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no Marketing
2010 Khaire e Arte moderna Macro Historiadores, Textos e discursos fornecem uma
Wadhwani indiana críticos, galerias, narrativa para a institucionalização
leiloeiras, de um novo setor no mercado
investidores e mídia
2010 Navis e Glynn Rádio Macro Orgãos reguladores, A legitimação de uma nova
Satélite empresas categoria de mercado é um
empreendedoras, antecedente crítico para o
aliança de empresas, posicionamento diferenciado das
analistas de empresas dentro dela
investimento, mídia e
consumidores finais
2010 Humphreys Cassinos Macro Orgãos reguladores, Estratégias materiais e retóricas são
aliança de empresas, adotadas para a persecução da
gestores, mídia legitimidade reguladora, normativa
e cultural-cognitiva de uma
indústria
2012 Mair, Martí & Zona Rural Meso Intermediários, Instituições informais agem como
Ventresca de organizações não um sistema compensatório, criando
Bangladesh governamentais e um ambiente institucional estável
ativistas sociais para promover e sustentar os
negócios
2012 Dewald e Truffer Mercados Meso Intermediários, O foco no contexto local permite
Fotovoltaícos políticos, indústria e que o processo de formação do
institutos de pesquisa mercado se beneficie de estruturas
institucionais específicas (incluindo
instituições culturais e cognitivas,
redes e atores)
2012 Scaraboto e Fischer Moda Micro Marqueteiros, mídia Os consumidores agem para
especializada, mídia introduzir novas lógicas
convencional, institucionais em um mercado e,
associações, escolas, assim, modificá-lo
celebridades e
consumidores
2017 Kjellberg e Olson Maconha Macro Órgãos legisladores, Mercados emergentes adotam
consumidores, elementos institucionalizados de
indústrias adjacentes mercados adjacentes de modo a
facilitar o processo de
institucionalização
2018 Viotto, Sutil e Chocolates Macro Produtores, mídia, O processo de legitimação, que
Zanette premium associações, órgãos envolveu a interação de diferentes
reguladores atores focados na construção de
legitimidade cultural-cognitivo, foi
amparado pela legitimidade
normativa
2019 Baker, Storbacka, Circo Macro Comunidades A mudança de mercado pode ser
and Brodie coletivistas, órgãos impulsionada por atores periféricos
legislativos, ou não tradicionais do mercado
organizações não
governamentais
2021 Breidbach e Tana Criptomoedas Meso Comerciantes, Membros dos coletivos sociais
investidores, criam uma representação externa
mineradores, idealizada do mercado para
acadêmicos, aumentar a atratividade do mercado
profissionais de TI, para outsiders
empreendedores
comunitários
Os estudos de Giesler (2008), Kjellberg e Olson (2017), Humphreys (2010),
Humpreys e Latour (2013), Wilner e Uff (2017) e Hartman e Coslor (2019) abordam
mercados que carecem de algum pilar legitimatório. Estes autores apontam as diversas
estratégias que produtores ou consumidores adotam tendo em vista a legitimação de um
mercado. Já as lógicas institucionais - suposições, valores e crenças socialmente
construídas pelas quais as pessoas fornecem significado para sua realidade social em
contextos particulares (Thornton, 2004)- são tema dos trabalhos de Scaraboto e Fisher
(2012), Ertimur e Coskuner-Bali (2015), Dolbec e Fisher (2015) e Hartman e Coslor
(2019). Os autores demonstram que a complexidade institucional pode promover
desafios de legitimidade a um mercado, decorrentes das demandas concorrentes de
diferentes lógicas institucionais. Por sua vez, Humphreys (2010), Humphreys e Latour
(2013) e Viotto, Sutil e Zanette (2018) focalizam a dinâmica entre os três pilares de
legitimação. Tais autores sugerem que o processo legitimatório de dado mercado pode
ser conduzido pelo pilar normativo.
