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Oralidade e escrita na produção textual

Prof. Luís Cláudio Dallier Saldanha

Descrição

Concepções e características da oralidade, da escrita e do letramento e


suas implicações na produção de textos.

Propósito

Compreender as características das modalidades escrita e oral na


produção textual para ampliar a competência comunicacional.

Preparação

Antes de iniciar seu estudo, acesse o Dicionário de termos linguísticos,


disponível no Portal da língua portuguesa, para entender termos
específicos da área.

Objetivos

Módulo 1

Oralidade, escrita e letramento


Relacionar oralidade, escrita e letramento.

Módulo 2

Fatores para produzir bons textos orais e


escritos

Identificar os fatores para produzir bons textos.


meeting_room
Introdução
A língua falada nos acompanha desde muito tempo, antes
mesmo do processo de alfabetização. A escrita desde cedo
também faz parte de nossa vivência, sendo aprendida
formalmente a partir da escola. Ambas, assim, nos permitem
elaborar tanto textos escritos quanto textos orais, que são
fundamentais para nossa comunicação e interação em
sociedade.

Mas em que os textos orais e escritos se diferenciam e se


aproximam? Quais são as marcas ou características da produção
textual a partir das modalidades oral e escrita? Que fatores
podem contribuir para a elaboração de bons textos escritos e
falados?

Essas são algumas questões que abordaremos neste conteúdo,


buscando ainda identificar e compreender as possibilidades e os
recursos da língua para a produção de bons textos. Como a
oralidade, na comparação com a escrita, tradicionalmente é
pouco estudada, vamos dedicar mais atenção e espaço às
questões da fala e do texto oral, mas sem deixar de articulá-las
com a escrita.
1 - Oralidade, escrita e letramento
Ao final deste módulo, você será capaz de relacionar oralidade, escrita e letramento.

As modalidades da língua
Fala e escrita como modalidades de uso da língua

Aprendemos desde os tempos de escola que a linguagem verbal está


centrada na palavra, no signo linguístico. Essa palavra pode ser falada
ou escrita. A fala é anterior à escrita, seja na história da civilização
humana ou na própria experiência de vida de cada usuário de uma
língua.

O linguista e professor Luiz Marcuschi (1997, p. 120) argumenta que


“seria possível definir o homem como um ser que fala, mas não como
um ser que escreve”. Por isso, a escrita seria derivada e a fala, primária.

Antes de haver as culturas letradas, já existiam as culturais orais,


embora não seja possível estabelecer exatamente em que momento da
história se começou a falar. Em relação à escrita, parece bem provável
que sua invenção tenha ocorrido por volta de 4.000 a.C.
Pedra com escrita cuneiforme na cidade de Persépolis (séc. VI a.C.).

Se é complicado estabelecer o momento exato da história em que surge


a fala ou localizar com precisão o local e a data em que a escrita se
estabeleceu, podemos definir com mais segurança quando cada um de
nós começa a falar e a escrever. A fala é adquirida desde muito cedo,
bem antes da escola.

Alguns estudos situam A escrita é algo que


a emissão dos aprendemos
primeiros balbucios do principalmente a partir
bebê por volta dos 6 da escola, começando
aos 10 meses de idade. arrow_forward com o processo de
Perceba que se trata de alfabetização ou de
uma aquisição, e não letramento. Trata-se de
propriamente de um outro assunto que você
aprendizado, porque também vai estudar
ninguém precisa passar mais à frente neste
pela escola para módulo.
começar a falar.

É claro que, na escola, podemos desenvolver a fala e aprender suas


variedades. Falaremos sobre esse tópico mais adiante.

Por enquanto, vamos identificar e caracterizar as duas modalidades de


uso da língua:

A fala
Adquirida por meio de um processo natural em situações
informais do cotidiano.
Manifesta-se por meio dos órgãos da fala.
Tem como representação física o som.
Tende a ser mais informal e menos planejada.

A escrita
Aprendida por meio de um processo artificial em contextos
formais ou educacionais.
Manifesta-se por meio de processos mecânicos.
Tem como representação física a grafia.
Tende a ser mais formal e planejada.

A fala e a escrita apresentam outras distinções e semelhanças. O que


importa agora, no entanto, é a existência dessas duas modalidades de
uso da língua ficar clara para você. Saiba também que ambas fazem
parte de um mesmo sistema linguístico (MARCUSCHI, 1997).

Por isso, dizemos que a fala corresponde ao uso da


língua oral como modalidade linguística, assim como a
escrita corresponde ao uso da palavra escrita como
modalidade linguística.

Língua e práticas sociais


Oralidade e letramento: a língua como prática social
Você deve ter percebido que denominamos a fala e a escrita como
modalidades de uso da língua. Trata-se de modalidades porque
possuímos modos específicos de uso da linguagem.

Temos a manifestação de um sistema ou de um código linguístico por


meio da fala e da escrita. Mas também podemos pensar na língua a
partir de suas implicações sociais, culturais e interacionais.

Isso significa que podemos tratar da língua no contexto das práticas


sociais. Falamos e escrevemos, afinal, para atingir determinados
objetivos.

Por isso, nossa fala e nossa escrita estão:

Marcadas por intencionalidades.

A serviço de propósitos relacionados com diversas práticas da


nossa vida na família, na escola, no trabalho e na sociedade em
geral.
Também falamos e escrevemos a partir de nosso contexto em
determinada situação de comunicação e interação. No caso da fala,
geralmente nosso interlocutor participa do mesmo contexto de
produção e de recepção da mensagem, enquanto na escrita o leitor está
em um contexto distinto daquele no qual o texto foi produzido.

De qualquer forma, usamos a língua tanto falada quanto escrita a partir


de diversos contextos. Podemos perceber que, no contexto das nossas
práticas sociais, a fala e a escrita são valorizadas por nos
comunicarmos, interagirmos, trabalharmos e estudarmos – enfim,
vivermos – mediante sua utilização.

