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GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
HISTÓRIA ANTIGA
SEJA BEM-VINDO(A)!
Prezado(a) aluno(a), somos os professores Kleber Eduardo Men e Priscilla Campiolo Manes-
co Paixão e fomos os responsáveis por preparar este livro da disciplina de História Antiga.
Este material foi feito com muito carinho, tendo em vista, especialmente, o aprendizado
pleno desta tão importante disciplina. Primeiramente, gostaríamos de destacar nossas
formações: Eu, Kleber, sou graduado em História pela Universidade Estadual de Marin-
gá, especialista em Docência no Ensino Superior pela UNICESUMAR, além de Mestre em
História das Ideias e das Instituições também pela Universidade Estadual de Maringá.
Tenho experiência nos Ensinos Fundamental e Médio, além do Ensino Superior. Eu, Pris-
cilla, sou também formada em História e Pedagogia, com especialização em História
Econômica e mestrado em História na linha de pesquisa Instituições e História das Ideias
pela Universidade Estadual de Maringá. Trabalho na UNICESUMAR há dez anos e atual-
mente coordeno o curso de História.
Nossa principal preocupação neste livro não foi fornecer a você qualquer tipo de manu-
al sobre a antiguidade, mas sim construirmos um conhecimento sólido das Instituições
Antigas, bem como entendermos a dinâmica que proporcionou muitas mudanças, algu-
mas das quais são sentidas até hoje.
Entretanto, para que nosso conhecimento seja pleno, gostaríamos de pedir a você, fu-
turo(a) professor(a) de História, muito empenho e dedicação. O nosso principal meio de
trabalho será a leitura e a interpretação dos textos e documentos aqui por nós indicados
e, para que isso seja alcançado, preparamos atividades que darão o suporte necessário,
além de toda estrutura humana e tecnológica disponibilizada pela UNICESUMAR.
Interpretar os eventos históricos é tarefa árdua e que requer um amadurecimento que
envolve muita leitura. Costumamos salientar que, se um jogador de futebol quer atingir
excelência, ele precisa correr, fazer musculação, alimentar-se corretamente, assim como
qualquer outro atleta de alto rendimento. Para nós, que trabalhamos na área de huma-
nas, a receita é mais simples, porém, requer o mesmo tipo de dedicação. Então, é preciso
que nos dediquemos à leitura diária dos materiais disponibilizados pelos professores e
que façamos com muito esmero as atividades de autoestudo disponibilizadas aqui e
também na plataforma moodle.
Nosso livro foi escrito tendo como eixo central o estudo do homem e das instituições
construídas por ele na antiguidade. O homem é um agente de si mesmo. Como disse
Ludwig Von Mises (1990), o homem é aquele que procura substituir uma situação des-
confortável por uma de melhor conforto e isso acaba gerando transformações, muitas
vezes, por séculos e séculos, influenciando gerações.
Gostaríamos de destacar que estudar História Antiga é um exercício fascinante. Costu-
mamos afirmar que podemos visitar qualquer lugar do mundo por meio da literatura.
No nosso caso, nossa viagem será pelo mundo das civilizações antigas como egípcios,
gregos, romanos, babilônios, fenícios, entre outros.
A finalidade deste livro é exclusivamente didática. Nossa proposta aqui não é fazer um
estudo minucioso sobre uma determinada estrutura, mas sim mostrar aos alunos do
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
13 Introdução
36 Considerações Finais
UNIDADE II
O ORIENTE PRÓXIMO
43 Introdução
49 Economia e Sociedade
51 Hebreus e Fenícios
56 O Estado Egípcio
71 Considerações Finais
UNIDADE III
79 Introdução
91 As Instituições Gregas
95 A Educação Grega
UNIDADE IV
111 Introdução
UNIDADE V
145 Introdução
171 Conclusão
173 Referências
177 Gabarito
Professor Me. Kleber Eduardo Men
A HISTÓRIA ANTIGA: UM
I
UNIDADE
PRIMEIRO OLHAR
Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar o conceito de História Antiga a fim de delimitar nosso
campo de trabalho.
■■ Estudar como é construído o conhecimento histórico na Antiguidade.
■■ Compreender a diferença entre fontes documentais e
historiográficas.
■■ Entender o que é análise hermenêutica da História.
■■ Analisar documentos históricos como forma de exercitar a teoria
abordada.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ História e História Antiga: considerações preliminares
■■ Fontes e documentos no estudo da antiguidade
■■ Fontes documentais e fontes historiográficas
13
INTRODUÇÃO
Introdução
14 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Francesa teve para um camponês o mesmo significado que para um membro
do Alto Clero francês do século XVIII? O significado das pirâmides de Gizé, na
visão do Faraó, é a mesma da visão de um escravo?
Costuma-se denominar de História Antiga o momento que vai do surgi-
mento das primeiras civilizações, ocorrido ao final do período neolítico, por volta
do terceiro milênio a.C., até a queda do Império Romano do Ocidente, em 476.
Entretanto, estudar a história com recortes temporais pode nos trazer vários equí-
vocos, além de parecer que os homens agem de forma predestinada. Segundo Funari:
As periodizações tradicionais devem ser entendidas como divisões
artificiais. Diferentes pontos de vista, a partir de várias metodologias,
disciplinas acadêmicas e ideologias, resultam em divisões alternativas.
O objeto da apresentação das compartimentações usuais resume-se à
instrumentalização dos leitores e, de maneira alguma, implica a aceita-
ção dos seus pressupostos (FUNARI, 2002, p. 31).
Como ficou claro, o termo clássico é empregado para definir um ciclo de acon-
tecimentos. Deste modo, nada impedirá um historiador de empregar o termo
“clássico” para tratar de temas relacionados ao Egito, aos Sumérios, Assírios,
Babilônicos, e assim por diante, desde que se enquadrem nos quesitos descri-
tos por Funari (2002). Conforme observamos, quando uma civilização atinge o
seu apogeu e, devido a fatores internos e/ou externos, os valores cultivados neste
período se perdem (tais como ideias, costumes, política etc.), então temos um
exemplo que podemos classificar como “clássico”.
Posto isso, queremos ressaltar a importância que nós damos ao estudo das
Instituições. A característica principal desse campo da historiografia é obter uma
análise que, “independente de recortes temporais, temáticos e espaciais, este-
jam relacionados ao estudo de fenômenos históricos que se apresentam sob a
forma de instituições” (PEREIRA et al., 2005). Consequentemente, ela nos for-
nece um campo de trabalho amplo, que nos faz refletir o contexto histórico em
que elas foram produzidas.
Além do estudo das instituições, também é indispensável o estudo dos docu-
mentos produzidos pelos antigos. Tucídides, Sócrates, Platão, Aristóteles, Flavio
Joséfo, enfim, todos esses escritores nos deixaram relatos importantíssimos sobre
como era a vida das pessoas em seu tempo.
Em seu livro “Aspectos da Antiguidade”, Finley (1991) aborda de forma geral
algumas características presentes no mundo antigo. Já na introdução de sua
obra, ele faz uma reflexão do quão complexo é o estudo deste período histórico:
Muitas autoridades ilustres sustentam que as questões sobre o passado
podem ser respondidas, pelo menos de maneira aproximada, através
da imaginação, desde que esta seja disciplinada por uma base de sólida
erudição. Diz-se que é possível compartilhar, até certo ponto, da expe-
riência de uma platéia ateniense do século V durante uma apresentação
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de Édipo, ainda que não se acredite, no sentido estrito, em oráculos ou
na “malícia divina que perpassa a tragédia grega” (FINLEY, 1991, p. 5).
Esse pequeno excerto faz parte de um dos códigos de leis escritas mais antigos que
se tem registro (senão o mais antigo) – conhecido como Código de Hammurabi
– o qual desperta muita curiosidade. Logo na primeira leitura, o texto causa
arrepios, tamanho a rigidez presente nele. Analisá-lo com base nos direitos que
temos atualmente, com os conceitos de proteção a dignidade da pessoa humana,
torna este código algo a ser banido e duramente criticado. Entretanto, como já
mencionamos, fazer isso em nada ajudará a transformar o passado. Precisamos
olhar esse código buscando entender a razão que o tornou tão famoso. O fato
de a civilização babilônica possuir um código de leis escritas já era considerado
um grande avanço para a época.
Embora o código se baseie no princípio do “olho por olho, dente por dente,
vida por vida”, temos que procurar entender os valores que essa obra jurídica que-
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ria proteger. Quais os axiomas salvaguardados pelo Código de Hammurabi? Em
uma análise superficial desse documento, temos uma questão financeira muito
bem colocada, isso nos permite dizer que entre os princípios cultivados pelos
babilônicos estava a lisura nos negócios, a proteção do consumidor e a repara-
ção do dano, bem como a punição a desobediência. Mas o foco principal era a
escravidão vista como uma instituição protegida por lei.
Um fator que não pode passar despercebido é a linguagem. A língua é dinâ-
mica. Basta ver as constantes mudanças que ocorrem dia a dia. Diariamente são
criadas novas gírias, expressões, tratamentos, dentre outros e, sendo assim, a
clareza das palavras deve ser de pleno domínio. Ao ler um documento, o histo-
riador deve, acima de tudo, ter propriedade no vocabulário da época em questão.
Certamente, você, acadêmico(a) de história, deve se perguntar: e quando não há
tradução literal do documento ou as palavras possuem significados diferentes
da nossa língua, o que fazer? Ao longo da carreira, nos depararemos com esses
e outros tipos de “problemas”.
Como estudar o mundo Antigo? Como já deve ser do seu conhecimento, o estudo
da história se faz com documentos. O historiador, munido de documentos e de
POSITIVISMO
Auguste Comte (1798-1857) está ligado umbilicalmente ao positivismo,
corrente filosófica que ele fundou com o objetivo de reorganizar o conhe-
cimento humano e que teve grande influência no Brasil. Comte também é
considerado o grande sistematizador da sociologia.
Segundo Gomes (2013), o positivismo de Comte baseia-se em três estágios
de desenvolvimento (Lei dos Três Estados) sendo o primeiro o Teológico, o
segundo o Metafísico e, por fim, o Positivo. No estado Teológico, os seres
humanos buscavam explicar os eventos baseados na ação de espíritos, em
elementos mágicos, etc. Na fase Metafísica, essa imaginação da primeira
fase daria lugar a uma reflexão maior sobre a existência das coisas, ou seja,
o sobrenatural passa a dar lugar a força das ideias. Já no Positivo, a ciência
assumiria definitivamente o seu papel de norteadora das ações do homem.
Fonte: adaptado de Gomes (2013).
que eles não foram importantes para a economia e a sociedade desse período?
E as mulheres e outros grupos sociais de menor expressão?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas da Lima dourada moravam
os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou
pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo. Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio tinha somente palácios para seus habitantes?
Mesmo a lendária Atlântida.
Os que afogavam gritaram por seus escravos na noite em que o mar o tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho?
César bateu os gauleses. Não levava sequer um cozinheiro?
Felipe da Espanha chorou, quando sua armada naufragou. Ninguém mais
chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória. Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem. Quem pagava a conta?
Tantas histórias. Tantas questões.
Fonte: Brecht (1986. p.167).
Embora a citação apresente forte cunho positivista, ela nos traz uma importante
reflexão e deverá sempre ser lembrada pelo historiador. Como assim retirar sem
nada a acrescentar? Esse alerta é feito no sentido de que devemos conservar as
informações da maneira mais fidedigna possível. Não podemos criar uma nar-
rativa ou uma reflexão sobre um documento sem que seja possível atestar sua
veracidade. O historiador precisa ter consciência de que seu trabalho é sério e
que seus erros podem condenar toda uma geração.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mente comprometerá a qualidade final do seu trabalho.
Os procedimentos que o historiador deve tomar ao analisar um documento,
logo de início, são muitos simples. Funari divide essas críticas em duas partes:
interna e externa.
A busca pela veracidade do relato, implícita nesta abordagem, deveria
ser levada a cabo, em primeiro lugar, por um estudo dos aspectos exter-
nos do documento. A materialidade do texto deveria ser questionada e
posta à prova: haveria incompatibilidade entre a data escrita no texto e
sua composição física? Por exemplo, um texto datilografado não pode
ser anterior à invenção da máquina de escrever, nem o uso da impren-
sa pode preceder Gutemberg. Caso um texto datilografado apresen-
te a assinatura de Júlio César (primeiro século a.C.) pode concluir-se,
pela crítica externa, material, do documento que este é falso (FUNARI,
2002, p. 14).
Os exemplos destacados por Funari já são claros o bastante, mas vamos refle-
tir sobre isso um pouco mais. Forjar documentos é algo muito comum. Não é
raro ver que muitas pessoas elaboram provas para evidenciar aquilo que elas
defendem. Desta forma, cabe ao historiador não se deixar levar pela obviedade
e procurar eliminar de imediato qualquer sinal de inverdade, mas isso somente
pode ser feito com base em muitos estudos e amadurecimento intelectual.
Além dessa crítica externa, que se faz no que diz respeito ao conteúdo mate-
rial do documento, há a necessidade da crítica interna.
Um texto escrito apresenta, também, uma série de informações que
podem ajudar a caracterizar o documento como verdadeiro ou falso. A
crítica interna visa verificar se há motivos para duvidar da sua auten-
ticidade devido a informações inverossímeis. Um tipo de inverossimi-
lhança muito comum é o anacronismo. Se um documento afirma que
Entre os documentos utilizados para o estudo da história, não pode haver nenhum
tipo de hierarquia. Um pedaço de papel com algumas linhas anotadas por alguém
de pouca expressão não pode ser considerado inferior aos inúmeros relatos dos
secretários de governo. Uma fotografia não é superior a um filme. Tampouco, a his-
tória vista pela ótica de um camponês pode ser inferior a de um senhor de terras.
Funari nos apresentou também as diferentes informações que podemos
obter. Segundo ele, “os documentos procuram abranger diferentes categorias
documentais: textos transmitidos pela tradição textual, epígrafes, restos arqueo-
lógicos. Diversas, também, as abordagens: textos filosóficos, poesias, documentos
oficiais, leis” (2002, p. 26). Assim, torna-se possível ao pesquisador abordar um
determinado tema por vários ângulos. Analisar a situação econômica da Roma
Antiga tendo como foco os relatos de um comerciante pode ser bem diferente
da opinião de um plebeu, desta forma, o conhecimento histórico se torna rico
em detalhes, levando o leitor a um nível de compreensão muito mais satisfa-
tório. Posto isso, é indispensável um trabalho focado na interdisciplinaridade.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os documentos podem ser analisados de múltiplas maneiras tendo em
vista, em particular, os níveis de profundidade do estudo, as diferen-
tes disciplinas e os diferentes paradigmas ou modelo hermenêuticos. A
profundidade de uma análise varia segundo a especialização do estu-
dioso e a expectativa do público (FUNARI, 2002, p. 26).
Após esta abordagem genérica sobre documentos, cabe a nós voltarmos nossos
olhares especialmente ao tema central – a História Antiga. Embora estudos mais
aprofundados sejam feitos nas próximas unidades, é oportuno também destacar
este estudo preliminar sobre documentos nesta parte do livro.
Utilizam-se como documentos para o estudo da história muitos relatos feitos
por pessoas que foram contemporâneas ao período. Digamos que muitas dessas
pessoas que viveram em determinada época foram os jornalistas do seu tempo.
Costuma-se atribuir ao jornalista a alcunha de “historiador do tempo presente”,
pois a sua função deve ser a de levar a informação factual até os olhos e ouvidos
daqueles que se interessam pela notícia, além de procurar influenciar a opinião
de muitas pessoas, pois não podemos nos esquecer dos interesses que há por trás
do meio de comunicação para o qual trabalham os jornalistas.
Não entrando no mérito da profissão do jornalista, devemos entender que
esses relatos feitos por essas pessoas, embora muito ricos em informações, não
devem ser entendidos como uma fonte fidedigna de informação. Devemos, como
já mencionamos anteriormente, atestar a veracidade dessas informações. Quando
se tratam de memórias escritas por alguém, o cuidado deve ser ainda maior.
Devemos ter em mente que a memória é seletiva, pois o cérebro humano não é
capaz de guardar todas as informações, salvo em alguns casos patológicos. Desta
forma, esses homens, autores de relatos, podem ter sido traídos por suas memó-
rias, mas o historiador não deve cair nessa armadilha. Como definiu Le Goff:
A memória, como propriedade de conservar certas informações, reme-
te-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às
quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou
que representa como passadas (LE GOFF, 2003, p. 419).
Prezado(a) acadêmico(a), quero chamar a sua atenção para a última linha desta
citação. Quando o autor menciona que o homem atualiza as informações que
são passadas ou que ele representa como passadas, é certo que cada um vai ver
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o passado como lhe é mais confortável. Não é difícil encontrar entre nós pessoas
que idealizam o passado como um tempo melhor, ou que também se colocam
como protagonista da história como fica claro no filme indicado no material com-
plementar. É comum ouvir das pessoas mais velhas a expressão “no meu tempo
era assim ou assado”. Uma determinada época pode apresentar um ponto posi-
tivo para mim, mas pode ser ruim para outro. E o historiador deve ficar atento
a isso ao analisar um relato.
Igualmente, ao analisar a historiografia, o pesquisador deve atentar-se aos
objetivos do autor, bem como às características de cunho teórico-metodológicas
das quais o mesmo lançou mão. A História do Egito vista do aspecto econômico
é diferente da ótica social. Embora possamos analisar os mesmos documentos,
os resultados podem ser diferentes, mas não por isso inverídicos. Vale destacar
também a diferença entre fontes documentais e historiográficas.
O conceito de documento, após a Escola dos Annales, passou a ser bastante
amplo, conforme já alertamos. Recortes de jornais, moedas, vestimentas, usos e
costumes, tudo isso passou a ser considerado fonte documental à produção do
conhecimento histórico. Em linhas gerais, podemos definir que documentos são
todos os materiais produzidos pelo homem.
Tendo em vista a importância dos documentos para o estudo da história,
vejamos um exemplo que ilustra bem o nosso conteúdo. Considerado o pai da
História, Heródoto de Halicarnasso foi autor de obras imprescindíveis ao estudo
da antiguidade. Segundo Pereira M.,
Se é certo que o desenvolvimento dos estudos da história da Grécia e
do Próximo Oriente nos últimos três séculos teria sido impossível sem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pois escreveu baseado em um
método próprio, onde procu-
rava obter as razões dos fatos
de forma racional, não ape-
nas exaltar os grandes feitos,
como era o costume entre os
escritores desta época.
Entretanto, Pereira M.
