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Casos Clínicos

Ptose Renal. Para onde caminha o diagnóstico


e tratamento desta rara patologia nos dias de hoje?
A propósito de um caso clínico
Nephroptosis. Where to walk for the diagnosis and treatment
of this rare disease nowadays. A clinical case
Autores
José Preza-Fernandes; Nuno Barbosa; Frederico Teves; Manuel Oliveira; Mário Gomes; Paulo Príncipe; Avelino Fraga

Instituições:
Serviço de Urologia, Hospital de Santo António - Centro Hospitalar do Porto.

Correspondência:
José Preza Fernandes
Rua Orfeão do Porto, 280 7ºA – 4150-798 Porto
E-mail: zpreza@gmail.com ou jescpf@gmail.com

Data de Submissão: 21 de março de 2012 | Data de Aceitação: 10 de setembro de 2012

Resumo once panacea for many ills is a disease rarely found


today.
Introdução: A Ptose Renal (Ren mobilis, ren mi-
grans, wanderniere, rim descido ou prolapsado) Clinical Case: The authors present a clinical case of
outrora panaceia para inúmeros males é uma pato- a 41 years old patient with the diagnosis of renal
logia raramente diagnosticada hoje em dia. ptosis, observed and treated in their institution.

Caso Clínico: Os autores apresentam um caso Discussion: The Diagnosis is one of exclusion and
clínico de uma doente de 41 anos observada e tra- should be motivated by a typical clinical renal colic
tada na sua instituição por quadro de cólica renal e relieving in decubitus, togeher with the proof of des-
cuja a investigação subsquente revelou o diagnós- cent of the affected kidney in about or more 5cm (or
tico de Ptose Renal. two vertebral bodies) through IVU and the demons-
tration of a decrease in radioisotope uptake on the
Discussão: O diagnóstico desta entidade é de exclu- Renal Nuclear Scan between standing and supine
são e motivado por uma clínica típica de cólica re- positions. Conclusion: They raise and try to answer
nal que alívia em decúbito, aliada a comprovação the question on what is the best way to do a correct
através de Urografia Intravenosa (UIV) de descida clinical investigation for the diagnosis of this rare
do rim afetado em cerca ou mais de 5cm (ou 2 cor- entity.
pos vertebrais) e da demonstração de um decrés-
cimo de captação do radiisótopo no cintilograma Key words: Nephroptosis, Nephropexy, Renal Colic,
renal entre as posições de decúbito e a ortostática. Intravenous Urography, Renal Nuclear Scan

Conclusão: O presente caso clínico pretendem le- Introdução


vantar e tentar responder à questão de qual o “ca-
minho” ideal de forma a realizar uma correta inves- A Ptose Renal (Ren mobilis, ren migrans, wander-
tigação clínica para o diagnóstico desta entidade niere, rim descido ou prolapsado) é uma patologia
rara. rara que se define com a clínica de cólica renal, ali-
viada em decúbito e na qual está comprovada ima-
Palavras chave: Ptose Renal, Nefropexia, Colica Re- giologicamente uma descida do rim afetado em
nal, Urografia Intravenosa, Cintilograma Nuclear cerca de 5cm (ou 2corpos vertebrais) entre a posi-
Renal 1, 2
ção de decúbito e a ortostática . Atinge maiorita-
riamente mulheres com índices de massa corporais
Abstract baixos, sendo o lado direito afetado em 70% dos
casos (bilateral em 20%). Já de si rara, esta variante
Introduction: The Renal Ptosis (Ren mobilis, Ren anatómica só é clinicamente sintomática em cerca
migrans, Wanderniere, Fallen or prolapsed Kidney) de 10-20% dos casos1, 2, 3, 4. O diagnóstico é confirma-

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Figura 1) Descida do Rim direito ente o decúbito e o ortostatismo


