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CASOS PRÁTICOS DE DIREITO DO TRABALHO

§3

VIII

Suponha que o famoso hipermercado “Xiripiti”, contratou para as caixas


da sua loja, na Aldeia do “Lá vai um”, vinte trabalhadores, quinze dos quais a
tempo parcial (cf. artigos 150.º ss.. do CT). São vinte caixas e o estabelecimento
labora das 10h às 20h; por isso, embora nem todas as caixas estejam abertas
ao mesmo tempo, diariamente os trabalhadores a tempo parcial são
“convidados” a permanecer no posto de trabalho enquanto não forem “rendidos”
– trabalhando sempre entre seis a oito horas, sem receberem nada mais por
isso.
O gerente diz que o devem fazer “a bem do espírito de equipa” e para
“puxar pela economia nacional”. Maria da Fonte, uma das trabalhadoras
contratada a tempo parcial, fica indignada quando, ao ver o recebido do seu
“vencimento” do primeiro mês, não constar “qualquer compensação pelas horas
que trabalhou a mais” e apresenta-se junto do gerente a exigi-la; é paga, de
acordo com a Lei. Porém, no mês seguinte, Maria da Fonte passou a não ser
afeta a qualquer caixa, nem receber tarefa alguma, tendo que permanecer todo
o período de trabalho, a deambular na loja de um lado para o outro, sem ter o
fazer, nem se poder sentar. Maria da Fonte, está indignadíssima e dirige-se a si,
advogado especialista em Direito do Trabalho, a perguntar: “Senhor/a Dr./a,
isto está certo?”. O que responderia?

Variante I – Imagine que o horário do hipermercado foi reduzido, por causa das
medidas de contingência decretadas no âmbito da pandemia de COVID-19 e,
por só precisar de dez trabalhadores para a “caixa”, o gerente mandou Maria da
Fonte para casa sem “ocupá-la”. Maria da Fonte está revoltadíssima porque
deixaram de lhe pagar subsídio de almoço e sente-se discriminada, não
compreendendo porque foi ela para casa, se outros continuam a trabalhar.
Quid iuris?

Variante II – Admita que Maria da Fonte obteve uma decisão judicial que
condenou o hipermercado “Xiripiti” a distribuir-lhes tarefas. Apesar disso,
continua inativa. Quid iuris?
IX

Pantagruel explora um famoso restaurante na Avenida Almirante Reis, em


Lisboa, e vive uma situação de grandes dificuldades depois do «estado de
emergência» decretado na sequência da pandemia de COVID-19. Para fazer face
a essas dificuldades, vê-se obrigado a despedir seis trabalhadores e “adaptar”
as funções dos restantes:
1. A Gargântua, cozinheiro premiado, que dividia a função com mais dois
cozinheiros, pede que, além do seu trabalho normal, passe a descascar
batatas, cortar legumes e fazer os demais preparativos necessários a
cozinhar. Gargântua, que antes trabalhara em restaurantes premiados
com “estrelas Michelin”, recusa-se, alegando que: (i) essa função era
indigna do seu currículo; (ii) era função de um ajudante de cozinha e,
sendo necessária, Pantagruel não podia ter despedido Picrochole (antigo
ajudante de cozinha do restaurante); (iii) e que, se queriam que ele o
fizesse, então só faria isso e tinham que arranjar outra pessoa para
cozinhar. Quid iuris?
2. Brindlegoose, empregado de mesa, passa a fazer entregas ao domicílio,
na scooter velha e desconjuntada que Pantagruel lhe atribui, porque, em
virtude dos atos que regulam o «estado de emergência», os restaurantes
só podem funcionar em regime de “take-away”. De acordo com
regulamento de empresa, os “entregadores” ganham menos 200 Euros
que os “empregados de mesa”, e Pantagruel pretende que, enquanto
durar o estado de emergência, Brindlegoose seja pago como “entregador”.
Quid iuris?
3. Suponha que, depois de findo o “estado de emergência” o restaurante
volta a funcionar normalmente. Entretanto, o entregador que cumulava
essa tarefa com Brindlegosse, faleceu de COVID-19. Pantagruel
comunica então, por e-mail, a Brindlegosse que, de hoje em diante,
passará definitivamente a ser “empregador e ser remunerado enquanto
tal”. Brindlegosse ainda reclama verbalmente, mas Pantagruel é
perentório: “com esta crise, prefere isso ou ser despedido?”. Quid iuris?
4. Suponha que Pantagruel propõe a Grandgousier, “chefe de sala” que o
mesmo seja “despromovido” a “empregado de mesa”, com um “salário” de
menos 700 Euros mensais. Pantagruel fundamenta a proposta com a
situação financeira do restaurante (que demonstra, inclusive mostrando
documentos contabilísticos) e explica a Grandgousier que, se não aceitar,
para salvar o restaurante, terá que prescindir “do seu trabalho”,
denunciando o contrato que ainda estava em período experimental.
Grandgousier aceita e é celebrada uma adenda ao contrato. Mas,
passados dois meses, um amigo dirigente sindical diz-lhe que “foi
enganado” e Grandgousier “dá o dito pelo não dito” exigindo que lhe
voltem a pagar o salário de “chefe de sala”. De resto, como, entretanto,
passara o período experimental, e a situação da empresa dificultaria o
pagamento de compensações por despedimento, sente-se muito
confortável na sua posição. Quid iuris?