(1994, p. XXII) alerta que
essa atitude não o impede
de dar destaque a outros
Heródoto de Halicarnasso “O pai da História”
elementos pouco prováveis,
como a força sobrenatural ou superior que atua sobre a vida dos homens. Vejamos
as palavras do próprio Heródoto:
Impõe-se, neste ponto da minha narrativa, uma reflexão sobre quem
era Ciro, o destruidor do império de Creso, e por que forma os Persas
assumiram a supremacia sobre a Ásia. É no testemunho de um certo
número de Persas – aqueles que não pretendem enaltecer a história de
Ciro, mas simplesmente narrar os fatos – que me fundamento; estou,
no entanto, em condições de relatar, a respeito do mesmo Ciro, três
outras versões diferentes (HERÓDOTO, 1994, p. 125).
Observem o alerta que faz o autor a respeito da metodologia que ele emprega
para construir a narrativa histórica. Quando o autor destacou que se baseou em
certo número de Persas e os selecionou dentro de um critério estabelecido (que
não simplesmente queria enaltecer os fatos), fica clara a preocupação dele com
a isenção que a narrativa histórica deveria ter. Outro fator importante são as
versões que o mesmo fez questão de confrontar, tendo em vista os vários depoi-
mentos. É exatamente este cuidado que o historiador precisa ter no trato com
as fontes. Confrontar as informações consiste em uma das melhores formas de
atestar a veracidade dos fatos.
Outro exemplo que podemos destacar como documento para o estudo da
antiguidade está na obra de Tucídides. Esse autor grego do século V a.C. foi res-
ponsável por nos retratar a História da Guerra do Peloponeso. Entretanto, para
analisarmos esse acontecimento sob a óptica desse autor, maiores cuidados ainda
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deveremos tomar, pois o mesmo era comandante das tropas atenienses. Além
do mais, sua obra, apesar de rica, é incompleta.
Mesmo diante desses fatos, não podemos tirar o mérito de historiador de
Tucídides. Segundo Kury (1987), ele “inovou substancialmente o método his-
tórico, influenciado pelo racionalismo de Anaxágoras e pelo espírito crítico e
iconoclasta dos sofistas”. A importância da história para Tucídides era registrar
os eventos e torná-los uma espécie de patrimônio útil aos homens.
Tucídides foi responsável também, segundo Kury (1987), por não apenas
narrar os fatos, mas incluir documentos oriundos dos tratados selados entre as
partes envolvidas no conflito. Não obstante, não os utiliza de forma ilustrativa,
mas exerce duras críticas para mostrar que esses tratados não serviam de nada,
devido à guerra se estender apesar da existência desses acordos. Vejamos um
trecho da obra de Tucídides:
Segundo as minhas pesquisas, foram assim os tempos passados, embo-
ra seja difícil dar crédito a todos os testemunhos nesta matéria. Os ho-
mens, na verdade, aceitam uns dos outros relatos de segunda mão dos
eventos passados, negligenciando pô-los a prova, ainda que tais eventos
se relacionem com sua própria terra (TUCÍDIDES, 1987, p. 27).
O autor prossegue com suas críticas pela falta de interesse pelo saber histó-
rico e, como não podia ser diferente, sendo a história um patrimônio do homem,
deve este buscar o seu conhecimento. Entretanto, Tucídides lamenta a falta de
interesse pela procura da verdade, “a tal ponto chega à aversão de certos homens
pela pesquisa meticulosa da verdade, e tão grande é a predisposição para valer-
se apenas do que está ao seu alcance” (1987, p. 27).
Utilizo as palavras de Tucídides (1987) para fazer um alerta a você, acadêmi-
co(a) de história: não devemos apenas ficar em uma zona de conforto, precisamos
sempre ir ao encontro de novos problemas, colocando à prova toda informação
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nova obtida. Esse será, portanto, o nosso maior desafio.
Tito Lívio também é um autor indispensável ao estudo da antiguidade. A lista
de pessoas inspiradas por esse autor é enorme, dentre os quais podemos desta-
car Nicolau Maquiavel e Montesquieu, além de Shakespeare e Voltaire. Nascido
em Pádua, uma cidade de cultura muito desenvolvida e de destacada severi-
dade moral entre seus habitantes, esse autor foi responsável pela obra História
de Roma, composta por 142 livros (SIERRA, 1990).
O historiador Tito Lívio foi pioneiro ao valorizar a linguística e a arqueo-
logia como fontes históricas. Ele parte de uma comparação com os textos de
Políbio para atestar a veracidade de suas fontes, pois o mesmo considera esse
autor uma fonte segura. Essa é uma característica original do método empregado
por Tito Lívio, que é a tendência em se basear em apenas um autor (SIERRA,
1990). Observemos o que escreve esse autor:
Catorze mil boios foram massacrados nesse dia. Aprisionaram-se mil e
noventa e dois infantes, setecentos e vinte e um cavaleiros, três chefes,
duzentos e doze estandartes e sessenta e três carros. Mas também aos
romanos a vitória custou bastante sangue: perderam mais de cinco mil
homens, tanto das suas quanto das tropas aliadas, vinte e três centu-
riões, quatro prefeito dos aliados, e marco Genúcio, Quinto e Marco
Márcio, tribunos militares da segunda legião (TITO LÍVIO, 1990, p.
13).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tais e fontes historiográficas. Podemos definir, em linhas gerais, que as fontes
documentais são aquelas originais, onde o historiador faz sua própria interpre-
tação. Em síntese, os escritos de Heródoto, Tito Lívio, Tucídides, Cícero, Catão
são considerados fontes documentais. Assim como os demais objetos já citados
como peças arqueológicas, fotografias, filmes etc.
Já as fontes historiográficas são aquelas obras em que o historiador vai buscar
suas informações, ou seja, você pode fazer uma pesquisa sobre o Egito utilizando
obras de outros historiadores. Por exemplo, Nicolau Maquiavel foi autor da obra
“Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”. Esse livro foi escrito na pri-
meira metade do século XVI. Nesse sentido, podemos considerá-la uma fonte
documental para estudar a Florença renascentista, mas também pode ser uma
fonte historiográfica para o estudo da antiguidade, pois o que fez Maquiavel foi
interpretar a obra de Tito Lívio e sintetizar alguns pontos em seu livro.
Vejamos alguns exemplos:
A escravidão, segundo Aristóteles
A propriedade é uma parte da casa e a arte aquisitiva uma parte da
administração doméstica, já que sem as coisas necessárias são impossí-
veis a vida e o bem-estar; na administração doméstica assim como nas
artes determinadas, é necessário dispor dos instrumentos adequados se
se deseja levar a cabo sua obra. Os instrumentos podem ser animados
ou inanimados, por exemplo, o timão do piloto é inanimado, o vigia
animado (pois o subordinado faz às vezes de instrumento nas artes).
Assim também os bens que se possui são um instrumento para a vida,
a propriedade em geral uma multidão de instrumento, o escravo um
bem animado e algo assim como um instrumento prévio aos outros
instrumentos. Se todos os instrumentos pudessem cumprir seu dever
§ 11
Se o dono do (objeto) perdido não trouxe as testemunhas que conhecem
seu (objeto) perdido: ele é um mentiroso, levantou uma falsa denúncia;
ele será morto.
§ 12
Se o vendedor já morreu, o comprador tomará da casa do vendedor cinco
vezes a soma reclamada nesse processo.
§ 13
Se as testemunhas desse awilum não estão perto, os juízes conceder-lhe-ão
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
um prazo de seis meses; se no sexto mês ele não trouxer suas testemu-
nhas: esse awilum é um mentiroso, ele carregará a pena desse processo
(BOUZON, 1998, p. 54).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
COMENTÁRIOS: Esse documento é referente ao Egito Antigo e fica exposta a
força da religião na vida dessa civilização. Percebe-se uma louvação grande aos
deuses da mitologia egípcia.
Senaqueribe invade Judá
No décimo quarto ano do reinado de Ezequias, Senaqueribe, rei dos
assírios, atacou e tomou todas as cidades fortes de Judá. Então Eze-
quias, rei de Judá, mandou mensageiros ao rei dos assírios, em Laquis,
dizendo: Eu cometi uma falta; retira-te das minhas terras e eu aceitarei
tudo o que me impuseres. O rei dos assírios, então, impôs a Ezequias,
rei de Judá, trezentos talentos de prata, e trinta talentos de ouro. E Eze-
quias deu-lhe toda a prata que foi encontrada na casa do Senhor e nos
tesouros do rei. Foi quando, Ezequias arrancou das portas do templo
do Senhor as chapas de ouro com que ele próprio as tinha forrado e as
entregou ao rei dos assírios (II REIS apud PINSK 2001, p. 26).
Na terra ele... ou, colocou o... ali (ANET apud PINSK, 2001, p. 43).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tos as fontes e documentos históricos. É salutar ao ofício do historiador o
exercício constante da interpretação. Não se faz História sem documentos
e, para que isso seja possível, a interpretação se faz indispensável. Portanto,
é importante que o(a) futuro(a) professor(a) de história tenha em mente os
procedimentos metodológicos adequados, bem como uma carga enorme
de leitura para que seu trabalho se enriqueça cada vez mais em se tratando
de cientificidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
1. Pesquise sobre uma civilização que é denominada clássica e, com base na expo-
sição feita nesta unidade, descreva quais os motivos que justificam tal título.
2. Tendo em vista os cuidados que o pesquisador precisa ter no trato das fontes,
é possível interpretar um fato histórico isento de juízo de valor? Justifique sua
resposta.
3. Descreva o conceito de crítica interna e externa destacado por Funari.
4. Explique o significado do termo ANACRONISMO e exemplifique como isso pode
ocorrer na elaboração de um texto histórico.
5. Escolha dois documentos de sua preferência contidos nesta unidade e analise-
-os com base nos preceitos elencados por Venturini.
MATERIAL COMPLEMENTAR
QUADRO SINÓTICO
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Embora não seja um filme sobre História Antiga, seu enredo é importante para se entender as
dificuldades de se construir uma narrativa histórica, bem como a falta de técnica e método pode
comprometer severamente o ofício do historiador.
Os Narradores de Javé
Ano: 2003
Direção: Eliane Caffé
Sinopse: Quando um pequeno vilarejo se vê à beira da extinção, os seus moradores resolvem unir
suas forças para impedir que isso ocorra. Entretanto, para que o pequeno vilarejo não sucumbisse
diante do iminente progresso, comprovar que o local possuía riqueza histórica e, portanto, não
merecesse ser alagado para a construção de um reservatório para a usina hidrelétrica era de
primeira necessidade. Daí surgem as questões: quem poderia escrever a história da “grande” Javé?
Quais seriam os atributos que deveriam ser enaltecidos para que a memória dos seus habitantes
fosse preservada? Essa missão foi dada ao grande desafeto da população chamado Antônio Biá
(José Dumont). A falta de rigor metodológico fez com que a aventura historiográfica de Biá se
tornasse um eterno pesadelo.
Sobre as CIÊNCIAS AUXILIARES DA HISTÓRIA, visite o seguinte site disponível em: <http://www.
arqnet.pt/portal/estudo/paleog.html>. Acesso em: 11 fev. 2014.
Sobre INTERDISCIPLINARIDADE, acesse o site disponível em: <http://anpuh.org/
anais/?p=17362>. Acesso em: 11 fev. 2014
Para saber mais sobre HERMENÊUTICA, acesse o site disponível em: <http://www.infoescola.com/
filosofia/hermeneutica/>. Acesso em: 11 fev. 2014
Professor Me. Kleber Eduardo Men
II
UNIDADE
O ORIENTE PRÓXIMO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender os elementos que proporcionaram a sedentarização
do homem e a formação das primeiras sociedades.
■■ Estudar os fatores que contribuíram para a formação das primeiras
civilizações.
■■ Conhecer o Crescente Fértil e suas principais civilizações, bem como
a estrutura jurídica que contribuiu para que essas civilizações se
consolidassem.
■■ Entender os fatores que condicionaram a formação do Império
Egípcio, destacando também a importância da estrutura burocrática
à consolidação do Estado Egípcio.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ As civilizações mesopotâmicas e suas instituições
■■ Hebreus e fenícios
■■ O estado egípcio
43
INTRODUÇÃO
Introdução
44 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Certa vez, a apresentadora de televisão Regina Casé disse que todo brasileiro
gostava de samba, futebol e funk e, em face dessa afirmação, muitas pessoas e
inclusive você deve ter se perguntado: e se eu não gosto disso, será que eu não
sou brasileiro? Isso justifica a dificuldade que temos em enquadrar as pessoas
dentro de um padrão cultural único.
Gostando ou não de futebol, do samba e/ou do funk, estamos ligados uns
aos outros por fatores políticos e jurídicos, pois temos um mesmo presidente,
obedecemos às mesmas leis elaboradas pelos legisladores federais, temos um
mesmo código civil, código penal e seguimos o mesmo calendário. Enfim, são
essas estruturas que engendram nossa nação.
As primeiras experiências da formação de Estados organizados juridicamente
e politicamente foram vistas na Mesopotâmia. Situada no Crescente Fértil, mais
especificamente entre os Rios Tigre e Eufrates, essa região abrigou três impor-
tantes civilizações - os Assírios, os Sumérios e os Babilônios.
Gordon Childe fala de uma revolução que “transformou pequenas al-
deias de agricultores autossuficientes em cidades populosas”. A impres-
são que a frase nos passa é a de que logo após se organizar sedentaria-
mente como agricultor, atingindo a autossuficiência e administrando o
excedente, o homem administra uma nova mudança, desta feita quase
natural e sempre obrigatória: a urbanização. Um rápido olhar acusa
uma aparente coincidência: a agricultura inicia-se no Oriente Próximo,
a urbanização também. Falamos mais exatamente do Crescente Fértil
como local onde as revoluções Agrícola e Urbana teriam se realizado
(PINSKY, 2011, p. 58-59).
O ORIENTE PRÓXIMO
45
Tig
re
Ninive
Euf
Assur
rat
Biblos
es
Mediterrâneo Sidon Damasco MESOPOTÂMIA
Tiro
Jerusalém Babilônia
Saís
Mêntis
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
EGITO
Golfo
Pérsico
Nilo
Tebas
Trópico de Câncer
Mar
Vermelho
Nilo
A citação de Pinsky (2011) endossa o que foi destacado até aqui. Em outras
palavras, é quase um consenso entre os pesquisadores que as primeiras experi-
ências da vida em sociedade foram realizadas no Oriente, mais especificamente
na região denominada de Crescente Fértil (veja ilustração anterior).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Lá, por conta da irregularidade do degelo nas vertentes, as cheias eram
surpreendentes e intempestivas – às vezes destruidoras. A extrema fer-
tilidade das terras às suas margens (pelo menos ao sul de Bagdá) re-
queria uma defesa contra a imprevisibilidade dos rios, o que era obtido
por meio da construção de valas que, graças à topografia plana e aos
canais e braços naturais, desviavam as águas para onde fosse necessário
(PINSKY, 2011, p. 60).
O ORIENTE PRÓXIMO
47
Como podemos perceber, junto com o Direito, a burocracia surge de maneira con-
comitante às relações de poder. Mas devemos ter em mente que o fortalecimento do
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Estado e das instituições políticas não ocorria por si só. Uma quantidade enorme
de pessoas precisava se sacrificar trabalhando para esse Estado, que pouco a pouco
se tornou gigantesco, não em tamanho, mas no poder de influenciar e determinar a
vida das pessoas. O maior exemplo disso foi o Egito (que veremos logo mais adiante).
Templos e mais templos foram construídos à custa do trabalho de pessoas
que muitas vezes não podiam gozar do resultado de seus esforços. Até parece,
caro(a) estudante, que estamos falando dos dias atuais. Observe o exposto a seguir:
Em Uruk foram encontrados vestígios de um templo que tinha mais de
dois mil metros quadrados (exatamente 80 m por 33 m). Perto dele foi
edificado um monte artificial (zigurate) com 11 metros de altura, cons-
truído com tijolos e enfeitado com pedaços de cerâmica. Com o uso de
uma escada chega-se ao pequeno templo, no alto; paredes de tijolos bran-
cos e madeiras importadas, altares nas extremidades e outros detalhes
mostram o requinte e a técnica da construção (PINSKY, 2011, p. 69).
O exemplo destacado por Pinsky (2011) demonstra como a imponência era uma
forma de demonstrar poder. Mas não podemos esquecer-nos do forte apelo reli-
gioso que havia nessas sociedades. Muito do esforço empregado nessas grandes
obras era legitimado por uma força divina. A propósito disso, o autor prossegue:
A exploração do trabalho de uma parte da sociedade por outra cria, pela
primeira vez na humanidade, antagonismos determinados pelo papel
econômico exercido pelo indivíduo no grupo. É importante notar que
não se está falando de divergências pessoais, questões subjetivas, mas
de oposição socialmente determinada, impessoal, portanto. O sacer-
dote não explorava o artesão pelo fato de ser, pessoalmente, um mau
elemento, de possuir um mau-caráter. Ele na verdade desempenhava o
papel organizador do processo de trabalho, em nome de cuja racionali-
dade agia (PINKY, 2011, p. 71).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Não é possível propor uma discussão sobre a Mesopotâmia sem nos reme-
termos ao Império Babilônico. Mais difícil ainda é fazê-la sem mencionar o tão
famoso Código de Hammurabi. Conforme foi visto na unidade anterior, esse
código foi um dos primeiros conjuntos de leis escritas que se tem registro, mas
a importância dele não é apenas com relação à importância jurídica que possui,
esse código vai mais além. Segundo Pinsky:
Não é, no entanto, um projeto de mudanças sociais. Muito pelo contrá-
rio, legisla a partir do reconhecimento da existência de três classes dis-
tintas: os ricos, o povo e os escravos. Os primeiros com mais privilégios e
obrigações (pelo menos em teoria); os ricos pagavam mais impostos, mas
um delito contra eles seria, reconhecidamente, punido de forma mais
severa; os escravos, que tinham direitos delimitados em lei (não eram
apenas um objeto, como diria deles Aristóteles, na Grécia), podiam ca-
sar-se com uma mulher livre e possuir bens, mas eram marcados como
gado, já que não deixavam de ser propriedade de alguém (2011, p. 82).
Aqui fica explícita a questão da falta de isonomia jurídica desse código. O fato
de estar positivada no Código de Hammurabi a existência de três classes distin-
tas já é determinante para entendermos que havia uma diferenciação legítima
entre as pessoas. Punir com o rigor da lei, mas de maneira desigual, era a tônica
dessa civilização.
