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Curso 6

Técnicas de Gastronomia Molecular

Elaine Kikuti
O rganizadora
Ministrantes

Elaine Kikuti Maria Paulina Estorninho Daniel Pasquini


Bacharel e licenciada em Química, mestre Neves da Mata Licenciado em Química pela Universidade
e doutora em Ciências (Físico-Química) Engenheira Química licenciada pelo Federal de Uberlândia, mestre e doutor
pela Universidade Federal de São Carlos. Instituto Superior Técnico e doutora em Ciências (Físico-Química) pela
Pós-doutorado pela Universidade de São em Química Orgânica pela Faculdade de Universidade de São Paulo. Pós-doutorado
Paulo. Professora associada do Instituto Ciências e Tecnologia da Universidade Nova na École Française de Papeterie et des
de Química da Universidade Federal de de Lisboa (FCT-UNL). Professora auxiliar Industries Graphiques de Grenoble, França.
Uberlândia. Coordenadora do projeto “A do Departamento de Química da Faculdade Professor Associado e coordenador do
Gastronomia Molecular para divulgação de Ciências e Tecnologia da Universidade Curso de Química Industrial no Instituto
científica interdisciplinar: Curso 6 - Nova de Lisboa e coordenadora do de Química da Universidade Federal
Técnicas de Gastronomia Molecular” Mestrado em Ciências Gastronômicas, uma de Uberlândia. Professor credenciado
aprovado no Programa Institucional de parceria da FCT-UNL e ISA-UL (Instituto nos Programa de Pós-graduação em
Apoio a Ações e Eventos de Extensão Superior de Agronomia da Universidade de Biocombustíveis e no Programa de Pós-
PIAEV – Edição Remota – 2021. Lisboa). Responsável pelo Laboratório de graduação em Química da UFU.
elaine.kikuti@ufu.br Investigação de “Gastronomia Molecular”, danielpasquini2013@gmail.com
focado na investigação em ciências
alimentares e aplicações tecnológicas da daniel.pasquini@ufu.br
gastronomia molecular. Autor ou co-autor
de 5 livros, 3 capítulos de livros, 29 artigos
em revistas SCI, 19 artigos em anais de
conferências (revistos por pares) e cerca de
170 comunicações orais.
mpm@fct.unl.pt

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Gastronomia
Molecular
Ministrantes

Júlia Maria de Souza Arnaldo da Conceição Toro Carla Keiko Mochizuki Ishizaka
Bacharel em Gastronomia com 17 anos de Bacharel em Gastronomia com mais de 18 Gastróloga, técnica em Nutrição e Dietética
experiência. Atua na organização de eventos anos de experiência. Atua na organização e pós-graduada em atendimento educacional
gastronômicos e ministra cursos desde 2008 de eventos gastronômicos e ministra cursos especializado. Coordenadora e docente no
Professora da Faculdade de Tecnologia desde 2009. Professor da Faculdade de Centro Paula Souza (Etec). Membro do
Senac de Florianópolis entre os anos de Tecnologia Senac de Florianópolis entre os grupo de pesquisa e desenvolvimento da
2014 e 2020. Chef e consultora na área de anos de 2012 e 2019, Chef e consultor na APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos
alimentos e bebidas. área de alimentos e bebidas. Agronegócios) e consultora gastronômica
da ANPC (Associação Nacional dos
pontualgastronomia@gmail.com pontualgastronomia@gmail.com
Produtores de Cogumelos). Coordenadora
@chefjuliasouza @arnaldotoro gastronômica do evento Semana Mesa São
Paulo pela revista Prazeres da Mesa desde
2017. Bartender pela ABB (Associação
Brasileira de Bartenders). Consultora em
gastronomia e coquetelaria.
carla.ishizaka01@etec.sp.gov.br
@carla.keiko

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Gastronomia
Molecular
Programação

Abertura horário especial Carga horária total do curso Certificação

7 de dezembro das 15h às 18h. 15 horas. Todo inscrito que participar de


Link: pelo menos três dias de atividades
https://youtu.be/k5hdfMeQgY4 Avaliação e preencher o formulário de
Avaliação de desempenho e execução presença, terá direito a certificado de
Horário participação com carga horária total.
a partir da dinâmica “Que bom, que
8 a 10 de dezembro das 19h às 22h. pena e que tal?!”.

Local

Canal do YouTube
Gastronomia Molecular:
https://www.youtube.com/channel/
UCJMVSwnAdOagP60hmuOsMGw
O link será enviado por e-mail aos
inscritos.

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Molecular
Cronograma

Dia Atividade

• Abertura? 15h
7 dez • Palestra de abertura com Paulina Mata
Terça • Título: Gastronomia Molecular — a importância da ciência na lista de
ingredientes da cozinha do Sec XXI

• Introdução aos coloides. Daniel Pasquini

• O que são coloides?


8 dez
• Classificação dos coloides
Quarta
• Sistemas coloidais importantes para o curso de técnicas de gastronomia
molecular: espumas, emulsões e géis

• Técnicas Básicas da Cozinha Modernista. Arnaldo Toro e Júlia Souza

9 dez • Gastronomia Molecular x Cozinha Modernista

Quinta • Algumas técnicas bastante utilizadas na cozinha modernista

• Cardápio completo de receitas com técnicas de gastronomia molecular

10 dez • Encerramento

Sexta • Práticas de Gastronomia Molecular. Carla Keiko Mochizuki Ishizaka

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Técnicas de
Gastronomia
Molecular
Gastronomia Molecular:
a importância da ciência na lista de
ingredientes da cozinha do século XXI  Paulina Mata

Resumo: Palestra de abertura A evolução da gastronomia foi, O objetivo desta sessão é transmitir
em muitos casos, viabilizada pela informação e conhecimentos sobre
Nas últimas duas décadas ocorreu
colaboração entre cientistas e todo o processo acima referido.
uma mudança profunda na relação
profissionais de cozinha. Esta
dos consumidores com os alimentos
traduziu-se em investigação conjunta
e nos processos de produção
e transferência de conhecimento.
alimentar em pequena escala.
Surgiu um novo ramo das Ciências de
Surgiram movimentos culinários
Alimentos, a Gastronomia Molecular,
inovadores, que são caracterizados
que estuda a culinária a nível
pelo seu carácter concetual e por
doméstico ou da restauração. Esta
novas aproximações à gastronomia,
tem permitido racionalizar processos
propostas e abordagens técnicas.
(técnicas tradicionais, clássicas e
inovadoras), gerar conhecimento
e, consequentemente, otimizar a
prática culinária e desenvolver novas
técnicas.

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Molecular
Introdução aos coloides  Daniel Pasquini

O que são coloides ? Sistema Homogêneo x mais de uma fase, ou seja, não possui
Heterogêneo um aspecto uniforme, é descontínuo.
Primeiramente, serão definidos os
conceitos de sistemas homogêneo e O Sistema homogêneo é aquele
Estes sistemas heterogêneos podem
heterogêneo. que apresenta uma única fase
ser formados por uma única substância
(monofásico), ou seja, tem um
ou por diferentes substâncias. No caso
aspecto uniforme, contínuo.
de uma única substância a diferença
está no estado físico das fases: por
Apesar de possuir uma única
exemplo água + gelo, que possui uma
fase, estes sistemas podem ser
fase líquida e outra sólida. No caso de
constituídos por substâncias puras
substâncias diferentes, elas podem estar
como a água ou por uma mistura
em mesmo estado físico ou não: por
como água e álcool (etanol). Se
exemplo água + óleo, que ambas estão
olharmos para ambas veremos que
em estado líquido; ou água + areia,
apresentam uma única fase, pois o
onde uma está no estado líquido e a
tamanho das partículas é menor que
outra no estado sólido. Nestes sistemas
1X10-9m ou 1 nm (nanômetro).
o tamanho das partículas é maior que
1X10-6m ou 1 mm e podemos visualizar
Por outro lado, o Sistema
a fase descontínua a olho nú.
heterogêneo é aquele que apresenta
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Gastronomia 7
Molecular
Figura 1: Sistemas heterogêneos: água e óleo, água e gelo, água e areia. Coloides são misturas heterogêneas
de pelo menos duas fases diferentes,
com a matéria de uma das fases na
forma finamente dividida (sólido,
líquido ou gás), denominada fase
dispersa, misturada com a fase
Fonte: https://www.preparaenem.com/quimica/sistemas-homogeneos-heterogeneos.htm
contínua (sólido, líquido ou gás),
denominada meio de dispersão.
Figura 2: Escalas de tamanho comparativo

A ciência dos coloides está


relacionada com o estudo dos
sistemas nos quais pelo menos
um dos componentes da mistura
apresenta uma dimensão no
intervalo de 1 a 1000 nanômetros
e não podemos visualizar a fase
descontínua a olho nú como mostra
a figura 1 somente na escala macro
conseguimos visualizar as fases
descontínuas.

