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DEUS, que é senhor de tudo que acontece e proveu tudo que existe, guiando em sua
sabedoria a construção deste trabalho;
Nossas famílias, que nos sustentou emocionalmente até aqui e foram o segundo alicerce
no desejo fundamental de dedicar a vida em salvar outras vidas;
A PMBA, que teve sua relevância sintetizada nas palavras do CEL QOS PM Guimarães:
“pequenos e efêmeros somos nós, grande e perene é a Polícia Militar da Bahia”. Assim,
vemo-nos diante de uma instituição cada vez mais relevante, que estimula
intelectualmente seus integrantes;
Aos policiais militares que, no intuito de cumprir as missões constitucionais que lhes
foram delegadas, sangraram e dedicaram suas vidas ao serviço e ao bem geral da nação.
Ressaltamos os membros da 22ª CIPM e 20º BPM que foram vitimados em serviço e
motivaram a escrita deste manual: o CB PM Da Silva, CB PM Osmir, SD PM Herlen, SD
PM Brito, SD PM Gonzales e SD PM Leandro – todos feridos no exercício da função.
Esses policiais simbolizam tantos outros que, ao honrarem o juramento de servir e
proteger a sociedade, colocaram em risco a própria vida.
1.1 INTRODUÇÃO
Fonte: anuário do fórum brasileiro de segurança pública 2019; ISSN 1983-7364 ano 13 2019.
Não existem ainda estudos nacionais voltados à análise da letalidade em combate
policial e sua relação com o atendimento pré-hospitalar. Há, todavia, estudos americanos
que, ressalvando as peculiaridades, podem servir para entender a realidade brasileira.
Segundo dados da Tactical Combat Casualty Care Handbook, de Center for Army
Lessons Learned, quando se analisa as guerras internacionais, 40% dentre o número total
de mortos poderiam sobreviver se recebessem um atendimento pré-hospitalar adequado.
O estudo Death on the battlefield, de eastridge BJ, et al, em 2011, vai além e afirma que
hemorragia é a causa de 91% das mortes evitáveis, sendo que 13,5% delas poderiam ser
evitadas pelo simples uso de um torniquete. Esses números devem ser analisados com
cautela, pois se referem a cenários de guerra, onde, natural e logicamente, o poderio bélico
é muito mais acentuado, utilizando, inclusive, armamentos de destruição em massa –
realidade não experimentada pelo combate urbano policial.
1
*Tactical Combat Casualty Care Handbook, de Center for Army Lessons Learned (CALL)/ US- maio de
2010) (tradução dos autores)
Tabela disponível em: PHTLS 8ª edição, 2016, NAEMT.
Objetivos
Metodologia
A curto prazo:
1- Por parte do comando Geral: logo após aprovação, divulgar o manual através de
Boletim Geral Ostensivo;
2- Por parte do Instituto de Estudo e Pesquisa (IEP): implantação do manual como
parte inerente do conteúdo programático das matérias de atendimento pré-
hospitalar em todos os cursos de formação da PMBA em até 3 anos;
3- Por parte dos comandos regionais e de policiamento especializado: Iniciar, em até
3 anos, ciclos de instrução para a capacitação e dirimir as questões que surgirem
a partir da publicação do manual, com instruções teóricas de 5 horas/aula e
práticas de 5 horas/aula, processo que não gerará custos a instituição além do já
existente com a manutenção de sala de instrução e material de audiovisual;
A médio prazo:
1- Por parte do IEP em parceria com os grandes comandos: em até 5 anos criar o
Estágio de Socorrista Tático na Bahia, conforme legislação do Ministério da
Defesa, com mesmo modelo de 40 horas em 5 dias adotado pela Polícia Militar
do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ). Onde teríamos a divisão das instruções da
seguinte maneira:
Segunda:
Manhã - teórico APH Tático;
Tarde -prática APH Tático e conduta de patrulha
noite- oficinas de conduta de patrulha
Terça:
Manhã: teórico de aero médico e teórico de resgate aéreo
Tarde: prática resgate aéreo, preparação de terreno para helicóptero, aproximação
da aeronave e colocação de prancha em aeronave;
Noite oficina de conduta de patrulha e Arrasto;
Quarta:
Manhã: resgate em meio líquido teórico e prático;
Tarde: emergências clínicas (focando em suporte básico de vida, desobstrução de
vias aéreas e demais de maior incidência);
noite: oficina de conduta de patrulha, arrasto e atendimento tático;
Quinta:
Manhã APH civil (trauma)- teórico e prático;
Tarde: cinemática do trauma, trauma crânio encefálico, vias aéreas e inserção da
cânula Nasofaríngea;
Noite: oficinas de conduta de patrulha, arrasto, atendimento tático e extração de
feridos;
sexta:
Revisão geral, oficina prática simulando situação real e encerramento.