Enfim, há inúmeras outras interpretações que podemos fazer sobre os diver-
sos institutos surgidos na Babilônia. Assim como também podemos perceber
que muito do que ali existia teve origem em outras civilizações, demonstrando
desde já que a comunicação e a integração entre os povos ocorria desde os pri-
mórdios da civilização.
O ORIENTE PRÓXIMO
49
ECONOMIA E SOCIEDADE
Economia e Sociedade
50 UNIDADE II
b. Contudo, seu total apenas incluía as pessoas que não eram indepen-
dentes. Dado o caráter visivelmente oficial da documentação, é prová-
vel que estejamos diante de rendeiros dependentes do Estado ou de um
membro da administração;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tudo faz supor, somente os produtores agrícolas estariam submetidos
ao imposto.
O ORIENTE PRÓXIMO
51
HEBREUS E FENÍCIOS
Hebreus e Fenícios
52 UNIDADE II
Egito, dá-se pela escassez de fontes. Problema esse que, a esta altura, não é mais
novidade alguma para você, tendo em vista nosso constante alerta.
Nos manuais de Ensino de História com os quais conviveremos em nossa
jornada como professores de História, mesmo que seja apenas no período do
estágio obrigatório, o ensino dessas civilizações antigas está vinculado ao 6º ano
do Ensino Fundamental e ao 1º ano do Ensino Médio. Como a nossa função
principal aqui é formarmos profissionais para trabalhar na docência de História,
não podemos omitir a importância que essas duas civilizações tiveram na forma-
ção do mundo Ocidental, embora esses dois povos sejam oriundos do Oriente.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Foram os hebreus os responsáveis por estabelecer as bases da religião cristã,
a qual é um dos principais elementos de configuração da civilização Ocidental.
A história desse povo está registrada no Antigo Testamento da Bíblia, principal-
mente nos cinco primeiros livros que são denominados de Pentateuco. os quais
foram creditados a Moisés. Entretanto, sua origem como civilização está no pri-
meiro milênio antes de Cristo:
Os hebreus desenvolveram sua civilização no primeiro milênio a.C. Ela
não tem, portanto, a antiguidade da civilização egípcia ou da mesopo-
tâmica, embora tenha convivido de maneira estreita com essas duas
civilizações (na proto-história dos hebreus, Moisés tira o povo do Egito
no século XIII a.C. e Nabucodonossor da Babilônia destrói o templo de
Jerusalém em 586 a.C.) (PINSKY, 2011, p. 105).
Embora seja um povo de muitos atributos, um dos fatores que nos chama mais
a atenção é a questão religiosa. Inclusive, deve-se à religião o fato dessa civiliza-
ção existir até hoje, mantendo boa parte dos usos e costumes religiosos oriundos
dos primórdios da civilização, criando uma identidade que se firma indepen-
dente de onde vivem. Pinsky (2011) destaca que os hebreus foram o elo entre as
civilizações Oriental e Ocidental.
Por meio deles conhecemos mitos e ciência, práticas sociais e valores
de povos de toda a região. Estudos que utilizam a Bíblia não de forma
dogmática, mas como fonte de informações históricas, obtiveram refe-
rências que descobertas arqueológicas depois confirmaram (PINSKY,
2011, p. 105-106).
Continuando com a questão religiosa, a origem dessa civilização está toda retra-
tada na Bíblia Sagrada. Não é nossa função aqui fazer apologia a esta ou àquela
O ORIENTE PRÓXIMO
53
fiéis. Por isso, não julgaremos, mas apresentaremos essa genealogia conforme
foi sintetizada por Pinsky:
Gostamos muito de exemplificar trazendo a história de Abrahão e Sara,
contada na Bíblia: os dois eram casados, mas Sara não conseguiu en-
gravidar. Ela acabou pegando uma de suas servas, Hagar, entregando-a
como concubina ao marido para que, embora em ventre alheio, o casal
pudesse ter filhos. Hagar de fato dá à luz um garoto, Ismael. Acontece
que, depois, Iavé (uma das denominações de Deus) anuncia que Sara
iria engravidar. O casal ri, não acreditando que ele com cem anos e ela
com noventa ainda pudessem ter um filho. Mas como o deus hebreu
era todo poderoso, o filho acaba nascendo e se chama Isaac. O garoto
mais velho, Ismael, deixa de ser o queridinho de Sara, que protege o
seu. Ismael, mais velho, tem o hábito de zombar de Isaac, menor, e,
por isso, menos esperto. Sara chega a Abrahão e solicita que ele mande
embora a concubina com seu filho. O patriarca resiste, mas deus dá
força a Sara e, Hagar e Ismael, partem para o deserto. Final da história:
de Isaac descendem todos os Hebreus e de Ismael descendem os povos
do deserto, os árabes (PINSKY, 2011, p. 106).
Hebreus e Fenícios
54 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o Egito constituiu-se numa grande civilização plantada num grande Estado e a
Mesopotâmia outra grande civilização sediada em vários Estados, os hebreus
criaram sua grande civilização quase sem Estado”.
Os fenícios também são um povo que possui uma ligação muito peculiar
com nossa civilização. Foi obra dessa civilização a criação de um alfabeto foné-
tico, origem da nossa forma de grafia. Enquanto a maioria das línguas escritas
na antiguidade tinha por base a simbologia, os fenícios criaram um alfabeto que
se escrevia praticamente como se falava.
O mesmo problema para se estudar outras civilizações antigas também
incorre nesse povo. Mais uma vez, a escassez de fontes limita o acesso a infor-
mações imprescindíveis, o que acaba por formar verdadeiros hiatos, lacunas
históricas. Além disso, muito do que havia sobre esse povo era fruto de relatos
de outros povos, principalmente devido ao não desenvolvimento da arqueolo-
gia como ciência (HARDEN, 1968).
Sobre a origem deles, fica muito difícil precisar, sendo possível apenas dedu-
zir. Dessa forma, tentar entrar na discussão dessa gênese seria imprudente, pois
não é esse o objetivo principal desta unidade. Então, analisaremos essa civiliza-
ção por meio da interação com outros povos. Vejamos o que destaca Harden:
Como exploradores, na Antiguidade, os Fenícios não tiveram concor-
rentes, como colonizadores poucos, salvo, talvez, os Gregos. Como
comerciantes, procuravam e transportavam matérias-primas e pro-
dutos manufacturados através de todo o Mundo então conhecido. O
seu valor como valentes combatentes foi demonstrado, não somente
na longa e esgotante luta com Roma, mas também pela resistência que
Tiro e Sídon opuseram aos Mesopotâmios e outros conquistadores e
O ORIENTE PRÓXIMO
55
pelos serviços que as suas armadas prestara a Pérsia. Mas todos estes
feitos se esfumam perante a sua mais grandiosa e duradoura realização,
o alfabeto. É com este que eles vão influenciar mais forte e profunda-
mente as subsequentes civilizações da Antiguidade. Todas as línguas
indo-europeias e semitas – verdadeiramente todas as escritas alfabéti-
cas posteriores – empregaram o sistema inventado pelos Fenícios e que
foi rapidamente adoptado por muitas outras nações vizinhas, incluindo
os Gregos (HARDEN, 1968, p. 18).
Hebreus e Fenícios
56 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quem dominava o cenário político fenício eram os ricos comerciantes. Eram
eles quem disputavam o controle. Entretanto, não há registros de que havia con-
flitos velados entre as diversas classes sociais existentes.
A título de conclusão, podemos dizer que os fenícios compuseram uma civi-
lização que não só revolucionou o comércio antigo mas também os meios para
que esse fosse realizado, além do desenvolvimento de um meio para registrar
suas atividades.
O ESTADO EGÍPCIO
Prezado(a) aluno(a), você já parou para pensar que nas 24 horas dos nossos dias,
dos 365 dias que o ano tem, celebramos incontáveis contratos? Quando acor-
damos, muitas vezes, somos despertados por um aparelho que, ao adquirirmos,
sabemos que tem entre suas funções um despertador. Caso esse “contrato” não
fosse cumprido, você teria o direito de solicitar uma troca junto ao vendedor.
Em uma outra situação, você acende a luz e dá início a um outro contrato; vai ao
banheiro e, ao realizar sua higiene pessoal, são celebrados inúmeros outros con-
tratos, pois cada produto adquirido por você teve como objetivo cumprir uma
função. Até no momento em que estamos dormindo, estamos diante de um con-
trato, pois dormimos em camas e colchões que foram adquiridos com o objetivo
de nos proporcionar boas noites de sono. Enfim, contratos e mais contratos são
O ORIENTE PRÓXIMO
57
A FORMAÇÃO DO EGITO
Uma das hipóteses mais aceitas sobre o surgimento das primeiras civilizações,
O Estado Egípcio
58 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
períodos de cheias e vazantes tornem o solo bastante produtivo. Em resumo, as
civilizações que se fixaram às margens dos rios foram denominadas de “civili-
zações hidráulicas”, como já assinalamos anteriormente.
Muitos autores apontam que a transformação do Egito em um reino unifi-
cado se deu em razão da denominada “hipótese causal hidráulica”. Entretanto,
Cardoso (1982) nos aponta o que ele chama de falência dessa hipótese. Em linhas
gerais, o autor defende que com as mudanças climáticas ocorridas na região afri-
cana, como o surgimento de desertos e a diminuição da quantidade de terras
férteis, para que houvesse um maior e mais racional aproveitamento dos recursos
naturais, fez-se necessária a existência de um Estado centralizado que pudesse
dirigir as ações e levar uma otimização dos recursos. Ou seja, não foi a abun-
dância de recursos, mas sim a falta deles.
É forte a tentação de atribuir a unificação do Egito num só reino,
ocorrida por volta do ano de 3000 a.C., à necessidade de uma adminis-
tração centralizada das obras de irrigação para o bom funcionamento
da economia agrícola num país de clima desértico (CARDOSO, 1982,
p. 18).
Não obstante, cabe aqui uma crítica de nossa parte. Sendo Cardoso um histo-
riador que opta por um referencial coletivista, de fato ele despreza a existência
dos indivíduos, como se todos aqueles que habitavam a região, em unanimidade,
aprovassem a centralização. Isso parece algo muito difícil de ter acontecido, mas,
como uma das principais ferramentas do historiador é o senso crítico, cabe a você,
futuro(a) professor(a) de História, pesquisar e chegar às próprias conclusões.
Em se tratando da falência do modelo causal hidráulico destacada por
O ORIENTE PRÓXIMO
59
Cardoso (1982), que reluta em aceitar tal hipótese, podemos afirmar que com
essa leitura da história fica explícito que nem sempre os homens agem como ani-
mais, mas sim condicionados a sua própria razão, pois o que nos diferencia dos
outros animais é o nosso poder de raciocínio e organização política.
Então, sintetizando o que defendeu Cardoso (1982), pode até ser que a abun-
dância de recursos naturais tenha predominado durante certo tempo, mas não
se deve a ela, exclusivamente, a existência do Egito. Muito pelo contrário. O que
promoveu a unificação foi a escassez de recursos disponíveis a todos e, para que
houvesse melhor aproveitamento destes, em uma região de clima desértico, uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
espécie de pacto social foi celebrado para que uma entidade superior – o Estado
– pudesse direcionar as necessidades e as habilidades dos seus habitantes pro-
porcionando o bem comum a todos.
Cyril Aldred (1970), pelo que perceberemos, acredita também que a unifi-
cação do Egito se dá mais pela necessidade de se estabelecer uma organização
dos recursos, corroborando com o que foi destacado por Cardoso anteriormente:
A primeira unificação do Egipto foi a obra do lendário Menes, talvez
Narmer, que admitiu a existência de dois Egiptos, o do Norte e o do Sul,
e que, tornando-se rei de ambos, associou na sua pessoa duas forças
opostas. Mais por um acto de reorganização do que por conquista, con-
seguiu que, de uma dualidade em guerra, surgisse a ordem. O padrão
que criou tinha uma autoridade de tal modo santificada que os seus
sucessores nunca pensaram em modificá-lo (ALDRED, 1970, p. 52).
O Estado Egípcio
60 UNIDADE II
Essa autoridade santificada será uma das características mais importantes a ser
considerada para compreender a estrutura social egípcia. O Faraó era tido pelos
seus subalternos como um Deus vivo.
Desplancques (2011, p. 26) fez importante destaque sobre o Faraó:
O termo “faraó” vem de uma expressão egípcia que significa “grande
casa”. É somente a partir do Novo Império que ele passa a designar
a pessoa do rei. A ideologia egípcia faz do soberano o defensor dos
valores fundamentais e da Maât (princípio da harmonia universal). O
Estado existe para que a Maât seja realizada. Do mesmo modo, a Maât
deve ser realizada para que o mundo seja habitável. Mesmo sob as do-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
minações estrangeiras, a noção de faraó foi mantida. Algumas dinastias
estrangeiras foram inclusive protetoras de tais valores monárquicos. No
entanto, a noção de faraó evoluiu com o tempo.
Além de nos trazer uma definição sobre a palavra faraó, a citação também reforça
a ideia que discutimos anteriormente sobre a formação do Egito. Quando o autor
descreve o significado etimológico como sendo o faraó o defensor dos valores
fundamentais, também o coloca como responsável por manter a harmonia do
universo. Ou seja, de fato, podemos afirmar que a formação do Egito e a sua uni-
ficação em torno de um governante único deve ter ocorrido durante um período
de muitas dificuldades.
Será que o faraó foi o responsável por tornar aquele local habitável?
Reflita prezado(a) aluno(a), pois a reflexão e o exercício de interpretação de-
vem estar entre nossas práticas cotidianas.
O ORIENTE PRÓXIMO
61
Uma coisa era certa para os egípcios: a finitude da vida terrena. Certamente
você, acadêmico(a) de História, já deve ter ouvido que a única certeza de nossa
vida é a morte. Se vamos viver 50 ou 100 anos, se seremos ricos ou famosos, isso
ninguém pode afirmar, mas é uma certeza inquestionável que todos nós vamos
um dia falecer. Embora seja um assunto que, para muitos, cause ojeriza, para os
Egípcios, a morte era algo natural, ou seja, fazia parte da vida. Por isso, o autor
enfatizou a simplicidade com que o tema era tratado por eles e como isso che-
gou a ser reconfortante.
A preocupação com os detalhes do funeral, os adornos, o amor demonstrado
pelos familiares do defunto, tudo isso chamou muito a atenção do autor, que che-
gou a se interrogar do porquê de tudo aquilo. Bakos faz a seguinte afirmação:
O Estado Egípcio
62 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vivos tinham de serem importunados pelos mortos, se acaso estes viessem a ser
esquecidos, era uma preocupação grande, isso justifica, em parte, todo o cui-
dado tomado com os rituais e o preparo do defunto.
As afirmações feitas por Bakos (2009) são oriundas de pesquisas que utili-
zaram como fontes as cartas escritas para os mortos. Essas cartas serviam para
pedir, informar, reconfortar, enfim, tinham utilidades variadas e eram deposita-
das com as oferendas feitas aos mortos junto as suas catacumbas.
Como as fontes são indispensáveis ao ofício do historiador, é importante
sempre mencionarmos algo a respeito. Tendo como parâmetro outras civiliza-
ções contemporâneas à civilização egípcia, a existência de documentos para o
estudo desta é maior. Entretanto, isso não quer dizer que haja uma abundância
deles. Dificuldades há para todo e para qualquer estudo científico. A respeito
disso Aldred (1970, p. 53) enfatiza:
O período arcaico abrangido pelas duas primeiras dinastias é, em par-
te, desconhecido. Conhecem-se os nomes dos reis através das listas de
Mâneton, um sumo sacerdote egípcio que, no reinado de Ptolomeu Fi-
ladelfo, escreveu em grego uma História do Egipto, que hoje subsiste
apenas em resumos e extractos truncados de obras de autores posterio-
res. A pedra de Palermo, grandemente danificada, conserva os anais de
apenas alguns reis desta época e há também as listas cuidadosamente
publicadas, dos últimos faraós, que, todavia, registraram os seus remo-
tos antepassados sob nomes diferentes daqueles que foram encontra-
dos nos primitivos monumentos. Existem também testemunhos arque-
ológicos exactos, especialmente dos túmulos ou cenotáfios saqueados
de Abidose Sacará, que, conforme se crê, seriam dos governadores, das
suas famílias e dos seus partidários.
O ORIENTE PRÓXIMO
63
(...) Foi sem descontentamento na sua parte contra mim que você foi
trazida para a cidade da Eternidade. Se é o caso de que essas injúrias
estão sendo infringidas contra sua vontade, seu falecido pai continua
influente (na) necrópolis. Se há alguma reprovação no seu coração, es-
queça isto pela saúde de suas crianças. Seja bondosa, que os deuses do
nomo Thinita serão bons para você (WENTE, 1993, p. 14).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O Estado Egípcio
64 UNIDADE II
A citação no faz refletir sobre a importância que o camponês possuía para a manu-
tenção da sociedade egípcia. Entretanto, muitas vezes, a esse camponês é atribuído
papel secundário na história. Conforme já destacamos, prezado(a) aluno(a), o
que pode ser bom para um, pode não corresponder à vontade do outro. Em se
tratando do conhecimento histórico, o papel exercido pelos camponeses na prin-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cipal fonte de riqueza do Egito, a agricultura, é indiscutivelmente indispensável.
Durante toda história do Egito Antigo, o que sabemos é que sua estrutura social
era extremamente rígida, imutável. Cada qual possuía sua função dentro dessa socie-
dade e, além disso, a possibilidade de vir a subir um degrau dentro dessa estrutura
era praticamente inexistente. Não obstante, embora o camponês execute um papel
essencial dentro dessa sociedade, este pertencia a uma das classes sociais mais infe-
riores. Ao camponês era relegado o degrau mais baixo da estrutura social egípcia.
O camponês situava-se no degrau inferior da escala social, era uma
molécula da enorme massa de gente vulgar, indistinta, que constituía a
maioria da população egípcia. Lutava durante toda vida com a miséria, as
privações e o cansaço físico e desaparecia sem deixar no mundo vestígios
de si próprio: o seu cadáver era abandonado no deserto ou, na melhor
das hipóteses, era lançado para uma estreita vala cavada na areia, sem
qualquer pedra tumular com seu nome (CAMINOS, 1994, p. 15).
O ORIENTE PRÓXIMO
65
meio dos relatos escritos por eles, podemos saber qual era o real sentido da vida
desses homens de trabalho.