Figura 2) Folding do ureter ao nível da junção Pielo Ureteral

do através Urografia intravenosa (UIV) e Cintilo- As dificuldades em definir um diagnóstico fidedig-


massas radiopacas suspeitas de litíase ureteral ou posição de decúbito e a ortostática. Realizou Cinti-
grafia Renal Nuclear. no, aliadas à alta taxa de insucesso terapêutico e
renal. O sedimento urinário era inocente. Por sus- lograma Renal com MAG3 prova de diurético (após
Com vista a realizar uma breve revisão acerca do posteriores complicações decorrentes destas inú-
peita de Síndrome de Junção realizou TC abdomi- remoção do cateter JJ) que descreveu a presença
tema, os autores apresentam um caso clínico de meras técnicas, levaram a que em 1984, McWhin-
nopelvico (protocolo de litíase) que demonstrou de hidronefrose renal direita marcada, acentuado
uma doente com o diagnóstico de Ptose Renal, ob- nie e Hamilton afirmassem que a “nefropexia es-
bacinete globoso com dilatação pielo-calicial direi- atraso da eliminação, muito deficiente resposta ao
servada e tratada na sua instituição. tava incluída numa lista de tratamentos ineficazes
ta e ureter direito com calibre normal. A junção diurético mas com função diferencial sobreponível.
para doenças imaginárias”. Desde então a existên-
pielo-ureteral direita era tortuosa, evidenciando Este exame poderia levantar a hipótese de se tratar
Contexto histórico cia da entidade Ptose Renal e o seu diagnóstico en-
um “kinking” do ureter proximal sustentando a de um fenómeno obstrutivo da Junção PieloUre-
Esta patologia, descrita pela primeira vez no séc. IX traram em desuso e descrédito.
suspeita de se tratar de um quadro de ptose renal. teral (JUP), no entanto quando conjugado com o
por Johannes Mesue, foi outrora panaceia para o Com o advento de novos estudos imagiológicos
Perante a manutenção das queixas álgicas foi sub- restante estudo este diagnóstico foi excluído.
diagnóstico de inúmeros e diversos sinais e sinto- (desenvolvimento da Cintigrafia Nuclear Renal) e
metida a cateterização ureteral com cateter JJ. O A doente foi proposta e submetida a Nefropexia di-
mas clínicos (dor lombar, sintomas urinários bai- de novas técnicas minimamente invasivas (Nefro-
posterior estudo em consulta externa, com UIV, de- reita ao músculo Psoas Maior por via laparoscópica.
xos, perda de peso, ansiedade, palpitações, histe- pexia por via Laparoscópica), o diagnóstico e o tra-
monstrou uma descida de cerca de 3,5cm, entre a Intraoperatoriamente constatou-se uma quase to-
ria, etc…), ao ponto de no final do século XIX te- tamento desta patologia entrou novamente no lé-
rem sido descritos mais de 170 tipos diferentes de xico dos urologistas nos dias de hoje.
procedimentos cirúrgicos para o seu tratamento.
Joseph Dietl descreveu em 1864, pela primeira vez Caso Clínico
de uma forma clinicamente mais rigorosa a sinto-
matologia associada à Ptose Renal (Crise de Dietl), Trata-se de uma doente de 42 anos que recorreu ao
que consistia em cólica renal súbita, associada a nosso Serviço de Urgência por episódio de cólica re-
náuseas e vómitos e eventualmente oligúria, hema- nal direita inaugural não complicada, que aliviava
túria transitória ou proteinúria. A primeira Nefro- parcialmente com o decúbito e agravava com o es-
pexia com sucesso foi efetuada em 1881 por Hahn e forço e ortostatismo. Ao exame físico apresentava-
mais tarde popularizada por Edebohls a partir de -se apirética, hemodinamicamente estável, Murphy
1890. Esta consistia na incisão e “striping” da cáp- Renal positivo, IMC: 17,87 Kg/m2 (Peso: 43.5Kg,
sula renal renal ao longo da sua face convexa com Altura: 1.56). Negava episódios prévios de cólica
posterior fixação através de suturas que atravessa- renal. A função renal encontrava-se preservada. A
vam o parênquima renal e eram fixadas à parede ecografia renovesical revelou marcada hidronefro-
abdominal. Inúmeras técnicas foram propostas se direita, com bacinete com 43mm de diâmetro
posteriormente com maiores ou menores variações antero-posterior, ligeira redução da espessura cor-
a esta técnica evoluindo até ao conceito de “shelf tical deste lado, não se identificando causa obstru-
suport” através da fixação da fáscia renal aos mús- tiva ou dilatação do ureter a jusante. A radiografia
culos quadrado lombar e Psoas2, 4. simples do abdómen não evidenciou a presença de Figura 3) Cintilograma Nuclear Renal pré-operatório