2- Por parte do IEP em parceria com os grandes comandos: em até 7 anos criar o
Curso de Atendimento Pré-Hospitalar Tático na Bahia, podendo ainda se fazer em
parceria com o Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBMBA), tendo em vista
se aproveitar toda a grade do Curso de Atendimento Pré-Hospitalar já existente
no CBMBA e somente somando-se cargas horárias de matérias ligadas ao
patrulhamento tático e Atendimento Pré-Hospitalar Tático, onde teríamos a
divisão das instruções da seguinte maneira:
Carga
INSTRUÇÃO
Horária
Aula Inaugural 2h
Oxigenoterapia 4h
Biossegurança 3h
Queimaduras 2h
Suporte Básico de Vida 4h
Cinemática do Trauma 4h
Politraumatismo I 6h
Politraumatismo II 4h
Politraumatismo III 4h
Emergências Clinicas 8h
Afogamento 8h
Extração de feridos 8h
3- Por parte do Comando Geral e operacionalizado pelo IEP: em até 05 anos, inserir
o torniquete como material necessário ao ingresso da instituição (parte do
“enxoval” pedido no Curso de Formação de Oficiais e no Curso de Formação
Soldados), conforme já é feito na Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC);
4- Por parte do IEP e operacionalizado pelo Comando de Policiamento
Especializado: em até 05 anos, inserir o torniquete como material necessário aos
cursos operacionais de longa duração da corporação;
A longo prazo:
1- No prazo de 10 anos, ter o estágio de socorrista tático como parte do currículo de
todos os cursos de formação e operacionais superiores a 30 dias da instituição;
2- No prazo de 15 anos, criar uma unidade especializada no tema, conforme já
existente em diversas PMs do Brasil. Adotar os trâmites administrativos que
viabilizam a criação de grupamento específico para resgate e salvamento através
do Departamento de Saúde como unidade gestora, aos moldes da PMERJ. Ou,
constatando a inviabilidade, adotar os trâmites para que seja abrigado em alguma
unidade especializada, como o Batalhão de Choque (BPChoq) por meio de sua
companhia de patrulhamento tático; o Grupamento Aéreo (GRAER), em virtude
do serviço diário de resgate e por ser o Resgate Aéreo uma das matérias
obrigatórias pelo Ministério da Defesa, de modo que é imperioso a presença do
GRAER no processo de ensino-aprendizagem; ou, por fim, as Companhias
Independentes de Policiamento Tático – CIPTs/ RONDESPs – por conta da
atividade-fim. As CIPTs figuram como boa opção, tendo em vista que seriam
executadas nos diversos grandes comandos da instituição.
3- Por parte do Comando Geral e operacionalizado pelo Departamento de Apoio
Logístico: No prazo de 15 anos, adquirir equipamentos de atendimento para as
unidades operacionais.
Resultado esperados:
Este manual não busca formar médicos ou enfermeiros, mas criar uma doutrina
prática, objetiva e aplicável ao policial militar desde os centros urbanos até os interiores
mais remotos. Para tanto, buscaremos sempre os termos mais usuais em detrimento dos
mais técnicos. Pois, apesar de ser um trabalho que atenda a todos os métodos científicos,
os destinatários transcendem o ambiente acadêmico, de modo que, com cautela e
responsabilidade, adotaremos termos e expressões mais flexíveis em prol da melhor
compreensão.