No conjunto, esses trabalhos têm consolidado a visão institucional sobre a
formação e transformação de mercado, tratando-as como resultado de ação coletiva de
atores diversos (Lee et al., 2018; Sprong et al., 2021). Tais estudos ressaltam que
mercados são fundamentados, em maior ou menor grau, nos três pilares legitimatórios
(Humphreys, 2010), podendo estar sujeitos a diferentes lógicas institucionais (Dolbec e
Fisher, 2015). Ademais, evidenciam um promissor horizonte para pesquisas que
promovam um diálogo entre teoria institucional e marketing.
Reconhecemos que recursos conceituais da teoria institucional estão apenas
começando a ser incorporados aos estudos de mercados (Baker et al., 2019; Chaney et
al., 2016). Cientes de que ainda existem lacunas que merecem ser investigadas nesta
esfera, no próximo tópico propomos uma agenda de pesquisa com o intuito de avançar o
conhecimento corrente acerca da formação e transformação de mercados sob a ótica
institucional.
4 AGENDA DE PESQUISA EM FORMAÇÃO DE MERCADOS
A primeira sugestão de pesquisa relaciona-se à interdependência e temporalidade
dos três pilares de legitimitidade – regulatório, normativo e sócio-cognitivo – na
formação de mercados. As pesquisas revelam que estes pilares são interdependentes,
porém silenciam sobre como os mesmos se manifestam à medida que mercados se
formam e/ou evoluem (Chaney et al., 2016). Qual é a ordem temporal entre eles? Como
tais pilares se conectam temporalmente? Existe alguma ordem para que a legitimidade
ocorra a partir destes três pilares?
A título de exemplo, no mercado de cassinos, Humphreys (2010) assinala que o
pilar normativo orientou a consecução do pilar regulatório. Entretanto, Humphreys e
Latour (2013), ao tratarem de apostas online, evidenciaram que a evolução da
legitimidade cultural-cognitivo foi conduzida pela legitimidade normativa. A ordem
proposta por estes estudos aplica-se especificamente aos mercados analisados ou
existem mercados em que a dinâmica destes pilares é diferente? Seria o pilar normativo,
então, o sustentáculo para a obtenção dos demais pilares?
A nosso ver, essas questões podem ser examinadas no mercado de armas legais
no Brasil. Em períodos anteriores à década de 1990, havia maior flexibilidade de posse
de armas no país, o que suscitava a coexistência de diversas lojas físicas especializadas.
No entanto, sucessivos governos com viés mais limitante acerca do tema promoveram
contínuas restrições regulatórias, o que provocou o encolhimento formal deste mercado
- a despeito de referendo realizado em 2005 no qual 63% da população foram contrários
à proibição do comércio de armas de fogo e munição no país. Neste caso, não seria o
pilar regulatório o mais preponderante? O que nos leva a outra reflexão: é possível que
qualquer um dos três pilares possa ser precursor de outro?
Outro mercado no contexto brasileiro que poderia ser examinado à luz da ordem
dos pilares de legitimidade é o Jogo do Bicho. Apesar de existir por mais de 120 anos –
movimentando cifras bilionários anualmente e possuindo capilaridade nacional -, o jogo
do bicho carece de legitimidade regulatória, representando a maior loteria ilegal do
mundo (Medeiro, Grant & Tavares, 2016). Como este mercado pode historicamente
legitimar-se na ausência da legitimidade regulatória? Qual é a ordem dos pilares de
legitimidade que regem o Jogo do Bicho?
Além da interpendência e temporalidade dos três pilares de legitimidade,
também sugerimos aprofundar pesquisas referentes às lógicas institucionais na
formação do mercado. Como ocorre a legitimação de um mercado em que coexistem
logicas institucionais distintas? Hartman e Coslar (2019), ao abordarem o mercado de
fertilização in vitro, apontam que empresas combinam múltiplas lógicas institucionais
para legitimar suas reivindicações. Os autores indicam que a retórica de diferentes
lógicas institucionais é capaz de se posicionar acerca de lógicas e conceitos
contraditórios. No entanto, como essas lógicas se alteram? Que tipos de atores atuam
para a alteração das lógicas institucionais? Quais recursos humanos e não-humanos eles
utilizam para proceder tal alteração? Como eles se organizam para impor uma lógica
institucional que esteja alinhada a seus interesses?