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Figura 1) Descida do Rim direito ente o decúbito e o ortostatismo


Figura 2) Folding do ureter ao nível da junção Pielo Ureteral

do através Urografia intravenosa (UIV) e Cintilo- As dificuldades em definir um diagnóstico fidedig-


massas radiopacas suspeitas de litíase ureteral ou posição de decúbito e a ortostática. Realizou Cinti-
grafia Renal Nuclear. no, aliadas à alta taxa de insucesso terapêutico e
renal. O sedimento urinário era inocente. Por sus- lograma Renal com MAG3 prova de diurético (após
Com vista a realizar uma breve revisão acerca do posteriores complicações decorrentes destas inú-
peita de Síndrome de Junção realizou TC abdomi- remoção do cateter JJ) que descreveu a presença
tema, os autores apresentam um caso clínico de meras técnicas, levaram a que em 1984, McWhin-
nopelvico (protocolo de litíase) que demonstrou de hidronefrose renal direita marcada, acentuado
uma doente com o diagnóstico de Ptose Renal, ob- nie e Hamilton afirmassem que a “nefropexia es-
bacinete globoso com dilatação pielo-calicial direi- atraso da eliminação, muito deficiente resposta ao
servada e tratada na sua instituição. tava incluída numa lista de tratamentos ineficazes
ta e ureter direito com calibre normal. A junção diurético mas com função diferencial sobreponível.
para doenças imaginárias”. Desde então a existên-
pielo-ureteral direita era tortuosa, evidenciando Este exame poderia levantar a hipótese de se tratar
Contexto histórico cia da entidade Ptose Renal e o seu diagnóstico en-
um “kinking” do ureter proximal sustentando a de um fenómeno obstrutivo da Junção PieloUre-
Esta patologia, descrita pela primeira vez no séc. IX traram em desuso e descrédito.
suspeita de se tratar de um quadro de ptose renal. teral (JUP), no entanto quando conjugado com o
por Johannes Mesue, foi outrora panaceia para o Com o advento de novos estudos imagiológicos
Perante a manutenção das queixas álgicas foi sub- restante estudo este diagnóstico foi excluído.
diagnóstico de inúmeros e diversos sinais e sinto- (desenvolvimento da Cintigrafia Nuclear Renal) e
metida a cateterização ureteral com cateter JJ. O A doente foi proposta e submetida a Nefropexia di-
mas clínicos (dor lombar, sintomas urinários bai- de novas técnicas minimamente invasivas (Nefro-
posterior estudo em consulta externa, com UIV, de- reita ao músculo Psoas Maior por via laparoscópica.
xos, perda de peso, ansiedade, palpitações, histe- pexia por via Laparoscópica), o diagnóstico e o tra-
monstrou uma descida de cerca de 3,5cm, entre a Intraoperatoriamente constatou-se uma quase to-
ria, etc…), ao ponto de no final do século XIX te- tamento desta patologia entrou novamente no lé-
rem sido descritos mais de 170 tipos diferentes de xico dos urologistas nos dias de hoje.
procedimentos cirúrgicos para o seu tratamento.
Joseph Dietl descreveu em 1864, pela primeira vez Caso Clínico
de uma forma clinicamente mais rigorosa a sinto-
matologia associada à Ptose Renal (Crise de Dietl), Trata-se de uma doente de 42 anos que recorreu ao
que consistia em cólica renal súbita, associada a nosso Serviço de Urgência por episódio de cólica re-
náuseas e vómitos e eventualmente oligúria, hema- nal direita inaugural não complicada, que aliviava
túria transitória ou proteinúria. A primeira Nefro- parcialmente com o decúbito e agravava com o es-
pexia com sucesso foi efetuada em 1881 por Hahn e forço e ortostatismo. Ao exame físico apresentava-
mais tarde popularizada por Edebohls a partir de -se apirética, hemodinamicamente estável, Murphy
1890. Esta consistia na incisão e “striping” da cáp- Renal positivo, IMC: 17,87 Kg/m2 (Peso: 43.5Kg,
sula renal renal ao longo da sua face convexa com Altura: 1.56). Negava episódios prévios de cólica
posterior fixação através de suturas que atravessa- renal. A função renal encontrava-se preservada. A
vam o parênquima renal e eram fixadas à parede ecografia renovesical revelou marcada hidronefro-
abdominal. Inúmeras técnicas foram propostas se direita, com bacinete com 43mm de diâmetro
posteriormente com maiores ou menores variações antero-posterior, ligeira redução da espessura cor-
a esta técnica evoluindo até ao conceito de “shelf tical deste lado, não se identificando causa obstru-
suport” através da fixação da fáscia renal aos mús- tiva ou dilatação do ureter a jusante. A radiografia
culos quadrado lombar e Psoas2, 4. simples do abdómen não evidenciou a presença de Figura 3) Cintilograma Nuclear Renal pré-operatório