Os coloides são sistemas que podem


parecer solução homogênea, mas
Fonte: http://colunano.blogspot.com/2011/03/tamanho-e-documento.html
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Gastronomia 8
Molecular
são heterogêneos com partículas A Classificação dos Coloides As Espumas consistem em
dispersas com dimensões de 1nm até partículas de tamanho coloidal
Estes sistemas coloidais são muito
1000 nm que podem ser vistas com de um gás disperso em sólido ou
interessantes e estão presentes no nosso
auxílio de microscópios e podem ser líquido, espumas sólidas ou líquidas,
dia a dia e de acordo com a fase dispersa
separadas quando desestabilizadas. respectivamente e as Emulsões, são
e de dispersão, podemos classificar os
coloides formados por partículas
coloides como mostra a Tabela 1.
As soluções de macromoléculas de tamanho coloidal de um líquido
são misturas que parecem ser O Aerosol, consiste em partículas disperso em outro líquido ou sólido.
homogêneas e são consideradas de tamanho coloidal de um sólido
colóides porque a dimensão das O gel que é aparentemente sólido,
ou de um líquido disperso em um
macromoléculas está no intervalo de material gelatinoso formado de
gás e o Sol, são coloides formados
de tamanho coloidal e, como uma dispersão coloidal, em que a fase
pela dispersão de partículas de
tal, apresentam as propriedades dispersa apresenta-se no estado líquido
tamanho coloidal de um sólido em
características dos colóides e podem e fase de dispersão no estado sólido.
um líquido.
ser classificadas como gel ou sol.

Tabela1. Exemplos de sistemas coloidais.


Colóide Fase dispersa Fase da dispersão Exemplo
Aerossol líquido Líquido Gás Neblina, desodorante
Aerossol sólido Sólido Gás Fumaça, poeira
Espuma Gás Líquido Espuma de sabão e
de combate a incêndio
Espuma sólida Gás Sólido Isopor®, poliuretana
Emulsão Líquido Líquido Leite, maionese, manteiga
Emulsão sólida Líquido Sólido Margarina, opala, pérola
Sol Sólido Líquido Tinta, pasta de dente
Sol sólido Sólido Sólido Vidro e plástico pigmentado
Fonte: Adaptado de Shaw, 1975.
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Molecular
Sistemas coloidais importantes Figura 3: Estrutura dos compostos surfactantes Figura 4: Estrutura dos compostos surfactantes
ou tensoativos identificando a parte polar a apolar. não iônicos, aniônicos, catiônicos e anfóteros.
para o curso de técnicas de

gastronomia molecular :

espumas , emulsões e géis

Tanto as espumas como as emulsões


são sistemas coloidais importantes
na gastronomia molecular. Para Fonte: o autor.
Fonte: o autor.

que estas misturas sejam formadas


é necessário que haja atividade A atividade superficial é a forte
Os compostos tensoativos ou
superficial, ou seja a interação entre adsorção de surfactantes ou
surfactantes são classificados em
as duas fases com características tensoativos na superfície de líquidos
não iônicos, aniônicos, catiônicos e
distintas confere estabilidade as ou na interface de separação de dois
anfóteros como mostra a figura 3.
espumas e emulsões. líquidos, formando uma camada
O que difere os compostos é a parte monomolecular orientada, como
Os responsáveis por esta interação mostrado na Figura 4.
polar (ou hidrofílica) das estruturas,
são os surfactantes ou tensoativos,
onde podem não ter cargas (não
compostos que possuem uma Na figura 4, ambas imagens formam
iônicos), ter cargas positivas
parte hidrofóbica(apolar) e outra uma camada monomolecular
(catiônicos), negativas (aniônicos) ou
hidrofílica (polar), e, portanto, orientada de tensoativos, sendo
ambas (anfóteros). Independente do
possuem afinidade com ambas as que na imagem da esquerda esta
tipo de surfactante, este irá interagir
fases possibilitando a interação e camada está na interface líquido
tanto com a fase polar como com a
estabilizando estes sistemas. ar e na imagem da direita está
apolar e desta forma terá atividade
superficial. na interface entre dois líquidos
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Gastronomia 10
Molecular
Figura 5: Esquema da formação de monocamada orientada de tensoativos. imiscíceis. Todos os dois casos temos
o tensoativo separando duas fases
distintas compostas por diferentes
substâncias.

Em alguns sistemas com tensoativos


pode haver a formação de micelas.

Micelas são agregados organizados


das substâncias tensoativas,
geralmente na forma esférica e de
Fonte: Shaw, 1975.
dimensões coloidais.

Figura 6: Ilustração de Micela com dimensão coloidal


As emulsões que são sistemas
dispersos no qual as fases são
líquidos imiscíveis ou parcialmente
miscíveis, sendo que o a fase dispersa
possui dimensões coloidais e podem
ser classificadas como:

• Emulsão de óleo em água (O/A):


fase dispersa óleo, dispersante água;

• Emulsão de água em óleo (A/O):


Fonte: Shaw, 1975.
fase dispersa água, dispersante óleo.
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Molecular
Figura 7: Organização dos surfactante nos dois tipos de emulsão, As Espumas líquidas são dispersões
(O/A) figura da esquerda, e (A/O) figura da direita.
grosseira de gás em um líquido e
podem ser classificadas em:

• Espumas diluídas: bolhas


aproximadamente esféricas separadas
por filmes (película) relativamente
espessos de um líquido relativamente
Fonte: Shaw, 1975. viscoso;

• Espumas concentradas: celas gasosas


Figura 8: Espuma diluídas (figura da esquerda) e concentrada (figura da direita). Organização dos
surfactante na formação de bolha nos dois tipos de espuma líquida (figura abaixo). separadas por finas películas de
líquido.

Os Géis são definidos como sistemas


semissólidos que consistem em
dispersões feitas de partículas
de tamanho coloidal inorgânicas
ou grandes moléculas orgânicas
interpenetradas por um líquido. Um
alto grau de reticulação física ou
química pode estar envolvido.

Alguns géis são considerados


hidrocolóides e este conceito é muito
Fonte: o autor. utililzado na gastronomia molecular.
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Gastronomia 12
Molecular
A Figura 9 mostra um esquema O que é um hidrocoloide ?
ilustrativo da representação da
Um hidrocoloide é definido como
formação da rede do gel para sistemas
um sistema coloidal em que as
de partículas inorgânicas (a) e
partículas coloidais estão dispersas
poliméricos (b):
em água. Um hidrocoloide tem
partículas coloidais espalhadas
Figura 9. Formação de rede do gel. por toda a água e dependendo da
quantidade de água disponível, pode
ocorrer em diferentes estados, por
exemplo, gel ou sol (líquido).

Fonte: http://static.sites.sbq.org.br/quimicanova.sbq.org.br/pdf/Vol18No2_171_v18_n2_08.pdf

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Molecular
Gastronomia Molecular/
Cozinha Modernista  Arnaldo Toro e Júlia Souza

Introdução em múltiplas sensações que de um alimento. (ARAÚJO;


