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Screvo meu livro à beira mágoa

Análise Formal:
Este poema é constituído por cinco estrofes, cada uma com 4 versos octossílabos, com rima
maioritariamente cruzada (ABAB), sendo a maioria acentuados na 4.ª e 8.ª sílabas, embora que
estas estrofes sejam constituídas por rimas pobres.

Analise da 1ª estrofe:

Desejo do sujeito poético:

Regresso do “senhor” e da vida que ira regressar com ele.

Analise da 2ª estrofe:

Õ pensamento de que o Rei um dia irá voltar ocupa os dias do sujeito poético, embora ainda
exista a dúvida de quando e que o “Senhor” chegará”

Analise da 3ª estrofe:

Sujeito poético continua a perguntar-se quando vira “O encoberto” e a “Nova Terra” que ele
trará consigo.

Analise da 4ª estrofe:

O sujeito poético mostra o anseio para que o seu desejo se concretize

Analise da 5ª estrofe:

O “eu” poético interroga-se, novamente, quando e que D. Sebastião se ira revelar da sombra
para que a sua esperança se torne uma realidade.

Estrutura interna do Poema:


Trata-se de um poema sebastianista, em que o poeta, nos limites da mágoa, apenas consegue
preencher os seus dias no refúgio do mito dum Salvador Encoberto que há de vir redimi-lo e
realizar um sonho português de muitas eras. Estando embora ciente da sua existência, a ponto
de o sentir e pensar, assalta-o a dúvida de saber quando a sua vinda (o regresso) se irá
processar.

O poema divide-se em duas partes:


a primeira parte é constituída pelos seis primeiros versos: o poeta fala-nos da sua tristeza (três
primeiros versos) e do único lenitivo para a sua dor - a crença num "senhor" que é a única
entidade capaz de lhe devolver a confiança no futuro e preencher seus "dias vácuos" (4.º, 5.º e
6.º versos).

A segunda parte inicia-se com a conjunção "Mas" (7.º verso) e é constituída por uma série de
perguntas introduzidas por "Quando" e dirigidas a essa entidade mítica que toma vários nomes
(Rei, Hora, Cristo, Encoberto, Sonho, Senhor), apelando para a sua vinda rápida, única forma de
materializar sonhos centenários e de o poeta se libertar do contingente, do incerto, e de alcançar
uma "Nova Terra" e "Novos Céus".

Na primeira parte predomina o presente do indicativo, para traduzir a permanência (a situação


atual do poeta vem-se arrastando desde o passado e tem todas as probabilidades de se continuar
no futuro). As frases são do tipo declarativo. De realçar ainda a maiúscula utilizada na palavra
"Senhor", a relação eu / tu e a existência de dois adjetivos bastante expressivos e de certo modo
relacionados: "dias vácuos" e "olhos quentes de água".

A segunda parte é um conjunto de interrogativas introduzidas por "quando", em que o poeta


interroga ansiosamente o seu presumível interlocutor sobre a Hora da sua vinda, apostrofando-
o, agora, como o "Encoberto", e usando várias vezes a perífrase para o designar ou descrever:

"... o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,"

"Sonho das eras português," (verso em que as necessidades de rima e ritmo - acentuação na 4,ª -
impõem a anástrofe);

"meu Sonho e meu Senhor"

O que o poeta pode fazer resume-se a estes pedidos: o seu coração "não tem que ter", resta-lhe o
mito, o sentir e o pensar. Não é de estranhar, portanto, que, nesta segunda parte, predominem
os verbos no futuro, porque é só nele que o velho sonho do poeta poderá vir a tornar-se
realidade.

A nível semântico, podemos salientar:

- A utilização das maiúsculas como forma de abstratizarão e sugestão sebastianista.

- A repetição da partícula interrogativa "quando" (oito vezes) que nos dá conta da inquietação,
mesmo da angústia do poeta, que vê num futuro e numa personagem místicos a possibilidade de
ultrapassar as contingências do passado e as frustrações e o tédio ("mágoa") do presente.

- A anástrofe (deslocação de elementos próximos na frase): "sonho das eras português".

- O hipérbato, na 3.º estrofe, terceiro e quarto versos.

- A interrogação que empresta ao poema uma grande expressividade e dramatismo.

- A personificação do mito, que aparece sob várias designações ou perífrases e a quem se trata
por tu:

"... quando quererás voltar?"

"Quando, meu sonho e meu Senhor?" etc.

- A supressão da forma verbal "virás" nos dois últimos versos:

"Da névoa e da saudade quando?

Quando, meu sonho e meu Senhor?"

que, pela sua omissão, vem tornar o final do poema mais conciso, vivo e vigoroso.
- A expressividade e a força do final do poema deriva ainda do aproveitamento da troca de
posição da partícula interrogativa "quando" do penúltimo verso (hipérbato) que, com este
artifício, fica apenas separada por uma pausa do fim do verso da mesma palavra que inicia o
último verso.

- A metáfora, tomada como uma ultrapassagem do sentido real das palavras para lhes emprestar
um sentido imaginário, abunda no texto:

"Meus dias vácuos enche e doura"

"... o sopro incerto

De um grande anseio que Deus fez?"

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