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Autoria:
Capitão de Corveta (Intendente da Marinha) Jorge Nascimento de Oliveira Junior (DGOM)

ORÇAMENTO POR RESULTADOS:


APRIMORAMENTOS AO
PROCESSO ORÇAMENTÁRIO
DA MARINHA DO BRASIL
Resumo: O panorama vivenciado no Brasil ao longo dos últimos anos evidencia a necessidade de racionalização no emprego dos recursos públicos,
para que seja possível o crescimento econômico sustentável. Por outro lado, são observadas pressões crescentes por serviços públicos de qualidade,
formando um ambiente que motiva os gestores a buscar soluções eficientes e eficazes, que atendam às demandas sociais com uso racional de
recursos públicos. Inserida nesse contexto, a Marinha do Brasil (MB) possui uma sistemática de gestão orçamentária consolidada há mais de 50
anos, traduzida no Sistema do Plano Diretor (SPD). Esse modelo pioneiro na administração pública brasileira, datado de 1963, vem permitindo à
Força gerenciar e aplicar recursos em prol do cumprimento de sua missão. Os desafios e paradigmas gerenciais contemporâneos impõem a revisão
dos processos vigentes, com o objetivo de possibilitar o maior alinhamento entre a concessão de recursos e os resultados planejados/obtidos. Nesse
contexto, em 2018 o Comandante da Marinha determinou ao Secretário-Geral da Marinha a constituição de um Grupo de Trabalho (GT) com o
propósito de avaliar a estrutura do SPD e propor ações para aprimorá-lo. Deste modo, o artigo busca expor as principais modificações realizadas pelo
GT na estrutura e nos processos do SPD, analisando-as à luz dos pressupostos teóricos do conceito de orçamento por resultados.
Palavras-chave: Marinha do Brasil; Planejamento Estratégico; Orçamento por Resultados; Sistema do Plano Diretor.

1 INTRODUÇÃO dos Estados Unidos da América desenvolveu


um novo modelo de gestão orçamentária, de-
Até o início da década de 60 a Marinha
nominado Planning, Programming, Budgeting
do Brasil aplicava um modelo de gestão or-
System (PPBS). O desenvolvimento do PPBS
çamentária organizado por itens de despesa,
moldou um claro avanço comparado aos siste-
não dispondo, portanto, de um mecanismo de
vinculação de seus dispêndios programados mas tradicionais, focados no aspecto contábil,
com seus objetivos institucionais. (OLIVEIRA E uma vez que “integra, em uma linha contínua,
RODRIGUES, 2002). A estrutura acima expos- o planejamento, a programação e sua expres-
ta guarda coerência com as práticas governa- são financeira, o orçamento”. (MACHADO JR,
mentais então vigentes, fortemente marcadas 1973, p. 73).
pelo modelo incremental, prevalecendo, como Os novos conceitos e tendências foram
critério de alocação de recursos, negociações rapidamente absorvidos pela MB, tendo sido
políticas (OLIVEIRA, 2000). criado o Plano Diretor da Marinha (PD), por
Novick (1962) expõe que ao longo da meio do Aviso no 1.923, de 25 de setembro
década de 60, o Departamento de Defesa de 1963. (BRASIL, 2014). A criação do

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PD, fato pioneiro na administração pública do orçamento por resultados, de modo a res-
brasileira, estabeleceu as políticas e diretrizes ponder ao seguinte questionamento: “A nova
básicas que permitiram à Alta Administração estrutura do SPD é aderente ao conceito de
Naval a coordenação das ações de planeja- orçamento por resultados?”
mento, execução e controle dos investimentos Para tal, este artigo encontra-se estruturado
da Marinha, bem como aferir os resultados em quatro seções: nesta primeira, contextua-
de todo processo da gestão administrativa liza-se o problema, realizando uma familiari-
(FONSECA, 1995). zação do leitor com a importância do tema.
Ao longo dos seus 50 anos, o Plano Diretor Segue-se o referencial teórico e a metodologia
foi revisado e aperfeiçoado diversas vezes de coleta e a análise de dados empregada. A
até chegar a sua atual estrutura. Hoje, o SPD seção subsequente apresenta a análise crítica
constitui-se em uma ferramenta efetivamente
do tema, seguindo-se à mesma a conclusão
utilizada pela Alta Administração Naval no
da pesquisa e o referencial utilizado.
planejamento, na execução e no controle
das atividades orçamentárias e financeiras
da Marinha, contribuindo, de forma decisiva, 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
para a utilização eficiente, proba e transpa- Piscitelli (1988) afirma que a ação plane-
rente dos recursos públicos alocados à MB e, jada do Estado, quer na manutenção de suas
consequentemente, para o cumprimento de atividades, quer na condução de seus projetos
sua Missão Constitucional. se materializa por meio do orçamento público.
Corroborando a importância do PD na Este é, por conseguinte, o instrumento de que
gestão dos recursos da MB, a Força busca, dispõe o Poder Executivo para expressar, em
permanentemente, a convergência de suas determinado período, o seu programa de atua-
ferramentas e instrumentos com o Sistema de
ção, discriminando a origem e o montante de
Planejamento e Orçamento Federal (SPOF)
recursos a serem obtidos (receitas), bem como
e com as melhores práticas de gestão.
os dispêndios a serem efetuados (despesas).
Nesse contexto, em 2018 foi instituído um
Cunha (2013) aponta que as mudanças
Grupo de Trabalho (GT) com o objetivo de
econômicas, políticas, tecnológicas e sociais
aprimorar o Plano Diretor, buscando, dentre
ocorridas, principalmente, a partir da segunda
outros objetivos, seu alinhamento com o
metade do século XX, têm contribuído signifi-
Planejamento Estratégico da Força.
cativamente para o aumento da complexidade
A partir do quadro evolutivo exposto e da
dos setores público e privado. Não obstante,
análise do cenário político-econômico vigente,
marcado por restrições fiscais e pelo crescente o cenário exposto gerou um incremento nas
controle social, observa-se que os gestores expectativas e demandas da sociedade por
são instados a prestar contas do emprego de serviços públicos de qualidade e eficiência no
recursos públicos, tanto pela ótica da confor- uso de recursos.
midade legal do gasto, mas também pelos Portanto, além das funções tradicionais, os
resultados alcançados. orçamentos modernos passaram a constituir
Diante do exposto, este artigo possui instrumentos de gestão, sendo hoje, ferramen-
duplo propósito: pretende-se dissertar sobre tas por meio das quais os governos viabilizam
as principais modificações realizadas pelo a aquisição de bens e serviços necessários
GT na estrutura e nos processos do SPD e à satisfação do interesse público. O cenário
analisá-las à luz dos pressupostos teóricos exposto evidencia uma busca crescente pela