Este manual trata de assuntos referentes à saúde e às técnicas de combate, sendo
ambas ciências que constantemente sofrem alterações e atualizações de seus
conhecimentos e protocolos. Assim, é necessário que sofra atualizações constantes. No
tocante ao APH Tático, existem organizações internacionais que se reúnem anualmente
para debater sobre o tema e criar novos protocolos. É fundamental que o operador tático
seja incansável à busca da referência mais atual.
◼ Care Under Fire: é o cuidado sob fogo -muito limitado que pode ser fornecido
enquanto a vítima e o provedor estão sob fogo inimigo efetivo, nesse período irá
prevalecer a busca por abrigos, a supremacia de fogos, comunicação e o auto
socorro, todos pontos que serão debatidos mais a frente;
◼ Tactical Field Care: é o cuidado realizado em ambiente tático, mas não sob fogo
inimigo efetivo, momento que teremos o resgate do “X” (será explicado nas
próximas páginas) e o atendimento preliminar pela guarnição;
◼ TACEVAC: Transporte para fora do campo de batalha, a caminho de um
tratamento mais definitivo (na maioria dos casos, será provido pela própria viatura
policial, devendo se avaliar a necessidade e tempo que irá demorar o deslocamento
do grupamento aéreo ou solicitação de apoio ao Serviço de Atendimento Móvel
de Urgência/ SAMU);
I - aplicação de torniquete;
V - acesso intraósseo; e
VI - prescrição tática.
É salutar ressalvar que a portaria trata de situações de guerra e, portanto, diferem
do combate urbano policial, onde os policiais têm acesso mais rápido à atendimento
médico especializado e os níveis de atuação são definidos de acordo com a formação e
conhecimento de cada um, de maneira que fica inaplicável na atividade policial-militar
os itens II (de maneira invasiva), III, IV, V e VI. Resta ao policial no serviço ordinário os
itens I (aplicação de torniquete) e II (garantia de vias aéreas de maneira não invasiva).
1.1 GENERALIDADES
o Abrigo: obstáculo natural ou artificial que protege das vistas e também dos
disparos do inimigo.
I - Supremacia de fogos:
Entendemos como supremacia de fogos a interrupção do fato gerador da injusta
agressão, causada pela rendição, fuga, lesão ou morte de quem provocou o dano. Temos
como principais pontos:
1. Local “X” e suas implicações: para entender esse conceito, faz-se necessário
imaginar o local onde o militar foi alvejado como um ponto “X”, isto é, um espaço
no qual o inimigo já dispõe de uma pontaria favorável, podendo, desta forma,
fazer novas vítimas. Assim, é imperioso que os outros membros da guarnição
devam procurar se afastar ao máximo e, caso precise voltar, passem o menor
intervalo de tempo possível. Permanecer no “X” não é um ato de heroísmo, mas
de ausência de conhecimento. O combatente que assumir o “X”, no intuito de
proteger o companheiro, provavelmente se tornará outra vítima e, com isso, trará
um novo problema para a guarnição. Se, por exemplo, a guarnição for tipo “A” –
dois policiais militares – o segundo baleado será uma possível pena de morte para
ambos. Analogicamente, valemo-nos do exemplo das máscaras de oxigênio em
aeronaves: antes de ajudar o próximo é preciso estar vivo.
2. Assim que possível, solicite apoio externo. O policial deverá utilizar o rádio ou
outro meio disponível, mas a PM, sendo o órgão de maior capilaridade no Brasil,
terá maior possibilidade de atender aos pedidos de ajuda. Essa conduta será, em
muitos casos, o diferencial entre viver e morrer. Assim, mesmo em meio ao caos,
é imprescindível que tente informar que já existe um colega baleado, o número de
agressores e o local da ocorrência – são informações elementares;
Figura 1:
Enquanto está sob fogo e sem arma, o Sargento de Artilharia Ryan P. Shane
corre para o sargento Lonnie Wells, para puxá-lo para segurança durante as
operações de combate da USMC em Fallujah.
