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Curso de português

PORTUGUÊS PARA ATUAÇÃO PROFISSIONAL

CURSO: Técnico em Transações Imobiliárias


DISCIPLINA: Língua Portuguesa Na Atuação Profissional
DOCENTE: Prof. Ms. Mário Pires de Moraes

EMENTA:
Conhecer e os pressupostos da comunicação e reconhecer sua importância na
criação de relações humanas, inclusive comerciais. Os diversos usos da
Língua Portuguesa na vida cotidiana e profissional. Aperfeiçoamento das
habilidades de compreensão de texto nas diversas linguagens, redação,
argumentação, leitura e articulação. Estudo de aspectos da gramática de uso e
normativa.

OBJETIVOS:
 Refletir sobre a utilização da língua como interação social para atingir
resultados diversos e garantir o exercício da profissão e da cidadania.
 Rever aspectos funcionais da linguagem pertinentes ao universo
profissional.
 Usar os conhecimentos linguísticos no processo de interpretação e
produção textual;

CONTEÚDO

1. COMUNICAÇÃO
1.1. Reaprendendo o processo de comunicação;
1.2. O campo relacional na comunicação;
1.3. Língua e linguagem
1.4. Fala, escrita, ortografia e gramática
1.5. Norma e variação linguística
1.6. Preconceito linguístico e atuação comercial

2. ESPECIFICIDADES DA LÍNGUA
2.1. Níveis de Análise da Língua
2.2. Processos Fonológicos
2.3. Acordo Ortográfico (regras gerais)
2.4. Concordâncias: nominal e verbal – falhas mais comuns
2.5. Principais Casos de Concordância Verbal
2.6. Principais Casos de Concordância Nominal
2.7. Semântica – processos de significação
2.8. Leitura e Análise de textos: tipos de textos; gêneros textuais.
2.9. Textos informativos

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1 - COMUNICAÇÃO
Caros alunos,

Fazemos algo durante o nosso dia que não seja nos comunicarmos?
Tudo envolve comunicação, tudo envolve língua e sentido. Você acorda
e, pelo som de um aparelho, se desperta. Através desse som você sabe
exatamente que horas são, o que deve fazer em seguida, e quanto tempo tem
até a próxima atividade. Depois encontra as pessoas da sua casa e observa
seus rostos para saber se dormiram bem. E não adianta mentir, porque você
conseguirá saber, pela forma como está cada expressão, se estão dizendo a
verdade.
Você lê o jornal, ou liga a tv no noticiário da manhã. Pega o trânsito e tira
suas conclusões sobre o tempo, o movimento, as pessoas... tudo se comunica
conosco. De tudo conseguimos compreender suas “linguagens” próprias. Você
chega ao trabalho e novas informações, senta para conversar com os colegas
e ouve atentamente (ou não!) o que aconteceu com cada um no final de
semana. Alguns te tocam mais profundamente, outros apenas te fazem cumprir
o papel do bom colega de sala – aquele que não quer ser chato.
Você pode observar as roupas das pessoas que trabalham ou estudam
com você, perceber facilmente quem saiu de casa apressado, ou não dormiu
em casa (e repetiu a mesma roupa). Quem está mais sorridente ou com cara
de poucos amigos. A movimentação no ambiente, as cores que mais
aparecem... tudo ao seu redor se comunica com você. Você consegue ler tudo.
Estamos lendo os gestos, os desenhos, as cores, as letras, o tempo, a
natureza. Tudo é leitura, tudo é linguagem. Isso me impressiona e me faz
pensar que compreender e dominar diversas formas de linguagem é ter acesso
a um poder impressionante.
Observe que quando assistimos na televisão ou lemos em alguma
revista que determinado alimento faz mal à saúde, imediatamente mudamos
nosso comportamento com relação àquele alimento. Não sabemos, não fomos
ao laboratório fazer a pesquisa, mas alguém que reconhecemos como

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especialista nessa área disse, e isso por si só já é suficiente. Os mais religiosos


têm toda sua forma de pensar e agir norteada pelas palavras bíblicas, ou pela
interpretação de uma pessoa – pastor, padre, ou qualquer outra denominação
– dessas mesmas palavras. Ou apenas choramos quando toca uma bela
música cuja letra ou melodia aciona uma emoção latente dentro de nós.
Esses são só alguns exemplos, mas são suficientes para você entender
a importância de estudarmos e refletirmos sobre a nossa língua e nas melhores
formas de utiliza-la. Assim garantiremos não só o nosso sucesso profissional,
mas nossas melhores relações interpessoais, pois quanto mais habilidades
comunicativas melhor atuamos em sociedade.

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REAPRENDENDO O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO

Vamos relembrar nosso livro didático do Ensino Fundamental.


Todos os livros de Língua Portuguesa distribuídos nas escolas até o
começo dos anos 2000 traziam o mesmo esquema de comunicação. Esse
esquema foi produzido por um grupo de pesquisadores chamados de
Estruturalistas norte-americanos. Eis o esquema:

Lembra?
Perceba que nesse esquema, clássico, há um emissor (pessoa que
fala), um receptor (pessoa que ouve, ou recebe a mensagem), uma mensagem
que é transmitida de um a outro, um referente, ou seja, do que trata a
mensagem, um canal utilizado para essa comunicação e um código, uma
materialidade dessa mensagem, que pode ser a voz, a escrita, o gestual etc.
Algo te incomoda nesse esquema? Você aceita que a comunicação se
dá nesse modelo? Se você observar com mais cuidado verá que a seta, que
indica a direção na qual segue a comunicação, tem apenas um sentido, ela
apenas vai de um ponto a outro, do emissor para o receptor. Esse esquema
desconsidera a participação ativa de ambas as partes. Poderíamos entender
que nos modelos mais antigos de educação, e até mesmo nas igrejas, esse

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seria o mais próximo do real, afinal, os professores e os sacerdotes são


dotados de um saber que é depositado no outro por meio da linguagem.
É o que Paulo Freire chamava de “educação bancária”, aquela em que
um indivíduo dotado de saber deposita no outro todo o seu conhecimento, e
esse outro, que antes se encontrava como uma “tábula rasa”, vazio de
conhecimento, era passivamente beneficiado pelo ensino do “doutor”.
Contudo, mesmo que não haja uma resposta verbalizada, um feedback
do outro sujeito que participa desse processo, conhecido no esquema acima
como receptor, há, dentro dele, uma série de diálogos que ou aceitam ou
contestam ou ruminam a fala proferida pelo “emissor”. De forma consciente, ou
não, o “outro” da comunicação responde àquilo que lhe foi dito. Essa
responsividade é a base das novas compreensões da comunicação.
Um importante estudioso da linguagem diz que “toda fala proferida está
prenhe de resposta”. Toda vez que dizemos algo a alguém essa fala é
respondida, mesmo que mentalmente. Ela gera insights, pensamentos
diversos, contestações e, no futuro, mesmo que não seja diretamente para
você, essa fala que foi ouvida será utilizada de alguma maneira, em novos
enunciados, proposições, textos.
Constatando que há então uma participação ativa de ambas as partes
envolvidas numa comunicação, os estudiosos da linguagem têm proposto um
esquema de comunicação que se parece com o esboçado à seguir.