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orientação dos processos orçamentários ao e/ou esperados, diferentemente do processo


alcance de resultados. tradicional, onde as decisões se pautam por
Nesse contexto, cabe destaque ao rubricas que contribuem de forma segmenta-
desenvolvimento do PPBS, na década de da para a consecução dos programas gover-
60. Schick (2007) expõe que o PPBS teve namentais. Nesse contexto:
como ideia central remodelar os centros de O núcleo conceitual do Orçamento por
decisões sobre distribuição de recursos, subs- Resultados se assenta sobre a ideia básica
tituindo o critério organizacional por uma alo- de que a informação sobre o desempenho
cação baseada em programas e objetivos. de órgãos, agências e programas deve
Além disso, o método identifica os custos dos ser desenvolvida, integrada ao processo
programas idealizados para alcançar tais ob- orçamentário e – principalmente – utilizada
jetivos e os dados quantitativos que medem como elemento relevante do processo de
as realizações e o trabalho realizado dentro tomada de decisão (Faria, 2010, p. 3).
de cada programa. Conforme expõe Kettl (2005), no escopo
Em continuidade aos progressos obtidos dos trabalhos de reforma da gestão pública,
pelo PPBS na busca pela integração entre há uma notável convergência em favor da
planejamento, programação e orçamento, medição de desempenho, especialmente os
houve uma busca acentuada nas décadas resultados dos programas. A partir do esta-
de 70 e 80, pela modernização de aparatos belecimento de controles e avaliações de
burocráticos. Osborne e Gaebler (1993) cre- resultados, será possível responsabilizar os
ditam esse movimento às agudas restrições administradores públicos pelo seu desempe-
fiscais enfrentadas nesse período, influencia- nho, bem como os políticos eleitos. Essa bus-
das, sobretudo pelas crises do petróleo, que ca tornou-se, portanto, o núcleo do instinto de
produziram queda no grau de confiança no reforma diante do aumento da complexidade
governo e pressão popular por melhores ser- dos problemas enfrentados pelos governos.
viços públicos e menor nível de tributação. Embora apresente um grande potencial
Os autores supramencionados apontam de racionalização e de incremento na qua-
que a partir daí, os modelos burocráticos lidade do gasto público, a implementação
começaram a apresentar sinais de declínio do orçamento por resultados mostra-se, na
e, gradualmente, novas arquiteturas públicas prática, bastante desafiadora, uma vez que
surgiram, trazendo consigo práticas de mer- envolve o redesenho das atividades estatais e
cado, tais como: competição, flexibilidade, o enfrentamento de resistências. Não obstan-
foco em resultado, inovação, eficiência, me- te, a performance não é o único fator a ser
dição de desempenho, dentre outros. considerado nas decisões governamentais,
Essas tendências se refletiram no chama- que devem equilibrar, dentre outras, deman-
do “Novo Orçamento de Desempenho”, das políticas, econômicas e sociais.
idealizado no sentido de conferir maior dis- Nesse contexto, a Organização para
cricionariedade na alocação de recursos às Cooperação e Desenvolvimento Econômico
agências governamentais, tornando-as, em (OCDE) ilustra alguns dos procedimentos
contrapartida, responsáveis pelos resultados implicados nos processos de reformas geren-
obtidos (OCDE, 1997). ciais voltadas ao orçamento por resultados:
Schick (2007) expõe que a ideia central Reformas têm sido centradas em torno
do orçamento por resultados consiste em de arquiteturas de responsabilização nas
basear as alocações por resultados obtidos quais os governos delegam às agências

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flexibilidade no emprego de recursos, em Em um contexto mais amplo, de cunho es-
troca da responsabilidade dos mesmos tratégico, Motta (1979) explica que apesar
pelos resultados alcançados. O repertório das diferenças estruturais, de premissas e de
de ferramentas inclui a confecção de pla- objetivos em relação às organizações priva-
nos estratégicos e operacionais, medição das, as entidades do Setor Público também
de desempenho e estabelecimento de enfrentam ameaças, necessitam competir
metas, estabelecimento de contratos de por recursos, buscam novas oportunidades
performance pessoal e organizacional e devem inovar produtos e serviços, bem
separação da prestação de serviços esta- como desenvolver novas formas de atuação.
tais da formulação de políticas públicas, Precisam, assim, interferir nas mutações am-
novas regras de responsabilização e uso bientais, ajustando-se constantemente a elas.
ativo de avaliações, auditorias e incenti- Deste modo, observa-se uma importância
vos/sanções financeiras (OECD, 1997, crescente no emprego do planejamento
p.48. Tradução e grifos nossos). estratégico como ferramenta de gestão,
Ainda nesse contexto, convém ressaltar com vistas ao mapeamento do entorno or-
que o emprego bem sucedido de informações ganizacional, identificação de cenários e a
de desempenho nas alocações orçamentárias definição de objetivos, metas e resultados a
requerem o desenvolvimento de indicadores alcançar diante das mudanças no seu am-
com boa qualidade e transparência, que biente de atuação.
sejam alimentados com informação relevante Reconhecida a importância do plane-
e confiável, para que as indicações produ- jamento estratégico, cabe salientar que a
zidas, sejam de produtos ou de resultados implementação das estratégias formuladas
gerados possam subsidiar adequadamente a depende de sua integração ao processo
tomada de decisão (CURRISTINE, 2005). orçamentário (JOYCE, 1998). Tal afirmação
Outra importante consideração a ser ob- se justifica pela necessidade de previsão de
servada em qualquer análise de orçamento recursos para a execução das ações ideali-
por resultados refere-se à existência de siste- zadas no planejamento estratégico.
mas de mensuração de custos de produtos e Nesse horizonte, o emprego do planeja-
atividades, bem como seu nível de integra- mento estratégico fornece parâmetros confiá-
ção ao processo decisório sobre alocação veis para que a alocação de recursos esteja
de recursos, conforme expõe Schick (2007). vinculada aos objetivos e metas pretendidos
Trata-se, portanto, de um requisito que pela organização. Por isso, na administração
demanda o emprego de sistemas de infor- pública, o orçamento é um instrumento crítico
mação robustos e confiáveis, que permitam para a implementação da visão estratégica
a contabilização dos custos das atividades e nas organizações.
programas, permitindo, ainda, a segregação Diante das considerações supramenciona-
de custos fixos, variáveis e marginais. Ainda das Souza e Cunha (2014, p.133) argumen-
nesse campo, o autor argumenta que poucas tam que:
nações conseguiram alcançar a plena utili- Por um lado, o Planejamento Estratégico
zação de informações de custo no processo Organizacional deve condicionar o
alocativo, deixando de utilizá-las apenas orçamento, para que os objetivos orga-
como ferramentas analíticas, passando a nizacionais possam ser alcançados. Por
empregar os dados como insumos efetivos à outro lado, restrições orçamentárias que
tomada de decisão. impeçam ou não disponibilizem recursos