Quanto a essas fontes, Caminos faz o seguinte alerta:
Tem de se reconhecer que as fontes de que dispomos estão distribuídas
em um modo bastante desigual, quanto à época e quanto aos locais;
apesar disso, parece-nos possível traçar um quadro relativamente co-
erente dos vários aspectos da vida agrícola que, como esperamos, não
andará muito longe da realidade. O leitor deve ter sempre presente que
os Egípcios eram um povo bastante conservador e que, em todas as
sociedades, as atividades agrícolas e os camponeses são, e sempre fo-
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O Estado Egípcio
66 UNIDADE II
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Quando ocorria esse problema e a produção ficava comprometida, o Egito ficava
vulnerável a ataques de outros povos. Quando tal período se prolongava demais
e esses ataques se concretizavam, costumava-se classificar esse período como
sendo intermediário. Na ordem cronológica da história Egípcia, ocorreram dois
períodos intermediários, conforme podemos ver no quadro a seguir:
Quadro 1: Dinastias Egípcias
O ORIENTE PRÓXIMO
67
Como ficou exposto, entre os reinos Antigo, Médio e Novo, houve os períodos
ditos intermediários, que eram épocas de extrema miserabilidade e dificuldades
diversas, inclusive sendo o Egito dominado por outros povos. Segundo Cardoso
(1982), a Anarquia e a descentralização eram as marcas principais desses perí-
odos. Em suma, os monarcas, que antes haviam se submetido ao poder de um
faraó, começaram a se comportar como pequenos reis, causando problemas na
administração da colheita e das obras que serviam para disciplinar a atividade
do rio Nilo como diques e barragens.
Nômades asiáticos aproveitaram a confusão para invadir parte do
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O Estado Egípcio
68 UNIDADE II
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Ele se apodera de dois países e os celeiros se enchem, os entrepostos. Re-
gurgitam, os bens dos pobres se multiplicam; torna feliz cada um conforme
seu desejo... Não se esculpem pedras nem estátuas em tua honra, nem se
conhece o lugar onde ele está. Entretanto, governas como um rei cujos de-
cretos estão estabelecidos pela terra inteira, por quem são bebidas as lágri-
mas de todos os olhos e que é pródigo de tuas bondades.
“O Egito é uma dádiva do Nilo” (Heródoto de Halicarnasso).
O ORIENTE PRÓXIMO
69
O Estado Egípcio
70 UNIDADE II
FARAÓ
NOBREZA
ESCRIBAS
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MILITARES
ARTESÃOS
CAMPONESES
ESCRAVOS
Figura: Pirâmide Social do Egito Antigo
Fonte: o autor
O que podemos compreender do que fora exposto sobre o Egito é que a sua
formação somente foi possível pela organização de um Estado extremamente
centralizador, que contava com uma estrutura burocrática que funcionava com
relativa eficiência. Entretanto, para que isso fosse possível, havia uma rígida
estrutura social com mobilidade social praticamente inexistente e isso era impor-
tante para que o Faraó, por meio dos seus subalternos, pudesse manter a ordem
interna de seu reino.
Não podemos nos esquecer do Rio Nilo e de sua fundamental importância
na existência do Egito. Sem esse rio, o Egito, da maneira como foram erigidas
suas bases, jamais existiria como ficou patente nas palavras de Heródoto.
O ORIENTE PRÓXIMO
71
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
1. Explique de que forma a constituição de leis escritas foram importantes para a
organização da vida social no Oriente Próximo.
2. Conforme destacou Cardoso (1982), explique-nos as razões pela qual a teoria
da causalidade hidráulica não pode ser mais aceita.
3. A utilização da literatura funerária é importante para o estudo do Egito? Justifi-
que e descreva a maneira como os egípcios enfrentavam a morte.
4. Analise e descreva a importância do camponês para a economia egípcia.
5. Reflita sobre a frase do historiador Heródoto presente no texto e descreva a
importância do Rio Nilo para a existência do Egito.
MATERIAL COMPLEMENTAR
QUADRO SINÓTICO
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Sobre a importância dos indícios para a produção do conhecimento histórico, sugerimos a você a leitura de
duas obras que foram importantes para a efetivação desta metodologia de pesquisa. São elas: “O queijo e os
vermes” de autoria de Carlo Ginzburg e, também do mesmo autor, a obra “Mitos, emblemas e sinais”.
Material Complementar
Professor Me. Kleber Eduardo Men
A POLÍTICA E A SOCIEDADE
III
UNIDADE
DA GRÉCIA ANTIGA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Identificar os povos que compuseram a civilização Micênica, bem
como compreender o que foi a Civilização Creto-Micênica.
■■ Estudar a importância das obras de Homero para o estudo da Grécia
Antiga.
■■ Compreender como se deu a formação da polis grega.
■■ Conhecer o processo de consolidação da democracia, bem como o
estabelecimento das principais instituições jurídicas.
■■ Estabelecer um comparativo entre o modelo de educação ateniense
e espartano na formação de seus cidadãos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O período arcaico e a formação da polis
■■ As instituições gregas
■■ A educação grega
■■ Apogeu e queda de um império
79
INTRODUÇÃO
Parece ser inútil tentar estabelecer um momento exato para definir quem são e
de onde vieram os Gregos. Mais inútil ainda é buscar sua gênese pelo viés lin-
guístico, como tentam fazer com os indígenas brasileiros. O fato é que descrever
a origem do povo grego com precisão não parece ser uma tarefa prudente, pois
na região onde essa civilização foi constituída não era plenamente hegemô-
nica, o que pode ter provocado fixações de povos vindos de várias regiões, em
momentos diferentes.
Introdução
80 UNIDADE III
A região onde a civilização grega parece ter se originado de forma mais orga-
nizada foi na Península Balcânica.
A Península Balcânica constituiu-se o centro original da civilização
grega. Esta região é delimitada, por um lado, pelo Mar Mediterrâneo
e, por outro, pela alternância de montanhas rochosas e despenhadeiros
e alguns vales férteis para a agricultura. A pobreza do solo e as condi-
ções físicas desfavoráveis, como relevo acidentado, invernos e verões
rigorosos, períodos longos de seca, incentivavam os deslocamentos po-
pulacionais e, portanto, a expansão grega por outras terras (FUNARI,
2011, p. 13).
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Nas palavras do autor, percebemos que a região onde provavelmente os gregos se
fixaram era bastante complexa e de difícil estabelecimento. Deve-se a isso a difi-
culdade em se estabelecer um padrão único de análise da formação desse povo.
Entretanto, o que fica mais do que claro ao olharmos os documentos e bibliogra-
fias especializadas em história da Grécia é que essa civilização não se originou
a partir de um grupo civilizatório apenas, pois as próprias condições desfavo-
ráveis à produção da subsistência fez com que os povos habitantes da Península
fossem procurar novos ares, estabelecendo novos contatos e formando aquilo
que se convém chamar de civilização Micênica.
Para a Criméia
A GRÉCIA ANTIGA
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Fonte: <http://history-sociology.blogspot.com.br/2012/05/grecia-antiga-e-cidade-de-maratona.html>.
Acesso em: 16 abr 2014.
Parece que a Grécia se originou, primeiramente, a partir dos povos Aqueus, Jônios
e Eólios, como ficou demonstrado. Além deles, temos a importante participação
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pela evolução da escrita do povo grego (FUNARI, 2011).
Os Gregos evoluíram e formaram uma civilização que é sempre mencionada
nos manuais de História Geral como “Civilização Micênica”. No que diz respeito
ao poder político, este era composto por reinos independentes, os quais com-
preendiam poderosas cidades. Entretanto, caro(a) aluno(a), uma questão se faz
pertinente: quais os fatores que poderiam legitimar a dominação de um reino
sobre várias regiões, neste caso, as cidade? Esta questão nos parece evidente
quando percebemos o que fora destacado anteriormente.
Sendo a região onde se formou a civilização grega um local pouco presente-
ado pela natureza com recursos naturais, principalmente em se tratando do solo
e clima favorável à produção da subsistência, a necessidade de haver um poder
central que controlasse a utilização dos parcos recursos existentes era indispen-
sável. Assim como no Egito, cuja civilização foi estudada na unidade anterior,
algumas regiões da Grécia também precisaram constituir um governo central
para que os recursos fossem melhores explorados na finalidade de produzir sub-
sistência. Entretanto, faz-se necessário explicar que essa configuração não foi
homogênea, pois cada local se comportou de uma maneira distinta.
Em suma, prezado(a) aluno(a), podemos concluir que, no que diz respeito à
formação inicial da Grécia, os povos aqueus, jônios e eólios foram os responsá-
veis por sua consolidação. Ao longo de aproximadamente mil anos, esses povos
interagiram, criaram uma identidade, estabeleceram relações com a Ilha de Creta
e constituíram a Civilização Creto-Micênica.
Entretanto, essa civilização Creto-Micênica desapareceu em aproximada-
mente 1.200 a.C. A chegada dos Dórios colocou fim ao brilho da civilização
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mentos que se referem ao período inicial da Grécia devem ser observados com
atenção especial, visto as dificuldades já mencionadas.
Acrópole de Atenas
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poraneidade. Não seria prudente criticarmos o ideal democrático dessa polis,
sem compreender o sentido da democracia sob a ótica da própria evolução do
conceito nessa sociedade.
Imagine, prezado(a) aluno(a), que você viva em uma cidade onde as mulhe-
res possuíssem papel secundário, não gozando dos direitos de cidadão, bem como
onde apenas homens, maiores de 21 anos, filhos de pais e mães nativos dessa
cidade, pudessem exercer seus plenos poderes. Certamente, tudo poderia passar
por sua cabeça, menos que essa hipotética cidade fosse regida por um sistema
político democrático. Portanto, para se compreender esse conceito, indispensá-
vel se faz analisar sua evolução histórica.
Como podemos perceber, a palavra tirano não foi empregada no caso descrito
acima para adjetivar alguém como sendo desprovidos de escrúpulos frente a um
governo. O tirano era uma pessoa que governava sem legitimidade, como bem
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ficou definido. Enfim, o tirano era como um remédio amargo que tinha o obje-
tivo de colocar fim a uma situação de descontrole social.
Após anos de Tirania, Atenas viu florescer um sistema que futuramente se cha-
maria de Democracia. Afinal, o que é democracia? Segundo Alexis de Tocqueville,
em sua obra clássica “A democracia na América”, escrita no século XIX, essa ins-
tituição consiste em uma igualização crescente de direitos, ou seja, ela não nasce
do dia para a noite, sendo fruto de uma construção crescente, onde a cada dia a
consciência humana vai tomando conhecimento de suas obrigações, direitos e
deveres. Isso também serve para aqueles que detêm o poder político, pois acua-
dos pela necessidade de transformar, muitas vezes, são obrigados a ceder parte
de seus poderes para que a estabilidade seja mantida.
Em suma, uns perdem e outros ganham no intuito de promover o bem-estar
geral. É importante salientar que, embora as coisas não sejam tão fáceis assim,
o que objetivamos com essa singela explicação, prezado(a) aluno(a), é exem-
plificar como o conceito de democracia é algo totalmente discutível e relativo.
Vale salientar, mais uma vez, que não há sociedade sem direito (ubi sicietas
ibi jus). Na Grécia, berço da instituição democracia, não poderia ser diferente. O
direito se inicia primeiramente com o estabelecimento de regras ao convívio social
para que os conflitos fossem pacificados, por isso a importância dos legisladores:
Retirar o poder das mãos da aristocracia com leis escritas foi o papel
dos legisladores. Coube-lhes compilar a tradição e os costumes, modi-
ficá-los e apresentar uma estrutura legal em forma de leis codificadas.
O primeiro legislador de que se tem conhecimento é Zaleuco de Locros
(por volta de 650 a.C.), figura lendária a quem é atribuído o primeiro
código escrito de leis. Em seu livro A Grécia antiga, José Ribeiro Fer-
Como descrito acima, a importância dos legisladores não foi apenas a de criar
leis, mas sim de tirar o poder que antes se restringia apenas à aristocracia, o que
provocou o início da quebra desse paradigma.
Entre os legisladores atenienses, Drácon e Sólon tiveram papel de desta-
que. Você certamente já deve ter visto algum dia, seja na literatura ou em algum
filme, a expressão “lei draconiana”. Isto se deve a Drácon (620 a.C.), pois foi ele
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Conforme foi possível perceber, as leis criadas por Sólon ou aquelas que foram
reformadas por ele tiveram uma amplitude maior. Foram leis que não focavam
apenas nas questões pessoais, mas também questões patrimoniais, além de expres-
sar sua preocupação com as questões sociais e econômicas. Ainda assim, temos
a questão da educação, pois, ao prescrever que os pais devem ensinar a seus
filhos um ofício, o legislador preocupa-se com o futuro das próximas gerações.
Em suma, a Democracia foi uma crescente conquista de direitos e deveres,
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regime democrático, a partir do século IV a.C. De acordo com esta in-
terpretação, os pobres ociosos foram incentivados a participar da vida
política, tomando parte nas assembleias graças a uma ajuda monetária.
Isto acabou levando à demagogia, ou seja, ao domínio das assembleias
populares por líderes manipuladores e inescrupulosos, porque os po-
bres seriam ignorantes, ociosos que só estavam interessados no paga-
mento que recebiam por participar (FUNARI, 2011, p. 40).
AS INSTITUIÇÕES GREGAS
As Instituições Gregas
92 UNIDADE III
até a prestação de contas ao final dos trabalhos. A atividade nessa instituição era
remunerada, pois deveriam seus membros abdicar de outros afazeres pelo prazo
de um ano, o tempo de duração da gestão.
Esse órgão, segundo Souza (2006), era uma espécie de parlamento moderno
e auxiliava a Assembleia em casos que necessitavam de dedicação total. Entre
suas principais atividades, “destacam-se a de preparar os projetos que seriam
submetidos à Assembleia, controlar os tesoureiros, realizar a prestação de con-
tas dos magistrados, receber embaixadores” (SOUZA, 2006, p. 71), dentre outras
atribuições.
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Também havia os Prítanes, uma espécie de elo entre a Assembleia, Boulé,
magistrados e estrangeiros. Essa instituição era composta de 500 membros,
organizados em 10 grupos de 50. Dentre suas funções, destacava-se ficar com
as chaves dos templos onde ficavam os tesouros e os arquivos.
Outra instituição era os Estrategos, compostos por dez cidadãos. Para se tor-
nar membro, deveria ser casado, ser cidadão nato, além de possuir recursos para
seu sustento já que essa atividade não era remunerada. Sua função era basica-
mente o de polícia, pois os comandos do exército, a distribuição dos impostos
da guerra, além da defesa nacional, estavam sob seu controle (SOUZA, 2006).
Os magistrados eram escolhidos entre os candidatos eleitos, sem qualquer
chance de reeleição, justamente para evitar vícios. Em Atenas, houve várias magis-
traturas, a mais importante delas era os Arcontes.
Em linhas gerais, podemos dizer que em Atenas a estrutura administrativa,
tanto do setor de preservação das cidades quanto da justiça, deu as bases da
estruturação de nossas instituições modernas. Os Estados Unidos da América,
por exemplo, são considerados a primeira democracia moderna do mundo, pois
desde sua independência, em 1776, o que se viu nascer nesse país – embora o
conceito de democracia seja bastante discutível – foi uma estrutura de governo
feita pelo povo para o povo.
No que diz respeito às instituições responsáveis por organizar e cuidar da
justiça ateniense, Souza destaca:
Sempre coube ao Estado o papel de administrador da justiça e assim
tem sido até nossos dias, constituindo a Grécia antiga, no modelo ate-
niense, a grande exceção. Corno detentor da soberania, ao povo, e so-
A título de comparação, embora para o historiador esta nem sempre seja a ati-
tude mais prudente, podemos elucidar mais uma vez a importância do sistema
jurídico norte-americano. Como ficou exposto, o povo tinha a soberania das deci-
sões judiciais em Atenas. As instituições populares, como o conhecido Tribunal
do Júri, que exerciam a soberania do povo.
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As Instituições Gregas
94 UNIDADE III
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Como foi possível perceber, o Areópago julgava os homicídios dolosos, ou
seja, aqueles em que o autor do crime tinha a intenção de matar. Já o tribu-
nal dos Efetas julgava os crimes culposos, em que o autor não teve a intenção
de cometer o ato, e também aqueles que, embora houvesse dolo, fora feito em
legítima defesa.
Já a justiça civil era mais complexa. Havia várias competências diferentes,
por exemplo, os juízes dos demos. Eram esses os responsáveis por julgar as cau-
sas que não ultrapassassem cerca de 20 salários ou 10 Dracmas. Podemos afirmar
que esse tribunal possuía o papel que o nosso Juizado Especial Cível exerce hoje,
conhecido popularmente como juizado de pequenas causas.
Para se ter uma ideia da importância disso, no Brasil, tal instituto foi criado
no final do século XX, enquanto, por volta do século V a.C., isso já existia em
Atenas. Tanto em Atenas como em terras Tupiniquins, esse tipo de instituto jurí-
dico foi criado para facilitar a vida daquelas pessoas que não iam atrás da justiça
devido ao difícil acesso.
Além dos juízes dos demos, havia também a Heliaia, onde a maioria dos
processos era julgada por júris populares. Também havia os Árbitros, que resol-
viam basicamente assuntos relativos ao direito de família. Além dos juízes dos
tribunais marítimos (SOUZA, 2006).
Como ficou evidente, a estrutura institucional de Atenas estava à frente do
seu tempo. Esse é um dos legados mais importantes dessa civilização, pois até
hoje exerce grande influência nas instituições jurídicas contemporâneas.
A EDUCAÇÃO GREGA
A Educação Grega
96 UNIDADE III
tantes da vida social tem uma caráter de plena publicidade, ligadas que
estão a interesses comuns, assumindo um aspecto democrático, inclu-
sive no que tange à cultura (CAMBI, 1999, p. 78)
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instrumento de manifestação.
Com a polis, surge também o homem público, aquele sujeito que vai se inte-
ressar pelos temas que dizem respeito à coletividade, e não apenas aos casos
particulares. Em suma, com a polis, nasce a política. Para tanto, é necessário que a
educação norteie esse novo homem político, público, que se insere no bojo dessa
transformação que ocorre nos primeiros séculos do período arcaico.
Esse novo homem que nasce no seio da polis precisa estar em consonância
com os valores sociais que foram moldados, ou seja, ele precisa se sentir parte
desse meio, ter consciência das regras, das leis, dos institutos, dos direitos, deve-
res, dentre outros (CAMBI, 1999).
