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ISSN 2177-3548

Habilidades sociais e análise do comportamento: Proximidade


histórica e atualidades
Social skills and behavior analysis: Historical connection and new
issues
Zilda Aparecida Pereira Del Prette e Almir Del Prette1

[1] Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Brasil | Título abreviado: Habilidades sociais e análise do comportamento | Endereço para
correspondência: Alameda das Ameixeiras, 60. CEP: 13561-358. São Carlos, SP. | E-mail: zdprette@ufscar.br | Nota: Os autores agradecem ao Prof.
Dr. Denis Zamignani pela leitura da primeira versão do manuscrito e pelas sugestões. Este ensaio está vinculado às atividades dos autores enquanto
Bolsistas de Produtividade em Pesquisa do CNPq.

Resumo: Este ensaio focaliza questões que têm sido relativamente negligenciadas ou pouco
enfatizadas na literatura disponível sobre a interface entre habilidades sociais e análise do
comportamento: (a) a contribuição da perspectiva funcional da análise do comportamento
na definição de habilidades sociais e nos critérios de competência social; (b) a compreensão
das habilidades sociais e da competência social enquanto produtos da seleção ontogenética,
filogenética e cultural de padrões de comportamento social; e (c) as implicações e a con-
tribuição potencial dos programas de habilidades sociais no planejamento de práticas culturais
comprometidas com a sobrevivência e com a qualidade de vida na complexa sociedade con-
temporânea.
Palavras-chave: habilidades sociais, competência social, análise do comportamento, práticas
culturais, ética

Abstract: This paper focuses issues that have been relatively neglectful or scarcely emphasized
in the available literature on the interface between social skills and behavior analysis: (a) the
contribution of the functional perspective from behavior analysis in the social skills defini-
tion and in the criteria of social competence; (b) the understanding of social skills and social
competence as a result from the ontogenetic, phylogenetics and cultural selection of social
behavior patterns; and (c) the implications and the potential contribution of the social skills
programs for planning cultural practices committed to the survival and life quality in the
complex contemporary society.
Keywords: social skills, social competence, behavior analysis, cultural practices, ethics

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A contribuição de diferentes abordagens na cons- de aprendizagem e técnicas operantes (Maag, 2005;


tituição do campo teórico-prático das habilidades McIntyre, Gresham, DiGennaro & Reed, 2007),
sociais imprimiu uma característica multifacetada mas não aprofundam a análise do constructo ha-
a esse campo, com predominância dos enfoques bilidades sociais e os pressupostos subjacentes a
cognitivo e comportamental. Para alguns estudio- tais programas. Dentre os que tratam de questões
sos (Hargie, Saunders & Dickson, 1994; McFall, teóricas, algumas tentativas de análise focalizaram
1982; Trower, 1995), esse campo carece de uma te- relações do campo das habilidades sociais com a
oria integrativa que não apenas reveja os diferen- abordagem cognitivista e a comportamental. No
tes construtos explicativos, mas sobretudo que os primeiro grupo, podem ser incluídas as análises de:
integre de maneira sistemática, de modo a melhor (a) Ríos-Saldanha, Del Prette e Del Prette (2002)
articular os fenômenos a que se reporta, tais como sobre a contribuição das teorias de aprendizagem
habilidades sociais, interação social e comunicação social na constituição do campo das habilidades
interpessoal. Até que isso ocorra, um trabalho pre- sociais; (b) Pérez (2000) e Oláz (2009) sobre a com-
liminar se impõe: o de analisar, definir e delimitar preensão e a aplicação da teoria cognitivo-social
as contribuições das diferentes abordagens desse de Bandura a programas de treinamento de habili-
campo de estudo e de aplicação do conhecimento dades sociais; (c) Caballo, Irurtia e Salazar (2009)
psicológico. sobre conceitos e implicações das abordagens cog-
As relações entre análise do comportamento e nitivas em geral sobre a avaliação e o treinamento
habilidades sociais configuram uma interface his- de habilidades sociais.
tórica de produção e aplicação de conhecimento No segundo conjunto, em número mais re-
sobre o comportamento social. Entendendo-se que duzido, pode-se citar Bolsoni-Silva (2001), que
um não pode ser reduzido ao outro, tem-se, de um analisa alguns aspectos do treinamento de habi-
lado, a análise do comportamento como uma abor- lidades sociais na perspectiva comportamental;
dagem filosófica, científica e aplicada, que extrapola Gresham (2009), que faz uma análise comporta-
o domínio dos comportamentos sociais e, de outro, mental aplicada ao treinamento de habilidades so-
o campo teórico-prático das habilidades sociais, fo- ciais com crianças; e o ensaio de Del Prette e Del
cado nos comportamentos sociais e constituído por Prette (2009), sobre comportamentos não verbais,
diferentes abordagens teóricas, além das formula- examinados sob os três principais aportes teóricos
ções operantes. Os conhecimentos e recursos pro- do campo das habilidades sociais: o cognitivo de
duzidos de um lado e de outro são de interesse para Argyle, o social-cognitivo de Bandura e o da análise
a prática psicológica em diferentes contextos (e.g., do comportamento, de Skinner. Há ainda os estu-
terapia, educação, saúde, trabalho, etc.). Conforme dos que focalizaram, sob a perspectiva da análise
O’Donohue e Krasner (1995), “a abordagem das do comportamento, habilidades sociais específicas
habilidades sociais é um dos maiores desenvolvi- como, por exemplo, a assertividade (Marchezini-
mentos da história do modelo comportamental” (p. Cunha, 2004) e a empatia (Garcia-Serpa, Meyer &
4), com contribuição expressiva para o desenvol- Del Prette, 2006; Vettorazzi et al., 2005).
vimento da terapia comportamental, podendo ser Os estudos citados não esgotam as possibilida-
vista como coadjuvante e mesmo como alternativa des de análise, mas expõem a complexidade desse
à psicoterapia. Citando Phillips, esses autores va- campo, onde podem ser identificados pelo menos
lorizam o campo do Treinamento de Habilidades três dilemas. O primeiro é supor as habilidades
Sociais (THS) por situar a mudança e o desenvol- sociais como comportamentos sociais adaptativos
vimento em uma matriz social de trocas interativas em oposição à noção de que, além disso, as habili-
entre o indivíduo e o ambiente, tal como na concei- dades sociais também deveriam ser consideradas,
tualização e na pesquisa comportamental. na maioria dos casos, como transformativas do
Em geral, as publicações que tratam das habili- ambiente social. Nesse sentido, é importante des-
dades sociais na perspectiva da análise do compor- tacar, por exemplo, o papel da assertividade e das
tamento restringem-se à descrição e avaliação de habilidades de condução de grupo na liderança de
programas de intervenção baseados nos princípios movimentos sociais (Del Prette & Del Prette, 2003).