conjugam a gastronomia à arte. O MONTEBELLO; BOTELHO;
A ritualização dos hábitos à mesa
saber científico não é suficiente para BORGO, 2015)
faz com que a refeição seja não
descrever as inúmeras sensações
apenas um momento de satisfação
percebidas. A compreensão da arte A percepção de um alimento envolve
das necessidades fisiológicas, mas,
como uma manifestação histórica a participação dos cinco sentidos –
sim, um espaço de interação e
e cultural com valores estéticos, visão, olfato, paladar, tato e audição,
diferenciação em que os comensais
representada em uma obra realizada que conjuntamente são capazes de
trocam experiências, expõem seus
pelo artista como expressão que definir sua qualidade sensorial. Na
gostos particulares, discorrem sobre
comunica sentimentos e emoções, oferta de preparações alimentícias a
as propriedades dos alimentos
permite a inclusão da gastronomia indivíduos ou a grupos, é importante
servidos e apreciam sabores, cores
nessa concepção. A correlação entre atender às expectativas relacionadas
e texturas dos pratos que fazem
gastronomia e arte, nesse sentido, a todos os sentidos. As informações
parte do menu, entre outros temas
não pode ser exclusiva. A presença captadas pelo indivíduo somam-
recorrentes do hábito de se alimentar.
da ciência em suas diversas faces é se, e, por isso, individualizar cada
(ABRANTES; MATA, 2019)
evidente, traduzida nas inúmeras característica no planejamento de
Tratando-se da alimentação, o reações que ocorrem em todo o receitas é de extrema importância
empirismo inerente ao ato resulta processo de produção e consumo para que o resultado seja bem aceito.
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Técnicas de
Gastronomia 14
Molecular
(ARAÚJO; MONTEBELLO; Atualmente vemos na cozinha dois Neste trabalho, discorreremos
BOTELHO; BORGO, 2015) tipos de abordagem: a tradicional sobre a cozinha que desafia os
e a autoral. A primeira consiste sentidos. Sobre a harmonização
A introdução de novos ingredientes, basicamente na repetição de das etapas da refeição não somente
técnicas, equipamentos e receitas desenvolvidas ao longo de baseada em nutrientes, mas, em
utensílios da cozinha modernista séculos, com traços que permeiam elementos presentes na construção
possibilitou que cozinheiros, as memórias e a afetividade. O dos pratos que gerem surpresa e que
insurgissem a estrutura dos cliente vai à procura de um prato provoquem os recursos sensoriais
cardápios, modificassem as texturas que satisfaça expectativas bem dos que estão sentados à mesa.
dos alimentos, criassem pratos definidas. A cozinha autoral, por
inusitados e tornassem a refeição outro lado, baseia-se na inovação,
uma experiência divertida, na qual criatividade e sensibilidade do
o comensal é induzido a exercitar chef, que busca surpreender o
todos os sentidos. Não basta comensal, proporcionando uma
comer, é preciso saber de onde experiência inesquecível. Ambas
vêm os alimentos, como eles foram têm sua importância no cotidiano
produzidos e transformados e o das pessoas, e, de maneira alguma,
porquê de serem apresentados concorrem entre si.
daquela maneira.

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Técnicas de
Gastronomia 15
Molecular
De que maneira ? Para dar emoção ao cliente, o
cozinheiro deve apostar nas
Vamos pensar nisso de forma prática?
percepções organolépticas, ao
justapor na mesma bocada, volumes,
Na cozinha, o espessamento de
cores, odores, sabores e texturas.
caldos, sucos e molhos sempre foi
A cozinha, então, é físico-química.
importante, pois possibilita uma
Esse é um fato que cabe formular e
melhor aderência aos alimentos e
assumir, não é preciso se envergonhar
melhor cobertura e persistência na
dele. Sejam quais forem os campos,
boca, intensificando a transmissão de
as aplicações da pesquisa científica
sabores. Os processos tradicionais
melhoram nossa vida diária. O
para fazê-lo envolvem a adição de
mundo evolui com os novos
amido ou gordura. Mas, no decorrer
conhecimentos. A cozinha não foge
das próximas páginas, veremos que é
à regra, e sua evolução só poderá
possível usar outras substâncias com
ocorrer se também lhe transferirmos
vantagem em algumas situações.
novos dados. Para tanto, é preciso
primeiro identificar os conceitos
científicos de que necessitamos para
descrevê-la, pois cozinhar consiste
em transformar os alimentos.
(HAUMONT, 2016)

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Técnicas de
Gastronomia 16
Molecular
Gastronomia molecular/ ao título provisório de “ciência • modelar e examinar minuciosamente
cozinha modernista e gastronomia”, para soar mais as receitas existentes;
acadêmico. A palavra molecular • introduzir novas ferramentas,
A utilização do termo gastronomia
inspira-se na biologia molecular. produtos e métodos para o preparo
molecular teve sua origem em uma
(MCGEE, 2008 apud ABRANTES; de alimentos;
série de encontros para cientistas
MATA, 2019, p. 31) • inventar novos pratos usando o
e profissionais da alimentação,
chamados Internacional Workshop on conhecimento oriundo dos três
Em 1998, com a morte de Kurti, objetivos já citados;
Molecular and Physical Gastronomy.
Hervé This encurtou o nome dos
Tais encontros tiveram lugar em • usar o apelo da comida sobre as
seminários para “gastronomia
Erice, na Sicília, e a princípio pessoas para promover a ciência em
molecular” e se tornou o grande novas esferas.
foram sugeridos e organizados por
porta-voz desse movimento.
Elizabeth Thomas, na companhia A culinária molecular não existe,
(ABRANTES; MATA, 2019)
de Nicholas Kurti. O foco estava vamos falar claramente! A vitela
na cozinha tradicional, nas reações ensopada da vovó é tão “molecular”
Segundo This (2006 apud
químicas e físicas por trás das quanto a última espuma da moda,
ABRANTES; MATA, 2019, p.
preparações e em como esse assim como um suco de cenoura
32), os principais objetivos da
conhecimento poderia contribuir orgânica é tão “químico” quanto
gastronomia molecular eram:
para a evolução da ciência dos balas fluorescentes! São inúmeras as
alimentos. (MCGEE, 2008 apud pessoas que confundem os termos
• coletar e investigar as “crenças
ABRANTES; MATA, 2019, p. 31) “químico”, “natural”, “sintético”,
culinárias” presentes nas técnicas e
elaborações da cozinha; “artificial”, “tóxico” etc.; e são
O nome “gastronomia física e inúmeros os cozinheiros que querem
molecular” veio em substituição contrapor as palavras “tradicional” e
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Técnicas de
Gastronomia 17
Molecular
“molecular”. Cabe a nós mostrar e prepara e associa produtos, deseja Para fazer referência aos movimentos
explicar isso, no sentido de justificar controlar, reproduzir com exatidão, de vanguarda gastronômica da
e oferecer as definições corretas. se antecipar, e com isso chegar mais atualidade, alguns, assim como
(HAUMONT, 2016) longe, pois pode prever e criar coisas nós, optam por utilizar a expressão
novas. É exatamente isso que busca “cozinha modernista”, na falta de
Todos os fenômenos têm uma um grande cozinheiro: ter domínio uma melhor ou mais apropriada.
explicação científica e racional, sobre sabor, textura e todas as
portanto, no fim das contas, tudo propriedades organolépticas de seus De acordo com Myhrvold (2011
gira em torno de macromoléculas, pratos. (HAUMONT, 2016) apud ABRANTES; MATA, 2019,
moléculas, átomos, elétrons, p. 38) esses novos movimentos
nêutrons ou mesmo quarks. Para que A técnica a serviço das emoções, culinários podem ser caracterizados
serve, então, o adjetivo “molecular” talvez seja um esboço do significado por dez princípios fundamentais:
depois de “cozinha” ou “culinária”? da culinária molecular, e partir dessa
1. Culinária é uma arte criativa na
(HAUMONT, 2016) ideia, surgiram outras denominações, qual o chef e o cliente dialogam.
como “cozinha tecnoconceitual” O alimento é o principal meio de
Outra definição da cozinha molecular para definir o trabalho investigativo diálogo. Contudo, todos os aspectos
poderia indicar uma culinária dos irmãos Adrià e “cozinha sensoriais da experiência da refeição
reflexiva, racional, que, diante de tecnoemocional” difundida pelo chef contribuem para que esse diálogo
uma aplicação concreta, quer saber Adoni Luiz Aduriz, influenciado pelo aconteça.

por que e como “aquilo funciona”. A estilo do chef francês Michel Bras, 2. Regras, convenções e tradições
pessoa que compreende, ou ao menos conhecido como naturalismo e que culinárias devem ser respeitadas,
tenta compreender, o que faz, quais permeia a cozinha dos dias atuais. mas não devem ser entraves para o
fenômenos se produzem quando ela desenvolvimento de novos pratos
criativos.
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Técnicas de
Gastronomia 18
Molecular
3. Quebrar regras e tradições culinárias 6. Criatividade, novidade e invenção 9. Ingredientes originários da ciência
de modo criativo é um modo são intrínsecas ao papel do chef. e da tecnologia dos alimentos, tais
poderoso de envolver os clientes e Quando alguém adota técnicas e como hidrocoloides, enzimas ou
fazê-los pensar sobre a experiência ideias de outros cozinheiros, inspira- emulsionantes, são ferramentas
da refeição. se em outros chefs ou outras fontes, poderosas para ajudar a produzir
isso deve ser reconhecido. pratos impossíveis de serem feitos de
4. Os clientes têm expectativas –
outra maneira.
algumas explícitas, outras implícitas 7. A ciência e a tecnologia são fontes
– sobre que tipo de comida é possível que podem ser aproveitadas para 10. Clientes e chefs devem ser sensíveis
criar. Surpreendê-los com alimentos possibilitar novas invenções às condições nas quais os alimentos
que desafiam suas expectativas culinárias, mas elas são um meio para são colhidos e cultivados. Sempre
é outra maneira de envolvê-los atingir um fim, não o objetivo final. que possível, deve-se apoiar métodos
intelectualmente. Isso inclui o uso mais conscientes para o abate de
8. Ingredientes de qualidade são a base
de sabores conhecidos em formatos animais e a colheita sustentável de
sobre a qual a cozinha é construída.
diferentes ou o contrário. alimentos silvestres, como peixes.
Ingredientes caros, como caviar ou
5. Além da surpresa, muitos outros trufas, são parte desse repertório,
sentimentos, pensamentos, emoções mas não têm maior valor intrínseco
e reações podem ser provocados do que outros ingredientes de alta
pela culinária. Isso inclui o humor, a qualidade.
extravagância, a sátira e a nostalgia,
entre outros. O repertório do chef
modernista não abrange apenas sabor
e textura, mas uma gama de reações
emocionais e intelectuais que o
alimento pode inspirar no cliente.

