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RESUMO
Este trabalho traz uma análise do posicionamento jurisprudencial no Brasil com relação aos
danos morais no abandono afetivo de idosos por seus filhos. O estudo inicia com uma
apresentação do conceito de responsabilidade civil. Em seguida, aborda a obrigatoriedade de
amparo dos filhos em relação aos seus pais idosos e as penalidades para aqueles que cometem
tal violência. Ao finalizar, trata do posicionamento jurisprudencial brasileiro, verificando a
plena possibilidade de indenização por danos morais advindos do respectivo abandono. A
importância deste artigo é mostrar o direito dos idosos no tocante ao abandono imaterial
advindo de seus filhos, com a finalidade de que estes se sintam mais seguros e saibam que
medidas jurídicas tomar como forma de coibir essa forma de violência.
1 INTRODUÇÃO
O abandono de idosos é uma realidade no Brasil, pois diariamente, inúmeros idosos são
deixados nas portas dos asilos por seus familiares, parentes e, o que é pior, principalmente por
seus filhos. Muitas vezes, estes, ao deixarem seus pais, adotam uma desculpa de que mais
tarde passarão para pegá-los e nunca mais retornam.
Ao serem abandonados, esses idosos são privados do convívio familiar, de carinho, de
afeto e são obrigados a começar uma nova etapa de vida, com pessoas que nunca viram,
cortando suas raízes definitivamente. Esse fato gera uma enorme tristeza, solidão, sensação de
desamparo e, consequentemente, culminam com o surgimento de diversas doenças que são
agravadas pelo abandono.
Dessa forma, torna-se necessária a aplicação de medidas que coíbam essa atitude tão
reprovável e prejudicial. Os idosos, ao serem abandonados, sofrem prejuízos
incomensuráveis, como dito anteriormente, e os familiares também perdem, pois deixam de
aprender um legado de conhecimentos, que deveriam ser passados de geração em geração.
No Brasil, existem leis rígidas que coíbem essa atitude tão reprovável. Entretanto, é
imprescindível que essas leis sejam divulgadas de forma mais eficiente para toda a sociedade
e, principalmente, é preciso oferecer às vítimas desse abandono condições físicas e
psicológicas para que possam reconhecer o caso e que medidas tomar.
2 RESPONSABILIDADE CIVIL
A responsabilidade civil é a obrigação que uma pessoa tem de ressarcir a outra por
prejuízos causados. Esses danos poderão advir da própria pessoa, de pessoa por quem ele
responde ou por descuido de coisa ou animal que estavam sob sua guarda. De acordo com a
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doutrinadora Maria Helena Diniz (2003, p. 36), a responsabilidade civil é definida da seguinte
forma:
Assim, a responsabilidade civil poderá ser objetiva (aquela gerada através da lei) ou
subjetiva, sendo esta causada através de ato próprio, de pessoa por quem ele responde, ou de
fato de coisa ou animal sob sua guarda.
A responsabilidade civil Objetiva está fundamentada na teoria do risco, considerando-se
o dano causado. Para que nasça a obrigação de indenizar, é necessário o dano e o nexo causal.
Um excelente exemplo é a legislação dos acidentes de trabalho ou o dever de indenizar,
decorrente de uma atividade de trabalho. Assim, Silvio de Salvo Venosa (2002, p. 13) ensina:
Infelizmente precisou que tal dispositivo ficasse assim escrito. É vergonhoso que a
obrigação alimentar, mais moral que material, necessitasse ficar registrada na Lei
Maior. Esse dever é anterior a qualquer lei. É uma obrigação de cunho afetivo e
moral. Qualquer filho que tenha caráter e sensibilidade terá que cumprir fielmente
esse dever de consciência.
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Assim, qualquer violação a essas garantias asseguradas por lei poderá ser punida na
forma da lei penal e civil. Esse assunto será tratado posteriormente ao se analisar os danos
morais no abandono de idosos por seus filhos no tocante ao abandono afetivo.
Art. 5º – Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
V – É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;
X – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurando a indenização por dano material ou moral decorrente de sua violação.
Dessa forma, no ordenamento jurídico brasileiro está prevista a indenização dor danos
morais, no caso de violação de quaisquer direitos relativos à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança, à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas.
De acordo com Maria Helena Diniz (2003, p. 85-86), não existe possibilidade do direito
sanar a dor sofrida, entretanto, a indenização por danos morais seria uma forma de abrandar as
consequências do prejuízo jurídico sofrido:
Entretanto, mesmo com todas essas objeções, o ordenamento jurídico brasileiro admite
a indenização por danos morais como apresentado anteriormente. Dessa forma, esta
indenização apresenta um caráter penal, constituindo uma sansão imposta ao ofensor e um
caráter compensatório, visando apenas amenizar o dano causado, pois a dor sofrida é algo
incomensurável.