Os usos e os papéis da escrita e da leitura na vida em


sociedade recebem diferentes graus de valor e
prestígio. Quanto mais formal, institucionalizada e
relevante socialmente for uma prática ou atividade,
maior será a chance de a escrita e a leitura serem
valorizadas e prestigiadas nesse contexto.

Vivemos em uma sociedade letrada e em um mundo em que a escrita e


a leitura são fundamentais nos processos de escolarização, nas
relações de trabalho, na comunicação institucional, nas interações
sociais e na busca de informação. Além de letrada, nossa sociedade
também valoriza o uso adequado e eficaz da palavra oral, prestigiando
as pessoas que conseguem habilmente desenvolver uma boa
comunicação oral.

Assim, de acordo com Marcuschi (1997), em relação às práticas sociais


ou à realidade sociocomunicativa, a língua pode ser tratada a partir de
duas dimensões: a oralidade e o letramento.

Por isso, dizemos que a oralidade corresponde à língua oral como


prática social, assim como o letramento corresponde à escrita e à
leitura como práticas sociais.

Quanto à escrita e à leitura, Marcuschi (1997) faz uma interessante


distinção entre a apropriação/distribuição e os usos/papéis:

Apropriação/distribuição Padrões de
da alfabetização
leitura e da escrita
arrow_forward
Usos/papéis da Processos de
leitura e da escrita arrow_forward alfabetização

Nessa distinção, a ênfase da alfabetização recai no código linguístico,


no domínio do sistema linguístico, enquanto a ênfase do letramento se
volta para a escrita como prática social, isto é, para a sua inserção e seu
uso no contexto da vida em sociedade.

Oralidade e gêneros textuais


Os gêneros orais

Compreender que a oralidade se refere à língua oral como prática social


deve nos levar a reconhecer a relevância de se trabalhar com os gêneros
textuais orais. Esses gêneros podem ser tantos informais quantos
formais.

Além disso, há gêneros orais que são mais comuns em situações ou


espaços públicos, enquanto outros gêneros são mais recorrentes em
espaços ou em situações privadas.

Elencaremos a seguir exemplos dos dois gêneros:

Gêneros orais formais expand_more

Noticiários de TV ou rádio.
Conferência.
Exposição acadêmica ou aula.
Debates.
Entrevistas.
Conversação formal.

Gêneros orais informais expand_more

Conversação espontânea.
Conversação telefônica pessoal.
Entrevistas pessoais.
Perceba que é mais provável que um gênero oral formal se dê em um
ambiente público, como recintos do mundo profissional ou acadêmico.
Já os gêneros mais informais acabam prevalecendo em ambientes
privados e situações mais pessoais.

Atenção!
O grau de formalidade ou informalidade pode variar entre os gêneros
textuais.

Embora seja comum rotular a fala como algo mais informal em relação
à escrita, é possível haver uma gradação de formalidade em muitas
situações nas quais usamos a palavra oral. Existem até situações em
que se consegue identificar a informalidade tanto na escrita quanto na
fala.

Exemplo
Um bilhete escrito a um colega ou um post em uma rede social pode ser
bastante informal, assim como um bate-papo entre amigos ou uma
mensagem de áudio enviada para alguém da família em um aplicativo
de mensagens.

Na verdade, a escrita e a fala podem ser tanto formais quanto informais,


ainda que predominem a informalidade na fala e a formalidade na
escrita. Nos gêneros orais formais, típicos dos ambientes públicos, o
mais comum é alguém falar para várias outras pessoas, que, em geral,
são desconhecidas.

Ainda que uma fala seja imediata, sendo emitida diante do interlocutor,
pode eventualmente haver planejamento e preparação a fim de que ela
seja mais formal, o que não elimina a possibilidade de alguma
improvisação. Os gêneros orais formais e públicos são os que recebem
maior atenção da escola, explica Saldanha (2016).

Nos gêneros orais informais, como a conversação, a fala tende a ser


improvisada e apresentar marcas, tais como:

Repetição.

Hesitação.

Segmentação.

Interrupções.

Correções do que acabou de se falar ou pronunciar.

Uso mais intensivo do gestual.


As gradações no nível de formalidade e os contextos diversos dos
textos orais nos levam a perceber que a fala apresenta variedades, o
que, por sua vez, nos conduz à conclusão de que existe uma variedade
de gêneros textuais orais. Essa diversidade de gêneros orais ainda
aponta para a necessidade de a escola acolher as variedades
linguísticas e trabalhar com a produção de textos orais a fim de levar o
aluno a se comunicar e a interagir de modo adequado e eficaz por meio
da palavra oral.

Assim, na produção textual, tanto a escrita quanto a oralidade precisam


ser contempladas nas atividades escolares. Para que isso ocorra de
maneira consistente, é importante compreender e reconhecer as
características dos gêneros textuais orais e as diversas situações de
comunicação em que eles são usados.

Entre os aspectos que compõem o trabalho com os gêneros textuais


orais, mencionamos a importância de se desenvolver habilidades que
deem conta dos elementos linguísticos e extralinguísticos desses
gêneros textuais.

Elementos linguísticos
Estão relacionados com a fala, isto é, com o código linguístico que
usamos para elaborar e expressar nossa mensagem ou nosso texto.

Elementos extralinguísticos
Referem-se àquilo que é externo ao sistema linguístico, como a
expressão fisionômica, o gestual, a qualidade da voz, a respiração e
outros elementos não verbais.

Isso implica um trabalho didático-pedagógico que leve em conta a


identificação das marcas linguísticas e das características não verbais
implicadas em cada gênero textual oral, considerando também o
contexto ou as possíveis situações de comunicação em que esse
gênero se manifesta. Veremos esses aspectos no segundo módulo.

Devemos considerar ainda a integração ou a articulação entre a


oralidade e a escrita, pois as comunicações orais ocorrem no contexto
de uma cultura letrada – e não apenas uma cultura oral. Por isso, é
possível trabalhar gêneros orais a partir de atividades de escrita e
produzir textos escritos a partir da oralidade.