Retornando ao nosso objeto principal – as polis de Atenas e Esparta, Cambi
(1999) assim as define:
Esparta foi um modelo de Estado totalitário; Atenas, de democrático,
e de uma democracia muito avançada. Até seus ideais e modelos edu-
cativos se caracterizavam de maneira oposta pela perspectiva militar
de formação de cidadãos-guerreiros, homogêneos à ideologia de uma
sociedade fechada e compacta, ou por um tipo de formação cultural e
aberta, que valorizava o indivíduo e as suas capacidades de construção
do próprio mundo interior e social. Esparta e Atenas deram vida a dois
ideais de educação: um baseado no conformismo e no estatismo, ou-
tro na concepção de Paideia, de formação humana livre e nutrida de
experiências diversas, sociais, mas também culturais e antropológicas
(1999, p. 82).
Sabemos que o isolamento é um fator decisivo para que uma determinada civi-
lização seja impedida de se desenvolver. No mundo atual, prezado(a) aluno(a),
observamos que os embargos econômicos são uma arma poderosa do mundo glo-
balizado. Caso um país não se enquadre nos padrões ditados pela maioria, cedo
ou tarde, esse sofrerá os castigos por sua rebeldia e será privado de ter acesso a
produtos, pois os demais países, como forma de retaliação, passam a não forne-
cer mais os bens necessários ao seu desenvolvimento. Sejam esses produtos de
necessidades básicas ou com maior mão de obra agregada.
Em suma, o isolamento nos dias atuais é o pior dos castigos. Entretanto, em
Esparta, o isolamento pode ter sido o fator principal do desenvolvimento ou
por que não, do recrudesci-
mento do homem. Destarte,
formou-se nessa região uma
civilização totalmente devota
à força bruta, ao militarismo,
à força física e muito pouco,
às virtudes humanas, da alma
e do saber.
A sociedade espartana
era estratificada, ou seja,
era dividida em camadas e
não havia possibilidade de
Abaixo as ruínas de Esparta
A Educação Grega
98 UNIDADE III
ascensão social. Em linhas gerais, essa sociedade era basicamente dividida entre
espartanos – os cidadãos possuidores de direitos – e os hilotas – que na verda-
deira acepção da palavra eram pessoas aprisionadas, ou seja, uma espécie de
servo. Segundo Funari (2011, p. 28), “cada espartano adulto tinha um lote de
terra próprio, cultivado por muitas famílias de hilotas”.
Devido à intensa agressividade dos espartanos e à necessidade de conquis-
tas, a formação militar era extremamente rígida.
Todos os homens de Esparta, chamados de esparciatas, eram guerrei-
ros, sendo proibidos por lei de exercer atividades que entrassem em
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conflito com a carreira militar. Devemos nos lembrar de que, no mun-
do antigo as guerras eram sazonais, ou seja, ocorriam, normalmente,
no verão. Durante o restante do tempo, os esparciatas ficavam mobi-
lizados em acampamentos militares, sempre em exercícios militares e,
mesmo para dormir não largavam suas armas, as quais estavam sempre
ao lado dos soldados (FUNARI, 2011, p. 30).
Por conta dessa formação militar constante, a relação dos cidadãos com o Estado
espartano era bastante particular, pois esses cidadãos deviam fornecer os guer-
reiros que Esparta necessitava. Para isso, o cuidado com a formação das crianças
era indispensável, pois estas seriam os futuros soldados.
A seleção dos futuros guerreiros de Esparta já começava desde a mais tenra
idade. Quando, ainda bebês, os meninos eram levados até os anciãos para que
fossem avaliados fisicamente. Ao menor sinal de que essa criança não seria capaz
de se tornar um guerreiro forte, capaz de colocar sua força a serviço do Estado,
se não fosse robusta ou apresentasse qualquer defeito físico aparente, essa seria
descartada. Isso mesmo, caro(a) aluno(a)! Descartada. Esses meninos eram ati-
rados de cima do monte Taigueto. O infanticídio era uma política de Estado.
Após esse rigoroso processo de seleção, cabia aos pais a tutela sobre essa
prole até os sete anos de idade. Após isso, cabia ao Estado resguardar os seus
interesses colocando-os sob seus domínios. Como podem perceber, a educa-
ção espartana tinha um objetivo claro, servir aos interesses militares do Estado,
como bem destacou Funari:
Os meninos espartanos tinham uma educação militar rígida. Nada
mais sisudo do que o modo de vida de Esparta. Nesta sociedade de fer-
ro, desde a mais tenra infância, os garotos eram criados como futuros
Mas isso não acaba por aí. A preparação durava até os 17 anos quando esses futu-
ros guerreiros passavam por uma prova de fogo. Era uma espécie de batismo de
sangue. Eram submetidos a duras provas como andar descalços, nus, tomar banho
apenas em água fria e possuir vestimentas parcas, apenas o necessário. Tudo isso
para que crianssem resistência e pudessem enfrentar as intempéries que as guerras
provocavam. Isso somente
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A Educação Grega
100 UNIDADE III
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suma, significava votar e poder ser votado, por isso a importância dessa educa-
ção voltada à oratória, à filosofia e outras ciências.
Todavia, a prática da cidadania estava restrita a um pequeno grupo de
pessoas, que eram os cidadãos atenienses. Para que esses cidadãos pudes-
sem exercer o seu direito, certamente o direito de alguns, naquele contexto,
seria afetado. Se os atenienses natos desprezavam o trabalho manual, quem
seriam os responsáveis por produzir a subsistência? Em outras palavras: quem
trabalhava nesta sociedade? Acertou quem pensou nos escravos! Segundo
Carvalho (online):
Atenas representa uma organização civil, de tendência espiritual, na
qual a primitiva educação de âmbito e sentido patriarcal e aristocrá-
tico se foi alargando aos jovens atenienses livres, em correlação com
o alargamento dos participantes na vida pública, até atingir, depois da
reforma de Clístenes (509 a.C.), a forma da democracia, na qual, aliás,
somente participavam os atenienses livres, a quem o braço dos escravos
proporcionava a libertação do trabalho, a atividade política e as ocupa-
ções desinteressadas da cultura. Foi em Atenas que pela primeira vez
apareceu a consciência individual em face do Estado e para além da
educação física, técnica e moral, se instituiu a educação intelectual, no
mais alto sentido da palavra, tendente a formar no cidadão o homem
apto a desenvolver os dotes e energias do espírito.
Como foi demonstrado por Carvalho, eram os braços dos escravos que pro-
porcionavam a liberdade para a prática da cidadania ou, como bem destacou
Cambi (1999), a prática da ociosidade. Não obstante, o que mais fica evidente
é a essência do ser humano, da individualidade prevalecer frente aos interes-
ses do Estado.
Um conceito tão elementar como esse, mas que poucas pessoas se dão conta da
importância que isso tem para a dignidade da pessoa humana. O que mais vemos
em nossa sociedade é a arbitrariedade constante do Estado em nossas vidas. Até
parece que estamos a serviço do Estado e não o contrário. Embora seja impor-
tante termos um Estado soberano, não podemos confundir essa soberania com
o fato de sermos subservientes a ele. O Estado existe para proteger nossos inte-
resses, não o contrário. Portanto, um ideal que será propalado no século XVIII,
com o liberalismo político iluminista, já era tido como um ideal na sociedade
grega pelo menos vinte séculos antes.
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Difícil falar em Grécia sem mencionar, mesmo que seja superficialmente, as bata-
lhas que fizeram parte da consolidação e da decadência dessa civilização como
um império na antiguidade.
Embora saibamos que a Grécia não era uma nação unificada, nos moldes
como conhecemos hoje, o fato de uma polis ter mais força do que as outras fez
com que as demais estivessem sob o jugo da vencedora, tornando assim uma
região unificada por meio da força militar.
Atenas e Esparta foram as duas polis que conseguiram exercer seus pode-
res de forma mais eficiente e, dessa forma, revezaram-se no domínio da Grécia.
Inúmeras batalhas foram travadas para que o poder de uma suplantasse a força
de outra. Entretanto, antes do domínio interno, havia primeiramente que se com-
bater os inimigos externos. O primeiro inimigo a se considerar foram os Persas:
Foi ao apoiar os tiranos que a Pérsia mais se imiscuiu na vida interna
dos estados gregos, o que acabou por levar à revolta que eclodiu em 500
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uma possível unificação da Grécia. Após essa primeira disputa, mesmo obtendo
êxito, os persas sentiram que não seria mais tão fácil manter o controle sobre essa
região, pois, mesmo com a superioridade, o tempo gasto para que seu domínio
fosse reestabelecido foi grande. Desta forma, haveria o desperdício de tempo e
de homens, o que acabou por inviabilizar esta empreitada.
A quem caberia o papel de libertar a Grécia do domínio Persa? Pelo que
fora visto até o momento, não fica difícil ao aluno deduzir que os mais prepa-
rados para enfrentar os Persas seriam os espartanos, visto sua total devoção à
arte da guerra. Entretanto, o que parece não foi o que ocorreu, conforme des-
tacou Finley:
Os Espartanos, apoiados na Liga Peloponésica, possuíam o único exér-
cito poderoso do lado grego, mas, em parte por causa das dificuldades
internas, e também devido a uma concepção estratégica falsa, foram
lentos na defesa, embora provassem aquilo de que eram capazes, nas
Termópilas e, mais tarde, em Plateias (FINLEY, 1963, p. 53).
Você sabia que a batalha entre Persas e Gregos deu nome à prova olím-
pica Maratona? Com a parcial vitória dos atenienses sobre os persas, Mil-
cíades mandou o corredor Fidípedes avisar os atenienses da vitória. Os
40 quilômetros percorridos por Fidípedes bem como o nome da batalha
deram origem a essa que é uma das provas mais clássicas das Olimpía-
das.
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Como percebemos, não foi apenas o domínio militar, mas sim uma política de
prestígio instituída por Péricles que garantiu a Atenas o domínio e sua hegemo-
nia sobre os outros. As alianças feitas por eles eram indispensáveis, visto que
elas garantiam a subsistência. Entretanto, esse domínio vai começar a sucum-
bir quando sua maior rival, Esparta, começar a se insurgir contra este domínio.
A animosidade inflamada entre Esparta e Atenas culminou com a Guerra
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do Peloponeso. Precisar as razões que levaram a essa guerra é uma tarefa difícil,
visto que, acima de tudo, a guerra era um instrumento político que, mesmo os
estados não a desejando, não faziam nada para evitá-la. Analisando Tucídides e
Platão, Finley chega a seguinte conclusão:
As causas imediatas da guerra eram tão variadas consoantes a políti-
ca e interesses dos diferentes estados, e os objetivos que prosseguiam
em dado momento. Desejo de poderio e engrandecimento, incidentes
fronteiriços, enriquecimento material através de saques (com escravos
em número elevado), proteção ao fornecimento e transporte de cereal,
procura por apoio externo para facções internas – tudo isso entrava
em jogo, intensificado pela fragmentação da Hélade, que multiplicava
o número de estados independentes ou que se queriam tornar indepen-
dentes, em atritos contínuos (FINLEY, 1963, p. 55-56).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
1. Faça uma pesquisa na internet sobre os principais povos que formaram a Grécia
e aponte suas semelhanças e diferenças, construindo uma tabela compara-
tiva.
2. Descreva qual foi a principal contribuição de Homero para o estudo dos primei-
ros tempos da Grécia Antiga.
3. Reflita sobre a importância dos legisladores para a política Ateniense e aponte
seus principais feitos.
4. Descreva de que forma a Justiça Criminal era dividida em Atenas.
5. Destaque o(s) fator(es) que os pesquisadores apontam como responsável por
ter emergido aquele tipo de civilização guerreira em Esparta.
MATERIAL COMPLEMENTAR
QUADRO SINÓTICO
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
A filosofia Grega, assim como a alemã, foi motivo de uma engraçada representação feita
pelo grupo de teatro inglês Monty Python. Assista em:
<http://www.youtube.com/watch?v=eUbSVGCYagM>.
<http://www.estudopratico.com.br/educacao-espartana-na-grecia-antiga/>
IV
ANTIGUIDADE CLÁSSICA
UNIDADE
OCIDENTAL: A HISTÓRIA DE
ROMA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer as origens da civilização buscando entender as influências
culturais.
■■ Compreender a evolução do seu sistema político bem como de suas
instituições.
■■ Estudar o processo de expansão romana e a Crise da República como
forma de entender o surgimento do Império.
■■ Entender os fatores que proporcionaram o apogeu e a crise do
Império Romano.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ As origens de Roma: mitologia versus história
■■ Da Monarquia à República Romana
■■ O Império Romano
111
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), por mais que ouçamos falar da importância de Roma para
nossa civilização, devemos compreender que a dimensão da influência desse
povo em nossas vidas é imensurável. Da educação à organização urbana, das
instituições políticas às instituições jurídicas, da religião à língua, usos e cos-
tumes, enfim, não se pode falar sobre paradigma de civilização sem destacar a
importância de Roma para isso.
O objetivo principal desta unidade é apresentar ao(à) aluno(a) do curso de
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Não podemos iniciar nosso estudo sobre a civilização romana sem destacarmos
essa dicotomia entre a versão mitológica e a versão histórica. Tanto uma quanto a
outra carecem de comprovações mais fiéis em razão da escassez de fontes que nos
permitem conhecer a fundo a verdadeira origem desse povo. A versão mais conhe-
cida, a mitológica, parece ser também aquela que, se não acreditamos, desejamos
Introdução
112 UNIDADE IV
muito que ela fosse verdadeira devido à beleza que envolve essa narrativa.
Uma das citações encontradas no epílogo de Eneida, obra do poeta Virgílio
que conta a história da fundação de Roma, remete a um grupo de foragidos da
Grécia liderados por Enéias, que fundou, às margens do Rio Tibre, um povo-
ado. Em razão do seu casamento com Lavínia, batizou esse lugarejo com o nome
da esposa.
Enéias acabou morrendo em uma batalha contra seus inimigos e coube a
seu filho, Ascânio, fundar uma cidade que chamou de Alba longa. Essa cidade
pouco a pouco se tornou atrativa para outros habitantes das cercanias o que a fez
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
crescer. Nesse contexto, ocorre o que viria a ser a mais propagada versão sobre
a origem de Roma:
Mais tarde um importante acontecimento histórico ali se desenrolou,
exatamente como fora previsto pelo deus do fogo e ficara gravado no
escudo de Enéias. Duas criancinhas, descendentes de uma princesa da
estirpe de Enéias, foram abandonadas num lugar ermo entre as coli-
nas, por intriga de um tio cruel; uma loba, que tinha perdido a cria,
alimentou-as com seu leite, e elas cresceram e se tornaram os homens
mais poderosos do país. No curso do tempo o vilarejo transformou-se
em cidade, e a cidade numa fortaleza. Seus habitantes chamavam-se
romanos e pela conquista ou aliança com países vizinhos conseguiram
pouco a pouco estender suas fronteiras e fortalecer seu poder (VIRGÍ-
LIO, 1970, p. 135-136).
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fontes escritas. S Spina
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ano de 750 a.C., a região da Península
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navegação, como fora na Grécia. Isso os
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obrigou a agirem dentro dos seus limites MAR
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fixaram nas colinas do Lácio e aí fundaram várias povoações, a mais
importante das quais, no começo do século VIII, chamava-se Alba. Em
753 a.C., diz a tradição, alguns desses Latinos deixaram Alba e foram
fundar em uma colina, a alguns quilômetros daí, uma cidade que é a
origem da cidade de Roma (ALBA, 1964, p. 7).
Devemos nos atentar ao fato de que tanto na versão mitológica quanto na versão
científica há semelhanças, compreendê-las, portanto, é mais do que obrigatório
ao professor de história.
O especialista em história romana Géza Alföldy refuta a tese de que Roma foi
fundada por Rômulo e tampouco acredita que a data mais precisa da sua fun-
dação foi o ano de 753 a.C. Para esse autor, a cidade de Roma é originária da
linhagem etrusca, como o próprio nome da cidade nos remete. De acordo com
Alföldy (1989, p. 19), a história de Roma se inicia no século VII a.C.:
Foi a partir dessa altura que as suas cidades começaram a crescer, so-
bretudo tendo por base os ofícios e o comércio ligados à mineração que
permitiram, afinal, a consolidação da unidade política e cultural dessas
cidades. Os Etruscos nunca criaram um Estado unificado: a sua vida
política assentava na existência de uma liga de doze cidades, cada uma
delas governada por um rei. A sociedade etrusca estava organizada em
dois grandes grupos: a nobreza e uma camada inferior praticamente
Para uma melhor análise, vamos dividi-la em duas partes. Primeiramente, deve-
mos nos atentar ao fato de que, no período em questão, que o autor denomina
como Roma Primitiva, a região não possuía um poder centralizado. Cada uma
de suas cidades possuía um governo independente. Com isso, podemos dedu-
zir que o processo para a formação do que foi considerado o Império Romano
resultaria, primeiramente, de uma unificação interna, capaz de centralizar as
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Queremos alertar que nosso objetivo aqui não é retratar a situação social, mas
fazer uma análise que mais se aproxime da linha teórica que destacamos na intro-
dução deste livro – a história das Instituições e das Ideias. Direcionamos nossos
olhares para assentá-lo(a) em uma base bastante sólida à formação do futuro(a)
professor(a) de história, e não poderíamos omitir tão importante informação.
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revolta da nobreza contra a monarquia, que teve provavelmente lugar
por volta de 508 a.C., ou alguns anos mais tarde. As várias tentativas
de restaurar o poder etrusco em Roma fracassaram todas; e quando os
etruscos perderam a sua frota na Batalha naval de Cuma, contra Híeron
de Siracusa, em 474 a.C., também a sua influência no Lácio se perdeu.
Embora o autor não mencione, podemos deduzir que a revolta foi motivada exclu-
sivamente pela disputa pelo poder político. Os patrícios queriam, na verdade,
o controle das ações do Estado, por isso a necessidade de se expulsar Tarquínio
e, consequentemente, abolir o sistema monárquico. A propósito, Alba (1964)
aponta como motivo da revolta dos patrícios o fato de o rei Tarquínio benefi-
ciar os plebeus.
É importante destacar o papel político da nobreza nesse cenário. Embora
o rei centralizasse todas as funções nessa estrutura administrativa, havia uma
instituição que servia como elo entre a vontade dos patrícios e o rei, que era o
Senado Romano.
Essa instituição, dominada pelos patrícios, deveria servir como contra-
ponto, fiscalizando as ações do rei. Inclusive, corroborando o que foi destacado
na citação anterior, Paixão destaca que “a mudança governamental teve origem
no descontentamento com o último rei etrusco, Tarquínio, representante de um
governo estrangeiro que negligenciou os interesses de Roma não consultando o
Senado em suas decisões” (2008, p. 50).
