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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE TUCURUÍ
EQUAÇÕES DIFERENCIAIS Prof. Dr. Bruno Wallacy Martins

1. INTRODUÇÃO A EQUAÇÕES DIFERENCIAIS i. A variável dependente y e todas as suas derivadas são


do primeiro grau, isto é, a potência de cada termo
1.1 Definição.
envolvendo y é 1.
Uma equação diferencial é uma equação que envolve ii. Cada coeficiente depende apenas da variável
uma função incógnita e suas derivadas. independente x.
Exemplo 1. As seguintes equações são diferenciais A equação (a) é uma e.d.o. linear de primeira ordem,
envolvendo a função incógnita y. com 𝑎1 (𝑥) = 1, 𝑎2 (𝑥) = 0, 𝑔(𝑥) = 5𝑥 + 3. A equação
𝑑𝑦 (c) é linear de terceira ordem, com 𝑎3 (𝑥) = 4 , 𝑎2 (𝑥) =
(a) = 5𝑥 + 3 𝑠𝑒𝑛𝑥, 𝑎1 (𝑥) = 0, 𝑎0 (𝑥) = 5𝑥 𝑒 𝑔(𝑥) = 0.
𝑑𝑥

𝑑2𝑦 𝑑𝑦 2 As equações diferenciais que não podem ser postas


(b) 𝑒 𝑦 +2( ) = 1
𝑑𝑥 2 𝑑𝑥 sob a forma de (1) são chamadas de não-lineares. Por
𝑑3𝑦
𝑑3 𝑦 𝑑2 𝑦 exemplo, as equações 𝑦𝑦 ′′ − 2𝑦 ′ = 𝑥 e 𝑑𝑥3 + 𝑦 2 = 0 são
(c) 4 + sin 𝑥 + 5𝑥𝑦 = 0
𝑑𝑥 3 𝑑𝑥 2
equações diferenciais ordinárias não-lineares de segunda e
3
𝑑2𝑦 𝑑𝑦 𝑑𝑦 2 terceira ordens, respectivamente. No Exemplo 1, (b) e (d)
(d) ( ) + 3𝑦 ( ) + 𝑦 3 ( ) = 5𝑥
𝑑𝑥 2 𝑑𝑥 𝑑𝑥 são não lineares.
𝜕2 𝑦 𝜕2 𝑦
(e) −4 =0 EXERCÍCIO I
𝜕𝑟 2 𝜕𝑥 2

Uma equação diferencial é chamada de ordinária 1. Classifique cada equação diferencial segundo a ordem,
(E.D.O.) se a função incógnita possui apenas uma o grau (quando possível) e a linearidade. Determinar a
variável independente. função incógnita e a variável independente.

No Exemplo 1, as equações de (a) a (d) são e.d.o’s, a) 𝑦 ′′′ − 5𝑥𝑦 ′ = 𝑒 𝑥 + 1.


(a) Terceira ordem: A derivada mais alta é a terceira. Primeiro
pois a função incógnita y depende apenas da variável x. grau: a terceira derivada está na primeira potência. Linear: 𝑎3 (𝑥) =
1, 𝑎2 (𝑥) = 0, 𝑎1 (𝑥) = −5𝑥, 𝑎0 (𝑥) = 0 𝑒 𝑔(𝑥) = 𝑒 𝑥 + 1.
Uma equação diferencial é chamada de parcial
(E.D.P.) se a função incógnita depende de mais de uma 𝑑2𝑦 𝑑𝑦
b) 𝑡 𝑑𝑡 2 + 𝑡 2 𝑑𝑡 − sin 𝑡 √𝑦 = 𝑡 2 − 𝑡 + 1
variável independente. A equação (e) é uma e.d.p., pois
depende das variáveis independentes r e x. 𝑑2𝑡 𝑑𝑡
c) 𝑠 2 + 𝑠𝑡 =𝑠
𝑑𝑠 2 𝑑𝑠
1.2 Ordem e grau (c) Segunda ordem. Primeiro grau: a equação é um polinômio na
função incógnita t e suas derivadas (com coeficientes em s), e a derivada
A ordem de uma equação diferencial é a ordem da segunda aparece em primeiro grau. Não-linear: 𝑎2 (𝑠) = 𝑠 2 , 𝑎1 (𝑠) = 𝑠𝑡.
mais alta derivada que nela comparece. Função incógnita t; variável independente s.