Figura 2:
O sargento Shane tenta puxar um ferido fatal.
Figura 3:
Figura 5:
O sargento da artilharia Shane, no chão à esquerda, foi atingido por atirador
insurgente2.
2
Legendas originais (tradução dos autores) do “INSTRUCTOR GUIDE FOR CARE UNDER FIRE
180801, disponíveis em https://www.naemt.org/docs/default-source/education-documents/tccc/tccc-mp/instructor-
guides/2-care-under-fire-ig.pdf?sfvrsn=5021c892_2 e https://catalog.archives.gov/id/6666044
3 RESGATE DE FERIDOS
Técnicas de saída de terreno hostil que precisam apenas dos próprios policiais militares:
8.1- Técnica “Bombeiro”:
1- O policial deverá dobrar as pernas do vitimado:
3
Tríade construída em Meng ZH, Wolberg AS, Monroe DM, III, Hoffman M. The effect of
temperature and pH on the activity of factor VIIa: implications for the efficacy of high-dose
factor VIIa in hypothermic and acidotic patients. J Trauma 2003;55:886-91.
Phtls - Atendimento Pré-Hospitalar ao Traumatizado - 8ª Ed. 2016, NAEMT.
A partir da Classe III precisaremos ter um nível ainda maior de cuidado. Para
tanto, foi realizada uma experiência pelos autores que busca dar uma noção visual da
quantidade de sangue perdida; não sendo uma medida exata, mas unicamente uma noção
de como certa quantidade de líquido é capaz de empoçar. Para tal comparação, foi
despejado em um rasgo na calça do figurante, de 500ml em 500ml, um líquido com
coloração semelhante com sangue:
Arterial: Hemorragia que faz jorrar sangue pulsátil e de cor vermelho vivo,
demandando, portanto, um alto nível de preocupação. Imagine aqui a tubulação (artéria)
de grande calibre e que está saindo em fortes pulsos da “bomba” (coração) para ir ao resto
da casa (corpo);
Venosa: Hemorragia onde o sangue sai mais lentamente e contínuo, com cor
vermelho opaco. A preocupação é elevada, mas não tão alto quanto a arterial. (imagine
aqui uma tubulação (veias) que também podem ter grandes calibres, mas está retornando
a bomba (coração), por isso terá um fluxo contínuo e perigoso, mas não tão forte quanto
os pulsos da arterial;
Capilar: O sangue sai lentamente dos vasos menores, na cor similar ao sangue
venoso/arterial. Baixo nível de preocupação na maioria dos casos.
Para conhecimento, traremos aqui o protocolo MARCHE que deu origem aos
demais:
(Protocolo TCCC, Imagem produzida pelos autores.)
Comparação MARCH e MARC1:
TEMPO:
4
Tabela retirada do Manual de Campanha ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR (APH)
BÁSICO (EB70-MC-10.343) de 2020.
5. PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS:
Luvas molhadas com o líquido de cor semelhante ao sangue em duas posições diferentes:
Basicamente, a regra para uso será: torniquete alto e apertado. Em outras palavras,
no momento do combate, não se irá dispor de tempo para localizar se um mesmo membro
está sangrando por vários pontos ou somente um e nem a precisão de voltas para parar o
sangramento, iremos aplicar o torniquete o mais próximo a raiz do membro e o mais
apertado possível, trazendo o PHTLS em sua 8ª edição uma segurança de uso (baixo risco
de lesão) por até 150 minutos com torniquete.
8
Altamirano MP, Kragh JF Jr, Aden JK 3rd, Dubick MA. Role of the Windlass in Improvised Tourniquet
Use on a Manikin Hemorrhage Model. J Spec Oper Med. 2015;15(2):42–46
Forma ideal de acondicionar e preparar o torniquete para o serviço:
3- Retornar com o velcro sobre o velcro por cerca de 15 cm, conforme figura:
4- Após essa etapa, deverá dobrar novamente a face sem velcro sobre a outra
face sem velcro, permitindo que ele não fique fixo, conforme figura:
(Imagem produzida pelos autores.)
a. Auto-aplicação:
3- Gire a haste o mais apertado possível ou, se tiver boa visualização, até parar o
sangramento.