Mesmo com a abolição da monarquia e a instituição da República, a estrutura
social de Roma pouco mudou. Na verdade, apenas houve a abolição da realeza,
e as funções que antes eram desempenhadas pelo rei agora ficaram divididas em
várias magistraturas, que foram a base do sistema republicano.
Em suma, o que vemos não foi uma súbita e radical mudança, mas sim um
constante aperfeiçoamento das estruturas sociais e políticas. A esse respeito,
Maquiavel (1469-1527) chegou a afirmar que a República Romana era algo per-
feito, devido à não radicalização.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Foro Romano
Men (2013, p. 67) faz o seguinte destaque com relação à prudência que os
patrícios tomaram para se consolidar no poder:
Após a queda dos Tarquínios, uma dinastia de reis etruscos que ocor-
reu em 509 a.C., o temor do retorno dessa linhagem de governantes fez
com que os patrícios, classe social que dominava o Senado, agissem
com cautela, buscando não despertar a desconfiança do povo. Dessa
forma, havia um equilíbrio, pois, se de um lado os patrícios temiam o
retorno dos Tarquínios e, com isso, a perda do poder, por outro lado,
eles precisavam evitar que os plebeus nutrissem ódio pelo Senado e que
viessem a apoiar esse possível retorno.
RES PUBLICA: A fórmula mais corrente de res publica, por oposição a res
privata, tem uma definição consagrada em diversos passos de Cícero: “Res
publica, id est, res populi”. Catão já dizia que “o direito, a lei, a liberdade, a res
publica, devem pertencer ao uso comum; a glória e a honra, ao que cada um
para si acumulou”. Os imperadores continuaram a manter a expressão em
uso, a qual se ligava, se não à realidade, pelo menos à ilusão de um conceito
fundamental para o viver em comum do Povo Romano.
Fonte: adaptado de Harvey (1998, p. 400).
Foi durante a fase republicana que Roma aperfeiçoou e consolidou suas insti-
tuições. Instituições essas que tinham por finalidade administrar a coisa pública.
Vale lembrar que, na esfera jurídica, foram os romanos os primeiros a conceber
a ideia da separação do que é público do que é privado, a qual prevalece até hoje
em nosso ordenamento jurídico.
O período inicial da república foi bastante turbulento, principalmente, pela
luta constante que os plebeus travavam com os patrícios por direitos. Esses últi-
mos, após a morte do último “herdeiro” da dinastia dos Tarquínios, não tinham
mais o que temer, mas foram obrigados a ceder devido à pressão exercida pelos
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plebeus, que a cada dia era mais intensa, podendo arruinar a estrutura social e
política romana. Segundo Alba:
A situação dos plebeus foi muito dura depois do ano de 509 a.C. Eram
julgados por tribunais compostos unicamente por patrícios e segundo
leis não escritas que somente estes conheciam; os plebeus pobres de-
viam muitas vezes emprestar dos patrícios e, se não pudessem reem-
bolsar as suas dívidas, tornavam-se escravos dos seus credores (ALBA,
1964, p.8).
e julgar os atos ilegais cometidos pelos plebeus. Embora tenhamos que observar
esses acontecimentos com o maior cuidado possível para não cometermos ana-
cronismos, tal fato mais do que justificava qualquer ato de revolta por parte dos
plebeus. Sobre essa luta entre patrícios e plebeus, Alföldy (1989, p. 28-29) destaca:
Defrontavam-se, por um lado, os membros da privilegiada nobreza de
sangue e fundiária e, por outro lado, os cidadãos vulgares, cujos direi-
tos políticos eram limitados e muitos dos quais se encontravam numa
situação econômica difícil. Esse antagonismo reflectiu-se na chamada
luta de ordens entre patres e a plebs, um conflito entre patrícios e ple-
beus que durou mais de duzentos anos e teve grande repercussão na
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história dos povos das tribos da Itália dessa época, além de condicionar
o futuro da sociedade romana.
Como foi possível perceber, a conquista de direitos pode ser muito demorada.
Nesse caso, foram mais de duzentos anos de lutas para que os plebeus pudessem
conquistar direitos, que, à luz do nosso tempo, parecem elementares e inima-
gináveis a sua não existência, embora em nosso mundo atual ainda haja muitas
desigualdades, principalmente em relação às leis e oportunidades.
A primeira grande conquista dos plebeus foi a Lei das XII Tábuas. Com essa
lei, institui-se em Roma o princípio da legalidade que rezava não haver crime sem
lei anterior que o definia e nem pena sem prévia cominação legal (nulum crimen,
nulla poena sine praevia lege), esta é uma das principais bases do direito moderno.
Nesse diapasão, segundo Véras Netto, “a lei das XII Tábuas foi elaborada por
uma comissão de três magistrados, encarregados de pesquisar, na Magna Grécia,
as leis de Sólon, propiciando a criação de um código escrito de leis romanas”
(2006, p. 103). Em linhas gerais, podemos assim descrever o conteúdo dessa Lei:
Tábua Primeira:
■■ Tratava do chamamento a juízo, especificando como era feita a citação do
réu para comparecer a julgamento. Vale lembrar que não havia um mem-
bro do governo incumbido de intimar o reclamado, cabendo essa função
ao próprio reclamante.
Tábua Segunda:
■■ Tratava do julgamento e dos furtos. Neste ponto fica claro como a pro-
priedade, seja esta móvel ou imóvel, é um dos pontos com que a tutela
estatal romana mais se preocupava.
Tábua Terceira:
■■ Tratava dos direitos de crédito que, a nosso ver, consiste em um dos des-
dobramentos do direito de propriedade, visto a proteção dos negócios
econômicos. Outro ponto importante é tentar evitar que se cobrem juros
abusivos contra quem toma emprestado uma quantia em dinheiro.
Tábua Quarta:
■■ Tratava do Pátrio poder e do casamento, duas instituições muito impor-
tantes para a sociedade romana, visto que eles possuíam a consciência de
que a família era a célula mãe da sociedade.
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Tábua Quinta:
■■ Aqui temos como objeto o direito de herança e da tutela.
Tábua Sexta:
■■ Neste ponto, temos a proteção de um dos pontos chaves da estrutura
social e política romana: a propriedade. A tábua sexta contém os ele-
mentos descritivos de proteção da propriedade. Segundo Véras Netto, o
direito a propriedade,
Constituiu uma admirável base do direito civil. Roma era agrária, não
possuía exploração de minérios; os romanos cultivavam oliveira, vinha e
trigo; proibiam a compra de propriedades imóveis por estrangeiros, para
não prejudicar os nacionais (a propriedade fundiária desempenhava pa-
pel essencial para os romanos, tanto no plano econômico, como no plano
da religião, pelo culto aos ancestrais ali enterrados) (2006, p. 105).
Tábua Sétima:
■■ Tratava dos delitos. Nesse ponto, é importante perceber que a proprie-
dade sempre era objeto de proteção em qualquer âmbito. Havia proteção
sobre a produção, e, além disso, é nesta tábua que temos o cerne do
direito à personalidade, punindo aqueles que agrediam a imagem e con-
duta das pessoas.
Tábua Oitava:
■■ Tratava sobre o direito predial. Essa tábua estabelecia as regras sobre as
questões urbanas, visto que prescrevia condutas para a construção de
moradias, distância das construções, elementos das mesmas etc.
Tábua Nona:
■■ Tratava do Direito Público, um dos grandes legados do direito romano,
separando-se o que era público do que era privado. Destacamos neste
tópico o procedimento que os servidores públicos, no caso os magistra-
dos, deviam tomar com relação aos julgamentos, principalmente, não
estabelecendo privilégios na lei.
Tábua Décima:
■■ É relativo ao direito sacro, principalmente no que diz respeito ao cui-
dado com os mortos.
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Outro elemento importante na luta pela conquista de direitos pelos plebeus foi
o estabelecimento dos Tribunos da Plebe, ou como podemos perceber nas pala-
vras de Alföldy, Tribunos do povo.
O primeiro passo decisivo e, simultaneamente, o primeiro grande êxito
dos plebeus foi a criação de uma organização de autodefesa e de luta
política, bem como a sua constituição em grupo social por oposição
à nobreza. Segundo a tradição analística, este acontecimento decisivo
teve lugar no ano de 494 a.C., quando a primeira sucessão do povo foi
coroada de êxito, sendo criada a instituição do tribuno do povo (AL-
FÖLDY, 1989, 30).
Maquiavel (1970) foi um dos autores que mais valorizou a criação dos tribunos
em Roma e principalmente as batalhas que plebeus e patrícios travaram até que
essa instituição fosse criada e pouco a pouco consolidada. Para ele, como já cita-
mos anteriormente, o regime republicano de Roma fora perfeito. Apesar de o
autor ter adjetivado a República dessa maneira, não podemos julgá-lo inocente,
no sentido de que supor que ele não tenha enxergado as desavenças ocorridas
durante o predomínio desse regime. Precisamos ter em mente que, para ele, não
havia nada que pudesse ser tão bom e nada tão mal. O que era imprescindível a
ele era o equilíbrio que uma instituição deveria proporcionar e, com isso, garan-
tir o bom funcionamento da sociedade. Assim, as leis são indispensáveis.
Maquiavel (1970) valorizou a longa batalha pela qual passou Roma até que
esta conseguisse elaborar leis e organizar-se institucionalmente. Embora ao longo
da história romana os conflitos, devido à outorga de leis impopulares, tivessem
sido inúmeros, o autor acreditava que “pelo menos nunca se afastaram do cami-
nho que as poderia conduzir à perfeição” (MAQUIAVEL, 1970, p. 107).
Um dos pontos chave para compreendermos o equilíbrio é entender a impor-
tância que a criação dos Tribunos da Plebe teve nesse processo de elaboração das
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leis. Para Maquiavel (1970), essa instituição foi a responsável por aperfeiçoar o
regime republicano, sua finalidade era representar o grupo social menos favo-
recido, a plebe, frente ao poder executivo que estava nas mãos do Senado. Sobre
o papel do Senado na República Romana, leciona Paixão (2008, p. 52):
A República como forma de governo, representou o apogeu do regime
senatorial. A vitória obtida sobre Cartago e a conquista do Oriente de-
senvolveram bem depressa suas consequências políticas. Todo cidadão
tinha o direito de se opor a qualquer decisão do Senado ou dos ou-
tros magistrados, o chamado direito de veto. Contudo, o poder estava
centrado em uma instituição denominada Senado. Sua composição se
fazia por membros escolhidos anualmente pelos censores, entre os ci-
dadãos que tivessem sido questores pelo menos uma vez, e inscritos
no grande livro – album. O papel das assembléias era, principalmente,
votar as leis propostas por membros ou pelos magistrados e aprovar as
declarações de guerra ou tratados de paz.
A EXPANSÃO REPUBLICANA
Quais fatores levaram aquele pequeno povoado que surgiu às margens do Rio
Tibre a se tornar um dos maiores impérios de toda história da humanidade? Quais
são as explicações que justificam tal crescimento? Um dos fatores que podemos
apontar como justificativa foi a relativa ordem interna atingida com o equilíbrio
desenvolvido pelas instituições romanas. As diversas mudanças ocorridas desde
a eliminação da monarquia levaram Roma à outra dimensão política. A relação
entre patrícios e plebeus havia melhorado. “O povo já não era uma massa sem
voz política, tendo-se gradualmente constituído numa ordem consciente de sua
importância, conseguindo importantes vitórias políticas” (ALFÖLDY, 1989, p. 36).
Essa relativa paz atingida em Roma teve os efeitos naturais, sendo o aumento
populacional o principal deles. O aumento da população fez com que as terras
cultiváveis fossem se tornando cada vez mais escassas, e a necessidade de con-
quistar mais territórios para garantir sua subsistência era iminente. Soma-se
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A Itália peninsular é percorrida de Norte a Sul pelos Apeninos, áspe-
ros, difíceis de atravessar, outrora selváticos, de solo pobre. Ao pé das
montanhas, há algumas planícies: a Apúlia a Sudeste, ao longo do mar
Adriático; depois, do lado do mar Tirreno, indo do Norte para o Sul,
partes da Etrúria, do Lácio e da Campânia. Além do estreito de Messi-
na, a Sicília continua a bota italiana (ALBA, 1964, p. 6).
primeira durou mais de vinte anos e trouxe para o domínio romano a região da
Sicília, Córsega e Sardenha (ALBA, 1964).
Chamam-se púnicas as três guerras entre Roma e Cartago que tiveram lugar
entre 264 e 146 a. C., devido ao fato de os habitantes desta cidade do Nor-
te da África (perto da atual Tunes) serem descendentes dos Fenícios, cujo
nome latino era punicus, do grego phoenices.
Confira mais detalhes no site disponível em: <http://www.infopedia.pt/$-
guerras-punicas;jsessionid=Ik5N3580CkW+yvaRG1fYYg>. Acesso em: 28 jul.
2014.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
destinava ao sono... Era visto muitas vezes, coberto com um sobretudo de
soldado, deitado no chão no meio das sentinelas e dos corpos da guarda.
Era o melhor cavaleiro e o melhor infante. O primeiro a marchar para o com-
bate e o último a voltar”.
Tito-Lívio (apud ALBA, 1964, p. 63)
cia a corrupção dos costumes e a perda das virtudes cívicas que fizeram
a força da República em seus primórdios. Generais vendiam baixa de
serviço aos seus sodados, candidatos compravam abertamente os votos
dos cidadãos, um antigo censor, Príncipe do Senado e Grande Pontífi-
ce, desviou dinheiro do Tesouro Público (ALBA, 1964, p. 83).
Mandei fazer
De puro aço luminoso um punhal
Para matar o meu amor e matei
Às cinco horas na avenida central
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer
Mandei plantar
Folhas de sonho no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol
E as raízes procurar, procurar
Após dez anos, foi a vez de seu irmão, Caio. Este tentou a velha tática
do dividir para reinar, opondo nobres contra nobres para que o poder do
senado fosse enfraquecido e assim, finalmente, sua proposta agrária fosse
aprovada pelo Senado. Vale lembrar que todas as decisões tomadas pelos
tribunos deveriam ser ratificadas pelo Senado Romano. Em se tratando de
leis agrárias, essas esbarrariam nos interesses dos nobres proprietários de
terras. Somando isso a vários outros problemas, Caio Graco caiu em des-
crédito e solicitou a um escravo seu que o matasse, para que não caísse em
mãos inimigas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Enfim, como foi visto, o ideal que moveu os cidadãos romanos no início da
República parecia não fazer mais sentido. As virtudes que defendiam a coisa
pública deram lugar às mesquinharias que tornaram o Estado uma extensão
de sua vida privada. As instituições já não davam conta de legislar e supervi-
sionar todos os limites para onde se estendiam os domínios de Roma. Desta
forma, prezado(a) aluno(a), diante de toda reflexão que podemos fazer, parecia
iminente o surgimento de um novo modelo que pudesse impedir a destrui-
ção de Roma.
O IMPÉRIO ROMANO
Denomina-se Alto Império Romano o período que vai desde a sua instalação,
com a nomeação de Augusto como prínceps pelo Senado, até aproximadamente
o século II d.C. A expressão Alto Império faz referência ao período que represen-
tou o esplendor político desse sistema de governo, conforme destacou Alföldy:
Foi nessa época que o Imperium Romanum não só atingiu a sua máxima
extensão geográfica, como também viveu um período relativamente
pacífico, quer a nível interno ou nas suas fronteiras. Aliás, esta época
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os principais autores que este livro analisa para o estudo de Roma são Al-
földy e Alba. Entretanto, devemos saber que cada qual escreve buscando
responder aos seus questionamentos. Soma-se a isso o fato de cada um
observar os fatos sob a luz de seu próprio referencial. Sendo assim, preci-
samos ficar atentos, pois muitas informações podem parecer contraditórias
quando, na verdade, são apenas pontos de vista diferentes, o que, de fato, só
contribui para ampliar nosso campo de visão sobre a história, fazendo com
que nossa formação seja mais completa.
O Império Romano
134 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A Pax Romana é o nome que se dá ao período que Roma não sofreu com as constan-
tes guerras e sua política expansionista deu uma trégua, visto que já havia atingido a
sua máxima extensão geográfica. O que percebemos é uma ampliação da cobertura
feita pelo império que se estendeu às suas províncias, tornando-as muito prósperas,
o que veio a provocar o surto de desenvolvimento econômico mencionado acima.
Em suma, parece que a principal mudança foi mesmo apenas com relação ao regime
governamental, visto que a situação econômica e social continuava a mesma.
Na estrutura política, o Senado Romano perde força e a figura do imperador
se torna divina. Ele era o sujeito que estava no topo dessa sociedade. Isso con-
tribuiu também para que a estrutura social continuasse sem maiores problemas.
Esta consolidação do sistema social através da implantação da monar-
quia imperial tornou-se perceptível logo a partir do tempo de Augusto.
A pessoa do imperador e a casa imperial situavam-se no topo da hierar-
quia, completando a pirâmide e sobrepondo-as à anterior camada do-
minante, o pequeno círculo de famílias rivais da oligarquia (ALFÖLDY,
1989, p. 115-116).
O que fica evidente é que, tendo alguém superior no poder que mantivesse o
poder apenas em si e não em um grupo, as disputas pelo poder diminuiriam,
visto que agora o cargo político mais alto não seria mais ocupado por intrigas
política, mas por herança. Nesse sentido, Alföldy (1989, p. 116) prossegue:
Mas imperador não só detinha um poder total e garantido pelos seus
direitos constitucionais como também a sua posição pessoal era a da
mais alta dignitas na sociedade romana: podia apelar para a sua aucto-
ritas pessoal, a qual, segundo Augusto, lhe conferia, só por si, a supe-
rioridade sobre todos os outros homens, pois o imperador era a encar-
Nessa passagem, ficam demonstrados aqueles que seriam o maior flagelo na vida
dos romanos, os bárbaros.
Prezado(a) aluno(a), neste subtópico, nosso tema se diluirá com o que será visto
em História Medieval, pois é sobre as ruinas do Império Romano que se for-
mará a sociedade Medieval.
O Império Romano
136 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
do Danúbio, bem como com a política de expansão do Império persa
contra as províncias romanas no Oriente. A derrota infligida pelos Go-
dos ao imperador Décio (249-251), a captura de Valeriano pelos Persas
nove anos mais tarde, as incursões dos bárbaros na Germânia, na Gália,
na Hispânia, nas regiões do Danúbio, nos Balcãs, na Ásia Menor, na
Capadócia e na Síria no reinado de Galieno e, ainda, o avanço dos Ger-
manos até a Itália no tempo de Aureliano, marcaram o período mais
desfavorável das ininterruptas guerras defensivas de Roma (ALFÖLDY,
1989, p.173-174).