Letramento e escrita
Letramento e produção textual
Nos estudos recentes sobre a escrita e a leitura, destaca-se o conceito
ou as concepções de letramento, já que algumas nuanças podem ser
encontradas no entendimento do que vem a ser o letramento.
Inicialmente, vamos retomar o conceito que já apresentamos sobre o
letramento: o entendimento da escrita e da leitura como práticas
sociais.

As reflexões teóricas sobre o assunto fazem uma distinção entre


letramento e alfabetização:

Alfabetização
Aprendizado e domínio da escrita por meio do processo de codificação
(escrita) e de decodificação (leitura). Ênfase no código linguístico.

Letramento
Aprendizado e domínio da escrita e da leitura nas diversas situações de
comunicação e interação na sociedade. Ênfase nas práticas sociais.

Não se trata de uma oposição entre alfabetizar e letrar, e sim da


distinção que deve ser abordada a partir de uma articulação e da
necessidade de se alfabetizar letrando. Desse modo, o trabalho com a
escrita tem de conduzir tanto ao domínio do código escrito quanto ao
desenvolvimento de uma competência escritora e leitora que dê conta
das diversas práticas sociais de uma cultura letrada.

Pensar na perspectiva do letramento e escrever textos considerando tal


perspectiva devem nos levar a reconhecer que os textos apresentam
características relacionadas com seu contexto de produção e recepção.
Os textos que escrevemos e lemos no contexto profissional, no
ambiente de trabalho, apresentam características gerais distintas
daqueles que escrevemos em um grupo da família em um aplicativo de
mensagem, como é o caso do WhatsApp.

Se escrevemos um relatório técnico ou um parecer no trabalho, esse


texto certamente terá objetivos, marcas linguísticas e características
formais que se diferenciam de uma mensagem informal a um amigo ou
parente. Além disso, o valor e a função do texto em uma transação ou
atividade profissional são diferentes da finalidade e do sentido de outro
presente em uma relação pessoal ou familiar.

As seguintes atitudes, entre outros aspectos, nos levarão a


determinadas escolhas na elaboração do texto:

Perceber a razão pela qual o escrevemos.

O que queremos alcançar com o texto.

Para quem escrevemos.

Em que momento o texto provavelmente será lido.

Atentemos, entre outras questões, à correção, à clareza, ao estilo, à


extensão, ao formato, ao contexto e ao leitor. Vamos, enfim, abordar o
texto como uma prática social, como um discurso inserido em
determinado contexto e que atende a determinadas intencionalidades.
Tudo isso implica o aprendizado e a prática da produção textual,
integrando vários aspectos linguísticos, gramaticais e pragmáticos.
Com isso, a produção textual não fica limitada aos textos escolares ou
àqueles distantes das práticas sociais de escrita. As atividades de
escrita, afinal, envolvem gêneros textuais que se manifestam em textos.

Exemplo
A lista de compras, o bilhete, a receita culinária, a bula de remédio, o
artigo de opinião, o e-mail ou o relatório.

A produção textual também não se reduz ao cuidado com a ortografia e


à correção gramatical. Pelo contrário: ela avança para a garantia da
coesão e da coerência textuais, além dos aspectos relacionados com a
adequação do texto ao gênero textual correspondente, entre outros
cuidados ou procedimentos.

Essas implicações didático-pedagógicas do letramento devem ser


consideradas na prática pedagógica do professor de língua portuguesa
ou de outra língua, assim como no desenvolvimento da própria
competência escritora desse profissional. Por isso, no próximo módulo,
vamos abordar diferentes aspectos envolvidos na elaboração de bons
textos.

Mas, antes de avançar, confira uma síntese dos principais conceitos que
você aprendeu até aqui a partir das definições propostas por Marcuschi
(1997, p. 25-26):

Fala expand_more

Produção textual-discursiva visando à comunicação e à


interação na modalidade oral. Vale-se dos sons da língua, além
de elementos não verbais, como o gestual e os movimentos do
corpo.

Escrita expand_more

Produção textual-discursiva visando à comunicação e à


interação na modalidade escrita por meio de sua constituição
gráfica. Vale-se da escrita alfabética ou mesmo do uso de
ideogramas e ícones.
Oralidade expand_more

Prática social comunicativa e interativa que se manifesta em


diversos gêneros textuais orais por meio da realidade sonora,
variando, a depender do contexto de uso, de uma gradação mais
informal até a mais formal.

Letramento expand_more

Prática social comunicativa e interativa escrita que se manifesta


em variadas formas, podendo ir de uma apropriação mínima da
escrita até um domínio pleno e mais complexo.

video_library
Oralidade, escrita e letramento
Confira agora uma discussão sobre os conceitos de fala, escrita,
oralidade e letramento, abordando alguns equívocos do senso comum e
enfatizando as implicações desses conceitos na atividade de produção
textual.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Leia a citação a seguir:

“Na sociedade atual, tanto a oralidade quanto a escrita são


imprescindíveis. Trata-se, pois, de não confundir seus papéis e seus
contextos de uso, e de não discriminar seus usuários”
(MARCUSCHI, 1997, p. 22).

A partir do que você leu e estudou, é correto afirmar que

a fala e a escrita são modalidades da língua, sendo


que a fala se define pela informalidade e a escrita é
A
definida pela formalidade; portanto, é a modalidade
que importa para a escola.

a escrita, como prática social, define o conceito de


letramento; por isso, é a dimensão da língua
B
valorizada na sociedade, tendo de ser privilegiada
no ambiente escolar em detrimento da fala.

a fala desempenha seu papel essencialmente nas


situações de comunicação não institucionais e fora
C do mundo do trabalho, enquanto a escrita tem seu
papel e seu contexto relacionados com a escola e
as atividades profissionais.

a escrita e a oralidade são dimensões do uso da


língua estritamente vinculadas ao código linguístico;
D portanto, ambas devem ser abordadas a partir dos
aspectos restritos à correção gramatical e à
estrutura interna do texto.

em relação às práticas sociais, a fala e a escrita


correspondem respectivamente à oralidade e ao
E letramento, dimensões relevantes na vida em
sociedade que precisam ser trabalhadas no âmbito
escolar.

