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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

REFLEXAO SOBRE ALGUNS DOS FACTORES

DE SUCESSO DA ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO

DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

MAPUTO NOVEMBRO DE 2008

Por : Fernando Rachide –MEC /DFP - Novembro de 2008


FACTORES DE SUCESSO DA ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO

1-Educação e Escola
Entende-se por educação todo um conjunto de formas de actividade humana em que as
relações culturais assimétricas entre os indivíduos determinam a troca de experiências e de
cultura entre as pessoas.

A educação visa, pois, responder às necessidades resultantes da realidade social


contribuindo para o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos sujeitos.
Incentiva a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos, solidários e valorizando
a dimensão humana do trabalho. Promove o desenvolvimento do espírito de respeito pelos
outros no intuito de fornecer cidadãos capazes de julgarem criticamente o meio social em
que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva. Visa ainda formar o
carácter de cidadania do educando, preparando-o para uma reflexão consciente sobre os
valores espirituais, estéticos, cívicos, proporcionando-lhe equilíbrio e desenvolvimento
físico.

A Educação tem por missão criar entre as pessoas vínculos sociais que tenham a sua origem
em referências comuns. Tem como objectivo essencial o desenvolvimento do ser humano na
sua dimensão social e define-se como veículo de culturas e de valores, como construção
de um espaço de socialização. É um dos maiores trunfos que a sociedade dispõe na
construção de um caminho para o desenvolvimento humano. É a trave mestra de um
desenvolvimento equilibrado que a todos envolve na sua edificação. É, também, um acto
criador que só pode valer na dimensao do que valem aqueles que o fazem existir.

Daí que, pensar na educação nesta era moderna e tambem pensar na Escola, numa
organização singular, que tenha em vista aprendizagens fundamentais consideradas como
pilares do conhecimento, como seja o aprender a conhecer que é a forma de aquisição de
instrumentos de conhecimento, onde cada um aprende a compreender o mundo que o rodeia.
Aprender a fazer que é a forma de estimular a prática dos conhecimentos adquiridos;
aprender a viver em comum que é um dos maiores desafios da Educação numa busca
insana de solidariedade e justiça, de afastamento da violência, da capacidade de evitar
conflitos resolvendo tudo de forma pacífica.

Assim, a escola apresenta-se-nos como um espaço e um tempo por excelência onde o acto
criador que é a educação acontece.

A escola existe, porque os actores, que a fazem ser, dão-lhe vida e vigor num esforço
redobrado, com vista a obter como resultado um indivíduo de grande dimensão e relacional,
um cidadão produtivo, crítico e respeitoso, no sentido do seu desenvolvimento total,
integral como pessoa.

Sem os actores do processo educativo, uma escola é uma casa como qualquer outra, porque
a escola reflecte sempre o modo como os diferentes actores assumem os seus papéis, o
modo como valorizam as várias funções que lhes foram confiadas. A função da escola é,
portanto, a de analisar-se na perspectiva da função que realmente vai cumprindo em
cada momento histórico e cultural concreto. É um dos agentes sociais em que os sujeitos
desenvolvem a sua personalidade, estabelecem as bases de relação entre si e a sociedade e a
cultura, numa perspectiva dinâmica de intercâmbio mútuo de influências de todo o tipo. Na
transmissão de conteúdos e competências e de normas e valores, a escola promove o

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sucesso educativo e cumpre com a sua nobre missão de fomentar o desenvolvimento
integral do aluno, inculcando-lhe o gosto de viver.

Em última análise, a escola é também o local de vida, um espaço onde


o aluno passa grande parte do seu tempo. É um espaço onde se vive, se aprende a viver e
se prepara para a vida melhor e próspera.

Com efeito, a escola constitui o núcleo sobre o qual gravitam os esforços por uma educação
efectiva, que se materializa através de um ensino de qualidade. A escola, que cumpre
cabalmente a sua missão, assume-se como escola de sucesso.

