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DIREITO À MEMÓRIA
PROCESSO CONSERVATIVOS E RESTAURATIVOS
Mauá- SP
2021
LUCAS CALIL, THIAGO MARTINS, BRENO SECCHI, LEONARDO NEVES
RENAN CAMBUI, OTÁVIO PACHECO, JOÃO PEDRO DAMACENO
LEANDRO ZACARIAS E IGOR MATIAS
DIREITO À MEMÓRIA
PROCESSO CONSERVATIVOS E RESTAURATIVOS
Mauá- SP
2021
SUMÁRIO
2. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 10
2.1 IMPACTO DE UM PROCESSO RESTAURATIVO EM UMA OBRA .................. 10
2.2 .RESTAURAÇÃO E CONSERVAÇÃO .............................................................. 11
3. DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 12
3.1 A EVOLUÇÃO DA RESTAURAÇÃO NA HISTÓRIA ......................................... 12
3.1.1 VIOLLET-LE-DUC ............................................................................................ 12
3.1.2 John Ruskin .................................................................................................... 14
3.1.3 Cesare Brandi .................................................................................................. 15
3.1.4 Salvador Viñas ............................................................................................... 16
3.1.5 Umberto Maldini .............................................................................................. 18
3.1.6 A História da restauração ............................................................................... 20
3.2 A RESTAURAÇÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO ..................................... 23
3.2.1 Conflito ético na restauração ......................................................................... 23
3.2.1.1 Direito Autoral ............................................................................................. 23
3.2.1.2 Possibilidade da restauração em contraponto com a ética ......................24
3.2.2 IMPACTO DO CAPITAL ................................................................................... 25
3.2.3 Influência Histórica ......................................................................................... 28
3.2.4 .Impacto político e sócio-cultural................................................................... 29
4. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 31
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 33
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DIREITO À MEMÓRIA
CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO
Mateus SIlveira4
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RESUMO
ABSTRACT
This article aims to relate the restorative and conservative processes of art and
architecture with the right to memory. Basic concepts about art, conservation,
restoration, the artist's influence on creation and its uniqueness will be presented.
Thus, a criticism of the restorative processes can be made, since they modify the
work and consequently modify the intention of the original artist, thus altering the
interpretation of the artistic composition and the current history. For this, the evolution
of the theoretical history of the restoration will be explained, as well as great
restorers, critics and their methods that nowadays have a consensus, in addition to
the ethical philosophy in the process. Researches were carried out with specialists
and professors in the field. Finally, case studies will be presented that prove that a
restorative process alters the work, changing its original meaning and historical
importance.
1 INTRODUÇÃO TEÓRICA
2 INTRODUÇÃO
Uma obra é o trabalho artístico onde um artista deseja transmitir uma ideia ou
uma expressão no qual ele cria algo que projete ou reflita sua intenção. O artista realiza
a obra com intenção de mostrar sua visão e/ou sua ideia diante de alguma coisa, seja
um objeto, uma paisagem, um marco histórico ou uma estrutura. Essas obras são
feitas para que hoje e futuramente seja possível analisá-las e refletir sobre sua época
e o porquê o artista realizou-a e o que ele quis transmitir com ela.
Para que essa oportunidade chegue à sociedade hoje e futuramente, esses
bens culturais precisam ser conservados e, às vezes, até restaurados. Todavia será
que ao restaurá-la, a obra em si não perde sua originalidade e a ideia que o artista
quis passar por ela? Isso é algo muito discutido no mundo da arte, o restaurador deve
ter o senso de que pode acabar com o sentido da obra.
Quando a obra chega ao restaurador é necessário analisar se realmente dá
para fazer o trabalho de restauro sobre a obra, sem que o sentido original se perca.
Muitas vezes as obras chegam com um nível de degradação alto ou até com partes
delas faltando, trazendo a impossibilidade de um restauro onde a originalidade do
autor da obra permaneça. Se houvesse um restauro sobre uma obra dessas, o
restaurador teria que recriar certas partes da obra, porém ao recriar ele some com o
sentido da obra, além da interpretação que teria-se sobre a obra original. Muitas
obras podem servir para retratar uma história de uma época diferente, ao restaurar
uma obra a história pode se perder pela interpretação errada do restaurador. Por isso
a ética e a restauração devem andar juntas.