Parabéns! A alternativa E está correta.

A oralidade pode ser entendida a partir da abordagem da fala como


uma prática social, assim como a escrita, como prática social, nos
remete ao conceito de letramento. Como práticas sociais, ambas
são indispensáveis na vida em sociedade em suas diversas
atividades de comunicação e interação. As duas podem estar
presentes tanto em situações formais quanto informais. A oralidade
e a escrita também devem ser trabalhadas no contexto escolar, sem
se discriminar ou optar por uma das duas.

Questão 2

A oralidade é uma dimensão ou um aspecto da língua que também


traz implicações à produção textual. Nesse sentido, analise as
afirmativas a seguir.

I – Tanto a formalidade quanto a informalidade, em diferentes


graus, estão presentes na produção dos textos orais; por isso, é
preciso reconhecer as características dos diversos gêneros orais e
adequar a elaboração da mensagem.
II – A fala não se opõe à escrita em termos de informalidade X
formalidade, e a oralidade pode ser trabalhada de forma articulada
com a escrita nas atividades de produção textual oral.
III – Os aspectos linguísticos da fala são os que importam para a
comunicação oral, pois os gestos, a expressão fisionômica, os
movimentos do corpo, a tonalidade da voz e o contexto não
interferem na elaboração e no sentido do texto oral.

Está correto apenas o que se afirma em:

A I.

B II.

C III.

D I e II.

E II e III.

Parabéns! A alternativa D está correta.


A afirmativa I está correta porque os gêneros textuais orais são
diversos e o grau de formalidade ou informalidade varia entre eles,
a depender do contexto e dos objetivos da comunicação ou
interação. A II também está correta, pois a fala e a escrita são
modalidades de uso da língua, correspondem a um mesmo sistema
linguístico e podem tanto ser formais quanto informais; portanto,
ambas não se opõem, ainda que tenham distinções entre si. Além
disso, trazer a escrita para as atividades de produção textual com
gêneros orais é adequado e corresponde a muitas práticas de
comunicação da vida em sociedade. A III, por fim, está incorreta, já
que tanto os aspectos linguísticos quanto os extralinguísticos são
relevantes na produção de textos orais.

2 - Fatores para produzir bons textos orais e escritos


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os fatores para produzir bons textos

As condições de produção do texto


oral e escrito
A fala e a escrita na produção textual

Você já sabe que o texto verbal pode ser escrito e oral, resultando em
uma variedade de gêneros textuais orais e escritos. Desse modo,
devemos trabalhar a organização do texto escrito, que em geral é mais
planejado e pode ser revisado, sem deixar de cuidar da organização do
texto oral.
Antes de observarmos atentamente a organização do texto falado e do
escrito, devemos relembrar que as condições de produção de ambos
são distintas. O quadro a seguir nos ajuda a sintetizar as diferenças
presentes na produção das duas modalidades de uso da língua:

Fala Escrita

Interação a distância
Interação face a face.
(espaço-temporal).

Planejamento simultâneo ou
Planejamento anterior à
quase simultâneo à
produção.
produção.

Criação coletiva:
Criação individual.
administrada passo a passo.

Impossibilidade de
Possibilidade de revisão.
apagamento.

Sem condições de consulta a


Livre consulta.
outros textos.

A reformulação pode ser


A reformulação é promovida
promovida tanto pelo falante
apenas pelo escritor.
como pelo interlocutor.

Acesso imediato às reações Sem possibilidade de acesso


do interlocutor. imediato.

O falante pode processar o


O escritor pode processar o
texto, redirecionando-o a
texto a partir das possíveis
partir das reações do
reações do leitor.
interlocutor.

O texto tende a esconder o


O texto mostra todo o seu seu processo de criação,
processo de criação. mostrando apenas o
resultado.

Tabela: Condições de produção da fala e da escrita.


FÁVERO, ANDRADE; AQUINO, 2005, p. 74.

Perceba que tais diferenças evidenciam a necessidade da elaboração de


ambos a partir de marcas linguísticas e características próprias. Um
fator para produzir bons textos escritos e orais é não escrever textos
formais com marcas de oralidade.

border_color
Atividade Discursiva
Leia o texto abaixo:

Então, né, a gente tb. sabia que essa visita técnica que a gente tava pra
fazer tb. ia ser legal pq vcs teria mais dado dos processo daquela
empresa.

Quais são as marcas de oralidade que você identifica no texto acima?

Digite sua resposta aqui

Chave de respostaexpand_more

Se você percebeu o uso de abreviações, repetições, “queísmo” e


falta de concordância, acertou. As abreviações “tb.”, “pq.” e “vcs.”,
além da redução “tava”, não são adequadas em um texto escrito
formal, assim como o uso repetitivo do pronome relativo “que”
(queísmo), o emprego do “né” e a falta de concordância verbal e
nominal, entre outras inadequações e vícios de linguagem.

Vamos reescrever o texto?

Digite sua resposta aqui

Chave de respostaexpand_more
Nós sabíamos que a visita técnica a ser realizada seria produtiva
porque os senhores teriam outros dados acerca dos processos da
empresa visitada.

Falar como se estivesse lendo um texto escrito ou participar de uma


conversação como se estivesse discursando pode também não ser
adequado. A produção oral em contextos de informalidade permite
alguma redundância, hesitações, linguagem coloquial e outras marcas
da oralidade.

Em situações formais, obviamente é possível planejar a fala e torná-la


mais formal e organizada.

Exemplo

A apresentação de trabalho acadêmico em um congresso ou a


condução de uma cerimônia.

Outro fator importante para produzir bons textos orais e escritos é


identificar a organização própria a cada um desses textos. Pelo fato de
as condições de produção de ambos serem distintas, a organização
desses textos será também específica. A organização da fala e da
escrita, afinal, está relacionada com os elementos que constituem o
texto falado e o escrito.