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O que é importante enfatizar nesse esboço de esquema, e que o


profissional deve se atentar, é a característica cíclica da comunicação. Em
qualquer relação dialogal, a fala de um é sucedida pela fala do outro que,
organiza mentalmente uma resposta, uma intervenção, antes mesmo que o
outro termine de dizer algo. Todas as pessoas que participam de uma
comunicação são participantes ativas, até mesmo porque, aquele que assume
a palavra deve, obrigatoriamente, se preocupar com aquele que recebe a
mensagem, com o outro.

O bom comunicador se preocupa com quem o ouve. É aquela clássica


história de “quem é a culpa por uma falha na comunicação?” quando não
entendo algo que você diz, quem é o responsável?

Eu respondo: ambos!

O CAMPO RELACIONAL NA COMUNICAÇÃO

A comunicação é uma faculdade humana. Logo, o mais importante na


comunicação são as pessoas que estão envolvidas nesse processo. O campo
relacional diz respeito à conexão que duas pessoas podem estabelecer se
estiverem sinceramente envolvidas no processo. Isso gera o que chamamos de
“rapport”.
Esta ferramenta magnífica de comunicação é capaz de extrapolar a
linguagem verbal. Ao entrar em rapport criamos um campo de energia mágico,
que permite, por alguns instantes, vivenciar a vida da outra pessoa. Com isso,
podemos ver; ouvir; sentir e entender o outro, em sua essência maior, sem
preconceitos e julgamentos.
Esta permissão para acessar a outra pessoa permite fazer uma leitura
sistêmica dela, que compreende desde a postura corporal, o movimento de
seus olhos, seus gestos e que permite, através destes sinais, uma
compreensão maior de suas intenções, motivações, crenças, valores e visões
de mundo.

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Provido destas informações, o profissional deve buscar entender seu


cliente e, em hipótese alguma, tentar induzi-lo a fazer o que ele considera o
certo. Como bem sabemos, as respostas estão e são do cliente e o nosso
papel é apoiá-lo, com nossas técnicas e ferramentas, no alcance rápido e
efetivo de suas metas, objetivos e resultados profissionais e pessoais.
De modo geral, para conseguirmos obter a empatia, seja numa venda ou
em qualquer outra situação, precisamos nos conectar visualmente a essa
pessoa e, neste contato, é essencial que haja uma troca sinérgica. Isso
significa que todos os estímulos, sejam eles: físicos, gestuais, posturais, a
intensidade da respiração, o timbre e o tom de voz precisam estar
perfeitamente sintonizados ao dá outra pessoa para que o rapport seja feito.
Cada pessoa tem sua própria forma interagir, processar as informações
e tempos distintos de conectar-se ao outro. Para iniciar uma conversa ou
qualquer tipo de relacionamento, é preciso observar e encontrar as melhores
maneiras de acessar o outro e se comunicar com ele.
Suas palavras podem ser a semente que gerará um broto, uma vida
nova, um lampejo de ideia, ou pode ser a lâmina que corta, que ceifa, que
abafa toda possibilidade de crescimento e desenvolvimento. Sua comunicação
pode gerar a esperança e a humildade a partir do reconhecimento ou pode
gerar a angústia e a descrença.

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LÍNGUA, LINGUAGEM

A língua é um sistema abstrato de signos, partilhado por uma dada


comunidade para a transmissão de informações, a interação entre as pessoas
e para representar o mundo. Toda língua tem uma organização própria e
aspectos próprios que estabelecem suas possibilidades de significação.

A linguagem é justamente a faculdade humana capaz de utilizar desse


sistema linguístico para a comunicação. A materialização do sistema linguístico
são formas de linguagem, como a oral, escrita, gestual, visual etc. sempre que
estamos usando um sistema linguístico estabelecemos uma situação de
linguagem.

FALA, ESCRITA, ORTOGRAFIA, GRAMÁTICA

É por meio da fala das pessoas que podemos descrever a língua.


Embora façamos parte de uma comunidade grafocêntrica, em que se dá uma
grande importância ao conhecimento da escrita, é no uso verbal da língua que
identificamos importantes traços sociais.
Observando a fala das pessoas vemos como mesmo utilizando um único
sistema de signos linguísticos, ou seja, a mesma língua, ainda assim
encontramos uma centena de diferenças que chamamos “variação
linguística”. A variação na fala das pessoas também compõe o sistema da
língua – daí temos as categorias “linguagem padrão” e “variantes linguísticas”.
A escrita, ao contrário da fala, é regida por regras prescritivas. A escrita,
salvo em alguns gêneros textuais, não admite variações, pois ela tenta dar ao
sistema linguístico certa estabilidade, um padrão, que faça com que, a partir
desse modelo de linguagem, pessoas que compartilham variedades diferentes
da mesma língua possam se comunicar.
Gramática é o nome que se dá à organização desses sistemas. No caso
da língua essa gramática se encontra na fala – Gramática da Língua ou do
Uso. Descrevendo a fala podemos descobrir as regras intrínsecas ao sistema

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linguísticos. E na escrita, temos a Gramática Normativa, aquela que cria


normas para adequar o padrão unívoco.

