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Incivilidade

Definindo incivilidade, podemos dizer que é qualquer ato ou expressão que demonstra
ser rude e desrespeitoso. Clark (2008) refere que a incivilidade é um ato de desprezo e
insolência para com as outras pessoas, causando um ambiente de conflito e stress.

Os comportamentos incivis nas salas de aula eram praticamente inexistente há 40 anos


atrás, sendo que nos últimos 20 anos tem sido uma crescente preocupação no ensino
superior. Estes comportamentos são graves e têm um efeito negativo no meio
académico, atrapalhando o ambiente de ensino-aprendizagem estando professores e
alunos em concordância

Nos últimos anos o número de alunos que adormecem nas aulas aumentou, assim como
o uso de telemóvel durante as aulas, comportamentos esses que perturbam a turma e
inibem a mesma de participar nas aulas, desencorajam o professor de ensinar e fazem
com que este não cumpra os objetivos da aula

(incivilidade pode se manifestar também nos professores mas o trabalho será mais
focado na incivilidade dos alunos)

Tipos de incivilidade

A incivilidade no ensino superior é normalmente dividida em comportamentos


mais sérios e menos sérios, sendo necessário referir que a gravidade dos
comportamentos é subjetiva.
Os comportamentos mais sérios envolvem expressões de hostilidade ou de
ameaça para com o professor ou colegas que incluem a intimidação, perseguição,
comentários e ataques verbais, queixas injustificadas, etc. Por outro lado, os
comportamentos incivis menos sérios dizem respeito aos comportamentos considerados
que expressam aborrecimento ou desinteresse, como o ato de dormir durante as aulas,
agir de modo aborrecido ou desinteressado, fazer sons que demonstrem desaprovação,
não frequentar as aulas, não tirar apontamentos, multitasking, etc. É importante também
referir que os comportamentos menos graves ocorrem com uma frequência muito mais
elevada do que os comportamentos mais graves.
Alguns autores relatam que o multitasking nos computadores (por exemplo,
fazer anotações ao mesmo tempo que navega na internet e verifica e-mail) afeta o
desempenho do aluno que está a ter este comportamento e os alunos que estão perto
deste

Causas

Existem vários fatores que podem contribuir para a manifestação de


comportamentos incivis no ensino superior. Os estudantes da “millennial generation”,
segundo Alberts, Hazen & Theobald (2010), apresentam diversos desafios aos
professores. Estes autores referem que tal acontecimento se deve em parte aos pais
permissivos e ambientes escolares tolerantes que devido aos seus atos e tolerância
fazem com que a incivilidade se manifeste no ensino superior. Outra causa para os
alunos terem comportamentos incivis é estes possuírem uma sensação de “entitlement”,
ou seja, sentem que têm o direito de fazer o que querem ou de ter alguma coisa sem se
esforçarem devidamente.

Outras possíveis causas para a incivilidade poderão ser: a) fadiga, b) procura de atenção,
c) stress, d) doença física/mental, e) medicação ou outras substâncias, f) imaturidade
emocional e capacidade de resolução de problemas pobre, g) problemas de visão ou
audição, h) desafios emocionais. Em relação ao stress, os estudantes universitários para
além do curso podem ter empregos (full/part-time) e ao sentir stress pode também
manifestar comportamentos incivis na sala de aula

Também é relevante referir que segundo a perspetiva das normas sociais, alguns
comportamentos são afetados pelas perceções dos comportamentos e pelas atitudes dos
pares em relação a esses.

Implicações

O comportamento incivil pode comprometer a aprendizagem dos estudantes e o


bem-estar dos professores, no entanto, Knepp (2012) refere que pode ter mais
implicações para além da aprendizagem. Bjorklund e Rehling (2010) mencionam que
quando estes comportamentos ocorrem, o respeito e afiliação dos alunos pela faculdade
pode diminuir, acrescentando que também pode diminuir o respeito pelo professor
porque os alunos esperam que este assuma o controlo da sala de aula e que se imponha
aos comportamentos disruptivos. Quando os professores têm pouca experiência, podem
não conseguir lidar com a incivilidade e ao não receberem nenhuma formação para
terem mais capacidades para gerir melhor estes comportamentos podem perder
confiança para ensinar (Bjorklund & Rehling, 2010; Knepp, 2012).

Perceções dos professores


Segundo Alberts, Hazen e Theobald (2010), os professores têm uma maior perceção
de comportamentos de desatenção, como os alunos mostrarem aborrecimento, envio de
mensagens com o telemóvel, utilização de computadores para atividades
extracurriculares e conversa entre colegas.
De acordo com McKinne e Martin (2010), existe também sentimentos de vergonha
que os professores têm quando estão expostos a estes comportamentos incivis dado que
os próprios costumam ter a ideia de que estes comportamentos são um sinal de fraqueza
e de ensino pouco eficaz. Portanto, não discutem com os colegas possíveis soluções
para estes comportamentos ou possíveis melhorias nas competências para lidar com
estas situações o que faz com que este problema se mantenha durante todo o ano letivo.
Algo que também é importante frisar é que os professores geralmente não
reportam casos de incivilidade a administradores ou às autoridades universitárias, pois
consideram que estes não os iriam apoiar e iriam defender os estudantes muito devido
aos valores das propinas pagos pelos estudantes americanos e o receio por parte da
administração de os perder devido a uma disputa entre professor, administração e aluno
(McKinne & Martin, 2010).