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A etiopatogenia deste problema ainda não está to- Após a revisão da literatura e confrontado o nosso Referências
talmente definida mas parece estar correlacionada caso, os autores levantam a dúvida e até onde ir
com diversas e intrincadas causas. Entre estas en- para realizar o diagnóstico. Quando perante a pre- 1 Walsh PC, Retik AB, Vaughan ED, Wein AJ,
contram-se a obstrução ureteral intermitente com sença de uma sintomatologia típica (ex. cólica re- editors. Campbells Urology 10th Edition. Phi-
consequente hidronefrose e/ou estiramento das nal com alívio em decúbito) e achados imagioló- ladelphia (PA): Saunders; (2011), Chapter 55,
fibras nervosas viscerais e dos vasos sanguíneos gicos iniciais altamente suspeitos (Ecografia renal “Laparoscopic Surgery of the Kidney” 1645-
com a tração do pedículo renal. e/ou TC Abdominopelvico a revelar Hidronefrose -1647
O tratamento cirúrgico consensualmente aceite pielocalicial sem tradução ao ureter a jusante e UIV 2 Hoenig, D.; Hemal, A.; Shalhav, A.; Clayman, R.;
nos dias de hoje, consiste na libertação e exposição a demonstrar ptose renal) parece haver um grau de “Nephroptosis: A “Disparaged” condition Revi-
dos tecidos adjacentes ao rim afetado e fixação certeza suficiente para avançar para o diagnóstico sited”. Urology (1999) 54, 590-596
deste ao músculo Quadrado Lombar e/ou músculo e tratamento. É certo que no passado a panóplia de 3 Plas, E.; Daha, K.; Riedl, C.; Hubner, W.; Pfuger,
Psoas Maior através de fio (com pontos contínuos sintomas atribuídas a esta patologia era elevadíssi- H.; “Long-term, follow-up after Laparoscopic
ou separados) ou aposição de redes não absorví- ma e que este facto levou a que a comunidade uro- Nephropexy for symptomatic Nephroptosis”.
Figura 4) Posição do rim após Nefropexia direita veis1. Esta técnica está descrita para a via laparos- lógica, céptica da existência real da doença, colo- Journal of Urology (2001), 166 , 449-452
cópica (transperitoneal ou retroperitoneal)4, 5, 6, 7, 8, 13, casse a necessidade de uma certeza absoluta de 4 Barber N. J. “Nephroptosis and Nephrope-
tal ausência de gordura peri e para renal com uma 12
ou aberta , parecendo haver uma clara vantagem diagnóstico para poder avançar para um procedi- xy_Hung Up on the Past?” European Urology
anormal mobilidade do rim afectado e uma JUP na primeira no que respeita à morbilidade e com- mento invasivo. Os autores cientes que este artigo (2004) 46, 428–433
sem alterações compatíveis com obstrução a este plicações inerentes associadas. retrata apenas um caso clínico, levantam no entan- 5 Kumar R, Gupta R, Reddy S, Malhotra A. “Ne-
nível. São poucas as publicações recentes relativas aos re- to a hipótese de se poder realizar o diagnóstico phroptosis: the Tc-99m glucoheptonate scan as a
Ao 3º mês de follow-up a doente encontra-se assin- sultados no tratamento desta patologia. No entan- com base apenas numa apurada anamnese, exclu- diagnostic method.” Clin Nuc Med (2000); 25:
tomática e sem evidência de complicações decor- to e ao contrário das séries mais antigas, estas de- são de outras causas possíveis de obstrução ure- 473–4
rentes do procedimento. A UIV em decúbito e or- monstram resultados bastante animadores. As taxas teral (com eventual recurso a Ecografia Renovesi- 6 Strohmeye, D.; Peschel R.; Effert, P.; Borchert,
tostatismo pós-operatória demonstra uma resolu- de sucesso (definidas como melhoria completa ou cal, TC abdominopélvico e/ou Cintilografia Nu- O. “Changes of Renal blood flow in Nephropto-
ção imagiológica da ptose renal. quase completa das queixas sem necessidade de clear Renal apenas em decúbito) e uma UIV em sis. Assessment by color Coppler imaging, Isoto-
recurso a analgesia) variam entre os 76 e os 100%. decúbito e ortostatismo com as alterações pato- pe Renography and Correlation with Clinical
Discussão Plas3 na sua série de 17 doentes, demonstrou uma gnomónicas. Isto permitirá reservar para os casos Outcome after Laparoscopic Nephropexy” Eu-
melhoria da sintomatologia em 90% dos doentes mais dúbios a necessidade de realização de outros ropean Urology, (2004) 45, 790-793
Embora seja uma entidade rara, esta patologia foi com completa remissão das queixas em 64% deles e exames, nomeadamente Cintilograma Nuclear Re- 7 Hubner, W.; Schlarp, O.; Riedl, C.; Plas, E.; Rei-
no passado objecto de elevado interesse e dedica- com apenas recorrência num único indivíduo. For- nal e/ou Ecodoppler renal também com alternân- ter,W.; “Laparoscopic Nephropexy using Ten-