O amor e o afeto, ao contrário, são sentimentos humanos, que não podem ser
exigidos, de forma que seu inadimplemento gere direito à indenização. Na verdade,
ontologicamente, não são obrigações, mas deveres morais e éticos a que a lei comina
pelo descumprimento também da mesma reprimenda, qual seja o afastamento do
vínculo jurídico parental. Na verdade, o abandono afetivo não pode ser indenizado
por não ter cunho obrigacional, por constituir o afeto, um sentimento humano.
O referido Estatuto, em seu artigo 2º, também protege a dignidade dos idosos, coibindo
todos os atos que prejudiquem sua saúde mental e física:
O descaso entre pais e filhos é algo que merece punição, é abandono moral grave,
que precisa merecer severa atuação do Poder Judiciário, para que se preserve não o
amor ou a obrigação de amar, o que seria impossível, mas a responsabilidade ante o
descumprimento do dever de cuidar, que causa o trauma moral da rejeição e da
indiferença. (AZEVEDO; VENOSA, 2004, p. 14)
a) No art. 61, II, “h”, que trata das circunstâncias agravantes genéricas, a expressão
velho foi substituída pela expressão maior de 60 (sessenta) anos;
b) Tornou-se causa de aumento de pena no crime de homicídio doloso, ser ele
praticado contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos (art. 121, § 4º, in fine, CP);
c) No crime de abandono de incapaz, foi incluída causa de aumento de pena de um
terço se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (art. 133, § 3º, III, CP);
d) No crime de injúria (art. 140, CP), a utilização de elementos referentes à
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência, trouxe nova redação ao
parágrafo terceiro (injúria por preconceito);
e) Nos crimes contra a honra de calúnia e difamação, foi introduzida causa de
aumento quando forem praticados contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou
portadora de deficiência (art. 141, IV, CP);
f) Nos crimes de seqüestro ou cárcere privado, foi incluída qualificadora
consistente em ser a vítima maior de 60 (sessenta) anos (art. 148, § 1º, I, CP);
g) Também no crime de extorsão mediante seqüestro, foi incluída qualificadora
consistente em ser a vítima maior de 60 (sessenta) anos (art. 159, § 1º, CP);
h) Foi vedado expressamente o reconhecimento das imunidades penais (absolutas e
relativas) nos crimes contra o patrimônio, se o crime é praticado contra pessoa
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos (art. 183, III, CP);
i) Por fim, no crime de abandono material, a expressão valetudinário (pessoa de
compleição física muito fraca, pessoa enfermiça, achacadiça) foi substituída pela
expressão maior de 60 (sessenta) anos (art. 244, “caput”, CP).
Na legislação especial:
a) Foi introduzida causa de aumento de pena, de um terço até a metade, na
contravenção de vias de fato, se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (art. 21,
parágrafo único, do Decreto-lei nº 3.688/41 – LCP);
b) No crime de tortura, foi acrescentada causa de aumento de pena, se o crime é
cometido contra maior de 60 (sessenta) anos (art. 1º, § 4º, II, da Lei nº 9.455/97);
c) Nos crimes da Lei de Entorpecentes, foi incluída causa de aumento de pena
quando qualquer deles visar a pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos (art. 18, III, da Lei nº 6.368/76).(ANDREUCCI, online):
Assim, em caso de crime praticado contra pessoas com idade acima de sessenta anos, a
pena é aumentada, inclusive se houver abandono de incapaz, sequestro, cárcere privado e
vários outros que atentem contra a dignidade da pessoa humana.
forma de análise das decisões dos magistrados, casos de abandono afetivo movidos por filhos
contra pais.
4.3.1 Corrente contra a indenização
No tocante à primeira corrente de magistrados, que não admite a indenização por
abandono afetivo, pode-se citar um caso que ocorreu no Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul, que teve como relatora a Desembargadora Liselena Schifino Robles Ribeiro, sendo este,
recente, julgado. Segue a ementa:
A nobre relatora fundamenta seu voto afirmando que o réu não praticou a violação a
direito algum da parte autora. E a falta de atenção do pai em relação à filha é decorrência dos
fatos da vida, pela ruptura da relação com a mãe da autora e pelo fato de terem vivido
afastados durantes longos anos :
Inicialmente, tenho que descabe o pedido de reparação civil por dano moral, em
razão do abandono afetivo, pois nada tem a ver com direito de personalidade,
direitos fundamentais ou com qualquer garantia constitucional, constituindo mera
pretensão indenizatória, com caráter econômico.
Embora o pedido de reparação por dano moral seja juridicamente possível, pois
previsto no ordenamento jurídico, esse dano deve ser decorrente da violação de um
direito do autor. Ou seja, o Código Civil prevê a possibilidade de reparação de dano
por ato ilícito, inclusive quando o dano é exclusivamente moral, nos termos do art.
186 do CC.
No entanto, a possibilidade de indenização deve decorrer da prática de um ato ilícito,
considerada como aquela conduta que viola o direito de alguém e causa a este um
dano, que pode ser material ou exclusivamente moral.
