Suponhamos uma
corrente continua transportada pelo cabo coaxial da figura 4. O condutor
central tem raio 𝑟1 e o raio interior da armadura é 𝑟2 . Consideremos que a
condutividade do condutor e da armadura é tão grande (teoricamente
infinita) que a intensidade do campo eléctrico 𝐸 = 𝛿⁄𝛾 em ambos se
aproxima de zero. O espaço entre o condutor e a armadura está preenchido
por um dieléctrico. Para começar, determinemos o fluxo do vector
Poynting através da secção recta do dieléctrico que no nosso exemplo é um anel de raio interior
𝑟1 e raio exterior 𝑟2 . Pelo teorema de Ampere, a intensidade do campo magnético no
dieléctrico é
𝐼
𝐻=
2𝜋𝑟
A intensidade do campo eléctrico num dieléctrico devido a uma corrente continua é
determinada do mesmo modo que no caso electrostático:
𝑄 𝑈
𝐸= =
2𝜋𝜀𝑎 𝑟𝑙 𝑟𝑙𝑛 𝑟2
𝑟1

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Em que Q é a carga total no condutor de comprimento l, U diferença de potencial entre o


condutor central e a bainha.
Assim no mesmo ponto do dieléctrico a distância r do eixo (𝑟1 ≤ 𝑟 ≤ 𝑟2 ),
𝑈𝐼
𝑆 = 𝐸𝐻 = 𝑟
2𝜋𝑟 2 𝑙𝑛 𝑟2
1
(como sabemos, E e H são normais entre si, figura 4). O fluxo vector de Poynting através do
anel de raios 𝑟1 𝑒 𝑟2 é dado por:
𝑟2 𝑟2
𝑈𝐼 𝑑𝑟
∫ 𝑆𝑑𝑠 = ∫ 𝑆2𝜋𝑟𝑑𝑟 = 2𝜋 𝑟2 ∫ = 𝑈𝐼
𝑟1 2𝜋𝑙𝑛 𝑟 𝑟1 𝑟
1
Assim, toda energia que chega a carga vem através do dieléctrico. Nenhuma energia atinge
a carga através do condutor central ou da armadura.

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