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Técnicas de
Gastronomia 19
Molecular
Principais personalidades Inúmeros chefs também foram
relacionadas à gastronomia influenciados pelos avanços trazidos
molecular (ou cozinha pela gastronomia molecular, dos
modernista ) quais podemos destacar: Ferran
Adrià, Albert Adrià, Juan Mari
O trabalho entre a ciência e a
Arzak, Martín Berasategui, Pedro
cozinha logo influenciou diversos
Subijana, Carmen Ruscalleda, Joan
autores, alguns dos quais, inclusive,
Roca, Andoni Luis Aduriz, Quique
participaram de maneira ativa dos
Dacosta, Dani Garcia, Heston
seminários e publicaram livros sobre
Blumenthal, René Redzepi, Pierre
o tema, tais como Peter Barham,
Gagnaire, Marc Veyrat, Thierry Marx,
Robert L. Wolke, Ferran Adrià e
Massimo Bottura, Carlo Cracco,
Nathan Myhrvold. Isso sem incluir as
Thomas Keller, Grant Achatz,
várias obras do próprio Hervé This.
Wylie Dufresne e David Chang.
(ABRANTES; MATA, 2019)
(ABRANTES; MATA, 2019)

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Técnicas de
Gastronomia 20
Molecular
Algumas técnicas bastante solidificando o alginato e formando ser ajustada com goma xantana. Uma
utilizadas na cozinha uma película demasiado espessa, alternativa que dispensa o uso de
modernista o que faz com que o líquido se goma xantana, é congelar o líquido
perca no interior. Sirva de imediato. que se pretende esferificar, caso seja
Esferificação (ABRANTES; MATA, 2019) possível. Para efetuar a esferificação
................................................
despeja-se a solução de alginato no
Esferificação simples, básica ou Esferificação reversa, inversa ou banho de cálcio com uma colher
direta indireta e aguarda-se o tempo necessário
para obter uma película com as
Dissolva o alginato no líquido que Nesta técnica adiciona-se sal de características desejadas. Em seguida,
pretende esferificar. Para fazer cálcio ao líquido que se pretende as esferas devem ser retiradas da
esferas pequenas (tipo caviar), deixe esferificar. Em alguns casos o líquido solução com uma colher perfurada
cair aos poucos, gotas da solução já tem cálcio suficiente (iogurtes, e passadas por água. Caso se tenha
de alginato em uma solução do queijo...) e não é necessário adicionar. usado a técnica de congelamento,
cálcio com a ajuda de uma pipeta, O líquido com cálcio é então as porções congeladas devem ser
seringa ou conta-gotas. Para obter despejado em um banho de alginato. despejadas no banho sem se tocarem
esferas maiores, despeje a solução O cálcio difunde-se para o exterior, entre si e aguardar cerca de 10 a 15
de alginato no banho de cálcio com gelificando o alginato e criando uma minutos. Antes de servir, o ideal
uma colher. Retire as esferas com película de gel em torno do líquido. é aguardar o descongelamento
uma colher perfurada ou um coador Como as soluções de alginato têm completo. (ABRANTES; MATA,
e passe por água. É importante lavar uma certa viscosidade, o líquido com 2019)
bem as esferas de modo a remover cálcio deve ter viscosidade idêntica
a solução de cálcio. Caso contrário, ou maior, senão flutua. Caso seja
o cálcio continuará a difundir-se, baixa a viscosidade do líquido deve
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Técnicas de
Gastronomia 21
Molecular
É importante salientar que o alginato Espumas e Emulsões Emulsões
................................................
de sódio não se dissolve em meios
ácidos. Por esta razão, na nossa Espumas Emulsão é a mistura de dois líquidos
receita de Caipirinha optamos em imiscíveis, como a água e o azeite,
utilizar a técnica de esferificação As espumas são constituídas por em que um deles (a fase dispersa)
reversa, onde a mistura que contém bolhas de gás dispersas em líquidos ou se encontra na forma de pequenas
suco de limão é acrescida de lactato sólidos. Na linguagem de cozinheiro, gotículas no seio do outro líquido
de cálcio. uma espuma líquida é o mesmo que a (a fase contínua) compondo uma
espuma de café, de cerveja, do creme mistura estável. Essa mistura
ou do molho, enquanto uma espuma é considerada estável caso haja
sólida é a mesma encontrada em distribuição do tamanho das gotas na
pão, bolo, suspiro, mousse e suflê. fase dispersa (homogeneização), que
Concluímos, então, que elas podem se mantêm praticamente inalteradas
ser doces, salgadas, quentes, frias, ao longo do tempo. Para obter uma
líquidas ou sólidas. Tanto as espumas emulsão com maior estabilidade, é
líquidas quanto as sólidas necessitam necessário utilizar um emulsionante
de um processo de incorporação de (também chamado de emulsificante).
ar para se formarem. Além disso, é Um exemplo clássico dessa
necessário haver um agente tensoativo afirmação, é a presença da lecitina
que possibilite a formação das bolhas (gema do ovo) em molhos como a
de ar e, com frequência, agentes maionese, formando uma emulsão
estabilizantes, como o glúten, gordura estável. (ABRANTES; MATA, 2019)
sólida etc. (ABRANTES; MATA,
2019)
C urso 6

Técnicas de
Gastronomia 22
Molecular
Gelificação Os hidrocoloides podem ser
................................................
extraídos de plantas terrestres:
Um gel, pelas suas características, amido, pectinas, celulose, goma de
pode ser considerado um estado semente de alfarroba, goma arábica,
intermediário entre o líquido goma guar e goma tara; de algas:
e o sólido. Todos os géis são alginatos, ágar e carrageninas; ou
constituídos por uma fase terem outras origens: gelatina,
líquida retida em uma fase solida, proteínas dos ovos e polissacarídeos
esta consistindo em uma rede microbianos, como o gelano e
tridimensional de moléculas longas a goma xantana. (ABRANTES;
interligadas. Essas moléculas provêm MATA, 2019)
do agente gelificante adicionado e,
no caso dos alimentos, podem ser
proteínas ou hidratos de carbono,
denominados genericamente
hidrocoloides.

C urso 6

Técnicas de
Gastronomia 23
Molecular
Receitas  Drink

Nome da preparação
Caipirinha – Esferificação Reversa

Equipamentos
Geladeira; Mixer; Liquidificador; Balança de precisão; Balança.

Utensílios
Espátula de silicone; Bowls de vidro; Colher de bar (bailarina);
Colher; Chinois ou peneira; Colher medidora (15 ml); Jarra
graduada; Colher de esferificação (ou escumadeira); Mixing
glass; Colher de servir (tipo finger food).

Tempo Médio de Preparo


Banho – vai descansar, na geladeira, de 6 a 24 horas.
Demais etapas do preparo – 30 minutos.

Rendimento da Receita
10 esferas de 15 ml cada.

