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2 Revista VEMPRAMESA
CON TEÚ D O
6 14
RESENHA
EVOLUTION:
Climate
Lançado em 2016 pela
North Star Games e desenvol-
vida pelos cientistas Dominic
Carpuchettes, Dmitry Knorre e
Sergey Machin. O jogo imerge
RADAR os jogadores a um ecossistema
scasso que necessita evoluir.
DE JOGOS VEMPRAAULA:
Mais uma vez estamos aqui
com as grandes novidades DESCUBRA
do mercado de jogos de ta- SUA VOCAÇÃO
buleiro. Nosso radar de jogos
sempre ativo e ligado traz Laíse Lima encerra a Vemprau-
para vocês os jogos que estão la apresentando sua trajetória
no hype neste mês de maio. dentro do universo lúdico educa-
cional e o surgimento do projeto
Oficinas Lúdicas.
9 18 22
RESENHA
POWER
RESENHA:
GRID
Junk Art METAGAME
A SENSAÇÃO
Um Eurogame clássico
que cativou muitos fãs mundo
Viaje pelos principais palcos afora recebe a atenção especial
artísticos do mundo e coloque
seu lado criativo para fora DE "JÁ PERDI!" de Magarem com uma fantástica
resenha sobre o jogo
com este excelente jogo de
destreza, onde jogadores se Dedicação, concentração
tornam escultores e precisam e resultados são o que mo-
expor suas obras ao público. tivam muitos jogadores
a se debruçarem sobre 28
as mesas de jogos para
tentar vencê-los e conse- COLUNA
guir obter a sensação de DO PORTUGA
vitória. Porém, e quando Mestre Daniel Portugal vai além
tudo funciona de maneira do começo e do fim em sua
contraditória? Você está despedida da Vempramesa.
preparado para a sensação
de “Já Perdi”?
Revista VEMPRAMESA 3
FALA AÍ
EDITOR
Daniel Portugal
danportugal1978@hotmail.com
A
VemPraMesa chega a sua última edição. Há um certo pesar, porém
a sensação de dever cumprido perpassa todos os integrantes da
revista. Confira nessa edição os últimos lançamentos no mercado VEMPRAMESA
nacional que continua a todo vapor e repleto de novidades. Publicação mensal
Nº 21 / maio 2019
Veja como é o projeto bem sucedido Oficinas Lúdicas, saiba como o @revistavempramesa
grupo evoluiu desde seu início, agregando amigos e jogadores ao nosso facebook.com/
fantástico hobby. Não perca a resenha de um jogo que não sai de moda, revistavempramesa/
reveja o clássico Power Grid que agrada aos jogadores mais exigentes, Editor-chefe:
criando uma partida com experiências únicas. José Medeiros (Magarem)
Outro destaque dessa edição é a conversa muito bem elaborada sobre a Subeditor:
sensação de “já perdi”. Como reagir a isso? Aspectos positivos e negativos Rodrigo Rodriguez (Zuzu)
que permeiam uma partida.
Por outro lado, o Junk Art vem nos alegrar com cores e formas, nesse Revisor:
jogo de destreza onde os jogadores devem expor, mundo afora, suas obras Daniel Portugal
de arte feitas com sucata. Além disso, abordamos também o Evolution: Colaboradores:
Climate onde é preciso adaptar espécies de animais num ecossistema Carlos Abrunhosa
Cesar Cusin
dinâmico. Daniel Portugal
Por último, reflita com a Coluna do Portuga, indo além do começo Laíse Lima
e do fim, encontrando um meio termo nesses opostos. Roberto Pinheiro
A Revista VemPraMesa faz um agradecimento especial àqueles que Rodrigo Zuzu
acompanharam nossa caminhada por quase dois anos. Procuramos Silvanir Souza
Wagner Luis
trabalhar conteúdos de qualidade, diversificados e com profundidade.
As matérias, reportagens, entrevistas e resenhas foram o resultado de
um trabalho voluntário e totalmente independente.
A Revista VemPraMesa encerra suas atividades desejando a todos
ótimas partidas!
Social media:
Inspirar Design
Daniel Portugal e Comunicação
Designer gráfico:
Carioca natalense, professor de Julio Cesar
Português e Literatura. Família e jogos
sempre à mesa!
PROJETO GRÁFICO
4 Revista VEMPRAMESA
VEMPRAMESA
EQUIPE DE COLABORADORES
# 21 MAIO
DE 2019
BRASIL
Vidas que
mudam...
A
té aqui viajamos
CESAR JULIO juntos. Passaram vilas
MAGAREM CUSIN CESAR e cidades, cachoeiras
e rios, bosques e florestas...
Cocriador do grupo Não faltaram os grandes
Vempramesa. redator do Professor Universitário. Jornalista, cartunista,
Colecionador desde 2007. obstáculos. Frequentes foram
site Nerdspot, ex-sócio designer de impressos e
da Camelot Board Games Uploader do BGG e da
Ludopedia. Explicador de game designer paraiba- as cercas, ajudando a trans-
e atual fundador da Joga no do selo Experimental
Braseiro. Regras em LIBRAS. por abismos...
Stand Box Entreteni-
mento
As subidas e descidas foram
realidade sempre presente.
Juntos, percorremos retas, nos
apoiamos nas curvas, descobri-
mos cidades...
Chegou o momento de cada
um seguir viagem sozinho...