ção por parte da comunidade urológica. Infeliz- nara4 no seu grupo de 23 doentes submetidos a ne- cia entre o decúbito e o ortostatismo (de forma a sion-free vaginal tape for symptomatic Nephrop-
mente a elevada aposição deste diagnóstico a quei- fropexia e com follow-up médio de 13 meses (2-37 documentar a alteração da perfusão renal e os IR). tosis” Urology, (2004), 64, 372-374
xas oriundas de outros problemas, as elevadas ta- meses), revelou uma melhoria em 91% destes (ne- No presente caso a clínica altamente sugestiva, 8 Wyler, S.; Sulser, T.; Casella, R., Hauri, D.; Bach-
xas de insucesso terapêutico, de morbilidade e até nhum doente necessitava da toma regular de anal- acoplada de exames auxiliares diagnósticos ima- mann, A.; “Retroperitoneoscopic Nephropexy
mortalidade associadas, criaram descrédito na gésicos para alivio da dor). Osama evidenciou na sua giológicos evidentes permitiu estabelecer de forma for symptomatic Nephroptosis using a modifi-
associação entre a evidência de cólica renal e a curta série de 6 doentes e com um follow-up médio segura o diagnóstico e partir para tratamento ci- ed Three-point Fixation Technique”. Urology,
existência de uma ptose renal subjacente. de 11 meses (2-30), uma taxa de sucesso de 100% rúrgico através de Nefropexia direita por via lapa- (2005), 66, 644-648
O aparecimento da era da laparoscopia no final do (definida como doentes totalmente assintomáti- roscópica. 9 Kaouk, J. Gill, Gill, I.; “Laparoscopic Recons-
7
século passado, aliado a uma melhor caracteriza- cos). Hubner na sua série curta entre 1999 e 2003, tructive Urology”. Journal of Urology, (2003),
ção clínica e imagiológica (UIC e Cintilograma Re- submeteu com significativo sucesso, 10 doentes a Conclusão 170, 1070-1078
nal) fez reemergir esta patologia da desvalia a que nefropexia com recurso à passagem de uma rede 10 Fornara, P.; Doehn, C.; Jocham, D.; “Laparos-
estava associada. protésica tipo TVT através do pólo inferior do rim e O avanço tecnológico com o advento da laparosco- copic Nephropexy: 3-year Experience”. Journal
O doente típico afetado por esta patologia é um in- posterior fixação à parede abdominal por via lapa- pia e o desenvolvimento de métodos complemen- of Urology (1997) 158, 1679-1683
divíduo do sexo feminino, entre a 3ª e a 4ª década roscópica. Em todos estes estudos não foram evi- tares de diagnóstico imagiológicos recolocaram a 11 Elashry, O.; Nakada, S.; McDougall, E.; Clay-
de vida, com um baixo IMC e com queixas de cólica denciadas complicações major associadas a técnica. Ptose Renal novamente no diagnóstico diferencial man, R. “Laparoscopic Nephropexy: Washing-
renal associado ao ortostatismo e sem outras cau- Estas séries apesar de bastante reduzidas, apresen- de cólica renal. Segundo os autores, a existência de ton University Experience”. Journal of Urology
1, 2
sas evidentes . tam resultados promissores e encorajadores. Na uma sintomatologia clínica típica, aliada de acha- (1995), 154, 1655-1659
A UIV normalmente evidencia uma clara descida do base da diferença em relação às publicações passa- dos patognomónicos a comprovar uma descida de 12 Khan AM, Holman E, Tóth C. “Percutaneous
rim afectado em mais de 5cm ou então dois corpos das, parece estar a melhor caracterização e diag- mais de 5cm ou 2 corpos vertebrais do rim afec- nephropexy”. Scand J Urol Nephrol (2000); 34:
vertebrais entre a posição de decúbito e a ortostá- nóstico desta entidade e a necessidade da presença tado, permitem fazer de uma forma segura o diag- 157–61
1
tica . O Cintilograma Nuclear Renal normalmente de uma sintomatologia patognomónica e uma UIV nóstico desta entidade 13 Golab A, Slojewski M, Gliniewicz B, Sikorski A.
evidencia uma redução na captação do isótopo ra- com demonstração da existência de ptose renal e Pretende-se, através do sucesso deste caso clínico “Retroperitoneoscopic nephropexy in the treat-
dioativo em ortostatismo, quando comparado ao um Cintilograma Nuclear Renal com evidência de aqui apresentado, reforçar a importância da clínica ment of symptomatic nephroptosis with 2-point
decúbito .
5
diminuição da função diferencial. e da UIV no diagnóstico desta patologia renal be- renal fixation”. Surg Laparosc Endosc Percutan
Já a Ecografia Renal com Color Doppler permite No presente caso trata-se de uma doente com clíni- nigna rara. Tech. (2009), 19 (4), 356-359
aferir alterações dos Indicie de Resistividade (IR) e ca típica de cólica renal por ptose renal e cujos exa-
da perfusão renal consequentes à tração dos vasos mes auxiliares de diagnóstico permitiram concluir
6
hilares . que era esta a causa da sintomatologia.