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para determinadas ações estratégicas, Diante das considerações expostas nesta


comprometerão o alcance dos objetivos. seção do artigo, infere-se que, à despeito das
Corroborando o exposto, Goodwin e Kloot dificuldades e desafios implicados, a adoção
(1996) salientam a importância da comunica- da gestão por resultados e, consequentemen-
ção estratégica sobre as decisões de alocação te, do orçamento por desempenho parece ser
de recursos. Para os autores, a falta de acesso uma tendência de difícil reversão, diante das
a informações sobre o planejamento estratégi- transformações econômicas, sociais e tec-
co organizacional pelos assessores e decisores nológicas observadas. Tornou-se imperativo
da área orçamentária pode gerar decréscimo
aos governos democráticos demonstrar aos
na qualidade das decisões sobre alocação
seus cidadãos o valor gerado a partir dos
de recursos, bem como perda de satisfação e
impostos pagos e, nesse sentido, a adoção
redução de performance organizacional.
do orçamento por resultados parece ser um
Como um exemplo bem sucedido de inte-
passo lógico.
gração estratégica e orçamentária, Barzelay
e Campbell (2003), ao estudar os processos A partir dos pressupostos teóricos apresen-
estratégicos da Força Aérea dos EUA, eviden- tados, formulou-se uma matriz de categorias
ciam os esforços bem sucedidos da organi- de análise a seguir apresentada, que contém
zação na transmissão de seu planejamento alguns dos requisitos desejáveis ao sucesso
e de sua visão estratégica ao Congresso, da implementação do orçamento por resulta-
conseguindo correlacionar suas demandas por dos e que será empregada para analisar os
orçamento à uma percepção da importância aprimoramentos ao Sistema do Plano Diretor
de seu papel na defesa nacional. advindos do GT-SPD 2018.

Tabela 1: Categorias de Análise


CATEGORIA DE ANÁLISE FATORES A SEREM ANALISADOS
A1 Qualidade dos Indicadores desenvolvidos (CURRISTINE, 2005, OCDE, 2007)
A Indicadores
A2 Transparência e Credibilidade nas Informações sobre desempenho apresentadas (OCDE, 2007)
B Sistemas de custeio B1 Existência de sistemas de aferição de custos de produtos e atividades (SCHICK, 2007)
Integração entre o Planejamento Estratégico e a distribuição de recursos
C1
(JOYCE, 1998; GOODWIN AND KLOOT, 1996; BARZELAY e CAMPBELL,2003)
Processo decisório Integração entre o Planejamento Estratégico Organizacional e
C2
C sobre alocação de as solicitações de recursos pelas Unidades Gestoras (UG) (SOUZA e CUNHA, 2014)
recursos Uso de informações de custos de produtos e atividades ou
C3
outros parâmetros quantitativos na alocação de recursos (SCHICK, 2007)
C4 Uso de indicadores de desempenho nas decisões sobre alocação de recursos (OCDE, 1997; FARIA, 2010)
Controle e Avaliação orçamentários voltados para resultados
D1
(CUNHA, 1994; GIACOMONI, 2012, OCDE, 1997; KETTL, 2005)
Gestão de
Recompensas/Sanções/responsabilização por desempenho alcançado
D desempenho e D2
(OCDE, 1997; CURRISTINE, 2003; FARIA, 2010; KETTL, 2005)
accountability
Flexibilidade e autoridade aos gestores na execução dos recursos
D3
(OCDE, 1997; GIACOMONI, 2012; CURRISTINE, 2003)
Fonte: Elaborado pelo autor.