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O segundo dilema contrapõe o uso do termo ha- outros de base cognitivista, como percepção social,
bilidades sociais enquanto fenômeno - tal como, papel social, afiliação, categorização, etc.
por exemplo, a violência doméstica - ao conceito Posterior, e por vezes concomitantemente às
de habilidades sociais enquanto categoria analítica formulações de Argyle, vários estudiosos apre-
que norteia a pesquisa e a prática em um campo sentaram diferentes definições sobre habilidades
particular de conhecimento. O terceiro dilema é o sociais, o que tem sido objeto de controvérsias.
de tomar o THS como um método ou técnica de Alguns autores (e.g., Cox & Schopler, 1991/1995)
intervenção, adaptável à perspectiva teórica do pro- chegam a situar, no domínio das habilidades so-
fissional, em contraste com uma visão eclética que ciais, quase tudo o que ocorre na interação entre
permite reunir procedimentos derivados de dife- duas ou mais pessoas. Outras análises chamam a
rentes aportes teóricos. atenção para certas particularidades, como o gran-
Sem a pretensão de qualquer encaminhamento de número de definições (Caballo, 2003; Merrell &
ou justificativa para uma ou outra opção em relação Gimpel, 1998), a ausência de características e ter-
aos dilemas mencionados, o presente ensaio foca- mos comuns nas definições (Caballo, 2003; Hargie,
liza questões que têm sido relativamente negligen- Saunders & Dickson, 1994; Merrel & Gimpel, 1998)
ciadas ou pouco enfatizadas na literatura disponível e as diferenças de ênfase na função ou na topografia
sobre a interface entre habilidades sociais e análise da resposta (Kelly, 1982; Linehan, 1984). Todas es-
do comportamento: (a) a contribuição da perspecti- sas questões refletem, de um lado, a complexidade
va funcional e contextualista da análise do compor- do próprio fenômeno das habilidades sociais e, de
tamento na definição de habilidades sociais e nos outro, a diversidade dos aportes teóricos que per-
critérios de competência social; (b) a compreensão meiam esse campo, muitas vezes focalizando dife-
das habilidades sociais e da competência social en- rentes aspectos dessa complexidade.
quanto produtos da seleção (ontogenética, filogené- Considerando-se a classe geral das habilidades
tica e cultural) de padrões de comportamento so- sociais, é importante reconhecer que, como qual-
cial; e (c) as implicações daí decorrentes em termos quer comportamento, trata-se de um constructo,
da contribuição potencial dos programas de THS inferido das relações funcionais entre as respos-
no delineamento de práticas culturais comprometi- tas de duas ou mais pessoas em interação, onde as
das com a sobrevivência e com a qualidade de vida respostas de uma delas são antecedentes ou con-
na complexa sociedade contemporânea. sequentes para as da outra, de forma dinâmica e
alternada no processo interativo. Um comporta-
Uma definição funcional-contextualista de mento social somente é classificado como habili-
habilidades sociais e da competência social dade social quando contribui para a competência
Argyle (1967/1994), um dos pioneiros na investiga- social em uma tarefa de interação social (Del Prette
ção das habilidades sociais, conceituou-as inicial- & Del Prette, 2001a), o que levou Trower (1995) a
mente em analogia às habilidades motoras envolvi- considerar as habilidades sociais como os “tijolos
das na interação homem-máquina, reconhecendo, construtores da competência social” (p. 57). Isso
no entanto, suas diferenças. Na relação entre as pes- significa que a disponibilidade de um repertório de
soas, o termo interação recebeu a adjetivação social, habilidades sociais é condição necessária, mas não
diferenciando-se de qualquer outro processo de tro- suficiente, para a competência social, que os dois
cas entre o indivíduo e o ambiente. Uma segunda termos não podem ser entendidos como sinônimos
diferença foi relacionada à variabilidade comporta- e que a definição de cada um deles remete necessa-
mental, que seria maior na interação entre pessoas, riamente à definição do outro.
comparativamente a qualquer desempenho motor, A competência social é atributo avaliativo de
como dirigir um veículo, andar, correr, desenhar, um comportamento ou conjunto de comporta-
etc. Para explicar o processo de interação entre as mentos bem sucedidos – conforme determinados
pessoas, Argyle (1967/1994) recorreu a noções e critérios de funcionalidade - em uma interação
conceitos da análise do comportamento, por exem- social (Elliott & Gresham, 2008; Gresham, 2009).
plo, os princípios de reforçamento e punição, e a Considerando-se a especificidade e as condições