Perceções dos alunos


Os alunos não são alheios aos comportamentos de incivilidade na sala de aula,
sendo que existem indicadores de que os estudantes estão cansados desses
comportamentos e desejam uma sala de aula mais civil. (Bjorklund & Rehling, 2010).
Alguns estudos indicam que os alunos percecionam com uma frequência
significativamente maior do que os professores, comportamentos de incivilidade, como
comentários sarcásticos, conversas entre alunos, uso impróprio do computador e
interrupções com o telemóvel isto por estarem mais perto dos colegas e terem um ponto
de vista diferente dos professores e não estarem focados a dar uma aula.
De acordo com a literatura, os estudantes consideram importante a influência que
a gestão que o professor faz da sala de aula tem nos comportamentos de incivilidade por
parte dos alunos, acrescentando ainda que o professor não deve ser demasiado
permissivo já que assim os alunos irão tirar proveito do mesmo (McKinne & Martin,
2010).
O estudo de Segrist, Bartels & Nordstrom (2018) mostra que os alunos acreditam
que a maior parte dos universitários têm mais comportamentos incivis do que eles
próprios, esta discrepância entre o próprio e os outros é comum nos estudos sobre
normas sociais porque permite-nos racionalizar as nossas transgressões ao acreditarmos
que as fazemos com menos frequência que as restantes pessoas. Ao mesmo tempo pode
servir para aumentar o número de transgressões para nos situarmos no que achamos ser
a norma.

Perkins (2003) referiu que, “o comportamento extravagante de um indivíduo ou


de algumas pessoas é facilmente percebido e lembrado… a tendência é recordar os
comportamentos mais vívidos…” Assim, é fácil ver como os alunos podem
superestimar a prevalência e a aceitação da incivilidade pois provavelmente lembram-se
das transgressões mais salientes, e essas memórias vívidas podem levá-los a sobrestimar
a frequência dos comportamentos de incivilidade dos colegas.

Existe também o efeito do falso consenso que sugere que os alunos podem
acreditar que os seus comportamentos são “relativamente comuns e apropriados” e
continuem a exercê-los (Segrist & Bartels & Nordstrom, 2018).

Relação entre número de alunos na sala e incivilidade


Existem vários fatores que podem estar relacionados com a incivilidade na sala
de aula, nomeadamente, o número de alunos, como demonstram alguns estudos. As
turmas maiores tendem a ter mais comportamentos incivis e Kuhlenschmidt e Layne
(1999) referem que alguns alunos podem ter comportamentos que em turmas menores
não iriam manifestar. As turmas com mais alunos costumam ser mais desafiantes para
os professores e, sendo assim, Alberts, Hazen e Theobald (2010) mencionam que a
interação entre alunos e professores é mais simples quando as turmas são menores, o
que pode servir como prevenção das incivilidades na sala de aula.

Os autores sugerem que, apesar dos professores não terem controlo sobre o
tamanho das turmas, podem implementar estratégias que reduzem a incivilidade, como
a realização de atividades de aprendizagem cooperativas que ajudem a reduzir barreiras
entre professor-aluno. Também o facto de o professor conhecer os seus alunos pode
auxiliar quando os comportamentos incivis ocorrerem, pois dá ao professor a
oportunidade de lidar com o aluno de forma personalizada, o que pode ser eficaz.

Também o estudo de Elder, Seaton e Swinney (2010) está em concordância com o


que foi referido anteriormente. Estes autores encontraram na sua investigação
evidências de que a incivilidade ocorre com mais frequência em turmas maiores, em
grandes instituições académicas e em grandes áreas metropolitanas. Para amenizar este
problema, referem que estes comportamentos devem ser minimizados pela instituição
através de comportamentos imediatos e de medidas que aumentem a responsabilidade.

Fatores sociodemográficos e a incivilidade


Os professores que possuam certas caraterísticas podem experienciar mais
comportamentos incivis do que outros. Por exemplo, no que diz respeito ao género,
idade, raça, etnia e o estatuto dentro da universidade, é mais comum que professores do
sexo feminino, jovens, raça negra, ou que tenham um estatuto mais baixo sejam mais
propensos a comportamentos de incivilidade. Estudos revelam que os professores mais
novos e com menos experiência sofrem mais casos de incivilidade que professores mais
experientes. As mulheres também percecionam uma frequência consideravelmente mais
elevada, o que pode acontecer devidos às perceções que os alunos têm de certos grupos.
Nilson (2003) refere que os alunos têm uma visão do que é o professor e se o professor
não encaixar nessa visão, os alunos são mais capazes de ter comportamentos incivis
para com estes professores (MAIS Nilson, 2003; Knepp, 2012).

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