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3 MÉTODO DE PESQUISA baseados no conceito de meta, considerado
o elemento central do Plano Diretor, uma vez
Foi empregada uma pesquisa qualitativa com
que delimita os objetivos da MB em termos
caráter descritivo, que explorou o processo orça-
quantitativos e temporais. A definição das me-
mentário adotado pela Marinha do Brasil, sub-
tas é pautada pela Alta Administração Naval,
metendo-o a uma análise crítica, à luz dos pres-
levando em consideração os documentos
supostos teóricos do orçamento por resultados.
condicionantes de alto nível da Marinha e do
Segundo Minayo et al (2002), a pesquisa
Governo Federal (BRASIL, 2014).
qualitativa é um método que se preocupa,
Portanto, o Plano Diretor se constitui em um
nas ciências sociais, com um nível de reali-
“Banco de Metas”, através do qual os objeti-
dade que não pode ser quantificado, corres-
vos da MB foram internalizados no seu proces-
pondendo a uma análise de processos e de
so orçamentário. Para fins de planejamento e
fenômenos que não podem ser reduzidos à
controle, as metas se detalham em submetas
operacionalização de variáveis. Os dados
e fases, formando as Ações Internas (AI), co-
para análise sobre os procedimentos e normas
dificação por meio da qual o orçamento da
vigentes foram coletados essencialmente por
Marinha é planejado e executado.
meio de pesquisa bibliográfica e documental.
O modelo de gestão orçamentária empre-
O tratamento e a análise de dados foram
gado pela MB até 2018 era eminentemente
realizados por meio do emprego da técnica de
funcional, sendo gerenciado por meio dos
análise de conteúdo, que visa obter, por meio
Planos de Metas (PM), conceituados como
de procedimentos sistemáticos, indicadores que
instrumentos perenes de consolidação por
permitam a inferência de conhecimentos a partir
área de expertise funcional (BRASIL, 2014).
dos documentos e referências bibliográficas
Os PM, listados na tabela 2, compunham
analisadas (BARDIN, 2002). Nesse contexto,
agrupamentos de metas cujo responsável era
a partir do referencial teórico foram elaboradas
designado mediante critério funcional, sendo
categorias de análise correspondentes às princi-
responsável pelo seu planejamento e controle.
pais características atinentes ao orçamento por
Ainda que predominasse o modelo de
resultados, de modo a possibilitar a sua aplicabi-
organização funcional, a estrutura do SPD pre-
lidade às novas regras de negócio do SPD.
via a existência de instrumentos para gestão
A pesquisa possui como limitação seu enfo-
de projetos de grande porte, cuja consecução
que generalista, priorizando-se a formação de
pudesse envolver esforços de diferentes seto-
uma compreensão de alto nível sobre os pro-
res, não possuindo, portanto, aderência ao
cessos de planejamento e gestão orçamentária
partilhamento funcional de recursos. Tratam-se
frente aos pressupostos do orçamento por resul-
dos Empreendimentos Modulares (EM), cuja
tados. Deste modo, o presente estudo não se definição encontra-se exposta a seguir:
aprofunda em assuntos de caráter operacional, Instrumento gerencial que conta com uma e
fato que pode ser explorado em análises futuras. somente uma meta definida, a qual corres-
ponde ao resultado a ser atingido. O EM
4 ANÁLISE DOS DADOS decorre de um planejamento de alto nível,
em que o porte e a complexidade do proje-
4.1 Organização geral do Sistema do to exijam a assunção de uma organização
Plano Diretor pré GT-SPD 2018 matricial em diversas áreas de expertise, evi-
Os processos de planejamento, execução denciando a Gestão por Projetos (BRASIL,
e controle orçamentários da Marinha são 2014, p. 2-8).

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Tabela 2: Planos de Metas da Marinha e seus relatores


PLANO DE METAS TÍTULO RELATOR
ALFA Renovação e Ampliação dos Meios Flutuantes Diretor de Engenharia Naval
BRAVO Renovação e Ampliação dos Meios Aéreos Diretor de Aeronáutica da Marinha
CHARLIE Renovação e Ampliação dos Meios de Fuzileiros Navais Comandante do Material de Fuzileiros Navais
DELTA Pessoal Militar Diretor do Pessoal Militar da Marinha
ECHO Bases Navais e Aéreas Diretor de Obras Civis da Marinha
FOXTROT Sistemas de Armas e Sensores Diretor do Sistema de Armas da Marinha
HOTEL Saúde Diretor de Saúde da Marinha
INDIA Ensino Diretor de Ensino da Marinha
JULIET Serviços de Hidrografia e Pesquisas Oceânicas Diretor de Hidrografia e Navegação
LIMA Serviços de Portos e Costas Diretor de Portos e Costas
NOVEMBER Serviço Social Diretor de Assistência Social da Marinha
OSCAR Serviço de Relações Públicas Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha
PAPA Abastecimento Diretor de Abastecimento da Marinha
QUEBEC Pessoal Civil Diretor do Pessoal Civil da Marinha
TANGO Telecomunicações Diretor de Comunicações e Tecnologia da Informação da Marinha
VICTOR Ciência, Tecnologia e Inovação Secretário de Ciência Tecnologia e Inovação da Marinha
UNIFORM Sistemas Nucleares Diretor Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha
WHISKEY Recursos do Mar e Atividades Antárticas Secretário da Comissão Interministerialpara os Recursos do Mar
XRAY Manutenção e Operação de Forças e Distritos Navais Subchefe de Logística e Plano Diretor do Comando de Operações Navais
ZULU Administração Diretor de Gestão Orçamentária da Marinha
Fonte: BRASIL, 2014.

Deste modo, conclui-se que os EM eram Acrescenta-se ao exposto a implementa-


instrumentos análogos aos PM. Ressalta-se, ção do Plano de Metas “YANKEE”, a partir
no entanto, que a distribuição de recursos de 2017. Modificando a lógica original de
nesse caso obedecia a uma lógica matricial, organização dos PM por áreas de experti-
vinculada ao resultado a ser alcançado pelo se, trata-se de um instrumento que passou a
gerente designado, independentemente do concentrar as Metas Prioritárias da Marinha,
corte funcional das atividades a serem execu- propiciando um novo mecanismo para a
tadas para a consecução daquele objetivo. priorização e a alocação de recursos dispo-
Sem os EM, a distribuição de recursos para nibilizados à Marinha, bem como de seleção
o atingimento de metas estratégicas estaria de metas a serem protegidas de eventuais con-
pulverizada entre diferentes Planos de Metas, tingenciamentos, frente a eventuais restrições
sob responsabilidades distintas. orçamentárias (BRASIL, 2018).

