Você está na página 1de 7

PARCIAL II – DIREITO PROCESSUAL PENAL

RECURSO E AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO

Alunos:
Luan Vinícius Rodrigues Batista
Yago Patrick de Moura e Meira

1 - Um dos princípios que regem as nulidades no processo penal é o da


instrumentalidade das formas. O que ela defende? E você concorda com a utilização
dessa teoria? Justifique.

Resposta:
Pelo princípio da instrumentalidade das formas, temos que a existência do ato
processual é um instrumento utilizado para se atingir determinada finalidade. Assim,
ainda que com vício, se o ato atinge sua finalidade sem causar prejuízo às partes, não se
declara sua nulidade.
As petições iniciais, por exemplo, inauguram a fase postulatória e criam o caminho do
processo com objetivo de resolver um conflito. Por conta da importância dessa peça,
algumas formalidades são essenciais para sua elaboração, mas que nem sempre são
seguidas à risca.
Em resumo, o princípio da instrumentalidade das formas pressupõe que, mesmo que o
ato seja realizado fora da forma prescrita em lei, se ele atingiu o objetivo, esse ato será
válido.
Para facilitar a compreensão, seguem abaixo os artigos 154 e 244 do Código de
Processo Civil:
Art. 154 - “Os atos e termos processuais não
dependem de forma determinada senão quando
a lei expressamente a exigir, reputando-se
válidos os que, realizados de outro modo, lhe
preencham a finalidade essencial (...)"

Art. 244 - “Quando a lei prescrever


determinada forma, sem cominação de
nulidade, o juiz considerará válido o ato se,
realizado de outro modo, lhe alcançar a
finalidade."
Os processos judiciais são compostos por uma sequência de atos não solenes, que não
exigem uma forma determinada. Porém, em algumas situações, a lei traz regras gerais
quanto a maneira de se montar a peça e que precisa ser seguida sob pena de,
eventualmente, ocorrer a nulidade do ato.

Na prática
Um dos erros mais comuns que ocorrem no dia a dia é a falta de citação por parte dos
Oficiais de Justiça. Tal ato é determinado pela lei e exige cuidados para que se faça o
ato da forma correta, por exemplo:
Art. 226 - Incumbe ao oficial de justiça
procurar o réu e, onde o encontrar, citá-lo:
I – lendo-lhe o mandado e entregando-lhe a
contrafé;
II – portando por fé se recebeu ou recusou a
contrafé;
III – obtendo a nota de ciente, ou certificando
que o réu não a apôs no mandado.

Nesse caso, a lei exige uma solenidade que, se eventualmente não for cumprida, existe a
possibilidade do ato ser reconhecido como nulo pelo juiz, como prevê o Art. 247 - “As
citações e as intimações serão nulas, quando feitas sem observância das prescrições
legais”.
Não existe só uma maneira ou um único caminho no processo, mas vários caminhos que
levam à mesma finalidade. Por isso, a instrumentalidade das formas é importante para
que se resolvam os conflitos, mesmo que haja falta de solenidades.