NORMA E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

O que chamamos de norma também é chamada de “língua padrão”. É um


conceito estranho para os estudiosos da linguagem pois mesmo a norma é
uma forma de variação.
Mas... quem elegeu a norma da língua?
Desde que o português brasileiro se diferenciou do português de Portugal
que uma forma de língua ganhou status sobre a outra e se diferenciou. A forma
de língua que se produzia nos livros e, por conseguinte, era reproduzida pelas
pessoas letradas nos meios urbanos, foi conhecida como norma culta ou
norma de prestígio e, assim, ficou estabelecida como a forma “padrão da
língua”. Ou seja, a forma de língua padrão é aquela que reproduz, na fala, as
normas da língua escrita, usada por pessoas escolarizadas nos meios urbanos.
O Português brasileiro, como língua natural, adquire variações que podem
ser regionais, culturais, etárias (pelas faixas de idade), profissionais, variações
de gênero (uma variação mais própria para a comunicação com mulheres,
homens, homossexuais) enfim... há várias situações em que a língua sofre
modificações no seu vocabulário, na sua prosódia (ritmo de fala), a sua
morfologia (a composição das palavras) e principalmente fonológicas. Com o
tempo, conforme vamos transitando por diversos eixos da vida cotidiana,
vamos nos apropriando de várias variantes da língua e, mais importante,
aprendendo a usá-las de maneira mais adequada à cada situação.
A variação é um fenômeno inerente de todas as línguas. As variantes são
legítimas dentro de um sistema, elas não são erradas, pois, na fala, não há erro
– Podemos falar apenas em adequação comunicativa, que diz respeito ao grau
de formalidade. Contudo, na escrita, as variantes devem ser relativizadas.
Conforme o grau de formalidade do gênero se estabelece uma escrita mais
próxima ou não do padrão.

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PRECONCEITO LINGUÍSTICO E ATUAÇÃO COMERCIAL

Um bom comunicador conhece as variantes linguísticas e sabe usá-las.


Estamos equivocados quando pensamos que apenas a norma considerada
padrão deve ser utilizada. Não devemos descartar, considerando incorretas, as
variantes informais às quais estamos expostos. Bem como variantes como
rurais e de grupos de convivência.
Quando julgamos uma pessoa pela variante linguística que ela utiliza
estamos incorrendo em preconceito linguístico. Esse julgamento impede que o
campo relacional e o rapport se estabeleçam, pois estaremos incomodados
pela forma como a pessoa fala, especialmente nos casos de variantes rurais e
regionais – os famosos sotaques.
Como profissionais devemos também ser profissionais da comunicação
e da linguagem. Se você está atendendo a clientes mais simples, ou seja,
menos escolarizados, ou residentes em cidades do interior do Estado, se
permita falar de forma menos monitorada, isso quer dizer, menos preocupado
com formalismos. Adéque seu vocabulário para que o outro se sinta aceito
dentro.

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Muito importante nesse quesito é entendermos a noção de erro. O erro


na linguagem sempre estará tomando como base a gramática normativa, mas
lembre-se que a gramática normativa é para a escrita e não para a fala. Antes
de corrigir alguém entenda se o contexto de comunicação e respeite a variante
linguística do outro. Não diga que alguém está falando errado, diga que aquele
registro linguístico não é adequado a determinada situação.
Na verdade, o erro também é julgado pelo feio. Quero dizer que além do
certo e errado há também a língua “feia”. Isso é o preconceito linguístico
regional, as pessoas acham “feio” determinado sotaque e isso leva à chacota, a
quebra nas relações, à rejeição do outro.
Essas são atitudes inaceitáveis no universo profissional, especialmente
no campo comercial. A linguagem do outro não deve diminuí-lo nem ser
utilizada como pretexto para rótulos. Essa é uma falha inaceitável para
profissionais e, especialmente, profissionais comunicadores.

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2 – ESPECIFICIDADES DA LÍNGUA

Nesse segundo momento vamos relembrar algumas questões


normativas que nos ajudarão a estabelecer melhores interações, sejam verbais
ou escritas. Fique tranquilo e aberto! A língua está ao seu serviço e não contra
você.
As emoções positivas podem te ajudar a compreender melhor a língua,
para isso é importante usar frases positivas como “eu posso aprender, eu
posso conseguir, eu sei português”. Até porquê sabemos mesmo, senão não
seriamos usuários dessa língua tão bela.

NÍVEIS DE ANÁLISE DA LÍNGUA

Estão descritos aqui os diversos níveis que podemos usar para analisar
uma língua natural. Esses termos são importantes para podermos
compreender melhor a metalinguagem, ou seja, quando usamos a língua para
explicar a própria língua.

Fonética/Fonologia – Estudo dos sons da língua. Menor partícula de análise é


o fonema. A forma como falamos e as variantes linguísticas estabelecidas no
sistema fônico são estudadas nesse nível.

Morfologia – Estudo da estrutura das palavras. O morfema é a menor unidade


de análise. Morfema é uma parte informacional do processo de formação das
palavras.

Sintaxe – Sua menor unidade de análise é a sentença (oração/frase). A sintaxe


se preocupa com a posição e a função dos termos ao compor um enunciado.

Semântica – É o estudo da significação das palavras e como esses


significados se modificam conforme o uso.

Pragmática – Também estuda a significação, mas a partir dos atos de fala, ou


seja do momento em que se surge uma fala ou um texto, levando em conta a
situação comunicativa.

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PROCESSOS FONOLÓGICOS

Na nossa fala, seja pela variante da língua que falamos ou por alguma
particularidade do nosso aparelho fonador, podem ser observadas algumas
situações fonéticas de mudança, acréscimo, troca fonética que chamamos de
“Processos Fonológicos”.
A importância de conhecer os processos fonológicos está na
possibilidade de, conhecendo-os, podermos nos adequar à forma de fala mais
prestigiada pela sociedade. É preciso observarmos melhor o nosso modo de
falar (e não apenas o dos outros) para compreendermos o que podemos
aperfeiçoar na nossa comunicação oral.
Veja a seguir alguns processos fonológicos e vamos refletir sobre a
nossa própria fala.