No Exemplo 1, (a) é uma e.d.o. de primeira ordem; 𝑑4𝑏 5 𝑑𝑏 10


d) 5 (𝑑𝑝4) + 7 (𝑑𝑝) + 𝑏 7 − 𝑏 5 = 𝑝
(b), (d) e (e) são de segunda ordem; (c) é uma e.d.o. de (d) Quarta ordem. Quinto grau: a derivada de ordem quatro aparece
terceira ordem. elevada a quinta potência. Não-linear. Função incógnita b; variável
independente p.
O grau de equação diferencial, que pode ser escrito
𝑑2𝑥
como um polinômio na função incógnita e suas derivadas, e) 𝑦 𝑑𝑦2 = 𝑦 2 + 1
é a potência a que se acha elevada a derivada de ordem
mais alta. A equação (d) é uma e.d.o. de grau 3, pois a 1.4 Solução
derivada mais alta (a segunda, no caso) se acha elevada a
Qualquer função f definida em um intervalo I, que,
potência três.
quando substituída na equação diferencial, reduz a
1.3 Equações diferenciais lineares. equação a uma identidade, é chamada de solução para a
equação no intervalo.
Uma e.d.o. de ordem n na função incógnita y e na
variável independente x é linear se possuir a forma 𝑥4
Exemplo 2. Verifique se 𝑦 = é uma solução para a
16
𝑑𝑛 𝑦 𝑑𝑛−1 𝑦 𝑑𝑦 equação não-linear:
𝑎𝑛 (𝑥) + 𝑎𝑛−1 (𝑥) 𝑛−1 + ⋯ + 𝑎1 (𝑥) + 𝑎0 (𝑥)𝑦 = 𝑔(𝑥)
𝑑𝑥 𝑛 𝑑𝑥 𝑑𝑥 𝑑𝑦
= 𝑥𝑦1/2
Observe que as equações diferenciais lineares são 𝑑𝑥
caracterizadas por duas propriedades: Exemplo 3. A função 𝑦 = 𝑥𝑒 𝑥 é uma solução para a
equação linear

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𝑦 ′′ − 2𝑦 ′ + 𝑦 = 0 𝑑3𝑦 𝑑𝑦 4
3. 𝑥 − 2( ) + 𝑦 = 0
𝑑𝑥 3 𝑑𝑥
Exemplo 4. 𝑦(𝑥) = 𝑐1 sin 2𝑥 + 𝑐2 cos 2𝑥, com 𝑐1 e 𝑐2
constantes arbitrárias, é solução de 𝑦 ′′ + 4𝑦 = 0? 4. 𝑥 𝑑𝑦 + ( 𝑦 − 𝑥𝑦 − 𝑥𝑒 𝑥 )𝑑𝑥 = 0
2

Exemplo 5. Determine se 𝑦 = 𝑥 2 − 1 é uma solução de 5. 𝑥 3 𝑦 (4) − 𝑥 2 𝑦 ′′ + 4𝑥𝑦 ′ − 3𝑦 = 0


(𝑦 ′ )4 + 𝑦 2 = −1. 𝑑2𝑦
Notemos, de início, que o primeiro membro da equação deve ser 6. + 9𝑦 = sin 𝑦
𝑑𝑥 2
não negativo para toda função real y (x) e todo x, pois é a soma de
potências pares, enquanto o segundo membro é negativo. Como 𝑑𝑦 𝑑2𝑦 2
nenhuma função y (x) satisfaz tal equação, a equação diferencial dada 7. = √1 + ( )
𝑑𝑥 𝑑𝑥 2
não tem solução.
𝑑2𝑟 𝑘
Note que, nos Exemplos 2 e 3, a função constante 8. = −
𝑑𝑡 2 𝑟2
𝑦 = 0 também satisfaz a equação diferencial dada para
todo x real. Uma solução para uma equação diferencial 9. (sin 𝑥)𝑦 ′′′ − (cos 𝑥)𝑦 ′ = 2
que é imediatamente nula em um intervalo I é referida 10. (1 − 𝑦 2 )𝑑𝑥 + 𝑥𝑑𝑦 = 0
como solução diferencial.
Nos Problemas 11-28, verifique se a função dada é uma
Exemplo 6. solução para a equação diferencial. (𝑐1 e 𝑐2 são
a) As equações diferenciais de primeira ordem constantes).
𝑑𝑦 2 11. (𝑦 ′ )3 + 𝑥𝑦 ′ = 𝑦; 𝑦 = 𝑥 + 1
( ) + 1 = 0 𝑒 𝑦′2 + 𝑦 2 + 4 = 0
𝑑𝑥
12. 𝑦 ′ + 4𝑦 = 32; 𝑦 = 8
não possuem soluções. Por que?
𝑥