2 - Policiais militares realizam uma busca e apreensão, sob alegação de que havia uma
suspeita de armazenamento de drogas, sem autorização judicial na residência de Joilson,
lá encontrando drogas, 1Kg de pasta base de cocaína. A defesa suscitou a nulidade do
flagrante sob o argumento da ausência do mandado de busca. Você é o juiz, qual a sua
decisão? Justifique.
Resposta:
Entendo que se encontram presentes os requisitos autorizadores da decretação de
nulidade do flagrante suscitado.
Extrai-se do art. 5º, inciso XI, da Constituição da República, “a casa é asilo inviolável
do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em
caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial”.
A jurisprudência firmada anteriormente preconizava no sentido de que os policiais
podiam ingressar em domicílio, sem autorização judicial, em hipóteses de flagrante
delito, sem ressalva.
Segue ementa sobre o referido precedente:
"Recurso extraordinário representativo da controvérsia.
Repercussão geral.
2. Inviolabilidade de domicílio - art. 5º, XI, da CF. Busca
e apreensão domiciliar sem mandado judicial em caso de
crime permanente. Possibilidade. A Constituição dispensa
o mandado judicial para ingresso forçado em residência
em caso de flagrante delito. No crime permanente, a
situação de flagrância se protrai no tempo.
3. Período noturno. A cláusula que limita o ingresso ao
período do dia é aplicável apenas aos casos em que a
busca é determinada por ordem judicial. Nos demais casos
- flagrante delito, desastre ou para prestar socorro - a
Constituição não faz exigência quanto ao período do dia.
4. Controle judicial a posteriori. Necessidade de
preservação da inviolabilidade domiciliar. Interpretação da
Constituição. Proteção contra ingerências arbitrárias no
domicílio. Muito embora o flagrante delito legitime o
ingresso forçado em casa sem determinação judicial, a
medida deve ser controlada judicialmente. A inexistência
de controle judicial, ainda que posterior à execução da
medida, esvaziaria o núcleo fundamental da garantia
contra a inviolabilidade da casa (art. 5, XI, da CF) e
deixaria de proteger contra ingerências arbitrárias no
domicílio (Pacto de São José da Costa Rica, artigo 11, 2, e
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, artigo
17, 1). O controle judicial a posteriori decorre tanto da
interpretação da Constituição, quanto da aplicação da
proteção consagrada em tratados internacionais sobre
direitos humanos incorporados ao ordenamento jurídico.
Normas internacionais de caráter judicial que se
incorporam à cláusula do devido processo legal.
5. Justa causa. A entrada forçada em domicílio, sem uma
justificativa prévia conforme o direito, é arbitrária. Não
será a constatação de situação de flagrância, posterior ao
ingresso, que justificará a medida. Os agentes estatais
devem demonstrar que havia elementos mínimos a
caracterizar fundadas razões (justa causa) para a medida.
6. Fixada a interpretação de que a entrada forçada em
domicílio sem manda do judicial só é lícita, mesmo em
período noturno, quando amparada em fundadas razões,
devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que
dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena
de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou
da autoridade e de nulidade dos atos praticados.
7. Caso concreto. Existência de fundadas razões para
suspeitar de flagrante de tráfico de drogas. Negativa de
provimento ao recurso." (TRIBUNAL PLENO, julgado
em 05/11/2015, DJe 09/05/2016;)
Corrobora ainda o fato de o crime de tráfico ser crime permanente, ou seja, uma
hipótese de exceção à inviolabilidade de domicílio prevista no art. mencionado.
Contudo, entendimento esse que merece ser reformado, tendo em vista que o texto
constitucional é claro, a regra é a inviolabilidade da residência, cabendo única e
exclusivamente a violação nos termos expressos das exceções trazidas na CR/88.
Ademais, no caso em tela, não restou comprovado fundada suspeita suficientes que
validassem a violação do domicílio sem o necessário mandado judicial.
Embora, foi encontrado ilícitos no local, não cabe ao judiciário validar o “acaso”, por
sorte encontraram dessa vez produtos ilícitos, pois caso contrário estariam os policiais
incorrendo em abuso de autoridade tendo em vista a invasão do domicílio protegendo
assim não só os direitos individuais dos cidadãos, mas também para regular o
policiamento ostensivo a fim de que direitos não sejam violados.
Não há como este D. Juiz validar um flagrante achando uma quantidade considerável de
droga, em virtude de um ato ilícito, qual seja a invasão do domicílio, sob pena de estar
não só violando dispositivos federais, mas também constitucionais.
Corrobora para tal pensamento o seguinte julgado:
"PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS.
TRÁFICO DE DROGAS. ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA. NULIDADE. DILIGÊNCIA REALIZADA
NO DOMICÍLIO SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.
DENÚNCIA ANÔNIMA. FUNDADAS RAZÕES NÃO
VERIFICADAS. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA.
APLICAÇÃO DO ENTENDIMENTO FIRMADO NO
HC N. 598.051/SP. ORDEM CONCEDIDA.
1. A Sexta Turma, ao revisitar o tema referente à violação
de domicílio, no Habeas Corpus n. 598.051/SP, de
relatoria do Ministro Rogerio Schietti, fixou as teses de
que 'as circunstâncias que antecederem a violação do
domicílio devem evidenciar, de modo satisfatório e
objetivo, as fundadas razões que justifiquem tal diligência
e a eventual prisão em flagrante do suspeito, as quais,
portanto, não podem derivar de simples desconfiança
policial, apoiada, v. g., em mera atitude 'suspeita', ou na
fuga do indivíduo em direção a sua casa diante de uma
ronda ostensiva, comportamento que pode ser atribuído a
vários motivos, não, necessariamente, o de estar o
abordado portando ou comercializando substância
entorpecente', e de que até mesmo o consentimento,
registrado nos autos, para o ingresso das autoridades
públicas sem mandado deve ser comprovado pelo Estado.
2. No presente caso, em razão de denúncias anônimas, os
policiais se dirigiram à propriedade onde a droga foi
encontrada e, somente após passarem pelo portão da
propriedade, avistaram a grande quantidade de drogas
apreendidas.
Tais circunstâncias não trazem contexto fático que
justifique a dispensa de investigações prévias ou do
mandado judicial para a entrada dos agentes públicos na
residência do paciente, acarretando a nulidade da
diligência policial.
3. Habeas corpus concedido para anular a prova decorrente
do ingresso desautorizado no domicílio." (HC 647.603/SC,
Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 09/11/2021, DJe
12/11/2021.)
Sendo assim e com base nos precedentes do STJ, declaro nulo o flagrante realizado e
todos os atos dele supervenientes. Caso o Réu esteja preso que seja emitido alvará de
soltura em nome do beneficiário.