C urso 6

Técnicas de
Gastronomia 24
Molecular
Receitas  Drink  Caipirinha – Esferificação Reversa

Banho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Água Em temperatura ambiente 500 G
Alginato de sódio Em pó 2,5 G

Xarope de açúcar .......................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Açúcar Refinado 200 G
Água Fervente 100 G

Esferas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Cachaça 50 Ml
Suco de limão Taiti 50 Ml
Xarope de açúcar 50 Ml
Lactato de cálcio Em pó 3 G
Goma xantana Em pó 0,3 G
Raspas de limão* Somente a parte verde da casca Q.B.
* opcional

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Técnicas de
Gastronomia 25
Molecular
Receitas  Drink  Caipirinha – Esferificação Reversa

Preparo 4. Peneire essa mistura no mixing glass e junte as raspas de


limão (opcional).
Banho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5. Retire a espuma que se formar na superfície, com o auxílio
1. Em um bowl, misture os ingredientes com o auxílio de um de uma colher.
mixer, até que o alginato de sódio se dissolva na água por 6. Separe dois recipientes para a finalização do preparo
das esferas: o primeiro com a mistura que descansou na
completo.
geladeira (banho) e o segundo com água em temperatura
2. Cubra e leve à geladeira de 6 a 24 horas.
ambiente (para “lavar” as esferas após o banho com
alginato de sódio).
Xarope de açúcar ........................ 7. Passe a colher medidora pela mistura do banho (com
1. Em um recipiente de vidro, misture os ingredientes com alginato de sódio).
o auxílio de uma bailarina, até que o açúcar se dissolva 8. Em seguida, despeje 15 ml da mistura preparada para as
completamente na água, formando um xarope. esferas nesta mesma colher).
2. Mantenha esse xarope na geladeira. Assim, ele terá 9. Despeje delicadamente dentro do recipiente do banho.
durabilidade de 15 dias e poderá ser utilizado para adoçar 10. Com a colher de esferificação, faça movimentos leves no
qualquer tipo de drink. líquido do banho, com o intuito de ajustar a formação da
esfera.
Esferas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11. Retire a esfera do recipiente do banho.
12. Mantenha a esfera sobre a colher de esferificação e passe-a
1. Em um mixing glass, misture a cachaça, o suco de limão e pelo recipiente com água para lavá-la.
o xarope de açúcar. 13. Retire o excesso de água passando uma folha de papel
2. Passe essa mistura para o liquidificador e adicione o lactato toalha na parte de baixo da colher de esferificação.
de cálcio e a goma xantana. 14. Com cuidado, passe a esfera de caipirinha para a colher de
3. Bata até que os pós estejam dissolvidos nos líquidos. servir.
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Técnicas de
Gastronomia 26
Molecular
Receitas  Drink  Caipirinha – Esferificação Reversa

Observações • A goma xantana é um polissacarídeo produzido


a partir da fermentação do açúcar do milho
Em geral, para a técnica de esferificação reversa, também
por microrganismos. É utilizada de maneira extensiva
conhecida como inversa ou indireta, usam-se as seguintes
pela indústria alimentícia como espessante, emulsificante
referências de medidas:
e estabilizante. Tem seu nome derivado das bactérias
• Para o banho: 0,5% de alginato de sódio.
usadas no processo de fermentação, as Xanthomonas
• Para a mistura que será esferificada: 2% de lactato de cálcio. campestres (encontradas no repolho), que são as mesmas
• Alginato de sódio – Aditivo E-401. Hidrocoloide com responsáveis pelo apodrecimento e formam uma mancha
características gelificantes, espessantes e estabilizantes. escura nos brócolis, na couve-flor e em outras verduras.
Hidrato de carbono que não é absorvido, uma fibra Suas principais características são: alta propriedade
alimentar. Os alginatos são produzidos por algumas algas estabilizante, alta viscosidade a baixas concentrações,
marrons (castanhas), Phaeophyceae. Essas algas produzem fácil solubilidade em líquidos frios ou quentes, excelente
uma mistura de vários sais do ácido algínico, os alginatos, estabilidade no congelamento e no descongelamento, alta
que são um componente das suas células e conferem às algas resistência a variações de pH, alta resistência a variações
resistência mecânica e flexibilidade. Eles constituem cerca de temperatura, alta resistência a degradação enzimática,
de 40% da matéria seca das algas, que são a matéria-prima baixo valor calórico e ampla compatibilidade com todos
base para a produção industrial dos alginatos. O alginato os estabilizantes e espessantes comerciais. Trata-se de
disponível para cozinhar é o alginato de sódio. Os sais de um ingrediente muito comum em receitas sem glúten.
cálcio que podem ser combinados com ele para induzir a (CANELA-RAWLS, 2014)
gelificação e que estão disponíveis são o cloreto de cálcio, • No drink a goma xantana é um ingrediente necessário para
o lactato de cálcio e o gluconato de cálcio. (ABRANTES; ajustar a viscosidade do líquido, mas, acreditamos que no
MATA, 2019) contexto da preparação ela funciona perfeitamente como
• Lactato de cálcio – um dos sais de cálcio que combinado um espessante que deixa o líquido mais cremoso e faz com
com o alginato de sódio é utilizado nas esferificações: que o sabor fique mais persistente na boca.
simples e reversa.
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Técnicas de
Gastronomia 27
Molecular
Receitas  Entrada

Nome da preparação
Tartar de melancia , maionese de abacate
e pó de alga nori

Equipamentos
Geladeira; Liquidificador; Balança; Balança de precisão;
Seladora a vácuo.

Utensílios
Espátula de silicone; Bowls; Colher; Colheres medidoras; Jarra
graduada; Placa de corte; Faca de chef; Aro de inox redondo;
Bisnaga plástica; Saco próprio para embalar a vácuo).

Tempo Médio de Preparo


Tartar de melancia – vai descansar, na geladeira, de 12 a 24
horas
Demais etapas do preparo – 30 minutos

Rendimento da Receita
2 porções

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Técnicas de
Gastronomia 28
Molecular
Receitas  Entrada  Tartar de melancia, maionese de abacate e pó de alga nori

Tartar de melancia .................................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Melancia (sem sementes) Cortada em cubos de 0,6 cm 200 G
Suco de limão Taiti 50 Ml
Shoyu 70 Ml
Sake Mirin seco 20 Ml
Óleo de gergelim Torrado 20 Ml
Gengibre Pedaços 10 G
Alga kombu Pedaços Q.B.

Maionese de abacate .................................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Abacate Maduro 200 G
Mostarda Dijon 10 G
Suco de limão Taiti 20 Ml
Goma xantana Em pó 0,5 G
Óleo vegetal Neutro Q.B.
Sal Q.B.
Pimenta-do-reino Moída Q.B.

Pó de nori ................................................. ..... ..


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Folha de alga nori Bem crocante 2 Un

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Técnicas de
Gastronomia 29
Molecular
Receitas  Entrada  Tartar de melancia, maionese de abacate e pó de alga nori

Preparo Finalização
Tartar de melancia ....................... 1. Abra o saco, retire o gengibre, a alga e escorra o líquido
1. Em um recipiente, misture todos os ingredientes líquidos. com o auxílio de uma peneira. Reserve apenas os cubos de
2. Coloque os cubos de melancia no saco próprio para melancia.
embalar a vácuo. 2. Apoie o aro de inox num prato para a montagem do tartar
3. Junte o gengibre e a alga kombu e a mistura de líquidos. com os cubos de melancia.
4. Retire o ar e feche o saco na seladora a vácuo. 3. Guarneça com a maionese de abacate e o pó de nori.
5. Leve à geladeira de 12 a 24 horas.

Maionese de abacate ......................


1. No liquidificador bata o abacate, a mostarda, o suco de
limão, a goma xantana, o sal e a pimenta até começar a
obter uma mistura cremosa.
2. Vá acrescentando o óleo em um fio fino, bem devagar, até
obter a consistência desejada.
3. Passe a maionese de abacate para uma bisnaga e mantenha
na geladeira até o momento de montar o prato.

Pó de nori ...............................
1. Bata as folhas de alga nori, bem crocantes, no liquidificador,
até obter um pó.

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Técnicas de
Gastronomia 30
Molecular
Receitas  Entrada  Tartar de melancia, maionese de abacate e pó de alga nori

Observações Restrições alimentares


• No tartar utilizamos a técnica de manutenção a vácuo para Contém derivados de soja.
aumentar a concentração de sabores e evitar a oxidação da
melancia.

• O alimento conservado a vácuo apresenta uma durabilidade


maior durabilidade em consequência da supressão de
oxigênio, o que evita reações de oxidação, um dos processos
envolvidos na degradação dos alimentos e alteração de
aspecto e sabor. (ABRANTES; MATA, 2019)

• Uma mistura de dois líquidos incompatíveis, com


gotículas de um líquido disperso na fase contínua do
outro, é chamada de emulsão. Neste prato, a receita com
esta característica é a maionese de abacate. Em adição aos
dois líquidos incompatíveis, uma emulsão bem-sucedida
requer um terceiro ingredientes: o emulsificante. Ele é uma
molécula que de certa forma, “recobre” as gotas de óleo
e previne sua aderência. (ARAÚJO; MONTEBELLO;
BOTELHO; BORGO, 2015)

• A goma xantana desempenhou a função de emulsificante e


estabilizante na maionese de abacate.

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Técnicas de
Gastronomia 31
Molecular
Receitas  Prato Principal

Nome da preparação
Peixe em baixa temperatura , creme de couve -
flor defumada , ar de camarão e azeite em pó

Equipamentos
Geladeira; Liquidificador; Mixer; Balança; Balança de precisão;
Seladora a vácuo; Termocirculador; Fogão; Smoke gun; Sifão.