b) A equação de segunda ordem (𝑦′′)2 + 10𝑦 4 = 0 13. 2𝑦 ′ + 𝑦 = 0 ; 𝑦 = 𝑒 −2


possui somente uma solução real. Qual? 𝑑𝑦
14. − 2𝑦 = 𝑒 3𝑥 ; 𝑦 = 𝑒 3𝑥 + 10𝑒 2𝑥
𝑑𝑥
OBS.: Uma dada equação diferencial geralmente possui
um número infinito de soluções. 15. 𝑦 ′ = 25 + 𝑦 2 ; 𝑦 = 5 ∙ tan(5𝑥) 5𝑥
𝑐 𝑑𝑦 𝑦 2
Exemplo 7 Para qualquer valor de c, a função 𝑦 = + 1 16. = √ ; 𝑦 = (√𝑥 + 𝑐1 ) , 𝑥 > 0, 𝑐1 > 0
𝑥 𝑑𝑥 𝑥
é uma solução da equação diferencial de primeira ordem.
1 1
17. 𝑦 ′ + 𝑦 = sin 𝑥 ; 𝑦 = sin 𝑥 − cos 𝑥 + 10𝑒 −𝑥
𝑑𝑦 2 2
𝑥 +𝑦=1
𝑑𝑥 18. 𝑦 = 2𝑥𝑦 ′ + 𝑦( 𝑦 ′ )2 ; 𝑦 2 = 𝑐1 (𝑥 +
1
𝑐 )
4 1
No intervalo de (0, ∞).
1
19. 𝑦 ′ − 𝑦 = 1; 𝑦 = 𝑥 ln 𝑥 , 𝑥 > 0
Variando o parâmetro c, podemos gerar uma 𝑥
infinidade de soluções. Em particular, fazendo c = 0, 𝑑𝑃 𝑎𝑐1 𝑒 𝑎𝑡
obtemos uma solução constante y = 1. 20. = 𝑝 ( 𝑎 − 𝑏𝑃); 𝑃 =
𝑑𝑡 1+𝑏𝑐1 𝑒 𝑎𝑡
𝑑𝑋 2−𝑋
21. = ( 2 − 𝑋)(1 − 𝑋); ln =𝑡
𝑑𝑡 1−𝑋
2 𝑥 2 2
22. 𝑦 ′ + 2𝑥𝑦 = 1; 𝑦 = 𝑒 −𝑥 ∫0 𝑒 𝑡 𝑑𝑡 + 𝑐1 𝑒 −𝑥
23. 𝑦 ′′ + 𝑦 ′ − 12𝑦 = 0; 𝑦 = 𝑐1 𝑒 3𝑥 + 𝑐2 𝑒 −4𝑥
24. 𝑦 ′′ − 6𝑦 ′ + 13𝑦 = 0; 𝑦 = 𝑒 3𝑥 cos 2𝑥
𝑑2𝑦 𝑑𝑦
25. −4 + 4𝑦 = 0; 𝑦 = 𝑒 2𝑥 + 𝑥𝑒 2𝑥
𝑑𝑥 2 𝑑𝑥