3 - Em um processo criminal, você requereu na resposta a acusação a juntada do exame


pericial. A juíza decidiu realizar a audiência de instrução e julgamento e determinar
como diligência complementar a juntada do ECD (Exame de Corpo de Delito) o que foi
feito, abrindo vista as partes para alegações finais. Em seus memoriais como você
arguiria a nulidade da juntada extemporânea do laudo pericial? Redija a tese.
Resposta:

DA NULIDADE DA AIJ: JUNTADA EXTEMPORÂNEA DE LAUDO


PERICIAL
Excelência, estabelecem as normas processuais penais que todo delito que apresentar
corpo de delito deve ser periciado. A indispensabilidade do exame pericial está disposta
no artigo 158 do CPP. Toda vez que a infração deixar vestígios, a autoridade policial
deverá requisitar o exame de corpo de delito. A ausência de referido exame sem
justificativa gera prejuízo à atuação do Estado na persecução penal, inclusive, a
absolvição do réu.
Art. 158, CPP: “Quando a infração deixar
vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo
supri-lo a confissão do acusado. (...)”

O exame em questão deve seguir os ditames expressos nos artigos 158 e seguintes do
Código de Processo Penal. O Instituto de Criminalística e o Instituto Médico Legal são
os órgãos do Estado que atuam de maneira conclusiva na formação dessa prova, atuando
o perito como "um apreciador técnico desta, assessor do Juiz."
Face à importância probatória do laudo pericial, destacando-se como uma peça
elaborada no curso do inquérito policial, sem contraditório, e que possui validade na
ação, dispõe o CPP em seu artigo 160, parágrafo único, que os peritos terão o prazo de
10 dias para elaborá-lo, podendo ser prorrogado em casos excepcionais. Nota-se que a
lei disciplinou uma regra ao laudo pericial, fixando prazo para a sua confecção, ou na
impossibilidade de fazê-lo, prevê a obrigatoriedade do perito em requer a sua
prorrogação.

Art. 160, CPP: “Os peritos elaborarão o


laudo pericial, onde descreverão
minuciosamente o que examinarem, e
responderão aos quesitos formulados.
Parágrafo único: O laudo pericial será
elaborado no prazo máximo de 10 dias,
podendo este prazo ser prorrogado, em casos
excepcionais, a requerimento dos peritos. ”

Comumente os exames periciais são requisitados na fase do inquérito policial, figurando


o delegado de polícia como a autoridade requisitante, devendo, assim, observar o fiel
cumprimento do prazo em questão, bem como os pedidos de prorrogação. Tal
procedimento é de suma importância na ordem processual, pois sua inobservância
poderá gerar dano irreparável na ação penal para o Estado.
Esclarece a doutrina que provas ilegítimas são as que importam em violação de normas
de direito processual. Já as provas ilícitas são as que importam em violação de normas
de direito material. As provas ilícitas são proibidas pela norma constitucional enquanto
as provas ilegítimas são vedadas pelo ordenamento infraconstitucional.
A não observância do prazo na elaboração do laudo pericial viola uma norma de direito
processual penal, gerando vício na sua confecção. Destarte, estamos diante de uma
prova produzida em desacordo com norma processual, ocasionando uma prova
ilegítima, uma vez que, no presente caso, o Exame de Corpo e Delito foi providenciado
a partir de requisição de diligência complementar e não no prazo legal, por meio de
determinação da autoridade policial no decurso do inquérito que originou a ação aqui
tratada.
Tal fato produz uma nulidade relativa, nos termos do artigo 564, inciso IV do Código de
Processo Penal.
Art. 564, CPP: “A nulidade ocorrerá nos
seguintes casos:
IV - por omissão de formalidade que constitua
elemento essencial do ato.”

Sendo assim, requer a NULIDADE do processo criminal, por omissão de procedimento


formal essencial aos princípios da ampla defesa e do contraditório dos quais preconiza a
Constituição Federal Brasileira.

4 - Durante uma AIJ o juiz começa a formular perguntas para a vítima e as testemunhas
acerca dos fatos, bem como a questionar a participação do réu no crime. Você como
advogado de defesa argui a nulidade e o juiz afirma que as perguntas são feitas para
esclarecer a verdade real dos fatos, além da ausência de qualquer prejuízo. O que você
diria em resposta?
Resposta:
Há um prejuízo em relação ao Art. 212, parágrafo único do CPP, uma vez que o sistema
que vigora no Processo Penal é o Acusatório, cabe ao MP produzir as provas
necessárias para condenação ou até mesmo absolvição do Réu.
Sendo assim na instrução as partes devem instruir os depoimentos das vítimas,
testemunhas e do próprio Réu, cabendo ao Juiz apenas complementar as perguntas sobre
os pontos não esclarecidos, pois caso contrario o juiz estaria produzindo provas,
tornando o processo no sistema inquisitivo, violando princípios constitucionais, tais
como a ampla defesa e contraditório, imparcialidade do juiz e o devido processo legal.
Entende da mesma maneira a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal no HC 111.815.
Sendo assim, incidirá no caso a nulidade do art. 564, inciso IV do CPP tendo em vista
que o D. Juiz não respeitou uma formalidade que constitui elemento essencial do ato

Você também pode gostar