Utensílios
Espátula de silicone; Bowls; Colher; Colheres medidoras;
Jarra graduada; Placa de corte; Faca de chef; Faca de legumes;
Chinois; Frigideira antiaderente; Panelas; Filme plástico; 2
Sacos próprios para sous vide; Carga de gás (óxido nitroso –
N2O) para sifão.

Tempo Médio de Preparo


2h30

Rendimento da Receita
2 porções.

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Técnicas de
Gastronomia 32
Molecular
Receitas  Prato Principal  Peixe em baixa temperatura, creme de couve-flor defumada,
ar de camarão e azeite em pó

Creme de couve - flor defumada .........................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Couve-flor Cortada em floretes 150 G
Manteiga 20 G
Inhame Cortado em pedaços grandes 150 G
Louro Folha 1 Un
Goma xantana Em pó 0,5 G
Sal Q.B.
Pimenta-do-reino Moída Q.B.

Caldo de camarão ....................................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Cascas e cabeças de camarão 750 G
Água Em temperatura ambiente 2 L
Cebola Cortada em cubos grandes 100 G
Cenoura Cortada em meias-luas 100 G
Talos de salsinha Cortados grosseiramente 10 G
Alho Cortado grosseiramente 20 G
Folha de louro 2 Un
Grãos de pimenta 5 G
Óleo vegetal neutro Q.B.
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Técnicas de
Gastronomia 33
Molecular
Receitas  Prato Principal  Peixe em baixa temperatura, creme de couve-flor defumada,
ar de camarão e azeite em pó

Peixe em baixa temperatura ............................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Filé de robalo 2 pedaços de 150 g cada 300 G
Azeite de oliva Q.B.
Sal Q.B.
Pimenta-do-reino Q.B.

Azeite em pó .........................................................
Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Azeite de oliva Extra virgem 50 Ml
Maltodextrina pura (sem sabor) Em pó Q.B.

Ar de camarão .......................................................
Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Caldo de camarão Morno 350 Ml
Lecitina de soja Em pó 2,5 G

Finalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Folhas de salsinha Para a finalização do prato Q.B.

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Técnicas de
Gastronomia 34
Molecular
Receitas  Prato Principal  Peixe em baixa temperatura, creme de couve-flor defumada,
ar de camarão e azeite em pó

Preparo
Creme de couve - flor defumada .........................................................
1. Em uma panela, coloque o inhame, a folha de louro, sal e 11. No liquidificador, bata a couve-flor, o inhame e a goma
pimenta. xantana. Se necessário, junte um pouco do líquido
2. Cubra com água e leve ao fogo. Deixe cozinhar até que o resultante do cozimento do inhame.
inhame esteja bem macio. 12. Transfira o creme de couve-flor defumada para dentro do
3. Escorra e reserve o líquido do cozimento. sifão. Não encha demais.
4. Descarte a folha de louro. 13. Carregue com uma carga de gás (óxido nitroso – N2O).
5. Em um saco próprio para embalar à vácuo, coloque os 14. Agite vigorosamente durante 5 – 10 segundos. Não é
floretes de couve-flor, a manteiga, sal e pimenta. necessário deixar descansar porque o gás de dissolve
6. Retire o ar e feche o saco na seladora a vácuo. depressa.

7. Leve para cozinhar em sous vide por cerca de 2 horas (ou 15. Mantenha o sifão aquecido.
até estar bem macia), a temperatura de 75°C. 16. Vire o sifão de cabeça para baixo e pressione a alavanca
8. Abra o saco do cozimento em sous vide e transfira todo o para dispensar um pouco da espuma. Verifique a textura.
conteúdo do seu interior para um bowl de vidro. Em geral, um cartucho é suficiente para preparos ricos em
gordura. Se necessário, adicione mais um cartucho para
9. Cubra com filme plástico e faça o processo de defumação.
criar uma espuma mais grossa.
10. Deixe a couve-flor em contato com a fumaça entre 1 e 2
17. Agite sempre o sifão antes de soltar a espuma.
minutos. Em seguida, retire o filme plástico.

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Técnicas de
Gastronomia 35
Molecular
Receitas  Prato Principal  Peixe em baixa temperatura, creme de couve-flor defumada,
ar de camarão e azeite em pó

Caldo de camarão ........................ Azeite em pó . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


1. Em uma panela funda, aqueça um fio de óleo. 1. Misture a maltodextrina no azeite até obter um pó de
2. Doure a cebola, o alho, a cenoura, os talos de salsinha, o textura homogênea.
louro, os grãos de pimenta e as cascas e cabeças de camarão.
3. Quando todos os ingredientes estiverem bem dourados, Ar de camarão ...........................
junte a água. 1. Com o auxílio de um mixer, bata o caldo de camarão (que
4. Com a panela semi-tampada, cozinte em fogo baixo, deve estar a uma temperatura entre 40 e 50°C) com a
durante 40 minutos. lecitina de soja até obter uma espuma bem aerada.
5. Descarte as folhas de louro.
6. Bata o restante dos ingredientes no liquidificador.
Finalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
7. Passe por um chinois.
8. Reserve o líquido resultante. 1. No prato de servir, disponha uma porção do creme de
couve-flor e um pedaço de peixe.
Peixe em baixa temperatura ................ 2. Em cima do peixe coloque um pouco do ar de camarão,
1. Em um saco próprio para embalar à vácuo, coloque os com cuidado para não escorrer.
pedaços de peixe, o azeite, sal e pimenta. 3. Finalize o prato com o azeite em pó e a salsinha.
2. Retire o ar e feche o saco na seladora a vácuo.
3. Leve para cozinhar em sous vide por cerca de 20 minutos,
a temperatura de 63°C.
4. Retire o peixe do saco e doure-o levemente em uma
frigideira antiaderente, untada com um fio de azeite
(apenas um dos lados).

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Técnicas de
Gastronomia 36
Molecular
Receitas  Prato Principal  Peixe em baixa temperatura, creme de couve-flor defumada,
ar de camarão e azeite em pó

Observações • A maltodextrina pode ser obtida do amido de milho, da


tapioca, do trigo, da batata ou do arroz. Tem um sabor
• Sous vide é uma técnica de cozinha em que se colocam os
adocicado e dissolve-se facilmente em água. Possui a
alimentos em sacos plásticos apropriados, que são fechados
capacidade de aborver gorduras e transformá-las em pó.
a vácuo. Depois de selado o alimento é submerso em água e
Ao contrário de outros hidrocoloides utilizados em nossa
submetido ao cozimento em temperatura baixa e constante
receita, ela é assimilada pelo organismo, isto é, de fácil
(termocirculador), por um longo tempo, resultando em
digestão. (ABRANTES; MATA, 2019)
texturas e sabores inigualáveis. (ABRANTES; MATA,
2019) • A lecitina de soja (ou de girassol) é um agente tensoativo,
também chamada de agente de superfície. Assim, embora
• A defumação com o Smoke gun pode ser substituída por
a densidade do ar e da água sejam muito diferentes, o ar
algumas gotas de fumaça líquida no creme de couve-flor (a
continua aprisionado no líquido e essa mistura permanece
gosto). Na nossa receita, utilizamos madeira proveniente
estável o suficiente para ser usada, como é o caso do nosso
de macieira.
ar (espuma) de camarão. (HAUMONT, 2016)
• Sifão – este equipamento requer cartuchos de gás, também
• Os ares (ou espumas) são constituídos por bolhas de gás
chamados de cargas, para pressurizar a câmara que contém
dispersas em líquidos, como, por exemplo, a espuma do
o líquido ou creme. Essas cargas podem ser de dióxido
café e da cerveja. Eles necessitam de um processo mecânico
de carbono, usado para carbonatação ou de óxido nitroso
de incorporação de ar para se formarem, além de um agente
para a produção de espumas. Os sifões foram projetados
tensoativo, do qual já falamos anteriormente.
para aerar natas ricas em gordura – chantilly (o óxido
nitroso dissolve melhor em gorduras do que em água).
Mas, podemos fazer espumas de qualquer líquido grosso
o suficiente para manter bolhas. (MYHRVOLD; BILET,
Restrições alimentares
2014) Contém lactose, caseína, derivados de soja e crustáceos.

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Técnicas de
Gastronomia 37
Molecular
Receitas  Sobremesa

Nome da preparação
Sorbet de butiá , sponge cake de chocolate ,
abacaxi glaceado , cubos de coco e caviar de
mel de bracatinga

Equipamentos
Geladeira; Freezer; Liquidificador; Balança; Balança de
precisão; Fogão; Sifão; Sorveteira.