26. 𝑦 ′′ = 25𝑦 = 0 ; 𝑦 = 𝑐1 cos 5𝑥


27. 𝑦 ′′ = ( 𝑦 ′ )2 = 0; 𝑦 = ln|𝑥 + 𝑐1 | + 𝑐2
28. 𝑦 ′′ + 𝑦 = tan 𝑥 ; 𝑦 = − cos 𝑥 ln(sec 𝑥 + tan 𝑥)
Figura 1. Família de curvas da função y.
Nos Problemas 29 e 30, encontre valores de m para que
EXERCÍCIOS I1
𝑦 = 𝑒 𝑚𝑥 seja uma solução para cada equação diferencial.
Nos Problemas 1 - 10, classifique as equações diferenciais
dizendo se elas são lineares ou não-lineares. Dê também a 29. 𝑥 2 𝑦 ′′ − 𝑦 = 0
ordem de cada equação. 30. 𝑥 2 𝑦 ′′ + 6𝑥𝑦 ′ + 4𝑦 = 0
1. ( 1 − 𝑥 )𝑦 ′′ − 4𝑥𝑦 ′ + 5𝑦 = cos 𝑥 1.5 Problemas de valor inicial
′ 2
2. 𝑦𝑦 + 2𝑦 = 1 + 𝑥 Um problema de valor inicial consiste em uma
equação diferencial, juntamente com condições
1As respostas dos exercícios selecionados estão nas páginas 439 e 340 subsidiárias relativas à função incógnita e suas derivadas
de bibliografia [1].

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– tudo dado para um mesmo valor da variável sobre um sistema em movimento é 𝐹 = 𝑚𝑎, em que m é a
independente. massa e a a aceleração. A lei de Hook diz que a força
restauradora de uma mola esticada é proporcional ao
Em ciências, engenharia, economia e até mesmo em
deslocamento 𝑠, isto é, a força restauradora é 𝑘𝑠, em que
psicologia, frequentemente desejamos descrever ou
𝑘 > 0 é uma constante. Como mostra a Fig. 3, s é o
modelar o comportamento de algum sistema ou fenômeno
deslocamento da mola quando uma massa é atada em sua
em termos matemáticos. Essa descrição começa com
extremidade e o sistema está em posição de equilíbrio (a
i. Identificando as variáveis que são responsáveis por massa está pendurada na mola e não há movimento).
mudanças do sistema;
Quando o sistema está em movimento, a variável x
ii. Um conjunto de hipóteses razoáveis sobre o
representa o deslocamento da massa em relação à posição
sistema.
de equilíbrio. A força resultante atuando na massa é
As hipóteses também incluem algumas leis empíricas simplesmente 𝐹 = −𝑘𝑥. Logo, na ausência de
que são aplicáveis ao sistema. A estrutura matemática amortecimento ou outras forças externas quaisquer que
dessas hipóteses, ou o modelo matemático do sistema, é poderiam estar atuando no sistema, a equação diferencial
muitas vezes uma equação diferencial ou um sistema de do movimento vertical do centro de gravidade da massa é:
equações diferenciais. Esperamos que um modelo
𝑑𝑥 2
matemático razoável do sistema tenha uma solução que 𝑚 = −𝑘𝑥 (3)
seja consistente com o comportamento conhecido do 𝑑𝑡 2
sistema.
Exemplo 8. Um objeto em queda livre próximo à
superfície da terra é acelerado a uma taxa constante g.
Aceleração é a derivada da velocidade, que, por sua
vez, é a derivada da distância s. Suponha que uma pedra
seja atirada do alto de um edifício, como ilustrado na Fig.
2.
Figura 3. Deslocamento de um corpo suspenso por uma mola.

Aqui o sinal de subtração indica que a força


restauradora da mola atua em direção oposta ao
movimento, isto é, na direção da posição de equilíbrio. Na
prática, essa equação diferencial de segunda ordem é
escrita da seguinte forma:
𝑑𝑥 2
+ 𝜔2 𝑥 = 0 (3)
𝑑𝑡 2
2
Figura 2. Corpo em queda livre. em que 𝜔 = 𝑘/𝑚.