No texto falado, eu posso me valer, por exemplo, da entonação da voz,


do gestual ou da referência a algum evento que acabou de acontecer. Já
no escrito, a separação no tempo e no espaço me força a completar as
lacunas e as limitações que existem pelo fato de eu e o leitor não
compartilharmos o mesmo contexto.

Exemplo
A maneira como eu conto, pessoalmente, um problema ao diretor da
escola é diferente do modo como eu relato o mesmo problema em um
e-mail ao diretor.

Estamos mais habituados ao estudo do texto escrito, sendo mais fácil


reconhecer seus elementos constitutivos. O estudo e a compreensão do
texto oral, no entanto, é menos comum na tradição do ensino de língua
portuguesa na escola.

Por conta disso, conheceremos adiante alguns fatores que constituem o


texto falado.
Constituição e organização do texto
falado
Propriedades e níveis de estruturação do texto oral

Em função de a conversação ser um texto falado muito recorrente e


mais informal, vamos tratar agora das propriedades desse texto tendo
em mente a conversação.

Podemos identificar, pelo menos, três propriedades do texto oral:

Fragmentação
Situacionalidade
Reiteração
Essas características são relativas e nos remetem comparativamente ao
texto escrito:

Ao caracterizarmos a fala como relativamente


mais fragmentada, mais dependente do
contexto e marcada pela reiteração, tomamos
como parâmetro a escrita ou a comparação
com o texto escrito, em geral, o texto literário
ou mais formal. [...] Assim, afirmar
simplesmente que o texto falado tem como
propriedades a fragmentação, a
situacionalidade e a reiteração sem apontar
para um relativismo dessas características
pode induzir a uma visão simplista e reduzida
da fala.

(SALDANHA, 2016, p. 88)

Vejamos, portanto, cada uma dessas três propriedades:


Fragmentação
Ocorre pela condição de produção do texto oral, que vai sendo
“planejado passo a passo, enquanto é falado”, com quebras nas frases
ou nas sequências, hesitações, truncamento, rupturas e até repetições,
aponta Saldanha (2016, p. 89).

Situacionalidade
Ocorre devido à maior dependência da fala em relação ao contexto de
produção, podendo incluir elementos do espaço, pessoas presentes ou
ausentes na conversação e outros elementos do ambiente.

Reiteração
Acontece por meio de repetições e paráfrases ou pelo reforço do que
está sendo dito ao interlocutor em função de não haver, em geral,
registro visual do que se acabou de dizer, o que não ocorre na escrita ou
em comunicações orais, nas quais também se utiliza o apoio de
material escrito.

No evento comunicativo oral, de acordo com Fávero, Andrade e Aquino


(2005, p. 18), ainda podemos identificar os seguintes fatores
constitutivos do texto oral:

flag Situação discursiva

Formal, informal.

flag Evento de fala

Casual, espontâneo, profissional, institucional.


flag Tema do evento

Casual, prévio.

flag Objetivo do evento

Nenhum, prévio.

flag Grau de preparo necessário para efetivação


do evento

Nenhum, pouco, muito.

flag Participantes

Idade, sexo, posição social, formação, profissão,


crenças etc.

flag Relação entre os participantes

Amigos, conhecidos, inimigos, desconhecidos,


parentes.

flag Canal utilizado

Face a face, celular, televisão, videoconferência etc.


Tudo isso mostra a importância de se trabalhar tanto os elementos
linguísticos quanto os extralinguísticos na elaboração dos textos orais,
sejam eles informais sejam formais. Tendo ainda em vista a
conversação, podemos identificar dois níveis de estruturação do texto
falado:

Nível local expand_more

Em uma conversação, “os interlocutores se alternam e


desenvolvem suas falas um após o outro”. Essa alteração ou
alternância da fala é chamada de turno. Em uma situação ideal,
cada um falaria no seu turno, embora saibamos que são comuns
as hesitações, a sobreposição de turno (mais de uma pessoa
falando ao mesmo tempo) e o assalto ao turno (um interlocutor
interrompe a fala do outro em momento inapropriado). Os turnos
ou a alternância da fala entre os interlocutores se estruturam em
pares, como, por exemplo, pergunta-resposta, convite-aceitação,
convite-recusa e saudação-saudação. (FÁVERO; ANDRADE;
AQUINO, 2005, p. 22-23).

Nível global expand_more

No texto falado, simultânea à organização local, a formulação do


que se diz segue certas normas de organização global,
principalmente o “respeito à condução do tópico discursivo”. O
tópico discursivo é aquilo sobre o qual alguém está falando em
uma determinada conversação, é o que estrutura uma
conversação, corresponde ao assunto que se estabelece na
interação entre os interlocutores (FÁVERO; ANDRADE; AQUINO,
2005, p. 23).

Esses conceitos nos levam a outro fator importante para a produção de


bons textos orais: a coesão e a coerência.

Coesão e coerência no texto oral


A coesão e a coerência estabelecem a organização do texto oral,
garantindo sua progressão e seu sentido. Falaremos sobre ambas a
seguir.

Coesão

Permite a unidade e organicidade do texto. A coesão tende a se


manifestar na organização sequencial do texto por meio de:

Palavras escolhidas ou utilizadas.

Ordem das palavras e suas relações nas frases.

Articulação entre as frases.

Relações de sentido estabelecidas no texto.

Um recurso coesivo muito comum no texto oral informal, como a


conversação, é o uso da reiteração. As repetições nesse tipo de texto,
usando as mesmas palavras ou expressões, constituem uma forma de
retomar o tópico ou o assunto sobre o qual se está falando, dando
sequência e organização à fala.

Comentário

Obviamente, esse tipo de repetição é uma marca de oralidade não


adequada aos textos orais mais formais e aos textos escritos. Porém,
no texto oral informal e mais espontâneo, tal marca é muito comum e
ajuda na manutenção de uma conversa.

Outro recurso coesivo que se utiliza na conversação é a paráfrase, pois


aquilo que um interlocutor diz pode ser retomado por outro a partir de
uma formulação diferente que mantém, entretanto, o mesmo sentido. O
uso de conectores, como, por exemplo, a conjunção coordenativa aditiva
“e” ou a adversativa “mas”, também é muito comum e recorrente na fala
informal.

