composição da nota de Direito da Criança e do Adolescente e Estatuto do Idoso, referente ao décimo semestre, do curso de Direito da UNIP – período matutino, DR0B39.
SÃO PAULO 2016 ESTATUTO DO IDOSO: PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
INTRODUÇÃO
Na atual quadra jurídica brasileira, o princípio fundamental e constitucional
da dignidade da pessoa humana, art. 1º, III da Carta Magna reconhece-se em todos os campos desta ciência a presença do princípio fundamental e constitucional da dignidade da pessoa humana, art. 1º, III da Carda Magna, de forma que está alicerçada à tutela de outros aspectos humanos, dentre eles o da vulnerabilidade. Esta vulnerabilidade, inerente a todos, apresenta-se de forma potencial em certo grupo de pessoas, devido à fragilidade física, econômica e psíquica, daí perfaz-se o nexo causal com o idoso, onde o reconhecimento deste quadro chegou a preceitos constitucionais, como se vislumbra o art. 230 da CF. De forma a resguardar a igualdade material que merece este grupo, haja vista a vulnerabilidade, o legislador brasileiro editou leis como a 8.842/94, que trata da política nacional do idoso, mas firmando pela lei 10.741/03 o Estatuto do Idoso, no intuito de tratar de vários aspectos jurídicos relacionados à condição jurídica do idoso. Este trabalho tem a função de demonstrar como a lei 10.741/03 se insere na diretriz da busca de igualdade material para os idosos perante aos demais cidadãos, em razão de sua potencial vulnerabilidade, buscando relacionar direitos e garantias fundamentais que atendam tais prerrogativas, ou seja, mecanismos de efetivação e concretização presentes em qualquer campo jurídico seja administrativo, civil, processual civil ou penal.
1. DO CONCEITO DE IDOSO EJUSTIFICATIVA PARA SUA
PROTEÇÃO ESPECIAL É primordial definir-se o assunto tratado, bem como a construção para esse conceito e a relevância do estudo que se propõe. O idoso é merecedor de tratamento especial devido as peculiaridades sobressaltadas nesta fase de vida. Se apontarmos que a vulnerabilidade por si só não é o suficiente, haja visto que a criança e adolescente também apresentam esta problemática, é relevante lembrar o posicionamento de Nogueira da Gama (2008), sobre a necessidade de tratamento especial do idoso, porque à criança e ao adolescente são tutelados o desenvolvimento da capacidade na condução de sua autonomia, ao idoso assiste-se a perda de capacidade e logo de sua autonomia, degradando-o, em razão de contingências naturais, de capaz para incapaz, quadro alarmante e de especial atenção. Além do supracitado, outro ponto que se reforça a atenção, é a questão socioeconômica, que no sistema capitalista produtivo vê-se o idoso como economicamente improdutivo, o que aponta para um pensamento cultural de desprestígio à velhice. Então não resta dúvida da potencial vulnerabilidade e da importância jurídica que merece o idoso. Ou seja, o amparo defendido aqui e de suma proeminência que além de tratamento constitucional e em leis esparsas é previsto sua proteção inclusive no âmbito internacional, como decorre na Declaração Universal de Direitos Humanos, art. XXV, o qual assim dispõe: Art. XXV – 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. Traçado este quadro relevante, aponta-se uma definição de idoso. O conceito legal de idoso está previsto no artigo primeiro da lei 10.741/03, que evidenciou o critério etário (objetivo), ou seja, pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Porém, a doutrina trata de outros critérios a serem somados, o psicobiológico – considerando-se a condição psicológica e fisiológica da pessoa por meio de exame individuais, e o econômico-social – referente ao patamar social da pessoa, onde o hipossuficiente carece de mais cuidados do que o autossuficiente. Um ponto relevante a respeito do conceito, é que o critério etário adotado pelo estatuto não vigora “erga omnes” em todos os campos do direito material, razão pela qual existe uma relativização deste critério para o exercício de determinados direitos, como é o caso previsto no art. 230, § 2º da CF, onde é garantido ao idoso com mais de 65 anos a gratuidade de transportes coletivos urbanos, dentre outros exemplos. Por fim, até mesmo a lei 8.842/94 traz expressamente que considera-se idosa a pessoa com mais de 65 anos.
2. DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS – ESTATUDO DO IDOSO
2.1. Disposições gerais ou preliminares
No Título I, percebe-se ao longo de seus sete artigos que existe verdadeira
mescla de garantias constitucionais junto aos demais campos do direito e, por seguinte, orientaram o resto do diploma. Quanto ao Direito Civil, percebe-se resguardar os direitos da personalidade, art. 2º do próprio estatuto, aliado ao Código Civil, arts. 11 e 12, e Constituição, artigo 5º, X. A despeito da família, o art. 3º, V, traz a obrigação de zelar pelo idoso e, caso seja observada essa omissão, arcará com a disposição do art. 244 do Código Penal. Ainda sobre a família, é voltada atenção especial aos alimentos, art. 3º, caput que será tratado a seguir. Em âmbito penal, o Estatuto mostra preocupação com o ergástulo do idoso, colocando-o em cela especial e separada dos demais presos, art. 3º, I. Além de tratar da prevenção, no sentido de resguardar a integridade física e psicológica do idoso, art. 4º, caput e arts. 5º e 6º. No Direito Administrativo, o Estatuto deu atenção também ao sentido preventivo, salientando para meio de fiscalização (poder de polícia) ao atendimento preferencial ao idoso em órgãos públicos e entidades privadas, art. 3º, I e VI, além do art. 4º, § 1º. No âmbito da administração pública, é garantido ao idoso o acesso à discussão de políticas públicas no emprego do erário, voltado as suas necessidades e meios de acesso aos recursos criados, art. 3º, II, III, VII e VIII, ainda o art. 7º, que reafirma o compromisso dos conselhos nacional, estadual e municipais do idoso como órgão voltado a garantir os direitos do idoso.