Definindo o sentido positivo para cima, então o Lei de Esfriamento de Newton


enunciado matemático De acordo com a lei de esfriamento de Newton, a taxa
𝑑𝑠 2 de esfriamento de um corpo é proporcional à diferença de
= −𝑔 (2)
𝑑𝑡 2 temperatura do corpo e a temperatura do meio ambiente.
é a equação diferencial que governa a trajetória vertical Exemplo 10. Suponha que 𝑇(𝑡) denote a temperatura de
do corpo. O sinal de subtração é usado porque o peso do um corpo no instante 𝑡 e que a temperatura do meio
corpo é uma força direcionada para baixo, ou seja, oposta ambiente seja constante, igual a 𝑇𝑚 . Se 𝑑𝑇/𝑑𝑡 representa
à direção positiva. a taxa de variação da temperatura do corpo, então a lei de
Se supusermos ainda que a altura do edifício é s0 e a esfriamento de Newton poderá ser expressa
velocidade inicial da pedra seja v0, então temos de matematicamente da seguinte forma:
encontrar uma solução para a equação diferencial (2), que
satisfaça as condições iniciais: 𝑑𝑇 𝑑𝑇
∝ 𝑇 − 𝑇𝑚 𝑜𝑢 = 𝑘(𝑇 − 𝑇𝑚 ) (4)
′ (0)
𝑑𝑡 𝑑𝑡
0 < 𝑡 < 𝑡1 , 𝑠(0) = 𝑠0 e 𝑠 = 𝑣0
Em que 𝑘 é uma constante de proporcionalidade. Como,
Aqui, 𝑡 = 0 é o instante em que a pedra deixa o por hipótese, o corpo está esfriando, devemos ter 𝑇 > 𝑇𝑚 ;
telhado do edifício (tempo inicial) e 𝑡1 é o instante em que
logo, 𝑘 < 0.
a pedra atinge o solo. Como a pedra é atirada para cima
na direção positiva, 𝑣0 é naturalmente positivo. Drenagem Através de um Orifício

Note que essa formulação do problema ignora outras Em hidrodinâmica, o Teorema de Torricelli nos diz
forças, como a resistência do ar atuando sobre o corpo. que a velocidade 𝑣 de fluxo de água através de um
pequeno orifício no fundo de um tanque cheio até uma
Exemplo 9. Para calcular o deslocamento vertical 𝑥(𝑡) de altura ℎ é igual à velocidade que um corpo (neste caso,
uma massa atada a uma mola usamos duas leis: a segunda uma gota d’água) adquire em queda livre de uma altura ℎ:
lei de Newton sobre o movimento e a lei de Hooke. A
primeira delas diz que a resultante das forças que atuam 𝑣 = √2gℎ

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Em que g é a aceleração devida à gravidade. A última ao quadrado da velocidade? Suponha a direção positiva
1
expressão é obtida igualando a energia cinética 𝑚𝑣² à para baixo.
2
energia potencial 𝑚gℎ e explicitando 𝑣. 3. Pela lei da gravitação universal de Newton, a
aceleração de queda a de um corpo, tal como o satélite,
Exemplo 11. Um tanque cheio de água é drenado através
Fig. 5, caindo de uma grande altura, não é a constante g.
de um orifício sobre a influência da gravidade.
Em vez disso, a aceleração a é inversamente proporcional
Gostaríamos de calcular a altura ℎ da água no tanque em
ao quadrado da distância r entre o centro da Terra e o
qualquer instante de tempo 𝑡. 𝑘
corpo: 𝑎 = 2, onde k é a constante de proporcionalidade.
𝑟
Considere o tanque mostrado na Fig. 4. Se a área do
orifício é 𝐴0 (em m²) e a velocidade da água saindo do a) Use o fato de que na superfície da Terra 𝑟 = 𝑅 e 𝑎 = 𝑔
tanque é 𝑣 = √2gℎ (em m/s) então o volume de água que para determinar a constrante de proporcionalidade k.
sai do tanque por segundo é 𝐴0 𝑣 = 𝐴0 √2gℎ (em m³/s). b) Use a segunda lei de Newton e a parte (a) para
Logo, se 𝑉(𝑡) denota o volume de água no tanque no encontrar uma equação diferencial para a distância r.
instante 𝑡, temos: 𝑑2𝑟 𝑑𝑣 𝑑𝑣 𝑑𝑟
𝑑𝑉 c) Use a regra da cadeia na forma 2 = = , para
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑟 𝑑𝑡
= −𝐴0 √2gℎ (5)
𝑑𝑡 expressar a equação diferencial da parte (b) como uma
Em que o sinal de subtração indica que 𝑉 decresce com o equação diferencial envolvendo v e dv/dr.
tempo. Note que estamos ignorando qualquer
possibilidade de atrito no orifício, o que reduziria a taxa
de vazão da água.