2. Factores que determinam a eficácia ou o sucesso da Escola


São vários e interdependentes os factores que determinam a eficácia da Escola. De entre
eles, pretendemos debruçar-nos sobre a liderança efectiva; ambiente pedagógico; recursos
materiais e financeiros; participação dos pais, encarregados de educação e da comunidade
em geral; inspecção e apoio pedagógico.

2.1 Liderança efectiva


Os estudos efectuados pelo INDE, no âmbito de avaliação educacional, nos últimos três
anos, mostram que a liderança efectiva da escola é um dos factores essenciais para a
eficácia da Escola.

Na verdade, só uma liderança efectiva da Escola abre a possibilidade de os professores


beneficiarem duma ou de outra forma de uma compensação adequada, condição
indispensável que lhes permite que se concentrem na espinhosa, mas nobre missão de
ensinar convenientemente, numa só palavra, educar. Ao referir-nos à compensação
adequada dos professores, ressalta-nos imediatamente a questão do salário ou vencimento.
É natural que assim pensemos. Receber o vencimento legalmente estabelecido constitui um
dos direitos básicos que assiste ao professor em tanto que funcionário do Estado. Quantas
vezes não nos chegam gritos de aflição, quer pela rádio, quer pelos jornais, de não
satisfação deste direito básico dos docentes? Poderia perguntar-se, por que tomar este
direito básico como um dos indicadores de liderança efectiva? Será que essa
responsabilidade de pagamento dos professores cabe ao director da Escola? Claro que a
resposta não se resume em apenas sim ou não. Há casos em que a responsabilidade de não
pagamento recai sobre o director da escola, sobretudo ao nível daqueles estabelecimentos
de ensino com relativa autonomia administrativa, mas já em muitos outros casos, essa
responsabilidade atribui-se a estruturas de outros níveis. De qualquer forma, a questão de
compensação adequada prevalece como indicador de liderança efectiva da escola. Como
garantir a sobrevivência dos professores sem salário? Como assegurar que se concentrem
no ensino sem compensação alguma, numa situação em que muitas vezes não só devem
velar por si próprios, mas também dos seus dependentes? A forma como o director actua
perante esta realidade faz a diferença. Daí que realçamos o aspecto de a compensação ser
adequada. Este posicionamento pode-nos conduzir a um outro nível de debate, pois, para
que a compensação seja adequada, eventualmente, falaríamos de salários compatíveis à
dimensão da complexidade da docência. Porém, podemos ter uma outra interpretação no
sentido de assumir que o adequado, neste caso, é o que legalmente está estabelecido e que
lhe é devido. Ainda sobre este indicador, convém notar que a compensação não se pode

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limitar apenas ao salário. É sobretudo por esta razão que o director da escola não se pode
eximir dessa responsabilidade.

A liderança efectiva na escola manifesta-se pelo esforço envidado pela direcção em


providenciar os materiais de aprendizagem e meios pedagógicos apropriados tanto aos
professores como aos alunos, designadamente, livros, cadernos, lápis, giz, materiais
suplementares e equipamentos diversos, tornando assim possível a diversificação dos
métodos de ensino.

Outrossim, a liderança efectiva da escola reflecte-se no tamanho e organização das turmas e


salas de aulas. O Director da escola não pode permitir que o número de alunos exceda o
limite comportável pela capacidade real da instituição, que dirige. Para quem defenda uma
posição contrária, importa questionar: De que vale então a planificação dos efectivos
escolares? O conceito de turma numerosa não pode, de forma alguma, confundir-se com o
amontoar de crianças numa turma, sem que haja espaço mínimo para a movimentação
necessária, própria de um ambiente de ensino - aprendizagem. A turma numerosa, que não
devia, nas nossas condições, exceder os 50 alunos, pode-se reger por uma gestão
pedagógica adequada, facto que já não ocorre no segundo caso.