Rotacismo
Este é um fenômeno Linguístico muito comum, mas talvez seja aquele
que gera mais preconceito, que aqui chamamos de preconceito linguístico.
Rotarcismo é a troca do fonema /l/ pelo /r/. O fonema que é linguodental passa
a ser fricativo.
Planta – pranta
Cliente – criente
Problema – pobrema
Bicicleta – bicicreta

Apagamento
Apagamento equivale à supressão de um segmento (consoante, vogal)
ou de uma sílaba inteira. Há diversos tipos de apagamento:
a) aférese: apagamento de segmento inicial de palavra.
arrancar - rancar
está - tá
José – Zé
b) síncope: apagamento de segmento no meio da palavra.
Xícara – xicra

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Chácara – chacra
Abóbora – abóbra
c) apócope: apagamento de segmento final. Ocorre especialmente nos
infinitivos
olhar – olhá
correr – corrê
comprar – compra
dormir -dormí

Ditongação
Diz respeito a formação de ditongos.
três – treis
mês – meis
rapaz - rapaiz
arroz – arroiz

yeísmo ou iotização

Troca de fonema /lh/ por /i/


telha – teia
galha – gaia
colher – coié

ACORDO ORTOGRÁFICO

O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi assinado em 1990,


em Lisboa, e segundo novo decreto assinado pelo presidente Lula, passa a ser
instituído em 2009, no Brasil. O novo acordo atinge 0,5 % da escrita brasileira,
e 1,6 % das palavras usadas na Língua Portuguesa de Portugal, São Tomé e
Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique e Timor-leste.
O Brasil e estes países formam a CPLP – Comunidade de Países de
Língua Portuguesa. Profissionais liberais, professores, jornalistas, tradutores,
escritores e revisores terão até o dia 31 de dezembro de 2012 para se
adaptarem a reforma linguística, instituída com a finalidade de padronizar e
universalizar a língua portuguesa em todos os países lusófonos.
Cerca de 230 milhões de pessoas falam o idioma português no mundo, e
o Brasil é a maior nação de língua portuguesa com mais falantes.

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Principais regras do Novo Acordo Ortográfico:


ALFABETO: Hoje tem 23 letras, agora passa a ter 26. O k, w e y voltam ao
alfabeto oficial.

TREMA: somem de toda a escrita os dois pontos usados sobre a vogal “u” em
algumas palavras, mas apenas da escrita. Assim, em “linguiça”, o “ui” continua
a ser pronunciado. Exceção: nomes próprios, como Hübner.

ACENTO DIFERENCIAL: também desaparecem da escrita. Portanto, pelo (por


meio de, ou preposição + artigo), pêlo (de cachorro, ou substantivo) e pélo
(flexão do verbo pelar) passam a ser escritos da mesma maneira.
Exceções: para os verbos pôr e pode – do contrário, seria difícil identificar, pelo
contexto, se a frase “o país pode alcançar um grande grau de progresso” está
no presente ou no passado.

ACENTO CIRCUNFLEXO: Desaparece nas palavras terminadas em êem


(terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo de crer,
ver, dar…) e em oo (hiato). Caso de crêem, vêem, dêem e de enjôo e vôo.

ACENTO AGUDO: 1 – Nos ditongos abertos éi e ói, ele desaparece da


ortografia. Desta forma, “assembléia” e “paranóia” passam a ser assembleia e
paranoia. No caso de “apóio”, o leitor deverá compreender o contexto em que
se insere – em “Eu apoio o canditato Fulano”, leia-se “eu apóio”, enquanto
“Tenho uma mesa de apoio em meu escritório” continua a ser escrito e lido da
mesma forma.
2 – Desaparecem no i e no u, após ditongos (união de duas vogais) em
palavras com a penúltima sílaba tônica (que é pronunciada com mais força, a
paroxítona). Caso de feiúra.

USO DO HÍFEN
Deixa de existir na língua em apenas dois casos:
1 – Quando o segundo elemento começar com s ou r. Estas devem ser
duplicadas. Assim, contra-regra passa a ser contrarregra, contra-senso passa

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a ser contrassenso. Mas há uma exceção: se o prefixo termina em r, tudo fica


como está, ou seja, aquela cola super-resistente continua a resistir da mesma
forma.
2 – Quando o primeiro elemento termina e o segundo começa com vogal. Ou
seja, as rodovias deixam de ser auto-estradas para se tornarem autoestradas
e aquela aula fora do ambiente da escola passa a ser uma atividade
extraescolar e não mais extra-escolar.

CONCORDÂNCIAS: NOMINAL E VERBAL – FALHAS MAIS COMUNS


Como não é possível tratar aqui de todos os capítulos da gramática
normativa, foram escolhidos dois aspectos da sintaxe da Língua Portuguesa
que são indispensáveis à produção textual: a concordância nominal e a verbal.
Concordância é o mecanismo pelo qual as palavras alteram suas terminações
para se harmonizarem com outras dentro da frase.
Considere a partir do diálogo:
"O Pobrema das Concordança"

Vermeio - Ei! O que há com você?


Azulao - Houveram problemas...
Vermeio - Que problemas??
Azulao - A Beti está meia nervosa....
Vermeio - Por quê?
Azulao - Ela pediu para mim comprar o ingresso para um jogo, eu se esqueci.
Vermeio - Humm... complicado!
Azulao - O Zecão comprou o ingresso pra ela, ela ainda agradeceu:
"Obrigado!"
Vermeio - Não se preocupe, as situação pode mudar....
Azulao - Fazem dois meses que estamos juntos... não posso perde ela!
Vermeio - Chega nela, diz que quer levar ela no jogo....
Azulao - Ehh... convido pra come uns pastel e tomá um chops!
Vermeio - Ela mesmo vai se dar conta que o Zecão está mau-intencionado!
Azulao - Será???
Vermeio - Existe esperanças cara! Ele vive as custas do pai, e voce não, voce
é trabalhador!
Azulao - É verdade! Vou ir agora pro estádio.

Verificando a concordância no diálogo

a) Houveram problemas...
Concordância Verbal - o verbo haver no sentido de existir, acontecer só pode
ser usado no singular. O correto seria:

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Houve problemas.
b) A Beti está meia nervosa....
Concordância Nominal - a palavra meio varia para o feminino quando for usada
no sentido de metade. Por exemplo: Comi meia maçã. No diálogo, o correto
seria: meio nervosa, pois o sentido do termo é de um pouco, um tanto, portanto
fica apenas no masculino.

c) Ela pediu para mim comprar o ingresso para um jogo, eu se esqueci.


Uso de pronomes - Na primeira oração deveria ter sido dito para eu comprar,
pois o "eu" é quem pratica a ação na frase e o "mim" serve apenas como
complemento.
Na segunda oração o correto seria eu me esqueci, pois o "se" faz referência a
ele e o "me" refere-se à primeira pessoa "eu".

d) O Zecão comprou o ingresso pra ela, ela ainda agradeceu: "Obrigado!"


O uso da preposição - Na linguagem formal deveria ser: para ela.
Concordância Nominal - As mulheres devem agradecer dizendo "Obrigada",
pois o termo concorda em gênero (masculino e feminino) e número (singular e
plural) com a palavra que se refere.

e) Não se preocupe, as situação pode mudar....