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da tarefa interativa em curso (McFall, 1982), bem cial. As consequências de médio e longo prazo in-
como as contingências presentes no ambiente so- cluem a manutenção ou melhora da qualidade da
cial em que a interação ocorre, três critérios têm relação, a reciprocidade positiva e equilíbrio nas
sido mais enfatizados na avaliação da competência trocas de reforçadores, o que supõe e fomenta rela-
social (Del Prette & Del Prette, 2001a): (a) a con- ções do tipo “ganha-ganha”, pautadas pelo respeito
secução do objetivo, em termos de consequências aos direitos humanos interpessoais (Del Prette &
específicas da “tarefa social”, tanto em termos de Del Prette, 2001a, 2005). Esses critérios contem-
reforçamento positivo (por exemplo, solicitar um plam simultaneamente interesses individuais e
favor e obtê-lo) como de reforçamento negativo, no coletivos nas interações sociais, considerando a
sentido de remover ou evitar estimulação aversiva necessidade do outro e a interdependência nas re-
(por exemplo, expressar desagrado ao comporta- lações interpessoais, como fatores de convivência
mento do outro e, com isso, interrompê-lo); (b) a saudável e produtiva em longo prazo. Em resumo,
aprovação social da comunidade verbal (em geral subordinada aos critérios da competência social,
relacionada à forma e ocasião do desempenho); (c) as habilidades sociais constituem, portanto, uma
a manutenção ou melhora da qualidade da relação classe geral de comportamentos que possuem alta
(e.g., respeito mútuo e prazer da convivência). Del probabilidade de produzir consequências reforça-
Prette e Del Prette (1996, 2001a, 2005) incluíram doras para o indivíduo e para as demais pessoas
critérios adicionais na caracterização da compe- do grupo social e que, sob os critérios referidos,
tência social, definindo-a como o “comportamento comportamentos do tipo coercitivo ou agressivo
que produz o melhor efeito no sentido de equilibrar não estariam entre os socialmente competentes,
reforçadores e assegurar direitos humanos básicos” mesmo quando produzindo consequências posi-
(Del Prette, 1982, p. 9), enfatizando, assim, a im- tivas imediatas para o indivíduo.
portância de maximizar as trocas positivas entre É importante lembrar que nem todos os crité-
os interlocutores e os resultados de médio e longo rios de competência social são igual e simultanea-
prazo da competência social. mente atingidos em uma tarefa social e, portanto,
Tomados em conjunto, os critérios de compe- a atribuição de competência não é do tipo “tudo
tência social articulam duas dimensões de funcio- ou nada”, podendo ser maior ou menor dependen-
nalidade - instrumental e ético-moral – que estão do da quantidade e diversidade das consequências
relacionadas, respectivamente, com as consequên- obtidas. Por exemplo, é amplamente reconhecido
cias imediatas e com as consequências atrasadas que as consequências imediatas da assertividade
do episódio interativo e também com consequên- podem não ser positivas (como quando alguém
cias para o indivíduo e para o seu interlocutor ou recusa um pedido e não recebe a aprovação do in-
o grupo social. Sob a dimensão instrumental, so- terlocutor) mas, em médio e longo prazo, as pesso-
mente são considerados socialmente competentes as assertivas são vistas como autênticas, honestas,
os desempenhos que produzem consequências re- diretas e conseguem estabelecer relações saudáveis
forçadoras imediatas para o indivíduo, em termos e sólidas, especialmente quando o desempenho
de consecução dos objetivos da interação social, da assertividade é articulado com o da empatia
aprovação social e, paralelamente, com correlatos (Falcone, 2001). Esses critérios podem também
emocionais positivos (e.g., satisfação com os resul- operar sob esquemas concorrentes, implicando
tados obtidos e autovalorização) que também con- escolhas por um desempenho menos competente,
tribuem para a aquisição e manutenção dos de- não causado por déficits de habilidades assertivas,
sempenhos socialmente competentes. A dimensão mas por uma avaliação mais acurada das conse­
ético-moral está associada à escolha ou ponderação quências prováveis em longo prazo. Esse é o caso,
entre consequências imediatas e de médio e longo por exemplo, do funcionário que releva a grosse-
prazo (Dittrich, 2010) que devem ser considera- ria de seu chefe, evitando, com isso, consequên-
das também em termos de consequências para si e cias aversivas imediatas (e.g., piorar ainda mais a
para os demais, no sentido de autogerenciamento relação); ou quando uma pessoa que, ao discrimi-
ético (Skinner, 1968/1972) do comportamento so- nar a condição de fragilidade do outro, deixa de