Que as experiências com-
LAÍSE ROBERTO partilhadas no percurso até
aqui sejam a alavanca para al-
LIMA PINHEIRO SILVANIR cançarmos a alegria de chegar
SOUZA ao destino projetado.
Apaixonada por board Conheceu os jogos de
game, RPG e literatura. Fo- tabuleiro modernos em
A nossa saudade e a nossa
noaudióloga e psicopedago- 2010, começou a criar seus Bióloga, professora do En- esperança de um reencontro
ga, criou o projeto Oficinas próprios jogos em 2011 e
Lúdicas e sonha com a
sino Médio e game desig- aos que, por vários motivos,
escreve sobre jogos desde ner amadora, se apaixonou
inovação na educação. 2013. Em 2017 começou pelo poder lúdico e didático
nos deixaram, seguindo
seu blog PinheiroBG, onde dos jogos de tabuleiro. outros caminhos.
conta suas experiências
como Game Designer
O nosso agradecimento
àqueles que, mesmo de fora,
mas sempre presentes, nos qui-
seram bem e nos apoiaram nos
bons e nos maus momentos.
Dividam conosco os méri-
tos desta conquista, porque
ela também pertence a vocês.
Uma despedida é necessária
antes de podermos nos encon-
trar outra vez.
Que nossas despedidas
sejam um eterno reencontro.
Revista VEMPRAMESA 5
RADAR
MAGAREM
DE JOGOS
Notícias rápidas sobre tudo o que está rolando no
mundo dos jogos de tabuleiro nacional e internacional!
Vinte e uma edições... Um número considerável para um periódico totalmente desvinculado de qualquer
publicidade paga ou investimento de terceiros! Zelamos por nossa liberdade desde o início, escrevendo em
nome da paixão que temos pelo hobby e pelo respeito à comunidade de board gamers!
Para esta última edição da Revista Vempramesa, gostaria de agradecer a todos vocês, nossos leitores, que nos
motivaram a cada dia, com o feedback positivo e mensagens de carinho a cada nova edição! Obrigado mesmo, de
coração! Dito isto, vamos à última edição de nosso Radar de Jogos, pois a lista de lançamentos não para nunca!
ANUNCIADO
6 Revista VEMPRAMESA
RADAR DE JOGOS
Revista VEMPRAMESA 7
RADAR DE JOGOS
QUATRO ESTAÇÕES
Editora Independente
8 Revista VEMPRAMESA
Resenha Com Roberto Pinheiro
JUNK
ART
desafiando a
sua criatividade
artística
C
aro leitor, como prometido na edição
anterior, trago um jogo de destreza
que não é focado para o público
infantil. Eu não diria que esses jogos são
raros, mas com certeza é um nicho que só
começou a ter mais jogos recentemente. Um
exemplo trazido ao Brasil foi o Dungeon
Fighter, que é um jogo de destreza festivo e
cooperativo. Sim, uma combinação inusita-
da. Também temos o semi-infantil Flick ‘em
Up, que também chegou no Brasil. Digo semi
-infantil, pois é um jogo com várias regras,
mas que atrai a criançada pela beleza de
material e temática presente em
vários elementos. Sendo que
como essa é a última edição da
revista, resolvi trazer um jogo de
destreza com mistos de abstração
(existe até um tema, mas bem fraco).
Então, para fechar com chave de
ouro, quero lhe apresentar Junk Art.
Revista VEMPRAMESA 9
JUNK ART
10 Revista VEMPRAMESA
JUNK ART
Indianapolis (**)
Versão real time do Junk Art. Os
jogadores tem um baralho pessoal New York (***)
de 10 cartas para construir e cada
Amsterdam (*) carta será um turno em tempo real. Muito parecido com Indiana-
Basicamente, todos tentam colocar polis, mas agora é completamente
Nessa cidade não jogam 2 joga- a carta da vez na sua obra-de-arte tempo real. Isto é, os jogadores
dores, pois é uma espécie de trick rapidamente, pois o último jogador devem colocar as 10 peças em
taking (jogo de vaza). Vencer as mãos não poderá coloca-la (todos vão gri- tempo real, sem “turnos”. As peças
lhe dá o direito de escolher quem tando “feito”, até que sobre apenas um que caírem, devem ser recolocadas
irá receber qual carta jogada. Vence que perdeu a carta da vez). Objetivo na obra-de-arte. O cenário encerra
pontos pela estrutura mais alta. aqui é ter colocado mais peças, isto quando o primeiro jogador colocar
Achei desnecessário a complexidade é, não ter ficado de fora durante as as 10 peças com sucesso, ganha-
inserida com a vaza. É meio que um rodadas e nem derrubado peças no se pontos de acordo com quantas
jogo completamente distinto, mas processo. Gostei, mas a experiência peças cada jogador tiver nesse mo-
que não tem a profundidade para ser só fica boa com muita gente (4 ou mento. Achei um tanto bagunçado,
considerado um jogo à parte. mais talvez). pois são muitas peças de uma vez.
Revista VEMPRAMESA 11
JUNK ART
WWW.LUDONOVA.COM
terior, pois você perde o senso de
evolução já que é tudo resolvido
de uma vez só.