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José Preza-Fernandes, Nuno Barbosa, Frederico Teves, et al
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Casos Clínicos Casos Clínicos

A etiopatogenia deste problema ainda não está to- Após a revisão da literatura e confrontado o nosso Referências
talmente definida mas parece estar correlacionada caso, os autores levantam a dúvida e até onde ir
com diversas e intrincadas causas. Entre estas en- para realizar o diagnóstico. Quando perante a pre- 1 Walsh PC, Retik AB, Vaughan ED, Wein AJ,
contram-se a obstrução ureteral intermitente com sença de uma sintomatologia típica (ex. cólica re- editors. Campbells Urology 10th Edition. Phi-
consequente hidronefrose e/ou estiramento das nal com alívio em decúbito) e achados imagioló- ladelphia (PA): Saunders; (2011), Chapter 55,
fibras nervosas viscerais e dos vasos sanguíneos gicos iniciais altamente suspeitos (Ecografia renal “Laparoscopic Surgery of the Kidney” 1645-
com a tração do pedículo renal. e/ou TC Abdominopelvico a revelar Hidronefrose -1647
O tratamento cirúrgico consensualmente aceite pielocalicial sem tradução ao ureter a jusante e UIV 2 Hoenig, D.; Hemal, A.; Shalhav, A.; Clayman, R.;
nos dias de hoje, consiste na libertação e exposição a demonstrar ptose renal) parece haver um grau de “Nephroptosis: A “Disparaged” condition Revi-
dos tecidos adjacentes ao rim afetado e fixação certeza suficiente para avançar para o diagnóstico sited”. Urology (1999) 54, 590-596
deste ao músculo Quadrado Lombar e/ou músculo e tratamento. É certo que no passado a panóplia de 3 Plas, E.; Daha, K.; Riedl, C.; Hubner, W.; Pfuger,
Psoas Maior através de fio (com pontos contínuos sintomas atribuídas a esta patologia era elevadíssi- H.; “Long-term, follow-up after Laparoscopic
ou separados) ou aposição de redes não absorví- ma e que este facto levou a que a comunidade uro- Nephropexy for symptomatic Nephroptosis”.
Figura 4) Posição do rim após Nefropexia direita veis1. Esta técnica está descrita para a via laparos- lógica, céptica da existência real da doença, colo- Journal of Urology (2001), 166 , 449-452
cópica (transperitoneal ou retroperitoneal)4, 5, 6, 7, 8, 13, casse a necessidade de uma certeza absoluta de 4 Barber N. J. “Nephroptosis and Nephrope-
tal ausência de gordura peri e para renal com uma 12
ou aberta , parecendo haver uma clara vantagem diagnóstico para poder avançar para um procedi- xy_Hung Up on the Past?” European Urology
anormal mobilidade do rim afectado e uma JUP na primeira no que respeita à morbilidade e com- mento invasivo. Os autores cientes que este artigo (2004) 46, 428–433
sem alterações compatíveis com obstrução a este plicações inerentes associadas. retrata apenas um caso clínico, levantam no entan- 5 Kumar R, Gupta R, Reddy S, Malhotra A. “Ne-
nível. São poucas as publicações recentes relativas aos re- to a hipótese de se poder realizar o diagnóstico phroptosis: the Tc-99m glucoheptonate scan as a
Ao 3º mês de follow-up a doente encontra-se assin- sultados no tratamento desta patologia. No entan- com base apenas numa apurada anamnese, exclu- diagnostic method.” Clin Nuc Med (2000); 25:
tomática e sem evidência de complicações decor- to e ao contrário das séries mais antigas, estas de- são de outras causas possíveis de obstrução ure- 473–4