O aspecto atractivo do estabelecimento escolar constitui um dos indicadores de uma


liderança efectiva da escola. A higiene, a disponibilidade de água potável, o
embelezamento interior e exterior manifestam o nível de liderança reinante. Quantas
escolas nossas apresentam estas características? Será apenas uma questão de insuficiência
de fundos para assegurar a manutenção e, de um modo geral, o ambiente acolhedor nas
nossas escolas? O estado inóspito das nossas unidades escolares não terá alguma influência
nos abandonos ou desistências, que depauperam o nosso sistema educativo?

A liderança efectiva da escola revela-se no empenho do director e dos seus adjuntos para a
elevação de qualidade de ensino através de:

 Debates e orientações claras regulares sobre o papel da escola, objectivos e metas


curriculares, incluindo o comportamento que se espera dos docentes e dos alunos;
 Manifestação da confiança na capacidade dos professores e dos alunos para superar as
dificuldades que o processo de ensino - aprendizagem acarreta consigo e alcançar o
sucesso da escola.
 Coordenação e gestão do processo de ensino – aprendizagem, assistindo
frequentemente às aulas e organizando ou realizando sessões de aperfeiçoamento dos
professores, mesmo com recurso a apoio externo à escola (ZIP; distrito ou província,
por exemplo), assegurando o apoio permanente à coordenação das classes ou dos
grupos de disciplinas.
 Reavaliação frequente dos professores, bem como da implementação dos programas de
ensino, examinando sempre os aspectos fortes e eventuais fraquezas, com intuito de os
consolidar e eliminar respectivamente.

Todos os critérios de liderança efectiva da escola que enumeramos alicerçam-se num


princípio indispensável: comunicação regular e efectiva entre os membros de direcção da
escola e destes com os professores, pais, encarregados de educação e comunidade em geral.
A direcção da escola assim entendida é um verdadeiro colectivo que materializa a política
educativa através do envolvimento activo dos docentes e da sociedade, cimentado por

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consultas e acordos mútuos frequentes. Assim, a escola cumpre o seu papel de formação,
participando também nas actividades da comunidade circunvizinha de uma forma frutuosa
Esta liderança efectiva é, pois, sustentada por alta visão da direcção, expressa no plano do
desenvolvimento da escola, produto de todos os intervenientes: professores, alunos, pais,
encarregados de educação e comunidade em geral.

2. 2 Ambiente pedagógico
Havendo liderança efectiva na escola, como podemos depreender do que se explicitou
atrás, propicia-se um ambiente pedagógico caracterizado por atitude positiva dos
professores, ordem e disciplina, currículo organizado, louvores e incentivos.

A atitude positiva dos professores manifesta-se pela vontade que têm de ensinar com
sucesso. Para isso, tanto se empenham, estabelecendo para consigo próprios altos padrões
de trabalho e de comportamento. Preparam as lições convenientemente e preocupam - se
por aplicar métodos activos, centrados na actividade do aluno. Só por motivos de força
maior, faltam à escola. E, nestes casos, sempre que possível, com antecedência, informam,
à direcção da Escola, a razão da sua ausência, que se encarrega da sua substituição. Regra
geral, são pontuais. Este empenho é testemunhado pela maioria dos alunos, quer nas
conversas ente si, quer mesmo com os pais e encarregados de educação, enfatizando, com
apreço, a atenção que lhes é individualmente prestada para o seu sucesso escolar. Os
docentes dedicam-se individualmente ao estudo numa perspectiva de permanente auto –
capacitação, esforçando-se por dominar os conteúdos curriculares. Esta iniciativa de auto –
formação é reforçada e apoiada pela partilha e troca de informação ente professores, através
de estreita colaboração, planificação conjunta das lições, bem como de outras actividades
da escola e ainda pela participação activa nos cursos de aperfeiçoamento, promovidos pela
direcção da escola ou por outras entidades.