Durante a produção de um texto oral formal, também estão presentes


outros recursos coesivos.
Exemplo

Os conectores articulam as orações e a retomada de um mesmo


referente usando outra palavra ou expressão.

Em textos orais formais, a coesão pode ser garantida pelo planejamento


da fala e até por recursos relacionados com a escrita. Para uma palestra
ou apresentação de relatório, por exemplo, é possível elaborar um
esboço escrito ou uma apresentação organizada em tópicos sobre o
que se vai falar.

Coerência

Como a coerência no texto oral se manifesta?

Ela tende a ser mais global e se manifesta na unidade de sentido do


texto.

A coerência tem um aspecto interativo importante, pois a interação


entre os interlocutores estabelece as possibilidades de interpretação do
que está sendo dito.

Assim, para que haja entendimento entre os


interlocutores, é preciso que eles sejam
coerentes no que dizem e, principalmente,
saibam sobre o que dizem (tópico discursivo).

(FÁVERO; ANDRADE; AQUINO, 2005, p. 34)

Desenvolvimento do texto oral


Os quatro elementos da organização conversacional

Na vida acadêmica e profissional, saber participar de uma conversação


ou mesmo de uma reunião é fundamental. Nas interações com outras
pessoas, há regras básicas de civilidade e respeito mútuo que devem
ser respeitadas e que favorecem o diálogo e a fluidez da conversação.
Em uma entrevista, uma reunião ou um diálogo, é bastante desagradável
quando alguém não percebe o momento apropriado de falar ou quando
a fala de uma pessoa não corresponde ao assunto ou ao tópico
discutido.

Por isso, aprender a conversar em situações do mundo do trabalho ou


em outras instâncias da nossa vida em sociedade é uma necessidade à
qual precisamos atentar.

Fávero, Andrade e Aquino (2005) apresentam quatro elementos que


contribuem para a coesão e a coerência do texto falado informal,
garantindo sua organização:

Turno
Tópico discursivo
Marcadores conversacionais
Par adjacente
O turno

Uma conversação é uma sucessão de turnos, pois o turno corresponde


à fala ou à intervenção de um dos interlocutores. Para que se
caracterize a conversação ou o diálogo, é preciso garantir a troca de
falantes, já que não é adequado alguém falar sozinho o tempo todo.

Cada um deve falar no seu turno: um interlocutor falar ao mesmo tempo


que outro tem de ser a exceção ou algo muito breve. Quanto mais
informal for o diálogo ou a participação dos interlocutores, mais
flexíveis serão a ordem e o tamanho dos turnos.

Comentário

Será adequado usar mecanismos de reparação quando alguma falha


ocorrer, como uma expressão que não foi ouvida claramente. Nesses
casos, pode-se pedir desculpas ao interlocutor e pedir que ele, por
gentileza, retome o que estava dizendo.

Em uma reunião de trabalho ou em um debate público no qual se


estabelece a conversação, respeitar a ordem do turno é uma premissa
básica para que os participantes ouçam atentamente o que o outro diz e
para que a sequência das falas seja coerente e coesa. Esses são fatores
relacionados com o turno para se produzir um bom texto oral.

O tópico discursivo

O assunto sobre o que se está falando estrutura a conversação, “pois os


interlocutores sabem quando estão interagindo dentro de um mesmo
tópico, quando mudam, cortam, retomam ou fazem digressões”
(FÁVERO; ANDRADE; AQUINO, 2005, p. 37).

Nas conversações mais formais, esse tópico


discursivo, em geral, é estabelecido previamente e se
torna explícito. Já nas mais informais, esse tópico
pode estar implícito, configurar um pressuposto ou ser
negociado durante a conversação.

Em situações mais formais de comunicação oral, não é adequado


abandonar ou desviar-se do tópico discursivo. Ao mudar o tópico ou
fazer uma digressão, é preciso se certificar de que tais possibilidades
estão dadas no tipo de conversação ou na reunião da qual se participa.

Os marcadores conversacionais
Em uma conversação, há elementos verbais (“aí”, “então”, “eu acho”,
“claro”, “certo”, “ahn” e “né?”, entre outros exemplos) e prosódicos ou não
verbais (pausas, velocidade, ritmo, tonalidade, riso, olhar, gesticulação
etc.).

Entre outras funções, tais elementos:

Estabelecem uma função interacional.


Mantêm e regulam o contato entre os
participantes.
Promovem a articulação e o encadeamento no
texto falado.
Desse modo, os marcadores conversacionais contribuem para “a
condução e manutenção do tópico discursivo, instaurando a
solidariedade conversacional entre os interlocutores, [pois] eles dão
dinamismo e continuidade à interação” (FÁVERO; ANDRADE; AQUINO,
2005, p. 49).

Os marcadores conversacionais mostram que, além da importância de


saber o que falar, é preciso saber como falar. Alguns dos marcadores
que contribuem para o desenvolvimento do diálogo ou de uma interação
bem-sucedida são:

Nosso tom de voz.

Nossa expressão fisionômica.

As expressões verbais que dão abertura ao outro para falar ou


demonstram nosso assentimento ou interesse em relação ao que
ouvimos.

O par adjacente

Os pares pergunta-resposta, pedido-concordância ou recusa, entre


outros, promovem o diálogo e organizam localmente a conversação,
dando encadeamento às ações e até introduzindo, por vezes, o tópico
discursivo. Desse modo, percebe-se que o par adjacente e o tópico
discursivo têm estreita relação.

Isso se nota no par pergunta-resposta, pois é comum uma pergunta


iniciar um tópico discursivo e a resposta, por sua vez, dar continuidade
ao tópico proposto. Por isso, é importante perceber em uma
conversação ou reunião quando uma pergunta estabelece um assunto
que deve ser desenvolvido ou respondido pelo interlocutor.
Aliás, se, nessa interação, o interlocutor que responde a uma pergunta
se desvia do tópico discursivo, outro questionamento pode ser a forma
de retomar o assunto ou regressar ao tópico. Todas essas
considerações podem ser vistas como fatores que contribuem para que
o texto oral seja elaborado adequadamente.