Em qualquer hipótese, porém, exige-se a violação de um direito da parte, da
comprovação dos fatos alegados, dos danos sofridos e do nexo de causalidade entre
a conduta desenvolvida e o dano sofrido.
No caso, resta evidente, pela própria narrativa dos fatos constantes na exordial, que
o réu não praticou a violação a direito algum da parte autora. E a eventual falta de
atenção do pai em relação à filha é clara decorrência dos fatos da vida, pela ruptura
da relação com a mãe da autora e pelo fato de terem vivido afastados durantes
longos anos.
As relações interpessoais são balizadas por inúmeros fatores pessoais, ambientais e
sociais, que produzem na pessoa sentimentos e emoções, que conduzem à
aproximação entre as pessoas ou ao distanciamento entre elas, sejam parentes ou
não.
Assim, o mero distanciamento afetivo entre pais e filhos não constitui, por si,
situação capaz de gerar dano moral, nem implica ofensa ao já vulgarizado princípio
da dignidade da pessoa humana, pois constitui antes um fato da vida.
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Assim, a Ministra considerou plenamente lícito exigir indenização por dano moral
decorrente ao abandono afetivo pelos pais. Nancy Andrighi apontou que o dano pode
envolver questões extremamente subjetivas, como afetividade, mágoa e amor. No caso em
questão, a relatora ressaltou que a filha superou as dificuldades sentimentais, sendo tratada
como filha de segunda classe, não sendo oferecido a ela as mesmas condições de
desenvolvimento dados aos outros filhos.
O caso a seguir ocorreu no Tribunal de Justiça do Rio grande do Sul e teve como
Relatora Isabel de Borba Lucas na Apelação, Crime Nº 70047707666, tendo sido julgado, em
18 de julho de 2012. Este chama atenção, pois acusado, além de abandonar sua mãe, pessoa
idosa, em entidade de longa permanência, deixou de prover suas necessidades básicas e,
ainda, apropriou-se indevidamente dos valores referentes ao benefício do INSS da vítima,
que, ao invés de repassá-los à entidade em que a mãe se encontrava, dava-lhes destinação
diversa, usando ele próprio o dinheiro:
Dessa forma, no Ordenamento Jurídico brasileiro, está prevista a indenização por danos
morais no caso de abandono imaterial, conforme artigos já citados anteriormente e as decisões
dos tribunais do país, embora muitas vezes divergentes cada vez mais apontam para a punição
daqueles que abandonam os seus.
Vale ressaltar que o abandono imaterial é crime, explícito no Estatuto do Idoso em seu
capítulo II, artigo 95: “Art. 95 Os crimes defendidos nesta lei são de ação penal pública
incondicionada, não se lhes aplicando os artigos 181 e 182 do Código Penal.”(BRASIL, 2003)
“Logo, o Ministério Público passa a ser parte legítima para instaurar o processo, independente
da existência de uma representação da vítima”. (VILAS BOAS, 2005).
Desta forma, o Estatuto do Idoso trata como crime o abandono imaterial de idosos,
sendo estes abandonados em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência,
passível de detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa:
5 CONCLUSÃO
O abandono de idosos é uma realidade no Brasil, pois inúmeros idosos são abandonados
diariamente nas portas dos asilos brasileiros por seus filhos, onde são obrigados a romper
definitivamente com os vínculos familiares e a iniciar uma nova vida, em ambientes e com
pessoas desconhecidos. Com isso, são acometidos de tristeza, mágoa, solidão e diversos
outros sentimentos que irão gerar várias doenças, agravadas pela própria idade, culminando
com a diminuição dos anos de vida.
Ao perder o contato a família, de um modo geral e, principalmente com seus filhos ,
esses idosos excluídos da convivência familiar, ou seja, obrigações de assistência imaterial
que os filhos têm para com seus pais e direito este, amplamente resguardado pelo Estatuto do
Idoso .
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REFERÊNCIAS
ANDREUCCI, Ricardo Antonio, Aspectos criminais do estatuto do idoso. Disponível em: <
www.apmp.com.br/juridico/.../10-21_ricar doantonioandreucci.doc. >. Acesso em: 25 jun
2012.
AZEVEDO, Álvaro Villaça; VENOSA, Silvio de Salvo. Código Civil Anotado e Legislação
Complementar. Atlas, 2004.
______. Lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 03 out. 2003.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Responsabilidade Civil. 17. ed. aum. e
atual. De acordo com o novo Código Civil (Lei 10.406, de 10-1-2001) São Paulo: Saraiva, 2003,
v.7.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2003.
v.4.
VILAS BOAS, Marco Antonio. Estatuto do Idoso Comentado. Rio de Janeiro, Forense, 2005.
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NASSRALLA, Samir Nicolau. Reflexões acerca da responsabilidade civil parental por abandono
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