rentes do procedimento. A UIV em decúbito e or- monstram resultados bastante animadores. As taxas teral (com eventual recurso a Ecografia Renovesi- 6 Strohmeye, D.; Peschel R.; Effert, P.; Borchert,
tostatismo pós-operatória demonstra uma resolu- de sucesso (definidas como melhoria completa ou cal, TC abdominopélvico e/ou Cintilografia Nu- O. “Changes of Renal blood flow in Nephropto-
ção imagiológica da ptose renal. quase completa das queixas sem necessidade de clear Renal apenas em decúbito) e uma UIV em sis. Assessment by color Coppler imaging, Isoto-
recurso a analgesia) variam entre os 76 e os 100%. decúbito e ortostatismo com as alterações pato- pe Renography and Correlation with Clinical
Discussão Plas3 na sua série de 17 doentes, demonstrou uma gnomónicas. Isto permitirá reservar para os casos Outcome after Laparoscopic Nephropexy” Eu-
melhoria da sintomatologia em 90% dos doentes mais dúbios a necessidade de realização de outros ropean Urology, (2004) 45, 790-793
Embora seja uma entidade rara, esta patologia foi com completa remissão das queixas em 64% deles e exames, nomeadamente Cintilograma Nuclear Re- 7 Hubner, W.; Schlarp, O.; Riedl, C.; Plas, E.; Rei-
no passado objecto de elevado interesse e dedica- com apenas recorrência num único indivíduo. For- nal e/ou Ecodoppler renal também com alternân- ter,W.; “Laparoscopic Nephropexy using Ten-
ção por parte da comunidade urológica. Infeliz- nara4 no seu grupo de 23 doentes submetidos a ne- cia entre o decúbito e o ortostatismo (de forma a sion-free vaginal tape for symptomatic Nephrop-
mente a elevada aposição deste diagnóstico a quei- fropexia e com follow-up médio de 13 meses (2-37 documentar a alteração da perfusão renal e os IR). tosis” Urology, (2004), 64, 372-374
xas oriundas de outros problemas, as elevadas ta- meses), revelou uma melhoria em 91% destes (ne- No presente caso a clínica altamente sugestiva, 8 Wyler, S.; Sulser, T.; Casella, R., Hauri, D.; Bach-
xas de insucesso terapêutico, de morbilidade e até nhum doente necessitava da toma regular de anal- acoplada de exames auxiliares diagnósticos ima- mann, A.; “Retroperitoneoscopic Nephropexy
mortalidade associadas, criaram descrédito na gésicos para alivio da dor). Osama evidenciou na sua giológicos evidentes permitiu estabelecer de forma for symptomatic Nephroptosis using a modifi-
associação entre a evidência de cólica renal e a curta série de 6 doentes e com um follow-up médio segura o diagnóstico e partir para tratamento ci- ed Three-point Fixation Technique”. Urology,
existência de uma ptose renal subjacente. de 11 meses (2-30), uma taxa de sucesso de 100% rúrgico através de Nefropexia direita por via lapa- (2005), 66, 644-648
O aparecimento da era da laparoscopia no final do (definida como doentes totalmente assintomáti- roscópica. 9 Kaouk, J. Gill, Gill, I.; “Laparoscopic Recons-
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século passado, aliado a uma melhor caracteriza- cos). Hubner na sua série curta entre 1999 e 2003, tructive Urology”. Journal of Urology, (2003),
ção clínica e imagiológica (UIC e Cintilograma Re- submeteu com significativo sucesso, 10 doentes a Conclusão 170, 1070-1078