Concordância nominal e verbal - o correto seria dizer: a situação pode mudar,
fazendo com que todos os termos ficassem no singular. Poderíamos dizer
também: as situações podem mudar, fazendo concordância de todas as
palavras no plural.

f) Fazem dois meses que estamos juntos... não posso perde ela!
Concordância verbal - Faz dois meses seria o correto, pois o verbo fazer na
indicação de tempo transcorrido fica sempre no singular.
Emprego do pronome - na linguagem formal, diríamos: perdê-la, pois o
pronome ela, não deve ser usado como complemento na oração.

g) Chega nela, diz que quer levar ela no jogo....


Linguagem coloquial - a expressão chega nela tem um sentido de: vá até ela
ficando assim mais formal.
Emprego do pronome - na linguagem formal, diríamos: levá-la, pois o pronome
ela não deve ser usado como complemento na oração.

h) Ehh... convido pra come uns pastel e tomá um chops!


Concordância nominal e verbal - deixando mais correta a escrita teríamos: para
comer uns pastéis e tomar um chop, pois deve haver concordância no singular
ou no plural de todos os termos.

i) Ela mesmo vai se dar conta que o Zecão está mau-intencionado!


Concordância nominal - o termo mesmo concorda em gênero e número com a
palavra a que se refere, portanto o correto seria: ela mesma.

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Ortografia - teríamos que escrever mal-intencionado, porque nesse caso o mal


significa advérbio de modo (contrário de bem) e para empregar mau o sentido
deve ser de qualidade (contrário de bom).

j) Existe esperanças cara! Ele vive as custas do pai, e você não, você é
trabalhador!
Concordância verbal - o verbo existir concorda em número com o termo a que
se refere, seria ideal a escrita: existem esperanças.
Ortografia - o certo seria à custa de significando dependência financeira do filho
para com o pai e as custas de é uma expressão ligada ao Direito e que indica:
pagar as despesas de.

k) É verdade! Vou ir agora pro estádio.


Construçao verbal - não há necessidade de usar dois verbos para indicar
apenas uma situação, o correto seria dizer: irei agora para o estádio, tornando
a escrita mais formal com o uso do: para o.

PRINCIPAIS CASOS DE CONCORDÂNCIA VERBAL

Regra geral: o verbo deve concordar em pessoa e número com o seu sujeito.
Eu saí tarde.
Tu saíste tarde.
As moças saíram tarde.

Sujeito composto: quando temos um sujeito composto, o verbo deve ficar no


plural. Caso o sujeito composto esteja depois do verbo, a concordância poderá
ser feita com o núcleo mais próximo.
O diretor e o professor saíram.
Saiu o diretor e o professor.
Saíram o diretor e o professor.

O sujeito é o pronome "que": o verbo deverá concordar com o antecedente


desse pronome.
Fui eu que falei.
Foi o aluno que falou.
Fomos nós que falamos.

O sujeito é o pronome relativo "quem": o verbo deve concordar com o pronome


"quem", e ficar na terceira pessoa do singular.
Fui eu quem falei.
Foi o aluno quem falou.

O sujeito é um coletivo: quando o sujeito for um substantivo coletivo, o verbo


deve ficar no singular.
A multidão gritava entusiasmada.
Um bando voava rumo ao Polo Sul.

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Quando o coletivo vier acompanhado de palavra no plural, o verbo pode ir para


o plural ou ficar no singular.
A multidão de pessoas gritava ou gritavam entusiasmadas.
Um bando de aves voavam ou voava rumo ao Pólo Sul.

Concordância de haver e fazer impessoais: devem permanecer na terceira


pessoa do singular quando significarem existir, na indicação de tempo ou
fenômeno natural.
Havia muitos livros na estante.
Faz dez anos que não o via.

Quando um verbo auxiliar se juntar aos verbos haver e fazer impessoais, ele
também deverá ficar no singular.
Devia haver muitos livros na biblioteca.

O verbo existir não é impessoal, ou seja, ele concorda normalmente com o


sujeito.
Existiam muitos livros na biblioteca.

Concordância do verbo "ser": quando, na oração, houver pronome pessoal


(eu, tu, ele, nós, vós, eles) o verbo "ser" concordará com o pronome a que
se refere.
Os responsáveis somos nós.
O professor sou eu.
Eu sou o professor.

Quando o sujeito for um dos pronomes interrogativos: que ou quem, o verbo


ser concordará obrigatoriamente com o predicativo.
Que são células?
Quem foram os responsáveis?

Quando o verbo "ser" indicar tempo, data, ou distância, deverá concordar com
o numeral.
É uma hora.
São duas horas.
Daqui até a escola são cinco quadras.
São 22 de setembro.

PRINCIPAIS CASOS DE CONCORDÂNCIA NOMINAL


Regra geral: o adjetivo e as palavras adjetivas (artigo, numeral, pronome
adjetivo) concordam em gênero e número com o nome a que se referem.

Esta observação curta desfaz o equívoco.


Um só adjetivo qualificando mais de um substantivo:
a) Quando vem posposto aos substantivos: vai para o plural, dando prioridade
ao masculino.
Tratava-se de vaidade e orgulho excessivos.

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b) Ou concorda com o elemento mais próximo.


Tratava-se de orgulho e vaidade excessiva.

c) Quando o adjetivo vem posposto aos substantivos e funciona como


predicativo, vai para o plural.
A vaidade e o orgulho são companheiros.

d) Quando o adjetivo vem anteposto aos substantivos, concorda, por norma,


com o elemento mais próximo.
Era dotado de extraordinária coragem e talento.

e) Quando for predicativo (depois de verbo de ligação: ser, estar, parecer,


permanecer, ficar) poderá concordar com o mais próximo ou no plural.
Estava deserta a vila, a casa e o templo.
Estavam desertos a vila, a casa e o templo.
Um só substantivo e mais de um adjetivo:
O substantivo fica no singular e repete-se o artigo antes de cada
adjetivo:
O produto conquistou o mercado europeu e o americano.

O substantivo vai para o plural e não se repete o artigo antes de


cada adjetivo:
O produto conquistou os mercados europeu e americano.
Em expressões como: é proibido, é bom, é necessário; há duas
construções possíveis:

É necessário organização.
É necessária a organização.

