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Operações Unitárias – Tópico 1

Olá alunos, sejam bem-vindos a aula de Operações Unitárias!


Na engenharia e seus campos relacionados, uma operação unitária é uma etapa básica
de um processo. No processamento do leite, por exemplo, homogeneização,
pasteurização, resfriamento, e empacotamento são operações unitárias que estão
interligadas a fim de criar o processo como um todo. Um processo tem várias operações
unitárias presentes para que possa se obter o produto desejado.
A aplicação das Operações Unitárias é tão ampla que abrange várias Engenharias
dentro do âmbito industrial.
Pois bem, nesta aula começaremos a entender sobre os balanços de energia, quais,
estarão presentes dentro de todos os processos e etapas unitárias industriais.

1. BALANÇO DE ENERGIA: INTRODUÇÃO

O princípio básico de todos os balanços de energia é a lei da conservação de energia.


Esta lei é também é conhecida como primeira lei da termodinâmica, e tem o seguinte
enunciado: “embora a energia assuma várias formas, a quantidade total de energia é
constante e, quando a energia desaparece em uma forma, ela reaparece simultaneamente
em outras formas”.
Para aplicar a Primeira Lei da Termodinâmica é preciso, inicialmente, conhecer as
diferentes formas de energia existentes. A energia total de um sistema possui,
basicamente três componentes: energia cinética, energia potencial e energia interna.

1.1 ENERGIA CINÉTICA (EC)

Associada ao movimento do sistema como um todo, em relação a um referencial fixo


(geralmente a superfície terrestre). A Ec de um corpo de massa m e velocidade v é:

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1.2 ENERGIA POTENCIAL (EP)

Associada a posição do sistema em um campo magnético ou gravitacional, ou devido


à configuração do sistema em relação a um estado de equilíbrio (ex: mola estendida). A
energia potencial de um corpo de massa m, situado a uma altura z acima do referencial é:

1.3 Energia Potencial (Ep)

Representa o somatório das formas microscópicas de energia, estando, portanto,


relacionada à estrutura molecular e ao grau de atividade molecular. As componentes da
energia interna são:
• Energia nuclear;
• Energia sensível;
• Energia latente;
• Energia química ou de ligação;

Em um sistema fechado, embora não haja fluxo de massa entre o sistema e sua
vizinhança, pode haver transferência de energia através de suas fronteiras, de duas formas
distintas: Calor e Trabalho.

1.4 SISTEMAS ABERTOS E SISTEMAS FECHADOS

Um sistema fechado é aquele em que não há matéria atravessando suas fronteiras,


enquanto o processo ocorre. No sistema aberto, ocorre passagem de matéria através da
fronteira. Os processos em batelada são sistemas fechados. Os processos contínuos e
semi-contínuos são sistemas abertos.
Num sistema fechado, a energia pode ser transferida entre ele e suas vizinhanças de
duas formas: calor e trabalho:

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1.4.1 CALOR (Q)

A energia térmica é uma forma de energia que é transferida de um corpo para outro
(ou de um sistema para a vizinhança) devido unicamente à diferença de temperatura
existente entre eles e, por ser uma forma de energia, sua unidade no SI é o Joule (J). No
entanto, ainda se utiliza a caloria, que é um vestígio das teorias antigas sobre o calor,
teorias hoje consideradas erradas. A sua origem remonta da época que ainda não se sabia
que o calor é energia, pensando-se que era uma espécie de fluido, desprovido de massa,
e cuja quantidade era proporcional à temperatura do corpo no qual estava contido. De
acordo com o SI, a unidade caloria deve ser evitada, bem como sua equivalente nas
unidades inglesas, a british thermal unit (btu).
A caloria pode ser definida como a quantidade de calor (energia) necessária para
elevar a temperatura de 1g de água pura, sob pressão normal (atmosfera padrão), de 14,5
para 15,5°C. Nesta definição, está embutida uma grandeza conhecida como capacidade
calorífica, que por definição, é a quantidade de calor (Q) necessária para produzir uma
certa diferença de temperatura (∆T) em uma dada substância. Se o calor é transferido para
a água sem variação da pressão, a capacidade calorífica é designada pelo símbolo Cp, em
que o índice p é usado para indicar pressão constante. Analogamente, definindo-se que o
calor é transferido para a água sem a variação do volume, à capacidade calorífica seria
atribuída o símbolo Cv, em que o índice v indica o volume constante.