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apresentar uma resposta assertiva (por exemplo, Seleção filogenética e habilidades sociais
discordar ou expressar desagrado), evitando assim Um dos pressupostos básicos do behaviorismo ra-
produzir um mal-estar ainda maior para o outro. dical é a compreensão de que o comportamento é
Como os correlatos emocionais e as consequên­ produto de três processos de variação e seleção: o
cias de médio e longo prazo são incluídos nos cri- filogenético, o ontogenético e o cultural (Skinner,
térios de avaliação, a atribuição de competência so- 1981/2007). A importância da variabilidade na
cial supõe correspondência entre comportamentos aprendizagem e na seleção de comportamentos
manifestos e encobertos (dizer o que pensa e o que adaptativos também se aplica às habilidades sociais,
sente), por exemplo, elogiar “sinceramente” ou ex- principalmente considerando-se o papel de certos
pressar “honestamente” o desagrado em relação ao padrões de relacionamento interpessoal, tanto na
comportamento do interlocutor. Espera-se, confor- manutenção como na mudança de práticas sociais.
me Skinner (1953/1974), que os comportamentos A seleção filogenética propiciou ao indivíduo
verbais sejam colocados sob controle apropriado humano um conjunto de características anatô-
de estimulação interna e externa. Isso significa que micas, fisiológicas e comportamentais favoráveis
o comportamento observável do indivíduo deveria à aquisição e ao aperfeiçoamento de comporta-
estar de acordo com o que diz a si mesmo, com o mentos sociais que se mostraram importantes na
seu código particular de autorregras e, ainda, com sobrevivência da espécie (Del Prette & Del Prette,
as regras do grupo em que está inserido. No entanto, 2001b). Muitas das capacidades filogeneticamente
considerando que tanto a fala audível como a sub- selecionadas foram indispensáveis para a evolução
vocal (“pensar” e outros processos cognitivos) são das habilidades sociais. Tomando-se por base a
mantidas e modeladas pelo efeito que causam na análise de Glenn (2004), podem ser destacados, no
comunidade verbal, a correspondência dizer-fazer caso das habilidades sociais: (a) o aperfeiçoamento
(Catania, 1999; Glenn, 1983) nem sempre é obtida e, da musculatura vocal, que permitiu a aquisição do
no caso de interações sociais, com implicações para comportamento verbal e sua evolução a níveis cada
a pessoa e para suas relações com os demais. vez mais complexos, fundamental na evolução do
Em geral, a correspondência dizer-fazer ocorre comportamento social e de muitas práticas cultu-
mais facilmente quando as normas do indivíduo rais; (b) a flexibilidade da musculatura facial, refi-
são as mesmas da comunidade verbal. No entan- nando a expressividade facial e a discriminação dos
to, a comunidade verbal muitas vezes libera conse­ estímulos provenientes da expressividade do outro
quências positivas para comportamentos abertos na interação social; (c) a sensibilidade aos estímu-
que não correspondem aos encobertos, como men- los sociais e tendência à proximidade com outros
tir, fantasiar, etc. Quando as regras sociais se alte- da própria espécie (gregarismo); (d) a suscetibili-
ram e se flexibilizam, comportamentos encobertos dade à seleção pelas consequências, ampliando as
já não mais adaptativos (sob o controle de autorre- possibilidades de aprendizagem na relação com os
gras discrepantes das regras da comunidade verbal) outros; (e) a capacidade para emitir “operantes li-
podem trazer dificuldade para o indivíduo em sua vres” que criam a variabilidade necessária à seleção
convivência com os demais. (por consequências) no caso de comportamentos
A queixa de discrepância entre o público e o sociais, mas não apenas.
privado, relatada pela própria pessoa ou por signi- A biologia evolucionária (Del Prette & Del
ficantes, é de grande importância no atendimento Prette, 2002) informa que determinados padrões de
psicológico (ver, por exemplo, Beckert, 2002) e é, comportamentos sociais foram se aperfeiçoando ao
também, objeto de estudos no campo das habilida- longo da evolução filogenética da espécie. Trower
des sociais. Em programas vivenciais de THS, mais (1995) relaciona a ocorrência de padrões compor-
do que no atendimento individual, é viável estabe- tamentais atávicos a vários transtornos psicológi-
lecer condições para a ocorrência e fortalecimento cos e, efetivamente, eles podem sugerir dificuldade
da correspondência entre o dizer a si e o dizer/fazer adaptativa. Por exemplo, pode-se citar a mudança
em relação ao demais, por meio de procedimentos dos padrões impulsivos de atacar ou fugir, para os
específicos (Del Prette & Del Prette, 2001a, 2005). padrões de negociar que exigem controle dessa im-