Bastante/ bastantes:
a) Quando tiver o sentido de muitos, vários, vai para o plural;
Havia bastantes propostas para o caso.

b) Quando tiver o sentido de muito, demais fica invariável.


Suas opiniões são bastante críticas.

Meio / menos:
a) Meio: varia se tiver o sentido de metade.
Comi meia maçã ao sair de casa.

b) No sentido de mais ou menos fica invariável.


Vera parece meio aborrecida.

c) Menos é invariável em todas as situações.


Há menos alunas que na noite passada.

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Curso de português

SEMÂNTICA
Semântica é o estudo do sentido das palavras de uma língua.

Na língua portuguesa, o significado das palavras leva em consideração:

Sinonímia: É a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que


apresentam significados iguais ou semelhantes, ou seja, os sinônimos:
Exemplos: Cômico - engraçado / Débil - fraco, frágil / Distante - afastado,
remoto.

Antonímia: É a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que


apresentam significados diferentes, contrários, isto é, os antônimos: Exemplos:
Economizar - gastar / Bem - mal / Bom - ruim.

Polissemia
É a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar vários
significados.
Exemplos:

 Ele ocupa um alto posto na empresa.


 Abasteci meu carro no posto da esquina.

Homônimos

É a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem significados


diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica .

As homônimas podem ser:

Homógrafas - são as palavras iguais na escrita e diferentes na pronúncia.

Eu gosto de salada.
O gosto da salada

Homófonas - são as palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita.


Exemplos:

cela (substantivo) - sela (verbo)

cesta = utensílio - sexta = ordinal referente a seis.

cerrar (verbo) - serrar (verbo)

Paronímia: É a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras que


possuem significados diferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na
escrita, isto é, os parônimos:
Exemplos:
cavaleiro - cavalheiro

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Curso de português

absolver – absorver
comprimento – cumprimento
descriminar - discriminar
geminada – germinada

Valor semântico das preposições

Desta feita, analisemos algumas ocorrências nas quais podemos constatar tal
fenômeno linguístico. Eis que são:

Posse
Estes livros são do antigo professor.

Causa
Após o terremoto, várias crianças morreram de desnutrição.

Matéria
Todos aqueles artefatos são de couro.

Assunto
Discutimos muito sobre as obras literárias.

Companhia
Iremos à festa com você.
Finalidade
Preparamo-nos para os festejos natalinos.

Instrumento
O garoto feriu-se com a faca.

Lugar
Curtirei minhas férias em Maceió.

Origem
Todos os turistas são de Belo Horizonte.

Tempo
A empresa tem um prazo de 20 dias para a entrega dos pedidos.

Meio
A publicidade pela Internet implica em bons resultados.

Conformidade
Fizemos a pesquisa conforme foi solicitado.

Modo
O resultado do concurso foi aguardado com tamanha ansiedade.

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Curso de português

Oposição
Os eleitores mostraram-se contra a proposta dos candidatos.

LEITURA E ANÁLISE DE TEXTOS

Entende-se por texto, todo dado linguístico capaz de veiculas sentido.


Desse modo, muitas coisas podem ser consideradas um texto, não apenas
algo escrito, como esse que você lê. Uma imagem, uma propaganda, um
gesto, um simples olhar ou apenas uma palavra isolada... tudo isso pode ser
considerado texto.
Para analisar um texto é necessário estudar um todo, dividindo em
partes, interpretando cada uma delas, para a compreensão do todo. Quando se
faz análise de texto, penetramos na idéia e no pensamento do autor que
originou o texto. Para que o estudo do texto seja completo, temos que
decompô-lo em partes e, ao fazê-lo, estamos efetuando sua análise.

Para a análise do texto, temos um esquema que inclui:

a) Análise Textual – leitura visando obter uma visão do todo, dirimindo todas as
dúvidas possíveis, e um esquema do texto.
b) Análise Temática – compreensão e apreensão do texto, que inclui: idéias,
problemas, processos de raciocínio, comparações e esquema do pensamento
do autor.
c) Análise Interpretativa – demonstração dos tipos de relações entre as idéias
do autor em razão do contexto científico e filosófico, de diferentes épocas, e
exame crítico e objetivo do texto: discussão e resumo.

Há um modelo de análise de texto com o acréscimo de mais dois itens:


problematização e síntese pessoal. A problematização consiste no
levantamento dos problemas e discussão, enquanto a síntese pessoal trata da
reunião dos elementos de um todo, após a reflexão. Muito importante também
é lembramos que a análise do texto ou a maneira de estudá-lo depende

23
Curso de português

sempre do fim a que se destina. Os textos de estudo de caráter científico


requerem, por parte de quem os analisa, um método de abordagem e certa
disciplina intelectual.

TIPOS DE TEXTO

Os tipos de textos são diferentes dos gêneros. A tipologia textual está


ligada a sua estrutura interna, ao seu arranjo escrito e os elementos que o
constituem. Os gêneros textuais estão ligados a função desses textos no seu
uso pelas pessoas. Para definirmos um gênero temos que pensar em como
esse texto é lido, por quem e para que.

NARRAÇÃO

Narrar consiste em construir um conjunto de ações realizadas por


personagens, em um determinado tempo e espaço, para a construção de uma
história, que chamamos de enredo, cuja ação é contada por um narrador.
Para construir um texto narrativo, é necessário que elaboremos algumas
questões: Portanto, narrar consiste em construir um conjunto de ações
realizadas por personagens, em um determinado tempo e espaço, para a
construção de uma história, que chamamos de enredo, cuja ação é contada por
um narrador:

Quem participa nos acontecimentos? (personagens);


O que acontece? (enredo);
Onde e como acontece? (espaço, ambiente e situação dos fatos);
Quem narra? (narrador);
Como? (o modo que os fatos aconteceram);
Quando? (o tempo dos acontecimentos);
Onde? (local onde se desenrolou o acontecimento);
Por quê? (a razão, motivo do fato).

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Curso de português

DESCRIÇÃO

Um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa,


um animal ou um objeto. A classe de palavras mais utilizada nessa produção é
o adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata,
pode-se até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de
anterioridade e posterioridade. Significa "criar" com palavras a imagem do
objeto descrito. É fazer uma descrição minuciosa do objeto ou da personagem
a que o texto se refere. Dificilmente essa tipologia será predominante em um
texto. O mais comum é trechos descritivos introduzidos em textos narrativos e
dissertativos.

