Este documento resume um texto analisando o movimento zapatista da Revolução Mexicana de 1910. Argumenta que os zapatistas tinham um projeto político para transformar a sociedade, não apenas lutar por questões corporativas. Detalha como o autor analisou documentos zapatistas para mostrar seu apoio aos camponeses e sua visão de uma sociedade agrária liderada por comunidades.
Descrição original:
Fichamento sobre a América Hispânica no século XIX
Este documento resume um texto analisando o movimento zapatista da Revolução Mexicana de 1910. Argumenta que os zapatistas tinham um projeto político para transformar a sociedade, não apenas lutar por questões corporativas. Detalha como o autor analisou documentos zapatistas para mostrar seu apoio aos camponeses e sua visão de uma sociedade agrária liderada por comunidades.
Este documento resume um texto analisando o movimento zapatista da Revolução Mexicana de 1910. Argumenta que os zapatistas tinham um projeto político para transformar a sociedade, não apenas lutar por questões corporativas. Detalha como o autor analisou documentos zapatistas para mostrar seu apoio aos camponeses e sua visão de uma sociedade agrária liderada por comunidades.
FICHAMENTO – “El proyecto político del zapatismo”, de Arturo Warman
Disciplina de História da América Independente II
Vinicius Ellero Kimati Dias – Nº USP 10340242
O texto em questão, publicado em 1990, apresenta uma análise questionadora de
pontos da historiografia tradicional com relação ao período revolucionário mexicano do início do século. Importante destacar a presença que a Revolução Mexicana tinha na cena política do país, inclusive no que se refere ao zapatismo, movimento analisado pelo texto, que se conformaria como principal base ideológica para o EZLN – Exército Zapatista de Libertação Nacional – o qual surgira alguns anos depois da publicação do estudo de Warman e que exerce grande influência política até a atualidade na região sul do México. Tendo em vista a grande importância histórica do movimento analisado, o autor inicia o texto expondo o objetivo de se contrapor a algumas visões tradicionais a respeito do zapatismo. Tenta, então, mostrar como tal grupo revolucionário era dotado de projeto político de transformação geral da sociedade, e não simplesmente um grupo de camponeses organizados militarmente em torno de questões corporativas – sobretudo o acesso à terra. Warman atribui tal leitura à noção geral de que se tem nas ciências humanas sobre o campesinato, visto como classe atrasada, produto de estruturas sociais anteriores à modernidade e que seria incapaz de contribuir com um projeto político transformador, sobretudo num tempo (como as décadas de 1980 e 1990, nas quais se situa o texto) no qual havia uma convicção bastante difundida de expansão e progresso ilimitados da civilização e da modernidade. Contrapondo-se a tais visões, o autor passa a buscar fontes que evidenciem a presença de um projeto de transformação estrutural da sociedade dentro do zapatismo, projeto este que abarcava grande parte das reinvindicações e dos ideais dos setores políticos tidos como progressistas à época. Warman analisa primeiramente os documentos públicos emitidos pelos zapatistas, sobretudo aqueles relacionados a manifestos e programas políticos e legislações e decretos em áreas de controle revolucionário. Estes documentos, formulados principalmente por um grupo de intelectuais urbanos a serviço das tropas revolucionárias (identificados como “secretários” do Exército Libertador do Sul), tinham caráter sobretudo propagandístico. Seu principal objetivo político consistia na formulação e na divulgação de um programa que, além de uma retórica revolucionária e agitativa, evidenciasse as questões e propostas concretas defendidas pelo zapatismo. A partir destes documentos é possível identificar a centralidade da comunidade agrária para o movimento revolucionário, que a enxergava como protagonista do processo de mudança social e principal sujeito econômico (a partir do acesso à terra, sobretudo), político e social da revolução. Também são analisados documentos internos. Apesar de muitas vezes constituírem circulares simples determinando ações práticas, essas fontes transparecem a relação existente entre o exército revolucionário e a sociedade civil. Era muito cultivado no zapatismo o princípio de parceria entre os poderes militar e civil revolucionários, de forma que o Exército de Libertação do Sul não tinha pretensões de ser um poder totalizante a partir do processo revolucionário. Pelo contrário: havia, dentro do zapatismo, o entendimento da necessidade de, entendendo os pueblos como centro da dinâmica da Revolução, construir uma ferramenta organizativa que possibilitasse a incidência política popular de forma direta, nos moldes de um partido revolucionário de massas que nunca chegou a se concretizar. O zapatismo, dessa forma, projetava a harmonia entre os setores militarizados e o restante da sociedade através de laços de parceria e pela construção de uma identidade de classe que partia da própria composição do Exército de Libertação do Sul, muito similar ao restante das comunidades do Sul do México, com uma grande maioria de camponeses pobres ou assalariados. Por fim, Warman identifica a prática e as medidas revolucionárias como fonte do projeto político desenvolvido pelo zapatismo, em grande confluência com a formulação proveniente de documentação escrita. É evidente, primeiramente, a redistribuição de terras a partir da tomada militar de grandes latifúndios, com a divisão das terras sob controle revolucionário entre os pueblos. No entanto, para além disso, estas áreas passavam a funcionar sob outra dinâmica sócia, política e econômica, contrapondo-se ao poder do Estado. A cadeia produtiva a partir da agricultura passava a ser dirigida pelas comunidades campesinas, que também tinham poder de decisão sobre a produção e a administração política da área. O autor, dessa forma, descreve o projeto revolucionário zapatista, derrotado ao fim do processo revolucionário, como tendo centralidade na tomada do poder – que abrange a necessidade do controle popular não sobre o governo em específico, mas sobre todos os aspectos da sociedade – em vez da luta pela tomada do governo – mais estreita e menos capaz de realizar transformações estruturais – encabeçada pelos vencedores da Revolução.