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pulsividade: padrões sistemáticos de esquiva/fuga Prette, 2005). Em ambos os casos, a promoção da


e de agressividade, que deixaram de ser adaptativos variabilidade, enquanto objetivo, e a exposição a
em muitas situações, são considerados extempo- contingências, enquanto procedimento ou estra-
râneos, podendo ser incluídos no rol de sintomas tégia, são decisivas para a aprendizagem e o aper-
dos chamados transtornos psicológicos. No entan- feiçoamento de comportamentos sociais. Por outro
to, as mudanças evolutivas nos padrões de com- lado, ambientes complexos, que produzem conse-
portamentos sociais não podem ser examinadas quências seletivas para uma ampla gama de desem-
independentemente das condições econômicas e penhos, podem fortalecer essa variabilidade.
culturais de sobrevivência da espécie humana. Tais Quando as condições de aprendizagem do indi-
contingências (foco da próxima seção) são decisivas víduo, ao longo de sua história prévia de interação
na manutenção ou mudança dos padrões de com- com o ambiente, não garantem um repertório sufi-
portamentos sociais efetivos ou inefetivos ao longo ciente de habilidades sociais, tanto a intervenção clí-
da história da espécie humana1. nica como os programas educacionais estruturados
são alternativas úteis e muitas vezes complementares.
Seleção ontogenética e habilidades sociais Tais programas têm como objetivos suprir déficits
A seleção ontogenética é certamente o processo (associados ou não a transtornos e problemas espe-
mais visível de desenvolvimento das habilidades cíficos), aperfeiçoar habilidades sociais já existentes e
sociais e expressa uma premissa amplamente con- promover a aquisição e generalização de habilidades
firmada pela pesquisa empírica desse campo: as novas. Seja no ambiente natural, seja em contextos
habilidades sociais são aprendidas e alteradas ao estruturados, a aquisição e o aperfeiçoamento das
longo da vida por meio da variabilidade e seleção habilidades sociais ocorrem por meio de diferentes
dos comportamentos submetidos às contingências processos de aprendizagem como: a modelagem via
ambientais. Por outro lado, dependendo das contin- reforçamento diferencial, o seguimento de regras
gências a que está exposta, uma pessoa pode desen- (instrução) e a imitação via observação (Del Prette
volver tanto um repertório elaborado de compor- & Del Prette, 2001a, 2005; Gresham, 2009).
tamentos efetivos na produção de reforçadores ou Os programas vivenciais2 de THS (A. Del Prette
um repertório deficitário, ou seja, limitado e com & Del Prette, 2001a; 2004; s.d.; Z. Del Prette & Del
falhas de fluência ou proficiência de desempenho. Prette, 2005), que podem ser utilizados tanto em
A seleção ontogenética de habilidades sociais contexto clínico como educacional, comunitário e
pode ocorrer tanto por meio das contingências de trabalho, enfatizam a variabilidade de comporta-
naturais do ambiente em que o indivíduo está in- mentos socialmente competentes e a sensibilidade
serido como por meio de contingências estrutura- às contingências, entendidas como condições para
das em programas educacionais ou terapêuticos. a seleção ontogenética de comportamentos funcio-
No contexto clínico da terapia comportamental, nais para o indivíduo lidar com as demandas e con-
Zamignani e Jonas (2007) destacam a variabilidade textos interativos de sua vida. Ainda que a denomi-
como um objetivo e também como condição im- nação desses programas inclua, tradicionalmente,
portante para aprendizagem de comportamentos o termo treinamento, geralmente entendido como
mais adaptativos. No contexto educacional, essa padronização ou automatização de desempenhos,
variabilidade pode ser promovida em programas o termo não é adequadamente descritivo dos obje-
de THS e currículos especificamente voltados para tivos e da filosofia desses programas. Eles visam ao
a promoção das habilidades sociais e a redução dos autoconhecimento, enquanto comportamento des-
comportamentos concorrentes (Del Prette & Del critivo e discriminativo dos próprios desempenhos
e das contingências a eles associadas, e à automo-