Entretanto vê-se que na contemporaneidade muitos restauros fogem apenas
da ética artística e histórica. Influenciado por fatores econômicos, estéticos e até
religiosos, realiza-se um restauro que foge da realidade, corrompendo seu real valor.
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3.1.1 VIOLLET-LE-DUC
Num caso como esse seria necessário, utilizar a sua inserção como uma nova
inserção a uma nova fase do projeto, influenciada por ele.
Suas atitudes mais polêmicas e duvidosas no campo restaurativo eram quando
se colocava no lugar do autor primitivo, supondo o que o mesmo faria em casos de se
defrontar com os problemas de restauração. De certa maneira, Viollet-le-Duc conduziu
sua linha construtiva à luz do estilo gótico, julgando como “lícitas” as modificações que
fazia, já que em sua visão suas intervenções não eram contrárias à historicidade do
monumento. Assim, a aplicação de seu método, levou muitas vezes ao campo da
hipótese e da imaginação.
Sobre o seu discurso teórico e prático descreveu o seguinte trecho: "quando
se trata de completar um edifício em parte arruinado; é necessário antes de começar,
tudo buscar, tudo examinar, reunir os menores fragmentos, e somente iniciar a obra
quando todos esses remanescentes tiverem encontrado sua destinação e seu lugar
[...] Ao erguer as construções novas, [o restaurador] deve, tanto quanto possível,
recolocar os antigos fragmentos, mesmo que alterados: é uma garantia que oferece a
sinceridade e a exatidão de suas pesquisas" (VIOLLET-LE-DUC, 2000, p. 69-71).
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Filho de uma família burguesa, nascido em Londres, com onze anos estudou
latim, grego, francês e geometria, desenvolvendo o estudo de diversas áreas. A sua
forma independente de pensar, talvez possa ser justificada pela sua infância, que foi
um tanto quanto solitária, o que fez com que tivesse que se entreter sozinho passando
a observar as coisas que o cercava, desde a estampa de um tapete até os tijolos das
casas vizinhas.
O teórico teve sua formação acadêmica na Universidade de Oxford, porém não
teve um grande destaque em sua trajetória universitária, que depois de encerrada em
1842, deu lugar ao trabalho como artista e crítico de arte, que acabou resultando no
livro Modern Painters (RUSKIN, 1887).
Uma das mais importantes obras é a The Seven Lamps of Architecture, onde
coloca a arquitetura do homem como obra sagrada, impassível de sofrer qualquer tipo
de mudança. Crítica o desconhecimento de restauro, que, para ele, significa a pior das
destruições, sem deixar nem um resto autêntico. Aquilo que foi construído não pode
nunca ser reconstruído, indo contra as teorias de Viollet-le-Duc. No capítulo 6 de sua
obra, a conservação e o restauro são apontados como:
É como centralizadora e protetora desta influência sagrada, que a Arquitetura
deve ser considerada por nós com a maior seriedade. Nós pode-se viver sem ela, e
orar sem ela, mas não pode-se rememorar sem ela. Como é fria toda a história, como
é sem vida toda fantasia, comparado àquilo que a nação vivia e escrevia, é o que o
mármore incorruptível ostenta! - quantas páginas de registros duvidosos não podería
dispensar em troca de algumas pedras empilhadas umas sobre as outras. A ambição
dos Consultores da velha Babel volta-se diretamente para esse mundo apenas dois
fortes vencedores do esquecimento dos homens, Poesia e Arquitetura e a última de
alguma forma inclui a primeira, e é mais poderosa na sua realidade: é bom ter ao
alcance não apenas o que os homens pensaram e sentiram, mas o que suas mãos
manusearam, sua força forjou e seus olhos o contemplarão durante todos os dias de
sua vida. (RUSKIN, 1887, com adaptações).
Ruskin recomenda: “Tomai, atentamente, cuidado com os vossos monumentos,
e não tereis a necessidade de restaurá-los” (RUSKIN, 1887). Sugere atenção e
cuidado, deixando a edificação morrer quando seu dia chegar.