Assim com a deposição de Rômulo Augusto se finda aquele que foi um dos
maiores exemplos de civilização de toda história da humanidade. A Europa
demoraria quase mil anos para recompor sua estrutura social e econômica base-
ada no modelo romano, pois este será o paradigma das sociedades modernas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
138 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
civilidade que nos permita refletir sobre o nosso papel enquanto cidadãos mem-
bros de uma sociedade que vive constantes mudanças.
QUADRO SINÓTICO
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Virgílio (70 a.C. - 19 a.C.) foi um poeta latino conhecido por ter escrito Eneida,
um dos clássicos da literatura ocidental. Para saber mais detalhes sobre esse po-
eta, acesse <http://www.e-biografias.net/virgilio/>. Acesso em: 21 maio 2014.
A ECONOMIA NA ANTIGUIDADE
V
UNIDADE
CLÁSSICA OCIDENTAL: UM
DEBATE HISTORIOGRÁFICO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender como o debate historiográfico é importante para o
enriquecimento da produção do conhecimento histórico.
■■ Identificar os elementos que compõem a crítica marxista ao estudo
da história econômica da antiguidade clássica.
■■ Entender como os aspectos geográficos são indispensáveis para o
entendimento da economia Antiga.
■■ Conhecer os pressupostos que endossam a possibilidade de uma
história econômica das civilizações da antiguidade clássica.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O quadro econômico da antiguidade greco-romana
■■ A Grécia antiga: a agricultura e o comércio marítimo
■■ A relação entre economia, cultura e política
■■ A geografia romana
■■ A economia antiga para Moses Finley
145
INTRODUÇÃO
Introdução
146 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A GRÉCIA ANTIGA
O espaço e o tempo:
Como a maioria dos autores, Finley considera que a escravidão era uma insti-
tuição fundamental no período clássico para Grécia, Roma e Sicília. Serão essas
cidades que darão suporte a nossa análise proposta aqui.
Da leitura de vários livros sobre o assunto, entre eles “História Antiga” de
Paul Petit (1997), é relevante às duas maiores preocupações dos historiadores. Em
primeiro lugar, o tempo, aquele que adere ao pensamento do historiador, como a
terra se gruda a pá do jardineiro, no dizer do historiador Fernand Braudel (s/d).
Marc Bloch (s/d), já se ocupava sempre dessa nossa obsessão pelas raízes.
Para ele a realidade histórica poderia ser vista em um duplo sentido, qual seja,
do presente para o passado e do passado para o presente.
A necessidade de periodizar, portanto, é irmã da urgência de localizar. Ao
incluir a categoria do espaço completamos a tarefa maior que os historiadores
se impõem. Assim, sendo a história uma Ciência que se ocupa do entendimento
do homem em sociedade, neste ponto, de forma interdisciplinar, incluímos a
Geografia, completando, assim, a tríade “homem, tempo e espaço”.
Como Atenas, em nosso entendimento, será a polis mais apropriada para
tratar a escravidão, a qual Finley (1986) separa da hilotagem espartana, ela será
o modelo mais adequado para examinarmos a Grécia do período clássico, ou
seja, dos séculos V ao século IV a.C. Períodos esses demarcados pelo apogeu da
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dificuldades relativas à localização geográfica, na verdade, tornaram-se uma
possibilidade maior para o desenvolvimento do comércio marítimo, visto
que, conforme destacou Mises (1990), o homem é um ser que age por neces-
sidade, buscando sair de uma situação desconfortável e substituí-la por uma
de melhor conforto.
numerosas e, a este respeito, autores como Petit (1997) reconhecem uma evolução
digna de nota entre os séculos V e IV a.C. A maior parte da Grécia continental
mal conhecia o progresso devido à precariedade das comunicações terrestres e
compartimentação do relevo. Esse fator geográfico, como vimos, favorecia os
particularismos tanto econômicos quanto políticos.
O Peloponeso, salvo o Istmo e a Beócia, a Grécia Central era predominante-
mente agrícola e isto vale para a Etólia, Arcâia até a Telássia-Macedônia, como
já assinalamos.
A terra pertencia ou ao Estado, como em Esparta, ou, muito mais frequen-
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progresso desde o século V a.C. Nas regiões de colinas e declives, eram consa-
gradas a vinha, a oliveira, a criação de gado miúdo, as árvores frutíferas como a
figueira e a apicultura no Himeto.
Mas como as insuficiências naturais e técnicas eram comum a toda a Grécia,
dada à falta de fontes de energia, a presença do trabalho servil e aliado a ela o
permanente desprezo do cidadão pelo trabalho manual, o comércio era a ativi-
dade de maior possibilidade.
No que diz respeito ao quadro de precariedades, os barcos eram pesados,
lentos e pouco seguros, o que fez naufragarem cargas preciosas de ânforas capri-
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chosamente trabalhadas. Contudo, as técnicas financeiras, o empréstimo a juros,
as trocas, os títulos de crédito e uma comprovada tendência à unificação mone-
tária eram favoráveis ao desenvolvimento da atividade, unindo os bancos aos
seguros marítimos.
A cidade de Atenas, amplamente discutida na unidade III, será aqui refe-
rência para o exame da atividade comercial. O porto do Pireu, modernizado por
Péricles, era bastante equipado. Apenas a pirataria, notadamente nociva, ou as
frotas fenícias (a serviço dos persas), cartagineses e etruscos perturbavam uma
tranquila dominação Ática da atividade.
No século V a.C., época do apogeu, as cidades prósperas eram bastante nume-
rosas nas regiões costeiras. Atenas favorecia as cidades da Trácia, da Calcídica,
como Olinto, e dos Estreitos (Bizâncio) até do Mar Negro (Panticapeia e Cízico).
Ainda nessa época, o florescente comércio de Atenas eliminou a concor-
rência de Corinto e Megara e estava a caminho de uma preponderância que, no
século IV a. C., seria total, tendo sido “atestada pela arqueologia (escavações de
Al-Mina, perto do Orontes)” (PETIT, 1971, p.137).
Tudo isso fazia com que fosse aumentada a importância do artesanato e das
profissões comercias. Atenas importava trigo, e o equilíbrio da balança comer-
cial era dado pelos produtos que oferecia à exportação. Diante disso, políticos
como Sólon, Pisístrato, Temístocles e Péricles compreenderam estar no mar a
fortuna de Atenas, e isto lhes conferiu grande prosperidade.
As exportações compensadoras eram proporcionadas pelo vinho, azeite,
cerâmica e objetos de metal atenienses e áticos. As moedas de prata do Láurio,
com a fortuna de seus cidadãos. Entretanto, como destaca Petit (1971), entre
345 e 346 a.C., ocorreu uma política econômica definida e voltada para o
enriquecimento.
Na grande diferença entre Atenas e Esparta, diferenças essas que, mesmo tendo
nos ocupado delas na Unidade III, estamos longe de esgotá-las, temos interes-
santes exemplos que mostram a inter-relação entre aqueles que podemos chamar
de fatores estruturais de um sistema. Atenas, cuja inovação na história veio de
seu sistema político tendente ao liberalismo e pensamento filosófico, juntamente
com o apogeu artístico, formava nítido contraste com Esparta, já que esta era
conservadora, aristocrática, militarista e agrícola.
Tais diferenças, como já se sabe, levaram as duas polis gregas a se embrenha-
rem em uma luta que durou três décadas e que por suas dimensões arrasadoras
trouxeram o declínio aos gregos continentais.
É preciso assinalar que, com a vitória sobre os persas em 479 a.C., Atenas,
sob liderança política de Péricles, impôs sua hegemonia sobre toda a Grécia.
Péricles encarregou artistas como Calícrates e Fídias da reconstrução do con-
junto do Partenon, o mais belo exemplo da arte grega, e atraiu filósofos como
Anaxágoras, Demócrito, Sócrates e Protágoras. O teatro foi enriquecido com as
tragédias de Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e as comédias de Aristófanes.
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rismo do Estado onde o indivíduo tinha
seus direitos.
Nos anos finais do século V a.C., o
mundo grego entrou em um processo de
decadência gerado principalmente por dois
blocos de cidades, liderados cada um por Péricles (495 – 429 a.C.) governou Atenas no período
conhecido como “Século de Ouro”. Foi a maior
Atenas e Esparta. Foi a Guerra do Peloponeso personalidade do século V a.C. na antiguidade
(431 - 401 a.C.).
Tucídides, grande historiador ateniense que foi combatente nessa guerra,
escreveu a história do conflito. Atribuiu ao imperialismo de Atenas, que domi-
nava a confederação de cidades, a principal razão da guerra. Realmente, Atenas
já controlava dezenas de cidades, explorando-as pelo pagamento de tributos.
Além disso, os atenienses passaram a intervir na política interna das cidades,
favorecendo a implantação de regimes democráticos.
Prezado(a) aluno(a), com esta breve descrição, fica fácil identificar em nosso
tempo qual é a nação que se coloca como legítima guardiã dos valores de-
mocráticos, não é mesmo?
A GEOGRAFIA ROMANA
Roma e a Sicília (a Itália de maneira geral) nos permitem outro quadro interes-
sante para exame, pois foi em seus domínios que a escravidão chegou ao apogeu.
Pensando em termos da crise do século III d.C., estudiosos não hesitaram em apon-
tar a instituição da escravidão como uma das maiores causadoras da inflação e crise
econômica que corroeu a estrutura do Império Romano que parecia imbatível.
A Geografia Romana
154 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
renças em relação à Grécia. A Península Itálica, assim como a Grécia, possuía
relevo montanhoso, que dificultava as comunicações terrestres e ilhava os gru-
pos humanos. Os apeninos – que cortam a Itália de norte a sul – isolam o litoral
ocidental do oriental. Os prolongamentos dessas montanhas problematizam o
contato entre vales e planícies de uma mesma costa.
Contudo, ao contrário da Grécia, as condições naturais das costas não incen-
tivavam a navegação. O Adriático é quase desprovido de baías e portos naturais.
A ligúrica e a tirrena são mais acolhedoras. Fora a Sicília, verdadeiro prolonga-
mento da península, Córsega e Sardenha, escasseiam-se as ilhas que fornecem
apoio às aventuras marítimas antigas (com insuficiências técnicas).
Em tal quadro geográfico, a ocupação humana arcaica tendeu a orbitar em
torno das quatro grandes planícies: o vale do Pó do Arno, da Campânia e do
Tibre, além do Lácio. Aliás, essa última região, coração do mundo romano, em
tempos remotos, dificilmente sugeria o brilhante futuro que a esperava: possuía
pouco mais de 2.000 km de superfície, terras pantanosas e pouco férteis.
Apesar da pobreza e acanhamento das terras, o Lácio era uma região privi-
legiada. Em um mundo montanhoso de escassa tradição marítima, os caminhos
terrestres naturais assumiram uma condição ímpar. Assim, o vale do Tibre, na
Itália Central, era a passagem obrigatória de muitas trilhas que ligavam a Etrúria
ao norte, a Campânia, ao sul. Nas salinas da foz do Tibre, originava-se a rota que
levava o produto às montanhas sabinas, ao leste.
No entroncamento de tantos caminhos e protegida pelas famosas sete colinas
lideradas pelo Capitólio, Roma tinha, nesse quadro, uma configuração geográ-
fica favorável.
A Geografia Romana
156 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
as tais fazendas possuiriam um grande contingente de escravos (de 50 a 100 ou
até mais) e essas fazendas trabalhavam essencialmente com mão de obra escrava.
Os escravos especializados no tratamento das vinhas, apesar de pouco privi-
legiados, eram caros e imprescindíveis à produção. Isso porque, nas fazendas de
Columella, a viticultura era uma atividade central, seguida da oleicultura. Porém,
além das vinhas e dos olivais, a propriedade deveria contar com um salgueiral
(para cestaria), bambuzal e um pomar, com recursos de lenha e, até mesmo, com
pedreiras para as construções.
Nos grandes latifúndios romanos, apreciáveis extensões eram dedicadas à cria-
ção e, segundo parece, as condições dos escravos pastores não eram tão duras assim.
Além das grandes caminhadas e da vigilância, pouco tinham a fazer. O pastoreio
extensivo apoiava-se mais na reprodução natural dos rebanhos do que no traba-
lho humano. Nesse ponto, prezado(a) aluno(a), perde-se de vista aquela imagem
cruel da escravidão que fora construída nos manuais didáticos da Educação Básica.
Já em ambientes urbanos, os escravos possuíam muita importância e, mais
tarde, a categoria dos libertos chegou a ter grande influência. Assim, no Império,
podiam ser encontrados trabalhando nas mais variadas atividades urbanas. As
atividades domésticas eram quase “monopolizadas” pelos escravos.
No século I d.C., o artesanato romano alcançou verdadeiro apogeu e, nesta
atividade, era grande o número de homens livres assim como o de escravos, pois
os artesãos se esforçavam para comprar um ou mais escravos que os secundas-
sem no trabalho. Era “hábito senhorial” adquirir um cativo e pô-lo a aprender
um ofício: “parece ter sido bastante dura a vida destes jovens aprendizes que
começavam a trabalhar com 5 anos ou pouco mais” (MAESTRI, 1985, p.47).
A Geografia Romana
158 UNIDADE V
Prezado(a) aluno(a), como o objetivo central desta última unidade é nos apro-
fundarmos no debate acerca da escrita da História e, em especial, da História
Econômica, antes de passarmos ao exame da obra de Finley (1986), temos de lem-
brar o que já assinalamos até o momento: na antiguidade, diversas civilizações
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utilizaram escravos em atividades produtivas ou não. Contudo, duas localida-
des, em especial, se apresentam para nosso exame, quais sejam:
■■ A Grécia e, principalmente, Atenas, onde o trabalho escravo “atingiu
um primeiro apogeu e deu lugar a verdadeiras formações escravistas”
(MAESTRI, 1985, p.4).
■■ Roma que, nos dois últimos séculos da República e nos três primeiros
do Império, conheceu a maturação e crise da produção escravista na
Antiguidade.
É por isso que iniciamos nosso estudo pela Grécia e, depois de examinar o con-
ceito aristotélico sobre o sistema que envolvia a sua justificação como coisa
natural, “própria da vida”, passaremos a situar alguns aspectos da sociedade, eco-
nomia e infraestrutura romanas.
Como já destacamos anteriormente, foram os gregos e latinos que inventa-
ram a palavra economia. Entre os primeiros, a palavra se compõe de oikos que
significa casa ou unidade doméstica, representando a regulamentação e admi-
nistração. Daí para o latim a transição se fez sem mudança de significado e isto é
tão importante quanto lembrar a obra Oikonomikos (Economia), de Xenofonte,
escrita na forma de um diálogo.
O desenrolar das ideias de nosso estudo, que visa comprovar a possibili-
dade de uma história econômica da antiguidade, tem como em Finley (1986)
esse ponto de partida, que é encarar a economia como:
■■ Conjunto de atividades de uma coletividade humana relativa à produção,
distribuição e consumo dos bens.
res que, com seus enfoques, permitem-nos falar de uma história econômica da
antiguidade.
Devemos reconhecer que falar em mundo greco-romano é fazer uso de
uma abstração. Assim, partimos de aspectos geográficos e culturais, além das
condições climáticas, visando examinar aquela que teria sido a vida econômica
dos antigos. Ademais, ligado a tudo isto está a procura pelo modelo de opções
econômicas, ou seja, um modelo de investimentos e perfil de investigadores na
antiguidade. Não interessando apenas as características econômicas gerais, mas
aquilo que a define como uma relação organizada, não como mero fruto dos
espólios de guerra tal como consideram os historiadores marxistas, alvo prin-
cipal de nossa crítica.
Nesse sentido, Finley escreve: “por muito paradoxal que possa parecer, nada
cria mais complicações no quadro do sistema de status da antiguidade que a ins-
tituição da escravatura” (FINLEY, 1986, p.83). Voltamos assim a um ponto crucial
que aparece como tema recorrente toda vez que examinarmos a possibilidade de
uma história econômica da antiguidade. A presença do escravo é um dado focal.
Discutir a escravidão é assim o mais relevante a se fazer quando pensamos
em uma história econômica da antiguidade. E isto porque, como o próprio Finley
nos ensina, “tudo parece muito simples: um escravo é propriedade, sujeito às
regras e aos processos da propriedade, no que respeita a venda, aluguel, roubo,
crescimento natural, etc [...]” (FINLEY,1986, p.83).
Neste momento de sua obra ele cita Eumeu, o escravo favorito de Ulisses,
personagem de Odisséia, que nos permite uma visão de uma das maneiras de
se obter escravos ou de como o povo fenício, o grande comerciante marítimo da
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e pai de Ulisses) comprou-me por um preço considerável (HOMERO
apud FINLEY, 1986, p. 83).
Eis como um príncipe se tornou escravo pela mão de uma escrava. O excerto
mostra como o rapto era uma forma recorrente de conseguir aumentar a escra-
varia e também qual era o papel dos piratas e comerciantes fenícios e, mais ainda,
como uma fonte autorizadíssima como a Odisséia de Homero ilustra o que nosso
autor afirma sobre a escravidão entre os gregos.
Acreditamos que a obra de Finley sobre a economia antiga foi feita de uma
forma consciente e capaz de abalizar a seriedade do propósito. Nada escapou
ao seu exame que houvesse de pertinente, e os argumentos que apresenta para
justificar tais estudos são bastante convincentes e se encaixam com os dados
apresentados.
Por exemplo, em suas páginas finais, lembra que “satisfação das necessi-
dades materiais” é um conceito-chave, mais do que isso, envolve um problema
crucial e a distinção entre a satisfação das necessidades materiais e uma política
econômica revelou-se durante os vários períodos da história dos povos exami-
nados (FINLEY, 1986).
Fazendo o enquadramento maior, ele também nos lembra – e isto norteou a
nossa análise – que as cidades-estado gregas emergiram em um ambiente étnico,
político e “internacional” diferentes dos de Roma e, por isso, foram geradas prá-
ticas diferentes.
Finalmente, um dado assinalado por todos os autores é que a documentação
reduzida e fragmentada é um dos maiores obstáculos a uma viável, mas bastante
difícil, reconstituição parcial da economia antiga. E isso, prezado(a) aluno(a),
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diferente do que, em tempos de cristianismo (“todos são iguais perante Deus”),
justificar a escravidão pela inferioridade implícita da cor.