BRUCE EMMELING/PIXABAY.COM
Paris(**)
Nesse cenário usa-se apenas
uma base comunitária para todos
os jogadores e o objetivo é não
ser eliminado. O cenário encerra
quando o jogador é eliminado,
isto é, derruba três peças. Quem
escolhe a peça que você vai colocar
é o jogador à sua direita, possibi-
litando umas safadezas. Eu gostei
da ideia do espaço comunitário e pois é tudo simultâneo sem ser aqui está que as cartas são abertas
de escolher a peça do oponente, necessariamente em tempo real e os jogadores são forçados a cons-
rende umas risadas e tem até um na correria. Isso diminui o down- truir todas elas para repor a mesa.
aspecto meio cooperativo sem ser time e o lance de escolher a peça Então, novamente aquele aspecto
cooperativo (ninguém quer fazer uma do oponente é sempre engraçado. meio cooperativo sem ser. Legal
obra-de-arte minúscula). O maior problema é a eliminação pelas mesmas razões de Paris.
PIXABAY.COM
de jogador, que dependendo do CEGOH/PIXABAY.COM
nível da mesa pode deixar o pessoal
eliminado sem jogar por alguns
bons minutos.
SCHINI MATHIEU/PIXABAY.COM
Tokyo(*)
Philadelphia(***)
Objetivo é ter maior obra-de
Aqui é a regra do último -arte e funciona como um draft,
homem de pé (Last Man Standing) Pisa(**) sendo que você escolhe a carta do
e um jogador é eliminado quando oponente em vez da sua. Achei
derruba duas peças. Todo turno Novamente uma base única um pouco estranho e até confuso,
cada jogador vai colocar três peças para todos os jogadores, sendo que pois você termina passando todas
na obra-de-arte, sendo que uma é agora a base é composta por duas as cartas ao oponente, sem ficar
escolhida por ele e as outras duas peças de base. Então, temos mais com nenhuma. Achei um pouco
vem dos seus vizinhos. Muito legal, espaço para construir. A diferença estranho, talvez pela dificuldade
12 Revista VEMPRAMESA
JUNK ART
inicial de entender o conceito do não são pesadas). A minha versão com certeza tornaria a pontuação
draft nesse cenário. veio com algumas peças tortas, que mais enfadonha e complexa. Esse
WARNER BRIGITTE/PIXABAY.COM dificultam a jogabilidade e deixam ponto, sinceramente, não me in-
até essas peças “injustas” por assim comoda. Entretanto, é algo a ser
dizer. Então, eu recomendaria você ressaltado, pois eu considero uma
comprar a versão de plástico, que falha de design.
além de mais barata tem sido bem Bom, depois desses dois pontos
recebida pela comunidade pela sua só posso ressaltar que o jogo é bem
qualidade. Segundo é com relação bacana. A variedade de cenários
à pontuação. O sistema de pontu- permite você escolher seus favori-
ação do jogo é muito frágil e mal tos e repeti-los. Se enjoar é só trocar
Montreal(***) elaborado. Se você quiser um jogo um ou outro. Dentre os 11 cenários,
de destreza justo, pode procurar eu achei 7 legais, então tenho uma
em outro local. Nem sempre o boa gama para trabalhar em cima.
a priori eu imaginei esse cená- melhor jogador irá vencer Junk Não recomendo todos comprarem,
rio como sendo chato, pois você Art. Muitas vezes você joga melhor mas recomendo pelo menos conhe-
precisa mudar de assento direto. que o restante da mesa e perde. cer. Se você gostar da ideia e do
Entretanto, me enganei, é bem di- Enquanto que outras vezes você que viu, aí sim adquira. Bom, é um
vertido. A ideia é que os jogadores joga pior do que alguém da mesa conselho que daria para qualquer
possuem três cartas e vão passando e ganha. Simplesmente porque as jogo, mas achei pertinente avisar
uma para o oponente e repondo pontuações dos cenários são injus- mesmo assim. Obrigado pela lei-
a mão. Deste modo, o oponente tas. Não sei como corrigir, talvez tura e por nos acompanharem até
vai formando sua obra-de-arte de fazendo uma longa análise sobre nossa última edição. Fiquem em
acordo com as cartas que você en- cada cenário e reajustando, mas paz. Aquele abraço.
tregou. Entretanto, após três cartas
você sentará onde ele está. Isso cria
WWW.LUDONOVA.COM
Revista VEMPRAMESA 13
Por Laise Lima
VEMPRAAULA
Jogos de tabuleiro na educação
DESCUBRA
SUA VOCAÇÃO
A
IMAGENS: LAÍSE LIMA
vida é feita de ciclos. Sempre
que algum ciclo se completa
em minha vida me pergunto:
“Qual legado deixei aí? Que apren-
dizados levarei comigo?”. Demorei
bastante tempo para escrever essa
matéria e a hora mais propícia é
agora, no final deste ciclo, na última
edição da VemPraMesa. Essa edição
será mais pessoal do que todas as
outras, acredito que não só para
mim, mas para todos os redatores
e nada melhor do que contar nessa
matéria como cheguei até aqui.
Apeguei-me à Vem Pra Aula e um
misto de saudade e realização são
os sentimentos que tenho enquanto
estou escrevendo.
Certo dia, assisti a um vídeo que
explicava algumas diferenças inte-
ressantes entre 3 palavras: Trabalho,
Carreira e Vocação. Quando assisti a
esse vídeo estava em plena faculda-
de, naquele período de descobertas
em que refletimos sobre quem
queremos ser, ou simplesmente
deixamos a vida nos levar. Eu sabia
que queria trabalhar com música,
sempre fui apaixonada por isso,
apesar de escolher a fonoaudiolo-
gia como segunda opção. Mal sabia
que meus conceitos iriam mudar
e que depois de formada eu iria
viver um conflito comigo mesma.