Utensílios
Espátula de silicone; Bowls de vidro; Colher; Colheres
medidoras; Jarra graduada; Fouet; Peneira; Chinois; Placa
de corte; Faca de chef; Faca de legumes; Tesoura; Frigideira;
Panelas; Forma para gelo de silicone (no formato de cubos);
Seringa; Filme plástico; 5 copos de papel (200 ml cada).

Tempo Médio de Preparo


2h

Rendimento da Receita
4 a 5 porções.
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Técnicas de
Gastronomia 38
Molecular
Receitas  Entrada  Sorbet de butiá, sponge cake de chocolate, abacaxi glaceado,
cubos de coco e caviar de mel de bracatinga

Sorbet de butiá .......................................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Polpa de fruta Nesse caso foi de butiá 375 G
Água 375 G
Açúcar Refinado 270 G
Neutro 5 G
Goma xantana 1 G

Extrato de coco ......................................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Coco fresco (só a parte branca) Cortado grosseiramente 200 G
Água Quente 200 Ml
Goma xantana Em pó 0,3 G

Cubos de coco .......................................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Extrato de coco 250 Ml
Açúcar Refinado 30 G
Ágar 2,5 G

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Técnicas de
Gastronomia 39
Molecular
Receitas  Entrada  Sorbet de butiá, sponge cake de chocolate, abacaxi glaceado,
cubos de coco e caviar de mel de bracatinga

Sponge cake de chocolate ..............................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Farinha de trigo 20 G
Açúcar Refinado 80 G
Ovo Em temperatura ambiente 4 Un
Sal 1 G
Chocolate em pó 50% cacau 30 G
Cacau em pó 100% 30 G

Abacaxi glaceado ....................................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Abacaxi (pérola) Cortado em cubos de 1 cm 150 G
Manteiga Sem sal 10 G
Açúcar Mascavo 10 G

Banho (Caviar de mel de bracatinga ) ....................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Água Em temperatura ambiente 500 G
Lactato de cálcio Em pó 7,5 G

Caviar de mel de bracatinga ............................................


Ingredientes Especificações Quantidade Unidade
Mel Bracatinga 100 G
Água Em temperatura ambiente 50 G
Alginato de sódio Em pó 1,5 G
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Técnicas de
Gastronomia 40
Molecular
Receitas  Entrada  Sorbet de butiá, sponge cake de chocolate, abacaxi glaceado,
cubos de coco e caviar de mel de bracatinga

Preparo Cubos de coco ...........................


Sorbet de butiá .......................... 1. Em uma panela, coloque o extrato de coco, o açúcar e o
ágar.
1. Em uma panela, misture todos os ingredientes e leve ao
2. Leve ao fogo, mexendo sempre, até levantar fervura.
fogo até levantar fervura.
3. Encha a forma de silicone com este preparo.
2. Transfira a mistura para um bowl e esfrie em banho-maria
4. Cubra com filme plástico.
invertido (água com gelo).
5. Leve à geladeira por cerca de 2 horas.
3. Cubra e leve à geladeira.
4. Quando a preparação estiver bem gelada, bata em uma
sorveteira até obter uma textura de sorvete macio.
Sponge cake de chocolate .................
5. Passe para um recipiente com tampa e mantenha no freezer 1. Com uma tesoura, faça pequenas incisões no fundo dos
até o momento de servir (para ficar mais consistente). copos de papel. Reserve.
2. Em um bowl, peneire os ingredientes secos juntos.
3. Adicione os ovos e misture com o auxílio de um fouet até
Extrato de coco ......................... obter uma massa homogênea.
1. No liquidificador bata o coco e a água por cerca de 5 4. Transfira essa massa para o sifão e feche-o. Não encha
minutos. demais.
2. Passe a mistura por um chinois (ou pano) para obter o 5. Carregue com uma carga de gás (óxido nitroso – N2O).
extrato. 6. Agite vigorosamente durante 5 – 10 segundos.
3. Leve 250 ml do extrato ao liquidificador novamente e 7. Vire o sifão de cabeça para baixo e pressione a alavanca
adicione a goma xantana. para dispensar um pouco da espuma.
4. Bata rapidamente para misturar. 8. Preencha os copos de papel com a massa, até a metade da
sua capacidade.
C urso 6

Técnicas de
Gastronomia 41
Molecular
Receitas  Entrada  Sorbet de butiá, sponge cake de chocolate, abacaxi glaceado,
cubos de coco e caviar de mel de bracatinga

9. Leve ao forno micro-ondas, de 30 em 30 segundos, até Caviar de mel de bracatinga ...............


que a massa esteja cozida. Para se certificar do cozimento
1. Bata os ingredientes no liquidificador.
completo, espete um palito. O mesmo deve sair limpo e
2. Passe por uma peneira.
seco.
3. Encha uma seringa com a mistura.
10. Para soltar os bolos dos copos, basta passar uma faca de
4. Separe dois recipientes para a finalização do preparo das
legumes ao redor da massa delicadamente.
esferas: o primeiro com a mistura do banho e o segundo
11. Desenforme sobre um prato ou grade e deixe esfriar.
com água em temperatura ambiente (para “lavar” as esferas
após o banho com lactato de cácio).
5. Use a seringa para ir pingando gotas da mistura de mel no
Abacaxi glaceado ........................ banho (com lactato de cálcio).
1. Em uma frigideira, derreta a manteiga e coloque os cubos 6. Mexa delicadamente.
de abacaxi. 7. Com o auxílio de uma colher para esferificação, retire
2. Polvilhe com o açúcar mascavo. as esferas do banho e passe-as pelo recipiente com água
3. Vire os cubos de abacaxi para que eles dourem por igual limpa.
por todos os lados. 8. Retire o excesso de água passando uma folha de papel
4. Retire da frigideira e reserve. toalha na parte de baixo da colher de esferificação.
9. Reserve para a finalização do prato.

Finalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Banho (Caviar de mel de bracatinga ) ........ 1. No prato de servir, disponha os cubos de coco e abacaxi e
pedaços do sponge cake.
1. Em um recipiente de vidro coloque a água. 2. Sobre os cubos de coco, coloque o caviar de mel de
2. Acrescente o lactato de cálcio e misture, com auxílio de bracatinga.
um fouet, até dissolver por completo. 3. Finalize com uma quenelle de sorbet de butiá.

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Técnicas de
Gastronomia 42
Molecular
Receitas  Entrada  Sorbet de butiá, sponge cake de chocolate, abacaxi glaceado,
cubos de coco e caviar de mel de bracatinga

Observações 4. O sifão foi utilizado para agregar mais ar e trazer leveza à


massa do nosso sponge cake.
1. No sorbet foi utilizado o neutro, composto por goma
tara e farinha de alfarroba, estabilizantes que ajudam a 5. Em geral, para a técnica de esferificação simples, também
prevenir a formação de cristais de gelo. Sem ele os cristais conhecida como básica ou direta, usam-se as seguintes
poderiam crescer a partir das moléculas de água. Isso referências de medidas:
mudaria a textura macia e agradável do sorbet em granulosa
e cristalizada. (CANELLA-RAELS, 2014) 6. Para o banho: 1,5% de lactato de cálcio.

2. A goma xantana entrou no preparo do sorbet com a função 7. Para a mistura que será esferificada: 1% de alginato de
de emulsificante, para garantir ainda mais maciez. sódio.

3. O ágar, utilizado no preparo dos nossos cubos de coco,


é um dos agentes gelificantes mais usados na culinária,
é de origem vegetal, extraído de algas vermelhas, ao
contrário da gelatina que é de origem animal, sendo por
isso muitas vezes denominado “gelatina vegetal”. Seu
poder de gelificação é muito superior ao da gelatina e,
mais importante, ele mantém a estrutura de gel mesmo a
temperaturas altas. De fato, o ágar tem de ser dissolvido
a quente, pois solidifica entre 30°C e 40°C e só volta a
derreter se for aquecido a 85°C. Ele não é digerido nem
absorvido pelo intestino humano, funcionando como uma
Restrições alimentares
fibra dietética. (ABRANTES; MATA, 2019) Contém glúten, lactose, caseína e ovo.
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Gastronomia 43
Molecular
Receitas 

Nome da preparação
Kir Royale – Caviar de Cassis

Caviar de cassis ..........................


Ingredientes Quantidade Unidade
Alginato de sódio 2 G
Licor de cassis (ou Xarope 200 Ml
de cassis) ou Licor de pêssego

Banho de cálcio ..........................


Ingredientes Quantidade Unidade
Gluconato ou Lactato de cálcio 5 G
Água 500 Ml

Kir Royale . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ingredientes Quantidade Unidade
Espumante Moscatel (ou Brut) 1 Garafa

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Gastronomia 44
Molecular
Receitas 

Utensílios
Seringa; Mixer.