Variante – Imagine que na situação descrita em 2, se pedia a um “entregador”


que fosse, temporariamente, “empregado de mesa”. Quid iuris?

Suponha que Óscar, médico oftalmologista, trabalha no hospital “COF –


Infante Santo” há seis anos. Entretanto, o Hospital expande-se abrindo um novo
edifício dois quarteirões abaixo, para onde é transferida a especialidade de
Óscar. Este, porém, tinha decorado o gabinete que ocupava ao gosto pessoal e
não quer ouvir falar em mudar-se para outro lado. E, com as informações que
obteve da namorada Óscarina (que está a repetir, pela décima vez, a disciplina
de Direito do Trabalho na FDL) afirma, com toda a segurança, ao gerente da
clínica “fique sabendo que a Lei está do meu lado!”. Terá razão?

Variante I – Imagine que os serviços de Oftalmologia continuavam no mesmo


lado. Apesar disso, o gerente pretendia transferir Óscar para o edifício novo, em
retaliação, depois de ter visto, secretamente, certos “posts” que o médico
publicara no facebook, onde o apelidava “de pateta alegre” e “parolo
mal-vestido”. Quid iuris?

Variante II – Imagine que a transferência fora uma sanção decretada, em


processo disciplinar formalmente instaurado, na sequência dos ditos posts.
Imagine também que, havia um Acordo de Empresa, aplicável ao caso, que
previa a transferência de local de trabalho como sanção disciplinar. Quid iuris?

XI

Débora, trabalha como vendedora na famosa loja da marca “Sara”, no


Montijo, explorada pela sociedade “Pim, pam, pum, SA”, através de um contrato
de franquia. Esta sociedade também explora as lojas da mesma marca no Centro
Comercial “Amoreiras”, e no Centro Comercial “Colombo”.
Débora vivia nas suas “sete quintas” porque trabalhava a cinco minutos
de casa, até que, certa sexta-feira 13, o gerente lhe comunica verbalmente que
“a partir de 2ª feira, vais passar a trabalhar na Loja do Centro Comercial
Amoreiras”. Acontece que Débora era espectadora assídua da rúbrica
“Consultório Jurídico” do famoso talk-show “O Programa da Tininha” e
rapidamente responde ao gerente, “eu sei das leis e não me podem cá mandar
para Lisboa”. Por isso, na segunda-feira seguinte continua a apresentar-se ao
trabalho na loja do Montijo.
O gerente, espectador de rúbrica idêntica, no talk-show “V. Exa. na
Telefonia”, e outo talento jurídico nato, explica-lhe que “as coisas não funcionam
assim”, e só poderá recusar-se se “demonstrar certas e determinadas coisas”.
Não esclarece, porém, quais são. Quid iuris?

Variante I – Admita que Débora aceita ir trabalhar na loja do Centro Comercial


“Amoreiras”. Porém, exige que a empresa lhe pague a renda da casa e o passe
do “Metro”. Quid iuris?

Variante II – Suponha que a loja do Montijo encerra, abrindo uma nova no


“Freeport” em Alcochete. Débora pretende que lhe paguem as deslocações que
vai passar a fazer de “uber”. Como a gerência se recusa, resolve o contrato.
Quid iuris?

Variante III – Suponha que Débora, trabalhadora muito experiente, só iria


trabalhar no Centro Comercial das Amoreiras um ano, para dar formação aos
trabalhadores daquela unidade. Débora arrenda uma casa em Lisboa, durante
esse tempo, e exige que a empresa pague a renda. Quid iuris?

Variante IV – Suponha que, do contrato de trabalho assinado por Débora,


constava uma cláusula nos termos da qual “os trabalhadores podem ser
movimentados para qualquer loja do empregador, sem direito a pagamento de
despesas de transporte ou alojamento”. Débora teria direito ao pagamento das
despesas que apresenta na Variante I?

Variante V – Suponha que a regra referida na Variante IV constava de


regulamento interno de empresa. Quid iuris?

Variante VI – Imagine que Débora tinha rompido com o namorado, Emanuel,


depois de uma discussão violenta que se sucedeu a um adultério. Emanuel era
colega da mesma loja e, depois do sucedido, Débora não suportava vê-lo. Como
tal, solicita à gerência da loja que seja transferida para Lisboa. O gerente explica
que não necessita de mais vendedores nessas lojas, ao que Débora contrapõe
que tem direito à transferência e, no máximo, poderá esperar até que façam
uma troca, “mandando para o Montijo alguém de Lisboa”. Quid iuris?

XII

João, engenheiro civil, trabalhava nos escritórios da conhecida sociedade


construtora “Oliveira Duarte”, deslocando-se periodicamente às obras pelas
quais era responsável. Em janeiro deste ano, com a tomada de posse da nova
Administração, foi entendido que os técnicos “têm que estar no terreno”. Como
tal, João recebeu uma carta registada informando-o de que, daí a 60 dias,
deveria passar a apresentar-se num contentor construído junto ao estaleiro da
obra pela qual estava responsável, mudando-se depois para outro local
consoante as obras que lhe fossem distribuídas. Só que essa obra era em
Santarém e João residia em Lisboa, onde estavam sediados os escritórios da
empresa. João não sabe se poderá recusar-se a ir. O que lhe diria?

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