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A criação do Plano de Metas YANKEE es- seguida, ODS. Trata-se de um processo de-
tabeleceu mais um passo em direção aos con- cisório realizado em observância aos limites
ceitos de gestão matricial e de orçamentação estabelecidos pelo Estado-Maior da Armada
por resultados. A responsabilidade pelo plane- (EMA). Assim, pautando-se por estes limites,
jamento, execução, monitoramento e controle em cada nível as demandas eram consolida-
da meta correspondente é atribuída a um das e ordenadas por nível de prioridade, em
responsável executivo denominado Gerente gradação decrescente de importância.
de Meta Prioritária (GMP), independentemente Ressalta-se que, diante de seu caráter estra-
de corte funcional, tal como ocorre com os tégico, a decisão sobre alocação de recursos
Empreendimentos Modulares. às metas prioritárias (PM YANKEE) era reali-
As transações realizadas no âmbito do zada diretamente pelo EMA, por meta, com
SPD são suportadas por meio do Sistema de base nas demandas apresentadas nos subsí-
Acompanhamento do Plano Diretor (SIPLAD). dios, sem que houvesse concorrência com as
Trata-se de um sistema informatizado que demais metas no âmbito dos limites atribuídos
viabiliza a transmissão de informações e deci- aos aos Órgãos de Direção Setorial (ODS).
sões necessárias ao andamento dos processos Uma vez efetuadas as correções quanti-
orçamentários no âmbito da Marinha, dentre tativas e qualitativas apontadas em análise
as quais cabe destaque ao monitoramento do prévia realizada pela pela Diretoria de Gestão
progresso físico-financeiro das metas, frente Orçamentária da Marinha (DGOM), os ODS
aos valores programados. apreciavam as Revisões dos PM/EM do res-
pectivo Setor, solicitando correções, quando
4.2 Apresentação de demandas e cabíveis, estabelecendo suas prioridades e
distribuição de recursos definindo novos valores para as Ações Internas
Os processos de planejamento, execu- subsidiadas. Ao fim do processo, as demandas
ção e controle orçamentários da Marinha eram remetidas ao EMA, para formação de um
são realizados a partir de uma sequência quadro consolidado das necessidades da MB.
de atividades que se estruturam por meio À vista das apreciações efetuadas e
de fluxos ascendentes de apresentação de da importância de cada meta para o
demandas, que são consolidadas ao longo cumprimento da missão da MB, respeitando
do processo, e descendente de decisões, as projeções de tetos orçamentários a serem
com a consequente pulverização dos re- disponibilizados à MB pelo governo federal,
cursos destinados à Força até o nível das o EMA estabelecia, por Ação Interna,
Unidades Gestoras. os valores a serem contemplados com
No modelo funcional prévio ao GT-SPD recursos, possibilitando à Força apresentar
2018, processo orçamentário se iniciava suas necessidades ao governo federal na
mediante apresentação das demandas orça- proposta orçamentária.
mentárias pelas UG aos Relatores de Planos Finalizando o processo, após a sanção da
de Metas e Gerentes de Empreendimentos Lei Orçamentária Anual, à luz das necessida-
Modulares e de Metas Prioritárias, com vistas des da MB e dos valores disponibilizados, o
a atualizar os registros de necessidades de rol de Ações Internas contempladas com re-
recursos da MB. cursos era ajustado, formando, assim, o Plano
A etapa subsequente à apresentação das de Ação da Força a ser executado no ano
demandas consistia na priorização das neces- subsequente. A figura 1 ilustra o processo de
sidades no âmbito dos Relatores de PM e, em forma sintetizada.

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MB pelo governo federal, o EMA estabelecia, por Ação Interna, os valores a serem
contemplados com recursos, possibilitando à Força apresentar suas necessidades ao governo
federal na proposta orçamentária.
Finalizando o processo, após a sanção da Lei Orçamentária Anual, à luz das
necessidades da MB e dos valores disponibilizados, o rol de Ações Internas contempladas
com recursos era ajustado, formando, assim, o Plano de Ação da Força a ser executado no ano
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subsequente. A figura 1 ilustra o processo de forma sintetizada.


Figura 1: Processo de Montagem do PA prévio ao GT-SPD 2018
Figura 1. Processo de Montagem do PA prévio ao GT-SPD 2018

Fonte: BRASIL, 2014


Fonte: BRASIL, 2014
5 ANÁLISE DOS APRIMORAMENTOS PROPOSTOS PELO GT-SPD 2018

Rezende
5 ANÁLISE DOS (2014) argumenta que no processo
APRIMORAMENTOS de modernização
processos orçamentáriosdosimplica
orçamentos é
na busca
essencial que os mesmos recomponham sua importância como instrumento de promoção de
PROPOSTOS PELO GT-SPD 2018 contínua pelo seu alinhamento ao planejamen-
objetivos estratégicos e sejam efetivamente empregados como ferramentas de gestão
to estratégico das instituições. Nesse escopo,
organizacional.
Rezende (2014) argumenta que no processo
Nesse contexto,
de modernização ao longo
dos orçamentos dos últimoscabe
é essencial destaque
anos, foramaoimplementados
Acórdão 7.867/2017
diversosdo
queaprimoramentos à estrutura sua
os mesmos recomponham e àsimportância
regras de negócio do Plano
Tribunal Diretor,daevidenciando
de Contas União, cujosa incisos
busca a
como instrumento de promoção de objetivos 8  seguir transcritos fazem menção específica à
  Marinha do Brasil:
estratégicos e sejam efetivamente empregados
como ferramentas de gestão organizacional. 1.9.2.1. considerar, no Planejamento
Nesse contexto, ao longo dos últimos anos, Estratégico da Marinha, a necessidade de
foram implementados diversos aprimoramentos à alinhamento entre os objetivos estratégicos
estrutura e às regras de negócio do Plano Diretor, da Força Armada e aqueles estabelecidos
evidenciando a busca pela projetização e pela para as ações orçamentárias de sua respon-
matricialidade em sua gestão orçamentária, sabilidade; (...)
empregando-se, ainda, ações de avaliação e 1.9.2.3. orientar as unidades integrantes
monitoramento de resultados. A partir do expos- do Comando da Marinha a considerarem,
to, serão analisadas as principais modificações em seus planejamentos estratégicos organi-
advindas do GT-SPD 2018 à luz dos pressupos- zacionais, os objetivos estabelecidos para
tos teóricos do orçamento por resultados. ações orçamentárias de sua responsabilida-
a) Correlação entre o Planejamento Estratégico de, alinhando, ainda, esses instrumentos ao
e Orçamentário da Marinha Plano Estratégico da Marinha; (...)
Conforme demonstra o relatório final do A importância do alinhamento estraté-
GT-SPD 2018, a evolução nos conceitos e gico-orçamentário foi internalizada pela