Veremos agora a parte final do nosso módulo, considerando a


organização do texto escrito e os fatores importantes para sua
produção.

Produção do texto escrito


Alguns fatores de textualidade na escrita

Quando escrevemos, é indispensável levarmos em conta que nosso


texto será lido. Por isso, o objetivo ou a intenção desse texto precisa
estar marcado linguisticamente.

Devemos escrever tendo em conta que os elementos do texto devem


contribuir para que seu sentido seja produzido no processo de leitura.

Dessa forma, um fator que coopera para a produção de um bom texto


escrito é garantir que os recursos linguísticos utilizados ajudem o leitor
a responder, a partir do texto e do contexto, a perguntas, tais como:

O que esse texto quer dizer?


O que se pretende com ele?
Esses aspectos nos levam a pensar também no leitor do texto. Nosso
texto, afinal, precisa contar com um certo grau de aceitabilidade.

Desse modo, precisam ser aceitáveis:

O assunto que o texto aborda.


A forma como ele trata de tal assunto.

A intencionalidade embutida nesse texto.

Por isso, temos de levar em conta a recepção do texto, ou seja, quem vai
lê-lo e em qual contexto o fará.

Exemplo

Não é aceitável escrever um texto cheio de incorreções gramaticais,


vícios de linguagem e um tom prepotente e arrogante ao se apresentar
para uma vaga de emprego. Do mesmo modo, não é aceitável um texto
em um aplicativo de mensagem, pedindo carona ao colega de trabalho,
elaborado de modo formal, pedante, prolixo e com termos técnicos.

O texto também faz parte de determinada situação comunicativa. Ele se


situa na interação entre escritor e leitor a partir dos diferentes gêneros
textuais ou discursivos. Sendo assim, um bom texto é organizado e
escrito considerando seu contexto de produção (autor/escritor) e de
recepção (leitor).

Exemplo
Escrever um e-mail para o chefe no trabalho, explicando determinado
problema operacional na empresa, envolve uma situação de
comunicação diferente da escrita de um projeto de pesquisa como parte
de um processo seletivo em um programa de pós-graduação.

Um bom texto também precisa contar com um conteúdo relevante: ele,


afinal, deve ter algo a dizer. Isso pode parecer óbvio, mas ninguém
começa a ler um texto ou se mantém na sua leitura se não existe algum
tipo de interesse ou alguma necessidade em relação à mensagem ou à
informação que ele traz.

O texto deve ter um balanço entre informações novas e aquelas já


conhecidas do leitor.

Exemplo

Ao escrever um texto objetivo e conciso reclamando de um produto que


você adquiriu e chegou danificado à sua casa, não se deve demorar
informando os detalhes sobre o dia da compra, a forma de pagamento
ou o tempo que levou para finalizar a operação. Tais informações são de
conhecimento de quem lhe vendeu e não interessam tanto se o que
você quer é informar o tipo de avaria do produto e a necessidade de
trocá-lo.
Organização do texto escrito
A estrutura do texto escrito

A estrutura e a organização também têm um papel importante para se


produzir bons textos escritos. Um elemento fundamental dessa
estrutura é o parágrafo, pois é por meio dele que o texto pode ser
organizado e construído.

Você já deve saber que o parágrafo pode ter um ou


mais períodos articulados em torno de uma ideia.
Desse modo, um fator para escrever bons textos é não
misturar ou sobrepor em um mesmo parágrafo ideias
ou tópicos diferentes.

Essa recomendação não implica o estabelecimento de uma extensão


rígida para o parágrafo. Assim, dependendo do gênero textual, ele pode
ser menos ou mais extenso.

Seja um parágrafo curto seja um extenso, o importante é que ele reúna


uma única ideia central. Já as ideias secundárias devem formar uma
unidade com a ideia central do parágrafo.

Do mesmo modo que o texto é um todo orgânico que produz sentido, o


parágrafo também deve ser coeso e coerente. Em parte, essa coesão é
dada pela unidade do parágrafo caracterizada pela centralidade de uma
única ideia.

A coesão, no entanto, também se dá pelos diversos recursos


linguísticos que:

Mantêm a sequência e a progressão do


parágrafo.
Articulam as orações de um período e os
períodos entre si.
A coerência do parágrafo e do próprio texto como um todo é dada pela
sua forma de organização, evidenciando o que é central ou principal no
parágrafo. Por isso, deve haver “relacionamento de sentido entre a ideia
principal e as ideias secundárias desenvolvidas no texto”, explicam
Fávero, Andrade e Aquino (2005, p. 29).
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Atividade Discursiva
Para finalizar nosso conteúdo, compare os dois textos a seguir:

Texto I – Receita de sobremesa tiramisu italiana

Queijo mascarpone 360, creme de leite quase meio litro, 3 ovos, 140 de
açúcar, duas xícaras de café de máquina, um pouquinho de algum licor,
cacau em pó e chocolate raspado. Como fazer: Em vez de juntar tudo de
uma vez, bate o açúcar e as gemas dos ovos, depois as claras dos ovos,
depois o queijo, depois o creme de leite. Guarda tudo isso e vai
montando na vasilha os biscoitos champanhe. Ah! esqueci dos
biscoitos, tem que comprar também. Faz uma camada de biscoito e
cobre com a mistura, faz outra camada de biscoito e cobre com outra
camada de creme e faz mais outra camada e cobre com o creme. Joga
o cacau e as raspas de chocolate por cima e põe pra gelar. Dá pra umas
dez pessoas.