Em suma, a atitude positiva dos professores exprime-se pela auto-confiança e segurança


que têm para o exercício cabal da sua missão de educar e, para tanto, estudam
continuamente, dedicam-se, cooperam e agem.

Um bom ambiente pedagógico requer ordem e disciplina. Todos os intervenientes da escola


conhecem bem e assumem as suas responsabilidades. Para isso, à luz da Constituição da
República, do Programa do Governo, Programa de actividades do MINED, Calendário
Escolar, Estatuto dos Funcionários do Estado e das demais leis, bem como da política
educativa e doutras directrizes da Educação, incluindo os currícula e programas e de
ensino, estabelecem-se normas e Regulamentos da Escola claramente articulados e
acordados entre a direcção da escola, professores, pessoal administrativo, alunos, pais,
encarregados da educação e comunidade em geral, que são rigorosamente observados.

Assim, os estudantes e professores frequentam as aulas regularmente, de harmonia com o


horário estabelecido. As turmas, salas de aulas, laboratórios, oficinas, ginásios, campos de
jogos, pátios apresentam-se bem organizados e limpos. As actividades que aí decorrem são
bem planificadas e desenvolvem-se tranquila e eficientemente, porquanto:
 As aulas, a experimentação, os trabalhos e a cultura física iniciam pontualmente e
cumprem com os objectivos dos programas de ensino;
 Tarefas, materiais e meios auxiliares são preparados antes da aula, experiência
laboratorial, de trabalho na oficina e prática de educação física;
 Estimula-se comportamento positivo e de trabalho árduo.

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Uma característica fundamental de um bom ambiente pedagógico é alto nível de
organização da escola do ponto de vista curricular.
Com efeito, os professores concentram a sua acção nas competências básicas em cada
disciplina e orientam os estudantes de modo a dominá-las. As escolas, na secção
pedagógica, sala dos professores, grupo de classe ou de grupo de disciplina, dispõem de um
quadro sinóptico sobre a sua actividade, em que evidenciam os objectivos dos programas
de ensino, as competências básicas e os materiais de aprendizagem.

Os testes finais, a que os estudantes são submetidos, a par da avaliação contínua, revelam
bom desempenho dos discentes. Portanto, os padrões que definem o sucesso académico são
claros e conhecidos por todos os professores e alunos, bem como pelos pais e encarregados
de educação.

Assim, baseando-se em critérios acordados, em cerimónias e outros eventos públicos,


organizados na instituição, a escola distingue, regularmente, os professores, alunos, pais,
encarregados de educação e outros membros da sociedade, que se evidenciam individual ou
colectivamente na execução, com êxito, das tarefas escolares.

2.3 Recursos humanos, materiais e financeiros


Fundamentado na liderança efectiva, um corpo docente competente é a chave do bom
desempenho académico na escola.

Os materiais didácticos, quer adquiridos no mercado, quer preparados pelos próprios


professores, alunos, pais e encarregados de educação são disponíveis em quantidade
suficiente e adequadamente usados no processo de ensino – aprendizagem.

Aquela condição pedagógica e todo o conforto mínimo que a escola deve reunir implicam
meios financeiros, de certo modo avultados, mas, muitas vezes escassos.

Consequentemente, a par do desenvolvimento de um corpo docente competente, há que


assegurar o apetrechamento da escola com meios necessários para o seu pleno
funcionamento. Aos esforços do Governo neste sentido, deve-se associar o apoio dos pais,
encarregados de educação e da sociedade em geral.

2.4 Participação dos pais, encarregados de educação e da comunidade em geral

A participação dos pais, encarregados de educação e da comunidade em geral assume-se,


cada vez mais, como um factor extremamente importante para o sucesso da escola. Este
envolvimento da sociedade é tanto mais necessário ao nível da escola primária, onde a
criança deve encontrar ambiente adequado para desabrochar as suas potencialidades.