DISSERTAÇÃO

Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer


sobre ele. Assim, o texto dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos,
juntamente com o texto de apresentação científica, o relatório, o texto didático,
o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto dissertativo não está preocupado
com a persuasão e sim, com a transmissão de conhecimento, sendo, portanto,
um texto informativo. Quando o texto, além de explicar, também persuade o
interlocutor e modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo-
argumentativo.

INJUNÇÃO

Os textos injuntivos são aqueles que indicam procedimentos a serem


realizados. Nesses textos, as frases, geralmente, são no modo imperativo.
Bons exemplos desse tipo de texto são as receitas e os manuais de instrução.

25
Curso de português

GÊNEROS TEXTUAIS

Quanto aos gêneros não é difícil constatar que nos últimos dois séculos
foram as novas tecnologias, em especial as ligadas à área da comunicação,
que propiciaram o surgimento de novos gêneros textuais. Por certo, não são
propriamente as tecnologias per se que originam os gêneros e sim a
intensidade dos usos dessas tecnologias e suas interferências nas atividades
comunicativas diárias.
Assim, os grandes suportes tecnológicos da comunicação tais como o
rádio, a televisão, o jornal, a revista, a internet, por terem uma presença
marcante e grande centralidade nas atividades comunicativas da realidade
social que ajudam a criar, vão por sua vez propiciando e abrigando gêneros
novos bastante característicos. Daí surgem formas discursivas novas, tais
como editoriais, artigos de fundo, notícias, telefonemas, telegramas,
telemensagens, teleconferências, videoconferências, reportagens ao vivo,
cartas eletrônicas (e-mails), bate-papos virtuais, aulas virtuais e assim por
diante.
Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente
vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida
diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por
conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os
tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns
exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial,
carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva,
reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de
remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor,
inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea,
conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim
por diante.

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Curso de português

TEXTO INFORMATIVO

Os textos informativos tem o objetivo de abordar algum tema e transmitir


conhecimento a respeito desse tema, transmitir dados e conceitos.
Isso é o que acontecem em reportagens de revistas e jornais, verbetes
de dicionários e enciclopédias, artigos de divulgação cientifica e livros
didáticos. A maioria dos leitores quando tem em mãos um texto informativos
tem a expectativa de aprender alguma coisa com a leitura.
Incluímos neste tipo de textos todos os compreendidos no jornalismo:
jornais, revistas, folhetos, com suas diferentes variedades (notícias,
reportagens, artigos diversos, anúncios etc.). Incluímos também a
correspondência, embora possa haver cartas que se encaixariam melhor num
modelo literário. No entanto, a maior parte de correspondência que recebemos
e enviamos tem como finalidade informar algo concreto.

Características de um texto informativos:

Função: Conhecer ou transmitir explicações e informações de caráter geral.


Seu objetivo é compreender ou comunicar as características principais do
tema, sem maior aprofundamento.

Modelos:
Jornais e revistas.
Livros de divulgação, folhetos.
Notícias.
Artigos e reportagens.
Anúncios e propaganda.

Ao andar pela rua ou até mesmo em casa, as pessoas são diariamente


bombardeadas por vários panfletos e folders de empresas que tentam de
várias maneiras vender seus produtos e serviços. Como o panfleto é uma
forma relativamente barata de promoção e divulgação, é muito utilizado pela
maioria dos comerciantes, mas nem sempre é produzido de uma forma que
agrade e cumpra seu papel efetivamente.

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Curso de português

Para conseguir ser efetivo e criar um panfleto que realmente alcance o


objetivo, é preciso tomar alguns cuidados para não causar no potencial cliente
um efeito contrário ao desejado.
1. Evitar enfeitar demais o panfleto. Quanto mais simples e direta for a
propaganda, mais facilmente será assimilada pelo leitor.
2. Não enrolar o leitor. Apesar de o panfleto poder ser guardado e lido
posteriormente, se ele não chamar a atenção e informar logo qual a proposta o
leitor não terá motivos para guardá-lo.
3. Procurar descrever com um texto direto, ressaltando as qualidades e
vantagem do que se pretende vender.
4. A simplicidade é o ponto principal ao projetar um folder ou panfleto
promocional. Quanto mais simples e direto for o material, mais efetivo ele será.

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Curso de português

TEXTOS
Crônica

Como despedir a empregada


Danuza Leão

Se houvesse um flagrante, do tipo ela agarrada com


seu marido ou vestida com seu vestido novo ou com seu
colar de pérolas – o verdadeiro – no pescoço, seria fácil.
Mas, quando são pequenas coisas que você vai deixando
passar porque no fundo ela é boa empregada, honesta, e
também porque você tem preguiça de pensar em arranjar
outra e ter que ensinar tudo de novo, aí fica mais difícil.

Pode-se despedir a empregada porque ela tem mau humor e mal fala com
você dentro de casa? Porque faz o trabalho bem-feito, mas é incapaz de
oferecer um chá quando você está jogada na cama com gripe e com febre, e
não faz o mínimo, que é perguntar se você melhorou? Digamos que é parte do
temperamento dela, e temperamento não se muda. Mas passar anos numa
casa sem dar um sorriso e sem dizer uma coisa gentil faz mal. E, segundo me
disse uma amiga – sábia –, quando se deita a cabeça no travesseiro e se
percebe que a empregada está perturbando, é hora de trocar.

E aí começa a culpa: se ela ficar desempregada por um longo tempo, vai viver
de quê? E o pior de tudo: como demiti-la? Maquiavel já dizia que o bem deve
ser feito aos poucos e o mal de uma vez só. Em casos como esse, vale uma
mentira, porque discutir a relação não leva a nada. Mas e o medo? Aliás, medo
de quê? Nas minhas mais loucas fantasias, pensava que ela podia pegar um
facão e enterrar nas minhas costas; como se sabe, fantasia não tem limites.
Até que me enchi de coragem e disse que minha vida tinha mudado. Que, por
força de novos trabalhos, ia precisar de uma secretária e usaria o quarto dela
como escritório. As contas já estavam feitas, e generosas: décimo terceiro e
férias, três meses de seguro-saúde (que eu pagava), perdão de um bom
dinheiro que ela me devia e uma Kombi na porta para levar o que fosse dela –
e com o frete já pago. Expliquei que, se ela ficasse mais alguns dias, seria
penoso para nós duas, que essas coisas devem ser resolvidas rapidamente,
para que doam menos. Como a vida não é fácil, essa conversa começou às 10
da manhã e a Kombi só saiu às 3 da tarde. E eu, que tinha parado de fumar,
fumando um cigarro atrás do outro, claro.