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artigo selecionado
Alta Administração Naval, tendo sido com base na prioridade atribuída às ações
materializada na introdução da Diretriz estratégicas e mensurar impactos.
de Planejamento Naval (DIPNAV) E-6: Por fim, salienta-se que as informações
“Desenvolver estudos sobre a adequação decorrentes desse cruzamento de dados po-
do Sistema de Acompanhamento do Plano dem ser empregadas pela Alta Administração
Diretor (SIPLAD) ao SISPEM”. Naval para avaliação da execução orçamen-
A partir das determinações emanadas pela tária das UG e verificação do alcance dos
Alta Administração Naval e considerando as resultados pretendidos, possibilitando aferição
recomendações provenientes da Corte de de índices de eficiência e eficácia no empre-
Contas, foi proposto o desenvolvimento de go de recursos.
vínculos sistematizados entre os processos de b) Criação dos Agregadores do PA
planejamento estratégico e orçamentário da A partir do alinhamento entre os processos
Marinha. Assim, foi idealizada uma matriz de planejamento estratégico e orçamentário,
de relacionamento que vinculasse as metas novos critérios de alocação de recursos pas-
do SPD às Ações Estratégicas Navais (AEN) saram a ser considerados na descentralização
contidas no Plano Estratégico da Marinha. do orçamento da MB. Nesse contexto, em
A implementação desse aprimoramento substituição ao modelo anterior, de caráter
deu-se por meio da criação de um módu- eminentemente funcional, representado pela
lo no SIPLAD destinado ao registro dos distribuição das dotações entre os vinte
Planos Estratégicos da Marinha, tais como Relatores de Planos de Metas, para descen-
o Plano Estratégico da Marinha, os Planos tralização posterior às UG, foi idealizado
de Direção Setorial e os Planos Estratégicos um novo modelo de divisão do orçamento,
Organizacionais e a correlação entre os representado pelos agregadores do PA, cujas
mesmos, bem como a sua vinculação às definições, provenientes do Relatório final do
Ações Internas. GT-SPD são a seguir transcritas:
Trata-se de uma proposição que contribui I) OBRIGATÓRIAS - Metas vinculadas às
para o incremento da visão por resultados na Ações Orçamentárias (AO) obrigatórias, tais
gestão orçamentária, elevando a importância como pagamento de pessoal, assistência mé-
do planejamento estratégico no processo deci- dica, dentre outras;
sório sobre a alocação de recursos e possibi- II) PROGRAMAS ESPECIAIS - Metas vinculadas
litando a obtenção de informações integradas às AO que possuam limites orçamentários defini-
entre estratégia e orçamento. dos por critérios especiais, tais como o Programa
Por meio dessa nova abordagem, será pos- de Construção de Submarinos e o Programa
sível apurar o montante de gastos efetuados Nuclear da Marinha (PROSUB/PNM)
pela Marinha em proveito de determinada III) FUNCIONAMENTO E MANUTENÇÃO
ação estratégica e impactos originados por (FC/MN) - Agrupamento de despesas discri-
eventuais contingenciamentos no alcance aos cionárias, referentes à rotina administrativa
objetivos estratégicos da Força. Não obstan- das OM.
te, o estabelecimento de vínculos sistêmicos IV)  PROJETOS ESTRATÉGICOS - Ações
entre as metas do SPD e as ações estratégicas Internas vinculadas a AO discricionárias, que
permitirá a adoção de novos parâmetros de- estejam alinhadas às AEN do PEM e sejam
cisórios sobre a distribuição de dotações ou selecionadas pela Alta Administração Naval
aplicação de cortes e contingenciamentos, para tratamento diferenciado diante de seu
sendo possível estabelecer critérios de decisão caráter estratégico;

ACANTO EM REVISTA 129


artigo selecionado

V) AÇÕES SETORIAIS - Demais Ações Internas c) Extinção das Relatorias de PM e substituição


não enquadradas nos demais agregadores, que pelos Gerentes de Metas
estejam vinculadas às AO discricionárias; e Com vistas a possibilitar uma simplifi-
VI) RESERVAS - Agrupamento de Ações Internas cação administrativa no âmbito do SPD, o
discricionárias destinadas à segregação de conceito de Relator de PM foi extinto, tendo
recursos para situações contingenciais. sido substituído pelos Gerentes de Meta. Esse
Trata-se de um aprimoramento voltado à aprimoramento à estrutura do SPD, em con-
melhoria no processo decisório sobre aloca- junto com a implementação dos Agregadores
ção de recursos e na gestão de desempenho do PA, teve como consequência prática o
voltada a resultados. Os agregadores cons- reforço ao papel exercido pelo EMA e pelos
tituem-se em agrupamento de Ações Internas ODS no processo decisório sobre alocação
que possuem similaridades, em termos de de recursos.
classificação orçamentária, bem como seme- No novo modelo, a responsabilidade
lhança no que concerne aos processos de central pelo planejamento e decisões sobre
planejamento e execução na MB. alocação de recursos entre as distintas metas,
Portanto, a partir da formulação desse antes conferida aos vários Relatores de
conceito, a decisão inicial sobre a alocação PM, passou ao EMA e aos ODS, cabendo
de recursos passou a um nível mais elevado, aos Gerentes de Meta a apresentação
segregando-se por exemplo, a parcela do de necessidades e gestão dos recursos
orçamento destinada a metas estratégicas da- provisionados (BRASIL, 2019).
quela voltada aos gastos administrativos com Deste modo, há menor segmentação no
funcionamento e manutenção das OM e os processo decisório, o que contribui para o
demais dispêndios setoriais. Após essa deci- maior alinhamento entre os dispêndios e os
são primordial sobre a alocação de recurso, objetivos institucionais da MB, evidenciando o
ocorrem as descentralizações posteriores, até maior foco em resultados. A figura 3 ilustra a
a montagem do Plano de Ação da Força. nova estrutura de relacionamento proposta.