14 Revista VEMPRAMESA
ESPECIAL MEMÓRIA
Transformar um Hobby em uma encontrar esse caminho. porta para uma carreira. Porém, não
profissão não é a melhor opção, Carreira é algo que você es- imaginava que aquela vocação ainda
isso não é vocação. Mas, vamos por tudou pra fazer e gosta de fazer. estava por vir, de um lugar que eu
partes. Vou explicar onde quero Quem encontrou uma carreira na jamais esperaria.
chegar. Nesta Vem Pra Aula con- vida é feliz. Percebi, depois de um Vocação é algo que você faz
tarei a história de um projeto que tempo ocioso, que eu tinha uma bem, gosta de fazer e foi colocado
surgiu despretensiosamente e se paixão. Não era a música, isso era nas suas mãos pra fazer. Difícil ex-
transformou em uma missão de o meu hobby e eu queria manter plicar, só posso dizer: “quando você
vida, minha vocação, meu legado. assim, era a educação. Sempre valori- encontrar, irá saber”. Algo que você
Agora não falo apenas com os zei muito a figura do professor, desde faz além da necessidade, que não
professores, mas com você que quer criança. Alguns deixaram marcas tem preço, mas você pode inclusive
saber onde chegar, qual marca profundas em mim, daqueles senti- ser pago para fazer. Discurso bonito
deixar, que caminho seguir. Você mentos bons de saudade, de pessoas esse meu, até aparenta ser utópico,
não precisa ser formatado naqui- que confiaram e enxergaram um há alguns anos eu também achei
lo que a sociedade lhe impõe, sua potencial que eu, muitas vezes, não aquele vídeo utópico. “Isso não
profissão pode ir muito além do enxergava que tinha. Ei, esse podia existe. No mundo de hoje? Impos-
que você mesmo imagina. ser o caminho, essa poderia ser um sível”. O Oficinas nasceu assim...
Trabalho,
Carreira
e Vocação
Um trabalho é algo que você
sabe fazer, estudou pra isso, mas não
necessariamente gosta de fazer. Foi
um trabalho que comecei a procurar
assim que saí da faculdade, as vagas
eram poucas na minha área de for-
mação e estranhamente eu não me
enxergava passando a vida em um
consultório. Não quero desmerecer
as opções que a fonoaudiologia me
trouxe, o problema estava comigo,
o que eu conseguia ver era apenas
aquilo que estava ao alcance dos
meus olhos, que as pessoas falavam
que era possível. No fundo eu não me
sentia feliz, não sentia que estava no
caminho correto, ainda entendia que
precisava deixar uma marca, algo
que fosse uma vocação. Aquele vídeo
sempre martelava, eu precisava
Revista VEMPRAMESA 15
VEMPRAAULA
OFICINAS
LÚDICAS
E
m 2012 conheci um grupo
chamado Tabuleiros da
Bahia, um grupo de jogado-
res e colecionadores que se reunia
uma vez por mês para jogar em um
fast food aqui em Salvador. Não
lembro como fiquei sabendo desse
encontro, só sei que estava sem tra-
balho, procurando onde ocupar a
mente e infeliz com os rumos que a
vida estava tomando. Sempre gostei
de jogos de tabuleiro, amava jogar
Detetive e Jogo da Vida, e fui lá
pra matar a saudade. Doce ilusão!
Quando cheguei encontrei uma
mesa cheia de jogos que nunca
tinha visto na vida. Já não bastava
o fato de ser tímida e ali não ter
uma alma vivente conhecida, não
tinha experiência alguma com
aqueles jogos, e para completar,
todos estavam em inglês. “O que
eu estou fazendo aqui?!”
Chamaram-me para jogar uma
partida de Puerto Rico e eu não
tinha noção de que aquele dia e
aquela partida mudariam minha
vida. No meio do jogo eu perguntei nhecia, mas queria conhecer e es- não existiam equipes que usassem
sinceramente “por que isso não é tudar todos aqueles termos loucos jogos modernos em sala de aula,
utilizado em escolas ainda?”. Não que eles usavam: Eurogame, AP, era minha oportunidade de fazer
era uma pergunta retórica, eu Rejogabilidade, Mecânica! algo diferente. Aproveito o momen-
realmente queria saber. Em 2012 E quem antes tinha trauma to para agradecer ao Buda (Fernando
não existiam jogos modernos no de inglês começou a estudar para Tsukumo) que na época liderava o
Brasil e era louvável o esforço que conseguir ler os manuais. Em 2013 Projeto Sua Vez, foram os únicos
o grupo fazia para trazê-los pra cá. eu falei: “quer saber, vou unir o que encontrei que tinham algo
Nesse momento entra aquele vício útil ao agradável, vou fazer aquilo voltado a esse tema e me deram
inicial, você sabe! Quanto mais co- que eu gosto”. Pesquisei e vi que todo o suporte que eu precisava
16 Revista VEMPRAMESA
ESPECIAL MEMÓRIA
Revista VEMPRAMESA 17
Por
Cesar META
Cusin
GAME
SENSAÇÃO DE
"JÁ PERDI!"