Com efeito, são os pais e encarregados de educação que asseguram que as crianças venham
à escolas saudáveis e preparadas para a aprender. Portanto, fome e doenças infecto-
contagiosas não constituem problemas para as crianças, estado que pode perturbar
seriamente o processo de ensino - aprendizagem.
Numa situação como a nossa, onde a taxa de incidência da pobreza é de 69,4%, de acordo
com o resultado do inquérito aos Agregados Familiares sobre as Condições de Vida da
População de Moçambique de 1996-1997, agravada pelas calamidades naturais, cheias,
secas, pragas de gafanhotos…, a intervenção dos pais e da comunidade em geral, em
moldes colectivos, reveste-se de capital importância, de modo a garantir que as crianças

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tenham, na escola, alguma refeição, uma vez que praticamente, nada têm em casa para
comer. Noutros casos, os pais, individualmente, devem assegurar que as crianças não
venham à escola com fome e que tenham alguma merenda.

Os pais colaboram para o sucesso escolar dos seus filhos, dialogando com eles sobre a
maneira como aprendem na escola, estimulando-os para que repitam as lições e realizem os
trabalhos de casa. Quer dizer, os pais ou os encarregados de educação não sobrecarregam
as crianças com tarefas caseiras, permitindo o equilíbrio entre as actividades domésticas,
brincadeiras próprias de idade e repetição das lições. Esta atitude é muito importante,
sobretudo na relação com as meninas, muitas vezes atarefadas com afazeres de casa.

Assim, entendemos que a participação dos pais, encarregados da educação e da


comunidade em geral, não se limita apenas em contribuição monetária ou em material, por
exemplo, materiais de construção, terrenos para erigir escolas, envolvimento no fabrico dos
materiais de construção e na edificação das próprias instalações, como também se estende
até à colaboração no processo docente - educativo e gestão da escola. Daí que pais e
membros da comunidade, numa base voluntária, no âmbito da implementação do plano do
desenvolvimento da escola, servem como auxiliares de professores. Em especial nas
primeiras classes, em que se procura munir o aluno de ferramentas básicas de
aprendizagem, como é o caso de leitura e escrita, esta colaboração afigura-se
extraordinariamente importante.

Nas classes mais avançadas, os pais desempenham o papel de tutores, recursos de


informação ou objecto de trabalho académico para os estudantes. Os membros da
comunidade contribuem também para o aperfeiçoamento dos professores.

Só com uma liderança efectiva da escola é possível beneficiar das vantagens que a
colaboração dos pais, encarregados de educação e comunidade em geral oferece.

2.5 Inspecção/supervisao e apoio pedagógico


O sucesso da escola depende, em grande medida, do apoio efectivo do sistema educativo.
Considera-se efectivo o apoio, a cada escola, pelo sistema da educação, se:
 O sistema delega a autoridade e a responsabilidade para melhoria da qualidade às
próprias escolas;
 O sistema define altas expectativas e exerce pressão para a sua concretização em
termos de resultados académicos;
 O sistema concede serviços de apoio à escola para o sucesso;
 O sistema orienta e avalia o aproveitamento académico e esforços para o sucesso da
escola.

A base de apoio efectivo é uma política clara sobre a organização e administração das
escolas. Os programas de ensino estabelecem, de uma forma inequívoca, as competências
básicas dos alunos. De um modo geral, a escola dispõe de directrizes claras sobre os
critérios que determinam a sua eficácia.
A direcção da escola está informada sobre a sua responsabilidade perante a instituição, que
dirige e sabe que é na esteira dela que deve prestar contas, envidar esforços para a sua
concretização, incluindo, com esse intuito, a solicitação de apoio de outras estruturas.

