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2.1.

2 O absolutismo régio

Num regime de monarquia absoluta*, o monarca situa-se no


cume da hierarquia social. Este regime característico da
Europa no Antigo Regime, nem sempre vigorou no Velho
Continente. Na Idade Média, apesar de o rei ser o soberano,
era também por vezes considerado o “primus inter pares” ou
seja o primeiro entre iguais. O longo processo de progressiva
afirmação do poder real, que vem desde os tempos medievais
e que se acentua a partir do século XVI, irá possibilitar nos
séculos XVII e XVIII esta forma de governo atinja a sua
máxima expressão. O rei centraliza na sua pessoa todos os
poderes e assume todas as responsabilidades inerentes ã
chefia do Estado. Para que tal sucedesse, foi necessário
legitimar este poder. Essa legitimação provinha da vontade
divina. O rei detinha um poder que lhe era atribuído por
Deus. A sua autoridade e os atributos requeridos para o
exercício do poder real advinham por sua escolha e dádiva.

Monarquia absoluta* - Forma de governo existente na Europa durante


o Antigo Regime, que se caracteriza pela concentração de todos os
poderes do Estado na figura do monarca, que fundamenta a atribuição
desses mesmos poderes à vontade de por Deus.

*Conceito estruturante

Os fundamentos do poder real


Num regime de monarquia absoluta a fundamentação do
poder real é de vital importância para a sua
institucionalização.
Necessita de assentar numa teorização onde os atributos do
poder real estejam devidamente alicerçados.

Um dos teóricos da fundamentação do poder real foi Jacques


Bénigne Bossuet (1627-1704), clérigo francês, que nas obras O
rei é rei porque Deus quer  (1681) e A Política Tirada da
Sagrada Escritura (1709) expõe os princípios desta doutrina
política, validando o modo de governação do rei Luís XIV,
considerado como o exemplo mais acabado de um rei
absoluto.

Outros teóricos houve que também se dedicaram a justificar o


regime de monarquia absoluta. Podemos exemplificar com
dois teóricos portugueses: Diogo Lopes Rebelo que escreveu
De republica gobernanda per regem, Paris, 1496 e Jerónimo
Osório (1506-1580), autor da obra Da Vida e Feitos d’el D.
Manuel.
Luís XIV

Para Bossuet, existem quatro características que reunidas


definem o poder real. Vejamos assim quais são:

 O poder real é sagrado, porque é Deus quem o concedeu


ao monarca para que este exerça o poder em seu nome.
Deste modo desautorizar o rei é considerado algo de
sacrílego, pois é o mesmo que desobedecer a Deus. A
expressão “Deus no céu e o Rei na Terra” tem aqui o seu
pleno cabimento. Porém, entenda-se apesar desta origem
divina, o poder régio tem os seus limites. Os soberanos
devem dignificar a origem divina do poder, executando
tendo em conta o bem dos seus súbditos.
 O poder real é paternal, porque é a primeira forma de
autoridade que os seres humanos conhecem. Assim, o rei
deve ser como um pai para os seus dependentes.
 O poder real é absoluto, pois o rei delibera sem qualquer
constrangimento. O soberano não tem de prestar contas
ou justificar as suas decisões. Deve certificar-se que que
é através do seu supremo poder que a justiça é exercida
e as leis são cumpridas.
 O poder real submete-se á razão, pois Deus muniu o
monarca com os atributos para bem governar de molde
a prover o seu reino e garantir a felicidade dos que se
encontram sob o seu governo.
 Assim o rei deve ser firme, mas bondoso, dotado de
carácter, mas também prudente e deve ser capaz de
prever as necessidades do seu povo.

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