3- Gire a haste o mais apertado possível ou, se tiver boa visualização, até
parar o sangramento.
2- Passe a banda sobre a haste e entre os clipes. Prenda com a cinta de fixação
cinza. Grave o tempo de aplicação.
(Imagem produzida pelos autores.)
USO DE TORNIQUETE:
10- O local para marcar o tempo (nos modelos CAT-6, CAT-7 e SAM)
devem sempre estar destravados antes do uso, pois deixando-os travados,
demandará tempo e causará muita dificuldade no autossocorro, devendo travá-los
apenas após aplicação do torniquete no ferido e, sempre que possível, registrar o
horário exato da aplicação, para que a equipe médica saiba por quanto tempo
aquela circulação foi bloqueada.
(Imagem produzida pelos autores.)
Zonas de transição:
3- ChitoGauze
4- X-Stat, Single Applicator
5- iTClamp
5- Abrir a gaze;
7- Iniciar um ciclo no qual a mão livre fará uma volta (uma pequena
“bola”) na gaze e levará até o local em que está a pressão, ocupando,
assim, o seu local, 1 para 1. Substitua o dedo segurando a pressão contra
o sangramento até preencher a cavidade inteira, na lateral de pescoço.
Não se deve fazer o preenchimento no sentido do centro do pescoço;
5.1.1 AR
Em “AR” teremos o tratamento imediato das vias aéreas, pois mesmo sendo as
hemorragias as maiores causadoras de óbito no ambiente pré-hospitalar, teremos a
obstrução de vias aéreas como a causa que mata mais rapidamente. Como dito na ATLS9,
com tradução livre dos autores, a entrega inadequada de sangue oxigenado ao cérebro e
outras estruturas vitais é o assassino mais rápido de pacientes feridos. Uma via aérea
protegida e desobstruída e ventilação adequada são essenciais para evitar hipoxemia.
3- Caso a vítima esteja consciente, deixe que escolha a posição que mais a
traga conforto respiratório, podendo inclusive ser sentada;
5.1.1.1: Respiração
5.1.1.1.1 Calor
10
Cyrillo, Regilene & Dalri, Maria & Canini, Silvia & Carvalho, Emilia & Lourencini, Renata. (2009).
Diagnósticos de enfermagem em vítimas de trauma atendidas em um serviço pré-hospitalar avançado
móvel. Revista Eletrônica de Enfermagem. 11. 10.5216/ree.v11i4.33235.
11
SIMOES, Romeo Lages et al . Atendimento pré-hospitalar à múltiplas vítimas com trauma simulado.
Rev. Col. Bras. Cir., Rio de Janeiro , v. 39, n. 3, p. 230-237, June 2012 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-69912012000300013&lng=en&nrm=iso>.
access on 22 Apr. 2020
na última etapa antes do transporte definitivo, devemos envolver a vítima com uma manta
aluminizada ou cobertor de emergência/ resgate que evite a sua perda de calor corporal,
envolvendo todo o corpo (inclusive cabeça, por onde se tem grande perca de calor) e
somente deixando sinalizado/ exposto o local onde foram aplicados torniquetes, para
visualização da equipe médica. Por mais que o clima esteja aparentemente quente para o
militar que procede o atendimento, para o ferido a perda de calor é muito rápida.
6.1.1.1 Fraturas
A fratura é a ruptura na continuidade de um osso. Ela pode ser causada por quedas,
impactos de viaturas, tiros e traumas de maneira geral. No cenário tático não teremos
tempo e segurança para tais estabilizações, porém, no cenário seguro, a estabilização deve
sempre ser feita antes do deslocamento, evitando piora do quadro.