E
aí pessoal, aqui estou eu na está no começo, então “de boa”, lá ção de “já perdi” é mais frequente.
coluna Metagame trazendo vai você sem preocupação fazendo Outra forma de perceber que já
outro assunto que ronda as qualquer ação... então, meu amigo, perdeu se dá no meio do jogo e você
mesas de boardgames: a sensação há uma grande chance de você enfiar nota que seu jogo não se desenvol-
de “já perdi”. Quem nunca passou o pé na jaca por não se preparar ve, se arrasta, passam turnos e você
por isso em uma mesa de jogos que desde o início. Depois a sensação de nota que não faz quase nada, aí
atire o primeiro meeple. “já perdi” bate a sua porta. vem o “estalo”: perdi no turno “x”
Pois é, infelizmente eu mesmo já Uma das piores formas é em um porque fiz a ação “y”, tentando
passei por essa sensação várias vezes. jogo que dependa de tempo. Você achar o momento exato em que
Permitam-me elucubrar um pouco toma a decisão sob pressão, isso é você se permitiu estar no fundo do
sobre isso, sobre situações em que na certa um tiro no pé. Nesses tipos poço. Tentar essa caça às bruxas
quando percebemos, estamos aí, com de jogos é bom já ir preparando seu dá uma dor no coração.
a sensação de “já perdi”. turno enquanto os outros jogadores Em minha opinião, a pior forma,
Primeiramente, é difícil detectar jogam o deles, mas nunca perder o é quando no final do jogo, você todo
o momento exato em que percebe- olho da mesa, pois há jogos em que concentrado em seu turno, já espe-
mos: “já perdi”. Por vezes em um a mesa muda demais de um turno
turno mal feito. Nada pior que um para outro. Isso não é fácil e não é
turno todo mal executado, uma para todos, mas é assim mesmo,
alocação de trabalhadores errada, cruel. Nesses tipos de jogos a sensa-
uma quantidade de meeples mal
calculada em uma ação importante
do jogo. Aí só resta colher os frutos
(se é que é possível) desse turno fatídico.
Outra forma nada agradável
de errar e ter consequências ruins
é uma ação escolhida de forma in-
consequente, isso ocorre com mais
frequência no início do jogo quando
se é um dos primeiros jogadores.
Momento em que o tabuleiro está
em aberto, várias opções disponíveis,
você escolhe suas ações de forma
despretensiosa, achando que ainda
18 Revista VEMPRAMESA
rando sua vez, focado em suas ações a vida de outros jogadores (proposital- ideia, desde o convite de Magarem,
e sem perceber a ação do oponente, mente ou não). Isso pode irritar demais ou seja, iniciei o jogo, escolhemos o
faz seu turno da forma que você os outros jogadores. jogo juntos. Jogando desde o início,
planejou e mesmo assim dá errado Alguns quando percebem que já minha curva de aprendizagem foi
porque você não “leu a mesa” antes perderam se irritam mesmo, e logo enorme, agradeço a todos, em espe-
de executar suas ações, aí tudo vai no meio do jogo para frente, passam cial, Magarem, Daniel e Júlio, que
por água a baixo... isso dói. o resto do tempo bravo, criando uma fizeram meu texto melhorar sempre.
Sabedores (ou não) do momen- atmosfera pesada na mesa... total- Passei um turno (uma edição)
to exato do “já perdi”, cabe agora mente desnecessário, mas enfim, sem jogar (mão lesionada), só isso,
discutirmos nosso comportamento existem pessoas assim, é assim que é. e me deu um vazio ler a Vempra-
quando percebemos que não há mais Sentir a sensação de “já perdi” mesa sem uma matéria minha, foi
como ganhar o jogo, que já está per- não é nada boa, em nenhum dos como ter um turno mal executado
dido. São inúmeras reações, vamos casos acima, mesmo para quem joga ou impossibilitado de agir por ter
à análise: há uns que continuam se só por diversão, saber que já perdeu meeples presos todos na mesa sem
divertindo, ligam o botão “tô nem aí” não é legal. Quem joga mais compe- ter como recuperá-los.
e querem ver como tudo aquilo vai titivamente, é pior ainda, a pessoa Voltei na edição posterior com
acabar, por vezes ainda torcem para o fica se martirizando. força total, mas já sabendo que
segundo colocado passar o primeiro, Estou com essa sensação, neste iríamos finalizar a revista. Está aí
só para ver o circo pegar fogo. exato momento em que você lê essa a tão falada sensação de “já perdi”.
Outros ficam prostrados, com minha matéria. O motivo é que a Escrever as últimas edições sabendo
cara de desânimo, meio que sem Vempramesa está chegando ao fim, que a revista iria acabar. Fazendo
vontade de mais nada, jogam seu essa é sua última edição. Compa- analogia a minha matéria, eu sabia
turno de qualquer forma, fazendo rando a Vempramesa a um jogo, eu a hora exata, o momento em que
com que suas jogadas até facilitem joguei desde o início de forma atenta, tive a sensação do “já perdi” e seu
todos os turnos, sim, estou com a motivo (que não cabe aqui), mas o que
equipe desde quando iniciamos a mudou tudo foi a forma com que
jogamos o resto do jogo até o final,
todos nós. Todos de cabeça erguida,
animados; sim animados; querendo
entregar o melhor de nós, terminar
tudo com chave de ouro em respeito
a você, nosso leitor fiel. Isso também
foi fruto da amizade que gerou
entre nós. Somos hoje um grupo de
amigos, isso é bom demais!