Para Finley (1986), fica claro que a escravidão se refere a uma posição em que
um homem, aos olhos da lei e da opinião pública, insere-se como propriedade,
inclusive como bem pessoal de outro homem.
Além disso, faz-se necessário diferenciar escravidão de hilotagem. Na pri-
meira, o escravo era a figura decisiva nas comunidades econômicas e politicamente
avançadas, adaptado a todos os tipos e níveis de atividades. Na segunda, o hilota
era o escravo por decorrência de dívidas provenientes das comunidades arcai-
cas, sempre mais dedicado à agricultura, pastoreio e aos serviços domésticos.
Finley (1986) destacou, ainda, que em momento algum subestima a impor-
tância da escravidão antiga. Cita exaustivamente o capítulo “Amos e escravos”,
que faz parte de seu livro sobre “A Economia Antiga”. Assim, demonstra acei-
tar as colocações de Perry Anderson, não obstante a terminologia neomarxista
adotada, pois de forma similar ao autor inglês, ele procura se afastar o máximo
possível da ortodoxia.
“O meu propósito é antes o de pôr em causa a visão ultra-simplificada (e,
portanto, seriamente distorcida) da economia antiga que está implícita em eti-
quetas como sociedade escravagistas e modo de produção escravagista” (FINLEY,
1986, p.10). O autor também nos esclarece que tais expressões não se encontram
em sua obra por duas razões:
■■ em primeiro lugar, exceto na Grécia, Itália, Sicília e possivelmente algu-
mas regiões da Gália, Espanha e Norte da África, no período clássico, a
escravidão não era uma instituição fundamental. Não dominava nem nas
sociedades arcaicas nem no Império Romano tardio, era marginal no Egito
e no Próximo Oriente e incerta na região que ia dos Bálcãs à Inglaterra;
■■ em segundo lugar, não admite qualquer paralelismo entre a escravatura do
Novo Mundo, aquela que motivou a ótica marxista, com aquela existente
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nosso autor procura se afastar desse campo de batalha entre marxistas que enca-
ram a história de todas as sociedades existentes até hoje como a luta de classes
(no caso, o embate era entre senhores e escravos) e onde os adeptos de Marx
veem a determinante histórica, ele procura apenas pelos fatores dominantes.
Finley (1968) reconhece, ainda, a dificuldade de sua posição. Embora em
nenhum momento duvide da possibilidade de existência de uma história eco-
nômica da antiguidade, ele admite que “clarificar” o sentido exato da escravidão
entre greco-romanos constitui uma tarefa particularmente difícil.
De um lado, havia as camadas que manipulavam as estruturas do poder,
amparadas em boa parte na exploração direta ou indireta do trabalho escravo.
Por outro lado, existe a constatação de que a vida do enorme número de homens
livres que não possuíam ou exploravam escravos não foi influenciada (nem mate-
rial nem espiritualmente) pela existência da escravidão.
A duplicidade contida nessa orientação é a mesma de intentar fazer uma
história das sociedades antigas sem fazer uso de categorias marxistas. Contudo,
como o próprio autor dá a entender, nada disso anula a possibilidade de se fazer
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mente a sua negação. Mais que isto, com a flexibilização e abertura que recentes
reflexões acrescentaram aos dados sempre apreciáveis do autor de “O Capital”,
somente poderá enriquecer um tema e acrescentar-lhe uma nova valorização
dada à amplitude que nos permite.
Obras e autores de nossos tempos têm-se inclinado muito mais a examinar
todos os campos que se apresentam a sua visão do que a entrincheirar-se em
uma só possibilidade. É o mesmo que usar todas as cores possíveis que existem
a nossa disposição e não se limitar ao uso constante de uma única tonalidade.
cem ter implícito que três determinações devem necessariamente estar presente
na forma de dependência social para que possamos defini-la como escravi-
dão. O cativo, considerado como uma simples mercadoria, deve estar sujeito
às eventualidades próprias dos bens mercantis – compra, venda, aluguel, etc. A
totalidade do produto de seu trabalho deve pertencer ao senhor. A remunera-
ção que o cativo recebe sobre forma de alimento, habitação, etc., deve depender,
ao menos formalmente, da vontade senhorial. Por último, o status escravo deve
ser vitalício e transmissível aos filhos.
É partindo dessa posição que Finley (1986) encaminha suas reflexões para
considerar que a escravidão, no sentido que Marx lhe empresta, pressupõe um
certo desenvolvimento das forças produtivas (força de trabalho, ferramentas,
matérias-primas, técnicas etc.) e das relações sociais de produção.
O homem só conseguiu apropriar-se plenamente de seu semelhante dentro
das condições reunidas pela sociedade capitalista. Isso porque, inicialmente, era
necessário que o cativo produzisse, em forma sistemática, acima de suas neces-
sidades vitais, permitindo um excedente sempre apropriado pelo senhor. Essa
renda justificava os gastos e a preocupação com a vigilância e submissão contí-
nua das “peças”, como dizia Aristóteles.
Dito de outra forma, as relações escravistas do modo de produção pressu-
punham certo nível de desenvolvimento da produção destinada ao comércio e,
para se generalizarem, da apropriação privada da terra.
O que Finley (1986) parece repetidamente discutir é que a existência de
escravos em uma sociedade não determina, necessariamente, que ela conheça a
produção escravista ou formação escravista. Um escravo poderia ser empregado
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mente de suas sociedades, que são nossos exemplos mais eloquentes na afirmação
da viabilidade de se fazer uma história econômica da antiguidade.
Existem dados ideológicos muito interessantes que se acrescentam a essa
possibilidade: em diversos sentidos, a dominância do trabalho escravo inibiu
o desenvolvimento das forças produtivas. À medida que a produção escravista
assumia importância, o desprezo senhorial ao trabalho físico crescia. Aumentava
consequentemente, o abismo entre os que “pensavam” e os que “faziam”, isto na
antiguidade.
Nesse terreno, é possível até uma aproximação com a escravidão em termos
do que aconteceu na América. A identificável herança ibérica permite a conota-
ção entre o ócio e a nobreza, trabalho e escravidão, e marca até hoje apreciáveis
segmentos da sociedade brasileira.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) aluno(a), sabemos que esta unidade exigiu muito mais reflexão do que
as outras. A intenção foi essa: a de aumentar a compreensão da História Antiga
iniciando por seus instrumentos, métodos, civilizações e, por último, pelo debate
acerca do que já foi estudado por renomados historiadores.
A respeito daquele que é o motivo do nosso trabalho, mais precisamente a
discussão quanto à viabilidade de uma história econômica da Antiguidade, a
Considerações Finais
MATERIAL COMPLEMENTAR
QUADRO SINÓTICO
ROMANA a República para Roma e como ele se tornou, acima de tudo, uma institui-
Romana ção.
É possível Defendemos neste tópico que é possível, em contraponto, a
uma história negativa dos historiadores marxistas ortodoxos.
econômica de
Roma?
A ECONOMIA Para este historiador, a economia pode ser assim definida como o conjunto de
PARA MOSES atividades de uma coletividade humana relativa à produção, distribuição e con-
FINLEY sumo dos bens, e de uma gestão onde a despesa é bem proporcionada ou redu-
zida, cujo objetivo é diminuir tais encargos ou adaptá-los ao objetivo visado.
A JUSTIFICATIVA O escravo era visto como coisa, não pessoa. O escravo por instinto não possui
ARISTOTÉLICA a plenitude da razão. Assim, dos homens uns são livres, outros escravos, e para
DA ESCRAVIDÃO eles é útil e justo viver na servidão.
UM PARALELO Para o nosso autor, fica claro que a escravidão se refere a uma posição em que
ENTRE um homem, aos olhos da lei e da opinião pública, insere-se como propriedade,
ESCRAVISMO entra nos bens pessoais de outro homem. Dessa forma, podemos analisar essa
E HISTÓRIA instituição por um viés econômico, visto ser o escravo uma propriedade que
ECONÔMICA pode ser vendida.
ESCRAVIDÃO, A existência de escravos em uma sociedade não determina, necessariamente,
ESCRAVISMO E que ela conheça a produção escravista ou formação escravista. Um escravo
ANTIGUIDADE poderia ser empregado em um contexto onde dominassem outras modalidades
de exploração, por exemplo, as improdutivas: pajens, guarda-costas, concubinas
etc. Finalmente, o trabalho escravo poderia acontecer ao lado de outras formas
de produção social.
MATERIAL COMPLEMENTAR
A palavra “economia” deriva da junção dos termos gregos oikos (casa) e nomos
(costume, lei), resultando em “regras ou administração da casa, do lar”.
Para saber mais, acesse o site: <http://www.significados.com.br/economia/>.
Material Complementar
1. Descreva a principal crítica dos historiadores marxistas que justifique a oposição
destes ao estudo da história econômica da antiguidade.
2. Reflita sobre o panorama econômico da sociedade Grega no contexto estudado
nesta unidade e destaque os principais pontos abordados:
3. Destaque a importância da escravidão para as sociedades Grega e Romana.
4. Conforme destacou Moses Finley (1986), quais elementos justificam a possibili-
dade do estudo da história econômica das sociedades antigas?
5. Faça uma pesquisa sobre as civilizações antigas, escolha duas delas e destaque
ao menos 3 características econômicas de cada uma, comparando-as.
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CONCLUSÃO
Na quinta unidade, é preciso ter em mente que na história não há verdades abso-
lutas. Sempre há espaço para uma nova ideia, para um novo ponto de vista. O que
pode ser verdade hoje, amanhã, uma nova pesquisa poderá mostrar outra face da
história, por isso a importância do debate. E foi essa a nossa proposta. Esperamos
que tenhamos alcançado.
Esperamos, ainda, que este seja o primeiro de muitos passos no estudo das institui-
ções antigas, além do início de uma carreira de sucessos.
173
REFERÊNCIAS
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neiro: Zahar, 1998.
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berto: Trimalcião no Satyricon de Petrônio. Monografia de Especialização em Histó-
ria Econômica. Maringá, Paraná: UEM, 2004.
PAIXÃO, Priscilla Campiolo Manesco. O Poder Imperial. In. Paixão, Priscilla Campiolo
Manesco. Da condição de Escravo à condição de Liberto: Trimalcião no Satyricon
de Petrônio. Universidade Estadual de Maringá. Monografia, 2004.
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REFERÊNCIAS
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WENTE, Edward. Letters from Ancient Egypt. Atlanta: Schoars Press, 1993.
177
GABARITO
UNIDADE 1
1. Pesquise sobre uma civilização que é denominada clássica e, com base na ex-
posição feita nesta unidade, descreva quais os motivos que justificam tal título.
Aqui o aluno terá liberdade para pesquisar, haja vista que dependendo da ci-
vilização, será uma resposta diferente. Um exemplo que pode ser dado é sobre
Roma: ela se formou no século VIII a.C., se estruturou politicamente, atravessou
uma crise que proporcionou a evolução para o regime republicano, suas estru-
turas políticas ficaram cada vez mais fortes, mais uma vez sofreu crises, evoluiu
para o modelo Imperial, até sua completa decadência, no século V d.C. Entretan-
to, vale lembrar que cada um desses período também pode ser analisado sob
essas perspectiva. Depende da justificativa e do referencial teórico utilizado.
2. Tendo em vista os cuidados que o pesquisador precisa ter no trato das fontes,
é possível interpretar um fato histórico isento de juízo de valor? Justifique sua
resposta.
A História é uma ciência e mesmo que não seja possível fazer uma análise his-
tórica neutra, e, portanto, avessa aos nossos pontos de vistas que são basea-
dos em nossas vivências cotidianas e contexto em que vivemos, ela necessita
de critérios. São critérios como os exemplificados na presente unidade que dão
cientificidade à ela.
3. Descreva o conceito de crítica interna e externa destacado por Funari.
Crítica Externa- É a análise que visa identificar incompatibilidades aparentes em
um determinado documento. Por exemplo: se um texto da antiguidade pode-
ria ser ou não escrito em computador ou se uma arma da pré-história poderia
apresentar vestígios de pólvora. Crítica Interna- É a análise centrada no conteú-
do material do documento, ou seja, visa identificar se os elementos textuais de
um determinado documento são compatíveis com o momento em que foram
produzidos. Por exemplo: se em um texto da Grécia arcaica há referências ao
cristianismo.
4. Explique o significado do termo ANACRONISMO e exemplifique como isso pode
ocorrer na elaboração de um texto histórico.
Conforme consta na página 23 do livro: Em síntese, podemos defini-lo como a
utilização de elementos que ainda não existiam em uma determinada época.
Ou seja, não é possível haver elementos que em um determinado período eram
desconhecidos. Por exemplo, não é possível a existência de cavalos na América
antes da chegada dos europeus.
GABARITO
UNIDADE 2
1. Explique de que forma a constituição de leis escritas foram importantes para a
organização da vida social no Oriente Próximo.
As leis existem para proteger valores. Ou seja, se há uma lei, é porque ela visa
proteger bens jurídicos dos quais dependem o bom andamento de uma socie-
dade. Sendo assim, proteger a vida e o patrimônio eram indispensáveis às pri-
meiras civilizações.
2. Conforme destacou Cardoso (1982), explique-nos as razões pela qual a teoria da
causalidade hidráulica não pode ser mais aceita.
Conforme consta na página 58, em linhas gerais, o autor defende que com as
mudanças climáticas ocorridas na região africana, como o surgimento de de-
sertos e a diminuição da quantidade de terras férteis, para que houvesse um
maior e mais racional aproveitamento dos recursos naturais, fez-se necessária à
existência de um Estado centralizado que pudesse dirigir as ações e levar uma
otimização dos recursos. Ou seja, não foi a abundância de recursos, mas sim a
falta deles.
3. A utilização da literatura funerária é importante para o estudo do Egito? Justifi-
que e descreva a maneira como os egípcios enfrentavam a morte.
Aqui, de fato, fica difícil negar a importância deste tipo de literatura como fonte
para o estudo dos egípcios. Entretanto, é importante observar o tipo de justifi-
cativa empregada.
4. Analise e descreva a importância do camponês para a economia egípcia.
Era o camponês o principal responsável por produzir a subsistência dos egípcios,
haja vista a importância que a agricultura tinha para esta civilização.
5. Reflita sobre a frase do historiador Heródoto presente no texto e descreva a im-
portância do Rio Nilo para a existência do Egito.
Aqui deve se levar em conta a dependência que os egípcios tinham do rio Nilo
em razão da importância para a sobrevivência deste povo, totalmente depen-
dente da agricultura.
179
GABARITO
UNIDADE 3
1. Faça uma pesquisa na internet sobre os principais povos que formaram a Grécia
e aponte suas semelhanças e diferenças, construindo uma tabela comparativa.
A critério do aluno.
2. Descreva qual foi a principal contribuição de Homero para o estudo dos primei-
ros tempos da Grécia Antiga.
Com a escassez de documentos para o estudo do período em questão, as obras
de Homero são praticamente os únicos documentos escritos sobre o período.
Com elas pode se especular e levantar importantes hipóteses sobre a configura-
ção da sociedade grega até meados do século VIII a.C.
3. Reflita sobre a importância dos legisladores para a política Ateniense e aponte
seus principais feitos.
Os legisladores tinham a importância de criar leis escritas para promover o equi-
líbrio social. Por meio delas, buscava-se proteger os valores morais e sociais que
eles prezavam, além de buscarem contornar as desigualdades. Podemos desta-
car Drácon, com seu rígido código de leis; Sólon, com a reforma ao sistema jurí-
dico; Clístenes, que permitiu o surgimento de um governo não restrito apenas
aos oligarcas, mas também aos demais membros da aristocracia, permitindo o
surgimento da Democracia.
4. Descreva de que forma a Justiça Criminal era dividida em Atenas.
Tínhamos o Areópago, que julgava os homicídios dolosos e o Tribunal dos Efe-
tas, os homicídiosculposos.
5. Destaque o(s) fator(es) que os pesquisadores apontam como responsável por ter
emergido aquele tipo de civilização guerreira em Esparta.
A argumentação central é o determinismo geográfico, pois o isolamento os fez
se dedicarem mais a se proteger dos ataques do que interagir com outras regi-
ões. Isso tornou-os mais afeitos ao militarismo e menos ao comércio.
UNIDADE 4
1. Estabeleça uma comparação entre as versões mitológica e científica sobre a ori-
gem de Roma e destaque o que há de semelhante entre elas.
A semelhança é que todos os povos em questão, da obra de Virgílio (Os gregos),
que seriam os fundadores de Roma, podem ser comprovados cientificamente,
pela versão histórica.
GABARITO
2. Qual é a razão de Nicolau Maquiavel ter afirmado ter sido Roma uma República
perfeita? Reflita e redija sua resposta.
A chave central da argumentação de Nicolau Maquiavel é que a república ro-
mana conseguiu preservar o equilíbrio entre as forças em disputa. O Senado,
os plebeus, bem como os monarcas depostos, tiveram sua contribuição para o
estabelecimento deste equilíbrio.
3. Aponte os benefícios que a Lei das XII Tábuas trouxe aos plebeus:
Primeiramente, com um código de leis escritas, instituiu-se o princípio de lega-
lidade e as pessoas somente poderiam ser punidas conforme a lei, não poderia
mais haver punição de exceção. Tudo isso dava maiores garantias aos plebeus,
que era a classe que mais sofria com a arbitrariedade da lei.
4. Explique quais os motivos que levaram o regime republicano à falência.
A incompatibilidade entre a extensão territorial e o regime republicano. A dege-
neração moral de suas instituições; sucessivas crises políticas e sociais e a perda
de prestígio do Senado, instituição mais importante da República.
5. A base de sustentação do império romano era a escravização dos estrangeiros
por meio de um exército forte. Dessa forma, cite os motivos que levaram ao en-
fraquecimento desse exército.
Como Roma atingiu seu limite na expansão e a escravização dos dominados era
a base de sustentação de sua economia, começou um declínio, haja vista que
a oferta de escravos diminuiu e a produção ficou comprometida. Sem recursos
financeiros, não havia mais como manter um exército mercenário trabalhando
para Roma, e acabou provocando0 a deserção de muitos e a consequente união
aos inimigos de Roma.
UNIDADE 5
1. Descreva a principal crítica dos historiadores marxistas que justifique a oposição
destes ao estudo da história econômica da antiguidade.
Para os marxistas, a economia somente pode ser estudada a partir do conceito
de acumulação primitiva do Capital, que se inicia na transição do feudalismo
para o capitalismo, a partir da Baixa Idade Média. Para os marxistas, não há his-
tória econômica na antiguidade, pois não há uma evidente Luta de Classes no
sentido que eles defendem.
181
GABARITO