nal) fez reemergir esta patologia da desvalia a que nefropexia com recurso à passagem de uma rede 10 Fornara, P.; Doehn, C.; Jocham, D.; “Laparos-
estava associada. protésica tipo TVT através do pólo inferior do rim e O avanço tecnológico com o advento da laparosco- copic Nephropexy: 3-year Experience”. Journal
O doente típico afetado por esta patologia é um in- posterior fixação à parede abdominal por via lapa- pia e o desenvolvimento de métodos complemen- of Urology (1997) 158, 1679-1683
divíduo do sexo feminino, entre a 3ª e a 4ª década roscópica. Em todos estes estudos não foram evi- tares de diagnóstico imagiológicos recolocaram a 11 Elashry, O.; Nakada, S.; McDougall, E.; Clay-
de vida, com um baixo IMC e com queixas de cólica denciadas complicações major associadas a técnica. Ptose Renal novamente no diagnóstico diferencial man, R. “Laparoscopic Nephropexy: Washing-
renal associado ao ortostatismo e sem outras cau- Estas séries apesar de bastante reduzidas, apresen- de cólica renal. Segundo os autores, a existência de ton University Experience”. Journal of Urology
1, 2
sas evidentes . tam resultados promissores e encorajadores. Na uma sintomatologia clínica típica, aliada de acha- (1995), 154, 1655-1659
A UIV normalmente evidencia uma clara descida do base da diferença em relação às publicações passa- dos patognomónicos a comprovar uma descida de 12 Khan AM, Holman E, Tóth C. “Percutaneous
rim afectado em mais de 5cm ou então dois corpos das, parece estar a melhor caracterização e diag- mais de 5cm ou 2 corpos vertebrais do rim afec- nephropexy”. Scand J Urol Nephrol (2000); 34:
vertebrais entre a posição de decúbito e a ortostá- nóstico desta entidade e a necessidade da presença tado, permitem fazer de uma forma segura o diag- 157–61
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tica . O Cintilograma Nuclear Renal normalmente de uma sintomatologia patognomónica e uma UIV nóstico desta entidade 13 Golab A, Slojewski M, Gliniewicz B, Sikorski A.
evidencia uma redução na captação do isótopo ra- com demonstração da existência de ptose renal e Pretende-se, através do sucesso deste caso clínico “Retroperitoneoscopic nephropexy in the treat-
dioativo em ortostatismo, quando comparado ao um Cintilograma Nuclear Renal com evidência de aqui apresentado, reforçar a importância da clínica ment of symptomatic nephroptosis with 2-point
decúbito .
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diminuição da função diferencial. e da UIV no diagnóstico desta patologia renal be- renal fixation”. Surg Laparosc Endosc Percutan
Já a Ecografia Renal com Color Doppler permite No presente caso trata-se de uma doente com clíni- nigna rara. Tech. (2009), 19 (4), 356-359
aferir alterações dos Indicie de Resistividade (IR) e ca típica de cólica renal por ptose renal e cujos exa-
da perfusão renal consequentes à tração dos vasos mes auxiliares de diagnóstico permitiram concluir
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hilares . que era esta a causa da sintomatologia.

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José Preza-Fernandes, Nuno Barbosa, Frederico Teves, et al
Ptose Renal. Diagnóstico e Tratamento | Acta Urológica – setembro de 2012 – 3: 43-47

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