Cumprimos nossa missão,
aprendemos demais juntos, na
verdade o “já perdi” é mais porque
dói terminar a Vempramesa, pois
ILUSTRAÇÃO: JULIO CESAR
Revista VEMPRAMESA 19
Resenha Com Silvani Souza
EVOLUTION:
CLIMATE
As três dimensões evolutivas
E
volution: Climate é um jogo A pessoa com marcador de pri-
independente (não é uma meiro jogador (um enorme meeple de
expansão do Evolution) onde dinossauro!) compra um número de
os jogadores lidam com três di- cartas, a depender do número de
mensões de desafios para adaptar espécies que tem na mesa. Então
suas espécies em um ecossistema todos os jogadores descartam uma
dinâmico onde a comida é escassa carta (com diferentes valores) para
(Dimensão 1), os predadores estão à criar a pilha de Reserva de Alimen-
espreita (Dimensão 2) e o clima pode tos, que é a quantidade de comida
mudar rapidamente (Dimensão 3). disponível no turno. Além disso,
Evolution: Climate foi lançado as cartas descartadas determinam
em 2016 pela North Star Games e se haverá alguma modificação no
desenvolvida pelos cientistas Domi- clima. As demais cartas de carac-
nic Carpuchettes, Dmitry Knorre terísticas podem ser adicionadas
e Sergey Machin. Esta matéria à sua espécie, descartadas para
não será uma daquelas resenhas aumentar sua população ou tama-
que entra em muitos detalhes nos nho do corpo, ou descartá-las para
conceitos biológicos por trás do começar novas espécies. O único
jogo (como fiz com o jogo Fotossíntese limite de ações é a quantidade de
na Edição 17). Evolution é um jogo cartas que jogador tem na mão.
científico, estudantes e professores Depois disso o clima é deter-
de biologia até conseguem extrair minado e é verificado se alguma
do jogo tópicos como adaptação, espécie sofre perda de população.
mudança climática, ciclo da vida, O número de indivíduos perdidos
teias alimentares, seleção natural por espécie afetada também au-
(e por aí vai...). Porém sua mecânica menta com as temperaturas mais
não obriga o jogador a internali- extremas. Pois quando o clima fica
zar esses conceitos (o que afastaria muito quente, animais maiores
o público gamer em geral). O jogo começam a morrer primeiro. Já
é uma batalha real para obter quando a temperatura abaixa os
o máximo de comida possível. pequenos animais morrem pri-
Portanto você ganha pontos por meiro. Por isso, algumas cartas
comida consumida durante o jogo, adicionam proteção climática.
pelas populações e características Muitas das Características prote-
de todas as espécies sobrevivem no gem sua população do calor ou
final do jogo. do frio, reduzindo o número que
20 Revista VEMPRAMESA
EVOLUTION: CLIMATE
você deve matar. Quanto mais frio para caçar em Bando e Emboscada).
fica, menos comida há. Quando fica A existência dessas cartas é uma
mais quente, maior disponibilida- representação incrível da hipótese
de de plantas, porém em condições da Rainha Vermelha. A Hipótese da
de calor extremo a comida seca Rainha Vermelha como formulada
rapidamente. No jogo também por Van Valen, embora difícil de ser
existem Cartas de Evento para testada, pode ser entendida como
“apimentar” o Desafio do Clima, uma “corrida evolutiva” entre pre-
eventos como Erupções Vulcânicas dadores e presas. Nesse fenômeno
Globais e Chuva de Meteoros. Após o único modo de predadores com-
o desafio do Clima, começa a fase pensarem melhorias nas defesas
de Alimentação, onde partindo do de uma presa (coelhos correrem mais
primeiro jogador, cada um pode rápido, por exemplo) é desenvolver
pegar um marcador para alimen- melhorias nos seus ataques (raposas
tar uma espécie, continuando até correrem mais rápido, por exemplo).
todos os animais estarem alimen- Game of Thrones é bobagem
tados ou acabar a Reserva. comparado às repentinas mudan-
Todos os animais em Evolu- ças de Evolution: Climate. Não se
tion: Climate são herbívoros (con- apegue às suas espécies, elas são
sumidores primários), até que você comida para um carnívoro! Na re-
lhes dê a característica de ser um alidade, nesse jogo é fundamental
carnívoro. Se um jogador cria uma saber quando e que animais de uma
espécie Carnívora, ela irá atacar as população você irá sacrificar (ou
outras espécies em jogo. Uma vez até espécies inteiras) para que seus
que a espécie é saciada, ela o para outros possam sobreviver e comer.
de comer. Às vezes, haverá muita Por isso a curva de crescimento de
comida e alguns serão levados aprendizagem será brutal, assim
para próximo turno. Outras vezes como a natureza.
algumas espécies serão extintas O processo evolutivo inclui di-
devido à diminuição das popula- versas outras dimensões importan-
ções pela presença de carnívoros, tes (não apenas adaptação e seleção
mudanças na temperatura e a natural) que não são explicitas no
fome. As criaturas migratórias jogo (e nem deveriam!), tais como:
driblam as interferências do plasticidade fenotípica, herança
clima e também podem encontrar mendeliana, mutações, epigenéti-
comida em outro lugar se o buraco ca etc. Mas subentende-se que eles
da água secar, mas também são fazem parte do pano de fundo de
mais vulneráveis aos carnívoros algumas Cartas de Características
com a emboscada. A hibernação (cabe ao professor fazer essas reflexões,
lhe dá proteção contra o frio e a ao usar o jogo como ferramenta didá-
fome. E aqui retomo a importân- tica). O Evolution: Climate é um
cia das Cartas de Características, excelente jogo, para um público
elas facilitam a alimentação ou específico e difícil de categorizar.
defesas ao ataque de Carnívoros Mas se você gosta de competição
(como Chifres, ou comportamento de direta, construir combos e contra
viver em Rebanho). Assim como tem estratégia é um jogo que pode ser
apoio aos carnívoros (como cartas seu queridinho.