Figura 5 Satélite de massa m

4. Siga as instruções a seguir:


a) Use a parte (b) da questão 3 para encontrar a equação
Figura 4. Escoamento de água pelo orifício na base de um recipiente.
diferencial para r se a resistência ao satélite em queda for
Agora, suponha que o volume de água no tanque no proporcional à sua velocidade.
instante 𝑡 possa ser escrito como 𝑉(𝑡) = 𝐴𝑤 ℎ, em que 𝐴𝑤
b) Próximo à superfície da Terra, use a aproximação 𝑅 =
(em m²) é a área da superfície da água, que não depende
𝑟 para mostrar que a equação diferencial da parte (a) se
da altura ℎ. Daí,
reduz à equação deduzida na questão 1.
𝑑𝑉 𝑑ℎ
= 𝐴𝑤 ( ) 5. Um circuito em série contém um resistor e um indutor,
𝑑𝑡 𝑑𝑡
como mostrado na Fig. 6. Determine a equação
Substituindo essa última expressão em (5), obtemos a
diferencial para a corrente 𝑖(𝑡) se a resistência é 𝑅, a
equação diferencial para a altura ℎ da água em função do
indutância é 𝐿 e a diferença de potencial, 𝐸(𝑡).
tempo 𝑡:
𝑑ℎ 𝐴0
=− √2gℎ (6)
𝑑𝑡 𝐴𝑤
É interessante observar que (6) permanece válida
mesmo quando 𝐴𝑤 não é constante. Neste caso, devemos
expressar a área da superfície da água como uma função
de ℎ: 𝐴𝑤 = 𝐴(ℎ).
Figura 6 Esquema de um circuito RL
EXERCÍCIO II
Nos problemas deduza a equação diferencial que 6. Um circuito em série contém um resistor e um
descreve a situação física dada. capacitor, como mostrado na Fig. 7. Determine a equação
1. Em certas circunstâncias, um corpo B de massa m em diferencial para a carga q(t) se a resistência é R, a
queda, encontra resistência do ar proporcional à sua capacitância é C e a diferença de potencial, E(t).
velocidade v. Use a segunda lei de Newton para encontrar
a equação diferencial para a velocidade v do corpo em
qualquer instante. Lembre-se de que a aceleração é 𝑎 =
𝑑𝑣
. Suponha, aqui, que a direção positiva é para baixo.
𝑑𝑡

2. Qual é a equação diferencial para a velocidade v de um


corpo de massa m em queda vertical através de um meio Figura 7 Esquema de um circuito RC
(tal como água) que oferece uma resistência proporcional

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7. Suponha que a água de um tanque esteja sendo drenada
por um orifício circular de área 𝐴0 localizado no fundo do
tanque. Foi mostrado experimental que, quando o atrito da
água no orifício é levado em consideração, o volume de
água que sai do tanque por segundo é aproximadamente
0,6𝐴0 √2𝑔ℎ. Encontre a equação diferencial para a altura
ℎ de água em qualquer instante 𝑡 no tanque cúbico da Fig.
8. O raio do orifício mede 2 𝑐𝑚 e 𝑔 = 10 𝑚/𝑠 2 .

Figura 8 Tanque com dimensões retangulares com orifício na base

8. Suponha um tanque na forma de um cilindro reto de


raio 2 𝑚 e altura 10 𝑚. O tanque está inicialmente cheio
de água e a água vaza por um orifício circular de raio
1
𝑐𝑚 no fundo. Use as informações da questão 7 para
2
obter a equação diferencial para a altura h da água em
qualquer instante de tempo t.
9. Um tanque de água tem a forma de um hemisfério com
raio 5 𝑚. A água vaza por um orifício circular de 1 𝑐𝑚 no
fundo plano. Use as informações da questão 7 para obter
a equação diferencial para a altura h da água com relação
ao tempo t.
10. A taxa de decaimento de uma substância radioativa é
proporcional à quantidade 𝐴(𝑡) da substância remanes-
cente no instante t. Determine a equação diferencial para a
quantidade 𝐴(𝑡).
11. Um projeto atirado de uma arma tem peso 𝑤 = 𝑚𝑔 e
velocidade 𝑣 tangente à trajetória de seu movimento.
Desprezando a resistência do ar e todas as outras forças
exceto seu peso, encontre o sistema de equações
diferenciais que descreve o movimento. [Sugestão: Use a
segunda lei de Newton na direção 𝑥 e 𝑦]
BIBLIOGRAFIA
[1] Dennis G. Zill, Michael R. Cullen. “Equações Diferenciais”. Vol.1.
3ª Edição, Makron Books, São Paulo, 2001.
[2] Moderna Introdução as Equações Diferenciais - Richard Bronson

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