Portanto, através de inspecção e apoio contínuos, os membros da direcção e do corpo


docente são avaliados sistematicamente, beneficiando de informações sobre as práticas

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pedagógicas frutuosas e de orientação pertinente para a sua implementação. É assim que os
inspectores e os supervisores ( técnicos pedagógicos) permanentemente prestam apoio e
formação dos professores em exercício, gestores e outros trabalhadores da escola, em
estreita coordenação com ou através das ZIPs, Grupos de Disciplinas e de Coordenadores
de Classes.

Igualmente, as instituições de formação de professores estão organizadas não só para


oferecer cursos de formação inicial, mas também para funcionar como centros de recurso,
isto é, formação contínua dos professores.

Ademais, o sistema disponibiliza, à escola, os recursos necessários, que viabilizam a


concretização dos objectivos educacionais e, simultaneamente, protege-a das interferências
externas, que possam prejudicar o seu normal funcionamento.

3. Formação do Professor e sua efectividade na escola

3.1-Formação

De entre os vários problemas que afectam a qualidade da formação de professores,


apontam-se os seguintes:

3.1.1 Selecção de candidatos


Nos últimos anos, a selecção de candidatos para a formação de professores primários tem
vindo a incidir sobre os graduados mais fracos da 7ª Classe para os CFPP e da 10ª classe
para os IFPs e para as Escolas de Formação de Professores do Futuro (ADPP) e sobre
aqueles cuja condição económica das respectivas família é baixa.

Os Exames de admissão introduzidos para promover o recrutamento de candidatos


vocacionados e com competência científica para abraçar a profissão docente, estão hoje
transformados num autêntico sistema de repescagem de mediocridade para os Centros e
Institutos de Formação de Professores Primários.

O recrutamento de candidatos é actualmente visto como um dos grandes constrangimentos


senão o mais importante pois, incide em dois grupos problemáticos distintos: Um, dos que
possuem uma condição económica baixa e o outro constituído por indivíduos com fraco
domínio científico nos níveis de acesso e sem vocação para a docência.

3.1.2- Condições de Formação


Desde a introdução do SNE, os CFPP e os IMAP, salvo raras excepções, são as únicas
instituições da Educação que funcionam com verbas mais baixas se considerarmos a sua
dimensão e importância no desenvolvimento da Educação Básica no nosso país.
Em muitos casos, as verbas atribuídas a estas instituições correspondem a uma média de
1.000,00Mt da antiga familia por formando/dia, isto é, uma média que não chega sequer
para comprar um pão.

Como consequência da insuficiência orçamental, aliada à superlotação dos respectivos


internatos, o alojamento e alimentação são precários sobretudo nos CFPP, o que sujeita os
formandos às mais difíceis condições de sobrevivência.

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A relação professor-turma é de cerca de 50-60 em média nos CFPP havendo casos em que
esta ascende para cerca de 70-80 e nos IMAP é de cerca de 40-45.

Os CFPP funcionam actualmente em situação de extrema carência, onde falta quase tudo,
desde as instalações adequadas, beliches, colchões, salas de aula, carteiras, material
didáctico, bibliografia, transportes, alimentação, água, etc, situação que coloca os
respectivos corpos directivos a uma gestão difícil e deficiente.

Em cada ano lectivo é notória a crescente falta de professores qualificados para o


subsistema que, pela sua natureza, tem as suas especificidades e as suas instituições não
podem ser comparadas a qualquer estabelecimento de ensino.

A Universidade Pedagógica, por não ser uma instituição especializada em Ensino Primário,
os professores por esta formados, enfrentam dificuldades de adaptação nesta área de ensino,
cujo elenco disciplinar é fundamentalmente baseado em metodologias de ensino.

A implementação de medidas alternativas visando minimizar a insuficiência orçamental,


que consistem na cobrança de propinas e taxas de internamento (embora violem o princípio
de gratuidade do subsistema de formação de professores primários consagrado na
constituição da República de Moçambique), se revela ineficaz dado que o grupo alvo é
maioritariamente pobre.