Revista VEMPRAMESA 21
Resenha Com Magarem
POWER
GRID
Construindo e gerenciando
o desenvolvimento
U
m clássico genial! Esta frase resume bem o que é o Power
Grid! Para quem não sabe, Power Grid é uma versão atuali-
zada do Funkenschlag de Friedemanne Friese. Em seu bojo,
foram feitas uma série de mudanças, todas voltadas para encurtar
o tempo de jogo. Há pequenas alterações nas usinas de energia e no
cronograma de pagamento. Para muitos, um jogo com visual pouco
“cativante”, melhor dizendo: feio – não me encaixo nesse grupo,
acho o jogo extremamente estiloso! Mas, deixando de lado o visual
e a medonha qualidade de seu “dinheiro”, o jogo é estimulante e
único em sua essência!
22 Revista VEMPRAMESA
POWER GRID
Revista VEMPRAMESA 23
POWER GRID
Como o jogo
funciona
Cada jogador tomará a frente
de uma Companhia de energia
que terá como tarefa abastecer as
cidades de um dado país - no caso
do jogo básico ele traz os mapas
do EUA e da Alemanha. Para tanto,
deverão competir pelas tecnologias
de produção de energia disponí-
veis: petróleo, lixo, urânio, carvão,
ecológica (eólica) e decorrentes de
fusão, que serão responsáveis por
prover de energia, através das co-
nexões elétricas criadas por cada
jogador dentre as cidades assen-
tadas no mapa selecionado. Cada
rodada se perfaz em 5 fases, a saber:
Fase 1
Determinação da
ordem de jogo
2 (leilões) e ainda será o último a
executar suas ações nas Fases 3 e 4. Fase 2
O jogador que detiver o maior Mas isso, diga-se de passagem, é o
número de cidades e, no caso que mantém o jogo tão atrativo. A Fase de Leilões
de empate, aquele que detiver a busca pelo equilíbrio de forças é tão
maior usina em sua posse ocupará evidente que a todo momento há
Este, para mim, é o principal
a primeira posição na rodada. Pode- uma sucessão de posições no mar-
momento do jogo. Um mercado
se dizer que a ordem é um feito cador, dando a chance para aquele
se manterá pré-estabelecido a cada
definitivo para o equilíbrio final que se mantiver atrás alcançar as
rodada com 4 cartas de usinas pre-
do jogo, uma vez que desprestigia primeiras posições a qualquer mo-
sentes e 4 cartas de usinas futuras.
as ações do jogador que estiver à mento. Por outro lado, a cessão de
As únicas que podem ser leiloadas
frente. Como assim? Quer dizer que sua primeira posição, trará novas
serão as usinas do mercado atual
quem tiver atrás do score terá mais vantagens para aquele que se man-
ou presente. Cada carta possui em
vantagens do que aquele que se teve resoluto em primeiro no score
seu canto esquerdo um número
mantiver em primeiro? Sim, um ar- permitindo se adequar as novas
respectivo que representa o valor
gumento questionável para aqueles situações de jogo, principalmen-
de lance mínimo (Bid) de cada
que não o conhecem, mas ampla- te quanto à possibilidade de se
usina. Agora, por que iniciar esta
mente engenhoso e estratégico do manter atento às quatro cartas de
Fase não é tão bom? Aquele que
ponto de vista sustentável do jogo. leilões futuras que poderão fazer
está na primeira posição do score
Aquele jogador que se mantiver na parte do mercado presente nas
poderá iniciar os Bids ou lances.
primeira posição na Fase 1, terá próximas rodadas. Simplesmente
Destaquei o termo “poderá”, pois
a desvantagem de iniciar a Fase genial este equilíbrio!
se algo no mercado não agradar o
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POWER GRID
Fase 3
Compra de Recursos
Revista VEMPRAMESA 25
POWER GRID
esgotar os recursos das tabelas O jogo distribuiu bem as vanta- Assim, a Etapa 1 perdura até que
(Box) mais baratos deixando para gens trazidas pelas usinas de acordo o primeiro jogador alcance a 7ª
o seguinte a possibilidade de um com cada recurso, é evidente que as cidade, dando espaço para a Etapa
gasto maior para se adquirir um usinas que utilizam urânio normal- 2, onde novos recursos como o lixo
mesmo recurso. A sequência segue mente abastecem mais cidades com são bem atrativos como fonte de
até que o primeiro do score escolha um número ínfimo desta matéria-pri- energia. A Etapa 3 e final se iniciará
comprar ou não recursos no merca- ma. Acontece que investir em urânio apenas quando sua carta específi-
do. Adquirir recursos nesta Fase é nas fases iniciais se torna um tiro ca - no setup inicial a carta da 3ª
um ponto crucial para a produção no pé, haja vista que o valor inicial Etapa deverá ser posta embaixo da
de energia na Fase 5 e consequente desta matéria-prima só se reduz pilha de cartas ou cava - seja cavada
acúmulo de capital (elektro) para a com o acúmulo das rodadas. Cada durante o jogo. Neste momento, o
sucessão de atividades nas próxi- Etapa sugerida pelo jogo, mensura mercado atual e futuro que permi-
mas rodadas. um tipo ideal para aquele momento, te a compra de usinas nos leilões,
e cada uma delas se torna bastante passará a composição de 6 cartas,
atrativas para seu desenvolvimento. removendo duas do jogo.