Assim, John Ruskin se mostrou um grande crítico dos processos restaurativos,
defendendo que os processos conservativos são suficientes para manter a integridade
da obra. Apesar disso, Ruskin não discorda que uma obra se deteriorará, mas disserta
que como uma vida, uma obra possui nascimento e morte, ou início e fim, o fim de
uma obra seria sua deterioração e após isso não deveria ser restaurada. Pode-se
explicar que Ruskin desenvolveu essa teoria opositora pois tomou Viollet-le-Duc como
exemplo que tinha um método restaurativo atípico.
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Como retratado em sua obra Teoria del restauro e unità di metodologia (Vol. 2),
a restauração deve passar por processos de aprofundamento e estudo por meio do
restaurador responsável, dita regras para uma unidade metodológica.
Ainda, para Maldini, a análise de cada tipo de restauro vai de acordo com a
tipologia do estado da obra, de acordo com a perda verificada. O mesmo divide os
tipos de lacuna em uma obra que deve ser restaurada em basicamente dois tipos:
I. Lacunas por perda: Para Umberto Maldini, as lacunas de perda são as partes
da obra que possuem registros históricos, mas que não estão mais presentes,
seja pela deterioração do tempo, ou por influências humanas. Neste caso,
Maldini defende que deve ser feito o restauro, conforme cada detalhe do registro
histórico, com os mesmos materiais, técnicas e métodos, mantendo a
originalidade da obra e seu significado histórico.
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II. Lacunas por Falta: Umberto Maldini classifica como lacunas de falta, partes
da obra que da mesma forma das lacunas por perda, foram perdidas durante o tempo,
todavia que não possuem registro histórico, ou seja, não é possível classificar ou
reconhecer o que existia lá antes da deterioração. Nesse caso, não deve ser realizado
o restauro na obra, uma vez que seria necessário supor o que existia lá, para Maldini
a subjetividade e criatividade são funções do autor inicial, não do restaurador.
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Sabe-se que a obra de arte é protegida desde o ato de sua criação, não se
exigindo do autor o cumprimento de maiores formalidades. O autor (criador) dará o
destino que livremente escolher para sua obra, competindo-lhe, exclusivamente,
decidir sobre possíveis utilizações, publicação ou reprodução. Mas, quanto a essa
“exclusividade”, José de Oliveira Ascensão esclarece que ela é transitória, pois,
decorrido o lapso temporal para a compensação do autor, sobrevém a liberdade de
usufruir dos bens culturais.
O Direito autoral propriamente dito, consiste no direito de quem exerce qualquer
atividade criativa, de pesquisa ou artística de controlar o uso de sua obra. Essa
conceituação consta do art. 7, da Lei 9.610/98, que consolida a legislação sobre
direitos autorais no Brasil. São também protegidas pelo direito autoral as chamadas
obras derivadas, como, por exemplo, as traduções de livros e as adaptações de livros
para o cinema. Nestes casos, obviamente, o autor da obra derivada deverá obter
autorização do autor da obra original para realizar a adaptação.
Já o direito patrimonial é, em suma, aquele que garante ao autor extrair
benefício financeiro com a exploração de sua obra. Expressa-se, em grande medida,
pelo direito de reprodução que se verifica, por exemplo, quando um músico firma um
contrato com uma gravadora, ou quando um escritor assina um contrato com uma
editora. A gravadora e a editora irão reproduzir aquele conteúdo de forma a monetizá-
lo, gerando receita tanto para os autores quanto para si mesmos.
"O direito autoral é um dos ramos da ciência jurídica, que, desde seus
primórdios, até a atualidade, sempre foi e é controvertida, pois lida basicamente com
a imaterialidade característica da propriedade intelectual" (Galdeman , 220, p.24). Veja
que a Grécia berço da cultura ocidental não conheceu os direitos autorais, repudiava-
se o plágio, porém, é muito interessante a possibilidade de se vender a autoria de
obras.