A Produção Escolar que até aproximadamente 1992 participava em cerca de 30 a 50% nas
despesas de alimentação e na manutenção das instalações na maioria dos CFPP, revela-se
hoje difícil a sua prática devido à crescente subida dos custos de equipamentos e de mão-
de-obra que desde então era colocada nas instituições para acompanhar e apoiar os
formandos nas actividades produtivas.

3.2 Modelos Alternativos de Formação


A introdução de modelos alternativos de formação de professores em finais da década 90
(7ª +2 +1 e 10ª +1 +1) veio agravar a já difícil situação financeira e fragilizada capacidade
de gestão das instituições de formação de professores primários, uma vez que os modelos
alternativos são muito exigentes e requerem recursos materiais e financeiros avultados para
a implementação de um sistema de acompanhamento e supervisão rigorosos.

3.3- Condições de trabalho e de vida dos professores


A maior parte das escolas primárias do 1º e 2º graus para onde os graduados dos CFPP e
IMAP são colocados, não possuem casas para os professores. Os professores recém
graduados e os transferidos de outras escolas ou províncias, não têm um bom acolhimento e
muitas vezes recorrem ao apoio das populações circunvizinhas para o seu alojamento e
alimentação durante os primeiros meses. Esta situação concorre para a desmotivação que
não raras vezes termina com o abandono da profissão.

A falta de incentivos quer materiais e financeiras, aliada à demora das nomeações e


consequente pagamento de salários bem como as dificuldades de progressão na carreira,
têm sido outros factores de constrangimento que os professores têm enfrentado.

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A escola que pretendemos:

Os desafios de desenvolvimento preconizados para o País têm como alicerce básico a


Educação. Aliás, como está claramente definido no Programa Quinquenal do Governo
2000-2004, a Educação é uma opção estratégica fundamental para assegurar a
concretização do desenvolvimento sócial-cultural-cientifico e económico do País.

De um modo geral a educação deve responder às necessidades resultantes da realidade


sócio-económico e cultural da sociedade, contribuindo para o desenvolvimento pleno e
harmonioso da personalidade dos individuos, de forma a se tornarem cidadãos
responsáveis, autónomos e participantes activos nos processos de desenvolvimento.

Neste sentido, a escola como uma instituição de transmissão de saberes, baseada numa
intersecção entre o professor e o aluno e, de um modo mais amplo, entre estes e outros
“stakeholders”, como por exemplo os pais e encarregados da educação, os diferentes
grupos de ordem cultural, social, económica política, a Igreja e outras instituições que
influenciam a vida da escola, deve jogar um papel chave na preparação dos cidadãos para,
com inteligência, enfrentarem os principais desafios da sociedade, particularmente no que
respeita ao combate à pobreza absoluta, desenvolvimento sócio-económico, fortalecimento
da unidade nacional e consolidação da paz e da democracia em Moçambique.

A escola é, como dizia Samora Machel, “A Base para o Povo tomar o Poder”. Este
entendimento pode traduzir-se, nos dias de hoje, no importante papel que a escola
desempenha no fornecimento das ferramentas básicas para que as crianças e jovens
adquiram e consolidem os conhecimentos que farão deles homens e mulheres dotados de
capacidade necessária para melhor participarem no desenvolvimento pleno da Nação
Moçambicana.

É na escola, que desde jovem, se adquirem os valores da cidadania, do amor à pátria, do


respeito pelos outros e pelas suas diferenças, do espírito de abertura e disposição para
cooperar, do gosto pela aprendizagem e constante busca do conhecimento, da auto
disciplina e do orgulho pelo bom trabalho.