Modo depreparo
• Misturar o sal de cálcio com a água (manter na geladeira);
• Bater o licor de cassis com alginato com um mixer. Deixar
descansar por 1 hora (adiantar o processo);
• Adicionar, gota a gota, a solução de cassis à solução de íons
cálcio, manter em contato por alguns segundos e remover
do banho, retirar o excesso em água;
• Sirva em uma taça flut com o espumante;
• Consumir imediatamente.

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Gastronomia 45
Molecular
Receitas 

Nome da preparação
Ravióli de Espuma de Bechamel

Bechamel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ingredientes Quantidade Unidade
Farinha de Trigo 30 G
Manteiga Clarificada 30 G
Leite Integral 275 Ml
Creme de Leite Fresco 100 Ml
Manteiga 30 G
Cebola Piqué 1 Un
Sal Q.B.
Noz Moscada Q.B.
Gás NO² 2 Cápsulas

Ravióli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ingredientes Quantidade Unidade
Fundodelegumes 200 Ml
Agar-agar(Kanten) 4 G

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Molecular
Receitas 

Finalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Modo depreparo


Ingredientes Quantidade Unidade Espuma de Bechamel:
• Aromatize o leite com a cebola piqué. Faça um roux branco
Queijo parmesão 200 G
com a manteiga clarificada. Acrescente o leite e o creme
de leite. Deixe na consistência de nappé leve. Tempere
Utensílios com sal e noz moscada. Acrescente a manteiga restante e
emulsione com o mixer, passe por uma peneira e coloque
Sifão; Mixer; Peneira. no sifão. Aplicar a carga de gás e agitar.
• Manter a 70ºC em banho Maria.

Ravióli:
• Misture o fundo com o agar-agar até dissolver, leve ao fogo
e deixe ferver por 2 minutos. Coloque em uma superfície
lisa (GN ou travessa de vidro), espalhe bem, retire o
excesso e deixe firmar. Corte com um cortador redondo e
recheie com a espuma.
Finalização
• Em uma frigideira, aqueça o parmesão e faça tuilles.

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Molecular
Receitas 

Nome da preparação
Spaguete de Morango com Ar de Limão

Ar de Limão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ingredientes Quantidade Unidade
Suco de limão 150 G
Xarope de açúcar 100 G
(70g de açúcar + 30g de água)
Água 250 Ml
Lecitina de Soja em pó 4 G

Espaguete de Morango . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ingredientes Quantidade Unidade
Morango fresco ou congelado 200 G
Água 300 Ml
Açúcar 50 G
Agar-agar 10 G

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Molecular
Receitas 

Utensílios
Seringa; Mangueira de silicone.

Modo depreparo
Espaguete de Morango:
• Bata o morango com o açúcar e a água no liquidificador.
Acrescente o agar-agar e bata até dissolver, leve ao fogo
e deixe ferver por 2 minutos mexendo sempre. Com a
seringa, coloque a mistura na mangueira dentro de um
bowl com água gelada, deixe por alguns minutos até firmar
e adicione mais um pouco da mistura com a seringa ou
água.

Ar de Limão:
• Misturar todos os ingredientes. Aquecer a 40ºC e colocar
em um copo medidor ou jarra dentro de um bowl. Utilize
um oxigenador para fazer as espumas.

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Técnicas de
Gastronomia 49
Molecular
Receitas 

Nome da preparação
Esferas de Churros

Banho de Alginato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ingredientes Quantidade Unidade
Alginato de sódio 5 G
Água 500 Ml

Esferas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ingredientes Quantidade Unidade
Doce de leite 400 G
Creme de leite Q.B.
Gluconato ou lactato de cálcio 5 G

Empanado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ingredientes Quantidade Unidade
Farinha de trigo 200 G
Ovos 2 Un
Pão de Forma ou Farinha panko 1 Pacote
Óleo para fritura Q.B.

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Gastronomia 50
Molecular
Receitas 

Finalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Modo depreparo


Ingredientes Quantidade Unidade Banho de alginato:
• Misturar o alginato de sódio na água com mixer; descansar
Açúcar e canela Q.B.
por 2 horas na geladeira (Preparar com antecedência).

Utensílios Farinha Panko:


• Retire as cascas do pão, passe as fatias em um processador
Mixer. ou liquidificador rapidamente para ficar com pedaços
rústicos. Asse no forno até secar, mas sem dourar.

Esferas:
• Deixe o doce de leite com consistência fluida com auxílio
do creme de leite. Dilua o lactato ou gluconato de cálcio
no doce de leite. Coloque em formas de bombo e deixe
congelar.
• Deixe as esferas “cozinhando” por cerca de 2 minutos no
banho de alginato e depois remova-as cuidadosamente,
utilizando uma escumadeira. Retire do banho e passe
cuidadosamente em água.
• Com muito cuidado, empane as esferas na farinha de trigo
no ovo e, por último, na farinha panko e frite em óleo
quente.

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Técnicas de
Gastronomia 51
Molecular
Receitas 

Nome da preparação
Uvas Efervescentes

Ingredientes Quantidade Unidade


Sem foto
Uva Tompson ou Crinson 200 G
(qualquer uma sem semente)
Gás de sifão (NO²) 2 Cápsulas
Suco de uva 500 Ml

Utensílios
Sifão.

Modo depreparo
• Coloque todos os ingredientes no sifão. Aplicar a carga de
gás e deixar na geladeira por 30 minutos.

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Molecular
Receitas 

Nome da preparação
Suspiro Molecular

Ingredientes Quantidade Unidade


Clara de ovo 30 G
Açúcar de Confeiteiro 300 G

Utensílios
Micro-ondas; Ramequim.

Modo depreparo
• Misture bem o açúcar com a clara, faça bolinhas, coloque
no ramequim e leve ao centro do micro-ondas de 30
segundo à 2 minutos, dependendo do tamanho.

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Técnicas de
Gastronomia 53
Molecular
Referências

ABRANTES, Gisela; MATA, Paulina. CASTELLAN, G.W. Físico-Química, MYHRVOLD, Nathan; BILET,
Cozinha modernista: história, Trad. Luiz C. Magalhães, Rio de Janeiro: Maxime. Modernist cuisine at home.
ingredientes e receitas da cozinha Ao Livro Técnico, 1972, e Trad. Luiz C. Hohenzollernring: Taschen, 2014.
modernista do século XXI. Rio de Magalhães, Rio de Janeiro: LTC, 1975, e
Janeiro: Senac Rio, 2019. Trad. Cristina M. P. Santos, Roberto B. SHAW, D. J. Introdução à Química dos
Faria, Rio de Janeiro: LTC, 1986. Colóides e de Superfícies, Trad. J. H.
ARAÚJO, Wilma M. C.; Maar, São Paulo: Edgard Blucher, 1975.
MONTEBELLO, Nancy di Pilla; CHANG, R., Físico-Química, V.1,
BOTELHO, Raquel B. A.; BORGO, 3. ed. Trad. Elizabeth P. G. Áreas,
Luiz Antônio (orgs.). Alquimia dos Fernando R. Ornellas, São Paulo:
alimentos. 3. ed. Brasília: Editora Senac McGraw-Hill, 2009.
DF, 2015.
HAUMONT, Raphael. Um químico
ATKINS, P. W. Físico-Química, V. 2, na cozinha: a ciência da gastronomia
6. ed. Trad. H. Macedo, Rio de Janeiro: molecular. Trad. Celina Portocarrero.
LTC, 1997, e V. 2, 8. ed., Trad. E. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.
Clemente, M. J. E. de Mello Cardoso;
O. E. Barcia, Rio de Janeiro: LTC, 2008. JAFELICCI JUNIOR, M.; VARANDA
L. C. O Mundo dos Colóides, Química
CANELA-RAWLS, Sandra. Espessantes Nova na Escola, n° 9, maio 1999. http://
na confeitaria: texturas e sabores. São qnesc.sbq.org.br/online/qnesc09/
Paulo: Editora Senac São Paulo, 2014. quimsoc.pdf

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Técnicas de
Gastronomia 54
Molecular
Os insumos específicos para cozinha molecular foram adquiridos na

GastronomyLab: loja.gastronomylab.com

Gastrô Brasil: loja.gastrobrasil.com.br

A Gastronomia Molecular para divulgação científica interdisciplinar:


Curso 6 – Técnicas de Gastronomia Molecular (SIEX/UFU 24242)
Programa Institucional de Apoio a Ações e Eventos de Extensão PIAEV – Edição Remota – 2021
Organizadoras: Elaine Kikuti
Projeto gráfico e diagramação: Eduardo Warpechowski (DIEDE/UFU)

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