A primeira vez que se teve conhecimento do termo "copyright" foi em 1701, na
Inglaterra, também com os Ingleses em 1710 tem-se o primeiro texto legal sobre
direito autoral.
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A restauração da forma como deve ser feita para não prejudicar o significado histórico
da obra e sua memória, é um projeto caro. Entretanto o valor estético na indústria
cultural ultrapassa o valor histórico e ao economizar, podem ser feitas escolhas como
contratar profissionais desqualificados por baixos custos, diminuir o tempo hábil para
o restaurador realizar o processo ou ainda, não disponibilizar o capital necessário para
restaurar com os mesmos materiais da obra original e com as tecnologias adequadas,
assim criando um resultado diferente da obra original corrompendo seu significado
histórico sem comprometer seu valor estético.
Como no caso dos afrescos da capela sistina, feitos originalmente por
Michelangelo, ao serem restaurados, observam-se negligências profissionais dos
restauradores:
Essa restauração foi duramente criticada por teóricos artísticos, uma vez que
originalmente Michelangelo usou tons de cores escuros com a intenção de criar uma
sensação de profundidade e expressividade, ao ser restaurada não foram usados os
mesmos materiais, desse modo os tons fortes criados na restauração desviam
intensamente do original. Além disso, na imagem é possível perceber que o joelho do
profeta Daniel se destacava com muito mais clareza antes da restauração. Tais
mudanças apesar de não estragarem a beleza estética da obra, corrompem seu
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significado e sua interpretação histórica, uma vez que o Autor inicial criou cada detalhe
da obra com uma intenção específica.
2.Lucrativos
" o que? para quem? e para que você fará isso? qual a necessidade de fato de interferir
no objeto artístico?” (Salvador Vinãs)
Diante dos trabalhos restaurativos contemporâneos, Salvador Vinãs, um dos
maiores teóricos contemporâneos a respeito de restauração, formula essas três
perguntas críticas em sua obra. Ampliando seu pensamento, a restauradora e
memorialista Cecília Camargo afirma que atualmente são feitos muitos restauros
desnecessários.
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1. Fator Econômico
O restauro da maneira como deve ser feito, preservando a história e a essência
artística é caro, exigindo uma verba muito alta do governo. Muitas vezes em cidades
como o município de Mauá, o governo é negligente até em áreas essenciais como a
saúde, assim não restando verba suficiente para preservação da história do Brasil e,
desta forma indo em desacordo com a legislação brasileira já citada.
2. Fator político social
Tem-se que com a eclosão do mundo globalizado, aumento de fluxo de
informações e modernização das tecnologias de comunicação, o sistema capitalista
que se disseminou pelo mundo, trazendo consigo a ideia da individualização do lucro
e do pensamento neoliberal, exige a abertura das fronteiras de todos os países do
globo, conduzindo com isso várias formas de dominação das potências desenvolvidas
sobre países do terceiro mundo. Assim, é gerada uma perda significativa da força do
Estado-Nação periféricos, as fronteiras desaparecem e, aos poucos um país perde
sua
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identidade, e assim, também diminui a relação de pertencimento da população à
nação.
Com esse fenômeno, cria-se desinteresse de uma população pela história e
cultura do próprio país, desse modo, como o cenário político do país é reflexo da
população, o devido valor à um restauro ético, cujo custo é muito alto, foge dos
interesses políticos que tem como principal objetivo angariar votos.
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4 CONCLUSÃO
história continua a ser corrompida por restauros artísticos que costumam recriar uma
obra baseada nos padrões estéticos atuais que criam uma interpretação errônea ou
até impedem a interpretação total da história através das expressões artísticas.
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REFERÊNCIAS
RUSKIN, John. The Works of John Ruskin ...: Modern painters [including]
General index, Bibliography, and notes [v.32] 1888, v. 1. 1887. Disponível em:
http://play.google.com/books/reader?id=-
YBPAAAAYAAJ&hl=&printsec=frontcover&source=gbs_api. Acesso em: 16
abr. 2021.
TOLSTÓI, Liev. O que é Arte. Tradução Nova fronteira. Polyana, Russia: Nova
fronteira, v. 10, 1897. Tradução de: что такое искусство?.