Enfim, a coisa acabou. Por causa da culpa e da pena, financeiramente fui o


mais generosa que era possível ser e, às 4 da tarde, fumei aquele cigarro do
alívio, da paz, da coisa terminada.

Dois dias depois entrou a nova empregada, já em outros termos: três vezes por
semana, de 9 às 4, nada de feira, nada de geladeira cheia de legumes

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Curso de português

estragando, nada de potinhos com coisas misteriosas que nunca tive coragem
de abrir por medo de encontrar uma cobra. Agora é comida congelada,
acabaram-se as panelas no fogão e, no terceiro dia de trabalho, quando eu
disse que ia ao médico, minha nova funcionária me perguntou, com um sorriso,
se eu queria que ela fosse comigo. Com essa, ela me ganhou para sempre.

E fiquei pensando que namorados e maridos que nos atormentam a vida são
como empregadas domésticas: a gente dispensa mais tarde do que deveria e
perde um tempo imenso sendo infeliz.

Aí Tem
Martha Medeiros

As coisas são como são. Se alguém diz que está calmo, é


porque está calmo. Se alguém diz que te ama, é porque te
ama. Se alguém diz que não vai poder sair à noite porque
precisa estudar, está explicado. Mas a gente não escuta
só as palavras: a gente ouve também os sinais.

Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava frio como um iglu.
Você falava, falava, e ele quieto, monossilábico. Até que você o coloca contra a
parede: "O que é que está havendo?". "Nada, tô na minha, só isso." Só
isso???? Aí tem.

Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava exaltado demais. Não
parava de tagarelar. Um entusiasmo fora do comum. Você pergunta à queima-
roupa: "Que alegria é essa?" "Ué, tô feliz, só isso". Só isso????? Aí tem.

Os tais sinais. Ansiedade fora de hora, mudez estranha, olhar perdido,


mudança no jeito de se vestir, olheiras e bocejos de quem dormiu pouco à
noite: aí tem. Somos doutoras em traduzir gestos, silêncios e atitudes
incomuns. Se ele está calado demais, é porque está pensando na melhor
maneira de nos dar uma má notícia. Se está esfuziante demais, é porque
andou rolando novidades que você não está sabendo. Se ele está carinhoso
demais, é porque não quer que você perceba que está com a cabeça em outra.
Se manda flores, é porque está querendo que a gente facilite alguma coisa pra
ele. Se vai viajar com os amigos, é porque não nos ama mais. Se parou de
fumar, é uma promessa que ele não contou pra você. Enfim, o cara não pode
respirar diferente que aí tem.

Às vezes não tem. O cara pode estar calado porque leu um troço que mexeu
com ele, ou está falando muito porque o time dele venceu. Pode estar mais

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Curso de português

carinhoso porque conversou sobre isso na terapia e pode estar mais produzido
porque teve um aumento de salário. Por que tudo o que eles fazem tem que
ser um recado pra gente?

É uma generalização, mas as mulheres costumam ser mais inseguras que os


homens no quesito relacionamento. Qualquer mudança de rota nos deixa em
estado de alerta, qualquer outra mulher que cruze o caminho dele pode ser
uma concorrente, qualquer rispidez não justificada pode ser um cartão amarelo.
O que ele diz importa menos do que sua conduta. Pobres homens. Se não
estão babando por nós, se tiram o dia para meditar ou para assistir um jogo de
vôlei na tevê sem avisar com duas semanas de antecedência, danou-se: aí
tem.

Poema tirado de uma notícia de jornal


Manuel Bandeira

João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia,


num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

Pausa
Moacyr Scliar

Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o


banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava
na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando:
- Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as
sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém feita, deixava ainda no
rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
- Todos os domingos tu sais cedo - observou a mulher com azedume na voz.
- Temos muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente.
Ela olhou os sanduíches:
- Por que não vens almoçar?
- Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse a carga,
Samuel pegou o chapéu:
- Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem.
Guiava vagarosamente, ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças
atracadas.

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Curso de português

Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches


debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras.
Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou
furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um
homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente.
Esfregando os olhos, pôs-se de pé.
- Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é?
A gente...
- Estou com pressa, seu Raul! – atalhou Samuel.
- Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. – estendeu a chave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último
andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com
curiosidade.
- Aqui, meu bem! - uma gritou e riu: um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um aposento
pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma
bacia cheia d’água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas,
tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha
de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro,
tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama comeu
vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho,
deitou-se e fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco dormia. Lá embaixo a cidade começava a mover-se: os automóveis
buzinando, as jornaleiras gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão
carcomido.
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por
um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto
da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel
mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante
nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio acabava de
trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor, Samuel
tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a
bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
- Já vai, seu Isidoro?
- Já – disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
- Até domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente.
- Não sei se virei – respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
- O senhor diz isto, mas volta sempre – observou o homem, rindo.
Samuel saiu.
Ao longo do cais guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os
guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu.
Para casa.

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Curso de português

Balada do Amor através das Idades


Carlos Drummond de Andrade

Eu te gosto, você me gosta Mas quando ia te pegar


desde tempos imemoriais. e te fazer minha escrava,
Eu era grego, você troiana, você fez o sinal-da-cruz
troiana mas não Helena. e rasgou o peito a punhal...
Saí do cavalo de pau Me suicidei também.
para matar seu irmão.
Matei, brigámos, morremos. Depois (tempos mais amenos)
fui cortesão de Versailles,
Virei soldado romano, espirituoso e devasso.
perseguidor de cristãos. Você cismou de ser freira...
Na porta da catacumba Pulei muro de convento
encontrei-te novamente. mas complicações políticas
Mas quando vi você nua nos levaram à guilhotina.
caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo, Hoje sou moço moderno,
dei um pulo desesperado remo, pulo, danço, boxo,
e o leão comeu nós dois. tenho dinheiro no banco.
Você é uma loura notável,
Depois fui pirata mouro, boxa, dança, pula, rema.
flagelo da Tripolitânia. Seu pai é que não faz gosto.
Toquei fogo na fragata Mas depois de mil peripécias,
onde você se escondia eu, herói da Paramount,
da fúria de meu bergantim. te abraço, beijo e casamos.

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