O termo capacidade calorífica específica (ou mássica) é empregado para designar a


capacidade calorífica dividida pela massa da substância, com o símbolo cp ou cv
(minúsculo). Muitas vezes, a capacidade calorífica é definida em função da quantidade
de matéria ao invés de massa, e nestes casos, ela é chamada de capacidade calorífica
molar com os símbolos cpm ou cvm. Como na definição de caloria, a água foi tomada
como substância padrão, a capacidade calorífica específica da água possui valor unitário,
ou seja, a capacidade calorífica da água pura é igual a 1,0 cal / (g °C) ou 1,0 kcal / (kg
°C). Em temperaturas diferentes de 14,5°C, o calor específico será diferente, pois esta
grandeza varia com a temperatura.

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1.4.2 TRABALHO (W)

Energia que flui em resposta a qualquer força motora que não seja diferença de
temperatura, tais como força, torque, voltagem, elevação de um peso, giro de um eixo ou
alguma operação mecânica equivalente. Por exemplo, se um gás em um cilindro expande
e movimenta um pistão, o gás faz trabalho sobre o pistão (gás = sistema; pistão =
vizinhança). Desde que a força aplicada possa variar com a distância, deve-se escrever W
= ∫ FdL, onde F é uma força externa na direção L, atuando sobre o sistema (ou uma força
do sistema atuando sobre as vizinhanças).
Adotaremos W > 0, a exemplo de calor, quando é feito pelas vizinhanças sobre o
sistema:

Os termos Q e W se referem à energia transferida (fluxo). Não tem sentido se falar de


calor ou trabalho possuídos ou contidos em um sistema. Energia, assim como trabalho,
tem unidades de força x distância, por exemplo, J (N.m), erg (dina.cm). É também comum
expressá-la em termos da quantidade de calor que deve ser transferida a uma massa
definida de água para aumentar sua temperatura de um intervalo definido a uma pressão
de 1 atm. As mais comuns são:

Figura 1 – Unidades Básicas

FONTE: Adaptado de MARTIM, 2011

Balanço de energia nada mais é do que a aplicação da 1° Lei da Termodinâmica, que


é essencialmente um estabelecimento matemático do princípio da conservação da energia
aplicada aos sistemas. Esta lei em última análise estabelece que, embora a energia possa

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assumir diferentes formas, a quantidade total de energia é constante, que a energia não
pode ser criada, nem destruída, apenas transformada.

2. BALANÇO DE ENERGIA EM SISTEMAS FECHADOS

Um sistema é classificado como aberto ou fechado de acordo em haver ou não massa


atravessando as fronteiras do sistema, durante o período de tempo coberto pelo balanço
de energia. Um processo em batelada é então, um processo fechado e processos contínuos
e semi-contínuos são processos abertos. Para sistemas fechados, desde que a energia não
pode ser criada ou destruída, a equação geral do balanço transforma-se em:

SAI = ENTRA – ACÚMULO

No balanço de massa para sistemas fechados, os termos ENTRADA e SAÍDA, são


eliminados, pois não há matéria atravessando as fronteiras do sistema. No balanço de
energia, no entanto, é possível transferir energia nas formas de calor e trabalho através da
fronteira. Desta forma, os termos SAEM e ENTRAM não podem ser eliminados
automaticamente.
O termo ACÚMULO, como no caso do balanço de massa, é dado pelo valor final
menos o valor inicial e, portanto, [energia final do sistema] – [energia inicial do sistema]
= energia líquida transferida para o sistema (entra – sai)
Como vimos, a energia é dada pela soma pela soma das 3 partes: energia interna,
cinética e potencial.
A energia inicial é dada por: Ui + Eci + Epi
A energia final é dada por: Uf + Ecf + Epf
A energia transferida é dada por Q + W
Onde o subscrito i e f indicam os estados inicial e final do sistema e U, Ec, Ep W e Q
representam a energia interna, a energia cinética, a energia potencial, o trabalho realizado
e o calor transferido para o sistema a partir de sua vizinhança.
Então: (Uf – Ui) + (Ecf – Eci) + (Epf – Epi) = Q + W
Ou ∆U + ∆Ec + ∆Ep = Q + W para sistema fechado