Fase 4
IMAGENS: JULIO CESAR
Construção
Basicamente, este é o momento
em que os jogadores expandem as
redes de suas empresas no mapa
para abastecer cidades com eletri-
cidade. De acordo com a Etapa em
que se encontre a partida, a aloca-
ção de usinas nas cidades seguirá
por uma linha estratégica muito
forte, que bloqueará o crescimento
de seus adversários dificultando e
encarecendo sua rede de abasteci-
mento de energia.
Mas, o que são essas Etapas?
Com certeza as Etapas servem
como um otimizador da estrutura
do jogo, penalizando jogadores que
se mantenham estanques em sua
estratégia inicial e privilegiando
aqueles que vejam a oportunida-
de de diversificar sua estratégia
de acordo com as Etapas do jogo.
As Etapas funcionam como ver-
dadeiras Revoluções no uso das
tecnologias de energia, restando
perceptível, para aqueles que es-
tudam o jogo, que alguns recursos
são bastante atrativos em Etapas
específicas, ex.: carvão e petróleo
funcionam muito bem na Fase 1.
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POWER GRID
Fase 5
Burocracia
E, finalmente, a Fase final, na
qual os jogadores poderão vender
seus recursos para aquecer suas
usinas e abastecer as cidades da
rede de energia que fazem parte
de sua empresa. Quanto maior for
seu abastecimento maior serão os
Qualidade de suas peças
ganhos e acúmulo de capital que
Não há unanimidade, principalmente quanto aos fãs do jogo,
estimulará suas novas compras
quanto ao quesito qualidade de suas peças. Seu tabuleiro é de ótima
para a próxima rodada. Além da
qualidade, muito fácil de ser manejado e guardado, no entanto,
arrecadação de capital, novos re-
sua arte é um tanto confusa numa primeira olhada. No fim das
cursos deverão ser remanejados
contas o tabuleiro é bem funcional quando se tem uma ideia do
nos Box do mercado de recursos de
jogo, porém não tão elegante. Seus tokens seguem a linha euro da
acordo com uma tabela prevista no
qualidade em madeira, nada a reclamar, ao contrário, são muito
manual do jogo (este valor de rema-
bem confeccionados em diversos formatos e cores variadas.
nejamento varia de acordo com cada
Por sua vez, seu “insert” comporta muito bem todos os itens do
Etapa). Por fim, a usina do mercado
jogo - exemplo que deveria ser seguido por 90% dos jogos da Fantasy
(atual ou futuro) que detiver o maior
Flight Games! - além do tabuleiro funcionar como um tampão ao estilo
valor de Bid deverá ser realocada
Small World. As cartas são muito bonitas de uma qualidade invejável.
no fundo da pilha de cartas e, em
No entanto, como nem tudo é um mar de rosas, o dinheiro ou
seu lugar, uma nova carta deverá
Elektro oferecido pelo jogo segue a mesma linha fajuta de jogos
ser cavada e ajeitada no mercado
como o Horse Fever e Banco Imobiliário, impresso num papel A4 com
de acordo com sua ordem numéri-
uma péssima gramatura. Se for administrado de forma incorreta
ca - isso permite que o mercado se
com certeza ele será danificado em poucas sessões.
diversifique a cada rodada, sempre
com novas opções.
Sobre o jogo
Assim, o Power Grid, ao contrário do que muitos podem pensar,
é um jogo de contagem “acessível”. Bem, acessível a todos? Não! De
forma alguma o utilize como um “gateway” (nevermind!) para jogos
euros, nem traga à mesa jogadores desatentos, pois uma escolha
mal feita poderá comprometer bastante sua rodada - é um jogo
punitivo! O jogo possui uma alta interação nos lances (Bids) que
foge aos padrões dos “euros” mais “raiz”; possui uma boa disputa
POWER GRID quanto à pontuação, temática exótica, altos níveis de estratégia,
Estilo: Eurogame ou seja, um prato cheio para os hard gamers que buscam desafios.
Para: 2 a 4 Jogadores O jogo em si é difícil? Não, mas sua aplicação estratégica pode-se
Ano: 2004
dizer que sim, pois cada passo deverá ser bastante trabalhado para
se alcançar a vitória.
Fabricante:
Rio Grande Games Enfim, esse é um jogo que não dá para ser jogado apenas pelo
simples fato de se jogar. Decisões implicam em consequências
Criador: Friedemann Friese
agravantes o que o torna bastante competitivo para aqueles joga-
Ilustradores: Antonio Dessi,
Lars-Arne “Maura” Kalusky, dores que se estimulam com a arte de pensar com maiores níveis
Prapach Lapamnuaysap de complexidade.
e Harald Lieske
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COLUNA
DO PORTUGA
Carioca natalense, professor
de Português e Literatura.
Família e jogos sempre à mesa!
danportugal1978@hotmail.com
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