Texto II – Receita de tiramisu

Ingredientes

2 pacotes de biscoito champagne


360g de queijo mascarpone
350ml de creme de leite fresco
160g de açúcar
3 ovos grandes
2 xícaras de café expresso
2 colheres de conhaque ou licor amaretto
Uma colher de sopa de cacau em pó
50g de chocolate meio amargo ralado ou em raspas

Modo de preparo

1. Separe as gemas e as claras dos ovos.


2. Bata a clara em neve e reserve na geladeira.
3. Bata o creme de leite fresco com 20g do açúcar para obter o chantilly
e reserve na geladeira.
4. Bata as gemas e o restante do açúcar até obter um creme bem
esbranquiçado e homogêneo. Com um fouet, incorpore o queijo
mascarpone a esse creme. Em seguida, de forma delicada, incorpore o
chantilly e as claras em neve. Reserve o creme na geladeira.
5. Prepare as duas xícaras de café, acrescente o licor ou conhaque e
coloque essa mistura em um prato fundo ou outro recipiente.
6. Com uma colher, raspe levemente o lado do biscoito champagne que
tem açúcar cristal, molhe levemente essa parte do biscoito no café e
monte a primeira camada de biscoito no fundo de uma travessa
retangular alta. Deixe o lado umedecido do biscoito virado para baixo.
Em seguida, distribua uniformemente o creme sobre essa camada.
Repita o procedimento mais duas vezes, alternando uma camada de
biscoito com outra de creme.
7. Cubra com filme plástico e coloque na geladeira por, pelo menos, 12
horas. Na hora de servir, polvilhe o cacau em pó e cubra com as raspas
de chocolate.

Qual dos dois textos apresenta mais problemas na sua organização e


na coesão e na coerência textuais? Por quê?

Digite sua resposta aqui

Chave de respostaexpand_more

Parece claro que o primeiro texto é caótico e tem problemas de


coesão pelas seguintes razões: seu título é inadequado; não há
organização clara das partes principais (ingredientes e preparo);
existe uma falta de padrão, enumeração e sequenciação de
ingredientes e de procedimentos; há uma imprecisão nas
informações; falta a indicação de unidades de medida
(“mascarpone 360”, “um pouquinho de algum licor); existem
repetições desnecessárias (“faz uma camada [...] faz outra
camada [...] e faz mais outra camada”).

Perceba, por fim, que, em qualquer gênero textual – mesmo em uma


receita culinária! –, os textos precisam ser elaborados levando em conta
sua estrutura ou seu nível de organização, além dos fatores de
textualidade.

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Fatores para elaborar bons textos
orais e escritos
Confira agora explicações e exemplos sobre os fatores que contribuem
para a produção de textos orais e escritos adequados.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Analise as afirmativas considerando a relação entre fala e escrita na


produção textual:

I – As marcas de oralidade devem ser evitadas no texto escrito


formal.
II – O texto escrito permite um planejamento que não é comum no
texto oral espontâneo.
III – Tanto o texto oral quanto o escrito possuem uma mesma
forma de organização.

Está correto apenas o que se afirma em:

A I.

B II.

C III.
D I e II.

E II e III.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A afirmativa I está correta porque o texto escrito formal não deve


apresentar repetições, hesitações, interrupções, vícios de
linguagem e outras marcas próprias da fala mais espontânea. A II
também está correta, pois a fala espontânea se caracteriza por
certa improvisação e pela interação com o interlocutor, que está
presente no momento da elaboração da mensagem, enquanto na
elaboração do texto escrito a ausência do interlocutor e a
antecipação da produção da mensagem antes de sua recepção
permitem o planejamento do que se vai dizer. A III, por fim, está
incorreta exatamente pelas razões apresentadas em relação às
afirmativas anteriores.

Questão 2

Em uma conversação mais formal no ambiente de trabalho, na qual


se está discutindo sobre determinado projeto, qual procedimento
constitui um fator favorável para uma boa comunicação oral?

A Procurar falar no seu próprio turno.

Estender-se em seu turno para evidenciar a


B
qualidade de sua ideia.

Ir além do tópico discursivo para demonstrar


C
interesse.

Fazer perguntas retóricas que não demandem


D
respostas.

E Elaborar a fala desprovida de elementos não verbais.


Parabéns! A alternativa A está correta.

Para uma boa organização do texto conversacional, é importante


respeitar a ordem do turno, ou seja, evitar interromper as pessoas
ou falar ao mesmo tempo que outro. Além disso, deve-se manter no
tópico discursivo em questão, não fugindo do assunto em pauta
nem se alongando nas considerações para tentar impressionar o
outro. Também é importante que o diálogo seja autêntico e
enriquecido com elementos não verbais.

Considerações finais
Estudamos alguns conceitos sobre a fala, a escrita e o letramento para
percebermos que a variedade de gêneros textuais existente nos
demanda procedimentos e cuidados próprios a cada texto oral ou
escrito que produzirmos.

Vimos ainda que a diversidade da língua, manifestada em suas


modalidades e práticas sociais, nos desafia a compreender seus
elementos ou características, ao mesmo tempo que nos apresenta
diversos recursos para a confecção de bons textos orais ou escritos.
Verificamos, assim, que conhecer a organização de cada tipo de texto e
os diferentes fatores de textualidade é fundamental para a produção
textual.

headset
Oralidade e escrita na produção
textual
Ouça agora um podcast no qual os professores Luís Dallier e Milca
Tscherne explicam e exemplificam as características e os fatores
envolvidos na produção de textos orais e escritos.
Explore +
Assista aos seguintes vídeos, com a participação de pesquisadores
como Luiz Marcuschi e Luiz Fiorin, para uma abordagem didático-
pedagógica da oralidade e da escrita:

“Fala e Escrita - Parte 01”, disponível no canal do CEELUFPE.

“D-04 - Língua Escrita e Oral (1/2)”, disponível no canal da Univesp.

“D-04 - Língua Escrita e Oral (2/2)”, disponível no canal da Univesp.

Referências
FÁVERO, L. L.; ANDRADE, M. L. da C. de V.; AQUINO, Z. G. de O. Oralidade
e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. 5. ed. São
Paulo: Cortez, 2005.

MARCUSCHI, L. A. Oralidade e escrita. Signótica. n. 9. jan./dez. 1997. p.


119-145.

SALDANHA, L. C. D. Fala, oralidade e práticas sociais. Curitiba:


Intersaberes, 2016.

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