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SIMPLIFICAÇÕES POSSÍVEIS:

1. A energia interna de um sistema depende quase completamente da composição


química, do estado de agregação (sólido, líquido ou gás) e da temperatura do
sistema. U é independente da pressão para gases ideais e praticamente independe
da pressão para líquidos e sólidos. Portanto, se não houver mudanças de
temperatura, mudanças de fase e de composição química no processo, e se todos
materiais do processo são todos sólidos, líquidos ou gases ideais, então ∆U = 0.
2. Se um sistema e suas vizinhanças estão a mesma temperatura, ou se o sistema é
perfeitamente isolado (adiabático), então Q = 0.
3. Trabalho feito sobre ou pelo sistema fechado é acompanhado pelo movimento da
fronteira contra uma força de resistência, ou por uma geração de corrente ou
radiação elétrica além das fronteiras do sistema. Se não há partes em movimento,
nem geração de corrente, então no sistema fechado, W = 0.
4. Se ocorrerem variações de energia potencial, que não sejam devido a diferença de
altura (por exemplo, movimento contra uma força de resistência elétrica ou um
campo elétrico ou magnético), os termos para contabilizá-las devem ser incluídos
no termo Ep da equação.

3. BALANÇO DE ENERGIA EM SISTEMAS ABERTOS

Nos sistemas abertos, por definição, há massa atravessando as fronteiras do sistema


quando ocorre um processo. Trabalho pode então ser feito sobre tal sistema para forçar a
massa a entrar ou trabalho é feito nas vizinhanças pela massa que sai do sistema. A taxa
líquida de trabalho feito em um sistema aberto pelas suas vizinhanças pode ser escrita
como:

We = trabalho de eixo, ou taxa de trabalho feito no fluido de processo por partes


móveis dentro do sistema (por exemplo, rotor de uma bomba);
Wf = trabalho de fluxo, ou taxa de trabalho feito no fluido na entrada do sistema,
menos trabalho feito pelo fluido na saída do sistema.
Para obter Wf, consideremos o sistema abaixo:

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Fluido a uma pressão Po entra em uma tubulação a uma vazão volumétrica Vo (m3/s)
e sai a pressão Ps e vazão V f (m3 /s). O fluido que entra no sistema tem trabalho feito
sobre ele pelo fluido logo atrás dele, a uma taxa:
Wo (N.m/s) = Po (N/m2) ∗ Vo (m3 /s)
Enquanto o fluido que deixa o sistema faz trabalho na redondeza a velocidade de Ws=
Ps ∗ V s.
A taxa líquida em que trabalho que é feito sobre o sistema é: ∗ W f = Po Vo - Ps ∗ Vs.
Se várias correntes entram e saem, todos os PV devem ser somados para determinar-
se Wf.

3.1 PROPRIEDADES ESPECíFICAS

Uma propriedade extensiva é aquela que é proporcional à massa do material.


Propriedades intensivas independem da quantidade de material. Massa; quantidade de
matéria; volume; vazão mássica, molar e volumétrica; energia cinética, potencial e interna
(ou as taxas de transporte destas quantidades em uma corrente contínua) são propriedades
extensivas. Temperatura; pressão e densidade são propriedades intensivas, pois
independem da quantidade de material.
Uma propriedade específica é uma quantidade intensiva obtida pela divisão de uma
propriedade extensiva (ou sua taxa de vazão) por uma quantidade total (ou taxa de vazão)
de um material de processo. Se o volume de um fluido é 200 cm3 e a massa é de 200g, o
volume específico do fluido é 1,0 cm3/g. Se a vazão mássica dede uma corrente é 100
kg/min e a vazão volumétrica é 150 L/min, o volume específico da corrente é (150 L/min/
100 kg/min = 1,5 L/kg). Denota-se uma propriedade específica com um acento diferencial
sobre a propriedade (^).
Se a temperatura e pressão de um material de processo são tais que a energia interna
específica do material é Û(J/kg), então a massa m(kg) do material tem uma energia interna
total.