1  Tourinho (2009) faz uma esclarecedora análise de contin-


gências sociais, econômicas e culturais que determinaram 2  Em Del Prette e Del Prette (s.d.), são detalhadas as prin-
mudanças nos padrões coletivistas de relações interpessoais, cipais características dos programas vivenciais de THS, que
característicos da economia feudal da Idade Média, para os permitem questionar a adequação do termo treinamento no
padrões individualistas das sociedades contemporâneas. sentido aqui referido.

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nitoria, enquanto planejamento dinâmico dos pró- classe social, etc. Por exemplo, jovens apresentam
prios desempenhos, sob controle das condições da um ritual do cumprimento bastante diferente de
interação social em curso (Del Prette & Del Prette, adultos e, quando esses dois estratos interagem, em
2001a), ampliando as alternativas de resposta do geral os membros de cada grupo se esforçam por
indivíduo e viabilizando suas escolhas e autogeren- “copiar” gestos, movimentos e posturas uns dos ou-
ciamento ético. tros para produzirem consequências determinadas
pelas contingências em vigor.
Seleção cultural: Contribuição Considerando-se os diferentes momentos e
das habilidades sociais para contextos culturais, as contingências atuais refletem
novas práticas culturais os padrões desejáveis (mais prováveis de produzi-
Todas as aquisições humanas estão também as- rem consequências reforçadoras), bem como os
sociadas à imersão da espécie em um ambiente irrelevantes (que não produzem consequências) e
essencialmente social que favoreceu a emergência reprováveis (consequências aversivas) para os dife-
da cultura e das práticas culturais. A efetividade rentes momentos e contextos. Essa é a base do reco-
ou inefetividade de determinadas práticas de re- nhecido caráter situacional-cultural das habilidades
lacionamento social pode determinar a sua ado- sociais (Del Prette & Del Prette, 1999, 2001b).
ção ou não pelos membros do grupo e, portanto, O estabelecimento e o gerenciamento desses
a sua seleção por aquele grupo. Essas concepções padrões são geralmente controlados pelas dife-
também podem ser aplicadas especificamente às rentes agências sociais (como educação, família,
habilidades sociais. religião e mesmo psicoterapia), por meio de prá-
Uma questão preliminar, pertinente à análise do ticas culturais específicas (e.g., o ensino escolar e a
caráter cultural das habilidades sociais, é a relação educação familiar), bem como de códigos escritos
entre funcionalidade e topografia de determinados (leis e literatura) e não escritos (transmitidos oral-
padrões de comportamento social. Na perspectiva mente ou inferidos da observação das contingên-
operante, a funcionalidade é o critério básico para a cias em vigor). No contexto da transmissão de pa-
definição de uma classe de comportamento; porém, drões de relacionamento interpessoal, as práticas
no campo das habilidades sociais, a estrutura tam- culturais que caracterizam os processos de educa-
bém é considerada, uma vez que a consecução dos ção (formal ou informal) e de relacionamento fa-
critérios de competência social pode depender de miliar (pais-filhos, conjugais) envolvem também,
pequenas variações na topografia de determinada necessariamente, comportamentos sociais de indi-
classe de respostas, sem implicar necessariamente víduos em interações sociais e se caracterizam por
em outra classe. Pode-se tomar como ilustração o redes complexas de interdependência3, tornando
comportamento de cumprimentar, também deno- evidente a importância das habilidades sociais
minado (na antropologia) como ritual do cumpri- nesses contextos. Tais práticas diferem na ampli-
mento. Esse tipo de comportamento, de caráter uni- tude com que auxiliam seus membros a solucio-
versalista, adquiriu importância para a abordagem narem problemas e obterem consequências favo-
amistosa e reconhecimento entre pessoas de uma ráveis à sobrevivência do grupo e, na medida em
mesma comunidade verbal ou de outras. Pessoas que são efetivas, tendem a ser disseminadas aos
estranhas a uma comunidade precisam dominar demais membros da cultura e a seus descendentes
as características topográficas de comportamentos (Skinner, 1990). No entanto, práticas anacrônicas
sociais próprios dessa cultura, como uma espécie ou até desumanas podem permanecer por mui-
de “iniciação”, para serem bem-sucedidas nas inte- to tempo, quando geram consequências positi-
rações, caso contrário podem encontrar dificuldade
de estabelecer contatos sociais efetivos. Variações
topográficas de uma mesma classe de respostas, 3  Essa interdependência e outros aspectos da estrutura social
vêm sendo examinados sob a perspectiva de contingências