A escola deve, por conseguinte, ter como principal objectivo assegurar o sucesso educativo
dos seus alunos ajudando-os a encontrar as soluções adequadas para que, individualmente,
sejam capazes de encontrar o melhor caminho para o desenvolvimento das suas
potencialidades cognitivas, tornando-os autores do seu processo de crescimento intelectual
e sócio afectivo nas diversas dimensões do desenvolvimento do ser humano. Isto
pressupõe, também o desenvolvimento de capacidades de relações inter-pessoais, de
comunicação, de liderança, decisão e de auto-confiança. De facto, o que a escola deve
procurar fazer é equipar os seus alunos com instrumentos a que eles possam recorrer para
se tornarem seres/indivíduos capazes de agirem de forma criativa e responsável no
melhoramento das suas condições de vida e na tranformação, para melhor, do meio que os
circunda.

Não é por acaso que a sociedade clama por uma escola que tenha uma acção pedagógia e
formadora baseada numa aprendizagem ligada às necessidades reais de desenvolvimento
local, nacional e internacional. É que, para os pais e para a sociedade a escola só tem valor
se estiver ligada à vida e se, como resultado de terem frequentado a escola, os seus filhos
estiverem habilitados a participar, de forma activa, nas mais diversas áreas de actividade

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social económica e cultural assente na realidade. Insdiscutivelmente, no olhar dos pais, o
valor da escola está directamente associado à capacidade de inserção dos seus filhos no
mercado de trabalho ou na craiçaõ de auto-emprego bem na capacidade de
desenvolvimento de actividades de auto-sustento, como por exemplo, nos domínios da
agricultura, pecuária, pesca e outras actividades sócio e económicmente úteis para o
desenvolvimento.

As exigências acima referidas, colocam no centro das nossas preocupações, como


educadores e fazedores da educação, a necessidade de trazermos a debate para XXVII
CONCOOR algumas questões principais sobre as quais urge agir. É certo que nem todas
poderão ter uma acção imediata, mas temos todos, como membros do mais alto órgão de
decisão do sector, o dever e a responsabilidade de reflectirmos sobre eles e propôr as
medidas necessárias para melhorar a imagem da nossa escola.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DE BUSCA DE RESPOSTAS:

a) Em que medida a nossa escola responde aos anseios da sociedade!

b) Como na escola se traduz a relação entre o que ensinam e os grandes desafios do


país (pobreza desenvolvimento, paz, democracia, unidade nacional).

c) Como ajustar o currículo ao actual contexto nacional, regional e internacional?

d) Como se desenvolve o processo de ensino-aprendizagem nas nossas escolas


(pedagogia, metodologia, didáctica).

e) Que acompanhamento/ apoio/orientação pedagógica benefeciam os nossos


professores?

f) Qual tem sido o papel dos pais e da comunidade na vida da escola?

g) Que aproveitamentos fazem dos saberes que aluno adquire, na família, com os
amigos, etc.

h) Qual o papel pedagógico dos Directores da Escola, Distrital e Provincial!

i) O que é que está mal com a escola que temos e como mudar a situação?

j) O que vai bem na escola e como disseminar/consolidar?

3.4- RECOMENDAÇÕES:

Repensar a qualidade da formação de professores a partir da avaliação da situação actual no


que concerne a:

1. Revisão do sistema de selecção de candidatos à formação de professores;

2. Respeito das capacidades instaladas;

3. Redução da relação professor-turma para uma média de 35-40 formandos;

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4-Reforço dos investimentos até aqui realizados pelo MINED nas Instituições de Formação
de Professores Primários, (sobretudo na construção de infra - estruturas e para o
funcionamento).

5-Sensibilização de grupos de elite (burguesia moçambicana) com vista à sua adesao à


carreira de docente no ensino primário.

Esta adesão poderá influenciar a promoção do statu entre os potenciais candidatos e exercer
pressão para a rápida melhoria das condições de formação de professores.

6.Elaboração da Estratégia de Formação de Formadores a londo prazo;

7.Evitar a proliferação de modelos de formação de professores no país.

8.Estabelecer «tronco comum» para a formação de professores primários em


Moçambique.

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