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3.2 ENTALPIA (H)

Além da energia interna, existem outras funções termodinâmicas que são usadas
comumente nos problemas industriais. Uma propriedade que ocorre em equações de
balanços de energia de sistemas abertos é chamada de entalpia e definido como:

Para uma substância pura, e entalpia pode ser completamente definida por duas das
três variáveis (pressão, volume e temperatura, uma vez que essas variáveis podem ser
correlacionadas pelas equações de estado). Selecionando temperatura e pressão como
variáveis independentes:

por definição, a capacidade calorífica a pressão constante é dada por:

O termo é praticamente constante para líquidos. Para muitas finalidades


práticas, estes termos são desprezíveis para gases a pressões moderadas. Para gases a altas
pressões, este termo não deve ser desprezado e devem ser computados através de dados
experimentais ou de equações de estado. Considerando este termo nulo (líquidos e gases
a pressões moderadas), temos:

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Para gases ideais, tanto H como U são funções apenas da temperatura e não
influenciadas por variações na pressão e no volume. Existem tabelas que relacionam os
valores de cp em função da temperatura para cada substância química.

4. BALANÇO DE ENERGIA EM SISTEMAS ABERTOS EM ESTADO


ESTACIONÁRIO

O balanço de energia para o sistema aberto em regime permanente fornece: ENTRA=


SAI
Isto porque: ACUMULA = 0, já que o estado é estacionário
GERAÇÃO OU CONSUMO = 0, já que a energia não pode ser criada nem destruída,
apenas transformada.
O que ENTRA significa a taxa total de transporte de energia cinética, potencial e
interna através de todas as correntes de processo de entrada, mais as taxas com que a
energia é transferida como calor e trabalho.
O que SAI é a velocidade do transporte de energia através das correntes de saída.
Se Ej indica a taxa total de energia transportada pelas j correntes de entrada e saída,
têm-se:

Se mj, Ecj, Epj, Uj são a vazão mássica, energia cinética, energia potencial e energia
interna das js correntes de processo, então a taxa com que a energia é transportada para o
sistema por suas correntes é:
Ej = Uj + Ecj + Epj
Como Ec = mv2/2 e Ep = mgz, vem:

onde vj é a velocidade da j-ésima corrente e zj é a altura desta corrente relativa a um


plano onde Ep = 0. Por outro lado, vimos que: Wf = ΣPjVj (entra) - ΣPjVj (sai)

Então a equação do balanço de energia torna-se:

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utilizando ∆ para designar saída menos entrada, então:

Notemos que se uma variável específica tem o mesmo valor na entrada e na saída, seu
termo na equação acima é eliminado.

Como o balanço total de massa indica que:

4.1 PROCEDIMENTO PARA A REALIZAÇÃO DE BALANÇOS DE


ENERGIA

A exemplo dos balanços de massa, o desenho de um fluxograma com as informações


devidamente indicadas é essencial para a resolução dos problemas de balanço de energia.
Quando indicamos os dados nas correntes, é essencial incluir todas as informações
necessárias para a determinação da entalpia específica de cada corrente: as temperaturas
e as pressões conhecidas e o estado de agregação (sólido, líquido ou gasoso).
Quando as correntes de processo contêm vários componentes, as entalpias
especificadas de cada corrente devem determinadas separadamente e substituídas na
equação de balanço de energia quando ∆H for avaliado. Para misturas de gases ou líquidos
com estruturas moleculares similares (por exemplo, hidrocarbonetos de cadeia reta),
pode-se assumir que a entalpia para um componente de mistura é o mesmo que a entalpia
H para a substância pura na mesma temperatura e pressão.
Assim, finalizamos nossos conhecimentos desta aula, nas aulas subsequentes de
nossa disciplina aprenderemos sobre operações mecânicas, absorvedoras, extratoras,
destiladoras, até finalizarmos a disciplina com as operações envolvendo transporte de
calor, abordando sempre, de forma didática e detalhada, para sua melhor compreensão.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRAGA, Benedito et al. Introdução à Engenharia Ambiental: o desafio do


desenvolvimento sustentável. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2005.

MARTIM, Emerson. Introdução à Engenharia Química I. PUC-Pr, 2011.

PROENÇA, Marcos Bastos. Princípio dos Processos Químicos Industriais. 1. ed. São
Paulo: Contentus, 2020.

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