2.2. Do direito à vida, liberdade, ao respeito e à dignidade
Inicialmente, necessário falar em estado natural da vida e que, na
consequência de suas etapas, encerra-se na velhice, o processo de envelhecimento é preservado pelo poder público, mas não significa que o restante da sociedade está eximida deste dever, porém de forma secundária. Ao defender-se o fenômeno personalíssimo do envelhecimento, além de se falar no fenômeno biológico, há de se falar também na assistência extra, assim preocupou-se o legislador em prover o idoso com acesso à saúde de qualidade (art. 9º) e outros que a potencializam, referentes à liberdade, respeito e dignidade, todos desdobramentos de disposição constitucional. A esse respeito, consiste o disposto no § 2º do art. 10º, de forma a alcançar a integridade física, moral e psíquica de maneira que qualquer violação implica em responsabilidades civis e penais. A dignidade, expressamente ressalvada no § 3º do art. 10º, é reflexo do art. 1º, III da CF, de forma que um senso de moral inato a todo ser humano dispensa comentários, afinal todos chegarão à velhice. A liberdade aqui é tratada além da acepção de ir e vir, mas outros tais como a faculdade de opinar, crer, participar seja no âmbito familiar (art. 10º, V) ou político (art. 10º, VI). Neste ponto, alguns cargos eletivos até buscam idade maior como requisito, além da faculdade de inclusive não participar do processo eleitoral, no caso do idoso com mais de setenta anos, art. 14, §, 1º, II, b da CF.
2.3. Dos alimentos
No sub-tópico acima, falava-se em vida no sentido objetivo ou biológico, para
tanto são necessários recursos materiais para se provê-la, no caso, os alimentos. Ao se falar no idoso, o alimento é fundamental para renovar as energias já escassas, de tal forma o legislador optou que para o idoso aplicam-se as mesmas disposições da lei civil ao estatuto, art. 11, só que mais uma vez é consequência de disposição constitucional, de acordo com o art. 229 da CF. O direito material aos alimentos, no que se refere ao idoso, é o mesmo do Código Civil (arts. 1.694 a 1.710) e o instrumento posto ao cumprimento desta prestação é o processo, disciplinado pelo Código de Processo Civil. O alvo da ação poderá ser os filhos, o cônjuge que se divorciou, e os parentes colaterais até o segundo grau, art. 1697 do CC, e, diante a ausência destes ou impossibilidade, poderá socorrer-se ao poder público, art. 14 do Estatuto. Ponto de grande discussão está no art. 12 do Estatuto, que prevê que a obrigação alimentar é solidária, ou seja, o idoso pode optar, no ajuizamento da ação, quem deverá prestá-lo. A discussão paira em torno desse privilégio, haja visto que o caráter solidário de alimentos não ocorre no diploma civil. O Ministério Público, por força do art. 12 do Estatuto, poderá consensualmente referendar acordos de alimentos que servirão como título executivo extrajudicial para futura execução, caso seja necessário, art. 582, II e § 1º do CPC.
2.4. Do direito à saúde
Tão relevante quanto os alimentos, no sentido de manter a vida, trata-se a
saúde de direito social elencado no art. 6º da CF, onde deve ser executado nos moldes do art. 196 do mesmo diploma, o plano para essa execução – referente ao idoso – é guiado pelo inciso segundo do art. 10º e suas alíneas da lei 8.8420/94 e, finalmente, quanto ao Estatuto do Idoso, prevê as minúcias para o acesso à saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS) deve garantir o acesso facilitado ao idoso no suporte de sua saúde, seja preventivo ou no tratamento de doenças, tanto que se necessário custear o tratamento em hospitais particulares, art. 15 do estatuto. O diploma vai adiante. No art. 15, encontram-se detalhes desta política de atendimento à saúde do idoso, prevendo: o cadastramento da população idosa, para facilitar um futuro atendimento médico, onde o histórico do paciente ajudaria, além de evitar riscos de locomoção, ao passo de até mesmo se preciso a internação domiciliar, seja em meio urbano ou rural; criação de unidades geriátricas de referência e ambulatórios; fornecimento gratuito de medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação e etc. Outra iniciativa relevante pelo legislador foi vedar o abuso dos planos de saúde na cobrança de valores diferenciados em razão da idade, art. 15, § 3º. Outro ponto de política pública de saúde, destinada aos idosos, está no amparo psicológico ao enfermo, do qual é assegurado o acompanhamento deste por meio de seus parentes (art. 16), além de permiti-lo a escolha do tratamento que lhe seja mais favorável (art. 17), desde que esteja em gozo dos atos da vida civil, caso não esteja, caberá a família a escolha, na ausência desta o curador e ainda caso seja necessário o próprio médico que informará ao Ministério Público. Por fim, se o profissional da saúde constatar ou mesmo suspeitar de prática de maus-tratos contra o idoso, este tem o dever de comunicar às autoridades elencadas no art. 19 do estatuto (autoridade polícia, MP e Conselho do Idoso), lembrando que a omissão pode implicar em sanções administrativas (Conselho Profissional) e penais (omissão de socorro, art. 135 do Código Penal). Aqui, a intenção é de se evitar a consumação do crime de maus-tratos ou uso de tortura para tanto. BIBLIOGRAFIA
FRANCO, Paulo Alves. Estatuto do Idoso Anotado. 2. ed. Campinas: Servanda,
2008.
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Princípios constitucionais de direito da
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BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 11 de abril de 2016.