Figura2:
Figura 2: Agregadores
Agregadores do
doPA
PA

Fonte: BRASIL, 2019. Fonte: (BRASIL, 2019).

c) Extinção das Relatorias de PM e substituição pelos Gerentes de Metas


130 ACANTO EM REVISTA
Com vistas a possibilitar uma simplificação administrativa no âmbito do SPD, o
conceito de Relator de PM foi extinto, tendo sido substituído pelos Gerentes de Meta. Esse
alocação de recursos entre as distintas metas, antes conferida aos vários Relatores de PM,
passou ao EMA e aos ODS, cabendo aos Gerentes de Meta a apresentação de necessidades e
gestão dos recursos provisionados (BRASIL, 2019).
Deste modo, há menor segmentação no processo decisório, o que contribui para o maior
alinhamento entre os dispêndios e os objetivos institucionais da MB, evidenciando o maior
foco em resultados. A figura 3 ilustra a nova estrutura de relacionamento proposta.

artigo selecionado
Figura 3: Relacionamento ODS x Gerente de Metas x Metas
Figura 3: Relacionamento ODS x Gerente de Metas x Metas

Fonte: BRASIL, 2019.Fonte: (BRASIL, 2019).

d) Correlação o SPD e os objetos de custo do Sistema de Informações de Custos do


Governo Federal o(SIC)
d) Correlação SPD e os objetos de custo do MB e seus processos de planejamento e exe-
Sistema de Informações de Custos do Governo cução orçamentária, a partir de 2019, foram
Oliveira Júnior (2018), aponta que até 2010, à exceção de algumas organizações
Federal (SIC) iniciadas tratativas para melhor integração
isoladas, o setor público brasileiro não possuía um sistema de gestão de custos. Nãodas
havia
Oliveira Júnior (2018), aponta que até informações de custos provenientes do SIC aos
sistemas ou metodologias adequadas para aplicação sistêmica e uniforme em toda a
2010, à exceção de algumas organizações
11  processos de planejamento orçamentário da
isoladas, o setor público brasileiro não pos- MB, por meio da criação de um painel de cus-
 
suía um sistema de gestão de custos. Não ha- tos no SIPLAD, possibilitando a visualização de
via sistemas ou metodologias adequadas para dados agregados por centro de custos.
aplicação sistêmica e uniforme em toda a ad- A integração dos sistemas de gestão orça-
ministração pública federal. Nesse contexto, mentária e de custos mostra-se alinhada aos
foi implementado o Sistema de Informações pressupostos de orçamento por resultados,dis-
de Custos do Governo Federal (SIC), na forma ponibilizando uma nova dimensão de dados e
estabelecida pelo inciso XIX, do art.7º, do informações úteis ao processo decisório sobre
Decreto nº 6.976/2009. alocação de recursos. Trata-se, portanto, de
A implementação do SIC permitiu o aprimo- uma nova abordagem, com grande potencial
ramento dos controles gerenciais do governo para expansão e aprimoramento.
federal, possibilitando a avaliação de custos
Ilustrando o exposto, a partir da leitura
na área pública, contribuindo, ainda, para a
dos custos incorridos para consecução de de-
gestão orçamentária, financeira e patrimonial,
terminada meta registrados no SIC, o SIPLAD
bem como na produção de consultas e relató-
poderá, futuramente, calcular subsídios para
rios que possam ser utilizados como subsídios
solicitação de recursos para o ano subsequente
nos processos de apoio à tomada de decisão.
ou, ainda, possibilitar a comparação entre o
Nesse contexto, a Diretoria de Finanças da
progresso físico da meta e os custos incorridos,
Marinha (DFM) iniciou, no ano de 2017, o de-
gerando indicações de eficiência nos gastos.
senvolvimento de uma nova modelagem para o
processo de apuração de dispêndios da MB, e) Desenvolvimento de painéis de monitora-
com a formulação de centros de custos, cada mento de metas
qual dotado de um ou mais objetos de custo. Como decorrência das ações propostas pelo
Com vistas a sistematizar o relacionamento GT, foi desenvolvido um painel de monitora-
entre a apuração dos custos das atividades da mento de projetos da Marinha. Trata-se de uma

ACANTO EM REVISTA 131


artigo selecionado

interface de apresentação de dados, alimenta- governo federal, observou-se que os valores


da com informações provenientes do Sistema empenhados em funcionamento e manutenção
Integrado de Administração Financeira (SIAFI) e corresponderam, em média, a cerca de 25%
do monitoramento de Ações Internas realizado do total gasto pela MB em despesas discri-
trimestralmente pelos Gerentes de Metas. cionárias livres, conforme expõe o gráfico a
A funcionalidade foi desenvolvida com seguir. Trata-se, portanto, de um agrupamento
o objetivo de prover informações de fácil relevante, sobre o qual podem ser adotadas
entendimento sobre a execução física e fi- medidas de racionalização de gastos e incre-
Em um levantamento realizado ao longo dos exercícios financeiros de 2017, 2018 e
nanceira das metas do SPD, com especial 2019, por meio mento de eficiência.
de extração realizada no sistema Tesouro Gerencial, disponibilizado pelo
governo federal, observou-se que os valores empenhados em funcionamento e manutenção
enfoque nos projetos, demonstrando, corresponderam,
de em média, a cerca de 25% do total gasto pela MB em despesas
discricionárias livres, conforme expõe o gráfico a seguir. Trata-se, portanto, de um
forma gráfica, os progressos físicos e finan-
agrupamento relevante, sobre o qual Figura 4:serGastos
podem adotadascom
medidas de racionalização de gastos
ceiros das metas em análise, contemplando,e incremento de eficiência.
funcionamento e manutenção
também, indicadores de desempenho para Figura 4: Gastos com funcionamento e manutenção

subsídio à tomada de decisão.