6.1.1.1.1 Convulsões
Como agir:
1 – Chame ajuda;
2 – Caso a vítima esteja em pé ou sentada, deite a vítima ao solo de
maneira segura, evitando queda e maiores lesões;
3 – Não tente segurar a vítima no intuito de impedir as contrações;
4 – Não introduza a mão ou qualquer objeto na boca da vítima;
5 – Garanta que a vítima não causará maiores danos ao próprio corpo, a
proteja de quinas ou quedas, além de afastar qualquer objeto perigoso
da proximidade da vítima, segure a cabeça da vítima, no sentido de
amparar para que não cause choques contra o solo ou móveis;
6 – Folgue as roupas e cintos da vítima;
7 – Retire relógios e óculos da vítima;
8 – Lateralize a vítima para evitar engasgo;
9 – Espere que a vítima se restabeleça e a conduza ao hospital, caso o
serviço móvel ainda não tenha chegado.
7 IFAK
IFAK é uma sigla em inglês que quer dizer “Individual First Aid Kit” ou, em
português, kit individual de primeiros socorros. O kit deve ser usado em local de fácil
acesso pelo policial com qualquer uma das mãos e que esteja dentro do campo de visão
do militar. Sendo possível, o torniquete deve estar em um local de mais fácil acesso ainda,
podendo estar em algum anexo do próprio bornal que conter o kit ou em bornal próprio,
mas seguindo as mesmas regras de estar no campo visual do usuário e com acesso fácil a
ambas as mãos.
Por mais que aconteça - contra a doutrina - de um militar usar seu kit em outro
ferido, o princípio sempre deve ser de que o kit é de uso individual e pode ser aplicado
pelo próprio ferido. Dessa forma, o policial deve sempre ter em mente que o acesso será
feito no momento em que estiver ferido, podendo ser lesionado em qualquer parte do
corpo, de modo que o acesso deva ser possível com ambas as mãos. Além disso, há o
caráter emergencial que obriga o kit a estar no campo de visão do combatente, permitindo-
lhe alcançá-lo rápida e instintivamente. Sendo possível, deve-se ter ainda uma
padronização entre os membros da guarnição, para que todos tenham os mesmos
equipamentos e no mesmo local, pois, assim procedendo, no caso do ferido ficar
desacordado, o militar ao seu lado saberá exatamente onde pegar o kit do ferido e o que
nele consta. Essa padronização permitirá o uso do kit do lesionado nele próprio, além de
não desproteger, ou seja, deixar sem o kit, algum policial que porventura seja o próximo
lesionado.
(Demonstrativo do campo de visão e do IFAK e torniquete dentro do campo de visão do policial/
Imagens produzidas pelos autores)
(Demonstrativo de fácil acesso ao IFAK e ao torniquete por ambas as mãos/ Imagem produzida
pelos autores)
Para esse kit, usaremos como referência o Boletim Ostensivo 049 de 18 de março
de 2019 da PMERJ, ressalvando as peculiaridades. Assim, sugerimos para aquisição pelo
policial para uso individual em seu serviço operacional os seguintes componentes:
(Imagem meramente ilustrativa, produzida pelos autores de componentes do
IFAK)
• 01 Torniquete;
(Imagem meramente ilustrativa, produzida pelos autores de componentes do
IFAK: torniquetes.)
Mesmo que esse não seja um tema específico do IFAK, é válido ressaltar,
sobretudo no que concerne à padronização de condutas, o fato de muitos policiais
ajustarem equivocadamente a capa que segura a placa balística. Para que fiquem rentes
ao cinto de guarnição, os policiais utilizam placas menores que o ideal, protegendo a parte
inferior (abdominal) e expondo o tórax. Assim, é necessário ajustar para que a placa fique
mais alta e proteja órgãos mais caros à vida (coração, pulmões e grandes vasos). Deve-se
sempre utilizar placas no tamanho adequado e ajustá-las de maneira mais alta, assim
deixando os órgãos vitais protegidos e prezando pela funcionalidade, e não a mera
estética.
FLUXOGRAMA DE AÇÕES
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