Sugerimos que tais questões podem ser examinadas a partir da análise da
formação do mercado brasileiro de apostas esportivas. Recentemente, a legislação
brasileira tem afastado as apostas esportivas da categoria ‘jogos de azar’ (Ministério da
Economia, 2019). Apostas esportivas online – desde que feitas em sites estrangeiros -
foram legalizadas em dezembro de 2018, a partir da Lei 13.756/2018, que também
estabeleceu as diretrizes para a regulamentação geral das apostas esportivas no país - em
vias de ser concluída (Ministério da Economia, 2020). Como essa lógica institucional se
alterou ao longo do tempo? Foi necessário criar uma nova categoria de produtos? Não
houve contestação de alguns atores? A lógica de dissociar apostas esportivas de jogos
de azar foi crucial para encaminhar a regulamentação? Quais recursos foram
mobilizados nesta transposição?
Essas questões podem ser tomadas como gatilho para o estudo das lógicas
institucionais na formação e legitimação de mercados. Ademais, ao buscar compreender
como as apostas esportivas transmutaram-se de prática associada à ilegalidade para um
mercado em vias de ser regulamentado vai ao encontro da sugestão de Humphreys
(2010) de se analisar processos de legitimação de mercados em contextos nos quais a
cultura afronta o ambiente regulatório.
Por fim, uma terceira possibilidade de pesquisa corresponde aos chamados
mercados maduros que estão sendo contestados (Debenedetti et al., 2021).
Tradicionalmente, tais mercados são bem estabelecidos, mas, por alguma razão - como,
por exemplo, pressões de atores sociais ou mudança em valores sociais -, passam a ser
questionados por atores diversos. Isso significa que os pilares da legitimidade e
respectivas lógicas institucionais que os sustentam podem estar sujeitos à revisão.
Como, portanto, os variados atores mediam as tensões que emanam da revisão dos
pilares da legitimidade? À vista dessa reflexão, mercados maduros contestados são
terreno fértil para a análise da transformação de mercados e representam tópico de
pesquisa ainda incipiente (Debenedetti et al., 2021).
No Brasil, temos, por exemplo, a questão do consumo de carne bovina. Trata-se
de um mercado estável e tradicionalmente exportador. No entanto, recentemente este
mercado tem recebido contestações advindas de movimentos ambientais que
questionam, por exemplo, as formas de tratamento dos animais, a viabilidade ambiental
do manejo do boi e a sustentabilidade que circunda o consumo desta carne. Como os
produtores, logo, atuam para manter a sua legitimidade normativa e sócio-cultural?
Como esses atores fazem frente aos sucessivos ataques provenientes de diversos grupos
de atores da sociedade? Será que está em curso uma revisão da lógica institucional
patrocinada pelos produtores de “proteína animal”?
Em síntese, acreditamos que estes três tópicos – interdependência e
temporalidade dos pilares de legitimidade, lógicas institucionais e contestação de
mercados - podem guiar a agenda de pesquisa de formação de mercados sob o prisma
institucional. Para tanto, o contexto brasileiro mostra-se convidativo ao progresso de
pesquisas que abordem as três temáticas assinaladas. Mercados como os de armas
legais, jogo do bicho, apostas esportivas e consumo de carne bovina se apresentam
propícios à elaboração de estudos que possam avançar o nosso conhecimento acerca da
formação e transformação de mercados.
5. CONCLUSÃO
Este trabalho explora a interlocução entre teoria institucional e marketing,
apontando a formação e transformação de mercados como temática proeminente para
estudos neste âmbito. Como resultado, propomos uma agenda de pesquisa que
oportuniza a produção acadêmica referente à formação e transformação de mercados.
Tal agenda de pesquisa aponta e detalha três possíveis temáticas de pesquisa,
associando-as a tipos de mercados pertinentes à investigação empírica. Com isso,
pavimenta férteis discussões sobre as oportunidades de diálogo entre teoria institucional
e marketing, promovendo a interdisciplinaridade e avançando o conhecimento atinente a
mercados.
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