emitidas por diferentes subgrupos de uma mesma entrelaçadas e metacontingências características das práticas
cultura, também podem formar padrões associados culturais (Andery, Micheletto & Sério, 2005; Glenn, 2004;
a fatores demográficos como idade, sexo, religião, Todorov, Martone & Moreira, 2005).

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vas para grupos que detêm poder, caracterizando Em direção semelhante, Carrara, Silva e Verdu
processos culturais “cerimoniais”, em oposição aos (2006, 2009) destacam a educação inclusiva e o
processos culturais “tecnológicos” (Glenn, 1986). movimento das habilidades sociais entre as práti-
Considerando que uma cultura nunca é mono- cas compatíveis com uma perspectiva ética aplicada
lítica, ou seja, que ela comporta diferentes subcul- ao comportamento social e que “têm sido consa-
turas, certos comportamentos aceitos e esperados gradas como bem da cultura” (p. 346), no sentido
em alguns subgrupos podem ser reprovados em skinneriano. Esse encaminhamento é coerente tam-
outros e vice-versa. Daí a importância de um re- bém com a proposta de Abib (2007), de educação
pertório de alternativas de comportamentos sociais da sensibilidade cultural, voltada para a construção
(variabilidade), como base para a seleção de prá- da paz social e do desenvolvimento emocional do
ticas menos cerimoniais e mais tecnológicas, que ser humano, visando práticas que produzam conse­
podem ser gradualmente disseminadas e adotadas quências com valor de sobrevivência para os indiví-
por novos grupos. Daí também a importância de duos, os grupos sociais, as culturas e o planeta Terra.
programas, como os de THS, que visam a promover A proposta do autor visaria “de um lado, combater
esse repertório. a ética do egoísmo e suas formas perversas de indi-
Em muitos casos, a mudança das práticas cul- vidualismo e, de outro lado, construir uma ética da
turais (particularmente as cerimoniais) poderia justiça” (p. 72), harmonizando o compromisso com
ser facilitada ampliando-se a visibilidade do va- a sobrevivência ao compromisso com “fazer o bem”,
lor funcional e ético de práticas alternativas para ou seja, “o que é bom para si, para o outro e para as
um mesmo contexto. As dimensões instrumental culturas” (p. 73 ).
e ético-moral, integradas nos critérios de compe- As relações interpessoais, pautadas pela dimen-
tência social, apontam para novos padrões de rela- são ético-moral dos critérios de competência social,
cionamento interpessoal (Del Prette & Del Prette, podem gerar consequências reforçadoras para os
2001a). Na medida em que funcionais para a quali- comportamentos do indivíduo e também conse­
dade de vida dos indivíduos e para a sobrevivência quências culturais, em médio e longo prazo, para o
da espécie, padrões de relacionamento pautados grupo social, em termos de qualidade de vida, paz
por esses critérios poderiam consolidar-se em no- social e sobrevivência do grupo. Tanto em seus ob-
vas práticas culturais de relacionamento familiar, de jetivos e implicações culturais como em termos dos
educação, de trabalho coletivo, de lazer, etc. Não se procedimentos utilizados, os programas de THS es-
trata, aqui, de simplificar ingenuamente a comple- tão necessariamente incluídos em projetos sociais
xidade das mudanças sociais, nem de supor o THS voltados para a proteção e saúde do indivíduo, como,
como panacéia, mas de reconhecer que os recur- por exemplo, os de “habilidades de vida”, preconi-
sos desse campo podem contribuir nessa direção. zados pela Organização Mundial da Saúde (WHO,
Por exemplo, programas de habilidades sociais na 1997; Murta, 2005). Pode-se afirmar, portanto, que
escola têm se mostrado eficazes como estratégia os programas de THS apresentam um potencial, ain-
para a redução de agressividade e conflito e para da não totalmente explorado, de contribuição para
relacionamentos mais harmoniosos (Goldstein, a consecução de propostas sociais mais amplas, nos
Sprafkin, Gershaw & Klein, 1980). Esses progra- campos de educação, saúde e vida comunitária.
mas têm se ampliado para projetos sociopolíticos
de convivência, baseados em habilidades sociais e À guisa de conclusão
emocionais, como o CASEL - Collaborative for the As relações entre a área da análise do comporta-
Advancement of Social and Emotional Learning -, mento e o campo teórico-prático das habilidades
uma organização fundada em dezembro de 1994, sociais têm sido comumente referidas em termos
pelo Departamento de Psicologia da Universidade do uso, no THS, das técnicas e procedimentos de-
de Illinois, nos Estados Unidos4. rivados dos princípios operantes ou, inversamente,
do uso, na terapia comportamental, da “técnica” de
THS. No entanto, entende-se que essa compreensão
4  Ver http://www.casel.org. é limitada e limitante e que o escopo da interface