O emprego desses painéis contribui para
a gestão orçamentária voltada a resultados,
uma vez que possibilita a utilização de da-
dos sobre desempenho nos fóruns decisórios
da MB. Tal medida permite, ainda, que os
dados sobre os projetos sejam disponibi-
lizados à toda a Força, conferindo maior
transparência à execução orçamentária e Fonte: Elaborado pelo autor.
Fonte: Elaborado pelo autor.
financeira dos mesmos. Na estrutura anterior a 2018, cada um dos Relatores de PM era contemplado com
recursos para custeio das atividades de funcionamento e manutenção das UG apoiadas.
f) Gestão centralizada e estabelecimentoEsse Na aestrutura
demodelo dificultava implementação anterior
de medidasa de2018, cada
racionalização um diante da
de gasto,
pulverização dos dispêndios entre distintos responsáveis, cada qual com sua metodologia
indicadores padronizados para gastos com dos Relatores
de gestão dos recursos de PM era contemplado com
disponibilizados.
funcionamento e manutenção Não recursos para custeio
obstante, não havia uma definição das atividades
clara sobre de fun-
quais dispêndios deveriam ser
classificados como funcionamento e manutenção, haja vista que o rol constante das
A observação dos dispêndios executadosNormas para acionamento
Gestão do Planoe Diretor
manutenção
(SGM-401)das UG apoiadas.
é exemplificativo, o que dificulta a
padronização e a comparabilidade entre distintas OM.
Esseo modelo
pela Marinha ao longo dos últimos exercícios Considerando dificultava a implementação de
exposto, foi implementado um novo modelo de gestão centralizada
nos permite compreender a relevância de gastos com medidas
dos funcionamento dee manutenção,
racionalização de gasto,
sob supervisão dianteda Armada.
da Estado-Maior
Na nova sistemática, o EMA estabelece os montantes a serem disponibilizados aos ODS
para aplicaçãoda
gastos administrativos com o funcionamento pulverização
exclusiva dos dispêndios
com essas despesas, entre
cujo rol taxativo distintos
é descrito na Circular de
Montagem do PA.
e a manutenção das organizações milita- A centralização responsáveis, cada qual com sua metodologia
do controle e a fixação dos gastos enquadráveis como
res (OM) dentro do total gasto pela Força.
funcionamento de gestão dos recursos
e manutenção é aderente disponibilizados.
aos conceitos de orçamento por resultados, uma
vez que permite a implementação de indicadores de desempenho padronizados,
Enquanto a primeira classificação remete pactuações
aos de metasNão obstante,
de economia, nãode eficiência
avaliações havia umano gasto,definição
responsabilização por
desempenho alcançado e, sobretudo, comparabilidade entre os distintos Setores e
gastos compulsórios essenciais, tais comoUnidades
as Gestoras,claraa partir
sobre quais dispêndios
de um avaliador único.
deveriam ser clas-
concessionárias de serviços públicos, a CONSIDERAÇÕES
se- sificadosFINAIScomo funcionamento e manutenção,
gunda classificação aponta para as despesas O Sistema haja vista Diretor
do Plano que constituiu-se
o rol constante das Normas
em um instrumento pioneiro de gestão,
conferindo relativa estabilidade aos processos de planejamento e execução orçamentária ao
administrativas necessárias à manutenção para a Gestão do Plano Diretor (SGM-401)
longo de mais de 50 anos. Sua arquitetura mostrou-se plenamente adequada à cultura
das unidades em nível adequado de opera- organizacionalé da exemplificativo,
MB, bem como às o que dificulta
necessidades da a padroniza-
Força ao longo das décadas
13 
ção, como material de expediente e limpeza
  ção e a comparabilidade entre distintas OM.
(BRASIL, 2014). Considerando o exposto, foi implementado
Em um levantamento realizado ao longo um novo modelo de gestão centralizada de
dos exercícios financeiros de 2017, 2018 e gastos com funcionamento e manutenção,
2019, por meio de extração realizada no sis- sob supervisão da Estado-Maior da Armada.
tema Tesouro Gerencial, disponibilizado pelo Na nova sistemática, o EMA estabelece os

132 ACANTO EM REVISTA


artigo selecionado
montantes a serem disponibilizados aos ODS diagnóstico, pode-se observar que as medi-
para aplicação exclusiva com essas despe- das implementadas tendem a dotar o SPD de
sas, cujo rol taxativo é descrito na Circular de maior foco em resultados.
Montagem do PA. De maneira geral, os aprimoramentos su-
A centralização do controle e a fixação pramencionados voltaram-se ao alinhamento
dos gastos enquadráveis como funcionamento entre os processos de planejamento estraté-
e manutenção é aderente aos conceitos de gico e orçamentário e incremento da visão
orçamento por resultados, uma vez que permite projetizada na gestão das metas do Sistema
a implementação de indicadores de desempe- do Plano Diretor, com vistas à individualiza-
nho padronizados, pactuações de metas de ção de responsabilidades e transparência,
economia, avaliações de eficiência no gasto, ou, tomando-se o linguajar corporativo,
responsabilização por desempenho alcançado accountability. Não obstante, foram propos-
e, sobretudo, comparabilidade entre os distintos tas medidas para racionalização de gastos
Setores e Unidades Gestoras, a partir de um com despesas administrativas, visando à
avaliador único. liberação de recursos para outras metas e
desenvolvidos painéis de monitoramento de
desempenho físico e financeiro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Não se pretendeu nesta pesquisa, esgotar
O Sistema do Plano Diretor constituiu-se em todo e qualquer aspecto atinente ao orçamen-
um instrumento pioneiro de gestão, conferindo to por resultados, tampouco o mapeamento
relativa estabilidade aos processos de planeja- exaustivo de todo o processo orçamentário
mento e execução orçamentária ao longo de da Marinha. O objetivo deste ensaio foi o de
mais de 50 anos. Sua arquitetura mostrou-se possibilitar ao leitor a reflexão sobre o proces-
plenamente adequada à cultura organizacio- so evolutivo do Sistema do Plano Diretor em di-
nal da MB, bem como às necessidades da reção ao incremento na gestão por resultados,
Força ao longo das décadas subsequentes, demonstrando um conjunto de aprimoramentos
permitindo o alcance de relevantes saltos qua- implementados, que podem ser aperfeiçoados
litativos na gestão dos recursos públicos. e expandidos no futuro.
Entretanto, diante das transformações vi-
venciadas nos últimos anos, dentre as quais REFERÊNCIAS
cabe destaque ao progresso tecnológico e à BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70,
2002.
maior facilidade de acesso à informação, a
BARZELAY, M.; CAMPBELL, C. Preparing for the future:
entrega de resultados à sociedade ganhou strategic planning in the U.S Air Force. Washington
especial força, sobretudo em períodos de D.C.: Brookings Institution Press, 2003.
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tionamento quanto à qualidade dos gastos Orçamentária da Marinha. Relatório do GT-SPD 2018.
Rio de Janeiro, 2019.
públicos.
BRASIL. Marinha do Brasil. Secretaria-Geral da Marinha.
Nesse contexto, a MB procurou adaptar-se
SGM-401: normas para a gestão do Plano Diretor. rev.
às novas tendências, tendo introduzido apri- 1. Brasília, 2014.
moramentos às suas ferramentas e processos CUNHA, Armando. Reformas na Gestão Pública e a
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ACANTO EM REVISTA 133


artigo selecionado

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