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Habilidades sociais e análise do comportamento: Proximidade histórica e atualidades 104 - 115

entre essas duas áreas inclui outras possibilidades, entre a taxonomia do comportamento verbal e as
especialmente as relacionadas ao arcabouço con- classes de habilidades sociais, sugerindo-se algu-
ceitual e filosófico da análise do comportamento, mas convergências e questões adicionais de pesqui-
ainda pouco explorado na compreensão e produ- sa. Adicionalmente, pode-se sugerir, por exemplo,
ção de conhecimento sobre o fenômeno denomi- a exploração conceitual e empírica das habilidades
nado habilidades sociais. Neste ensaio, buscou-se sociais enquanto classe de resposta de ordem supe-
apresentar algumas dessas contribuições, o que não rior (no sentido proposto por Catania, 1999), uma
significa que se tenha esgotado a análise ou que elas vez que ela reúne uma diversidade de subclasses
se restrinjam às aqui selecionadas. de respostas sociais (habilidades sociais) que apre-
Foram destacadas as contribuições da análise sentam características similares em termos de fun-
do comportamento em termos de recursos para a cionalidade (Del Prette & Del Prette, 2001a, 2009).
análise e compreensão dos conceitos de habilidades Essa análise deveria cotejar, no entanto, as contin-
sociais e de competência social, examinados sob a gências para um repertório generalizado desse tipo
perspectiva funcional e contextualista da análise do em contraponto com o caráter situacional das habi-
comportamento, em sua relação com contingências lidades sociais. Em outra direção, poderia ser muito
que controlam o comportamento social dos indi- interessante a análise do repertório de quadros re-
víduos em interação. Os mecanismos de variação lacionais (Catania, 1999; Hayes, 1989) decorrentes
e seleção - filogenética, ontogenética e cultural da ampliação da variabilidade e da sensibilidade às
- foram aplicados à compreensão da evolução e contingências em programas de THS.
da aprendizagem das habilidades sociais na con-
vivência humana, destacando-se a potencial con- Referências
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consequências desastrosas dos conflitos que pa- ficação de contingências entrelaçadas e meta-
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alcançar relações baseadas no respeito aos direitos Comportamento, 1, 149-165.
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Informações do artigo

História do artigo
data de submissão em: 09/05/2010
primeira decisão editorial em: 01/08/2010
aceito para publicação em: 05/08/2010

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